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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE
FACULDADE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACS
CURSO DE ENFERMAGEM
Breno Cangussú Serretti Leonel
Celma Maria de Jesus Silva
Osânia Alves Damasceno Souza
Regimara Martins Damasceno
Wellika Martins Lelis
O CONHECIMENTO DAS FAMÍLIAS SOBRE A ASSISTÊNCIA PRESTADA
AOS SEUS FAMILIARES EM PERMANÊNCIA DIA NO
CERSAM DE GOVERNADOR VALADARES
Governador Valadares
2009
1
BRENO CANGUSSÚ SERRETTI LEONEL
CELMA MARIA DE JESUS SILVA
OSÂNIA ALVES DAMASCENO SOUZA
REGIMARA MARTINS DAMASCENO
WELLIKA MARTINS LELIS
O CONHECIMENTO DAS FAMÍLIAS SOBRE A ASSISTÊNCIA PRESTADA
AOS SEUS FAMILIARES EM PERMANÊNCIA DIA NO
CERSAM DE GOVERNADOR VALADARES
Trabalho de Conclusão de Curso como exigência para obtenção do título de bacharel em Enfermagem pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Orientadora: Patrícia Malta Pinto
Governador Valadares
2009
2
Breno Cangussú Serretti Leonel
Celma Maria de Jesus Silva
Osânia Alves Damasceno Souza
Regimara Martins Damasceno
Wellika Martins Lelis
O CONHECIMENTO DAS FAMÍLIAS SOBRE A ASSISTÊNCIA PRESTADA
AOS SEUS FAMILIARES EM PERMANÊNCIA DIA NO
CERSAM DE GOVERNADOR VALADARES
Trabalho de Conclusão de Curso como exigência para obtenção do título de bacharel em Enfermagem pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE.
Governador Valadares, 23 de junho de 2009.
Banca examinadora:
___________________________________________________________ Profª Patrícia Malta Pinto – Orientadora
Universidade Vale do Rio Doce
___________________________________________________________ Profª Erick da Silva Ramalho
Universidade Vale do Rio Doce
___________________________________________________________ Profª Yara Maria Diniz Figueiredo
Universidade Vale do Rio Doce
___________________________________________________________ Profª Sheila Aparecida Ribeiro Furbino
Universidade Vale do Rio Doce
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Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus, pois
sem Ele nada seria possível e não estaríamos aqui
reunidos, desfrutando juntos destes momentos que nos
são tão importantes.
Aos pais, maridos e filhos, pelo esforço, dedicação e
compreensão, em todos os momentos desta e de outras
caminhadas.
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AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Deus, pelo dom da vida e pela presença paciente e misericordiosa
em todos os momentos de nossas vidas.
Aos pais, maridos, filhos pelo apoio incondicional e confiança em nossa vitória.
Aos colegas e amigos de sala que durante quatro anos compartilharam conosco
momentos de alegrias e tristezas.
À professora Yara, pelo apoio e incentivo para a realização deste trabalho.
À Secretaria Municipal de Saúde e ao CERSAM-GV, pela liberação da instituição
que nos abriu as portas permitindo a concretização desta pesquisa.
Em especial, a nossa orientadora Patrícia Malta, pela valiosa orientação e dedicação
permitindo a concretização deste trabalho.
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RESUMO
Este Trabalho de conclusão do curso de Enfermagem da UNIVALE tem como objetivo identificar o conhecimento e entendimento que as famílias dos portadores de transtorno mental têm sobre o tratamento prestado ao seu familiar no Centro de Referência em Saúde Mental do município de Governador Valadares - CERSAM. Para tanto, a pesquisa consubstanciou em dados teóricos, destacando-se, Gonçalves e Sena (2001); Foucault (2005); Lucchese (2005). Abordou-se no trabalho a história da psiquiatria, reforma psiquiátrica, a estruturação do CERSAM e conceitos de família e a relação desta com o portador de transtorno mental. Além disso, o estudo apontou existir um desafio a ser enfrentado que é a dificuldade de articulação entre a família e o serviço de saúde mental em prol da assistência do usuário, dificultando a manutenção do doente mental na família. Através da análise dos dados, feita por uma pesquisa de abordagem quantitativa e qualitativa descritiva, chegou-se a uma conclusão que as famílias pesquisadas não têm interação com o serviço prestado pelas redes substitutivas e pelos CAPS, em suas modalidades de atendimento.
Palavras-chave: Saúde mental, Família e Conhecimento.
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ABSTRACT
This Work of conclusion of the course of Nursing of UNIVALE has as objective identifies the knowledge and understanding that the families of the bearers of mental upset have on the treatment rendered relative in the Center of Reference in Mental Health of the district of Governador Valadares - CERSAM. For so much, the research based in theoretical data, standing out, Gonçalves and Sena (2001); Foucault (2005); Lucchese (2005). it was Approached in the work the history of the psychiatry, it reforms psychiatric, the structuring of CERSAM and family concepts and the relationship of this with the bearer of mental upset. Besides, the study pointed a challenge to exist to be faced that it is the occurrence of an important contradiction between the proposals of the psychiatric reform and the devolution or maintenance of the mental patient in the family. Through the analysis of the data, done by a research of quantitative and qualitative approach descriptive, it was reached a conclusion that the families don't have interaction with the service rendered by the nets substitute and for CAPS, in their service modalities. Key-words: Mental health, Family and Knowledge.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1 – Total de pacientes inscritos em Permanência Dia no CERSAM-GV
- Maio/2009........................................................................................................... 36
Gráfico 2 – Tempo de Permanência Dia no CERSAM-GV – Maio/2009.............. 37
Gráfico 3 – Tempo de tratamento no CERSAM-GV – Maio/2009...........……….. 38
Gráfico 4 – Motivos que levaram a família encaminhar seu familiar ao CERSAM
-GV-Maio/2009….................................................................................................. 39
Gráfico 5 – Compreensão dos familiares sobre o que e CERSAM
-GV-Maio/2009........................................................................................………... 40
Gráfico 6 – Conhecimento dos familiares sobre o tratamento oferecido ao
Paciente assistido - Maio/2009............................................................................ 41
Gráfico 7 – Crença na existência de outra forma de tratamento – Maio/2009..... 42
Gráfico 8 – Suporte psicológico oferecido aos familiares pelo CERSAM
-GV-Maio/2009..................................................................................................... 43
Gráfico 9 – Benefícios recebidos por órgãos públicos para auxiliar o familiar
– Maio/2009......................................................................................................... 44
Gráfico 10 – Conhecimento da família sobre o profissional de referencia do
Familiar-Maio/2009.............................................................................................. 45
Gráfico 11 – Satisfação acerca da assistência prestada no CERSAM
-GV-Maio/2009...................................................................................................... 46
Gráfico 12 – Percepção da família em relação tratamento ao familiar atendido
em outra unidade de saúde-Maio/2009................................................................ 47
Gráfico 13 – Tipo de responsável e/ou cuidador do portador de transtorno
Mental-Maio/2009................................................................................................. 48
Gráfico 14 – Conhecimento da família sobre a Reforma Psiquiátrica
e Desospitalizacao-Maio/2009.............................................................................. 49
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LISTA DE SIGLAS
CERSAM – Centro de Referencia em Saúde Mental
CAPS – Centro de atenção psicossocial
CAPS AD – Centro de Atenção psicossocial álcool e outras drogas
HPSP – Hospital Psiquiátrico São Pedro
NASF – Núcleo de atenção a Saúde da Família
NIAPS – Núcleo integrado de atenção psicossocial
PSF – Programa de Saúde da Família
SUS – Sistema Único de Saúde
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................11 2 REVISÃO DA LITERATURA ..........................................................................................14
2.1 DA HISTÓRIA DA LOUCURA À REFORMA PSIQUIÁTRICA: UMA REVISÃO 14 2.2 A FAMÍLIA E O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL.................................23 2.3 O CERSAM-GV E A PERMANÊNCIA DIA ...............................................................28
3 METODOLOGIA................................................................................................................33 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE ..................................................36 5 CONCLUSÃO......................................................................................................................51 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................54 ANEXOS .................................................................................................................................60
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1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa trata-se de um trabalho de conclusão do curso de
enfermagem cujo tema é: O conhecimento das famílias sobre a assistência prestada
aos seus familiares em Permanência Dia no CERSAM de Governador Valadares.
A ideia de trabalhar e problematizar essa temática partiu da experiência
vivenciada pelo grupo, em que a mãe de um amigo precisava de abrigo, pois ele não
tinha condições sócioeconômicas para os cuidados necessários. Embora a paciente
apresentasse uma estabilidade em seu quadro psíquico, os familiares não queriam
assumir a responsabilidade. Diante da dificuldade dessa pessoa, resolveu-se ajudá-
lo a encontrar um abrigo, o que pareceu ser uma luta em vão devido às novas
mudanças ocorridas com a Reforma Psiquiátrica, como objetivo a
desinstituicionalização e desospitalização.
A partir dessa vivência, perceberam-se as dificuldades que um portador de
transtorno mental, sem suporte familiar adequado, enfrenta para se integrar na
sociedade e como é importante o conhecimento do familiar sobre a proposta de
tratamento oferecida pela rede substitutiva.
A pergunta que suscitou a pesquisa foi: A família conhece o atendimento
prestado pelo CERSAM-GV ao seu familiar?
O trabalho teve como objetivo pesquisar sobre o conhecimento que as
famílias dos usuários do serviço saúde mental de Governador Valadares têm sobre
a assistência prestada no CERSAM.
Com essa proposta de análise, o desenvolvimento foi estruturado em três
partes, sendo a primeira, revisão de literatura, teve como embasamento teórico um
diálogo com autores, destacando-se, Gonçalves e Sena (2001); Foucault (2005);
Lucchese (2005), com abordagem sobre a construção histórica da loucura, os
princípios da reforma psiquiátrica brasileira, bem como, as singularidades do cuidar
de um doente mental na família, as dificuldades por ela enfrentadas, além da
contextualização do CERSAM de Governador Valadares no estudo.
Sabe-se que a assistência em saúde mental tem passado por
significativas transformações, e novas propostas de atendimento têm surgido
excluindo de vez do contexto da assistência em saúde mental, as práticas
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segregativas e isoladas do contexto social e familiar do portador de transtorno
mental.
Para Lucchese (2005), hoje a palavra de ordem é a promoção da saúde,
objetivando a reinserção e o resgate, autonomia e cidadania do portador de
sofrimento mental. A autora salienta que a loucura vem sendo estigmatizada ao
longo dos tempos e o tratamento recebido pelos ditos loucos era sinal de exclusão,
de reclusão e asilamento. O doente mental, o excluído do convívio dos iguais, dos
ditos normais, era então afastado dos donos da razão, dos produtivos e dos que não
ameaçavam a sociedade.
A proposta da Reforma Psiquiátrica visa socialização dos portadores de
sofrimento mental, destacando o desafio de dotar esse indivíduo de um mínimo de
recursos vitais que lhe permita independência para as atividades de vida diária e
exercício de cidadania. O sofrimento mental traz questões que devem ser
consideradas pela sociedade, na forma pela qual se pensa o conceito de cidadania,
uma vez que essas pessoas são privadas de seus direitos de uma forma
particularmente brutal. Um pobre, na rua ou na favela, pode ainda tentar defender-se
de muitas maneiras, adequadas ou não: pode esmolar, gritar, roubar e etc., no
entanto, um portador de sofrimento mental não tem sequer essas tristes alternativas,
pois está privado de qualquer chance de fazer-se ouvir (MINAS GERAIS , 2006).
Gonçalves e Sena (2001) alertam que há necessidade de distinguir nos
projetos da reforma a maneira como lidam com a desinstitucionalização. O conceito
de desinstitucionalização vem sofrendo uma verdadeira metamorfose, abrindo novas
possibilidades para o campo da reforma psiquiátrica.
Acrescentam Gonçalves e Sena (2001) a ocorrência de uma contradição
importante entre as propostas da reforma psiquiátrica e a devolução ou manutenção
do doente mental na família. O doente mental está sendo entregue à família sem o
devido conhecimento das reais necessidades e condições da família, especialmente,
das cuidadoras em termos materiais, psicossociais, de saúde e qualidade de vida,
aspectos esses profundamente interligados.
A família, muitas vezes, dedicada ao seu familiar doente, precisa se
reorganizar e, assim, sobrecargas lhes são acarretadas devido às mudanças em suas
rotinas, gastos financeiros além dos orçamentos previstos, ocasionando um grande
desgaste físico e emocional no cuidado ao doente.
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No capítulo Metodologia, explicou-se que a pesquisa de campo
desenvolvida foi de abordagem quantitativa e qualitativa descritiva, no CERSAM de
Governador Valadares, no mês de maio de 2009, onde foi aplicado um questionário
semiestruturado aos familiares dos pacientes em Permanência Dia.
No capítulo seguinte foram apresentados os dados com suas análises,
por amostragens, através de gráficos.
Com as coletas e as análises dos dados concluiu-se que as famílias não
têm interação com o serviço prestado pelas redes substitutivas e pelos CAPS, em
que concernem suas modalidades de atendimento.
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2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 DA HISTÓRIA DA LOUCURA À REFORMA PSIQUIÁTRICA: UMA REVISÃO
A constituição histórica do conceito de loucura começa com a história da
espécie humana e a sintomatologia apresenta-se ligada à vida social, assim a
definição de loucura sofreu modificações ao longo do tempo (JORGE; SILVA, 2000
apud LUCCHESE, 2005).
Na antiguidade pré-clássica, que compreende o período da invenção da
escrita até 600 anos a.C, as doenças eram explicadas como resultantes da ação
sobrenatural. No período clássico, filósofos gregos introduziram a ideia organicista
da loucura, isto é, o organismo humano é diferente de uma máquina.
Até o começo da Idade Média os tratamentos dispensados eram de apoio
e conforto aos doentes mentais. Os ditos loucos gozavam de certo grau de
liberdade.
Na Idade Média, século XV, desenvolveu-se duas tecnologias de cuidado
com a loucura: a inquisição e o banimento na Nau dos Loucos. A primeira foi uma
forma cruel de silenciar os detentores de saberes laicos, que ameaçavam o saber
secular aprisionado pelo clero. Nesse contingente, morreram mulheres que eram
consideradas bruxas, além de anatomistas, astrólogos, cantores e poetas que
disseminavam, por meio da arte, críticas sociais, além das histéricas, devassos,
pródigos e hereges (SILVA; FONSECA, 2003).
As pessoas consideradas loucas eram colocadas na Nau dos Loucos e
vagavam pelos rios europeus, até ancorar em algum lugar que o recolhiam ou que
os remetessem novamente ao destino da sua própria sorte.
Na paisagem imaginária da Renascença, a Nau dos Loucos ocupava um
espaço fundamental. Foucault (2005) via nessa circulação dos loucos mais do que
uma simples utilidade social visando à segurança dos cidadãos e evitando que os
loucos ficassem vagando dentro da cidade. Todo esse desejo de embarcar os
loucos em um navio simbolizava uma inquietude em relação à loucura no final da
Idade Média.
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No Renascimento o conceito de loucura se tornou ainda mais complexo.
Eram considerados cidadãos, os iguais, os ditos racionais e os normais. Aos
alienados, os desprovidos de razão, não eram reconhecidos como cidadãos e não
podiam participar das decisões sociais.
Baumgart (2006) mostra que com a retirada do doente mental da
convivência com os outros homens, ele passa a ser um “desprovido”, já que a
enfermidade mental resultaria com o decorrer do tempo num desaparecimento de
suas funções superiores. O culto à razão disseminado nesse período renascentista e
bem representado pela dúvida Cartesiana1 parece sentir-se ameaçado pela “não
razão” da loucura e, assim, ela de uma forma bem genérica passa a ser rotulada
sempre como uma não verdade.
Os loucos eram presos em casas de internação junto com mendigos,
desempregados, sifilíticos, místicos, feiticeiros, enfim a prisão era a forma
encontrada para manter a ordem. Nessa época a loucura ainda não era considerada
doença e sim abandono do caminho do bem e da razão.
Sabe-se que o século XVII criou vastas casas de internamento e, que
mais de um habitante em cada cem da cidade de Paris, viu-se fechado numa delas
por alguns meses (FOUCAULT, 2005).
Eles são mais mal tratados que os criminosos; eu os vi nus, ou vestidos de trapos, estirados no chão, defendidos da umidade do pavimento apenas por um pouco de palha. Eu os vi privados de ar para respirar, de água para matar a sede, e das coisas indispensáveis à vida. Eu os vi entregues às mãos de verdadeiros carcereiros, abandonados à vigilância brutal destes. Eu os vi em ambientes estreitos, sujos, com falta de ar, de luz, acorrentados em lugares nos quais se hesitaria até em guardar bestas ferozes, que os governos, por luxo e com grandes despesas, mantêm nas capitais (ESQUIROL, 1818 apud ROSA, 2003, p. 56).
Com essa citação, percebe-se que desde a Idade Média já existiam
mecanismos de exclusão do louco, ainda não é nesse ponto que a loucura vai ser
percebida como um fenômeno que requeira um saber específico, pois os primeiros
estabelecimentos criados para circunscrever a loucura destinavam-se simplesmente
a retirar do convívio social as pessoas que não se adaptavam a ele. Somente no
1Refere-se à filosofia de René Descartes que é caracterizada pelo racionalismo, pela consideração do problema como método para obtenção da verdade.
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próximo período histórico é que se transformará essa relação (SILVEIRA; BRAGA,
2005).
O internamento seria assim a eliminação espontânea dos “a-sociais”. A
era clássica teria neutralizado, com segura eficácia – tanto mais segura quanto cega
– àqueles que, não sem hesitação, nem perigo, eram distribuídos entre as prisões,
casas de correção, hospitais psiquiátricos ou gabinetes de psicanalistas
(FOUCAULT, 2005).
No final da Idade Média até a Idade Moderna o tratamento antes
humanitário foi mudado para espancamentos, privação de alimentos, tortura
generalizada e indiscriminada, aprisionamento dos doentes para que estes se
livrassem dessa possessão, e o doente mental passou a ser visto como o possuído
pelo demônio.
Para Foucault (2005) houve todo um aspecto, quase pedagógico, que fez
da casa de internamento uma espécie de casa de força para a verdade: aplicou-se
uma coação moral tão rigorosa quanto necessária para que a luz se tornasse
inevitável. O autor ainda acrescenta que a loucura é o ponto mais baixo da
humanidade na qual Deus consentiu sua encarnação, querendo mostrar com isso
que nada existe de inumano no homem que não possa ser resgatado e salvo. É
essa a lição que a loucura ainda fornece o século XVII.
Com o advento da psiquiatria em fins do século XVIII, ocorre a crítica do
internamento generalizado, e institui-se o asilo como lugar de confinamento e
tratamento especializado destinado aos loucos. O alienismo, como foi denominado
essa primeira psiquiatria, consolida-se nesse espaço asilar reformado, produzindo
uma nova percepção da loucura que se torna dominante, inscrevendo-a no domínio
médico como doença e incapacidade para o trabalho, ou impossibilidade de
integração social (PASSOS; FONSECA, 2003).
A partir desse século, o “louco” inicia um longo processo de exclusão
social, visto que passou a ser privado do convívio social, pois representava uma
ameaça à paz e à ordem social, e essa situação perdurou por dois séculos
(LUCCHESE, 2005).
Historicamente, é no século XIX que a loucura recebeu seu status de
doença mental. Até esse momento, os loucos eram confundidos com outras vítimas
da segregação. Isso ocorria em hospitais gerais porque eram espaços
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indiscriminados, voltados para o abrigo dos diversos desvalidos (SOUZA; SPADINI,
2005).
Nesse mesmo século iniciou-se o conceito da doença. Phillippe Pinel,
considerado o pai da psiquiatria, entendeu que o doente mental precisava ser
tratado como um doente que necessitava de um espaço próprio e de atendimento
médico (LOPES, 2001).
Analisa essa autora que Pinel teve o mérito em libertar os doentes
mentais das correntes. Tal procedimento possibilitou o nascimento da psiquiatria
positiva e o asilo, cujos manicômios que eram destinados somente a doentes
mentais. Desenvolveram-se com isso várias experiências e formas de tratamento
nos hospitais La Bicêtre e Salpêtrière que se difundiram da França para o resto da
Europa.
O tratamento Moral era a reeducação do alienado, implicando respeito às
normas e desencorajamento das condutas inconvenientes:
A função disciplinadora do manicômio e do médico deve ser exercida como um perfeito equilíbrio entre firmeza e gentileza. Mais ainda, a permanência demorada do médico em contato com os doentes melhora seu conhecimento sobre os sintomas e sobre a evolução da loucura (LOPES, 2001, p. 02).
Com o tempo, as ideias corretivas para o comportamento dos hábitos dos
doentes, passaram a ser recursos de imposição da ordem e da disciplina
institucional, recursos esses que visavam naquele momento ao bem da instituição.
Tudo era justificado para submeter o doente mental (LOPES, 2001).
No início do século XIX o tratamento do doente era uma releitura
distorcida do tratamento moral de Pinel e utilizava medidas físicas e higiênicas como
duchas, banhos frios, chicotadas, máquinas giratórias e sangrias. Aos poucos, o que
era considerado como uma doença moral passou também a ter uma concepção
orgânica, de acordo com o pensamento de vários discípulos de Pinel. As técnicas de
tratamento usadas pelos que defendiam as teorias organicistas eram as mesmas
empregadas pelos adeptos do tratamento moral, todas com explicações e
justificativas fisiológicas para sua utilização. A partir daí prevaleceram as teorias
organicistas da doença mental decorrentes de descobertas experimentais da
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neurofisiologia e da anatomia patológica. Mesmo assim, entrando no século XX a
ideia de submissão do louco persistia (LOPES, 2001).
Os hospitais psiquiátricos no Brasil surgiram no final do século XIX,
profundamente influenciados pela psiquiatria francesa e pelo tratamento moral. O
primeiro foi o Asilo Pedro II, no Rio de Janeiro e o Hospício São Pedro de Porto
Alegre, hoje Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP), inaugurado em 1884.
O século XX foi marcado pelo aumento do número de manicômios, maus
tratos, isolamento, abandono, péssima condição de isolamento e hospedagem. Com
isso, a internação favorecia a cronicidade da doença e visava lucros, assim a
assistência psiquiátrica alcançou níveis desproporcionais (MINAS GERAIS, 2006).
Lucchese (2005) e Resende (2000) afirmam que nessa época são
consolidadas as práticas asilares e florescem as terapias: medicamentosas,
eletroconvulsoterapia, choque insulínico, lobotomia, contenção física e estada em
solitárias.
Assim, as Santas Casas passam a incluir entre seus hóspedes, os
doentes mentais, destinando-lhes tratamento diferenciado dos demais, pois eram
trancados em porões, sem assistência médica. Aqueles que não eram atendidos
nesse local restavam-lhes as prisões, onde o doente dividia celas com criminosos,
bêbados e arruaceiros (LUCCHESE, 2005).
Nesses hospitais, o cuidado com o louco era limitado, incluindo a
alimentação e, às vezes, o vestuário. Não havia uma assistência especializada.
Ocorriam espancamentos e contenção em tronco, como forma de tratamento de
seus delírios e agitação, o doente era entregue aos guardas e carcereiros, jogados
em porões fétidos e sofriam maus tratos, resultando em alto índice de mortalidade
(GUSSI 1987; TAVARES, 1997; BARROS; ERGY, 2001 apud LUCCHESE, 2005).
Freud2 fez uma crítica ao asilo e colocou o homem no centro da atenção
psiquiátrica fazendo a história dos sintomas e do homem, o que resultou na
psicanálise. No século XX, foram significativas as contribuições trazidas pela
neuropsiquiatria (SOUZA; SPADINI, 2005).
Após a segunda guerra mundial essa forma de tratar o louco mudou,
principalmente, na Europa em decorrência da necessidade de reabilitar os egressos
de guerra para o retorno ao mercado de trabalho.
2 Sigmund Freud (1856-1939) médico neurologista judeu-austríaco criador da psicanálise.
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A II Grande Guerra subverteu a estabilidade socioeconômica, a política
mundial, destacando-se a do Continente europeu. Esses se viram de um momento
para o outro privados de boa parte de sua mão de obra ativa que sustentava o
andamento da vida das nacionalidades lançadas às frentes de batalha, gerando
fissuras profundas nas suas estruturas econômicas que, já fragilizadas, tinham ainda
que manter uma longa guerra, representando um desgaste suplementar ao
funcionamento da economia (BIRMAN; COSTA, 1994).
Com isso houve a “escassez da mão de obra” e a necessidade da
revalorização do trabalho humano para torná-lo disponível para o processo
produtivo. Eram situações históricas de guerra em que se reforçou a solidariedade
nacional e as exigências de recuperação das pessoas, especialmente os soldados,
lesados nos conflitos bélicos.
Vasconcelos (1992) apud Rosa (2008) elenca exatamente essas
condições históricas como propiciadoras para a emergência de processos de
reforma psiquiátrica, isto é, para processos de alterações nos saberes e nas práticas
de intervenção psiquiátrica, que pretendem modificar a relação entre a sociedade e
a loucura.
Enquanto o mundo caminhava no sentido da desospitalização, no Brasil
o caminho era inverso. A história política social do Brasil é observada nos anos 50
com a crescente industrialização do país e o crescimento do complexo médico
hospitalar, no qual a assistência era prioritariamente previdenciária e os
investimentos da esfera pública se destinavam à construção de grandes hospitais
para previdenciários e de compras de serviços de hospitais privados (OGATA,
2000).
No fim dos anos 50 a situação psiquiátrica brasileira era caótica,
superlotação, maus tratos, condições de abrigos deploráveis. Ocorreu nesse período
a descoberta das drogas antipsicóticas.
Tavares (1997) apud Ferreira (2006) descreve a década de 50 do século
XX por meio de dois grandes marcos: o primeiro é o surgimento dos neurolépticos e
antipsicóticos; o segundo, a utilização da psicanálise. As drogas determinaram a
medicalização do doente e a psicanálise induziu a valorização dos aspectos
psicológicos do comportamento humano, refletindo em uma tímida relação dos
aspectos clínicos da doença com os psicólogos. Mesmo diante de tais avanços, os
20
hospitais asilares continuavam a crescerem motivados pelo poder público e a
assistência de enfermagem mantém-se controladora e disciplinadora.
Lucchese (2005) relata que a situação perdurou desde a criação do
hospício D. Pedro II, em 1841, até as últimas décadas do século XX, quando as
maiores frentes de indignação à assistência ao portador de sofrimento psíquico
(profissionais da área de saúde, familiares e doentes) vieram a público e iniciaram
um movimento para mudar a situação de maus tratos, superlotação dos hospitais
asilares e inovação dos modelos assistenciais.
Na década de 60 começaram a surgir movimentos que buscavam a
mudança do modelo assistencial psiquiátrico, no qual a psiquiatria era questionada,
sobretudo suas bases de conhecimento, surgindo a antipsiquiatria que vem
descrever a loucura como um produto da realidade social (OGATA, 2000).
Para Amarante (1995), a partir da reabertura democrática, no final da
década de 1970, começou-se um processo de denúncia da submissão dos usuários
de serviços de saúde mental, (majoritariamente mantidos em asilos psiquiátricos
com torturas, tratamentos medicamentosos em dosagem excessiva, eletrochoques e
contenção física prolongada) com o episódio conhecido como a "crise da DINSAM",
ocorrido nos quatros hospitais da Divisão Nacional de Saúde Mental do Ministério da
Saúde, no Rio de Janeiro, no primeiro trimestre de 1978. Esse um movimento que
envolveu grande número de "bolsistas", profissionais que atuavam na prestação de
assistência nas unidades (AMARANTE, 1995).
O Movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil tem caráter
autenticamente democrático e social, pois busca os direitos do doente como ser
humano, defendendo sua cidadania e novas formas de tratamento. Além disso, luta
por mudanças de hábitos culturais, por novas tecnologias e por uma nova ética na
assistência ao doente mental. Assim, a reforma coloca um novo olhar à psiquiatria,
ou seja, da saúde mental. Com essa nova concepção, houve a criação de novos
modelos de atendimento, como serviços básicos e comunidades terapêuticas
(SOUZA; SPADINI, 2005).
A partir da organização do Movimento de Trabalhadores em Saúde
Mental (MTSM), foram denunciadas corrupções, fraudes, negligência, ausência de
recursos e "psiquiatrização do social" no âmbito do subsetor da saúde mental
(AMARANTE, 1995).
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Salienta Amarante (1995) que esse movimento teve tal formado com
intuito de impulsionar as discussões acerca da desinstitucionalização.
A reforma psiquiátrica no Brasil é um movimento histórico de caráter
político, social e econômico, influenciado pela ideologia de grupos dominantes. A
práxis - ação concreta - da reforma psiquiátrica faz parte do cotidiano de um bom
número de profissionais de saúde mental (GONÇALVES; SENA, 2001).
Os mesmos autores afirmam que o movimento aponta as inconveniências
do modelo que fundamentou os paradigmas da psiquiatria clássica e tornou o
hospital psiquiátrico a única alternativa de tratamento, facilitando a cronicidade e a
exclusão dos doentes mentais em todo o país.
Além desses pontos, o movimento tem como uma das vertentes principais
a desinstitucionalização com consequente desconstrução do manicômio e dos
paradigmas que o sustentam. A substituição progressiva dos manicômios por outras
práticas terapêuticas é uma exigência incontornável para a recuperação da
cidadania do doente mental, e vem sendo objeto de discussão não só entre os
profissionais de saúde, mas também em toda a sociedade (GONÇALVES; SENA,
2001).
Para Amarante (1994 p. 999), a Reforma Psiquiátrica brasileira teve
importantes desdobramentos, a partir da década de 80 do século XX, que a definem
como “o conjunto de iniciativas políticas, sociais, culturais, administrativas e jurídicas
que visam transformar a relação da sociedade para com o doente”. Assim, a reforma
psiquiátrica almejada busca transformações amplas, envolvendo o saber médico-
psiquiátrico e as relações sociais nos campos da ética, cultura e cidadania.
Na mesma década, no Congresso Nacional, o deputado Paulo Delgado
(PT/MG) faz o Projeto de Lei que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa
com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. É o
início das lutas do movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativos e
normativos (BRASIL, 2005).
Somente após 12 anos de tramitação no Congresso Nacional, a Lei n.
10.216 (ANEXO A) foi finalmente sancionada pelo Presidente da República em 6 de
abril de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de
transtornos mentais. A lei em questão proíbe, em todo o Brasil, a construção de
novos hospitais psiquiátricos e a contratação pelo serviço público de leitos e
unidades particulares para esse fim e estabelece que os tratamentos devem ser
22
realizados, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental e, como
finalidade primordial, procurar a reinserção social do doente mental em seu meio. A
internação só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem
insuficientes.
Rotelli (2001) adverte para a distinção entre desinstitucionalização e
desospitalização. Essa última, apenas retira as pessoas de dentro dos hospitais
psiquiátricos, sem proporcionar uma rede de atenção que a substitua e sem criar
uma alteração na forma da sociedade lidar com o “problema mental“.
Com a desospitalização, surgem novos serviços, denominados de CAPS e
Hospitais-Dia. Tais serviços são caracterizados como estruturas intermediárias entre
a internação integral e a vida comunitária. Eles são impulsionados pelos projetos de
reforma psiquiátrica, que vêm sendo implementados em grande parte dos Estados
brasileiros (ANTUNES; QUEIROZ, 2007).
As modalidades de atendimento no CAPS constituem um universo de
prática, que visa dar suporte ao paciente em crise, envolvendo não só o tratamento
clínico, mas uma compreensão da situação que o circunda, com intervenções que
têm por objetivo assegurar sua reinserção no contexto social e familiar. Esse
procedimento, nos primórdios da psiquiatria, não o acompanhava, além de
permanecer totalmente alheio e sem participar ou interessar-se pelo "tratamento"
que era oferecido (AMARANTE, 1994).
O adoecer psíquico é facilmente percebido, pois em geral, os indivíduos
que adoecem apresentam comportamentos diferentes daqueles que normalmente
são aceitos pela sociedade. Assim, não sendo entendida pela comunidade como
uma doença de causa já bem conhecida, tem sua definição pela determinação
cultural e de valores, e não apenas por fatores biológicos. Existindo assim, o
paradigma da exclusão social que se resume em isolamento dos doentes que não
são aceitos dentro dos padrões habituais (LUCCHESE, 2005).
Observa-se ao longo desta retrospectiva histórica, que aquele
denominado louco passa por diversas formas inscrição social, da convivência que
era permitida tanto na Idade Média, ao enclausuramento e maus tatos que se
sustentou, até a reforma psiquiátrica que veio propor a assistência humanizada,
tratamento de portas abertas e retorno ao convívio familiar e social.
Essa situação aponta para uma nova realidade, a família que até meados
da década de 80 não tinha participação ativa e nem convivência com o portador de
23
transtorno mental, agora se vê parte ativa e fundamental para o bom andamento do
tratamento, ou seja, a loucura agora se encontra na sala de estar.
Quanto ao processo de desinstitucionalização do paciente de saúde
mental, distingui-se pelo objetivo que possui em viabilizar a saída dos pacientes dos
hospitais e seu retorno para suas casas, para junto de suas famílias.
2.2 A FAMÍLIA E O PORTADOR DE TRANSTORNO MENTAL
Com as novas mudanças ocorridas no campo da Reforma Psiquiátrica a
unidade familiar assume um importante papel no cuidado e na ressocialização
daqueles que sofrem de enfermidade mental. Portanto, é necessário conhecer o
universo familiar e como seus integrantes reagem e convivem com o sofrimento
psíquico (BORBA; SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).
Nesse contexto ela passa a ser incorporada no processo terapêutico,
contribuindo com reabilitação psicossocial do usuário.
Dois desafios atuais apresentam-se no campo da Saúde Mental:
compreender as famílias, considerando-se a especificidade e a diversidade dos
contextos culturais onde estão inseridas, e prestar-lhes assistência condizente com
esses contextos e sua dinâmica própria (SOUZA; SCATENA, 2009).
A família é constituída num espaço onde os indivíduos iniciam seus
processos de formação. É a base para incorporar padrões de comportamento,
valores morais, sociais, éticos e espirituais, entre tantos outros. O núcleo familiar
participa da formação da personalidade e contribui para a consolidação do caráter,
adoção de noções de ética e solidariedade (MACÊDO; MONTEIRO, 2006)
Para Kaloustian (1994) a família é o espaço indispensável para a garantia
da sobrevivência, do desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais
membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vem se
estruturando.
A família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção e a
socialização dos indivíduos, independente das múltiplas formas e contornos que ela
assuma, é nela que se inicia o aprendizado dos afetos e das relações sociais
(BORBA; SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).
Na cultura ocidental, uma família é definida especificamente como um
grupo de pessoas do mesmo sangue, ou unidas legalmente (como no casamento e
24
na adoção). Muitos etnólogos argumentam que a noção de "sangue" como elemento
de unificação familiar deve ser entendida metaforicamente; dizem que em muitas
sociedades e culturas não ocidentais a família é definida por outros conceitos que
não "sangue" (SETTON, 2002).
O conceito de família tem se ampliado, novas relações têm se
estabelecido e segundo Setton (2002), a família vem se transformando através dos
tempos, acompanhando as mudanças religiosas, econômicas e sócio-culturais do
contexto em que se encontram inseridas. Esse é um espaço sócio-cultural que deve
ser continuamente renovado e reconstruído.
Nesse sentido é importante compreender a visão de família predominante
na sociedade, a representação social que se tem de família é aquela da classe
dominante, que estabeleceu padrões sociais de “ser família" e ficou como modelo
para toda a sociedade não levando em conta as determinações sociais e históricas
de cada indivíduo.
De acordo com Silva (2002), este modelo de família burguesa está
ultrapassado, não podemos dizer que família é a célula mater da sociedade, porque
nos últimos séculos o mundo passou por intensas transformações sociais e
marcantes mudanças culturais e valorativas.
As mudanças ocorridas na família relacionam-se com a luta pela
sobrevivência. Vivemos numa sociedade onde é preciso trabalhar muito, onde a
supervalorização do trabalho é uma exigência do mundo capitalista; o amor, o
casamento, a família, a sexualidade e o trabalho, antes vividos a partir de papéis
preestabelecidos, agora não são mais, pois muitas vezes uma só pessoa tem que
viver vários papéis ao mesmo tempo (SILVA, 2002).
Mas, mesmo apresentando conformações diferentes, a função de família
ainda se mantém a mesma, segundo Moraski e Hildebrandt (2005) a família é
entendida como um grupo capaz de interagir entre si e de compartilhar significados
de suas experiências existenciais, constituindo-se no alicerce da sociedade. Cada
família traz em si uma história de vida, de valores, de crenças, de conceitos e
culturas, perpetuados ao longo de sua trajetória social.
Percebe-se em todas as definições de família, o enfoque que se é dado é
a função de suporte e formação aos seus membros, portanto, esse núcleo é peça
importante no processo de tratamento, pois é no seio dessa família que inicia o
25
processo de adoecimento e de seu reconhecimento, resultando a busca de
tratamento.
Para Serra (1999) apud Setton (2002) a família tem como função
primordial a de proteção tendo sobretudo, potencialidades para dar apoio emocional
para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva
contra agressões externas. Para Fallon (1999) apud Setton (2002) reforça ainda
que, a família ajuda a manter a saúde física e mental do indivíduo, por constituir o
maior recurso natural para lidar com situações potenciadoras de stress associadas à
vida na comunidade.
Moreno (2000) elucida que a família é o receptáculo da vida e também a
célula básica da sociedade. Portanto, sofre os danos causados pela doença mental,
principalmente por esta ser uma patologia com manifestações na esfera social.
A forma como a família vai se relacionar com o processo de adoecimento,
será pautada na sua história e nas concepções socioculturais:
A família é um sistema no qual se conjugam valores, crenças, conhecimentos e práticas, formando um modelo explicativo de saúde-doença, através do qual a família desenvolve sua dinâmica de funcionamento, promovendo a saúde, prevenindo e tratando a doença de seus membros (ELSEN, 2002 apud SIMIONATO; OLIVEIRA, 2003, p. 01).
As famílias como agregações sociais, ao longo dos tempos, assumem ou
renunciam funções de proteção e socialização dos seus membros, como resposta às
necessidades da sociedade pertencente. Nessa perspectiva, as funções da família
regem-se por dois objetivos, sendo um de nível interno, como a proteção
psicossocial dos membros, e o outro de nível externo, como a acomodação a uma
cultura e sua transmissão. A família deve então, responder às mudanças externas e
internas de modo a atender às novas circunstâncias sem, no entanto, perder a
continuidade, proporcionando sempre um esquema de referência para os seus
membros (MINUCHIN, 1990 apud SETTON, 2002).
Segundo Duvall e Miller apud Setton (2002) pode-se definir como
funções familiares, as seguintes: “geradora de afeto”, entre os membros da família;
“proporcionadora de segurança e aceitação pessoal”, promovendo um
desenvolvimento pessoal natural; “proporcionadora de satisfação e sentimento de
utilidade”, através das atividades que satisfazem os membros da família;
26
“asseguradora da continuidade das relações”, proporcionando relações duradouras
entre os familiares; “proporcionadora de estabilidade e socialização”, assegurando a
continuidade da cultura da sociedade correspondente; “impositora da autoridade e
do sentimento do que é correto”, relacionado com a aprendizagem das regras,
normas, direitos e obrigações características das sociedades humanas.
Para além destas funções, Stanhope (1999) apud Setton (2002)
acrescenta ainda uma função relativa à saúde, na medida em que a família protege
a saúde dos seus membros, transmite apoio e resposta às necessidades básicas em
situações de doença.
O aparecimento da doença é algo que desestabiliza o meio famíliar e
cada família reagirá de uma forma.
O fato de uma pessoa da família apresentar um transtorno mental afeta
os familiares de diversas maneiras. Eles podem experimentar uma variedade de
emoções, como a culpa, a raiva e até mesmo a negação da doença. Não se pode
esperar que a família seja capaz de fornecer auxílio imediato e apoio ao paciente
(CABRAL; CHAVES, 2005).
De acordo com Nasi e Hildebrandt (2004), com o surgimento da doença
os familiares demonstram-se ansiosos e despreparados para tal situação, isso
porque há poucas respostas para as suas inquietações, por isso ficam nervosos,
ansiosos e com medo,
Segundo Navarini e Hirdes (2008), o diagnóstico de doença mental pode
gerar também um sentimento inexplicável, um vazio, uma baixa condição da
qualidade de vida. Além dos já citados como o medo, a tristeza, a vergonha e a
piedade.
O modo como a família interpreta a doença mental de um dos seus
membros influencia as práticas de cuidado adotadas por ela e, assim, o sucesso na
reabilitação depende das relações estabelecidas entre aquele que cuida e o que é
cuidado (TRAJANO, 2009).
Segundo Borba, Schwartz e Kantorski (2008), a convivência com o
transtorno mental implica em sobrecarga caracterizada por dificuldades como:
problemas no relacionamento com o familiar, estresse por conviverem com o humor
instável e a dependência do portador de sofrimento psíquico, bem como o medo das
recaídas e do comportamento no período das crises.
27
O adoecimento provoca diversos impactos no seio familiar, sentimentos
diversos e contraditórios, o adoecimento de seu membro reflete em toda a estrutura
familiar, portanto, essa família necessita ser acolhida e não somente
responsabilizada.
De acordo com Borba, Schwartz e Kantorski (2008), as possibilidades de
trocas afetivas que, de fato, sejam verdadeiras ficam reduzidas, impondo aos
familiares a vivência de sentimentos e emoções que são difíceis de elaborar e
entender. Isso evidencia a necessidade de intervenção que acolha o sofrimento
apresentado, considerando a subjetividade e individualidade das pessoas.
Hoje, o sistema de atenção à saúde mental, pautado em todo o processo
de reforma psiquiátrica não pode desconsiderar o contexto familiar, bem como o
social no programa de tratamento da pessoa com transtorno mental, seria uma
assistência falha ao negligenciar esses aspectos.
A ênfase do modelo atual em saúde mental é o tratamento do portador
de sofrimento psíquico no seio da família. Ela passa a ser incorporada no processo
terapêutico, contribuindo com reabilitação psicossocial do usuário. Antes, ela se
mantinha afastada, como simples observadora dos acontecimentos; hoje, o serviço
precisa estar com as portas abertas à inserção dessa família, integrando-a e
incentivando sua participação frente às atividades desenvolvidas pelo serviço, ao
mesmo tempo, dando suporte para que essa possa conjuntamente contribuir para a
manutenção da saúde do usuário do serviço (BIELEMANN et al., 2009).
A estrutura familiar adequada é importante para viabilizar uma proposta
de reinserção na sociedade. Sendo a família a matriz que sustenta seus membros,
dá-se a necessidade de valorizar o envolvimento com o portador de transtorno
mental, uma vez que, o elo afetivo é estabelecido entre as partes.
Nesse contexto, Souza e Spadini (2005) afirmam que as ações dirigidas à
família de portadores de transtorno mental devem estruturar-se de modo a favorecer
e fortalecer a relação familiar/profissional/serviço, entendendo que o familiar é
fundamental no tratamento dispensado ao doente mental.
Além disso, é necessário que os integrantes “sadios” do núcleo familiar dêem conta de todas as atividades cotidianas, inclusive aquelas atribuídas ao doente mental antes da exacerbação dos sintomas. Com isso a família vai se desgastando em conviver com a pessoa portadora de transtorno mental acarretando sobrecarga física e emocional, privando-se da sua
28
própria saúde para poder prestar assistência adequada ao doente. É o comportamento imprevisível do doente mental que debilita as expectativas sociais e origina incerteza e insegurança nos seus familiares (NASI; STUMM; HILDEBRANDT, 2004, p. 05).
Com base nessa citação, acredita-se que, qualquer tentativa de tratar o
indivíduo isoladamente de sua família é inútil para ele, pois os principais passos para
a promoção da saúde mental e seu tratamento devem ser planejados dentro do
contexto familiar. Isso porque, quando uma pessoa apresenta um problema mental,
não apenas ela sofre, mas também toda a sua família e, assim, todos precisam de
apoio e acompanhamento (SARACENO, 1996).
A família é responsável por promover o contato entre o doente e os
serviços de saúde existentes. Além disso, cabe a ela elaborar e redimensionar
valores e expectativas relacionadas ao cotidiano e ao futuro de seu familiar com
sofrimento psíquico. No entanto, existe a necessidade dos profissionais da área de
saúde mental em não se centrar apenas na pessoa doente, mas em toda a estrutura
da sociedade na qual está inserida (BIELEMANN et al., 2009).
Ao envolver a família no tratamento do portador de transtorno mental, e
ao dar suporte a essa para enfrentar as dificuldades no relacionamento com a
loucura e a sobrecarga, a carga emocional da família e do próprio usuário é
amenizada, aumentando o nível de interação e empatia entre eles (BORBA;
SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).
A família desenvolve estratégias e possui uma maneira peculiar de cuidar
que, às vezes, não se constitui na melhor forma, mas é a maneira como ela se
articulou para conseguir viver, uma vez que cuidar do portador de transtorno mental
não é tarefa fácil, principalmente no quadro avançado de cronificação (BORBA;
SCHWARTZ; KANTORSKI, 2008).
2.3 O CERSAM-GV E A PERMANÊNCIA DIA
Resgatando a história da saúde mental em Governador Valadares,
observa-se que até 1992, assim como no resto do país, a lógica de assistência a
saúde mental era pautada na internação. As pessoas com transtorno mental eram
29
encaminhadas para outras cidades como Barbacena e Belo Horizonte, visto que o
município de Governador Valadares não contava com hospital psiquiátrico e muito
menos com leitos em hospitais gerais para internações psiquiátricas (CAMPOS,
2002).
De acordo com Campos (2002), somente em 1992 foi inaugurado um
serviço especializado, o NIAPS (Núcleo integrado de Atenção Psicossocial) para
onde eram transferidos e cadastrados todos os pacientes da região. O NIAPS era
um dispositivo de atendimento ambulatorial em saúde mental e desde sua fundação
sofreu por excesso de demanda, por ser o único para atender Governador Valadares
e microrregião, voltado para atendimento em saúde mental de todos os tipos de
casos que eram encaminhados para essa unidade. Mesmo o município contando
com um serviço de saúde mental, havia os encaminhamentos para a internação
psiquiátrica feitas diretamente pelo hospital municipal, assistência social e em outros
municípios.
O mesmo autor enfatiza que com o avanço do processo de reforma
psiquiátrica e de expansão de novos dispositivos substitutivos de assistência à
saúde mental pelo país, o município de Governador Valadares se viu confrontada
com a necessidade de também implantar um CAPS para substituir a precária
estrutura ambulatorial, pois esse era considerado um dos principais dispositivos de
atendimento em saúde mental, segundo a lógica de uma alternativa ao hospital
psiquiátrico.
Segundo Maciel e Cunha (2008), os dispositivos substitutivos constituem
uma rede de serviços que se origina da política antimanicomial para substituir os
manicômios, lutando contra a exclusão dos portadores de sofrimento mental e contra
as más condições de atendimento a esses pacientes. O papel dos serviços
substitutivos era acabar com os manicômios num processo gradativo e dedicar
cuidados aos pacientes, com mais humanidade, tratando a saúde e cidadania como
um direito de todos os pacientes portadores de sofrimento mental.
A forma de abordagem é pautada pela busca do consentimento e da
participação do paciente e seus familiares em seu tratamento; da garantia de seu
pleno acesso aos serviços públicos; pela afirmação de seus direitos e pela sua
politização como protagonista do controle social (LOBOSQUE, 2003).
30
Somente em 2002 houve a implantação do CAPS II (CERSAM--GV), no
Município de Governador Valadares, que deste então vem tentando trabalhar de
acordo com os princípios da reforma psiquiátrica.
De acordo com a portaria Ministerial GM 336 de 02 de fevereiro de 2002,
cabe ao CAPS II a seguinte assistência aos pacientes:
a) atendimento individual (medicamentoso, psicoterápico, de orientação,
entre outros);
b) atendimento em grupos (psicoterapia, grupo operativo, atividades de
suporte social, entre outras);
c) atendimento em oficinas terapêuticas executadas por profissional de
nível superior ou nível médio;
d) visitas domiciliares;
e) atendimento à família;
f) atividades comunitárias enfocando a integração do doente mental na
comunidade e sua inserção familiar e social;
g) os pacientes assistidos em um turno (04 horas) receberão uma refeição
diária: os assistidos em dois turnos (08 horas) receberão duas
refeições diárias.
Hoje, o CERSAM-GV conta com aproximadamente 12.600 pacientes
inscritos e uma demanda sempre crescente.
O CERSAM-GV é composto por uma equipe multiprofissional formado por
Psicólogo; Assistente Social; Enfermeiro; Médico Clínico; Médico Psiquiatra;
Terapeuta Ocupacional; Profissionais de Nível Médio como atendentes, Técnicos de
Enfermagem e um Segurança.
As pessoas que chegam às unidades são atendidas por um de seus
profissionais de plantão que se torna referência do caso. Para cada paciente é
elaborado um plano de tratamento específico e as modalidades de uso da Instituição
são diversas. Em outras palavras, há pacientes inscritos na Permanência Dia, isto é,
permanecem todo o dia ou parte dele no CERSAM-GV e retornam para seus lares
no fim da tarde. A frequência dessa permanência é bastante variável. Com a
estabilização do quadro do paciente, juntamente com a manifestação de seu
interesse, deixar de frequentar cotidianamente o Serviço e, enfim, com o aval da
equipe, os pacientes em Permanência Dia passam ao regime ambulatorial. Nesse
caso, o usuário vai ao CERSAM-GV na periodicidade definida pelos profissionais de
31
sua referência, tanto para busca de medicamento, quanto para o atendimento
clínico.
O profissional que faz o primeiro atendimento, normalmente, passa a ser
o responsável pela condução do caso desse paciente.
Não somente o usuário, mas também sua família e a própria Instituição
tem esse profissional como referência em tudo o que disser respeito ao paciente,
desde a elaboração do plano de tratamento até a sua alta do serviço (PINTO, 2006).
Segundo Pinto (2006), em função da diversidade de profissionais
presentes na equipe, observa-se uma variedade de discursos, predominando o
discurso analítico, o discurso psicoterápico e o discurso médico. Com essa
diversidade de discursos possibilita práticas divergentes, como forma de viabilizar a
assistência e priorizar o atendimento aos casos graves. Para tanto, foi implantado
um protocolo de acolhimento, visando orientar a equipe.
A mesma autora afirma que no CERSAM-GV os atendimentos estão
pautados na remissão de sintomas, O que se experimenta no CERSAM-GV é muita
inquietação, tensão e discordância sobre o que fazer e como fazer. Porém, o guia é
claro, e demonstra como fazer para obter a tranquilidade e calmaria. Contudo, o
cotidiano do serviço remete a certo caos, como impossibilidades e impasses diante
das crescentes demandas do atendimento e, essas dificuldades do serviço, têm
afetado a construção clínica e implicando em diversos atravessamentos, propiciando
uma prática que foge aos princípios da reforma psiquiátrica.
O que caracteriza esse trabalho em equipe é a busca de resultados
comuns, cuja competência individual deve se conjugar em esforços para a
realização de ações de responsabilidade do conjunto de pessoas, numa relação de
interatividade, fundamental no desempenho coletivo. Nesse sentido, interatividade
diz respeito à permissividade, à participação, criatividade, complementaridade e
conduta centrada na própria responsabilidade e cooperativismo, levando a
resultados mais qualitativos (BOOG, 1994).
Entende-se que as equipes dos profissionais não são apenas como uma
forma de dividir o trabalho, em que cada um faz “a sua parte”, sem necessitar
preocupar-se com o produto total. Uma equipe de saúde deve compor-se de
profissionais de formações diferentes, assegurando assim a diversidade de suas
feições e a troca de suas experiências. Naturalmente, as especificidades das
diferentes profissões devem ser respeitadas. Contudo, o que caracteriza realmente o
32
trabalho em equipe é a capacidade de participar coletivamente da construção de um
projeto comum de trabalho, num processo de comunicação que propicie as trocas.
Assim, não se deve se limitar à aplicação de conhecimentos técnicos - que são
indispensáveis - mas aprender a atuar coletivamente, sem refugiar em interesses
corporativos ou individuais (MINAS GERAIS, 2006).
Nesse sentido, sua atuação evoluiu de uma postura de custódia, centrada
no atendimento das necessidades físicas e gerais dos pacientes, para,
progressivamente, incorporar uma abordagem psicológica e social, o que lhe
conferiu reconhecimento da equipe na abordagem ao paciente. A reorientação do
trabalho do enfermeiro vem exigindo dos profissionais uma melhor qualificação, já
que, se antes suas funções eram precisas e bem definidas, com a inserção em
novos modelos de atendimento, assumem responsabilidades inexploradas e ainda
pouco precisas (PEDUZZI,1998).
Bontempo (2004) esclarece que a Permanência Dia é um dispositivo
clínico intermediário entre a internação e o atendimento ambulatorial, e os motivos
para indicação dessa forma de tratamento podem ser: agitação psicomotora; hetero
e autoagressividade; observação para esclarecimento de diagnóstico; tentativa de
autoextermínio; ajuste de medicamento com casos até de adoecimento mental
associados ao uso abusivo de drogas e situação de risco pessoal e social.
Como dispositivo de atenção à saúde mental o Município conta com uma
rede específica dessa área composta pelo CERSAM-GV, CAPS-AD, Centro de
Convivência e o Ambulatório de Saúde Mental.
O município conta também com o apoio de equipes do Núcleo de apoio à
Saúde da Família (NASF) nos Programas de Saúde da Família - PSFs da cidade.
33
3 METODOLOGIA
De acordo com Minayo (1999) a pesquisa é entendida como uma
atividade básica da ciência na sua indagação da realidade. É a pesquisa que
alimenta a atividade de ensino e a alimenta frente à realidade do mundo.
Assim, o método utilizado foi uma pesquisa de campo transversal
exploratória com abordagem quantitativa e qualitativa descritiva associada com
pesquisa bibliográfica em relação ao tema proposto.
Para Richardson (1999, p.148) “O estudo de corte transversal, os dados
são coletados em um ponto no tempo, com base em uma amostra selecionada para
descrever uma população neste determinado momento”.
A primeira razão para se conduzir uma pesquisa quantitativa foi descobrir
quantas pessoas de uma determinada população compartilham uma característica
ou um grupo de características. Ela é especialmente projetada para gerar medidas
precisas e confiáveis que permitam uma análise estatística (INSTITUTO ETHOS DE
PESQUISA, 2008).
A pesquisa quantitativa é definida como sendo aquela que tem como
suporte, medidas e cálculos mensuráveis.
A pesquisa qualitativa trabalha com o subjetivo dos sujeitos e se preocupa
com uma realidade que não pode ser quantificada. De acordo com Siqueira (2005, p.
121) “Pode-se afirmar que não existe uma supremacia de uma abordagem sobre a
outra. Podem, até mesmo, ser usadas simultaneamente, consideradas como
complementares, permitindo um estudo mais eficiente do fenômeno estudado”.
Na abordagem qualitativa, o pesquisador procura aprofundar-se na
compreensão dos fenômenos que estuda – ações dos indivíduos, grupos ou
organizações em seu ambiente e contexto social – interpretando-os segundo a
perspectiva dos participantes da situação enfocada, sem se preocupar com
representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de
causa e efeito. Assim sendo, a interpretação, a consideração do pesquisador como
principal instrumento de investigação e a necessidade do pesquisador é estar em
contato direto e prolongado com o campo, para captar os significados dos
comportamentos observados, revelando-se como características da pesquisa
34
qualitativa (ALVES, 1991; GOLDENBERG, 1999; NEVES, 1996; PATTON, 2002
apud FERREIRA, 2006).
Os métodos qualitativos trazem contribuição ao trabalho de pesquisa, pois
apresentam uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de
contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. Segundo Aaker (2001) a
pesquisa qualitativa combinada ao método de pesquisa quantitativa pode ter
bastante utilidade para o estudo de determinados assuntos. E para melhor entender
o fenômeno abordado nesta pesquisa, será utilizada uma abordagem quantitativa
associada com abordagem qualitativa.
Richardson (1999) esclarece que o estudo exploratório é indicado quando
se tem uma ideia sobre o tema, mas que se busca mais informação sobre
determinado problema para melhor conhecer o fenômeno.
Segundo Costa (2001, p. 62) “a pesquisa descritiva é a mais tradicional
das pesquisas, ela descreve a característica de uma determinada população ou de
um determinado fenômeno”.
Campo é o lugar material onde acontecem os fatos fenômenos e processos, e a pesquisa de campo é aquela que recolhe os dados in natura como percebidos pelo observador. Os dados que captam no campo são sempre matéria prima para um raciocínio e conclusões a respeito dos fatos fenômenos e processos (COSTA, 2001, p. 62).
O campo de pesquisa foi a Permanência Dia do CERSAM - Centro de
Referência em Saúde Mental de Governador Valadares, tendo como objeto de
pesquisa, familiares de usuário atendidos na Permanência Dia deste centro.
O universo entrevistado foram os familiares dos usuários inscritos na
Permanência Dia do CERSAM-GV no mês de maio de 2009, totalizando 09
entrevistados. Dessa forma, foi entrevistado somente 01(um) familiar do paciente em
Permanência Dia, que é o membro da família responsável pelo acompanhamento do
tratamento feito nesse centro.
O familiar foi convidado a participar da pesquisa no CERSAM-GV durante
o processo de levar ou buscar o usuário para o tratamento na unidade.
A participação na pesquisa foi voluntária com consentimento livre e
esclarecido, com aprovação do Comitê de Ética. As coletas de dados foram
realizadas pelos acadêmicos do 8º período de Enfermagem da UNIVALE, em salas
35
apropriadas, garantindo privacidade dos entrevistados, através da aplicação de
questionário semi-estruturado (ANEXO A) aos familiares dos usuários da
Permanência Dia do CERSAM de Governador Valadares,
Esta pesquisa foi realizada por amostra probabilística aleatória simples e
finita. Para Lakatos (2007, p. 44) “A escolha de um indivíduo, entre uma população,
é ao acaso, e quando cada membro da população tem a mesma probabilidade de
ser escolhido”. Por amostra finita a autora esclarece que ocorre quando o universo é
menor que 100.000 participantes.
Critério para inclusão na pesquisa:
a) ser familiar de pacientes inscritos no CERSAM-GV e em permanência-
dia, entendendo como Permanência Dia o atendimento intensivo
destinado aos pacientes que, em função de seu quadro clínico atual,
necessitem de acompanhamento diário;
b) ser familiar que está acompanhando o tratamento em permanência-
dia;
c) ser familiar que aceite participar da pesquisa;
d) ser familiar maior de 18 anos.
O critério para exclusão:
a) não serão incluídos na pesquisa usuários que não têm família;
b) não aceitar participar da pesquisa;
c) ser familiar menor de 18 anos.
Ressalta-se ainda que, ao método utilizado na pesquisa, foram inseridos
relatos dos familiares transcritos integralmente - com todas as marcas da oralidade -
para consolidar e exemplificar as análises dos dados colhidos.
36
4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E ANÁLISE
Muitos familiares se veem desassistidos e sem ter o que fazer se recusam
a levar o paciente para casa. É importante ressaltar que quando uma família se
recusa em levar seu doente para casa é porque ela já foi abandonada pelo Estado,
pela falta de programas assistenciais que lhes garantam seus direitos (SILVA, 2002).
Esse louco por não ter na maioria dos casos uma família em condições de
dar-lhe cuidados e mantê-los em casa vai para as ruas e vive sua loucura nesses
espaços (FOUCAULT, 2005).
Com a criação dos serviços substitutivos, o dispositivo residencial
terapêutico se apresenta um instrumento de grande potencial, destinado a cuidar
dos portadores de transtornos mentais que não possuam suporte social e laços
familiares, com vistas a viabilizar sua inserção social (CADERNOS IPUB, 2006).
Assim, com a relevância desses dados teóricos, durante o processo de
pesquisa, pôde-se constatar que 25% do total de usuários em Permanência Dia não
tiveram seus familiares entrevistados por não ter um familiar envolvido no
tratamento, conforme dados no gráfico 1 a seguir.
Gráfico 1 – Total de pacientes inscritos em Permanência Dia no CERSAM-GV – Maio/2009
Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
75%
25%
Tem acompanhante Não tem acompanhante
37
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
60 dias 7 dias 330 dias 90 dias 30 dias 2 dias 4 dias
Nº
de
entr
evis
tad
os
Gráfico 2 – Tempo de Permanência Dia no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
O gráfico 2 aponta que a média do paciente em Permanência Dia é
variável, e de acordo com dados coletados no CERSAM-GV, esse tempo está
relacionado a critérios clínicos e sofre influência de fatores familiares e sociais.
Ao se estabelecer o projeto terapêutico do paciente de CAPS deve-se
definir a forma e a frequência do paciente no serviço.
Essas definições, considerando a gravidade do quadro e a intensidade
dos cuidados necessários, são feitas por meio de um acordo entre o técnico de
referência, o paciente e a família, variando ao longo do tratamento, conforme a
evolução do caso. Os critérios não podem ser burocratizados, dependendo
unicamente das condições clínicas de cada paciente (MINAS GERAIS, 2006).
Há alguns pacientes que não melhoram, ou melhoram muito lentamente
com recaídas muito próximas, de forma tal que acabam por tornar-se frequentadores
habituais do serviço, por ser essa a solução clinica mais adequada e, muitas vezes,
por um longo período de tempo (LOBOSQUE, 2003).
Após a estabilização do paciente, a continuidade do tratamento pode ser
em domicílio. Salienta Brasil (2005) que a distribuição da medicação dos pacientes
em atenção intensiva ou semi-intensiva poderá ser diária, semanal ou mensal, de
acordo com a capacidade da família em oferecer suporte adequado na
administração dos medicamentos aos pacientes.
38
11%
34%
11%
22%
22%2 meses
13 anos
8 anos
3 anos
não soube informar
Gráfico 3 – Tempo de tratamento no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Pôde-se detectar no gráfico 3 que os pacientes se encontram inscritos no
CERSAM-GV por longo período e, o tempo de inscrição no centro, não representa o
tempo de Permanência Dia.
Observou-se que 67% dos pacientes estão inscritos há mais de 3 anos na
unidade. Isso representa a peculiaridade da doença mental, em que na sua maioria
se trata de doenças crônicas passíveis de estabilização, mas que se tornam agudas
em determinados momentos.
O tempo de tratamento no CERSAM-GV varia muito, alguns pacientes
permanecem em tratamento desde o início do serviço em Governador Valadares,
outros iniciaram o tratamento em outros locais e são devolvidos ao CERSAM-GV.
Porém, a doença mental é considerada crônica e, por sua vez, o CERSAM-GV será
sempre sua referência.
De acordo com Castro e Piccinini, 2002, apud Ferreira (2006), a doença
crônica tem recebido cada vez mais atenção por parte dos profissionais de saúde e
das instituições dedicadas tanto ao tratamento quanto a pesquisa.
Nesse sentido, tem-se desenvolvido novas formas de se relacionar e
cuidar das pessoas portadoras de doenças crônicas, utilizando-se novas maneiras
de abordar o paciente e a família, priorizando a manutenção, mantendo o paciente o
mais possível em sua casa com os familiares, além de uma organização de equipes
que desenvolvam visitas domiciliares permanentes (SANTOS; SEBASTIANI, 1998).
39
É sabido que existem falhas na continuidade do tratamento para os
portadores de transtorno mental que afetam negativamente os resultados obtidos.
Alguns estudos apontam a dificuldade em manter o tratamento quando os pacientes
saem dos serviços de referência e são encaminhados para centros de saúde
(OLIVEIRA; CAIAFFA; CHERCHIGLIA 2008).
Solicitação Médica
Epilepsia
crise
Esquizofrenia
Gráfico 4 – Motivos que levaram a família encaminhar seu familiar ao CERSAM-GV – Maio/2009
Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
A maioria dos pacientes está em Permanência Dia por estar em crise e
apenas 33% estão por outros motivos. Abaixo, duas transcrições de relatos feitos
por familiares para corroborar os dados do gráfico 4:
“Ela é uma fraca, não aguenta nada, qualquer coisinha ela entra em crise
(M.A.S)”; “Aos dezoito anos ela arrancou a roupa, brincos, cordões, pulseiras, jogou
tudo pro alto e saiu correndo nua pela rua. Depois disso nunca mais foi a mesma (O.
P.L.)”.
Esse dado pode ser confirmado por Maciel e Cunha (2008) que afirma
que o CERSAM tem como proposta o atendimento de urgências psíquicas, bem
como o acompanhamento de pacientes de saúde mental em crise, ou seja,
psicóticos e neuróticos graves, egressos ou não do sistema hospitalar tradicional.
De acordo com Pinto (2006), como todo serviço de saúde mental, o
CERSAM segue as orientações da Portaria GM n. 336, de 19 de fevereiro de 2002,
e do manual do Ministério da Saúde que determinam que as pessoas atendidas nos
11% 11% 11%
67%
40
CAPS são aquelas que apresentam um intenso sofrimento psíquico que as
impossibilitam de viver e realizar seus projetos de vida. São, preferencialmente,
pessoas com transtornos mentais severos e/ou persistentes, ou seja, pessoas com
graves comprometimentos psíquicos, incluindo os transtornos relacionados às
substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) e também crianças e adolescentes
com transtornos mentais.
Há também pacientes muito graves que não se encontram em crise:
psicóticos por vezes “estáveis”, porém vivendo em situação de isolamento e apatia;
outros que vivem conflitos constantes com suas famílias; outros, ainda, que tiveram
sua integridade psíquica profundamente prejudicada por um longo tempo de
sofrimento mental e/ou por uma história de cronificação institucional. ((MINAS
GERAIS, 2006).)
67%
33%
Sim
Não
Gráfico 5 – Compreensão dos familiares sobre o que é CERSAM de Governador Valadares –
Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Um dado importante é que 67% dos usuários não souberam responder o
que é CERSAM-GV e qual sua finalidade em relação a 33% que afirmam saber de
dados apresentados no gráfico 5.
Esse dado pôde apontar para uma não inclusão desses familiares
pesquisados no processo de tratamento de seu familiar.
Rosa (2008) esclarece que a família, sobretudo na fase inicial do
transtorno mental, tem um papel fundamental na construção de uma nova trajetória
41
para seu ente enfermo, mas seus recursos emocionais, temporais e econômicos e
seus saberes têm que ser bem direcionados, cabendo nesse ponto uma contribuição
importante dos trabalhadores e dos serviços psiquiátricos. Portanto, cabe ao serviço
de saúde orientar a família, explicar o que se faz nesse setor.
Há uma tendência predominante em abordar a família como informante
da enfermidade, da trajetória do portador de transtorno mental e como visita. Mas
essa realidade não é mais possível nos serviços de saúde mental, esses devem
modernizar e impelida a incluir a família em seus projetos terapêuticos (ROSA,
2008).
56%
44%Sim
Não
Gráfico 6 – Conhecimento dos familiares sobre o tratamento oferecido ao paciente assistido –
Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
De acordo com os dados coletados e apresentados no gráfico 6, 44% dos
familiares entrevistados afirmam não saber qual tratamento é oferecido ao seu
familiar. De acordo com Benoit (1998), a respeito do que ocorre na família, a equipe
pouco sabe das coisas, ou melhor, recebe informações contraditórias e paradoxais.
E 56% relatam conhecer o tratamento, porém afirmam que o tratamento
está centrado na consulta médica e medicação, isso demonstra ainda a prevalência
do modelo médico.
Para Nasi, Stumm e Hildebrandt (2004) a família enfrenta situações de
dificuldades por não apresentar um conhecimento suficiente sobre a doença
42
vivenciada pelo seu familiar. Com isso, essa geralmente não compreende a
sintomatologia e a evolução do quadro clínico da patologia.
Gráfico 7 – Crença na existência de outra forma de tratamento – Maio/2009
Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Observou-se no gráfico 7, 67% acreditam que exista outra forma de
tratamento e 33% acreditam que não. Um relato que simboliza um desabafo de um
familiar diante a essa questão: “A única coisa que eu queria é ver meu filho
estabilizado (E. C. F.)”.
Segundo Rosa (2008, p. 247), a leitura lesional da doença busca, em
geral, uma causa orgânica para explicar o transtorno mental, até como forma de
aplacar o sentimento de culpa. Há uma intensa demanda por exame de
eletroencefalograma, sobretudo nas primeiras crises e nas primeiras internações
psiquiátricas. “As pessoas quando vêm fazer eletro querem que dê problema...
querem que dê positivo”. Querem ver objetivada a doença. A família transfere,
assim, toda sua esperança de cura para esfera organizacional, sobretudo para
intervenção médica.
67%
33%
SimNão
43
33%
67%
Sim Não
Gráfico 8 – Suporte psicológico oferecido aos familiares pelo CERSAM-GV – Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
De acordo com dados apresentados no gráfico 8 a maioria, 67%, dos
entrevistados afirma não receber nenhum tipo de apoio por parte do serviço, 33,3%
relatam ter apenas conversas com os psicólogos. Porém, essas conversas referem-
se aos pacientes, e não especificamente a ele, o cuidador: “Teve um dia que eu
fiquei tão estressada que fiquei oito dias sem ver cama. Tive que trancar ela num
quartinho, mas ela quebrava tudo (M.S.S.)”.
De acordo com os dados analisados percebeu-se uma contradição com a
proposta do serviço que precisa estar com as portas abertas à inserção dessa
família, integrando-a e incentivando-a na participação frente às atividades
desenvolvidas, ao mesmo tempo, dando suporte para que essa possa
conjuntamente contribuir para a manutenção da saúde do usuário do serviço
(BIELEMANN et al., 2009).
O sistema de atendimento que propõe a permanência do doente no
interior da família requer a necessidade de rever a relação entre o serviço, o
paciente e o núcleo da família. Esse triângulo pede transformações e envolvimento
dos seus integrantes (GALLIO, 1982).
Atualmente, entende-se a importância da participação da família no
tratamento, em cooperação com a equipe de saúde para recuperação do paciente.
Assim, um dos componentes principais para recuperação da pessoa que
se trata em um serviço de saúde mental é a ativa inserção da sua família no
desenvolvimento de estratégias que visem à reabilitação psicossocial.
44
Sim
Não
0
1
2
3
4
5
6
Nº
de
entr
evis
tad
os
Gráfico 9 – Benefícios recebidos pela família por órgãos públicos para auxiliar o familiar – Maio/2009
Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Dos entrevistados, 33% afirmam receber aposentadoria do familiar e 67%
não possuem nenhum benefício de órgãos públicos: “Gostaria que o INSS voltasse a
dar o auxilio doença dela porque a minha pensão não ta dando (M.S.S.)”.
A importância do apoio social é relativa, pois depende qual é o órgão que
oferece e quais são as necessidades de quem recebe. Os familiares tendem a
perceber o apoio social recebido como insuficiente. De qualquer forma, esse apoio
recebido pelas famílias, que têm um de seus membros doentes, tende a ser menor
do que o apoio social às famílias onde isso não ocorre (CASTRO; PICCININI, 2002,
apud FERREIRA, 2006).
Rosa (2008) afirma que a dificuldade financeira da família em arcar com
despesa diária dos portadores de transtorno mental é um entrave para o usufruto do
serviço de hospital-dia. Isso dificulta a assiduidade do paciente no serviço.
A família precisa ser vista não apenas como um recurso de um “lugar”
como outro qualquer. Evidentemente, é um espaço de afeto e relações
personalizadas significativas, mas nem sempre é vivenciada como um afeto positivo
tanto pelo portador de transtorno mental como pela própria família. O cuidado da
família não envolve somente amor, mas sim condições materiais concretas para o
paciente (SILVA, 2002).
33% 67%
45
Sim
Não
Gráfico 10 – Conhecimento da família sobre o profissional de referência do familiar – Maio/2009
Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
O gráfico 10 aponta que dentro da população entrevistada, 78%
conhecem e sabem o nome do profissional que acompanha seu familiar no serviço,
e 22% afirmam não saber quem é o profissional de referência.
Esse dado demonstrou que a família consegue reconhecer o profissional
que é a referência de seu familiar. O paciente é atendido por um profissional de nível
superior: psicólogo, psiquiatra, assistente social, terapeuta ocupacional etc – um
desses é o técnico de referência do paciente. É da alçada do técnico de referência
estabelecer e sustentar o vínculo com o paciente, traçar as linhas de seu projeto
terapêutico individual, definir com ele a frequência dos atendimentos e do
comparecimento ao serviço. Além disso, fazer os contatos com a família e com
outras pessoas do seu espaço social, sempre quando necessário (MINAS GERAIS,
2006).
Segundo Lobosque (2003) é preciso que o sujeito saiba sempre como
encontrar seu terapeuta – quem ele é, quando virá, quem responderá pessoalmente
por ele durante sua ausência.
22%
78%
46
56%
44% Sim
Não
Gráfico 11 – Satisfação acerca da assistência prestada no CERSAM de Governador Valadares –
Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Nos dados analisados e apresentados no gráfico 11, observou-se que
56% veem resultados no tratamento e relatam que é satisfatório. 44% acreditam que
não é o melhor tratamento e que há muito a melhorar: “Uma coisa que pode ser
resolvida num minuto aqui toma o dia todo (E.C.F)”; “Deveria ter um lugar para o
passar a noite para pacientes que não tem onde ficar (A.V.L)”.
O gráfico apresenta uma incoerência ao analisar o resultado, visto que se
a família não tem a interação direta com o serviço, conforme demonstrado no gráfico
8, não deveria dizer que é satisfatório.
Segundo Rosa (2008), a família utiliza vias indiretas para resolver falhas
que detecta na assistência prestada, como a reclamação. Mas, é uma reclamação
de cunho leve, pois há o medo de não contar com o recurso ou de entrar em
confronto com a instituição.
47
33%
56%
11%
Sim
Não
Não soube responder
Gráfico 12 – Percepção da família em relação tratamento ao familiar atendido em outra unid.de saúde
– Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Dos familiares entrevistados 56% não percebem um tratamento
diferenciado do seu familiar em outros serviços, 33% acreditam que tem certo
preconceito (ou presença do medo) e 11% não souberam responder.
Os próprios trabalhadores da unidade básica – os dos Programas de
Saúde da Família ao lado dos da Saúde Mental – podem desenvolver certas
iniciativas: eventos culturais, atividades esportivas ou de lazer, festas, encontros,
mostrando a esses usuários que se pode estar próximos a eles de uma ou outra
maneira, sem atrelar somente à presença de consultas ou remédios (MINAS
GERAIS, 2006).
Baseado nos princípios e diretrizes do SUS, o acesso deve ser igualitário
às ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde, o que implica a
ausência de discriminação ou privilégios de qualquer natureza, fazendo com que o
acesso ao serviço seja função exclusiva da necessidade do paciente. (fonte)
48
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
Mãe mãe/pai Irmã Prima Conhecida
Nº
de
entr
evis
tad
os
Gráfico 13 – Tipo do responsável e/ou cuidador do portador de transtorno mental – Maio/2009
Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Observou-se que a mulher é a principal cuidadora do doente mental, 33%
é cuidado pela mãe, 22% pela mãe/pai, 22% irmã, 11% pela prima e 11% por
conhecida. Alguns relatos de familiares esboçam esse quadro assinalado:
Ela tem um filho de 1 ano e 8 meses eu que sô vó, mãe, pai, sou sozinha pra cuidar de todo mundo, ninguém me ajuda. Essa boba ainda é apaixonada com o pai, mas ele num ta nem ai pra ela, nunca quis saber deles (M.A.S); É só eu e ela, ela me agride muito minha cabeça é toda dolorida de tanto ela arrancar meus cabelos (M.S.S.); Ele fala que vai me matar e matar o pai dele, eles falam que as pessoas esquizofrênicas matam o que ele mais ama, mas eu não tenho medo (E.C.F); Ela me Judêia demais só você vendo (choro) (M.S.S.).
Os dados encontrados na pesquisa confirmam os dados fornecidos por
Rosa (2008) que elucida que a mãe figura como principal cuidadora, na sua
ausência ou impossibilidade, a filha/irmã que, frequentemente, a mais velha assume
o lugar da mãe. O que se pode interpretar dessas informações é que o cuidado é
majoritariamente um encargo da família de origem e é um trabalho feminino.
49
Gráfico 14 – Conhecimento da família sobre a Reforma Psiquiátrica e Desospitalização – Maio/2009 Fonte: Pesquisa realizada no CERSAM de Governador Valadares – Maio/2009
Esse dado é muito significativo, pois 100% dos familiares entrevistados
afirmaram não saber responder o que é Reforma Psiquiátrica e Desospitalização.
Sua primeira crise foi aos 18 anos, internamos ele em vários hospitais, Barbacena, Galba Veloso, mas era muito judiado. Eu chegava lá pra visita ele tava amarrado, com a boca seca pedino água, todo sujo e cagado. (C.M. S.S.) Eu já falei com ela, se continuar assim vô interna ela de novo (M.S.S.).
Isso demonstra que este grupo entrevistado não tem conhecimento sobre
a proposta de tratamento de seu familiar ou a base política que sustenta uma clínica.
Bezerra (2007) aponta alguns desafios no campo da reforma psiquiátrica
e um desses desafios é fazer da loucura e do sofrimento psíquico uma questão que
ultrapasse as fronteiras do discurso técnico, e do saber psiquiátrico em especial.
Deve-se insistir na dimensão existencial e humana que facilmente se esconde por
trás dos jargões e protocolos médico-psicológicos, trazendo para o debate público
do tema atores de diversos segmentos sociais.
Outro ponto a se destacar é que várias mudanças ocorreram ao longo do
processo da reforma psiquiátrica e trouxeram melhores condições de tratamento e
reabilitação para os portadores de sofrimento mental. Entretanto, fizeram surgir
também novas implicações para a relação família/portador de transtorno mental,
com consequente intensificação das exigências de comprometimento da família para
os pacientes. Diversos autores concordam que a reforma psiquiátrica tem sido
tratada apenas como desospitalização, sem as condições necessárias para viabilizar
100%
Não
50
uma proposta de ressocialização e reabilitação, e sem o devido conhecimento das
reais necessidades e condições da família (GONÇALVES; SENA, 2001; OLIVEIRA;
ALESSI, 2005; PONTES; FRAGA, 1997; SADIGURSKY; TAVARES, 1997, apud
FERREIRA, 2006).
51
5 CONCLUSÃO
De acordo com teóricos pesquisados, a loucura é uma patologia que
existe sem se saber ao certo seu início na humanidade, e a forma de tratamento
sofreram diversas mudanças ao longo da história. Até o final da década de 80 os
“ditos loucos” eram excluídos da sociedade, atualmente toda política de assistência
a pessoa com transtorno mental aponta para a necessidade de reinserção da
dessas pessoas na família e comunidade, isto é um processo imprescindível para a
efetivação do tratamento e isto é a base da reforma psiquiátrica.
Após as mudanças na forma de assistência ocorridas com a Reforma
Psiquiátrica, houve grande evolução no campo da saúde mental, trazendo desafios
de ressocialização do portador de transtorno mental, através de sua reinserção na
família e na sociedade, porém essas mudanças ainda enfrentam dificuldades para a
sua efetivação e como um dos desafios pode-se citar a aceitação dessas pessoas.
A aceitação do portador de sofrimento mental deve iniciar dentro do seio
familiar, pois se a própria família o discrimina torna-se mais difícil a aceitação da
comunidade no qual está inserido. Com a pesquisa, certificou-se que é muito
importante o envolvimento da família com o serviço no sentido de ser bem informada
sobre a doença e do tratamento oferecido ao seu familiar, para haver o suporte
necessário e imprescindível nesse processo de reintegração social e promoção ao
bem-estar físico e psicológico do paciente.
Outro desafio é o desconhecimento que a população tem com relação ao
que vem a ser a reforma psiquiátrica e seus princípios. Esse dado pode ser
comprovado pelas entrevistas, já que 100% dos familiares demonstraram total
desconhecimento sobre o assunto.
Com a realização desse estudo observou-se que a interação entre a
população pesquisada e o serviço se encontra precária, uma vez que grande parte
dos familiares não conhecem as propostas de assistência prestada ao seu familiar, o
que pode ser confirmada no gráfico 5, cujo percentual de 67% não conhecem as
propostas de assistência prestada pelo CERSAM-GV. A pesquisa aponta que
mesmo com o relato do desconhecimento do que vem a ser o CERSAM e sua
proposta de trabalho, 67% das pessoas entrevistadas afirmaram ter buscado esse
serviço diante da crise psiquiátrica do seu familiar.
52
Outro dado que vem apontar uma incoerência é que 78% dos
entrevistados sabem dizer qual o profissional de referência do usuário, mas os
resultados encontrados apontam para a dificuldade de interação entre o serviço de
saúde mental e a família. Percebe-se que eles sabem qual é a população que deve
ser atendida no CERSAM, quais os profissionais de referência, porém 44% dos
entrevistados não sabem qual é o tratamento oferecido no CERSAM, e dos 56% que
sabem qual tratamento é oferecido, apontam para a consulta médica e medicação
como alternativa para essa patologia.
Observa-se que para que ocorra essa ressocialização não basta apenas
devolvê-los às suas famílias, ou estabilizar o quadro psiquiátrico é preciso trabalhar
essas famílias para que elas sejam preparadas para assumir papel de geradora de
afeto, segurança e proporcionadora de estabilidade e socialização. Não só o usuário
necessita de apoio, mas o serviço precisa garantir recursos e condições para que as
famílias tornem efetivo o processo de tratamento e reabilitação psicossocial.
È importante destacar que a família é a principal cuidadora da pessoa com
transtorno mental, tendo a mulher a maior implicação neste cuidado, na pesquisa
33% dos usuários são cuidados pela mãe, 22% pela mãe/pai, 22% irmã, 11% pela
prima sendo 11% por pessoa conhecida, isto vem reforçar a necessidade do serviço
em estar próximo destas famílias, pois é no núcleo familiar que o cenário onde a
vida do usuário vai se construir.
É preciso que o serviço amplie as propostas de intervenção familiar,
buscando formas alternativas, seja lidando com as reações emocionais ou da forma
de organização da família, objetivando assim diminuir conflitos, auxiliando nos
momentos de crise, melhorando a relação paciente/família/sociedade.
Espera-se que a superação das dificuldades impulsione um progressivo
movimento de transformação das práticas dos profissionais da saúde para que se
aliem à família, que cuida da pessoa com transtorno mental, ajudando-a no cuidado
de si e do usuário.
Portanto, toda a equipe que atua na saúde mental inclusive a
enfermagem, tem papel importante no acompanhamento dos familiares da pessoa
com transtorno mental devendo identificar os problemas existentes, acolher as
diversas demandas, apoiar, trabalhar em conjunto na busca das soluções para os
problemas encontrados e estimular o relacionamento familiar em prol de um
tratamento efetivo pautado nos princípios da reforma psiquiátrica.
53
E, ainda, faz-se necessário a reciclagem dos profissionais que atuam
nessa área, para assim ampliar seus conhecimentos e utilizarem meios efetivos para
compreenderem esse processo, beneficiando usuários e familiares.
Reportando-se aos autores pesquisados, conclui-se que há uma
conformidade teórica em afirmar a necessidade da família na formação de seus
membros e como parte fundamental no processo de tratamento. Nesse contexto
pode-se afirmar a necessidade de articulação do serviço de saúde mental
(CERSAM-GV) e a família, para efetivação de um tratamento adequado para se
alcançar o objetivo maior da reforma psiquiátrica, que é não apenas tratar
tecnicamente de maneira adequada, mas, sobretudo, construir um espaço social
onde a loucura encontre algum cabimento.
Acredita-se, enfim, que o desafio está lançado, pois é preciso que os
profissionais tenham perfil, coragem, competência, audácia e ciência. Nesse
sentindo espera-se que o espírito de transformação e união contribua para a
reconstrução da parceria e da responsabilidade entre família/serviço.
54
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ANEXO B
QUESTIONÁRIO
Questionário a ser aplicado aos familiares dos usuários de Permanência Dia do CERSAM. 1. Iniciais_________________Idade:__________Sexo:______________________ 2. Tempo de Permanência Dia__________________________________________ 3. Endereço________________________________________________________ 4. Tempo de tratamento no CERSAM____________________________________ 5. Grau de parentesco do Responsável entrevistado: ___________________________________________________________________ 6. Porque seu parente está no CERSAM? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 7. Você sabe o que é o CERSAM? ( ) Sim ( ) Não Caso a resposta anterior seja positiva, comente o que você sabe. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8. Você conhece o tratamento oferecido ao seu familiar? ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 9. O que você pensa sobre o tratamento oferecido ao seu familiar no CERSAM? ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 10. Você acredita que possa existir outra forma de tratamento? _________________________________________________________________ 11. Você tem algum conhecimento a respeito da Reforma Psiquiátrica? ( ) Sim ( ) Não
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12. O que é reforma Psiquiátrica? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13. Já ouviu falar em desospitalização? ( ) Sim ( ) Não Caso afirmativo: o que é? ______________________________________________________________________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 14. Como é o apoio que sua família recebe do serviço de saúde mental? _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 15. Vocês recebem algum benefício dos órgãos públicos para auxiliar na assistência de seu familiar? ( ) Sim ( ) Não Qual?____________________________________________________________ 16. Sua família recebe apoio psicológico dos profissionais do CERSAM? ( ) sim ( ) não 17. Você sabe quem é o profissional de referência de seu parente? _________________________________________________________________ 18. Como você acha que o CERSAM poderia contribuir para melhorar a assistência do familiar assistido? ___________________________________________________________________ ______________________________________________________________________________________________________________________________________ 19. A assistência do CERSAM é satisfatória? ( )Sim ( ) Não 20. Tem alguém que cuida e é responsável dele? ( ) Sim ( ) Não Quem?___________________ 21. Percebe um tratamento diferente, quando seu familiar é atendido em outra unidade de saúde, pelo fato do mesmo ser portador de sofrimento mental? ( ) Sim ( ) Não
Gov. Valadares, ____de ___________ 2009.