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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁPR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS PONTA GROSSA
GERÊNCIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
PPGEP
IVANA MÁRCIA OLIVEIRA MAIA
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES POSTURAIS DOS
TRABALHADORES NA PRODUÇÃO DE CARVÃO
VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS
PONTA GROSSA
FEVEREIRO - 2008
IVANA MÁRCIA OLIVEIRA MAIA
AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES POSTURAIS DOS
TRABALHADORES NA PRODUÇÃO DE CARVÃO
VEGETAL EM CILINDROS METÁLICOS VERTICAIS
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em Engenharia
de Produção, do Programa de Pós-Graduação
em Engenharia de Produção, Área de
Concentração: Gestão Industrial, da Gerência
de Pesquisa e Pós-Graduação, do Campus
Ponta Grossa, da UTFPR.
Orientador : Prof. Dr. Antonio Carlos de
Francisco
PONTA GROSSA
FEVEREIRO - 2008
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Dedico este trabalho aos meus filhos:
Amanda Márcia, Rafael Kim, Rodrigo Ian
e Alana Márcia.
Filhos, não guardem na memória a
saudade, mas o exemplo.
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me conduz;
Ao meu marido Ronaldo Junior, pelo seu amor e compreensão;
Aos meus pais, Inaldo e Maria Antonina, por tudo;
Ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio Carlos de Francisco, pela dedicação e paciência;
Ao Prof. Dr. Antonio Augusto de Paula Xavier, pela sua valiosa contribuição;
Aos meus sogros, Ronaldo e Heliana, pelo seu amor incondicional;
À UTFPR e ao CEFET MA;
Ao Prof. Dr. Kazuo Hatakeyama, querido amigo e grande educador;
Aos professores do PPGEP;
Aos amigos da secretaria;
Aos colegas do PIQDTec, pelo companheirismo;
A Adriana e Ageu, pelo carinho e amizade;
A Sueli, companheira de pesquisa, pela sua alegria e cumplicidade;
Ao Prof. Dr. Alexandre Santos Pimenta;
À CAPES e ao PIQDTec;
Aos meus amigos pela parceria. Amigos para sempre.
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
RESUMO
Considerando a importância da postura na saúde do trabalhador no processo produtivo do carvão vegetal, esta pesquisa ergonômica de enfoque biomecânico tem por objetivo avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de carvão vegetal em cilindros metálicos verticais. Para tanto, verificou a incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos trabalhadores da produção, avaliou as cargas (kg) a que são submetidos em exercício de suas tarefas diárias e avaliou as posturas adotadas pelos trabalhadores durante a execução das tarefas. A pesquisa é qualitativa e quanto à natureza, aplicada. Quanto aos objetivos é descritiva, prevalecendo o método indutivo. Através da aplicação de Análise Ergonômica do Trabalho – AET, a coleta de dados foi feita a partir da observação direta dos trabalhadores, registro de imagens, entrevistas e aplicação do Diagrama de Áreas Dolorosas proposto por Corlett e Manenica e a análise dos dados feita a partir do sistema de análise postural do método OWAS, aplicando o software WinOWAS específico da pesquisa ergonômica. Os principais resultados da pesquisa revelam a existência de posturas com riscos nos quatro níveis de lesões musculoesqueléticas classificados pelo OWAS, concluindo-se que o método é imperativo de recomendações ergonômicas para a minimização ou erradicação dos sofrimentos lombares e constrangimentos posturais dos trabalhadores.
Palavras-chave: Ergonomia, saúde do trabalhador, postura, biomecânica.
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
ABSTRACT
Considering the posture importance to the health of workers in the production process of charcoal, this ergonomic research based on a biomechanical focus aims on the evaluation of the posture adopted by these workers on the production of charcoal in vertical metal cylinders. Thus, it was verified the incidence of pain and/or musculoskeletal injuries to the workers in charcoal production. Also, it was evaluated the weight carried by the worker performing their daily tasks and the positions taken by workers during these tasks execution. The research is qualitative and applied, and their goals are descriptive, what is associated to the inductive method. Applying the Ergonomic Analysis of Labor, the data collection was done from workers direct observation, registration of images, interviews, application of a Diagram proposed by Corlett and Manenica and analysis of data made with a system posture analysis based on the OWAS method: the software WinOwas specific for ergonomic research. The main results of the research show that there postures with risks in the four levels of musculoskeletal injuries classified by OWAS, concluding that the method is imperative for ergonomic recommendations for minimizing or eradication of suffering injury and worker’s postural constraints.
Keywords: Humans factors, worker healthy, posture, biomechanics.
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Posições da mão: A em extensão e flexão - B posição neutra ................31
Figura 2 - Trabalhadores “A” e “B” com diferentes afastamentos da carga em relação
ao corpo .............................................................................................................32
Figura 3 – Exemplo de atividade estática..................................................................37
Figura 4 - Trabalho com predominância estática dos músculos das costas, ombros e
braços ................................................................................................................38
Figura 5 - Esquema de uma Intervenção ergonômica (Vidal, 2001) .........................45
Figura 6- Esquema postural do sistema OWAS. Fonte: Iida (2005)..........................48
Figura 7- Diagrama de Corlett e Manenica . Fonte Iida (2005) ................................49
Figura 8 – Croquis da planta industrial – Praça de carbonização .............................61
Figura 9- Desenvolvimento da pesquisa. Adaptado de Oliveira (2007).....................62
Figura 10 - Fluxograma do Método de Pesquisa e Avaliação Postural. Adaptado de
Couto (1996) ......................................................................................................63
Figura 11 – Carregamento do cilindro Figura 12 – Ignição da câmara..............66
Figura 13 - Verificação das câmaras Figura 14 - Seleção do carvão ........66
Figura 15 - Limpeza da praça....................................................................................66
Figura 16 – Características do cilindro ......................................................................69
Figura 17 - Carregamento do carrinho transportador – seqüência de movimentos do
trabalhador .........................................................................................................70
Figura 18 - Carregamento do cilindro a partir do carrinho transportador – seqüência
de movimentos de um trabalhador.....................................................................70
Figura 19 - Atividade 1.1 – Etapas do carregamento do cilindro com auxílio do
carrinho transportador........................................................................................71
Figura 20 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do
carrinho transportador. Subatividade 1.a ...........................................................73
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 21 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no transporte do carrinho.
Subatividade 1.b ................................................................................................74
Figura 22 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do
cilindro. Subatividade 1.c ...................................................................................75
Figura 23 - Seqüência de movimentos de um trabalhador no carregamento do
cilindro sem auxílio do carrinho transportador....................................................77
Figura 24 - Carregamento do cilindro sem o auxílio do carrinho transportador.........78
Figura 25 - Diferentes posturas do trabalhador no carregamento do cilindro............78
Figura 26 - Seqüência de movimentos de um trabalhador para pegar a peça de
lenha no piso. Subatividade 2.a .........................................................................80
Figura 27 - Seqüência de movimentos de um trabalhador para transportar a peça de
lenha até o cilindro. Subatividade 2.b ................................................................81
Figura 28 - Postura adotada na acomodação das primeiras camadas de lenha, com
flexão dorsal.......................................................................................................83
Figura 29 - Análise da postura sem flexão dorsal .....................................................84
Figura 30 - Carregamento do cilindro por dois trabalhadores em atividades
consecutivas ......................................................................................................85
Figura 31 - Posições assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras. .......88
Figura 32 - Seqüência de movimentos do trabalhador na verificação das câmaras .89
Figura 33 - Postura assumida pelo trabalhador na abertura da janela......................90
Figura 34 - Posição do trabalhador na verificação das câmaras...............................91
Figura 35 - Desenho esquemático do trabalhador em deslocamento .......................93
Figura 36 - Seqüência de movimentos do trabalhador para provocar a ignição da
câmara de carbonização....................................................................................94
Figura 37 - Posturas dos operadores de carbonização na distribuição do carvão na
tela do silo ..........................................................................................................96
Figura 38 - Desenho esquemático do movimento do tronco de um trabalhador na
tarefa de distribuição do carvão na tela do silo. .................................................97
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 39 - Seqüência de movimentos de um trabalhador ao varrer o piso da praça
de carbonização.................................................................................................99
Figura 40 - Movimentos básicos do uso da vassoura. ............................................100
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Capacidades de levantamento. Fonte: Iida (2005)...................................33
Tabela 2 - Aplicação de forças no trabalho sentado .................................................40
Tabela 3 – Tempo do carregamento do cilindro ........................................................68
Tabela 4 - Avaliação das atividades por categoria ..................................................101
Tabela 5 – Categorias dos eventos das subatividades ...........................................103
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LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Utilização do carvão na produção do ferro-gusa ...................................19
Gráfico 2 - Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho – Sistema
OWAS ................................................................................................................72
Gráfico 3 - Análise da subatividade 1.a – Carregamento do carrinho .......................73
Gráfico 4 - Análise da subatividade 1b - Transporte da lenha...................................74
Gráfico 5 - Análise da subatividade 1c – Carregamento do cilindro ..........................76
Gráfico 6 - Análise individual das subatividades que compõe a atividade 1.1 ..........76
Gráfico 7 - Análise do carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho – Sistema
OWAS ................................................................................................................79
Gráfico 8 - Análise da subatividade 2 a – Postura ao pegar a lenha.........................81
Gráfico 9 - Análise da subatividade 2b - Transporte da madeira até o cilindro .........82
Gráfico 10 - Análise da postura adotada ao colocar as peças de madeira nas
primeiras camadas.............................................................................................83
Gráfico 11 - Análise da postura sem flexão dorsal ....................................................84
Gráfico 12 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade 1.2......85
Gráfico 13 - Análise da acomodação da lenha no cilindro ........................................86
Gráfico 14 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade 1.2 e 1.3
...........................................................................................................................87
Gráfico 15 - Análise da verificação das câmaras ......................................................89
Gráfico 16 - Análise da subatividade 2.a - Abrir a janela...........................................91
Gráfico 17 - Análise da subatividade 2.b - verificação propriamente dita..................92
Gráfico 18 - Análise da subatividade 2.c - deslocamento..........................................93
Gráfico 19 - Análise das subatividades da verificação ..............................................94
Gráfico 20 - Análise da ignição..................................................................................95
Gráfico 21 - Análise da atividade de distribuição.......................................................97
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 22 - Análise da postura 1 ..............................................................................98
Gráfico 23 - Análise da postura 2 ..............................................................................98
Gráfico 24 - Análise individual das subatividades que compõem a atividade de
distribuição .........................................................................................................99
Gráfico 25 - Análise da limpeza da praça de carbonização ....................................100
Gráfico 26 - Categorias das ações na limpeza da praça.........................................101
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABERGO Associação Brasileira de Ergonomia
AET Análise Ergonômica do Trabalho
NIOSH National Institute for Safety and Health
NR Norma Regulamentadora
OWAS Owako Analisys Sistem
RULA Rapid Upper Limb Assessment
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 16 1.1 Problema da Pesquisa..........................................................................................................17 1.2 Objetivos da Pesquisa ..........................................................................................................17
1.2.1 Objetivo Geral...................................................................................................................17 1.2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................................18
1.3 Justificativas..........................................................................................................................18 2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 20
2.1 O Trabalho ............................................................................................................................20 2.2 A Organização do Trabalho ..................................................................................................22 2.3 A Norma Regulamentadora 17 – NR 17...............................................................................23 2.4 Saúde do Trabalhador ..........................................................................................................23 2.5 A Ergonomia .........................................................................................................................27 2.6 Biomecânica..........................................................................................................................29
2.6.1 A Postura Sentada............................................................................................................39 2.6.2 A Postura Em Pé ..............................................................................................................41
2.7 A Pesquisa Ergonômica........................................................................................................42 2.7.1 Análise Ergonômica do Trabalho - AET ...........................................................................43 2.7.2 Análise dos métodos utilizados em AET ..........................................................................46
2.8 O Segmento Produtivo em Estudo – Produção do Carvão Vegetal.....................................52 2.9 A Importância do Segmento Para a Economia Nacional .....................................................52
2.9.1 Método Convencional .......................................................................................................52 2.9.2 A Carbonização com Utilização de Cilindros Metálicos Verticais ....................................55
3 METODOLOGIA ................................................................................................. 56 3.1 O estudo de caso..................................................................................................................57 3.2 Análise Ergonômica do Trabalho..........................................................................................58
3.2.1 Análise da demanda.........................................................................................................58 3.2.2 Análise da tarefa...............................................................................................................58 3.2.3 Análise das atividades......................................................................................................59
4 ANÁLISES E DISCUSSÕES .............................................................................. 64 4.1 O Processo Produtivo em Estudo.........................................................................................64 4.2 Avaliação biomecânica dos trabalhadores da praça de carbonização.................................66
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
5 CONCLUSÕES..................................................................................................105 5.1 Contribuições da pesquisa..................................................................................................107 5.2 Sugestões para trabalhos futuros .......................................................................................107
REFERÊNCIAS........................................................................................................109 APÊNDICE A – DIAGRAMA DE ÁREAS DOLOROSAS..........................................112 APÊNDICE B – MAPA DE AVALIAÇÃO DOS EVENTOS POSTURAIS..................113 ANEXO A – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO..........................114 ANEXO B – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO RISCO DE LOMBALGIAS .......................115
Capítulo 1 Introdução 16
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
1 INTRODUÇÃO
Na produção do carvão vegetal no Brasil, o trabalho apresenta-se sob forma de
pena e sofrimento; além da conotação etimológica deste conceito, esta referência
tem a ver com algumas características do ambiente de trabalho e das tarefas a que
esses trabalhadores são sujeitos. A inadequação do posto de trabalho e a natureza
árdua das tarefas são fatores que comprometem a saúde do trabalhador e seu
desempenho. Nesse sentido, Dul e Weerdmeester (1995) afirmam que as condições
de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência são eliminadas quando
adequadas às capacidades e limitações físicas e psicológicas do homem.
Segundo Guimarães Neto (2005), o Brasil é o maior produtor mundial de
carvão vegetal. A produção do carvão é uma atividade econômica que se
desenvolve em todas as regiões do país, em especial no sudeste e no nordeste
brasileiros, mais precisamente em Minas Gerais; na região que compreende o sul
dos Estados do Pará e Maranhão e no Estado da Bahia. Sendo de suma importância
na produção do ferro gusa, o carvão vegetal é um produto de grande valor para a
economia brasileira, mas sua produção tem sido conduzida com freqüência de forma
irregular tanto no que tange ao meio ambiente como aos direitos de cidadania dos
trabalhadores. Não obstante, trata-se de uma atividade econômica de relevância
para o país, que pode vir a gerar empregos dignos se conduzida de forma distinta.
O sistema convencional de produção de carvão vegetal dá-se em fornos de
superfície e contempla com maior afinco o processo produtivo e a qualidade do
produto e trata com menor importância a saúde do trabalhador e do meio ambiente.
As conseqüências dos riscos à saúde dentro dos ambientes de trabalho são
provenientes das condições a que são submetidos os trabalhadores em função das
suas tarefas. A atuação da ergonomia se dá na interface que se projeta do ambiente
de trabalho em direção ao trabalhador, adaptando-se às condições e limitações. A
premissa ergonômica de adaptação do trabalho ao homem busca justamente o
caminho no qual o homem trabalhará sem sofrimento, seja físico ou mental e
auxiliará esse mesmo homem a atingir sua máxima produtividade como trabalhador
e cidadão (XAVIER, 2006).
Capítulo 1 Introdução 17
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Sob esta ótica, esta pesquisa avalia as condições posturais dos trabalhadores
envolvidos no processo produtivo do carvão vegetal com carbonização em cilindros
metálicos verticais.
A biomecânica postural foi escolhida como tema central da pesquisa por tratar-
se de um problema frequentemente presente em um grande número de atividades
produtivas, porém nem sempre percebido. Para Dul e Weerdmeester (1995), a
pesquisa ergonômica trata a biomecânica postural como a associação da postura
adotada pelo trabalhador com a carga (kg) a que ele é submetido. Portanto, a
postura do trabalhador pode ser uma ferramenta de produtividade, caso seja objeto
de atenção da organização.
Ainda que utilize equipamentos de proteção de acidentes, tenha domínio do
conhecimento que envolve a execução da tarefa e atue dentro das normas de
higiene e segurança do trabalho, o trabalhador pode estar sujeito a riscos
ergonômicos caso adote posturas inadequadas na execução de suas tarefas. Sendo
a postura uma atividade individual, o trabalhador assume a que lhe convém de
acordo com sua capacidade, vontade e principalmente segundo a natureza da
tarefa.
A inadequação postural pode ter conseqüências imediatas ou pode levar algum
tempo até que se manifestem. Por isso pesquisa documental de casos médicos
antecedentes não é visualizada com grande importância neste tipo de estudo. A
pesquisa postural, ainda que parte de um estudo ergonômico corretivo, preocupa-se
com a prevenção de problemas de saúde que podem ser evitados ou corrigidos com
a intervenção imediata à identificação do problema.
1.1 Problema da Pesquisa
A metodologia de obtenção do carvão vegetal em cilindros metálicos verticais
propicia condições posturais favoráveis à saúde do trabalhador?
1.2 Objetivos da Pesquisa
1.2.1 Objetivo Geral
Avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de carvão
vegetal em cilindros metálicos verticais.
Capítulo 1 Introdução 18
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
1.2.2 Objetivos Específicos
São objetivos específicos desta pesquisa:
• Verificar a incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos
trabalhadores da produção de carvão vegetal em cilindros metálicos,
associadas à atividade profissional, diagnosticando as condições de trabalho
em relação à postura requerida;
• Relacionar as posturas adotadas pelos trabalhadores com as do sistema de
análise de posturas do Método OWAS;
• Avaliar a carga (kg) a que são submetidos os trabalhadores em exercício de
suas tarefas diárias;
• Oferecer alternativas ergonômicas, visando a minimização ou erradicação dos
sofrimentos lombares e constrangimentos posturais.
1.3 Justificativas
Este estudo se justifica pela proposta de prevenção ou minimização dos
constrangimentos posturais e redução do sofrimento a que trabalhadores do setor
especificado são submetidos. Mas tão importante quanto a preocupação com a
saúde do trabalhador deste segmento produtivo, é contribuir com os estudos
científicos sobre um método de produção do carvão vegetal por carbonização que
apresenta proposta de ação sustentável, como cita o Jornal da Ciência, órgão da
Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência – SBPC (2007).
A literatura cita a indústria carvoeira como um dos segmentos produtivos que
mais afetam negativamente o meio ambiente e desrespeitam os direitos básicos do
trabalhador no Brasil, porém trata-se de uma atividade em ascensão na economia do
país, fundamental na produção do ferro-gusa. Segundo Homma et al. (2006), da
produção total de ferro-gusa no país, 66,8% envolvem o uso de carvão mineral e
33,2% de carvão vegetal e o Brasil figura no cenário internacional como o maior
produtor e consumidor de carvão vegetal.
Capítulo 1 Introdução 19
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 1 - Utilização do carvão na produção do f erro-gusa
Em 2003 chegou a produzir e consumir 29.202 milhões de mdc (metros cúbicos de
carvão), afirma Guimarães Neto (2005).
Dias et al (2002) afirmam que os problemas lombares aparecem como a
segunda causa de demanda de consulta médica na rede de serviços de saúde,
sendo expressivo o número de trabalhadores precocemente incapacitados para o
trabalho. Contribuir com estudos envolvendo a saúde ocupacional do trabalhador
nesse processo produtivo é uma proposta que vai ao encontro das ações em busca
de mudança da realidade social que envolve a indústria carvoeira nacional.
A pesquisa apresenta-se descrita em cinco capítulos, assim estruturados:
Capítulo 1: Introdução;
Capítulo 2: Referencial teórico
Capítulo 3: Metodologia
Capítulo 4: Análises e discussões;
Capítulo 5: Conclusões, seguido de apêndices e anexos.
66,8% Carvão mineral
33,2 % Carvão vegetal
Capítulo 2 Referencial Teórico 20
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O Trabalho
O trabalho, em sua concepção original está diretamente associado à pena,
esforço e sofrimento. Do ponto de vista etimológico, é originário do latim popular
tripaliare, que significa torturar com o tripalium, instrumento de tortura e
constrangimento (XAVIER 2006). Esse histórico atribui ao trabalho uma conotação
de martírio, envolvendo o sofrer e o fazer sofrer. Portanto, entendendo o trabalho
como toda atividade que gera algum tipo de produção inerente à condição humana,
cabe então dissociar a relação com sofrimento.
As disciplinas que estudam o trabalho, como: sociologia, economia, ergonomia,
as engenharias, psicologia – abordam diferentes concepções a respeito. Para alguns
trata-se, sobretudo, de uma relação social (relação salarial); para outros, trata-se do
emprego; em outros casos, caracteriza uma atividade de produção social,
intelectual. Wisner (1987) define como uma atividade obrigatória que acrescenta um
valor e entra para o circuito monetário.
Este estudo adota a definição de Dejours (2004) que se refere ao trabalho
como aquilo que implica, do ponto de vista humano, o fato de trabalhar: gestos,
saber-fazer, um engajamento do corpo, a mobilização da inteligência, a capacidade
de refletir, de interpretar e de reagir às situações; é o poder de sentir, de pensar e de
inventar. Esta concepção é interessante por não relacionar o trabalho em primeira
instância a questão salarial ou emprego; aborda o ato de trabalhar, que segundo
Dejours (2004), é um modo de engajamento da personalidade para responder a uma
tarefa delimitada por pressões (materiais e sociais). Nesse aspecto, Abrahão e
Torres (2004) enfatizam: O trabalho revela características especificamente humanas,
como a capacidade de criação e produção de bens específicos, bem como permite a
inserção do sujeito em um contexto social, em função de uma atividade a ser
executada.
Para adaptar o trabalho aos seres humanos é necessário ter-se conhecimento
o máximo possível sobre eles. Rio e Pires (2001) recomendam que adaptações
sejam feitas no trabalho para que o ato de trabalhar não seja entrópico, não leve ao
Capítulo 2 Referencial Teórico 21
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
desgaste desnecessário. Mas evitar o desgaste não é suficiente. É necessário o
desenvolvimento de políticas organizacionais que conduzam ao prazer no trabalho.
Ao executar a tarefa, o trabalhador que encontra satisfação em sua atividade produz
mais com maior segurança com menor estresse.
Na física, o termo estresse caracteriza o grau de deformidade que a estrutura
sofre quando submetida a um esforço. Segundo Limongi e Rodrigues (2002, p.27),
“Hans Selye utilizou esse termo para denominar o conjunto de reações que um
organismo desenvolve ao ser submetido a uma situação que exige esforço de
adaptação”.
A definição do estresse no trabalho corresponde ao desalinhamento entre as
condições do trabalho e as individualidades dos trabalhadores. É visto por Baker e
Karasek (2000) como as respostas físicas e emocionais prejudiciais que ocorrem
quando as exigências do trabalho não estão em equilíbrio com as capacidades,
recursos ou necessidades do trabalhador.
O sociólogo Gilberto Freire (1983) afirma que o ser humano é um ser biológico,
ecológico e socialmente determinado e seu bem-estar – além de físico, psicossocial
- está dependente e relacionado a situações que o envolvem.
Para Abrahão e Torres (2004), o trabalho constitui um elemento fundamental
da existência humana, podendo contribuir para o bem-estar ou para a manifestação
de sintomas que afetam a saúde. A organização do trabalho é visualizada como
fator mediador desse processo. Ela é compreendida como a divisão do trabalho,
incluindo a divisão das tarefas, a repartição, a definição das cadências, o modo
operatório prescrito e a divisão de homens, repartição de responsabilidades,
hierarquia, comando e controle.
As condições de trabalho englobam todos os aspectos passíveis de influenciar
a produção, sem limitar-se a postos de trabalho ou aspectos físicos do ambiente,
mas enfocando as relações do homem com a sua tarefa.
A forma como ocorre a interação nesse sistema configura a condição de
trabalho. Com esse sentido, a ergonomia dispõe-se a estudar formas de viabilizar a
melhor maneira do homem executar as suas tarefas.
Capítulo 2 Referencial Teórico 22
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
2.2 A Organização do Trabalho
A organização do trabalho é o eixo da ergonomia organizacional e está
relacionado com a maneira como o trabalho é distribuído no tempo e no espaço
físico; define quem faz o quê, como, quando e quanto. Abrange também aspectos
mais específicos do trabalho em relação ao trabalhador, que devem responder a
questionamentos como os sugeridos por Rio e Pires (2001, p.193):
1. O trabalho é predominantemente físico ou psíquico?
2. Quais os segmentos musculoesqueléticos mais envolvidos? Como?
3. Que tipo de exigência é feito sobre o sistema óptico?
4. Como é feita a estimulação sensorial?
A resposta desses questionamentos deve ser feita a partir de análises dos
seguintes aspectos:
O ciclo de trabalho é importante na organização do trabalho. Consiste numa
seqüência de ações para a execução de uma atividade, que pode ser de alta
repetitividade ou de baixa repetitividade, de acordo com a seqüência de repetição
das ações. A ergonomia se preocupa em evitar as atividades altamente repetitivas,
sugerindo o balanceamento delas.
Em linhas de montagem é típico os cargos exigirem repetição da mesma tarefa,
que se forem tarefas muito curtas e rápidas pode vir a provocar alienação mental e
concentrar a fadiga em alguns músculos específicos. O tempo do ciclo, ou seja, da
repetição da mesma tarefa, segundo Rio e Pires (2001) não deve ser inferior a um
minuto e meio.
A carga , segundo Rio e Pires (2001, p.84) “é constituída por um conjunto de
exigências que atua como um todo”. Pode ser dividida em: sensorial, cognitiva,
afetiva, visual e musculoesquelética. É função de todas as áreas da ergonomia. A
carga de trabalho ideal mistura equilibradamente as exigências físicas e cognitivas e
alterna tarefas fáceis e difíceis.
As exigências de um trabalho composto só por tarefas difíceis comprometem a
estabilidade do trabalhador, pois pode provocar estresse e esgotamento mental. Da
Capítulo 2 Referencial Teórico 23
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
mesma forma, um trabalho composto somente por tarefas fáceis pode desestimular
o trabalhador, levando-o à monotonia pela falta de desafios.
A duração relaciona-se ao tempo consumido pela atividade.
A autonomia é o controle que o trabalhador pode ter sobre seu trabalho.
Para que as organizações se adeqüem e viabilizem boas condições de trabalho
aos atores da produção, a legislação estabelece normas que contemplam aspectos
relacionados à minimização ou exclusão do sofrimento no desenvolver da tarefa.
2.3 A Norma Regulamentadora 17 – NR 17
A Norma Regulamentadora 17 (NR17) que aborda a ergonomia foi concebida
no sentido de estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de
trabalho às características dos trabalhadores, proporcionando conforto, segurança e
desempenho eficiente. (NR17). Nesse aspecto, visa estabelecer parâmetros cabíveis
às condições favoráveis de trabalho.
Com o objetivo de subsidiar a atuação dos profissionais responsáveis pelo
cumprimento da norma, foi desenvolvido um manual de aplicação da NR17, que a
comenta item a item, caracterizando o esperado por cada enunciado e
estabelecendo os principais aspectos a serem considerados ao elaborar uma
Análise ergonômica do Trabalho, AET.
O que caracteriza a necessidade da presença de um ergonomista, apontado no
subitem 17.1.2 da norma, faz deste o subitem mais polêmico da norma. Não se trata
apenas de solicitar uma AET de maneira protocolar, a análise deve contribuir para a
melhora das condições de trabalho, deve partir de uma demanda clara, enfocando
um problema específico. Como documento oficial, o manual não se propõe a
apresentar soluções efetivas para todos os problemas oriundos de condições de
trabalho desfavoráveis, mas caracteriza a existência de uma legislação que aplica
princípios ergonômicos na segurança e saúde dos trabalhadores.
2.4 Saúde do Trabalhador
A saúde do trabalhador pode ser definida como o processo de saúde e doença
dos grupos humanos, em sua relação com o trabalho (MENDES e DIAS, 1991).
Capítulo 2 Referencial Teórico 24
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Estudos caracterizam um esforço de compreensão do desenvolver deste
processo – como e porque ocorre - e do desdobramento de alternativas de
intervenção que levem à satisfação das expectativas em torno da evolução da
relação homem trabalho.
As funções fisiológicas que influem no trabalho, segundo Iida (2003) são:
• Função neuromuscular : Composta pelo sistema nervoso. O sistema nervoso
central é equipado para receber, interpretar e processar as informações,
transformando-as em movimentos musculares como gestos, fala e demais
movimentos. Essa transformação dos estímulos em reações ocorre por
descargas elétricas.
• Músculos : Deles dependem todos os movimentos do corpo. Transformam a
energia armazenada no corpo em contrações concêntricas ou excêntricas,
reproduzindo um sistema de alavancas, pois para cada movimento do corpo
há dois músculos envolvidos, ao contrair um, ocorre distensão no outro.
• Metabolismo : Aborda aspectos energéticos do corpo humano. É responsável
pela transformação da alimentação em energia, que deve ser satisfatória para
que a pessoa possa manter-se viva e execute atividades.
• A visão: É o sentido relacionado à percepção de formas e cores. A percepção
visual consciente consiste em interpretar estímulos visuais no córtex cerebral.
É um aspecto a ser bastante considerado na interface homem-tarefa,
preocupações com a função visão mobilizam desde aspectos físicos do posto
de trabalho, como iluminação e proteções em forma de EPI’s a aspectos
cognitivos afetados pelo desconforto visual.
Dos aspectos que influenciam a visão dos indivíduos, dois merecem especial
destaque:
1. A acuidade , que é a capacidade visual para discriminar pequenos
detalhes. Depende, entre outros aspectos, da iluminação e do tempo
de exposição. Iluminações fortes ou fracas prejudicam a acuidade
visual, pois provocam variações na pupila.
Capítulo 2 Referencial Teórico 25
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
2. A legibilidade , que é um modo de percepção ligado à recepção de
uma informação e o seu reconhecimento, está associada aos aspectos
mnemônicos da percepção, pois se trata da comparação da informação
recebida com a informação armazenada na memória.
Os problemas ergonômicos relativos a esse fator ocorrem na dificuldade de ver
e/ou na não compreensão e decodificação da informação.
• A audição: É a captação de sons pelo aparelho auditivo. A sua função básica
é captar e converter ondas de pressão em sinais elétricos que são
transmitidos ao cérebro para produzir sensações sonoras. Pode ser
prejudicada por sons muito altos ou constantes.
O posto de trabalho deve ser projetado de forma que a audição dos
trabalhadores não seja afetada nem por sons muito altos ou estridentes nem por
sons constantes sob forma de ruídos ou vibrantes.
Essa recomendação somente pode ser alterada em caso da necessidade de
utilização de sinais auditivos, inerentes ou emitidos pelo objeto ou máquina em uso.
Os sinais auditivos são utilizados quando existem situações de alerta ou nas quais é
exigido muito da capacidade visual. Nesses casos, os sinais auditivos
complementam, reforçam ou substituem os sinais visuais.
• O senso cinestésico: É o sentido que fornece informações sobre movimentos
de partes do corpo, sem a exigência de acompanhamento visual. Para efeito
de estudos ergonômicos, o senso cinestésico tem sua importância no que se
refere à realização de uma determinada tarefa de trabalho ou função de uso
de um objeto qualquer que dispense o acompanhamento ou controle visual,
por exemplo, digitar sem olhar as teclas.
• Coluna vertebral : Tem função de sustentação e proteção da medula espinhal,
que faz parte do sistema nervoso central. Devido a sua natureza delicada,
está sujeita a deformidades, que podem ser congênitas ou adquiridas.
Esforços físicos e má postura são aspectos consideráveis na origem dos
problemas adquiridos.
Capítulo 2 Referencial Teórico 26
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Entendendo a gama de aspectos que podem vir a influenciar no bem estar do
trabalhador à execução da sua tarefa, um em especial torna-se agente de
desconforto e mal estar: a postura.
Como reflexo das posturas inadequadas e movimentos mal executados, têm-se
as lombalgias, cuja identificação é fator facilitador no diagnóstico postural. Para o
trabalhador é simples apontar o local dolorido e ao pesquisador associá-lo aos
instrumentos de pesquisa ergonômica.
Dorsalgia é um termo que designa as dores que ocorrem na região dorsal e
lombalgia designa as dores da região lombar. A união dos dois termos,
dorsolombalgia, denomina dores nas costas de maneira mais ampla. Esses termos
não caracterizam doenças, mas sintomas de dor que podem ou não estar
relacionados a quadros específicos de doenças.
Dentre os fatores que contribuem na formação de lombalgias, Rio e Pires
(2001) apontam quatro que podem ser diretamente relacionados ao trabalho:
1. Insuficiência muscular : causado por sedentarismo, que leva a uma
musculatura flácida. A posição sentada por longos períodos compõe quadro
de alto risco de lombalgias.
2. Traumas e microtraumas : Contusões e mal uso crônico da coluna configuram
causas de lesão das estruturas cujo sofrimento expressa-se como lombalgia.
3. Posição ortostática : a posição em pé, que por período prolongado pode ser
lesiva.
4. Estresse psíquico : Fonte importante de disfunções posturais e de movimentos
e de hipertonia da musculatura lombar.
Inúmeras situações no cotidiano, incluindo ou não o trabalho, podem originar
lombalgias agudas como torção na coluna, forte extensão da musculatura dorsal,
tração do tronco para um dos lados, falta de condicionamento físico, levantamento
de cargas pesadas, inclinação do lombo, desarmonia do ritmo lombo pélvico,
vibrações etc. Localizar a presença dessas situações na execução das tarefas de
trabalho é fundamental para o processo de reversão de condições posturais
inadequadas.
Capítulo 2 Referencial Teórico 27
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Ainda que divididas em dois grupos: dentro e fora do trabalho, as
recomendações para prevenção de dorsolombalgias devem ser acatadas de forma
geral, pois se tornam menos eficientes, em caso de ações isoladas.
A qualidade da vida fora do ambiente de trabalho é fator promovedor e ao
mesmo tempo resultante da qualidade de vida no trabalho e vice-versa.
2.5 A Ergonomia
De forma direta, Iida (2005, p.2) conceitua ergonomia como “O estudo da
adaptação do trabalho ao homem” essa adaptação é referente a toda a situação em
que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva.
Ainda que não seja considerada uma ciência, a ergonomia é uma área de
conhecimento que envolve diversas ciências no sentido de adequar o trabalho ao
homem que o vivencia. Nesse aspecto, a Associação Brasileira de Ergonomia
ABERGO (2000) define a ergonomia como uma atitude profissional que objetiva
modificar sistemas de trabalho para adequar as atividades nele existentes às
características, habilidades e limitações das pessoas com vistas ao seu
desempenho eficiente, confortável e seguro.
A visão mais recomendada, segundo Rio e Pires (2001), não deve partir
primeiramente da análise dos componentes do posto de trabalho, mas do corpo
humano, das suas características anatômicas e fisiológicas. Essa afirmação é
considerada neste estudo visto que a saúde do trabalhador, foco principal da
ergonomia, é a condição indispensável para o desempenho e produtividade ótimos,
fundamentais para a alta produtividade.
Em um sentido mais amplo, a ergonomia estende-se a estudar não somente
aspectos físicos, embora sejam estes os mais visados pela legislação e pelos
empresários que elegem a antropometria e biomecânica como os estudos mais
necessários para que o bem-estar do trabalhador se reflita em produtividade.
Xavier (2006) enfatiza que para atingir os objetivos apontados nas definições, a
ergonomia conjuga estudos dos seguintes elementos, que compõem o sistema
produtivo:
Capítulo 2 Referencial Teórico 28
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
• O homem : Abrangendo suas características físicas, fisiológicas e sociais. Tem
influência do sexo, idade, treinamento etc.
• A máquina : Todas as ajudas materiais que auxiliam o homem na execução da
tarefa.
• O ambiente : Contempla as características físicas do ambiente: temperatura,
ruídos, vibrações, luz, cores, gases e outros.
• A informação : A comunicação entre os elementos de um sistema produtivo.
Transmissão, processamento e tomada de decisão.
• A organização : Representa a conjugação dos elementos citados no sistema
produtivo, analisando aspectos como horários, turnos, formação de equipes,
estratégias de recursos humanos, etc.
• Conseqüências do trabalho : Saúde do trabalhador, acidentes de trabalho,
estudos de erros, estudos sobre gastos energéticos, questões de controle em
geral.
O marco teórico adotado neste estudo aponta os aspectos cognitivos e
organizacionais como de igual consideração no equilíbrio homem-tecnologia-
organização. Quanto à ergonomia organizacional, que atualmente recebe
denominação de macroergonomia, tem caráter abrangente e envolve a estrutura da
organização empresarial. Conjuga todos os outros aspectos ergonômicos e vem ser
citada por estudiosos como a terceira geração da ergonomia, que em primeiro
momento enfocou a relação homem - máquina, depois ampliou seu foco para
homem-máquina-tarefa, para em seguida acrescentar a organização a esse universo
de estudo.
Para a ergonomia, a postura e o movimento são muito significantes. Tanto no
cotidiano como na execução do trabalho, eles são determinados pela atividade em
função da tarefa e pelo posto de trabalho.
Daniellou (1999) propõe a expressão "patologia organizacional" ao refletir
sobre intervenções de natureza ergonômica no enfrentamento de situações de
trabalho contendo alta prevalência de problemas musculoesqueléticos. Tais
problemas se estabelecem de forma a gerar redução de produtividade do
Capítulo 2 Referencial Teórico 29
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
trabalhador e causar os fatores geradores deste evento. Segundo Jackson Filho
(2004) esse funcionamento paradoxal é caracterizado por:
1. Fonte de perda de produtividade não detectada pela empresa;
2. Tentativa de compensação dessa perda de produtividade através de pressão
direta sobre os ritmos de trabalho ou sobre os efetivos;
3. Agravação da perda de produtividade devida aos efeitos secundários dessa
pressão. Uma postura defeituosa está envolvida em todas as condições
patológicas dolorosas devidas a lesões, excesso de uso, mal uso e
envelhecimento (CAILLIET, 1999).
2.6 Biomecânica
A biomecânica do trabalho analisa as interações e as conseqüências da
relação homem-trabalho, do ponto de vista dos movimentos músculoesqueletais
(XAVIER 2006). Contempla as posturas corporais associadas à aplicação de forças.
O sangue funciona como combustível nas movimentações dos músculos, conduzido
até eles pelos vasos capilares. Ao contrair um músculo, ocorre o estrangulamento
dos capilares, o que vem a diminuir a quantidade de sangue, consequentemente
causando a fadiga muscular. Com a contração e distensão do músculo essa
situação pode vir a ser revertida, pois o músculo toma aspecto de bomba sanguínea.
O que explica a fadiga causada pelo trabalho estático com longo tempo de
contração e favorece o equilíbrio ao trabalho dinâmico.
No estudo dos princípios biomecânicos, as leis físicas da mecânica são
associadas ao corpo humano, assim sendo, pode-se verificar as tensões musculares
e de articulações durante um movimento ou uma determinada postura. Dul e
Weerdmeester (1995, p.18) recomendam: “Para manter uma boa postura ou realizar
um movimento as articulações devem ser conservadas o tanto quanto possível na
sua posição neutra”.
Uma postura defeituosa está envolvida em todas as condições patológicas
dolorosas devidas a lesões, excesso de uso, mau uso e envelhecimento (CAILLIET,
1999). A postura trata-se de uma atitude. Não uma tarefa. Nessa diferença reside a
característica específica da postura.
Capítulo 2 Referencial Teórico 30
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Postura é a atitude assumida pelo ser humano na posição sentada ou em pé,
que vem a influenciar todos os aspectos musculoesqueléticos, (CAILLIET 1999). Do
desenvolvimento e das modificações posturais podem surgir doenças, traumas e
fatores de alteração psicológicos.
A postura correta faz a pessoa sentir-se bem. Estudos como de Dul e
Weerdmeester (1995) e Iida (2005) apontam para a afirmação de que a postura
correta é a postura sem esforço, esteticamente correta e indolor. Alguns dos maus
hábitos posturais ocorrem pela atividade do ser humano em função da tarefa que
exerce. A periodicidade leva a acomodação. Segundo Rio e Pires (2001) são vários
os fatores que tem relevante importância sobre a postura:
• Fatores hereditários: alterações musculoesqueléticas congênitas como joelhos
voltados para dentro ou encurtamento de membros;
• Distúrbios do crescimento: como a cifose torácica, anomalias estruturais:
hemivértebras, spina bífida;
• Hábito e treino: fundamental na manutenção da boa postura no trabalho e no
cotidiano;
• Doenças da coluna e da região pélvica;
• Solicitação muscular diária excessiva ou insuficiente;
• Fatores psíquicos: geradores de tensões musculares, instabilidade postural e
movimentos.
A postura modifica os aspectos mecânicos, estáticos e cinéticos das funções
musculoesqueléticas, explica Cailliet (1999). Associada diretamente à má postura,
está a dor. Em curto, médio ou longo prazo, a dor e o sofrimento estão entre os
fatores agravantes do baixo rendimento produtivo do ser humano.
A movimentação se faz necessária, a mudança de posturas durante o trabalho
é fundamental na saúde do sistema musculoesquelético, pois possibilita alternância
do uso de articulações e dos segmentos musculoligamentares.
Para avaliar a biomecânica da tarefa, com finalidade de minimizar os efeitos ou
dores originados por má postura, convém inicialmente observar e registrar a postura-
base adotada pelo trabalhador em função da atividade exercida. A postura-base ou
Capítulo 2 Referencial Teórico 31
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
postura principal é determinada pelas exigências das atividades: em pé, sentado,
deitado, parado ou não. Dela derivam as posturas secundárias que são adotadas
consciente ou inconscientemente para variar as exigências musculoesqueléticas,
através da flexibilidade postural. Mas não é fácil determinar a postura ideal, em
termos de coluna vertebral. Considera-se boa postura aquela cuja configuração
estática natural da coluna é mantida, respeitando suas curvaturas originais e não
exige esforço.
Diversos são os princípios importantes na ergonomia que procedem de outras
áreas do conhecimento. Esses princípios são elementares nas recomendações
sobre movimentos e posturas. Os princípios mais notáveis na biomecânica,
amparados por Dul e Weerdmeester, (1995) são comentados a seguir:
• As articulações devem ocupar uma posição neutra.
A posição neutra, neste caso é aquela que não exige esforço para ser mantida.
A neutralidade da posição é conseguida quando os músculos e ligamentos situados
entre as articulações são tensionados minimamente. As posturas neutras impõem a
menor carga possível sobre as articulações e segmentos musculoesqueléticos, além
disso, a posição neutra das articulações possibilita aos músculos liberarem força
máxima, quando solicitados. Toma-se como exemplo, o movimento das mãos. Na
fig. 1 A temos a mão nas posições de extensão e flexão, onde é exigido esforço dos
músculos para sustentação da posição. A figura 1B apresenta a mão em seu estado
neutro, cujo posicionamento das articulações permite maior aproveitamento das
forças musculares.
A B
Figura 1 - Posições da mão: A em extensão e flexão - B posição neutra Desenhos da autora. Adaptados de Dul e Weerdmeester (1995)
O aumento da distância entre as mãos e o eixo do corpo ocasiona aumento da
tensão nas costas. Com o peso e as mãos afastados do eixo do corpo, há exigência
Capítulo 2 Referencial Teórico 32
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
de articulações como cotovelo, ombro, punhos e costas aumentando a tensão sobre
elas e os respectivos músculos.
Segundo Dul e Weerdmeester (1995) Uma carga de 20 kg carregada de forma
em que as mão estejam afastadas a aproximadamente 35 cm do eixo do corpo
(como sugere o trabalhador “A” da Figura 2) corresponde a uma tensão
musculoesquelética dorsal de 700N. Já a posição do trabalhador “B”, essa tensão
nas costas aumenta para 950N.
A B
Figura 2 - Trabalhadores “A” e “B” com diferentes afastamentos da carga em relação ao corpo
Desenhos da autora. Adaptados de Dul e Weerdmeester (1995)
• A curvatura do corpo para frente deve ser evitada.
Sabe-se que a parte superior do corpo de um adulto acima da cintura, tem
massa média de aproximadamente 40 kg. Quando o tronco do indivíduo pende para
frente, exige contração dos músculos e dos ligamentos das costas com finalidade de
manter essa posição. A tensão nessa posição é maior na região lombar, causando
dores.
O leiaute do posto de trabalho deve ser projetado a fim de evitar que o
trabalhador precise se curvar para execução de tarefas. Caso seja imprescindível, o
movimento de curvatura do tronco pode ser substituído pelo agachamento do
trabalhador.
“Se o movimento exigir levantamento de cargas, é importante sempre que
possível que a carga sobre a coluna seja feita no sentido vertical, evitando-se as
cargas com as costas curvadas”, recomenda Xavier (2006, p.33).
Capítulo 2 Referencial Teórico 33
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
A capacidade de carga máxima que uma pessoa pode levantar varia conforme
o uso das musculaturas do dorso, das pernas e dos braços, além da distância do
peso em relação ao corpo.
Tabela 1 - Capacidades de levantamento. Fonte: Iida (2005)
Distância (m) a partir do Capacidade de levantamento
Mulheres Homens Corpo
(horizontal)
Piso
(vertical) 50% 95% 50% 95%
0,3
0,3
0,9
1,5
23
19
11
7
11
5
51
44
47
45
39
29
0,6
0,3
0,9
1,5
9
6
5
0
1
0
24
28
21
9
15
11
0,9
0,3
0,9
1,5
0
1
0
0
0
0
5
10
7
0
1
0
• A inclinação da cabeça deve ser evitada.
É recomendável que a cabeça seja mantida o mais próximo possível da postura
vertical. Inclinar a cabeça mais que 30° para frent e implica da submissão dos
músculos do pescoço a uma tensão para manter a posição. Essa tensão, na altura
da região cervical ocasiona dores na nuca e nos ombros.
• As torções do tronco devem ser evitadas.
Torções do tronco tensionam os discos elásticos existentes entre as vértebras.
Essa tensão submete os músculos e articulações situadas nos dois lados da coluna
vertebral a cargas assimétricas prejudiciais à saúde, por isso a torção deve ser
evitada. Girar o corpo por completo em lugar de torcer só o tronco é a alternativa
mais indicada nessa situação.
Capítulo 2 Referencial Teórico 34
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
• Os movimentos bruscos devem ser evitados, pois podem produzir picos de
tensão.
O pico de tensão é resultante da aceleração do movimento em curta duração.
Para fazer um grande esforço físico com uso de força muscular é necessário
previamente aquecer a musculatura e o movimento de levantamento do peso deve
ser feito contínua e gradativamente com ritmo suave. Os levantamentos de pesos
executados rapidamente podem produzir fortes dores nas costas.
• Alternância entre posturas e movimentos.
A repetição de movimentos continuamente, assim como as posturas
prolongadas são muito fatigantes e sujeitam o trabalhador a lesões
musculoesqueléticas ou nas articulações que podem se manifestar em curto, médio
ou longo prazo.
A ergonomia sugere a adoção, no máximo possível, das posições neutras, que
impõe a menor carga sobre as articulações e segmentos musculoesqueléticos.
Quando não é completamente possível, é aconselhável ao trabalhador alternar entre
posturas e movimentos, explorando a flexibilidade postural do corpo humano.
O trabalho do médico clínico, citado por Rio e Pires (2001, p.166) ilustra essa
recomendação:
[...] ele se levanta e recebe o paciente, senta-se e divide seu tempo
entre conversar com este e redigir/digitar dados, levanta-se e dirigi-
se ao local do exame clínico, examina o paciente utilizando certos
equipamentos, retorna à mesa, senta-se, redige/digita, conversa com
o paciente, levanta-se e despede-se deste.
O rodízio periódico entre os postos de trabalho também é uma alternativa para
trabalhadores envolvidos em tarefas que exigem movimentos de muita repetição,
desde que os movimentos exigidos nesses postos de trabalho sejam diferentes.
• Restrição da duração do esforço muscular contínuo.
A duração do esforço muscular localizado deve ser limitada. O trabalho estático
prolongado ou com movimentos muito repetitivos suscita uma tensão contínua de
Capítulo 2 Referencial Teórico 35
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
certos músculos do corpo, provocando fadiga muscular localizada. Este processo
resulta em dores, desconforto e queda de desempenho.
Segundo Dul e Weerdmeester (1995, p.20) “quanto maior o esforço muscular,
menor se torna o tempo suportável [...] Com 50% do esforço muscular máximo o
tempo suportável é de aproximadamente dois minutos”.
Kroemer e Grandjean (2005) recomendam que os esforços estáticos
impossíveis de serem evitados devam ser reduzidos a menos de 15% do máximo e
a 10% para esforços de longa duração. E enfatizam que os estudos de Wely em
1970 determinam que o esforço dinâmico de natureza repetitiva não deve exceder
30% do máximo, embora possa ser de até 50% se o esforço não se prolongar por
mais de 5 minutos.
• Prevenção da exaustão muscular.
São necessários vários minutos para a recuperação do músculo afetado por
exaustão. Estudos apontam para a necessidade de cerca de trinta minutos para a
recuperação de 90% da capacidade de desempenho em um músculo exausto.
Músculos meio exaustos atingem o mesmo índice de recuperação em quinze
minutos. Para recuperar um músculo em exaustão completa podem ser necessárias
várias horas.
A organização do trabalho deve evitar a exaustão muscular a fim de não afetar
o desempenho do trabalhador e consequentemente a produtividade.
• Pausas curtas e freqüentes são melhores.
O próprio ciclo do trabalho pode contemplar naturalmente o trabalhador com pausas
curtas nas tarefas. O intervalo entre tarefas, o ciclo de máquinas e equipamentos, o
deslocamento do trabalhador entre setores, são exemplos de pausas curtas.
Diversas pequenas pausas ao longo da jornada de trabalho evitam que o
músculo vá à exaustão, por isso são mais recomendadas que as pausas só ao final
do período. Caso não haja intervalos naturais no desenvolver da tarefa, Dul e
Weerdmeester (1995) recomendam a programação de pausas periódicas para evitar
a exaustão muscular do trabalhador.
Capítulo 2 Referencial Teórico 36
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Todas as recomendações para prevenção de problemas na saúde do
trabalhador devem ser acatadas ao mesmo tempo, pois contempladas isoladamente
se tornam menos eficazes e eficientes. A qualidade da vida fora do ambiente de
trabalho é fator promovedor e ao mesmo tempo resultante da qualidade de vida no
trabalho e vice-versa.
As características da pesquisa ergonômica permitem visualizar duas vertentes:
a prática e a cientifica. Os resultados práticos se traduzem nas mudanças
implantadas nas organizações onde as intervenções são realizadas.
Do ponto de vista científico, os resultados das intervenções ergonômicas vão
interagir nos diversos campos e áreas de conhecimento.(VIDAL, 2001). Em ambas
as situações, as contribuições se fazem de grande interesse tanto em nível pessoal
(trabalhador) como organizacional (empresa) e refletem na produtividade geral.
O trabalho muscular se apresenta de duas formas: estático e dinâmico.
Kroemer e Grandjean (2005, p.15) exemplificam como: “O trabalho de girar uma
roda é dinâmico e segurar um peso com o braço esticado, estático”. Nesse exemplo
podemos perceber o estático como o tipo de trabalho menos aconselhável quanto ao
conforto postural do trabalhador.
Ainda Kroemer e Grandjean (2005, p.15) descrevem essa diferença da
seguinte forma:
1. O trabalho dinâmico caracteriza-se por tensão e relaxamento;
2. O trabalho estático, ao contrário, caracteriza-se por um estado de
contração prolongada da musculatura.
Na atividade dinâmica, o trabalho é expresso como o produto resultante de
peso multiplicado pela altura que é levantado. No trabalho estático, os músculos
mantêm-se em estado de alta tensão, produzindo força em todo período de esforço.
A capacidade estática torna possível manter o corpo em qualquer posição.
Para manter a postura de pé, por exemplo, uma série de grupos musculares é
continuamente pressionada, porém quando uma pessoa permanece de pé por um
tempo prolongado, as exigências musculares provocam dores e desconforto
postural. Ao sentar, há redução das tensões dos músculos de todo o corpo,
Capítulo 2 Referencial Teórico 37
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
principalmente das pernas, já o deitar elimina quase todo o trabalho estático, por
isso esta é a posição mais recomendada para o repouso.
Apesar das diferenças pontuais, não há uma separação rígida entre trabalho
estático e trabalho dinâmico. Geralmente uma atividade é caracterizada pela
predominância dos esforços musculares. Em linhas gerais, Kroemer e Grandjean
(2005) caracterizam trabalho estático significativo nas seguintes condições:
1. Esforço grande por 10s ou mais;
2. Esforço moderado por 1 min ou mais;
3. Esforço leve (1/3 força máxima.) por 5 min ou mais.
Nenhuma postura estática ou movimento repetitivo pode ser mantido por longo
período sem causar danos à saúde do trabalhador. Posturas prolongadas e
movimentos repetitivos são muito fatigantes, em longo prazo, podem lesionar
músculos, ligamento ou articulações.
A tensão contínua de determinados músculos do corpo humano resultante de
uma postura prolongada e de movimentos repetitivos pode provocar fadiga muscular
localizada, vindo a gerar dor, desconforto e menor desempenho produtivo.
A recuperação da capacidade de desempenho satisfatória pode demorar vários
minutos para recuperação. Para Dul e Weerdmeester (1995) são necessários cerca
de trinta minutos para a recuperação de 90% do músculo exausto. Músculos meio
exaustos atingem a mesma recuperação em quinze minutos. “As posturas forçadas
são as formas mais freqüente de trabalho muscular estático” (KROEMER E
GRANDJEAN, 2005, p.17). De acordo com estes autores, a causa mais comum é a
manutenção do tronco, cabeça ou membros em posturas não naturais.
Figura 3 – Exemplo de atividade estática
Capítulo 2 Referencial Teórico 38
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Em comparação com o trabalho dinâmico, o trabalho estático (exemplificado na
figura 3), leva a maior consumo de energia, favorece freqüências cardíacas mais
altas e necessita de períodos de repouso mais prolongados, pois quanto maior for a
tensão do músculo, mais rápido se instala a fadiga muscular.
Alguns estudiosos acreditam que um trabalho pode ser mantido por várias
horas por dia, sem sintoma de fadiga, desde que a força exercida não exceda 10%
da força máxima do músculo envolvido.
Para a ergonomia, a postura e o movimento têm grande importância. Tanto no
cotidiano como na execução do trabalho, eles são determinados pela atividade em
função da tarefa e pelo posto de trabalho.
Figura 4 - Trabalho com predominância estática dos músculos das costas, ombros e braços
Segundo Kroemer e Grandjean (2005), os esforços estáticos excessivos (figura
4 ) e repetitivos estão associados ao aumento de riscos de:
1. Inflamação nas articulações devido a estresse mecânico;
2. Inflamação nos tendões;
3. Inflamação nas bainhas dos tendões;
4. Processos crônicos degenerativos;
5. Cãibras;
6. Doenças dos discos intervertebrais.
Como prevenção destes problemas de saúde, o trabalhador pode adotar uma
alternância de posturas ou tarefas. Podem-se fazer também rodízios periódicos, com
Capítulo 2 Referencial Teórico 39
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
a troca de trabalhadores de um posto de trabalho para outro. Posturas prolongadas
podem prejudicar os músculos e articulações.
Os principais itens a serem ressaltados na interação homem-ambiente de
trabalho, conforme Couto (1996, p. 174), são:
1. O corpo deve trabalhar na vertical, na medida do possível;
2. Os braços devem estar na vertical e os antebraços na horizontal, com apoio
nos punhos e antebraços;
3. Todos os instrumentos de uso freqüente devem estar dentro da área de
alcance normal;
4. Todos os instrumentos de uso ocasional devem estar no máximo dentro da
área de alcance máximo;
5. O tronco não deve se curvar rotineiramente para executar a tarefa;
6. No caso do trabalho sentado, o trabalhador não deve afastar as costas do
encosto da cadeira para atingir o objeto de trabalho;
7. Os pés devem estar apoiados;
8. O mobiliário de trabalho não deve comprimir nenhuma parte do corpo do
trabalhador;
9. Os movimentos e posturas devem ser feitos em condição adequada de
conforto;
10. A adequação do posto de trabalho, caso não seja possível o ideal, é preferível
um pouco mais alto. É mais prejudicial ao trabalhador ficar com o tronco
encurvado que com os antebraços mais verticalizados.
2.6.1 A Postura Sentada
Embora a postura sentada seja menos fatigante que a em pé, deve ser evitada
por períodos prolongados. As tarefas que exigem postura sentada devem permitir
essa alternância, oferecendo para o trabalhador cadeiras mais altas, com apoio para
os pés.
Em geral, na posição sentada o pescoço e as costas ficam submetidos às
longas tensões, que podem provocar dores localizadas,.
Capítulo 2 Referencial Teórico 40
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Muitas tarefas exigem acompanhamento visual dos movimentos manuais.
Nesse caso a altura da superfície de trabalho deve ser determinada pelo
compromisso entre a melhor altura para as mãos e a melhor posição para os olhos,
que vai determinar a postura da cabeça e dos ombros. (DUL E WEERDMEESTER,
1995).
Conclusões como essas apontam para a necessidade de um estudo
aprofundado da atividade exercida na posição sentada. Adquirir um assento
ergonômico não é determinante para o conforto na postura do trabalho sentado.
A altura da bancada deve estar de acordo com a altura da visão do trabalhador
e os braços não devem ser mantidos erguidos. As alturas ajustáveis permitem
sempre maior conforto postural ao trabalhador. As manipulações fora de alcance das
mãos exigem movimentos do tronco, o que pode causar lesões e desconfortos.
Segundo Kroemer e Grandjean (2005), os estudos de Caldwell em 1959
viabilizaram a elaboração de regras de força máxima para o trabalho sentado (com
apoio nas costas):
Tabela 2 - Aplicação de forças no trabalho sentado
Exerce maior força Exerce menor força
Mão com rotação para dentro - pronação
(180N)
Mão com rotação para fora - supinação
( 110N)
A rotação da mão operando 30 cm a frente
do eixo do corpo
A rotação da mão operando a menos de
30cm a frente do eixo do corpo
Mão puxando para baixo (370N) Mão puxando para cima (160N)
Força de empurrar a mão (600N) Força de puxar a mão (360N)
Empurrar operando a 50 cm a frente do eixo
do corpo
Empurrar operando a menos de 50cm a
frente do eixo do corpo
Puxar operando a uma distancia de 70 cm
do eixo do corpo
Puxar operando a uma distancia menor de
70cm do eixo do corpo
Fonte: Adaptado de Kroemer e Grandjean (2005)
A Tabela 2 compara as forças necessárias para movimentos em posição
sentada, de dentro e fora e de puxar e empurrar, tais informações podem ser úteis
Capítulo 2 Referencial Teórico 41
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
na identificação de posturas inadequadas e nas sugestões de ajustes posturais no
trabalho sentado. Isso permite a definição de alguns princípios próprios para o
projeto do posto de trabalho e desenvolvimento da tarefa.
Para Kroemer e Grandjean (2005, p.33) “Em todas as atividades é necessário o
exercício da força muscular com o máximo de eficiência com esforço mínimo”.
2.6.2 A Postura Em Pé
O trabalho em pé está, a princípio, condicionado á disposição do posto de
trabalho. Segundo Couto (1996), o corpo humano deve trabalhar na vertical, pois
nesta posição ele encontra seu melhor ponto de equilíbrio, com baixo nível de
tensão dos músculos em geral.
Ainda Couto (1996) recomenda que para valer este princípio algumas medidas
devam ser tomadas. A saber:
1. Adequar a altura das bancadas de trabalho da seguinte forma:
• Para trabalhos pesados, bancada na altura do púbis;
• Para trabalhos moderados, bancada na altura dos cotovelos (braços
na vertical);
• Para trabalhos leves, bancada a 30 cm dos olhos;
• Para trabalhos de escrita, bancada ou mesa na altura da linha
epigástrica.
2. Quando o trabalho envolver mais de um tipo de tarefa, calcular pela tarefa que
ocorrer por mais tempo;
3. Na medida do possível, dotar o posto de trabalho de regulagem de alturas;
4. Na dúvida entre instalar um equipamento mais alto ou mais baixo, instala-lo
mais alto;
5. Ao planejar um ambiente de trabalho, considerar os dados antropométricos da
população trabalhadora.
A força máxima no trabalho em pé, segundo Kroemer e Grandjean (2005, p.31)
foi detalhadamente estudada por Rohmert em 1966 e Rohmert e Jenik (1970) e
Capítulo 2 Referencial Teórico 42
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Walkim et al em 1950. Dos estudos de Rohmert em 1966 tiraram-se as seguintes
conclusões:
• Estando de pé, na maioria das posições do braço, a força de empurrar é maior
do que a força de puxar.
• As forças de empurrar e de puxar são maiores na posição vertical e menores
na posição horizontal.
• As forças de empurrar e de puxar são da mesma ordem de magnitude tanto se
a posição do braço é estendido para os lados ou para frente do corpo (plano
sagital).
• A força de empurrar no plano horizontal é de 160 a 170N para homens e 80 a
90N para mulheres.
2.7 A Pesquisa Ergonômica
A ergonomia contemporânea sugere métodos de análise de trabalho ou a
Análise Ergonômica do Trabalho (AET) que prevê mecanismos de identificação de
dores, desconforto e insatisfação do trabalhador.
A identificação e o registro são as maiores dificuldades quando se trata de
analisar e corrigir as más posturas do trabalho. Esse inconveniente levou alguns
pesquisadores a proporem métodos práticos de registro e análise de postura que
possam validar os resultados das pesquisas nessa área.
O nascimento da ergonomia deu-se pela necessidade de apresentar soluções
para os problemas originários de situações de trabalho que não condizem com a
satisfação do trabalhador no momento da realização da tarefa.
Em face à inicial falta de referencial teórico, os estudos ergonômicos se
desenvolveram com base em experimentos, o que caracteriza uma atitude científica.
Historicamente, a ergonomia surgiu a partir do desenvolvimento de duas
correntes distintas: Uma com influências das ciências aplicadas, surgiu na Inglaterra
em 1947 e concentra-se nas características físicas e psicológicas do homem. A
outra se originou na França praticamente com a publicação do livro de A.
Ombredane e J. Faverge, intitulado A Análise do Trabalho, em 1955, conforme
Wisner (1994) e sem desconsiderar as características psicofisiológicas, dá
Capítulo 2 Referencial Teórico 43
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
importância para a análise da atividade do trabalhador, priorizando o processo do
trabalho e o homem como elemento desse processo. A partir desta publicação, as
características da tarefa deixam de ser descritas pela direção da organização e
passam a ser pela análise da atividade do trabalho. Daí a recomendação de que
uma análise ergonômica deve partir de um problema específico, identificado como
efeito de uma situação ergonomicamente insatisfatória.
Segundo Abrahão e Pinho (1999) os critérios de avaliação do trabalho são
sustentados por três eixos:
1. A segurança dos homens e equipamentos;
2. A eficiência do processo produtivo;
3. Bem estar dos trabalhadores nas situações de trabalho.
A avaliação ergonômica visa confrontar as situações reais de trabalho com os
conhecimentos em torno desses três eixos. Sendo assim, torna-se necessário a
apreciação do modelo de trabalho, das características do trabalhador e da relação
homem-trabalho na situação estudada.
Afirma Wisner (1994) que o método experimental permitiu progressos
espetaculares na concepção e no melhoramento das situações de trabalho. Em
alguns casos, a observação do trabalho favorece a identificação e solução de
problemas que tendem a afetar a saúde do trabalhador.
No que se refere à análise de postura, diversos métodos foram desenvolvidos
baseados em relatos e queixas de trabalhadores que apresentavam dores ou lesões
musculoesqueléticas. A análise é feita com objetivo de identificar a origem do
problema. Para tanto, todas as atividades devem ser observadas, independentes de
serem atividades prescritas, imprevistas ou inconscientes por parte do indivíduo.
(WISNER, 1994).
2.7.1 Análise Ergonômica do Trabalho - AET
A ergonomia é uma área de conhecimento que estuda as relações entre o
homem e o seu trabalho. Quanto à perspectiva, de acordo com a ação ergonômica
pode dividir-se em ergonomia de concepção e ergonomia de intervenção. A
abordagem desse estudo está relacionada com a vertente de intervenção.
Capítulo 2 Referencial Teórico 44
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
É inconcebível conduzir uma AET de todo um complexo industrial de grande
porte, pois se trata de um meio a serviço de um laudo ou uma recomendação, no
que se entende que há de haver um foco. Torna-se necessário a identificação de
pontos problemáticos para então trabalhar-se caso a caso.
2.7.1.1 Análise Macroscópica
A análise macroscópica é geralmente a primeira análise feita, ocorre quando o
ambiente problemático é visitado pelo pesquisador, que visualmente vai
identificando determinados detalhes como má utilização de equipamentos,
carregamentos de cargas pesadas, etc. ou através de questionários pouco
detalhados. Devido à sua superficialidade, geralmente precisa ser completada com
uma análise mais microscópica, onde o problema será visualizado mais
detalhadamente. Neste contexto serão avaliadas posturas e suas conseqüências,
métodos de trabalho, etc. inclusive os fatores ocultos, que não estão visíveis na área
analisada, como horas extras, dados do ambulatório médico, revezamentos, etc.
Não existe um padrão oficial de Relatório de AET, porém Couto (1996) sugere
a seguinte seqüência:
1.Introdução
Justifica-se o porquê da análise naquela área.
2.Explicitação dos objetivos da pesquisa;
Descreve-se o que se pretende com a pesquisa.
3.Descrição da tarefa;
Detalha-se a tarefa realizada naquele ambiente.
4.Descrição da metodologia da tarefa;
5.Descrição dos resultados encontrados;
6.Conclusões;
7.Recomendações.
Couto (1996) ainda recomenda atenção a cinco critérios essenciais a uma
solução ergonomicamente correta:
Capítulo 2 Referencial Teórico 45
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
1.Biomecânico: se a mecânica do ser humano funciona melhor na nova situação;
2.Fisiológico: o indivíduo se cansa menos;
3.Epidemiológico: ocorre redução de lesões na nova situação;
4.Psicofísico: os trabalhadores aceitam bem a situação;
5.Critério de produtividade: aumenta o rendimento;
Tem-se que observar a reação do trabalhador, visto que, em geral, as
recomendações em sua maioria alteram sua rotina de trabalho. O laudo deve relatar
o que deve ser feito e o que não deve ser feito, utilizando clareza e objetividade. A
bibliografia deve sempre ser apresentada, é ela que dá suporte técnico ao trabalho.
Segundo Vidal (2001) o que caracteriza uma intervenção ergonômica é a
construção que vai viabilizar a mudança necessária, e que possa inserir os
resultados da ergonomia nas crenças e valores das organizações que as demandam
e recebem seus resultados. Esta construção divide a intervenção e ocorre em etapas
distintas:
1.Instrução da demanda, conforme figura 5.
2.Análise da atividade e dos riscos;
3.Concepção de soluções ergonômicas;
4.Implementação ergonômica.
ATALHO ILUSÓRIO -SOLUÇÃO PRONTA
Figura 5 - Esquema de uma Intervenção ergonômica (V idal, 2001)
IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÔES ERGONÔMICAS
ANÁLISE DA ATIVIDADE E DOS RISCOS
ERGONÔMICOS
INSTRUÇÃO DA DEMANDA
CONCEPÇÃO DE SOLUÇÕES
ERGONÔMICAS
CONTRATO PARA AÇÃO ERGONÔMICA
SOLUÇÃO ERGONÔMICA
INCORPORADA À ORGANIZAÇÃO
Capítulo 2 Referencial Teórico 46
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
A Figura 5 apresenta a instrução da demanda, que compreende todo o
encaminhamento contratual da intervenção, desde o foco do problema, ajustes,
levantamento de recursos humanos para formar a consultoria interna, etc.
A análise da atividade e dos riscos ergonômicos consiste no conjunto de
coletas de dados e informações que permitem ao ergonomista realizar as
modelagens necessárias para promover mudanças no ambiente de trabalho.
A implementação ergonômica se constitui na fase final de uma intervenção
ergonômica.
A AET é um instrumento de avaliação pontual, onde serão analisados
problemas de forma individual, para proporcionar maior probabilidade das
recomendações posteriores virem a ser implementadas com sucesso.
Na avaliação da implementação de uma AET, Dul e Weerdmeester (1995)
recomendam a utilização de uma lista de verificação, que deve ser preparada pelo
próprio ergonomista, de acordo com as necessidades específicas. Também podem
ser utilizadas listas já existentes, desde que atendam as seguintes finalidades:
• Evitar o esquecimento de algum aspecto;
• Prever problemas que podem surgir;
• Medir efeitos da implementação;
• Obter idéias ou soluções alternativas.
Basicamente a AET é uma avaliação qualitativa, embora utilize dados
quantitativos em suas análises. Consiste em uma seqüência de coletas de dados e
informações que viabilizem as mudanças necessárias para a melhoria do ambiente
de trabalho, contemplando a satisfação do trabalhador.
2.7.2 Análise dos métodos utilizados em AET
Os métodos analisados e comparados neste estudo são: O sistema OWAS de
autoria de Karhu, Kansi e Kuorinka desenvolvido em 1977 (Iida, 2005), o diagrama
de áreas dolorosas proposto por Corlett e Manenica em 1980 (Iida, 2005), o registro
eletromiográfico e a lista de verificação proposta por Dul e Weerdmeester (1991) e o
método RULA de análise da postura dos membros superiores.
Capítulo 2 Referencial Teórico 47
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Ainda que datem de épocas remotas, os métodos analisados ainda são
utilizados com segurança nas AETs atuais.
Essa comparação se fez necessária para definição dos métodos de registro e
análise postural utilizados nesta pesquisa ergonômica com foco na postura do
trabalhador.
As vertentes prática e científica são características da pesquisa ergonômica. Os
resultados práticos se traduzem nas mudanças implantadas nas organizações onde
as intervenções são realizadas.
Do ponto de vista científico, os resultados das intervenções ergonômicas vão
interagir nos diversos campos e áreas de conhecimento (VIDAL, 2001). Neste caso,
em ambas as situações, as contribuições se fazem de grande interesse tanto a nível
pessoal (trabalhador) como organizacional (empresa) refletindo na produtividade
geral e poderão aportar futuras pesquisas enfocadas em trabalhadores de outras
áreas.
2.7.2.1 O Sistema OWAS
O Ovako Working Posture Analysing System ou método OWAS, trata-se de um
sistema prático de registro, é uma técnica de amostra que permite a análise dos
dados posturais com os seguintes objetivos:
• Para catalogar as posturas combinadas entre as costas, braços, pernas e
forças exercidas e determinar o efeito resultante sobre o sistema músculo
esquelético;
• Para examinar o tempo relativo gasto em uma postura específica para cada
região corporal e determinar o efeito resultante sobre o sistema músculo
esquelético (GUIMARÃES E PORTICH, 2002).
É possível obter os dados por observação direta ou por vídeo ou registro
fotográfico (observação indireta) possibilitando a análise através do conhecimento
do método pelo pesquisador ou usando os softwares específicos (Método
WinOWAS).
Segundo Iida (2005), é baseado em 72 posturas típicas que resultaram de
diferentes combinações das posições do dorso (4 posições típicas), braços (3
Capítulo 2 Referencial Teórico 48
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
posições típicas) e pernas (7 posições típicas). Essas posturas são classificadas em
quatro categorias:
Classe 1 - Postura normal, que dispensa cuidados a não ser em casos excepcionais;
Classe 2 – Postura que deve ser verificada durante a próxima revisão rotineira dos
métodos de trabalho;
Classe3 – Postura que deve merecer atenção em curto prazo;
Classe 4 – Postura que deve merecer atenção imediata.
Figura 6- Esquema postural do sistema OWAS. Fonte: Iida (2005)
A aplicação do sistema consiste em observar visualmente e registrar as
posturas do trabalhador e confrontar com as posturas apresentadas na Figura 6
atribuindo-lhe um código, que vai ser classificado de acordo com as categorias já
mencionadas.
2.7.2.2 Diagrama de áreas dolorosas de Corlett e Ma nenica
Esse diagrama facilita a localização de áreas dolorosas. Nele a imagem do
corpo humano de costas está dividida em diversos segmentos e após a jornada de
trabalho do trabalhador em foco, o pesquisador faz com que ele aponte as regiões
onde sente dores.
O índice de desconforto é classificado em 8 níveis, com variação de 0
(extremamente confortável) a 7 (extremamente desconfortável). Com base na
localização feita pelo trabalhador no diagrama apresentado na Figura 7, o
Capítulo 2 Referencial Teórico 49
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
pesquisador pede que ele (o trabalhador) avalie subjetivamente o grau de
desconforto de cada segmento apontado.
Dessa forma, podem-se identificar máquinas, equipamentos e postos de
trabalho que promovem maior desconforto postural.
Figura 7- Diagrama de Corlett e Manenica . Fonte I ida (2005)
Este método pode ser aplicado com ou sem auxílio de softwares específicos, o
que pode vir a ser vantajoso em algumas situações de pesquisa. Utiliza-se de uma
metodologia simples e não necessita de interrupção do trabalho na coleta de dados.
Porém baseia-se exclusivamente na colaboração do trabalhador entrevistado, que
pode vir a omitir ou aumentar alguma queixa.
2.7.2.3 Registro Eletromiográfico
Nesse método não há relatórios de observações subjetivas, o que atribuiria
maior precisão e confiabilidade aos dados coletados. A atividade muscular é
identificada através de registros eletrônicos, onde obtém-se gráficos denominados
de eletromiogramas (EMG).
Capítulo 2 Referencial Teórico 50
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Tais registros são obtidos introduzindo-se eletrodos nos músculos do
trabalhador, registrando a atividade elétrica dos mesmos. Segundo Iida (2005) esse
método tem a vantagem de fornecer informações objetivas pelo registro direto da
atividade muscular, mas tem a desvantagem de exigir um equipamento eletrônico
relativamente dispendioso. Essa, portanto, não é considerada a maior desvantagem
desse método, que apesar de preciso, despreza a espontaneidade da atividade. A
inserção de eletrodos ou outros instrumentos e/ou equipamentos durante a
realização da tarefa faz criar um cenário diferente do cotidiano do trabalhador, o que
pode interferir na atividade, alterando os resultados da pesquisa.
2.7.2.4 Método RULA
Ou Análise Rápida dos Membros Superiores, foi desenvolvido por Mctamney e
Corllet em 1993 para o uso em pesquisas ergonômicas de locais de trabalho
centradas nos riscos dos membros superiores. Segundo seus idealizadores, este
método não requer equipamento especial e oferece uma rápida análise das posturas
de pescoço, tronco e membros superiores junto com a função muscular e a carga
externa recebida pelo corpo.
Com o propósito de investigar a exposição de trabalhadores aos fatores de
risco associados às doenças dos membros superiores associadas ao trabalho, este
método usa diagramas das posturas corpóreas, o que assegura que todas as
posturas do corpo são observadas de forma que quaisquer posturas
constrangedoras das pernas, tronco ou pescoço que possam influenciar as posturas
dos membros superiores estão incluídas na avaliação.
Dentre as vantagens do método estão: a não exigência de equipamentos
especiais e a possibilidade de treinamento dos investigadores sem a necessidade de
nenhum equipamento especial nem experiência profissional e a possibilidade da
pesquisa ser feita sem a interrupção do trabalho.
Sua desvantagem consiste no fato de ser específico para análise de membros
superiores, mesmo trabalhando com observações do corpo como um todo, necessita
a associação com outros métodos para análise do corpo humano.
Capítulo 2 Referencial Teórico 51
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
2.7.2.5 Lista de Verificação Proposta por Dul e Wee rdmeester
Na avaliação de posturas e movimentos, Dul e Weerdmeester (1995) sugerem
uma lista de questionamentos que o pesquisador irá responder ao observar o
trabalhador em atividade em seu posto de trabalho. São contempladas as bases
biomecânicas, fisiológicas e antropométricas. Trata-se de uma seqüência de 64
perguntas classificadas de acordo com seu foco: Biomecânica (9 questões),
Fisiologia (2 questões), Antropometria (2 questões).
A postura subdivide-se em: trabalho sentado (10 questões), trabalho em pé (7
questões), mudança de postura (4 questões), postura de mãos e braços (7
questões). Os movimentos subdividem-se em: Levantamento de pesos (10
questões), transporte de cargas (6 questões), puxar e empurrar cargas (5 questões).
Embora abrangente, a lista de verificação é parte de uma AET onde
prevalecerão as conclusões técnicas do pesquisador a partir da observação direta
do trabalhador e seu posto de trabalho. Não é um questionamento feito ao
trabalhador, não são consideradas as queixas ou reclamações do elemento em foco.
Nesse tipo de análise corre-se o risco de desconhecer alguma informação
importante, ao desprezar a intervenção do trabalhador. Vale como cheklist, porém
insuficiente para localizar e corrigir problemas posturais.
Em vista da natureza da pesquisa ergonômica voltada para a identificação e
localização de posturas inadequadas decorrentes de algumas atividades em função
das tarefas na produção, verificou-se que o uso isolado de qualquer um dos
métodos citados acarretará em insuficiência de informações para a validação dos
resultados do estudo.
A lista de verificação proposta por Dul e Weerdmeester não se mostrou
eficiente para este tipo de estudo, mas pode complementar as informações obtidas
com a associação dos métodos do Sistema OWAS, do Diagrama de áreas dolorosas
de Corlett e Manenica e do método RULA, onde o primeiro classificaria as posturas
de acordo com as categorias propostas pelo método e os outros viriam a confirmar
tal disposição, localizando e classificando o nível de dor e desconforto resultante
daquela atividade. Com base nessas informações podem-se propor alterações em
máquinas, equipamentos e postos de trabalho, além da própria postura do
Capítulo 2 Referencial Teórico 52
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
trabalhador. Este é, portanto, o procedimento sugerido por este estudo para a coleta
de dados referentes à análise postural.
2.8 O Segmento Produtivo em Estudo – Produção do Ca rvão Vegetal
Este estudo é dirigido ao segmento de produção do carvão vegetal, sendo que
esta análise se reporta ao processo de fabricação do carvão através da
carbonização com utilização de cilindros metálicos para a obtenção do produto.
Com a pesquisa procura-se avaliar as vantagens em torno da saúde do
trabalhador com foco específico na questão postural, visto que segundo a literatura,
o processo oferece vantagens sobre produtividade (no que tange o maior
aproveitamento da matéria prima) e sobre a questão ambiental.
2.9 A Importância do Segmento Para a Economia Nacio nal
O carvão vegetal é um produto de importância relevante para a economia
nacional. Segundo Guimarães Neto (2005), em 2003 o Brasil foi o maior produtor e
maior consumidor mundial do carvão vegetal, chegando a consumir 29.202 milhões
de mdc (metros cúbicos de carvão) aqui produzidos.
Desse consumo, 23.608 milhões de mdc foram utilizados somente na produção
do ferro gusa. Esses números evidenciam a importância da produção do carvão
vegetal no contexto econômico brasileiro. Em grande parte, carvão vegetal do Brasil
é produzido em carvoarias de alvenaria a céu aberto em fornos do tipo “rabo-quente”
sem condições favoráveis à saúde do trabalhador.
Não obstante, trata-se de uma atividade econômica de relevância para o país,
que pode vir a gerar empregos dignos se conduzida de forma distinta.
2.9.1 Método Convencional
Estudos como de Dias et al (2002) e Pimenta et al (2005) comprovam que a
produção de carvão vegetal através da carbonização com utilização de fornos tipo
“rabo-quente” apresenta inúmeros prejuízos à saúde do trabalhador. As condições
muitas vezes subumanas de trabalho chegam a envolver além de homens e
mulheres capazes, crianças e idosos, que movidos pela necessidade de
sobrevivência se deixam explorar pelas empresas carvoeiras.
Capítulo 2 Referencial Teórico 53
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
A observação direta do ambiente de trabalho na carvoaria faz perceber as
precárias condições a que os trabalhadores são submetidos.
Todos os sentidos do observador são tocados ao se aproximar de
uma carvoaria. Em um local plano, escolhido por exigência do
processo em meio à mata, depara-se com a fileira de fornos
semelhantes a iglus envolvidos pela fumaça, cujo cheiro forte faz
arder os olhos e impregna tudo e todos ao redor. Pilhas de madeira
esperam a vez de ir para o forno e montes de carvão, às vezes,
ainda fumegantes, pelo ensacamento. Os trabalhadores, geralmente
seminus, têm o corpo coberto pela fuligem e deles, muitas vezes,
somente se vêem os olhos e os dentes (DIAS et al. 2002).
Nos meses de março a junho de 2003, Pimenta et al (2005) desenvolveram
uma pesquisa no ambiente de trabalho da produção de carvão vegetal em bateria de
fornos de superfície do tipo "rabo-quente”, em uma empresa localizada no Estado de
Minas Gerais. Tal pesquisa concluiu que, dentre outros aspectos, a dor é fator
constante na vida de alguns daqueles trabalhadores.
Na análise de dados sobre a saúde dos trabalhadores, 40% dos entrevistados
queixaram-se de dores pelo corpo e 30% sentem muito cansaço físico após a
jornada de trabalho.
Do total dos trabalhadores analisados que apresentaram alguma queixa de dor,
25% sentem dores localizadas na coluna, 5% sentem dores na cabeça, 5% nos
braços, 5% nas pernas e 55% em outras localizações no corpo. Sem que essas
queixas viessem a causar problemas ao ponto de ser motivo de absenteísmo
registrado na empresa (PIMENTA et al, 2005). Essa realidade é reproduzida por
todo país, pois segundo Dias et al, (2002), as etapas da produção do carvão pelo
método de carbonização em fornos tipo “rabo-quente” envolve o mesmo
procedimento em quase todas as regiões em que é adotado.
A etapa inicial dá-se pelo enchimento do forno, onde o trabalhador executa as
seguintes tarefas: (a) preparação do forno para a queima; (b) transporte manual da
madeira estocada na área externa até a porta do forno já preparado; (c) transporte
manual da madeira empilhada da porta do forno até o interior deste; (d) enchimento
do forno, organizando cuidadosamente as madeiras; (e) fechamento do forno.
Capítulo 2 Referencial Teórico 54
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
“Durante a operação de enchimento do forno, o trabalhador assume posturas
penosas. Ele sobe e permanece sobre a pilha de toras de madeira e as lança ao
solo, o mais próximo possível da entrada do forno” comenta Dias et al (2002). Já
nessa primeira etapa percebe-se a gravidade da falta de organização do trabalho,
que expõe o trabalhador a risco de acidentes e a tarefas que envolvem esforço físico
e repetitivo.
A segunda etapa envolve a carbonização, quando o trabalhador denominado
carbonizador supervisiona o processo, no mínimo de hora em hora pelo tempo da
carbonização que é de aproximadamente três dias. A responsabilidade nesse
procedimento é grande, pois dele depende a qualidade do produto.
Em seguida dá-se a retirada do carvão do forno, que feita com as seguintes
etapas: (a) quebra da parede do forno, na abertura anterior, que fora vedada com
barro; (b) transferência do carvão da parte interna para a “grade” colocada na porta
do forno; (c) transporte da “grade” contendo o carvão, da porta do forno para a área
externa, e derramamento deste no solo. A partir daí ocorre o ensacamento e
transporte manual das sacas até os caminhões.
Em todas as etapas do processo de produção do carvão vegetal estão
presentes o esforço físico excessivo e o trabalho em posições forçadas, Dias et al
(2002) afirma que “em 41 minutos e 24 segundos, o trabalhador transportou cerca de
7.357 kg para encher o forno, realizando movimentos repetitivos de torção e flexão
do tronco”. E a situação se agrava na etapa de retirada do carvão, quando o esforço
físico desprendido soma-se à repetitividade de movimentos, à diversidade de
temperaturas a que o trabalhador é submetido e às condições mínimas de higiene e
conforto.
Ainda é Dias et al (2002) que afirma: “Os problemas lombares aparecem como
a segunda causa de demanda de consulta médica na rede de serviços de saúde,
sendo expressivo o número de trabalhadores precocemente incapacitados para o
trabalho”. O que aponta para o desalinhamento entre as condições biomecânicas
favoráveis para a execução da tarefa e as condições reais a que esses
trabalhadores são submetidos.
Capítulo 2 Referencial Teórico 55
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
2.9.2 A Carbonização com Utilização de Cilindros M etálicos Verticais
A pesquisa constatou que o processo produtivo adotado nesse método oferece
diferentes condições de trabalho aos empregados em relação ao método que adota
fornos convencionais.
A constante vigilância dos fornos para a medição do tempo correto de queima,
feita normalmente pelos carvoeiros nos fornos convencionais do tipo “rabo quente”,
os expõe ao calor e à fumaça constantemente além de obrigá-los a permanecer no
posto por horas seguidas, inclusive durante a noite.
Na carbonização em cilindros metálicos, essa tarefa conta com termopares
(espécie de termômetro) implantados dentro dos cilindros, que transmitem para um
computador a temperatura exata dentro dos fornos. O método conta também com
um sistema mecanizado de descarga do carvão, para que não seja necessário que o
operador entre nos fornos para retirar o material.
A redução de emissão de resíduo o caracteriza como um sistema produtivo de
produção mais limpa (PmaisL) porém a literatura que trata dessa técnica tem
abrangência restrita às condições ambientais, não contemplando a saúde do
trabalhador.
Por tratar-se de um método produtivo há pouco tempo utilizado, ainda não é
conhecida a realidade sobre a saúde do trabalhador na carbonização em cilindros
metálicos verticais.
Capítulo 3 Metodologia 56
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
3 METODOLOGIA
Este capítulo tem o objetivo de expor o método adotado na pesquisa para
coleta e análise de dados como base científica para o estudo. O trabalho trata-se de
uma pesquisa ergonômica com enfoque biomecânico específico nas posturas
adotadas pelo trabalhador da produção do carvão vegetal em cilindros metálicos
verticais. Pesquisar, segundo Silva e Meneses (2001, p. 19) “é procurar respostas
para indagações propostas”.
Para Lakatos e Marconi (2001), a pesquisa é um procedimento formal, com
método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui
no caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.
Estes autores ainda sugerem que o planejamento da pesquisa seja feito a partir
da elaboração de quatro momentos distintos: a preparação da pesquisa, a
determinação das fases da pesquisa, da execução da pesquisa e, finalmente, o
relatório da pesquisa, com os resultados, se possível, com detalhes para que
possam alcançar sua relevância.(LAKATOS E MARCONI, 2001)
“O método utilizado para esta pesquisa foi o método indutivo, pois nesse
método, a generalização deriva de observações de casos de realidade concreta”
(SILVA E MENESES, 2001, p.26). Através da observação das posturas adotadas
pelos trabalhadores em execução da tarefa, a pesquisa avaliou se a empresa que
utiliza o método produtivo de carvão vegetal em cilindros metálicos adota um
processo produtivo que não agride a natureza humana no que diz respeito aos
limites biomecânicos posturais dos trabalhadores.
Esta pesquisa quanto à natureza é aplicada, de acordo com Silva e Meneses
(2001), por gerar conhecimentos para aplicação prática dirigido à solução de
problemas especificamente ergonômicos posturais.
Quanto a forma de abordagem do problema, é uma pesquisa qualitativa. Trata
da relação entre o trabalhador e o trabalho que executa. O foco da investigação é a
atitude postural do homem em função da sua tarefa.
Ainda segundo Silva e Meneses (2001), a pesquisa qualitativa é descritiva, a
fonte direta para a coleta de dados é o ambiente natural em que se desenvolve o
Capítulo 3 Metodologia 57
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
processo. Dessa forma, a coleta dos dados para a análise do processo nesta
pesquisa desenvolveu-se no setor de produção de uma empresa que produz carvão
vegetal em cilindros metálicos verticais.
Os problemas biomecânicos posturais foram apontados a partir da observação
do pesquisador, através da interpretação dos fenômenos de acordo com seus
conhecimentos e do marco teórico adotado. Nesta forma de abordagem considera-
se que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito da pesquisa, de
acordo com Silva e Meneses (2001).
Para este estudo, entende-se essa relação dinâmica como a interação homem-
máquina-tarefa, onde o sujeito da pesquisa é o homem e o mundo real está
relacionado com o seu posto de trabalho, composto pelas máquinas e equipamentos
que opera e, especificamente, pela tarefa que executa. Através do estudo de como
se desenvolve a integração neste sistema, foi feita a identificação da existência ou
não de problemas biomecânicos posturais no método produtivo em questão.
Quanto aos seus objetivos, é uma pesquisa descritiva. Visa descrever as
características das posturas adotadas pelos trabalhadores do método produtivo já
citado e envolvem técnicas padronizadas de coleta de dados como questionários,
formulários e observação sistemática, próprias da pesquisa ergonômica.
3.1 O estudo de caso
O estudo de caso é uma das muitas maneiras de fazer pesquisa em ciência
social, e segundo Yin (2005, p.19) “é a estratégia preferida pelos estudiosos quando
se colocam questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco
controle sobre os acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos
contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real”.
Nesta pesquisa, a estratégia do estudo de caso foi escolhida por tratar-se de
um estudo em torno de um fenômeno que se desenvolve em uma empresa, cujo
processo produtivo atende aos critérios legais de sustentabilidade e
desenvolvimento e tende a ser adotado por empresas do segmento carvoeiro
brasileiro.
Capítulo 3 Metodologia 58
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
3.2 Análise Ergonômica do Trabalho
A pesquisa ergonômica está condicionada a uma metodologia específica desta
área de conhecimento. A AET é um conjunto de procedimentos metodológicos com
intuito de analisar, diagnosticar e corrigir uma situação real de trabalho, segundo Iida
(2005) e está dividida em três fases observadas e aplicadas na obtenção de
resultados mais interessantes à pesquisa: análise da demanda; análise da tarefa e
análise das atividades.
3.2.1 Análise da demanda
Neste caso, a pesquisa trata-se de demanda externa, uma vez que sua origem
parte de uma proposta acadêmica e não de uma necessidade identificada pela
empresa. O estudo das posturas adotadas na execução da tarefa de produzir o
carvão vegetal em cilindros verticais parte da necessidade de verificar se as
alternativas produtivas sustentáveis contemplam também a saúde do trabalhador (no
que tange a biomecânica), agregando valor à organização e produzindo diferencial
competitivo.
3.2.2 Análise da tarefa
Consiste basicamente na análise das condições de trabalho na organização.
Dados como: tipos de trabalho (com exigências físicas ou cognitivas), ritmos,
horários ou cargas foram avaliados conforme a finalidade da pesquisa.
Neste caso, como se trata de uma pesquisa biomecânica foram avaliados os
itens:
• Posto de trabalho;
• Horários e ritmos de trabalho;
• Cargas (kg) a que são submetidos os trabalhadores.
O início da pesquisa na empresa ocorreu com a identificação das etapas do
processo produtivo do carvão vegetal em fornos cilíndricos verticais de maior
exigência postural e quais funções no processo produtivo são mais acometidas por
lesões, dores ou incômodos musculoesqueléticos.
Através de registros fotográficos e filmagens foram avaliadas as relações dos
móveis, máquinas e equipamentos com os trabalhadores em estudo.
Capítulo 3 Metodologia 59
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
A pesquisa antropométrica é importante na determinação de aspectos
relacionados às dimensões do posto de trabalho no sentido de que o trabalhador
mantenha uma boa postura. As variações de alcances, alturas e movimentos exigem
uma análise da relação métrica entre o homem e as máquinas, móveis e
equipamentos em seu posto de trabalho, essa relação pode ser determinante para a
postura adequada.
3.2.3 Análise das atividades
Segundo Santos e Fialho (1997), um método de análise das atividades de
trabalho pode ser definido como um conjunto de meios e procedimentos práticos de
análise que permitem dar um conteúdo às categorias de um modelo. Neste sentido,
cada método de análise ergonômica corresponde a um objetivo.
Um dos princípios da pesquisa ergonômica é a descrição do real (atividades
desenvolvidas pelo homem na execução da tarefa). Assim, a determinação de
métodos e técnicas de análise deve ser relativa a determinadas situações de
trabalho e permitir a obtenção de resultados concretos.
O método de análise aplicado consistiu em conhecer os aspectos
fundamentais da biomecânica do trabalho: os movimentos, o conteúdo, o tempo e o
processo do trabalho.
Na empresa pesquisada, foi observada a população de trabalhadores da
produção do carvão vegetal. Foram observados três grupos de operadores de
carbonização, cada grupo composto de quatro trabalhadores que se revezam por
turnos de trabalho. A pesquisa enfocou o aspecto biomecânico da execução da
tarefa. Para tanto foram identificados os movimentos e tempos de execução. Os
movimentos foram fragmentados em posturas (seqüenciais) e tempos de
permanência. Assim, a partir da identificação destes aspectos pôde-se ter uma idéia
global do conteúdo e do processo de trabalho.
As atividades sem predominância de exigência postural, observadas pelo
pesquisador, foram suprimidas da pesquisa.
A análise se deu a partir do método OWAS com aplicação do software
WinOwas.
Capítulo 3 Metodologia 60
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
3.2.3.1 A análise através do método OWAS:
A identificação das tarefas pesquisadas partiu, a princípio, da observação
macroscópica onde os postos de trabalho foram observados diretamente pelo
pesquisador. As conclusões oriundas da aplicação do método OWAS têm origem na
observação (feita pelo pesquisador) do trabalhador em seu posto de trabalho, em
execução da tarefa. Esta etapa consistiu na observação direta com registros de
imagens por filmagens e fotografias para análise comparativa subseqüente.
Na seqüência, os trabalhadores, cuja postura foi classificada na observação
macroscópica como merecedora de atenção, foram entrevistados e, com base no
Diagrama de Corlett e Manenica deveriam ser localizados dor e desconforto e em
que nível se manifestam. Esse instrumento, portanto, não se mostrou eficaz na
identificação de distúrbios musculoesqueléticos. Em sua totalidade, a população
pesquisada não apresentou dores, desconforto, constrangimentos ou lesões
musculoesqueléticas mesmo admitindo dificuldade em algumas posturas.
No decorrer da pesquisa foram utilizados instrumentos como formulários
respondidos pelos trabalhadores; formulários respondidos pelo pesquisador com
base em suas observações; o registro de imagens e a comparação das posturas
registradas com as referenciadas no método através do software WinOwas.
Essas etapas da pesquisa identificaram e localizaram os efeitos da má postura.
Ainda que a postura seja uma atitude do trabalhador, muitas vezes é derivada
da organização do posto de trabalho. As conseqüências dos problemas posturais
quase sempre se manifestam com a repetição por tempo prolongado das ações
posturais incorretas. Algumas situações só são percebidas com mais de um ano de
persistência no erro.
A pesquisa de campo ocorreu em uma empresa carvoeira que utiliza o método
de carbonização em cilindros metálicos verticais na obtenção do carvão vegetal
Por tratar-se de um método produtivo de utilização recente, não existem
registros de históricos médicos relevantes na empresa que contribuam com este
estudo. A pesquisa de campo aconteceu entre os meses de setembro e outubro de
2006, quando a empresa tinha aproximadamente sete meses de funcionamento. A
figura 8 representa o croquis da planta industrial adotada na empresa pesquisada,
Capítulo 3 Metodologia 61
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
adotada também em outras empresas que utilizam o mesmo método na produção do
carvão.
Figura 8 – Croquis da planta industrial – Praça de carbonização
Para demonstração mais clara e objetiva da estrutura adotada no
desenvolvimento deste projeto é apresentado na Figura 9 o fluxograma de
desenvolvimento da pesquisa, que demonstra a conexão entre o problema da
pesquisa, as variáveis e objetivos propostos.
Trilho da ponte móvel Carregamento dos cilindros
Silo 1
Silo 2
Câmaras de carbonização
Resfriamento dos cilindros Local de descarga de lenha
Trilho da ponte móvel
escritório
Capítulo 3 Metodologia 62
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 9- Desenvolvimento da pesquisa. Adaptado de Oliveira (2007)
CONTEXTUALIZAÇÃO Condições Ergonômicas de Trabalho
Organização do trabalho Humanização do trabalho
Produtividade
ERGONOMIA Saúde do Trabalhador
REFERENCIAL TEÓRICO
INSTRUMENTO DE PESQUISA
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
PROBLEMA: Quais as condiçõ es posturais dos trabalhadores na produção do carvã o vegetal em cilindros metálicos verticais?
VARIÁVEIS Independente :
Condições Ergonômicas
Dependente : Saúde do
trabalhador
OBJETIVO GERAL : Avaliar as posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de
carvão vegetal em cilindros metálicos verticais em exercício de suas tarefas.
Verificar a incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos trabalhadores, associadas a atividade profissional e diagnosticar as condições posturais de trabalho requerida pela tarefa.
Oferecer recomendações ergonômicas, visando a minimização ou erradicação dos sofrimentos lombares e constrangimentos posturais.
Avaliar a carga (kg) a que são submetidos os trabalhadores em exercício de suas tarefas diárias.
Relacionar as posturas adotadas pelos trabalhadores com as do sistema de análise de posturas.
Interveniente : Método de produção do
Carvão Vegetal
Produção de Carvão Vegetal
Capítulo 3 Metodologia 63
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Instrumento de Pesquisa - Fluxograma do Método de P esquisa
Visita à empresa – Observação macroscópica
SIM
NÃO
SIM
NÃO
NÃO
SIM
NÃO Não
Figura 10 - Fluxograma do Método de Pesquisa e Aval iação Postural. Adaptado de Couto (1996)
O trabalho é feito em linha de produção?
Envolve manuseio, levantamento e carregamento de carga ?
Envolve muitos movimentos dos membros superiores?
É feito junto a máquina ou bancada?
6- Roteiro de avaliação do posto de trabalho
7- Avaliação do risco de lombalgias
É observada a má postura no trabalho?
SIM
NÃO
DOR
SIM
OWAS SIM
RULA
Avaliação dos Resultados
Más condições posturais Boas condições posturais
Sugestões de adequação ergonômica
O MÉTODO ATENDE ÀS EXIGÊNCIAS ERGONÔMICAS
AÇÃO
Diagrama de
Corlett e Manenica
Capítulo 4 Análises e Discussões 64
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
4 ANÁLISES E DISCUSSÕES
Este capítulo apresenta as análises dos dados coletados durante a pesquisa
em uma empresa do segmento produtivo de carvão vegetal através do método de
carbonização em cilindros metálicos verticais. A coleta dos dados ocorreu a partir de
observação e registro de imagens, entrevistas e aplicação de formulários específicos
da pesquisa ergonômica, como o diagrama de áreas dolorosas proposto por Corlett
e Manenica. O método utilizado na análise dos dados foi o Sistema OWAS (Ovako
Working Analysis System) através da aplicação do software WinOwas.
Na pesquisa foram observados três grupos compostos por quatro
trabalhadores cada, que trabalham em alternância de turnos e mantêm a produção
ininterrupta. Observou-se que a população pesquisada é caracterizada por
trabalhadores do sexo masculino, na faixa etária entre 20 e 31 anos, alfabetizados,
com grau de instrução entre curso fundamental incompleto e curso médio
incompleto. Todos os trabalhadores têm jornada de trabalho de seis horas, com
intervalo de 15 minutos após as três primeiras e intervalo de 2h para as refeições e
estão a serviço da empresa no cargo de operador de carbonização desde fevereiro
de 2007, o que corresponde a sete meses de atividades até o período da pesquisa.
Os resultados das análises são apresentados em três abordagens: a primeira
avalia os resultados das análises dos eventos posturais individuais localizados, a
partir das atividades identificadas como propensas a risco biomecânico. O
referencial teórico adotado no estudo forneceu subsídios para a esta identificação,
feita a partir de observação direta. Na seqüência, são apresentadas as análises e
discussões dos resultados por categoria de classificação do método e finalmente,
são discutidos os resultados por atividades exercidas, que por sua vez estão
divididas em subatividades.
4.1 O Processo Produtivo em Estudo
A carbonização da madeira em cilindros verticais para a produção do carvão
vegetal, atende a seguinte seqüência de tarefas:
1. Descarga da lenha;
2. Abastecimento de Lenha na Praça de carbonização;
Capítulo 4 Análises e Discussões 65
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
3. Posicionamento do Cilindro para carregamento;
4. Carregamento do Cilindro;
5. Fechamento do cilindro;
6. Posicionamento do cilindro em espera;
7. Ignição da câmara de carbonização;
8. Enfornamento do cilindro;
9. Carbonização;
10. Verificação da carbonização;
11. Desenfornamento do Cilindro;
12. Resfriamento do Cilindro;
13. Posicionamento Descarga do Cilindro;
14. Seleção do produto;
15. Retirada do tiço;
16. Limpeza da Praça de Carbonização.
No início da pesquisa na empresa foram identificadas as funções com maior
exigência postural nas etapas do processo produtivo e quais funções dentro da
empresa são acometidas por riscos de lesões, dores ou incômodo
musculoesqueléticos. Esta identificação foi feita através de observação direta e
registros de imagens por fotografias e filmagens. Na avaliação, o diagrama de Áreas
Dolorosas de Corlett e Manenica não manifestou registro de desequilíbrio
biomecânico em toda a população estudada.
Avaliadas as tarefas, foram identificadas as de maior exigência postural, as
quais encontram-se ilustradas na seqüência de figuras 11 a 15:
• Carregamento do cilindro;
• Ignição da câmara;
• Verificação das câmaras de carbonização;
• Seleção do carvão;
Capítulo 4 Análises e Discussões 66
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
• Limpeza da praça;
Figura 11 – Carregamento do cilindro Figura 12 – Ignição da câmara
...................
Figura 13 - Verificação das câmaras Figura 14 - Seleção do carvão
Figura 15 - Limpeza da praça
4.2 Avaliação biomecânica dos trabalhadores da pra ça de carbonização
Na pesquisa, foi observado o desempenho biomecânico de três equipes de
trabalhadores entre as quatro que atuam diretamente na produção do carvão vegetal
em cilindros metálicos verticais.
Ainda que todos os trabalhadores estejam registrados na empresa com a
mesma função, um deles desempenha o papel de líder da equipe, organizando a
Capítulo 4 Análises e Discussões 67
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
produção e operando o equipamento que permite o transporte de grandes cargas
em toda a extensão da planta. Assim, podemos identificar dois papéis para os
trabalhadores na praça de carbonização: líder de equipe e operador de
carbonização.
• Líder de equipe
Esse elemento tem a responsabilidade fundamental de manter o desempenho
da equipe durante o turno de trabalho. Além disso, também estão sob sua
responsabilidade: o monitoramento dos fornos e cilindros em relação ao peso,
temperatura e tempo de carbonização (permanência do cilindro no forno), além da
colocação dos cilindros nos fornos, sua retirada, o derramamento do carvão do
cilindro no silo e o carregamento do caminhão carvoeiro. Observa-se então que esse
elemento sofre forte exigência mental oriunda do conteúdo do trabalho. Segundo
Iida (2005), uma das maiores causas de estresse do trabalho é a pressão para
manter um determinado ritmo de produção.
Observou-se que a natureza da atividade exige da equipe constante atenção
para evitar a carbonização da lenha além do tempo previsto fora do forno, que pode
levar ao incêndio e desperdício da produção. Tal fator exige do líder atenção
constante e decisão rápida no controle dos imprevistos.
O trabalho biomecânico do líder é parcialmente estático, em pé. Porém,
periodicamente ele percorre, andando, toda a extensão da planta de produção.
Segundo Kroemer e Grandjean (2005, p. 15), “o trabalho estático caracteriza-se por
um estado de contração prolongada da musculatura, o que geralmente implica um
trabalho de manutenção da postura”. Ao andar, o trabalhador passa a desempenhar
esforço dinâmico, quando os músculos recebem um grande afluxo de sangue,
agindo como uma bomba na circulação sanguínea. Estudos de autores como Dul e
Weerdmeester (1995), Iida (2005) e Kroemer e Grandjean (2005) afirmam que a
alternância entre trabalho estático e dinâmico propicia equilíbrio biomecânico à
atividade.
Observou-se na pesquisa que o líder executa tarefas não caracterizadas por
levantamento de cargas nem por movimentos repetitivos.
Capítulo 4 Análises e Discussões 68
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
• Operadores de Carbonização
Os demais trabalhadores da equipe de produção se dividem em tarefas
peculiares ao método produtivo em estudo. Dentre as tarefas observadas, as
identificadas como de maior exigência postural foram o carregamento do cilindro
metálico, a verificação da carbonização, a ignição da câmara, a seleção do carvão e
a limpeza da praça de carbonização. Essas tarefas, segundo o marco teórico
adotado neste estudo, apresentam situações de comprometimento biomecânico em
alguns eventos posturais.
A seguir, as descrições das tarefas e das atividades correspondentes:
Tarefa 1: Carregamento do cilindro metálico com len ha de forma organizada.
Observou-se na pesquisa que em cada equipe são destacados dois elementos
com a tarefa de carregar os cilindros com lenha para a carbonização A execução
desta tarefa ocorre de três diferentes formas pelas duplas de trabalhadores. Neste
estudo, emprega-se a denominação de atividades às formas de execução da tarefa:
1.1 O carregamento do cilindro com auxílio do carrinho;
1.2 O carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho;
1.3 O carregamento do cilindro com atividades alternadas.
Foram observados e registrados os carregamentos de 10 cilindros, com tempo
médio de 1h05min, conforme a Tabela 3.
Tabela 3 – Tempo do carregamento do cilindro
CARREGAMENTO DO CILINDRO
INÍCIO FIM TEMPO 09:20 10:32 01:12 08:40 09:50 01:10 10:42 11:40 00:58 14:43 15:45 01:02 16:20 17:34 01:14 20:47 21:45 00:58 22:02 23:01 00:59 23:13 00:11 00:58 00:33 01:48 01:15 03:25 04:30 01:05
MÉDIA 01:05
Capítulo 4 Análises e Discussões 69
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Análise da Tarefa: Carregamento do cilindro
O cilindro metálico deve ser completamente preenchido com lenha em duas
camadas, organizadas de tal forma que comporte o maior volume de madeira possível.
Durante o carregamento, o cilindro fica posicionado horizontalmente, acomodado em
uma base que o mantém imóvel.
O cilindro metálico apresenta as seguintes características:
Diâmetro: 240 cm
Profundidade: 280 cm
Figura 16 – Características do cilindro
Descrição da atividade 1.1 - O carregamento do cili ndro com auxílio do
carrinho:
Observou-se durante a pesquisa que esta atividade se desenvolve a partir de
três ações:
1.a – Carregar o carrinho transportador;
1.b - Transportar a lenha no carrinho para o local onde se encontra o cilindro;
1.c - Transferir a lenha do carrinho para o cilindro – carregamento do cilindro.
As subatividades 1.a e 1.b juntas compreendem um tempo médio de execução
de 12 min, tempo esse que varia de acordo com a localização da lenha a ser
recolhida. Quando o caminhão basculante descarrega a lenha em local mais distante
do cilindro, a tarefa chega a ser realizada em 16 min.
Nessa operação, observou-se que o trabalhador submete-se ao esforço
biomecânico em dois momentos:
a) Ao recolher a lenha, ele flexiona a coluna para erguer a peça. Não torna a
flexioná-la para colocar a tora no carrinho porque ele a joga.
240
280
Capítulo 4 Análises e Discussões 70
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
b) No carregamento do cilindro, o trabalhador flexiona a coluna para pegar a
peça no carrinho e com a coluna na posição vertical ele a arremessa.
Figura 17 - Carregamento do carrinho transportador – seqüência de movimentos do trabalhador
A seqüência de movimentos demonstrada na Figura 17 corresponde às
posturas assumidas por um trabalhador no carregamento do carrinho. O tempo
médio desta seqüência de movimentos é 3,8 s. Observa-se que ocorrem torção e
flexão dorsal do trabalhador ao pegar a peça de madeira. A colocação sobre o
carrinho ocorre com o dorso e pernas eretos.
Na subatividade do transporte da lenha até o cilindro, o trabalhador empurra o
carrinho carregado até o destino. Segundo relato dos trabalhadores, o esforço
exercido nessa atividade corresponde a transporte de carga maior que 20 kg.por
uma distância média de aproximadamente 12 m.
A subatividade seguinte corresponde ao carregamento do cilindro. A seqüência
de movimentos registrada na Figura 18 demonstra o movimento dorsal do
trabalhador.
Figura 18 - Carregamento do cilindro a partir do ca rrinho transportador – seqüência de movimentos de um trabalhador.
Com o carrinho em frente ao cilindro, o trabalhador transfere a lenha
organizando cada uma das duas camadas comportadas pelo cilindro, a fim de
acomodar o maior volume de lenha possível. A Figura 18 demonstra a seqüência de
Capítulo 4 Análises e Discussões 71
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
movimentos desta subatividade. O tempo médio desta seqüência é de 4,12s.
Observa-se que ocorrem eventos posturais com torção e flexão dorsais
concomitantes e elevação dos braços acima do ombro do trabalhador.
Figura 19 - Atividade 1.1 – Etapas do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho transportador
Obs: A figura é o desenho esquemático da seqüência das subatividades de um trabalhador no carregamento do cilindro com auxílio do carrinho transportador
A análise pelo Sistema OWAS foi feita a partir da divisão da atividade em três
subatividades:
1.a) O carregamento do carrinho transportador;
1.b) O transporte do carrinho até o cilindro;
1.c) O carregamento do cilindro.
O Gráfico 2 é resultante da avaliação da atividade como um todo (representada
na Figura 18 e 19) pelo Sistema OWAS, englobando todas as subatividades que a
compõe.
Capítulo 4 Análises e Discussões 72
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 2 - Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho – Sistema OWAS
A leitura do Gráfico 2 indica que as combinações das subatividades inserem a
postura das pernas na categoria 2. O método de avaliação sugere que mesmo não
apresentando risco imediato à saúde do trabalhador, essa categoria merece
verificação na próxima revisão rotineira dos métodos de trabalho (IIDA, 2005).
Nesta atividade, o dorso do trabalhador permanece ereto em 50% do tempo e
apresenta flexão em 25% e flexão e rotação simultâneas em 25% do período. Essa
movimentação não solicita atenção imediata, porém a flexão e rotação dorsal
concomitantes podem vir a causar lesão musculoesquelética em médio ou longo
prazo (categoria 2).
A carga aplicada e a movimentação dos braços do trabalhador nessa atividade
dispensam cuidados, por não serem passíveis de riscos biomecânicos.
As avaliações seguintes correspondem às análises individuais de cada subatividade
em que a atividade descrita foi decomposta:
Subatividade 1.a - O carregamento do carrinho
O carregamento do carrinho ocorre em tempo médio de 25 minutos e 33
segundos para cada cilindro. Na condução da análise, esta subatividade também foi
dividida em três subatividades:
• Pegar a lenha no piso;
• Transportar a lenha até o carrinho;
dorso
braços
pernas
carga
50%%%%
88%%%%
25%%%%
88%%%%
88 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise do carregamento do cilindro com auxílio do carrinho
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
25%%%%
12%%%%
12 %%%%
12 %%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 73
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
• Colocar a lenha no carrinho.
A Figura 20 apresenta a seqüência de movimentos do trabalhador na
subatividade correspondente ao carregamento do carrinho.
Figura 20 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or no carregamento do carrinho transportador. Subatividade 1.a
Na seqüência de movimentos demonstrada na Figura 20 percebe-se a
associação de movimentos de rotação e flexão no tronco do trabalhador na
execução da tarefa. O Gráfico 3 apresenta a análise da subatividade 1.a conforme
análise feita no Sistema OWAS.
Gráfico 3 - Análise da subatividade 1.a – Carregame nto do carrinho
A associação da flexão e rotação do dorso em 33% da subatividade está
incluída na categoria 3 e o posicionamento ereto das pernas, na categoria 2.
Segundo a avaliação do OWAS, a posição dos braços e a carga dispensam
cuidados.
dorso
braços
pernas
carga
67%%%%
100%%%%
33%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise carregamento do carrinho
Categ. 1 Categ. 2
Categ. 3 Categ. 4
Capítulo 4 Análises e Discussões 74
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Subatividade 1.b - O transporte da lenha até o cili ndro
O trabalhador se movimenta de forma que em alguns momentos ele empurra o
carrinho e em outros, ele puxa. Pode ocorrer em tempo médio de 3 minutos e 08
segundos quando a lenha está mais longe ou em tempo médio de 2 minutos e 30
segundos, quando a lenha está situada mais próxima ao cilindro a ser carregado.
Figura 21 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or no transporte do carrinho. Subatividade 1.b
Mesmo empurrando a lenha sobre rodas, o trabalhador relata que a força
exercida equivale ao transporte de carga maior que 20 kg. Através do OWAS, esta
seqüência de movimentos tem a análise apresentada no Gráfico 4.
Gráfico 4 - Análise da subatividade 1b - Transporte da lenha
A análise do Gráfico 4 demonstra que o dorso flexionado pode levar o
trabalhador a dores ou lesões musculoesqueléticas, portanto este evento está
situado na categoria 3, merecedora de atenção em curto prazo. Eventos envolvendo
braços, pernas e carga caracterizam postura não sujeita a riscos.
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise transporte da lenha
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
100%%%%
100 %%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 75
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Subatividade 1.c – O carregamento do cilindro
O carregamento de um cilindro a partir da lenha situada no carrinho se dá em
tempo médio de 27 minutos e 46 segundos. Para cada cilindro carregado, foi
observada a média de 402 peças de lenha, que corresponde a aproximadamente
200 repetições de movimento por trabalhador em cada cilindro.
Figura 22 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or no carregamento do cilindro. Subatividade 1.c
Para estudo a subatividade 1.c apresentada na Figura 22 também foi dividida
em três subatividades:
• Pegar a peça de lenha no carrinho;
• Transportar a lenha;
• Colocar a lenha no cilindro. No estudo desta subatividade foram consideradas
as diferentes alturas da camada de lenha.
A análise do OWAS determina o gráfico que caracteriza a subatividade
conforme apresentado no Gráfico 5.
Capítulo 4 Análises e Discussões 76
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 5 - Análise da subatividade 1c – Carregamen to do cilindro
O método OWAS avalia a seqüência de posturas como não merecedora de
atenção imediata, porém o posicionamento das pernas está na categoria 2, que
segundo Iida (2005), deve ser acompanhada durante a próxima revisão rotineira dos
métodos de trabalho.
Permanecer em 25% do tempo da atividade em flexão e rotação dorsal, com
braços acima dos ombros em 25% do tempo e em pé, ainda que apoiado em duas
pernas em 100% do tempo são os fatores merecedores de atenção neste
procedimento.
As subatividades estão classificadas individualmente pelo OWAS conforme o
gráfico apresentado no Gráfico 6.
Gráfico 6 - Análise individual das subatividades qu e compõe a atividade 1.1
dorso
braços
pernas
carga
50%%%%
75%%%%
25%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado
andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise do carregamento do cilindro
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
25%%%%
25%%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 77
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
O Gráfico 6 que demonstra as categorias das subatividades individualmente,
insere o carregamento do carrinho e o carregamento do cilindro na categoria 2 e o
transporte na categoria 3. Especificamente, na atividade de transporte, ocorre a
necessidade de atenção em curto prazo devido à flexão dorsal do trabalhador
associada à carga e à forma de conduzir a lenha (andando e empurrando o
carrinho).
Atividade 1.2: Carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho transportador
A observação direta possibilitou verificar que durante o turno matutino o
caminhão basculante deixa a lenha dentro da praça de carbonização, em frente ao
cilindro a ser carregado. A proximidade da lenha em relação ao cilindro, faz com que
os trabalhadores dispensem o uso do carrinho e desenvolvam as mesmas atividades
simultaneamente no carregamento.
Figura 23 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or no carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho transportador
A seqüência de movimentos nesta atividade tem tempo médio de 9,7 s e ocorre
com flexão e torção dorsal além de levantamento de braços acima da altura dos
ombros, com carga menor que 20 kg. Como os dois trabalhadores executam a
mesma tarefa simultaneamente, a observação centrou-se em um dos trabalhadores.
Capítulo 4 Análises e Discussões 78
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 24 - Carregamento do cilindro sem o auxílio do carrinho transportador
Obs: A figura é o desenho esquemático da seqüência de atividades de um trabalhador no carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho transportador.
Descrição da atividade:
Na pesquisa foi observado que o trabalhador se desloca até o local onde foram
deixadas as peças de lenha, flexiona a coluna para pegar a lenha, a carrega até o
cilindro e coloca a lenha dentro dele em uma seqüência que tem duração média de
9,7 s. Para análise pelo Sistema Owas, a atividade 1.2 foi desmembrada em três
subatividades:
2.a Pegar a peça de lenha;
2.b Transportar a lenha até o cilindro;
2.c Colocar a lenha no cilindro.
Verificou-se que a acomodação da lenha no cilindro envolve posturas
diferentes do trabalhador, variando de acordo com a altura que atinge a camada.
Cada cilindro acomoda duas camadas de lenha, devido ao tamanho que é cortada a
madeira. O peso individual da peça de lenha não ultrapassa 15 kg.
Figura 25 - Diferentes posturas do trabalhador no c arregamento do cilindro
Capítulo 4 Análises e Discussões 79
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
A Figura 25 demonstra que conforme vai carregando o cilindro com as toras, o
trabalhador varia o ângulo de flexão da coluna vertebral, chegando ao alongamento
musculoesquelético para atingir maior altura na atividade.
O Método OWAS apresenta a seguinte análise postural da atividade como um
todo, conforme mostrado no Gráfico 7.
Gráfico 7 - Análise do carregamento do cilindro sem auxílio do carrinho – Sistema OWAS
Na análise do movimento que envolve o carregamento do cilindro sem auxílio
do carrinho de transporte apresentada no Gráfico 7, observou-se que o dorso em
flexão e rotação e as pernas paradas em pé em flexão estão inseridos na categoria
3, segundo Iida (2005) merecedora de atenção por poder provocar lesões
musculoesqueléticas em curto prazo. Esta avaliação é decorrente da relação entre
as posturas e tempos de permanência, onde o trabalhador, nessa atividade
encontra-se:
• 67% do tempo com o dorso ereto e 33% com o dorso em flexão e rotação;
• 67% do tempo com os braços abaixo dos ombros e 33% acima destes;
• 33% do tempo com pernas paradas em pé apoiadas em 2 pernas, 33% com
joelhos flexionados e em 33% do tempo ele anda. Em todas as análises de
posturas foi considerada carga menor que 20 kg.
Para análise, o movimento foi dividido em três subatividades:
dorso
braços
pernas
carga
67%%%%
67%%%%
33%%%%
33%%%%
33%%%%
33%%%%
33%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação
flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros
Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado
em pé em 2 pernas
Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados
Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado
andando
< 20 kg
< 10 kg
> 20 kg
Análise do carregamento do cilindro sem auxilio do carrinho
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
Capítulo 4 Análises e Discussões 80
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
2.a Pegar a peça de lenha;
2.b Transportar a lenha até o cilindro;
2.c Colocar a lenha no cilindro.
Considerando que o tempo médio do movimento completo (envolvendo as três
subatividades) é de 9.7 s e o carregamento do cilindro se dá em média em 1hora e 5
minutos, percebe-se a média de 402 repetições do movimento em cada cilindro
carregado. Executado por dois trabalhadores, define aproximadamente 200
repetições de movimento por trabalhador no período de uma hora.
Subatividade 2.a – Pegar a peça de lenha
Observou-se no decorrer da pesquisa, que para pegar a peça de lenha no piso
ou no monte deixado pelo caminhão basculante, o trabalhador assume a postura
descrita no desenho esquemático a seguir:
Figura 26 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or para pegar a peça de lenha no piso. Subatividade 2.a
Devido a lenha ser deixada diretamente sobre o piso, o trabalhador tem que
curvar-se para alcançá-la. Na seqüência de movimentos apresentada na Figura 26
observa-se a flexão dos joelhos e o movimento dos braços abaixo da altura dos
ombros. Segundo o Sistema OWAS, esta seqüência de posturas é caracterizada
conforme o Gráfico 8.
Capítulo 4 Análises e Discussões 81
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 8 - Análise da subatividade 2 a – Postura a o pegar a lenha
A leitura do Gráfico 8 demonstra que o evento que corresponde à flexão dos
joelhos no ato de pegar a peça de lenha está inserido na categoria 4, o que
comprometendo a postura de forma que mereça atenção urgente, pois esse
movimento associado à carga, trás risco de lesão musculoesquelética imediata.
Subatividade 2.b – Transportar a lenha até o cilind ro
Na pesquisa foi observado que a seqüência de posturas assumidas durante
esta subatividade associadas à carga menor que 20 kg, não comprometem a
biomecânica da atividade. Através do desenho esquemático apresentado na
percebe-se as posturas adotadas nesta subatividade:
Figura 27 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or para transportar a peça de lenha até o cilindro. Subatividade 2.b
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação
flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros
Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado
em pé em 2 pernas
Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados
Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado
andando
< 20 kg
< 10 kg
> 20 kg
Análise da postura ao pegar
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
Capítulo 4 Análises e Discussões 82
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Este movimento não envolve flexão de pernas ou de tronco. De acordo com o
Sistema OWAS, o transporte da lenha até o cilindro não oferece riscos imediatos à
saúde do trabalhador, conforme o Gráfico 9.
Gráfico 9 - Análise da subatividade 2b - Transporte da madeira até o cilindro
O Gráfico 9 demonstra que a postura das pernas adotada no transporte da
lenha até o cilindro, situam esta atividade como categoria 2 na análise do OWAS,
que sugere verificação da postura em inspeção rotineira. Segundo o método de
análise, os demais eventos posturais não correspondem a riscos de lesões ou
desconforto
Subatividade 2.c – Colocar a lenha no cilindro
A colocação das peças de lenha dentro do cilindro ocorre com variação na
postura do trabalhador de acordo com a altura da pilha de peças já arrumadas. Nas
camadas mais altas, não há flexão dorsal, porém nas primeiras camadas, o
trabalhador flexiona visivelmente o dorso para acomodar as peças, conforme Figura
28.
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação
flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros
Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado
em pé em 2 pernas
Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados
Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado
andando
< 20 kg
< 10 kg
> 20 kg
Análise da postura ao transportar
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
Capítulo 4 Análises e Discussões 83
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 28 - Postura adotada na acomodação das prime iras camadas de lenha, com flexão dorsal.
O desenho esquemático da Figura 28 caracteriza a postura com flexão dorsal e
o Gráfico 10 apresenta a análise desta postura pelo Método OWAS.
Gráfico 10 - Análise da postura adotada ao colocar as peças de madeira nas primeiras camadas
Segundo a análise do OWAS, a flexão do dorso nesta atividade pode vir a
comprometer a saúde do trabalhador, estando, portanto, inserida na terceira
categoria do sistema, que solicita atenção em curto prazo.
Verificou-se na observação da atividade, que ao atingir a altura acima do
ombro do trabalhador, o empilhamento exige uma postura alongada, sem flexão de
dorso ou pernas, mas com braços acima da linha dos ombros, conforme a Figura 29.
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação
flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros
Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado
em pé em 2 pernas
Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados
Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado
andando
< 20 kg
< 10 kg
> 20 kg
Análise da postura de colocar com flexão dorsal
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
100%%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 84
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 29 - Análise da postura sem flexão dorsal
Gráfico 11 - Análise da postura sem flexão dorsal
Segundo o Sistema OWAS, a análise da postura aponta a posição dos braços
como merecedora de atenção em curto prazo por atingir altura acima dos ombros,
conforme Gráfico 11. O dorso ereto e a carga adotada são elementos que não
oferecem riscos à saúde do trabalhador nesta seqüência, porém o posicionamento
das pernas está inserido na categoria 2 e os braços ao atingirem a altura acima da
linha dos ombros, na categoria 3.
Contemplando a atividade como um composto de subatividades, o Sistema
OWAS localiza pontualmente o aspecto merecedor de maior atenção na atividade. O
Gráfico 12 classifica as ações por categoria.
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação
flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros
Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado
em pé em 2 pernas
Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados
Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado
andando
< 20 kg
< 10 kg
> 20 kg
Análise da postura de colocar sem fl exão dorsal
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
Capítulo 4 Análises e Discussões 85
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 12 - Análise individual das subatividades q ue compõem a atividade 1.2
Observa-se que enquanto as subatividades de transportar e colocar a lenha no
cilindro não incorrem em risco biomecânico, as posturas assumidas para pegar a
lenha inserem esta subatividade na categoria 4, que conforme análise do OWAS,
merece atenção imediata por tratar-se de risco iminente de lesões. Esta
classificação deve-se a flexão e rotação do dorso associadas à flexão dos joelhos na
posição em pé.
Atividade 1.3 – Carregamento do cilindro em ativida des consecutivas
Nesta realização da tarefa, os dois trabalhadores se alternam na execução da
atividade de carregamento do cilindro com a lenha.
Descrição das atividades:
Um trabalhador recolhe a peça e a leva até o cilindro, lá o segundo trabalhador
recebe a peça e a acomoda dentro do cilindro, conforme a Figura 30.
Figura 30 - Carregamento do cilindro por dois traba lhadores em atividades consecutivas
Capítulo 4 Análises e Discussões 86
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
As seqüências de movimentos nesta atividade envolvem posturas já avaliadas
neste estudo. Como os dois trabalhadores desempenham as atividades em
alternância, considerou-se a atividade como seqüência única na análise.
A atividade foi dividida em três subatividades, assim descritas:
3.a - Pegar a lenha;
3.b - Transportar a lenha até o cilindro;
3.c - Acomodar a lenha. Esta subatividade também está subdividida na colocação
em menores alturas envolvendo flexão dorsal e em alturas maiores, sem flexão da
coluna.
A seqüência de movimentos que envolvem as subatividades de pegar a lenha e
transportar até o cilindro correspondem a avaliação já feita na atividade 1.2, que
inclui a subatividade de pegar a lenha na categoria 4 devido a rotação e flexão do
dorso e flexão dos joelhos e a subatividade de transportar a lenha na categoria 1. A
subatividade que corresponde ao recebimento da lenha e acomodação no cilindro
envolve também flexão e rotação simultâneas do dorso. De acordo com o OWAS,
atende a análise apresentada no Gráfico 13.
Gráfico 13 - Análise da acomodação da lenha no cili ndro
O movimento do tronco ocorre em três posturas distintas, em 33% do tempo do
movimento ele permanece ereto. Na seqüência do movimento, ocorre a rotação em
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
33%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação
flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros
Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado
em pé em 2 pernas
Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados
Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado
andando
< 20 kg
< 10 kg
> 20 kg
Análise da acomodação da lenha no cilindro
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
33%%%%
33%%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 87
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
33%, seguida de flexão e rotação simultâneas também em 33% do tempo do
movimento. Esta seqüência atinge a categoria 3 durante a postura do dorso em
rotação e flexão simultâneas. Os outros eventos posturais estão inseridos nas
categorias 1 e 2.
A análise das categorias das ações fornecida pelo OWAS desta atividade
também é igual à análise feita da atividade 1.2, segundo gráfico 14.
Gráfico 14 - Análise individual das subatividades q ue compõem a atividade 1.2 e 1.3
As três atividades analisadas correspondem às três diferentes formas de
atuação utilizadas no carregamento do cilindro. A seguir serão analisadas as demais
atividades dos trabalhadores na produção do carvão.
Análise da tarefa: Tarefa do operador de carbonizaç ão no acompanhamento da
produção.
O quarto componente da equipe divide seu trabalho durante o turno em
diversas tarefas, que apresentam variação entre exigências físicas e cognitivas.
Durante a pesquisa observou-se que, dentre as tarefas desse elemento, a
verificação da carbonização envolve posturas passíveis de risco de constrangimento
musculoesquelético.
Capítulo 4 Análises e Discussões 88
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Atividade 2: Verificação da carbonização
Esta atividade tem o objetivo de, através da observação visual, verificar o
estado da queima da lenha que mantém o aquecimento do cilindro durante a
carbonização e movimentar as brasas da ignição.
A tarefa é observar através de janelas de aproximadamente 0.50 m x 0.30 m
que estão localizadas a 0.50 m do piso da praça e inserir através dela a pá, para
movimentar as lenhas em brasa. O trabalhador percorre todo o perímetro da câmara
de carbonização em atividade e flexiona o corpo para olhar através de janelas que
estão situadas em cada uma das quatro paredes da câmara.
Na praça de carbonização pesquisada, estão dispostas dez câmaras, sendo
que, durante a pesquisa apenas oito estavam em funcionamento.
Cada câmara é verificada uma vez a cada hora de carbonização. Observou-se
que o procedimento completo em cada verificação dura cerca de 01min16,6s e
nessa atividade o trabalhador assume as diversas posturas apresentadas na Figura
31.
Figura 31 - Posições assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras.
A altura das janelas dificulta o acesso da pá e a observação do trabalhador. Em
média ele permanece em posição de dorso e pernas flexionadas na verificação de
cada janela, com movimentos nos braços que conduzem os movimentos horizontais
da pá, conforme Figura 32.
Capítulo 4 Análises e Discussões 89
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 32 - Seqüência de movimentos do trabalhador na verificação das câmaras
Na aplicação do Diagrama de Corlett e Manenica, o trabalhador não acusou
dores ou desconfortos musculoesqueléticos. Porém os resultados da observação
macroscópica baseados no referencial teórico deste trabalho, apontaram para riscos
biomecânicos no desempenho destas atividades. Segundo o Sistema OWAS, esta
atividade como um todo atende análise apresentada no Gráfico 15.
Gráfico 15 - Análise da verificação das câmaras
A análise descrita no gráfico 15 demonstra que na seqüência de posturas
assumidas pelo trabalhador na verificação das câmaras, o evento relativo à postura
das pernas em 33% do tempo do movimento (mantém-se de pé com joelhos
flexionados) é classificado como categoria 3 e a postura ajoelhada em 33% do
movimento, como categoria 2. A flexão dorsal em 33% do movimento, foi inserida na
categoria 2. Posturas de braços e dorso e a carga aplicada não configuram esforço
biomecânico considerável.
dorso
braços
pernas
carga
67%%%%
100%%%%
33%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise da verificação das câmaras
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
33%%%%
33z%%%%
33%%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 90
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Para análise o movimento foi desmembrado em três subatividades:
2.a - A abertura da janela;
2.b - A verificação propriamente dita;
2.c - O deslocamento do trabalhador em torno da câmara.
Subatividade 2.a - A abertura da janela
Para a abertura da janela, que se encontra a aproximadamente 0.50m do piso,
observou-se que o trabalhador flexiona o tronco e as pernas. O desenho
esquemático representado na Figura 33 demonstra a postura que o trabalhador
assume nessa atividade:
Figura 33 - Postura assumida pelo trabalhador na ab ertura da janela
Apesar da posição aparentemente incômoda demonstrada na Figura 33, na
aplicação do Diagrama de Corllet e Manenica, o trabalhador não relatou dor ou
desconforto postural.
O Sistema OWAS assim analisa esta subatividade, conforme apresentado no
Gráfico 16.
Capítulo 4 Análises e Discussões 91
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 16 - Análise da subatividade 2.a - Abrir a janela
A flexão dorsal em 100% do tempo da postura acusa categoria 3, associada á
flexão dos joelhos se insere na categoria 4, merecedora de atenção imediata pelos
sérios riscos de lesão musculoesquelética consecutiva à postura.
Subatividade 2.b - Verificação propriamente dita
Após a abertura da janela, o trabalhador flexiona o dorso de forma a baixar a
cabeça a uma altura próxima ao nível do piso. Nesta posição, ele ajoelha-se e
flexiona o tronco para atingir a altura necessária para a verificação. O desenho
esquemático da Figura 34 demonstra esta posição:
Figura 34 - Posição do trabalhador na verificação d as câmaras
A análise desta subatividade pelo Sistema OWAS determinou o Gráfico 17.
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise da abertura janela
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
100%%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 92
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 17 - Análise da subatividade 2.b - verifica ção propriamente dita
Na verificação das câmaras, o trabalhador posiciona-se ajoelhado no piso com
o dorso totalmente flexionado, para alcançar a altura da janela. Estes dois eventos
posturais são classificados pelo OWAS como categoria 3, sujeitos a riscos
ergonômicos em curto prazo. Observa-se que os outros eventos como braços e
carga não necessitam atenção por não serem passíveis de riscos iminentes de
lesões musculoesqueléticas ocupacionais.
Subatividade 2.c – Deslocamento do trabalhador
Nesta subatividade o trabalhador se desloca entre as janelas para a verificação
da carbonização. A forma prismática da câmara de carbonização conduz à
necessidade de verificação nas quatro faces.
Durante a pesquisa observou-se que ele faz uso de EPI (Equipamento de
Proteção Individual) e conduz uma pá de peso aproximado de 4,8 kg.
dorso
braço
s
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
2 joelhos flexionados 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
100%%%%
Análise da verificação
Capítulo 4 Análises e Discussões 93
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 35 - Desenho esquemático do trabalhador em d eslocamento
O deslocamento do trabalhador entre as janelas, representado na Figura 35,
não o predispõe a riscos imediatos de ordem biomecânica, conforme o Gráfico 18.
Porém a análise é pertinente ao acompanhamento deste movimento em inspeções
rotineiras, prevenindo danos futuros.
Gráfico 18 - Análise da subatividade 2.c - deslocam ento
Nesta subatividade, somente o evento relativo às pernas do trabalhador
andando sugere necessidade de atenção na próxima inspeção rotineira, por estar
inserido na categoria 2. Os demais eventos estão classificados na categoria 1, sem
riscos biomecânicos ao trabalhador. De acordo com o Sistema OWAS, estas
subatividades individualmente estão classificadas nas categorias descritas no
Gráfico 19.
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação
flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado
em pé em 2 pernas
Em pé em 1 perna Em pé 2 joelhos flexionados
Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado
andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise do deslocamento
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
100%%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 94
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Gráfico 19 - Análise das subatividades da verificaç ão
A leitura do Gráfico 19 demonstra o risco biomecânico das subatividades de
abrir a janela e da verificação propriamente dita. A inclusão na categoria 2 sugere
necessidade de atenção, devido ao risco de lesão musculoesquelética ao
trabalhador em longo prazo.
Observa-se que o deslocamento não implica em riscos posturais.
Atividade 3 - Ignição da câmara
A tarefa consiste em transportar a lenha do pátio para a câmara e lá, provocar
a ignição (acender o fogo). Nessa operação são utilizados aproximadamente 117 kg
de lenha (média aproximada). E a movimentação desde a coleta até o depósito da
lenha na câmara ocorre em tempo médio de 23min.
Figura 36 - Seqüência de movimentos do trabalhador para provocar a ignição da câmara de carbonização
Para análise, esta atividade foi dividida em três subatividades:
3.a - O trabalhador recolhe lenha e carrega o carrinho transportador. Ao recolher as
peças de lenha, ele flexiona a coluna para erguer a peça, mas não torna a flexioná-
Capítulo 4 Análises e Discussões 95
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
la para colocá-la no carrinho. Esta subatividade é analisada pelo OWAS como
categoria 2 (Gráfico 3), passível de atenção na próxima inspeção de rotina.
3.b - O trabalhador empurra o carrinho até a câmara de ignição. Segundo a análise
do OWAS, esta subatividade de forma geral, está inclusa na categoria 3 (Gráfico 4).
Em 100% desta subatividade, o dorso encontra-se flexionado ao empurrar o
carrinho, o que inclui este evento na categoria 3. O deslocamento andando está
classificado na categoria 2.
3.c - O trabalhador arremessa as peças uma a uma do carrinho no espaço próprio
para a ignição da câmara e provoca a ignição ateando fogo à lenha. Este movimento
equivale à seqüência de posturas adotadas no carregamento do cilindro a partir do
carrinho, já analisada no Gráfico 2 como categoria 2.
Toda a seqüência da ignição da câmara é analisada pelo OWAS, conforme o
Gráfico 20.
Gráfico 20 - Análise da ignição
Os movimentos adotados pelo trabalhador durante a ignição da câmara
envolvem posturas de dorso ereto em aproximadamente 50% do tempo total do
movimento, flexionado em 25% e em flexão e rotação em 25%. O dorso, nesta
seqüência, não apresenta comprometimento postural imediato, porém a análise do
dorso
braços
pernas
carga
50%%%%
100%%%%
25%%%%
88%%%%
88 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise da ignição da câmara
Categ. 1 Categ. 2
Categ. 3 Categ. 4
25%%%%
12 %%%%
12 %%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 96
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
OWAS sugere que a flexão associada à rotação dorsal, assim como o
posicionamento das pernas, sejam verificados na próxima inspeção rotineira.
A terceira tarefa cotidiana deste elemento na produção é a distribuição do
carvão na tela dos silos e a retirada do tiço.
Atividade 4 – Distribuição do carvão no silo
Esta atividade consiste em distribuir o carvão sobre a tela do silo e envolve
dois trabalhadores em movimento simultâneo.
Descrição da tarefa :
Para que a qualidade do carvão atenda as exigências do mercado, o
carregamento tem que apresentar características como uniformidade de tamanho do
carvão e não deve conter tiço. Nesse sentido, o trabalhador, ao descarregar o
cilindro sobre o silo, movimenta o carvão com enxada ou ancinho para que os
pedaços passem pela tela e caiam no silo em tamanho uniforme e o tiço (carvão
inacabado) seja separado para nova carbonização.
Figura 37 - Posturas dos operadores de carbonização na distribuição do carvão na tela do silo
A Figura 37 apresenta a atividade de dois trabalhadores na distribuição do
carvão. A enxada tem peso aproximado de 8 kg e o silo tem altura de 0,80 m acima
do piso da praça. Tronco e pernas aparentemente não apresentam exigência
biomecânica, o que é visível nos membros superiores.
Capítulo 4 Análises e Discussões 97
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 38 - Desenho esquemático do movimento do tro nco de um trabalhador na tarefa de distribuição do carvão na tela do silo.
Durante essa operação o trabalhador caminha em volta do silo, para atingir
toda a carga em toda sua extensão. Em média, essa operação tem duração total de
07 minutos 28 segundos e o trabalhador pára, em média, em cinco pontos
diferentes. Em cada ponto ele repete o movimento.
A análise do movimento foi feita considerando individualmente as duas
posturas apresentadas na Figura 38.
Gráfico 21 - Análise da atividade de distribuição
Verifica-se no Gráfico 21 que a flexão dorsal em 100% do tempo é o evento
que causa constrangimento musculoesquelético nesse movimento, classificado
como categoria 3.
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
50%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise distribuição
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
50%%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 98
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
As posturas avaliadas diferem entre si pelo movimento dos braços do trabalhador,
enquanto os demais eventos posturais não alteram. Na postura 1, analisada no
Gráfico 22, o trabalhador apresenta ambos os braços abaixo da altura dos ombros,
em um evento postural classificado pelo OWAS na categoria 1.
Gráfico 22 - Análise da postura 1
A postura 2, representada no
Gráfico 23, representa a execução do movimento com os dois braços acima da
altura dos ombros e é classificada na categoria 3.
Gráfico 23 - Análise da postura 2
Observa-se que as duas posturas têm evento dorsal classificado na categoria 3
devido à flexão. A posição em pé com apoio nas duas pernas é classificada na
categoria 2.
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise distribuiçã o
postura 2
Categ. 1 Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
Em pé 2 joelhos flexionados
dorso
braços
pernas
carga
100%%%%
100%%%%
100%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
Em pé 2 joelhos flexionados
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise distribuição
postura 1
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3 Categ. 4
Em pé 1 joelho flexionado
Capítulo 4 Análises e Discussões 99
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
A análise destas posturas de forma geral, se faz a seguir no Gráfico 24 :
Gráfico 24 - Análise individual das subatividades q ue compõem a atividade de distribuição
Observa-se que as ações das subatividades individualmente estão
classificadas como categoria 2, que segundo o Sistema OWAS necessita de
verificação na próxima análise rotineira do método de trabalho, devido à
possibilidade de riscos biomecânicos em longo prazo.
Atividade 5 - Limpeza da Praça de Carbonização
Esta tarefa consiste em retirar os resíduos sólidos produzidos durante o turno e
deixar a praça limpa e pronta para a próxima equipe dar prosseguimento ao
processo produtivo.
Descrição da tarefa:
Ao analisar a tarefa, verificou-se que o trabalho é basicamente varrer o carvão
deixado no piso, recolhê-lo em recipientes e colocá-lo nos silos. Todos os
funcionários são encarregados dessa tarefa que dura tempo médio de 15 minutos ao
final de cada turno. Na tarefa são usadas vassouras, pás e jatos de água, além do
carrinho transportador.
Figura 39 - Seqüência de movimentos de um trabalhad or ao varrer o piso da praça de carbonização
Capítulo 4 Análises e Discussões 100
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Figura 40 - Movimentos básicos do uso da vassoura. Tempo desta seqüência: 00h00min03,6s
Na observação, registrou-se média de 6 minutos e 28 segundos na execução
desta tarefa ininterruptamente, pelo trabalhador. A atividade como um todo não
representa comprometimento biomecânico imediato, de acordo com a análise do
Gráfico 25.
Gráfico 25 - Análise da limpeza da praça de carboni zação
Na análise da seqüência de movimentos na limpeza da praça, o Sistema
OWAS inclui a flexão do dorso ao recolher os resíduos no piso, na categoria 2, que
segundo Iida (2005) deve ser verificada na próxima inspeção rotineira dos métodos
de trabalho. O posicionamento dos braços acima da altura dos ombros no ato de
colocar os resíduos em tonéis sobre o carrinho, que ocorrem em 33% do tempo,
também estão na categoria 2 e podem vir a comprometer a biomecânica do
movimento em longo prazo. Os demais eventos são avaliados como não passíveis
de comprometimento biomecânico.
dorso
braços
pernas
carga
67%67%67%67%
67%%%%
33%%%%
67%%%%
100 %%%%
flexionado
ereto
em rotação flexão e rotação
ambos abaixo dos ombros Um acima dos ombros
ambos acima dos ombros
sentado em pé em 2 pernas Em pé em 1 perna
2 joelhos flexionados 1 joelho flexionado
ajoelhado andando
< 20 kg < 10 kg
> 20 kg
Análise limpeza da praça
Categ. 1
Categ. 2
Categ. 3
Categ. 4
33%%%%
33%%%%
Capítulo 4 Análises e Discussões 101
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
A avaliação por ação individual determina o Gráfico 26.
Gráfico 26 - Categorias das ações na limpeza da pra ça
Observou-se que na avaliação do OWAS, a ação de varrer não implica em
comprometimento postural, mas o recolher está inserido na categoria 2, sugerindo a
necessidade de verificação na próxima inspeção rotineira dos métodos de trabalho.
Resultados por categoria de classificação do método OWAS
Os resultados das análises das atividades de carregamento do cilindro, ignição
da câmara, verificação das câmaras de carbonização, seleção do carvão e limpeza
da praça, determinam a Tabela 4.
Tabela 4 - Avaliação das atividades por categoria
Categoria 1 Categoria 2 Categoria 3 Categoria 4
dorso 59,7% 16,57% 23,71%
braços 83,42% 16,58%
pernas 33,73% 56,73% 9,47%
carga 100%
A análise dos eventos posturais demonstra que em 23,71% das atividades o
dorso apresenta postura que pode comprometer a saúde do trabalhador em curto
prazo; o mesmo ocorrendo com as pernas em 9,47% das atividades desenvolvidas.
Observa-se que em 16,57% das atividades a postura dorsal se insere na
categoria 2, assim como os braços em 16,58% e as pernas em 56,73% das
atividades. O Sistema OWAS classifica a categoria 2 como passível de atenção na
próxima inspeção rotineira do método, ou sujeita a riscos em longo prazo.
Capítulo 4 Análises e Discussões 102
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Os eventos classificados na categoria 1 não predispõem o trabalhador a riscos
de lesões musculoesqueléticas.
Os resultados apresentados na Tabela 4 são referentes à análise das
atividades como um todo, relacionando o tempo da postura ao tempo de execução
da atividade.
A Tabela 5 apresenta a avaliação das posturas das subatividades de forma
isolada e demonstra que o trabalhador assume durante a execução das
subatividades, posturas que são classificadas pelo OWAS nos quatro níveis de
categorias inclusive na categoria 4, sujeitas a riscos imediatos de lesões
musculoesqueléticas.
Capítulo 4 Análises e Discussões 103
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
Tabela 5 – Categorias dos eventos das subatividades
CATEGORIA 1 CATEGORIA 2 CATEGORIA 3 CATEGORIA
4
CARREGAMENTO
DO CILINDRO
COM AUXÍLIO DO
CARRINHO E
IGNIÇÃO
CARREGAMENTO
DO CILINDRO
SEM AUXÍLIO DO
CARRINHO E
COM ATIVIDADES
CONSECUTIVAS
VERIFICAÇÃO DA
CARBONIZAÇÃO
DISTRIBUIÇÃO
LIMPEZA DA PRAÇA
A diferença entre as avaliações das atividades e subatividades deve-se ao
método OWAS avaliar as posturas assumidas nas atividades considerando o tempo
Capítulo 4 Análises e Discussões 104
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
de execução de cada subatividade em relação ao tempo de execução da atividade
como um todo e faz a avaliação das posturas nas subatividades e dos eventos que
as compõem de acordo com o tempo de permanência do trabalhador na postura
analisada.
Capítulo 5 Conclusões 105
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
5 CONCLUSÕES
Este capítulo ressalta o objetivo geral e os objetivos específicos e os compara
com os resultados obtidos através da pesquisa. Na seqüência, apresenta algumas
manifestações sobre a contribuição da pesquisa e sugestões para trabalhos futuros.
Relação entre objetivos propostos e resultados alca nçados
a) Quanto à avaliação das posturas adotadas pelos trabalhadores da produção de
carvão vegetal em cilindros metálicos verticais em exercício de suas tarefas.
Os 96 eventos posturais analisados neste estudo pelo Método OWAS
constituem 7 atividades e 17 subatividades. As atividades estão descritas na Tabela
4 e as subatividades foram classificadas 12,9% na categoria 3 e 4,3% na categoria
4. Essas posturas são caracterizadas por movimentação do tronco em flexão e
rotação simultâneas, posicionamento de pé com flexão dos joelhos e/ou posturas
exigindo posicionamento dos braços acima da altura dos ombros. A categoria 2
aparece em 22,6% dos eventos enquanto a categoria 1 em 60,2% das posturas
analisadas. A incidência de 39,8% de posturas com algum tipo de estresse
biomecânico alerta para a necessidade de atenção para as condições posturais de
trabalho a que esses trabalhadores são submetidos.
b) Quanto à verificação da incidência de dores e/ou lesões musculoesqueléticas nos
trabalhadores.
Atendendo aos objetivos específicos desta pesquisa, foi aplicado o Diagrama
de Corllet e Manenica com toda a população em estudo, para informação e
localização de áreas dolorosas, porém, não foram relatadas incidências de dores
e/ou lesões musculoesqueléticas, o que pode ser justificado pelo período de
exposição dos trabalhadores a essas atividades profissionais. O método produtivo
em estudo é utilizado desde outubro de 2006, não havendo registros de
absenteísmo por lesões musculoesqueléticas ou reclamações por parte dos
trabalhadores. Outrossim, foi observado que a idade e o temor pela insegurança no
emprego desses profissionais também são fatores que podem contribuir para a
dissonância entre os resultados entre os dois métodos utilizados na pesquisa.
Capítulo 5 Conclusões 106
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
c) Avaliar a carga (kg) a que são submetidos os trabalhadores em exercício de suas
tarefas diárias;
Observou-se durante a pesquisa que os trabalhadores não são submetidos à
carga acima da determinada pela legislação brasileira (Lei 6514 da CLT de 22/12/77
ainda em vigor) que estipula a carga de 60 kg como peso máximo que um
empregado do sexo masculino adulto pode remover individualmente. Nem
ultrapassa o limite de carga recomendado pelo NIOSH, que estabelece em 23 kg o
limite para levantamento de cargas individuais.
A carga, portanto, ainda não constitui item agravante na classificação das
atividades e subatividades pelo método OWAS.
d) Oferecer recomendações ergonômicas, visando a minimização ou erradicação
dos sofrimentos lombares e constrangimentos posturais.
As recomendações ergonômicas partem da modificação dos postos de trabalho
onde se executam tarefas que admitem posturas com risco à saúde do trabalhador.
As posturas envolvendo flexão associada à rotação dorsal, apoio nas pernas com
flexão dos joelhos e que exigem braços acima da altura dos ombros são apontadas
pelo OWAS como as de maior risco de lesões e comprometimentos
musculoesqueléticos.
O movimento de flexão dorsal do trabalhador deve ser atenuado com a
modificação do posto de trabalho de forma que a altura da base onde se encontra o
objeto que ele irá pegar não corresponda ao nível do piso. No caso desta empresa,
a lenha deve ser descarregada em uma base com altura aproximada de 0,50m do
piso, onde o trabalhador possa ficar sobre ela para pegar a lenha do alto da pilha e
ficar na altura do piso para pegar a lenha da parte mais baixa. Pode-se considerar
também o carregamento do cilindro de forma mecanizada.
As posturas envolvendo braços acima da altura dos ombros devem ser
modificadas a partir da utilização de bases onde o trabalhador possa subir para
atingir a altura apropriada para o movimento confortável dos braços.
Conclui-se que, de modo geral, o método de produção de carvão vegetal em
cilindros verticais contempla em parte a preservação da saúde ocupacional e
segurança do trabalhador, oferecendo condições de trabalho inerentes à legislação
Capítulo 5 Conclusões 107
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
em vigor. Porém o aspecto postural não é contemplado em sua totalidade, o que
constituiu riscos e pode levar ao comprometimento musculoesquelético dos
trabalhadores em curto, médio ou longo prazo (conforme natureza da atividade),
afetando a saúde e a produtividade do trabalhador.
Através da pesquisa percebeu-se que as empresas que adotam o método em
estudo, podem melhorar a saúde ocupacional postural dos trabalhadores, através da
implementação de práticas mais expressivas quanto à biomecânica do trabalho, com
revisões no método produtivo a partir de enfoques macroergonômicos, como
reestruturação dos postos de trabalho e adoção de cultura de esclarecimento e
disseminação dentro da organização, da importância da boa postura para a saúde e
segurança do trabalhador.
Também pode-se concluir que o Diagrama de Áreas Dolorosas proposto por
Corlett e Manenica não constitui instrumento de pesquisa apropriado para este
estudo, não apenas por abordar um método produtivo novo, mas pelo diagrama
basear-se em informações de dores e desconfortos já existentes; não se mostrando
eficaz na prevenção de lesões, dores e desconfortos musculoesqueléticos. O
Sistema OWAS corresponde satisfatoriamente a este requisito.
5.1 Contribuições da pesquisa
A pesquisa contribui com a avaliação das condições posturais dos
trabalhadores, uma vez que não existiam estudos com esta abordagem sobre este
método produtivo, que comparado ao método tradicional é muito menos agressivo á
saúde do trabalhador.
Contribui também com a avaliação de um método produtivo que surge como
uma ação de mudança na produção do carvão vegetal brasileiro no que tange a
saúde e segurança do trabalhador.
O estudo pode ser aplicado a outros segmentos produtivos com características
compatíveis com as abordadas nesta pesquisa.
5.2 Sugestões para trabalhos futuros
Como sugestões para trabalhos futuros propõem-se:
Capítulo 5 Conclusões 108
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
- Avaliar os movimentos dos membros superiores a partir de outros sistemas de
avaliação postural como RULA;
- Avaliar a saúde do trabalhador no método produtivo estudado, enfocando outros
aspectos da ergonomia, com abordagens tanto no desempenho físico como
sensorial (cognitivo) dos trabalhadores.
- Desenvolver o estudo em outros segmentos produtivos, visando a minimização do
sofrimento musculoesquelético do trabalhador.
- Desenvolver um instrumento que possa ser utilizado na empresa pelos próprios
trabalhadores na identificação e correção da má postura durante a execução da
atividade.
Referências 109
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
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Apêndice A Diagrama de Áreas Dolorosas 112
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
APÊNDICE A – DIAGRAMA DE ÁREAS DOLOROSAS
Apêndice B Mapa de Avaliação dos Eventos Posturais 113
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
APÊNDICE B – MAPA DE AVALIAÇÃO DOS EVENTOS POSTURAI S
ATIVIDADES
EVENTOS
dorso ereto
flexionado Em rotação
Rotação e flex
braços Ambos abaixo
Um acima Ambos acima
pernas sentado
Em pe em 2 Em pe em 1 Em pe 2 flex Em pe 1 flex
ajoelhado andando
carga <10 <20 >20
Categoria 1
Categoria 2
Categoria 3
Categoria 4
Anexo B Roteiro Avaliação do Posto de Trabalho 114
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
ANEXO A – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO
Roteiro de avaliação simplificada das condições biomecânicas do posto de trabalho (Couto 1996, v I,
p.161).
1. A bancada de trabalho/máquina está localizada em altura correta (trabalho pesado, em nível
do púbis; trabalho moderado, em nível do cotovelo; trabalho leve, a 30 cm dos olhos)? Não
(0) sim (1)
2. A bancada ou máquina tem regulagem de altura de forma a possibilitar o trabalhador adequar
a altura do posto de trabalho à sua? Não (0) sim (1)
3. Tem-se que sustentar pesos com os membros superiores para evitar seu deslocamento seja
na vertical ou na horizontal? Sim (0) não (1)
4. Tem-se que apertar pedais estando de pé, em freqüência maior que três vezes por minuto?
Sim (0) não (1)
5. O trabalho exige a elevação dos braços acima do nível dos ombros? Sim (0) não (1)
6. O trabalho exige ficar parado na posição de pé durante grande parte do tempo (mais que
60%)? Sim (0) não (1)
7. No caso de trabalhar sentado, há espaço suficiente para as pernas? Não (0) sim (1)
8. A cadeira tem inclinação correta, compatível com o trabalho executado?
Não (0) sim (1)
9. O corpo trabalha no eixo vertical natural ou em ângulo de 100° entre as coxas e o tronco?
Não (0) sim (1)
10. Os membros superiores têm que sustentar pesos? Sim (0) não (1)
11. Fica-se de pé, parado, na maior parte da jornada? Sim (0) não (1)
12. Estando sentado, fica-se em posição estática? Sim (0) não (1)
13. Existem pequenas contrações estáticas, porém por muito tempo (por ex. pescoço
excessivamente estendido, braços suspensos, sustentação dos antebraços pelos braços,
falta de apoio para os antebraços)? Sim (0) não (1)
14. Os objetos e materiais de uso freqüente estão dentro da área de alcance? Não (0) sim (1)
Critérios de interpretação:
10 a 14 pontos: boas condições biomecânicas;
10 pontos e abaixo: condição biomecânica sujeita a intervenção.
Anexo C Roteiro Avaliação do Risco de Lombalgias 115
PPGEP – Gestão Industrial (2008)
ANEXO B – ROTEIRO AVALIAÇÃO DO RISCO DE LOMBALGIAS
Check-list para avaliação simplificada do risco de lombalgia (COUTO, 1996 p.228).
1. O trabalho envolve posicionamento estático do tronco em posição fletida entre 30° e 60°?
2. O trabalhador tem que, frequentemente atingir o chão com as mãos, independente da carga?
3. O trabalho envolve pegar cargas maiores que 10 kg em freqüência maior que uma vez a cada 5 minutos?
4. O trabalho envolve pegar cargas no chão, independente do peso, com freqüência maior que uma vez por minuto?
5. O trabalho envolve fazer esforço com ferramentas ou com as mãos estando o tronco curvado?
6. O trabalho envolve a necessidade de manusear (levantar, puxar ou empurrar) com o ronco em posição assimétrica?
7. O trabalho envolve a necessidade de manusear (levantar, puxar ou empurrar) as cargas estando longe do tronco?
8. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 10 kg frequentemente?
9. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas mais pesadas que 20 kg mesmo ocasionalmente?
10. O trabalho envolve a necessidade de carregar cargas na cabeça? 11. O trabalho envolve a necessidade de ficar constantemente com os braços longe do
tronco em posição suspensa? 12. O trabalho exige que o trabalhador fique com o tronco em posição estática, sem apoio? Critérios de interpretação:
Sim (0) Não (1)
8 a 12 pontos: baixo risco de lombalgia;
Abaixo de 8 pontos: risco de lombalgia;
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