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Universidade Potiguar Programa de Ps Graduao em Administrao PPGA
Mestrado Profissional em Administrao
Marlia Almeida Mascena
O PROCESSO DE TOMADA DE DECISO EM ORGANIZAES FAMILIARES DE BORDADOS
Natal
2015
Marlia Almeida Mascena
O PROCESSO DE TOMADA DE DECISO EM ORGANIZAES
FAMILIARES DE BORDADOS
Dissertao apresentada ao Programa de
Ps-Graduao Stricto Senso em
Administrao da Universidade Potiguar
UnP, como parte dos requisitos
avaliativos para obteno ao ttulo de
Mestre em Administrao Profissional, na
rea de concentrao Gesto Estratgica
de Pessoas.
ORIENTADORA: Prof. Dra. Nilda Maria
de Clodoaldo P. Guerra Leone.
Natal
2015
Marlia Almeida Mascena
O PROCESSO DE TOMADA DE DECISO EM ORGANIZAES
FAMILIARES DE BORDADOS
Dissertao apresentada para cumprir
parte das exigncias para obteno do
titulo de Mestre em Administrao
Profissional, na rea de concentrao
Gesto Estratgica de Pessoas.
Aprovada em:___/____/2015.
BANCA EXAMINADORA
________________________________.
Profa. Nilda Maria de Clodoaldo P. Guerra Leone, Dra.
Orientadora
________________________________.
Profa. Las Karla da Silva Barreto, Dra.
Membro Examinador Interno
________________________________.
Profa. Jomria Maria de Lima Alloufa, Dra.
Membro Examinador Externo
Eudes pela sua incansvel pacincia e
apoio e Heitor pelo amor e alegria de
todos os dias.
AGRADECIMENTOS
Chegar ao final de um trabalho como esse, nos faz olhar para traz e ter a
certeza de que no teramos conseguido sem ajuda. Nesse momento, nos resta
dirigir os merecidos agradecimentos todos que contriburam para que o fim da
jornada pudesse ser alcanado de forma feliz.
Deus pela luz, sabedoria e coragem em momentos de angstia.
Ao meu marido Eudes Lima Bezerra, pelo amor e afago dirios e pela f
sempre demonstrada em meu sucesso e minha capacidade.
Aos meus pais Francisco Luiz Mascena e Aldenisa Dias de Almeida
Mascena, pelo incentivo constante e pelo apoio em todos os momentos que precisei.
Ao meu filho Heitor Mascena Bezerra, por trazer alegria aos meus dias e
sempre me fazer sorrir.
minha filha Helena Mascena Bezerra, por renovar minhas foras e me
fazer mais forte para sua chegada.
Agradeo ainda minha orientadora Dra. Nilda Leone, por ser inspirao e
fonte de estmulo, acreditando sempre em nossas ideias e nos conduzindo de forma
generosa e firme. Aos meus colegas de turma, pela cumplicidade e ajuda mtua
sempre presente.
Por fim, meus agradecimentos Cooperativa das Bordadeiras e Artesos do
Serid, na pessoa da Sra. Arlete Silva Andrade, ao SEBRAE-Caic, na pessoa da
Sra. Mariclia e s bordadeiras que se dispuseram ajudar nessa pesquisa,
contribuindo com seus conhecimentos, seu tempo e sua arte.
RESUMO
O processo de tomada de deciso passou a ter grande importncia diante das
constantes alteraes do mercado e da crescente necessidade de atualizao e
racionalizao na gesto das empresas. As organizaes passaram a investir cada
vez mais em aperfeioamento e conhecimentos tcnicos, de forma a alcanar a
forma mais adequada de decidir e de administrar as consequncias advindas de tal
medida. Nas organizaes familiares h uma fuso ou simbiose entre a empresa e a
famlia, fazendo com que o processo de gesto, incluindo aqui as tomadas de
decises, sejam influenciadas pelos valores, hbitos e prticas familiares.
Contextualizando a pesquisa em organizaes familiares de bordados localizadas no
municpio de Caic/RN, o objetivo do trabalho foi analisar o processo de tomada de
deciso de tais organizaes. A pesquisa realizada teve abordagem quantitativa e
qualitativa, de natureza bsica, descritiva e de procedimentos documental, de campo
e com survey. Para a coleta dos dados foi utilizado instrumento de pesquisa
estruturado com perguntas fechadas e mistas, aplicados em setenta e cinco
organizaes familiares. O tratamento dos dados foi feito atravs de estatstica
descritiva com metodologia computacional, onde o banco de dados foi construdo
em formato EXCEL, verso 2010, para realizao das tabelas descritivas e
aplicao de testes estatsticos (Teste Qui - Quadrado) foi utilizado o software
Statistica SPSS, verso livre temporria. Os resultados obtidos permitiram conhecer
o perfil sociodemogrfico dos pesquisados, a identificao sobre o tipo de
organizao familiar, a compreenso sobre a gesto estratgica das organizaes
abordadas, o registro de aspectos pessoais, culturais, sociais, organizacionais e
institucionais da organizao com enfoque na tomada de deciso e a descrio do
processo decisrio das organizaes familiares de bordado. Como concluso, foi
possvel tecer anlise sobre o processo decisrio pesquisado, levando-se em
considerao as limitaes da pesquisa, bem como deixando recomendaes para
pesquisas futuras.
Palavras-chave: Tomada de deciso. Organizaes familiares. Bordados.
ABSTRACT
The decision-making process came to have great importance in the face of constant
market changes and the increasing need of updating and streamlining the
management of companies. Organizations are investing more and more in
development and expertise in order to achieve the most appropriate way to decide
and manage the consequences resulting from this measure. In family organizations
there is a merger or symbiosis between the company and the family, making the
management process, including at the decision-making, are influenced by the values,
habits and family practices. Contextualizing research in family firms embroidery
located in the municipality of Caic / RN, the objective of this study was to analyze
the decision-making process of such organizations. The survey was quantitative and
qualitative approach, the basic nature, descriptive and documentary procedures, field
and survey. For data collection was used research tool with closed and mixed
questions, applied in seventy-five family organizations. The data analysis was done
using descriptive statistics with computational methodology where the database was
built in EXCEL format, 2010, to carry out the descriptive tables and application of
statistical tests (test Chi - square), the Statistica software SPSS , temporary free
version. The results allowed us to know the socio-demographic profile of
respondents, the identification of the type of family organization, the understanding of
the strategic management of organizations addressed, the registration of personal,
cultural, social, organizational and institutional organization focused on making
decision and the description of the decision-making process of family embroidery
organizations. In conclusion, it was possible to make analysis on decision making
researched, taking into account the limitations of the research, as well as letting
recommendations for future research.
Keywords: Decision taking. Family organizations. Embroidery.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa do Rio Grande do Norte por regies 18
Figura 2 - Mapa do Serid 19
Figura 3 - Bordado caicoense 45
Figura 4 - Bordado richelieu 45
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 - Grau de escolaridade das bordadeiras 62
Grfico 2 - Etnia das bordadeiras 62
Grfico 3 - Tipos de confeces de bordados 63
Grfico 4 - Tempo de dedicao aos bordados 64
Grfico 5 - Principal fonte de renda 65
Grfico 6 - Tipo de organizao familiar 66
Grfico 7 - Integrante responsvel pela tomada de deciso 70
Grfico 8 - Tempo de responsabilidade pela tomada de deciso 70
Grfico 9 - Afirmaes sobre aspectos culturais 71
Grfico 10 - Influncia relacionada aos aspectos culturais 72
Grfico 11 - Inovaes presentes nas decises 72
Grfico 12 - Tipo de inovao utilizada 73
Grfico 13 - Frequncia que efetuam mudanas na organizao 74
Grfico 14 - Afirmaes sobre aspectos sociais 75
Grfico 15 - Influncia dos aspectos sociais 75
Grfico 16 - Frequncia dos aspectos sociais 76
Grfico 17 - Computador com internet 77
Grfico 18 - Principal atividade comercial dos bordados 79
Grfico 19 - Mo de obra utilizada 79
Grfico 20 - Classificao das mquinas e equipamentos 79
Grfico 21 - Tipo de aquisio das mquinas e equipamentos 80
Grfico 22 - Avaliao das condies de infraestrutura 80
Grfico 23 - Existncia de controle contbil 81
Grfico 24 - Tipo de controle contbil realizado 81
Grfico 25 - Onde realizado o controle contbil 82
Grfico 26 - Aspectos relacionados ao controle contbil 82
Grfico 27 - Recebimento de assistncia tcnica 83
Grfico 28 - Avaliao de aspectos institucionais 84
Grfico 29 - Procura de instituio de apoio para tomada de deciso 85
Grfico 30 - Como so baseadas as decises na organizao 87
Grfico 31 - Avaliao de risco 87
Grfico 32 - Planejamento prvio ou demandas emergentes 88
Grfico 33 - Prazo das decises 88
Grfico 34 - Reflexo sobre as decises 89
Grfico 35 - Decises inovadoras ou rotineiras 89
Grfico 36 - Decises centralizadas ou compartilhadas 90
Grfico 37 - Decises com base em informaes ou experincia 91
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Idade e tempo de atuao 63
Tabela 2 - Fontes de renda 65
Tabela 3 - Aspectos da filosofia gerencial da empresa 68
Tabela 4 - Tipo de modernizao e frequncia nas decises 73
Tabela 5 - Principais grupos que participa 77
Tabela 6 - Utilizao da internet como meio de informao 77
Tabela 7 - Quantidade de pessoas que trabalham e faturamento 78
Tabela 8 - Tipo de assistncia recebida 84
Tabela 9 - Tipo de entidade de que recebe assistncia 84
Tabela 10 - Comercializao dos produtos 85
Tabela 11 - Compras dos insumos 86
Tabela 12- Escolaridade do entrevistado 111
Tabela 13 - Etnia do entrevistado 111
Tabela 14 - Tipos de atividade desenvolvida na administrao 111
Tabela 15 - Tempo de dedicao na confeco de bordados 111
Tabela 16 - Principal fonte de renda 112
Tabela 17 - Responsvel pela tomada de deciso 112
Tabela 18 - Tempo de responsabilidade pela deciso 112
Tabela 19 - Tipo de organizao familiar 112
Tabela 20 - Afirmao sobre aspecto cultural - parentesco 113
Tabela 21 - Afirmao sobre aspecto cultural - influncia mais velhos 113
Tabela 22 - Tipo de modernizao presente 113
Tabela 23 - Tipo de inovao utilizada 113
Tabela 24 - Frequncia que efetua mudanas 113
Tabela 25 - Afirmao sobre aspecto social - liderana e participao 114
Tabela 26 - Afirmao sobre aspecto social - liderana 114
Tabela 27 - Afirmao sobre aspecto social - participao e leitura 114
Tabela 28 - Computador com internet 114
Tabela 29 - Atividade comercial predominante 115
Tabela 30 - Mo de obra utilizada 115
Tabela 31 - Mquinas e equipamentos 115
Tabela 32 - Aquisio de mquinas e equipamentos 115
Tabela 33 - Condies de infraestrutura 115
Tabela 34 - Controle contbil 115
Tabela 35 - Tipo de controle contbil 116
Tabela 36 - Onde feito o controle contbil 116
Tabela 37 - Assessoria para controle contbil 116
Tabela 38 - Utilizao dos dados contbeis para deciso 116
Tabela 39 - Recebimento de assistncia tcnica 117
Tabela 40 - Aspectos institucionais - assistncia tcnica e fornecedores 117
Tabela 41 - Apoio de rgos para deciso 117
Tabela 42 - Base das decises 118
Tabela 43 - Avaliao de risco 118
Tabela 44 - Planejamento prvio ou demandas emergentes 118
Tabela 45 - Prazo das decises 118
Tabela 46 - Decises reflexivas 118
Tabela 47 - Decises inovadoras ou rotineiras 119
Tabela 48 - Decises centralizadas ou copartilhadas 119
Tabela 49 - Decises com informao ou experincia 119
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Tratamento dos dados 60
Quadro 2 - Sntese perfil sociodemogrfico 65
Quadro 3 - Sntese tipo de organizao familiar 67
Quadro 4 - Sntese gesto da empresa familiar 69
Quadro 5 - Sntese dos aspectos pessoais 71
Quadro 6 - Sntese dos aspectos culturais 74
Quadro 7 - Sntese dos aspectos sociais 78
Quadro 8 - Sntese dos aspectos organizacionais 83
Quadro 9 - Sntese dos aspectos institucionais 86
Quadro 10 - Sntese da descrio da tomada de deciso 92
SUMRIO
1 INTRODUO 16
1.1 CONTEXTUALIZAO 17
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA 20
1.3 OBJETIVOS 21
1.3.1 Geral 21
1.3.2 Especficos 21
1.4 JUSTIFICATIVA 21
2 REFERENCIAL TERICO 24
2.1 PROCESSO DE TOMADA DE DECISO 24
2.1.1 Percepo 24
2.1.2 Relao entre percepo e deciso 26
2.1.3 Conceito de deciso 28
2.1.4 Tipos de deciso 30
2.1.5 Processo decisrio 34
2.1.6 Consequncias da deciso 39
2.2 ORGANIZAES FAMILIARES 40
2.2.1 Famlia 40
2.2.2 Organizaes familiares 41
2.2.3 Tipologia das organizaes familiares 42
2.3 ORGANIZAES DE BORDADO 44
2.4 ESTUDOS REALIZADOS SOBRE O TEMA 46
3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS 50
3.1 TIPO DE PESQUISA 50
3.2 UNIVERSO E AMOSTRA 52
3.3 COLETA DE DADOS 55
3.3.1 Instrumento de pesquisa 57
3.4 VARIVEIS ANALTICAS 58
3.5 TRATAMENTO DOS DADOS 59
4 APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS 62
4.1 PERFIL DOS PESQUISADOS 62
4.2 TIPO DE ORGANIZAO FAMILIAR 66
4.3 GESTO DA EMPRESA FAMILIAR 67
4.3.1 Aspectos pessoais 69
4.3.2 Aspectos culturais 71
4.3.3 Aspectos sociais 75
4.3.4 Aspectos organizacionais 78
4.3.5 Aspectos institucionais 83
4.4 DESCRIO DA TOMADA DE DECISO 86
5 CONCLUSO 93
REFERNCIAS 97
ANEXOS 102
ANEXO A - QUESTIONRIO DE PESQUISA 103
ANEXO B - TABELAS 111
16
1 INTRODUO
Na literatura da Teoria da Administrao, at a metade do sculo passado,
no era dada a devida importncia deciso e todas as etapas que a envolvem.
Lbler (2005) aponta que sobre este tema existem vrios recortes, o que dificulta
sua pesquisa.
As decises eram encaradas como operaes matemticas, objetivas e
pragmticas, passando posteriormente a ser percebido que era carregada por uma
srie de fatores subjetivos, mas que urgia de uma formalizao, para facilitar ou
guiar situaes futuras.
O processo de tomada de deciso passou a ter grande importncia diante
das constantes alteraes do mercado e da crescente necessidade de atualizao e
racionalizao na gesto das empresas. As organizaes passaram a investir cada
vez mais em aperfeioamento e conhecimentos tcnicos, de forma a alcanar a
forma mais adequada de decidir e de administrar as consequncias advindas de tal
medida.
Cada organizao lida de forma diferente ao se deparar com a necessidade
de tomar decises. Assim, a estrutura gerencial acabar por influenciar no processo
que envolve a tomada de deciso, tendo nuances ainda mais diferenciadas quando
se trata de empresas familiares e mais ainda de empresas familiares que lidam com
itens artesanais.
A empresa passa a ser denominada familiar pela colaborao de pessoas
com forte determinao, enorme autoconfiana e desejo de trabalhar mais tempo e
com mais afinco (GRZYBOVSKI; TEDESCO, 1998). Tais caractersticas somadas
ao esprito de colaborao e solidariedade, fazem com que os valores que permeiam
uma organizao familiar sejam diferentes das demais empresas.
Nas organizaes familiares h uma fuso ou simbiose entre a empresa e a
famlia, fazendo com que o processo de gesto, incluindo aqui as tomadas de
deciso, sejam influenciadas pelos valores, hbitos e prticas familiares.
O que chamou a ateno e causou instigao pesquisa, a forma como
as decises so tomadas quando se trata de organizaes familiares com estrutura
simples, alheia aos bancos da academia, em tese, sem preocupao com
conhecimentos de natureza tcnica ou sem estratgias claramente definidas, mas
17
que so levadas a decidir diariamente, seja pela prpria sobrevivncia, seja pela
necessidade de bom desempenho da organizao.
1.1 CONTEXTUALIZAO
No Brasil, a maior parte das organizaes tem natureza familiar. Como toda
e qualquer organizao, as tomadas de decises so dirias e inevitveis. No
estado do Rio Grande do Norte, a regio do Serid conhecida pela riqueza dos
produtos que so produzidos e comercializados, desde os gneros alimentcios, at
os artigos de confeco. A regio Serid localizada no semirido do RN e uma
das regies mais secas do Estado, mas que apresenta certos contrastes
paisagsticos, com importantes vales fluviais.
A populao total da regio Serid, corresponde a 11% (onze por cento) da
populao do Estado do RN, ocupando uma rea que abrange 10.954,50 Km e
composto por 28 municpios: Acari, Bod, Caic, Carnaba dos Dantas, Cerro Cor,
Cruzeta, Currais Novos, Equador, Flornia, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do
Serid, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Matos, Santana
do Serid, So Fernando, So Joo do Sabugi, So Jos do Serid, So Vicente,
Serra Negra do Norte, Tenente Laurentino Cruz, Campo Grande, Triunfo Potiguar e
Timbaba dos Batistas. Cerca de 23% (vinte e trs por cento) da populao vive na
zona rural1.
De acordo com a SEPLAN - Secretaria de Estado do Planejamento e das
Finanas, a regio Serid tem destaque na rea econmica pela presena na regio
da segunda bacia leiteira do Estado, pelo dinamismo e diversidade da base
econmica urbana local, pelo potencial para expanso de diversas atividades e sua
cadeia produtiva, pelo conceito positivo entre os consumidores da "marca SERID",
pela tradio comercial da regio, riqueza mineral, pela relativamente boa base
educacional, pela melhoria da capacidade tecnolgica, pela existncia de uma base
inicial de cooperativas.
1 Sistema de Informaes Territoriais (http://sit.mda.gov.br)
18
Figura 1 - Mapa do Rio Grande do Norte por regies de desenvolvimento
Fonte: SEPLAN (2012)
Diante da riqueza da regio em aspectos ambientais, tecnolgicos,
econmicos, socioculturais e poltico institucionais, que possuem grande influncia
em todo o Estado do Rio Grande do Norte, merece destaque o municpio de Caic.
O municpio de Caic, no estado do Rio Grande do Norte, teve sua
colonizao portuguesa marcada pela pecuria e pelo plantio de algodo, sendo que
deste ltimo, uma atividade tipicamente feminina, surgiu o ofcio dos bordados,
sendo atividade que se perpetua at os dias de hoje.
A importncia econmica e poltica do municpio de Caic inquestionvel
dentro do estado. No setor econmico destacam-se a pecuria e a confeco dos
bordados, sendo atividades que geram renda dentro do estado, por serem produtos
conhecidos pela qualidade e aceitao no mercado. No cenrio poltico, por ser uma
cidade de porte no interior do estado, com populao estimada em 66.246 (sessenta
e seis mil, duzentos e quarenta e seis) habitantes, segundo o IBGE2, representa
peso relevante no panorama poltico estadual.
2 http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=240200&search=rio-grande-do-
norte|caico
19
Figura 2 - Mapa do Serid
Fonte: SEPLAN (2012)
A atividade exercida basicamente por mulheres em seus contextos familiares
tornou-se slida na regio, fazendo com que houvesse a organizao atravs da
Cooperativa das Bordadeiras e Artesos do Serid, cuja sede em Caic/RN, por
ser a cidade que abriga o maior nmero de mulheres envolvidas.
Segundo a presidente da Cooperativa, Sra. Arlete Silva Andrade, existem
hoje cerca de 2.000 (duas mil) bordadeiras em Caic, das quais cerca de 500
(quinhentas) so cooperadas.
Dessa forma, as atividades das bordadeiras do municpio de Caic/RN tem
natureza eminentemente familiar, engrossando as estatsticas nacionais de que
cerca de 90% (noventa por cento) das empresas no Brasil so familiares, de acordo
com dados do SEBRAE3. Tais empresas tem papel significativo no desenvolvimento
econmico, social e poltico nacional.
3 http://www.sebrae-sc.com.br/newart/default.asp?materia=10410
20
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA
Estabelecer o problema de pesquisa o mesmo que trabalhar na sua
delimitao, buscando deixar de forma clara qual o problema que se busca
identificar ou responder.
O problema de pesquisa a pergunta que se busca responder e para que
isso acontea de forma mais precisa, necessrio seguir os ensinamentos de Gil
(2007), que estabelece que o problema de pesquisa deve ser claro e preciso,
emprico, delimitado e passvel de soluo.
Partir de um assunto mais amplo, delimitar um tema, pens-lo na
perspectiva do estudo proposto, dos objetivos, chegar perto da formulao do
problema (SALOMON, 2004).
Dentro desse contexto e dos dados que so obtidos, a problemtica da
pesquisa que foi estabelecida, foi a busca pela compreenso do processo de
tomada de deciso nas organizaes familiares das bordadeiras de Caic/RN,
levando em considerao aspectos sociais, institucionais, culturais, pessoais e
organizacionais.
A escolha do processo de tomada de deciso foi feita em razo da ideia de
que cada vez mais a diferena entre o sucesso e o fracasso das organizaes,
depende de forma mais forte das decises que so tomadas e da capacidade de
gerenciar as consequncias advindas de tais decises. Tal processo tomou carter
de tamanha relevncia, que as empresas buscam cotidianamente o aprimoramento
tcnico e o aperfeioamento da equipe de trabalho, como forma de diminuir a
margem de erro das decises.
Sendo um processo inevitvel dentro das organizaes, a escolha pelas de
carter familiar, se justificou quando levou-se em considerao que na economia
nacional, cerca de noventa por cento das empresas so familiares, representando
dessa forma uma significativa parcela do mercado brasileiro.
O cenrio escolhido para realizar a pesquisa foi o municpio de Caic, no
Estado do Rio Grande do Norte, haja vista que possui importante valor para a
economia e poltica estadual, diante do quantitativo populacional, da variedade de
produtos comercializados, da distino quanto produo dos bordados, que
chegam a ser exportados.
21
Os bordados por sua vez possuem natureza nica, no sendo produzidos
facilmente em outras localidades. Somado a isso, os bordados feitos em Caic so
conhecidos pela riqueza de detalhes e qualidade de acabamento, fazendo com que
alcancem inclusive altos preos de venda.
Por fim, diante de toda carga histrica, desde a colonizao portuguesa e de
todos os aspectos que envolvem a produo do bordado, desde aspectos sociais,
institucionais, culturais, pessoais e organizacionais, esta se mostrou uma
problemtica interessante e que mereceu estudo.
O problema de pesquisa foi analisado na perspectiva do respondente da
pesquisa aplicada.
Assim, buscou-se respostas para a indagao de como so tomadas as
decises nas organizaes familiares de bordados no municpio de Caic/RN?
1.3. OBJETIVOS
1.3.1 Geral
Analisar o processo de tomada de deciso nas organizaes familiares de
bordados de Caic/RN.
1.3.2 Especficos
- Caracterizar o perfil sociodemogrfico dos pesquisados;
- Identificar o tipo de organizao familiar;
- Descrever a gesto estratgica das organizaes familiares pesquisadas;
- Verificar os aspectos pessoais, culturais, sociais, organizacionais e
institucionais da organizao com enfoque na tomada de deciso;
- Observar o processo decisrio das organizaes familiares de bordado.
1.4 JUSTIFICATIVA
O processo decisrio por si s no se trata de ato simples. preciso
entender sua significao, seus motivos impulsionadores, a forma de seu
desdobramento, o perfil do tomador da deciso e suas inevitveis consequncias.
22
Todas estas caractersticas j seriam significativo campo de pesquisa,
ganhando ainda mais importncia quando inserido num contexto rudimentar e
familiar, que atinge a sobrevivncia da famlia e a perpetuao do negcio, onde no
esto disponibilizadas as ferramentas tcnicas para a tomada de deciso.
O processo de deciso, em toda sua plenitude, desde as primeiras
percepes, passando por todas as etapas do processo decisrio, culminando com
a gerncia das consequncias advindas, campo relevante de pesquisa, diante de
mutabilidade do mercado e da crescente necessidade das empresas de buscar
conhecimentos e meios de tomar decises acertadamente, com o mnimo de
implicaes negativas, garantindo assim a prosperidade da organizao e sua
solidificao no universo competitivo.
A pesquisa elaborada, alm de ser relevante, pois a preocupao com o
processo decisrio pacfico em todas as organizaes inseridas no mercado,
tambm se mostrou vivel j que foi possvel aferir atravs de observao e
aplicao de questionrios o alcance do objetivo do trabalho.
Alm de vivel e relevante a pesquisa traz em seu bojo a originalidade, uma
vez que, apesar de existirem trabalhos sobre processo de tomada de deciso ou
sobre organizaes familiares, as pesquisas realizadas em bases de dados4, no
apontaram qualquer pesquisa envolvendo os dois temas simultaneamente e mais
ainda sob o enfoque das bordadeiras do municpio de Caic/RN.
Dessa forma, alm da relevncia, viabilidade e originalidade do tema,
tambm preciso destacar que os dados obtidos na pesquisa, aps tratamento e
anlise, forneceram importantes elementos para a sociedade, para o mercado dos
bordados de Caic e para a economia do estado.
Para as empresas pesquisadas, a anlise dos dados finais forneceu
elementos que conduziro a uma melhoria no processo de tomada de deciso, uma
vez que tratam-se de empresas simples, onde a gesto feita de forma pragmtica,
sem os conhecimentos tcnicos que so obtidos nos cursos e estudos destinados a
este fim.
Conforme j dito, trata-se de campo de pesquisa pouco estudado na
academia, visto que une o processo de tomada de deciso e as organizaes
4 BTDT, Scielo, More
23
familiares num mesmo contexto, colocados em universo de pesquisa pouco
explorado nessa temtica.
24
2 REFERENCIAL TERICO
A pesquisa de campo e os resultados consequentemente obtidos
necessitaram de arcabouo terico a fim de facilitar a compreenso do estudo
realizado, bem como confirmar ou infirmar hipteses. Dentro do contexto da
pesquisa, se mostra indispensvel o conhecimento sobre a tomada de deciso, as
organizaes familiares, bem como o cenrio eleito para a pesquisa, qual seja, as
empresas de bordado.
2.1 PROCESSO DE TOMADA DE DECISO
2.1.1 Percepo
O processo decisrio por si s no se trata de ato simples. preciso
entender sua significao, seus motivos impulsionadores, a forma de seu
desdobramento, o perfil do tomador da deciso e suas inevitveis consequncias.
No obstante, antes de toda essa discusso, existe o aspecto da percepo, que lhe
est relacionado e que urge de entendimento para seguir-se adiante.
A percepo na verdade um processo cognitivo que inclui no apenas a
observao do ambiente, mas tambm de si mesmo. Cada indivduo procura
desenvolver meios para processar as informaes que recebe do ambiente e que
percebe em si mesmo, extraindo de todo esse processo o melhor resultado possvel.
A necessidade de decidir surge quando nos defrontamos com um problema que implique a necessidade de escolha e/ou mudana. Podemos dizer que existe um problema quando h um desvio entre aquilo que percebemos e as nossas expectativas ou necessidades, ou seja, quando a realidade percebida diferente do modo como gostaramos que ela fosse (Pereira e Fonseca, 2009, p 14).
Assim a percepo, num sentido etimolgico, significa ato ou efeito de
perceber, recepo, cobrana. Todavia, no campo do comportamento organizacional
significa a forma particular com que cada indivduo sente ou interpreta a realidade
que o cerca. Nessa seara, uma mesma realidade pode ser percebida de forma
diferente por distintas pessoas.
Para Soto (2002), percepo o processo pelo qual os indivduos organizam
e interpretam suas impresses sensoriais visando dar significado a seu ambiente.
25
Dessa forma, o desenvolvimento da percepo inicia com as sensaes fsicas,
obtidas atravs dos sentidos bsicos humanos. Passada essa fase, digamos,
rudimentar, as sensaes captadas so analisadas mentalmente e passam a
produzir resultados cognitivos que so diferentes de acordo com cada indivduo.
Essa percepo diferenciada ocorre em decorrncia de uma srie de fatores.
Robbins (2005) chama a ateno para trs fatores: o observador do fato, a situao
em que o fato est inserido e o alvo dos fatores. Quem observa tem atitudes,
motivaes, interesses, experincias e expectativas em relao aos fatos. Estes por
sua vez sero influenciados pelo momento, pelo ambiente de trabalho e pelo
ambiente social.
Dentro dessa temtica da percepo, est aquela centrada nas pessoas.
Perceber pessoas muito diferente de perceber coisas, afinal, estas ltimas no tem
sentimentos, objetivos, emoes ou vontade prpria. Ao perceber uma pessoa
acabamos por tecer julgamentos de suas atitudes levando em considerao
caractersticas pessoais, intrnsecas, bem como influncias do ambiente.
Assim, nessa forma de percepo, levamos em considerao fatores como
as reaes do indivduo diante de situaes diferenciadas, os comportamentos de
outras pessoas numa situao idntica analisada e a repetio do comportamento.
partir de tais premissas, possvel concluir que numa percepo das pessoas, se
torna comum a observao das mesmas, a interpretao de suas atitudes e a
concluso a que se chega sobre seu comportamento.
Logicamente no se trata de frmula matemtica infalvel e pode ser que
ocorra confuso entre os fatores que so levados em considerao no momento da
percepo da terceira pessoa.
Ao lado desse mecanismo um pouco mais elaborado na percepo das
pessoas, existem formas mais simples de faz-lo e que so comumente utilizadas.
Numa percepo seletiva feita a escolha dos pontos que so considerados mais
relevantes pelo observador, sem que se tenha que prestar ateno no conjunto, o
que promove uma percepo rpida, mas imprecisa. Esse tipo de percepo em
muito se assemelha ao tipo denominada de efeito halo, j que nesta modalidade a
percepo geral sobre uma pessoa se assenta numa nica caracterstica, que
geralmente aquela que mais interessa quele que esta observando.
To simples quanto perceber algum de forma seletiva ou apenas por uma
nica caracterstica, a percepo baseada na comparao com outras pessoas ou
26
na forma como se presume que o indivduo o , o que torna a anlise no fidedigna.
Bem como simplria a percepo que leva em considerao o grupo social em que
o indivduo est inserido, o que faz com que seus traos de personalidade
individuais sejam desconsiderados no julgamento final.
Todas essas formas de percepo de pessoas, das mais elaboradas com
seus mecanismos prprios, s mais simples, acabam por ser utilizadas nas
organizaes, que so locais impregnados de julgamentos.
No cenrio organizacional, a primeira forma de julgamento atravs da
percepo das pessoas ocorre, normalmente, na entrevista de emprego. Nesse
momento, geralmente fugaz, as caractersticas que sero percebidas variam
conforme o avaliador ou entrevistador, e podem ocorrer fatores alheios vontade do
avaliado que acabam por decidir sua sorte.
Superada essa fase inicial, o empregado passa a ser julgado por seus
superiores ou pares constantemente. Nessa modalidade de percepo comum a
transferncia para o outro de caractersticas que j so almejadas ou esperadas. Em
outras palavras, a percepo passa a ser feita com base em expectativas que o
julgador espera sejam alcanadas.
Nesse ltimo caso, a transferncia de expectativas, o avaliado pode interferir
no processo e at surpreender, modificando a percepo final formada sobre si. Por
outro lado, mais grave se torna quando quem est sendo julgado faz parte de um
grupo tnico que, naquela regio onde sua organizao se encontra, visto com
cautela e receio. Para essas circunstncias, se torna mais difcil o afastamento do
esteretipo.
Por fim, dentro da vida organizacional, existem ainda outros fatores que so
levados em considerao no momento da formao da percepo de uma pessoa,
quais sejam, a avaliao de desempenho do funcionrio e o esforo que este
emprega no desempenho de suas funes. Quanto mais alta a avaliao e quanto
maior o esforo, melhor ser sua percepo.
2.1.2 Relao entre percepo e deciso
Basicamente decidir fazer escolhas. A deciso no prerrogativa exclusiva
do chefe ou responsvel pela empresa, posto que todos os envolvidos numa
organizao decidem desde os aspectos mais simples, at questes que podem
27
interferir na conduo das atividades laborais de todos. Porm, existe uma relao
entre esta atitude cotidiana e rotineira com a percepo.
As decises constituem o contedo do trabalho dirio dos administradores e
provavelmente, a tarefa mais caracterstica dos chefes (GOMES, 1965). Decises
so dirias e inevitveis, alm de causar impacto nos mais variados aspectos da
empresa, desde simples escolhas de material de expediente, at estratgias de
marketing.
Porm, antes de decidir, necessrio perceber que essa ao se faz
necessria. Dessa forma, sendo a percepo a forma particular com que cada
indivduo sente ou interpreta a realidade que o cerca, tal aspecto tem significativa
influncia no tipo da escolha a ser feita e na qualidade dessa deciso que tomada.
Em outras palavras, a escolha a ser tomada depende do problema percebido
e que necessita de resoluo. Apenas as situaes detectadas como problemticas
que necessitam de anlise e de busca por solues, que justamente a deciso,
escolhendo entre as alternativas possveis. Da se destaca a relevncia da
percepo, posto que se no percebido como problema, no h necessidade de
que se desencadeie um processo decisrio com todas as etapas que lhe so
inerentes.
Ao lado da percepo inicial que identifica que existe um problema a ser
resolvido, existe a percepo que aponta de que forma as decises devem ser
tomadas para sua soluo, quais dados utilizar para desbaratar o problema, quais
informaes devem ser potencialmente usadas e quais os possveis resultados
finais.
Neste momento entram em cena as atitudes, que pe o tomador de deciso
numa postura de ao frente s situaes que se lhe apresentam. As atitudes
variam a depender do aspecto do problema a ser resolvido, ao mesmo tempo em
que afloram caractersticas da personalidade, mesmo que aquelas no sejam
imutveis.
As atitudes podem ser modificadas para adaptar a ao a ser tomada aos
valores pessoais. Tambm tem forte influncia sobre as atitudes o conhecimento, a
afeio e a conduta, sendo uma relao em movimentos cclicos.
Para Simon (1979), a escolha da deciso consiste em determinar qual ser o
curso da ao a ser tomada, sendo indispensvel que sobre tal situao seja
28
proferido algum tipo de julgamento, j que este ltimo significa pensamento e ao
voltados para determinado parmetro em detrimento de outros.
Ainda Simon acrescenta que as decises so mais do que simples
proposies factuais. Para ser mais preciso, elas so descrio de um futuro estado
de coisas, podendo essa descrio ser verdadeira ou falsa, num sentido emprico
(1979, p. 52).
Assim, num processo de tomada de deciso, a percepo fundamental para
identificar o problema a ser sanado, bem como quais ferramentas devem ser usadas
no seu extermnio.
2.1.3 Conceito de deciso
Qualquer que seja a organizao, grande ou pequena, familiar ou no,
existem momentos em que decises precisam ser tomadas, sejam aquelas apenas
referentes rotina, sejam aquelas que podem influenciar o futuro da empresa. A
relevncia da deciso est na escolha que feita, nos fatores que afetam esse
processo e nas consequncias que advm, atingindo a estrutura organizacional, os
clientes e os colaboradores.
De acordo com Hoppen (1992), as atividades realizadas nas empresas nos
seus diversos nveis hierrquicos, so essencialmente atividades de tomada de
deciso e resoluo de problemas.
importante que no apenas a ao final seja analisada, ou seja, a deciso.
Porm, se mostra fundamental igualmente que os fatores que antecedem a deciso
final sejam objeto de estudo, bem como os meandros que levaram a este ou quele
entendimento do tomador da deciso.
Para um administrador, decidir to importante e fundamental quanto
planejar, dirigir e controlar a empresa.
Mas, afinal, o que deciso? Existem vrios autores que fornecem uma
conceituao para essa temtica. Para Wagner e Hollenbeck (2004, p 58), deciso
o processo pelo qual as informaes percebidas so utilizadas para avaliar e
escolher entre vrios cursos de ao. Para Robbins (2010, p 167), deciso a
escolha feita entre duas ou mais alternativas e para Daft (2006, p 372), tomada de
deciso organizacional formalmente definida como o processo de identificao e
soluo de problemas.
29
Ainda trazendo conceitos sobre o que deciso, temos Choo (2003) para
quem as decises so resultados da escolha de um determinado curso de ao
iniciado a partir da identificao de um estmulo para a ao e tem sua funo
cumprida quando se finaliza com o compromisso especfico para a ao. Por sua
vez, Oliveira (2004), entende que a tomada de deciso a converso das
informaes em ao, ou seja, uma ao tomada com base na averiguao de
informaes para o alcance de determinado resultado.
Qualquer que seja a definio de deciso resta claro que sempre estar
envolvido um problema que precisa ser solucionado. Alm do elemento problema,
existem outros inerentes a uma deciso: a pessoa que toma a deciso, os objetivos
que esta pessoa pretende alcanar ao final, os valores pessoais do tomador de
deciso, a escolha da melhor estratgia para resolver o problema, a situao em
que o problema est inserido e a consequncia da estratgia escolhida.
V-se que uma deciso envolve vrios elementos e que estes esto
interligados atravs de uma estrutura de racionalidade, em que pese a inegvel
influncia que valores e preferncias pessoais acabam por exercer sobre aquele que
detm a responsabilidade de decidir diante de um problema que se lhe apresenta.
As decises so ligadas aos valores pessoais do tomador da deciso, bem
como aos valores da empresa. A ideia do valor est muito ligada deciso, bem
como a ideia de utilidade, j que esta permite uma espcie de escala de medio de
valores.
Esse aspecto pessoal pode ser explicado por uma srie de fatores. O tomador
da deciso no tem condies de abarcar todo o conhecimento tcnico sobre
determinado assunto, o que lhe obriga a migrar para o campo da suposio e da
aceitao de que, qualquer que seja a deciso tomada esta no ser infalvel. Outra
subjetividade que a deciso eleita acaba por afastar outras possveis, sendo
aceitvel que ela sirva apenas como um meio para se chegar a um fim, com uma
nova deciso que vir a ser tomada oportunamente. Por fim, o tomador de deciso
necessita compreender que algumas decises podem ser tomadas pela prpria
organizao, lhe retirando total ou parcialmente a autonomia.
30
2.1.4 Tipos de deciso
Para que uma deciso seja tomada, primeiramente o problema deve ser
identificado, para em momento posterior ser solucionado. Na identificao do
problema as condies internas e externas devem ser apontadas, bem como as
causas que levaram ao surgimento do problema. Chegado o momento da soluo,
as alternativas so consideradas, tanto as comuns ou padronizadas, como aquelas
que, em tese, seriam inovadoras.
Para Katz e Kahn (1976), as decises que vierem a ser tomadas, podem ser
visualizadas dentro de trs dimenses bsicas: 1) O nvel no qual se pode
generalizar ou abstrair a deciso; 2) O tamanho do espao organizacional, externo
ou interno, afetado pela deciso e 3) A durao de tempo em que a deciso ter sua
durao.
Partindo da premissa de que todo o processo decisrio surge a partir de um
problema, este poderia ser conceituado como uma alterao no pretendida entre a
situao presente e aquela que deveria existir. Quando essa dissonncia visvel,
menos labor em resolver. A dificuldade surge de forma mais pontual quando o
problema no de fcil identificao ou ainda quando o problema considerado
grave por alguns e tolervel por outros dentro da mesma empresa.
Ao tomar sua deciso, inevitavelmente haver uma influncia da cultura
pessoal do tomador da medida no tipo de deciso que ir ser levada a cabo. Dessa
forma, o tipo de deciso pode ser influenciado por um comportamento mais racional,
mais lgico, mais intuitivo, mais imediatista ou mais analtico. O tipo de deciso
tambm pode sofrer influncia em razo de preferncias por decises singulares ou
colegiadas, mais agressivas ou conservadoras.
Assim, v-se que o tipo de deciso, seja ele qual for, no ser de todo livre e
intocado, mas, sim, permeado por traos pessoais e culturais do responsvel pela
emisso da deciso.
As decises podem ser classificadas em programadas e no programadas.
As primeiras so aquelas insertas na rotina, que se repetem constantemente e que
no exigem maior elaborao em sua soluo, pois no demandam maior
detalhamento das possveis alternativas. J as segundas, as no programadas, so
excepcionais, no se repetem com facilidade e demandam maior planejamento para
a escolha da alternativa de soluo mais vivel.
31
Sobre esse tipo de deciso, Dubrin (2003), entende que as decises
programadas so procedimentos de respostas j existentes ou estabelecidos na
organizao para lidar com um problema visto como corriqueiro e recorrente. Em
contrapartida, as decises tidas como no programadas, so aquelas decorrentes
de problemas complexos ou no corriqueiros como estmulos para decises fora da
rotina, pois as alternativas de ao no esto especificadas de antemo.
As decises tambm podem ser enquadradas como racionais, ou seja, que
seguem uma sequencia programada e que obedecem etapas claras e definidas,
quais sejam, definio do problema a ser atacado, listagem dos critrios a serem
adotados para a deciso, atribuio de pesos de relevncia para cada um dos
critrios listados, listagem das alternativas viveis para a soluo do problema,
avaliao de tais alternativas de acordo com os critrios levantados e seu respectivo
peso, e finalmente, a escolha da alternativa que se mostre mais acertada.
preciso ressaltar que para que uma deciso possa ser classificada como
racional e consequentemente siga todos os passos alhures elencados, preciso que
no haja dvidas plausveis quanto ao problema a ser resolvido, as opes de
soluo, as preferncias e que a tempestividade e o custo para a soluo do
problema no sejam fatores de bice.
Dubrin (2003) classifica as decises relativamente ao grau de certeza, risco
ou incerteza das mesmas. A certeza se verifica quando os fatos so conhecidos e o
resultado pode ser precisamente antevisto. Uma condio de risco significa que a
certeza apenas parcial quanto aos possveis resultados e, por fim, a condio de
incerteza manifestada quando a informao precisa ser baseada em informaes
limitadas ou informaes factuais.
Na maioria das vezes, as decises so tomadas num clima de incerteza. Em muitas situaes, a incerteza inerente ao processo. O que se pode distinguir, no entanto, que no h necessariamente uma relao direta entre incerteza e insegurana (...) muitas decises ocorrem sem que o decisor possua preferncias articuladas, suas escolhas so construdas durante o processo decisrio e no simplesmente reveladas. Frequentemente dependem de uma viso geral do problema, do mtodo de anlise das alternativas e do contexto. (Fonseca e Pereira, 2009, p. 52-53)
Outro tipo de deciso a chamada deciso criativa, que ocorre quando o
tomador de deciso percebe aspectos do problema que outras pessoas no
conseguem enxergar, bem como tem tambm a capacidade de visualizar todas as
alternativas possveis de soluo, no se limitando a um nmero reduzido opes.
32
Nesse tipo de situao, o potencial criativo que existe em toda e qualquer pessoa,
aflora de forma mais eficiente diante de um problema que urge ser sanado.
Surge ento o desafio de fazer com que a criatividade seja cada vez mais
intensa atravs da combinao dos elementos do amplo conhecimento sobre sua
rea de atuao, da capacidade de ver os problemas e suas respectivas solues
sob diferentes ngulos e do nvel de envolvimento com o problema que deve ser
resolvido, fazendo com que isso se torne uma atividade prazerosa.
Shimizu (2010) baseia sua classificao das decises em quatro critrios de
anlise: atividade administrativa na qual se vincula a deciso, nvel de importncia
dentro da organizao, estruturao e previsibilidade.
As caractersticas dos tipos decisrios citados se aplicam em sua maioria s
decises ditas singulares, posto que existe a deciso do tipo colegiada, onde um
grupo tem a responsabilidade de resolver o problema que foi posto.
Numa deciso do tipo grupal, se torna mais espinhosa a misso de avaliar de
forma pragmtica as alternativas de soluo de problemas, ao mesmo tempo em
que se torna questionvel a qualidade da deciso final, diante da multiplicidade de
pensamentos.
Nas decises que so tomadas em grupo, tal qual as decises individuais, a
clula grupal acaba por ceder s presses por resultados, por enquadramento s
normas organizacionais e isso inevitavelmente achata a seara individual dos
componentes do grupo.
Em contrapartida, uma vez a deciso sendo tomada em grupo, este se torna
uma espcie de organismo de fora, fazendo com que suas ideias sejam impostas e
aceitas, ofertando resistncia s mudanas propostas, discutindo e argumentando
com eventuais opositores dos argumentos apresentados, causando silncio s
posies individuais dissonantes, o que leva a uma falsa ideia de que houve um
entendimento sem discordncias.
De fato, ao expor uma deciso tomada coletivamente, o grupo passa a
defender suas premissas e a passar uma representao prosaica de si mesmo.
Sobre as decises tomadas em grupo, Krumm (2005) afirma que a influncia
percebida no pensamento grupal, que desenvolvido com um elevado grau de
unidade e consenso entre os membros do grupo. Tal unio deve ser encarada com
cautela, pois pode bloquear a abertura para outras perspectivas de pessoas que no
estejam inseridas no grupo.
33
Como forma de amenizar os efeitos de uma deciso tomada coletivamente,
preciso que no grupo exista uma liderana que haja de forma imparcial, respeitando
as liberdades individuais, preciso tambm que sejam levadas em considerao as
opinies emitidas pelos membros do grupo, que sejam questionados os
posicionamentos adotados e que sejam feitas discusses construtivas sobre o tema
em debate de forma livre, sem qualquer tipo de receio ou retaliao.
Por outro lado, as decises do tipo coletiva favorecem a escolha de
alternativas mais arriscadas e maior uso de criatividade, uma vez que, a final de
contas, no existir dessa forma responsabilizao individual. Quanto maiores e
mais aguadas forem as discusses antes do debate em grupo, maior as chances
de que seja tomada uma deciso ousada.
Essa falta de responsabilizao individual vista por Krumm (2005) com certa
cautela, pois pode criar uma espcie de ociosidade social, j que o esforo coletivo
se torna menor do que o individual. Dessa forma, as contribuies individuais devem
ser registradas.
Tais discusses grupais so mais eficazes quando tomadas frente a frente,
onde todos os membros podem se ver e exercer seu papel de persuaso de forma
mais enftica. Alm do mais, a discusso em grupo mais propcia para a gerao
de novas ideias.
Caso o grupo opte por no realizar esse tipo de discusso conjunta e em
meio a debate, possvel que a deciso coletiva seja sistematizada, ou seja, mesmo
conjunta, cada indivduo pode trazer suas consideraes pessoais, inclusive por
escrito, sendo dada a oportunidade de que todos tenham conhecimento sobre o
posicionamento de todos, sendo ao final escolhida a melhor alternativa como
soluo final.
Existe ainda a possibilidade de que o grupo opte pela deciso coletiva mas
sem reunio com debate ou sem reunio com discusso de ideias. Nesse caso, a
tecnologia se faz necessria, sendo imposto que o grupo passe a trocar
posicionamentos atravs de computador.
As vantagens das decises tomadas em grupo via computador, residem no
fato de que o anonimato acaba por proporcionar maior honestidade quanto aos
posicionamentos individuais, alm de ser mais gil.
inquestionvel que existem diferenas entre as decises tomadas por
grupos pequenos e grupos grandes. Quanto maior for o grupo reunido para tomar
34
decises, maior ser a capacidade de coletar informaes teis para embasar o
resultado final. Por outro lado, quanto menor for o grupo, mais facilmente poder
haver a implantao da deciso.
Outro tipo de deciso aquela focada na concorrncia, ou seja, que leva em
considerao qual ser a reao de empresas concorrentes no mercado, fazendo
com que muitas das decises tomadas no sejam genunas ou nascidas de uma
necessidade vivenciada, mas sim decide-se buscando uma estratgia de contra
ataque.
Tal tipo de deciso tem seus riscos uma vez que no mercado organizacional,
comum a coalizo de empresas concorrentes.
2.1.5 Processo decisrio
Decidir no tarefa simples e envolve alguns elementos, como j foi referido
anteriormente. Sendo assim, o processo que leva deciso igualmente envolve uma
srie de etapas que so cruciais para o resultado final, mas que no
necessariamente precisam ocorrer, sendo permitido que algumas sejam suprimidas,
caso a urgncia esteja presente no contexto.
O processo decisrio envolve a percepo do problema, a anlise e definio
deste, o ajuste de quais objetivos devem ser alcanados, a eleio das alternativas
de soluo, bem como sua comparao, a escolha da alternativa aps anlise e a
implementao da soluo encontrada.
Todavia, esse processo de tomada de deciso, afetado por alguns fatores
determinantes. Autoridade, que o poder de tomar deciso guiando a ao de
outrem, normalmente um subordinado; comunicao, que a forma como as
decises so ou sero repassadas; treinamento, repassando ensinamentos sobre
decises j tomadas e preparando para as futuras; critrios de eficincia, ou seja,
alcanar com os recursos disponveis os melhores resultados; lealdade organizativa,
que a internalizao dos bons valores da organizao, fazendo com que as
decises tomadas estejam em harmonia com os objetivos institucionais (SIMON,
1979); informao, que so dados imbudos de significado, relevncia e propsito
(ANGELONI, 2003); e aspectos internos do indivduo, as decises precisam ser
tomadas de uma maneira racional, desenvolvidas atravs de uma metodologia
adequada e com uso de reflexo (COSTA NETO, 2007).
35
Com base nas etapas do processo decisrio j referidas e nos fatores de
influncia j mencionados, aquele que vai tomar a deciso pode tentar alcanar o
mximo possvel de informaes sobre aquele assunto ou simplesmente obter as
informaes que julgar necessrias, sendo-lhe ainda facultado focar numa nica e
melhor soluo, ou focar em diversas solues possveis elegendo a que mais se
adqua.
Na verdade, o processo decisrio acaba invariavelmente sendo influenciado
pelas circunstncias em que o problema est inserido, pela necessidade de
velocidade na soluo e pelo fator surpresa. Conforme dito, nem sempre a tomada
de deciso acaba sendo a mais acertada, pois no possvel faz-lo pausadamente
e analiticamente, sendo a subjetividade uma caracterstica marcante.
Considerando a necessria presena da subjetividade, diversas vezes a
razo acaba por ser ignorada, j que a satisfao aceitvel no lugar da deciso
ideal, em virtude da impossibilidade de conhecimento e processamento de todas as
possibilidades de soluo de eventual problema.
Assim, dentro do subjetivismo que inerente s situaes e ao tomador das
decises, este, dentro das opes de solues de problema que tem acesso, que
conhece ou que lhe surgem, certamente ir optar pela alternativa que atenda
satisfatoriamente questo, dentro de uma escala que migra desde a alternativa
considerada mais aceitvel, at aquela de mais difcil concretizao. A alternativa
criativa a mais distante da aceitvel e muitas vezes, por tal razo, no escolhida.
Dentro do processo decisrio, tal qual existe a subjetividade, existe a
urgncia, a necessidade de que as decises sejam tomadas de forma rpida, o que
faz com que, apesar da alternativa ou soluo ser aceitvel, acabe por ser tornar
ineficiente, ineficaz e de consequncias no desejadas.
As decises tomadas de forma muito rpida podem vir maculadas pela crena
exagerada em sua prpria capacidade, ou seja, pelo excesso de confiana, tambm
carregam a mcula da f excedida nas informaes preliminares, fazendo com que o
ponto de partida para a tomada de deciso se torne de alguma forma imutvel.
Dentro da necessidade de tomar decises de forma rpida, tambm comum
que o tomador da deciso procure informaes que corroborem seu prprio ponto de
vista, seja porque mais clere, seja porque muito mais facilmente se aceita aquilo
que no causa confronto s suas prprias convices. Igualmente muito mais fcil
36
optar entre alternativas mais prximas ou utilizadas recentemente, do que solues
inditas ou que j tenham sido tentadas h bastante tempo.
Na nsia de tomar uma deciso da forma mais rpida possvel, muitos
tomadores de deciso acabam por estabelecer padres de resultados positivos ou
negativos e acabam pautando-se nessas supostas estatsticas, sem nenhuma
comprovao, para embasar decises futuras.
Essa tentativa de padronizao ou de lgica pode ser associada ao modelo
clssico proposto por Kepner (1972), para quem a soluo de um problema deve
seguir uma sequncia lgica, qual seja, identificao do problema, investigao de
sua causa e posterior deciso da forma mais corretiva possvel.
A racionalidade organizacional postula a possibilidade tanto de domnio de fatores incontrolveis como de eliminao de riscos e incertezas no processo decisrio, mediante uma anlise cuidadosa e globalizada. Tem como base a teoria organizacional clssica, com racionalidade de comando, controles centrais, especializao de trabalho e distribuio de autoridade. (MOTA, 1988, p. 16)
No bastasse o engano em estabelecer tais padres, a situao pode ainda
ser significativamente piorada quando se insiste numa fidelizao s decises
pretritas, um modelo de deciso anterior, uma poltica de decises sobre
determinado assunto, mesmo que comprovadamente no tenham se mostrado
eficazes.
Decises que so tomadas de forma rpida ainda podem padecer de
escolhas feitas de forma aleatria, sem levar em considerao qualquer critrio
cientfico ou factualmente comprovado, travando qualquer possibilidade de absoro
de informaes novas ou dados inditos. ainda importante frisar que comumente
se observa que os tomadores de deciso no costumam aprender com seus
prprios erros e muitas vezes acabam por no recordar mais dos desacertos
anteriores.
No processo de tomada de deciso existe a subjetividade, a necessidade de
rapidez e tambm a intuio. Decises que so tomadas intuitivamente no
necessariamente so irracionais, so apenas baseadas em situaes vivenciadas
anteriormente e que acabam por complementar um processo de tomada de deciso
racionalizado com todas as suas etapas.
Na verdade, em muitos casos, a deciso somente pode ser tomada de forma
intuitiva e no racional. Nesses casos, a intuio se mostra mais eficaz porque a
incerteza muito alta, porque no h relatos de situaes similares vivenciadas
37
anteriormente, porque no possvel estabelecer variveis seguras, porque os fatos
ofertados no oferecem ampla informao ou chegam a ser obscuros, porque
facilmente se encontram alternativas plausveis de soluo ou porque existe a
necessidade de que a deciso seja tomada de forma rpida.
Nas circunstncias elencadas acima, efetivamente, a intuio se mostra como
melhor alternativa racionalidade. Somente possvel usar a razo quando se
dispe de tempo, dados e informaes para que isso se faa.
Mesmo na seara da intuio como norte na tomada de decises, inegvel
que caractersticas pessoais do tomador de deciso causem influncia. Logo,
decises intuitivas de homens e mulheres so diferentes, bem como so diferentes
as decises tomadas por pessoas com traos de personalidade distintos.
A personalidade define a forma de pensar mais lgica, racional, intuitiva ou
criativa. As decises podem ser tomadas com muitas ou poucas informaes, de
forma mais rpida ou mais lenta, com vrias ou escassas alternativas, com enfoque
a curto ou a longo prazo, decidindo-se pela soluo ideal ou pela aceitvel. Enfim, o
processo de tomada de deciso vai depender da personalidade do tomador.
A personalidade tem importncia acentuada ao se questionar como um
mesmo problema vem a ser resolvido de forma distinta por pessoas que possuem,
teoricamente, a mesma formao acadmica, mas comportamentos diversos.
Da mesma forma que a personalidade influencia no processo de tomada de
deciso, o gnero tambm exerce papel de diferenciao. Homens e mulheres
pensam, agem e sentem de forma distinta. Em tese, as mulheres tendem a analisar
mais demoradamente antes de tomar uma deciso e a desenvolver mais empatia
com as pessoas em seu local de trabalho. Os homens ao contrrio seriam mais
incisivos e mais imediatistas para a tomada de deciso.
Em que pese o processo de tomada de deciso ser permeado por
subjetividade, velocidade, intuio e influncias da personalidade, existem tambm
limites que so impostos pela prpria organizao, uma vez que, como sabido,
toda e qualquer pessoa da organizao capaz de tomar decises que podem ou
no atingir a esfera pessoal de terceiras pessoas.
O ambiente organizacional no qual a deciso ocorre definido, no mnimo, por duas propriedades: a estrutura e a clareza dos objetivos organizacionais, que tm um impacto sobre as preferncias e escolhas; e a incerteza ou quantidade da informao sobre os mtodos e processos pelos quais as tarefas devem se r cumpridas e os objetivos devem ser atingidos (CHOO, 2003, p.275).
38
Especialmente os gestores das organizaes, devem estabelecer limites ou
parmetros para suas prprias decises, at mesmo como forma de ser fator de
facilitao para situaes futuras.
Entre ditos parmetros ou limites podem-se elencar a avaliao de
desempenho dos funcionrios segundo critrios da empresa, sistemas de
recompensa que sigam o resultado final pretendido pela organizao, observncia
s regras e regulamentos da empresa antes de tomar qualquer deciso, respeito aos
prazos postos pela organizao, sejam eles explcitos ou no, coerncia com as
decises que foram tomadas anteriormente sobre assuntos semelhantes.
Sendo assim, no processo de tomada de deciso, mister se afirmar que existe
uma limitao liberdade de decidir, no sendo demais inferir que ditos regramentos
de limitao podem impor um tolhimento da criatividade, o que pode gerar limitao
tambm do crescimento da organizao.
Igualmente imperioso frisar que no apenas as limitaes impostas pela
empresa ou organizao devem ser observadas pelo tomador da deciso, mas
tambm os limites impostos pela sociedade, como tica, moral e bons costumes.
Dentro das limitaes impostas pela sociedade, no processo de tomada de
deciso deve-se ter em mente alm da melhor forma de resolver o problema,
tambm qual ser seu resultado final. Dito resultado deve ser satisfatrio para o
maior nmero de pessoas e deve ser fator gerador de bonana para a organizao
em grau superior a qualquer intemprie que venha a surgir.
Ainda no processo de tomada de deciso, no se pode olvidar da necessria
observncia aos direitos individuais e coletivos legalmente previstos, posto que o
desrespeito aos regramentos legais no justificvel mesmo dentro de um ambiente
empresarial e por isso mesmo de alta competio.
Para tomar uma deciso, o tomador deve faz-lo de forma justa, dentro de
parmetros que estabeleam similaridade de situaes e de pessoas, a fim de evitar
arbitrariedades, primando dessa forma pela coerncia, o que acaba por fortalecer o
que decidido.
Diante de uma mirade de elementos que devem ser considerados no
momento da tomada de deciso, a saber, subjetividade, velocidade, intuio,
influncias da personalidade, normas e regramentos da organizao, somam-se
tambm as limitaes e regramentos sociais, que por serem altamente abstratos e
intangveis, s vezes so de difcil aplicao.
39
2.1.6 Consequncias da deciso
O momento da tomada de deciso fundamental para o curso de uma
empresa ou mesmo da vida profissional. Uma deciso equivocada, um excesso de
confiana ou a falsa percepo de algo, pode fazer do tomador de deciso um vilo,
quando teria a oportunidade de ser heri. A busca sempre est em decises
corretas e executadas acertadamente.
Todavia, quando os equvocos ocorrem a situao inversa. Geralmente os
erros se devem ao fato de terem sido ignorados alguns sinais como a opo por
uma deciso mais lgica, o respeito prpria experincia de vida sobre aquele
assunto em testilha e a ausncia de consulta s situaes similares anteriores.
Para minimizar o risco de consequncias desastrosas, o tomador de deciso
deve examinar cautelosamente o problema que lhe foi apresentado ou que foi
percebido, deve buscar o mximo de alternativas de soluo possveis, deve
analisar e escolher a alternativa que melhor se adqua para a soluo e deve ao
final implement-la e fiscalizar seu funcionamento.
No momento da escolha da alternativa, talvez o mais importante de todo o
processo, o tomador deve ser deter a questionamentos como quais as
consequncias para o resto da organizao, quais reas sero mais afetadas, como
minimizar possveis erros de execuo.
A tomada de deciso no um processo isolado, o que faz com que seja
indispensvel uma viso sistmica sobre a organizao e sobre o mercado.
Decises de um setor podem influenciar positiva ou negativamente em outro, bem
como o mercado no ficar inerte. Reaes positivas de consumidores podem
surgir, bem como o ataque de concorrentes.
Geralmente decises que visam grande lucro ou produtividade a curto prazo
tendem a ser equivocadas e podem comprometer inclusive o futuro da empresa, o
que seria por si s uma grave consequncia.
40
2.2 ORGANIZAES FAMILIARES
2.2.1 Famlia
A instituio da famlia, em que pese hoje a relativizao do conceito e a
diversidade com que formada, passou por um processo evolutivo que a levou de
organismo inteiramente voltado para a sociedade ou sociabilidade, para um ncleo
direcionado s suas interaes ntimas.
Na levada dessas mudanas de comportamento, esto as mutaes ocorridas
com a industrializao e a urbanizao no sculo XVIII, o que fez com que houvesse
uma distino muito clara entre o que era tratado como ambiente familiar e o que era
tratado como ambiente de trabalho ou profissional. Coisas distintas e funcionando
separadamente.
No fim do sculo XIX e incio do sculo XX, percebe-se que passou a haver
uma espcie de entrelaamento dos ambientes, no se podendo mais afirmar com
mxima convico de que os ambientes da famlia e do trabalho no poderiam ou
no estavam se encontrando.
No sculo XXI a famlia passa por transformaes sociais e intrnsecas fortes,
mudando o panorama de funcionamento interno, no podendo mais falar-se em
padro patriarcal, por exemplo, diante de toda mutabilidade inerente vida
societria.
O aspecto perene inerente famlia, que esta permaneceu como base para
a afetividade, confiana, sociabilidade e segurana, onde os laos que unem seus
participantes contam com elementos que os distinguem dos demais membros de
convvio dirio, passando a ser um facilitador para a edificao de uma vida no
apenas familiar, mas tambm empresarial.
Sob esse enfoque empresarial, a compreenso da dinmica familiar
fundamental para o entendimento sobre a gesto da organizao, pois no h
dissociao entre os hbitos, a cultura e os costumes de uma famlia e sua forma de
gerenciar uma empresa.
41
2.2.2 Organizaes familiares
Toda e qualquer empresa no est imune a fatores como cultura, emoo,
coeso, confiana, cooperao, associao, comprometimento, lealdade,
engajamento, inovao, iniciativa, conflito, rivalidade, poder, discriminao e
excluso (DAVEL e COLBARI, 2003).
Toda essa mirade de fatores, todos eles j complexos em si e que j causam
uma srie de desdobramentos dentro de uma organizao, acabam por ser
colocados de forma superlativa dentro de uma empresa de natureza familiar, pois os
processos sociais so mais presentes e mais fortes, j que envolvem aspectos
emocionais, afetivos e culturais.
Uma empresa passa a ser denominada familiar pela colaborao de pessoas
com forte determinao, enorme autoconfiana e desejo de trabalhar mais tempo e
com mais afinco (GRZYBOVSKI e TEDESCO, 1998).
As organizaes familiares surgem nas pequenas indstrias caseiras, muitas
vezes devido necessidade de sobrevivncia, pela falta de oportunidade no
mercado ou simplesmente pelo esprito empreendedor do fundador do negcio.
Independente da origem da organizao ou dos fatores que levaram a seu
surgimento, o envolvimento dos demais membros mostra-se mais forte quando
percebe-se a possibilidade de crescimento ou de prosperidade no negcio.
De toda sorte, para Gonalves (2000) o que caracteriza uma empresa familiar
o fato dela pertencer a uma famlia detentora da totalidade ou da maioria das
aes ou cotas, de forma a ter seu controle econmico, o fato da famlia ser a
detentora da gesto da empresa, definindo os objetivos, diretrizes e grandes
polticas e tambm o fato da famlia ser responsvel pela administrao do
empreendimento, com a participao de um ou mais membros no nvel executivo
mais alto.
Outros autores entendem que a melhor forma de definir organizao familiar
criar uma dicotomia em relao a uma empresa no familiar. Tal tpico merece
ateno, posto que ao tomar como base um conceito de organizao familiar,
podemos, dentro de um universo determinado, ter um nmero maior ou menor de
organizaes aptas a serem investigadas.
As leituras sobre a conceituao da empresa familiar iro resultar em
definies diferentes, onde cada autor ressalta nuances que lhe parecem mais
42
apropriadas ou mesmo indispensveis. Todavia, existem aspectos que so aceitos
de forma mais pacfica para caracterizar uma organizao como sendo de natureza
familiar: a propriedade da empresa, a gesto da mesma e a sucesso.
Porm, mesmo com os aspectos da propriedade, da gesto e da sucesso
sendo similares, pode ocorrer de organizaes intitularem-se como familiares ou
no, o que nos traria novamente para o campo da subjetividade e da indefinio. O
que fazer ou o que utilizar para tentar amainar a dubiedade e tentar criar uma forma
de padro de definio? A resposta pode estar na influncia familiar, juntamente
com a gesto feita pelo ncleo da famlia, que pretende manter-se nessa posio de
controle de forma indefinida para o futuro, segundo Chua et al (1999).
Para Guerreiro (1996) empresas familiares so aquelas em que todos ou
alguns dos scios possuem entre si laos de parentesco. Para a autora tambm se
deve levar em considerao nessa definio que se trata de uma associao afetiva
de parentes com objetivos econmicos, onde o direito de propriedade exercido
pelos familiares associados empresarialmente.
Nesse intrincado cenrio, onde famlia e empresa coexistem, no raro
acontecer uma confuso entre o parente e o gestor tcnico, o que pode favorecer o
surgimento de conflitos, que sero solucionados a depender da dinmica dos laos
de afeto ou no.
2.2.3 Tipologia das organizaes familiares
A definio de Guerreiro (1996), posto no item anterior, prima pela existncia
do vnculo familiar ou de parentesco. No obstante, tambm leva em considerao
aspectos como sentimentos de confiana e de lealdade, interesses e projetos de
vida partilhados, estudos de autoridade associados ao parentesco, que so
direcionados para a gesto da organizao familiar (GUERREIRO, 1996).
Esse entendimento leva concluso de que a logstica ou sistemtica
familiar, ir ter indelvel influncia no ordenamento da organizao, nas relaes
entre os scios e nas consequncias que adviro para o futuro do empreendimento.
Diante deste cenrio, Guerreiro (1996) identifica uma tipologia de famlias,
levando em considerao a forma da relao estabelecida entre elas e as empresas
s quais esto vinculadas, a saber, cl, linhagem, nuclear, conjugal, fraternal e
individual.
43
No tipo cl, a rede de parentes ampla, possui um grande nmero de scios
e uma organizao que j conta com alguns anos de funcionamento. Uma das
razes para sua fundao a necessidade de empregar os familiares, mantendo-os
unidos em torno de um empreendimento de interesse de todos, podendo ser
constituda por irmos, cunhados, sogros, tios, primos, genros e noras, exercendo as
mais variadas funes, desde as mais simples at as de maior responsabilidade.
Dessa forma, o capital pode ser dividido por um nmero maior de scios, tendo
assim uma quantidade significativa de dirigentes, mas orientados por um lder
designado.
No tipo linhagem, no h disseminao desordenada dos parentes, posto que
aqueles que descendem de forma direta so os mais privilegiados, ou seja, filhos e
netos. Os parentes chamados colaterais ou por afinidade, no gozam das mesmas
prerrogativas, em que pesem poderem trabalhar na organizao, geralmente no
possuem poder de deciso ou causam influncia na gesto. Na verdade, a
propriedade do capital fica centralizada nessa linha vertical, inexistindo scios
estranhos essa composio, inclusive os cnjuges dos descendentes no so
considerados como proprietrios.
No tipo nuclear, a organizao pode ter comeado por scios no familiares,
mas que posteriormente assumida por pais e filhos ou apenas um dos genitores e
sua prole. Os descendentes inclusive, aps formao acadmica, se interessam
pelo negcio, por vislumbrarem meio de crescimento e de continuao de seu
sustento. Pode-se afirmar que algumas organizaes tidas como nucleares,
surgiram da linhagem, onde havia um nmero considervel de descendentes diretos,
que, por falta de entendimento ou simplesmente por perspectivas diferentes,
resolvem montar seus prprios empreendimentos, desta vez, nucleares. A empresa
passa por um processo de retrao e a necessidade de manter laos de confiana
fator importante para a manuteno de uma organizao do tipo nuclear.
No tipo conjugal, a gesto da organizao feita basicamente pelo marido e
mulher, podendo esta unio conjugal ser formalizada antes ou depois da
organizao em funcionamento. Assim como a nuclear pode decorrer de uma
organizao do tipo linhagem, o tipo conjugal pode decorrer de uma nuclear. A
opo por este tipo de organizao vem de fatores como maior afinidade entre as
partes, semelhana da forma como encaram o trabalho, surgimento de ideias de
forma espontnea no dia a dia, desnecessidade de longos debates para aprovao
44
de novos projetos e garantia de que o trabalho est sendo realizado em proveito
prprio e no para beneficiar terceiras pessoas.
No tipo fraternal os protagonistas so irmos, que podem ter optado por
fundar ou comprar uma organizao. Os irmos escolhem esse tipo de gesto por
haver entre eles confiana, complementao de saberes ou habilidades,
necessidade de manuteno ou ingresso no mercado de trabalho, busca por
autonomia e fuga dos empregos assalariados. Em algumas organizaes desse tipo,
pode haver diferenas entre os encargos e a contraprestao recebida, tudo vai
depender do tipo de atividade desenvolvida por cada irmo. Em que pese a
igualdade de parentesco, podem haver diferenciaes quanto direo da
organizao e o gerenciamento de seu capital.
No tipo individual no existem laos de parentesco entre os scios e a famlia
participa apenas atravs do empresrio, j que h uma separao entre a atividade
empresarial e a relao familiar. Nesse caso no h uma ideia de perpetuao da
famlia na empresa, nem de continuidade atravs de futuras geraes ou de
proteo do patrimnio. Em que pese se tratar de organizao individual, a famlia
pode desempenhar um papel de apoio emocional e logstico, bem como influenciar
em decises estratgicas, que podem interferir nos rumos da empresa.
Segundo Guerreiro (1996), tais tipos apresentados so baseados em
observaes feitas em pesquisas, baseando-se nas caractersticas mais relevantes
observadas nas relaes das organizaes familiares, especialmente entre famlia e
empresa, posto que acabam por definir em grande parte seu modo de vida e suas
relaes sociais.
2.3 ORGANIZAES DE BORDADO
Bordar a arte de ornar desenhos base de linha e agulha, normalmente em
tecidos, usando a criatividade para combinao de cores e formas.
A prtica do bordado artesanal, normalmente realizada em casa e em sua
maioria por mulheres. Esse tipo de atividade, muito antes de seu aspecto econmico
e de ser meramente uma fonte de renda e de sustento para uma famlia, antes de
tudo uma forte expresso cultural e social.
45
Figura 3 - Bordado caicoense
Fonte: http://papjerimum.blogspot.com.br
Figura 4 - Bordado Richelieu
Fonte: http://papjerimum.blogspot.com.br
Ao analisar o artesanato, e aqui inclui-se o bordado como uma de suas
expresses, possvel enxergar duas vertentes. De um lado, pode-se estimular
essa prtica, como forma de valorizao do ofcio, da arte, como parte importante da
cultura (FLEURY, 2002). De outro lado, esse mesmo estmulo pode ser interpretado
como um impulso ao desenvolvimento e crescimento econmico, visando
exportao (LAUER, 1947).
Sem necessidade de enfronhar-se em tal temtica, se devem ser instigados
trabalhos nicos ou se devem ser feitas linhas de produo, o fato que, as
constantes mudanas no mercado fazem com que o artesanato, em suas mais
variadas formas, busque uma forma de organizao atravs de cooperativas, de
46
pequenas ou micro empresas, almejando a satisfao do mercado consumidor,
investindo em melhores e mais modernos meios de produo, bem como de matria
prima (FREITAS, 2006).
As organizaes voltadas para o artesanato, incluindo o bordado, sentiram tal
necessidade e passaram a trabalhar de forma mais organizada.
De acordo com o SEBRAE, aqueles que trabalham com o bordado esto
includos na tipologia de material processado, de origem vegetal, ou seja, o fio, que
d origem s rendas, tecelagem e bordados. Ainda segundo o servio, as
organizaes voltadas para o artesanato, podem se organizar como mestre-arteso,
arteso, aprendiz, artista, ncleo de produo familiar, grupo de produo artesanal,
empresa artesanal, associao ou cooperativa5.
Para esse estudo nossa ateno est voltada para a organizao que atua
como ncleo de produo familiar. Segundo definio do SEBRAE, a fora de
trabalho constituda por membros de uma mesma famlia, alguns com dedicao
integral e outros com dedicao parcial ou espordica. A direo dos trabalhos
exercida pelo pai ou pela me (dependendo do tipo de artesanato que se produza)
que organizam os trabalhos de filhos, sobrinhos e outros parentes. Em geral no
existe um sistema de pagamentos prefixados, sendo as pessoas remuneradas de
acordo com suas necessidades e disponibilidade de um caixa nico.
As organizaes familiares que trabalham com bordados possuem
peculiaridades que merecem ateno e investigao, notadamente sobre a forma
com que tomam suas decises visando sua sobrevivncia e manuteno no
mercado de trabalho, seu crescimento e sua permanncia como meio de sustento
da famlia.
2.4 ESTUDOS REALIZADOS SOBRE O TEMA
De forma a enriquecer ainda mais o referencial terico do presente trabalho,
foram feitas pesquisas sobre teses, dissertaes e artigos que tratam sobre a
temtica abordada. Os trabalhos examinados trazem abordagens e estudos
realizados sobre tomada de deciso, sobre organizaes familiares e sobre
artesanato e bordados, bem como sobre o municpio de Caic/RN.
5 gestaoportal.sebrae.com.br/uf/alagoas/oportunidades/expoart/.../at.../file
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De cada uma das leituras, buscou-se extrair informaes, fundamentos e
resultados que pudessem contribuir para a pesquisa realizada e, ao final, enriquecer
a anlise dos dados feita, gerando assim uma concluso mais completa possvel e
apta a ensejar novas pesquisas.
Em Luciano (2000), que trabalhou o Mapeamento das variveis essenciais
ao processo decisrio nas empresas gachas do setor do setor industrial alimentar,
o objeto do trabalho foi definir um conjunto de variveis que os decisores
consideram essenciais ao tomarem decises nas diversas reas de gesto,
elencando-as por incidncia e verificando as diferenas entre as mesmas. O
resultado da pesquisa foi de que chegou-se a um nmero de quarenta e cinco
variveis essenciais ao processo de deciso, colocando-se em ordem as mais
consideradas, a saber, custo, qualidade, mercado, concorrncia, preo,
rentabilidade, volume de vendas, fornecedores, tecnologia da produo, demanda e
produtividade. Todavia, cada empresa um sistema complexo e todos os setores
precisam trabalhar extremamente integrados.
Para Santos (2002), Intuio, liderana e tomada de deciso: um estudo
qualitativo, o objeto do trabalho foi analisar o papel do lder, suas caractersticas
bsicas e as similaridades com o profissional intuitivo na tomada de deciso. O
resultado da pesquisa foi de que a forma mais usual para se analisar a melhor
varivel no processo de tomada de deciso o mtodo quantitativo racional. Em que
pese existirem outras possibilidades como a intuio, j que esta no contrria ao
mtodo racional, mas, sim, complementar.
No artigo de Henriques (2006), intitulado Trabalho e famlia: o prolongamento
da convivncia familiar em questo, o objeto do trabalho foi observar os fatores
sociais particulares, bem como as representaes do mundo do trabalho expressa
por pais e filhos. O resultado da pesquisa foi de que os pais prezam pela
estabilidade a longo prazo com a empregadora, enquanto que os filhos optam pela
provisoriedade das experincias sociais, fazendo com que seja adiada a separao
entre pais e filhos, bem como sua convivncia.
Para Pereira (2008), intitulada Fatores crticos de sucesso em empresas
familiares: uma abordagem competitiva, o objeto do trabalho foi identificar os fatores
crticos de sucesso nas empresas familiares, compreendendo a cultura e a gesto
da empresa. O resultado da pesquisa foi de que, de forma geral, nas empresas
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familiares de sucesso h maior nvel de profissionalizao da gesto e valorizao
do conhecimento, alm de formalmente elaborar planejamento estratgico peridico.
Em Falco (2009), Classificao de empresas familiares de acordo com a
familiariedade, o objeto do trabalho foi propor uma taxonomia para as empresas
familiares, onde as empresas so agrupadas de acordo com o grau de interao e
influncia exercida pela famlia, atravs das dimenses poder, experincia e cultura.
O resultado da pesquisa foi de que as empresas foram organizadas em grupos
distintos, havendo associao entre a quantidade de funcionrios e o grupo a que
pertencem.
Na dissertao de Dalcin (2010), intitulada O processo de tomada de deciso
em agricultores de Boa Vista das Misses-RS, o objeto do trabalho foi analisar o
processo de tomada de deciso na agricultura, sob aspectos sociais, institucionais,
culturais, organizacionais e pessoais. O resultado da pesquisa foi de que existe
relao entre os aspectos da investigao realizada e o processo de tomada de
deciso, notadamente em aspectos de embasamento, natureza e tempo de
resposta. As decises mostraram-se baseadas em informaes e conhecimento,
custo/benefcio, intuio/impulso, rotineiras ou inovadoras, rpidas ou reflexivas, a
depender do vrtice sob o qual estavam sendo observadas.
Em Brito (2010), Bordados e bordadeiras: um estudo etnogrfico sobre a
produo artesanal de bordados em Caic/RN, o objeto do trabalho foi investigar
como o bordado permite acessar questes de ordem social, econmica, histrica e
cultural de uma determinada regio do nordeste brasileiro. O resultado da pesquisa
foi de que o bordado uma forma de ver, pensar e interpretar o mundo. Atravs do
bordado possvel verificar a vida da comunidade, os modelos de socializao
feminina, a educao de corpos e gostos. Entre as bordadeiras possvel ver
nuances de aprendizado, forma de trabalho, profissionalizao, diferenas
geracionais, projetos e vises de mundo. Essa prtica artesanal alou patamares a
ponto de representar uma cidade.
Para Silva (2010), Empresa e famlia: instituies que se entretecem na
continuidade de uma cultura organizacional, o objeto do trabalho foi responder
como as manifestaes culturais, sob a perspectiva da integrao, diferenciao e
fragmentao de uma organizao familiar, atuam limitando ou possibilitando sua
continuidade. O resultado da pesquisa foi de que restou constatada a influncia
marcante da cultura organizacional no universo dessas empresas, bem como
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reveladas caractersticas associadas s manifestaes culturais, que desvendaram
temas, possibilitando o enriquecimento da literatura e contribuindo com os estudos
sobre empresas familiares.
Na tese de Froes (2011), intitulada Dimenso educativa do trabalho: estudo
de caso da associao das bordadeiras do Serid - ABS/Caic, Rio Grande do
Norte, o objeto do trabalho foi abordar questes sobre a dimenso educativa do
trabalho e seus processos de organizao e gesto pelos prprios trabalhadores,
objetivando ainda compreender como os saberes e os processos pedaggicos, na
perspectiva da prxis educativa. O resultado da pesquisa foi de que o estudo reuniu
eixos da articulao entre saberes, processos educativos e organizao do trabalho
artesanal de bordados que permitiram concluir, em relao ao estudo de caso da
ABS, com suas peculiaridades: a atividade artesanal do bordado percebida como
profisso, fonte de renda informal - onde no h emprego disponvel, e como
atividade transitria enquanto estudo, trabalho domiciliar e trabalho flexvel.
Para Andriotti (2012), intitulada A intuio no processo de tomada de deciso
instantnea, o objeto do trabalho foi entender como a intuio atua no processo
decisrio instantneo e compreender de que forma os executivos e gerentes fazem
uso da intuio nesse tipo especfico de deciso. O resultado da pesquisa foi de que
a intuio o elemento de maior confiana dos gestores. Verificou-se que apesar do
desconhecimento e da desconfiana, a intuio pode ser uma fonte confivel e que
pode ser trabalhada como qualquer outra habilidade.
Os diferentes aspectos que so abordados em cada uma das pesquisas
estudadas, ajudaram a contribuir para a formao do resultado da presente
pesquisa, posto que possibilitou a juno de elementos distintos (deciso, famlia,
bordados), alm de providenciar uma grande possibilidade de correlaes entre os
dados que foram coletados com os dos autores que so referenciados e com as
concluses dos demais trabalhos.
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3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS
impensvel levar adiante um trabalho cientfico sem mtodo, pois o
conhecimento cientifico deve ser anterior ao conhecimento emprico, de forma a
conhecer a realidade alm de suas aparncias superficiais (FACHIN, 2001).
Durante a realizao da pesquisa, no nos ativemos somente leitura voltada
para a tomada de deciso, as organizaes familiares e sobre o bordado. Todavia, o
conhecimento sobre a metodol