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V Encontro Nacional da Anppas 4 a 7 de outubro de 2010 Florianópolis - SC – Brasil ______________________________________________________
Reconfiguração do Meio Rural no Oeste do Pará: Uma Abordagem Multiescalar da Mobilidade e Distribuição da
População, e da Mudança no Uso-cobertura da Terra
Julia Corrêa Côrtes (NEPO/IFCH/Unicamp)
Engenheira Agrônoma, Mestranda em Demografia [email protected]
Álvaro de Oliveira D’Antona (FCA/Unicamp)
Economista, Professor Doutor da Faculdade de Ciências Aplicadas [email protected]
Resumo
Na Amazônia, a partir da década 60, padrões de uso da terra converteram áreas florestais em
áreas de uso agropecuário e em porções urbanizadas, alterando profundamente a circulação e o
povoamento regional. Frente à complexidade do estudo sobre população e ambiente, o presente
artigo trás uma abordagem multiescalar para, além de contribuir com a discussão metodológica,
buscar estabelecer relações entre a mobilidade, a distribuição humana e as mudanças no uso-
cobertura da terra. Trata-se de uma primeira aproximação das relações entre componentes da
dinâmica demográfica e elementos da paisagem, que estuda a reconfiguração do rural do oeste
do Pará, a partir de duas perspectivas: a regional, que contempla os 25 municípios do oeste do
Pará, proposto estado do Tapajós; e a local, referente às propriedades rurais amostradas no
município de Santarém. As fontes do recorte regional são os Censos Demográficos, IBGE, em
maioria dados agregados por municípios, e, a análise micro dos dados secundários gerados pela
ampla pesquisa “Desflorestamento da Amazônia e a Estrutura das Unidades Domésticas”
(NEPO/UNICAMP e ACT/IU). As análises permitiram perceber a organização da população
orientada pelos fluxos migratórios e deslocamentos intramunicipais, embora com padrões diversos
dentro das áreas de estudo. A distribuição da população foi estruturante da base fundiária dos
territórios, sob a perspectiva regional, pelos movimentos de emancipações do proposto estado do
Tapajós e dos próprios municípios que o compõe e; sob a perspectiva micro escalar, frente às
transformações das propriedades em decorrência dos processos de fragmentações e
consolidações de estabelecimentos agropecuários.
Palavras-chave: Mobilidade populacional, mudança uso-cobertura da terra, urbanização na Amazônia
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1. Introdução
Na Amazônia, a questão demográfica é elemento central para a compreensão dos processos
envolvidos em sua formação territorial (HOGAN et al., 2008). A partir da década 60, impulsionada
pela política de ocupação orientada pelo estado, a região encarou intensa alteração dos seus
aspectos econômicos, demográficos e ambientais (LIMA & BARCELLOS, 2002; HURTIANNE,
2005; MELLO, 2006; MORAN et al.,2008; PEREIRA, 2006). Em poucas décadas, a reformulação
dos padrões de uso da terra promoveu a conversão de áreas florestais em áreas de uso
agropecuário e em porções urbanizadas, característica de áreas de fronteira (BECKER, 2005).
LUTZ et al. (2002) assumem que mudanças na dinâmica populacional e alterações no ambiente
estão intimamente conectados em arranjos complexos de interações entre seus componentes, e,
portanto, exigem um olhar interdisciplinar para maior aprofundamento. Neste aspecto, a
demografia tem se mostrado importante para o reconhecimento das mudanças antrópicas no uso
e cobertura da terra, principalmente a migração (SHERBININ, 2006). A mobilidade populacional é
considerada o componente demográfico com maior potencial de alteração ambiental, em razão
dos seus padrões variados de modalidades e distribuição espacial (SHERBININ, 2006; HOGAN,
2005).
Os métodos empregados nos estudos de população e ambiente fundamentam-se, em grande
maioria, a partir de agregados, o que pode mascarar motivações particulares pelas tendências
gerais (BARBIERI, 2007; D’ANTONA et al., 2007, PERZ, 2001; VANWEY et al., 2007). Em
específico na Amazônia, a heterogeneidade de padrões de transformação da paisagem
praticamente decreta a necessidade de abordagens multiescalares (MORAN et al.,2008), e, neste
sentido, a complementação com a percepção micro espacial como metodologia torna-se valiosa
(PERZ, 2001). Há consideráveis avanços que permitem estabelecer a relação entre população e
paisagem na escala micro, porém, ainda é necessário o aperfeiçoamento de técnicas que
permitem conectar análises regionais à micro demografia.
Sob o contexto dos estudos de população - ambiente e da relevância do entendimento da
transformação do território da Amazônia, o presente artigo apresenta uma primeira aproximação
das relações entre componentes da dinâmica demográfica e elementos da paisagem, em uma
perspectiva multiescalar. Faz-se um estudo sobre a reconfiguração do meio rural do oeste
paraense de 1970 a períodos recentes, a partir de duas perspectivas, a regional, que contempla
os 25 municípios do oeste do Pará idealizados para o desmembramento do Estado do Tapajós, e
a local, referente às propriedades rurais amostradas no município de Santarém. A proposta busca
estabelecer relações entre a mobilidade, a distribuição humana e as mudanças no uso-cobertura
da terra, especialmente aquelas que se possam associar a processos de urbanização.
Para contemplar a análise regional serão utilizados os quesitos do Censo Demográfico: UF de
nascimento em 1980, último município de residência em 1980 e município de residência em 1995,
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a partir de dados agregados por município, IBGE. A composição e estrutura da população rural e
urbana dos municípios em 1980, 1991 e 2000, serão obtidas pelo sistema de banco de dados
SIDRA - IBGE. A descrição da mudança no uso e cobertura da terra parte dos “dados para
municípios” do Projeto PRODES- Monitoramento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite, do
Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), com recorte temporal de 2000 a 2009.
A perspectiva espacial micro foi construída a partir dos dados da ampla pesquisa intitulada
“Desflorestamento da Amazônia e a Estrutura das Unidades Domésticas”, executada pelo Núcleo
de Estudos de População (NEPO/UNICAMP) em parceria com a Universidade de Indiana
(ACT/IU). A pesquisa previu a aplicação de surveys sociodemográficos em Santarém, dentre
outras cidades, em 460 propriedades rurais em 2003 e 2009. Para o presente artigo, foram
utilizadas publicações da pesquisa referente ao dados de 2003.
Dada a heterogeneidade dos padrões da região Norte e a complexidade do estudo sobre
população e ambiente, parte-se da abordagem multiescalar para também contribuir com a
discussão metodológica, buscando o aperfeiçoamento dos métodos que permitam transitar nas
diferentes unidades espaciais de análise, minimizando ao máximo os efeitos de escala. Frente às
dificuldades, cabe enfatizar que neste artigo faz-se uma primeira abordagem para, sobretudo,
refletir quanto às fontes de dados acessíveis e as técnicas de contrapor informações de diferentes
naturezas e escalas.
2. Ocupação recente da Amazônia
O padrão dendrítico de distribuição das vilas e cidades, que prevalecia em conformidade com os
cursos d’água na Amazônia, foi estruturante até a década de 0 (PEREIRA, 2006). A
espacialização dos aglomerados urbanos e, conseqüentemente, da população, transformou-se a
partir da orientação dos governos militares para a ocupação e integração (BECKER, 2001;
MELLO, 2006). O então cenário político tornou a região em uma grande fronteira de um novo
padrão de desenvolvimento (BECKER, 2005), transferindo a organização da população ao longo
das rodovias e dos núcleos urbanos (THÉRY, 2004), de forma a condicionar a transformação da
paisagem pelo desmatamento e a expansão da urbanização (BECKER, 2005).
A política de integração visava à ocupação demográfica e o desenvolvimento econômico através
de investimentos em infraestrutura, programas de colonização pública, alocação de incentivos
fiscais e linhas de créditos para atrair empresas na região (BECKER, 2001; LIMA & BARCELLOS,
2002; MELLO, 2006). As ações combinavam a estratégia de criação de “redes de integração
espacial” (rodoviária, telecomunicações por satélite e telefonia, rede urbana, rede hidroelétrica
como insumo à nova fase industrial) à “superposição de territórios federais sobre estaduais” e
indução de fluxos migratórios, para povoamento e mão de obra (BECKER, 1990).
Este padrão de desenvolvimento sustentado pelo modelo de ocupação da visão externa e nas
relações com a metrópole e mercado internacional, correspondeu, segundo BECKER (2005), ao
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modelo de redes do espaço territorial. As redes de circulação e telecomunicação fomentaram os
fluxos de mão de oba, capital e informação, alterando profundamente o padrão de circulação e
povoamento regional.
Em decorrência, as décadas de 60 e 70 acusaram as maiores taxas de crescimento populacional
da história da região, tanto de habitantes urbanos como rurais (HOGAN et al., 2008). Entre 1970 e
1980, a região Norte atingiu taxa de crescimento anual de 4,8% e o estado do Pará de 4,6%,
contra a média nacional de 2,4%. Na análise desse crescimento, importantes são as
considerações acerca da contribuição da alta fecundidade e do declínio da mortalidade infantil,
especialmente do impacto do fluxo migratório na região. De acordo com CUNHA & BAENINGER
(1999), o saldo migratório da região Norte da década de 70 foi 585.397 pessoas, do qual, 229.605
concentraram-se no Pará, 40% do total.
Este processo foi caracterizado pela mobilidade de migrantes com origem basicamente em
estados de outras regiões, principalmente nordestinos, gaúchos e mineiros (COELHO et al.,2005).
No período posterior, de 1980 a 1991, o aumento do número de imigrantes interestaduais foi
considerável, com destaque para os fluxos entre os estados da própria região Norte (BRASIL,
1997). Períodos mais recentes têm experimentado o arrefecimento dos deslocamentos internos,
em especial os de longa distância, mesmo com a retomada de atividades econômicas e da
produção mineral e agropecuária. (HOGAN et al., 2008).
Quanto às modalidades migratórias na Amazônia Legal, o tipo predominante foi rural – rural no
período de 1970 a 1980 (44%), invertendo-se entre 1980 a 1991, com deslocamento
primordialmente urbano – urbano (47%). Nos dois recortes temporais o movimento rural – urbano
correspondia a somente 12% (HOGAN et al., 2008). O estado do Pará, seguindo a tendência
regional, em 2000 acusou deslocamentos entre urbanos que representam 65% das modalidades
migratórias (IBGE, 2000).
Seguido do crescimento populacional, as década de 60 e 70 indicaram altos índices de
urbanização, superiores a todas as regiões do Brasil, inclusive enquanto fronteira agrícola
(HOGAN et al., 2008). Na década seguinte houve a inversão da situação da Amazônia Legal, de
predominantemente rural para urbana, alcançando 69% de população urbana em 2000 (HOGAN
et al., 2008). Desta maneira, a Amazônia é interpretada cada vez mais como um território urbano
(CASTRO, 2006), e, quando questionada a natureza deste urbano, BECKER (2005) prefere
denominar como uma “floresta urbanizada”.
A diminuição da população rural traduz a incapacidade do modelo político de ocupação em manter
a população no campo (HOGAN et al., 2008; FEARNSIDE 1985; HECTH 1985; SAWYER 1984).
Por uma série de fatores, como o desconhecimento do bioma e demanda de mão de obra
temporária dos grandes projetos, muitos colonos assentados pelo INCRA ou pequenos posseiros
abandonavam suas terras, migrando para novas fronteiras ou cidades (ALSTON et al., 1999;
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CAMPARI, 2002), promovendo taxas elevadas de abandono e rotatividade. D’ANTONA et al.
(2006) associam este processo às mudanças da estrutura fundiária, pela consolidação de
propriedades, e, à intensificação de aglomerados populacionais no rural e desmatamento, pela
decorrência da venda do lote e compra de outro afastado, geralmente com cobertura vegetal
presente, ou outro não agrícola, pequeno e próximo às vilas, intensificando o adensamento rural.
D’ANTONA & VANWEY (2009) consideram o processo de urbanização rural, da perspectiva
micro, como um ponto chave na compreensão de padrões futuros em áreas rurais de países
menos desenvolvidos. As migrações do tipo rural-urbana são elementos importantes na
urbanização, entretanto, a capacidade de moradores rurais estrategicamente vincularem o urbano
ao ambiente rural, justifica a concentração em aglomerados pela busca da oferta de serviços e
infraestrutura. Estes focos de concentração são potenciais para as etapas de emancipações, onde
vilas são transformadas em sedes municipais com pequena população e infraestrutura precária
(HOGAN et al., 2008; MORAN, 1981). Nesse sentido, PEREIRA (2006) relaciona a urbanização
não apenas ao crescimento das cidades e de sua população, mas à multiplicação dos pontos de
concentração.
Esta redistribuição da população, condicionada pela mobilidade populacional, tem sido fator
associado à expansão da fronteira agrícola e, conseqüentemente, à remoção da cobertura
florestal nativa (BARBIERI, 2007; HOGAN, 2001). SOARES-FILHO et al. (2005) listam causas
históricas e atuais vinculadas ao desmatamento na Amazônia, quais sejam: incentivos fiscais e
políticas de colonização no passado (MORAN, 1993; HECHT, 1985; LAURANCE, 1999);
recorrentes conflitos fundiários motivados pela ausência de titularidade de terra e pressão pela
reforma agrária (FEARNSIDE, 2001); e, o recente cenário macroeconômico, envolvendo a
exploração madeireira e o agronegócio (NEPSTAD et al., 2001). Os investimentos em
infraestrutura, principalmente na abertura de estradas e pavimentação, completam este quadro
por tornarem viável a atividade econômica da agropecuária e indústria madeireira (NEPSTAD et
al., 2000; LAURANCE et al., 2001).
Apesar da tendência por explicações de âmbito macro econômicas, FEARNSIDE (1993) frisa que,
além dos fatores exógenos, a conversão de floresta está diretamente associada a forças que
dependem do próprio produtor. Neste sentido, a perspectiva do lote ou indivíduo subsidia a
compreensão dos pontos envolvidos na tomada de decisões quanto ao uso da terra. Estudos que
partiram do lote como ponto de vista analítico micro, constataram que a intensidade de
desmatamento e o tamanho e idade da propriedade possuem uma relação inversamente
proporcional (FUTEMMA & BRONDÍZIO, 2003), desarticulando o senso comum de correlacionar o
desmatamento aos grandes proprietários.
Em suma, questões demográficas podem ser elementos chaves nos estudos multidisciplinares de
população e ambiente, sobretudo o componente migração. Percebe-se então que diferentes
perspectivas espaciais podem evidenciar processos que vão além da interpretação das
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motivações maiores, majoritariamente político-econômicos, para transcorrer sobre as tomadas de
decisão do ponto de vista do indivíduo, uma vez relacionados com o ciclo de vida e motivações
pessoais.
3. Reconfiguração do oeste do Pará
O território da Região Norte conta com uma superfície de aproximadamente 3,5 milhões de
quilômetros quadrados, que corresponde a 42% do território brasileiro. O estado do Pará é o
segundo maior do Brasil, com 1,2 milhões km2, atrás somente do Amazonas em termos de
extensão fundiária. Em 1970, o Pará tinha população de 2,1 milhões, concentrando 60% da
população do Norte, embora com densidade de 1,7 hab/km2. Períodos mais recentes apontam
para o aumento de 200% em 2000 em relação a 1970, com 4,9 hab/km2. A sua participação no
estado caiu para 48% em função do crescimento demográfico das outras unidades federativas da
região.
A concentração populacional, desde a década de 70, foi centrada na região de Belém, município
que continha 29% da população neste período e 21% em 2000. Santarém mantinha a segunda
posição com 6% dos paraenses até 1990, Ananindeua assume a mesma porcentagem em 2000,
deixando Santarém com 4%. Decorrente desta distribuição espacial, a região metropolitana de
Belém concentra 29% da população do estado em 2000, em apenas 0,2% do território (IBGE).
Embasado pela extensa área do estado e pela argumentação da ineficácia das políticas públicas,
criou-se o movimento em prol da sua emancipação, propondo a criação de dois novos estados
além do Pará: o Carajás e o Tapajós. O pretenso estado do Tapajós, com capital Santarém, teria
então 722.000 km2, sendo, portanto, o mais extenso deles, muito embora o menos populoso
(IBGE). Com base neste contexto, a região do Tapajós se torna uma unidade analítica
interessante para a escala regional, a contrapor com o estudo de caso de Santarém, onde se situa
a área visitada em 2003 e 2009.
3.1. Região do Tapajós
Localizado no oeste paraense, a região do pretenso estado do Tapajós conta atualmente com 25
municípios (Figura 1). Santarém, indicado com a futura sede do proposto estado, é o município
com maior população, concentrando, respectivamente em 1970 e 2000, 40 e 26% do total da
população da região (Tabela 1). Ainda que a população de Santarém tenha praticamente dobrado
neste período, a redução participativa relativa da população deve ser atribuída ao aumento em
especial de Altamira e Itaituba, que tiveram taxa de crescimento anual média de 6,2% contra 2,2%
de Santarém ao longo das três décadas.
Santarém, durante a segunda metade do século XIX, observou declínio de sua taxa de
crescimento anual, entrando num processo de encolhimento na ultima década (-0,1% ao ano).
Entretanto, na área correspondente ao proposto Tapajós, mesmo convergindo à tendência
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Alenquer
Almerim
Altamira
Aveiro
BelterraBrasil Novo
Curuá
Faro
Itaituba
Jacareacanga
Juruti
Medicelandia
Monte Alegre
Novo Progresso
Óbidos
Oriximiná
Placas
Porto de MozPrainha
Rurópolis
Santarém
Terra Santa
Trairão
Uruará
Vitória do Xingú
declinante, obteve-se crescimento anual de 5,2 e 3,7% durante 1960 e 1990, taxas estas
superiores às obtidas pela unidade federativa como um todo para o mesmo período. O Pará,
dentro deste contexto, manteve a intensidade de crescimento abaixo da região Norte.
A redução da população de Santarém da década de 90 se deve às emancipações de Belterra e
Placas, ocorridas em 1993 e 1995. Este período foi marcado também pelo desmembramento de
Altamira, Itaituba, Prainha, Alenquer, Aveiro, Oriximiná e Faro, elevando à categoria doze novos
municípios na região do estado Tapajós1. A distribuição espacial destes novos territórios ocorreu
ao longo das Rodovias BR230 (Transamazônica) e BR163 (Cuiabá-Santarém), salvas exceções.
Figura 1. Localização do pretenso estado do Tapajós e seus municípios no estado do Pará
Observou-se que 35% da população do pretenso estado Tapajós concentrava-se na área urbana
em 1970, contra 47 e 45% no Pará e na região Norte (Tabela 1). Este período, de 1960 a 1970,
contemplou os maiores crescimentos anuais da população urbana, e, novamente, a região do
estudo obteve a maior taxa da década, 7,3%, em contrapartida com 5,0 e 6,4% do Pará e Norte,
respectivamente. Em decorrência, já em 1980, a região Norte se configura como estado de
população majoritariamente urbana, praticamente mantendo a mesma taxa de crescimento da
década passada. Porém, este mesmo processo ocorreu somente ao longo da década de 80, tanto
no estado Pará como na região Tapajós, momento em que 52% da população residia na zona
urbana. Em contrapartida, a taxa de crescimento anual da população urbana em 2000 reduziu-se
pela metade na área do Tapajós, aproximando-se à taxa nacional de 2,4%, enquanto que o
1 O município Prainha, fundada em 1935, foi desmembrado dando origem em 1988 a Medicelândia e Uruará. De Itaituba, 1935,
emanciparam, em 1991, Jacareacanga, Trairão e Novo Progresso. No mesmo período, os municípios Brasil Novo e Vitória do Xingú
foram fundados com sua origem Altamira, 1911. Santarém, com fundação em 1884, foi responsável pela criação de Placas, em 1993, e
Belterra, em 1995. Alenquer, Aveiro e Faro e Oriximiná são, respectivamente, os municípios que deram origem a Curuá (1995),
Rurópolis (1988) e Terra Santa (1991).
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estado do Pará aumentou de 4,1 para 5,3%. A região norte, por sua vez, também a reduziu de 6,3
a 4,8% ao ano.
Os municípios do proposto estado Tapajós que acompanharam a região Norte na inversão de
rural para urbano em 1980 foram, em ordem crescente do grau de urbanização, Faro, Itaituba,
Altamira e Santarém. Em 2000, mesmo a região Tapajós com 54% da população urbana, somente
sete dos 25 municípios tiveram a mesma situação, com destaque a Altamira, Terra Santa e
Santarém, todos com grau de urbanização superior a 70%.
Tabela1. População residente e grau de urbanização dos municípios que compõem a região proposta para o estado do Tapajós
Fonte: Censo demográfico 1970, 1980, 1991, 2000, IBGE.
Como já elucidado, para a consolidação deste cenário, a migração é função primordial,
especialmente no estado do Pará, que recebeu um contingente populacional significativo. Neste
sentido, os dados de 1980 acusam 2,8 milhões de habitantes naturais no Pará, sendo 16%
alocados nos municípios do pretenso Tapajós, o que confere um índice de 82% da população
local ao novo estado (Tabela 2). Apesar da distribuição deste grupo ocorrer de forma mais
homogênea entre os municípios, Santarém concentra 36% dos naturais no Tapajós. Os
municípios com menor proporção de nativos em sua população foram Itaituba e Prainha,
respectivamente, com 54% e 55%, o que em Santarém equivale a 87%.
População total Grau de urbanização (%)
70 80 91 00 70 80 91 00 Alenquer 35.021 44.535 52.856 41.784 32 40 41 60 Almerim 11.889 33.077 33.442 33.957 30 15 49 55 Altamira 15.345 46.496 72.408 77.439 39 58 69 80 Aveiro 8.819 12.749 10.876 15.518 13 14 23 19 Belterra - - - 14.594 35 Brasil Novo - - - 17.193 25 Curuá - - - 9.224 32 Faro 10.054 12.598 13.574 10.037 43 52 66 49 Itaituba 12.690 38.573 116.402 94.750 30 54 53 68 Jacareacanga - - 24.024 24 Juruti 18.684 22.602 23.262 31.198 16 22 34 35 Medicelândia - 29.728 21.379 10 31 Monte Alegre 28.379 37.904 46.951 61.334 21 28 36 34 Novo Progresso - - 24.948 39 Óbidos 26.426 38.009 42.307 46.490 34 46 48 49 Oriximiná 18.994 29.593 41.154 48.332 35 40 51 60 Placas - - 13.394 26 Porto de Móz 7.523 11.805 15.407 23.545 18 22 33 43 Prainha 12.304 45.354 26.782 27.301 14 7 16 26 Rurópolis - 19.468 24.660 20 34 Santarém 135.215 191.945 265.062 262.538 45 58 68 71 Terra Santa - - - 14.592 75 Trairão - - - 14.042 21 Uruará - - 25.339 45.201 23 29 Vitória Xingú - - - 11.142 35 Tapajós 341.343 565.240 835.018 1.008.616 35 43 52 54 Pará 2.166.998 3.403.498 4.950.060 6.192.307 47 49 52 66 Norte 3.603.679 5.880.706 10.030.556 12.900.704 45 52 59 70 Brasil 93.134.846 119.011.052 146.825.475 169.799.170 55 67 75 81
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Em ambas as escalas, os nordestinos conferem o grupo principal de imigrantes, principalmente no
Tapajós, com 11,7% do total, valor pouco acima da calculada para o Pará. Os municípios que
mais receberam estes imigrantes foram Santarém (27%), Itaituba (19%), Altamira (17%) e Prainha
(16%), passando a constituir na população de cada município: 32% em Itaituba, 24% em Altamira
e 23% em Prainha e 9,2% em Santarém.
A distinção principal entre o Pará e o proposto estado, refere-se aos sulistas, já que dos 21.883
imigrantes 56% residem em municípios da área contemplada pelo Tapajós, em especial Prainha
(41% dos imigrantes), Aveiro (6,5%), Altamira (18%) e Itaituba (15%), embora impactando de
forma mais significativa de Prainha, onde compõem 11% da população do município. A
participação relativa dos imigrantes de outros estados do Norte também foi maior do que
observada para a unidade federativa, com 27% do total se locomovendo em direção ao Tapajós.
Daqueles que vieram destes estados para a região, 29% foram para Santarém e 34% para
Almerim, embora tenham maior representatividade na população de Almerim (9,2%) e Faro
(5,3%).
Conclui-se que, dos 104.013 migrantes que residiam na área do pretenso estado do Tapajós em
1980, 24% encontrava-se em Santarém, 20% em Prainha,18% em Altamira e 17% em Itaituba.
Esta dinâmica proporcionou a Santarém a composição de sua população com 13% de imigrantes,
embora o efeito estruturante da população tenha se dado nos municípios Itaituba (45%), Altamira
(39%), Almerim (33%) e Aveiro (32%). Em geral, os municípios que tiveram maior miscigenação,
ou seja, que receberam maiores contingentes populacional de diferentes locais, foram Santarém,
Altamira e Prainha.
Tabela 2. Origem de nascimento da população residindo no Pará e na região proposta para o estado do Tapajós no ano de 1980
Pará Tapajós População % População % Pará 2.871.732 84,4 461.227 81,6 Outros estados do Norte 33.039 1,0 8.956 1,6 Nordeste 324.477 9,5 65.967 11,7 Sudeste 67.074 2,0 10.102 1,8 Centro-oeste 73.847 2,2 5586 1,0 Sul 21.883 0,6 12.365 2,2 Outro país 8.721 0,3 329 0,1 Sem informação 2.725 0,1 708 0,1 TOTAL 3.403.498 100 565.240 100 Fonte: Dados agregados por municípios, Censo Demográfico 1980, IBGE.
Em relação às modalidades destes fluxos, há considerações a serem feitas com relação às
interações entre rural e urbano. Com base nos dados obtidos em 1980, 43% dos fluxos tinham
destino e origem rural, contra 27% entre regiões urbanas. A proporção da população que nasceu
e nunca saiu do município era de 71% no rural e 73% no urbano. Embora em menor proporção, os
fluxos rural-urbano e urbano-rural existiam, contribuindo aproximadamente com 15% cada. Os
municípios que tiveram maior processo de êxodo rural, referente ao fluxo urbano-rural, foram
Faro, Porto de Móz e Óbidos. O fluxo urbano-urbano foi significativo em Aveiro, Almerim, Itaituba
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e Altamira, enquanto que o deslocamento rural-rural foi predominante, acima de 80% dos
habitantes rurais, em Óbidos, Prainha, Aveiro, Itaituba, Porto de Móz e Santarém.
Tabela 3. Modalidade dos fluxos migratórios em 1980 na região proposta para o estado do Tapajós.
Domicílio anterior* Situação do domicílio atual
1980 2000 Urbano Rural Total Urbano Rural Total
Urbano 41.908 24.415 66.323 157.219 20.611 177.830 Rural 21.438 66.835 88.273 28.131 104.362 132.493 Sem informação 820 1.033 1.853 5.583 3.113 8.696 Total 64.166 92.283 156.449 190.933 128.086 319.019 * Para 1980 foi usado o quesito “Domicílio anterior” e para 2000 o quesito data fixa, portanto, população acima de 5 anos Fonte: Dados agregados por municípios, Censo Demográfico 1980 e 2000, IBGE.
Para contrapor os dados referentes à década de 70, utilizou-se o quesito data fixa do Censo 2000,
onde é averiguada a situação do domicílio 5 anos atrás. Embora não representem de fato uma
mesma natureza, permite contextualizar as interações rural-urbano. Nesta condição, a situação
parece inverter-se em 2000, quando o movimento predominante passa a ser urbano-urbano,
correspondendo a 49% de todas as modalidades migratórias. O deslocamento rural-rural cai para
33%, muito embora tenha aumentado proporcionalmente dentre os movimentos em direção ao
rural. Os habitantes que já residiam no urbano e se deslocam para uma mesma situação, passam
a representar 82% de todos aqueles que se deslocam para o urbano, com aumento significativo
do número absoluto. As modalidades rural-urbano aumentam em termos absolutos, e, urbano-
rural, diminuem sensivelmente.
Entres os 104.362 indivíduos que tinham como destino e origem o rural, 93.916 se deslocaram
somente de residência, mantendo-se no mesmo município, o que representa 73% de todo fluxo
migratório direcionado ao rural. Sob esta condição, destacam-se os municípios Rurópolis, Brasil
Novo, Placas e Uruará, embora este tipo migratório seja relevante em quase todos os municípios
do proposto Tapajós. Entre aqueles que recebem o contingente populacional de migrantes
oriundos do rural de outros municípios, estão Prainha e Faro. Já nos fluxos em direção ao rural
com origem urbana, as predominâncias foram os deslocamentos a partir de outras sedes
municipais, correspondentes a 13.943 pessoas. Os municípios com maiores representatividade de
migrantes provindo do urbano de outro município foram Juruti, Altamira, Curuá e Prainha, e,
aqueles provenientes do urbano do mesmo município foram mais significativo em Itaituba,
Altamira, Santarém e Juruti.
Os deslocamentos em direção ao urbano também têm predominância para o mesmo município e
na mesma situação, 63% dos 190.933 indivíduos somente mudaram de domicílio. Aqueles com
maior expressão deste tipo migratório são Itaituba e Santarém. Os indivíduos que se direcionaram
ao urbano, mudando de situação, conceitualmente considerado êxodo rural, obtiveram um
pequeno aumento bruto com relação a 1980, período em que 62% dos 28.131 provieram do
próprio município, com destaque a Jacareacanga, Placas, Trairão e Brasil Novo. Dos oriundos de
outros municípios, os maiores índices ocorrem em Trairão, Porto de Moz e Curuá.
11
Este conjunto de processos tem implicações incisivas na composição e estrutura da população
dos municípios que foram mais impactados pelo contingente de imigrantes, principalmente pelo
fluxo significativo de homens em idade a trabalhar. A razão do sexo em regiões de fronteira
costuma apontar para uma masculinização da população, como observado no pretenso estado do
Tapajós, onde se acusaram índices em média de 108, tanto em 1980 como em 2000, muito
embora haja uma intensificação deste processo no rural. Segundo Hogan et al. (2008), o urbano
concentra maior população feminina em fronteiras agrícolas, em função do deslocamento de
homens jovens sem família ao rural e do movimento das mulheres em direção a áreas urbanas. O
índice de envelhecimento também aumenta, assim como o coeficiente nacional, respondendo ao
envelhecimento experimentado pela região, tanto relativo quanto absoluto, em decorrência da
redução dos jovens e aumento dos idosos. O que indica este balanço da estrutura etária é a razão
de dependência, no Pará era 94,9 em 1980, reduzindo-se a 27% em 2000, enquanto no proposto
estado Tapajós a redução foi de 37%, alcançando 5,9. O declínio desta razão significa um enorme
potencial em termos de mão de obra e giro econômico, em função da população economicamente
ativa, mas pode também pressionar ao uso da terra, especialmente no rural, por ser potencial às
práticas que envolvem desmatamentos.
Todo este quadro, pautado na dinâmica populacional descrita acima, implica em ordenamentos
novos na utilização do espaço, quer seja pela redistribuição populacional e processos variados de
urbanização, como na expansão de áreas de atividade agropecuária e do desmatamento. A
política da década de 60 também se associa com o período de maior intensificação do
desmatamento na Amazônia (FEARNSIDE, 2005; D’ANTONA et al., 2006). Os dados para o
estado do Pará, segundo o projeto PRODES, indicam a taxa média anual de desflorestamento
bruto, de 1977 a 1988, como a mais alta na Amazônia Legal, 5.140 km2 por ano, mantendo esta
liderança até o início da década de 90. Em 2000, a região Tapajós tinha 630.598 km2 de
remanescentes florestais2 e o acumulado de 31.608 km2 de áreas desmatadas, que representa
4,4% da extensão territorial da região. Os municípios Monte Alegre, Santarém e Itaituba foram
responsáveis por 35,9% do total desmatada até 2000, contribuindo, respectivamente, com 4.389
km2, 3.756 km2 e 3.206 km2.
3.2. Estudo de caso: Santarém
O município de Santarém, fundado no período colonial em 1884, está localizado no oeste do
estado do Pará, geograficamente estratégico na confluência dos rios Amazonas e Tapajós, entre
Belém e Manaus. Desempenha um importante papel polarizador no Baixo Amazonas e
recentemente tem sido foco de atenção frente à expectativa de divisão do estado do Pará, onde
seria criado o estado do Tapajós com capital Santarém.
2 Não entra no cômputo de remanescentes florestais áreas em processo de sucessão secundária ou recomposição florestal
12
A década de 70 foi marcada pela construção da rodovia BR163, que liga Santarém à Cuiabá, o
que seria mais uma das grandes obras de infra-estrutura do governo militar (MELLO, 2006). Além
das mudanças na cobertura do solo pelo desmatamento, potencializado pelo padrão de replicação
das rodovias endógenas, a região teve aumento populacional de 211% em decorrência
principalmente das migrações (FEARNSIDE, 2005; OLIVEIRA, 2005; MELLO, 2006).
Figura 2. Localização de Santarém, Pará. Fonte: D’ANTONA et al. (2007)
A partir do final da década de 1990 e início dos anos 2000, Santarém e entorno vêm
experimentando a transformação de um sistema produtivo outrora baseado na agricultura familiar
tradicional para agricultura mecanizada de larga escala. A situação geográfica estratégica,
associada à demanda do produto, viabilizou a implantação do terminal para exportação de grãos
no porto de Santarém, consolidando a agricultura de exportação e desencadeando uma crescente
demanda por terras, afetando junto, o mercado fundiário e a mobilidade populacional (ALENCAR,
2005; OLIVEIRA, 2005).
Dentro deste contexto, o estudo em Santarém tem sido importante para evidenciar um conjunto de
elementos que permitem pensar o processo de reconfiguração do meio rural na Amazônia. A
complementação de um a perspectiva a partir do lote, micro escalar, contribui, neste sentido, para
um melhor entendimento das tomadas de decisões e motivações que acabam por consolidar esta
dinâmica maior e os processos de urbanização incipiente.
Portanto, o estudo de caso parte do resultado das atividades de campo de 2003, onde foram
aplicados questionários em 243 propriedades, predominantemente estabelecimentos
agropecuários familiares, que representavam inteiramente ou parcialmente 582 lotes originais do
INCRA amostrados para o estudo, além de outras 570. Com isto foram contempladas 401
unidades domésticas, em que residiam 1.849 indivíduos.
O resultado imediato do campo permitiu perceber uma estrutura fundiária diferente do esperado,
onde lotes originais do INCRA foram subdivididos em várias propriedades, muitas das quais
perdendo seu caráter de estabelecimento agropecuário em função de suas extensões mínimas,
similar a lote urbano, pela sua localização próxima às vilas e comunidades e pelo seu uso apenas
como espaço de moradia. Em contrapartida, outros lotes foram consolidados e transformados em
13
grandes propriedades não familiares, alguns com mais de 50 lotes originais, voltados para a
produção de gado, mais recentemente soja e arroz (D’ANTONA & VANWEY, 2007).
São consideradas, então, duas principais vias de alteração: a consolidação de terras e a
fragmentação, esta última podendo estar associada à divisão por herança ou como simples
estratégia. Dos 582 lotes, 22% mantiveram o mesmo limite, 7% foram subdivididas, 67% foram
incorporadas em propriedades maiores e 4% foram subdivididas em porções incorporadas em
propriedades maiores (D’ANTONA & VANWEY, 2009). Portanto, percebe-se um intenso
dinamismo na área, fruto de estímulos recentes mas totalmente conectado aos processos
históricos.
Em decorrência, acusa-se um aumento do número absoluto de grandes propriedades
agropecuárias, acompanhado pelo aumento do número de pequenos estabelecimentos e
diminuição do número e área daquelas com extensão intermediária (D’ANTONA & VANWEY, no
prelo). Do total de propriedades, 59% tinham dimensões entre 10 a 50 hectares, o que
corresponde a 38,7% da área, enquanto que somente 9,5% das propriedades abrangem quase a
mesma extensão, 37,8%, o que condiciona a polarização fundiária (D’ANTONA et al., 2006).
Esta dinâmica promove uma transformação gradual do espaço rural de Santarém, quer pelo novo
ordenamento fundiário, quer pela mudança de uso da terra. A espacialização destes processos
não indica somente alto índice de consolidação em regiões próximas às estradas mais acessíveis
a Santarém, mas também a consolidação em regiões com floresta, longe de estradas e cidade
(D’ANTONA et al., no prelo). Deste último processo, podem-se associar os desmatamentos.
Entretanto, o que se observa na região é a maior capacidade dos grandes proprietários em
preservar parcelas maiores de sua propriedade. As áreas acima de 100 hectares conseguem
manter 38% de sua propriedade com floresta e 40% em estágio de sucessão secundária, ao
passo que as pequenas propriedades mantêm 9,5% de área florestal e 63% em regeneração. O
impacto coletivo e histórico apontou para 18% da área de estudo desmatada entre 1986 a 2001 e
27% de floresta remanescente (D’ANTONA et al.,2006). Em paralelo, quanto maior a área da
propriedade, menor é a porção relativa para uso agrícola, com propriedades acima de 100
hectares cultivando 6% da área e, para as pequenas, menor que 10 hectares produzindo em
quase 50%.
Para entender a dinâmica de uso das pequenas propriedades, D’ANTONA et al. (2006)
esquematizam os ciclos de exploração da terra, especificamente em Santarém. Existe uma
relação direta entre a unidade doméstica e as diferentes classes de uso da terra, sobretudo pelo
sistema de produção pautado no ciclo de corte e queima dos roçados. Os pequenos proprietários
se vêem sem alternativa de expansão de suas produções, em razão da fertilidade temporária dos
solos recém desmatados. Neste sentido, a capacidade de praticar o abandono e descanso das
14
terras para regeneração natural é um elemento estratégico para o manejo das áreas de produção
e manutenção da fertilidade do solo.
Entre 1986 a 2001, foi verificado nas propriedades familiares o aumento relativo desta classe,
assim como aumento da área relativa para produção, sugerindo o avanço das atividades
produtivas na floresta e mais áreas sendo abandonadas. A composição e estrutura das unidades
domésticas exercem fator determinante na tomada de decisão do produtor e, partindo do
pressuposto que há uma tendência ao aumento de densidade pelos processos intergeracionais e
dinâmicas de fragmentação, pressupõe maior pressão sob os recursos naturais de sua terra
D’ANTONA et al. (2006).
D’ANTONA & VANWEY (2007) correlacionaram esta concentração fundiária e a mudança no uso
do solo em Santarém como decorrência do abandono e rotatividade da terra. Esta dinâmica não
está vinculada obrigatoriamente com os fluxos rural-urbano, mas sugere a intensificação de outras
modalidades, principalmente dentro do próprio espaço rural. Em entrevistas realizadas, constatou-
se que a expansão da cultura mecanizada contribuiu para o aumento do preço da terra e motivou
antigos ocupantes a venderem seus lotes e partirem para a cidade ou para porções com maior
infraestrutura. Os jovens herdeiros, ou moradores mais recentes, mostram-se mais dispostos a
aproveitarem o momento do mercado para a venda de suas propriedades melhores localizadas e
já desmatadas, investindo na aquisição de terras mais férteis e baratas em regiões mais afastadas
da cidade, presumidamente com floresta.
Esta diversidade de dinâmicas enfatiza que o movimento não se sustenta somente no fato de
grandes produtores formarem grandes fazendas, mas também nos pequenos proprietários que
substituem outros pequenas e médias unidades. Entre os grandes proprietários, a maior parte
chegou há menos de 5 anos (41%) ou entre 5 a 10 anos (32%), com 18% residindo há mais de 20
anos. No grupo intermediário, das propriedades entre 5 a 200 hectares, há a predominância de
possuidores que ali estão há pelo menos 20 anos, seguido daqueles que estão há 10 anos. Os
pequenos produtores estão na propriedade, majoritariamente, há 5 anos ou entre 10 a 20 anos
(D’ANTONA et al., 2006). Com relação às origens de nascimento dos proprietários, chama
atenção as grandes propriedades com predominância de sulistas e as pequenas com
predominância de nordestinos, em número acima inclusive dos nativos (Figura 3).
Os naturais da região, que representam parte significativa das propriedades pequenas e
intermediárias, são originalmente aqueles que abriram os lotes de terra e seus herdeiros, e
também os sujeitos de mobilidade populacional com a rotatividade intramunicipal, que pode
configurar-se como uma alternativa à migração com destino urbano e à migração para novas
fronteiras. Em relação aos naturais em grandes propriedades, estes pertencem a famílias
tradicionais de Santarém e/ou profissionais urbanos, que investem em aquisição de terras
(D’ANTONA & VANWEY, 2009)
15
Este rearranjo espacial da população pode ser associado pelos fluxos internos dentro do próprio
município, além das migrações antigas e recentes. Segundo dados do IBGE (2000), 65% dos
moradores que residem há menos de 5 anos na propriedade rural vieram de outra região rural de
Santarém e 10% vieram da sede municipal. Portanto, percebe-se um alto dinamismo no espaço
rural de Santarém, tanto do ponto de vista do uso da terra e estrutura fundiária, como da
população.
Figura 3. Origem dos proprietários. Fonte: D’ANTONA et al. (no prelo)
Estas transferências de lotes ou indivíduos para outros e a concentração de terras, especialmente
aquelas provindas de sucessivas fragmentações, podem provocar o adensamento de lotes e
formarem grandes aglomerados populacionais, caracterizando uma espécie de urbanização do
rural, onde ocorre uma ampliação da densidade de unidades domésticas e infraestrutura
(D’ANTONA & VANWEY, 2009). Nas propriedades com menos de 5 hectares observa-se a média
de uma unidade doméstica, com relação 0,81 hectares por UD; nas grandes propriedades, o
número de UDs por propriedade não chega a um e apresenta uma relação de 810 hectares por
unidade doméstica (D’ANTONA et al., 2006).
D’ANTONA & VANWEY (2009) descreveram um caso típico fragmentação atrelado ao aumento
da densidade populacional e urbanização rural. A propriedade, de 48 hectares, foi comprada em
1994 por João e Marluce, que optaram pela localização próxima a estrada, cidade e escola. Na
propriedade, que só continha vegetação em estágio secundário de regeneração, João fez o corte
de 2,5 hectares e plantou culturas anuais e pimenta. Ao longo do tempo, o casal conseguiu juntar
capital suficiente para compra de veículos e condução de uma pequena mercearia, com propósito
de vender bebidas e produtos derivados de sua própria terra. Com o casamento das duas filhas,
em 1995 e 1998, duas novas unidades domésticas foram construídas na propriedade com
benfeitorias compartilhadas e mais dois hectares desmatados para o plantio de anuais,
conduzidos pelos genros. Em 2001, João vendeu dez pequenos lotes de 10x30, com o propósito
de atrair população e mobilizar o governo para promoção de infraestrutura e demais serviços
públicos. A estratégia resultou na instalação de um sistema de abastecimento de água,
investimentos na estrutura da escola e instalação de rede elétrica.
Este exemplo, não só elucida a relação de população e ambiente, pelas dinâmicas das unidades
domésticas e decisões do uso da terra, como permite perceber como se consolida a urbanização
16
no rural. A partir de processos como estes é que ocorrem os movimentos de emancipações
municipais, onde grandes aglomerados reconstituem o espaço através da infraestrutura e da
prática de serviços em geral. Trabalhando nesta perspectiva, tem sido um fato comum ocorrer
elevação à categoria de municípios, regiões que antes eram bairros ou vilas rurais, como ocorreu
com a emancipação de Belterra em 1995, Placas em 1993 e está em processo de ocorrer com
Mojuí dos Campos.
4. Discussão e conclusão
Convém deixar claro, que o presente artigo parte de um primeiro recorte da proposta de estudar a
reconfiguração do rural no oeste do Pará sob a abordagem multiescalar, apresentando uma
versão preliminar do estudo que tem como um dos principais pontos refletir sobre as limitações
dos métodos e fonte de dados. Para contemplar os objetivos propostos, muitas foram as
dificuldades em viabilizar a compatibilização da escala temporal, sobretudo pelas restrições das
fontes de dados. As interconexões entre as unidades analíticas estudadas deveriam ser
sustentadas pela espacialização das variáveis através da ferramenta SIG, para então permitir
trabalhar com naturezas distintas de informações.
Muita embora as limitações sejam presentes, a abordagem micro escalar foi eficiente em elucidar
a forma pela qual partem os processos observados sob a perspectiva maior, mesmo se tratando
de um recorte temporal distinto. O objetivo aqui não é comparar dados de uma mesma unidade,
mas entender os componentes e dinâmicas envolvidas. Nesse sentido, as análises apresentadas
para a área de estudo em Santarém fornecem embasamento teórico para pensar na
transformação do estado Tapajós.
No âmbito geral, fica perceptível o processo de organização da população orientado pelos fluxos
migratórios e deslocamentos intramunicipais, historicamente baseados na ocupação e
desocupação do espaço. A distribuição da população é estruturante e define a base fundiária dos
territórios sob a perspectiva regional, pelos movimentos de emancipações tanto do estado do
Tapajós como dos próprios municípios que o compõem, e, sob a perspectiva micro escalar, pela
transformação das propriedades em decorrência de fragmentações e consolidações.
O presente artigo sugere a correlação direta das dinâmicas ocorridas no rural como fatores
fundamentais desta transformação fundiária. O crescimento demográfico acentuado e sua
distribuição muitas vezes implicam na urbanização da população, como observado em alguns
municípios do proposto Tapajós, mas não prediz necessariamente um declínio do volume absoluto
de habitantes rurais. Presume-se que grande parte dos municípios criados a partir dos anos 80
tenha sua origem em adensamentos populacionais situados no rural. Todos os municípios que se
desmembraram durante a década de 80 ou 90 tiveram crescimento negativo de sua população
rural durante este período, elevando à categoria de município novos territórios com grau de
17
urbanização média de 30%. Estes indícios sugerem que os processos de emancipações estão
vinculados a urbanização do rural.
HOGAN et al. (2008), aplicando o mesmo raciocínio, determina como fatores condicionantes da
emancipação de Uruará, Medicilândia e Brasil Novo, o adensamento humano em agrovilas e lotes
rurais criados na ocasião da Transamazônia e dos projetos de colonização. Neste sentido, a
perspectiva micro tem muito a contribuir para a compreensão de todos os aspectos envolvidos
nesta aglomeração populacional, buscando respostas que conferem as esferas econômica, social
e ambiental das motivações pessoais.
A relação do indivíduo ou da unidade doméstica com o ambiente, sobretudo da sua propriedade,
explica muito da tomada de decisões para o uso da terra, que por sua vez, é intrínseco dessa
estruturação fundiária. O que motiva o indivíduo a vender sua propriedade, ou parte dela, assumir
mais uma nova unidade doméstica no seu lote, definir qual área para plantio de culturas perenes
e/ou anuais e decidir manter regeneração natural ou avançar na floresta, são pontos importantes e
decorrentes substanciais desta relação. A estratégia da unidade doméstica não está totalmente
desvinculada aos condicionantes maiores, entretanto, a diversidade de padrões observados na
área de estudo, comprova a existência de um conjunto muito maior de fatores que influenciam
esta dinâmica. E por isto, a relevância da inserção de outras ciências nesta discussão.
Do ponto de vista regional, os municípios do pretenso estado Tapajós que originaram os
desmembramentos apresentaram intensos fluxos migratórios, inclusive intramunicipais,
destacando Santarém, Altamira e Itaituba. Estes últimos pertencem ao pequeno grupo de
municípios urbanos da região de estudo em 2000 e estão entre os maiores responsáveis pelo
desmatamentos na região, sobretudo se forem computados juntos os seus territórios criados.
Portanto, não há como desconectar a dinâmica populacional, principalmente a migração, da
transformação do espaço rural pela urbanização e mudança da cobertura da terra.
Em decorrência da disparidade presente dentro das áreas estudadas, as próximas etapas deste
estudo deverão caminhar no sentido de definir melhores técnicas para o entendimento da
espacialidade destes fatores, e, especialmente, transitar entre a escala micro e regional. Novas
variáveis deverão ser inseridas na análise tanto do Censo Demográfico, como de dados
secundários em geral, para expressarem mais acentuadamente as interações entre população e
ambiente.
Do ponto de vista da escala regional, serão necessários maiores aprofundamentos para
compreender as especificidades de cada município e a contribuição de sua dinâmica para o
proposto estado do Tapjaós. Neste sentido, a seleção das variáveis deverá ser cautelosamente
estudada afim de trabalhar com quesitos do Censo Demográfico que permitam captar as
transformações temporais. No presente artigo, perceberam-se dificuldades em compatibilizar tanto
18
os quesitos dos três censos, quanto as classes de cada variável e, limitações pela qualidade de
alguns dados que obtiveram “missing” para 70% da população.
Pensando na escala micro, a próxima etapa já em andamento é a finalização do processamento
dos dados das atividades de campo de 2009. Para obter maior detalhamento de como ocorrem os
deslocamentos dos membros das unidades domésticas, esta tarefa deverá ser concluída.
Contextualizando-se dinâmicas observadas na escala do lote, propõe-se um estudo para o
município de Santarém através da malha censitária, capaz de espacializar informações
municipais, articulando-as com as obtidas nos questionários.
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