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UNIVERSIDADE PARANAENSE
CAMPUS FRANCISCO BELTRÃO
SAÚDE MENTAL E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: DESCONSTRUINDO A BANALIZAÇÃO
DAS INTERSECCIONALIDADES
BETANIA FIORI FERLA
Acadêmica do curso de Psicologia
Rua Pernambuco, 560, Centro – Francisco Beltrão – PR
CEP: 85601-300
FERNANDA GABRIELA DE QUADROS SCHEUER
Acadêmica do curso de Psicologia
Rua Clevelândia, 1560, Vila Nova – Francisco Beltrão – PR
CEP: 85601-680
MARIA LUIZA PADILHA COMIM
Acadêmica do curso de Psicologia
Rua Erminia Romani, 80, Marrecas – Francisco Beltrão – PR
CEP: 85601-477
TATIANE PECORARO
Mestra em Educação
Professora de Psicologia da Universidade Paranaense – Campus Francisco Beltrão – PR
Rua Vitório Scatola, 100, ap 01, Centro – Salgado Filho – PR
2018
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SAÚDE MENTAL E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: DESCONSTRUINDO A BANALIZAÇÃO
DAS INTERSECCIONALIDADES
RESUMO
O tema violência doméstica tornou-se muito discutido na atualidade, não apenas porque as mulheres
têm exposto com mais frequência tais abusos, mas também há um estímulo para que as pessoas que
passam por essa situação tragam à tona problemas que possam ser discutidos e auxiliados por
profissionais das mais diversas áreas. Dessa forma, este estudo buscou esclarecer as questões que
norteiam a violência doméstica e as interseccionalidades relacionadas a esse quadro cada vez mais
crescente no contexto social brasileiro e, também relacionar os prejuízos recorrentes da violência
doméstica que acentuam as dificuldades na saúde mental. Assim, se propôs como objetivo geral do
estudo cartografar os engendramentos da violência doméstica e sua interconexão com a saúde
mental. Para isto, utilizou-se a abordagem pós-estruturalista que tem como principal proposta a
recusa dos fundamentos tradicionais da filosofia e áreas afins, e a partir daí, questiona e transforma
os princípios teóricos já postulados e reproduzidos pela sociedade, questionando as ideias binárias.
E ainda dentro do contexto metodológico, este estudo é de cunho bibliográfico, pois procurou
abranger a bibliografia já tornada pública em relação ao tema estudado e a partir do material
levantado se propôs uma abordagem qualitativa. Portanto, este trabalho se justifica por considerar a
importância do tema nas várias esferas da sociedade brasileira, já que os índices de violência
doméstica no país só demonstram aumento, e buscou refletir sobre o papel do psicólogo nesse
contexto, apresentando e discutindo os direitos das mulheres, bem como, verificando quais são os
agravantes que antecedem a violência doméstica e seus pressupostos e as consequências para a
saúde mental das vítimas, bem como formas de intervenção para melhorar a saúde mental e física
das vítimas.
PALAVRAS-CHAVE: Violência Doméstica; Lei Maria da Penha; Interseccionalidades;
Intervenção Psicossocial.
MENTAL HEALTH AND DOMESTIC VIOLENCE: DECONSTRUCTING THE
BANALIZATION OF INTERSECCIONALITIES
ABSTRACT
The issue of domestic violence has become much discussed nowadays, not only because women
have more frequently exposed such abuses, but there is also a stimulus for these people who go
through this situation to bring up problems that can be discussed and aided by professionals from
the most diverse areas. Thus, this study sought to clarify the issues that guide domestic violence and
intersectionalities related to this growing picture in the Brazilian social context and also to relate to
the recurrent losses of domestic violence that accentuate the difficulties in mental health. Then, it
was proposed as the general goal of this study mapping the engendering of domestic violence and
its interconnection with mental health. For this, it was used the post-structuralist that has as main
proposal the refusal of the traditional foundations of philosophy and related areas, and from this, it
questions and transforms the theoretical principles already postulated and reproduced by the
society, questioning the binary ideas. And yet within the methodological context, this study is also
bibliographic, since it sought to cover the bibliography already made public in relation to this
subject and from the material raised a qualitative approach. Therefore, this work is justified
2
considering the importance of the theme in the several spheres of Brazilian society, since the
domestic violence rates in the country only show an increase, and sought to reflect on the role of the
psychologist in this context, presenting and discussing the rights of women, as well as checking the
aggravating factors prior to domestic violence and the assumptions and consequences for the
victims mental health, and the ways of intervening to improve the mental and physical health of the
victims.
KEYWORDS: Domestic Violence; Maria da Penha Law; Intersectionalities; Psychosocial
Intervention.
SALUD MENTAL Y VIOLENCIA DOMÉSTICA: DESCONSTRUYENDO LA
BANALIZACIÓN DE LAS INTERSECCIONALIDADES
RESUMEN
El tema de la violencia doméstica se ha vuelto muy discutido en la actualidad, no sólo porque las
mujeres han expuesto con más frecuencia tales abusos, pero también hay un estímulo para que las
personas que pasan por esa situación traigan a la superficie problemas que puedan ser discutidos y
auxiliados por profesionales de las más diversas áreas. De esta forma, este estudio buscó esclarecer
las cuestiones que orientan la violencia doméstica y las interseccionalidades relacionadas a ese
cuadro cada vez más creciente en el contexto social brasileño y, también relacionar los perjuicios
recurrentes de la violencia doméstica que acentúan las dificultades en la salud mental. Así, se
propuso como objetivo general del estudio cartografiar las situaciones de la violencia doméstica y
su interconexión con la salud mental. De esa forma, se utilizó el enfoque post-estructuralista que
tiene como principal propuesta el rechazo de los fundamentos tradicionales de la filosofía y áreas
afines, ya partir de ahí, cuestiona y transforma los principios teóricos ya postulados y reproducidos
por la sociedad, cuestionando las ideas binarias. Y aún dentro del contexto metodológico, este
estudio es de cuño bibliográfico, pues procuró abarcar la bibliografía ya hecha pública en relación al
tema estudiado ya partir del material levantado se propuso un abordaje cualitativo. Por lo tanto, este
trabajo se justifica por considerar la importancia del tema en las diversas esferas de la sociedad
brasileña, ya que los índices de violencia doméstica en el país sólo demuestran aumento, y buscó
reflexionar sobre el papel del psicólogo en ese contexto, presentando y discutiendo los derechos de
las mujeres así como, verificando cuáles son los agravantes que preceden a la violencia doméstica y
sus supuestos y las consecuencias para la salud mental de las víctimas, así como formas de
intervención para mejorar la salud mental y física de las víctimas.
PALABRAS CLAVE: La violencia doméstica; Ley Maria da Penha; Interseccionalidades;
Intervención Psicosocial.
Introdução
O tema violência doméstica tornou-se muito discutido na atualidade, não apenas porque as
mulheres têm exposto com mais frequência tais abusos, mas também há um estímulo para que as
pessoas que passam por essa situação tragam à tona problemas que possam ser discutidos e
auxiliados por profissionais das mais diversas áreas.
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O que se percebe é que a violência doméstica se constitui em um sério problema de saúde
pública, atravessado nas classes econômicas, social, religiosa ou cultural. Assim, violência
doméstica pode ser conceituada, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2000),
como as manifestações de violência de caráter físico, sexual e psicológico, abrangendo a agressão
física, o abuso sexual de crianças, mutilação genital na mulher, violação, e outras práticas lesivas
das mulheres, incluindo o feminicídio que atinge números bem elevados no Brasil1, que acontecem
na família e na comunidade, perpetradas ou condenadas pelo Estado.
Dessa forma, este estudo trata de questões que norteiam a violência doméstica e as
interseccionalidades relacionadas a esse quadro cada vez mais crescente no contexto social
brasileiro e, também visibilizar os prejuízos recorrentes da violência doméstica que acentuam as
dificuldades na saúde mental. Para isto, utilizou-se a abordagem pós-estruturalista que tem como
principal proposta a desconstrução dos fundamentos tradicionais da filosofia e áreas afins, e a partir
daí, questiona e transforma os princípios teóricos já postulados e reproduzidos pela sociedade,
questionando as ideias binárias. Conforme Lather (1993)2 apud Cardozo (2014), as teorias pós-
estruturalistas ofereceram um rico campo de reflexão para a prática da pesquisa, promovendo a
heterogeneidade, buscando uma validade flexível, uma forma de comportamento por meio de
múltiplas aberturas, recusando a mera revelação de um conhecimento prévio, o qual esteja em
“algum lugar do universo” pronto para ser capturado e aplicado como verdade absoluta.
Nesse contexto pós-estruturalista, Guareschi e Scarparo (2008, p.22) afirmam que “a
proposição de novos olhares sobre a pesquisa não implica necessariamente a invenção de novos
métodos, mas sim a inserção de outros modos de interrogar nossos objetos de pesquisa.” As autoras
também assumem que uma das opções do pós-estruturalismo supõe o abandono definitivo dos
ideais de neutralidade científica, que o pesquisador precisa se posicionar e que “a pesquisa deve ser
compreendida como integrante da dimensão sociopolítica dos tempos e espaços vividos.”
(IBAÑEZ, 19943 apud GUARESCHI; SCARPARO, 2008, p.22)
“Ao centralizar a compreensão do sujeito na rede discursiva na qual ele é produzido, a
análise de comportamentos, de perspectivas individualistas e de interioridade do sujeito é deslocada
1 Entre 2009-2011, foram registrados 16.993 feminicídios no Brasil, chegando a um média assustadora de 5,82 óbitos
por 100.000 mulheres. In: Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil, IPEA, 2013. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/130925_sum_estudo_feminicidio_leilagarcia.pdf> Acesso em:
02/0818.
2 LATHER, P. Fertile obsession: Validity after poststructuralism. Sociological Quarterly. Vol. 34, n. 4, 1993, p. 673-
693.
3 IBAÑEZ, T. La construcción del conocimiento desde una perspectiva sociocontrucionista. In: Conocimiento,
Realidad e Idelogia. v.6, 1994, p.38-48.
4
para o diálogo com as práticas culturais nas quais ele é produzido” (GUARESCHI; SCARPARO,
2008, p.23). Portanto, o que se observa é que as perspectivas pós-estruturalistas induzem o debate
científico propondo o discurso e a linguagem como elementos centrais das produções teóricas,
tornando os processos culturais e políticos elementos fundantes da construção do conhecimento
(GUARESCHI; SCARPARO, 2008).
Assim, propõe-se como objetivo geral do estudo cartografar os engendramentos da violência
doméstica e sua interconexão com a saúde mental, tendo como objetivos secundários: a) conceituar
violência doméstica e suas categorias; b) apontar os agravantes recorrentes das interseccionalidades
neste contexto da violência doméstica; c) ressaltar os interpostos da violência doméstica na saúde
mental das pessoas que sofrem tais abusos; d) propor possibilidades de intervenção psicossocial
nesta temática.
Ainda dentro do contexto metodológico, pode-se afirmar que este estudo é de cunho
bibliográfico, pois conforme Marconi e Lakatos (2008, p.57), procura abranger a bibliografia já
tornada pública em relação ao tema estudado, “desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas,
livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc. (...). “Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito (...) (MARCONI; LAKATOS, 2008, p.57).
A seleção dos materiais foi realizada baseando-se em leituras sobre o tema e dentro da abordagem
pós-estruturalista. O eixo central foi trazer inicialmente a questão do gênero, para depois explicar os
conceitos de violência doméstica e a importância da Lei Maria da Penha, para na sequência situar o
leitor sobre as intervenções psicossociais e como a violência doméstica é experimentada nas
diversas afectações de quem a sofre.
Portanto, este trabalho se justifica por considerar a importância do tema nas várias esferas da
sociedade brasileira, já que os índices de violência doméstica no país só demonstram aumento,
assim este estudo buscou refletir sobre o papel do psicólogo nesse contexto, apresentando e
discutindo os direitos das mulheres, bem como, verificando quais são os agravantes que antecedem
a violência doméstica e seus pressupostos e as consequências para a saúde mental das vítimas.
Outra justificativa plausível para a elaboração deste estudo foi o nosso interesse em
pesquisar sobre tema, já que tivemos a oportunidade de estagiar em um local onde os sujeitos
atendidos sofriam violência doméstica e a interseccionalidade se apresentou de forma tão clara.
Poder vivenciar na prática tais situações fez crescer em nós a vontade de expandir e aprofundar
nossos conhecimentos sobre o assunto, bem como discuti-lo de forma mais analítica, já que tivemos
a chance de conviver com essas vítimas.
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Interseccionalidade no contexto da violência doméstica
A perspectiva de gênero é uma abordagem que considera a diversidade dos processos de
socialização de homens e mulheres, contrapondo-se ao entendimento do enfoque hegemônico,
clássico, cujas consequências impactam a vida de relações dos seres humanos, tanto no plano
individual quanto no coletivo, distanciando a mulher das possibilidades de sua emancipação social
(FONSECA; GUEDES, 2011).
Assim, o que se observa é que a perspectiva de gênero foi utilizada para explicar e
compreender a violência contra mulher e trabalhar com o reconhecimento de que, na hierarquia de
poderes presente na sociedade, a mulher sempre ocupou posição social inferior, sofrendo injustiça
social, em virtude das desigualdades construídas e naturalizadas historicamente (FONSECA;
GUEDES, 2011).
Nesse sentido, Silveira e Nardi (2015) enfatizam que é nesse contexto de explicitação sobre
diferentes vetores de subjetivação e o campo de possibilidades de existência que se deve reconhecer
a importância do conceito de interseccionalidade. Conforme Crenshaw (2002, p. 177)4 apud
Silveira e Nardi (2015, p.59), “a interseccionalidade é uma conceituação do problema que busca
capturar as consequências estruturais e dinâmicas da interação entre dois ou mais eixos de
subordinação”. Crenshaw (2002)5 apud Silveira e Nardi (2015) ainda propõe que existem eixos de
poder estabelecidos pelo patriarcado, pelo racismo e pela luta de classes e constrói a imagem de um
cruzamento de avenidas, em que o fluxo dos tráfegos vai definir a multiplicidade de opressões as
quais a pessoa estará submetida, definindo mais ou menos ‘poder’ em suas relações.
Dessa forma, o que se percebe é que o modelo hegemônico da mulher universal foi
profundamente abalado a partir do conceito de interseccionalidade, que visibilizou a necessidade de
compreensão articulada de como as categorias de sexo/gênero, classe e raça produzem efeitos
singulares nas experiências de vida das mulheres em contextos de dominação construídos
historicamente em diversas partes do mundo (VIGOYA, 2008).
É necessário reconhecer que as dinâmicas das relações de gênero têm pontos de encontro
com outras dinâmicas sociais em que as diferenças produzem desigualdades, discriminações e
violências (CRUZ, 2015). “Gênero não é uma dimensão encapsulada, nem pode ser vista como tal,
mas ela se intersecciona com outras dimensões recortadas por relações de poder, como classe, raça
4 CRENSHAW, K. Documento para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao
gênero. Revista Estudos Feministas, n. 10, 2002. p. 177-188.
5 Idem.
6
e idade” (DEBERT; GREGORI, 2008, p.4). Na maioria das vezes tais diferenças implicam em
relações de poder que transformam as diferenças em desigualdades. Para acessar a complexidade da
violência de gênero, é preciso desvendar as estruturas e seus mecanismos a partir da perspectiva de
gênero, o que não ocorre em geral, na sociedade (CRUZ, 2015). A violência de gênero é uma das
expressões dessas relações de poder entre masculinos e femininos que objetiva manter as relações
de desigualdade e de subalternidade entre homens e mulheres ou entre quem se comporta e
apresenta performances atribuídas ao gênero feminino (CRUZ, 2015).
A mulher tem sido tradicionalmente compreendida no contexto de um “universo feminino”
que compõe os processos de reprodução social. Assim, a importância e o significado das relações
sociais entre os sexos foram historicamente negligenciados, pois, a visão essencialista dominante
tem valorizado a mulher enquanto reprodutora da espécie humana e o seu papel na família voltado,
sobretudo, para o cuidado dos filhos, do lar e da vida doméstica (FONSECA; GUEDES, 2011).
As mesmas autoras acrescentam que o mundo ocidental constituiu e socializou a identidade
da mulher e do homem sob a ótica patriarcal de sujeição e tal enfoque possibilitou que o processo
de construção social e cultural do sexo ou da diferença sexual passasse a ser vincado pela ideologia
capitalista, classista e pela desigualdade social. Ou seja, na modernidade capitalista, o sexismo, que
é a essência da sociedade patriarcal, constitui uma das formas de hierarquização para a dominação
que contém elementos de duas importantes categorias sociológicas: a desigualdade e a exclusão
(FONSECA; GUEDES, 2011).
Dessa forma, Fonseca e Guedes (2011) acrescentam que a contradição de gênero é uma das
quatro grandes contradições da sociedade ocidental, sendo as outras três, a de classe, a de raça/etnia
e a de geração. Para as autoras, o patriarcado foi-se produzindo tendo gênero como pano de fundo,
mesclando-se com o racismo e, com o advento do capitalismo, as classes sociais floresceram em sua
plenitude e valorizaram as gerações de maneira diferenciada.
Pode-se afirmar então que a categoria gênero, por se referir a uma construção social
transversal a todos os campos desse universo, e incorporada e se articula com outras categorias,
como classe, raça, gerações. Neste sentido, Meyer (1996) argumenta que gênero é mais do que o
lugar onde as subjetividades sexuadas são produzidas, enquanto discurso, ele produz e é produzido,
organiza e é organizado e, portanto, atravessa, modula e regula o próprio contexto social. Coelho
(2001) enfatiza que as relações de gênero, uma vez permeadas pelas relações de poder, assumem
perspectivas ampliadas de análise, sendo incorporadas à estudos de relações sociais
interdisciplinares e institucionais.
Assim, com base nessa reflexão, Coelho (2001) esclarece que a compreensão da violência
contra a mulher, como fenômeno que tem em suas origens a desigualdade de gênero presente na
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sociedade, o que exige a articulação entre múltiplas categorias inter-relacionadas, uma vez que
gênero perpassa todos os campos do social e das relações de poder da sociedade, que legitimam a
subordinação feminina, alimentando as condições para que ocorra a violência e opressão sobre um
grande número de mulheres.
Com relação à violência de gênero, Minayo (2006) destaca que a violência, quando
praticada contra mulheres, para ser compreendida, precisa ser vista sob a perspectiva de gênero,
pois distingue um tipo de dominação estruturalmente construída nas relações entre homens e
mulheres, atravessando classes sociais, etnias e faixas etárias. Para a autora, a violência com contra
a mulher consiste em um fenômeno que, embora diga respeito a relações que envolvam homens e
mulheres, incide principalmente sobre as mulheres, tornando-as vítimas por razões sexuais e
conjugais.
Bourdieu (2003) argumenta que a lógica da relação de dominação chega a impor nos
homens e nas próprias mulheres todas as propriedades negativas que o machismo dominante atribui
à natureza feminina e nesse sentido, a visão patriarcal é continuamente confirmada e legitimada
pelas próprias práticas que determina, fazendo com que as mulheres incorporem o preconceito
desfavorável contra o feminino. Sendo assim, a dominação masculina tem todas as condições
favoráveis para seu pleno exercício, uma vez que a primazia masculina se firma e é incorporada por
toda a estrutura social (BOURDIEU, 2003).
Para Fonseca e Guedes (2011), a violência constitui a forma perversa de uma relação de
poder fundamentada no gênero que se traduz numa relação de dominação na qual quase sempre as
mulheres são desfavorecidas e apesar da dominação masculina estar dentro do imaginário feminino,
isso não significa afirmar que as mulheres são responsáveis pela sua própria opressão e que a
escolhem conscientemente ou que se gratificam em adotar práticas submissas. A submissão
feminina é muitas vezes citada como pretexto para se culpar as mulheres, mas é importante
assinalar que essa construção não é um ato consciente e sim resultante de mecanismos ideológicos
da sociedade (FONSECA; GUEDES, 2011).
Guedes (2006) acrescenta que muitas vezes a permanência de muitas mulheres em relações
em que são submissas ao poder masculino envolve múltiplos aspectos, desde a dependência, seja
econômica ou afetiva do parceiro, até supostas gratificações que a relação traz pela realização
pessoal de manterem o modelo idealizado de mulher, que mantém a relação afetiva e a família
nuclear, mesmo que, para isso, tenha que se anular como ser humano sujeito de sua existência.
Segundo Pitanguy (2002), a invisibilidade da violência que ainda persiste não se encontra no
que se identifica como violência propriamente dita, ou seja, nas agressões físicas, estupros e
homicídios, mas na situação social, política, cultural e econômica da mulher na sociedade e no
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imaginário social sobre o feminino e sua inferioridade na hierarquia de poder presente nas relações
de gênero.
Portanto, compreendemos que a violência de gênero, por sua vez, envolve a determinação
social dos papéis masculino e feminino e que toda sociedade pode atribuir diferentes papéis ao
homem e à mulher, isso, todavia, adquire caráter discriminatório quando a tais papéis são
atribuídos pesos com importâncias diferenciadas. O que percebemos é que no caso da nossa
sociedade, os papéis masculinos são supervalorizados em detrimento dos femininos, e mais,
notamos que os papéis impostos às mulheres e aos homens, consolidados ao longo da história e
reforçados pelo patriarcado e sua ideologia, induzem relações violentas entre os sexos, o que não
deveria acontecer em relações respeitosas.
Violência Doméstica
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002), a violência caracteriza-se pelo
uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra
pessoa, ou contra uma comunidade ou grupo que possa levar a morte ou derivar lesão, dano
psicológico e problemas de desenvolvimento ou privação. Ainda de acordo com a OMS (2002), a
violência é classificada em: a) violência auto infligida, dirigida contra si próprio; b) violência
interpessoal classificada em duas esferas: violência intrafamiliar ou doméstica que ocorre entre
parceiros íntimos ou membros da família e; c) violência comunitária que ocorre no ambiente social,
entre conhecidos e desconhecidos.
Corroborando com o que conceitua a OMS (2002), Antunes (2003)6 apud Pinto (2009),
afirma que o termo violência doméstica pode ser entendida, como qualquer ato, conduta ou omissão
que sirva para infligir, reiteradamente e com intensidade, sofrimentos físicos, sexuais, mentais ou
econômicos, de modo direto ou indireto (por meio de ameaças, enganos, coação ou qualquer outro
meio), a qualquer pessoa que habite o mesmo agregado doméstico privado (pessoas-crianças,
jovens, mulheres adultos, homens adultos ou idosos que vivem em ambiente comum) ou que, não
habitando o mesmo ambiente doméstico privado que o agente da violência, seja cônjuge ou
companheiro marital ou ex-cônjuge ou ex-companheiro marital.
Nesse sentido Alves (2015) afirma que a violência se caracteriza de diversas formas, pois
pode apresentar marcas visíveis a exemplo da violência física e, também marcas sutis através da
6 ANTUNES, M. Violência e vítimas em contexto doméstico. In: MACHADO, C.; GONÇALVES, R.A
(Coordenadores). Violência e Vítimas de crimes, Vol I: Adultos. Coimbra: Quarteto, 2003.
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violência psicológica, trazendo danos expressivos à estrutura emocional do sujeito agredido. Com
relação à violência doméstica, mais particularmente, Pinto (2009) aponta que esta causa um impacto
psicológico já que as vítimas geralmente desenvolvem problemas psicológicos como perturbações
de estresse pós-traumático, depressão e abuso de álcool.
Assim, Gonçalves e Machado (2003)7 apud Pinto (2009) descrevem que o impacto da
violência doméstica pode refletir em três esferas: a) a vitimização direta que em termos genéricos,
que é o dano físico, material e psicológico, como resultado direto da ação do agressor; b) a
vitimização secundária decorrente das respostas de outros, geralmente da justiça e; c) a vitimização
resultado da observação dos crimes em outras pessoas que são vítimas e do sofrimento vivenciado
por elas e seus familiares.
Nesse contexto, é necessário reconhecer que a violência contra a mulher é uma força social
herdada da ordem patriarcal e dotada de capacidade estruturante da realidade social (BANDEIRA,
2017). Bandeira (2017) ainda enfatiza que essa modalidade é expressiva na sociedade brasileira,
sendo carregada de significados e significações, e cujas relações sociais são permeadas por relações
de dominação e de poder, nas quais a carga simbólica é tão determinante quanto as demais.
Entende-se dessa forma que este tipo de violência está dentro da sociedade desde sempre, e embora
esteja emergindo apenas há poucas décadas, a violência de gênero é uma das expressões dessas
relações de poder entre masculinos e femininos “que objetiva manter as relações de desigualdade e
de subalternidade entre homens e mulheres ou entre quem se comporta e apresenta performances
atribuídas ao gênero feminino” (CRUZ, 2015).
Nesse sentido, o machismo dentro de nossa sociedade é muito visível, já que demonstra a
dominação sistemática das mulheres pelos homens por meio de instituições, comportamentos e
formas de pensar, que conferem maior valor, privilégio e poder aos homens (ou ao que tem sido
historicamente identificado como masculino) (WARREN, 20008 apud KOCH, 2016). E dentro
dessa sociedade doente pela violência e estruturada em premissas machistas, espera-se que as
mulheres assumam papéis servis, pautados na candura, no falar baixo, no não contrariar, no
respeitar para ser respeitada, como se respeito fosse moeda de troca (KOCH, 2016). A mulher
precisa ser respeitada pelo que ela é, sendo mulher e capaz de realizar suas vontades, sem
sofrimentos, injustiças ou violência.
7 GONÇALVES, R.A.; MACHADO, C. Vitimologia e Criminologia. In: MACHADO, C.; GONÇALVES, R.A
(Coordenadores). Violência e Vítimas de crimes, Vol I: Adultos. Coimbra: Quarteto, 2003.
8 WARREN, K. Ecofeminism philosophy: a western perspective on what it is and why it matters. Rowmman&
Littlefield Publishers, 2000.
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Por conseguinte, Dias (2010) argumenta que a violência doméstica deva ser uma das mais
frequentes, mas talvez seja a menos denunciada, já que muitas vezes a vítima não percebe que
agressões verbais, silêncios prolongados, manipulações de atos e desejos, tensões, são violências e
devem ser denunciadas. Assim, o que percebemos é que a falta de denúncia na primeira agressão
pode ser causada pelo receio de separar-se do companheiro, ou que ele seja preso, ou que também a
vítima só busca ajuda quando já se cansou de apanhar. Dias (2010) acrescenta que pode ocorrer
ainda, que ela permaneça numa relação que lhe cause sofrimento e dor, durante anos sem nunca
denunciar seu agressor. Muitas vezes por medo, insegurança, sofrimento, depressão etc.,
observamos que muitas mulheres permanecem em silêncio por falta de opção ou por não saber
como lidar de forma adequada com a situação.
Violência doméstica de acordo com a Lei Maria da Penha
Para iniciar este tópico optamos por contextualizar os tipos de violência a fim de
compreender a importância da Lei supracitada. Santos et al. (2015) argumenta que a violência física
é entendida como qualquer conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal, já a violência
psicológica é qualquer conduta que cause danos emocionais e diminuição da autoestima ou que
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento que vise degradar ou controlar ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à saúde
psicológica e à autodeterminação.
E a violência sexual, entende-se como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a
manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso
da força (SANTOS et al., 2015). Cita-se também a violência patrimonial que é qualquer conduta
que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de
trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades, e por fim a violência moral que configura calúnia,
difamação ou injúria (SANTOS et al., 2015).
E por envolver questões legais, torna-se relevante nos apropriar de alguns temas do direito
para entender melhor a situação da mulher no contexto da violência doméstica e a importância da
Lei Maria da Penha. Assim, ao compreender que a mulher brasileira tem passado por todos esses
tipos de violência no decorrer da história e para que a vítima de tais agressões tivesse os cuidados
jurídicos necessários, entrou em vigor da Lei 11.340, a partir de 22 de agosto de 2006, chamada de
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Lei Maria da Penha, batizada em virtude da luta da bio-farmacêutica Maria da Penha Maia
Fernandes, vítima de um grande número de violência praticada por seu marido, o professor
universitário e economista Marco Antônio H. Viveiros, no ambiente familiar, que resultou em uma
tentativa de homicídio causando-lhe uma irreversível paraplegia (DIAS, 2010). Guimarães e
Moreira (2014) expõem que a luta de Maria da Penha começou a partir do momento em que foi
vítima por duas vezes de tentativa de homicídio por parte de seu marido, em 1984. Em uma das
vezes, ele tentou assassiná-la pelas costas deixando-a paraplégica; em um segundo momento,
devido à frustração da primeira tentativa, Marco Antônio buscou assassinar Maria da Penha
eletrocutada9.
De acordo com Fernandes (2012), o processo em favor de Maria da Penha tramitou na
justiça brasileira durante quase vinte anos sem que o agressor fosse realmente penalizado, mas a
história mudou quando Maria da Penha começou a ganhar visibilidade, em 1994, quando escreveu o
livro intitulado “Sobrevivi, posso contar”. Motivada por sua história pessoal e pela negligência da
justiça brasileira em relação à violência doméstica contra a mulher, em 1998, Maria da Penha
denunciou o governo brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da
Organização dos Estados Americanos (OEA), que reconheceu a negligência brasileira em relação a
este caso (FERNANDES, 2012).
Em 2001, a CIDH por meio do Relatório n°54 responsabilizou o Estado Brasileiro pelo
descumprimento do compromisso estabelecido na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher, em que se comprometeu a dar atenção especial aos casos de
violência contra a mulher (GUIMARÃES; MOREIRA, 2014). Para os mesmos autores, a justiça
brasileira com toda pressão sofrida pela referida Comissão, direcionou atenção especial ao caso de
Maria da Penha e, no ano de 2002, puniu o agressor com pena de prisão que durou o prazo de dois
anos. Dessa forma, a Lei Maria da Penha é a que preserva e auxilia as pessoas que sofrem de maus
tratos no âmbito familiar e que garante a proteção da mulher e de seus filhos para prevenir e impedir
a continuação de situações de violência. (SANTOS et al., 2015).
Nesse contexto, Lima (2011) acrescenta que a assistência à mulher vítima de violência
doméstica deva ser realizada de acordo com as políticas públicas de proteção específicas, as
diretrizes da Lei Orgânica de Assistência Social, do Serviço Único de Saúde e Serviço Único de
Segurança Pública. Além disso, o artigo 29 da Lei Maria da Penha prevê o trabalho de equipe
multidisciplinar para atendimento da vítima e avaliação de suas necessidades (BRASIL, 2006). E
ainda de acordo com esta Lei, foram criados os Juizados Especializados para julgar os crimes 9 Depois de quatro meses passados em hospitais e diversas cirurgias, Maria da Penha voltou para casa e sofreu mais
uma tentativa de homicídio: o marido tentou eletrocutá-la durante o banho. (FERNANDES, 2012).
12
previstos na referida legislação. Estes órgãos da justiça poderão contar com equipe multidisciplinar
para prestar assistência e encaminhar as vítimas para programas de atenção e assistência social,
visando resguardá-las de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência ou exploração,
conforme previsto no artigo 3°, parágrafo 1°, da referida lei (BRASIL, 2006).
Dessa forma, torna-se importante apresentar o quadro a seguir que apresenta algumas
comparações de antes e depois da promulgação da lei.
Quadro 1: Lei Maria da Penha (antes e depois)
Como era antes da Lei 11.340/2006 Como é com a Lei 11.340/2006
Não existe lei específica sobre a violência doméstica
contra a mulher.
Tipifica e define a violência física contra a mulher.
Não estabelece as formas de violência. Estabelece as formas de violência doméstica contra a
mulher em: física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral.
Aplica lei dos Juizados Especiais Criminais para os casos
de violência doméstica.
Retira dos Juizados Especiais Criminais a competência
para julgar os crimes de violência doméstica contra a
mulher.
Não trata da relação de pessoas do mesmo sexo. Determina que a violência doméstica contra a mulher
independe da orientação sexual.
Permite a aplicação de penas pecuniárias como as cestas
básicas.
Proíbe a aplicação de penas.
A mulher pode desistir da denúncia na delegacia. A mulher somente poderá renunciar perante o juiz.
A autoridade policial efetua um resumo dos fatos, por
meio de Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO).
Prevê um capítulo específico para o atendimento pela
autoridade policial para os casos de violência doméstica
contra a mulher.
A lei não utiliza a prisão em flagrante do agressor. Possibilita prisão em flagrante.
A violência doméstica contra mulher não é considerada
agravante de pena.
Altera o Código Penal para considerar este tipo de
violência como agravante de pena.
O crime de violência doméstica é de 6 meses a 1 ano. O crime de violência doméstica passa a ser de 3 meses a 3
anos.
Não prevê o comparecimento do agressor a programas de
recuperação e reeducação.
Permitir que o juiz determinasse o comparecimento
obrigatório do agressor e programas de recuperação e
reeducação.
FONTE: BRASIL (2006)
A partir dos dados acima, percebe-se a relevância legal e social da Lei, e para corroborar
com tais argumentações julgamos importante apresentar alguns dados estatísticos fornecidos pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2015) que afirma segundo o IBGE, “que a cada
ano, cerca de 1,2 milhão de mulheres sofrem agressões no Brasil.” Pelas estimativas do IPEA
(2015), destas, 500 mil são estupradas, sendo que somente 52 mil ocorrências chegam ao
conhecimento da polícia. Daniel Cerqueira, diretor do IPEA (2015) lembrou que até 1995, mesmo
depois da Constituição Cidadã, a mulher não poderia prestar queixa na delegacia contra o
companheiro, e até 2009 o estupro era um crime contra os costumes – não contra a dignidade e
liberdade sexual e segundo ele, é uma história trágica, que começou a ser superada com a Lei Maria
13
da Penha. E juntamente com estas informações, o IPEA (2015) acrescenta que a Lei Maria da Penha
“fez reduzir em cerca de 10% a taxa de homicídio contra as mulheres dentro das residências, ou
seja, foi responsável por evitar milhares de casos de violência doméstica.”
Para o IPEA (2015), a formulação e sanção da Lei Maria da Penha foi um dos mais
empolgantes exemplos de amadurecimento democrático no Brasil, pois contou com a participação
ativa de organizações não governamentais feministas, Secretaria de Política para Mulheres,
academia, operadores do direito e o Congresso Nacional. E ainda a lei incorporou aspectos
inovadores ao tratar de forma integral o problema da violência doméstica e ao considerar a
necessidade de implantação de serviços e medidas protetivas para garantir direitos e tentar levar a
paz aos lares (IPEA, 2015).
O IPEA (2015) após um grande estudo, avaliou que a Lei Maria da Penha afetou o
comportamento de agressores e vítimas de três formas: a) aumento do custo da pena para o
agressor; b) aumento do empoderamento e das condições de segurança para que a vítima pudesse
denunciar; e c) aperfeiçoamento dos mecanismos jurisdicionais, possibilitando ao sistema de justiça
criminal que atendesse de forma mais efetiva os casos envolvendo violência doméstica. Estes três
elementos somados fizeram aumentar o custo esperado da punição, com potenciais efeitos para
dissuadir a violência doméstica.
Em termos mais gerais, uma inovação importante da Lei Maria da Penha é que esta procurou
tratar de forma integral o problema da violência doméstica, e não apenas da imputação de uma
maior pena ao ofensor. Com efeito, esta legislação ofereceu um conjunto de instrumentos para
possibilitar a proteção e o acolhimento emergencial à vítima, isolando-a do agressor, ao mesmo
tempo que criou mecanismos para garantir a assistência social da ofendida (IPEA, 2015). Além
disso, a lei previu: a) os mecanismos para preservar os direitos patrimoniais e familiares da vítima;
b) sugeriu arranjos para o aperfeiçoamento e efetividade do atendimento jurisdicional; e c) previu
instâncias para tratamento do agressor (IPEA, 2015).
Ainda conforme os estudos realizados pelo IPEA (2015), mesmo a Lei sendo em âmbito
nacional, os seus efeitos deveriam se dar de forma mais heterogênea no país, uma vez que o
aumento da probabilidade de condenação depende da institucionalização dos serviços descritos na
lei, ou seja, nos locais onde a sociedade e o poder público não se mobilizaram para implantar
delegacias de mulheres, juizados especiais, casas de abrigo etc., é razoável imaginar que a crença
dos residentes não tenha mudado substancialmente no que se refere ao aumento da probabilidade de
punição.
14
Assim, entender o processo de institucionalização territorial das políticas prescritas pela lei,
é crucial para se pensar não apenas na efetividade dos instrumentos, mas também o futuro da
agenda de políticas públicas e formas de intervenção relacionadas ao tema da violência doméstica.
Analisando os dados, percebemos um grande avanço no sentido da minimização da
violência contra as mulheres com o advento da Lei, mas o que se observa é que ainda há muito a se
fazer no país, pois apenas nos últimos anos é que as vítimas estão se pronunciando e denunciando
seus agressores.
Nesse sentido, a Lei Maria da Penha representa uma grande conquista para as mulheres e
para a sociedade, além de ser uma segurança de que esses direitos sejam garantidos, já que a Lei
constitui também um compromisso do Estado.
Quanto ao profissional de psicologia, compreendemos que ele deva acompanhar os casos de
agressão familiar/domiciliar, pois isso se enquadra nos preceitos da Lei Maria da Penha e que esse
profissional deva priorizar a proteção da família e não apenas focar na mera condenação do agressor
como o sistema jurídico o faz.
Entendemos que uma das possíveis soluções seria a aplicação célere e de grande
abrangência de políticas públicas (elencadas na Lei, porém de pequeno respaldo pelo poder
público), para que assim se possa em primeiro lugar, evitar futuras e maiores agressões em outros
ambientes familiares. Pois, assim, além de evitar as agressões (previstas em lei, que não se
restringem em físicas), a morosidade do judiciário em nosso país ainda é muito grande, ocorrendo
no fato de que, muitas vezes a vítima acaba convivendo com seu agressor até que o caso seja
julgado, sofrendo por conta dessa morosidade e falta de auxílio do poder público.
E dentro desse contexto, devemos observar que essas Políticas Públicas não são apenas
voltadas às vítimas, e sim para toda a sociedade, comunidade, pois também há de se aplicá-las de
forma educativa aos possíveis agressores para que esses compreendam a importância do respeito à
mulher e à família e não promovam a violência.
Os impactos da violência doméstica na saúde mental da mulher
A violência está associada aos variados problemas, complexos e de caráter distinto, pode
estar ligada também a temas conceituais referentes a distinção entre poder e coerção, vontade
consciente e impulso (FONSECA et al., 2012). Nesse sentido, Butler (2015) questiona: “o que é
uma vida vivível?”. Para uma vida ser considerada lesada, perdida ou “matável”, ela precisa,
primeiro, ser considerada viva.
15
Se certas vidas não são qualificadas como vidas ou se, desde o começo, não são concebíveis
como vidas de acordo com certos enquadramentos epistemológicos [mas também políticos,
econômicos, religiosos, de gênero], então essas vidas nunca serão vividas nem perdidas no
sentido pleno dessas palavras (BUTLER, 2015).
São, portanto, os enquadramentos que decidem, diferenciam e definem quais vidas podem
ser apreendidas e reconhecíveis como vida e, quais vidas nunca reunirão condições de serem
reconhecidas como tal (MAIA, 2017). Por meios dos enquadramentos que se têm à disposição,
pode-se compreender a precariedade da vida e segundo a autora, a violência se apresenta como uma
precariedade e faz com que a vida comece a se tornar precária no aspecto de se sentir vivo e isso
terá interferência na saúde mental e física da pessoa lesada.
Vale salientar que a violência doméstica acontece em ciclos, e ainda que não se possa
generalizar um padrão evolucionário da dinâmica da violência doméstica, Soares (2005) identifica
tipicamente ciclos com três fases, que começam: a) com a construção da tensão no relacionamento,
quando acontecem incidentes menores, como agressões verbais, crises de ciúmes, ameaças,
destruição de objeto e violência psicológica entre outros; b) em seguida, há a fase crítica, em que os
incidentes mais graves ocorrem, como espancamentos, estupros e eventualmente homicídios; c) já a
terceira fase seria marcada pelo arrependimento, juras de paixão e promessas de regeneração.
Dessa forma, o principal ponto nisso é que a violência acaba por afetar a saúde mental da
vítima e essa violência psicológica imposta pelo agressor traz sérios problemas emocionais para
quem sofre a agressão. Para Hirigoyen, (2006), na violência psicológica o agressor não tem
reconhecimento sobre as emoções e sentimentos da vítima, já que o outro é visto como objeto, ou
seja, o objetivo de quem a pratica é subtrair a vontade do outro, com o intuito de que ele perca a sua
própria identidade (MONTEIRO, 2012). Na violência doméstica, o agressor tem por finalidade
manter a submissão do outro, garantindo e afirmando sua posição de poder dentro da relação.
Assim, a violência psicológica para Ballone (2008) pode ser considerada mais prejudicial do
que a física, já que acaba sendo assinalada pela discriminação, depreciação, rejeição, desrespeito,
humilhação e punição exageradas. Para Monteiro (2012) é uma agressão cujas marcas corporais não
são visíveis, mas que emocionalmente provoca cicatrizes inapagáveis para a vida toda. De acordo
com o art. 7º, inciso II da Lei Maria da Penha, a violência psicológica é entendida como:
[...] qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro
meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação.
16
Nessa perspectiva, os comportamentos mencionados na Lei Maria da Penha são
considerados danos à saúde psicológica da mulher. As sequelas psicológicas advindas da violência,
são consideradas ainda mais graves do que suas consequências físicas, já que estas destroem a
autoestima da mulher, aumentando a chance de sofrer de problemas mentais como fobia, estresse
pós-traumático, ideação suicida, depressão e abuso de álcool e drogas (PADILHA; SILVA, 2012).
Padilha e Silva (2012), ainda enfatizam que a violência psíquica destrói também a moral da
mulher, por meio das humilhações e xingamentos, injúrias e ameaças contra a vida deixando dessa
forma, marcas internas psicológicas. O que se percebe é que os impactos parecem cumulativos ao
longo do tempo, podendo a gravidade das agressões levar algumas mulheres à problemas
psicológicos mais sérios e até mesmo ao suicídio (ALVES, 2015). A autora ainda acrescenta
distúrbios da alimentação e do sono, agressividade ou passividade, estado de alerta permanente e
desconfiança. Dentro desse contexto, Slegh (2006) afirma que vivenciar atos violentos provoca na
mulher sentimentos pertinentes a violência, a exemplo do conflito com relação ao que gera à
violência, bem como, desespero referente a probabilidade de interromper com a mesma.
Corroborando com as palavras de Slegh (2006), Martins (2009) salienta que a violência
psicológica fere e interfere na saúde mental da mulher, na sua integridade física, moral e social que
ocorrem sobretudo no espaço intrafamiliar e se faz presente em todos outros tipos de violência.
Pode ocorrer, um sentimento de desvalorização de si mesmas e de tudo que possam realizar
(MARTINS, 2009). A tendência dessa mulher é concordar com tudo que o companheiro pedir ou
dizer, deixando de ter vida própria, abrindo mão do seu eu, ficando indiferente a suas vontades e
necessidades, sem capacidade de respeitar-se e de se amar rompendo com seus próprios desejos.
(ALVES, 2015).
Assim, o que se percebe é que a violência psicológica tem como objetivo primordial reforçar
o poder exercido sobre o outro dentro de uma relação. Ela tende a se repetir e se intensificar com o
tempo, fragilizando e transformando a vítima em um objeto sem valor (MONTEIRO, 2012). E
conforme a mesma autora, como esta não é uma violência visível aos outros, a vítima tem inúmeras
dificuldades para provar que está sofrendo agressões. Com isto, a vítima pode chegar a um estado
em que duvida daquilo que está vivenciando (HIRIGOYEN, 2006).
E dentro dessa situação, o que se percebe é que para intensificar o impacto da violência
psicológica, basta um único ato de violência física. Para a OMS (2002), o pior da violência para as
mulheres, não é a violência em si, mas a tortura mental e convivência com o terror e o medo. Dessa
forma, esse tipo de violência deve ser avaliado como um grave problema de saúde pública,
merecendo espaço de discussão, ampliação da prevenção bem como criação de políticas específicas
para o seu enfrentamento (OMS, 2002).
17
Para Padilha e Silva (2012) no que se refere a violência psicológica, nenhum sinal deve ser
desprezado, sob pena de se remeter a intervenção para momento tardio, com agravamento do
quadro e das sequelas, embora a presença de um ou outro indicador físico ou psicológico possa não
significar basicamente a ocorrência da violência, a exemplo de distúrbios do sono; distúrbios na
alimentação (inapetência, bulimia, anorexia, obesidade), depressão, choro frequente, dificuldade de
concentração, medo de ficar sozinha ou em determinadas companhias e comportamentos
autodestrutivos.
Alves (2015), acrescenta que a violência psicológica causa danos à saúde mental, ao intervir
na crença que a mulher tem sobre sua própria capacidade, ou seja, sobre a disposição de utilizar de
forma adequada seus recursos para o cumprimento das tarefas relevantes em sua vida. Nesse
sentido, a mulher pode apresentar distúrbios na capacidade de se comunicar com os outros, de
reconhecer e comprometer-se, de forma realista, com os desafios encontrados, além de desenvolver
sentimento de insegurança referente às decisões a serem tomadas, episódios significativos de
alterações psíquicas podem surgir em decorrência do trauma, o estado de choque, que ocorre
imediatamente após agressão, pode permanecer por várias horas ou dias (BRASIL, 2006).
Algumas teorias sobre a violência doméstica e a saúde mental das vítimas centram-se no
perfil dos agressores, dando menor atenção às características das vítimas, embora estudem também
as características psicológicas das mulheres que permanecem em relações abusivas (PINTO, 2009).
Para o mesmo autor, os defensores destas teorias enfatizam que o alcance explicativo do
conhecimento dos comportamentos do agressor, designadamente no que diz respeito à motivação
que os levará a agredir. Dessa forma, a atenção deverá estar direcionada sobretudo para as
características psicopatológicas do maltratante, consideradas como as causadoras dos
“comportamentos anormais”, ou atos violentos.
Slegh (2006) sugere algumas das causas que explicariam o comportamento dos agressores:
as perturbações psicológicas (psicopatia, depressão), estresse, baixa autoestima, dificuldades na
empatia, na comunicação e no autocontrole, bem como pobres competências sociais. Para além
destas características, outros autores enumeraram vários fatores de risco, tais como o estilo de
personalidade agressiva e hostil, a irritabilidade, elevada sintomatologia borderline, ansiedade,
depressão e queixas somáticas (SLEGH, 2006).
Mas percebemos que mesmo se explicando as perturbações que levam um agressor a mal
tratar sua mulher e/ou família, estas não devem ser vistas apenas como patologia, deve-se analisar
todo o ambiente onde o indivíduo viveu e vive, pois muitas vezes envolve muito mais questões
sociais e a da cultura do machismo do que apenas um desvio de caráter ou uma doença psíquica. O
18
que torna deficitário as abordagens que veem o agressor como doente, impossibilitando uma
reflexão mais ampla dos engendramentos da violência.
Nesta perspectiva cultural devemos incentivar e constituir políticas públicas amplas, e
possibilitar espaços de escuta e fortalecimento para a mulher agredida, além da ajuda jurídica, deve-
se encontrar possibilidades de buscar apoio psicossocial, no sentido de compreender o processo que
está inserida e visibilizar outras possibilidades de existência a ela.
Dessa forma, se percebe a importância no profissional da psicologia na interferência de
situações de violência doméstica tanto no trato da vítima quanto do agressor, por isso a relevância
de se fortalecer as redes psicossociais. Por meio do que foi dito acima, sujeitos expostos a este tipo
de problema demonstram a necessidade de tratamento adequado para criar uma potência criativa e
inventiva com relação a si mesmas e a suas vidas.
A importância do tratamento psicológico nas vítimas de violência doméstica
Os danos psicológicos surgem nas vítimas de violência doméstica como uma consequência
natural da vivência de maus tratos que provocam alterações psicoafetivas relevantes (PINTO,
2009). Essas tendem a perdurar no tempo, repercutindo-se em distúrbios de cunho emocional que
acabam por afetar grande parte das vítimas em diferentes áreas do seu funcionamento psicológico e
do seu comportamento (PINTO, 2009).
Matos (2003)10 apud Pinto (2009) defende que o impacto da violência nas mulheres vítimas
envolve dinâmicas traumáticas muito particulares e complexas, por vezes, comparáveis às
características da Perturbação de Estresse Pós-Traumático11. A Perturbação de Estresse Pós-
Traumático é muitas vezes diagnosticada em situações de violência doméstica e se torna relevante,
na medida em que considera que a pessoa reage normalmente a uma situação de agressão e procura
relacionar as dificuldades experienciadas às causas situacionais (PINTO, 2009).
De acordo com o relatório da Comissão Europeia sobre o estado de saúde das mulheres na
Comunidade Europeia (1997) citado por Pinto (2009), as mulheres agredidas têm cinco vezes mais
possibilidades de fazer tentativas de suicídio e de necessitar de tratamento psiquiátrico e
psicológico. Para Dattilio e Freeman (2004), mesmo durante os períodos em que não ocorre
10 MATOS, M. Violência conjugal. In: MACHADO, C.; GONÇALVES, R.A (Coordenadores). Violência e Vítimas de
crimes, Vol I: Adultos. Coimbra: Quarteto, 2003.
11 Define-se pelo desenvolvimento de sintomas característicos, desencadeados por um acontecimento específico,
psicologicamente doloroso, que está fora da faixa habitual da experiência humana. (PINTO, 2009).
19
violência física, as mulheres agredidas vivem frequentemente sob pressão, devido às táticas de
tortura e de terror psicológico utilizadas pelo agressor. Assim, o que se percebe é que as mulheres
vítimas de violência doméstica, tendem a serem vistas em constante estado de estresse, estando
constantemente vigilantes e atentas aos sinais de ataque iminente dos agressores, adotando
comportamentos de muita vigilância e evitando tudo ao seu redor (PINTO, 2009).
Para Lagerback (1995)12 apud Pinto (2009), após a agressão do companheiro, a vítima pode
apresentar reações emocionais intensas, como dificuldade de concentração, sentimento de
abandono, sensação de irrealidade, dificuldades na compreensão e interpretação de informações,
confusão, uma mistura de sentimentos que vão do desespero e da raiva até à euforia, e ainda pode
perder de autoconfiança, demonstrar necessidade de estar sozinha e muitas vezes sensação geral de
pânico.
Lagerback (1995)13 apud Pinto (2009) enumera três fatores determinantes da força das
reações: a) em primeiro lugar, se um indivíduo já teve uma crise que não foi corretamente encarada
e solucionada, terá, a princípio, menor capacidade para lidar com uma nova crise; b) em segundo
lugar, relaciona-se ao modo como é percebido/sentido este acontecimento negativo e; c) em terceiro
lugar, surge a questão do significado simbólico que a violência do agressor tem para a vítima. Ou
seja, antes de um episódio de agressão, se a mulher estiver numa situação de tensão
mental/psicológica, ela terá grande parte dos recursos mentais “ocupados”, o que significa que terá
menos mecanismos de defesa mental, para solucionar o problema (PINTO, 2009). O mesmo autor
sugere, por exemplo: que se uma mulher desenvolveu uma imagem negativa de si mesma, ela pode
entender o ataque criminoso como a confirmação dessa imagem, sendo o ataque criminoso a
consequência do valor que o agressor dá a ela. Lagerback (1995)14 apud Pinto (2009) acrescenta
ainda que as reações de âmbito mental podem dar lugar a reação físicas, denominadas vulgarmente
reações psicossomáticas, como, por exemplo, a fraqueza física, sensação de paralisia, pressão no
peito, dificuldades respiratórias, pressão sanguínea irregular, perda de apetite, dores generalizadas,
ataques de choro, sendo frequente a vítima exibir graus variáveis de reação física e mental que
podem levar a mudanças no seu comportamento. Assim sendo, podemos concluir que as mudanças
no comportamento podem ser consequência das experiências traumáticas e do fato de a mente
desviar a função de manter o comportamento habitual, para a de preservar intactas as defesas
mentais.
12 LAGERBACK, B. Vítimas de crime e suas reacções. Porto: A.P.A.V., 1995.
13 Idem.
14 Idem.
20
Os autores ainda sugerem várias sessões de terapia para que tanto vítimas quanto agressores
tenham a chance de superar a crise. Parar a violência e desistir do controle raramente é algo que se
consegue em uma sessão com o agressor, e superar o trauma da vítima também não se consegue de
uma hora para outra (HAMBERGER; MUNROE, 2004). Portanto, em várias sessões, pode ser
desenvolvida uma aliança terapêutica para facilitar a mudança, além de claro de grupos de apoio,
que podem auxiliar vítimas e agressores a compreender melhor o que está acontecendo e o que pode
ser feito para minimizar o problema.
O que se percebe, portanto é que o principal objetivo de um psicólogo nesses casos é
desenvolver planos de segurança/controle. Os ingredientes-chave dessas intervenções se baseiam
em diversas pressuposições, ou seja, conforme Hamberger e Munroe (2004): a) a maior
preocupação é a segurança das possíveis vítimas; b) o agressor, sozinho, é responsável por sua
violência e por tomar as medidas apropriadas para cessá-la; c) a vítima potencial, embora não seja
responsável pela violência do agressor, é responsável por tomar medidas para garantir a sua
segurança, quer por estratégias de prevenção e evitação, quer fugindo de um ataque.
Portanto, percebemos a importância da intervenção psicossocial nos casos de violência
doméstica tanto para as vítimas quando para os agressores, tema que será abordado a seguir.
Possibilidades de intervenção psicossocial
Torna-se importante salientar que a ideia da discussão das informações coletadas em fontes
bibliográficas e documentais foi baseada dentro da questão pós-estruturalista, ou seja, as
ferramentas de pesquisa foram os discursos, as linguagens, os enunciados e as vozes dos autores
pesquisados. Isso criou em nós versões diversas dos modos de ser, de compreender e de explicar os
paradigmas do trabalho científico e da produção do conhecimento. Nesse sentido, Guareschi e
Scaparo (2008) acrescentam que não cabem definições do que seja a proposta correta ou a
ferramenta adequada, importa a compreensão de que as ferramentas, as análises e as interpretações,
as teorias e seus protagonistas vinculam-se à contextos e as suas práticas.
Assim, a partir do que foi exposto, percebemos que a violência contra as mulheres é um
problema de saúde pública e a Lei Maria da Penha, a mais importante lei do país no combate à
violência, veio para somar e auxiliar vítimas e profissionais a tomar as melhores decisões com
relação aos agressores e as mulheres que sofrem maus tratos. Além disto, a lei tipifica, no artigo 7º,
cinco formas de violência contra as mulheres: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral
(BRASIL, 2006), tornando mais fácil lidar com questão jurídica e as propostas de intervenção.
21
Segundo Oliveira (2017), a violência doméstica é um fenômeno social e complexo que exige
ações do Estado e de toda a sociedade para o seu enfrentamento e o dispositivo jurídico, ou seja, a
Lei Maria da Penha, cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra
a mulher. Mas o que a sociedade e nós esperamos é uma solução efetiva e mais democrática para as
situações de violência doméstica e não apenas a jurídica. Portanto, a inclusão do atendimento das
equipes psicossociais no Sistema Judiciário e da rede de serviços de apoio do Poder Executivo
proposto pela Lei Maria da Penha poderia atingir essa resposta social (OLIVEIRA, 2017).
Assim, podemos citar dentre as modalidades de acompanhamento psicossocial, a
intervenção com grupo de mulheres que viveram experiências de violência doméstica. A ideia desse
tipo de intervenção é procurar quebrar o isolamento a que essas mulheres vivem, validar as
experiências sofridas com outras pessoas que vivenciaram situações parecidas, obter informação e
receber suporte emocional.
Oliveira (2017) acrescenta que nesses serviços, há uma demanda explícita para a atuação do
profissional de psicologia, já que a intervenção psicológica se faz necessária também para se
trabalhar com os conteúdos da subjetividade (emoções, desejos inconscientes) e da individualidade,
que favorecem atitudes de submissão à violência, juntamente com as questões de ordem cultural,
uma vez que os profissionais da psicologia, em sua atuação profissional conseguem identificar a
dificuldade das mulheres em revelar a violência sofrida e o sofrimento psíquico complexo presente
nessa experiência.
Julgamos que a intervenção psicossocial em grupo com mulheres em situação de violência
doméstica ganha espaço de atuação e poderia ser inserida como metodologia de trabalho para as
políticas públicas, além é claro, de campanhas em unidades básicas de saúde, escolas e associações.
Assim, poderia ser realizado algo mais efetivo enquanto coletivo e intervir na ordem patriarcal
postulada, já que nesses grupos as pessoas têm a chance de criar e estabelecer conexões a fim de
construir outra ordem de subjetividade, e esses encontros podem favorecer o incentivo à essas
vítimas a se ajudarem e serem ajudadas.
Nesse sentido, Pedrosa e Zanello (2017) acrescentam que para que o atendimento dado às
essas mulheres seja realmente efetivo, é necessário e prudente que os profissionais de saúde que
trabalham na atenção à saúde mental tenham conhecimentos e se sintam capacitados para atender a
essa demanda. Pois, observamos não ser algo fácil lidar com situações deprimentes e com pessoas
que muitas vezes estão à margem da sociedade. Pedrosa e Zanello (2017) ainda afirmam, que
embora exista esta urgência em profissionais capacitados para atender essas mulheres, estudos
demonstram, que os profissionais de saúde não são devidamente preparados para lidar com a
violência contra as mulheres.
22
O que percebemos é que as práticas profissionais voltadas à tais situações de violência
devem intervir no sentido de ajudar as vítimas no enfrentamento desse grave problema, mas, por se
tratar de tema delicado e de difícil abordagem, requer capacitação específica, especialmente porque
as concepções que as embasam não consideram as relações de gênero, que correspondem a um
“atributo social do sexo biológico e que determina a construção histórico-social das matrizes
femininas e masculinas vigentes” (FONSECA, 2008).
Dessa forma, também observamos que a falta de apoio social também é um fator de peso. É
necessário compreender que, muitas vezes, sem o apoio de algum membro da família ou da
comunidade (seja por uma associação ou grupo), a mulher acredita que não tem condições de sair
da relação. Portanto, se vê a necessidade de que alguém (s) a escute de forma verdadeira e livre de
julgamentos e apoie a saída de uma relação de submissão e abuso (físico e/ou moral).
Outra situação que deve ser levada em consideração é a dependência emocional e a criação
dos filhos, pois envolvem questões de gênero que dizem respeito aos papéis sociais das mulheres
esperados na nossa sociedade. Para entender o fator da dependência emocional e da criação dos
filhos é necessário pensar a ideia do dispositivo amoroso e do dispositivo materno (ZANELLO,
2016). Zanello (2016) se utiliza de uma metáfora: as mulheres se subjetivam na "prateleira do
amor" para explicar esta situação, ou seja, esta prateleira é mediada por um ideal estético que é
branco, loiro, jovem e magro; sendo perversamente desigual dentre as mulheres, ainda que ruim
para todas, em suas devidas proporções. A autora ainda acrescenta que o amor é para as mulheres,
portanto, algo identitário e elas pagam preços caros para serem escolhidas por um homem, porque
isto implica em serem validadas como mulheres e isso seria o principal fator de desempoderamento
das mesmas. E trabalhar esse empoderamento nessas mulheres pode ser a saída da relação violenta,
mas isso requer que os profissionais tenham a consciência da leitura de gênero. Leitura essa que
contribui também para o entendimento do sofrimento mental por elas vivido. Segundo Zanello
(2016), a atuação com o olhar para as relações de gênero permite não apenas uma releitura da
quebra psíquica, mas também pensar em novas maneiras de intervir nas quais os próprios valores de
gênero possam ser utilizados.
A proposta de trabalho com o grupo faz com que as próprias mulheres levantem os temas
que querem conversar, podendo ou não haver um tema pré-estabelecido para cada encontro. Esse
tipo de abordagem possibilita o compartilhamento de experiências, o reconhecimento de situações
de violência e o empoderamento pelas histórias umas das outras. Com relação aos papéis sociais de
gênero, ou seja, aos comportamentos socialmente aceitos e esperados que as mulheres executem em
nossa sociedade, torna-se interessante fazer uma releitura e quebrar a ideia de que a “verdadeira
mulher é esposa, mãe, bela, sedutora, amante e disponível” (ZANELLO, 2016). O importante é
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faze-las compreender que é possível se realizar por outros meios que não o do cuidado com o
outro(s) e incentiva-las a buscar novas formas de realização, como por exemplo, por meio do
trabalho e da independência financeira.
Assim, podemos entender que o grupo pode ser uma importante ferramenta de atuação para
profissionais de saúde mental que lidam com a demanda da violência, já que o grupo pode auxiliar
na quebra do silêncio, na identificação de que ela não é a única que passa por situações violentas e
conturbadas, e abre possibilidades de ação para quem está participando. Zanello (2016) argumenta
que nomear e partilhar o sofrimento e percebe-lo também em outras pessoas pode ser uma
experiência transformadora e o constructo de novas relações interpessoais. Visualizamos que o
importante é que o grupo seja também trabalhado com um olhar e uma escuta de gênero, tendo em
vista que a violência, nestes casos, é permeada estruturalmente por estas questões, pois trabalhar
com uma leitura de gênero na saúde mental é resgatar a fala do sujeito como uma fala engendrada e
marcada pelo lugar social no qual o sujeito fala. Além disto, ao analisar o adoecimento psíquico,
sob o viés de gênero, torna-se possível desnaturalizar o sofrimento e abrir novas possibilidades de
intervenção e tratamento (ZANELLO, 2016).
Dessa forma, partir das leituras e análises percebemos que a intervenção psicossocial é de
relevância no tratamento de vítimas de violência doméstica e que campanhas, grupos de saúde,
associações comunitárias e grupos formados em escola entre outros, podem ser possibilidades de
auxílio psicológico às pessoas que sofrem em silêncio e engendram outras possibilidades de
conexão e fortalecimento tanto das mulheres vítimas de violência quanto da rede de assistência.
Considerações finais
Este artigo procurou apresentar algumas reflexões teóricas dentro do contexto da violência
doméstica, interseccionalidade e a importância da implementação da Lei Maria da Penha. Portanto,
pode-se afirmar que a proposta inicial deste estudo que era cartografar os engendramentos da
violência doméstica e sua interconexão com a saúde mental das pessoas que sofrem tal violência foi
contemplado.
O que percebemos a partir do estudo realizado é que a violência doméstica e de gênero é um
fenômeno complexo, o qual apresenta raízes na organização social, nas estruturas econômicas e de
poder na sociedade brasileira. A atuação profissional nessas situações exige o desenvolvimento de
políticas públicas, a mobilização e conscientização da sociedade, a integração da rede de
atendimento e de enfrentamento. Dessa forma, a intervenção psicossocial em grupo com mulheres
em situação de violência doméstica é um campo vasto para a produção de conhecimento e
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modalidade estratégica para o desenvolvimento de políticas públicas, portanto, visualiza-se a
importância da legitimação desse espaço de atuação profissional a partir de diretrizes nacionais e
parâmetros técnicos e formais.
As mudanças na legislação e a implementação das políticas públicas relativas à violência são
necessárias e fundamentais, porém, isoladamente, não significam a garantia de efetividade para o
enfrentamento do problema, uma vez que a violência contra a mulher é permeada por uma
complexa trama de fatores sociais, culturais e ideológicos que dificultam e até mesmo impedem a
efetiva vigência dos direitos humanos.
Assim, a intervenção psicossocial em grupo com mulheres vítimas de violência doméstica
tem o objetivo de fazer com que elas resgatem sua condição de sujeito, redescobrindo seus desejos e
vontades, que durante a relação violenta foram anuladas, além de resgatar a autoestima. O psicólogo
deve intervir a fim de ampliar a consciência da mulher, para que ela perceba a violência sofrida e
não se culpe por ela. Entendemos que nesses grupos, as mulheres podem conseguir reconhecer que
o parceiro se comporta de maneira que favoreça o surgimento de conflitos e de comportamentos
abusivos, assim ela tem a chance de perceber que tem capacidade e apoio para se mobilizar e
enfrentar a situação de violência. Torna-se importante salientar a importância de a mulher ter
conhecimento do ciclo da violência, que pode não acontecer em todos os casos, porque cada caso é
específico e tem suas particularidades, mas no geral, é comum que violência aconteça de forma
cíclica como foi citado anteriormente na fundamentação teórica. Nesse sentido, seria interessante
que essas mulheres participassem dessas redes de apoio, pois isso além de auxiliar no conhecimento
das causas e as formas de lidar com as agressões, as fariam perceber a importância de compartilhar
sofrimentos e experiências, a fim de ajudar umas às outras com o apoio de profissionais preparados
para isso. Como visto anteriormente, geralmente as mulheres encaminhadas ao atendimento
psicossocial, chegam encaminhadas pela Justiça, e neste caso, o trabalho do psicólogo não é
isolado, ele acaba por ser multidisciplinar pois envolve outras áreas do conhecimento. Dessa forma,
observamos que o intuito da intervenção psicossocial é empoderar a vítima para que ela consiga
transformar ou sair da situação de violência em que está envolvida, e assim, realizar seus desejos e
objetivos de vida. O psicólogo envolvido nesse processo deve então orientá-la sobre seus direitos
garantidos pela Lei Maria da Penha.
Por fim, a pesquisa demonstrou a importância da implementação da Lei Maria da Penha e do
trabalho do psicólogo que atua no contexto da violência contra a mulher, já que é uma intervenção
que não possui apenas um modo de se trabalhar e um objetivo a ser alcançado. O que se percebe é
que o psicólogo também deve trabalhar a questão da responsabilização pela violência estabelecida
na relação conjugal e discutir temas ligados à violência, justiça e controle da agressividade sem
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generalizar os casos. Pois, por mais parecidos que possam ser os casos, cada pessoa é única, e os
casos devem ser tratados de forma singular, sempre levando em consideração a subjetividade e a
especificidade de cada um.
Conclui-se então, a clara necessidade de profissionais da psicologia atuar no contexto da
violência doméstica e familiar, pois é um fenômeno que, infelizmente, tem crescido no país e os
(as) psicólogos (as) quando preparados e capacitados para atender a demanda dessa população têm
muito a contribuir para a melhoria da saúde física e mental dessas pessoas, seja nas instituições
públicas ou no consultório privado, seja de forma individual ou em grupo ou nas comunidades.
Acreditamos que os profissionais que querem atuar nesse contexto devam estar sempre reciclando
seus conhecimentos, já que precisam conhecer as teorias e os procedimentos interventivos da
psicologia social e jurídica, além de ter certa familiaridade com a prática clínica e com seus
fundamentos teóricos, pois em várias situações pode ser necessário avaliar as condições
psicoemocionais da vítima e do agressor, quando são identificados indícios de algum transtorno
clínico ou de personalidade e encaminhá-los para acompanhamento psicossocial.
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