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0 UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS CURSO DE DIREITO Edelsilene Lopes de Meira EDUCAÇÃO FISCAL Governador Valadares 2011

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECON ÔMICAS

CURSO DE DIREITO

Edelsilene Lopes de Meira

EDUCAÇÃO FISCAL

Governador Valadares

2011

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EDELSILENE LOPES DE MEIRA

EDUCAÇÃO FISCAL

Monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, apresentada à Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce.

Orientador: Prof. Hélcio Armond Júnior

Governador Valadares

2011

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EDELSILENE LOPES DE MEIRA

EDUCAÇÃO FISCAL

Monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, apresentada à Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce.

Governador Valadares, ___ de ____________ de _____.

Banca Examinadora:

__________________________________________ Prof. Hélcio Armond Júnior

Universidade Vale do Rio Doce

__________________________________________ Convidado 1

__________________________________________ Convidado 2

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Dedico esta vitória a Deus, pois nada é possivel sem Ele.

À meus pais e irmãos, pelo apoio.

À meu esposo e filha pela compreensão nos momentos de

ausência.

A todos eles o meu MUITO OBRIGADO.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Prof. Hélcio Armond Júnior, pela sua dedicação e

paciência.

A Valentin Godinho, meu esposo, pela motivação, paciência e compreensão durante

o meu curso.

A todos os meus familiares, em especial ao meu pai (in memorian) pelo apoio.

E a todos aqueles que contribuíram para que eu nunca desistisse dos meus

objetivos.

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“É impossível avaliar a força que possuímos sem medir o tamanho do obstáculo que podemos vencer, nem o valor de uma ação sem sabermos o sacrifício que ela comporta." (H. W. Beecher)

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RESUMO

Em um país onde, a despeito de sua “riqueza”, a grande maioria da população (sobre) vive às margens da sociedade, o “sonho” da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, que, em seu artigo 1o, explicita que os fundamentos do Estado Democrático de Direito são a soberania, a cidadania e a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político, como direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos, ainda continua sendo uma meta a ser atingida. Entretanto, ao objetivar a redução das desigualdades sociais e a erradicação da pobreza, na medida em que contribui para que os recursos sejam melhores utilizados e distribuídos, a EDUCAÇÃO FISCAL vem ao encontro das metas governamentais, de forma a garantir a eqüidade social. Se o Estado sobrevive de receita, tanto a fiscalização quanto a arrecadação são necessárias. Não obstante, é essencial que seja trabalhada a EDUCAÇÃO FISCAL, visando dias melhores e uma sociedade onde as pessoas tornem-se cada vez mais conhecedoras de seus direitos e deveres. As mudanças tornar-se-ão realidade através de uma solidariedade consciente, da cooperação, da responsabilidade, do respeito, do diálogo e da amizade. É a Educação Fiscal que torna possível às pessoas a sensibilização e a informação sobre o grande valor socioeconômico do tributo, sobre a importância do cumprimento de seus deveres tributários e, também, do imprescindível acompanhamento das ações do governo na aplicação dos recursos públicos e na busca de uma sociedade onde haja mais equilíbrio e também mais justiça social, diminuindo cada vez mais as desigualdades e erradicando a miséria da população carente de recursos para levar uma vida digna. Palavras-chave: Educação fiscal; Tributo

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ABSTRACT

In a country where, despite their “wealth”, th vast majority (over) living on the margins of society, the “dream”of the Constitution of the Federative Republic of Brazil, enacted in 1988, which is its Article 1, explains that the foundations of a democratic state is the sovereignty, citizenship and human dignity, social values of work and free enterprise, political pluralism, and civil, political and social rights of citizens, still remains a goal to be reached. However, the aim to reduce social inequalities and poverty eradication, as it helps to ensure that resources are best used and distributed, the tax education meets the government targets, to ensure social equity. If the state survives revenue, both the collection and enforcemente are needed. Nevertheless, it is essential that worked EDUCATION TAX, seekin better days and a society where people become more knowledgeable of their rights and duties. The changes will become reality through a consicious solidarity, cooperation, responsibility, respect, dialogue and friendship. Education is the Audit Committee, which makes it possible for people to awareness and information on the great socioeconomic value of the tax on the importance of meeting their tax obligations, and also the essential monitoring of government actions in the application of public resources and the search for a society where there is more balance and also more social justice, increasingly reducing inequalities and eradicating poverty of the poor of resources to lead a dignified life. Keywords: Education tax; Tribute

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SUMÁRIO

RESUMO..................................................................................................................... 6

ABSTRACT ................................................................................................................. 7

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9

2 A ORIGEM E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS TRIBUTOS ................................ 11

2.1 A HISTÓRIA DOS TRIBUTOS NO MUNDO. ...................................................... 11

2.2. O SURGIMENTO DOS TRIBUTOS NO BRASIL ............................................... 13

3 EDUCAÇÃO FISCAL ............................................................................................. 16

3.1 A ORIGEM DA EDUCAÇÃO FISCAL NO BRASIL .............................................. 16

3.2 ENFOCANDO A EDUCAÇÃO FISCAL NO BRASIL ........................................... 17

4 CIDADANIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA ..................................................... 21

4.1 CONCEITO, OBJETIVOS E ELEMENTOS DO ESTADO ................................... 24

4.2 O ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL E SUA EVOLUÇÃO ............................... 26

4.3 CAMINHOS DA CIDADANIA NA ATUALIDADE ................................................. 29

4.4 RELACIONAMENTOS DO CIDADÃO COM O ESTADO .................................... 32

4.5 O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE SOCIAL COMO ALICERCE DO DEVER

FUNDAMENTAL DE PAGAR TRIBUTOS ................................................................. 35

5 MECANISMOS E MÉTODOS FISCAIS ................................................................. 39

5.1 A IMPORTÂNCIA DE UMA SOCIEDADE BEM INFORMADA ............................ 45

6 OS VALORES DA EDUCAÇÃO FISCAL .............................................................. 49

7 EDUCAÇÃO FISCAL E DEMOCRACIA PARTICIPATIVA ................................... 52

8 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 55

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56

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1 INTRODUÇÃO

O trabalho que ora se apresenta é fruto de uma pesquisa bibliográfica, na

área de direito tributário sobre o tema educação fiscal como instrumento de

fortalecimento da cidadania. O enfoque principal do trabalho é a educação fiscal e

cidadania, ressaltando a importância de ambas para um Estado forte com condições

de proporcionar a sua população melhores condições de vida, só assim o Estado vai

estar cumprindo seu papel perante a sociedade.

O objetivo do presente trabalho monográfico é atentar o cidadão para as suas

funções enquanto membro de uma sociedade organizada em um ordenamento

jurídico democrático onde todos têm direitos a serem cobrados e deveres a serem

cumpridos.

A origem do Estado pode ser explicada como conseqüência de um processo

histórico com os grupos ou classes com maior poder, que institucionalizaram esse

poder e estabeleceram a ordem na sociedade e garantiram para si o excedente

econômico. Nessa ótica, a cidadania só surge historicamente à medida que os

indivíduos vão se investindo de direitos e obrigações; o Estado resulta de contrato

social entre os cidadãos, que pressupõe um cidadão já detentor de direitos naturais

ou valores morais básicos que cede parcialmente ao Estado para garantir a ordem

social. Estado e cidadania, são termos intrinsecamente interdependentes. Assim,

Estado e cidadania são duas instituições básicas na sociedade que estabelecem a

ordem, garantem a liberdade para seus membros e manifestam sua aspiração de

justiça.

À medida que o desenvolvimento econômico ocorre, as sociedades tornam-se

mais complexas, a educação se generaliza, passando a ocorrer um crescente

processo de equalização social e, portanto, de desconcentração de poder e riqueza,

e regimes políticos autocráticos vão dando lugar a regimes democráticos. Esse

processo ganha um extraordinário impulso com o surgimento do capitalismo e da

mais-valia capitalista. Nesse momento, a apropriação do excedente econômico

deixa de ser o resultado do uso da força por meio de controle do Estado e passa a

ser o resultado de uma troca de equivalentes no mercado. Abre-se, então, a

possibilidade do surgimento da democracia moderna.

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A cidadania se expande e se afirma na sociedade na medida em que os

indivíduos adquirem direitos e ampliam sua participação na criação do próprio

Estado. Nesse início de um novo milênio, está surgindo o direito do cidadão de

considerar que o patrimônio público seja efetivamente de todos e para todos. Esse

direito deverá merecer cada vez mais a atenção de políticos, juristas e da sociedade

como um todo.

Os direitos que constituem a cidadania são sempre conquistas, resultado de

um processo histórico no qual indivíduos, grupos e nações lutam para adquiri-los e

fazê-los valer. A cidadania, no entanto, é também uma prática; por isso, sociólogos,

antropólogos e educadores salientam a importância crescente dos movimentos

sociais para construção da cidadania pela afirmação dos direitos sociais.

O título 1 (um) da Constituição Federal do Brasil de 1988 – Lei maior do país

– cita como princípios fundamentais na República Federativa: a soberania, a

cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre

iniciativa e o pluralismo político.

Estado e cidadania devem formar uma democracia, um todo indivisível. O

Estado, com competência e limites de atuação definidos na Constituição, tem seu

poder de legislar e de tributar legitimado pelo processo eleitoral. A sociedade

manifesta seus anseios e demandas por canais formais ou informais de contato com

as autoridades constituídas. É pelo diálogo democrático entre o Estado e a

sociedade que se definem as prioridades a que o governo deve ater-se para a

construção de um país mais próspero e justo.

Mediante tal quadro é que se coloca a Educação Fiscal como instrumento de

desenvolvimento da consciência de que tudo o que se encontra em nome do Estado

pertence ao cidadão e que cabe a este fiscalizar seus usos e manutenção.

Para a realização do presente trabalho utilizar-se-á de pesquisa descritiva do

tipo pesquisa bibliográfica, na área de direito tributário sobre o tema educação fiscal,

valendo-se para tanto a leitura de doutrinas, jurisprudência e artigos, acerca do tema

pesquisado.

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2 A ORIGEM E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS TRIBUTOS

2.1 A HISTÓRIA DOS TRIBUTOS NO MUNDO.

Nos primórdios da civilização, os homens não tinham uma organização social

que atendesse a todas as suas necessidades, sendo assim, viviam nas florestas

sem serem subordinados a nenhum tipo de ordenamento jurídico. A ordem

predominante era a lei da selva ou do mais forte.

Os conflitos existentes eram resolvidos sempre com o uso da força, aquele

que era dotado de maior capacidade para a luta era sempre o vencedor e nunca

ficava vulnerável a sanções, ate porque, estas não existiam.

Com o passar do tempo, os homens que antes eram nômades e não viviam

em sociedade, foram se organizando em pequenos grupos de pessoas, que

passaram a viver em pequenos grupos sociais que exploravam a fauna e flora de

determinadas regiões e com isso sugiram as primeiras organizações sociais.

Nas mínimas comunidades, todas as tarefas e deveres eram divididos entre

os membros do grupo com o fim de tornar mais harmoniosa a vida das

comunidades. Tudo era dividido e a força de cada componente do grupo era somada

para obterem êxodo nas batalhas.

Nesses pequenos grupos, sempre tinha um membro que era mais forte e que

se destacava por sua valentia e força ao lutar em prol do grupo, defendendo os

integrantes em conflitos que surgiam. Em troca de tal proteção, os integrantes do

grupo doavam alimentos, armas e vestuário ao líder como forma de agradecimento

pela proteção.

Mesmo em fase embrionária, as atitudes daqueles homens do passado era

uma forma de organização que eles buscavam para terem melhores condições de

vida e sobrevivência. O resultado de tal organização foi o surgimento de grupos

muito forte que passaram invadir e dominar tribos menores que eram obrigadas a

pagar tributos como forma indenização ou reparação de guerra.

Nesse momento já podemos constatar uma grande evolução dos tributos,

aquilo que antes era uma simples e espontânea contribuição em forma de

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agradecimento, passou a ser uma obrigação imposta pelos guerreiros que

dominavam as pequenas tribos.

Em um momento bem mais evoluído encontrava-se a antiga Grécia, onde já

existiam cidadãos livres que compunham as Cidades-Estado, onde foram criadas as

primeiras leis para todos, com o fim de proteger o interesse da coletividade, a força

foi substituída pela razão.

Já era possível encontrar o tributo como meio de defesa do bem coletivo,

entregue aos cuidados da Cidade-Estado, sem relação de servidão. Os tributos

eram recolhidos de forma pacífica e os cidadãos gregos pagavam em forma de

dinheiro. Visavam o bem da coletividade, o tributo já naquela época tinha um caráter

social.

Os romanos disciplinaram a convivência dos homens em sociedade através

de um código de leis que veio com a intenção de regular ou apresentar as regras de

convívio em sociedade. Aprenderam com os gregos as idéias dos impostos para

locomoção, compra e venda, enfim, toda a norma para tributar. Os romanos

constituíram o exemplo histórico do Estado que de modo permanente buscou nas

populações vencidas os recursos necessários para os seus gastos.

Para manter as despesas do grande império, usaram e abusaram de seu

poder para extorsão dos povos mais fracos. Inúmeros tributos revelavam a

engenhosidade dos legisladores visando a obter dinheiro do povo para manter os

suntuosos gastos do império.

Com o passar do tempo as pessoas de escravos passaram a servos. Na

Idade Média, os súditos pagavam tributos não por ser uma forma de proteger a

coletividade, mas sim, com fundamento numa suposta autorização divina dos

soberanos ou dos senhores feudais, que impunham aos súditos o dever de pagar os

tributos.

Por não mais agüentarem a exploração no campo por parte dos senhores

feudais, os camponeses se mudaram para as cidades em busca de uma vida melhor

e com menos tributos. Com isso o comercio ganhou muita força e o Estado passou a

ter nacionalidade, dificultando a entrada de mercadorias importadas com o fim de

fortalecer as cooperativas nacionais.

A dificuldade para manter seus exércitos e suas grandes guerras, fez com

que os reis da idade média, principalmente na Inglaterra, pedissem ajuda financeira

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aos nobres e aos grandes comerciantes. Com isso o rei foi obrigado a renunciar a

vários dos privilégios, principalmente à arbitrariedade de criar e impor leis absurdas.

Esse momento da historia é de muita importância para nós de um modo geral,

foi com a intervenção dos nobres daquela época que surgiu o tão importante

princípio da legalidade, onde o rei só poderia exigir um uma obrigação dos seus

nobres se a mesma fosse aprovada previamente pelo parlamento.

O difícil dever de sustentar o rei, na França de Luís XIV era penoso demais,

pois o povo, ou maioria que trabalhava, e não os nobres, é que pagava imposto ao

rei. O Estado não buscava o bem comum e sim uma vida luxuosa para a nobreza, os

serviços eram usufruídos somente pelo rei e pelos nobres, enquanto o povo francês

tinha seus direitos limitados e sofriam com a grande miséria. Com o intuito de

adquirir liberdade, igualdade e fraternidade, toda a nação francesa se ergueu contra

a exploração. Foi preciso o derramamento de sangue para que fosse declarada a

primeira Declaração dos Direitos do Homem.

A Revolução Francesa, ao final do século XVIII, trouxe consigo sábio conceito

de Estado de Direito, consagrando a democracia e a separação dos poderes em:

Executivo, Legislativo e Judiciário. Passou então, ser dever da Assembléia do Povo

aprovar tanto a despesa como a receita, ou seja, definir quanto e onde gastar e de

quem e quanto cobrar de impostos, dando origem à instituição do Orçamento

Público.

Sem nenhuma dúvida, o Estado é muito mais complexo, mas nunca pode

fugir de suas atribuições ou deveres primordiais como promover o bem estar social e

fazer com que a população tenha uma boa condição de vida, com garantias e sob as

regras ou normas impostas pelo princípio da legalidade.

2.2 O SURGIMENTO DOS TRIBUTOS NO BRASIL

Os tributos têm seu marco inicial no Brasil, com a chegada dos portugueses

em 1500 e com a conseqüente apropriação de todas as riquezas naturais aqui

existentes, inclusive da própria terra, transformando toda a exploração dos recursos

naturais em monopólio da coroa portuguesa.

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Porém, os tributos só começaram a ser cobrados em forma de impostos

depois da divisão do Brasil em Capitanias Hereditárias, onde os donatários das

capitanias eram coagidos ou obrigados a pagar um percentual de toda produção das

capitanias ao rei.Independente do que era produzido, nada era isento das garras do

rei.

Com a descoberta da região do Brasil que era detentora de muito ouro, prata

e pedras preciosas, a coroa portuguesa aumentou ainda mais a tributação e a

fiscalização na região então chamada de “Eldorado”. A Colônia passou a ser ainda

mais explorada e sacrificada.

Durante a exploração das minas, os brasileiros eram obrigados em um quinto

de tudo que era produzido. Além da alta tributação sobre o que era extraído, a

Metrópole portuguesa ainda cobrava taxas alfandegárias sobre tudo aquilo que era

exportado ou importado pela Colônia. É importante ressaltar que as taxas

alfandegárias eram cobradas em moeda e não em mercadorias.

O povo brasileiro se encontrava em uma situação de profunda revolta, por

estarem sendo tão sacrificados com grande carga tributaria imposta pelo rei de

Portugal. A população já estava cansada de pagar tantos tributos e não ter nenhum

benefício em contrapartida.

O sentimento de revolta com os portugueses por parte da população brasileira

cansada de ser explorada acabou por provocar o movimento que foi denominado

“Inconfidência Mineira”. Movimento que ocorreu na cidade de Vila Rica, atual cidade

de Ouro Preto, em Minas Gerais.

O movimento liderado por Tiradentes, como um reflexo da Revolução

Francesa ocorrida no final do século XVII, 1789, foi marcado pelo trágico fracasso.

Os inconfidentes foram presos e o líder do movimento foi enforcado para servir de

exemplo para os demais. A morte de Tiradentes só fez com que aumentasse a

indignação e o sentimento de amor a pátria dos brasileiros.

Mas o movimento serviu para plantar uma semente que veio a ajudar e muito

para a futura independência do Brasil, é importante ressaltar que a Inconfidência

Mineira não acabou com a exploração portuguesa, mas aumentou e muito a revolta

do povo brasileiro para com os portugueses.

As verdadeiras leis tributárias, só vieram à tona depois da independência do

Brasil, quando os tributos deixaram de ser impostos pelo rei de Portugal e passaram

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a ser cobrados mediante lei pelo Governo Brasileiro. Nessa época, já existia uma

preocupação com a finalidade social dos tributos.

As leis tributárias surgiram e sofreram uma grande evolução até ser criado no

ano de 1966 o Código Tributário Nacional, que regulamentou a cobrança de tributos

no Brasil. É importante lembrarmos que o mesmo Código Tributário de 1966 está em

vigor até hoje no Brasil.

A tributação cobrada no Brasil de hoje tem finalidade social, como dever de

todo cidadão pagar seus tributos e, em contrapartida, dever do Estado aplicá-los em

benefício do bem-estar da coletividade, promovendo a justiça social, o progresso e

uma melhor qualidade de vida para os contribuintes.

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3 EDUCAÇÃO FISCAL

3.1 A ORIGEM DA EDUCAÇÃO FISCAL NO BRASIL

Neste capítulo, abordaremos a educação fiscal de forma clara, mostrando o

por que do seu surgimento e os benefícios que uma população bem informada traz

para o Estado. Como ponto de partida de nossa discussão, faremos um resgate do

surgimento desta temática no Brasil e os principais objetivos pretendidos por ela.

De maneira mais abstrata, a educação fiscal já existe no Brasil há muito

tempo, mas só a partir de 1996 que se passou a ter uma maior preocupação com a

participação da sociedade na atividade econômica e financeira do Estado. Só assim

teremos uma população consciente da importância dos tributos para uma sociedade

organizada.

Contudo, antes de adentrarmos ao tema específico da educação fiscal, não

podemos deixar de conceituar a educação, para termos uma visão do que será aqui

exposto.

Visando uma maior participação da população nas atividades financeiras do

país e com o intuito de proporcionar aos cidadãos o exercício de sua cidadania com

mais clareza, o Governo decide no ano de 1996 criar meios para que a população

pudesse ficar mais interada com o FISCO e suas atividades.

Em maio de 1996, o Conselho Nacional de Política Fazendária - CONFAZ,

reunido em Fortaleza, registra a importância de um programa de consciência

tributária para despertar a prática da cidadania.

Em setembro de 1996, com a implantação de um programa nacional

permanente de conscientização tributária faz parte do Convênio de Cooperação

Técnica entre União, Estados e Distrito Federal. Em julho de 1999, tendo em vista a

abrangência do programa que não se restringe apenas aos tributos, mas que aborda

também as questões da alocação dos recursos públicos arrecadados e da sua

gestão, o CONFAZ, reunido na Paraíba, aprova a alteração de sua denominação

que passa a ser: Programa Nacional de Educação Fiscal - PNEF.

É o entendimento, por parte do cidadão, da necessidade e da função social

dos tributos, assim como dos aspectos relativos à administração dos recursos

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públicos, ou seja, é o exercício pleno da cidadania. Com o envolvimento do cidadão

no acompanhamento da qualidade e da propriedade dos gastos públicos, estabelece

um controle social sobre o desempenho dos administradores públicos e asseguram

melhores resultados sociais.

O aumento da cumplicidade do cidadão em relação às finanças públicas torna

mais harmoniosa sua relação com o Estado. Este é o estagio de convivência social

desejado e esperado.

É certo que o aprimoramento na relação entre o Estado e o cidadão sobre a

função social do tributo e a certeza de que os gastos públicos sejam bem

administrados e apropriados deverão resultar em uma melhor relação entre o FISCO

e os contribuintes, trazendo assim uma maior disposição para contribuir e

conseqüentemente o aumento da arrecadação tributária.

3.2 ENFOCANDO A EDUCAÇÃO FISCAL NO BRASIL

É de essencial importância que a população seja auxiliada a fim de que

possam optar, consolidar valores e conseguir elucidar suas escolhas num mundo

globalizado e pouco preocupado com a construção de cidadãos, de fato, humanos.

Neste ponto, acha-se inserida a EDUCAÇÃO FISCAL, que discute e trata de

assuntos técnicos, oferecendo a possibilidade de ampliar horizontes acerca de

importantes assuntos, destacando-se a ética, a cidadania, a solidariedade e a paz,

fundamentais num momento em que a sociedade se vê envolta em confusão de

valores aparentes e descartáveis.

Assim, reportamo-nos ao lúcido ensinamento de Pedro Demo (1993 ao

estabelecer um paralelo entre a educação e a política de desenvolvimento, afirma

que educação é componente substancial de qualquer política de desenvolvimento,

não só como bem em si e como mais eficaz instrumentação da cidadania, mas

igualmente como primeiro investimento tecnológico.

Nesse mesmo azimute é a lição de Delors

[...] a educação contribui para o desenvolvimento humano. Contudo, este desenvolvimento responsável não pode mobilizar todas as energias sem

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um pressuposto: fornecer a todos, o mais cedo possível, o “passaporte para a vida”, que os leve a compreender-se melhor a si mesmos e aos outros e, assim, a participar na obra coletiva e na vida em sociedade. (DELORS et al., 2000, p. 82-83)

Em um país onde, a despeito de sua “riqueza”, a grande maioria da

população (sobre) vive às margens da sociedade, o “sonho” da Constituição da

República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, que, em seu artigo 1o,

explicita que os fundamentos do Estado Democrático de Direito são a soberania, a

cidadania e a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre

iniciativa, o pluralismo político, como direitos civis, políticos e sociais dos cidadãos,

ainda continua sendo uma meta a ser atingida. Entretanto, ao objetivar a redução

das desigualdades sociais e a erradicação da pobreza, na medida em que contribui

para que os recursos sejam melhores utilizados e distribuídos, a EDUCAÇÃO

FISCAL vem ao encontro das metas governamentais, de forma a garantir a eqüidade

social.

De acordo com Gusmão (2002, p. 351), o Estado pode ser considerado como:

[...] o grupo social que em um território tem o poder de, soberanamente, organizar-se sem ser controlado por outro Estado ou instituição, e de impor, coercitivamente, soberanamente, a quem estiver em seu território a observância de sua ordem jurídica.

Se o Estado sobrevive de receita, tanto a fiscalização quanto a arrecadação

são necessárias. Não obstante, é essencial que seja trabalhada a EDUCAÇÃO

FISCAL, visando dias melhores e uma sociedade onde as pessoas tornem-se cada

vez mais conhecedoras de seus direitos e deveres. As mudanças tornar-se-ão

realidade através de uma solidariedade consciente, da cooperação, da

responsabilidade, do respeito, do diálogo e da amizade.

É a Educação Fiscal que torna possível às pessoas a sensibilização e a

informação sobre o grande valor socioeconômico do tributo, sobre a importância do

cumprimento de seus deveres tributários e, também, do imprescindível

acompanhamento das ações do governo na aplicação dos recursos públicos e na

busca de uma sociedade onde haja mais equilíbrio e também mais justiça social,

diminuindo cada vez mais as desigualdades e erradicando a miséria da população

carente de recursos para levar uma vida digna.

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Já é perceptível a mudança na forma como o cidadão atual se vê nas suas

relações diárias, principalmente com o Estado, na sua responsabilidade de

acompanhar as ações do Governo e procurar entender os efeitos socioeconômicos

de tal atuação. É imprescindível que tenha consciência de que precisa conhecer a

função socioeconômica do tributo, questionar a carga tributária e a imposição de

tributos, porém, enfocando a questão principal que é a cidadania.

Para “entender o Estado”, suas funções, suas ações e seu desempenho, e

mais, como se dá à coleta de recursos e sua destinação, não basta conhecer o

tamanho da carga tributária, mas sim, para onde vão esses recursos e o que o

Estado oferece como retorno à sociedade. Como o Estado está gerindo as finanças

públicas.

É sabido que é extremamente importante saber onde o Estado gasta aquele

dinheiro arrecadado com a tributação. Este fato é lembrado por:

O Estado não gasta em seu próprio benefício. As necessidades são exclusivas das pessoas que integram o grupo social e os fins perseguidos pelo Estado vinculam-se ao mais amplo atendimento desses reclamos. Através da despesa, o Estado pode, deve mesmo, exercer papel ativo na economia (distribuição de renda etc.) (NASCIMENTO, 1992, p. 15).

Estão-se operando mudanças no cidadão. E mudanças rápidas. A sociedade

brasileira começa a se conscientizar de seu papel e a melhor maneira para conhecer

esse papel é percorrer o caminho da Educação Fiscal. Através da participação e

pelo aumento da consciência do que se refere ao Estado, a exigência deve

aumentar, demonstrando a evolução e a aceleração da transformação.

É importante, cada vez mais, sensibilizar e conscientizar a população para as

questões que se relacionam com a tributação, de forma a que lhe seja possível o

conhecimento não só da legislação vigente, bem como de todo o contexto histórico

em que essa atividade se desenvolveu.

No exercício da cidadania, quando se busca o atendimento às necessidades

coletivas e sociais, a Educação Fiscal é de fundamental importância, por levar aos

cidadãos aquelas informações específicas de natureza econômica, financeira e

social acerca dos tributos, tornando-os, então, capazes de exercer seus direitos e

deveres.

De acordo com Silva, que nos afirma que o imposto significa “toda

contribuição, toda prestação que cada cidadão sempre deve ao Estado, quer seja

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pessoa física ou jurídica” (SILVA, 2002, p. 414). Seu objetivo é formar a receita de

que necessita o Estado a fim de acudir as despesas com seus serviços e

manutenção de sua própria existência. Devido ao fato de ser uma contribuição

obrigatória ou contribuição coercitiva permanente e geral de cada cidadão

contribuinte para o erário público, imposição é como bem merecia outrora ser

designada.

Todo cidadão, indistintamente, tem o direito e o dever de acompanhar a

aplicação dos recursos públicos, participando ativamente da elaboração de leis e

acompanhando o desempenho da Administração Pública; mas, também, exigindo

um governo transparente, apontando prioridades sociais, enfim, buscando justiça

social. Ademais, cidadãos participantes é que poderão ser melhor atendidos nas

questões como educação, saúde, habitação e segurança.

O que fortalece a compreensão do exercício da cidadania, inclusive a

valorização socioeconômica do tributo, são noções de coletividade,

representatividade dos administradores públicos e participação popular na vida

pública, pois, a Educação Fiscal se apóia na vivência da cidadania. Assim sendo,

quando se busca qualidade de vida social é preciso saber que o conhecimento sobre

os aspectos socioeconômicos e financeiros da Administração Pública viabiliza

melhor governabilidade para a União, para os estados e municípios, trazendo

soluções para problemas da comunidade. Para tanto, é imprescindível que seja

popularizada a Educação Fiscal, de forma a chegar a todos os cidadãos, para que

haja resultados sociais gratificantes e frutuosos.

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4 CIDADANIA E SUA EVOLUÇÃO HISTÓRICA

No período pós-guerra, houve uma crescente constitucionalização de direitos,

que passaram a usufruir o status de direitos fundamentais. Isso ocorreu,

especialmente, em relação aos direitos sociais, econômicos e culturais, isto é, os

direitos fundamentais entendidos como de cunho prestacional, os quais passaram a

ocupar um importante espaço dentro de várias constituições democráticas que

surgiram nesse período.

Verificou-se então um fenômeno que pode ser denominado de “hipertrofia de

direitos fundamentais”, na medida em que as constituições passaram a consagrar,

formalmente, uma expressiva gama desses direitos, sem que houvesse a devida

preocupação com a perspectiva de esses novos direitos se tornarem realidade.

É certo que não se pode afirmar que a construção de uma sólida teoria sobre

os direitos fundamentais tenha sido algo negativo, mesmo porque há um consenso

acerca da importância da concretização dos direitos fundamentais, para a máxima

eficácia do princípio da dignidade da pessoa humana.

O que se discute, porém, é se a profusão de novos direitos

constitucionalmente positivados, não resultou numa forma de banalização dos

próprios direitos fundamentais, e se isso não tem sido um dos fatores que dificultam

a realização daqueles direitos efetivamente imprescindíveis de serem concretizados,

com vistas a assegurar uma existência digna a todos.

Ocorre que, inegavelmente, a centralidade do debate sobre direitos

fundamentais relegou para um plano secundário e, muitas vezes, inexistente o

espaço destinado pela doutrina para o debate acerca dos deveres fundamentais. Tal

se verificou, porque as próprias constituições, que foram generosas quanto aos

direitos, quase não trataram dos deveres ou, até mesmo, silenciaram sobre eles.

A propósito, restou negligenciada a questão dos deveres fundamentais, e,

portanto, pouca importância foi dada justamente à face, também fundamental, que

permite que os direitos sejam, de fato, assegurados.

Enfim, é inequívoco que houve um cômodo abandono da idéia de dever

social, estimulada pelo marcante individualismo do tempo contemporâneo, que

empalideceu e fez tornar-se anacrônica a imprescindível solidariedade social.

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Há de se reconhecer, todavia, que nem sempre foi assim. Houve um período

histórico em que os deveres fundamentais ocuparam um posto de significativo

interesse, tal qual se verificava em relação aos direitos. Como relata Canotilho

(2006, p. 531).

A República era o reino da virtude no sentido romano, que só pode funcionar se os cidadãos cumprirem um certo número de deveres: servir a pátria, votar, ser solidário, aprender. Neste sentido, a teoria da cidadania republicana implicaria que um indivíduo teria não apenas direitos mas também deveres.

Cabe observar que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de

1789, já consagrava expressamente três do deveres fundamentais clássicos: o

dever de obediência; o dever de pagar impostos; e o dever de suportar a privação da

propriedade em caso de expropriação por utilidade pública. Tais deveres foram

consagrados na maioria dos documentos constitucionais do modelo de estado

liberal.

A importância dos deveres fundamentais reaparece fortemente nos regimes

nacional-socialista e comunista. Como menciona Canotilho (2006. p. 531)

No ideário nazi, os deveres fundamentais dos cidadãos convertem-se em deveres fundamentais dos membros do povo (dever de serviço de poderes, dever de trabalhar, dever de defender o povo). Na compreensão comunista, os direitos fundamentais eram também relativizados pelos deveres fundamentais: os indivíduos tinham direitos conexos com deveres, o que, nos quadros políticos dos ex-países comunistas, acabou por aniquilar os direitos e hipertrofiar os deveres.

Essas desastradas experiências históricas provavelmente podem explicar a

negligência e o esquecimento dos deveres fundamentais, na medida em que deram

ensejo a uma justificável desconfiança e receio quanto à amplitude dos poderes

conferidos ao Estado, para exigir o cumprimento de tais deveres.

No entanto, as circunstâncias contemporâneas são outras, e a categoria dos

deveres fundamentais deve ser pensada como parte integrante do Estado

Democrático de Direito. Se assim não for, o debate rumará para o ingênuo,

descompromissado e irreal cenário do “paraíso dos direitos”, no qual se reclamam e,

cada vez mais, se reconhecem formalmente novos direitos, sem que se tenha a

devida preocupação com o seu custo social, e, portanto, sem que tais direitos

tenham a perspectiva de divorciarem-se da condição de meras promessas.

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A questão dos deveres fundamentais não pode continuar ocupando um

espaço tão pouco significativo na teoria constitucional, pois isso implica um pacto de

hipocrisia, em que se faz de conta que se tem direitos – dado que formalmente

consagrados – e se imagina que tais direitos possam ser assegurados por um ente

“sobrenatural” – Estado –, esquecendo-se de que esse ente nada mais é do que a

soma de todos, e não o contraponto da sociedade.

Enfim, essa hipertrofia dos direitos fundamentais, paralelamente ao

esquecimento dos deveres fundamentais, causa um nocivo efeito nas bases

estruturais da sociedade, pois a idéia de solidariedade se esvazia e, paulatinamente,

frustram-se as expectativas de concretização daqueles direitos mais fundamentais,

justamente por parte daqueles que necessitam, substancialmente, de que tais

direitos deixem de ser, apenas, uma parte de uma “bela obra de arte literária”

(constituição).

Numa análise preliminar, pareceria um pouco estranho examinar a questão da

cidadania sob o enfoque que ora se pretende, porquanto a sua concepção mais

visível corresponde à idéia de “direito a ter direitos numa sociedade”.

No entanto, a concepção contemporânea de cidadania não pode implicar a

existência de cidadãos que, de uma forma pouco altruísta, reclamem para si o

máximo de direitos e, em contrapartida, neguem-se a contribuir com a sua parcela

de esforços para que tais direitos se viabilizem num plano fático.

A cidadania pode ser definida como a qualidade dos indivíduos que, enquanto

membros ativos e passivos de um estado- nação, são titulares ou destinatários de

um determinado número de direitos e deveres universais e, por conseguinte,

detentores de um específico nível de igualdade. Uma noção de cidadania, em que,

como é fácil de ver, encontramos três elementos constitutivos, a saber: 1) a

titularidade de um determinado número de direitos e deveres numa sociedade

específica; 2) a pertença a uma determinada comunidade política (normalmente o

estado), em geral vinculada à idéia de nacionalidade; e 3) a possibilidade de

contribuir para a vida pública dessa comunidade através da sua participação.

Cidadania esta a que, hoje em dia, há quem pretenda acrescentar uma quarta

cidadania traduzida num conjunto de direitos e deveres de solidariedade (cidadania

solidária).

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4.1 CONCEITO, OBJETIVOS E ELEMENTOS DO ESTADO

A origem do Estado pode ser explicada pela vertente de Aristóteles, Hegel, e

Marx, que o compreendem como conseqüência de um processo histórico com os

grupos ou classes com maior poder, que institucionalizaram esse poder,

estabeleceram a ordem na sociedade e garantiram para si o excedente econômico.

Nessa ótica, a cidadania só surge historicamente à medida que os indivíduos vão se

investindo de direitos e obrigações. Pela vertente de Rousseau a Kant, o Estado

resulta de contrato social entre os cidadãos, que pressupõe um cidadão já detentor

de direitos naturais ou valores morais básicos que ele cede parcialmente ao Estado

para garantir a ordem social. Nos dois casos, Estado e cidadania são termos

intrinsecamente interdependentes. Assim, Estado e cidadania são duas instituições

básicas da sociedade que estabelecem a ordem, garantem a liberdade para seus

membros e manifestam sua aspiração de justiça.

Conforme leciona Miranda (2002, p. 23)

Quer como idéia ou concepção jurídica ou política quer como sistema institucional, o Estado não se cristaliza nunca numa fórmula acabada; está em contínua mutação, através de várias fases de desenvolvimento progressivo (às vezes regressivo); os fins que se propõe impelem-no para novos modos de estruturação e eles próprios vão-se modificando e, o mais das vezes, ampliando.

À medida que o desenvolvimento econômico ocorre, as sociedades tornam-se

mais complexas, a educação se generaliza, passando a correr um crescente

processo de equalização social e, portanto, de desconcentração da força material e

riqueza, e a capacitação de organização política da sociedade com um todo

aumenta. Aos poucos, os regimes políticos autocráticos vão dando lugar a regimes

democráticos. Esse processo ganha um extraordinário impulso com o surgimento do

capitalismo e da mais – valia capitalista. Nesse momento a apropriação do

excedente econômico deixa de ser o resultado do uso da força por meio do controle

do Estado e passa a ser o resultado de uma troca de equivalentes no mercado.

Abre-se, então, a possibilidade do surgimento da democracia moderna.

O Titulo I da Constituição Federal do Brasil, e lei maior do país, cita como

princípios fundamentais da Republica Federativa: a soberania, a cidadania, a

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dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o

pluralismo político.

Estado e sociedade devem formar uma democracia, um todo indivisível. O

Estado, com competência e limites de atuação definidos na Constituição, tem seu

poder de legislar e de tributar legitimado pelo processo eleitoral. A sociedade

manifesta seus anseios e demandas por canais formais ou informais de contato com

as autoridades constituídas. É pelo dialogo democrático entre o Estado e a

sociedade que se definem as prioridades a que o governo deve ater-se para a

construção de um país mais próspero e justo.

Para Dallari “o Estado pode ser conceituado como "a ordem jurídica soberana

que tem por fim o bem comum de um povo situado em determinado território"

(DALLARI, 1991, p. 101). Para José Afonso da Silva "Estado é uma ordenação que

tem por fim específico e essencial a regulamentação global das relações sociais

entre os membros de uma dada população sobre um dado território" (SILVA, 1990,

p. 86).

A Constituição Federal em seu artigo 3º estabelece como objetivos

fundamentais do Estado Brasileiro: construir uma sociedade livre, justa e solidária;

garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização, reduzir

as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos, sem preconceitos

de origem, raça, sexo, cor, idade e de outras formas de discriminação.

O Estado constitui-se de três elementos:

• Povo: corresponde ao componente humano. É o agrupamento de pessoas

submetidas juridicamente ao Estado.

• Território: base física do Estado. É o limite espacial dentro do qual o Estado

exerce o seu poder soberano sobre pessoas e bens. Abrange as áreas circunscritas

pelas fronteiras, as águas territoriais, o ar e o subsolo correspondentes.

• Governo Soberano: elemento condutor do Estado que detém e exerce o

poder absoluto de autodeterminação e auto-organização emanado do povo.

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4.2 O ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL E SUA EVOLUÇÃO

O advento do Estado do Bem-Estar Social representou uma espécie de

ruptura significativa com os alicerces que tradicionalmente fundamentavam o

Estado, entendido este como fenômeno da modernidade, sendo, portanto,

prescindível adjetivá-lo de “moderno”.

Os primeiros marcos identificadores do surgimento do Estado “Social” são

encontrados na Alemanha, sendo que, como ocorreu na maior parte dos países, os

passos iniciais foram dados em relação à questão de acidentes de trabalho. Assim

que o Império foi constituído (1871), uma lei formulou o princípio de uma

responsabilidade limitada dos industriais, em caso de culpa, nos acidentes de

trabalho. Por outro lado, foi apenas em 1897, na Grã-Betanha, e em 1898, na

França, que leis semelhantes surgiram. (ROSANVALLON, 1997)

Estava sedimentado, então, o terreno para que fossem aprovadas, de 1883 a

1889, três importantes leis sociais na Alemanha. A lei de 15 de junho de 1883, sobre

o seguro-doença, foi a primeira e tornou esse benefício obrigatório, mas apenas

para operários da indústria cujo rendimento anual não ultrapassasse 2.000 marcos,

sendo que dois terços das cotizações estavam a cargo dos assalariados e, um terço,

a cargo dos empregadores. Em 1884, surge a lei sobre acidentes de trabalho, em

face da qual os patrões deveriam cotizar-se em caixas corporativas para cobrir os

casos de invalidez permanente resultante de acidente de trabalho. Em 1889, é

aprovada, na Alemanha, a lei da aposentaria e invalidez, cujos benefícios seriam

custeados em partes iguais pelos empregados e empregadores. Em 1911, tais leis

são objeto de um compêndio (Código dos seguros sociais), surgindo, assim, um

primeiro modelo do gênero. (ROSANVALLON, 1997)

O fato de os marcos iniciais serem identificados na Alemanha implicou a

origem terminológica desse modelo de Estado. A expressão “Estado Social” é a

primeira denominação utilizada naquele país, por obra de Lorenz von Stein, lá pela

metade do século XIX. A importância dessa expressão evolui de tal forma que, na

Lei Fundamental Alemã de 1949, passa a fazer parte da definição da nova

República Federal.

No entanto, conforme Esteruelas, o grande salto quantitativo e qualitativo

ocorre no Reino Unido, com o plano Beveridge de 1942. Nesse momento, nasce

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propriamente o denominado “Welfare State”, versão britânica do Estado Social. O

incremento da ação do Estado no campo social e sua ambiciosa meta na proteção

fizeram nascer um novo conceito, com ressonância religiosa: o Estado-Providência,

que significa dizer que o Estado está obrigado a cuidar dos cidadãos, da mesma

forma que Deus tem cuidado de todas as criaturas. Assim, o Estado-Providência

(terminologia adotada principalmente pelos franceses) vem a ser, prometeicamente,

a assunção laica de tão gigantesca missão.

É inegável, porém, que a consolidação do Estado Social, do Bem-Estar Social

ou do Estado-Providência está conectada intimamente ao constitucionalismo

contemporâneo, tendo como marcos históricos a Constituição Mexicana de 1917 e a

Constituição de Weimer de 1919. Esse modelo diverge do anteriormente vigente,

visto que, para o Estado Liberal, bastava garantir a paz social dos indivíduos livres e

iguais para que seu papel restasse cumprido; já para o modelo do Bem-Estar, cabe

ao Estado uma intervenção efetiva em diversos setores econômicos, sociais e

culturais, no sentido de construir uma comunidade solidária, na qual cabe ao poder

público a tarefa de produzir a incorporação dos grupos sociais aos benefícios da

sociedade contemporânea. (BOLZAN DE MORAIS, 2002)

O Estado-Providência é, de fato, muito mais complexo que o Estado-protetor

clássico, cuja obrigação restringia-se a assegurar a vida e a propriedade. Tal ocorre,

porque esse modelo objetiva, além de suas obrigações clássicas, “ações positivas

(de redistribuição de renda, de regulamentação das relações sociais, de

responsabilização por certos serviços coletivos)”. Ou seja, conforme define Bobbio, o

Estado do Bem-Estar seria aquele “que garante tipos mínimos de renda,

alimentação, saúde, habitação, educação, assegurados a todo o cidadão, não como

caridade, mas como direito político”. (BOBBIO, 1986)

No Estado Social não se nega importância aos valores da liberdade e da

propriedade, mas pretende-se torná-los mais efetivos, dando-lhes uma base e

conteúdo material, pois se parte do pressuposto de que o indivíduo e a sociedade

não são categorias isoladas e contraditórias, uma vez que essas categorias estão

conectadas numa relação de dependência.

Assim, não há possibilidade de garantir a liberdade, se o seu estabelecimento

e as garantias formais não estão acompanhadas de condições mínimas que tornem

possível seu exercício real. Enquanto, nos séculos XVIII e XIX, se pensava que a

liberdade era uma exigência da dignidade humana, agora se pensa que a dignidade

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humana (manifestada nos pressupostos socioeconômicos) é uma condição para o

exercício da liberdade.

Para o Estado do Bem-Estar Social, portanto, não basta assegurar, por

exemplo, o direito à liberdade de expressão num plano meramente formal – garantir

a todos que manifestem livremente o pensamento. É necessário assegurar, também,

os meios necessários para que os indivíduos tenham acesso à educação e à cultura

de modo que tal direito possa ser exercido de uma forma plena, visto que de nada

adianta garantir liberdade de expressão àquele que está desprovido das condições

mínimas para exercê-la (o analfabeto, por exemplo).

Enfim, a idéia de liberdade está fundada na possibilidade de fazer escolhas,

que apenas são factíveis se preenchidos os pressupostos materiais necessários,

sendo que estes, embora correndo os riscos da brevidade, não podem ser

entendidos como presentes quando inexistirem alimentação, habitação, saúde,

educação, segurança e renda mínima.

O Estado do Bem-Estar Social não foi gerado com contornos definitivos.

Trata-se de um modelo que foi se aperfeiçoando ao longo do século XX, mediante a

incorporação dos denominados “novos direitos” à cidadania e o consenso acerca da

necessidade de que o Estado estivesse presente como ator privilegiado dentro do

cenário econômico. Conforme explica de Morais (2002, p. 35)

A construção de um Estado como Welfare State está ligada a um processo histórico que conta já de muitos anos. Pode-se dizer que o mesmo acompanha o desenvolvimento do projeto liberal transformado em Estado do Bem-Estar Social no transcurso da primeira metade do século XX e que ganha contornos definitivos após a Segunda Guerra Mundial. [...] São os direitos relativos às relações de produção e seus reflexos, como a previdência e assistência sociais, o transporte, a salubridade pública, a moradia, etc. que vão impulsionar a passagem do chamado Estado mínimo – onde lhe cabia tão-só assegurar o não-impedimento do livre desenvolvimento das relações sociais no âmbito do mercado caracterizado por vínculos intersubjetivos a partir de indivíduos formalmente livres e iguais – para o Estado Social de caráter intervencionista – que passa a assumir tarefas até então próprias ao espaço privado através de seu ator principal: o indivíduo.

Diferentemente do que possa advir de uma análise superficial, o

aprofundamento do papel do Estado Social não significou apenas uma atuação

voltada aos interesses das classes sociais menos favorecidas, através de

mecanismos de proteção social. Ao contrário, constata-se que a atuação do Estado,

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pelo menos no que tange à gama de recursos empregada, esteve, paradoxalmente,

a serviço do capital ou do que se convencionou denominar de “elites dominantes”.

Além da construção de usinas hidrelétricas, estradas e financiamentos,

exemplificadas por Bolzan de Morais (2002), cabe referir aqui a enxurrada de

concessões de benefícios fiscais, ora explicitamente – mediante desonerações – ora

mediante efetivas doações, travestidas de “empréstimos”.

Enfim, do modelo Estado Liberal clássico passa-se, em menos de um século,

para o modelo do Estado Democrático de Direito, numa velocidade típica do século

XX, sem que as contradições e dificuldades tenham sido devidamente assimiladas e

superadas; sem que, em muitos países, se consiga efetivamente perceber que o

antigo Estado Liberal tenha sido definitivamente aposentado; e sem que importantes

atores do cenário político, econômico e social tenham percebido que, num plano

formal pelo menos, estavam vivendo uma realidade antagônica àquele outrora

vigente.

Diante desse contexto, seria perfeitamente possível projetar as inevitáveis

crises que aguardavam para eclodir. Essas crises (conceitual, estrutural, institucional

e funcional) começam a ser constatadas ainda no final da década de sessenta do

século XX, sendo que uma delas pode ser entendida como o marco zero das

demais: a crise estrutural.

Uma vez que começam a faltar os recursos materiais para que o Estado de

Bem-Estar cumpra seu papel e se aprofunde diante das novas demandas da

sociedade, passa-se a questionar se o próprio modelo é viável e, se viável, até que

ponto poderia ser reduzido ou minimizado. No entanto, tal discussão tem algo que a

precede: a emergência dos novos riscos sociais e a sensação de impotência frente a

eles.

4.3 CAMINHOS DA CIDADANIA NA ATUALIDADE

De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 em

seu artigo 5o:

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Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. (BRASIL, 2011, p. 18)

A realidade atual do planeta demonstra que todas as espécies vivas, incluindo

a humana, encontram-se seriamente ameaçadas devido, principalmente, ao

consumismo insano. Este fato reflete claramente a falência ética com a perda dos

valores fundamentais da espécie. Visando a chance de um futuro viável e digno é

que o tema cidadania vem à tona, com uma importância fundamental para a

conscientização geral da população para que exerça seus direitos e cumpra suas

obrigações perante o Estado.

A realidade em que vivemos no Brasil, nos leva a uma grande reflexão sobre

o papel do cidadão na sociedade onde vivemos, em meio a tantas desigualdades

fica um pouco difícil falar de um equilíbrio necessário entre as obrigações do Estado

para com o cidadão e do cidadão para com o Estado.

Durante as décadas de 60 e 70, o tema CIDADANIA possuía uma conotação

pejorativa, uma espécie de chamariz para a democracia americana que, na

realidade, a nada levaria. O mundo ouvia falar de mudança social e de modelos

revolucionários. No entanto, atualmente, os antigos modelos revolucionários, tais

como foram encaminhados inicialmente apresentam-se falidos. E, de uns tempos

para cá, o tema cidadania passou a aparecer na fala de quem detém o poder

político, na produção intelectual, na mídia e também junto às camadas mais

desprivilegiadas da população. Surgiram novas propostas, de certa forma

relacionadas ao tema em questão.

Conforme preleciona Bonavides (2001, p. 51)

Não há democracia sem participação. De sorte que a participação aponta para as forças sociais que vitalizam a democracia e lhe assinam o grau de eficácia e legitimidade no quadro social das relações de poder, bem como a extensão e abrangência desse fenômeno político numa sociedade repartida em classes ou em distintas esferas e categorias de interesses.

Como destaca Morin (2002, p. 91)

É necessário que as mentes humanas sejam formadas com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. Afinal, qualquer desenvolvimento poderá ser considerado realmente humano se compreender o desenvolvimento

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conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias, bem como da importante conscientização de pertencer à espécie humana.

Toda transformação acontece a partir do encontro. A partir das relações é que

nasce a oportunidade de surgir, mesmo a despeito das crises, uma nova

humanidade, onde o conhecimento, o amor e a solidariedade sejam conjugados. Se

ninguém transforma ninguém e se ninguém pode transformar-se sozinho, o cotidiano

da vida é um importante espaço de encontro e sinergia, onde o tempo da vida deve

ser utilizado para que ocorram as relações interpessoais. O que determinará o futuro

dos organismos empreendedores diante dos novos cenários da globalização e da

transmutação dos valores, conceitos e atitudes fundamentais da espécie é o

investimento prioritário na subjetividade, na dimensão valorativa e no

desenvolvimento do fabuloso e quase desconhecido potencial humano. Então, visto

ser o ser humano a maior descoberta do século XXI, as relações interpessoais

podem constituir um espaço de troca e conspiração, em prol de sua realização

plena.

Atualmente, a CIDADANIA vem sendo assunto de debate na democracia

ocidental e no socialismo do Leste; entre as classes menos favorecidas e as mais

abastadas e também surge na pauta de diversos movimentos sociais. Alguns desses

grupos têm acesso a quase todos os bens e direitos; outros não, em virtude do baixo

salário e do não direito à expressão, à saúde, à educação, etc. O conceito de

CIDADANIA não é o mesmo para todos eles. Muitas vezes são delineadas

concepções diferentes e até mesmo opostas.

Os termos CIDADÃO e CIDADANIA, da forma como normalmente são

abordados tanto no meio escolar como no meio jurídico, são extremamente vagos,

podendo ter várias interpretações, de acordo com os interesses em jogo. É

interessante notar que um cidadão formal pode não ter conhecimento de seus

direitos, sendo que o conhecimento de que é sujeito de direito é condição para o

exercício da cidadania. E, neste sentido, apenas ter conhecimento não é suficiente.

É necessário lutar tanto pela efetividade dos direitos elencados na norma

constitucional quanto por novos direitos. O estudo das concepções acerca da

cidadania e dos direitos e deveres humanos dos sujeitos possibilita visualizar sua

capacidade de construção de condições no sentido de buscar a efetivação desses

direitos. O significado aqui atribuído à Vida Cidadã é o do exercício de direitos e

deveres de pessoas, grupos e instituições na sociedade, que em sinergia influem

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sobre múltiplos aspectos, podendo assim viver bem e transformar a convivência

para melhor.

De acordo com Dourado, “desde o seu nascimento até a sua morte, os grupos

sociais são controlados por normas sociais. E isto não depende da vontade do

homem ou mesmo do poder dos diferentes grupos sociais” (GUSMÃO, 2002, p. 78).

O termo CIDADANIA, numa concepção operacional, pode ser visto como

conjunção de dois aspectos: como condição de direitos, quando se refere ao vínculo

jurídico com o Estado, e como exercício de direitos, quando se pretende dar um

enfoque político, ao se referir à construção do espaço público. Partindo destes dois

pressupostos, é possível perceber a cidadania como condição jurídica, que o sujeito

tem de ser um nacional, de estar enquadrado num ordenamento jurídico, para poder

pedir proteção de direitos e contribuir com deveres. Cidadania é, pois, o vínculo

jurídico que possibilita ao sujeito o acesso ao espaço público, que é o espaço de

reivindicação da efetividade dos direitos humanos, bem como a construção desse

espaço, sem deixar de lado a importância do cumprimento de seus deveres, os

quais precisa conhecer para melhor seguir.

De acordo com Castelo (1998, p. 54)

SER CIDADÃO é CONQUISTAR o DIREITO A TER DIREITOS, ou seja, conquistar o direito de satisfazer suas necessidades individuais, sociais, políticas e culturais. É bom não esquecer, no entanto, que, vivendo numa sociedade, juntamente com outras pessoas, o CIDADÃO tem também muitos DEVERES, isto é, muitas obrigações a cumprir. (...) Um dos mais importantes é RESPEITAR AS LEIS. (...) Pena que nem sempre as pessoas obedecem à Constituição. Não aceitam ter deveres, só querem ter direitos.

Por fim, Luciane da Costa Moás (2002, p. 21).nos ensina que “o moderno

conceito de cidadania já não está diretamente relacionado com a idéia de

concessões estatais. O que corrobora o entendimento de que o indivíduo, como

cidadão, possui prerrogativas próprias”.

4.4 RELACIONAMENTOS DO CIDADÃO COM O ESTADO

O pertencer a um Estado, configurado sempre por meio de suas próprias leis,

direitos e deveres, bem define o termo cidadania, variando, como se poderia supor,

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num período histórico, numa formação social. É um termo que se relaciona com a

forma de pensar... de viver! E, referindo-se a isto, Gusmão assinala que “o ser

humano foi planejado a fim de completar-se, convivendo bem com o outro ser de

sua espécie, de acordo com sua constituição física característica” (GUSMÃO, 2002,

p. 21)

O cidadão, de um modo geral, obedece às leis que fundamentam o Estado

por acreditar no sentido de igualdade a elas subjacentes, por considerá-las

legítimas.

O relacionamento consumista é uma das maneiras de o cidadão se relacionar

com as leis. Cumprindo certos deveres perante o Estado, aqui tomado como

“prestador de serviços”, é que o cidadão consumidor adquire alguns direitos.

O cidadão também se relaciona com as leis de forma contratual, ou seja,

como as obrigações pertencem a qualquer indivíduo, “ele” então possui obrigações,

gozando de certos direitos. Quando defende os próprios direitos, o cidadão também

defende os de todos e, desta forma, não existe troca de realização de deveres pela

obtenção de direitos.

O indivíduo está convencido de que deve obedecer às leis, fundamentado na

autonomia do julgamento individual e tomando como base a solidariedade e a

igualdade.

Entretanto, estas relações são insuficientes para que o indivíduo torne-se

efetivamente um cidadão. Na realidade, será um autêntico cidadão no momento em

que exercer uma função que seja pública, participando ou até mesmo governando

assembléias do povo, a saber, atuando ativamente; deixando de ser apenas

“governado” para ser na realidade um “governante”.

No Brasil, o que se tem observado atualmente é uma total falta de ações

consistentes de cidadania.

De norte a sul são ouvidas vozes cheias de lamúrias e de queixumes. Os

benefícios recebidos pelo cidadão sempre estão aquém do pesado fardo tributário

que lhe é imposto sobre os ombros... Além disso, o que dizem é que os recursos

públicos são sempre escassos...

Habituados a serem monitorados pelo Estado, no que se refere às

“conquistas sociais”, os cidadãos brasileiros continuam na passividade, sem se

mobilizarem, provavelmente devido à falta de cidadania, aqui entendida como

informação e consciência de direitos e deveres.

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Não é difícil concluir que, informados, talvez passem à indignação e ao

exercício da cidadania, apesar de que, somente a informação não seja suficiente

para a efetivação da cidadania. Afinal, é essencial a compreensão das relações de

poderes existentes no interior da sociedade e o conhecimento dos mecanismos que

tornam viável uma participação mais consistente. A cidadania precisa ser

paulatinamente construída.

Conforme bem destaca Gusmão (2002, p. 351)

A coletividade ou agrupamento humano recebe o nome de povo. São pessoas juridicamente submetidas ao Estado. Estas pessoas possuem uma certa unidade devido a seus problemas, interesses, necessidades, projetos e propósitos que são comuns a todos e também devido a seu passado histórico e aos laços de solidariedade que prendem firmemente seus membros.

Infelizmente, o que se observa no Brasil contemporâneo é que as políticas

públicas não visam o estímulo à participação, ou seja, a construção da cidadania. E,

no entanto, buscar um Brasil de Primeiro Mundo nada mais é que criar condições de

construção de cidadãos verdadeiramente plenos. Principalmente neste momento,

quando a economia torna-se globalizada e a qualidade é apontada como um

importante diferencial entre produtos na competição de mercado.

No Brasil, o contingente de indivíduos desprovidos de capacidade de

contribuição é imenso. Falta educação. O Estado brasileiro está descompromissado

com as condições de vida e de trabalho da grande maioria. Enquanto isso,

encontram-se drasticamente reduzidas as possibilidades de inserção do Brasil na

economia mundial.

Ao tratar do assunto ora evocado, Demo faz a seguinte colocação:

[...] A qualidade da cidadania não se obtém com pressa ou alarde, mas plantando com insistência e sistematização. Nosso problema é grave porque sequer temos cidadania em quantidade adequada. Quantitativamente falando, há muito pouca gente associada neste país. Mais preocupante que isto, os dados quantitativos deixam passar, em suas entrelinhas, que a qualidade da cidadania é absolutamente precária. Quase não há traços de combatividade, não porque sejamos uma sociedade pacífica e multicultural, mas porque somos sobretudo uma sociedade domesticada. São fartos os sinais de que somos uma sociedade facilmente mobilizável, mas outra coisa é sermos um povo capaz de escrever sua própria história a peso de sua cidadania consciente e organizada (DEMO, 2001, p. 83)

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Todo brasileiro, sendo naturalmente contribuinte de impostos, tem o dever de

pagar os impostos, porém, tem também o direito de exigir sua adequada aplicação.

Precisa intervir, buscando os canais legais de participação, com a finalidade de

demandar os serviços públicos que pareçam mais urgentes. Não pode se contentar

em ser apenas “consumidores” de serviços públicos.

Pagar os tributos e averiguar se realmente estão sendo realmente aplicados,

sem deixar de pressionar, utilizando os canais democráticos, bem como a produção

de políticas públicas que sejam coerentes e preventivas é tarefa vital para indivíduos

corretamente intitulados CIDADÃOS.

4.5 O PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE SOCIAL COMO ALICERCE DO DEVER

FUNDAMENTAL DE PAGAR TRIBUTOS

Cumpre, primeiramente, analisar as razões por que o dever fundamental de

pagar tributos está intimamente vinculado à idéia de solidariedade social, fazendo-se

necessário, um resumo histórico para melhor compreender e colocar a questão.

Antes disso, cabe reconhecer, no entanto, que a questão da solidariedade

social vem sendo descurada no próprio estudo acerca da tributação. Isso ocorre

porque, como aponta Sacchetto (2005, p. 20)

Os estudantes são apáticos ou céticos quanto a questões constitucionais tributárias. Não há mais tempo para falar sobre elas com adequação e tranqüilidade. Porque não é mais tarefa das universidades formar homens de cultura e de cultura humanista, global, tampouco fazer educação cívica. Em suma, tem sentido falar em solidariedade porque hoje existe o risco de perder o conceito de responsabilidade pública, que os cidadãos deixem de ter consciência que uma parte de suas vidas deve ser gerida em comum com os outros: este é o significado real da solidariedade, como ensina a etimologia do termo.

O substantivo solidum, em latim, significa a totalidade de uma soma,

enquanto o termo solidus tem o sentido de inteiro ou completo. A idéia original de

solidariedade estava vinculada à existência de mais de um responsável para a

solvência da obrigação.

Relativamente à solidariedade pelos direitos, pode-se afirmar que a idéia

passa pela realização – em especial – dos denominados direitos sociais e dos

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denominados direitos de solidariedade (meio ambiente equilibrado, por exemplo),

sendo que tal tarefa cabe ao Estado, de uma forma mais incisiva, no que tange aos

direitos sociais, pois é ele que deve garantir direitos que assegurem um mínimo de

dignidade aos seus cidadãos.

Superada essa questão, passa-se a examinar a idéia de solidariedade social

dentro do Estado Fiscal. Para tanto, cabe lembrar, inicialmente, que o Estado é

adjetivado de fiscal, pois é suportado, fundamentalmente, por tributos unilaterais,

isto é, tributos cuja exigência não implica a realização de uma atuação estatal

específica.

Especificamente no caso do Brasil, pode-se dizer que os tributos bilaterais

corresponderiam às taxas e contribuições de melhoria; os unilaterais, por sua vez,

corresponderiam aos impostos e às contribuições sociais não-sinalagmáticas,

também denominadas de impostos finalísticos.

Noutros termos, pode-se dizer que, como o denominado Estado Fiscal social

é financiado, basicamente, pelo pagamento de tributos não-vinculados a uma

atuação estatal específica, os quais são exigidos do cidadão pelo simples fato de

pertencer à sociedade, a própria idéia de estado fiscal social encerra,

inequivocamente, a idéia de solidariedade, pois acarreta um dever solidário de

contribuir para a manutenção e desenvolvimento da sociedade. Como menciona

Torres (2005. p. 181)

A idéia de solidariedade se projeta com muita força no direito fiscal por um motivo de extraordinária importância: o tributo é um dever fundamental. Sim, o tributo se define como o dever fundamental estabelecido pela Constituição no espaço aberto pela reserva da liberdade e pela declaração dos direitos fundamentais.

Essa solidariedade pode ser vislumbrada a partir de dois enfoques: a) a

solidariedade pela fiscalidade; b) a solidariedade pela extrafiscalidade. Em relação à

primeira, o Estado exige do cidadão o pagamento de tributos não-vinculados

(especialmente impostos), tendo por fim precípuo a obtenção de receitas, sendo que

nessa atividade dispensa ou concede um tratamento menos gravoso àqueles

cidadãos ou grupos com menor capacidade econômica. Se, por um lado, a idéia de

solidariedade social implica tratamento menos gravoso, por outro, impõe a assunção

de um ônus mais significativo para aqueles cidadãos com maior capacidade

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econômica, especialmente pela via da progressividade de alíquotas. Por isso, Torres

(2005, p. 584) afirma:

Com a reaproximação entre ética e direito procura-se ancorar a capacidade contributiva nas idéias de solidariedade ou fraternidade. A solidariedade entre os cidadãos deve fazer com que a carga tributária recaia sobre os mais ricos, aliviando-se a incidência sobre os mais pobres e dela dispensando os que estão abaixo do nível mínimo de sobrevivência. É um valor moral juridicizável que fundamenta a capacidade contributiva e que sinaliza para a necessidade da correlação entre direitos e deveres fiscais.

A solidariedade pela extrafiscalidade, por sua vez, acontece quando a

imposição fiscal não tem por objetivo direto a obtenção de receitas, mas sim a

realização de determinado fim no campo social, econômico ou cultural. Em relação à

extrafiscalidade, a idéia da solidariedade mostra-se presente - tanto no viés da

oneração, como no viés da redução da carga fiscal.

Isso ocorre porque, seja no caso do agravamento, seja no caso da

desoneração fiscal, a presença da idéia de solidariedade é reconhecida, desde que

o objetivo visado seja constitucionalmente justificável. No primeiro caso, aqueles que

suportam uma tributação mais expressiva estão cumprindo o dever de solidariedade

com o restante da coletividade; no segundo caso, toda sociedade divide o ônus

decorrente da concessão do benefício fiscal respectivo, de uma forma solidária.

Em decorrência do exposto, exige-se um rigoroso critério na utilização da

extrafiscalidade, pois esta apenas será constitucionalmente legítima, se os objetivos

visados forem justificáveis a partir da contemporânea idéia de solidariedade social,

isto é, quando esse mecanismo fiscal for utilizado, por exemplo, para alcançar algum

objetivo previsto na constituição ou para concretizar direitos fundamentais.

Pode-se concluir, então, que: a) a idéia de solidariedade pela fiscalidade

implica a exigência de tributos de acordo com a capacidade contributiva do cidadão

e, portanto há um direito/dever de contribuir conforme a referida capacidade; b) a

solidariedade pela extrafiscalidade se constitui um importante instrumento de

concretização de objetivos e direitos fundamentais.

Em relação à solidariedade pela extrafiscalidade, é bastante visível a conexão

existente com o princípio da dignidade da pessoa humana, pois só é possível afirmar

que haja uma vida minimamente digna quando restar assegurada uma plataforma

básica de direitos fundamentais (em especial os sociais). A solidariedade pela

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extrafiscalidade tem significativa potencialidade para isso, na medida em que ela

pode ser utilizada como instrumento de concretização dos direitos fundamentais.

Noutras palavras, há de se recuperar a concepção de solidariedade social

como fundamento da exigência fiscal, pois apenas esta pode justificar a legitimidade

de um modelo de Estado socialmente justo.

Ao se adequar a tributação à efetiva capacidade contributiva, deixa-se de

tributar o mínimo vital à existência humana, pois nada mais diametralmente oposto à

concepção de dignidade humana do que dispor do indisponível à própria

sobrevivência, com vistas a fazer frente à exigência fiscal.

Por outro lado, ao se maximizar a densificação ao princípio da dignidade da

pessoa humana, dá-se a máxima eficácia social aos direitos fundamentais, uma vez

que o referido princípio é reconhecidamente o elemento comum de todos os direitos

dessa natureza. Para que isso aconteça efetivamente, são indispensáveis: a) a

exigência de tributos adequados à capacidade de contribuir daqueles que

manifestam tal capacidade de uma forma mais expressiva, obtendo-se os recursos

necessários para a concretização dos direitos fundamentais de cunho prestacional;

b) a utilização da extrafiscalidade para estimular ou desestimular comportamentos,

mediante políticas públicas no campo fiscal que tenham como norte a realização das

promessas fundamentais feitas pela “Constituição Cidadã” de 1988.

Enfim, o liame da solidariedade é o fundamento que justifica e legitima o

dever fundamental de pagar tributos, haja vista que esse dever corresponde a uma

decorrência inafastável de se pertencer a uma sociedade. Por isso, faz-se

necessário examinar a questão da denominada cidadania fiscal, pois, em face do

dever fundamental de pagar tributos, uma concepção adequada de cidadania passa

pelo reconhecimento de que o cidadão tem direitos, porém, em contrapartida,

também deve cumprir seus deveres dentro de uma sociedade.

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5 MECANISMOS E MÉTODOS FISCAIS

O atual sistema tributário nacional traz consigo os conceitos que norteiam a

tributação no Brasil. É importante fazermos algumas breves colocações sobre os

tributos instituídos pelo Código Tributário nacional (CTN), para que tenhamos uma

visão mais ampla da tributação no Brasil.

De acordo com o Código Tributário Nacional podem ser cobrados três tipos

de tributos: imposto, taxa e contribuição de melhoria, cada um com sua respectiva

função ou característica.

O pagamento de tributos é uma prestação obrigatória dos indivíduos, das

empresas e das instituições para o financiamento do ente tributante (União, Estados,

Distrito Federal e Municípios) com a manutenção e prestação de serviços públicos.

O artigo 3º do Código Tributário Nacional traz a definição de tributo:

Art. 3º tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída por lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. (Brasil,2011, p. 589)

A importância de sabermos a definição de tributo é justamente para facilitar a

compreensão e o entendimento de suas características legais que determinam como

o tributo pode ser cobrado, mediante qual atividade administrativa e demais

prerrogativas inerentes ao tributo.

Para uma melhor compreensão da atividade tributaria faremos uma

explanação sobre as espécies de tributos e suas principais características. A grande

maioria da população não sabe o que é tributo e muito menos por que eles são

cobrados. Como nos ensina o artigo 16 do Código Tributário Nacional:

Art.16. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte. (Brasil, 2011, p. 590)

É visível na definição de artigo 16 do CTN que o imposto é um tributo que não

exige do Estado uma atividade especifica ou definida para aplicar os recursos

arrecadados com a cobrança do imposto. Situação diferente daquela que

encontramos na taxa e na contribuição de melhoria, onde o ente tributante tem um

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dever legal de especificar onde aquele recurso está sendo empregado. Geralmente

os impostos possuem o caráter de custear as necessidades públicas essenciais

como educação, saúde e manutenção do Estado.

O imposto pode ser direto ou indireto, é direto quando ele é pago e recolhido

aos cofres públicos pela própria pessoa exemplo: IPTU, IPVA, IR, ITBI e ITCD e

indireto, quando pago pelo consumidor final vem embutido no valor da mercadoria

ou serviço prestado e é recolhido aos cofres públicos por quem vendeu as

mercadorias ou prestou o serviço exemplo: ICMS, IPI e ISS.

Diferente do imposto onde o Estado não tem uma contra prestação especifica

a taxa é um tributo cobrado pelo Estado (Poder Público) em razão dos serviços

prestados às pessoas ou postos à sua disposição. O artigo 77 do Código Tributário

Nacional define taxa como:

Art. 77. As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de policia,ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. (BRASIL, 2011, p. 593-594)

As taxas se dividem em: taxas de polícia, que são aquelas decorrentes do

exercício do poder de policia do Estado e taxas de serviços, que são aquelas que

decorrem de serviço público específico e divisível, utilizado pelo contribuinte ou

posto a sua disposição, quando compulsória sua utilização. As taxas podem ser

instituídas e cobradas por quaisquer dos entes tributantes (União, Estados, Distrito

Federal e Municípios), desde que, evidentemente, prestem o serviço que dá

sustentação ao seu fato gerador.

Por último temos a contribuição de melhoria, que é um tributo cobrado sobre a

valorização da propriedade particular em decorrência de uma obra pública. A noção

de contribuição de melhoria encontra-se elencada nos ensinamentos do professor

Machado:

Contribuição de Melhoria. É o tributo cuja obrigação tem como fato gerador a valorização de imóveis decorrente de obra pública. Distingue-se do imposto porque depende de atividade estatal específica, e da taxa porque atividade estatal de que depende é diversa. Enquanto a taxa está ligada ao exercício regular do poder de polícia, ou a serviço público, a contribuição de melhoria está ligada à realização de obra pública. Caracteriza-se, ainda, a contribuição de melhoria por ser o fato gerador instantâneo e único. (MACHADO, 2001, p. 46)

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A contribuição de melhoria é um tributo previsto para proprietários que tiveram

o seu imóvel valorizado em razão de alguma obra pública. Exemplo: calçamento de

uma rua, asfaltamento, saneamento, iluminação, ou qualquer outra obra pública que

possa valorizar as propriedades particulares vizinhas da obra efetuada.

Este tributo é uma forma de justiça social, pois não é justo que toda uma

comunidade arque com os custos de uma obra que beneficiará um número restrito e

específico de pessoas.

A contribuição de melhoria pode ser instituída e cobrada por quaisquer dos

entes tributantes, desde que, por evidente, seja realizada a obra pública que dá

sustentação ao fato gerador desse tributo.

Além dos três tributos supra mencionados, o ordenamento jurídico brasileiro

ainda prevê mais duas hipóteses especiais de tributos, que são as contribuições

sociais e o empréstimo compulsório.

As contribuições sociais são tributos pagos pelas empresas e trabalhadores

para o custeio das despesas com assistência e Previdência Social (SUS,

aposentadoria, etc). A contribuição social é a fonte de financiamento do sistema de

seguridade social, responsável pelos serviços prestados pelo Estado em decorrência

dos direitos previstos em nossa Constituição Federal.

O empréstimo compulsório é um tributo cobrado pela União em situações

especiais, para atender despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade

pública, de guerra externa ou sua eminência; e no caso de investimento público de

caráter urgente e de relevante interesse nacional, sendo que, neste caso somente

pode ser exigido no exercício seguinte ao da publicação da respectiva lei que o

instituiu.

O Estado não faz nada por acaso, tudo tem um fim específico, se é feita a

cobrança dos tributos é por extrema necessidade e até porque o Estado não tem

outra fonte de renda além da tributação para cumprir com todas despesas com sua

organização e manutenção da saúde, educação, moradia etc.

O que muitas vezes atrapalha o bom andamento da relação Estado cidadão é

justamente a falta de informação da grade maioria da população que acha que os

tributos não têm um fim específico. Toda a receita do Estado é resultado da

Tributação, mas na própria organização do Estado já existem normas para a

utilização de cada recurso advindo da cobrança de cada Tributo.

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Todo o dinheiro arrecadado com os tributos é revertido para a população em

forma da alguma prestação, seja ela direta ou indireta, o Estado não gasta em seu

próprio benefício e sim em benefício de sua população que é a grande mantedora do

Estado organizado e com condições de arcar com todas as suas obrigações.

O mundo contemporâneo, exige da população mundial uma adequação às

novas tendências existentes em razão das evoluções e modernidades advindas dos

avanços tecnológicos que não param de surgir.

Sendo assim, o Estado e a Administração Pública também são obrigados a

acompanharem essa evolução, porque são constantemente questionados quanto à

eficiência e qualidade dos serviços que prestam. O Brasil é um país jovem. Em que

pese sua descoberta ter ocorrido em 1500, a Administração Pública começa a se

organizar a partir da segunda metade da década de 1930 com a criação do

Departamento Administrativo do Serviço Público. E jovem também é sua população.

Esses jovens brasileiros estão crescendo num país onde, apesar das dificuldades e

disparidades sociais que enfrentam, estão convivendo em um ambiente no qual a

informação é abundante e prolifera nos mais diversos meios sem que sofra nenhum

tipo de objeção.

As mudanças tendem a acontecer muito rápido, uma vez que o Brasil é um

pais que vive sobre as regras de um Estado Democrático de Direito, isto é, os

cidadãos tem deveres para com o Estado na mesma proporção que o Estado tem

obrigações para com os cidadãos. A legalidade tem que ser respeitada em todos os

seus aspectos.

O Estado contemporâneo não mais pode ser lento e ineficiente, os servidores

públicos têm que adequarem as novas tendências da administração pública onde os

cidadãos exigem um bom atendimento e uma maior qualidade dos serviços

prestados pelo Estado.

As organizações precisam preparar-se para dar respostas a essa nova

realidade. As organizações do setor público e as estatais necessitam proceder a

mudanças internas e a melhorias contínuas em seus métodos e processos, e adotar

nova dinâmica e novo comportamento para dar respostas mais ágeis e efetivas à

sociedade. Essa modernização passa por uma mudança de postura do servidor

público no atendimento ao cidadão, entre outros aspectos.

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Os jovens necessitam ser mais bem preparados para desenvolver pleno

exercício da cidadania, conhecendo seus direitos e deveres e exercitando sua

participação de forma consciente com o fim de promover o bem estar social.

O Estado não pode mais ser aquele de muitos anos atrás é preciso entender

essas mudanças e aproveitar para ver que existe um espaço muito importante a ser

preenchido pela Educação Fiscal, de forma a contribuir para a construção de um

novo comportamento social e de novas posturas das organizações públicas perante

a coletividade que exige um Estado eficiente, conforme nos ensina Maria Sylvia

Zanela Di Pietro (2006, p. 73) “[...] a Administração Pública abrange as atividades

exercidas pelas pessoas jurídicas, órgãos e agentes incumbidos de atender

concretamente às necessidades coletivas [...]”.

Para a construção desse novo comportamento social, é necessário despertar

na sociedade um interesse pela coisa pública, uma vontade de participar da gestão

dos recursos públicos, de trabalhar junto com o Estado as questões do bem-estar

social. Para esse trabalho, tem-se que primeiramente chamar o cidadão a entender

melhor o funcionamento do Estado e quais são os benefícios que uma correta e

eficiente gestão pública traz à sociedade em todos os sentidos.

O que se pretende com a Educação Fiscal é fazer com que a sociedade tenha

consciência do quanto é importante o seu papel e, também, aumentar a

responsabilidade fiscal dos governantes, promovendo um governo que exercite com

eficácia o controle e rigidez dos gastos públicos.

O progresso e desenvolvimento de um país não se fazem somente de ações

governamentais ou das críticas e cobrança da sociedade, é preciso principalmente o

trabalho conjunto de seu povo juntamente com os governantes. O controle social

faz-se necessário em todos os níveis de governo. Se de um lado o governo é sério,

do outro os cidadãos tem que conhecer e exercer seus direitos e deveres para com

o País, é preciso investir na formação de cidadãos participativos e cobradores de

uma Administração Pública mais eficiente e séria, só assim daremos inicio a uma

trajetória certa para a construção do Estado que se desejamos. Um país com menos

pobreza e mais justiça social, e, portanto, com maior dignidade para seu povo.

O discernimento da consciência fiscal será produzido através da educação

fiscal, proporcionando a médio e a longo prazo, a diminuição da sonegação e da

evasão fiscal. É um processo que envolve muito trabalho com as mentes em fase de

formação, partindo do princípio que os jovens são os cidadãos do futuro, que

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oferece a cada um a capacidade de refletir com seu espírito crítico, sobre as

questões sociais nos vários níveis apresentados. Os indivíduos formados,

conscientes e ativos, tornar-se-ão os agentes da história e os criadores de um pais

mais justo.

A consciência tributária não é algo que se consegue a curto prazo, o resultado

só aparece depois de um longo processo de conscientização da população. Para

informar e despertar o interesse e a simpatia da população para estas questões

deve haver empenho relevante por parte das autoridades estatais. Dessa forma,

desenvolver-se-á um sólido e definitivo movimento cultural, investindo de justiça

social, resgatando verdadeiros valores de cidadania.

O aprimoramento da consciência cívica, através do Programa Educação

Fiscal, resultará em níveis mais elevados de arrecadação em todas as esferas da

federação. Em contrapartida, os poderes públicos terão condições de oferecer à

população mais serviços, com uma maior e melhor qualidade e eficiência.

A abordagem relevante de tais temas terá cunho sensibilizador,

especialmente quanto a função social dos tributos como financiador das atividades

governamentais, com destaque para a necessidade da boa administração dos

recursos, utilizados de maneira racional e objetiva, havendo a transparência nos

gastos públicos para a verdadeira harmonia na relação ESTADO cidadão.

No sentido de fazermos uma reflexão sobre a cobrança dos tributos, é

importante refletirmos sobre a cobrança de tributos no Brasil. Será que é justo, ou

proporcional uma pessoa que ganha um salário mínimo pagar o mesmo valor a título

de imposto sobre um determinado produto que uma que recebe vinte salários

mínimos? A nosso ver, os tributos indiretos são injustos com quase a totalidade dos

brasileiros, gente pobre, que desconhece tudo sobre tributos e sobre o sistema

tributário nacional. Toda essa população desconhece que paga imposto. Pensa que

não tem responsabilidades sobre o destino do dinheiro público, todo ele originário da

cobrança de tributos e fica indiferente em relação às ações que influenciam em seu

próprio destino. Desconhece que seu posicionamento político e que seu

envolvimento são fundamentais na construção de seu dia-a-dia. Desconhece que é

o voto dos pobres que elege os políticos responsáveis pela construção de um

sistema tributário justo, que cobre mais dos ricos.

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O desconhecimento da população quanto à sua condição de contribuinte e

financiador do Estado faz com que sua postura de cidadão seja passiva e omissa,

apenas como observador, e não como agente dotado de direitos e deveres.

Todos nós sabemos que uma educação de qualidade é o maior bem que se

pode legar à população. Entretanto, educação fiscal tem função fundamental no

desenvolvimento do país. Quanto mais educada fiscalmente estiver nossa

população, mais será possível exercer plenamente a cidadania e, em conseqüência,

maior será o desenvolvimento econômico e social. Quanto maior a consciência de

contribuinte, maior será a possibilidade de conseguirmos a justiça social e uma

distribuição de riqueza mais justa. Teremos então uma sociedade com menos

violência e menos corrupção. Uma sociedade mais educada e solidária.

5.1 A IMPORTÂNCIA DE UMA SOCIEDADE BEM INFORMADA

A sociedade é ao nosso ver, o elemento mais importante do Estado, uma vez

que ela além de sua mantedora é também a razão de sua existência. O Estado só

existe em razão da organização dos indivíduos que depositam em seus governantes

pertencentes toda sua confiança para que eles possam garantir uma organização

que já está consolidada na forma com que o Estado foi criado. A soberania de uma

nação depende de vários fatores, mas principalmente de uma nação atenta às

atividades governamentais e com o pensamento de igualdade e cidadania.

Em um Estado onde nos deparamos com muitas desigualdades e falta de

informação como é o caso do Brasil, é muito comum e muito alto o índice de

sonegação fiscal, com isso gera para os governantes a impossibilidade de atender a

todas as necessidades da população por falta de recursos.

A falta de informação por parte da população é um fator preocupante e de

grande relevância, pois a falta de conhecimentos mínimos sobre o nosso sistema

tributário nacional é o que leva uma grande parte dos contribuintes a deixarem de

pagar os impostos, com a falta de pagamento o Estado fica sem receita para cumprir

seus compromissos com a sociedade.

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A educação fiscal é o caminho e o meio que dispomos para levar a todos

conhecimentos sobre o que é ser cidadão e erradicar a falta de informação e criar a

curto e médio prazo uma população bem informada e atenta a seus direitos e

obrigações. Só assim diminuirá a sonegação e conseqüentemente aumentará a

arrecadação.

O grande erro dos contribuintes é achar que o Estado não tem um

planejamento para a utilização dos recursos públicos, mas aquele mesmo que tem

tal pensamento muitas vezes por falta de informação sobre seus direitos enquanto

cidadão não tem o interesse ou a atitude para ir até uma repartição publica

questionar a utilização dos recursos advindos dos tributos.

O cidadão bem informado, atento aos seus direitos só traz benefícios para

seu Estado, no que tange ao exercício de sua cidadania, pois vai estar pagando

tributos e cobrando de seus governantes uma transparência na gestão dos recursos

públicos, trazendo assim uma melhor governabilidade e muitas melhorias na

qualidade de vida da população de baixa renda que é sempre a mais dependente do

Estado.

Os governantes para incentivar o conhecimento por parte da população sobre

o valor socioeconômico dos tributos deveriam criar mecanismos para cada vez mais

popularizar a educação fiscal em todo o território nacional. A informação é a base de

toda a força de uma população, é só através da educação que se tem melhorias e

desenvolvimento em todos os âmbitos de uma sociedade.

Definitivamente a educação fiscal deveria ser implantada nas escolas como

uma matéria curricular desde o ensino fundamental até as universidades, desta

forma teríamos uma divulgação plena da cidadania em todas as camadas sociais.

É fato consumado a necessidade de se formar cidadãos que sejam

conscientes de seus direitos, bem como de suas obrigações para com o erário. A

própria noção de cidadania é uma discussão bastante ampla que está intimamente

ligada aos conteúdos ligados à tributação.

No que se refere ao âmbito educacional, são vários os estudantes da rede

oficial de ensino que pertencem às comunidades menos atendidas por serviços

públicos essenciais, não só de natureza assistencial, mas também de transporte

coletivo, água, energia elétrica, esgoto, pavimentação.

Apesar dos direitos humanos serem reconhecidos logo ao nascer, nenhuma

pessoa já nasce cidadã. Ela se torna cidadã na medida em que participa da vida

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social e política da sociedade civil de forma efetivamente prática. E a escola, sendo

um processo de função humanizadora e socializadora; um processo voltado para o

desenvolvimento do ser humano de forma integral e também integrada à sociedade

torna-se, desta forma, um dos principais veículos capazes de promover a formação

e o exercício da cidadania.

Comprometida com a garantia do acesso aos saberes elaborados

socialmente, por se constituírem de instrumentos necessários para o

desenvolvimento, a socialização e o exercício da cidadania democrática, os

conteúdos ensinados pela instituição escolar devem estar em consonância com as

questões sociais que marcam cada momento histórico.

É preciso desenvolver nos alunos a consciência fiscal e de cidadania, visando

melhorar a relação entre cidadão e Estado. É essencial estimular os alunos ao

exercício de seus direitos e deveres de cidadania e à compreensão de todos os

aspectos que isso inclui, tais como fiscalizar a ação administrativa do Estado, pagar

em dia seus impostos, exigir o documento fiscal, exigir serviços de boa qualidade,

cobrar dos administradores, transparência na prestação de contas dos gastos

públicos e observar a atuação dos comerciantes. Essas atitudes irão colaborar para

o aprimoramento de uma consciência cívica em todo o Estado, o que levará a

melhores níveis de arrecadação, seja ela municipal, estadual ou federal e o retorno

se fará na forma daqueles serviços que forem mais adequados à população.

É importante destacar que a escola é uma instituição que se coloca realmente

a serviço dos interesses populares e, desta forma, é preciso que os educadores se

esforcem para garantir a todos um ensino de qualidade. É tarefa da escola propiciar

aos indivíduos condições de igualdade em relação ao acesso do conhecimento a fim

de que eles tornem-se agentes da história, como cidadãos conscientes e também

ativos. E, para os educadores, como agentes da formação humana, não apenas do

conhecimento, mas também, e essencialmente, de valores e sentimentos, em uma

inter-relação constante com alunos, faz-se necessário o entendimento das questões

relacionadas à tributação que, afinal, direta ou indiretamente, não deixa de atingir a

toda população.

Através de uma prática docente comprometida com o processo de

apropriação e também de reapropriação do saber pelos alunos, a escola se faz

presente como instrumento capaz de propiciar condições de participação política.

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Sumariamente falando, a tributação vem a ser a maneira através da qual a

grande maioria dos recursos públicos é obtida. Existindo já, desde quando teve

início a organização política, social, cultural e econômica da sociedade. Pouco a

pouco, então, foi-se modificando, até que se tornou uma das mais importantes

formas de distribuição de riquezas e de rendas.

Sendo a escola um dos veículos de formação do cidadão pleno, cabe a ela,

inclusive, tornar compreensíveis os mecanismos tributários e sua implicação na vida

diária, o que, naturalmente, está inerente ao exercício da cidadania plena. Assim

sendo, um ensino para ser considerado de “qualidade” deve se preocupar em formar

cidadãos que sejam capazes de interferir de forma crítica na realidade a fim de

transformá-la; deve promover a integração de conteúdos socializadores à sua

prática pedagógica, buscando, assim, formar um cidadão crítico e atuante.

A Educação Fiscal deverá ser oferecida de forma multidisciplinar, sendo que o

educando deve ser capaz de diferenciar o coletivo do individual, vincular serviço

público ao recolhimento de tributos, exigir transparência e qualidade dos serviços

públicos, refletir, analisar e pensar criticamente, bem como exigir o cumprimento das

leis pelos governantes e também pela sociedade. Afinal, enquanto instituição social,

a escola tem como principal função o preparo dos membros da sociedade para a

totalidade da vida social.

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6 OS VALORES DA EDUCAÇÃO FISCAL

A quase totalidade da população praticamente desconhece o que significa

imposto no sentido social, econômico e financeiro, além das mais variadas formas

de tributação. Essa “alienação”, essa “ignorância”, não se prende apenas às

camadas mais baixas da população. Pelo contrário, atinge todas as camadas

sociais.

Colocando-se como uma das indispensáveis ferramentas quando se visa

tornar os indivíduos conscientes da necessidade de sua participação no processo

arrecadador do Estado é que aparece a educação fiscal.

A sociedade só terá membros conscientes de seus direitos e deveres,

participantes efetivos do processo social como cidadãos brasileiros, quando houver

a formação de uma verdadeira consciência fiscal.

Até o presente momento, a Educação FISCAL ainda não está sendo

sistematicamente ministrada, formando nos contribuintes do futuro a consciência de

seus direitos e deveres. Contudo, é preciso começar a fazer com que o contribuinte,

responsável pelo recolhimento do tributo, não deixe de se lembrar que ele é um

mero repassador desse tributo (no caso de tributos indiretos), que é pago pelo

consumidor quando adquire as mercadorias e os serviços, com o preço do imposto

já embutido no seu valor.

Todavia, é necessário que esse contribuinte tenha os seus direitos

resguardados e que seja tratado como um empreendedor do desenvolvimento

econômico do Estado. Pois, é certo que a participação nos empreendimentos em

prol do bem estar de todos é uma tarefa essencialmente do cidadão, muito antes de

ser tarefa apenas governamental.

Como já é sabido que, infelizmente, os níveis de sonegação fiscal no Brasil

são extremamente altos, é necessário o envolvimento de toda a sociedade – quem

paga impostos, efetivamente, é o consumidor. É facilmente perceptível que vários

problemas do atual sistema tributário são reflexo da falta de conscientização, por

parte da população, do que sejam os tributos e qual a importância dos mesmos no

que tange ao convívio social e a amenização e até, por que não dizer, à diminuição

das diferenças sociais.

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O número daqueles que deixam de recolher tributos é muito maior do que

aquele que o fisco consegue apurar. São várias as razões pelas quais isso acontece

como:

• deficiências no quadro de pessoal especializado em combater tais

acontecimentos;

• morosidade dos processos administrativos e judiciais para a cobrança;

• falta de conscientização da população quanto à importância dos tributos

para o funcionamento do Estado.

A sonegação deve ser combatida por todas as forças sociais, pois, todos os

esforços neste sentido contribuirão para a construção de uma sociedade mais justa

e harmônica. A conscientização do cidadão quanto à importância do tributo e ao

elevado grau de prejuízo para o Estado que representa o não recolhimento do

mesmo, servirá como contribuição quando da formação de cidadãos que,

procurando servir de exemplo, colaborarão no sentido de inibir aqueles que não se

incomodam de desfalcar o erário público.

A cidadania somente é exercida em sua plenitude através da participação

política e esta se torna concreta através da atuação do cidadão em defesa de

interesses específicos e no acompanhamento do que se passa na sociedade e no

Estado. Estar bem informado é essencial, pois somente aquele que sabe o que

acontece é capaz de formar uma opinião. Lado a lado com o consumidor – o

contribuinte de fato – “caminha” o cidadão e, indubitavelmente, o nível de

conscientização deste tem relação direta com a sua conscientização de “ser

contribuinte”.

Arrecadar impostos é importante, naturalmente. Mas, além disso, é também

necessário que os recursos públicos sejam geridos com eficiência e transparência. E

a população não pode se omitir no momento de colaborar na fiscalização das contas

públicas, afinal, esta é uma das fiscalizações das mais eficientes e que produz

resultados mais rapidamente no que se refere à transparência e qualidade nos

gastos públicos.

É preciso que o cidadão esteja consciente de que tanto os tributos que

sustentam a máquina estatal quanto os gastos despendidos por ela, são

determinados pelos representantes que, através do processo eleitoral, ele mesmo

escolhe. E a sociedade não pode se “calar” frente ao seu direito de saber quanto,

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como, onde e com que resultados é que estão sendo gastos os recursos que lhe são

tomados via tributação.

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7 EDUCAÇÃO FISCAL E DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

A Constituição Brasileira de 1988 – a exemplo de muitas outras existentes no

cenário internacional – instituiu formalmente um Estado Democrático de Direito, cuja

implementação fática está condicionada, fundamentalmente, à busca de uma

igualdade substancial, não meramente formal. Ou seja, não basta que todos aqueles

que estejam em situação equivalente sejam tratados de forma igual. Faz-se

necessário que o tratamento jurídico desigual, aplicável aos desiguais, tenha como

norte a redução das desigualdades fáticas (sociais e econômicas).

Esse novo modelo constitucional supera o esquema da igualdade formal rumo

à igualdade material, o que significa assumir uma posição de defesa e suporte da

Constituição, como fundamento do ordenamento jurídico e expressão de uma ordem

de convivência assentada em conteúdos materiais da vida e em um projeto de

superação da realidade alcançável com a integração das novas necessidades e a

resolução dos conflitos alinhados com os princípios e critérios de compensação

constitucionais.

Essa opção por uma nova concepção de Estado resta evidente na

Constituição Brasileira, sendo que bastaria examinar o disposto nos artigos 1º e 3.º

incisos I e III para concluir nesse sentido. Não é por acaso que o “caput” desse

dispositivo menciona que “constituem objetivos fundamentais da República

Federativa do Brasil” o exposto em seus incisos, a partir dos quais se vislumbra a

necessidade de, pelo menos, buscar o equilíbrio social mediante a redução das

desigualdades.

Quanto à importância, eficácia e vinculação do referidos dispositivos

constitucionais, cabe lembrar que a constituição de um Estado deve ser entendida

como algo que constitui, isto é, um determinado Estado passa a existir – é

constituído – por sua constituição.

Assim, para que seja eficaz, a constituição não pode ser vista como uma

mera “declaração de boas intenções” ou um texto programático, não-vinculativo.

Muito embora nem todos os preceitos constitucionais tenham o mesmo grau de

concretização, atualmente já não cabe falar das constituições como meras

declarações programáticas ou de princípios: toda constituição é uma norma jurídica

e como tal goza da qualidade de exigibilidade e coerção para seu cumprimento.

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No Brasil, a Constituição de 1988 instituiu um Estado Democrático de Direito

que difere substancialmente do modelo de Estado até então vigente. Esse novo

modelo foi inspirado nas constituições dirigentes, surgidas na Europa do pós-guerra.

Conforme explica Canotilho (2006, p. 391), uma constituição dirigente:

Pressupõe que o Estado por ela conformado não seja um Estado mínimo, garantidor de uma ordem assente nos direitos individuais e no título de propriedade, mas um Estado Social, criador de bens colectivos e fornecedor de prestações. Para uns, isso significa a compreensão democrática e social do Estado de Direito; para outros, isso é o caminho do novo Leviathan, da ditadura de todos sobre todos, pois uma crescente produção de bens públicos através de uma crescente produção de leis e de financiamento coletivo aniquila a espontaneidade da ordem social e do modelo constitucional contratual.

Também é certo que esse Estado Democrático de Direito tem princípios que

lhe são peculiares, dentre os quais, principalmente, o princípio da dignidade da

pessoa humana, que pode ser entendido como valor guia do Ordenamento Jurídico

de um Estado dessa natureza e corresponde – em menor ou maior grau – ao

elemento comum dos direitos fundamentais.

Em decorrência disso, é o Estado que existe em função da pessoa humana, e

não o contrário, já que o homem constitui finalidade precípua e não meio da

atividade estatal. Considerando que todos os seres humanos são iguais em

dignidade, ninguém pode ser tratado como mero objeto, sendo que a dignidade –

intrínseca à condição humana – é irrenunciável e inalienável.

A igualdade tributária, por sua vez, dentro dessa nova concepção, deve ser

pensada a partir da idéia de que o Estado Brasileiro só pode ser considerado

legítimo se visar a substancializar a igualdade fática. Para tanto, é necessário fazer

uso de meios que, embora tradicionalmente estejam à disposição, não foram

utilizados de forma adequada, até o momento. Isso porque esses meios continuam

sendo pensados de acordo com a anacrônica concepção do Estado Liberal, outrora

vigente.

A tributação se constitui num dos principais instrumentos à redução das

desigualdades sociais e, via de conseqüência, à efetivação do próprio (novo) Estado

Democrático de Direito. Quando se pensa em igualdade tributária, tem-se em mente

que o sentido desse princípio constitucional deve ser construído de acordo com o

novo que está vigente. A igualdade não pode ser teoricamente justificada sobre

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alicerces que já não existem. É necessário, pois, livrar-se dos preconceitos

construídos a partir de uma realidade que hoje não se faz mais presente.

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8 CONCLUSÃO

Este trabalho foi realizado com a intenção de se pesquisar qual a contribuição

da Educação Fiscal para o desenvolvimento de um cidadão consciente de seus

direitos e deveres. Uma das situações mais comuns e graves nos dias atuais é o

cidadão confundir os governantes com o Estado e tratar as coisas públicas como se

não fossem suas e como se não fosse, ele cidadão, responsável pelo bem-estar

social.

A grande maioria dos erros cometidos pelo cidadão é decorrente de sua falta

de informação, por não saber desenvolver o seu papel enquanto membro de um

Estado. Estas situações de alienação e descompromisso afastam o cidadão do

poder público e isolam o governante, que fica mais livre, inclusive, para errar sozinho

e cometer desatinos.

A Educação Fiscal é um fator potencializador imprescindível nessa

capacidade de formar os cidadãos. Através da Educação Fiscal, será possível

conseguir condições ideais para o pleno exercício da cidadania, desenvolvendo no

cidadão a consciência de seus direitos e deveres e estimulando sua participação

para que o Estado seja mais eficiente. Conseguindo harmonizar e intensificar a

relação entre o Estado e o Cidadão, elevando a presença e a participação do

cidadão na vida do Estado, muitos outros impactos deverão ser registrados, como

uma mudança bem acentuada no ambiente social.

O Estado ao tentar levar ao conhecimento de toda a população a importância

da educação fiscal, está contribuindo para a qualidade de vida da população. A

nosso ver, o intuito do Estado não é somente aumentar a arrecadação, mas sim,

criar cidadãos com poder de refletir e pensar sobre o verdadeiro valor

socioeconômico dos tributos.

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