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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
MINISTÉRIO PASTORAL METODISTA
NO DISTRITO ECLESIÁSTICO DE PIRACICABA:
UM ESTUDO DE CASO SOBRE A PRÁXIS DE
SOLIDARIEDADE NO CONTEXTO DA
GLOBALIZAÇÃO
por
Márcio Divino de Oliveira
São Bernardo do Campo — 2007
2
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS DA RELIGIÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO
MINISTÉRIO PASTORAL METODISTA
NO DISTRITO ECLESIÁSTICO DE PIRACICABA:
UM ESTUDO DE CASO SOBRE A PRÁXIS DE
SOLIDARIEDADE NO CONTEXTO DA
GLOBALIZAÇÃO
por
Márcio Divino de Oliveira
Orientador Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião, para obtenção do grau de Mestre.
São Bernardo do Campo — Julho de 2007
3
BANCA EXAMINADORA
A banca, tendo examinado a presente Dissertação, a considera:
___________________________________
___________________________________
Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva
Presidente - UMESP
_______________________________
Prof. Dr. Luiz Carlos Ramos
UMESP
_______________________________
Prof. Dr. Carlos Ribeiro Caldas Filho
Universidade Presbiteriana Mackenzie
4
OLIVEIRA, Márcio Divino de. Ministério Pastoral Metodista: Um Estudo de Caso sobre a Práxis de Solidariedade no Contexto de Globalização. São Bernardo do Campo, 2007. Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo (UMESP).
SINOPSE
Assiste-se na contemporaneidade o avanço da globalização
econômica, responsável por alguns progressos à humanidade, mas também
por profundos problemas sociais, como exemplo, o aumento da multidão de
excluídos e miseráveis no mundo. Soma-se a isto, o surgimento na atualidade
da religião de mercado, ou seja, uma religião privatizada, hedonista, a-histórica,
descomprometida com os dramas sociais ou valores como a solidariedade.
Tal cenário apresenta desafios à práxis pastoral da Igreja. Neste
sentido, o presente trabalho, situado na área de Práxis Religiosa e Sociedade,
tem como objetivo analisar como a práxis pastoral solidária metodista se
apresenta nestes tempos de globalização econômica. Salienta-se que a Igreja
Metodista é gerida por governo episcopal, organizada geográfica e
politicamente em oito (08) Regiões Eclesiásticas. Cada Região Eclesiástica
possui uma subdivisão interna, denominada de distrito. Cada igreja local,
distrito e região são ligados de forma conexional no sistema metodista. Como
um estudo da práxis pastoral metodista em âmbito nacional se mostra inviável,
a presente pesquisa propõe investigar as práxis solidárias dos pastores
metodistas do Distrito Eclesiástico de Piracicaba. Para tanto, este trabalho
utiliza uma metodologia que privilegia o método de análise histórico crítico.
A relevância de tal pesquisa está em demonstrar a interação entre um
setor do protestantismo brasileiro e a globalização econômica, possibilitando
uma avaliação de certas mudanças e/ou transformações que este intercâmbio
provoca e suas implicações para a expressão de uma práxis pastoral solidária
metodista na contemporaneidade.
Palavras-chave: Protestantismo, Pastoral Metodista, Práxis, Globalização
Econômica, Solidariedade.
5
Oliveira, Márcio Divino. Methodist Ministerial Pastoral in the Ecclesiastical District of Piracicaba: A case study on the Praxis of Solidarity in the Context of Globalization. São Bernardo do Campo, 2007. Master´s degree in Sciences of Religion – College of Philosophy and Science of Religion, São Paulo, Methodist University - (UMESP).
ABSTRACT
The advance of economic globalization, responsible for some progress in
humanity, but also for profound social problems, for example, the increase in
the multitude of excluded and poverty stricken in the world is readily observable
in contemporary settings. Together with this is the current emergence of market
based religion, or, in other words, a religion that is private, hedonistic, non-
historical, and without commitment to social dramas or values such as
solidarity.
This setting presents challenges to the pastoral praxis of the church. In
this sense, the current work, situated in the area of Religious Praxis and
Society, has as its objective to analyze how the Methodist pastoral praxis of
solidarity presents itself in these times of economic globalization. The research
emphasizes that the Methodist church is guided by an Episcopal government,
and is organized geographically and politically into eight (08) Ecclesiastical
regions. Each Ecclesiastical region has internal subdivisions, called districts.
Each local church, district, and region is linked in a connectional form within the
Methodist system. Since a study of Methodist pastoral praxis at a national level
is impossible, the present research seeks to explore the praxis of solidarity of
Methodist pastors in the Ecclesiastical District of Piracicaba. As such, this work
utilizes the method of critical historical analysis.
The relevance of this research is in demonstrating the interaction
between a sector of Brazilian Protestantism and economic globalization, making
possible the evaluation of certain changes and/or transformations that this
exchange provokes and its implications for the expression of Methodist pastoral
praxis solidarity in the contemporary setting.
Keywords: Protestantism , Methodist Pastoral, Praxis, Economic Globalization,
Solidarity.
6
QUE ESTOU FAZENDO?
Que estou fazendo se sou cristão?
Se Cristo deu-me o seu perdão! Há muitos pobres sem lar, sem pão,
Há muitas vidas sem salvação.
Meu Cristo veio prá nos remir: O homem todo sem dividir.
Não só a alma do mal salvar, Também o corpo ressuscitar.
Há muita fome em meu país, Há tanta gente que é infeliz,
Há criancinhas que vão morrer, Há tantos velhos a padecer.
Milhões não sabem como escrever,
Milhões de olhos não sabem ler Nas trevas vivem sem perceber Que são escravos de outro ser.
Aos poderosos eu vou pregar
Aos homens ricos vou proclamar Que a injustiça é contra Deus
E a vil miséria insulta aos céus.
(João Dias de Araújo)
7
Dedicatória,
A minha amada esposa Elaine Cristina, cúmplice nos
meus sonhos, projetos pessoais e companheira fiel
em todos os momentos.
Ao meu filho amado Lucas Xavier,
fonte de alegria existencial.
A meu pai, Miguel Eduardo de Oliveira (in memorian)
e a minha mãe, Maria Divina, meus primeiros
incentivadores nos estudos.
A Edemir e Suely pela amizade sincera, incentivos e
acolhimento fraterno em seu lar doce lar durante
meus estudos.
8
Agradecimentos,
Ao Trino Deus: Fonte de vida e realizações;
À CAPES pela concessão da Bolsa de Estudos, sem a qual esta
pesquisa não seria realizada;
Ao Prof. Dr. Geoval Jacinto da Silva, pela preciosa orientação e
acompanhamento na realização deste projeto.
À direção do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião,
professores/as e aos/às funcionários/as, pelas inumeráveis contribuições
acadêmicas.
Aos pastores da Igreja Metodista do Distrito Eclesiástico de Piracicaba,
sem os quais não seria possível a realização desta pesquisa.
Ao Revmo. Bispo João Alves de Oliveira Filho, pelo apoio à minha
formação pastoral.
Ao Revmo. Bispo Adonias Pereira do Lago, que me encaminhou ao
ministério pastoral da Igreja Metodista.
A Igreja Metodista Betânia que possibilitou a disponibilidade de tempo
ao seu pastor para investimento na formação pastoral.
Aos jovens Thiago Rozineli e Eduel Bahls, pelo apoio na elaboração dos
gráficos desta pesquisa.
Aos/às amigos/as, Paulo Nogueira, Virgílio, Kleyson, Tarcísio e Cida,
pela amizade sincera e apoio neste projeto.
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SUMÁRIO
Sinopse ______________________________________________________04
Abstract ______________________________________________________05
INTRODUÇÃO_________________________________________________13
1. GLOBALIZAÇÃO E SOLIDARIEDADE ____________________________20
1.1. Uma Compreensão de Globalização ________________________21
1.1.1. Sociedade Global e Economia Globalizada_____________25
1.1.2. Alguns Efeitos da Globalização sobre a Vida Humana ____28
1.2. Uma Compreensão de Práxis da Solidariedade _______________34
1.2.1. Conceituação do termo Práxis ______________________34
1.2.2. Conceituação do termo Solidariedade ________________38
1.3. Globalização e Solidariedade em Tensão ____________________44
2. FUNDAMENTAÇÕES BÍBLICO-TEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO
MINISTÉRIO PASTORAL METODISTA PARA UMA PRÁXIS SOLIDÁRIA _50
2.1. Caracterização do Ministério Metodista: uma visão histórica ______51
2.1.1. Wesley e seu Tempo_______________________________51
2.1.2. A Prática Pastoral Solidária de Wesley ________________57
2.2. O Ministério Pastoral Metodista e suas Ênfases no Contexto
Brasileiro ____________________________________________65
2.2.1. Inserção do Metodismo no Brasil _____________________65
10
2.2.2. Identidade do Ministério Pastoral Metodista no Brasil _____71
2.2.2.1. Um Ministério Exercido por Homens e Mulheres ___73
2.2.2.2. Um Ministério Marcado por uma Formação
Teológica _________________________________74
2.2.2.3. Um Ministério Exercido em Regime Integral ou
Parcial __________________________________77
2.2.2.4. Um Ministério Itinerante e Conexional ___________78
2.2.2.5. Um Ministério Exercido em uma Igreja Conciliar ___79
2.2.2.6. Um Ministério Orientado por Documento e
Obediente ao Governo Episcopal______________81
2.2.2.7. Um Ministério Exercido em uma Igreja de Dons e
Ministérios _______________________________82
2.2.2.8. Um Ministério Regido por Um Código de Ética_____83
2.3. O Ministério Pastoral Metodista na Contemporaneidade:
Motivações para uma práxis de solidariedade ________________85
3. ESTUDO DE CASO DA PRÁXIS PASTORAL METODISTA NO DISTRITO
ECLESIÁSTICO DE PIRACICABA _______________________________93
3.1. A Formação da Quinta Região Eclesiástica ___________________94
3.2. Caracterização do Distrito Eclesiástico de Piracicaba ___________97
3.3. Apresentação, Análise e Interpretação dos Dados dos Pastores
do Distrito Eclesiástico de Piracicaba ______________________101
3.3.1. Coleta de Dados _________________________________101
3.3.2. Análise e Interpretação dos Dados ___________________104
3.3.2.1. O Perfil dos Pastores Metodistas Pesquisados ___105
3.3.2.2. Compreensão e Desenvolvimento da Práxis
Pastoral Solidária Metodista _________________109
3.3.2.2.1. Compreensão dos Pastores Metodistas
sobre o termo Práxis Pastoral Solidária ____110
3.3.2.2.2. O Pastor e o Desenvolvimento da Práxis
Solidária em Âmbito Eclesial: Temas Abordados
em Sermões e Atividades Pastorais mais Atrativas _117
11
3.3.2.2.3. O Pastor e o Desenvolvimento da Práxis
Solidária em Âmbito Eclesial: Ações
Incentivadas junto aos Fiéis ______________124
CONSIDERAÇÕES FINAIS _____________________________________133
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _______________________________142
ANEXOS ____________________________________________________153
1. Questionário para Pastores e Termo de Consentimento _____154
2. Carta de Solicitação de Autorização ao Superintendente
do Distrito Eclesiástico de Piracicaba ___________________158
3. Carta de Autorização do Superintendente do Distrito
Eclesiástico de Piracicaba ____________________________159
4. Relatório de Estatísticas 2005 da 5ª RE __________________160
LISTA DE GRÁFICOS, MAPAS E TABELAS
1. GRÁFICOS
1.1. Gráfico 01 – Número de Questionários Respondidos __________103
1.2. Gráfico 02 – Idade dos Pastores __________________________105
1.3. Gráfico 03 – Tempo de Pastorado _________________________106
1.4. Gráfico 04 – Classificação dos Pastores ____________________109
1.5. Gráfico 05 – Documentos Metodistas Fundamentares da Práxis
Pastoral Solidária ______________________________________111
1.6. Gráfico 06 – Temas Abordados nos Sermões ________________117
1.7. Gráfico 07 – Temas de Sermões – 1º Lugar _________________118
1.8. Gráfico 08 – Temas de Sermões – 2º Lugar _________________119
1.9. Gráfico 09 – Temas de Sermões – 3º Lugar _________________120
1.10. Gráfico 10 – Temas de Sermões – 4º Lugar ________________120
12
1.11. Gráfico 11 – Atividade Pastoral mais Atrativa _______________122
1.12. Gráfico 12 – Ações Solidárias incentivas em âmbito eclesial
pelo pastor __________________________________________125
2. MAPAS
2.1. Mapa da distribuição Geográfica das Regiões Eclesiásticas da
Igreja Metodista ________________________________________94
2.2. Mapa das cidades integrantes do Distrito Eclesiástico de
Piracicaba ____________________________________________98
3. TABELAS
3.1. Tabela 1 – Dados populacionais das cidades que compõem o
Distrito Eclesiástico de Piracicaba _________________________98
3.2. Tabela 2 – Dados com total de metodistas integrantes do Distrito
Eclesiástico de Piracicaba _______________________________99
3.3. Tabela 3 – Entendimento Pastoral em Relação a Práxis Solidária do
Pastor e da Igreja _____________________________________115
3.4. Tabela 4 – Relação de Ações Solidárias Exercidas e Incentivadas no
Culto pelos pastores aos Fiéis da Igreja ___________________128
3.5. Tabela 5 – Dimensão Pedagógica da Práxis Pastoral Solidária __130
13
INTRODUÇÃO
O tempo presente, de cultura e sociedade globalizada, impõe inúmeros
desafios à fé e a práxis pastoral cristã. Neste cenário de profundas mudanças e
transformações, sobretudo sociais, as Igrejas Cristãs que desejarem
apresentar uma mensagem relevante ao presente século terão que se dispor à
transcender os aspectos meramente doutrinários ou confessionais, e incluírem
em suas agendas preocupações éticas, como o desenvolvimento de uma
consciência e “sensibilidade solidária”1 entre seus fiéis frente aos inúmeros
problemas e dramas que assolam a humanidade, neste tempo de globalização.
Em linhas gerais, a idéia de globalização refere-se à concepção de um
mundo homogêneo e integrado em suas mais diferentes esferas, a saber,
sociais, econômicas, políticas e culturais, com pouquíssima ou nenhuma
relação com realidades de extrema fragmentação e desintegração2, em outras
1 Termo cunhado por ASSMANN, Hugo e SUNG, Jung Mo. Competência e Sensibilidade Solidária: Educar para a Sensibilidade. 2ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2001. 2 GOMÉZ, J. M. “Globalização da política: mitos, realidade e dilemas”. In: GENTILI, Pablo (org). Globalização Excludente. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 99.
14
palavras, entende-se globalização como um amplo processo de inter-relação
de todos os povos e países em suas mais variadas áreas. Neste cenário, as
economias mundiais estão globalizadas, possibilitando inúmeras oportunidades
de crescimento e riquezas, além de vasta produção de conhecimentos e
tecnologias, sobretudo aos países ricos.
Fora estes aspectos enumerados acima, que podem ser descritos
como “positivos” da globalização, observa-se outros aspectos “não tão
positivos”, a saber, o crescimento acentuado da pobreza, miséria, exclusão
social e desumanização das pessoas, principalmente em países pobres,
fazendo suscitar uma pergunta ontológica e existencial na atualidade: onde
dormirão os pobres? Essa pergunta cunhada por Gustavo Gutiérrez desafia a
humanidade contemporânea e provocar impacto à fé e à práxis cristã, pelo
menos para igrejas cristãs que conjugam uma fé encarnada, contextualizada,
comprometida com a busca por soluções dos dramas que atingem a
sociedade.
Refletindo sobre o tema da religião, nestes tempos de globalização
econômica, dominado pela cultura do consumo, observa-se em termos
religiosos, a expansão de uma religião de mercado. Esta religião de mercado
encontra terreno fértil nestes dias, graças à nova fase da modernidade, que
oportuniza o surgimento e desenvolvimento de uma religiosidade intimista,
privatizada, hedonista, mágica e consumista de bens religiosos. Neste cenário
o que vale é a satisfação pessoal, e não o compromisso com a libertação e/ou
transformação das estruturas de opressão e morte que assolam o mundo,
como por exemplo, o compromisso com a solidariedade.
15
Observa-se que juntamente com esta religiosidade intimista, hedonista,
a-histórica e desencarnada que atingem na atualidade não apenas igrejas
(neo)pentecostais, mas também igrejas protestantes históricas, emergem
igrejas e ministérios pastorais descomprometidos com uma práxis libertadora e
transformadora, e por conseguinte, com valores éticos como a solidariedade
às pessoas pobres e excluídas.
Neste sentido, o presente trabalho, situado na área de Práxis Religiosa
e Sociedade, tem como objetivo investigar como a práxis pastoral solidária
metodista se evidencia nestes tempos de globalização. Para tanto, por meio
de um “Estudo de Caso”3, analisa as práxis dos pastores metodistas do Distrito
Eclesiástico de Piracicaba.4 Esclarece-se que a palavra “pastoral” aqui
empregada é entendida em seu sentido específico, a ação do pastor, dentro do
aspecto amplo do entendimento do termo “pastoral”, ação de todo o povo de
Deus – Igreja – no sentido de correlacionar seu testemunho às diversas
situações da vida humana na sociedade.
As motivações que levam o autor da pesquisa ao estudo da temática
em destaque nasce de seu interesse pessoal por investigar o ministério
pastoral metodista no que tange ao seu comprometimento com uma práxis
transformadora e libertadora na atualidade. Emerge ainda de seu compromisso
pastoral com uma práxis religiosa que integre não apenas a dimensão vertical
3 Um estudo de caso segundo Antonio Gil, “é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante os outros delineamentos considerados” . GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996, p. 58. 4 No Capitulo 3 (três) será explicado o que vem a ser um distrito eclesiástico, segundo a concepção metodista.
16
da fé, mas também a dimensão horizontal: sem secções, cortes, dicotomias,
hiatos, como se observa na religiosidade protestante desses tempos.
Fora o interesse pessoal pela pesquisa, o tema se impõe pela
recorrência das discussões e estudos sobre as práxis das instituições religiosas
no Brasil e sua interface com a sociedade, bem como pela oportunidade de
aprofundamentos da pesquisa no âmbito teórico da área Práxis Religiosa e
Sociedade, sobretudo frente ao impacto da Globalização Econômica na
contemporaneidade e o seu desafio para uma práxis pastoral solidária.
Em relação aos referenciais teóricos que dão suporte à presente
pesquisa, salienta-se que para tratar do tema da Globalização Econômica e
seus efeitos na humanidade, além das obras de apoio, dialogar-se-á com
Otavio Ianni, que apresenta em sua obra “Teorias da Globalização”,
fundamentos importantes para o desenvolvimento deste tema.
No que tange ao tema da “Solidariedade”, o referencial teórico que dá
suporte à pesquisa são os autores Assmann e Sung, que desenvolvem em sua
obra “Competência e Sensibilidade Solidária”, importantes conceitos para a
abordagem deste assunto. Ademais, estabelecem-se diálogos com outros
autores com vistas à construção de suporte teórico, como se verá na pesquisa.
Já em relação ao tema do ministério pastoral metodista e sua
fundamentação histórica, utiliza-se como referencial teórico Richard P.
Heitzenrater 5, este autor desenvolve questões importantes para a pesquisa no
que tange ao assunto enunciado. Além disso, apresenta algumas
5 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado Metodista. São Bernardo do Campo/Rio de Janeiro: Editeo/Bennet, 1996.
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considerações valiosas sobre a prática pastoral solidária de Wesley e o povo
chamado metodista.
Por fim, quanto à fundamentação teórica do termo “Práxis” e sua
correlação com o termo “Solidariedade”, bem como aporte teórico do “Estudo
de Caso”, optou-se metodologicamente pelo autor Casiano Floristan6, como
principal referencial teórico.
A metodologia utilizada na elaboração da presente pesquisa compôs-
se de um conjunto de procedimentos, a saber: a) Pesquisa bibliográfica; b)
Leitura de textos de orientações teórico-metodológicas e levantamento de
informações necessárias para o trabalho; c) Análises de documentos da Igreja
Metodista, gerais e específicos; d) Pesquisa de campo; e) Aplicação de
questionário f) Avaliações dos dados (teórico-conceituais e empíricos).
Salienta-se que a pesquisa de campo proposta é de caráter qualitativo, neste
sentido, utilizou-se como instrumento de coleta de dados a avaliação de um
questionário endereçado a cada um dos pastores do Distrito Eclesiástico de
Piracicaba para exame de suas práxis pastorais solidárias.
Quanto ao método utilizado na pesquisa, isto é, investigação da práxis
pastoral solidária metodista, privilegiou-se o método histórico crítico, conforme
definição de Eva Maria Lakatos:
(...) consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas
6 FLORISTAN, Casiano. Teologia practica: teoria y práxis la accion pastoral. Salamanca: Ediciones Sigueme, 1993.
18
partes componentes, ao longo do tempo, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época. 7
Feitas as considerações supracitadas, cabe neste instante tornar
explícita as partes constitutivas desta dissertação. Neste sentido, destaca-se
inicialmente que a presente pesquisa está estruturada em três capítulos. A
discrição dos assuntos tratados aparecem logo a seguir.
No primeiro capítulo, apresentar-se-ão definições e conceitos sobre os
termos globalização e solidariedade, bem como suas implicações para o tempo
presente. Este é um capítulo importante para a pesquisa, pois além de
apresentar elementos conceituais relacionadas aos dois temas, Globalização e
Solidariedade, expõe a problemática levantada pela pesquisa, isto é, os graves
problemas que a globalização suscita e a necessidade de construir uma
sociedade solidária, oferecendo assim, subsídios teóricos para as Igrejas
refletirem sobre possíveis ações diante desta realidade.
No segundo capítulo, examinar-se-ão as fundamentações bíblico-
teológica-históricas do ministério pastoral metodista. Para tanto, o capítulo
apresenta considerações sobre a prática pastoral de João Wesley (fundador da
Igreja Metodista) e seu compromisso com a solidariedade. Descreve o
processo da inserção da Igreja Metodista no Brasil e como a mesma foi se
configurando ao longo dos tempos, para então fazer uma descrição do perfil de
seu ministério pastoral na contemporaneidade. O capítulo conclui com uma
parte dedicada as reflexões a partir do metodismo, onde se discutem algumas
motivações para expressão de uma práxis de solidariedade na atualidade.
7 LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de Andrade. Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1983, p.79.
19
Por fim, no terceiro capítulo, a partir de um “Estudo de Caso” das práxis
dos pastores metodistas do Distrito Eclesiástico de Piracicaba, são
apresentados os resultados da investigação das práxis pastorais solidárias
desses líderes religiosos. O valor deste estudo de caso está em demonstrar se
estes líderes religiosos, representantes do protestantismo histórico, possuem
ou não uma práxis solidária na atualidade, ou se assemelham a uma parcela
da população e liderança protestante contemporânea (evangélica), ligada à
uma religiosidade intimista, privada, a-histórica, sem compromisso com a
libertação e a transformação social – considerado em termos desta pesquisa,
como uma práxis solidária.
Assim, após a discussões de cada capítulo, a pesquisa é concluída
com as considerações finais do pesquisador, onde são apresentados alguns
desafios relacionados à práxis pastoral na contemporaneidade à luz do estudo
de caso.
A relevância de uma pesquisa desta natureza justifica-se pela
oportunidade de analisar as práxis de certos segmentos religiosos na
contemporaneidade e sua interação com a sociedade, no caso específico, o de
demonstrar como se evidencia o intercâmbio entre protestantismo brasileiro e a
globalização econômica.
20
1. GLOBALIZAÇÃO E SOLIDARIEDADE
O presente capítulo busca estabelecer o “estado da questão” da
presente pesquisa, isto é, levantar as problemáticas que a globalização suscita
e suas implicações para a vivência de uma práxis solidária neste tempo. Para
tanto, apresentar-se-á uma conceituação dos termos globalização e
solidariedade, seguida de discussões teóricas destes dois temas.
Neste sentido, o presente capítulo é importante para a atual pesquisa,
pois tratará de questões conceituais e discussões teóricas relevantes que
serão evocadas nos demais capítulos. Por exemplo, a conceituação do termo
globalização e suas discussões ajudarão a situar o leitor em relação a questão
histórica em que se refere a presente pesquisa. Já a conceituação de
solidariedade e práxis oferece subsídios para pensar posteriormente sobre o
que se entende de “práxis pastoral solidária”.
21
1.1. Uma Compreensão de Globalização8
A humanidade assiste com euforia ao avanço da globalização, um
amplo e acelerado processo pelo qual passa o mundo hodierno, determinante
no crescimento da interdependência ou inter-relação de todos os povos e
países do globo terrestre. Não é uma tarefa fácil conceituar o termo
globalização9 e adjacências relacionadas, pois se trata de um exercício
complexo e ambivalente. Segundo José María Gómez, citando Chesnais, “a
rigor, as expressões ‘Global’, ‘tecnoglobal’ ou ‘globalização’ surgem no início
dos anos oitenta em ‘prestigiosas’ escolas americanas de administração de
empresas”. E prossegue, “popularizam-se através das obras de conhecidos
consultores de estratégias de marketing internacional, expandem-se pelo viés
da imprensa econômica e financeira e, rapidamente, passam a ser assimiladas
pelo discurso hegemônico neoliberal”10. Corroboram com este pensamento as
considerações de Wanderley:
O que talvez seja imperativo enfatizar é que a globalização não é um processo de teor natural, mas se trata de uma política de globalização, delineada originalmente no espaço norte-americano, difundido no meio acadêmico e potencializada pela mídia, estendida para o planeta, com
8 As considerações presentes neste tópico privilegiam uma abordagem da globalização contemplando seu viés econômico, a partir das ciências sociais. Deste modo, fica registrada a opção metodológica do autor da pesquisa em destaque. O autor desta pesquisa acompanha a visão de Held e McGrew a respeito do tema, que entende não existir “uma definição única e universalmente aceita para a globalização. Como acontece com todos os conceitos nucleares das ciências sociais, seu sentido exato é contestável.” HELD, David; MCGREW, Anthony. Prós e Contras da Globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 2001, p. 11. 9 Wanderley esclarece que o termo “globalização” e “mundialização” são tomados quase que invariavelmente como termos sinônimos, isto é, com o mesmo sentido semântico. O primeiro é de origem inglesa, o segundo francesa. Vide: WANDERLEY, Luiz Eduardo W. Globalização, Religião, Justiça Social: Metamorfoses e Desafios . In: SANCHEZ, Wagner Lopes. Cristianismo na América Latina e no Caribe: Trajetórias, diagnósticos, prospectivas. São Paulo: Paulinas, 2003, p. 233. 10 GÓMEZ, José Maria. Globalização da Política: Mitos, realidades e dilemas . In: GENTILI, Pablo (Org.). Globalização Excludente. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 129.
22
orientações precisas conduzidas por dirigentes empresariais, políticos, tecnocratas, como as aqui apresentadas pelos autores referidos. Visa-se uma ditadura do mercado.11
Tecendo considerações sobre as idéias apresentadas acima, observa-
se que todo este arranjo e evolução histórica da globalização se articulam
diante do horizonte aberto, bem como frente às inúmeras possibilidades que a
configuração de um mundo globalizado trazia como oportunidade de lucro para
as grandes corporações capitalistas, com sede nos três grandes centros
neoliberais: Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão.
Apesar do termo globalização desenvolver-se no meio acadêmico, a
partir dos anos oitenta, essa palavra não é de todo desconhecida antes deste
período. Pode ser encontrada em McLuhan12, nos anos sessenta, a partir de
sua metáfora “aldeia global”, criada para descrever os resultados ou impactos
produzidos pelas novas tecnologias de informações e comunicação no
mundo13. Neste sentido, com o avanço da globalização pelo mundo, muitas
outras metáforas foram criadas para descrever esta nova configuração
planetária que atingem as sociedades contemporâneas em diferentes
instâncias, a saber: ‘fábrica global’, ‘terra pátria’, ‘nave babel’” 14, dentre outras
expressões. Cada uma dessas metáforas comportam significados e
implicações desse complexo fenômeno chamado globalização.
11 WANDERLEY, op. cit., p. 233. 12 Marshall McLuhan (1911-1980), sociólogo canadense, importante estudioso das transformações sociais provocadas pela revolução dos meios e processos comunicativos na vida humana. Entre as obras desta autor citamos duas, a saber: MCLUHAN, M. A galáxia de Gutenberg. São Paulo: Cultrix, 1967.; MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensão do homem: understanding media. Tradução de Décio Pignatari. São Paulo: Cultrix, 1971. 13 GOMÉZ, J. M. op.cit., p.128. 14 IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. São Paulo: Civilização Brasileira,1998. p.15.
23
Em linhas gerais, a idéia de globalização emerge na
contemporaneidade com a concepção de um mundo homogêneo e integrado
em suas mais diferentes esferas: sociais, econômicas, políticas e culturais, com
pouquíssima ou nenhuma relação com realidades de extrema fragmentação e
desintegração15. É o que indica Octavio Ianni:
As sociedades contemporâneas, a despeito das suas diversidades e tensões internas e externas, estão articuladas numa sociedade global. Uma sociedade global no sentido de que compreende relações, processos e estruturas sociais, econômicas, políticas e culturais, ainda que operando de modo desigual e contraditório. Nesse contexto, as formas regionais e nacionais evidentemente continuam a subsistir e atuar. Os nacionalismos e regionalismos sociais, econômicos, políticos, culturais, étnicos, lingüísticos, religiosos e outros podem até ressurgir, recrudescer. Mas o que começa a predominar, a apresentar-se como uma determinação básica, constitutiva, é a sociedade global, a totalidade na qual pouco a pouco tudo o mais começa a parecer, segmento, elo, momento. São singularidade, ou particularidades, cuja fisionomia possui ao menos um traço fundamental conferido pelo todo, pelos movimentos da sociedade civil global.16
As considerações de Ianni permitem captar a realidade homogênea e
plural que é o fenômeno da globalização. Como se observa, a globalização
trata-se de um vasto processo mundial, em certa medida, inédito na história
humana, fruto das profundas mudanças e transformações que vem sofrendo o
mundo contemporâneo, especialmente nestas duas últimas décadas. Como
conseqüência, as sociedades mundiais se tornaram interligadas,
interconectadas e integradas entre si, a exemplo de uma grande teia, num
extenso processo, como visto alhures, que envolve os aspectos políticos,
econômicos, sociais e culturais. Wanderley acentua alguns benefícios que este
novo processo global trouxe a humanidade:
15 Conforme: GOMÉZ, J. M. “Globalização da política: mitos, realidade e dilemas”. In: GENTILI, Pablo (org). Globalização Excludente. Petrópolis: Vozes, 2001, p.99. 16 IANNI, O. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992, p.39.
24
• As facilidades de comunicação entre as pessoas, em tempo real, o que tem propiciado um diálogo intenso à distância. Por sua vez, cria novos espaços para troca de informações, pressões sobre governos e autoridades em geral (o caso de Chapas foi paradigmático), conhecimento de segredos escondidos pelos poderosos que são divulgados etc.
• O crescimento e a rapidez no setor dos transportes, que têm facilitado à realização dos negócios, as consultas inter-governamentais e de entidades civis, as viagens em geral e o turismo em particular.
• O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa, que dão acesso aos usuários do que se passa no mundo, mesmo que muitas vezes por meio de informações fragmentadas e controladas pelos donos das cadeias transmissoras.
• Os avanços na medicina, que possibilitam o conhecimento de técnicas e remédios para um sem-números de doenças, apesar dos lobbies das empresas farmacêuticas na questão das patentes e dos altos preços dos medicamentos.
• A formação de redes entre grupos, organizações, movimentos, partidos, igrejas, abrindo canais para conhecimento mútuo e troca de experiências pessoais e coletivas. 17
Não se pode negar como observa Wanderley, que a globalização
trouxe enormes vantagens à humanidade, todavia deve-se fugir de qualquer
leitura romântica ou fantasiosa no sentido de pensar que estes benefícios são
realidades universais garantidas a toda a população do globo terrestre. O que
se observa, apesar dos avanços da globalização pelo mundo, é que muitas
pessoas, países, povos, etnias, ainda permanecem à margem, excluídos
desses processos enumerados por alguns autores18. Sendo assim, a
globalização não é um fenômeno tão homogêneo e linear assim, como
apresentam certos pensadores. Feitas estas considerações, passar-se-á em
17 WANDERLEY, L. E. W. op. cit., p. 237-238. 18 Quanto a isto, ou seja, a não homogeneização da globalização e sua face excludente, trataremos desse tema de forma pormenorizada em outro momento desta pesquisa. Para maior aprofundamento do assunto indicamos os seguintes autores: BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As conseqüências Humanas . São Paulo: Jorge Zahar Editor, 1999.; GENTIL, Pablo (Org.). Globalização Excludente: Desigualdade, exclusão e democracia na nova ordem mundial. 3ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2001.; HELD, David e MCGREW, Anthony. Prós e Contras da Globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 2001.; SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001.
25
seguida a analisar como essa sociedade global emerge na
contemporaneidade, considerando sua vertente econômica.
1.1. 1. Sociedade Global e Economia Globalizada
Como fora aludido, assiste-se no presente à eclosão de uma “nova
sociedade”, a sociedade globalizada. Segundo Milton Santos, “a globalização é,
de certa forma, o ápice do processo de internacionalização do mundo
capitalista”, que tem por natureza ou tendência um caráter universalizante,
mundializante, à busca por abertura de novos mercados19. Ianni tece
considerações a este respeito muito esclarecedoras:
Desde que o capitalismo retornou sua expansão pelo mundo, em seguida a Segunda Grande Guerra Mundial, muitos começaram a reconhecer que o mundo estava se tornando o cenário de um vasto processo de internacionalização do capital. Algo jamais visto anteriormente em escala semelhante, por sua intensidade e generalidade. O capital perdia parcialmente sua característica nacional, tais como a ingleses, norte-americana, alemã, japonesa, francesa ou outra, e adquiria uma conotação internacional.20
Santos advoga que para compreender a globalização, submersa neste
amplo processo de internacionalização do mundo capitalista 21, é preciso levar
em conta dois elementos importantes para qualquer processo histórico, isto é,
o estado das técnicas e o estado da política. A união eficiente desses dois
19 SANTOS, M. op. cit., 2001, p. 24. 20 IANNI, Octavio. Teorias da Globalização. op. cit.,1998. p.15. 21 Há quem se oponha as esta visão de Santos, Ianni e outros, afirmando que sempre houve processos globalizantes na história humana, não havendo necessariamente motivo para ligá-la exclusivamente à “locomotiva” capitalista. Vide WANDERLEY, Luiz Eduardo W. “Globalização, Religião, Justiça Social: Metamorfoses e Desafios”. In: Cristianismo na América Latina e no Caribe: Trajetórias, diagnósticos, prospectivas . São Paulo: Paulinas, 2003, p. 213.
26
elementos, o estado das técnicas e o estado da política, segundo Santos, é
que explica a arquitetura da globalização atual. Deste modo, afirma,
No fim do século XX e graças aos avanços da ciência, produziu-se um sistema de técnicas presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema técnico uma presença planetária. Só que a globalização não é apenas a existência desse novo sistema de técnica. Ela também é o resultado das ações que asseguram a emergência de um mercado dito global, responsável pelo essencial dos processos políticos atualmente eficazes. Os fatores que contribuem para explicar a arquitetura da globalização atual são: a unicidade da técnica, a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta pela mais-valia globalizada. Um mercado global utilizando esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa. Isso poderia ser diferente se seu uso político fosse outro22.
Acompanhando esta compreensão de Santos, Oliveira afirma:
Do ponto de vista econômico, a globalização representa um novo tipo de acumulação e regulamentação do capital: trata-se da articulação de um sistema em nível mundial. Esse processo buscou legitimação científica numa teoria econômica que considera o mercado o único mecanismo capaz de coordenar uma economia moderna. Sua implementação ocorreu nas últimas décadas por meio de uma série de decisões políticas e da última revolução tecnológica, que fez da ciência e da técnica as forças impulsionadoras do novo paradigma de produção.23
Como se observa a globalização deve ser compreendida dentro de um
amplo e complexo contexto histórico em que convergem diversos fatores, os
mais distintos, para sua existência. Considerando a assertiva última de Santos e
Oliveira, Ianni desenvolve considerações significativas que ilustram a
configuração deste mercado global:
As organizações econômicas, políticas e culturais, compreendendo empresas, conglomerados, bancos, tradings, mídia impressa e eletrônica, trink tanks, universidades e outras, tecem o mundo em vários níveis, em diferentes desenhos. Por sobre indivíduos, grupos, classes,
22 SANTOS, M. op. cit., p. 22-23. 23 OLIVEIRA, Manfredo Araújo. “Globalização, Ética e Justiça”. In: SANCHES, Wagner Lopes (Coord.). Cristianismo na América Latina e no Caribe: Trajetórias, diagnósticos, prospectivas . São Paulo: Paulinas, 2003, p. 275-276.
27
movimentos sociais, partidos políticos, correntes de opinião pública, sociedade e estados nacionais, essas organizações ordenam e reordenam as economias e as sociedades, os povos e as culturas. Naturalmente beneficiam-se de aliados locais, regionais e nacionais. Articulam-se com organizações nativas em países e continentes. Ajustam-se e integram-se às exigências de setores sociais, partidos, governos. Mas organizam-se segundo razões próprias, interpretações interdependentes de conjunturas locais, regionais ou nacionais 24.
As reflexões de Ianni apontam para o mercado global e seus diferentes
arranjos autônomos, além Estado-Nação, pessoas, organizações, filosofias,
religiões, morais etc., que se desenham nesta nova configuração do mundo
globalizado. Para Silva, estas construções globalizantes, denunciadas por
Ianni, nada mais são do que “o fortalecimento de um mundo sem fronteiras, em
que a comercialização oferece condições de compras sem precisar sair de
casa ou de adquirir fora de seu país com o cartão de crédito 25”. Nesta nova
arquitetura, a própria produção, o comércio e o financiamento, ganham outras
configurações, distanciando-se cada vez mais das figuras tradicionais até então
conhecidas.
Nos tempos atuais, de sociedade e economia globalizada, uma
empresa não tem necessariamente a obrigação de estabelecer sede nos
países onde tem seus investimentos (produção de mercadorias, bens e
serviços). Assim, do lugar onde estão, os/as empresários/as operam seus
capitais conforme seus interesses, acordos e perspectivas de lucros. Tais
atividades se concretizam sem constrangimento, impedimentos ou imposições
dos Estados-Nações. Assim a investida neoliberal capitalista encontra terreno
fértil nestes dias.
24 IANNI, O. A sociedade global. op. cit. p. 45-46. 25 SILVA, G. J. “O processo de globalização e a missão: implicações bíblico-teológicas e pastorais”. In: SATHLER-ROSA, R. Culturas e cristianismos. São Paulo: Loyola, 1999, p. 170.
28
Tecidas estas considerações a respeito da configuração da sociedade
globalizada, examinar-se-á a seguir os reflexos da globalização no cotidiano
das pessoas.
1.1.2. Alguns Efeitos da Globalização sobre a Vida
Humana
Fundamentando-se na reflexão de Moreira, não há como negar que o
discurso de globalização é articulado e desperta certa “fascinação” pela idéia
de uma sociedade interconectada, inter-relacionada, ligada entre si através de
redes de comunicações e informações, pela cultura global de massa, pelo
mercado financeiro, pela moda, pelo turismo, pela ciência e tecnologia26.
Entretanto, esse pensador destaca que esta abordagem esconde alguns
aspectos negativos, por exemplo, a falsa imagem de inclusão e
homogeneização. A citação abaixo permite pensar mais profundamente tal
realidade:
Mais do que nunca, as desigualdades sociais, econômicas políticas e culturais estão lançadas em escala mundial. O mesmo processo de globalização, como o que se desenvolve a interdependência, a integração e a dinamização das sociedades nacionais, produz desigualdades, tensões e antagonismos. O mesmo processo de globalização, que debilita o Estado-Nação, ou redefine as condições de soberania, provoca o desenvolvimento de diversidades, desigualdades e contradições, em escala nacional e mundial.27
Por estas assertivas é possível perceber outros aspectos da globaliza-
ção, considerados “perversos”, “desumanos” e “selvagens” por Santos e Ianni,
ou seja, a sua contribuição para a acentuação da pobreza, o crescimento do 26 MOREIRA, A. S. “A civilização do mercado: um desafio radical às igrejas”. In: MOREIRA, A. S. M. (Org.) Sociedade global: cultura e religião. Petrópolis: Vozes, 1998, p. 135. 27 IANNI, O. A sociedade global. op. cit., p. 50.
29
desemprego, as desigualdades sócio-econômico-culturais em escala local e
global, a desintegração social, a debilidade do Estado-Nação, entre outras
coisas. Neste sentido Gómez destaca:
As conseqüências negativas que daí decorrem são hoje amplamente reconhecidas, indo desde o aumento do fenômeno da exclusão social e espacial (grupos e categorias sociais, zonas, países e até continentes que, rapidamente, tornam-se irrelevantes porque não conseguem integra-se a dinâmica da economia mundial), passando pela brutal concentração da renda, o achatamento salarial, o desemprego estrutural, a flexibilização dos direitos sociais e o sentimento generalizado de insegurança no trabalho, o debilitamento das antigas identidades e formas de solidariedade de classe, e chegando até o crescimento das corrente migratórias internacionais, a intensificação das degradação ambiental, o consumismo desenfreado e o fundamentalismo relativo de afirmação da identidade dos não-incluídos.28
Seguindo esta interpretação da “perversidade”, “desumanização” e
“contradições” da globalização, em particular de sua vertente econômica,
Wanderely tece as seguintes considerações:
O fenômeno, contraditório ao movimento globalizante, de ressurgimento dos racismos, nacionalismos, discriminações econômicas, étnicas e de gênero. E, como resultado, o agravamento das segregações, dos exílios forçados, dos acampamentos de refugiados, das migrações massivas.29
Neste contexto de globalização, o indivíduo fica impotente, sem
representatividade de classe – pois as políticas neoliberais globalizadas
debilitam estas entidades –; sem lei de proteção – já que as “garantias
tradicionais” conquistadas no campo social-trabalhista etc., estão sendo
flexibilizadas em favor das empresas transnacionais capitalistas –, e sem
Estado que o defenda politicamente.
28 GOMÉZ, J. M. op. cit., p.154-155. 29 WANDERELY, Luiz Eduardo W. op. cit., p. 236.
30
Somando-se a isso, na atualidade, é perceptível um processo de
enfraquecimento da autonomia dos Estados-Nações (política fiscal, monetária,
cambial, de juros, salarial etc), frente ao avanço do capitalismo globalizado,
que tem pressionado cada vez mais os Estados a assumirem políticas ligadas
a seus ideais com vistas a abrirem franco terreno para atuação de suas
empresas e corporações. E o que destaca Bauman:
A ‘globalização’ nada mais é que a extensão totalitária de sua lógica a todos os aspectos da vida. Os Estados não têm recursos suficientes nem liberdade de manobra para suportar a pressão – pela simples razão de que ‘algum minutos bastam para que empresas e até Estados entrem em colapso’(...) A única tarefa econômica permitida ao Estado e que se espera que ele assuma é a de garantir um ‘orçamento equilibrado’, policiando e controlando as pressões locais por intervenções estatais mais vigorosas na direção dos negócios e em defesa da população face às conseqüências mais sinistras da anarquia de mercado. 30
Como resultado dessa política econômica globalizada, muitos países,
como o Brasil, vivem “reféns” de organismos monetários aliados à essas
políticas, como Fundo Monetário Mundial (FMI), Banco Mundial ou Banco
Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD). A Organização para
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), Conferência das Nações
Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), dentre outras
instituições, que vinculam o sucesso dos paises às suas políticas econômicas
neoliberais – globais.
Pensando sobre os efeitos da globalização na vida religiosa, tendo em
vista que a religião faz parte da experiência humana, deve-se afirmar que neste
período da era moderna ou pós-modernidade, como definem alguns autores,
marcado pela sociedade global, a religião assume formas distintas dos
30 BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As conseqüências Humanas. São Paulo: Jorge Zahar Editor, 1999, p.74.
31
modelos tradicionais até então conhecidos, como demonstra Antoniazzi em sua
descrição desse fenômeno no interior do cristianismo:
Ao menos na tradição cristã, a religião é uma relação com o Absoluto, com o Transcendente, com o Deus Criador e Pai. Religião só pode vir acompanhada pelo ‘temor de Deus’, com a consciência de que a Ele devemos obediência, adoração. A religião atual, ao menos na versão corrente, é uma inversão dessa atitude. Não é tanto servir a Deus quanto, em certo sentido, servir-se de Deus. Ela se transforma num lugar de solução de problemas, de cura dos nossos males, de consolo ou compensação. Predomina fortemente o utilitarismo, enquanto o sentido das exigências de Deus e da busca da Verdade se ofuscam.31
Além da mudança de centro da religiosidade tradicional, no caso do
cristianismo, da “adoração a Deus” para o “utilitarismo”, a predominância do
cultivo da religião não tanto para servir a divindade, mas para se servir da
divindade, Antoniazi afirma que se observam outras mudanças no interior do
cristianismo:
Em outros casos, a religião antiga – centrada na busca da ‘salvação’ em sentido forte (do pecado, daquilo que afasta de Deus e impede a vida eterna em comunhão com Ele) – se transforma numa religião da ‘saúde’, do corpo sadio, do esporte, do bem-estar físico (‘religião’ hoje de moda, inclusive entre os jovens, que substitui – num certo sentido – a religião cristã ou a fé na salvação eterna). 32
Como se nota, a religião nestes tempos de cultura globalizada,
marcado pelo domínio do individualismo e consumo, torna-se cada vez mais
intimista e privatizada. Na visão de Libânio, o que permite que o indivíduo
assuma “os elementos das religiões que no momento lhes satisfaçam os
anseios”33, isto lhe oferece segurança frente às angústias, frustrações e
ceticismo social, resultados do sistema dominante. Em certo sentido, pode-se
31 ANTONIAZZI, Alberto. “O Sagrado e as Religiões: No limiar do Terceiro Milênio”. In: CALIMAN, Cleto (Org.). A Sedução do Sagrado. Petrópolis: Vozes, 1999, p.16. 32 Ibidem, p.16. 33 LIBÂNIO, João Batista. “O Sagrado na Pós-Modernidade”. In: CALIMAN, Cleto (Org.). A Sedução do Sagrado. Petrópolis: Vozes, 1999, p.62.
32
afirmar que a religião neste dias cumpre de algum modo o que Marx chamava
de “ópio do povo”, tanto entre as classes pobres como entre os ricos, como
demonstra a citação abaixo.
Há outro papel da religião no interior dessa pós-modernidade vitoriosa. Ela serve para exprimir a euforia daqueles para os quais a vida material vai muito bem. A dimensão religiosa vem completar o clima de felicidade. Trata-se de uma religião cristã-burguesa. A tecnologia vem ao encontro dessas formas religiosas aumentado-lhes o poder terapêutico, pessoal e social. Predominam em tais expressões do sagrado as dimensões festiva e estética34.
A religião na atualidade, tomando como parâmetro a religião cristã,
perde seu papel profético, de crítica-social e compromisso com a libertação e
transformação do mundo, condicionando-se ao papel de satisfação dos anseios
humanos.
Essa cultura perpassa a vida e a missão de muitas comunidades cristãs, quer católicas ou evangélicas, que reforçam e propagam ‘enfoques teológicos’ enraizadas numa espiritualidade hedonista, mágica, de consumo imediato. É a religiosidade do prazer, do sucesso a qualquer preço e da prosperidade econômico-financeira. A fé fica aprisionada à sua dimensão íntima e, como decorrência natural da decepção do ser humano moderno com o espaço público, há uma propensão de circunscrever-se ao âmbito da vida privada.35
Acompanhando o raciocínio de Castro, em relação à privatização da fé
e falta de engajamento social, Moreira afirma:
A privatização da experiência da fé, que relega a experiência religiosa para o espaço intimista da alma, nega à religião qualquer legitimidade para expressar-se sobre temas sociais e políticos. E muito menos para tentar influenciar a vida social das populações.36
34 LIBÂNIO, João Batista. “O Sagrado na Pós-Modernidade”. In: CALIMAN, Cleto (org.). A Sedução do Sagrado. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 66. 35 CASTRO, Clovis Pinto de. Por uma fé cidadã: a dimensão pública da Igreja. São Bernardo do Campo/São Paulo: UMESP/Loyola, 2000, p.108-109. 36 MOREIRA, A. S. A civilização do mercado: um desafio radical às igrejas. op. cit., p. 155.
33
Para alimentar essa religião de mercado, intimista, do bem-estar,
satisfação do prazer, no interior do cristianismo, pelo menos na versão
protestante, especificamente entre os neo-pentecostais, observa-se a
instrumentalização dessas denominações à semelhança das grandes
Empresas e Corporações Neoliberais, conforme demonstra Calvani:
A proliferação das multinacionais e de seus modelos de mercado não acontece apenas na economia, mas também no campo religioso. As mega-igrejas compram salas de cinemas e as transformam em templos ou investem muito dinheiro na edificação de “Catedrais da Fé”. 37
Isto mostra que a religião neste setor religioso, passa a ser encarado
como um produto de consumo. Neste contexto, as igrejas representantes deste
segmento evangélico, à semelhança das indústrias, empreendem inúmeros
esforços para apresentar seu produto no mercado da fé. Um exemplo disso é
a implementação de estratégias de marketing para ganhar novos fiéis ou
“clientes”38, como indica Calvani:
Em pouco tempo conseguem espaço na mídia e enchem seus templos de pessoas das mais diversas classes sociais, desmentindo aquela visão frágil que muitos críticos tinham ao dizer que sua clientela é basicamente dos estratos populares. Hoje sabemos que isso não é verdade. As igrejas-empresa e as comunidades carismáticas novas têm entre seus simpatizantes e freqüentadores muita gente de classe média, especialmente empresários em via de falência ou desejosos de maior ascensão social.39
Estas são as considerações a respeito dos reflexos da globalização
sobre a vida humana, incluindo o campo religioso. A seguir examinar-se-á o
conceito de práxis de solidariedade. 37 CALVANI, Carlos Eduardo Brandão. “Identidade e Missão: Perspectiva Missiológica”. In: CLAI (Conselho Latino Americano de Igrejas). Missão, unidade e Identidade da Igreja. Quito: CLAI, 2000, p.106. 38 Para aprofundamento do tema consultar: CAMPOS, L. S. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Petrópolis: Vozes/São Paulo: Simpósio Editora, 1997. 39 CALVANI, Carlos Eduardo Brandão. op. cit., p.106.
34
1.2. Uma compreensão de práxis da solidariedade
O presente tópico tem como objetivo refletir sobre o significado do termo
solidariedade. No entanto, antes de examinar pormenorizadamente o que se
compreende nesta pesquisa por esse conceito, faz-se necessário perscrutar
sobre o significado do termo práxis, tomado aqui em unidade com a palavra
solidariedade e utilizado em diferentes partes deste trabalho. Sendo assim,
ocupar-se-ão algumas linhas desta pesquisa neste desiderato.
1.2.1 Conceituação do termo práxis
O termo práxis (p?a???), de longa tradição na filosofia, encontra sua
origem na Grécia Antiga e parece designar freqüentemente a ação entendida
no campo das relações humanas, no âmbito da intersubjetividade, da moral e
da política. É o que afirma Konder:
A palavra práxis provém do grego antigo: p ?a???. O termo, ao que parece não era muito preciso; comumente, designava a ação que se realizava no âmbito das relações entre as pessoas, a ação intersubjetiva, à ação moral, a ação dos cidadãos. Era, com certeza, diferente da poiésis, que era a produção material, a produção de objetos.40
As considerações de Konder vêm de encontro aos apontamentos acima.
Nelas ficam entendidos que a práxis em sua origem possui uma história
fundada nas atividades que se realizam entre os seres humanos em suas
40 KONDER, Leandro. O Futuro da Filosofia da Práxis: O pensamento de Marx no Século XXI. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2ª Ed., 1992, p. 97.
35
diferentes manifestações, diferentemente de poiésis, atividade ligada à
produção humana de objetos.41
Apontada a origem histórica da palavra práxis, se faz necessário neste
momento examinar como esta expressão é usada na atualidade, depois de
longo desenvolvimento histórico e filosófico. Uma primeira aproximação do
tema é oferecida por Konder:
A práxis é a atividade concreta pela qual os sujeitos humanos se afirmam no mundo, modificando a realidade objetiva e, para poderem alterá-la, transformando-se a si mesmos. É a ação que, para se aprofundar de maneira mais conseqüente, precisa da reflexão, do auto-questionamento, da teoria; e é a teoria que remete à ação, que enfrenta o desafio de verificar seus acertos e desacertos, cotejando-os com a prática42.
Pelo exposto, observa-se que a práxis, mantendo de certo modo seu
sentido originário, as múltiplas dimensões do relacionamento humano, adquire
na contemporaneidade, a partir da crítica marxista, um caráter revolucionário,
de ação humana transformadora do mundo. Tal visão é compartilhada por
Floristan:
A partir, pues, de ciertas aportaciones marxianas, completadas con otras corrientes pragmáticas o existencialistas, la práxis es cambio social y compromiso militante, transformación de estructuras y actitud crítica, renovación del sistema social y emancipación personal.43
As contribuições de Floristan para a compreensão do termo práxis não
param por aí. Em seu livro Teologia Prática, discutindo a respeito da natureza
41 Aristóteles, o famoso filósofo clássico, é o autor grego que com maior freqüência usa a palavra práxis em seus textos. Ele também faz esta diferenciação do termo práxis e poiésis. 42 KONDER, Op. cit., p. 115. 43 TRADUÇÃO LIVRE DO AUTOR: A partir, pois, de certos apontamentos marxistas, completadas com outras correntes pragmáticas ou existencialistas, a práxis é mudança social e compromisso militante, transformação de estruturas e atitude critica, renovação do sistema social emancipação pessoal. FLORISTAN, Casiano. Teologia Práctica: Teoria Y Práxis la Accion Pastoral. Salamanca: Ediciones Sigueme, 1993, p. 179.
36
desta, afirma que a práxis é constituída por quatro (04) elementos, a saber:44
1. “A práxis é ação criadora e não meramente reiterativa – Para que a
ação seja criadora é necessário um certo grau de consciência crítica no agente que atua e um certo nível de criatividade que reflita no criado. A práxis criadora e inovadora frente a novas realidades ou novas situações. O homem há de criar ou inventar; não basta ele imitar o resultado”.
2. “A práxis é ação reflexiva e não exclusivamente espontânea – A práxis criadora exige uma elevada atividade de consciência crítica. Para superar o nível espontâneo de prática é necessário um alto grau de reflexão. Necessitamos ser críticos: saber o que buscamos e aonde vamos, porém cautelosos nos passos que damos. Por isso, a transformação dos muitos aspectos não poderá ser as vezes nem todo rápido, nem todo radical como se espera.”
3. “A práxis é ação libertadora e de nenhum modo alienante – A ação humana é práxis na medida que se conforma a um projeto de libertação. O fim de toda atividade prática ou de toda práxis é a transformação real do mundo natural ou social, cuja realidade deve ser uma nova realidade mais humana e mais livre.”
4. “A práxis é ação radical e não meramente reformista – A práxis intenta transformar a organização e direção da sociedade, mudando as relações econômicas, políticas e sociais. Como a sociedade esta dividida em classes sociais, nasce uma luta de classes entre si. Assim emerge a atividade política, que é luta objetiva além da ideológica. A práxis política alcança sua forma mais elevada na práxis radical, a saber, a que intenta transformar a raiz das bases econômicas e sociais em que se assenta o poder das classes dominantes para construir uma sociedade nova.” 45
Assim, compreende-se a partir das considerações de Floristan que a
práxis é uma atividade humana que cria, reflete, liberta e transforma. Neste
sentido, a práxis – na visão de Floristan – possibilita a criação do homem novo
e modifica a ação humana radicalmente possibilitando transformações
profundas em diferentes campos do existir: social, político, econômico, cultural,
etc.46
Outra observação importante a fazer é que Floristan não dissocia
práxis e teoria. Ele compreende práxis e teoria como algo que se incluem
44 FLORISTAN, Casiano. op. cit., p. 179-180. 45 Ibidem, p. 179-180 46 Ibidem, p. 179.
37
mutuamente, ação e reflexão. Para ele entre práxis e teoria existe uma relação
dialética, um binômio que tem sua relação estabelecida mediante uma
interação entre um modo de pensar e um exercício ou ação.47 Neste sentido
comenta Floristan:
Entre a teoria e a práxis há uma relação dialética, permanentemente dinâmica, às vezes conflitiva, porém que deve resolver-se em forma de sínteses ao modo de superação. Sem esquecer a primazia da práxis sobre a teoria e que a teoria está em função da práxis 48.
Ao contrário do que muita gente imagina, apesar de sua semelhança,
práxis e prática49 não são termos sinônimos, mas distintos. Práxis como visto,
na tradição filosófica, adquire na modernidade o sentido de atividade social
transformadora do mundo. A Prática, não deixa de ser também uma atividade,
todavia é uma atividade diferente da práxis, ela se refere à atividade pela
atividade, tem a ver com o repetitivo, não objetiva nenhuma transformação,
como é próprio do caráter da práxis. No dizer de Vázquez, “toda práxis é
atividade, mas nem toda atividade é práxis”50. E por fim, afirma este autor, a
“prática se basta a si mesma, e o ‘senso comum’ situa-se passivamente, numa
atividade acrítica, em relação a ela”51.
Compreendido o uso do termo práxis, tomado aqui em unidade com a
palavra solidariedade pela sua relevância para esta pesquisa, examinar-se-á
adiante o entendimento do termo solidariedade.
47 FLORISTAN, Casiano. op. cit.,p. 176-177. 48 Ibidem, p. 177. 49 Uma informação importante, segundo FLORISTAN, na língua espanhola práxis e prática são termos sinônimos. KONDER, afirma que na língua alemã os dois termos comportam também o mesmo sentido. 50 VÁZQUEZ, S. O. Filosofia da Práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. p. 185. 51 Ibidem, p. 210.
38
1.2.2. Conceituação do termo Solidariedade
Observa-se na contemporaneidade uma difusão da palavra
solidariedade, não apenas entre grupos religiosos, mais também em discursos
de governos, ONG´s e instituições das mais variadas. Um possível reflexo da
importância do tema para o presente momento histórico da humanidade,
marcada pela miséria, injustiça e exclusão social. Por ser um termo
polissêmico, se faz necessário perscrutar pelo seu sentido e o modo pelo qual
o termo é compreendido nesta pesquisa.
Segundo Faria, a idéia de solidariedade não é nova no pensamento
ocidental52. Sua origem teria duas vertentes intelectuais: o estoicismo53 e o
cristianismo primitivo 54. Para Espeja uma primeira aproximação do termo
solidariedade aponta para a seguinte direção: “é solidário aquele que pensa
52 De acordo com Faria “é somente no fim do século XIX que aparece a lógica da solidariedade como um discurso coerente que não se confude com ‘caridade’ ou ‘ filantropia’. A lógica da solidariedade se traduz por uma nova maneira de pensar a sociedade de proteção social, mas também como ‘um fio condutor indispensável à construção e à conceituação das políticas sociais”. FARIA, J.F. de C. A origem do direito de solidariedade. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 190. 53 Os Estóicos compreendem uma proeminente Escola Filosófica fundada na Grécia Antiga, por volta de IV a.C. Recebe este nome porque Zenão (336-274 a.C), seu fundador, ensinava sob os pórticos (stoá) de Atenas. Segundo Batista Mondin, “os estóicos é o movimento filosófico mais original do período helenístico é também o que teve a duração mais longa: fundado nos fins do século IV a.C, continuou a florescer até depois do século III d.C. Isto sem dizer que muitos autores cristãos da Antiguidade e da Alta Idade Média se consideravam herdeiros e continuadores da escola estóica.” Muito disso, pela aproximação de sua visão moral, pois de acordo com Mondin, “o estóico não é uma pessoa solitária, ao contrário, ele tem um sentimento muito vivo de solidariedade humana, porque concebe o indivíduo como parte do Logos. Todos os homens têm a mesma origem e a mesma missão, todos estão sujeitos à mesma lei, são cidadãos de um mesmo Estado e membros de um mesmo corpo. Todos, enquanto homens, têm direito à benevolência”. MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. Vol. 1. São Paulo: Paulus, 1982, p.109-110. 54 FARIA, J.F. de C. A origem do direito de solidariedade. Rio de Janeiro: Renovar, 1998, p. 188. Tecendo alguns comentários sobre a fonte da solidariedade cristã, está encontra sua gênese em sua lei moral ou ética. Segundo Mondin “a origem da lei não é convencional nem puramente natural, mas divina. Criado por amor, o homem deve viver uma vida de amor, amor a Deus e amor aos homens. Aqui está a raiz da revolução cristã: impregnar de amor a vida e ações.” Vide: MONDIN, Battista. Curso de Filosofia. Vol. 1. São Paulo: Paulus, 1982, p.109-110.
39
não tanto em ‘que será de mim’ quanto em ‘que será do outro’; dando toda sua
amplitude à palavra ‘pensar’”55.
A definição anterior de solidariedade conserva importante percepção do
termo, isto é, define solidariedade ou solidário como uma disposição do ser
humano de voltar seu pensamento não apenas para suas próprias
necessidades individuais, mas para aquilo que toca o outro. Todavia, é preciso
compreender que muito mais do que um pensamento dirigido ao outro, a
solidariedade não se encerra na ação de pensar, ela pressupõe atos concretos,
envolvimento real na solução de situações que tocam a vida humana, como
intervenção em tragédias, por exemplo. Neste sentido assevera Sathle-Rosa:
A idéia e o ideal da solidariedade consiste, basicamente, no apoiar e realizar ações que favoreçam relacionamentos fundados na justiça e amor. Implica em dar oportunidades ao reconhecer as potencialidades humanas e suas diferenças para tecer as linhas que conduzam à felicidade humana56 .
Pelo explicitado, constata-se que a definição apresentada acima
conserva certo avanço em relação a definição anterior. Nela o autor revela
meios pelos quais a solidariedade se concretiza na vida humana. Para ele a
idéia de solidariedade está intimamente ligada aos conceitos de justiça e amor,
bem como vinculada à práxis que promovam a interligação e construção de
pontes entre as pessoas com vistas a felicidade humana, como indica Espeja
ao demonstrar:
a) Que a solidariedade nasce do olhar profundo sobre a pessoa
humana, sujeito de direito inalienáveis.
55 ESPEJA, Jesús. “Solidariedade”. In: RODRIGUES, Angel Aparício (Org). Dicionário teológico de vida consagrada. São Paulo: Paulus, 1994, p. 1051. 56 SATHLER-ROSA, Ronaldo. Cuidado pastoral em tempos de insegurança: uma hermenêutica teológico-pastoral. São Paulo: ASTE, 2004, p. 102-3.
40
b) A solidariedade não se reduz a prestação ou ajuda transitória, mas antes obedece a um estilo de vida cuja versão é processo continuado de abertura e da prática em favor do outro. Esse processo inclui vários passos: entrar em contato experiencial com a situação real do outro; acolhendo o outro que se alegra ou sofre, demonstrando-lhe que compartimos com ele; analisando as cousas da situação e empreendendo prática libertadora; conservando viva a utopia ou o olhar em desenlace feliz.
c) Como o homem ‘real’ está situado social e politicamente, a verdadeira solidariedade inclui também essas dimensões. Não é só a misericórdia que se torna eficaz na prática da justiça comutativa; exige também o compromisso na justiça social, buscando a dignidade de todos os homens e trabalhando para mudar a organização social injusta.57
Nesta mesma direção, com algumas variações, os autores Assmann e
Sung apresentam valiosa compreensão do tema, concepção esta assumida
pelo autor desta pesquisa. Neste sentido, compreende-se que:
Solidariedade tem a ver com o modo de ver o mundo e a vida. Solidariedade é uma relação inter-humana fundamentada na alteridade, que pressupõe o reconhecimento do/a outro/a na diferença e singularidade, atributos da alteridade. Reconhecer o/a outro/a na diferença pressupõe relativizar a si mesmo, as nossas certezas, enfim, todas as mesmices (...) a solidariedade ‘exige uma preocupação por outros/as, uma habilidade de assumir o papel do outro e de ver os interesses e bem-estar de outros como intimamente conectados com os seus próprios interesses e bem-estar’.58
Refletindo sobre as definições até aqui apresentadas, cabem neste
momento algumas considerações. Primeiramente, fica evidente que a
solidariedade “tem a ver com o modo de ver o mundo e a vida”. Por quê? O
olhar humano sobre o mundo é revelador, traz a consciência humana o
conhecimento de inúmeras coisas, realidades. É a partir do olhar profundo
sobre o mundo em sua volta que o ser humano descobre que habita em um
mundo de contradições: dominado pelo sofrimento, injustiça, violência, racismo
57 ESPEJA, J. op. cit.,1051-1052. 58 ASSMANN, Hugo e SUNG, Jung Mo. Competência e Sensibilidade Solidária: Educar para a Sensibilidade. 2ª Edição. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 97 e 99.
41
etc. Estas realidades tocam aos olhos humanos, penetram no mais íntimo de
seu ser e evocam desafios éticos, como indica Silva:
A partir da extrema exterioridade, aparece no mundo o rosto do Outro que se exprime como ‘revelação’. Apresenta-se exterior ao sistema de instrumentos do mundo como uma liberdade que interpela, como alguém que incita. Aparece ‘como aquele que resiste à totalização instrumental’. 59
O rosto do outro sofredor, injustiçado, maltratado, excluído aparece
exteriorizado no mundo e salta aos olhos humanos de forma explícita,
“escandalosa”, sem “maquiagem”. O mundo não possui mecanismo para
esconder tal realidade, pois o ser humano é por essência exteriorizante,
objetivante e interiorizante, como lembra Berger:
A exteriorização é a contínua efusão do ser humano sobre o mundo, quer na atividade física quer na atividade mental dos homens. A objetivação é a conquista por parte dos produtos dessa atividade (física e mental) de uma realidade que se defronta com os seus produtores originais como facticidade exterior e distinta deles. A interiorização é a reapropriação dessa mesma realidade por parte dos homens, transformando-a novamente de estruturas do mundo objetivo em estruturas da consciência subjetiva. E através da exteriorização que a sociedade é um produto humano. É através da objetivação que a sociedade se torna uma realidade sui generis. É Através da interiorização que o homem é um produto da sociedade60.
Isto equivale afirmar que o mundo é compreendido como humanamente
criado e absorvido pelos homens e mulheres. Neste sentido, não há como fugir
os olhos da realidade que se apresenta à volta de cada um, pois constitui-se
parte da essência humana, absorver, senão total, parte, daquilo que acontece
no mundo, isto inclui, perceber o sofrimento e o rosto excluído.
59 SILVA, Márcio Bolda da. Rosto é Alteridade: Pressuposto da Ética Comunitária. São Paulo: Paulus, 1995, p. 69. 60 BERGER, Peter L. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. Organização de Luiz Roberto Benedetti e tradução de José Carlos Barcellos. São Paulo: Paulus, 1985, p.16.
42
Em segundo lugar, pensando na expressão evocada acima, “perceber o
rosto do excluído”, aqui está mais uma realidade importante para compreender
a idéia e o sentido de práxis de solidariedade. A solidariedade nasce do
encontro com o outro, o “tu” da relação “Eu-Tu”61, o outro distinto do sujeito que
o percebe, que experimenta a dureza da vida, o “escândalo” da carência de
comida, emprego, saúde, moradia, roupa e dignidade mínima, que se mostra
ao indivíduo que capta o rosto desse outro, que cobra seus direitos
inalienáveis. É por isso que Assmann e Sung afirmam que solidariedade tem a
ver com relação inter-humana. É na relação com o outro, o olhar no seu rosto,
que se descobre o grito por dignidade e o horizonte ético da solidariedade.
Silva indica isto na citação abaixo:
O rosto indica o que se manifesta do Outro. Não acoberta aparências e máscaras. Revela a sua corporalidade, a sua realidade ‘carnal’ (a sua situação social e existencial). Expressa o homem todo, unidade substancial, ser histórico-social, inserido no mundo. Põe a nu a identidade de sua singularidade e do ambiente cultural do qual é proveniente. Corporaliza a concretude da plena revelação de si mesmo, que não pode ser ofuscada ou vendada. Na verdade, a ‘carne’, o rosto do Outro, é único santo entre as coisas criadas, possui dignidade suprema, é o único depois de Deus.62
Em terceiro lugar, tendo em vista as considerações apontadas até aqui
sobre solidariedade, depreende-se que a solidariedade tem a ver com uma
“sensibilidade empática”, ou seja, a “exigência” de uma preocupação e uma
habilidade de assumir o “papel do outro com vistas ao bem-estar comum“, a
construção de um mundo melhor. Sentimento este que move a pessoa a sentir
61 Termos caros da filosofia de Martim Buber. É a partir dessa condição ontológica que as relações humanas mais significativas são tecidas. BUBER, M. Eu e Tu. 2 ed. São Paulo: Cortez & Moraes, 1993. Segundo Zuben “na relação EU-TU o EU é determinado pela presença do outro que está em sua presença como TU. A alteridade é constitutiva do ser pessoal. Está aí a base da afirmação de que o homem é um ser social”. Vide: ZUBEN, Newton Aquiles von. O Primado da Presença e o Diálogo em Martin Buber. http://www.odialetico.hpg.com.br, acesso em 17 de abril de 2007. 62 SILVA, M. B. da. op. cit., p. 70.
43
e se envolver com o drama e sofrimento do outro, o a priori-ético, como chama
a atenção E. Dussel
(,,,) o fato de que o rosto do miserável possa ‘interpelar-me’ é possível porque sou ‘sensibilidade’, corporalidade vulnerável a priori (...) Sua aparição não é uma mera manifestação mas uma revelação; sua captação não é compreensão mas hospitalidade; diante do outro a razão não é representativa, mas presta ouvido sincero à sua palavra.63
Este encontro sensível com o outro, afirma no íntimo do sujeito a
impulsão ética-subjetiva para sair de seu lugar e se mover em direção do outro,
na busca por construir um mundo mais humano, digno, em que haja espaço
para a realização plena dos indivíduos. Isto pode parecer uma resposta utópica
ou otimista demais para o tamanho de problemas que atingem uma sociedade
complexa e ambivalente como a contemporânea, todavia este é o desafio ético
que evoca o encontro com o rosto dos homens e mulheres excluídos deste
tempo. Gutiérrez em sua definição de solidariedade delineia o papel dos
cristãos diante deste imperativo ético que é a vivencia da solidariedade:
Para os cristãos, a solidariedade exprime um amor eficaz por todos e, particularmente, pelos membros mais indefesos da sociedade. Não se trata somente de gestos pessoais; a solidariedade é uma exigência para todo o conjunto social e significa um compromisso de toda a igreja.64
Concluindo este tópico, afirma-se que o termo práxis solidária é
entendido aqui, a partir das considerações alhures, como todo o envolvimento
humano no sentido de promover ações que busquem libertar e transformar o
ser humano excluído de sua condição de desigualdade e pobreza, buscando
63 DUSSEL, Henrique. Ética da Libertação na Idade da Globalização. Petrópolis: Vozes, 2000, p.367. 64 GUTIÉRREZ, Gustavo. Onde Dormirão os Pobres? São Paulo: Paulus, 2003, p. 56.
44
restabelecer a sua dignidade neste mundo dominado por um sistema
“desumano” e “sacrificial”.
1.3. Globalização e Solidariedade em Tensão
Como descrito acima, as sociedades contemporâneas estão
organizadas em uma sociedade globalizada. Com isso cada vez mais cresce a
inter-relação entre os países, povos, culturas do mundo, a difusão da
tecnologia e conhecimento em escala mundial, bem como assiste a
globalização da economia. No entanto, enquanto a humanidade experimenta
este enorme progresso tecno-científico e econômico, cresce preocupantemente
em nível mundial a globalização da pobreza, da exclusão e da desigualdade
social, sintomas da globalização econômica, como destacado em outro
momento desta pesquisa, e apontado abaixo:
A desigualdade social acentuou-se drasticamente nas últimas décadas. Milhares de pessoas lutam para sobreviver sob condições extremamente precárias, não só nos confins do mundo e entre as legiões de perseguidos e refugiados, mas também onde o capitalismo se apresentou como mais próspero. 65
Esta constatação de que a desigualdade, exclusão social e miséria,
avançam drasticamente em diferentes partes do mundo e, juntamente com
estas, a violação dos direitos humanos e injustiça institucionalizada é
65 CARDOSO, Miriam Limoeiro. “Ideologia da globalização e (des)caminhos da ciência social”. In: GENTIL, Pablo (Org.). Globalização Excludente: Desigualdade, exclusão e democracia na nova ordem mundial. 3ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 111..
45
confirmada por inúmeros autores que estudam o fenômeno da globalização66.
Muitos testificam que esta realidade tem colocado em “xeque” uma das
máximas da nova ordem mundial, ideologia globalista, a saber, a de que o
crescimento econômico trará o progresso da humanidade e erradicará a
pobreza e injustiça social67, que toma diferentes partes do planeta, como a
América Latina, Ásia e África. Ribeiro denuncia o fim dessa “ilusão”.
A pobreza, porém, nunca está só. Por toda parte os pobres são acompanhados pela permanente violação dos Direitos Humanos (DDHM, são vítimas de injustiças Institucionalizadas, vivem oprimidos e reprimidos sistematicamente. Neste sentido, vai-se compreendendo acentuadamente ‘o fim de uma ilusão: a de que o crescimento econômico por si só seria capaz de erradicar a pobreza e os altos níveis de injustiça social, que historicamente têm caracterizado a América Latina, Ásia e África.68
Esta constatação de que “a pobreza nunca está só”, também é
compartilhada por Bauman. Em seu livro “Globalização: as conseqüências
66 Entre estes estão: BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As conseqüências Humanas . São Paulo: Jorge Zahar Editor, 1999.; GENTIL, Pablo (Org.). Globalização Excludente: Desigualdade, exclusão e democracia na nova ordem mundial. 3ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2001.; IANNI, O. A sociedade global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1992; SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001. 67 Segundo Cardoso, este discurso de desenvolvimento contínuo encampado pelos globalista tomado na contemporaneidade, sobretudo na gênese da globalização, se assemelha muito aos discursos do projeto desenvolvimentista encampado nas décadas de 50 e 60. Esta autora afirma que “à diferença das afirmações correntes sobre a globalização, o desenvolvimento não era considerado como inevitável. No fundo, porém, o argumento era semelhante, porque as alternativas colocadas eram estas: ou a opção pelo desenvolvimento, o que significava esforço e sacrifício em prol de um futuro de prosperidade; ou a opção pela tradição e pelo atraso, o que implicava na manutenção da pobreza”. CARDOSO, Miriam Limoeiro. Ideologia da globalização e (des)caminhos da ciência social. In: GENTIL, Pablo (Org.). Globalização Excludente: Desigualdade, exclusão e democracia na nova ordem mundial. 3ª Ed. Petrópolis: Vozes, 2001, p. 116-117. Nesta mesma direção Held e McGrew confirmam esta interpretação de Cardoso sobre globalização e sua idéia de desenvolvimento cont ínuo. Estes autores afirmam que “a globalização econômica é associada a uma crescente prosperidade mundial: a pobreza extrema e a desigualdade global são vistas como estados transnacionais, que desaparecerão com a modernização global conduzida pelo mercado. A globalização econômica, afirma-se, cria as precondições para uma ordem mais estável e pacífica, uma vez que a interdependência econômica duradoura, como confirma as relações entre os Estados ocidentais, torna cada vez mais irracional o recurso à força militar ou à guerra e, portanto, torna-o cada vez mais improvável”. HELD, David e MCGREW, Anthony. Prós e Contras da Globalização. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor; 2001, p. 72-73. 68 RIBEIRO, H. op. cit., p. 54.
46
humanas”, ele apresenta uma análise sobre este assunto, como demonstrado
no trecho abaixo:
O que a equação ‘pobreza = fome’ esconde são muitos outros aspectos complexos da pobreza – ‘horríveis condições de vida e moradia, doença, analfabetismo, agressão, famílias destruídas, enfraquecimento dos laços sociais, ausência de futuro e de produtividade’ – aflições que não podem ser curadas com biscoitos superprotéicos e leite em pó. Kapuscinski lembra que perambulou por vilas e aldeias africanas, encontrando crianças ‘que imploravam não pão, água, chocolate ou brinquedos, mas uma esferográfica, pois iam à escola e não tinham com o que escrever as lições’. 69
Held e McGrew levantam a questão da problemática do Estado nesta
nova configuração mundial.
À medida que se intensifica a composição global, os governos tornam-se cada vez mais incapazes de manter os níveis existentes de proteção social, ou os programas estatais de bem-estar-social, sem minar a posição competitiva das empresas nacionais e impedir investimentos estrangeiros muito necessários.70
Para se defender das críticas anti-globalistas, que denunciam o fracasso
das políticas desenvolvimentistas para os países subdesenvolvidos, os
globalistas afirmam que o fracasso nos índices de desenvolvimento nesses
países, e conseqüentemente o aumento da pobreza, da injustiça e exclusão
social é resultado do não cumprimento de suas orientações políticas-
econômicas. Outro argumento muito usado pelos globalistas para justificar o
crescimento da miséria e da pobreza no mundo, enquanto uma pequena
minoria desfruta dos benefícios das riquezas produzidas, é que estas
realidades representam os “efeitos colaterais” do sistema ou que o “sacrifícios
humanos são necessários”71 para regular o mercado. Com isso, a conclusão
69 BAUMAN, Z. op. cit., p.81-82 70 HELD, D e MCGREW, A. op. cit., 71 HINKELAMMERT, F. Sacrifício Humano e Sociedade Ocidental. São Paulo: Paulus, 1995.
47
que se chega é que a globalização da indiferença está institucionalizada, como
salienta Espeja:
Nossa sociedade é insolidária. A ideologia da dominação e da própria segurança a custa dos outros, é normativa, e para ela encaminham os mecanismos sociais. Enquanto o desejo de ‘ter’ impõe suas leis, parados e indefesos, humilhados e ofendidos, ficam aí como escórias, onde os direitos humanos, somente são reconhecidos, quando muito, em teoria.72
Nessa sociedade, injusta e insolidária, a globalização da indiferença é
tamanha que a pobreza, nesta nova fase da humanidade, regido pela
economia globalizada, passa descabidamente a ser creditada como uma
responsabilidade dos próprios pobres. É o que indica o sociólogo polonês
Bauman:
... o noticiário sobre uma epidemia de fome – supostamente a última razão que restou para romper a indiferença rotineira – vem em geral acompanhada de um enfático lembrete de que as terras distantes onde as pessoas ‘vistas na TV’ morrem de fome e doença são as mesma dos ‘tigres asiáticos’, esses beneficiários exemplares da nova maneira imaginativa e admirável de fazer as coisas. Não importa que todos os ‘tigres’ juntos reúnam apenas 1 por cento da população da Ásia. Supõe-se que eles demonstram o que era preciso provar – que o lamentável sofrimento dos famintos e indolentes é opção sui generis deles próprios, que as alternativas estão disponíveis e podem ser alcançadas, mas não são adotadas por falta de diligência ou determinação. A mensagem subentendida é que os próprios pobres são responsáveis por seu destino; que eles poderiam, como fizeram os ‘tigres’, perceber que a presa fácil não satisfaz o apetite dos tigres. 73
Sung salienta que esta justificação da pobreza no presente encontra,
inclusive, explicações religiosas, conforme visto abaixo.
‘O pobre merece a sua pobreza, como o rico/competente merece a sua riqueza’; ‘Deus sabe o que’, ‘está pagando os pecados da encarnação passada’; ‘não há salvação da alma sem sacrifícios ou sem carregar as cruzes que Deus nos dá; ‘problemas econômicos fazem parte da nossa missão religiosa’, ‘estes problemas são tão difíceis... e eu/nós
72 ESPEJA, J. op. cit., p. 1052. 73 BAUMAN, Z. op. cit., p.81.
48
tenho/temos tantas outras coisas importantes a fazer...’; “Deus saberá dar um jeito nesses problemas...”. Estas são algumas das inúmeras explicações que encontramos na nossa sociedade para justificar o desviar os olhos dos sofrimentos dos/as excluídos/as.74
Todo este embrutecimento humano, essa indiferença e insolidariedade,
reclama desafios éticos, no sentido de reverter essa dura realidade e a
insensibilidade humana frente à nova ordem mundial, como afirma Apel:,
Para Apel, a situação atual da humanidade constitui o desafio de uma nova ética: o que caracteriza essas situações é a expansão planetária e a integração internacional, cada vez mais profunda, possibilitada pelo desenvolvimento, também planetário, da civilização técnico-científica. Ora, os efeitos das ações humanas, mediadas pelas ciências, se situam, em grande parte, no âmbito dos interesses vitais comuns da humanidade.75
Pelas discussões suscitadas, bem como pelos apontamentos de Apel,
observa-se que a situação atual desafia de fato o desenvolvimento de uma
nova ética, não assentada meramente em códigos de regras, mas fundada na
percepção ontológica do outro, como sujeito de direitos inalienáveis, como visto
em determinado momento desta pesquisa. Nesta direção, um dos caminhos
possíveis para o alcance do êxito nesta empreitada passam pelo
despertamento no ser humano da sensibilidade solidária, como afirma Sung:
A palavra sensibilidade quer mostrar que a solidariedade como ato ético-subjetivo radical só acontece quando entram em jogo os ‘sentidos’, como a percepção empática do sofrimento e angústia dos/as outros/as. O ver e o ouvir, alterando a sensibilidade da nossa pele. Ao mesmo tempo, a sensibilidade é a condição a priori para que o/a outro/a possa irromper no meu mundo como outro/a. 76
Sung aponta, ainda, a importância de compreender sensibilidade
solidária, como conhecimento, como indicado abaixo:
74 SUNG, Jung Mo. Sujeitos e Sociedades Complexas. Petrópolis: Vozes, 2002, p.161. 75 Apud OLIVEIRA, Manfredo Araújo. Globalização, Ética e Justiça. op. cit., p. 279 76 ASSMANN e SUNG. op. cit. p. 98.
49
Valorização da Sensibilidade como conhecimento. Sensibilidade no sentido de experiências físicas da visão, audição, tato. A relativização da nossa capacidade racional e das nossas teorias reacionais deve vir acompanhadas da valorização das nossas experiências sensitivas, do nosso contato visual ou físico com os presos, que são sempre realidade mais complexas e portadoras de mistérios que transcendem a nossa capacidade racional. Também é preciso valorizar a sensibilidade no sentido da ‘sensibilidade humana’, a capacidade de sentir a empatia e a compaixão, de se deixar tocar pelas vidas, sofrimentos e alegrias, esperanças e desejos das outras pessoas. 77
Concluindo, há de se afirmar que não se pode desconsiderar que o
esforço por despertar a sensibilidade solidária entre as pessoas, neste
momento histórico, não resolverá de todo os dramas da humanidade
contemporânea. Os problemas que tocam as sociedades atuais são complexos
e ambivalentes, todavia isto não é motivo para a desistência da busca por
horizontes utópicos que ofereçam sentido à vida humana, na construção de um
mundo mais justo é solidário.
Encerrada a exposição de discussões sobre a temática da Globalização
e Solidariedade deste capítulo, examinar-se-á no próximo capítulo as
fundamentações bíblico-teológico-históricas do ministério pastoral metodista
para o desenvolvimento de uma práxis solidária neste contexto de
globalização.
77 ASSMANN e SUNG. op. cit., p. 98.
50
2. FUNDAMENTAÇÕES BÍBLICO-TEOLÓGICO-HISTÓRICAS DO MINISTÉRIO PASTORAL
METODISTA PARA UMA PRÁXIS SOLIDÁRIA
No capítulo anterior, abordou-se a conceituação do termo Globalização e
Solidariedade, também se discutiu as possíveis tensões existentes entre esses
dois temas na contemporaneidade, acompanhadas de considerações sobre o
termo práxis. Já no presente capítulo, examinar-se-ão os fundamentos do
ministério pastoral metodista para a vivência de uma práxis pastoral solidária
nestes tempos de globalização.
Assim, buscar-se-á apresentar uma visão histórica do ministério pastoral
metodista, investigar a prática de seu fundador; descrever as ênfases e
caracterização do ministério pastoral metodista no contexto brasileiro;
concluindo com a elaboração conceitual das motivações para o exercício de
uma práxis pastoral metodista solidária no tempo presente.
51
2.1. Caracterização do ministério metodista: uma visão histórica
O ministério pastoral da Igreja Metodista brasileira, além de assentar sua
identidade na tradição bíblico-teológico-histórica do pastoreio, encontra suas
raízes no metodismo histórico, instituído por João Wesley na Inglaterra do
século XVIII. Neste sentido, há como afirmar que a compreensão de pastoral
metodista está intimamente ligada à figura de João Wesley. Portanto, para
compreender o ministério pastoral metodista brasileiro faz-se necessário
estudar Wesley, seu tempo, práticas e escritos.
2.1.1. Wesley e seu Tempo
João Wesley (1703-1784), o fundador do movimento metodista, era um
clérigo da Igreja Anglicana, igreja oficial da Inglaterra, criada por Henrique VIII
em 1534, motivado por uma série de questões de ordem pessoal e política78.
Deste modo, o metodismo foi um movimento renovador nascido no interior da
igreja oficial. Deve-se destacar que a convivência com movimentos
renovadores era uma realidade comum e constante na igreja da Inglaterra,
78A instituição da Igreja Anglicana na Inglaterra século XVI, por Henrique VIII, se deu de maneira conturbada. Foi instituída depois da controvérsia do monarca com o Papa Clemente VII, por ocasião do fim de seu casamento com Catarina de Aragão (1485-1536), sobrinha do imperador Carlos V. Além disso, a Igreja Católica possuia inumeras terras e bens na Inglaterra, o rei encontrou nesta controvérsia uma forma de reaver as terras e riquezas da igreja romana à coroa britânica. Para aprofundamento do tema consultar: HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado Metodista. São Bernardo do Campo: Editeo, 1996, p. 2-5. Este autor é professor de História da Igreja e estudos wesleyanos na Faculdade de Teologia da Universidade de Duke, é um dos mais importantes biógrafos de Wesley na atualidade, foi responsável por decodificar o diário pessoal de Wesley, escrito em códigos: cifras e taquigrafias.
52
entre esses movimentos encontram-se as “Sociedades Religiosas”, que
serviram de fonte de inspiração a Wesley na estruturação do metodismo.
A época na qual João Wesley viveu e desenvolveu seu ministério
pastoral foi um período marcado por intensas mudanças, transformações e
ambivalências. Nessa época a Inglaterra experimentou a Revolução Industrial,
responsável por um enorme crescimento econômico – que permitiu a ascensão
da nação britânica como potência mundial –, mas também por conseqüências
profundas na vida social inglesa. Neste sentido afirma Souza:
A revolução industrial é uma alteração profunda na vida da Inglaterra. O setor de ponta é a indústria têxtil, que num primeiro momento tem como matéria-prima a lã. O produto é encontrado de forma abundante na própria Inglaterra e somente mais tarde é que se desenvolverá o têxtil de algodão, para, finalmente, ocorrer à própria industrialização dos meios de produção. No século XVIII a fabricação dos meios de produção ainda se dá de forma artesanal (máquinas, indústrias); no final do século XVIII é que serão usados ferro, carvão de pedra, e inicia-se um processo de automação do próprio maquinário, para que a revolução industrial fosse um fato, uma mudança fundamental na própria estrutura econômica agrária da Inglaterra.79
Para compreender essas alterações profundas salientadas por Souza é
preciso retroceder historicamente ao século XVII, mais especificamente ao
período da restauração de Cromwell80. É que nesta época ocorre na Inglaterra
o incentivo à indústria de lã, o que provoca uma mudança intensa na estrutura
agrária inglesa.
Observa-se que “os campos que anteriormente produziam alimentos
passam a produzir lã, as terras comuns são arrebatadas, há um processo de
79 SOUZA, José Carlos de. “Introdução a Wesley”. In: Wesley. São Paulo: Editeo, 1991, p. 9. 80 HILL, Christopher. O eleito de Deus: Oliver Cromwell e a revolução inglesa. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
53
privatização da propriedade agrária”81, concentração fundiária. Por
conseguinte, como a exigência de mão de obra na pecuária é
consideravelmente menor que na agricultura, ocorre um enorme êxodo rural, as
cidades são tomadas por inúmeras famílias expulsas do campo, que passam a
engrossar a massa de “proletariado nascente”. É o que indica Hinkelammert:
Como la producción de lana emplea mucho menos mano de obra por hectárea que la producción tradicional de alimentos, lleva a la expulsión de grandes masas de campesinos de sus tierras. Aparece entonces uma crisis social enorme que afecta a grandes partes de la población y que lleva al problema de la vagancia. El campesino que pierde su tierra empieza a vagar, busca dónde ubicarse em la ciudad, pero la dinâmica de esta producción industrial textil no es de ninguna manera capaz de absorberlo. Entonces, ese campesino echado del campo forma uma población sobrante, migrante y sumamente desarraigada. 82
Com esse avanço da população do campo para a cidade ocorre um
grave problema social nesse período, a saber, o problema do desemprego – ou
como se afirmava na época, a questão da vadiagem. Como a dinâmica
industrial neste momento ainda não possui força suficiente para absorver toda
a mão de obra sobrante, a solução encontrada pelo governo para tratar desta
questão foi o endurecimento da lei, ou seja, coerção ao invés da promoção de
políticas públicas para solucionar a questão do desemprego, conforme indicado
na citação abaixo:
Na primeira metade do século XVIII nada menos que sessenta crimes foram acrescentados à lista dos punidos com pena capital na Inglaterra.
81 SOUZA. op. cit., p. 10. 82 HINKELAMMERT, Franz. Las condiciones econômico-sociales del Metodismo en la Ingraterra del Siglo XVIII. In: DUQUE, José. La Tradición protestante en la teologia latinoamericana: Primer Intento: lectura de la tradición metodista. San José – Costa Rica: Dei, 1983, p.24. TRADUÇÃO LIVRE DO AUTOR: Como a produção de lã imprimia muito menos mão de obra por hectares que a produção tradicional de alimentos, leva a expulsão de grandes massas de campesinos de suas terras. Aparece então uma crise social enorme que afeta grande parte da população e leva ao problema da vagância. O campesino que perde sua terra começa vagar, buscar onde situar na cidade, porém a dinâmica dessa produção industrial têxtil não é de nenhuma maneira capaz de absolvê-lo. Então, esse campesino expulso do campo forma uma população sobrante, migrante e sumamente desarraigada.
54
O tratamento dispensado aos falidos e aos devedores era também extremamente impiedoso. Surrados e submetidos a uma dieta de fome pelos carcereiros, morriam aos milhares em prisões imundas.83
Apesar da rigidez da legislação o problema do desemprego não foi de
todo resolvido, persistiria ainda por um longo período na Inglaterra durante
grande parte do século XVIII, como se abordará em vários momentos desta
pesquisa.
Voltando à discussão da transformação das terras agrícolas inglesas em
pastos para pecuária, com este empreendimento a nação britânica se viu
obrigada a importar alimento para abastecimento de sua população. A
alternativa encontrada foi a importação de alimentos da Polônia e Rússia,
pagos com lã e pequenas ferramentas.
Aliás, a escassez de alimentos foi outro sério problema enfrentado pela
Inglaterra no século XVIII. Neste contexto, a população pobre foi a que mais
sentiu os efeitos desta problemática, assim como o alto preço do alimento.
83 VV.AA. História da Civilização Ocidental : Do Homem das Cavernas às Naves Espaciais. 28ª Ed. Vol.2. Porto Alegre-RS/Rio de Janeiro-RJ: Editora Globo, 1968, p. 464. Souza confirma esta informação: “a questão (da vadiagem) é solucionada através de uma legislação extremamente rígida e severa, onde, às vezes, um simples roubo é punido com a pena de morte; muitas vezes há notícias de que juízes inocentaram o indivíduo para não aplicar a pena capital. A questão não é resolvida discutindo o problema do desemprego, a questão é resolvida na base da repressão”. SOUZA, José Carlos de. “Introdução a Wesley”. In: Wesley. São Paulo: Editeo/Cedi, 1991, p. 11. Fazendo uma avaliação do sistema carcerário inglês, Bastos tece os seguintes comentários: “O sistema carcerário inglês não era outra coisa senão uma das muitas formas com que a brutalidade da exclusão social se revelava no quotidiano da vida dos mais pobres. A insalubridade dos cárceres, onde se amontoavam homens, mulheres e crianças, faziam proliferar doenças as mais diversas. Ali não havia alimentação adequada, nem cobertores, sendo os presos obrigados a dormirem em chão frio. Na verdade, não parece ser acertado denominar de cárcere àquelas dependências destinadas à reclusão de ‘criminosos’, uma vez que, não raramente se tratavam de porões, casas abandonadas, tendo pouca ou nenhuma ventilação. Os vigias, por não receberem um salário regular do poder público, viam como fonte alternativa de sustento a prática da extorsão aos presos e seus familiares. Aqueles que não pudessem pagar as ‘taxas’ exigidas pelos guardas eram às vezes torturados até a morte.” BASTOS, Levy da Costa. “Justificação e justiça em John Wesley”. In: RIBEIRO, Cláudio de Oliveira; RENDERS, Helmut; SOUZA, José Carlos de; JOSGRILBERG, Rui de Souza (Orgs). Teologia e Prática na Tradição Wesleyana: Uma leitura a partir da América Latina e Caribe. São Bernardo do Campo: Editeo, 2005, p.79.
55
Bastos afirma que neste período muitas famílias inglesas experimentaram a
fome:
Os salários, por serem tão baixos, acabavam por obrigar os operários a empregarem todos os integrantes da família como força produtiva a fim de não morrerem de fome. Fome que campeava pelas ruas e casas das cidades industriais inglesas. Incessante documentação a respeito está em dois jornais publicados à época: O ‘London Daily Post’ informa na edição de maio de 1742 que ‘... a miséria é quase incrível (...) As pessoas estão todas desempregadas e necessitadas dos meios mais elementares de sobrevivência’. O segundo relato é da ‘Norwich Gazete’, em sua edição janeiro de 1741, segundo a qual ‘Não menos de que 10.000 estão morrendo de fome por necessidade de ocupação’.84
Apesar destas “contradições sociais”, o certo é que a Inglaterra no
século XVIII experimentou progressivamente sua ascensão como uma grande
potência mundial na indústria têxtil. Alguns fatores concorreram para isso, a
saber, a aquisição do comércio monopolista de escravos (1703), pois permitiu a
interação comercial da Inglaterra com Portugal e sua colônia – Brasil –, assim
como a circulação de ouro no país; e a conquista das Índias, fator decisivo para
a nação britânica alcançar a auto -suficiência e controle mundial do mercado
têxtil. Qual o impacto que isto tem na Inglaterra? Hinkelammert tem opinião
sobre esta realidade:
La producción textil inglesa aumenta, pero este aumento no es más que sustituto de otra producción que se pierde, es decir, no aumenta la producción mundial pero sí la inglesa. Por eso Inglaterra puede tener tantos contratos y tasas de crecimiento sumamente altas: es un mercado fácil, un mercado de sustitución. Esto da la característica de toda la segunda mitad del Siglo XVIII: um mercado fácil para el textil de algodón – que no es um textil de alta calidad, como el de lana, sino um textil muy corriente para gente de escasos recursos – que no necessita
84 BASTOS, op. cit. p. 80.
56
que la gente tenga nuevos ingresos, pués com los que tiene puede comprar el nuevo textil inglês.85
Todavia a conquista do mercado têxtil mundial inglês a partir da segunda
metade do século XVIII não foi capaz de atenuar os problemas e as diferenças
sociais, pelo contrário, eles aumentam mais. É o que permite pensar a reflexão
abaixo de Souza:
É possível constatarmos o seguinte fato; há um auge na produção têxtil inglesa e, ao mesmo tempo, um processo de pauperização da população. Não é preciso aumentar os salários da população porque existe o mercado externo de substituição; alem disso o tecido de algodão é muito mais barato que a de lã, compatível com os baixos salários. Nesse momento, tanto os novos proletários (classe proletária que começa a surgir) quanto à população (exército de reserva) incham as cidades. A economia inglesa, que era agrária e artesanal, passa por um processo de transformação acelerada. A pauperização não inviabiliza o mercado porque o produto de algodão é para quem tem poucos recursos; o artesão é transformado em proletário ou, se dispôs de algum capital, em empresário. 86
Duque acompanha esse raciocínio de Sousa e acrescenta que
juntamente com os problemas do desemprego, fome, aparecem neste período
outros males, como a violência, decadência moral e alcoolismo:
La precariedad social se podía observar en el desempleo, el hacinamiento habitacional, el alcoholismo, el hambre y la conducta social violenta. Es decir, era un contexto socio-económico caracterizado por la discriminación, la opresión, la sobre explotación obrera, la violencia, el sin sentido de la vida y la degradación viciosa. En una
85 HINKELAMMERT, op. cit., p.27. TRADUÇÃO LIVRE DO AUTOR: A produção têxtil inglesa aumenta, porém este aumento não é mais que substituto da outra produção que se perde, quer dizer, não aumenta a produção mundial, porém sim a inglesa. Por isso a Inglaterra pode ter tantos contratos e taxas de crescimento sumamente altas: é um mercado fácil, um mercado de substituição. Esta é a característica de toda a segunda metade do Século XVIII: um mercado fácil para o têxtil de algodão – que não é um têxtil de alta qualidade, como o da lã, senão um têxtil muito corrente para gente de poucos recursos – que não necessita que a gente tenha novos ingressos, pois com os que têm pode comprar o novo têxtil inglês. 86 SOUZA, José Carlos de. op. cit., p. 12-13. Seguindo esta compreensão, Camargo afirma: “A Revolução Industrial havia trazido consigo uma abominável exploração dos trabalhadores, que se amontoavam, em número crescente, em bairros em que a aglomeração e o abandono tornavam insalubres e moralmente corrompidos.” CAMARGO, Báez. Gênio e Espírito do Metodismo Wesleyano. São Paulo: Imprensa Metodista, 1986, p.55.
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palabra, la nueva economia que surgía en Inglaterra era una ‘fábrica’ de miséria.87
Segundo Hinkelammert esse conjunto de problemas sociais enfrentados
pela Inglaterra são reflexos da adaptação da nação inglesa às novas dinâmicas
do capitalismo nascente. Em sua visão, em todos os lugares onde o
capitalismo foi implantado, as nações experimentaram esses desafios de
adaptação a um novo sistema de vida trazido pelo capitalismo.
Concluindo este tópico, faz-se a observação de que diferentes
historiadores, entre eles alguns metodistas88, que fazem uma análise social e
histórica das inúmeras alterações pelas quais passou a Inglaterra no século
XVIII, consideraram que Wesley e os metodistas ajudaram de algum modo na
adaptação das classes pobres inglesas a esse novo modo de vida capitalista.
Feitas estas considerações, no próximo tópico analisar-se-ão algumas dessas
ações pastorais de Wesley e dos metodistas neste período.
2.1.2. A Prática Pastoral Solidária de Wesley
Wesley possuía uma compreensão global da religião, concebia a
experiência religiosa cristã não como uma experiência intimista, particular e
87 DUQUE, José. El mundo es mi parroquia porque otro mundo es posible. In: RIBEIRO, Cláudio de Oliveira; RENDERS, Helmut; SOUZA, José Carlos de; JOSGRIBERG, Rui de Souza (Orgs). Teologia e Prática Na Tradição Wesleyana: Uma leitura a partir da América Latina e Caribe. São Bernardo do Campo: Editeo, 2005, p.207. TRADUÇÃO LIVRE DO AUTOR: A precariedade social se podia observar no desemprego, o aglomerado habitacional, o alcoolismo, a fome, e a conduta social violenta. Isto é, era um contexto socioeconômico caracterizado pela discriminação, a opressão, a alta exploração operária, a violência, a falta de sentido da vida e a degradação viciosa. Em uma palavra, a nova economia que surgiu na Inglaterra era uma “fábrica” de miséria. 88 CAMARGO, Báez.; REILY, Ducan.; SOUZA, José Carlos de.
58
individualista, mas como uma realidade ampla e integral que deveria
contemplar em sua vivência a dimensão íntima e exterior: atos de piedade89 e
obras de misericórdia90. Por isso afirmava aos metodistas de seu tempo: “O
cristianismo é essencialmente uma religião social e torná-lo em religião
solitária, é destruí-lo.91” Neste sentido esclarecia ainda:
Quando digo que esta religião é essencialmente social, quero não só afirmar que ela não pode subsistir normalmente, mas que não pode subsistir de modo nenhum à margem da sociedade, sem viver e tratar com outros seres humanos. 92
Esta consciência de que a religião deve ser vivida integralmente, sem
secção, de que o cristianismo não é uma religião condenada aos “porões” do
individualismo e da indiferença social, fez com que Wesley se envolvesse
profundamente no esforço de minorar alguns dos sérios problemas de seu
tempo. Assim, seu ministério ao lado dos metodistas, ficou profundamente
marcado por uma práxis pastoral solidária. Neste sentido resumia a missão dos
metodistas: “reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade
bíblica sobre toda a terra93”.
89 Os atos de piedade referem-se a participação na Ceia do Senhor, leitura devocional da Bíblia, prática de oração, jejum, participação nos cultos, etc. 90 As obras de misericórdia reapresentam a solidariedade ativa junto aos pobres, necessitados e marginalizados socais. 91 WESLEY, João. Sermão do Monte – Discurso IV. In: Sermões. Vol I. 2ª Edição. São Paulo: Impressa Metodista, 1981, p. 501. Um olhar acurado na história é capaz de revelar inúmeros exemplos de pessoas e grupos cristãos que condenaram sua vivência religiosa a experiência individualista, na desculpa de que cultivar a piedade íntima fosse mais importante do que se envolver com as duras realidades que afligiam a humanidade. Wesley quase caiu neste perigo, ao se dedicar à leituras dos autores místicos de seu tempo, todavia logo equilibrou sua fé. 92 Wesley, João. Sermão do Monte – Discurso IV –. op. cit., p. 502. 93 É oportuno esclarecer que a compreensão de santidade em Wesley passa também pela compreensão de religião como uma experiência que contempla o social, como se tem assinalado nesta pesquisa. Assim afirmava: “O Evangelho de Cristo não conhece religião, que não seja religião social; não conhece santidade, que não seja santidade social” (Obras, VIII, 593).
59
Wesley afirmava sempre que as marcas distintivas de um metodista não
eram um esquema especial de religião ou um conjunto de idéias particulares,
para ele as balizas constitutivas de um metodista eram simplesmente o amor a
Deus e o amor ao próximo. Estes princípios o acompanharam por toda sua
vida, vivência religiosa e práxis pastoral. Foi esse amor por Deus e pelo
próximo que orientou seu envolvimento social – como exemplo, o combate à
pobreza que assolava a Inglaterra:
Chamei a atenção das sociedades unidas para o fato de que muitos de nossos irmão e irmãs necessitavam de comida; de que muitos não tinham roupa; de que muitos não tinham emprego, e isso não era culpa sua; e muitos estavam doentes e corriam o perigo de morrer; de que eu tinha feito o possível para alimentar os famintos, vestir os nus, empregar os que estavam sem emprego e visitar os doentes; mas tudo o que tinha feito não era suficiente e, portanto, queria que todos aqueles cujo coração estava com o meu procurassem: 1o ) trazer toda a roupa que pudessem dar para ser distribuída entre os mais necessitados. 2o) Dar um penny por semana, ou o que pudessem dar, para atender às necessidades dos pobres e doentes. Meu intuito, disse-lhes eu, é empregar, por enquanto, todas as mulheres desempregadas, e os homens que desejarem, no fabrico de meias. Vender o produto ao preço do dia e depois suplementar aquilo que faltasse para atender à suas necessidades. Doze pessoas estão nomeadas para fiscalizar esse serviço, visitar os doentes e fornecer-lhes o que for preciso. Cada uma dessas doze pessoas têm de visitar, de dois em dois dias, os doentes do seu distrito, e reunir-se na quinta-feira para relatar o que fizeram e planejar o que ainda pode ser feito94.
Como fora mencionado, a solução encontrada por Wesley para o
problema da fome, doença e desemprego nesta ocasião indica sua
sensibilidade pastoral à esses temas. Muitas outras ações foram empreendidas
ao longo de seu ministério nessa direção com vistas ao combate da pobreza
institucionalizada em seu tempo. A seguir examinar-se-ão algumas delas:
94 BUYERS, Paul Eugene. João Wesley: Avivador do Cristianismo na Inglaterra. 2ª Ed. São Paulo: Impressa Metodista 1957, p. 41.
60
Wesley buscou inúmeras alternativas para a falta de emprego entre
aqueles que participavam das sociedades metodistas. Heitzenrater afirma que,
na busca por atenuar o problema da falta de emprego que assolava grande
parte da população inglesa e, em particular, muitos integrantes da sociedade.
Wesley criou o Fundo de Empréstimos, no intuito de ajudar as pessoas
desempregadas no desenvolvimento de seus próprios negócios.
As cinqüenta libras assim coletadas entre seus amigos foram dadas a dois Stewards da sociedade, que foram à Fundição na terça-feira de manhã e fizeram empréstimos de vinte shillings (uma libra) para aqueles que necessitam ‘de um suprimento imediato’ de dinheiro para propósito tais como ‘poder desenvolver seus negócios’. Aqueles que tomavam o empréstimo, prometia (junto com o avalista) a pagar dentro de três meses; anotava-se na promissória a classe [metodista] a qual ele pertencia. Este programa de empréstimo de prazo curto para pequenos negócios ajudou duzentas e cinqüenta pessoas no primeiro ano (WHS, 2:197).95
A doença era outro preocupante problema social que assolava a
sociedade inglesa, como se tem registrado nesta pesquisa. Segundo Bastos
“pelas ruas de Londres, além de crianças abandonadas, o que mais se via era
esterco de cavalos provocador de tétano, causa mortis inferior apenas aos
recorrentes surtos de cólera, febre tifóide, disenteria e varíola 96”, bem como a
subnutrição provocada pela fome. Preocupado com isso Wesley organizou em
Londres um Dispensário Médico para cuidado dos doentes:
Durante o mesmo período Wesley expandiu o programa de assistência médica entre seu povo. Fascinado pelas doenças e curas desde os dias de Oxford, Wesley estava convencido, há muito tempo, ‘por inúmeras provas, de que os médicos regulares prestam muitíssimo pouco benefício’ (Letters, 26:235). Ele havia estocado remédios nas três principais casas de pregação por cerca de um ano e publicado uma pequena coleção de receitas medicinais. Agora ele havia conseguido um cirurgião e um farmacêutico para o auxiliarem em ‘um tipo de
95 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o Povo Chamado Metodista. São Bernardo do Campo: Editeo, 1996, p.166. 96 Bastos, op. cit., p. 80.
61
experiência emergencial’, a distribuição regular de remédios. Em dezembro de 1746, Wesley anunciou à Sociedade de Londres sua intenção de ‘dar assistência médica aos pobres’ nas sextas-feiras na Fundição que se tornou assim um dispensário médico. Cerca de trinta foram no dia seguinte, e um fluxo regular de cerca de cem pessoas por mês prosseguiu, a um custo de menos de dez libras ao mês (JED, 20:177). Não querendo ‘ir além da minha capacidade’, como disse, Wesley declarou que sua intenção era ajudar aqueles que tivessem uma doença crônica e não aguda, e enviar todos os casos difíceis e complicados para os médicos97.
Nota-se que a práxis pastoral de Wesley junto aos doentes não ignorava
a prudência, isto pode ser observado no fato de não extrapolar situações que
fugiam ao seu alcance, ou seja, casos graves que requeriam maiores cuidados
eram encaminhados aos médicos. Essas ações solidárias junto aos doentes
não se voltavam apenas aos integrantes das sociedades metodistas, como
indica Heitzenrater:
Wesley não limitou seus serviços apenas aos membros da Sociedade da Fundição; de cinco a seis centenas dos que receberam atenção nos primeiros cinco meses, ‘diversos’ eram estranhos. Wesley também estendeu seu ministério médico às casas de pregação em Bristol e Newcastle. Embora a primeira tenha tido um início bem sucedido, a falta de remédios desejáveis e a competição com o dispensário gratuito do hospital de Bristol, levaram ao fim esse empreendimento metodista. Apesar de tudo, para aqueles que viviam longe do alcance desses dispensários médicos metodistas, Wesley publicou uma versão ampliada de sua coleção de receitas médicas, com um novo titulo, Primitive Physik (Medicina Primitiva – 1747)98.
A situação de extrema pobreza e de miséria, fruto das profundas
mudanças sociais pelas quais passou a Inglaterra por ocasião da Revolução
industrial e adaptação ao capitalismo, também empurrou muitas pessoas ao
problema da falta de habitação. Preocupado com essa realidade Wesley e os
metodistas organizaram em Londres duas casas pequenas alugadas para
97 HEITZENRATER, Richard P. op. cit., p.166-167. 98 Ibidem, p.167.
62
abrigarem viúvas e idosos, e eventualmente, outros necessitados, chamado de
“A Casa dos pobres":
Outro experimento da caridade cristã, A casa dos pobres, consistia de duas casas pequenas alugadas, perto da Fundição. Nelas Wesley providenciou acomodações limpas e aquecidas para ‘viúvas fracas e idosas’. Entre as doze ou mais ocupantes da casa, a quem Wesley e os pregadores visitavam ocasionalmente e com elas tinham uma refeição, também estavam incluídas uma cega e duas crianças pobres (Societies, 277).99
A educação foi outra preocupação social, objeto da práxis pastoral
solidária de Wesley. O fundador do metodismo juntamente com seus
colaboradores empreendeu enormes esforços no sentido de diminuir a falta de
educação em seu tempo. A construção da Escola de Kingswood para
beneficiar os filhos dos trabalhadores das minas de carvão daquela cidade e
demais pessoas de outras idades é um exemplo dessa ação pastoral engajada
com a causa da educação, como salienta Barbosa:
Em julho de 1737, Wesley se encarregou de resolver um problema que angustiava os moradores de Bristol. Não havia escola nas instalações das minas de Kingswood e ele se preocupava com as crianças pobres, que deviam não só aprender a ler, escrever e contar, mas também conhecer Jesus Cristo e a Palavra de Deus. Assim, levou avante um plano concebido inicialmente por Whitefield: Construir uma escola perto de Two-Mile Hil, com espaço para pregação, acomodação de dois professores e destinada a estudantes de todas as idades, incluindo idosos. A nova escola foi construída em Kingswood, fora de Bristol. 100
O exame da grade curricular da escola mostra a seriedade com que
Wesley encarou este projeto na época. O programa instituído constava de
leitura, escrita, aritmética, francês, latim, grego, hebraico, retórica, geografia,
cronologia, história, lógica, ética, física, geometria, álgebra, música entre outras
99 HEITZENRATER, Richard P. op. cit., p.167. 100 BARBOSA, José Carlos. Adoro a Sabedoria de Deus . Piracicaba: Unimep, p. 181. Outras informações sobre a construção desta escola podem ser encontradas na obra de HEITZENRATER, Richard P. op. cit., p 105-106 e 168-169, entre outras páginas.
63
disciplinas. Wesley compreendia que uma sólida educação poderia tirar as
crianças e jovens da vadiagem e mundo do crime101.
Segundo Heitzenrater inúmeros recursos financeiros eram buscados
para atender aos programas sociais criados pelos metodistas. Além de ajudar
com parte de seu salário nesses programas, Wesley dedicava ainda os seus
recursos provenientes das vendas de publicações, como indicado abaixo:
Havia muitas necessidades entre as pessoas às quais os metodistas serviam, e os recursos financeiros eram buscados em todas as fontes possíveis. Até o programa de publicações do Wesley, que estava em desenvolvimento, era em parte, designado para esse dinheiro, que eles afirmavam ser de Wesley, chegava a 1.300 libras, quase equivalente à renda de um bispo. Wesley admitia que ele tinha comida, roupa e um lugar onde repousar a cabeça, mas também observou que quase todo o dinheiro estava sob o controle do stewards da sociedade, e que se ele morresse possuindo mais do que 10 libras em seu nome, todos poderiam chamá-lo de ‘ladrão e salteador’ (Appeals, 83-88). Sua contabilidade particular mostra o fato de que ele dava para os outros a maior parte do dinheiro que passou por suas mãos. 102
O alcoolismo foi outro grave problema social enfrentado pela nação
inglesa no século XVIII combatido por Wesley. Não por questão moral ou
religiosa simplesmente, mas pelo profundo mal social que a bebida
representava para a nação inglesa. Por isso exortava o povo chamado
metodista:
“Portanto não devemos vender qualquer coisa que venha a prejudicar a saúde do próximo; principalmente aquele fogo líquido chamado ‘bebida
101 O movimento das Escolas Dominicais, atribuída ao jornalista inglês Robert Raikes, porém com sua gênese no movimento metodista, a partir da experiência de Ana Ball, pode ser considerado como mais uma das iniciativas metodistas no sentido de minorar o problema do analfabetismo entre a população pobre inglesa, é o que afirma o historiador metodista, Raily: O movimento das Escolas Dominicais foi mais um passo na direção de educação popular... “Os alunos das Escolas Dominicais não recebiam, geralmente, instrução nas matérias seculares, senão indiretamente, mas aprendiam a leitura; e os mais inteligentes adquiriam conhecimentos gerais muito úteis. Desde o inicio as Escolas Dominicais tinham valor cultural. Wesley dizia que elas afastavam as crianças dos vícios e ensinavam-lhes boas maneiras”. REILY, Ducan. A Influência do Metodismo na Reforma. op. cit., p. 10. 102 HEITZENRATER, Richard P. op. cit., p. 1996, p.127.
64
forte’ ou ‘licores espirituosos’. É verdade que podem ser usados na medicina, contra algum mal físico (se bem que raramente seja necessário fazer tal uso). Portanto, aqueles que os preparam para o uso medicinal e os vendem, podem ter tranqüilidade de consciência? Quem são eles, porém? Quem os prepara só para esse fim? Conhece-se mais do que dez destilarias desse tipo na Inglaterra? A esses nós desculpamos. Mas a todos os que vendem sem escrúpulos, a qualquer pessoa que deseja comprar, reputamos como envenenadores em geral. Matam sem piedade ou contemplação. Empurram seus consumidores para o inferno, como se fossem ovelhas. “E qual é seu lucro? Não é, talvez, sangue dessa gente? (....)103”.
Wesley também não deixou de expressar sua opinião contrária sobre
temas polêmicos em seu tempo, um exemplo disso é a questão da escravidão.
Como visto alhures, no século dezoito a Inglaterra ganhou o monopólio do
tráfico de escravidão. Wesley combateu tenazmente essa prática, bem como o
serviço escravo, advogando que tal prática ofendia a Deus, como se pode ver a
seguir:
“Todo esse tráfico de escravos, afirmava, teria o único fim de fazer dinheiro’, e suas escusas eram ‘vazias e hipócritas’. E como para manter esse sistema alegavam interesses coloniais do país, sobretudo em suas possessões coloniais do país, sobretudo em suas possessões das Antilhas, o reformador declara sem rodeios: ‘É melhor que todas essas ilhas fiquem para sempre sem cultivar; sim, seriam mais desejáveis que todas elas afundassem completamente no fundo do mar, do que se cultivada a preço tão elevado como a violação da justiça, da misericórdia e da verdade104”.
Esses relatos são apenas alguns exemplos da ação ministerial
comprometida de Wesley em seu tempo. Muitas outras poderiam ser evocadas,
porém foram escolhidas estas para ilustrar a práxis pastoral solidária de
Wesley em seu século. A seguir analisar-se-á a constituição do ministério
pastoral em terras brasileiras.
103 BARBIERI, Sante Uberto, op. cit., p. 13. 104 CAMARGO, Báez. op. cit., p.54.
65
2.2. O ministério pastoral metodista e suas ênfases no contexto brasileiro
2.2.1. Inserção do Metodismo no Brasil
A Igreja Metodista chegou ao Brasil pela empresa missionária norte-
americana em 1867, da Igreja Metodista Episcopal do Sul – EUA, após uma
primeira tentativa frustrada em 1835105, por intermédio da iniciativa do pastor
metodista Junius Newman106, que acompanhava juntamente com sua família
um grupo de colonos estadunidenses que se fixaram na região de Santa
Bárbara d`Oeste vindos do sul dos Estados Unidos, depois da guerra da
secessão107.
Newman é considerado o precursor da era permanente do metodismo
no Brasil,108 depois de sua iniciativa, muitos outros missionários contribuíram
105 Esta data corresponde ao primeiro esforço norte-americano em estabelecer o trabalho metodista no Brasil. Essa tentativa contou com a participação do missionário Daniel Kidder, que criou um trabalho no Rio de Janeiro, que naquela época sediava a capital do império. REILY, Duncan. A. Historia Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTE, 1984,p.85. 106 Segundo Reily, Junius Estaham Newman, era pastor e superintendente distrital metodista, tinha servido como capelão das tropas sulistas na guerra da secessão, com o término da guerra civil, desejou seguir os colonos sulistas que emigravam para a América central e a América do Sul à procura de novas oportunidades. Como era ligado a Junta de Missões da Igreja Metodista Episcopal do Sul (IMES), recebeu nomeação daquela companhia missionária para trabalhar na América Central ou Brasil. Ele ainda afirma que depois de aportar no Rio de Janeiro, em agosto 1867, Newman “acabou fixando residência em Saltinho, perto de Santa Bárbara d`Oeste, província de São Paulo, onde, desde 1869, pregou aos colonos e, finalmente, no terceiro domingo de agosto, 1871, organizou o ‘Circuito de Santa Bárbara’”. De acordo Reily “o primeiro salão de culto era uma pequena casa coberta de sapé, de chão batido, onde antes havia uma venda”. REILY, Duncan. Momentos Decisivos do Metodismo. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1991, p.87-88. 107 Uma guerra civil motivada pela questão da escravidão que devastou o sul dos Estados Unidos da América. 108 Cf. REILY, Duncan. Momentos Decisivos do Metodismo. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1991. REILY, Duncan. A. Historia Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTE, 1984,p.85-87.
66
para a inserção e implantação do metodismo nestas terras, como John James
Ranson, segundo missionário enviado pela Junta de Missões ao Brasil, em
1876. Com a consolidação da missão metodista no Brasil, o trabalho
permanece sobre a tutela da igreja norte americana até 1930, quando ocorre a
autonomia da igreja metodista brasileira da igreja mãe. Portanto, de 1876 a
1930, o Brasil é considerado campo missionário da missão norte-americana,
sendo o trabalho desenvolvido por missionários norte-americanos e obreiros
brasileiros.109
No mesmo período em que a Igreja Metodista alcança sua autonomia,
várias outras igrejas protestantes passam pelo mesmo processo110. Era uma
época de crescimento da consciência nacionalista entre os brasileiros e muitas
outras partes do mundo111. Apesar da autonomia alcançada, a eleição de seu
primeiro bispo brasileiro em 1934 (César Dacorso Filho), bem como profundas
mudanças na constituição e estrutura da igreja nos anos posteriores, a igreja
nascente sofreu a tutela da igreja mãe por um bom tempo. Historiadores
metodistas são unânimes em afirmar que a autonomia definitiva só veio a
ocorrer a partir da década de setenta, quando lideranças brasileiras passaram
109 Isnard Rocha apresentando dados sobre o contingente de ministro da igreja no início do século XX afirma: “em 1900 havia 13 ministros nacionais contra 12 missionários, enquanto que em 1910 o rol de ministros nacionais cresceu para 25 contra 18 missionários.” Nestes dados não há o cálculo de missionários leigos e sim clérigos. ROCHA, Isnard. Histórias da História do Metodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1967, p. 126. 110 Para maiores aprofundamentos a respeito da autonomia de outras Igrejas Protestantes neste período consultar: REILY, Duncan. A. Historia Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTE, 1984. 111 Em relação à ideologia nacionalista que tomava o país neste período, comenta JOSGRILBERG: “A motivação da autonomia encontrou uma mola propulsora na forte ideologia nacionalista, muito viva no início do século passado (uma espécie de patriotismo reivindicatório de direitos inerentes à nacionalidade). Nas Américas, se discutia e se praticava a doutrina Monroe (‘A América para os americanos’). Foi o tempo das conferências pan-americanas entre os paises da América e o começo de uma política pan-americana. Um tema forte era o nacionalismo. Muitos movimentos nacionalistas agitavam a política brasileira.” JOSGRILBERG, Rui de Souza. “O Movimento da Autonomia: Nasce a ‘Igreja Metodista do Brasi’, 2 de setembro de 1930”. In: SOUZA, José Carlos de (Org.). Caminhos do Metodismo no Brasil: 75 anos de Autonomia. São Bernardo do Campo, 2005, 12-13.
67
a ocupar os cargos de decisão na Igreja Metodista, até então ocupados por
missionários norte-americanos, como indica Oliveira:
O movimento de autonomia da Igreja Metodista não teve o seu coroamento em 1930 com a constituição da Igreja Metodista do Brasil. Esse momento foi um marco na construção dessa autonomia. Segundo Duncan A. Reily em 1970 com a dissolução do influente Conselho Central e a progressiva passagem para a mão dos brasileiros de todos os principais setores de liderança da Igreja Metodista112.
Como resultado dessa autonomia plena, a Igreja Metodista que se
orientava estrategicamente desde a década de quarenta (1946) através de
“Planos Quadrienais”,113 aprovaria em seu XI Concílio Geral, realizado no ano
de 1974, na cidade do Rio de Janeiro, o seu primeiro “Plano Quadrienal”
genuinamente brasileiro, isto é, produzido ideologicamente por líderes
nacionais, com propostas renovadoras e missionárias, como salienta Oliveira:
Desencadeado o processo, com as modificações estruturais, logo mais a nova filosofia subjacente busca sua expressão, o que vai acontecer em 1974, com a elaboração do primeiro plano quadrienal, realmente brasileiro, e que representava uma nova teologia, numa nova visão missionária, chamando por mais renovadas formas institucionais. A missão é a fonte, o reino de Deus é o ponto de chegada, a libertação e o ministério de todos são a dinâmica, o Brasil e a sua cultura são o lugar e a forma da missão libertadora do evangelho de Cristo.114
O “Plano Quadrienal” seguinte, de 1979-82, continuará a consolidação
desse processo de autonomia plena e identificação da Igreja Metodista em
termos nacionais, com vistas a atender adequadamente aos desafios
112 OLIVEIRA, Cilas Ferraz. “Autonomia, independência ou status quo? O Caminho do metodismo brasileiro”. In: Caminhando: revista da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. São Bernardo do Campo: Editeo/UMESP, 2005, nº 16, p.65. 113 Os Planos Quadrienais eram planos estratégicos missionários criados pela igreja em seus concílios gerais, a partir da década de quarenta (1946), que estabeleciam orientações nacionais para a igreja para um período de quatro anos, contendo ainda propostas anuais dentro de sua vigência. Essa periodicidade foi rompida nos anos de 1965 e 1970, quando foram elaborados “Planos Qüinqüenais” dentro da mesma dinâmica, por ocasião da mudança da periodicidade dos Concilio Gerais da Igreja. 114 OLIVEIRA, Clory Trindade. Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982). op.cit.p. p.44.
68
missionários da sociedade brasileira, como indicam trechos do documento
apresentado a seguir:
1 - O propósito de Deus é salvar o ser humano, concedendo-lhe nova vida à imagem de Jesus Cristo, integrando-o no seu reino, através da ação e poder do Espírito Santo, a fim de que, como Igreja, constitua neste mundo e neste momento histórico, sinais concretos do Reino de Deus. 2- A missão da Igreja é participar da ação de Deus nesse propósito (...) 10 - O viver humano, nestes dias, é altamente condicionado pela técnica, pelo consumismo imediato, pelos falsos valores do materialismo, pela massificação, pelo esquema de uma sociedade mercantilista. Sente-se a imperiosa necessidade de permitir ao ser humano a criação de situações nas quais ele tenha um confronto com a pessoa salvadora e libertadora de Jesus Cristo. Urge anunciar uma notícia boa no meio de tantas más notícias. Urge evangelizar. (...) 13-Tudo na Igreja Metodista: ministérios, instituições educacionais e de serviço, igrejas locais, congregações, sociedades e grupos e o próprio patrimônio, existe em função da Missão, isto é, do testemunho, serviço e evangelização. 14 - Todos os membros da Igreja pelo fato de pertencerem ao povo de Deus através do batismo, são ministros do evangelho. São chamados por Deus, preparados pela Igreja para, sob a ação do Espírito Santo, cumprirem a missão, em testemunho, serviço e evangelização.115
Pelo explicitado, é possível identificar que a Igreja Metodista passa, a
partir de 1974, com a elaboração do seu primeiro e segundo “Plano
Quadrienal”, a experimentar uma consolidação de sua identidade como igreja
nacional e amadurecimento em sua ação missionária. Todavia, apesar dos
avanços, ainda se sentia a necessidade da elaboração de um plano de ação
para a Igreja que não estivesse sujeito a um período, mais constituído de
caráter indeterminado, princípios gerais norteadores de sua identidade e
missão. Tal objetivo foi alcançado em 1982, com a elaboração e aprovação no
Concílio Geral da Igreja Metodista, realizado de 18 a 28 de julho de 1982, na
cidade de Belo Horizonte-MG, do “Plano Para a Vida e Missão da Igreja”
(PVMI), como se pode verificar na citação abaixo:
115 IGREJA METODISTA, Conselho Geral, Plano Quadrienal 1979-1982. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, p. 13-14.
69
A experiência do Colégio Episcopal e de vários segmentos da Igreja Metodista nestes últimos anos indicam que o metodismo brasileiro está saindo da profunda crise de identidade que abalou nossa Igreja após a primeira metade da década de sessenta. Estas experiências nos têm mostrado que a Igreja necessita de um plano geral, que inspire sua vida e programação, e não será dentro do curto espaço de um quadriênio, que corrigiremos os antigos vícios que nos impedem de caminhar. Esse fato esteve claro na semana da consulta à Vida e Missão, e no documento que ela produziu. Ao adotarmos aquele documento como a base do novo plano, estamos propondo ao Concílio não mais um programa de ação para o quadriênio, mas linhas gerais que deverão orientar toda a ação da Igreja nos próximos anos, enquanto necessário, devendo ser avaliado periodicamente.116
O “Plano para a Vida e Missão” da Igreja acompanha o processo de
consolidação e amadurecimento da igreja, iniciado com a elaboração de seus
dois (02) “Planos Quadrienais” nacionais. Aliás, esses planos serviram de base
para sua fundamentação. Ademais o “Plano para Vida e Missão” é resultado do
contexto de renovação teológico-pastoral presentes no final da década de
oitenta, experimentado por diversas Igrejas Cristãs, inclusive a Igreja
Metodista.
Segundo Ribeiro e Lopes, o Plano para a Vida e Missão, fomentados na
década de oitenta (1982) nasce como resultado de um período de grande
riqueza teológica e franco processo de redemocratização nacional, participação
popular e de possibilidades de transformação social, já que se vivia no país a
fase final da ditadura militar e retomada de escolha direta pelo povo de suas
lideranças políticas.117
116IGREJA METODISTA XIII CONCÍLIO GERAL. Plano para a Vida e a Missão da Igreja Metodista. In: Cânones 1992. p. 61. 117 RIBEIRO, Cláudio; LOPES, Nicanor. 20 Anos depois: A vida e Missão da Igreja em Foco. São Bernardo do Campo: Editeo, p. 12-13. Para maior compreensão dos impactos do regime militar na Igreja Metodista, bem como sua postura em relação a esta realidade, consultar as seguintes obras: GARCIA, Marcos Antonio. A igreja em Busca do Crescimento: Uma análise pastoral do não-crescimento da Igreja Metodista na região metropolitana de São Paulo 1968-1998. Tese de Doutorado. São Bernardo do Campo: Umesp, 2000; SOUZA, José Carlos de (Org.). Caminhos do Metodismo no Brasil: 75 anos de Autonomia. São Bernardo do Campo: Editeo, 2005.
70
Deste modo a Igreja metodista a partir de 1982, com o “Plano para a
Vida e Missão da Igreja (PVMI)”, ganhou um plano estratégico missionário
global, que lhe garantia identidade institucional e nacional. Todavia sua
estrutura organizacional ainda permanecia extremamente burocrática. Assim,
buscando otimizar as propostas presente no PVMI, de uma igreja
contextualizada, compromissada em responder aos desafios missionários da
sociedade brasileira, no Concílio Geral de 1987, a Igreja Metodista, através de
seus conciliares, resolve mudar sua estrutura organizacional baseada no
“Poder”, constituída até então em “cargos” e “comissões” para o modelo
organizacional em Dons e Ministérios.
Organizando-se em Dons e Ministérios, a Igreja Metodista é chamada a ser parte da Igreja de Cristo e parte do povo de Deus, com uma vocação própria. Desde os inícios de seu movimento na Inglaterra, liderado por João Wesley, com grande participação de muitos leigos e leigas, os metodistas associaram-se em comunidades (sociedade, classes, pequenos grupos) e exerceram ministérios em nome de Jesus Cristo, junto ao povo.118
A implantação desse novo modelo estrutural na vida da igreja não foi
sem tensão, pelo contrário, variados grupos internos da igreja, pastores e fiéis,
até então acostumados com a antiga estrutura organizacional, não se
contentavam com a mudança e criaram algumas dificuldades para os Bispos
na condução do processo de mudança organizacional, no entanto,
paulatinamente a igreja foi vencendo essas dificuldades e galgando êxito na
implantação do novo sistema na vida da Igreja. Hoje constitui uma realidade
natural da dinâmica missionária da Igreja, assimilado por pastores/as e
leigos/as.
118 COLÉGIO EPISCOPAL, Dons e Ministérios: Espiritualidade e Serviço. In: Igreja: Comunidade Missionária a Serviço do Povo. op. cit., p. 9.
71
Apresentada essa visão panorâmica da inserção, implantação e
consolidação da Igreja Metodista em terras brasileiras, como igreja autônoma,
auto-suficiente e identificada com a cultura nacional, podemos agora examinar
como se configura o pastorado nessa Igreja organizada em “Dons e
Ministérios”.
2.2.2. Identidade do Ministério Pastoral Metodista no Brasil119
Pelo explicitado alhures, o ministério pastoral da Igreja Metodista está
sustentado nas bases bíblico-teológico-históricas do ministério120. Neste
sentido, a Igreja Metodista reconhece o ministério pastoral, dentre os muitos
ministérios, como um ministério especial e essencial à vida da Igreja, com
respaldo apostólico, bem como, consagrado ao cuidado do “rebanho” e
preservação da unidade do “Corpo de Cristo”. É o que se compreende da
definição de pastorado a seguir:
O pastorado é um dentre os ministérios da Igreja. Mas, é um ministério especial e essencial à vida da Igreja. É uma instituição apostólica que consagra e ordena pessoas vocacionadas e reconhecidas pela Igreja. Esse ministério, desde o Novo Testamento, passando pela Reforma, até hoje, está voltado para a unidade do Corpo de Cristo, para a correta
119 Apesar da Igreja Metodista fazer distinção de seu corpo de clérigos entre “Presbíteros/as” e “pastores/as”; “ordem presbiteral” e “ministério pastoral” como se verá mais adiante nesta pesquisa, a expressão “ministério pastoral” ou “ministério pastoral metodista” empregada neste ponto e em outras partes da pesquisa, salvo momento específico quando se tratará desta distinção, é tomado como termo unificador próprio definido pelo pesquisador para classificar o corpo pastoral metodista. 120 Desde muito cedo, na Igreja Primitiva, em meio a outros/as líderes carismáticos/as, encontra-se a figura do pastor com um chamado especial para “apascentar o rebanho” de Cristo. Esta assertiva fundamenta-se na seguinte leitura do livro de Efésios: E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres... (Ef 4.11). Porém, com o passar do tempo, lentamente a figura do/a pastor/a vai se sobressaindo sobre os demais carismas, tomando o formato que hoje se conhece.
72
ministração dos sacramentos, para o zelo na pregação da Palavra, além de outras tarefas pastorais121.
Como se observa o ministério pastoral metodista está intimamente
ligado à figura tradicional do pastoreio: o de guiar, liderar, supervisionar, nutrir,
ministrar os sacramentos, apascentar o rebanho para o exercício do ministério
no Corpo de Cristo e cuidar da unidade da igreja.
Outro aspecto importante de se frisar nesta pesquisa é que na Igreja
Metodista, o pastorado pela sua dimensão apostólica é entendido como um
mandato da igreja, não como uma qualidade individual. Isto significa que quem
vocaciona e confere o carisma pastoral é a igreja e não a pessoa vocacionada.
É o que afirma o documento metodista Plano Nacional Missionário:
O carisma pastoral não é apenas individual. Ele precisa do reconhecimento e de sua integração ao carisma da Igreja como uma dimensão de sua apostolicidade. Esse fato é assinalado de modo visível quando a Igreja ordena o ministério pastoral. Por isso, a tradição protestante reconhece no ministério pastoral um mandato da Igreja, e não apenas uma qualidade individual. No ministério pastoral, não se pode sobrepor carismas ou qualidades pessoais ao carisma ministerial da Igreja. 122
Fora estes aspectos bíblico-teológico-históricas do ministério pastoral
metodista, esse ministério assume, em solo brasileiro, algumas características
próprias. Assim sendo, buscar-se-á delinear a seguir alguns elementos
constitutivos do ministério pastoral na Igreja Metodista brasileira:
121 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano nacional: ênfases e diretrizes. São Paulo: Cedro, 1997. p. 20. 122 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano Nacional Missionário. São Paulo: Cedro, 2007, p.34.
73
2.2.2.1. Um Ministério exercido por homens e mulheres
O ministério pastoral metodista é exercido por homens/mulheres que
se entendem vocacionados/as por Deus, o que tendo reconhecido seu
“carisma”123, isto é, “dom pastoral” pela Igreja, recebe a devida preparação
para o exercício do ministério, passando a figurar entre os membros clérigos da
Igreja Metodista, como descrito nos Cânones da Igreja 124, em seu artigo 22:
Membro clérigo é pessoa que a Igreja Metodista reconhece chamada por Deus, dentre os seus membros, homens ou mulheres, para a tarefa de edificar, equipar e aperfeiçoar a comunidade de fé, capacitando-a para o cumprimento da Missão125.
Um destaque significativo é o fato de que a Igreja Metodista foi a
primeira denominação protestante histórica no Brasil a eliminar a distinção de
sexos no ministério ordenado e, assim abrir a possibilidade para o exercício do
ministério pastoral feminino na Igreja 126. Isto aconteceu na década de setenta
(1970/71), após um longo diálogo, conscientização e reivindicações das
mulheres junto à Igreja no que concerne ao caráter indistinto do ministério
pastoral, como indica Reily.
Na constituição da Igreja Metodista do Brasil (1930), foi proposta sem sucesso, a admissão de mulheres à ordem do presbiterado. Só em 1954 é que se criou a Ordem das Diaconisas, que se extingui no concílio de 1970/71, oportunidade em que também foram eliminadas a distinção de sexo no ministério ordenado da igreja.127
123 Carismas são dons, habilidades. 124 Livro de Leis da Igreja da Igreja Metodista 125 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones 2007. São Paulo: Cedro, 2007. p. 167. 126 Considerações valiosas sobre tema do ministério pastoral feminino na Igreja Metodista podem ser melhor compreendidas nas obras a seguir: CAVALHEIRO, Jussara Rother. O ministério Pastoral Feminino na Igreja Metodista. Dissertação de Mestrado. São Bernardo do Campo: UMESP, 1996.; PINTO, Elena Alves Silva. O Carisma Social nas Pastoras Metodistas . Dissertação de Mestrado. São Bernardo do Campo: UMESP, 2002. 127 REILY, Duncan. A. Historia Documental do Protestantismo no Brasil. São Paulo: ASTE, 1984,p.85-87
74
Esta conquista das mulheres na década de setenta (1970) resgata a
experiência histórica metodista da participação das mulheres na missão. Pois
no século XVIII o movimento metodista também inovou com a inclusão em
seus quadros de pregadores, líderes femininas, que foram muito valiosas à
obra metodista na Inglaterra.128
2.2.2.2. Um ministério marcado por uma formação teológica
Os/As pastores/as metodistas são pessoas devidamente preparadas
em Instituições Metodistas Superiores de Ensino, especialmente no curso de
bacharel em teologia129, a fim de que possam exercer o ministério pastoral
segundo as normativas da Igreja Metodista. Neste sentido, desde a década de
quarenta (1946), a Igreja tem como seu principal centro de formação teológica
uma Faculdade de Teologia localizada em São Bernardo do Campo-SP,
faculdade esta, ligada na atualidade a Universidade Metodista de São Paulo 130.
Em média, o processo de formação do candidato ao ministério pastoral
dura quatro anos131, e ele/a pode escolher cursar teologia em regime regular ou
por extensão. Aqueles/as que optam por realizar seu processo de formação
em regime regular, ao final do curso recebem o diploma de teologia,
bacharelado, reconhecido pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC). No 128 HEITZENRATER, Richard P. op. cit., 1996. 129 Segundo os cânones da igreja metodista “para ingressar no Curso de Bacharel em Teologia, programa de formação de presbítero/a, é indispensável que o/a candidato/a seja membro da Igreja Metodista por, pelo menos, 03 (três) anos consecutivos com participação efetiva e cumpra mais 1 (um) ano de Programa Pré-Teológico oferecido por instituição teológica regional. Cânones da Igreja Metodista. 2007 Art 25, § 1º 130 Além desse centro principal de formação teológica, a Igreja Metodista possui outra faculdade de formação teológica, localizada na cidade do Rio de Janeiro-RJ, no Centro Universitário BENNETT. 131 Sem contar o período de preparação do candidato, denominado de pré-teológico, que tem a duração de um (01) ano. Contando com esse período a formação dura ao todo cinco (05) anos.
75
entanto, aqueles/as que optam por concluir seus estudos teológicos em regime
de extensão, recebem ao final do curso um certificado de bacharelado sem o
reconhecimento do MEC. Ambos os processos dão condições para o candidato
postular o ingresso na ordem religiosa chamada presbiteral e tornar-se um/a
presbítero/a,132 após um tempo de avaliação e exame aplicado por instâncias
próprias da Igreja 133. É o que afirma o artigo 24 dos Cânones da Igreja
Metodista:
“Ordem Presbiteral é a categoria eclesiástica clériga, na qual a Igreja Metodista, com a autoridade e direção do Espírito Santo, acolhe, em nome de Deus, sem distinção de sexo, os membros que ela reconhece vocacionados para o santo ministério da Palavra e dos Sacramentos e outros ministérios por ela reconhecidos, ordenando-os para o desempenho da Missão” 134.
Quanto à avaliação e o exame, os Cânones da Igreja Metodista em sua
parte geral explicita:
Art. 19 - Os que completam os requisitos para a admissão à Ordem Presbiteral são chamados à presença do Concílio Regional a fim de que respondam às perguntas regulamentares e o concílio vote sobre sua admissão. Parágrafo único - Como preparação para o solene ato da admissão à ordem, os candidatos são exortados ha dedicar o dia anterior ao jejum e à oração. Art. 20 - Eleito um candidato à Ordem Presbiteral, é ordenado presbítero ou presbítera em solenidade pública135.
A Igreja Metodista, a partir de uma educação teológica básica ou
média, oferecida por instituições Teológicas de suas respectivas regiões – os
chamados Seminários Regionais – abrem a possibilidade de uma pessoa 132 O/A presbítero/a é um/a clérigo/a que possui deveres e direitos específicos segundo os Cânones da Igreja Metodista. Neste sentido, os Cânones define Ver: IGREJA METODISTA COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones 2007. São Paulo: Cedro, 2007, p.169-177. 133 Para análise detalhada destes e outros processos correlacionados, é recomendado o exame dos Cânones da Igreja Metodista. 134 Segundo os cânones da Igreja metodista em seu artigo 24. IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones 2007. op. cit., p.169. 135 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones 2007. op. cit., p. 68.
76
tornar-se pastor/a metodista. Estes/as pastores/as que possuem educação
teológica básica ou média, pela sua especificidade e caráter da formação,
figuram após o período de avaliação e exame, não na ordem presbiteral, mas
no chamado ministério pastoral136.
Ministério Pastoral é a categoria eclesiástica clériga na qual a Igreja reconhece, dentre seus membros, homens ou mulheres, pessoas vocacionadas para o exercício do pastorado e, após sua formação e experiência probatória, os consagra para a missão. O padrão mínimo de formação para o ingresso no Ministério Pastoral é o Curso Teológico de Formação Pastoral, oferecido pelas instituições teológicas metodistas.137
A Igreja Metodista reconhece ainda a possibilidade de pessoas que
concluíram seus cursos teológicos em outras instituições de ensino teológico, a
oportunidade de se tornarem pastores/as metodistas, desde que essas
instituições sejam ligadas a Associação de Seminários Teológicos
Evangélicos138 - ou seus cursos sejam reconhecidos pelo MEC. Para tanto, tais
candidatos/as terão que fazer algumas complementações nos seus estudos,
em especial, de disciplinas ligadas ao metodismo.
Comentando sobre a Educação Teológica139, o “Plano para a Vida e
Missão da Igreja” (PVMI), documento norteador da caminhada missionária da
igreja, como indicado alhures, evoca várias questões relevantes a este tema,
dentre essas, que a Educação Teológica além de ter relação com a vida e
136 De acordo com os Cânones em seus artigos 34 e 35. IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones 2007. p. 180. 137 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones 2007. op. cit. p.180. 138 A sigla da Associação de Seminários Teológicos Evangélicos é ASTE. 139 A Igreja afirma que a “Educação Teológica é o processo que visa à compreensão da história em confronto com a realidade do Reino de Deus, à luz da Bíblia, e da tradição cristã reconhecida e aceita pelo metodismo histórico como instrumentos de reflexão e ação para capacitar o povo de Deus, leigos e clérigos, para a vida e missão, numa dimensão profética”. IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano Para a Vida e Missão da Igreja. São Paulo: Editora Cedro, 3ª edição, 2001, p. 28.
77
dinâmica da igreja deve promover a relação com o contexto social brasileiro.
Segundo o documento, essa relação deve se dar na perspectiva do oprimido,
objetivando sua libertação. É o que indica o PVMI quanto ao recrutamento e
seleção dos professores de teologia:
No recrutamento e seleção dos professores de Teologia se observará não apenas a sua adequada qualificação aos cursos a serem ministrados, mas também, a sua vivência pastoral e a consciência que tenham de que a tarefa teológica deve ser feita a partir da revelação, no contexto do povo brasileiro e tendo em vista o atendimento de suas necessidades.140
Bem como ainda, no que tange a formação propriamente dita dos/as
candidatos/as ao ministério pastoral.
Relacionamento com o contexto social: a metodologia do trabalho teológico, em todos os níveis, terá relação direta com a realidade da sociedade brasileira, na perspectiva do oprimido, visando o processo de sua libertação. 141
2.2.2.3. Um ministério exercido em regime integral ou parcial
O pastorado na Igreja Metodista pode ser exercido em regime integral
ou em regime parcial. O/A pastor/a com dedicação integral é alguém que
oferece atendimento exclusivo a Igreja, não dividindo suas atividades com
nenhuma outra. Já o/a pastor/a de tempo parcial, como o próprio nome indica,
dedica apenas parte de seu tempo à Igreja, conciliando suas tarefas pastorais
com outras atividades particulares ou profissionais, é o que explicita os
Cânones da Igreja Metodista em seu artigo 23:
140 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano Para a Vida e Missão da Igreja. op. cit., p.50. 141 Ibidem, p. 50.
78
§ 2º A nomeação episcopal estabelece o regime de tempo parcial ou integral e o respectivo ônus, respeitadas as normas pertinentes. § 3º Por regime de tempo integral entende-se tempo exclusivo para as ações pastorais para as quais o/a presbítero/a ou pastor/a é nomeado/a, além de outras funções atribuídas por órgãos superiores da Igreja. § 6º A nomeação de presbítero/a ou pastor/a, cujo regime seja o de tempo parcial, deve observar os critérios estabelecidos no regime regional de nomeações pastorais.142
O/A presbítero/a ou pastor/a que é nomeado para exercer o pastorado
em tempo integral, tem a garantia de receber seu respectivo subsídio pastoral,
conforme direitos previstos nos cânones. Já o/a pastor/a nomeado por tempo
parcial, pode receber ou não sustento pastoral, ficando submisso aos critérios
estabelecidos pelas regiões eclesiásticas.143
2.2.2.4. Um ministério Itinerante e Conexional
A Igreja Metodista, fiel a sua tradição histórica, conserva dentre as
marcas de seu ministério pastoral o princípio da itinerância e conexidade. Por
itinerância entende-se que o/a pastor/a metodista não tem nomeação vitalícia,
ele/ela como parte de sua vocação e serviço à Igreja Metodista, se submete à
nomeação de tempos em tempos, de acordo com a indicação e critérios
episcopais.144
Em relação à conexidade145, afirma-se que o/a pastor/a metodista é
chamado a exercer seu ministério de forma integrada no sistema metodista,
142 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones 2007. op. cit., p.168-89. 143 Ibidem, p.168. 144 Cf. IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones 2007. 145 O Metodismo afirma que o sistema conexional é característica fundamental e básica para a sua existência, tanto como movimento espiritual, quanto como instituição eclesiástica. (Ef 1.22-23). Deus lhe deu essa forma de articulação unificadora para cumprir a vocação histórica de “reformar a nação, particularmente a Igreja, e espalhar a santidade bíblica sobre toda a terra” (Wesley) (At 17.4-6; Jo 17.17-19). Cânones – PVMI, p. 38
79
não de modo personalista. Isso indica que o/a pastor/a metodista vivencia seu
ministério pastoral em conexão com os documentos da igreja, normativa dos
bispos e decisões conciliares objetivando manter e contribuir para a unidade da
igreja em sua ação pastoral. É o que afirma e se pode compreender a partir do
regulamento do regimento de nomeações pastorais editado pelo Colégio
Episcopal:
O ministério pastoral é desenvolvido pelos presbíteros e pelas presbíteras, pastores e pastoras, sob mandato recebido para servir, zelar pela doutrina e disciplina na vida da Igreja. Nesse sentido, o carisma é da Igreja e não isoladamente do/a presbítero/a ou pastor/a146.
Nesta mesma direção afirma o Código de Ética Pastoral da Igreja
Metodista: “O pastor e a pastora consideram o seu ministério integrado e em
harmonia com a tradição e costumes metodistas devidamente estabelecidos
nos documentos oficiais/ou Concílios Gerais e/ou Regionais”147.
2.2.2.5. Um ministério exercido em uma igreja conciliar
A Igreja Metodista é uma igreja conciliar. O concílio é a assembléia
máxima da Igreja, o órgão deliberativo onde os fiéis têm a oportunidade de
participar juntamente com o/a pastor/a das decisões da igreja, conforme
expressa os Cânones da Igreja Metodista em seus artigos 126 e 127:
O Concílio Local é o órgão deliberativo e administrativo da Igreja Local. O Concílio Local compõe-se dos membros leigos inscritos no Rol de Membros da Igreja Local.148
146 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Regulamento do Regime de Nomeações Pastorais. São Paulo: www.metodista.br, abril 2007. 147 IGREJA METODISTA.COLÉGIO EPISCOPAL. Código de ética pastoral. São Paulo: Cedro, 1998, p. 8. 148 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones da igreja Metodista 2007. op. cit. p.284.
80
Quanto a seu caráter, composição, periodicidade, assim expressa
ainda outro documento da Igreja:
O concílio local é a assembléia da igreja local. Compõe-se dos leigos e leigas inscritos no rol de membros da igreja local. Reúne-se, ordinariamente, quatro vezes por ano, por convocação do/a pastor/a, e extraordinariamente às vezes necessárias, por iniciativa dele/a, da Coordenação Local de Ação Missionária ou de 1/3 dos membros arrolados na igreja local149.
Deste modo, o/a pastor/a metodista não exerce o governo da igreja em
âmbito local de forma autônoma, mas compartilhada. Logo, suas decisões mais
importantes são todas elas referendadas pelo concílio, salvo em casos
particulares ou em interregno deste, quando a apreciação destas matérias
ficam a cargo da Coordenação Local de Ação Missionária.150
Além do nível local, a Igreja Metodista é orientada por concílios em
suas diferentes áreas de organização: distrital, regional e geral. A citação
abaixo resume de modo geral o sentido dos concílios para a Igreja:
Somos e cremos numa Igreja conciliar, na qual, após discernir os sinais dos tempos, centrados nas Escrituras Sagradas e na herança metodista e cristã, estabelecemos objetivos e metas para o exercício da missão, convictos/as de que “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós”
Como se percebe, os concílios na Igreja Metodista, como na história da
Igreja mundial, possui um valor muito grande. Os/as pastores/as estão sujeitos
às determinações conciliares de todos esses níveis.
149 IGREJA METODISTA.COLÉGIO EPISCOPAL. A Igreja Metodista e sua Organização: em nível local, distrital, regional e geral. São Paulo: Cedro, 2002, p.11. 150 A Coordenação Local de Ação Missionária (CLAM) é um órgão local da igreja, que congrega os líderes locais leigos, com poder decisório.
81
2.2.2.6. Um ministério orientado por documentos e obediente ao
governo episcopal
O pastor e a pastora metodista exercem seu ministério debaixo das
orientações documentais elaboradas pelo Colégio Episcopal, “órgão
responsável pela supervisão da ação missionária e pastoral da Igreja
metodista”, constituído de “bispos/ e bispas eleitos/as pelo Concílio Geral, bem
como dos/as bispos/as eméritos/as e honorários/as”151. Abaixo se encontra
uma definição sobre qual a compreensão da figura do Bispo e Bispa para a
Igreja Metodista:
Os bispos e bispas são presbíteros/as ativos/as eleitos/as para zelar pela unidade doutrinária da Igreja, supervisionar as atividades pastorais, ministeriais e administrativas, e demais funções estabelecidas nos Cânones (art. 71).152
É importante afirmar que os documentos elaborados pelos bispos e
bispa não são elementos cerceadores da ação pastoral, mas referencial de
conduta, prática e doutrinas do/a pastor/a em suas atividades diárias, isto é,
fazendo cumprir as orientações dos documentos da Ig reja, bem como as
normativas episcopais. Neste sentido afirma o código de ética pastoral:
O pastor e a pastora seguem, em sua prática e planejamento pastoral, os princípios e ênfases decididas em Concílios. A pastora e o pastor adotam, em seu Plano de Trabalho e Plano de Ação da igreja local, as orientações pastorais emanadas do Colégio Episcopal e/ou Bispos ou Episcopisas e sua Região Eclesiástica. 153
Pode-se afirmar que estes documentos balizadores, oriundos do
colégio episcopal, além de fornecer um horizonte prático e doutrinário da Igreja 151 IGREJA METODISTA.COLÉGIO EPISCOPAL. A Igreja Metodista e sua Organização: em nível local, distrital, regional e geral. São Paulo: Cedro, 2002, p.28. 152 Ibidem, p.28 153 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Código de ética pastoral. op. cit., p. 8.
82
para o/a pastor/a em sua práxis pastoral, ajuda-os em sua disciplina ministerial
e pessoal, alertando para certos desvios, como por exemplo, o personalismo
ministerial, autoritarismo, conduta ética deplorável, entre outros.
2.2.2.7. Um ministério exercido em uma igreja de dons e ministérios
A Igreja Metodista é uma Igreja de governo episcopal, unida pelo
princípio da conexidade e organizada em “Dons e Ministérios”, como abordado
em outro momento nesta pesquisa. Nessa organização, o/a pastora/a exerce
um papel primordial, como se verá mais adiante.
Conforme indicado algures, esta estruturação em “Dons e Ministérios”
privilegia a vivência e a participação ministerial de cada fiel na vida comunitária
da igreja, com vista ao pleno exercício da missão, é o que se depreende da
citação abaixo:
A igreja Metodista chama seus membros a exercerem os Dons por meio de Ministérios. Isso significa que a organização da igreja local é estruturada pelas vocações nela existentes e, principalmente, pelos desafios e necessidades da comunidade onde ela está. Os ministérios são os serviços que a igreja local realiza contando com os dons de seus membros, tanto de forma individual quanto comunitária.154
Considerando o caráter e o espírito do programa “Dons e Ministérios”,
assim expressa os bispos e a bispa da Igreja:
Os dons e Ministérios numa Igreja Conexional devem expressar, na unidade do Espírito, a mutualidade missionária e a mútua cooperação ministerial de todo o Corpo, visando ao aperfeiçoamento, ao serviço e à edificação do Corpo de Cristo no mundo. 155
154 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. A igreja Metodista e sua Organização: em nível local, distrital, regional e geral. op. cit., p.10. 155 Ibidem, p. 10-11.
83
Como adiantado anteriormente, o/a pastor/a possui um papel de
fundamental importância nesta Igreja de “Dons e Ministérios”. Ele/Ela nesta
igreja exerce o papel de coordenador/a dos coordenadores dos ministérios, tem
a responsabilidade de cuidar para que os ministérios desempenhem
eficazmente suas tarefas com vistas ao cumprimento da missão estabelecida
pelos/as bispos/as, como mostra a citação adiante:
O pastor e a pastora exercem um ministério que tem conteúdo próprio e é essencial à vida da Igreja. Mas ele ou ela também coordena os ministérios da igreja local. Deve zelar para que os ministérios cumpram sua tarefa de modo harmônico e articulado.156
2.2.2.8. Um ministério regido por um código de ética
As ações dos/as pastores/as metodistas são regidas por um Código de
Ética Pastoral, com vistas à prevenção de certos “desvios” no âmbito particular
e eclesiológico. Este Código de Ética rege a administração pessoal do pastor e
da pastora em relação a sua autodisciplina, vida familiar, ministerial e membros
da igreja, conforme descrito abaixo;
São deveres fundamentais do pastor, da pastora, do presbítero e da presbítera: (...) desenvolver um relacionamento justo e compatível com a ética cristã, com seus familiares e com outras pessoas que desfrutam de seu convívio de forma a colaborar para seu crescimento na fé. Cabe ao pastor e a pastora pautar seu ministério por princípios de justiça de forma a evitar qualquer tipo de preconceito, discriminação e favoritismo de famílias e pessoas.157
156 IGREJA METODISTA. COLÉRGIO EPISCOPAL. Plano Nacional Missionário 2007-2012. São Paulo: Cedro, 2007, p. 37. 157 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Código de ética pastoral. São Paulo: Cedro, 1998, p. 7 e 9.
84
O Código de Ética rege ainda a relação do pastor e da pastora no nível
eclesial, em sua interação com outros/as colegas da federação, isto é, da igreja
metodista em seus diferentes níveis: distrital, regional, nacional.
A pastora e o pastor não devem interferir em assuntos ou problemas de igrejas que não estejam sob sua jurisdição, a não ser quando solicitado pelo/a colega, Bispo, Episcopisa ou Superintendente Distrital. O pastor e a pastora só aceitam convite para quaisquer atividades, pregações, palestras e celebrações em outra igreja quando formulado pelo/a respectivo/a pastor/a ou por quem de direito. Em qualquer caso, somente o faz mediante conhecimento do/a colega de outra igreja. O pastor e a pastora não depreciam os seus colegas, especialmente que os/as tenha antecedido.158
Outro aspecto regido pelo Código de Ética diz respeito à relação dos
pastores/as metodistas com outros/as pastores/as de denominações cristãs
variadas, órgãos oficiais, associações comunitárias, partidos políticos e
governantes, conforme observa seus artigos 29º e 35º
A pastora e o pastor somente oficiam ou visitam igreja de outras denominações mediante convite expresso do/a pastor/a ou quem de direito. (...) O ministério do pastor e da pastora, junto a governantes, órgãos oficiais, partidos políticos e outras instituições sociais, visa, principalmente, que promova a justiça e que exerça suas funções segundo princípios éticos condizentes com a dignidade humana.
Por fim, o Código de Ética orienta o pastor e a pastora na questão da
importância da confidencialidade em sua práxis pastoral, exortando-os para as
implicações da mesma em sua vivencia ministerial nos mais diferentes âmbitos
de sua atuação: relações com colegas de ministério, eclesianos e/ou outras
pessoas que o procuram para serviços pastorais. Aqueles/as que ferem este
documento recebem a devida penalização do/a Bispo/a responsável.
158 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Código de ética pastoral. São Paulo: Cedro, 1998, p. 9-10.
85
2.3. O ministério pastoral metodista na contemporaneidade: motivações para uma práxis de solidariedade
Pelo explicitado no primeiro capítulo, o mundo contemporâneo sofre
com o aumento sensível da exclusão social e multidão de miseráveis
espalhados por todo o globo terrestre, reflexo do sistema econômico que cada
vez mais acentua o longo abismo entre ricos e pobres. Corroborando com as
considerações feitas até este momento da pesquisa sobre o tema da exclusão
Comblin tece a seguinte consideração:
No primeiro mundo, os excluídos constituem 1/3 da população, e no terceiro mundo 2/3. Claro, esses números são aproximativos. Em cada país a situação é particular e a fronteira entre excluídos e incluídos, participando parcialmente das duas categorias. No entanto, globalmente, há separação radical entre os dois pólos e essas duas partes da população. 159
Essa dura realidade, como indicado acima, é fruto do atual sistema
econômico dominante, identificado pelo nome de globalização econômica. Silva
alerta que “o processo de globalização constitui um grande desafio para a
práxis pastoral da Igreja”. E completa seu raciocínio afirmando que “ignorar
essas questões é impossível, porque a nova ordem econômica vai deixar uma
herança de uma nova sociedade160”. Muito dos reflexos dessa nova sociedade
que evoca Silva já se faz sentir na atualidade, como salienta Comblin:
O mundo dos excluídos veio para ficar. Ele é produzido pelo sistema econômico atual, que vai gerando cada vez mais exclusão. Uma parte da população tem capacidade para entrar no mundo novo da economia, outra parte não. As exigências são cada vez maiores, de modo que a distância cultural aumenta entre os que têm e os que não tem condições
159 COMBLIN, José. Desafios aos Cristãos no Século XXI. 3ª Ed. São Paulo: Paulus, 2004, p. 10 160 SILVA, G. J. op. cit., p. 176.
86
de vida digna. Quem nasce no mundo dos excluídos já nasce excluído e nunca poderá recuperar a distância que o separa de quem nasceu numa família incluída. Somente ínfima minoria, ajudada por muita sorte, consegue – o que não afeta o fenômeno no seu conjunto. 161
Considerando o raciocínio de Silva apresentado anteriormente e as
considerações de Comblin sobre a exclusão social, chega-se a conclusão de
que a solidariedade aparece nestes tempos como um imperativo às igrejas
cristãs, já que o cristianismo é uma religião que tem como seu fundamento a
crença em um Deus solidário.
O cristianismo tradicionalmente afirma que a Divindade Cristã, por
amor aos homens e mulheres, se fez presente entre a humanidade sofrida
através de seu filho unigênito, Jesus Cristo, que se entregou à morte, morte
violenta de cruz, para se solidarizar como todos/as aqueles/as que sofrem e
são oprimidos/as – neste mundo marcado pelas forças opressoras do mal e
suas instituições. Comentando sobre este Deus solidário Ribeiro afirma:
O Deus que se faz solidário com a humanidade é o Deus dos vivos (o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Pai de Jesus Cristo, de João, Antonio, Maria e Ana). É o libertador dos pobres e oprimidos, também dos que o buscam de coração sincero. Numa palavra, este é o Deus que venceu a incrível distância e se fez bondosamente próximo do homem.162
Häring e Salvodi acompanham o pensamento de Ribeiro sobre a
compreensão do Deus cristão como uma divindade solidária, neste sentido
tece as seguintes considerações a este respeito:
A solidariedade corresponde ao modo de ser do próprio Deus: é o seu próprio rosto à procura da criatura humana. Em Cristo, Deus se torna de tal forma solidário com todo homem e toda mulher a ponto de tornar-se ‘um de nós’, filho do homem. Ligou-se de tal forma a si mesmo o destino
161 COMBLIN, José. Desafios aos Cristãos no Século XXI. op. cit. p. 7. 162 RIBEIRO, Hélcion. op. cit.p. 237.
87
de cada ser humano, que chegou a dizer: ‘Tudo o que tiverdes feito ao menor dos meus irmãos, foi a mim que fizestes163’.
A crença e consciência de um Deus solidário, que ama e se identifica
com aquele/a que sofre e é oprimido/a, forjou na América Latina, a partir da
década de 60, uma proposta de Igrejas contextualizadas e encarnadas com os
dramas sociais, fundamentadas em uma teologia de cunho libertador – teologia
da libertação.164 Entre as igrejas aliadas a este tipo de teologia e práxis
libertadora está setores da Igreja Católica e algumas Igrejas Protestantes
Históricas165.
A Igreja Metodista e, por conseguinte, seu ministério pastoral, é uma
dessas Igrejas Protestantes Históricas comprometidas com uma teologia
libertadora – como mostra seus documentos. Pois como visto, no primeiro
tópico desta pesquisa, a Igreja Metodista recebeu do metodismo histórico essa
herança de preocupação e envolvimento com os pobres e excluídos. Nesta
linha de raciocínio, um de seus principais documentos, denominado “Credo
Social da Igreja Metodista”, elaborado a partir do período em destaque, década
de 60, e ainda presente na vida da igreja, reproduz de forma singular a
consciência político-social da igreja, como se observa em uns de seus trechos:
A fé cristã resposta a Deus, implica, por natureza, no encontro com o próximo na situação histórica. Jesus Cristo já respondeu a pergunta
163 HÄRING, Berhard e SALVODI, Valentino. Tolerância: por uma ética de solidariedade e de paz. São Paulo: Paulinas, 1995, p. 84. 164 Vale lembrar que este período foi um momento muito difícil para o Brasil e vários países da América Latina com a implantação nestas terras, a partir de golpes políticos, de governos de regimes militares. Neste contexto, as igrejas alimentadas pela teologia latino-americana ou teologia da libertação, como expressão do anúncio do evangelho, afirmavam a opção pelas pessoas empobrecidas e excluídas. 165 As Igrejas Protestantes Históricas são aquelas igrejas que emigraram para o Brasil através de juntas de missões estrangeiras, a saber, Metodistas, Presbiterianos, Batistas, entre outras. Para maior aprofundamento consultar: MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O celeste porvir: a inserção do protestantismo no Brasil. São Paulo: Umesp, 1995.
88
mais importante sobre a questão do ‘próximo’ (Lucas 10:21-37; Mateus 25,31ss)! O próximo aparece em uma situação de pobreza estrutural: é pobre não por mera insuficiência pessoal para sair da pobreza, mas por causa das estruturas sociais dentro das quais existe. Este ‘próximo’ exige do cristão, que toma a sério as implicações da fé, uma atuação em sociedade que o liberte dessa pobreza estrutural mediante mudanças, não só de sua situação individual, mas das estruturas que o tornaram pobre!166
O “Plano para a vida e missão da Igreja”, documento destacado nesta
pesquisa em outro momento, produzido na década de 80, também reproduz de
maneira marcante a compreensão da Igreja Metodista a respeito da questão
social:
O Metodismo demonstra permanente compromisso com o bem-estar da pessoa total, não só espiritual, mas também em seus aspectos sociais. Esse compromisso é parte integrante de sua experiência de santificação e se constitui em expressão convicta do seu crescimento na graça e no amor de Deus, de modo especial, os metodistas se preocupam com a situação de penúria e miséria dos pobres. 167
O documento continua expressando outros elementos fundamentais
para compreender a essência desse compromisso social da Igreja, e, por
conseguinte, de seu ministério pastoral, conforme indicado abaixo:
Como Wesley, combatem tenazmente os problemas sociais que oprimem os povos e as sociedades nos quais Deus o tem colocado, denunciando as causas sociais, políticas, econômicas e morais que determinam a miséria e a exploração e anunciando a libertação que o Evangelho de Jesus Cristo oferece às vítimas da opressão. Essa compreensão abrangente da salvação faz com que os metodistas se comprometam com as lutas que visam a eliminar a pobreza, a exploração e toda a forma de discriminação.168
166 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL Doutrina social da Igreja Metodista do Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1968, p. 4. 167 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano para a vida e missão da Igreja. São Paulo: Imprensa Metodista, 2001, 3a Edição, p. 12. 168 Ibidem, p. 12.
89
Em documento mais recente editado pelos bispos e bispa da Igreja
Metodista se pode observar o realce desse compromisso da Igreja com a vida
humana em sua plenitude e o rebate as ideologias da globalização em curso,
amplamente difundida na sociedade contemporânea. Abaixo, segue trecho do
referido documento:
Vivemos no seio de uma rica cultura. Sofremos o impacto da globalização com muitos efeitos altamente destrutivos, como a exclusão, a individualização, a banalização da vida, dos costumes, da família, a generalização da violência. Nessas distorções incluem-se também múltiplas formas emergentes de deturpações da vida religiosa do povo e de formas prejudicais à vida da autêntica Igreja de Cristo. Por isso, as comunidades locais metodistas são desafiadas a se constituir em comunidades ativas de resistências. Não se trata de apenas preservar a si mesma da corrupção. Trata-se de resistência ativa, com dimensões proféticas para todo o povo do país, incluindo todas as atitudes de solidariedade ativa.169
De acordo com os trechos dos documentos acima, a Igreja Metodista
manifesta compromisso com a vida humana em sua dimensão total, não
apenas espiritual. Sua visão de presença cristã no mundo compreende o
envolvimento e comprometimento com uma práxis pastoral libertadora e
transformadora frente às estruturas de morte que permeiam a vida humana,
como reflexo de seu compromisso com o Reino de Deus, a fé em Cristo e o
metodismo histórico.
Isto faz do Ministério Pastoral Metodista um ministério comprometido
com a construção da paz no mundo, com a justiça social, a dignidade humana,
cidadania e a solidariedade com os excluídos, entre outros aspectos, sobretudo
nestes dias de globalização econômica que acentua a miséria entre os povos,
a banalização da vida, a violência e a diferenças entre as pessoas.
169 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano Nacional: objetivos e metas. Op. cit., 25-26.
90
Neste sentido o pastor e a pastora são chamados a desenvolver em
nível da igreja local uma ação docente que capacitem os fiéis da igreja a
preservarem essa identidade social e se engajarem na construção de um
mundo mais humano e solidário, frente as diferentes formas de manifestações
desumanas que ofereçam ameaças contra a vida. É o que indica os bispos e a
bispa da Igreja no documento Plano Nacional Missionário:
O ministério pastoral é, na igreja local, em sua formação docente, um fator decisivo para uma boa articulação da comunidade missionária e de sua ação com a forma correta de ser Igreja. O/A pastor/pastora, enfatizando sua responsabilidade docente, é chamado/a para cuidar das marcas essenciais da Igreja em sua expressão local. Esse é o centro de seu mandato. O/A pastor/pastora não é apenas o/a coordenador /a de ministérios e o/a incentivador/a da missão. Ele/Ela é responsável, em nível local, por discernir o que mantém ou o que faz cair a Igreja, conforme a expressão dos reformadores (articuli stantis out cadentis ecclesiae – afirmação indispensável para sustentar uma igreja, e sem a qual ela cai).170
Como meio de operacionalização de práxis pastorais que respondam
aos variados desafios sociais que permeiam a cultura em que a igreja esta
inserida, o pastor e a pastora são chamados a um envolvimento com as
diferentes instâncias de poder que integram as estruturas da sociedade
recente, na construção de um mundo mais digno e solidário, como indica a
citação abaixo:
O pastor e a pastora reconhecem que sua missão abrange os níveis institucionais, sociais e políticos, isto é, o evangelho pode alterar as relações sociais de forma que essas contribuem para o bem da sociedade e do indivíduo e para que a vida se manifeste em sua plenitude. 171
170 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano Nacional Missionário. op. cit.p. 34-35. 171 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Código de ética pastoral. São Paulo: op. cit., p. 12.
91
O resultado desse envolvimento pastoral em diferentes âmbitos sociais
na busca pela sinalização da presença pública da igreja no mundo e na busca
pela construção de uma sociedade mais justa e solidária, tem oportunizado na
vida da igreja o surgimento de inúmeros ministérios e pastorais específicas,
tornando o trabalho pastoral mais abrangente, como testemunha os próprios
bispos e bispa da Igreja:
As reações e estilos não são uniformes, mas caminham na direção fundamental: ser Igreja missionária, na qual, sob o poder e a autoridade do Espírito Santo, todos são ministros. Igreja que se dispõe ao serviço, voltando-se para as necessidades do mundo. Daí o surgimento de ministérios e pastorais específicas, tais como: com os pequenos agricultores, os sem-terra, os idosos, os meninos e meninas de rua, os escolares, junto às periferias urbanas, ao lado dos encarcerados, juntamente com grupos discriminados (negros, mulheres, dependentes químicos, juventude)172.
Como subsídio a tais ações pastorais específicas, ou seja,
compromissadas com uma práxis pastoral engajada e solidária no mundo,
nesta nova etapa da história humana, marcada por ambigüidades abissais, a
Igreja em seu papel docente disponibiliza aos seus pastores e pastoras
diferentes materiais formativos e literaturas que ajudam em sua reflexão e
práxis ministerial, como por exemplo:
1. Credo Social da Igreja Metodista;
2. Plano Para a Vida e Missão da Igreja;
3. Diretrizes para a Ação Missionária na Questão da Terra;
4. Diretrizes Pastorais: Ação Missionária Indigenista;
5. Estive Preso e foste ver-me (Manual Prático para o ministério
cristão carcerário);
6. AIDS: Desafio Pastoral e Solidariedade;
172 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Servos, Servas, sábios, sábias, santo, santas, solidários, solidárias. 2ª Edição. São Paulo: Cedro, 2005, p. 17.
92
7. Caderno de Apoio: Semana Nacional de Prevenção ao Uso
Indevido de Drogas;
8. Caderno de Apoio: Violência e Abuso Sexual contra Criança e
Adolescentes;
9. Carta pastoral Sobre Eleição 1998;
10. Carta Pastoral do Colégio Episcopal sobre Ecumenismo;
11. Revista Raça Negra: Preto é Cor, raça é negra;
12. Cartinha de Prevenção à Violência: A missão da Igreja Metodista na
Construção da Rede de Proteção da Criança e do Adolescente;
13. Manual das Instituições: Como criar uma Instituição Social.
Nota-se por esta lista de publicações que os pastores e pastoras
metodistas têm à sua disposição, além de formação pastoral voltada para uma
presença ativa na sociedade, uma gama de subsídios literários para o auxílio
no desenvolvimento de uma práxis pastoral solidária.
Concluindo a presente análise das fundamentações bíblico-teológico-
históricas do ministério pastoral metodista, buscar-se-á investigar, no próximo
capítulo, a partir de um estudo de caso, como os pastores metodistas
vivenciam na prática suas ações pastorais solidárias junto às igrejas locais em
uma sociedade globalizada. Para tanto, serão analisados os pastores
metodistas integrantes do Distrito Eclesiástico de Piracicaba, 5ª Região
Eclesiástica.
93
3. ESTUDO DE CASO DA PRÁXIS PASTORAL METODISTA NO DISTRITO ECLESIÁSTICO
DE PIRACICABA
No capítulo anterior se procurou delinear as fundamentações bíblico-
teológico-históricas do ministério pastoral metodista para uma práxis solidária
nestes tempos de globalização. No presente capítulo buscar-se-á apresentar a
análise e interpretação de dados do Estudo de Caso da Práxis Pastoral
Metodista no Distrito Eclesiástico de Piracicaba.
Neste sentido, apresentar-se-á uma caracterização da formação da
Quinta Região Eclesiástica da Igreja Metodista, bem como a constituição do
Distrito Eclesiástico de Piracicaba, para em seguida descrever os
procedimentos de coletas de dados, identificação do objeto de pesquisa, isto é,
os pastores metodistas integrantes do distrito eclesiástico em destaque, e por
fim, processar com a análise e interpretação dos dados coletados.
94
3.1. A Formação da Quinta Região Eclesiástica173
A Igreja Metodista é uma igreja organizada geográfica e politicamente
em oito (08) Regiões Eclesiásticas distribuídas em diferentes partes do Brasil.
Cada Região Eclesiástica compõem-se de um número variado de igrejas locais
e é assistida por um Bispo ou Bispa, que supervisiona, administra e mantém a
unidade doutrinária da Igreja Metodista em âmbito regional: entre as igrejas e
os/as pastores/as que integram a região. O Mapa abaixo permite visualizar a
divisão territorial dessas regiões.
LEGENDA:
Mapa do Brasil com as Regiões Eclesiásticas174
Uma dessas regiões é a 5ª Região Eclesiástica, composta por sete (07)
estados, a saber, interior de São Paulo, Sul de Minas e Triângulo Mineiro,
173 A partir deste momento passar-se-á a utilizar a classificação da região eclesiástica pela denominação de “5ª Região Eclesiástica”, uma catalogação também aceita e utilizada pela a Igreja Metodista. 174 Fonte: Site da Igreja Metodista. www.metodista.org.br.
SIGLA REGIÃO
CLASSIFICAÇÃO
1ª RE 1ª Região Eclesiástica
2ª RE 2ª Região Eclesiástica
3ª RE 3ª Região Eclesiástica
4ª RE 4ª Região Eclesiástica
5ª RE 5ª Região Eclesiástica
6ª RE 6ª Região Eclesiástica
REMNE Região Missionária do Nordeste
REMA Região Missionária do Amazonas
95
Goiás, Distrito Federal, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul. Sua
criação se deu no VII Concílio Geral da Igreja Metodista, no ano de 1955, como
descreve Isnard Rocha
O ponto alto deste concílio foi a nova divisão das regiões eclesiásticas da Igreja Metodista do Brasil, sendo criadas duas novas regiões e adotada uma nova nomenclatura, como temos presentemente: Primeira Região Eclesiástica, Segunda Região Eclesiástica, Terceira Região Eclesiástica, Quarta Região Eclesiástica, Quinta Região Eclesiástica. Desapareceram assim as chamadas regiões do Norte, do Centro e do Sul.175
Apesar de criada no VII Concílio Geral da Igreja Metodista, a 5ª Região
Eclesiástica só foi instalada em seu Concílio Regional de Constituição, em 17
de janeiro de 1956, realizado na cidade de Poços de Caldas-MG, sob a
presidência do Bispo Isaías F. Sucasas, tendo como secretário, Benedito de P.
Bittencourt.176
De acordo com o último Registro de Atas e Documentos da 5ª Região
Eclesiástica, edição 2005, a região possui 193 templos religiosos espalhados
pela sua área geográfica; 20.380 metodistas arrolados; 221 membros clérigos
que servem no pastorado177. A região é privilegiada por comportar em seu
território várias Instituições Metodistas de Ensino 178 e Ação Social.
Além das regiões eclesiásticas, a Igreja Metodista possui em sua
estrutura, uma subdivisão interna, em âmbito regional, denominada de “distrito
175 ROCHA, Isnard. Histórias da História do Metodismo no Brasil. São Paulo: Imprensa Metodista, 1967, p. 158. 176 Cf. IGREJA METODISTA. Registro Atas Documentos: XXXVII Concílio Regional 2005 da 5ª Região Eclesiástica. Piracicaba, S/Editora, 2005, p.55 177 Ibidem, p. 296. 178 Entre essas instituições metodistas de ensino citamos: Universidade Metodista de Piracicaba, Colégio Piracicabano, Colégio Americano de Lins, Colégio Noroeste de Birigui, Colégio Metodista de Ribeirão Preto.
96
eclesiástico”. Segundo definições de documentos da igreja, um distrito
eclesiástico é:
um espaço no qual acontece a integração, articulação e promoção das ações missionárias organizadas e aprovadas pelas igrejas locais. É competência dos distritos articular e integrar as igrejas locais aos Planos Regional e Nacional de Ação Missionária.179
Para uma região criar um distrito o critério é que tenha no mínimo duas
(02) igrejas com sustento próprio. Estes distritos são supervisionados por
um/uma secretário/a distrital, um/uma pastor/a nomeado pelo bispo da região
para cuidar da identidade doutrinária da Igreja e ação missionária em âmbito
distrital, conforme se observa a seguir:
Sob a supervisão de um/a Superintendente Distrital, o Distrito promove a missão e seu cumprimento, despertando igrejas locais e ministérios para a vocação missionária que caracteriza os/metodistas. O Distrito Eclesiástico propicia a comunhão, fraternidade, a partilha e o pastoreio mútuo entre lideranças locais, pastores, pastoras e diferentes ministérios.180
Cada Igreja local, distrito e regiões são ligadas de forma conexional no
sistema metodista. Por conexidade, como visto no segundo capítulo, entende-
se uma forma de organização que permite a integração mútua entre as igrejas
metodistas em suas diferentes áreas.
A 5ª Região Eclesiástica possui treze (13) Distritos Eclesiásticos
distribuídos em seu território, a saber: Araçatuba, Bauru, Brasília, Campinas,
Goiânia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Ourinhos, Piracicaba, Presidente
Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto e Uberlândia.
179 IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano Nacional Missionário. São Paulo: Cedro, 2007, p. 39. 180 Ibidem, p. 39
97
A pesquisa em curso, que propõe um estudo de caso das práxis
pastorais solidárias metodistas nestes tempos de globalização, acontece no
âmbito do Distrito Eclesiástico de Piracicaba, 5ª Região Eclesiástica. O recorte
que delimita a escolha do distrito em questão para exame do objeto a ser
investigado, dá-se por razões metodológicas, já que como visto, a Igreja
Metodista é dividida geográfica e politicamente em regiões eclesiásticas, com
seus respectivos distritos Eclesiásticos. Neste sentido, dada a amplitude
geográfica da igreja Metodista, uma investigação da práxis de seus/suas
pastores/as em âmbito nacional ou regional se mostra inviável. Tendo em vista
que demandaria um espaço de tempo considerável, e o formato do programa
de mestrado (2 anos de duração) não oportunizaria uma pesquisa de tamanha
envergadura.
3.2. Caracterização do Distrito Eclesiástico de Piracicaba
O Distrito Eclesiástico de Piracicaba está situado numa importante área
geográfica do interior de São Paulo. Faz parte do conjunto de treze (13)
Distritos Eclesiásticos integrantes da Quinta Região Eclesiástica da Igreja
Metodista. É formado por oito (08) Igrejas autônomas, suas respectivas
congregações e um ponto missionário distrital, estão concentradas nos
municípios de Americana 181, Capivari 182, Limeira183, Piracicaba184, Rio Claro185,
cidades do interior paulista.
181 Igreja Metodista em Americana-SP. 182 Igreja Metodista em Capivari-SP. 183 Igreja Metodista Central de Limeira; Igreja Metodista Wesley. 184 Catedral Metodista, Igreja Metodista Betânia, Igreja Metodista Ebenézer, Igreja Metodista do Matão, Igreja Metodista da Paulista.
98
Fonte: IGC – Instituto Geográfico e Cartográfico186
Como se pode observar pelo mapa acima, o distrito eclesiástico de
Piracicaba é composto por cinco cidades do interior paulista. Na tabela abaixo
é possível verificar os dados populacionais dos municípios que compõe o
distrito eclesiástico, segundo fonte do IBGE 2006.
TABELA 01
DADOS POPULACIONAIS DAS CIDADES QUE COMPOEM O DISTRITO ECLESIÁSTICO
CIDADES HABITANTES Americana 203.845
Capivari 46.825 Limeira 279.554
Piracicaba 366.442 Rio Claro 190.373 TOTAL 1.087.039
FONTE: IBGE 2006187
O Distrito Eclesiástico de Piracicaba é um distrito que concentra vários
pastores e pastoras/as. Deste universo de pastores e pastoras, um grupo
exerce o pastorado em regime integral em Igrejas Locais, uma outra parcela
exerce pastorado em ministérios específicos junto às instituições de ensino da
185 Ponto Missionário Distrital da Igreja Metodista. 186 http://www.sp-turismo.com/municipios-sp.htm 187 População estimada. http://www1.ibge.gov.br/cidadesat/default.php. Acesso em 28/05/07, em 19h21.
99
Igreja Metodista. O distrito congrega ainda pastores/as aposentado/as, que
continuam de algum modo ligados a vivência da igreja local.
O Distrito Eclesiástico de Piracicaba está localizado em um espaço
geográfico bastante significativo para o metodismo brasileiro. Conforme
indicado no segundo capítulo, historicamente nesta parte do interior paulista,
outrora conhecido como região de Santa Bárbara d´Oeste, teve início um dos
primeiros trabalhos metodistas, deste modo, é uma região conhecida como o
berço do metodismo brasileiro. De acordo com dados estatísticos disponíveis,
até o ano de 2005 o distrito congregava 1.294 metodistas, como se pode
verificar na tabela de número dois (02)
TABELA 02
TOTAL DE METODISTAS INTEGRANTES DO DISTRITO ECLESIÁSTICO
Fonte: Igreja Metodista 5ª RE - Estatística 2005188
188 IGREJA METODISTA. SECRETARIA REGIONAL DE ESTATÍSTICA DA IGREJA METODISTA – 5ª REGIÃO ECLESIÁSTICA. Relatório de Estatística 2005. Birigui, s/Editora, 2005, p. 08.
MEMBROS LEIGOS POSSUI
Congregações? IGREJAS LOCAIS
CIDADE
S/N Nr. Masc. Fem. Total
Catedral Metodista de Piracicaba Piracicaba S 01 172 294 466
Igreja Metodista Betânia Piracicaba N _ 49 75 124
Igreja Metodista Ebenézer Piracicaba N _ 24 38 62
Igreja Metodista Matão Piracicaba S 01 26 54 80
Igreja Metodista Paulista Piracicaba N _ 47 65 112
Igreja Metodista Central de Limeira Limeira S 01 75 99 174
Igreja Metodista Wesley Limeira N _ 18 22 40
Igreja Metodista Americana Americana N _ 29 46 75
Igreja Metodista Capivari Capivari N _ 25 36 61
TOTAL 03 465 729 1194
100
O Distrito Eclesiástico de Piracicaba é conhecido ainda por abrigar em
seu território duas respeitáveis instituições de ensino da Igreja Metodista 189, o
centenário “Colégio Piracicabano”, criado pela missionária norte-americana
Miss Martha Watts, no século passado; e a Universidade Metodista de
Piracicaba, a primeira universidade metodista do Brasil, construída na década
de setenta (70). Aliás, o distrito está inserido numa área de forte concentração
de instituições educacionais do Estado de São Paulo. É possível encontrar
nesta região, além das instituições metodistas, importantes “Campi”,
“Faculdades” e “Departamentos” das principais universidades da capital, a
saber: em Piracicaba: a ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queirós-USP), a FOP (Faculdade de Odontologia de Piracicaba-Unicamp); e o
CENA (Centro de Energia Nuclear de Alimentos - USP); em Limeira: a
Unicamp; em Rio Claro: a UNESP.
O Distrito Eclesiástico de Piracicaba está situado numa das regiões
mais importantes e ricas, altamente industrializada e produtiva do interior de
São Paulo e do Brasil. Na cidade de Piracicaba, por exemplo, encontram-se
várias usinas de Cana-de-açúcar e importantes empresas multinacionais, como
189 Segundo Mendonça a educação ocupou um papel de grande destaque na empresa missionário protestante, por ocasião da inserção do protestantismo no Brasil. Neste sentido afirma: “A educação, como estratégia missionária, nunca deixou de acompanhar os missionários norte-americanos. Os missionários desempenhavam sempre o duplo papel de evangelistas e professores, não se esquecendo, porém, as empresas missionárias, de incluir no seu pessoal especialistas em educação, principalmente mulheres. Algumas destas conquistaram reconhecimento na educação brasileira, como Carlota Kemper, Márcia Brown e Martha Watts”. Como indicando no corpo da pesquisa acima, essa última missionária, Martha Watts, uma metodista, foi a responsável pela criação do Colégio Piracicabano. MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir: Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Umesp, 1995, p. 95. Para maiores aprofundamentos sobre o tema do metodismo é educação, consultar as obras: MESQUIDA, Peri. Hegemonia Norte-Americana e Educação Protestante no Brasil. São Bernardo do Campo: Umesp, 1986; e, MESQUITA, Zuleica (org). Evangelizar e Civilizar: Cartas de Martha Watts, 1881-1908. Piracicaba: Unimep, 2001
101
Grupo Dedini, Caterpillar e a Belgo Mineira, com forte incremento no setor
metal mecânico190.
Descritas algumas características gerais do distrito eclesiástico do qual
fazem parte os pastores, objetos do Estudo de Caso, no tópico seguinte
passar-se-á à análise e interpretação dos dados coletados.
3.3. Apresentação, Análise e Interpretação dos Dados dos Pastores do Distrito Eclesiástico de Piracicaba.
3.3.1. Coleta de Dados 191
Segundo Lakatos e Marconi, existe uma variedade de procedimentos
possíveis na realização de coletas de dados. Sua operacionalização varia de
acordo com as circunstâncias ou com o tipo de investigação.192. O
procedimento metodológico de coleta de dados adotado para o presente
190 MAURÀO, Júlio Olímpio Fusaro. Piracicaba 2010: Realizando o Futuro. Piracicaba-SP: 2001. Tecendo comentários sobre as demais cidades e sua economia, observa-se a seguinte configuração: Americana concentra grande parte de suas atividades na indústria têxtil; Capivari tem sua uma economia ligada a cana-de-açúcar e álcool; Limeira, possui uma economia diversificada, baseada na citricultura e na indústria, principalmente a metalúrgica, de jóias e bijuterias, além de um comércio forte e variado. Conforme: Jornal Folha de S. Paulo. São Paulo, Edição 14/04/04. 191 O pesquisador deste estudo de caso, também é integrante do distrito em questão, porém não participou da pesquisa. 192 Em linhas gerais, as técnicas de pesquisas são: coleta documental, observação, entrevista, questionário, formulário, medidas de opiniões e de atitudes, técnicas mercadológicas, testes, sociometria, análises de conteúdo, história de vida. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2005, p. 168
102
Estudo de Caso da Práxis Pastoral Metodista no Distrito de Piracicaba
privilegiou a utilização de questionário estruturado193.
A coleta de dados voltou-se especificamente aos pastores metodistas
que possuem ministério ativo junto às igrejas locais do distrito eclesiástico. Isto
significa que a pesquisa não contemplou pastores que atuam no ministério
pastoral em “tempo parcial” ou em outras áreas da vida da igreja, bem como
não investigou a atuação de pastoras metodistas, já que no Distrito Eclesiástico
de Piracicaba, diferentemente de outros distritos eclesiástico da Igreja
Metodista, as pastoras que integram o quadro pastoral metodista neste distrito
eclesiástico estão envolvidas em ministério específico junto às instituições de
ensino, deste modo, os resultados da coleta de dados refletem opiniões apenas
de clérigos do sexo masculino, com atuação integral na igreja local.
Como o retorno de questionários em uma coleta de dados possui um
nível baixo, uma estimativa de 25%194, o pesquisador optou por utilizar-se de
dois meios para aplicação do mesmo: presencial e via correio eletrônico (e-
mail). Esta opção metodológica visou o alcance de um maior número possível
193 Segundo LAKATOS, “Questionário é um instrumento de coleta de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao informante, pelo correio ou por um portador; depois de preenchido, o pesquisador devolve-o do mesmo modo.” LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Maria de Andrade. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 2005, p. 203. Já Cervo salienta que “a palavra questionário refere-se a um meio de obter respostas às questões por uma fórmula que o próprio informante preenche... Ele contém um conjunto de questões, todas logicamente relacionadas com um problema central. CERVO, Amado L.; BERVIAN, Pedro A. Metodologia Científica. 5ª Ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002, p. 48. Como se nota, o questionário é um instrumento de coleta de dados aceito e muito utilizado em investigações cientificas, como pesquisas da área de ciências humanas. Entre suas vantagens encontra-se a economia de tempo, viagem e alcance de maior número de dados e pessoas simultaneamente, além de oportunizar maior segurança, pelo fato das respostas não serem identificadas. Estima-se que a média de devolução de questionários expedidos por um pesquisador cheguem ao índice de 25%. 194 Segundo LAKATOs, essa é uma das desvantagens do questionário, isto é, o baixo retorno do mesmo numa pesquisa. LAKATOS, Eva Maria. op. cit. p. 204.
103
de pastores investigados, dentro do universo de pastores compreendidos pelo
perfil. Neste sentido, o pesquisador utilizou para fazer a aplicação do
questionário (anexo 1) presencial a reunião mensal de pastores metodistas do
distrito eclesiástico de Piracicaba195. E o meio eletrônico (e-mail), aqueles
pastores que eventualmente faltassem à reunião, para posterior resposta e
retorno via internet.
Na coleta de dados presencial, participaram das respostas ao
questionário cinco (05) pastores. Assim, o índice de retorno dos questionários
aplicados foi de 100%. Como faltaram a reunião dois (02) pastores que
possuem trabalhos ativos junto às igrejas locais, o pesquisador encaminhou via
correio eletrônico o questionário aqueles pastores, obtendo o retorno de
apenas um (01) questionário respondido. Deste modo, o aproveitamento da
coleta de dados via eletrônico chegou a 50%. No quadro geral, de sete (07)
questionários enviados, seis (06) foram respondidos e um (01) não.
00
0102
030405
06
07
1
Questionários Respondidos
Sim
Não
Gráfico 01
Considerado o universo de pastores que se enquadravam no perfil
previamente estipulado, ou seja, pastores que exercem ministério ativo junto a
195 Essa reunião aconteceu no dia 11 de Abril de 2007, nas dependências da Igreja Metodista Central de Limeira, São Paulo.
104
uma igreja local, o resultado da coleta de dados se revelou bastante
satisfatória, isto é, a alcançou a maior quantidade possível de pastores
pesquisados. Deste modo, serão considerados os dados presentes em seis
questionários para análise das práxis pastorais solidárias dos pastores
metodistas do distrito eclesiástico em questão.
A coleta de dados respeitou as normas éticas de pesquisa científica para
estudos com seres humanos. Neste sentido o pesquisador solicitou autorização
por escrito dos pesquisados para uso de suas resposta para fins acadêmicos,
bem como da autoridade eclesiástica responsável pelo distrito para aplicação
do questionário. Todos os pesquisados autorizaram devidamente o uso de
suas respostas presentes no questionário de investigação para uso acadêmico
– sem revelação de suas identidades.
3.3.2. Análise e Interpretação dos Dados
O presente tópico, como indicado no seu título, tem como objetivo
proceder com a análise dos dados coletados no questionário aplicado aos
pastores metodistas do Distrito de Piracicaba, por ocasião da investigação das
práxis pastorais desses líderes religiosos.
Para realizar a análise e interpretação dos dados, o pesquisador fará
freqüentes relações e ligações com os variados conceitos e referenciais
teóricos utilizados ao longo da pesquisa, em particular, nos primeiros dois
capítulos.
105
3.3.2.1. O Perfil do Pastores Metodistas
Na descrição da coleta de dados da pesquisa foram apresentados de
relance alguns aspectos relacionados à caracterização dos pastores
metodistas, objeto do Estudo de Caso, no entanto, urge neste momento da
pesquisa descrever de maneira mais pormenorizadas o perfil destes líderes
religiosos investigados.
O perfil dos pastores metodistas do Distrito Eclesiástico de Piracicaba
pode ser identificado, dentre muitos aspectos, a partir da pergunta um (01) e
dois (02) do questionário aplicado, pois se referem a idade e tempo de
ministério destes líderes protestantes. Ademais, essas perguntas permitem
investigar se há ou não possíveis variações da compreensão destes clérigos a
respeito do tema proposto, ou seja, a práxis pastoral solidária.
00010203040506
Número de respostas
IDADE DOS PASTORES
20 a 30
31 a 40
41 a 50
51 ou acima
Gráfico 02
Conforme demonstrado no gráfico dois (02), observa-se certo equilíbrio
quanto ao quesito idade dos pastores. Do universo de pastores que
responderam o questionário, três (03) afirmaram se enquadrar na faixa etária
de idade de 31-40 anos e outros três (03) de 51 ou acima. Esse dado permite
deduzir que entre o quadro de pastores ativos do Distrito de Piracicaba,
106
observa-se a mescla de pastores relativamente jovens e outros da meia idade
acima.
Quando se leva em consideração o tempo em que o pastor exerce o
pastorado, o equilíbrio observado em relação à idade se desfaz, notando uma
maior polaridade entre os dados aferidos. Por exemplo, no que tange ao
tempo de ministério, dois (02) pastores afirmaram possuir de 1-5 anos de
pastorado, um outro de 11-15 anos, outros dois (02) de 26-30 anos e por fim,
um (01) último de 41 a 45 anos. Isto permite deduzir que o distrito congrega
pastores a frente de suas igrejas com pouco tempo de ministério pastoral e
outros com médio e longo tempo de experiência pastoral. O gráfico três (03)
permite visualizar esses dados.
Tempo de Pastorado
00010203040506
1 a 5 6 10 11 a15
16 a20
21 a25
26 a30
31 a35
36 a40
41 a45
46 a50 oumais
Anos Compreendidos
Gráfico 03
Pensando na formação destes pastores, é possível deduzir que a maior
parte destes líderes religiosos, aqueles que se enquadram no perfil de mais de
21 anos de exercício do pastorado, tenham experimentado as tensões internas
da Igreja Metodista ao longo deste período, como por exemplo, a mudança de
estrutura – conforme indicado no segundo capítulo – da igreja de cargos e
funções para a igreja organizada em “Dons e Ministérios”, e tiveram que
107
habituar com a nova configuração da igreja. Já aqueles que se enquadram no
perfil abaixo de 21 anos de pastorado não acompanharam essas tensões ou
experimentaram de forma branda e podem ser considerados em termos de
formação, de certo modo, mais habituados a estrutura de “dons e
ministérios”.196
Outro aspecto que permite deduzir essas informações sobre idade e
tempo de pastorado, é que a maioria destes pastores foram formados em um
período de grande riqueza teológica na América Latina. É que neste período,
década de setenta e oitenta (1970-80), a teologia construída neste continente
foi enriquecida por um novo olhar, uma nova forma de fazer teológico,
conhecida como teologia latino-americana ou teologia da libertação, que como
visto em outro momento desta pesquisa, chamou a atenção da Igreja para a
preocupação com os pobres e menos favorecidos. Esse jeito de fazer teologia
nascido neste continente acentuou entre muitos clérigos da Igreja católica e de
algumas Igrejas Protestantes deste continente, como a Igreja Metodista, uma
crítica político-social apurada. Pode ser que alguns desses pastores se
enquadrem neste perfil, todavia isso não quer dizer que alguns desses
pastores pesquisados não tenham também perfil conservador.197
Por outro lado, os pastores que se enquadram no perfil abaixo de 21
anos de pastorado, foram formados num período de grande confusão teológica
196 Para um maior aprofundamento do tema, isto é, a estruturação da Igreja Metodista em dons e ministério, bem como suas tensões, vale a pena consultar: OLIVEIRA, Clory Trindade. Estrutura Organizacional e Administrativa do Metodismo (1965-1982). In: Caminhando, Revista Teológica da Igreja Metodista. São Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1982. CASTRO, Clovis Pinto de; e CUNHA, Magali do Nascimento. Forjando uma Nova Igreja: Dons e Ministérios em debate. São Bernardo do Campo: Editeo, 2001. 197 Para investigação pormenorizadamente dessas considerações a respeito da ligação do protestantismo com a teologia da libertação, ver: MENDONÇA, A. G. Protestantes, pentecostais e ecumênicos: o campo religioso e seus personagens. SBC: UMESP, 1997.
108
e modelos pastorais aliados à figuras empresariais e animadores de
comunidades, reflexo da inserção do “mercado” no mundo religioso, que possui
na vertente protestante seu grande representante nas igrejas neo-pentecostais,
conforme indicado na pesquisa alhures, reconhecidos pelos estudiosos da área
de ciências da religião, por possuir uma visão menos engajada socialmente.
Apesar da Igreja Metodista nesse período primar por uma formação pastoral
contextualizada e uma visão teológica integral do ser humano, muitos pastores
metodistas se deixaram seduzir por esse modelo de mercado do tempo
presente. Todavia, isto não permite concluir que os pastores pesquisados com
menos de 21 anos de pastorado se enquadrem nessa categoria de pastores,
pode ser que esses clérigos metodistas tenham uma forte consciência social.198
Em relação à classificação desses pastores, segundo modelos adotados
pela igreja metodista, a partir do questionário, pode se chegar à conclusão que,
no Distrito Eclesiástico de Piracicaba, entre os clérigos ativos, grande parte dos
pastores são presbíteros (04), uma outra parcela figura na categoria de
aspirante ao presbiterato (01) e aspirante ao pastorado (01), como se pode
verificar no gráfico de número quatro (04). Apesar da apresentação da
classificação dos pastores segundo critério adotado pela Igreja Metodista,
salienta-se que neste ponto da pesquisa, na análise e interpretação dos dados
não se seguirá essa catalogação, a opção do pesquisador é por usar apenas o
198 Para maior aprofundamento sobre a influência do pentecostalismo e neopentecostalismo nas Igrejas Protestantes Históricas e Igreja Metodista consultar: GUTIÉRREZ, Bejamiín, CAMPOS, Leonildo Silveira. Na Força do Espírito: Os pentecostais na América-Latina: Um desafio às Igrejas Históricas. São Paulo: Pendão Real, 1996; CAMPOS, L. S. Teatro, templo e mercado: organização e marketing de um empreendimento neopentecostal. Petrópolis: Vozes/São Paulo: Simpósio Editora, 1997; MENDONÇA, A. G. Protestantes, pentecostais e ecumênicos. São Bernardo do Campo: UMESP, 1997; CUNHA, Magali do Nascimento. “A vida e a missão da Igreja Metodista (1987-1997): uma tentativa de Avaliação”. In: CASTRO, Clovis Pinto de; CUNHA, Magali do Nascimento. Forjando uma Nova Igreja: Dons e Ministérios em debate. São Bernardo do Campo: Editeo, 2001, p.17.
109
termo genérico, pastores metodistas, como critério unificador de todas essas
categorias.
0123456
1
Classificação dos Pastores
Presbítero
Aspirante aoPresbiterato
Aspirante aoPastorado
Gráfico 04
De certo modo, esse dado sobre a categoria dos pastores não deve
influenciar muito na compreensão de práxis pastoral solidária desses líderes,
se for levado em consideração o fato de que os pastores metodistas, sejam
eles presbíteros ou integrantes do ministério pastoral, todos recebem a mesma
formação teológica para uma presença libertadora e transformadora no mundo.
No entanto, é importante esperar o aprofundamento da análise de suas
respostas para investigar tal questão.
3.3.2.2. Compreensão e Desenvolvimento da Práxis Pastoral Solidária
Metodista
Foi abordado na sessão anterior o perfil dos pastores metodistas
pesquisados. A partir deste momento buscar-se-á investigar a compreensão e
desenvolvimento da práxis pastoral solidária metodista no Distrito de
Piracicaba.
110
3.3.2.2.1. Compreensão dos Pastores Metodistas sobre o termo Práxis
Pastoral Solidária
A pergunta de número 3 (três) do questionário está relacionada ao
entendimento de práxis pastoral solidária dos pastores metodistas
pesquisados. Para apresentar suas considerações a esse respeito os pastores
tinham à sua disposição três alternativas para responderem, indicando o que
compreendiam ser uma práxis pastoral solidária, a saber:
A – Assistência social à fiéis da comunidade local;
B – Ajuda de cestas básicas a necessitados;
C – Variados esforços no sentido de aliviar os dramas e
sofrimentos das pessoas menos favorecidas e excluídas da
sociedade.
A maioria dos pastores escolheu a opção “C”, demonstrando assim, que
a compreensão de práxis pastoral solidária para eles não está ligada apenas a
ações especificas, no sentido de suprir necessidades de fiéis da comunidade
ou ajuda transitória, assistencialista às pessoas fora da comunidade, mas um
esforço amplo no sentido de dirimir os problemas que assolam a vida humana.
A resposta acima é reveladora, pois sugere num primeiro momento que
a compreensão coletiva dos pastores metodistas se aproxima da conceituação
teórica do termo “práxis pastoral solidária" como se tem defendido nessa
pesquisa, isto é, o esforço pastoral no sentido de promover ações que
busquem libertar e transformar o ser humano oprimido e excluído,
restabelecendo sua dignidade nestes tempos de globalização.
111
Mais de onde nasce essa compreensão de práxis pastoral solidária
revelada pelos pastores no questionário? Como visto no segundo capítulo,
além do pastor e da pastora metodista receberem uma formação que os
capacitem para exercerem uma presença compromissada e solidária no
mundo, eles têm à suas disposições inúmeras literaturas e documentos
editados pela igreja Metodista que oferecem fundamentação teórica para o
exercício dessa práxis pastoral solidária. O gráfico cinco (05) revela as fontes
ou documentos metodistas que alimentam a compreensão dos pastores
metodista do Distrito de Piracicaba em relação à práxis solidária.
Doc. Metodistas Fund. da Práxis Pastoral Solidária
11
4
4
1
3
1
Pastoral Indígena
Cânones
Credo Social
Pastorais Episcopais
Plano Nacional
Plano para a Vida eMissão da Igreja (PVMI)
Revista Escola Dominical
Gráfico 05
Pelo gráfico acima (05) é possível identificar, a partir das respostas dos
pastores, os documentos da igreja que mais fundamentam suas práxis
pastorais solidárias. Em primeiro lugar, aparece: o Credo Social e as Pastorais
Episcopais, com quatro (04) respostas cada um. O primeiro documento citado,
como visto no capítulo anterior, apresenta importantes considerações a
respeito do pensamento social da Igreja Metodista, nele há um posicionamento
claro da igreja sobre seu comprometimento com a justiça social às pessoas
112
menos favorecidas e excluídas da sociedade, bem como um incentivo à
inserção e participação dos metodistas na vida pública, em decorrência de uma
experiência viva com a divindade, em termos cristãos, “Deus”.199
Já o segundo documento mais utilizado, ou melhor, documentos, pois as
“Pastorais Episcopais” conforme indicado aqui se referem às várias
publicações editadas pelo Colégio Episcopal da Igreja Metodista, com vistas a
orientar os metodistas em território nacional sobre diferentes temas
relacionados à vida da igreja e questões doutrinárias. Essas “Pastorais
Episcopais” também oferecem subsídios para uma inserção junto à sociedade
e envolvimento com uma práxis pastoral solidária, já que fazem
constantemente menção ao compromisso social metodista com o bem-estar
integral do ser humano.
Em segundo lugar encontra-se o “Plano para a Vida e Missão da Igreja
(PVMI), com três (03) respostas. Esse documento também, como visto no
segundo capítulo, apresenta inúmeras fundamentações teológico-pastorais
para uma presença religiosa ou cristã ativa no mundo, compromissado com os
menos favorecidos, excluídos da sociedade, na busca por contribuir para a
diminuição dos problemas sociais graves que assolam a humanidade.
O elenco desses documentos como os mais citados pelos pastores
dentre os documentos que fundamentam suas práxis solidárias é um bom
indicativo em termos da investigação proposta por essa pesquisa, já que
199 Para exame deste documento, ou seja, “O Credo Social da Igreja Metodista”, consultar os Cânones, que apresenta esse documento em sua íntegra. IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Cânones da Igreja Metodista 2007. São Paulo: Editora Cedro, 2007.
113
sugere que a maioria desses líderes religiosos possui um conhecimento
teórico, no mínimo básico, para o exercício de uma práxis pastoral solidária
Em terceiro lugar aparecem vários documentos com uma (01) resposta
cada um, a saber: Cânones da Igreja Metodista, Pastoral Indígena, Plano
Nacional Missionário, Revista de Escola Dominical. O primeiro documento
desta lista é o Cânones da Igreja Metodista, documento basilar da Igreja
Metodista, nele se encontra os fundamentos da fé, doutrina e práticas
metodistas. Apesar da pouca indicação, em termos da pesquisa, a citação
deste documento entre aqueles que fundamentam a práxis pastoral solidária é
importante, pois oferecem vários referenciais teóricos sobre o tema da
pesquisa.
O segundo documento citado pelos pastores na lista de terceiro lugar é a
Pastoral Indígena200. Este documento produzido pela Igreja oferece diretrizes e
elementos teóricos para uma ação pastoral junto aos povos indígenas. Sua
indicação entre os documentos basilares da práxis pastoral solidária desses
clérigos pesquisados, mesmo que lembrado por somente um pastor, é bastante
valiosa, pois contribui com a presente pesquisa no sentido de despertar para a
importância na contemporaneidade do desenvolvimento de uma práxis pastoral
solidária que não seja indiferente às minorias étnicas, sobretudo nestes tempos
de globalização econômica, em que muitos povos, grupos e etnias são
vitimados ou deixados à margem dos processos sociais e políticos devido a
interesses econômicos.
200 Este documento aparece em destaque, e não juntamente com as pastorais episcopais, porque foi a única pastoral dos bispos citada nominalmente pelos pastores pesquisados. Daí a justificativa de sua menção separada das cartas episcopais.
114
O terceiro documento citado pelos pastores na lista de terceira
colocação como fundamentadores de suas práxis pastoral solidária, o Plano
Nacional Missionário, trata-se de um documento formulado pelos Bispos e
assessores, editado de cinco (05) em (05) cinco anos, aprovado em Concílios
Gerais, com propostas temáticas para cada ano do período de vigência, nele
também se encontram elementos para uma presença pública e formulação de
ações pastorais solidárias junto à sociedade.
Por fim, o quarto e último documento ou literatura citada pelos pastores
como fundamentadores de suas práxis solidárias encontram-se as “Revistas de
Escola Dominical”. Esta literatura produzida pela igreja, apresenta sínteses dos
fundamentos doutrinários da Igreja Metodista sobre diferentes aspectos,
inclusive social. Possivelmente a lembrança dessas literaturas por parte dos
pastores deva-se ao fato destas fazerem constantemente parte de seu
cotidiano pastoral, isto é, de suas práticas. Todavia, apesar de oferecer
subsídios para uma presença cristã social e comprometida no mundo, não são
materiais bibliográficos densos sobre o tema.
Outra questão importante examinada na investigação junto aos pastores,
além da compreensão conceitual do termo práxis pastoral solidária, tem a ver
com a visão coletiva desses líderes religiosos em relação à importância de uma
presença do pastor e/ou da igreja no desenvolvimento de uma práxis solidária
visando dirimir os dramas que assolam a sociedade brasileira e global. O
resultado da pesquisa se encontra na tabela três (03) desta pesquisa. A
resposta “X” se refere à compreensão do envolvimento do pastor e sua práxis
115
solidária na sociedade, já, a resposta Y, indica o entendimento do pastor sobre
a presença da igreja e sua ação solidária na sociedade brasileira e mundial.
TABELA 03
ENTENDIMENTO PASTORAL EM RELAÇÃO
À PRÁXIS SOLIDÁRIA DO PASTOR E DA IGREJA
201 A questão 08 do questionário indaga os pastores: Você compreende que é importante, na atualidade, desenvolver uma práxis pastoral solidária junto a sociedade? 202 A questão 11 do questionário indaga os pastores: Você acha que Igreja de Jesus Cristo deve estar envolvida com ações solidárias em favor da sociedade brasileira e do mundo?
O pastor deve desenvolver uma práxis solidária na sociedade?
A Igreja deve se envolver em ações
solidárias na sociedade/mundo?
IDENT. RESPOSTA X201 IDENT.
RESPOSTA Y202
Pastor
“A”
Num mundo marcado pela filosofia Neoliberal, que gera individualismo, consumismo e exclusão se faz necessário uma práxis pastoral solidária com objetivo de re-educar as pessoas à construção de uma sociedade mais justa, solidária e cristã.
Pastor “A”
Temos a responsabilidade de Pastorear o mundo; este é um grande desafio para a Igreja atual.
Pastor
“B”
Essa é a práxis fundamental da Igreja Metodista, portanto não concebo uma Igreja que não seja solidária.
Pastor
“B”
_______________________
Pastor
“C”
Porque isto é ordem de Cristo. Porque o mundo é nossa paróquia.
Pastor “C”
A oração de Cristo, nos chama para uma vida de ação solidária, sem proselitismos. Unindo as forças através do amor o mundo terá mais justiça.
Pastor
“D”
Para que ela seja mais conhecida. Que a sociedade se conscientize de que Deus é amor e se não fosse assim, será que teríamos hospitais populares?
Pastor
“D”
Desde que dentro das nossas estruturas doutrinárias bíblicas.
Pastor “E”
Somos chamados a cuidar, não há nenhuma possibilidade de realizar está tarefa sem que haja um envolvimento social. A Igreja é chamada a se relacionar no mundo, amando e cuidando. A Igreja é a voz do Senhor.
Pastor “E”
Penso que a Igreja é: As mãos do Senhor; os pés do Senhor; os olhos do Senhor; a voz do Senhor. Desta forma nossas ações devem marcar as ações de Deus na terra fazendo com que o amor seja prioridade na caminhada da Igreja.
Pastor “F”
Porque Deus me chamou a ser pastor de “almas” e não de instituição.
Pastor “F”
Deus nos chama a ser “Sal da terra e luz do mundo”, assim como igreja devemos nos envolver, lembrando que devemos influenciar positiva -mente por onde pudermos.
116
As respostas dos pastores “A”, “B”, “C” e “E”, em relação ao
envolvimento do pastor e da igreja em ações solidárias em favor da sociedade
brasileira e mundial, mesmo que passem por algumas leituras “piedosas”,
demonstram ser mais abrangentes, engajadas política e socialmente que a dos
outros pastores que responderam a mesmas questões, a saber, os pastores
“D” e “F”. Ademais, indicam uma maior proximidade do termo práxis pastoral
solidária como se tem definido nesta pesquisa. Um exemplo disso é a resposta
“X” do pastor “A”, quando afirma que: “Num mundo marcado pela filosofia
Neoliberal, que gera individualismo, consumismo e exclusão se faz necessário
uma práxis pastoral solidária com objetivo de re-educar as pessoas a
construção de uma sociedade mais justa, solidária e cristã”. Visões e práxis
pastorais desta natureza abrem horizontes de esperança capazes de
possibilitar a formação de comunidades religiosas compromissadas com ações
solidárias e a construção de uma sociedade mais justa e humana.
Já as respostas dos pastores “D” e “F” indicam certo distanciamento da
compreensão de práxis solidária sugerido nesta pesquisa. No caso específico
do pastor “F”, mesmo que na resposta “Y” ele demonstre uma maior abertura
ao tema da presença solidária da igreja no mundo, na reposta “X” parece situar
a práxis pastoral solidária ao âmbito eclesial, ao afirmar que Deus o chamou a
ser pastor de “almas” e não de “instituição”. Posturas como essa, muito comum
na religiosidade contemporânea privatizada, intimista e a-histórica são
responsáveis pelo crescimento de comunidades religiosas no tempo presente
não engajadas socialmente e indiferentes aos dramas que afligem a
humanidade. Conclusão semelhante se pode tirar das considerações do pastor
“D”.
117
Examinados a compreensão dos pastores sobre práxis pastoral
solidária, bem como o envolvimento da igreja nestas ações, cabe agora na
próxima seção investigar a quais temas esses líderes religiosos mais dão
ênfase em seus sermões, bem como quais atividades em sua opinião são
consideradas mais atrativas no pastorado.
3.3.2.2.2. O Pastor e Desenvolvimento da Práxis Solidária em Âmbito
Eclesial: Classificação dos Temas Abordados em Sermões e
Atividades Pastorais mais Atrativas
3.3.2.2.2.1. Classificação dos Temas Abordados em Sermões
A pergunta de número quatro (04) do questionário levanta a questão dos
temas abordados pelos pastores em seus sermões. Neste sentido, os pastores
tinham a sua disposição uma relação de dez (10) temas, que deveriam ser
relacionadas em ordem crescente, ou seja, de um (01) a dez (10) de acordo
com a prioridade. O resultado da investigação pode ser visto no gráfico (06)
adiante.
0
1
2
3
4
5
6
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º
Temas Abordados nos Sermões AMOR AO PRÓXIMO
COMPROMISSOCRISTÃOCURA
DONS ESPIRITUAIS
ENVOLVIMENTOSOCIALFÉ
LIBERTAÇÃOESPIRITUALPROSPERIDADE
SALVAÇÃO
SOLIDARIEDADE ECIDADANIA
Gráfico 06
118
Como se pode ver, o gráfico acima (06) permite visualizar os temas mais
abordados pelos pastores em seus sermões ou prédicas como preferem
alguns. A seguir, apresentar-se-á uma descrição da classificação dos temas
dos sermões indicados pelos pastores pesquisados conforme aparece no
gráfico com seu respectivo número de respostas indicada em parentes. Os
gráficos que ilustram os dados da pesquisa visualizada no gráfico seis (06),
seguem as cores contidas nesse gráfico principal.
Em primeiro lugar aparecem os seguintes temas: salvação (03), fé (01),
compromisso cristão (01), amor ao próximo (01), como temas prioritários entre
os pastores pesquisados. A hegemonia do tema da “salvação” entre os
assuntos mais abordados nas prédicas dos pastores metodistas, seguido de
outros temas igualmente valiosos à tradição cristã sugere uma certa
normalidade. Pois para a tradição cristã, a mensagem soteriológica, que afirma
que, por amor à humanidade, Deus enviou seu filho unigênito (Jesus Cristo)
para salvar o ser humano, está na base da fé cristã, daí talvez a razão deste
tema estar no topo da pesquisa.
00
01
02
03
04
05
06
1
Temas de Sermões - 1º Lugar
Amor ao Próximo
CompromissoCristãoFé
Salvação
Gráfico 07
A julgar pela tradição metodista é de se esperar que estes líderes
religiosos ao apresentarem o tema da “salvação” como assunto prioritário de
119
seus sermões tenham uma compreensão do termo afinada com a teologia
metodista, que compreende “salvação” não como uma experiência reduzida a
redenção da alma humana do pecado, como é comum em igrejas que adotam
teologias fundamentalistas, mas como uma experiência totalizante, integral:
salvação humana do pecado e das estruturas de morte que o escraviza”. 203
00
01
02
03
04
05
06
1
Temas de Sermões - 2º Lugar
Fé
Amor ao Próximo
CompromissoCristão
Gráfico 08
Na segunda colocação encontram-se os temas: fé (02), compromisso
cristão (02), e amor ao próximo (02). Neste momento observa-se um maior
equilíbrio nas respostas, ambos os temas recebem duas (02) respostas.
Novamente é preciso destacar que se os pastores classificaram esses temas
aliados à visão teológica metodista é de se esperar uma conexão de suas
práxis pastorais com ações ativas de solidariedade no mundo, tendo em vista
que na perspectiva metodista, “fé”, “compromisso cristão” e “amor ao próximo”
não estão ligadas apenas a aspectos intimistas da religiosidade ou ações
internas à fiéis da comunidade religiosa, mas envolvimento ativo em favor do
ser humano em sua totalidade.
203 Cf. IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. Plano para a Vida e Missão da Igreja. São Paulo: Editora Cendro, 20001; RUNYON, Theodore. A Nova Criação: a Teologia de João Wesley. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002.
120
00
01
02
03
04
05
06
1
Temas de Sermões - 3º Lugar
Amor aoPróximoCompromissoCristãoSalvação
Gráfico 09
Em terceiro lugar encontram-se os temas: Amor ao próximo (03),
salvação (02), compromisso cristão (01). Como se vê, neste ponto aparece a
prevalência do tema “amor ao próximo”. Já em quarto lugar pode se ver os
temas: fé (02), compromisso cristão (02), envolvimento social (01),
Solidariedade e cidadania (01). A novidade da lista da quarta colocação é o
aparecimento do tema do “envolvimento social” e da “solidariedade e
cidadania”, esse último assunto em especial, numa conexão mais direta com o
tema da presente pesquisa, no entanto assinalado apenas por um pastor, como
mostra a indicação do número um (01) em parênteses.
00
0102
03
04
05
06
1
Temas de Sermões - 4º Lugar
EnvolvimentoSocialFé
Solidariedade eCidadaniaCompromissoCristão
Gráfico 10
Na quinta colocação entre os temas mais abordados pelos pastores em
seus sermões encontram-se os seguintes assuntos: envolvimento social (03),
fé (01), dons espirituais (01), compromisso cristão (01). Observe que neste
121
ponto há a supremacia do tema do “envolvimento social” em relação aos
demais assuntos. Esse é outro tema recorrente que possui estreita conexão
com o assunto abordado por esta pesquisa, já que na visão metodista
“envolvimento social” não está ligado apenas a ações transitórias, mas
compromisso cristão ativo no sentido de se envolver e promover ações sociais
que fomentem a justiça e a dignidade humana.
Em sexta posição, aparecem os temas: Solidariedade e cidadania (02),
dons espirituais (2), envolvimento social (01), compromisso cristão (01). Um
destaque neste ponto é que pela primeira vez o tema da “solidariedade”
aparece de forma direta no gráfico cinco (05) em equilíbrio com os outros
temas. Em sétimo lugar, os pastores indicaram como temas prioritários de
suas mensagens: Solidariedade e cidadania (02), dons espirituais (02),
envolvimento social (01), cura (01). Neste ponto, o tema da “solidariedade”
volta novamente de forma direta a demonstrar certo equilíbrio em relação aos
demais temas. Na oitava posição se observa os assuntos: Libertação espiritual
(04), dons espirituais (01), cura (01). Já em nono e décimo lugares se nota os
temas: prosperidade (03), cura (02), dons espirituais (01).
A julgar pela tradição metodista, sobretudo no que se refere à
compreensão dos temas classificados nas primeiras colocações do gráfico seis
(06), é de se esperar por parte dos pastores pesquisados uma conexão desses
temas com ações ligadas a solidariedade humana, frente aos inúmeros
problemas e dramas que assolam a sociedade.
122
3.3.2.2.2.2. Atividades Pastorais mais Atrativas
Após examinar os temas mais tratados nos sermões dos pastores
metodistas, chegou o momento de refletir sobre as atividades que mais atraem
esses líderes em suas práxis pastorais. Este assunto está relacionado à
pergunta de número cinco (05) do questionário.
A questão de número cinco (05) do questionário investigava qual
atividade pastoral mais atraia os pastores metodistas, para isso eles tinham à
sua disposição várias alternativas para escolherem uma opção. Entre essas
alternativas estavam:
a) Aconselhamento;
b) Administração Eclesiástica;
c) Atividade Social;
d) Ensino;
e) Pregação.
Dentre as diversas atividades pastorais disponíveis para encolha, a
maioria dos pastores optou pelo “ensino”, como atividades que mais lhes atrai
no ministério pastoral, como indicado no gráfico abaixo com suas respectivas
classificações:
00
01
02
03
04
05
06
Número de respostas
Atividade Pastoral mais Atrativa
Aconselhamento
Adm. Eclesiástica
Atividade Social
Ensino
Pregação
Visitas Pastorais
Gráfico 11
123
Classificando os dados presentes no gráfico onze (11), observa-se que o
ensino recebeu quatro (04) respostas, seguido da atividade de “pregação” e
“aconselhamento” com uma (01) resposta cada. As demais atividades listadas
não receberam nenhuma resposta.
Pode ser que a escolha dos pastores pela opção “ensino” entre as
atividades pastorais que mais lhe atraem no pastorado, esteja ligada à vocação
histórica do metodismo pela educação. Ademais, Igrejas Protestantes
Históricas, como no caso da Igreja Metodista, possuem um forte acento nos
livros e cultura letrada204, daí talvez uma outra explicação para a escolha do
“ensino” entre as atividades mais agradáveis para os pastores pesquisados205.
O importante de se frisar a respeito desse resultado é que, a julgar pela
escolha dos pastores, pode-se deduzir que se estes têm algum compromisso
com uma práxis pastoral solidária, o desenvolvimento nesta se manifesta a
partir do viés do ensino.
3.3.2.2.3. O Pastor e o Desenvolvimento da Práxis Solidária em âmbito
Eclesial: Ações incentivadas aos fiéis.
Em outro momento observou-se que os pastores, em sua maioria,
afirmaram entender ser importante o desenvolvimento de uma práxis pastoral
204 Conf. CAMPOS, Leonildo Silveira. Protestantismo Histórico e Pentecostalismo no Brasil: Aproximações e Conflitos. op.cit. p.106. Segundo este autor, o livro e a cultura letrada, marcas da modernidade no protestantismo, ocuparam uma centralidade muito forte no protestantismo de missão inserido no Brasil. O contrário do pentecostalismo, que possui na oralidade uma forte ênfase. 205 No segundo capítulo, quanto apresentado as características do/a pastor/a metodista, ficou evidente a importância que o papel docente ocupa no ministério pastoral metodista.
124
solidária com vistas a combater os males que assolam a sociedade brasileira,
bem como o envolvimento da Igreja nesta direção. Após analisar os temas
mais abordados pelos pastores em seus sermões, bem como suas atividades
pastorais prediletas, urge neste instante investigar como se desenvolve a
práxis pastoral metodista solidária em âmbito comunitário. Para esse objetivo
serão apresentadas algumas realidades indicadas no questionário respondido
pelos pastores.
Uma primeira questão objeto de investigação entre os pastores é se
eles, como líderes religiosos, incentivam os fiéis de suas igrejas a participarem
de ações solidárias junto à sociedade. Essa questão foi abordada na pergunta
de número seis (06) do questionário e todos responderam que sim. Nesta
mesma pergunta os pastores tiveram que completar sua resposta, destacando
quais atividades eles incentivavam junto a seus paroquianos. Para esse fim
tiveram à sua disposição algumas alternativas, a saber:
a) Ecologia e Meio Ambiente;
b) Educação Popular;
c) Movimento pela Paz e outros;
d) Mutirão para Construção de Casas Populares;
e) Projetos Sociais - Creche/orfanato etc;
f) Visita a hospitais;
g) Outros
Essas alternativas eram apenas provocativas, se desejassem os
pastores poderiam indicar outras ações que não estavam contempladas no
leque de ações sugeridas. No quadro abaixo é possível visualizar as opções
125
escolhidas pelos pastores como ações incentivadas em sua práxis pastoral
junto a igreja.
0
1
2
3
4
5
6
Números de votos
Ecologia e MeioAmbiente
Educação Popular
Movimento pela Paz eOutros
Mutirão paraConstrução de CasasPopularesProjetos Sociais -Creche/Orfanato/Asilo,etc.Visita a Hospitais
Outros
Gráfico 12
Pelo gráfico doze (12) é possível verificar que apenas a opção “mutirão
para construção de casas populares” e “outros” não foram indicados pelos
pastores, as demais alternativas todas receberam votos. Entre as opções que
mais foram votadas está a alternativa “Projetos Sociais – Creche/Orfanato/Asilo
etc.” Talvez essa indicação seja pelo fato de no Distrito de Piracicaba algumas
Igrejas desenvolverem trabalhos desta natureza. Soma-se a esse dado o fato
de no distrito existirem muitas outras instituições não governamentais deste
gênero servindo a população. Assim é de algum modo natural que
determinados pastores no distrito liguem suas práxis pastorais solidárias a
essas instituições.
Em relação as outras opções elencadas pelos pastores metodistas
pesquisados como atividades solidárias incentivadas em âmbito comunitário,
126
vale a pena fazer alguns destaques. Primeiramente, considerando a alternativa
“movimentos pela paz e outros”, pode-se afirmar que a escolha desta
alternativa entre alguns pastores, tem a ver com a longa tradição ecumênica
metodista de envolvimento e participação em movimentos que trabalham pela
paz e outros de caráter similar, que buscam construir um mundo mais digno e
humano para todos.
Em segundo lugar, em relação a alternativa “Ecologia e Meio Ambiente”,
indicado por alguns pastores, como uma das atividades motivadas em âmbito
comunitário, acompanha a vocação histórica metodista indicada acima de
compromisso e envolvimento em ações que contribuam para a construção de
um mundo melhor, onde ser humano e a natureza habitem em harmonia. Além
disso, a natureza ocupa uma importância singular na teologia metodista.206
Em terceiro lugar, avaliando a escolha da alternativa “Educação
Popular”, como uma realidade incentivada pelos pastores em âmbito eclesial
para que os fiéis de suas igrejas participem, pode ser compreendido a partir da
tradição metodista de envolvimento com a educação, como uma forma de
libertação e desenvolvimento humano.
Em quarto lugar, a “visita a hospitais”, alternativa também classificada
entre os pastores como atividade que motiva a participação dos fiéis de suas
igrejas, segue a longa tradição cristã de misericórdia, sustento e
acompanhamento às pessoas enfermas. As Igrejas Protestantes Históricas, da
206 Para maior aprofundamento sobre a relação do metodismo e a natureza consultar: RUNYON, Theodore. A Nova Criação: a Teologia de João Wesley. São Bernardo do Campo: Editeo, 2002
127
qual a Igreja Metodista faz parte, possuem geralmente trabalhos singulares
nesta área.
Prosseguindo a análise do questionário, uma segunda realidade
investigada entre os pastores em relação às suas práxis pastorais junto às
igrejas que pastoreiam, se refere ao desenvolvimento do tema da solidariedade
no espaço cúltico. A resposta dos pastores em relação a esta pergunta foi que
sim, isto é, que desenvolvem temas relacionados à solidariedade nos cultos.
Frente a resposta positiva dos pastores é preciso destacar que para a Igreja
Metodista, a experiência cúltica, longe de ser uma experiência meramente
contemplativa, integra a dimensão do serviço, isto é, equilibra a vivência de
atos de piedade e obras de misericórdia. 207
Em seguida foram desafiados a apresentar uma relação de ações
solidárias que expressam e motivam os fiéis de suas comunidades no culto.
Essa relação pode ser conferida na tabela quatro (04).
207 Neste sentido afirmam os bispos da Igreja: “O culto tem uma dimensão horizontal e outra vertical. A dimensão vertical é contemplada pelos atos de piedade realizados pelos filhos e filhas de Deus por meio das orações, das ações de graças, dos louvores, das meditações, da leitura das Escrituras, etc. A dimensão horizontal é contemplada pelas obras de misericórdia realizadas pela igreja quando ela abre para a missão e o serviço ao povo, por meio do socorro prestado aos que sofrem as dores do corpo, da alma e do espírito. O culto é, a um tempo só, uma chamado e um envio para o serviço, especialmente aos mais necessitados. Portanto, o culto é um encontro um diálogo entre Deus e o Seu povo, dos fiéis entre si e da igreja com o mundo. (...) O verdadeiro Culto, portanto, é aquele que se evidencia no serviço a Deus, no exercício dos diversos dons e ministérios, no compromisso com a vida e com a dignidade humana, na luta pela paz e pelos mais altos valores da vida, na solidariedade, na vivência do Evangelho e o dos valores do Reino de Deus. IGREJA METODISTA. COLÉGIO EPISCOPAL. O Culto da Igreja em Missão. São Paulo: Editora Cedro, 2006, p. 10-12.
128
TABELA 04
QUESTÃO “7”
RELAÇÃO DE AÇÕES SOLIDÁRIAS EXERCIDAS E INCENTIVADAS
NO CULTO PELOS PASTORES AOS FÍEIS DA IGREJA
Pela tabela de número quatro (04) observa-se que o pastor “A” indica
como ações solidárias incentivadas em âmbito comunitário nos momentos
cúlticos as seguintes atividades: “Visitas ao Asilo”, “Ações junto às crianças do
Ponto Missionário da Igreja”; “Apoio à Creche” da Igreja e “solidariedade aos
excluídos” através de seus sermões.
O pastor “B” responde que exerce e motiva os fiéis da Igreja a
exercerem práxis solidárias no culto a partir de ações como: “Aconselhamento”,
“Acompanhamento a Famílias com Problemas”; “Incentivo a visitas aos doentes
pelos fiéis”; “Orientação às famílias que tenham filhos presos/viciados”. Já o
IDENT. AÇÕES EXERCIDAS
E INCENTIVADAS NO CULTO
IDENT.
AÇÕES EXERCIDAS
E INCENTIVADAS NO CULTO
Pastor “A”
• Visita ao Asilo; • Ações junto às crianças e
adolescentes do Ponto Missionário;
• Apoio à nossa Creche (95 crianças);
• Sermões: desafio à igreja a agirem com solidarie-dade aos excluídos.
Pastor “B”
• Aconselhando; • Acompanhamento de
famílias com problemas; • Incentivando visitas aos
doentes; • Orientando as famílias que
tem filhos presos/viciados.
Pastor “C”
Amor ao próximo e ajudar sem
interesses egoístas.
Pastor “D”
• Visitação aos enfermos da
Igreja principalmente. • Ajudar, amparar aqueles
que estão necessitados.
Pastor “E”
Penso que ao trabalhar a questão do amor em momentos de ensino, nos sermões, nos aconselha-mentos, sempre trago a proposta de ações solidárias no convívio comunitário.
Pastor “F”
O envolvimento da Igreja com questões sociais, no amor ao próximo, sendo fermento de Cristo, lutando contra qualquer tipo de preconceito.
129
pastor “C” indica que no culto incentiva sua igreja a demonstrar “amor ao
próximo” sem interesse egoísta, como forma de uma expressão solidária no
mundo.
O pastor “D” salienta que entre as ações solidárias que motivam os fiéis
de sua igreja no culto estão: “Visita aos enfermos”, principalmente da igreja;
“ajuda e amparo aos necessitados”. Pela resposta do pastor “E” deduz-se que
suas ações de incentivo a práxis solidárias no culto concentram-se na
motivação aos fiéis à vivência do princípio ético do “amor” em suas relações.
Por fim, o pastor “F” afirma que entre as ações desenvolvidas no culto para
incentivo a comunidade à práxis solidária, está: “Envolvimento com questões
Sociais”, demonstração de ética de “Amor ao Próximo”, e, “Luta contra o
Preconceito”.
Observa-se, que apesar de notar nas repostas dos pastores
determinadas ações voltadas para o interior de suas comunidades religiosas, é
possível identificar por parte de alguns destes líderes certos esforços, mesmo
que superficiais, no sentido de correlacionar suas ações em âmbito cúltico com
práxis solidária. Tal constatação é importante, tendo em vista que no tempo
presente, como se tem destacado nesta pesquisa, a religiosidade assume
formas altamente alienantes, desconectadas com a vida social e os dramas
humanos. Neste sentido, as respostas da tabela quatro (04) podem indicar que
uma parcela dos pastores metodistas do Distrito Eclesiástico de Piracicaba
procuram conjugar na vivência cúlticas de suas igrejas a experiência mística e
o serviço.
130
Uma terceira realidade, investigada no questionário respondido pelos
pastores se refere à sua práxis pastoral pedagógica ou docente junto às
comunidades que representam, especificamente, se esses líderes investiam
esforços em suas ações docentes para trabalhar o tema da solidariedade.
Todos responderam que sim. Em seguida, foram desafiados a descreverem
algumas dessas ações docentes desenvolvidas em relação ao tema da
solidariedade. O resultado desta consulta pode ser constatado na tabela de
número cinco (05).
TABELA 05
QUESTÃO “8”
DIMENSÃO PEDAGÓGICA DA PRÁXIS PASTORAL SOLIDÁRIA
IDENT. ÀREAS ONDE AS
AÇÕES PEDAGÓCIAS SÃO DESENVOLVIDAS
IDENT.
ÀREAS ONDE AS AÇÕES PEDAGÓCIAS SÃO DESENVOLVIDAS
Pastor “A”
Através da Liturgia, Ser-mão e Estudos Bíblicos motivo a Igreja a viver a dimensão Solidária apresentada pela palavra de Deus.
Pastor “B”
__________________
Pastor “C”
Através de uma vida ecumênica. Sem amor ninguém verá a Deus.
Pastor “D”
Porque Deus é Solidário para conosco. E uma das maneiras de expressarmos o nosso amor para com o outro.
Pastor
“E”
Geralmente nos estudos realizados na caminhada da Igreja, existe sempre a relação, e mais, o desafio para que coloquemos em prática o amor ao próximo.
Pastor
“F”
Ensinando a Igreja a cidadania, pois quando temos uma experiência com Deus a conseqüência é ser solidário (a).
Conforme observado, a tabela de número cinco (05) oferece um quadro
geral das respostas dos pastores sobre o quesito ações pastorais
docente/pedagógicas desenvolvidas em âmbito comunitário em relação ao
131
tema da solidariedade. A análise e interpretação destes dados aparecem na
seqüência desta página.
O pastor “A” indica que trabalha a questão da práxis solidária através da
“Liturgia”, “Sermões” e “Estudos Bíblicos”, como expressão de sua ação
docente/pedagógica na igreja. Este pastor oferece em sua práxis docente, em
âmbito eclesial, um exemplo de como é possível conjugar variados elementos
da dimensão cúltica no fomento de uma práxis pedagógica de incentivo a
ações solidárias no emprego de respostas aos problemas que tocam a
humanidade.
Em contrapartida, o pastor “B” se exime em responder em que dimensão
comunitária trabalha a práxis solidária. Neste sentido não há como avaliar sua
práxis em relação ao quesito indicado. Já o pastor “C” salienta que privilegia os
espaços de vivência da dimensão “Ecumênica” como ambiente de
desenvolvimento de sua ação docente/pedagógica de incentivo eclesial à
práxis solidária. Num mundo marcado por problemas macros e complexos,
onde urge expressões de práxis solidária, a resposta deste pastor chama a
atenção para a importância do investimento em ações pastorais em nível
docente que despertem os fiéis das igrejas cristãs para atividades conjuntas
com outras igrejas ou grupos religiosos, com vistas ao bem-estar da sociedade,
a partir das enormes possibilidades que a vivência ecumênica permite.
O pastor “D”, apesar de apresentar uma resposta, não deixa claro o
espaço eclesial onde expressa sua dimensão pedagógica da práxis solidária.
Com respeito ao pastor “E”, ele afirma que desenvolve sua ação docente de
132
incentivo à práxis solidária nos diversos espaços/momentos de “Estudos” na
vivência da igreja. Por fim, o pastor “F”, sugere que em sua ação docente
privilegia os variados espaços de “Ensino”, em âmbito comunitário, como
ambientes de expressão e incentivo da práxis solidária.
Pelas respostas dos pastores na tabela de número cinco (05), no que
tange à questão do desenvolvimento de ações solidárias em âmbito
comunitário, em suas práxis pedagógicas, observa-se certo empenho por parte
de vários desses líderes em correlacionar suas atividades pastorais docentes
no sentido de incentivar entre os fiéis de suas igrejas ações solidárias.
Efetuada a apresentação, análise e interpretação dos dados coletados a
partir de uma pesquisa de campo, tendo como objeto de estudo os pastores
metodistas do Distrito Eclesiástico de Piracicaba, 5ª Região Eclesiástica,
conclui-se o presente capítulo. Nas páginas seguintes, processar-se-á com o
desenvolvimento das considerações finais da presente pesquisa, que propôs
investigar a práxis pastoral metodista, em especial, sua expressão solidária
nestes tempos de globalização.
133
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa foi orientada pela busca em compreender como se
evidencia a práxis pastoral solidária em uma Igreja Protestante de vertente
histórica, no caso específico, a Igreja Metodista, nestes tempos de globalização
econômica. Contexto em que se observa o aumento da miséria e exclusão
social em escala mundial. Como a análise das práxis solidárias dos pastores e
pastoras metodistas em âmbito nacional se demonstrava inviável à pesquisa,
dado a amplitude que tal intento comportaria, optou-se metodologicamente por
investigar, através de um estudo de caso, a práxis solidária dos pastores
metodistas do Distrito Eclesiástico de Piracicaba. Portanto, os resultados
socializados na atual pesquisa compreendem estritamente o referido perímetro
de atuação do pastores investigados. Vale relembrar ainda, que o universo de
líderes religiosos pesquisados contou com o número de seis (06) pastores.
A pesquisa não contemplou o ministério pastoral feminino metodista,
tendo em vista que no Distrito Eclesiástico de Piracicaba não possui pastoras
134
no exercício do ministério pastoral ativo junto às igrejas locais, apenas em
instituições metodistas, por isso, a razão da omissão do termo práxis solidária
das pastoras metodistas, na apresentação, análise e interpretação dos dados,
no capítulo dedicado ao estudo de caso.
Entende-se que se fosse possível integrar na pesquisa a contribuição da
práxis pastoral solidária das pastoras metodistas, certamente isto traria riqueza
à pesquisa, já que como indica Pinto o “carisma social” parecer ser uma das
marcas do ministério pastoral feminino metodista desde sua gênese.208 Eis aí
um desafio que fica aos futuros/as pesquisadores/as da área de práxis religiosa
e sociedade, investigar em outro momento em um dos Distritos Eclesiásticos
da Igreja Metodista, em conjunto com os clérigos masculinos ou
especificamente entre o corpo pastoral feminino, a práxis pastoral das pastoras
metodistas no que tange a seu comprometimento com a solidariedade.
Todavia, o pesquisador considera que ausência das pastoras entre os
pesquisados não prejudica ou comprometa substancialmente a presente
pesquisa.
Socializando os resultados da investigação da práxis dos pastores
metodistas pesquisados, observa-se que de modo geral esses líderes
religiosos possuem uma compreensão teórica do que seja práxis pastoral
solidária, isto é, um esforço de ordem pastoral no sentido de integrar ações na
expressão do ministério individual e comunitário no cotidiano com vistas a
atenuar os dramas e os sofrimentos que assolam o ser humano nestes tempos
de cultura e sociedade globalizada.
208 PINTO, Elena Alves Silva. O Carisma Social nas Pastoras Metodistas . Dissertação de Mestrado. São Bernardo do Campo: UMESP, 2002.
135
Um fator determinante para isto parece ser a formação pastoral
oferecida pela Igreja Metodista, que como visto, privilegia uma leitura teológica
contextualizada e libertadora, integrada à realidade social. Diferentemente de
certos segmentos protestantes ou evangélicos209 mais fundamentalistas ou
conservadores, defensores de uma teologia escapista e a-histórica, em que
envolvimento social não é contemplado.
Ademais, observa-se, que além de uma formação teológica libertadora,
a igreja coloca à disposição de seus pastores e pastoras uma diversidade de
subsídios literários, documentos, livros e literaturas que ofereçam suporte
teórico para uma presença e ação pastoral solidária na sociedade. Entre estes
materiais literários citados pelos pastores produzidos pela igreja aparecem os
seguintes:
1. Cânones da Igreja Metodista;
2. O Credo Social;
3. Pastorais Episcopais;
4. Pastoral Indígena,
5. Plano para a Vida e Missão da Igreja;
6. Plano Nacional Missionário,
7. Revista de Escola Dominical.
Um segundo resultado indicado pela pesquisa é que os pastores
pesquisados demonstram desenvolver atividades com alguma conexão com
aquilo que se denominou ser práxis pastoral solidária. Logicamente que
determinadas ações desses líderes religiosos passam por interpretações e
motivações práticas de cunho privado, isto é, voltadas ao âmbito de suas 209 Termo polissêmico, bastante popular, que abarca, assim como um grande guarda chuva, os vários seguimentos protestantes no Brasil: protestantes históricos, pentecostais, neo-pentecostais.
136
comunidades religiosas. Todavia de um modo geral observa-se a abertura e/ou
esforços em fazer pontes com ações que promovam interação entre a igreja e
a sociedade, na busca por responder determinados dramas e sofrimentos que
afetam as pessoas menos favorecidas e problemas mundiais. Tomando como
exemplo, os temas indicados pelos pastores, a partir de uma lista oferecida a
eles, aparecem as seguintes ações incentivadas em âmbito comunitário:
a) Ecologia e Meio Ambiente;
b) Educação Popular;
c) Movimento pela Paz e Outros;
d) Projetos Sociais - Creche/orfanato etc;
e) Visita a hospitais.
Considerando a resposta dos pastores pesquisados sobre a atividade
que mais lhe agrada no ministério pastoral, parece que o instrumento
privilegiado de promoção em âmbito comunitário ou eclesial de suas práxis
solidárias é o “ensino”. O fundamento de tal conclusão por parte do
pesquisador encontra seu embasamento na afirmação de muitos pastores de
que entre as atividades que mais lhe satisfazem no ministério pastoral estava o
“ensino”, essa opção foi indicada por ampla maioria dos pastores, como se
pode constatar na pesquisa.
Sem entrar no mérito da escolha dos pastores pelo “ensino” como
atividade que mais preferem no ministério, deve-se afirmar que considerando
que os pastores pesquisados privilegiam o ensino como atividades onde
fomentam entre seus fiéis os esforços por desenvolverem práxis solidária, os
pastores têm ao seu favor um importante aliado, pois a educação é um meio
137
“poderoso” de promoção da libertação e autonomia humana, bem como meio
eficiente para levar os indivíduos a se tornarem sujeitos sociais engajados na
história, como muito bem demonstrou o educador brasileiro Paulo Freire210.
Os espaços de celebrações, isto é, os momentos litúrgicos parece ser
outro ambiente em que os clérigos pesquisados encontram para fomentar em
âmbito eclesial o engajamento de seus fiéis com uma práxis solidária. Afirma-
se isto, porque muitos pastores indicaram estes espaços como ambientes onde
desenvolvem sua práxis pedagógica junto à igreja em relação ao tema
proposto: solidariedade.
Refletindo sobre esta questão, é preciso afirmar que apesar da
privatização do culto na contemporaneidade, do ponto de vista da teologia
prática (práxis religiosa e sociedade), o momento cúltico constitui um espaço
privilegiado para o desenvolvimento de ações pedagógicas com vistas a
fomentar nos fiéis uma práxis transformadora e libertadora, como as ações
solidárias. Os pastores têm razão na escolha deste espaço para promover a
aprendizagem de práxis solidária, já que o espaço cúltico ou litúrgico conjuga
vários elementos que permitem a construção de uma ação pedagógica que
gere “compromisso cristão”, por exemplo:
a) Escolha no momento cúltico de músicas religiosas com letras
que levem a reflexão sobre os temas sociais211;
210 FREIRE possui várias obras em que demonstra o poder da educação como instrumento de autonomia e libertação, entre estas destacamos: FREIRE, Paulo. Educação como Prática da Liberdade. 11ª Edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 4 Ed. São Paulo: Paz e Terra, 1997. 211 Apesar da cultura Gospel, termo utilizado para classificar no Brasil um gênero musical que abarca todas as tendências, não privilegiar letras musicais que despertem para o envolvimento cristão, é possível ainda encontrar no contexto brasileiro músicas que falam de compromisso social cristão.
138
b) Uso de materiais “audiovisuais”, “slides”, “transparências”, isto
é, tecnologias que oportunizem a reflexão pessoal e coletiva
dos fiéis sobre problemas sociais, sofrimento humano,
realidades locais, nacionais e mundiais que dizem respeito ao
bem comum. Um espaço privilegiado para isso pode ser, no
caso do culto cristão, o momento da confissão;
c) Prédica ou sermões que abordem a preocupação com os
dramas que tocam a sociedade.
d) Uso de dramatizações, como teatro, jograis, esquetes que
reproduzam textos bíblicos que reportem a questão do
envolvimento social cristão ou chamem a atenção para
problemas sociais atuais.
Estes são apenas alguns exemplos, em âmbito cristão, de como é
possível à partir de uma ação pastoral docente, construir uma práxis litúrgica
libertadora, ou seja, ações que oportunizem o fortalecimento de uma piedade e
espiritualidade engajada entre os fiéis de determinada denominação cristã, com
vistas a desenvolverem uma práxis solidária na sociedade.
Um terceiro resultado apontado pela pesquisa é que entre as diversas
situações de práxis solidária desenvolvida pelos pastores, está o incentivo do
envolvimento dos fiéis com instituições de “Ação Social” da própria
denominação. Este é um destaque importante do ponto de vista da práxis
religiosa e sociedade, pois demonstra que as comunidades às quais estes
líderes pastoreiam, souberam integrar suas estruturas – ou outras propriedades
dessas denominações –, no sentido de promover o benefício social na cidade
onde está inserida.
139
Além disso, esse exemplo apontado acima é uma demonstração de
possibilidades de ações pastorais na contemporaneidade, que podem ser
assumidas pelos líderes religiosos no incentivo de suas comunidades em
relação ao exercício da práxis solidária, ou seja, o pastor pode ser agente
motivador da igreja que pastoreia na criação de uma Instituição de Ação Social
no bairro onde sua comunidade está inserida, com o propósito de atender os
desafios da localidade ou cidade.
Refletindo sobre os fatores positivos para a implementação dessa
iniciativa, isto é, criação de uma instituição de Ação Social pelas igrejas,
motivadas pelo pastor, é preciso lembrar que as igrejas protestantes
geralmente possuem estruturas privilegiadas, que são pouco utilizadas. Em sua
maioria essas comunidades religiosas usam suas estruturas apenas no final de
semana, o restante dos dias ficam ociosas, isto indica que os demais dias da
semana podem ser utilizados para cumprir um papel social junto a sociedade.
Ademais, outro ponto a favor é que muitas igrejas protestantes ou evangélicas,
estão em localizações carentes, ou no máximo próximo de alguma área onde
tal iniciativa traria benefícios enormes à sociedade local que vive em volta
dessa comunidade religiosa.
Urge afirmar ainda, que os governos e/ou instituições não-
governamentais possuem normalmente certo interesse em estabelecer
parcerias com instituições religiosas visando firmar convênios para
empreendimentos em ações que possibilitem a promoção da vida humana e/ou
140
diminuição dos problemas que assolam a sociedade, como pobreza, violência,
analfabetismo, desemprego, combate ao racismo, etc.212
Um quarto e último resultado indicado pela pesquisa, igualmente
importante para o estudo da área de práxis religiosa e sociedade, refere-se a
constatação da ausência, na práxis pastoral solidárias desses líderes religiosos
incentivados em âmbito eclesial, de ações que motivem os fiéis dessas
comunidades religiosas à participação em esferas públicas ou políticas de
decisão, entre eles, associação de bairros, fóruns populares, programas
municipais de orçamento participativo, etc., como meios ou caminhos para
efetivação de ações solidárias na sociedade.
Não há como determinar as causas de tal modalidade indicada acima,
isto é, o envolvimento da igreja em esferas públicas ou políticas de decisão não
figurar entre as ações motivadas em âmbito eclesial pelos pastores a seus fiéis
com vista à construção de políticas públicas que propiciem a promoção de uma
sociedade solidária. Todavia, é preciso frisar que tal modalidade é um meio
eficiente que podem ser integrado por qualquer pastor ou pastora entre as
ações pastorais pedagógicas de incentivo aos integrantes de suas
comunidades religiosas, com vista a construir uma práxis solidária na cidade,
pois como afirma Castro, “o futuro do país está sendo determinado, cada vez
mais, pelo futuro das cidades”, já que nelas estão as instâncias de poder, os
organismos de decisão. 213
212 Quanto às ações entre igreja e instituições não-governamentais, vale a pena consultar: LOPES, Nicanor. Responsabilidade Social e Terceiro Setor: Uma análise critica da Associação Beneficente Campineira da Igreja Metodista à Luz da Teologia Prática. Dissertação de Mestrado. São Bernardo do Campo, UMESP, 2003. 213 CASTRO, Clovis Pinto de. Por uma Fé Cidadã: A Dimensão Pública da Igreja. São Bernardo do Campo/São Paulo: UMESP/Loyola, 2000, p. 116.
141
Concluindo estas reflexões relacionadas à pesquisa, é preciso afirmar,
que apesar de se fazer a constatação de que no Distrito Eclesiástico de
Piracicaba os pastores metodistas possuem uma compreensão conceitual do
termo práxis pastoral solidária e certo desenvolvimento de uma práxis solidária,
tal constatação não pode ser estendida a todos os pastores e pastoras
metodistas em nível nacional, tendo em vista que na contemporaneidade se
observa muitos pastores e pastoras metodistas seduzidos/as por outros
modelos pastorais que não o defendido pela igreja, que como visto, encontra
conexão com o que se procurou delinear nesta pesquisa ser práxis pastoral
solidária.
142
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152
153
ANEXOS
154
(Anexo 1)
Questionário para Pastores
Por favor, responda às questões abaixo:
1) Qual é a sua Idade?
( ) 20-30 ( ) 31-40 ( ) 41-50 ( ) 51 ou acima
2) Há quantos anos você exerce o Pastorado?
( ) 1-5 ( ) 6 -10 ( ) 11-15 ( ) 16-20 ( ) 21-25
( ) 26-30 ( ) 31-35 ( ) 36-40 ( ) 41-45 ( ) 46-50 ou mais
3) Qual é o seu entendimento de Práxis de Solidariedade?
( ) Ajuda de cestas básicas às pessoas necessitadas
( ) Variados esforços no sentido de aliviar os dramas e sofrimentos das
pessoas menos favorecidas e excluídas da sociedade.
( ) Assistência social a fiéis da comunidade local.
4) Quais são os temas/assuntos que mais aborda em seus sermões?
(Classifique suas respostas em ordem crescente, ou seja, de 1 a 10 de
acordo com a importância)
( ) Prosperidade ( ) Fé ( ) Salvação
( ) Libertação Espiritual ( ) Amor ao próximo ( ) Cura
( ) Dons Espirituais ( ) Solidariedade e Cidadania
( ) Envolvimento Social ( ) Compromisso cristão
155
5) Que Tipo de Atividade mais lhe atrai no ministério pastoral?
( ) Pregação ( ) Visitas pastorais ( ) Ensino
( ) Atividade Social ( ) Aconselhamento ( ) Administração eclesiástica
6) Você se envolve ou incentiva os membros de sua Igreja a participarem de
ações solidárias junto à sociedade?
( ) Sim ( ) Não
Que tipo?
( ) Projetos sociais - Creche/orfanato/asilo etc ( ) Visita a hospitais
( ) Movimentos pela paz e outros ( ) Mutirão para construção
( ) Educação popular de casas populares
( ) Ecologia e Meio ambiente ( ) Outros _____________
7) Você apresenta e desenvolve questões relacionadas à solidariedade
no culto da igreja à qual pastoreia?
( ) Sim ( ) Não
Se Sim, que tipo de ações:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
8) Você compreende que é importante, na atualidade, desenvolver uma práxis
pastoral solidária junto à sociedade?
( ) Sim ( ) Não
Justifique sua resposta:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
156
9) Na dimensão pedagógica da práxis pastoral você trabalha o tema da
solidariedade?
( ) Sim ( ) Não
Se sim, exemplifique:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
10) Os documentos da Igreja Metodista têm fundamentado sua práxis pastoral
da solidariedade?
( ) Sim ( ) Não
Se Sim, cite 2 ou 3 documentos:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
11) Você acha que a Igreja de Jesus Cristo deve estar envolvida com
ações solidárias em favor da sociedade brasileira e do mundo?
( ) Sim ( ) Não
Justifique sua resposta:
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
157
TERMO DE CONSENTIMENTO
EU_________________________________________RG: ________________
CPF: _______________, autorizo a utilização das respostas deste questionário
para fins acadêmicos.
_________________________, ________de_______________de ________
________________________________
Assinatura
158
(Anexo 2) Piracicaba, 06 de abril de 2007. A
Rev. Paulo Dias Nogueira
Superintendente do Distrito de Piracicaba
Estimado Rev. Paulo; Graça e Paz! Conforme é do conhecimento do irmão estou cursando o Programa de Pós-
Graduação em Ciência da Religião da Universidade Metodista de São Paulo,
onde desenvolvo a pesquisa intitulada: O Ministério Pastoral Metodista: Um
Estudo de Caso sobre a Práxis de Solidariedade no Contexto de Globalização.
Como se trata de uma pesquisa que propõe um estudo de caso, escolhi os
Pastores Ativos do Distrito de Piracicaba como objeto de estudo, para tanto é
necessário a aplicação de um questionário junto aos pastores para aferir
alguns dados. Deste modo, venho por meio desta solicitar ao irmão autorização
para aplicação deste questionário para dar continuidade a minha pesquisa.
Deste já agradeço pela vossa compreensão e esclareço que os dados serão
utilizados única e exclusivamente para fins acadêmicos.
Atenciosamente,
Rev. Márcio Divino de Oliveira Presbítero Ativo da 5ª RE da Igreja Metodista
159
(Anexo 3)
Piracicaba, 08 de abril de 2007
Ref.: Autorização para pesquisa
Estimado irmão
Rev. Márcio Divino de Oliveira
Graça e paz!
Em resposta a sua solicitação, datada de 06 de março próximo passado, autorizo-o a
aplicar o referido questionário, visando coletar dados para sua dissertação de mestrado.
Reconheço a relevância de sua pesquisa e desejo que a mesma possa trazer novos
desafios ao ministério pastoral da Igreja Metodista. Num mundo marcado pela filosofia
neoliberal, que tem gerado individualismo e egoísmo, o tema solidariedade deve constar na
pauta de estudos e reflexões do ministério pastoral.
Desejo-lhe um bom trabalho.
Rev. Paulo Dias Nogueira Superintendente do Distrito de Piracicaba
160
(Anexo 4)
Igreja Metodista - 5ª Região Eclesiástica Relatório de Estatísticas - Referente ao ano de: 2005
12)- DISTRITO DE CAMPINAS Igrejas Locais - Membros Leigos em 31de dezembro de 2004 Masc Femi Total 01 - Amparo 9 14 23 02 - Bairro São Bernardo em Campinas 17 43 60 03 - Campestre 192 252 444 04 - Campinas (Central) 226 356 582 05 - Hortolândia 24 56 80 06 - Jardim do Lago em Campinas 34 48 82 07 - Jardim Miranda em Campinas 14 34 48 08 - Jardim Pacaembu em Campinas 12 18 30 09 - Mogi Guaçu 14 15 29 10 - Monte Mor 16 18 34 11 - Poços de Caldas 237 482 719 12 - Valinhos 141 207 348 13 - Vargem Grande do Sul 25 41 66 14 - Vila Joaquim Inácio em Campinas 87 131 218 13)- DISTRITO DE PIRACICABA Igrejas Locais - Membros Leigos em 31de dezembro de 2004 Masc Femi Total 01 - Americana 29 46 75 02 - Betânia em Piracicaba 49 75 124 03 - Capivari 25 36 61 04 - Ebenézer em Piracicaba 24 38 62 05 - Limeira (Central) 75 99 174 06 - Matão em Piracicaba 26 54 80 07 - Paulista em Piracicaba 47 65 112 08 - Piracicaba (Central) 172 294 466 09 - Wesley em Limeira 18 22 40 14)- CAMPOS MISSIONÁRIOS REGIONAIS Igrejas Locais - Membros Leigos em 31de dezembro de 2004 Masc Femi Total 01 - Amambai 9 18 27 02 - Barra do Garças 11 10 21 03 - Bataguassú 47 59 106 04 - Bela Vista 17 24 41 05 - Cassilândia 41 61 102 06 - Corumbá 26 40 66 07 - Cuiabá 19 45 64 08 - Guarantã do Norte 21 31 52 09 - Jaciara 5 12 17 10 - Palmas 28 42 70 11 - Peixoto de Azevedo 33 65 98 12 - Porto Nacional 26 84 110 13 - Sinop 4 3 7 14 - Tangará da Serra 30 30 60 15 - Três Lagoas 10 20 30 16 - Vila Rica 37 43 80 Secretaria Regional de Estatística da Igreja Metodista - 5.ª Região Eclesiástica – Folha 08
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FICHA CATALOGRÁFICA
OL4m Oliveira, Marcio Divino de Ministério pastoral metodista no distrito eclesiástico de Piracicaba: um estudo de caso sobre a práxis de solidariedade no contexto da globalização / Marcio Divino de Oliveira.-- São Bernardo do Campo, 2007. 160fl. Dissertação (mestrado em Ciências da Religião)--Faculdade de Filosofia e Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2007 Orientação de: Geoval Jacinto da Silva 1. Teologia pastoral 2. Igreja Metodista – Brasil – Piracicaba (SP) 3. Prática (Teologia) 4. Solidariedade 5. Globalização econômica I. Título CDD 253.70981