universidade federal rural da amazÔnia engenharia...
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA
ENGENHARIA AMBIENTAL E ENERGIAS RENOVÁVEIS
JOÃO PAULO PANTOJA SERRÃO FILGUEIRA
GEOMORFOLOGIA COSTEIRA E MORFOLOGIA DAS PRAIAS DA ILHA DE
ALGODOAL (MARACANÃ-PA)
BELÉM
2019
JOÃO PAULO PANTOJA SERRÃO FILGUEIRA
GEOMORFOLOGIA COSTEIRA E MORFOLOGIA DAS PRAIAS DA ILHA DE
ALGODOAL (MARACANÃ-PA)
Trabalho de conclusão de curso apresentada à
Universidade Federal Rural da Amazônia como parte das
exigências do Curso de Graduação em Engenharia
Ambiental e Energias Renováveis, para obtenção de título
de Bacharel.
Orientador: Prof. MSc. Marcelo Augusto Moreno da Silva
Alves.
BELÉM
2019
JOÃO PAULO PANTOJA SERRÃO FILGUEIRA
GEOMORFOLOGIA COSTEIRA E MORFOLGIA DAS PRAIAS DA ILHA DE
ALGODOAL (MARACANÃ-PA)
Trabalho de conclusão apresentado à Universidade Federal Rural da Amazônia, como parte
das exigências do curso de Engenharia Ambiental e Energias Renováveis, área de
Gerenciamento Costeiro para a obtenção de título de Engenheira Ambiental e Energias
Renováveis.
Aprovado em 05 de abril de 2019
Banca Examinadora
________________________________________________________
Prof. Msc. Marcelo Augusto Moreno da Silva Alves - Orientador
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA
________________________________________________________
Bianca Abraham de Assis Souza
Eng. Ambiental e de Energias Renováveis
Universidade Federal Rural da Amazônia – UFRA/LGAA
________________________________________________________
Andreza Souza Ranieri
Msc. Eng. Ambiental e de Energias Renováveis
Hydro Alunorte
BELÉM
2019
AGRADECIMENTOS
Primeiramente à DEUS, pelo dom da vida e saúde. Às pessoas da minha vida, que
tanto amo, meu filho Gabriel, minha mãe Jorgina, minhas irmãs Patrícia e Paula e por último,
mas não menos importante, minha namorada Maria, a vocês toda minha gratidão, admiração e
amor por tudo, sempre!
Ao meu orientador Prof. MSc. Marcelo Augusto Moreno da Silva Alves pelo apoio,
dedicação e paciência em me instruir na missão de desenvolver esse trabalho de conclusão de
curso.
Não posso esquecer da ajuda que recebi dos amigos Elisa, Juliane, Nicele e Leandro
na etapa de campo deste trabalho. Obrigado por toda a dedicação entre tantos transtornos e
improvisos durante a viagem, vocês foram fantásticos.
Agradeço aos amigos que conquistei nesses cinco anos na Universidade Federal Rural
da Amazônia e que ajudaram a transformar cada um desses dias em sorrisos e momentos
felizes os quais lembrarei por toda a vida, em especial: Claudio Santos, Leon Duarte, Adrilene
Santos, Elisa Tocantins, Aline Vitelli, Joice Machado, Victor Lima, Alessandra Souza,
Alexandre Pena, Henrique Nobre Juliane Ferreira, Nicele Coelho e Leandro Moraes.
RESUMO
A zona costeira paraense encontra se subdividida em três setores, sendo estes: 1-Setor Costa
Atlântica do Salgado; 2-Setor Insular Estuarino e 3-Setor Continental Estuarino. A Ilha de
Algodoal está enquadrada dentro do Setor Costa Atlântica do Salgado, que faz parte da
plataforma Bragantina na região nordeste do estado do Pará. A ilha de Algodoal é constituída
por ecossistemas frágeis como dunas, lagos e mangues, motivo pelo qual em 1998 foi
transformada em Área de Proteção Ambiental. Em busca de uma melhor compreensão sobre a
geomorfologia costeira e morfologia praial foram utilizadas o levantamento cartográfico e
bibliográfico, levantamento fotográfico aéreas com drone (DJI Phantom 3), levantamento
topográfico dos perfis das praias, e posterior processamento digital de dados Grapher Six (2-
D Graphing System 6.2.24) (GOLDEN SOFTWARE, 2011) foram feitos. O estudo da Ilha de
Algodoal caracterizou dois grandes compartimentos, como o Planalto costeiro/ Planalto
Rebaixado da Amazônia (falésias, plataformas de abrasão) e Planície costeira/ Planície
Amazônica (campos de Dunas, terraços arenosos, antigos cordões arenosos, Planícies de
Supramaré Lamosa, Planície de Intermaré). A tipologia das praias esta intrinsecamente
relacionada pela localização de linha de costa e a sua morfologia depende intimamente dos
processos hidrodinâmicos do ambiente praial, como ação das quebras de ondas e marés, o que
caracteriza as praias estuarinas pela sua forma retilínea a convexa. A Praia da Caixa d’Água, é
a que mais se diferencia das demais pois possui uma proteção da ação direta das ondas, tem
formato côncavo característico de uma praia do tipo Enseada, tem orientação longitudinal no
sentido NE-SW, voltada para o rio Marapanim. A Praia da Princesa apresenta um traçado
retilíneo, orientado segundo a direção E-W, possui um vasto Campo de Dunas, onde é comum
a presença de lagos interdunas que podem extravasar através de sangradouros. A Praia Grande
está voltada para o Rio Maracanã, sua orientação longitudinal é de NW-SE, e sofre uma forte
taxa de erosão por conta da ação do canal de maré vazante do Furo do Mocooca, nela também
encontrou-se a presença de cordões arenosos duna-praia com suas cristas praiais inseridas em
dunas de pequeno porte. Todas apresentam similaridades em suas zonas morfológicas, com
faixas de praias apresentando Zona de Supramaré com até 9m de largura e a Zona de
intermaré com 114m de largura máxima e Zona de Inframaré com 44m de largura.
Palavras-chave: Dinâmica Costeira; Morfologia Praial; Litoral Amazônico.
ABSTRACT
The Pará state coastal zone is subdivided into three sectors: 1-Salty Atlantic Coast Sector; 2-
Insular Estuarine Sector and 3-Continental Estuarine Sector. The Algodoal Island is framed
within the Salty Atlantic Coastal Sector, which forms part of the Bragantina Shelf in the
northeastern of the Pará state. The Algodoal Island is a fragile ecosystems made up such as
dunes, lakes and mangroves, transformed into Enviromental Protection Area. In order to
obtain a better understanding of the coastal geomorphology and beach morphology,
cartographic and bibliographical survey, drone (DJI Phantom 3) aerial photographic survey,
topographic profiles survey of the beaches, and Grapher Six (2-D Graphing System 6.2.24)
(GOLDEN SOFTWARE, 2011) digital data processing was taken. The Algodoal Island study
shows two large compartments, such as the Coastal Plateau / Lower Plateau of the Amazon
(cliffs, abrasion platforms) and Coastal Plain / Amazonian Plain (Dune fields, sandy terraces,
old sandy ridges, muddy supratidal plain and intertidal plain. The beach typology is
intrinsically related to the coastline location and its morphology closely depends of the
hydrodynamic processes of the beach environment, such as waves and tides, which
characterizes the estuarine beaches by their contiguous rectilinear shape of beaches. The
Caixa d'Água beach is the one that most differs from the others because its protection of the
action of the direct waves, it has a concave shape characteristic of a enseada beach type, it has
longitudinal orientation in the NE-SW direction, facing the Marapanim river. The Princesa
beach has a rectilinear shape, oriented according to E-W direction, it has a vast dune field,
where it is common the interdune lakes presence can leak through bleeding. The Grande
Beach is facing the Maracanã river, has longitudinal NW-SE orientation, and it suffers a
strong erosion rate due to the action of the Mocoóca ebb tidal channel, it was also found the
presence of sandy dune-beach crests inserted in small dunes. All them shows similarities in
their morphologic zones, with beachs presenting 9m wide Supratidal Zone, 114m wide
Supratidal Zone and 44m wide Infratidal Zone.
Keywords: Coastal Dynamics; Beach Morphology; Amazonian Littoral.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa de localização dos Setores da ZCEP. Setor 1: Costa Atlântica do Salgado
Paraense; Setor 2: Insular Estuarino; Setor 3: Continental Estuarino ...................................... 13
Figura 2 - Praia do tipo refletivas - Praia do Farol (Ilha do Mosqueiro-PA) .......................... 17
Figura 3 - Praia do tipo dissipativa - Praia da Princesa (Ilha de Algodoal-PA) ...................... 18
Figura 4 - Praia do tipo intermediária - Praia da Barra Velha (Ilha do Marajó-PA) ............... 19
Figura 5 - Tipos de quebra de onda nas zonas costeiras ......................................................... 22
Figura 6 - Classificação das principais zonas do perfil praial sob o ponto de vista morfológico
.................................................................................................................................................. 24
Figura 7 - Classificação das principais zonas do perfil praial sob o ponto de vista
hidrodinâmico ........................................................................................................................... 25
Figura 8 - Levantamento de fotografias aéreas com drone DJI modelo Phanthom 3 ............. 27
Figura 9 - Método do Levantamento Topográfico da Stadia .................................................. 27
Figura 10 - Célula ativa do software GRAPHER Six (2-D Graphing System 6.2.24) (Golden
Software) ................................................................................................................................... 29
Figura 11 - Mapa de localização da Praia de Algodoal ........................................................... 30
Figura 12 - Distribuição da precipitação total e temperatura média da região Nordeste do Pará
(2003) ....................................................................................................................................... 31
Figura 13 - Coluna Estratigráfica da Região Nordeste do Pará. Extraído de Carvalho (2007)
.................................................................................................................................................. 33
Figura 14 - Mapa das unidades de relevo, Planalto e Planície Costeira, na área de estudo. ... 35
Figura 15 - Falésia ativa na Praia da Caixa d’Água ................................................................ 37
Figura 16 - Plataforma de Abrasão na praia da Caixa d’Água ................................................ 38
Figura 17 - Canal Estuarino do Furo Velho em extremidades da Praia da Caixa d’Água ...... 39
Figura 18 - Cordões Praia-dunas – Praia da Princesa.............................................................. 40
Figura 19 - Visão parcial das praias estudadas A-Praia da Princesa; B-Praia da Caixa d’Água;
C-Praia Grande ......................................................................................................................... 42
Figura 20 - Dunas presentes na Ilha de Algodoal – Praia da Princesa .................................... 43
Figura 21 - Lagos interdunas – Praia da Princesa ................................................................... 44
Figura 22 – Sangradouro – Praia da Princesa .......................................................................... 45
Figura 23 - Plataforma de Abrasão (PA), em parte submersa, que secciona a Praia da Caixa
d’Água. Mangue Jovem (MJ) ocorrente na Plataforma de Abrasão. ....................................... 46
Figura 24 - Campo de Dunas da Praia da Princesa ................................................................. 50
Figura 25 - Campo de Dunas da Praia da Princesa ................................................................. 51
Figura 26 - Duna no início do perfil da Praia da Princesa....................................................... 51
Figura 27 - Praia da Princesa e o processo de erosão em suas dunas ...................................... 52
Figura 28 - Praia da Princesa, parte leste, notar a presença de uma pequena calha na
intermaré superior ..................................................................................................................... 52
Figura 29 - Perfil Praia da Princesa ......................................................................................... 54
Figura 30 - Franja de Mangue Erodido (FME), na porção sul da Praia Grande, à margem do
Furo de Fortalezinha (FF) ......................................................................................................... 55
Figura 31 - Cordões Dunas-Praias no Pós-Praia da Praia Grande, observar as Cristas Praiais
antigas ....................................................................................................................................... 56
Figura 32 - Zona de Supramaré na Praia Grande .................................................................... 56
Figura 33 - Orientação perpendicular a linha de costa do Perfil da Praia Grande .................. 57
Figura 34 - Perfil praial levantado na Praia Grande ................................................................ 58
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 12
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 15
2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 15
2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................... 15
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 16
3.1 Ambiente Praial ............................................................................................................ 16
3.1.1 Definições e tipologia .......................................................................................... 16
3.1.2 Processos costeiros .............................................................................................. 19
3.1.2.1 Marés e correntes de marés .......................................................................... 19
3.1.2.2 Ondas ............................................................................................................ 21
3.1.2.3 Vento ............................................................................................................ 22
3.2 Morfologia Praial .......................................................................................................... 23
3.2.1 Zonação Morfológica ........................................................................................... 24
3.2.2 Zonação Hidrodinãmica ....................................................................................... 24
4 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................ 26
4.1 Pesquisa Bibliográfica .................................................................................................. 26
4.2 Pré Campo ..................................................................................................................... 26
4.3 Trabalho de Campo ...................................................................................................... 26
4.3.1 Análise geomorfológica ....................................................................................... 26
4.3.2 Levantamento dos Perfis Topográficos Praiais ................................................... 27
4.3.3 Medição da Maré e Ondas e Declividade ............................................................ 28
4.4 Processamento Digital dos Dados dos Perfis Topográficos. ...................................... 28
4.5 Caracterização da Área de Estudo .............................................................................. 29
4.5.1 Localização e Acesso ........................................................................................... 29
4.5.2 Clima .................................................................................................................... 30
4.5.3 Hidrografia ........................................................................................................... 31
4.5.4 Aspectos Geológicos ........................................................................................... 32
4.5.4.1 Formação Pirabas ......................................................................................... 32
4.5.4.2 Formação Barreiras ....................................................................................... 32
4.5.4.3 Pós Barreiras ................................................................................................. 33
4.5.4.4 Sedimentos Quaternários .............................................................................. 33
4.5.5 Vegetação ............................................................................................................ 34
4.5.6 Parâmetros Oceanográficos ................................................................................. 34
4.5.6.1 Ventos ........................................................................................................... 34
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 35
5.1 Unidades Geomorfológicas da Ilha de Algodoal ........................................................ 35
5.1.1 Planalto Costeiro .................................................................................................. 36
5.1.1.1 Falésias ......................................................................................................... 36
5.1.1.1.1 Falésias Ativas ....................................................................................... 36
5.1.1.1.2 Falésias Inativas ..................................................................................... 37
5.1.1.2 Plataforma de Abrasão .................................................................................. 37
5.1.2 Planície Costeira .................................................................................................. 38
5.1.2.1 Canal Estuarino............................................................................................. 38
5.1.2.2 Cordões Praia-Duna ...................................................................................... 39
5.1.2.3 Planície De Maré .......................................................................................... 40
5.1.2.3.1 Planície Arenosa ..................................................................................... 40
5.1.2.3.2 Planície Lamosa ..................................................................................... 41
5.1.2.4 Praia .............................................................................................................. 41
5.1.2.5 Dunas ............................................................................................................ 43
5.1.2.6 Lagos Interdunas........................................................................................... 44
5.1.2.7 Sangradouros ................................................................................................ 44
5.2 Morfologia Praial .......................................................................................................... 45
5.2.1 Praia da Caixa D’agua ......................................................................................... 45
5.2.1.1 Perfil Praia da Caixa D’água ........................................................................ 47
5.2.2 Praia da Princesa .................................................................................................. 49
5.2.2.1 Perfil Praia da Princesa ................................................................................. 53
5.2.3 Praia Grande ........................................................................................................ 55
5.2.3.1 Perfil Praia Grande ....................................................................................... 57
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 60
12
1 INTRODUÇÃO
Uma das grandes preocupações da humanidade na atualidade são as questões
ambientais. Na busca incansável por conciliar uma melhor qualidade de vida e a preservação
de todo o patrimônio natural que nos é oferecido.
Toda a problemática ambiental costeira decorrente das ações humanas como a
ocupação desordenada, poluição e degradação, estão sendo estudadas e verificadas com maior
profundidade e frequência desde as últimas décadas, principalmente, pelo fato de que o fluxo
populacional aumenta gradativamente em direção a regiões costeiras ao passo que a
população está buscando sempre maior comodidade e conforto em seu lazer e diversão,
gerando com isso um aumento considerável de habitações quase sempre inadequadas em
recantos costeiros pouco habitáveis em tempos atrás.
As dinâmicas naturais destas regiões possuem complexas interações entre os processos
oceânicos, costeiros e continentais que resultam em erosão, transporte e deposição de
sedimentos. Estas áreas representam cerca de 1,6% da superfície das terras emersas e abrigam
aproximadamente 40% da população mundial, constituindo-se assim em áreas muito afetadas
pela ação antrópica por sua inerente vulnerabilidade (CPRH, 2003).
Perceptivelmente é a região de maior densidade demográfica no planeta, não sendo
diferente no estado do Pará. A população paraense que vive nessa região representa 45,32%,
sendo que esta região representa apenas cerca de 7,37% da área total do estado. Com aspectos
populacionais desta grandeza não seria incomum que nestas regiões também ocorressem
grandes problemas ambientais e com maior intensidade que em outras regiões. Vindo de
encontro a esse fato, um número cada vez maior de pesquisadores tem procurado meios de
atenuar os impactos ambientais causados por esta crescente ocupação, através de estudos e
pesquisas científicas.
Já que as praias são áreas muito suscetíveis a mudanças tanto decorrentes de ação
antrópica como da ação natural, foram feitos alguns estudos nas praias da Ilha de Algodoal
(Maiandeua), que está localizada entre a foz dos rios Marapanim e Maracanã.
Maiandeua tem origem no Tupi e significa "Mãe da Terra". Uma das duas histórias
mais conhecidas sobre a origem do seu nome diz que a ilha é chamada de Algodoal em
virtude da abundância de uma planta nativa conhecida como algodão de seda, ainda presente
na região, cujas sementes, com filetes brancos, são dispersas pela planta e, ao flutuarem ao
vento, lembram o algodão.
13
E a outra diz que os primeiros marinheiros a aportarem em algodoal notaram que ao
longe suas areias e praias eram tão brancas chegando a ser confundidas com algodão, por isso
o nome Algodoal. Algodoal é, também, o nome da maior vila, das quatro que existem na ilha.
As outras três são Fortalezinha, Camboinha e Mocooca.
A zona costeira do Estado do Pará, que possui 1.200km de extensão, perfazendo uma
superfície de 82.596,43km2, apresenta duas grandes unidades distintas: (1) uma costa alta
recortada, onde vales estuarinos estreitos estão esculpidos em sedimentos do Grupo Barreiras,
e (2) uma costa baixa ocupada por extensas planícies de manguezais, recortadas por vales
afogados, esculpidas em depósitos holocênicos (EL-ROBRINI et al., 1992).
Devido à grande extensão e às múltiplas particularidades apresentadas em função de
suas características fisiográficas, a costa do estado do Pará foi subdividida em três setores: (1)
Setor Costa Atlântica do Salgado Paraense (Baía de Marajó/Rio Gurupi); (2) Setor Insular
Estuarino (Ilha de Marajó/Rio Amazonas); e (3) Setor Continental Estuarino (Rio Pará/Baía
de Marajó) (MMA, 1996).
Figura 1 - Mapa de localização dos Setores da ZCEP. Setor 1: Costa Atlântica do Salgado Paraense; Setor 2:
Insular Estuarino; Setor 3: Continental Estuarino
Fonte: Alves (2007).
14
A Costa Atlântica do Salgado Paraense (Baía do Marajó – rio Gurupi), é bastante
recortada, constituída por um conjunto de reentrâncias (“falsas rias”) – população de 531.614
hab. (26.67 hab/km2). Nesse setor, são registrados o crescimento desordenado e especulação
imobiliária nas cidades costeiras, aterramento de manguezais, pesca e agricultura predatória e
exploração indiscriminada de minerais classe II (ALVES, 2007).
Como a população total paraense é de cerca de 7.581.051 habitantes, segundo
informação constante no portal do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os
habitantes do setor Costa Atlântica do Salgado Paraense respondem por cerca de 8,6 % do
total dos paraenses.
A planície costeira da ilha de Algodoal está inserida no setor (1), na costa atlântica
do salgado paraense, que faz parte da plataforma bragantina, no litoral composto por “rias” da
região NE do estado do Pará.
A ilha é constituída por ecossistemas frágeis representados por dunas, lagos,
mangues e baixos terraços oriundos, principalmente, de materiais geológicos do quaternário
sobre solos de baixa fertilidade (AMARAL, 1998; BASTOS, 1996). Em vista dessa situação,
a ilha de Algodoal/Maiandeua foi transformada em APA (Área de Proteção Ambiental),
através da lei estadual 5.621/90 (AMARAL, 1998).
Apesar dos vários estudos científicos feitos na zona costeira do nordeste paraense a
área de algodoal até então foi pouco estudada.
Com isso, este trabalho de conclusão de curso surge com o objetivo de contribuir
incisivamente com estudos e ferramentas para a gestão costeira, adicionar mais informações
acerca dos estudos científicos já feitos na Ilha de Algodoal-Maiandeua, no sentido de entender
as características morfológicas que regem as suas praias e assim possamos conviver e
conservá-las da melhor forma.
15
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
O presente estudo tem por objetivo descrever as características geomorfológicas e
praiais das praias da Caixa D’Água, Princesa e Grande na Ilha de Algodoal.
2.2 Objetivos Específicos
Descrever a geomorfologia costeira no entorno das praias da Caixa D’Água, Princesa
e Grande.
Analisar a morfologia dos perfis das praias da Caixa D’Água, Princesa e Grande.
16
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Ambiente Praial
De maneira geral, as praias são ambientes altamente dinâmicos, que estão
constantemente sofrendo alterações morfológicas resultantes de variações no regime
energético incidente (clima de ondas), na variação do nível d’água (eventos de tempestade), e
desequilíbrios no suprimento sedimentar local (SHORT, 1999; KLEIN, 2004 apud ARAUJO
et al., 2010).
Até pouco tempo, costumava-se pensar que as praias arenosas, não representavam mais
do que grandes depósitos de areias praticamente estéreis. Porém, hoje são considerados
ecossistemas viáveis e produtivos que sustentam uma variada comunidade de invertebrados e
vertebrados (HOEFEL, 1998 apud SANTOS, 2014).
Assim, nas últimas décadas ocorreu uma procura crescente das praias devido ao seu
elevado potencial para atividades de lazer, ao mesmo tempo, tem-se verificado um aumento
da preocupação com a proteção das praias e o interesse pelo seu estudo, dessa forma, a
crescente ocupação antrópica das zonas marginais tem favorecido, em alguns casos, a
eliminação de praias naturais e noutros, a criação de praias artificiais (FREIRE et al., 2006).
3.1.1 Definições e tipologia
Há diversas definições para o termo “praia”, uma delas é baseada na Lei n.º 7.661/88:
Entende-se por praia a área coberta e descoberta periodicamente pelas águas,
acrescida da faixa subsequente de material detrítico, tal como areias, cascalhos,
seixos e pedregulhos, até o limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua
ausência, onde comece outro ecossistema” (BRASIL, 1988).
Komar (1976) define a praia como um depósito de sedimentos não coesivos e
inconsolidados sobre a zona costeira. São dominados primariamente por ondas, limitado
internamente pelos níveis máximos da ação de ondas de tempestades, ou onde haja mudança
abrupta de sedimentos e/ou declividade, (como zonas de dunas ou falésias) e externamente
pelo início da zona de arrebentação ou o nível de maré mais baixa de sizígia, quando o corpo
de água é sujeito a flutuações de macromarés.
17
Suguio (1992) descreve a praia como sendo uma zona perimetral de um corpo aquoso
(lago, mar, oceano), composta de material não consolidado, em geral arenoso, que se estende
desde o nível de baixa-mar média para cima, até a linha de vegetação permanente (limite das
ondas de tempestade), ou onde há mudanças na fisiografia, como campo de dunas ou falésias.
As praias possuem diferentes características umas das outras, principalmente em
relação à variedade de grãos, formas do perfil praial, grau de exposição a ventos e ondas,
correntes associadas, padrões de crescimento de vegetação e atividades humanas (ALVES et
al., 2011). Definições mais recentes sobre o ambiente praial buscam os processos
hidrodinâmicos atuantes, para a delimitação e caracterização do ambiente praial.
Segundo Alves et al. (2011) as praias paraenses podem ser classificadas em:
Praias Reflectivas: Apresentam uma declividade praial acentuada, além de ausência
de bancos submersos e, por consequência, ausência da zona surfe. Ou seja, a quebra de
onda acontece, principalmente, na zona de espraiamento. Nestas praias, são
observadas ondas de menor altura se comparadas a praias dissipativas e com períodos
mais longos, apresentando-se com sedimentos de granulometria media a grossa
(Figura 2).
Figura 2 - Praia do tipo refletivas - Praia do Farol (Ilha do Mosqueiro-PA)
Fonte: LGAA.
18
Praias dissipativas: Possuem como característica uma declividade suave, uma longa
zona de surfe e múltiplos bancos. Apresentam grande energia de onda, normalmente
mais altas e mais rápidas, caracterizando essas praias com um grande estoque de
sedimentos com granulometria fina ou muito fina (Figura 3).
Figura 3 - Praia do tipo dissipativa - Praia da Princesa (Ilha de Algodoal-PA)
Fonte: Autor.
Praias intermediárias: Encontram-se entre o estado dissipativo e refletivo. Em geral,
possuem energia de onda que varia entre moderada à alta. Os sedimentos
predominantes dessas praias são de granulometria fina a média e, o período de onda é
considerado longo. Quanto ao relevo, este é caracterizado pela presença de bancos
regulares e/ou irregulares. A zona de arrebentação é relativamente próxima da porção
superior da praia (Figura 4).
19
Figura 4 - Praia do tipo intermediária - Praia da Barra Velha (Ilha do Marajó-PA)
Fonte: LGAA.
Os sistemas costeiros organizam-se sob uma dinâmica de funcionamento singular, ao
considerar os diversos fatores que condicionam os processos naturais que respondem a gênese
e organização das formas de relevo atreladas a estes domínios naturais, conferindo a estes
espaços, níveis diversos de fragilidades ambientais. Tais níveis de fragilidades mostram-se
aparentes quando os limites de sustentação dos sistemas costeiros são interrompidos pela ação
antrópica, modificando ou alterando em escalas diversas a organização e funcionamento dos
processos naturais, revertendo em cenários de impactos ambientais (OLIVEIRA, 2010).
3.1.2 Processos costeiros
3.1.2.1 Marés e correntes de marés
A superfície dos mares não permanece estacionária. Devido, principalmente, às
atrações da lua e do sol, a massa líquida se movimenta no sentido vertical, dando origem às
marés e, também, horizontalmente, provocando as correntes de maré (MINGOS, 1996).
20
Maré é a oscilação vertical da superfície do mar ou outra grande massa d’água sobre a
Terra, causada primariamente pelas diferenças na atração gravitacional da Lua e, em menor
extensão, do Sol sobre os diversos pontos da Terra (MINGOS, 1996).
As classificações de maré são caracterizadas pelo período lunar, solar e lunar elíptica.
No Atlântico Equatorial, as marés semidiurnas são predominantes. Caracterizadas por
preamares (PM) e baixamares (BM), o padrão normal de marés é a ocorrência de duas PM e
duas BM no período de um dia lunar (24h50m). A maré semidiurna, então, apresenta duas PM
e duas BM no período de um dia lunar, sendo o intervalo de tempo entre uma PM e uma BM
consecutiva de aproximadamente 6 horas. As maiores amplitudes coincidem em regra geral,
com as datas das posições de Lua Cheia e de Lua Nova (maré de Sizígia), entretanto, as
menores amplitudes coincidem com aquelas de Quarto Minguante e Crescente (maré de
Quadratura) (MARTINS, 2005).
As marés, também, podem ser classificadas de acordo com suas amplitudes em 4
classes distintas: Micromaré: de 0 a 2m; Mesomaré: de 2 a 4m; Macromaré: de 4 a 6m; e
Megamaré: acima de 6m (DAVIES, 1977). Segundo ALVES et al (2011 apud VIANA, 2017),
a Costa Atlântica do Salgado Paraense é uma região que configura um setor estuarino
dominado por macromarés semidiurnas.
As correntes de maré atuam durante todo o ano, e, predominam na circulação da
plataforma continental, até próximo o litoral, onde, existem as correntes de maré reversas, as
quais agem perpendicularmente à costa, com velocidades máximas, superiores a 1,5 nós. Para
NW, predominam as correntes residuais ou permanentes, as quais são formadas
principalmente pelas correntes de deriva litorânea. A densa drenagem contribui para
concentração de energia perpendicular à costa, embora não afete significativamente a
circulação oceânica (PALMA, 1979; ZEMBRUSCKI et al., 1971).
As principais correntes que atuam no litoral paraense são as correntes de maré e,
secundariamente, as correntes litorâneas resultantes da chegada das ondas à costa, que são
responsáveis pelo transporte de sedimentos da plataforma continental para o litoral
(SANTOS, 2014). Segundo El-Robrini et al. (1992), essas correntes exercem uma forte
influência no transporte dos sedimentos nas faixas litorâneas, formando os bancos arenosos
perpendiculares à linha de costa de Estado do Pará.
21
3.1.2.2 Ondas
O litoral norte sofre influência das ondas formadas a partir dos alísios, que apresentam
em regra geral, alturas abaixo de 1-1,5m em mar aberto, corroborada com os dados do
CPTEC/INPE e do Oceanweather (EL-ROBRINI et al., 2006).
A plataforma continental reentrante na costa norte, coincide com um padrão de
propagação do conjunto onda-maré perpendicular à linha de costa. Essa condição é propícia à
ressonância e frequência amplificação deste conjunto, e frequentemente, ao aumento da
esbeltez e velocidade tanto das ondas, quando das correntes de maré (ALVES, 2001).
Aos pontos de quebra comumente associa-se a ocorrência de um banco arenoso,
seguido por uma cava. Por armazenarem um grande volume de sedimentos, os bancos
arenosos desempenham um papel importante no balanço de sedimentos dos sistemas praiais e
também na determinação da energia que alcança a face praial, uma vez que são responsáveis
pela dissipação de uma parte considerável da energia das ondas incidentes (SANTOS, 2014).
As quebras de ondas se dão basicamente por quatro tipos distintos (Figura 5), são eles:
Ascendentes (surging breaker): ocorrem, em geral, em praias com alta declividade
Mergulhantes (plunging breaker): ocorrem em praias de declividade moderada a
alta. Quando as cristas das ondas se rompem após formarem um enrolamento em
espiral;
Deslizantes ou Progressivas (spilling breaker): ocorre nas regiões de topografia de
fundo mais suave, quando as ondas quebram percorrendo uma grande distância;
Frontais (collapsing breaker): ocorre em praias de pendente abrupta e é considerado
um tipo intermediário entre os tipos mergulhante e ascendente.
22
Figura 5 - Tipos de quebra de onda nas zonas costeiras
Fonte: Silva et al. (2004).
3.1.2.3 Vento
Os ventos exercem um papel importante na dinâmica de ambientes costeiros, como,
por exemplo, na formação de ondas, que, ao atingirem a costa, retrabalham, erodem e/ou
misturam os sedimentos depositados nas zonas de intermaré. São responsáveis, também, pelo
processo de transporte litorâneo dos sedimentos nas diversas zonas das praias (EL-ROBRINI
et al., 2006).
No litoral paraense durante o período chuvoso, atuam os ventos alísios de nordeste
precedidos geralmente de calmaria e quase sempre acompanhado de rajadas violentas e
chuvas intensas. No período seco, os ventos são muito mais intensos, causando maiores
influências na geração das ondas, que se tornam muito mais energéticas (SILVA, 2001). Estes
ventos sopram ao nível do solo, sendo originados por dois anticiclones subtropicais: o
Anticiclone Tropical Atlântico (ATA) e o Anticiclone Tropical Atlântico Norte (ATAN) (EL-
ROBRINI et al., 2006).
23
3.2 Morfologia Praial
A zona costeira constitui uma zona de fronteira sujeita às contínuas alterações
morfológicas ocorridas temporalmente e espacialmente, em função de uma série de processos
geológicos continentais e marinhos (SILVA et al., 2004).
A morfologia praial relaciona-se com as características dos sedimentos, ondas
imediatas e antecedentes, condições de maré e vento, e estágio da praia antecedente, e,
durante um longo período de tempo, uma determinada praia tende a exibir um estágio
recorrente modal ou mais frequente dependente das condições ambientais (ALVES, 2001).
Os ventos, as ondas por eles geradas e as correntes litorâneas que se desenvolvem
quando as ondas chegam à linha de costa, além das marés, atuam ininterruptamente sobre os
materiais que se encontram na praia, erodindo, transportando e depositando sedimentos
(SANTOS, 2014).
Em outras palavras, a morfologia de praia está principalmente relacionada a um
processo de retroalimentação entre as ondas, correntes e topografia. Esses processos causam
um transporte do sedimento. Ou seja, mudanças nas interações entre as ondas e correntes
influenciam na topografia da praia (PACHECO, 2015).
Neste contexto, as praias representam o ambiente frontal do sistema costeiro, o que as
torna altamente dinâmica, suas características morfológicas refletem o efeito causado pelos
seus agentes alteradores predominantes (ondas e marés) e os atributos dos sedimentos que as
compõem, principalmente a granulometria.
Segundo Santos (2014), as modificações neste ambiente provocarão alterações
também na relação da macrofauna e meiofauna do ambiente praial, como mudanças na
permeabilidade, e nas trocas de oxigênio e nutrientes. Portanto, o conhecimento do ambiente
praial possibilita o auxílio a um melhor planejamento e gestão das zonas costeiras.
As praias podem ter seus limites delimitados levando em consideração o aspecto
morfológico e hidrodinâmico de diferentes maneiras. Desta forma, os termos utilizados neste
trabalho são baseados na subdivisão proposto por Wright et al. (1982).
24
3.2.1 Zonação Morfológica
Morfologicamente, a praia é subdividida em três zonas:
Zona de Supramaré (ou Pós-praia): Esta porção compreende a porção superior do
espraiamento da onda até o limite topográfico da praia em direção ao continente
(dunas costeiras). Pode ou não ocorrer berma (s) e areias retrabalhadas pelo vento.
Zona de Intermaré (ou Estirâncio): Zona exposta e recoberta pelas águas durante os
ciclos de maré, mais significativa, fácies heterolíticas; é a face propriamente dita a
praia, que ocorre entre os níveis de maré alta e baixa de sizígia.
Zona de Inframaré (ou Face praial): Representa a área inferior do perfil praial e
ocorre abaixo da linha de maré baixa de sizígia, estendendo-se em direção ao mar. Ou
seja, região submersa, onde a bioturbação é constante.
Figura 6 - Classificação das principais zonas do perfil praial sob o ponto de vista morfológico
Fonte: Alves (2002).
3.2.2 Zonação Hidrodinãmica
De acordo com a hidrodinâmica da praia, distinguem-se três zonas:
Zona de arrebentação: é a porção do perfil da praia onde ocorre a dissipação das
ondas, compreendida entre o limite da quebra das ondas mais distante e a mais
próxima da costa. O número de zonas de arrebentação está consequentemente
relacionado com o número de bancos de areia e calhas existentes na praia e o seu
conjunto forma a zona de arrebentação.
25
Zona de surfe: A caracterização desta zona depende do modo como ocorre a
dissipação energética das ondas que incidem. Segundo Wright et al (1982 apud
BRAGA, 2007), em praias de baixa declividade, as ondas quebram e formam vaga
(bores). Porém, o reconhecimento das diferenças das zonas de surfe e arrebentação se
torna difícil em praias dissipativas.
Zona de espraiamento: Caracteriza a região entre a máxima e a mínima excursão da
vaga sobre a face da praia. Após esta zona, aparece a escarpa de praia e/ou por vezes
uma feição deposicional de sedimentos chamada de berma.
Figura 7 - Classificação das principais zonas do perfil praial sob o ponto de vista hidrodinâmico
Fonte: Alves (2008 modificado de RUGGIERO et al., 2000 e ALVES, 2002).
Segundo Santos (2014), para o monitoramento da evolução da linha de costa, antes de
qualquer coisa é importante salientar que as escala dos processos morfodinâmicos que
ocorrem na zona costeira variam em intervalos de poucas horas a séculos, desta forma,
programas de monitoramento são mais eficazes quando realizados em longo prazo para
análises mais precisas da evolução da linha de costa (ex.: décadas).
26
4 MATERIAL E MÉTODOS
Para o desenvolvimento do trabalho foi necessário que se impusessem algumas etapas,
como o levantamento de bibliografias sobre a área, coleta de dados em campo com posterior
processamento dos dados obtidos.
4.1 Pesquisa Bibliográfica
Foram feitas pesquisas em dissertações de mestrado e teses de doutorado, livros sobre
oceanografia, geomorfologia, trabalhos publicados em congressos, revistas, papers e internet
na busca de imagens de satélite, auxilio do Google Earth e etc.
4.2 Pré-Campo
Antes do início do trabalho de campo, houve o levantamento das praias e dos pontos
onde seriam estabelecidos o início dos perfis praiais.
Com o intuito de representar as maiores e mais conhecidas praias de Algodoal, Praia
da Caixa d’Água, na porção oeste da ilha, Praia da Princesa, na porção norte da ilha e Praia
Grande na porção leste da ilha, foram estabelecidos três perfis topográficos, um em cada
praia, estes foram traçados nas seções mais representativas morfologicamente de cada uma
das praias e escolhidos os pontos, suas coordenadas foram tomadas com o uso de GPS.
4.3 Trabalho de Campo
4.3.1 Análise geomorfológica
As análises foram feitas através do levantamento das Unidades Geomorfológicas
obtidas a partir de interpretação de imagens de satélite QuickBird Eye no programa ARCGIS,
além de aquisição de imagens com um drone modelo Phantom 3 PRO, fazendo vôos por toda
a extensão das praias de Algodoal, juntamente com uma câmera fotográfica em mãos
registrando fotos panorâmicas.
27
Figura 8 - Levantamento de fotografias aéreas com drone DJI modelo Phanthom 3
Fonte: Autor.
4.3.2 Levantamento dos Perfis Topográficos Praiais
A morfologia praial foi obtida no mês de Março/2019, através do método de
levantamento topográfico de Stadia, chamado originalmente de Fast, Accurate Two-Person
Beach Survey, foi aperfeiçoado para praias em 1981 por William Birkemeier para o Coastal
Engineering Research Center (BIRKEMEIER, 1981), e modificado por Alves (2007) para
levantamento topográfico com uso de estação total em praias de macromaré (Figura 9).
Figura 9 - Método do Levantamento Topográfico da Stadia
Fonte: Autor.
28
Para o levantamento topográfico, com o auxílio do GPS modelo GPSMAP® 64sc
foram geolocalizados o início dos perfis e as unidades geomorfológicas, em seguida neste
ponto, em um tripé, foi devidamente estacionada a estação total modelo RUIDE RTS-822R³,
que operou na coleta dos dados em conjunto com um par de prismas com 2 metros de altura
cada. O processo foi executado por três pessoas, um operador da estação total e dois auxiliares
responsáveis por posicionar os prismas nos pontos de visada. (Figura 9).
Para a uniformização das cotas levantadas dos perfis, o nível de referência adotado foi
a linha de maré alta de sizígia, para a qual, as leituras foram niveladas (ALVES, 2001). Neste
trabalho, utilizou-se a definição proposta por Masselink e Short (1993) para a descrição das
zonas do perfil praial. Foram feitos perfis na praia da Caixa D’Água, que é a praia que se
encontra mais protegida, voltada para o rio Marapanim, outro perfil localizado na praia mais
exposta, que é a praia da Princesa voltada para o atlântico, e por fim, o perfil localizado na
praia Grande que está voltada para o rio Maracanã, mais próximo da comunidade de
Fortalezinha e do continente.
4.3.3 Medição da Maré e Ondas e Declividade
As medidas de amplitude de maré e horários de preamar e baixa-mar foram tomadas
com referência na Tabua de Marés da DHN, no fundeadouro de Marapanim.
Os dados de ondas, no qual foi utilizada uma régua graduada para determinar a altura
da onda na zona de arrebentação e um cronômetro para o período das ondas através da leitura
do tempo de onze ondas consecutivas.
A razão entre altura e distância de cada setor dos perfis praiais indicou a declividade
do perfil em cada zona da praia estudada.
4.4 Processamento Digital dos Dados dos Perfis Topográficos.
Para o processamento dos pontos coletados e geração dos perfis de cada uma das
praias, utilizou-se o software Grapher da empresa GoldenSoftware. Este software é capaz de
criar gráficos detalhados e precisos, em duas ou três dimensões através da inserção de um
conjunto de valores, nesse caso as variações das cotas obtidas no levantamento feito nas
praias da Caixa D’agua, Princesa e Grande.
29
Figura 10 - Célula ativa do software GRAPHER Six (2-D Graphing System 6.2.24) (Golden Software)
Fonte: Autor.
4.5 Caracterização da Área de Estudo
4.5.1 Localização e Acesso
A Ilha de algodoal está distante 200 km de Belém, na parte norte do município de
Maracanã, na região nordeste do Estado do Pará, entre os paralelos 00º 35’ 03” e 00º 38’ 29”
de latitude sul, e entre os meridianos 47º 31’ 54” e 47º 34’ 57” de longitude oeste de
Greenwich. A ilha de faz parte da região do salgado paraense e é limitada na sua porção norte
pelo Oceano Atlântico, a leste pela baia do rio Maracanã, a oeste pela baia do rio Marapanim
e ao sul pelo furo do Mocooca.
O acesso a partir de Belém é feito através da BR-316 até a cidade de Castanhal, onde
toma-se a rodovia PA-136 até a intersecção com a PA-318 chegando à vila de Marudá. A
travessia da bacia do rio Marapanim é feita de barco até aportar na vila de algodoal, esta
travessia dura em média cerca de 40 a 50 minutos, dependendo do estágio das marés, pois na
maré baixa toma-se um caminho tortuoso entre os bancos de areias comuns na foz do rio, em
que somente os barqueiros habituados com aquela lida conhecem.
30
Figura 11 - Mapa de localização da Praia de Algodoal
Fonte: LGAA.
4.5.2 Clima
Na região tropical, a precipitação pluviométrica é o elemento meteorológico mais
importante, pois a vida depende grandemente da dinâmica desse regime pluviométrico. A
precipitação pluviométrica anual varia muito de um local para o outro. Regionalmente a
estação chuvosa é chamada de Inverno e a estação seca é chamada de Verão (OLIVEIRA et
al.,2003).
Para que se caracterize o clima de uma região, é necessário obter uma média das
condições atmosféricas atuantes naquela região durante determinado tempo. Desta forma, a
região da ilha de algodoal está inserida no subtipo climático Am, segundo a classificação que
utiliza os parâmetros dos métodos de Koppen. Que é uma região com clima de monção, com
moderada estação seca e ocorrência de precipitação média mensal inferior a 60 mm. É
considerado um clima intermediário entre "Af" e o "Aw".
31
De acordo com Amaral (1998), a Vila de Algodoal está inserida em uma região com
um clima enquadrado como tropical quente e úmido, com médias anuais de temperatura em
torno de 27,7°C e precipitação em torno de 3000 mm/ano. A distribuição de chuvas define
dois períodos bem distintos: um chuvoso, que se estende de dezembro a maio; e um período
de estiagem nos demais meses do ano. O que difere, um pouco, do gráfico (Figura 12) para a
distribuição da precipitação para todo o NE do Pará.
Figura 12 - Distribuição da precipitação total e temperatura média da região Nordeste do Pará (2003)
Fonte: INPE.
4.5.3 Hidrografia
A Ilha de Algodoal insere-se entre as baías dos rios Maracanã à leste e Marapanim à
oeste, influenciando de forma crucial muitos processos costeiros que ocorrem em suas praias.
Ao Norte algodoal é limitada, e influenciada, pelo Oceano Atlântico e ao Sul pelo Furo do
Mocooca. A praia Grande que se posiciona na região mais a leste de algodoal, tem as suas
características morfodinâmicas alteradas, em parte, por força do Rio Maracanã. A praia da
Princesa, posicionada ao norte de Algodoal, está voltada para o Oceano Atlântico e sofre
grande influência deste. E a praia da Caixa d’Água que está voltada para o rio Marapanim e se
encontra de forma mais protegida que as demais, onde é influenciada pelos processos que
ocorrem na baia do rio.
32
Em relação à hidrografia da área, a bacia do rio Maracanã está inserida na região costa
Atlântica-Nordeste e tem como principal rio, o Maracanã, com uma extensão de 101 Km a
partir do igarapé do Tubo até a ilha do Cumaru. Com relação ao perfil, e tipicamente
meandrante, de baixa declividade que permite escoamento superficial, que possibilita um
padrão de drenagem com grande quantidade de cursos d’água em várias direções. Possuindo
uma ordem de vazão de aproximadamente 103 a 104 m³ s-1 (COSTA, 2004).
4.5.4 Aspectos Geológicos
Na região da ilha de algodoal as unidades estratigráficas mais notadas, assim como em
grande parte do NE do estado, são a formação pirabas, formação barreiras e sedimentos pós-
barreiras.
4.5.4.1 Formação Pirabas
Segundo Ferreira (1980) as rochas da formação Pirabas são constituídas de calcários
marinhos, bioclásticos, micríticos, dolomicríticos e margas datados do Mioceno inferior,
depositados em ambientes marinhos rasos.
A sedimentação da Formação Pirabas ocorreu em um momento de transgressão
marinha, no Terciário, com sedimentos de origem marinha, após esse período ocorre uma
regressão do nível do mar, onde acima da Formação Pirabas se deposita a Formação
Barreiras, com sedimentos oriundos da descarga dos estuários.
4.5.4.2 Formação Barreiras
Estes sedimentos ocorrem de forma expressiva na área, constituindo falésias e um
relevo colinoso, levemente ondulado; assentam-se sobre a Formação Pirabas e sobrepostos
pelos sedimentos pós-Barreiras (SILVA, 1998).
O Grupo Barreiras é constituído por uma seqüência de sedimentos siliciclásticos, que
variam de argilas multicoloridas a sedimentos inconsolidados, argilo-arenosos e areno-
argilosos, geralmente apresentando coloração amarelada, alaranjada e avermelhada, às vezes
com leitos de material grosso a conglomerático. Observam-se ainda níveis descontínuos de
um arenito ferruginoso (Gress do Pará) em blocos soltos, irregulares e de tamanhos variados
(GÓES et al., 1990).
33
4.5.4.3 Pós Barreiras
Segundo Silva (1996), os sedimentos do Pós Barreiras são de constituição areno-
argilosa, composta principalmente por grãos de quartzo e frações de silte e argila, com leitos
finos de seixos de arenitos ferruginosos.
Os depósitos sedimentares da formação Pós-Barreiras repousam sobre os sedimentos
do grupo Barreiras, e destes separam-se por uma discordância erosiva (SÁ, 1969). Sua idade
ainda é objeto de controvérsias, sendo assumida constantemente como pleistocênica (ALVES,
2001).
4.5.4.4 Sedimentos Quaternários
Apesar de pouco espessos, ocupam grandes áreas na região costeira (SILVA, 1998). O
Quaternário é representado por sedimentos areno-argilosos pleistocênicos do Pós-Barreiras e
pelos depósitos da planície aluvionar, estuarina e costeira da cobertura sedimentar recente
(ALVES, 2001).
Figura 13 - Coluna Estratigráfica da Região Nordeste do Pará. Extraído de Carvalho (2007)
Fonte: Modificado de Carvalho (2007).
34
4.5.5 Vegetação
A região nordeste do Pará tem uma cobertura vegetal caracterizada por Floresta
Ombrolia densa, vegetação de florestas secundárias ao longo do planalto costeiro e as
formações pioneiras, compostas pela vegetação de mangue, campos herbáceos e arbustivos
extensivos sobre a planície costeira (MENDES; SILVA; FARIA JUNIOR, 1997).
E segundo Santos (1996) existe na área de estudo a presença da restinga, que é uma
vegetação que sofre influência marinha, e recobre tanto os depósitos arenosos praiais e dunas,
como a as planícies flúvio-marinhas. Vegetação que é facilmente encontrada na área do litoral
paraense compreendida entre Salinas e Algodoal.
Em algodoal a vegetação de restinga é notada de forma mais destacada na praia
Grande, após a faixa de dunas embrionárias e na praia da Princesa recobrindo e fixando as
dunas. Diferente do caso da praia da Caixa d’Água, em que esta vegetação não ocorre devido
ao fato da presença das casas da vila de Algodoal.
Ainda conforme o trabalho de Santos (1996), juntamente com o trabalho de outros
pesquisadores do Museu Emílio Goeldi, foi possível individualizar quatro tipos de vegetação
em Algodoal: vegetação de Campos, Dunas, Mangue e Várzea.
4.5.6 Parâmetros Oceanográficos
4.5.6.1 Ventos
Os ventos de NE e SE formados por anticiclones no Atlântico são as principais fontes
eólicas de modificação na estrutura sedimentar e morfológica das praias na região de
Algodoal. Conforme Alves (2001), a ação destes anticiclones, do Atlântico (ATA) e do
Atlântico Norte (ATAN), ao encontrar-se na linha do equador, originam a Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT), que é uma área de extensão variável, com fracas pressões,
poucos contrastes, ventos fracos, onde predominam as calmarias. Onde está ZCIT tem um
deslocamento sazonal, ocorrendo na região, diretamente, na estação chuvosa.
35
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 Unidades Geomorfológicas da Ilha de Algodoal
A geomorfologia da região de Algodoal se divide basicamente em duas unidades de
relevo com características diferenciadas: o Planalto Costeiro, que é também chamado por
alguns autores como Planalto Rebaixado da Amazônia, e a Planície Costeira. Utilizando
dados do trabalho de Santos (1996) é possível caracterizar as subunidades geomorfológicas
presentes na região.
Segundo o autor, em relação ao Planalto Costeiro foram encontrados dois tipos de
unidades geomorfológicas distintas, as falésias e as plataformas de abrasão. Sendo que as
falésias podem ser de dois tipos, ativas e inativas. E no que concerne as unidades
geomorfológicas presentes na Planície Costeira, foram encontradas e caracterizadas 7
unidades, a citar: Canal Estuarino, Cordões Praia-Duna, Planície de Maré, Praias, Dunas,
Lagos Interdunas e Sangradouros.
Figura 14 - Mapa das unidades de relevo, Planalto e Planície Costeira, na área de estudo.
Fonte: LGAA.
36
5.1.1 Planalto Costeiro
Segundo cita em seu trabalho, Senna (1993), diz que esta é a unidade mais
representativa da área de estudo, cujas maiores cotas topográficas, em torno de 40 m,
aparecem em falésias vivas, localizadas em sua porção leste e sudeste, verificando-se ligeira
inclinação em direção ao interior da ilha. Está inserida no substrato pertencente aos
sedimentos Pós-Barreiras pertencentes ao Quaternário, constituídos por sedimentos areno-
silticos-argilosos, bastante intemperizados e sem estruturas sedimentares visíveis.
Seu contraste em relação a planície costeira é distinto, tanto litológica e
morfologicamente quanto pela cobertura vegetal (COSTA et al., 1991). A expansão deste
sistema em relação a linha de costa origina processos erosivos (falésias), ao encontrar-se com
unidades geomorfológicas pertencentes a Planície Costeira.
5.1.1.1 Falésias
São unidades geomorfológicas quer foram esculpidas no limite entre o Planalto
Costeiro e a Planície Costeira, decorrentes de processos erosivos originados pela ação das
ondas, ventos e/ou flutuabilidades do nível do mar. Podem ser de dois tipos: Falésias ativas;
Falésias inativas.
5.1.1.1.1 Falésias Ativas
Estão desenvolvidas ao longo da linha de costa atual, sendo constantemente
retrabalhadas pelas ondas, podem ser limitadas ora por planícies de maré, ora pela unidade
praia. A altura dessas falésias varia de 2 a 18m (SANTOS, 1996).
37
Figura 15 - Falésia ativa na Praia da Caixa d’Água
Fonte: LGAA
5.1.1.1.2 Falésias Inativas
São falésias que não sofrem mais o retrabalho pelas ondas, pois ocorrem no interior da
planície costeira, protegida por seus depósitos, em algumas ocasiões são indicadores de
variação de nível, com um nível de mar mais alto em outrora.
5.1.1.2 Plataforma de Abrasão
Ocorrem imediatamente na base da falésia, e são originadas pelos processos de erosão
que ocorrem nas mesmas. Podem formar extensas zonas descontinuas de arenitos lateritizados
que se estendem na região de intermaré, ou no estirâncio praial funcionando às vezes como
um cordão de proteção as falésias Silva (1998).
38
Figura 16 - Plataforma de Abrasão na praia da Caixa d’Água
Fonte: Autor.
5.1.2 Planície Costeira
Relacionado à área de estudo, a planície costeira em questão é o sistema de relevo
mais expressivo, e corresponde aos depósitos arenosos e argilosos holocênicos. Limita-se, em
direção ao continente, pelo planalto costeiro, e ao norte, pelo oceano atlântico. Constitui-se
por um relevo plano, próximo ao nível do mar, com aspecto denteado, recortado por canais de
maré e pela foz do Rio Marapanim. Sua largura máxima é de 4 km a leste da ilha de Algodoal,
onde localizam-se os cordões praiais (SANTOS, 1996). Os subambientes encontrados e
inseridos na Planície Costeira de Algodoal são:
5.1.2.1 Canal Estuarino
O canal estuarino está margeado pela planície de maré e representa a foz do rio
Marapanim. A morfologia deste canal, aliado ao sistema deposicional a que está inserido
permite enquadrá-lo na compartimentação morfológica proposta por Woodroffe et al. (1989)
para o canal estuarino do Rio Aligator, na Austrália.
Desta forma a foz do estuário do Rio Marapanim, corresponderia ao Funil Estuarino,
típico de um estuário dominado por macromarés (SANTOS, 1996), com uma larga
desembocadura e que vai se afunilando à montante.
39
Figura 17 - Canal Estuarino do Furo Velho em extremidades da Praia da Caixa d’Água
Fonte: Autor.
5.1.2.2 Cordões Praia-Duna
Ocorrem a partir do interior da planície costeira em contato com as falésias inativas e
dos manguezais da planície de maré. Esta unidade é constituída por um complexo de cristas
de praias antigas, alinhadas na direção NW-SE, delineando uma planície de cristas praiais.
Para o interior da Planície Costeira, as cristas estão superpostas por dunas vegetadas, na
ausência das dunas, as cristas são colonizadas por vegetação arbustiva de pequeno porte,
enquanto que nas calhas desenvolve-se vegetação herbácea, sendo que em algumas ocasiões
desenvolvem-se, também, lagos intermitentes nas calhas do sistema de cordões praia-duna
colonizados por vegetação aquática (SANTOS 1996).
40
Figura 18 - Cordões Praia-dunas – Praia da Princesa
Fonte: Autor.
5.1.2.3 Planície De Maré
De acordo com Santos (1996), esta unidade é limitada, continente adentro, pelo
Planalto Costeiro e com a unidade cordões duna-praia e, em direção ao oceano, com o nível
médio de maré mais baixa. Tem superfície quase horizontal, constantemente recoberta pelas
macromarés e é recortada por canais de marés meandrantes. O autor subdividiu esta unidade,
baseado em critérios morfo-sedimentares, em Planície Arenosa e Planície Lamosa.
5.1.2.3.1 Planície Arenosa
Representada por uma região arenosa limitada abaixo do nível médio de maré baixa
em direção ao oceano, em direção ao continente, está limitada pelo nível médio de maré.
Desta forma, esta planície abrange tanto a zona de inframaré, como a zona de intermaré
inferior e média (Santos, 1996)
41
5.1.2.3.2 Planície Lamosa
É delimitada pela linha de nível médio de maré até o nível de alcance das marés de
sizígia, englobando, assim, tanto a zona de intermaré superior como a planície de supramaré
que se liga com o planalto costeiro, cujo limite é marcado por uma zoa de transição, onde se
destaca vegetação típica de várzea (SANTOS, 1996).
5.1.2.4 Praia
Esta unidade margeia a planície arenosa no limite com o oceano e está limitada por
depósitos dunares, manguezais e falésias esculpidas na formação barreiras, em direção ao
continente (SANTOS, 1996).
Em algodoal são diferenciadas através de suas características e localizações, que
influenciam na sua morfodinâmica, onde as praias voltadas ao norte e a leste, áreas com maior
energia de ondas, são denominadas de praias flecha (SANTOS, 1996) ou flecha-barreiras
(CARVALHO, 2007) e as praias estabelecidas na porção oeste, áreas com menor energia de
ondas, são denominadas de praias de enseada.
Como esta unidade de relevo é o principal mote de nosso trabalho na região,
analisaremos suas características morfológicas, hidrodinâmicas e outras peculiaridades de seu
relevo posteriormente em outro capítulo.
42
Figura 19 - Visão parcial das praias estudadas. A-Praia da Princesa; B-Praia da Caixa d’Água; C-Praia Grande.
Fonte: Autor.
A B
C
43
5.1.2.5 Dunas
Esta unidade está delimitada tanto pela unidade dos cordões praia-duna, como pela
unidade de planície de maré e nela foram reconhecidos três tipos de dunas: Paleodunas, Dunas
Vegetadas e Dunas Ativas.
É necessário citar que as Dunas Embrionárias, muito comuns na porção leste da ilha
de Maiandeua, são uma subdivisão do tipo Dunas Vegetadas, e segundo Santos (1996)
desenvolvem-se junto ao pós-praia e caracterizam-se por pequenos montículos de areia com
até 1 (um) metro de altura colonizados por vegetação rasteira.
Estas dunas muitas vezes formam cordões arenosos junto ao pós-praia, ou
desenvolvem-se nas regiões planas, em meio aos depósitos de dunas vegetadas.
Figura 20 - Dunas presentes na Ilha de Algodoal – Praia da Princesa
Fonte: Autor.
44
5.1.2.6 Lagos Interdunas
Os lagos interdunas estão associados tanto aos campos de paleodunas como aos
campos de dunas frontais e são alimentados basicamente por águas pluviais, que podem secar
durante o período de estiagem (SILVA JÚNIOR E EL-ROBRINI, 2001). Na área de estudo os
lagos estão concentrados principalmente na região posterior às regiões de dunas frontais.
Figura 21 - Lagos interdunas – Praia da Princesa
Fonte: Autor.
5.1.2.7 Sangradouros
O dique formado naturalmente pelas dunas frontais, exerce a importante função de
armazenamento das águas da chuva e confinamento da bacia de drenagem. Quando em
períodos de alta precipitação, o extravasamento das águas presentes nos lagos Interdunas se
processa devido aos sangradouros que seccionam o sistema de dunas dando vazão à água
retida.
45
Figura 22 – Sangradouro – Praia da Princesa
Fonte: Autor.
5.2 Morfologia Praial
5.2.1 Praia da Caixa D’agua
A praia da Caixa d’Água está localizada no setor oeste de algodoal, tem uma extensão
de aproximadamente 600m, com uma concavidade típica das praias de enseada.
Está compreendida entre a plataforma de abrasão (PA) vegetada por mangue e
spartina e a foz de um canal chamado Furo Velho, ao norte. A foz do canal Furo Velho separa
a Praia da Caixa d’Água da Praia do Farol.
46
Figura 23 - Plataforma de Abrasão (PA), em parte submersa, que secciona a Praia da Caixa d’Água. Mangue
Jovem (MJ) ocorrente na Plataforma de Abrasão.
Fonte: Autor.
Figura 24 - Praia da Caixa d’Água e a sua Faixa Laterítica coincidindo com a LMA
Fonte: Autor.
47
Figura 25 - Praia da Caixa d’Água e a sua Linha de Maré Alta (LMA)
Fonte: Autor.
5.2.1.1 Perfil Praia da Caixa D’água
O perfil topográfico da praia da caixa d’água tem seu ponto inicial localizado nas
coordenadas de: 00°35'31,6"S de latitude e 47°35'20"W de longitude, ocorre no leito de uma
rua perpendicular à linha de costa, na região do pós-praia. Nesta praia não existem campos de
dunas, dada sua localização no lado oeste da ilha, e a predominância dos ventos ser de
nordeste. Porém isto não impede que existam elevações arenosas nos leitos das ruas que são
perpendiculares a linha de costa e que migram de acordo com a direção dos ventos (Figura
26).
48
Figura 26 - Perfil Praia da Princesa
Fonte: Autor.
O perfil conta com cerca de 160 m de extensão e aproximadamente 6,24m de altura,
com declividade moderada. Na região do Pós-Praia deste perfil existe uma faixa de sedimento
laterítico, que é resquício da erosão de uma falésia que ainda existe em setores da praia, essa
faixa laterítica bordeja toda praia da Caixa d’Água. Em alguns períodos este “cordão” é
coberto por sedimentos e em outros fica mais evidente como quando ocorre um balanço
sedimentar negativo na praia. O ponto final do perfil topográfico ocorre após a linha de maré
baixa, na Zona de Inframaré.
49
Neste perfil topográfico, a Zona de Supramaré (ZS) tem cerca de 3m de extensão,
onde a Linha de Maré Alta (LMA) ocorre a 1,95m abaixo da atitude topográfica e cerca de 18
m do início do perfil. Além disso, observa-se a presença de uma elevação arenosa que pode
ser tanto uma barra longitudinal migrando rumo a Zona de Supramaré, quanto um berma em
formação, ou sendo erodido, por cima da faixa laterítica que bordeja a praia. Logo após essa
barra ou berma temos a Zona de Intermaré com extensão de 114 m, e diferença de
aproximadamente 5 m em relação à cota inicial do perfil. A zona de Inframaré, aporta após o
limite da Linha de Maré Baixa (LMB) à cerca de 117 m. A diferença de cota topográfica e de
distância entre a LMA e a LMB é de 3m e 100 m, respectivamente. Neste perfil a diferença
morfológica entre os subsetores da Zona de Intermaré não é tão notada, a não ser a Zona de
Intermaré Superior das demais, pois tem uma declividade mais acentuada se comparada a
Zona de Intermaré Média e Inferior. Ao dividirmos a Zona de Intermaré, temos que: A Zona
de Intermaré Superior tem cerca de 12m de extensão, a Zona de Intermaré Média tem a
extensão de cerca de 78m e a Zona de Intermaré Inferior com uma declividade muito suave, e
a sua extensão de 28m. A partir da LMB se estende a Zona de Inframaré, que neste perfil
topográfico vai até os 160m de extensão. Podemos notar ainda que após a Linha de Maré
Baixa tem-se uma escarpa, onde se supõe que seja o início de uma calha aportando a praia.
5.2.2 Praia da Princesa
A Praia da Princesa é a praia mais conhecida da ilha de Algodoal. É a praia mais
voltada para o oceano e que sofre a sua maior influência. A Praia da Princesa tem cerca de
4000m de extensão e tem sua orientação longitudinal tendendo para EW, voltada para o
Norte. Está compreendida entre a Plataforma de Abrasão (PA), que a separa da Praia do Farol,
e o Mupeua, que é a desembocadura da junção do Canal do Furo Velho e Igarapé das Pedras,
que à separa da Praia Grande à leste.
A Praia da Princesa tem um vastíssimo Campo de Dunas com uma área de cerca de,
aproximadamente, 872.000m² de extensão, estimada, que vai desde o contato com a praia até
a margem de canais, como o Furo Velho.
50
Figura 24 - Campo de Dunas da Praia da Princesa
Fonte: Autor.
As dunas da praia sofrem constantemente com a ação das ondas e “grandes marés”, as
quais geram erosão, isto decorre da forte ação hidrodinâmica da área proporcionada,
principalmente, pela ação dos ventos de NE que atuam gerando e fortalecendo as ondas que
incidem na superfície praial. Portanto, deve-se a isto, a forte mobilidade que a Praia da
Princesa tem em relação ao seu volume sedimentar e características morfológicas de sua
superfície.
É comum entre as dunas da Praia da Princesa existir cisternas de captação de água, que
coletam a água dos lençóis freáticos que existem no subsolo deste campo de dunas e que são
“alimentados” em grande parte pela ação das ondas do mar por infiltração.
O ponto inicial do perfil topográfico da Praia da Princesa ocorre no campo de dunas.
As coordenadas do ponto inicial são: 0°34'44"S de latitude e 47°34'54.57"W de longitude.
51
Figura 25 - Campo de Dunas da Praia da Princesa
Fonte: Autor.
Figura 26 - Duna no início do perfil da Praia da Princesa
Fonte: Autor.
52
Figura 27 - Praia da Princesa e o processo de erosão em suas dunas
Fonte: Autor.
Figura 28 - Praia da Princesa, parte leste, notar a presença de uma pequena calha na intermaré superior
Fonte: LGAA.
53
5.2.2.1 Perfil Praia da Princesa
O perfil compreende cerca de 142 m de extensão entre o início e seu último ponto de
tomada de cota topográfica, no sentido continente-mar. A diferença de topografia entre o
início e o fim do perfil é de, aproximadamente 7m. O seu início ocorre a cerca de 9 m atrás de
uma duna, tem uma elevação de cerca de 2,5 m, após isto o perfil com uma declividade
elevada, a partir do sopé da duna temos um abrandamento na declividade, que diminui, até a
Linha de Maré Alta que ocorre por volta de 10 m. A Zona de Intermaré Superior situa-se
aproximadamente dos 10 m até 43 m. A partir daí segue-se a Zona de Intermaré Média, que
vai até os 100 m, culminando no início da Zona de Intermaré Inferior, onde temos um leve
aumento da declividade, e se estende até as imediações dos 127m, onde ocorre a Linha de
Maré Baixa até o fim da Zona de Inframaré, constante no perfil até os 142m. A declividade do
trecho compreendido entre a LMA e a LMB é de 4m.
55
5.2.3 Praia Grande
A Praia Grande, ao contrário da Praia da Princesa, é a praia mais desconhecida pelos
visitantes de algodoal já que é a mais distante. Seu acesso a costa leste da Ilha de Algodoal ou
se dá pela Praia da Princesa, atravessando a foz do Mupeua ou pela comunidade de
Fortalezinha, após, atravessa-se o Furo de Fortalezinha.
A Praia Grande está voltada para o Rio Maracanã, e sofre grande influência deste. É a
maior praia de algodoal, pois tem cerca de 4700m de extensão. Sua localização é a porção
leste da Ilha de Algodoal e sua orientação longitudinal tende para a atitude NW-SE.
Esta praia é limitada ao norte pela foz do Mupeua, ou união das desembocaduras do
Igarapé das Pedras e Furo Velho, e ao sul pelo Furo de Fortalezinha. Porém na parte sul da
Praia Grande se torna mais importante citar o Furo do Mocooca e a grande influência do seu
canal de vazante na morfodinâmica da parte sul da Praia Grande. O Canal de Vazante do Furo
do Mocooca é o maior causador ou é um dos principais desencadeadores de uma forte taxa de
erosão ocorrente na área. Onde em algumas ocasiões, observando-se a sazonalidade da
migração dos canais na área, ocorre a formação de vários canais ou ramificações dos canais
existentes ali, que chegam a seccionar, ou estreitar ao máximo o estirâncio da Praia Grande e
erodir uma faixa de mangue que existe as margens do Furo de Fortalezinha.
Figura 30 - Franja de Mangue Erodido (FME), na porção sul da Praia Grande, à margem do Furo de
Fortalezinha (FF)
Fonte: LGAA.
Outra característica peculiar da Praia Grande é que, no seu Pós-Praia, temos a
presença dos Cordões Duna-Praia descritos por Santos, (1996), e suas Cristas Praiais antigas
que estão inseridas entre dunas de pequeno porte.
56
Figura 31 - Cordões Dunas-Praias no Pós-Praia da Praia Grande, observar as Cristas Praiais antigas
Fonte: LGAA.
A Praia Grande, assim como a Praia da Princesa, é uma praia do tipo Flecha-Barreira
com progressão do sistema barra-calha que origina zonas de alta energia nas cristas, e zonas
de baixa energia, nas calhas, onde são depositam-se material sedimentar de granulometria
mais grosseiro e mais fina, respectivamente.
Figura 32 - Zona de Supramaré na Praia Grande
Fonte: Autor.
57
Figura 33 - Orientação perpendicular a linha de costa do Perfil da Praia Grande
Fonte: Autor.
5.2.3.1 Perfil Praia Grande
O ponto inicial do perfil da Praia Grande tem as seguintes coordenadas: Latitude de
0°34'46,5"S e Longitude de 47°34'42"W. O perfil se inicia na região do Pós-Praia e segue
perpendicular à linha de costa, com seu término ocorrendo na Zona de Inframaré, alguns
metros após a Linha de Maré Baixa. O perfil topográfico tem cerca de 100 m de extensão e
diferença de cota topográfica entre o início e fim de cerca de 3 m de altura e baixa declividade
A partir do início do perfil (no sentido continente-mar) tem-se cerca de 9 m até a base
da zona de supramaré com cerca de 1 m de altura, neste perfil existe uma espécie de cordão de
dunas embrionárias na região do Pós-Praia. A linha de Maré Alta (LMA) surge por volta de
9,5 m após o início do perfil.
58
Figura 34 - Perfil praial levantado na Praia Grande
Fonte: Autor.
A Zona de Intermaré Superior (ZIS) tem cerca de 11 m de extensão e declividade
moderada. A Zona de Intermaré Média (ZIM) tem cerca de 51 m de extensão. A Zona de
Intermaré Inferior (ZII) da Praia Grande tem uma extensão de 27 m e declividade moderada
com a linha de maré baixa acorrendo por volta dos 77 m desde o início do perfil. A partir da
Linha de Maré Baixa temos a Zona de Inframaré que tem extensão de 28 m até o final do
perfil.
Este perfil é muito influenciado pelas mudanças hidrodinâmicas que ocorrem no Rio
Maracanã, mais propriamente no Canal de Vazante do Furo do Mocooca e com o início do
tempo chuvoso.
59
6 CONCLUSÃO
É evidente que a complexidade dos fatores geológicos característicos da Ilha de
Algodoal, passou ao longo do tempo por processos que atuaram diretamente na composição
atual do Planalto e Planície Costeira. De acordo com a base teórica estudada foi possível
identificar e classificar em campo as unidades geomorfológicas que compõem a costa da ilha.
A área de estudo encontra-se dividida em dois setores que correspondem ao Planalto
Rebaixado da Amazônia/ Planalto Costeiro (Manguezais) e Planície Amazônica/ Planície
Costeira (Campos).
Suas praias são ambientes muito dinâmicos, com morfologia relacionada a processos
de alta energia, devido principalmente, às macromarés, ação das ondas, variabilidade pluvial
da área e por fim, não necessariamente nesta ordem, as variações sazonais ocorrentes nas
desembocaduras dos canais que ocorrem margeando as praias.
A Praia da Caixa D'Água é a que mais se diferencia entre as três praias analisadas,
haja vista que todas são muito semelhantes entre si, devido ser uma praia protegida da ação
direta das ondas do oceano e sua energia de ondas incidentes ser menor do que nas outras
praias, caracterizando-a como uma praia típica de enseada. As praias da Princesa e Grande
são praias muito parecidas quanto à ação de ondas pois sofrem ação direta ou quase direta do
oceano, fazendo com que o sistema crista-calha seja muito mais presente nestas praias As
praias da `Princesa e Praia Grande são praias do tipo Flecha (Santos, 1996), ou Flecha
Barreira (Carvalho,2007). A praia da Caixa D’Água apresenta um traçado côncavo, orientado
longitudinalmente à direção NE-SW, voltada para o Rio Marapanim. Este segmento praial
possui aproximadamente 600m de extensão e sua largura média, desde a base da falésia ativa
ou base das habitações até a Linha de Maré Baixa média, varia entre 160m.
A praia da Princesa apresenta um traçado retilíneo, orientado, aproximadamente, à
direção E-W, voltada para o Oceano Atlântico, sua extensão média é de cerca de 145 m desde
a zona de supramerá até a zona de inframaré. A praia Grande apresenta um traçado retilíneo,
recurvado nas extremidades, orientado à direção NW-SE, voltada para o Rio Maracanã. Esta
praia possui, aproximadamente 4700m de extensão e largura média, que vai desde o campo de
dunas frontais até a Linha de Maré Baixa média, variando entre 100 m.
Para a realização de estudos em praias oceânicas arenosas, como as da Ilha de
Algodoal, é necessário que se faça um estudo com uma boa amplitude temporal, pois ficou
evidente a dificuldade que se tem em caracterizar uma praia segundo as classificações
morfológicas pré-estabelecidas através de variações de curto período.
60
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