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M.ICBAS 2020 INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR MESTRADO MEDICINA LEGAL Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal Cátia Patrícia Coelho Silva M 2020 Cátia Silva. Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal Cátia Patrícia Coelho Silva

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Título

Autor

M.ICBAS 2020

INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS ABEL SALAZAR

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AL

Cara

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20

20

Cátia Silva. Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal

Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em Portugal

Cátia Patrícia Coelho Silva

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Cátia Patrícia Coelho Silva

Caracterização de casos de Medicina Veterinária Forense em

Portugal

Dissertação de Candidatura ao grau de

Mestre em Medicina Legal submetida ao

Instituto de Ciências Biomédicas de Abel

Salazar da Universidade do Porto.

Orientador – Doutora Justina Maria Prada

Oliveira

Categoria – Professor auxiliar

Afiliação – Universidade de Trás-os-Montes

e Alto Douro

Co-orientador – Mestre Maria Leonor

Gonçalves Delgado Madureira

Categoria – Assistente convidado

Afiliação – Laboratório Veterinário INNO /

Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e

Universitário

Co-orientador – Doutora Margarida Duarte

Cerqueira Martins de Araújo

Categoria – Professor auxiliar

Afiliação – Instituto de Ciências Biomédicas

Abel Salazar da Universidade do Porto

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

ii

Agradecimentos

“Não existe ensino que se compare ao exemplo”

Baden-Powell

Um agradecimento especial à Doutora Justina e à Mestre Maria Leonor não só pela

orientação e disponibilidade na elaboração deste projeto, como também pela confiança em

mim depositada. Por serem um exemplo de dedicação profissional e pela transmissão de

conhecimentos que me proporcionaram.

Aos meus pais, pelo apoio incondicional e incentivo nos momentos menos bons ao longo

de toda a minha vida académica e profissional. Por me demonstrarem um exemplo de

dedicação e empenho a seguir na busca da concretização dos nossos sonhos e objetivos

de vida.

Ao meu companheiro de vida pelo apoio incondicional nesta caminhada e pela ajuda na

elaboração deste projeto. Por ser um exemplo de empenho e luta tanto a nível pessoal

como profissional.

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

iii

Resumo

A perspetiva sobre a medicina veterinária forense tem vindo a sofrer alterações devido

a vários fatores, como a maior preocupação pela sociedade com o bem-estar animal,

aparecimento de movimentos nacionais e internacionais de combate ao crime da vida

selvagem, introdução de nova legislação sobre os maus-tratos animais e o aumento da

procura de indemnizações por parte dos proprietários.

Os objetivos essenciais deste estudo são perceber a evolução da medicina forense, com

base num estudo retrospetivo a partir de necropsias forenses realizadas no laboratório de

histologia e anatomia patologia da UTAD, entre os anos de 2009 e 2018.

No estudo foram avaliadas o total de 90 amostras verificando um aumento nos últimos

10 anos do número de necrópsias médico-legais veterinárias. Destas, 55,6% (n=50)

representam a espécie canina e 62,2% (n=56) causa de morte indeterminadas, com

envolvimento das autoridades em 42,2% (n=38) dos casos.

Concluindo, existe uma tendência evolutiva para o aumento deste número do número

de necrópsias médico-legais veterinária, sendo importante a continuação dos estudos

nesta área contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento da área da medicina

legal na veterinária.

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

iv

Abstract

The perspective on forensic veterinary medicine has been changing because of several

factors, as more concern from society about animal care, appearance of national and

international movements of wildlife crime combat, the introduction of new legislation about

animal mistreatment and the increasing of search for compensation from owner.

The aim of this study are to understand the evolution of forensic medicine in veterinary,

based in the retrospective study from the forensic necropsies made in the UTAD histology

and pathology laboratory between 2009 and 2018.

The study evaluated 90 samples, with an increase in the number of forensic veterinary

necropsies in the last 10 years. Of these, 55.6% (n = 50) represent the canine species and

62.2% (n = 56) undetermined cause of death, with involvement of the authorities in 42.2%

(n = 38) of the cases.

In conclusion, there is an evolutionary tendency to increasing in this number of forensic

veterinary necropsies, and it is important to continue studies in this area, contributing to the

learning and development in the area of forensic medicine in veterinary.

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

v

Índice

1. Introdução .......................................................................................................... 1

2. Patologia forense humana .................................................................................. 2

3. Medicina veterinária forense ............................................................................... 4

3.1. Contexto atual .................................................................................................... 4

3.2. A lei animal em Portugal ..................................................................................... 6

4. Necrópsia médico-legal na patologia forense veterinária .................................... 9

4.1. Objetivo e diagnósticos diferenciais .................................................................... 9

4.2. Exame de hábito externo ...................................................................................10

4.3. Exame de hábito interno ....................................................................................14

5. Materiais e Métodos ..........................................................................................18

6. Resultados ........................................................................................................25

7. Discussão ..........................................................................................................37

8. Conclusão .........................................................................................................40

9. Referências Bibliográficas .................................................................................41

10. Anexos ..............................................................................................................43

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

vi

Índice de figuras

Figura 1 - Receção de amostras para necrópsias médico-legais no laboratório de

histologia e anatomia patológica da UTAD. Imagem A demonstra a receção do cadáver

pela patologista veterinária e documentação envolvida na mesma. Imagem B demonstra

condições de receção do cadáver com o respetivo número interno do laboratório histologia

e anatomia patológica da UTAD. .....................................................................................18

Figura 2 - Fotografia inicial do cadáver com a identificação do número interno do

laboratório histologia e anatomia patológica da UTAD. ....................................................19

Figura 3 – Gráfico com a variação do número de necrópsicas médico-legais veterinárias

realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica

da UTAD. .........................................................................................................................26

Figura 4 – Gráfico com percentagens dos diagnósticos diferenciais médico-legais das

necrópsicas médico-legais veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no

laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...............................................28

Figura 5 – Ferimentos provocados por arma de fogo. Imagem A apresenta animal da

espécie canina com múltiplos orifícios de entrada provocados por múltiplos projéteis.

Imagem B mostra orifício de entrada único com orla de contusão na cabeça de animal da

espécie bovino. ................................................................................................................29

Figura 6 - Examinação de mucosas congestionadas na realização do exame de hábito

externo em animal da espécie canina. .............................................................................29

Figura 7 – Avaliação da pelagem e fauna cadavérica em animal da espécie Vulpes

Vulpes. ............................................................................................................................29

Figura 8 – Recolha de conteúdo gástrico para exame toxicológico. ...........................30

Figura 9 – Exame radiológico, raio-x, realizado post mortem em cadáver da espécie

canina. Imagem A exibe animal na realização de raio-x na fase inicial na necrópsia. Imagem

B exibe radiografia da cabeça com múltiplos projéteis. ....................................................30

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

vii

Índice de tabelas

Tabela 1 - Número e percentagem de necrópsias médico-legais veterinárias realizadas

anualmente entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia

patológica da UTAD. ........................................................................................................25

Tabela 2 - Número e percentagem de espécies nas necrópsias médico-legais

veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e

anatomia patológica da UTAD. ........................................................................................27

Tabela 3 - Número de casos das espécies nas necrópsias médico-legais veterinárias

realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.....31

Tabela 4 - Número de casos tendo em conta o sexo nas necrópsias médico-legais

veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da

UTAD. ..............................................................................................................................31

Tabela 5 - Número de casos tendo a idade nas necrópsias médico-legais veterinárias

realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.....32

Tabela 6 - Número de casos com presença ou ausência de chip ou marca de

identificação nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no

laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...............................................32

Tabela 7 - Número de casos de acordo com o diagnóstico diferencial médico-legal das

necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia

e anatomia patológica da UTAD. .....................................................................................33

Tabela 8 - Número de casos de acordo com o fenómeno cadavérico presente nas

necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia

e anatomia patológica da UTAD. .....................................................................................33

Tabela 9 - Número de casos com descrição da condição corporal, pelagem e mucosas

nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de

histologia e anatomia patológica da UTAD. .....................................................................34

Tabela 10 - Número de casos tendo em conta as categorias de descrição da cavidade

torácica nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório

de histologia e anatomia patológica da UTAD..................................................................34

Tabela 11 - Número de casos tendo em conta as categorias de descrição da cavidade

abdominal nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no

laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...............................................34

Tabela 12 - Número de casos em que foram solicitados ou realizados exames

complementares nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no

laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. ...............................................35

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

viii

Tabela 13 - Número de casos com envolvimento das autoridades nas necrópsias

médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia

patológica da UTAD. ........................................................................................................36

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

ix

Lista de siglas e/ou abreviaturas

UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

SEPNA - Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente

GNR - Guarda Nacional Republicana

ADN – Ácido desoxirribonucleico

NUIPC - Número Único de Identificação do Processo Crime

SPSS - Statistical Package for Social Sciences

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

1

1. Introdução

A medicina legal, também conhecida por medicina forense, consiste na aplicação dos

conhecimentos médicos na resolução de processos legais (1-5). Desta forma, a medicina

veterinária forense consiste na aplicação dos conhecimentos da medicina veterinária na

resolução de casos forenses com responsabilidade civil e criminal (1, 2, 4-9).

A medicina veterinária forense não difere da medicina humana em relação à

necessidade de uma análise objetiva, de forma a garantir a credibilidade legal e científica

exigida pela justiça (1, 7, 8). De igual forma, a necrópsia médico-legal na medicina

veterinária tem objetivos semelhantes à humana, ou seja determinar as causas e

circunstâncias da morte, sendo realizada nos casos em que exista suspeita de morte

animal não natural (1, 7, 9-12).

A necrópsia médico-legal é constituída pelo exame de hábito externo, exame de hábito

interno e exames complementares, concluindo com a realização do relatório final, onde

constam a documentação facultada pelas autoridades, informações recolhidas no exame

do local de crime e toda informação e registos fotográficos na necrópsia (1, 2, 7, 9, 12, 13).

O patologista veterinário deve proceder de forma imparcial e objetiva, recolhendo e

documentando todas as evidências presentes no cadáver com relevância para a

investigação do caso, colaborando para a deliberação do sistema jurídico (11, 12).

Com as recentes alterações da lei relativas à proteção e bem-estar animal e devido à

ainda pouca formação e certificação de pessoal veterinário especializado na área forense,

existiu a necessidade de maior desenvolvimento técnico nesta área, como também um

aumento da procura de médicos veterinários especialistas (1, 8, 14-16).

Por isso, devido ao crescente interesse na área procedeu-se à realização deste estudo

de forma a complementar a informação disponível para os médicos veterinários,

especialista forenses, técnicos e meios judiciais, acompanhando a evolução e

desenvolvimento desta disciplina ainda recente.

O objetivo essencial deste estudo fazer um estudo retrospetivo das necrópsias forenses

realizadas no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD num período de 10

anos (2009-2018), determinando as principais causas de morte identificadas e respetiva

espécie e a proveniência dos cadáveres. Analisou-se ainda o envolvimento das

autoridades, bem como os exames complementares e a descrição aplicada nos relatórios

das necrópsias médico-legais veterinárias.

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

2

2. Patologia forense humana

A Necrópsia consiste no exame do cadáver aplicando procedimentos e técnicas de

dissecção reconhecidos, de forma a determinar a causa de morte com base nas lesões

encontradas, história clínica e meios complementares, podendo ser realizada tanto em

contexto clínico como para finalidades médico-legais (10, 17).

Na medicina humana existem 2 tipos de autopsias: autópsia anátomo-clínica e autópsia

médico-legal. A autópsia anátomo-clínica tem como principal objetivo o estudo do processo

da doença in situ, permitindo uma melhor caracterização e compreensão do funcionamento

do corpo humano, assim como o conhecimento de patologias dos diferentes aparelhos e

sistemas tendo em conta os efeitos das doenças nos órgãos alvo, apresentando relevante

interesse a nível clínico, de investigação e académico. Esta deve ser realizada pelo médico

patologista sendo necessário o consentimento dos familiares (10, 17) .

Na autópsia médico-legal estão compreendidas as mortes de causa natural (sem causa

médica estabelecida), causa não natural (acidental, homicídio e suicídio) e indeterminada,

estando estas inseridas em processos de investigação, após abertura de inquérito, para

averiguação dos factos, coadjuvando na aplicação da lei e sua resolução, não sendo

necessário o consentimento (10, 17) .

Em suma, a medicina legal, também conhecida por medicina forense, consiste na

aplicação dos conhecimentos médicos na resolução de processos legais (1-4).

A causa de morte por norma é evidente a partir dos achados post mortem, contudo em

alguns casos nem sempre é possível estabelecer a causa de morte, podendo esta

permanecer como indeterminada. A autópsia médico-legal tem como principais objetivos

obter um diagnóstico diferencial médico-legal: natural, acidental, suicídio, homicídio ou

indeterminada. Para além disso, tem ainda outros objetivos como a identificação do

cadáver, descrição e natureza das lesões, identificação de outras causas subjacentes ou

doenças que contribuíram para a morte, verificação das lesões ante ou post mortem e

recolha de vestígios na vítima que possa auxiliar na resolução do inquérito (2, 10, 17).

Em Portugal, a lei n.º 45/2004 estabelece o regime jurídico da realização das perícias

médico-legais e forenses. Segundo o artigo 18.º “a autópsia médico-legal tem lugar em

situações de morte violenta ou de causa ignorada, salvo se existirem informações clínicas

suficientes que associadas aos demais elementos permitam concluir, com segurança, pela

inexistência de suspeita de crime, admitindo-se, neste caso, a possibilidade da dispensa

de autópsia”, contudo situações de morte violenta por acidente de trabalho ou acidente de

viação com resultado de morte imediata nunca podem ser dispensadas. Segundo o artigo

2.º as perícias são realizadas, obrigatoriamente, nas delegações e nos gabinetes médico-

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

3

legais do Instituto Nacional de Medicina Legal e as autópsias médico-legais por norma, de

acordo com o artigo 19.º, são realizadas por um médico perito coadjuvado por um auxiliar

de perícias tanatológicas (18).

A autópsia médico-legal só pode ser realizada após a emissão do ofício judicial que

também autoriza a recolha de qualquer material do cadáver caso sejam necessários outros

exames. Outras informações que também devem constatar no processo são a verificação

do óbito, documento que retrata a cena de morte devidamente preenchido pelas

autoridades e história clínica conhecida do indivíduo (10, 17).

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

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3. Medicina veterinária forense

3.1. Contexto atual

Nos últimos anos o conceito de ciência forense tem vindo a evoluir no sentido de

constituir uma ciência multidisciplinar, onde contribuem os conhecimentos de diferentes

áreas como a biologia, medicina, psicologia, medicina veterinária, odontologia, entre outras

(1). A medicina veterinária forense é uma disciplina recente que e consiste na aplicação

dos conhecimentos veterinários na resolução de casos legais com responsabilidade civil e

criminal (1, 2, 4, 6-9).

A medicina veterinária forense não difere da medicina humana em relação à

necessidade de uma análise objetiva com registo e preservação das provas, sendo

necessária uma correta colheita, documentação e interpretação das evidências, como por

exemplo de suspeita de abuso de animais, de forma a garantir a credibilidade legal e

científica exigida pela justiça. A principal diferença reside sobretudo na variedade de

espécies que podem ser apresentadas na medicina veterinária (1, 7, 8) .

No entanto, a aplicação forense nos casos médico-legais de veterinária ainda se

encontra pouco desenvolvida relativamente à sua congénere humana. Ao contrário da

medicina forense humana, o desenvolvimento dos conhecimentos dos médicos

veterinários nesta área tendo sido sobretudo empírico. No entanto, segundo McDonough

(2016) 75% dos médicos veterinários referem que a prática não é suficiente para a

preparação do trabalho como médico veterinário forense. Em concordância, na medicina

veterinária ainda existem limitações na formação e certificação de pessoal especializado,

o que contrasta com a patologia forense humana (1, 8, 14-16) .

A abordagem forense em medicina veterinária varia consoante o país em causa, devido

às diferenças na legislação de cada país, bem como a opinião da sociedade sobre a

importância destes casos (1, 8). A nível mundial, segundo um estudo realizado por Ottinger

et al (2015), a maior parte dos laboratórios de medicina veterinária forense encontram-se

integrados em universidade (73,6%) ou em laboratórios pertencentes ao estado. Neste

estudo, apesar da maior parte dos entrevistados afirmarem não ser obrigatório formação

especifica para exercer a função de patologista veterinário forense, cerca de 35 dos 66

entrevistados referem que os exames forenses post mortem são realizados por

patologistas certificados ou com formações especifica em patologia forense(8).

Devido as drásticas alterações dos últimos anos, houve uma maior necessidade dos

médicos veterinários procurarem formação nesta área. Alguns dos fatores que contribuíram

para isto foram:

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

5

• Procura por parte dos detentores dos animais em obterem uma indeminização ou

outra recompensa legal no que diz respeito a questões de morte, problemas de saúde ou

ferimentos dos animais;

• Maior preocupação da sociedade pelo bem-estar animal, com legislação sobre

bem-estar animal e criminalização dos maus tratos a animais de companhia;

• Criação de movimentos a nível mundial de combate ao crime da vida selvagem;

• Necessidade de minimizar os efeitos de poluição ambiental;

• Introdução de legislação quanto à saúde e segurança resultantes dos perigos dos

animais, bem como dos produtos resultantes dos mesmos, por exemplo carne e leite, ou

dos seus organismos patogénicos (6, 8).

Assim sendo, existe uma maior procura de médicos veterinários especialistas na área

forense. Consequentemente as lacunas tanto na educação como na formação teórico-

prática deverão ser preenchidas progressivamente (1, 19) . O que é possível constatar pelo

crescente número de publicações veterinárias relacionadas com a medicina legal em

revistas científicas, assim como vários livros o que contribui para o desenvolvimento desta

área (14, 16, 19).

Os médicos veterinários podem ser envolvidos em casos de medicina veterinária

forense de diversas formas, sendo a mais comum nos casos de animais feridos ou mortos

levados aos centros de atendimento médico-veterinário para avaliação ou tratamento. Em

alguns casos, o médico veterinário pode ser chamado para avaliação do local do crime

(13).

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

6

3.2. A lei animal em Portugal

Os animais podem ser envolvidos em ações legais de duas formas distintas, como

vítimas, que sofrem o ataque ou ato ilegal, ou como instigadores, em que o animal é o

responsável pelo incidente. Esta última é competência para a medicina forense humana,

uma vez que compreendem as situações que causam lesões aos seres humanos de várias

maneiras como mordidas, picadas, traumatismos, transmissão de agentes infeciosos ou

alergias (1, 6, 9) .

Nos últimos anos, a medicina veterinária forense tem aumentado significativamente a

sua aplicação no contexto das investigações de crimes contra animais incluindo casos

criminais, ações civis, audiências sobre negligências, ferimentos não acidentais, roubo,

violação das leis da vida selvagem como o aprisionamento, reivindicações de seguro,

disputas industriais, avaliação do impacto ambiental, questões governamentais, inspeções

em lojas de animais e jardins zoológicos e má conduta profissional por parte dos médicos

veterinários (1, 2, 9, 11, 14).

A definição de crueldade ou maus tratos animais tem sido discutida por diversos autores,

uma vez que pode ser utilizada num espectro alargado de contextos. Desta forma, consiste

não só em ações físicas ou omissão das mesmas, ações com intencionalidade de

provocação dos animais ou de tortura, ações intencionais ou de negligência, como também

as lutas e a acumulação de animais (13, 20).

A legislação relativamente aos animais é uma área especializada do direito que remonta

ao passado, uma vez que muitas civilizações atribuem significado religioso, cultural,

nutricional ou desportivo a uma variedade de espécies animais. No entanto, apenas no

século XIX surgiu o conceito de que os animais necessitam de proteção contra os abusos,

e mais tarde no século XX foi reconhecida a necessidade de proteção legal contra a

extinção de espécies, surgindo acordos de proteção das espécies e do habitat marinho e

terrestre (1).

Na lei é essencial fazer a distinção entre o direito penal e civil. O direito penal estabelece

leis cujo não cumprimento é punido pelo estado, ou seja refere-se às relações entre pessoa

e o estado, enquanto que no direito civil as denúncias são de pessoas, ou seja refere-se

às relações entre pessoas (1).

Existem quatro níveis na elaboração da lei animal são elas: internacional, regional,

nacional e local, sendo a maioria realizada a nível nacional (1, 5). Em 1987 a União

Europeia e o Conselho da Europa conceberam o regulamento e diretivas relativamente à

saúde animal, bem-estar dos animais de produção, animais para investigação,

conservação da vida selvagem e comércio internacional de espécies em vias de extinção

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

7

(1, 7, 20). A falha na implementação desta diretivas por parte dos países membros

constituía uma penalização para o país (7, 20).

Esta legislação europeia foi aprovada e ratificada em Portugal no ano 1993 pelo

Decreto-Lei n.º 13/93 de 13 de abril de 1993. Contudo, apenas em 2001 passou a ser

regulamentada e aplicada, pelo Decreto-Lei n.º 276/2001 de 17 de outubro, e as sucessivas

alterações, sendo a última o Decreto-Lei n.º 260/2012 de 12 de dezembro de 2012, que

declara a proibição de todas as violências contra os animais com o objetivo de infligir a

morte, o sofrimento ou lesões, sendo as contraordenações puníveis com coima (7, 20).

Em Portugal é introduzido em 1995 a Lei n.º 92/95 de 12 de setembro sobre a proteção

dos animais, que segundo o artigo número 1º é proibida toda a violência injustificada contra

animais, considerando como tais os atos consistentes em infligir a morte, o sofrimento cruel

e prolongado ou graves lesões a um animal sem necessidade. Esta refere ainda que devem

ser prestados auxílio na medida do possível a animais doentes, feridos ou em perigo (7,

20, 21).

Desde 2014 que Portugal tem evoluído na criação de normas jurídicas na proteção dos

animais, não só na criminalização do abuso e negligência de animais de companhia, como

também pelo reconhecimento oficial do animal como ser senciente (7, 20).

Foi aprovada em 2014 a Lei nº 69/2014, de 29 de agosto, com alteração ao Código

Penal, que criminaliza os maus tratos e abandono dos animais de companhia. Segundo o

artigo 387.º são considerados maus tratos a animais de companhia “quem, sem motivo

legítimo, infligir dor, sofrimento ou quaisquer outros maus tratos físicos a um animal de

companhia é punido com pena de prisão até um ano ou com pena de multa até 120 dias”,

contudo a pena pode ser agravada para pena de prisão até dois anos ou pena de multa

até 240 dias “se dos factos previstos no número anterior resultar a morte do animal, a

privação de importante órgão ou membro ou a afetação grave e permanente da sua

capacidade de locomoção” (20, 22).

Nos anos seguintes sucederam-se diversas alterações do Código Penal, sendo em 2015

com a Lei nº 110/2015, de 26 de agosto, que estabelecido o “quadro de penas acessórias

aplicáveis aos crimes contra animais de companhia” (23). Já em 2016 é publicada a Lei nº

27/2016, de 23 de Agosto, que segundo o artigo 1.º “aprova medidas para a criação de

uma rede de centros de recolha oficial de animais e para a modernização dos serviços

municipais de veterinária, e estabelece a proibição do abate de animais errantes como

forma de controlo da população, privilegiando a esterilização” (24).

Os crimes contra animais podem constituir ainda um fator de risco e indicador de outros

tipos de violência como a interpessoal, doméstica ou sobre crianças e idosos, fornecendo

informações importantes sobre possíveis riscos inerentes para outros animais ou para a

sociedade em geral. Por consequente, é de extrema importância o papel do médico

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veterinário no diagnóstico de crimes contra animais, tendo este o dever e responsabilidade

de denunciar os casos às autoridades apropriadas para proteger a saúde e o bem-estar

dos animais e pessoas envolvidas (7, 15, 20, 22, 25). Estudos apresentam como principais

motivos para aos maus tratos animais as ações com objetivo de controlar ou modelar os

comportamentos inerentes dos animais, assim como a forma de punição por parte do

detentor (15).

Alguns estudos demostram que mais de 60% dos agressores adultos violentos

apresentam história de abuso de animais na infância (7). Outros estudos demonstraram

que existe maus tratos ou ameaças aos animais de estimação de aproximadamente dois

terços das mulheres que sofreram violência doméstica (7, 25). Segundo um estudo

realizado no Reino Unido a mulheres que sofriam de violência doméstica, 66% relataram

existir ameaças e 38% relatam maus tratos físicos aos animais de estimação (25).

Para este efeito e segundo o artigo 389.º são designados como animais de companhia

os animais ao cuidado dos seres humanos para entretenimento e companhia. Não estão

incluídos os animais com fins de exploração agrícola, pecuária ou agroindustrial, bem como

animais para fins de espetáculo comercial (20, 22).

Mais tarde, em 2017, procedeu-se à alteração do Código Civil com a aprovação Lei nº

8/2017, de 3 de março, que estabelece um estatuto jurídico aos animais. Segundo o artigo

1.º é reconhecidos aos animais a natureza de seres vivos dotados de sensibilidade (20,

26).

O balanço anual de 2016 em Portugal dos maus tratos a animais de companhia

realizado pela GNR, a partir do SEPNA, registou 3694 denúncias, 767 crimes e 5064 autos

de contraordenação (27).

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9

4. Necrópsia médico-legal na patologia forense veterinária 4.1. Objetivo e diagnósticos diferenciais

A necrópsia médico-legal na medicina veterinária tem objetivos semelhantes à medicina

humana, sendo realizada em casos de suspeita de morte animal não natural, com o

principal objetivo de determinar a causa e circunstâncias da morte (1, 7, 9-12). Embora

seja possível uma segunda opinião a partir do material obtido na necrópsia, é de salientar

que esta técnica em si, bem como os achados observados podem ser irreversíveis (7, 9).

Em medicina veterinária, a necrópsia do animal pode ser requisitada pelas autoridades,

em caso de suspeita de crime e pelo detentor do animal, em situações de suspeitas de

causa externa de morte e para esclarecimento de causa de morte. Pode ser ainda ser

requisitada pelas seguradoras, para avaliação de dano (2).

Nos maus tratos a animais que podem causar a morte estão incluídas uma vasta

variedade de ações que causam lesões corporais como os pontapés, os socos,

arremessos, agressões com instrumentos, esfaqueamento, queimaduras, utilização do

micro-ondas, afogamento, asfixia, arma de fogo, abuso sexual, negligência e ainda a

administração de drogas ou venenos (7, 25).

Segundo o autor Melinda Merck (2013), na medicina veterinária a classificação do

diagnóstico diferencial médico-legal difere da humana, dividindo-se em morte acidental,

morte não acidental, morte de causa natural e morte indeterminada. Acidental quando a

morte é de causa traumática/violenta de forma não premeditada, não acidental quando a

morte causada pelo agente de forma deliberada constituindo uma ofensa criminal de

acordo com as leis, natural quando se refere a morte causa exclusivamente por doença e

morte indeterminada quando não se consegue estabelecer uma das causas de morte

anteriormente mencionadas (1, 2, 13).

Para isto, é necessário conseguir diferenciar a causa de morte do mecanismo de morte.

Enquanto que a designação causa de morte é atribuída ao evento que produz a alteração

fisiológica que leva à morte, utilizada em relação ao diagnóstico diferencial anteriormente

descrito, o termo mecanismo de morte refere-se às alterações fisiológicas provocadas pela

causa da morte, como por exemplo hemorragias ou infeções (1, 5, 20).

Na realização deste tipo de necrópsia o patologista veterinário deve proceder de forma

independente, objetiva e imparcial, tendo como objetivo documentar e interpretar os

achados obtidos, transmitindo-os ao sistema jurídico que posteriormente toma as

deliberações sobre o caso. (11) Para isto, deve responder as seguintes questões: como,

porquê, quando e onde morreu, sequência temporal dos eventos, qual a saúde geral do

animal, lesão ante e post mortem, condições pré-existentes que podem ter influenciado

sua morte e possíveis envolvidos (1, 6, 7, 11).

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4.2. Exame de hábito externo

Para uma correta abordagem inicial do cadáver é fundamental possuir a informação

relativa ao caso. Tal como acontece em qualquer investigação laboratorial, é necessária

uma completa informação do animal como a história clínica, idade, contexto social, dieta,

entre outros. Contudo, na medicina veterinária forense por norma esta não é conseguida,

pois o animal em causa quando encontrado está morto e pode não ter detentor que forneça

a informação (1, 2).

A primeira etapa da investigação é o exame do local do crime, onde é abordado o

reconhecimento do local, colheita adequada do material e preservação das provas (12, 13).

Devem ser chamados de imediato ao local para examiná-lo agentes da lei, no caso de

Portugal o SEPNA e GNR, bem como se necessário o médico veterinário (2).

O local do crime apresenta informações importantes quanto à vítima, suspeito e ações

decorridas no crime, sendo necessário a recolhas de evidências físicas, como objetos, e

de amostras biológicas, como sangue, saliva, esperma, cabelo, tecido, ossos, dentes ou

outros fluidos corporais. É importante salientar que cada animal deve ser considerado um

item individual de evidência e caso existam vários animais envolvidos, deve ser atribuído

um número de identificação exclusivo de cada um (5, 12, 13).

Nas informações relevantes para a realização da necrópsia médico-legal deve constar

as informações recolhidas no local onde foi encontrado o cadáver, como a data e horários

dos incidentes ou achados, local, os intervenientes na ação, vestígios e achados da cena

de crime, fotografias entre outros (1, 7, 12, 13). De forma geral, devem ser recolhidas todas

as evidências relevantes para o caso, ou seja toda e qualquer coisa que pode provar ou

refutar um caso (12).

Para uma correta investigação, a análise destas evidências deve ser realizada com

rigorosos padrões de controle de qualidade, garantindo a cadeia de custódia. A cadeia de

custódia consiste no rastreamento das evidências, ou seja, no registo de datas, horários e

pessoas envolvidas no contato com a evidência que esta seja eliminada, garantindo que o

material não foi perdido ou adulterado (1, 4, 12, 20).

O médico veterinário forense deve tratar o cadáver como objeto de várias evidências

efetuando uma correta colheita e preservação do mesmo, sendo as mais comuns as

evidências biológicas, toxicológicas, entomológicas e de armas de fogo (12). A necrópsia

médico-legal veterinária não difere nos seus procedimentos em comparação com a

necrópsia clínica, contudo o que muda é o seu objetivo (16).

Antes da análise do cadáver e tratando-se este de uma evidência deve ser

completamente documentado, incluindo fotografias, apontamentos, diagramas e

radiografias (12). Em casos de pequenos animais e jovens, principalmente quando há

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suspeita de abusos, a realização do exame radiográfico contribui para a identificação de

fraturas ósseas, fragmentos e trajetórias de projéteis e lâminas, marcas de instrumentos

que podem indicar a natureza das lesões e qual a arma do crime, identificação de

pneumotórax, pneumoperitoneu, embolia aérea venosa (1, 5, 7, 28, 29).

A primeira etapa da necrópsia é o exame de hábito externo que tem como finalidade a

identificação do animal ou seja, determinar a espécie, raça, sexo, cor do

pêlo/penas/escamas, idade, peso e identificar particularidades que ajudem no

reconhecimento (1, 2, 9). Quanto à identificação de um animal devemos ainda verificar se

existe a implantação de microchip, sendo esta a melhor forma de fornecer informação

segura sobre a identificação do mesmo (1).

Ainda no exame de hábito externo devem ser avaliados os sinais como sujidade no pêlo

ou penas, lesões e feridas sugestivos de luta, material estranho associado ao corpo como

vegetação e o estado nutricional do animal (7, 11).

Quanto às lesões, estas devem ser identificas, classificadas, referenciar localização e

descrever (forma, tamanho, cor, consistência e odor), para auxílio da identificação da arma

e determinação de lesões acidentais ou intencionais. Porém o pêlo nos animais dificulta a

identificação destes traumas físicos. Estes podem resultar de atos intencionais de

violência, acidentes de viação, caça, acidentes com embarcações, no caso de animais

marinhos, rituais religiosos e em procedimentos terapêuticos (1, 2, 11, 28).

Para classificação das lesões é essencial a descrição dos bordos, forma, cor, tamanho,

tecidos adjacente e subjacente. As feridas incisas são infligidas por instrumentos cortantes,

resultado numa lesão mais longa e menos profunda com bordos limpos. As lesões de

abrasão são lesões superficiais na pele com envolvimento de força tangencial. As

contusões e hematomas são termos utilizados para a saída do sangue da circulação

sanguínea para os tecidos adjacentes, sendo que os hematomas ocorrem mais

profundamente, como por exemplo órgão parenquimatosos. As lacerações são aberturas

na pele causadas por contusão, ocorrendo sobretudo quando existe uma base firme e

tecido mole subjacente, como as proeminências ósseas (2, 7, 11, 28).

Outras lesões podem ainda ser identificadas como fraturas do sistema esquelético,

definidas como a disrupção dos ossos e dentes causada por uma força, podendo estar

associada direta ou indiretamente a lesões contundentes. Podemos ainda ter mutilações

associadas a ataques de predadores ou ataques de cães (7). Menos comuns são as

queimaduras, estas lesões podem ser causadas por ação térmica, elétrica ou química (2,

7).

No exame externo é também importante observar possíveis sinais de asfixia, definida

como a perturbação na captação e utilização de oxigénio e eliminação de dióxido de

carbono, sendo as situações mais comuns o estrangulamento, sufocação, asfixia mecânica

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12

e afogamento. Os sinais observados podem ser desde a cianose e congestão da pele do

pescoço, até as lesões dos instrumentos utilizados, como ligaduras (7).

Nos ferimentos por armas de fogo, deve ser retratado a direção do trajeto do projétil

identificando na pele, se possível, o orifício de entrada e de saída. O orifício de entrada

corresponde uma área circular ou oval perfeita rodeado por uma pequena área de abrasão,

enquanto que o orifício de saída é geralmente irregular podendo ter várias formas sem

lesão de abrasão associada (2, 7).

Nos casos de abusos sexuais, definidos como aqueles em que os animais são usados

para gratificação sexual, os achados encontrados dependem do tipo de abuso sexual

praticado, sendo as lesões caracterizados pelo tipo de contacto, do tipo e tamanho dos

objetos usados e do tamanho do animal (7).

Outro aspeto a ter em conta são os fenómenos cadavéricos post mortem pois auxiliam

na determinação do intervalo pós-morte, contudo é importante ter em conta que estes

variam consoante a espécie (2, 7, 11, 30). Logo após a morte as células deixam de receber

oxigénio e consequentemente as enzimas degradam macromoléculas intracelulares e

extracelulares, designando-se este fenómeno por autólise. Mais tarde, ocorre uma

degradação bacteriana à qual designamos de putrefação (2, 10).

Os fenómenos cadavéricos podem ser abióticos, imediatos ou mediatos, e

transformativos. Os abióticos imediatos referem-se à insensibilidade, imobilidade e

paragem das funções respiratórias e circulatórias. Enquanto que, os abióticos mediatos

referem-se:

• Arrefecimento cadavérico;

• Rigidez cadavérica (rigor mortis) – instala-se por norma após o arrefecimento

cadavérico pela sequência de pálpebras, músculos mastigadores, nuca, pescoço, partes

anteriores do tronco, membros anteriores, partes posteriores do tronco, membros

posteriores e cauda, desinstalando-se no mesmo sentido;

• Evaporação cadavérica – evaporação da água presente nos tecidos através da

epiderme;

• Lividez cadavérica (livor mortis) - palidez das mucosas ou manchas avermelhadas

(manchas de hipóstase) instaladas nas regiões em declive;

• Coagulação post mortem do sangue (2, 7, 10, 30).

Os fenómenos cadavéricos transformativos referem-se:

• Período cromático – aparecimento de manchas esverdeadas ao nível abdominal,

principalmente na região inguinal;

• Período enfisematoso – produção de gás que se inicia nos intestinos devido à

fermentação bacteriana;

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• Período de coliquação – liquefação das partes moles devido à proteólise;

• Período de redução esquelética – desaparecimento dos tecidos coliquados (2, 10).

Por fim, devem ser também examinadas não só as cavidades oral e a nasal, ouvido

externo e a mucosa ocular, assim como a genitália externa, no caso nos machos o pénis

deve ser exteriorizado para observação (7).

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14

4.3. Exame de hábito interno

Após o exame externo procede-se à avaliação do exame de hábito interno com a

abertura do cadáver. Para isto o animal deve estar na posição decúbito dorsal de forma a

manter as relações topográficas dos órgãos (2, 7). Estes procedimentos devem sempre

ter em conta e ser adaptados consoante as informações do processo, história clínica e das

evidencias do local de crime e prováveis acontecimentos (7, 13).

De uma forma geral, na maioria dos animais os procedimentos para abertura do cadáver

inicia-se com a desarticulação dos membros e em seguida é realizada a incisão ao longo

do eixo longitudinal do animal, desde o mento até à região perineal, iniciando-se na sínfise

mandibular, prolongando-se pela linha média intermandibular, da face ventral do pescoço,

da região esternal e da linha branca do abdómen contornando o umbigo e a genitália, até

à região perineal, rodeando o orifício anal, findando na base da cauda. Posteriormente,

deve ser rebatida a pele e tecido muscular e adiposo subjacentes, e em seguida removido

o plastrão (2).

Existem várias técnicas de necrópsias para a avaliação e evisceração dos órgãos,

contudo as mais comummente utilizadas são a técnica de Rokitansky e de Ghon (7, 9). A

técnica de Rokitansky consiste na avaliação e dissecção in situ dos órgãos em bloco, uma

vez que são mantidas as conexões anatómicas e patológicas, e só posteriormente a

extração de cada órgão individualizado (7). Por outro lado, a técnica de Ghon consiste na

extração em bloco dos órgãos anatomicamente relacionados e examinados posteriormente

(9).

De forma geral, nesta etapa devem ser abertas pelo menos as três principais cavidades

do corpo, que são a cavidade cranial, cavidade torácica e cavidade abdominal. Após a

exposição dos órgãos, estes devem ser examinados bem como a correlação entre eles (9).

Após a extração dos órgãos, a necrópsia deve ainda incluir sempre a abertura caixa

craniana, independentemente de estarem associados sintomas nervosos ou suspeita de

traumatismo, para examinação do encéfalo, cerebelo e medula. Por vezes é também

necessário a abertura e avaliação da coluna vertebral (7).

De forma geral, no exame de hábito interno devem ser examinados todos os órgãos

internos e colhidos fragmentos para anatomia patológica (5, 7, 13). A análise

anatomopatológica deve ser sempre considerada mesmo quando não existam achados

macroscopicamente evidentes, uma vez que permite determinar ou eliminar causas de

patologias ou da morte (13).

Porém, devido há ampla variedade de espécies existente na medicina veterinária, não

é possível definir nenhuma técnica de necropsia adequada a todas as espécies. Isto

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15

acontece sobretudo em espécies não domesticadas, sendo necessário a aplicação de uma

técnica tendo em conta as características especiais da espécie analisada (1).

Exemplo disso são os mamíferos que apresentam algumas variações, como por

exemplo a presença ou ausência de cauda, a estrutura do trato gastrointestinal, e

semelhanças, todos têm pelagem (1). No caso dos animais mamíferos monogástricos,

incluindo domésticos e não domésticos, devem ser aplicadas as técnicas de necrópsias

anteriormente mencionadas, assim como no caso dos suínos e roedores, pois apesar das

diferenças anatómicas de alguns órgãos não implicam a aplicação de procedimentos

diferentes. No caso específico dos equídeos, o cadáver de ser colocado em decúbito para

o lado direito, removendo os membros anterior e posterior esquerdos e a pele que recobre

o abdómen e tórax. Seguem-se as aberturas das cavidades abdominais e torácicas com

um corte realizado ao longo da linha do hipocôndrio, que continua paralelo à coluna

vertebral lombar, seguindo para baixo ao longo do flanco. Pelo contrário, nos casos dos

ruminantes a posição aconselhada é decúbito sobre o lado esquerdo com remoção dos

membros do lado direito, segue-se a abertura da pele pela linha média ventral, rebatendo-

a, seguindo-se o corte da parede muscular dorsal ao longo das apófises transversas das

vértebras lombares, continuando pela linha média do hipocôndrio, seguindo os ossos da

bacia (2).

Nos pássaros, todos são ovíparos e exibem penas e sacos aéreos, diferindo na

presença ou ausência de papo e ceco (1). A necrópsia inicia-se com a desarticulação entre

os ossos fémur e coxal, seguindo a incisão transversa abaixo da quilha com rebatimento

da pele da direção cranial e caudal (2).

Já no caso dos répteis existem diversas alterações especificas de cada classe, como a

ausência de membros funcionais, presença de carapaça e plastrão, alguns são ovíparos,

contudo todos têm escamas (1, 2). De forma geral os procedimentos adotados são

semelhantes ao dos mamíferos, contudo é necessário ter em conta as alterações das

classes descritas anteriormente (2).

Todos os peixes apresentam escamas, barbatanas, guelras, brânquias e bexiga

natatória, contudo existem variação devido ao ciclo de vida e habitat, caso sejam de água

doce ou salgada (1). Estes casos exigem um protocolo específico, sendo as principais

modificações a posição de decúbito lateral sobre o lado direito, começando a incisão na

abertura anal e progredindo ao longo da linha ventral até à sínfise dos opérculos, antes das

guelras, seguindo-se uma segunda incisão desde a abertura anal, que segue o limite

superior, até se encontrar com extremidade anterior do primeiro corte (2).

Cada etapa, assim como as suas evidências, devem ser identificadas, fotografadas e

documentadas com o máximo de detalhe e descrição, mas também com uma leitura

sucinta, possibilitando uma interpretação objetiva (9, 12). Devem ser cuidadosamente

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16

recolhidas e posteriormente analisadas as evidências presentes no cadáver com relevância

na investigação do caso, como por exemplo como projéteis, fragmentos de projéteis e

lâminas, cabelos estranhos, fibras, manchas de tinta e partículas (12).

No exame do hábito interno devem ser observadas e avaliadas as alterações nos

tecidos internos provocadas pelas lesões descritas no exame de hábito externo. Exemplo

disso são as lesões de asfixia que podem causar hematomas subcutâneos sobre a laringe,

congestão da epiglote ou até mesmo presenta de corpos estranhos inalados a aquando da

morte, como areia e lama, ou nos casos de afogamento a congestão dos pulmões e

presença de líquido espumoso rosa nos brônquios e na traqueia (7).

No exame interno das lesões por armas de fogo, no caso do projétil se encontrar alojado

nos tecidos internos, deve ser encontrado e fotografado in situ, sendo posteriormente

removido sem provocar deformações no mesmo. É importante salientar que os danos

causados nos tecidos variam consoante as características do projétil e da arma utilizados

e a sua presença não indica que foi responsável pela causa de morte (2, 7, 10).

Nos casos de abusos sexuais podem ser identificadas lesões, traumáticas e

perfurações, geralmente nos órgãos sexuais e no reto (7).

Para completar a necrópsia veterinária médico-legal, devem ser recolhidas amostras

para os exames completares, na maior parte das vezes imprescindíveis na resolução do

caso, como a anatomia patológica, microbiologia, virologia, parasitologia, entomologia e

toxicologia (7, 12).

As evidências biológicas mais comumente recolhidas são tecidos, sangue e urina. Estas

têm podem ser utilizadas para identificar a vítima ou confirmar que a vítima esteve num

local específico relevante no caso. Para além destas, pode ainda ser recolhida uma

zaragatoa da boca para análises do ADN (12).

Nas evidências toxicológicas estão inseridos o conteúdo gástrico, tecido hepático e

renal, com o objetivo de detetar a presença de drogas no sistema do animal (12). Devem

ser testadas as substâncias individualmente, tendo em conta a suspeita de substâncias

especificas utilizadas ou lesões características de determinados tipos de substâncias (7,

12).

Podem ainda estar presente no cadáver evidências entomológicas que auxiliam na

determinação do intervalo pós-morte e, em alguns casos, no local de morte, como os

casulos, larvas de insetos e ovos (1, 7, 12).

Por fim, o ideal é que todos os órgãos sejam repostos dentro do cadáver e a pele

suturada, de forma a manter o respeito pelo mesmo, sendo o cadáver mantido em

segurança no frio até ao descarte ou devolução ao dono (7).

A necrópsia termina com a elaboração de um relatório final onde consta toda informação

e registos fotográficos, conjuntamente com a documentação facultada pelas autoridades e

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das informações recolhidas no local de crime. Este deve ser o mais completo possível,

onde conste toda a informação obtida, como grau de desenvolvimento de fenómenos

cadavéricos, alterações morfológicas dos órgãos, mecanismo e causa de morte (2, 7, 12,

13).

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5. Materiais e Métodos

Este estudo consiste na análise retrospetiva de uma amostra de necrópsias médico-

legais realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia

patológica da UTAD. Para isso foram analisados todos os relatórios compreendidos nesse

período realizados por patologistas pertencentes ao laboratório.

Por norma, a entrega do corpo nas instalações do laboratório de histologia e anatomia

patológica da UTAD é realizada por um agente da autoridade (GNR ou SEPNA), de forma

a garantir a cadeia de custódia. Todos os procedimentos desde que o cadáver entra no

laboratório são documentados e fotografados, caso seja necessário verificar alguma

informação.

Na receção dos cadáveres, o patologista veterinário assina e data a prova da receção

e verifica se a etiqueta que acompanha do cadáver corresponde á amostra.

Posteriormente, é atribuído a cada cadáver o número interno do laboratório que

acompanha todas as amostras referentes ao caso, permitindo manter a cadeia de custódia

(figura 1).

Figura 1 - Receção de amostras para necrópsias médico-legais no

laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD. Imagem A

demonstra a receção do cadáver pela patologista veterinária e

documentação envolvida na mesma. Imagem B demonstra condições de

receção do cadáver com o respetivo número interno do laboratório

histologia e anatomia patológica da UTAD.

As necropsias médico-legais foram realizadas por uma equipa especializada constituída

por médicos veterinários com formação especializada e técnicos/auxiliares na área forense

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com a mesma metodologia, seguindo protocolos de estudo de necropsias médico-legais

veterinárias específicos e sistematizados.

As necrópsias médico-legais veterinária iniciaram-se com a identificação do animal

onde consta a espécie, a raça, a idade, o sexo, o peso, a cor da pelagem, e outras

características como o corte das orelhas e cauda (figura 2).

Figura 2 - Fotografia inicial do cadáver com a

identificação do número interno do laboratório

histologia e anatomia patológica da UTAD.

De forma geral os procedimentos adotados no exame de hábito externo consistiram na

avaliação da condição corporal, tendo em conta as características descritas no passo

anterior, e as articulações, de forma a verificar a mobilidade. Foram examinadas as

superfícies e estruturas externas, registando-se os seguintes dados: peso, condição

nutricional, rigidez, estado de decomposição pós-morte, condição do pêlo, pele,

membranas mucosas, olhos e orifícios corporais. Foram ainda registadas tatuagens,

cicatrizes, feridas, tumores cutâneos, malformações ósseas, corrimentos, etc.

Na pele foram avaliadas as regiões de alopécias, erosões, úlceras, alterações da

coloração e presença de ectoparasitas. Nas mucosas, como fossas nasais, cavidade oral

e mucosa ocular foram examinadas e registadas as alterações, como a alteração da cor,

humidade, corrimentos anormais, úlceras e presença de corpos estranhos. Tem destaque

a cavidade oral onde foi avaliado o conteúdo, língua, o estado da dentição, glândulas

salivares e amígdalas.

Os procedimentos efetuados no exame de hábito interno iniciam-se colocando o animal

em decúbito dorsal, como o corte dos ligamentos musculares da escápula e os músculos

peitorais, examinando o plexo braquial e os gânglios cervical superficial e axilar. Os

membros posteriores foram desarticulados ao nível da articulação coxofemoral.

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De forma geral, o protocolo selecionado para abertura do cadáver consistiu na

realização da incisão na linha média, desde a sínfise mandibular, continuando pelo

pescoço, tórax, abdómen, e terminando na púbis. Sendo que, nos machos a incisão rodeou

o pénis incidindo os testículos, que foram removidos após o corte do escroto e túnicas.

Posteriormente, a pele do pescoço foi rebatida lateralmente evidenciando as glândulas

salivares, glândulas parótidas e gânglios mandibulares, isolando-se a glândula tiróide. Em

seguida procedeu-se ao rebatimento da pele do cadáver, observando alterações no tecido

subcutâneo, como manchas negras e esverdeadas ou enfisema cadavérico. A glândula

mamária foi também avaliada quanto ao volume, forma, consistência, cor e superfície de

corte.

A cavidade abdominal foi exposta realizando a incisão na linha média e rebatendo a

musculatura abdominal, desde o apêndice xifóide até à região do períneo. Em seguida

procedeu-se á abertura da cavidade torácica com o corte das articulações costo-condrais,

desde a primeira até à última costela, rebatendo o esterno.

Os procedimentos adotados nas necrópsias médico-legais para observação e

evisceração dos órgãos foram, de forma geral, os descritos pela técnica de Rokitansky,

tendo sempre em conta as especificações de cada espécie

Os órgãos da cavidade abdominal foram avaliados in situ, observando a sua posição, o

conteúdo e o aspeto do peritoneu e do epiplon. O diafragma foi avaliado quanto à sua

concavidade e relações com o fígado, baço, e ramos do trato digestivo. Posteriormente, os

órgãos foram eviscerados com o corte do omento e extraindo-se o fígado e baço, seguindo-

se o tubo digestivo, com o corte no reto até à cárdia. Após observação in situ, foram

também retiradas as glândulas adrenais e rins. Os órgãos do trato urinário foram

eviscerados em bloco, incluindo nos machos a próstata e nas fêmeas foram dissecados

em bloco, útero e ovários.

Após a remoção de todos os órgãos, são examinados os corpos vertebrais, a aorta

abdominal e os linfonodos ilíacos.

Os órgãos da cavidade torácica foram, de igual forma, avaliados in situ, assim como a

avaliação da pleura parietal e visceral e do pericárdio. Em seguida, procedeu-se à

evisceração dos órgãos com início na remoção da língua com um corte na face medial do

corpo da mandibula em ambos os lados, em direção caudal até à faringe. Nesta fase, a

língua foi puxada manualmente, para baixo e para trás, cortando o teto da cavidade oral, a

cartilagem do osso hióide e todas as aderências com o resto das estruturas. Todos os

órgãos torácicos (laringe, traqueia, esófago, pulmões e coração) foram retirados em bloco

após secção do esófago, aorta e veia cava.

O esófago foi aberto longitudinalmente em todo o comprimento observando-se o

conteúdo e parede. A traqueia e os grandes brônquios foram abertos desde a cartilagem

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cricóide, continuando pela face rosto-caudal dos anéis, seguindo-se os grandes brônquios,

as artérias pulmonares foram também observadas.

No coração foram observados o pericárdio, cavidade pericárdica, miocárdio e

endocárdio. O coração foi seccionado com um corte transversal do apéx, de forma a

visualizar as duas cavidades ventriculares e medindo cada uma. A abertura do coração foi

realizada segundo o fluxo sanguíneo, com incisão desde o ventrículo direito até à veia

cava, pela parede muscular atravessando o orifício auriculoventricular, e em seguida as

artérias pulmonares foram abertas. A abertura do lado esquerdo foi realizada de forma

similar, com incisão desde o ventrículo esquerdo até à artéria aorta, pela parede muscular.

Após a abertura do coração, foram avaliadas as paredes, bem como todas a válvulas.

No geral, os órgãos parenquimatosos como fígado, baço, pâncreas, ovários, testículos,

próstata, rins e adrenais foram pesados, medidos e avaliados os aspetos externos como

cor, forma, bordos, superfície e hilo. Posteriormente, foram seccionados em cortes seriados

segundo o maior eixo, sendo que no caso do rim foi realizado um corte longitudinal ao

longo do eixo maior até à pélvis renal.

A vesícula biliar foi aberta desde o ducto biliar até ao fundo de saco, avaliando-se o

conteúdo, mucosa e as paredes.

A abertura trato gastrointestinal iniciou-se no estômago pela grande curvatura, desde a

cárdia, continuando-se pelo bordo mesentérico do intestino delgado e grosso. Em seguida,

foram avaliadas a serosa e a mucosa, observando-se o conteúdo, a forma e aspeto da

mesma.

Na abertura do crânio, os procedimentos comummente realizados iniciaram-se com

remoção da pele e os músculos, realizando-se depois o corte transversal no crânio sobre

o osso frontal, caudal ao processo zigomático. Realizou-se os dois cortes sagitais,

medialmente aos côndilos occipitais e por fim o corte transversal, feito no osso occipital,

acima do foramen magnum. Por fim, removeu-se a calote expondo o cérebro, removido

após o corte dos bolbos olfativos, das artérias carótidas internas e dos nervos cranianos.

Posteriormente, foi avaliado o seu volume, cor, consistência, peso e o aspeto das

circunvoluções, sendo seccionado após a sua fixação com formol tamponado a 10%.

Após a conclusão da necropsia os cadáveres foram devidamente identificados e

mantidos no laboratório até conseguirem serem asseguradas as corretas condições de

espaço e armazenamento dos mesmos na refrigeração. As partes restantes separadas do

cadáver foram também armazenas de forma correta, tendo e conta a origem biológica da

amostra, e identificadas com o número.

Para a organização das variáveis foi realizada uma base de dados utilizando

inicialmente o programa Microsoft Office Excel 2019. Nesta base de dados foi ainda

referido o número de identificação do caso do laboratório de histologia e anatomia

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patológica da UTAD, de forma a permitir a relação com o número sequencial e o rápido

acesso às informações em caso de dúvida na revisão. Posteriormente, esta informação foi

transferida para o IBM SPSS Statistics, versão 26. Utilizou-se essa aplicação informática

para análise, tratamento e realização de testes estatísticos da informação recolhida, bem

como para a realização de tabelas e gráficos.

No estudo foram avaliadas inicialmente o número total da realização de necrópsias

médico-legais nos 10 anos estudados, seguindo-se a determinação do número por ano

como respetiva percentagem tendo em conta o número total.

Posteriormente, correlacionou-se a média do número de necrópsias realizadas

anteriormente ao ano 2017 e após o ano 2017, incluindo este, com a realização do teste t-

student e teste de normalidade Shapiro-Wilk. Definiu-se como separador o ano 2017

devido à alteração do Código Civil com a aprovação Lei nº 8/2017, de 3 de março, que

estabelece um estatuto jurídico aos animais.

Para caracterização dos animais foram avaliadas as seguintes variáveis: espécie, idade,

sexo, raça e chip. A variável da idade como apresenta um processo complexo e de

estimativa, os animais foram divididos em 3 faixas etárias: juvenil (até 1,5 anos; crias),

adulto (acima de 1,5 anos; adulto) ou sénior (acima de 10 anos; sénior). A variável sexo foi

avaliada com as designações fêmea e macho. Quanto à raça esta será descrita tendo em

conta a espécie do animal correspondente. Sempre que uma das variáveis anteriormente

mencionada não se encontre descrita é considerada não aferida. A variável chip ou marca

de identificação foi avaliada como presente, quando descrita, ou ausente, quando não

existe referência à presença do mesmo.

Posteriormente, identificou-se as principais causas de morte dentro de 5 grupos distintos

classificados consoante o diagnóstico diferencial médico-legal na medicina veterinária:

natural, violenta acidental, violenta não acidental, indeterminada ou violenta acidental / não

acidental (quando não foi possível distinguir se a morte é acidental ou não acidental). Em

seguida, estes são subdivididos tendo em conta o mecanismo de morte descritos.

Para a análise da elaboração do relatório, foram avaliados os achados no exame de

hábito externo e os achados no hábito interno.

No exame de hábito externo foram avaliadas as seguintes variáveis: descrição,

fenómenos cadavéricos post mortem, lesões externas, condição corporal, pelagem e

mucosas. No geral o exame de hábito externo foi avaliado como descrito ou não descrito.

Quantos aos fenómenos cadavéricos post mortem foram categorizados consoante os

fenómenos e períodos: período cromático, período enfisematoso, período de coliquação,

período de redução esquelética, mumificação, rigor mortis, ausentes ou putrefação

(quando apenas foi mencionado alterações de putrefação). As lesões externas foram

categorizadas consoante o tipo de lesão: ausentes, ferimentos por arma de fogo, abrasão,

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erosão, perfuração, contusão, hematoma ou múltiplas (quando descrita mais do que uma

das lesões anteriormente descritas em simultâneo). Quanto à condição corporal, pelagem

e mucosas foram avaliadas como descritas ou não descritas, separadamente.

No exame de hábito interno foram avaliadas as seguintes variáveis: descrição, cavidade

cranial, cavidade torácica e cavidade abdominal. No geral o exame de hábito interno foi

avaliado como descrito ou não descrito. A cavidade cranial foi avaliada como: sem

descrição (quando o relatório não apresenta nenhuma referência da mesma) e descrita

(quando o relatório apresenta qualquer referência sobre a mesma).

As cavidades torácica e abdominal separadamente foram categorizadas como: sem

descrição, descrição de forma genérica e descrição individual de cada órgão. Foram

categorizadas como sem descrição quando o relatório não apresenta nenhuma referência

aos órgãos que a constituem. Categorizadas como descrição de forma genérica quando o

relatório apresenta referência apenas a alguns órgãos de forma genérica ou

conteúdo/alterações presente, lesões presentes ou referência de fenómenos cadavéricos

nos órgãos. Foram considerados como descrição individual de cada órgão os casos em

que os relatórios exibem referência à maior parte dos órgãos de forma individual com

alterações, medidas, peso e conteúdo.

Foram ainda avaliados a realização ou solicitação de exames complementares:

anatomia patológica, toxicológico, radiológico ou não requeridos. Estes foram avaliadas

como solicitados ou não solicitados, separadamente.

Foram ainda identificados os casos com envolvimento das autoridades avaliados como:

envolvimento ou não envolvimento. Foi reconhecido como envolvimento das autoridades

sempre que mencionado no relatório autoridades como a GNR, SEPNA, o número de

processo NUIPC ou referência ao programa antídoto.

Todas as variáveis anteriormente descritas foram avaliadas para o número total da

realização de necropsias médico-legais nos 10 anos estudados, entre o ano 2009 e 2018.

Para cada ano individualmente foram avaliadas não só as variáveis de caracterização

espécie, idade, sexo e chip, como também os diagnóstico diferencial médico-legal na

medicina veterinária, os exames complementares e o envolvimento das autoridades. Ainda

foram avaliadas para cada ano as variáveis não só do hábito externo, como também do

hábito interno. Posteriormente, verificou-se se existe uma alteração dos relatórios na

descrição da cavidade torácica e abdominal para as necrópsias realizadas anteriormente

ao ano 2017 e após o ano 2017, incluindo este, com a realização do teste Qui-quadrado.

Definiu-se como separador o ano 2017 devido à alteração do Código Civil com a aprovação

Lei nº 8/2017, de 3 de março, que estabelece um estatuto jurídico aos animais.

De igual forma, verificou-se que existe uma diferença não só em todos os exames

complementares, como também para o envolvimento das autoridades para as necrópsias

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realizadas anteriormente ao ano 2017 e após o ano 2017, incluindo este, com a realização

do teste Qui-quadrado.

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6. Resultados

No estudo foram avaliadas um total de 90 necrópsias médico-legais veterinárias

realizadas entre o ano 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da

UTAD. Na tabela 1 estão representadas o número e respetiva percentagem, tendo em

conta o número total de necrópsias realizadas em cada ano. O ano com mais número de

necrópsias realizadas foi 2017 com 23.3% (n=21), seguido dos anos de 2018 e 2014 com

17,8% (n=16) cada. Os anos com menos número de necrópsias realizadas foram 2009

com 1,1% (n=1), seguido do ano 2013 com 2,2 (n=2) e 2015 com 3,3% (n=3). O gráfico 1

pretende demostrar a variação ao longo dos anos evidenciando os anos com mais e menos

necrópsias realizadas.

Tabela 1 - Número e percentagem de necrópsias médico-legais veterinárias realizadas

anualmente entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de histologia e anatomia

patológica da UTAD.

Número de necrópsias Percentagem de necrópsias

Ano 2009 1 1,1

2010 10 11,1

2011 8 8,9

2012 5 5,6

2013 2 2,2

2014 16 17,8

2015 3 3,3

2016 8 8,9

2017 21 23,3

2018 16 17,8

Total 90 100,0

Após a realização do teste t para o número de necrópsias realizadas anteriormente ao

ano 2017 e a partir do ano 2017 obteve-se valor-p de 0,014 IC=[-20,-3]. Desta forma,

podemos afirmar que existe diferença estatisticamente significativa entre o número de

necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017.

Nas 90 necrópsias médico-legais veterinárias 55,6% (n=50) representaram a espécie

canina, 12,2% (n=11) galináceos, 11,1 % (n=10) Vulpes Vulpes e 3,3% (n=3) Ciconia

Ciconia. Apresentaram uma percentagem de 2,2% (n=2) as espécies felina, ovina, Pica

Pica, Sus Scrofa e Milvus Milvus. Por fim, com uma percentagem de 1,1% (n=1) as

espécies peixe, marta, caprino, Talpa Europaea, Gyps fulvus e bovino. O número e

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respetiva percentagem de espécie para o número total de necrópsias médico-legais

encontram-se descritos sucintamente na tabela 2.

Figura 3 – Gráfico com a variação do número de necrópsicas

médico-legais veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e

2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

Da espécie canina 17 casos foram de raça indeterminada, 9 foram Serra da Estrela, 6

foram Castro Laboreiro, 3 foram Podengo, com 2 casos tivemos a raça Pastor Alemão e

Cão de Gado Transmontano, com 1 caso cada a raça Yorkshire Terrier, Husky Siberiano

e Golden Retriever e 8 casos cuja informação não foi aferida. O caso da espécie caprino

foi da raça bravia e do bovino da raça maronesa. Todos os restantes casos apresentaram

informação não aferida.

No número total de necrópsias, na variável sexo 34,4 % (n=31) foram machos,

percentagem semelhante representaram os casos com informação não aferida e 31,1%

(n=28) fêmeas. Quanto à idade 56,7% (n=51) foram casos com informação não aferida,

31,1% (n=28) animais adultos e 12,2% (n=11) animais juvenis. Quanto à presença de chip

ou marca de identificação 23,3% (n=21) tinham presente e 76,7% (n=69) ausentes.

Quanto ao diagnósticos diferenciais médico-legais veterinários 62,2% (n=56) das

necrópsias foram indeterminadas, 18,9% (n=17) violenta acidental/não acidental, 10,0%

(n=9) natural, 7,8% (n=7) violenta não acidental e 1,1% (n=1) violenta acidental, como

demostrado no gráfico 2.

Dos diagnósticos diferenciais médico-legais com causa de morte indeterminada todos

eles apresentaram também mecanismo de morte indeterminado. Dos casos com morte

violenta acidental ou não acidental 13 foram por intoxicação, 3 por politraumatismo e 1 por

traumatismo craniano. Dos casos por morte natural, 3 foram devidos a dilatação e torção

gástrica, 2 foram devido a cardiomiopatia dilatada e com 1 caso cada o tromboembolismo

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pulmonar, hemorragia pericárdica e pulmonar devido a rotura cardíaca, infeção e

insuficiência renal aguda. Nos casos de violentas não acidental 4 foram por hemorragia

interna, com 1 caso cada por politraumatismo, paragem cardíaca e estrangulamento. Das

violentas acidental apenas 1 caso por intoxicação.

Tabela 2 - Número e percentagem de espécies nas necrópsias médico-legais

veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e 2018 no laboratório de

histologia e anatomia patológica da UTAD.

Da análise dos fenómenos cadavéricos verificou-se que na maioria dos casos 56,7%

(n=51) estão ausentes e que o fenómeno mais presente foi o período enfisematoso com

14,4% (n=13), semelhante percentagem exibiram os casos onde apenas foi mencionado

presença de alterações de putrefação. Seguindo os casos em período de coliquação com

6,7% (n=6). Os menos frequentes foram o período de redução esquelética com 1,1% (n=1),

seguidos dos casos em período cromático, mumificados ou com rigor mortis, todos eles

com 2,2% (n=2). É de salientar que o diagnóstico diferencial médico-legal veterinário com

um maior número de casos, n=27, com presença de fenómenos cadavéricos foram as

necrópsias com causa de morte indeterminada.

Da análise da elaboração do relatório da necrópsia, em 98,9% (n=89) foi descrito o

exame de hábito externo e em 1,1% (n=1) não foi descrito. O exame de hábito interno foi

descrito em 88,9% (n=80) e não foi descrito em 11,1% (n=10).

Número de animais Percentagem de animais

Espécie Canina 50 55,6

Felina 2 2,2

Vulpes Vulpes 10 11,1

Peixe 1 1,1

Ovino 2 2,2

Marta 1 1,1

Ciconia Ciconia 3 3,3

Galináceos 11 12,2

Caprino 1 1,1

Pica Pica 2 2,2

Sus Scrofa 2 2,2

Milvus Milvus 2 2,2

Talpa Europaea 1 1,1

Gyps fulvus 1 1,1

Bovino 1 1,1

Total 90 100,0

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A maior parte dos casos, 85,6% (n=77), não apresentavam lesões, sendo as lesões

mais comuns os ferimentos por arma de fogo com 6,7% (n=6) (figura 5). É de salientar que

a maioria dos casos com ferimentos por arma de fogo (n=5) apresentaram diagnóstico

diferencial médico-legal de morte violenta não acidental, sendo o mecanismo de morte

consequência destas lesões. O caso restante com ferimento por arma de fogo exibiu morte

indeterminada. Com 2,2% (n=2) cada tiveram os casos com lesões de fraturas ósseas e

os casos com múltiplas lesões. Menos frequente, com 1,1% (n=1) cada ficaram os casos

com apenas lesões de abrasão, erosão e hematoma.

Ainda no exame de hábito externo, foram descritas a condição corporal em 37,6%

(n=56), as mucosas (figura 6) em 35,6% (n=53) e a pelagem (figura7) em 26,8% (n=40).

No exame do hábito interno a cavidade cranial foi descrita em 8,9% (n=8) e não descrita

em 91,1% (n=82) dos casos. A cavidade torácica não foi descrita em 20,0% (n=18) dos

casos, descrição de forma genérica em 62,2% (n=56) e com descrição individual de cada

órgão 17,8% (n=16). A cavidade abdominal não foi descrita em 17,8% (n=16) dos casos,

descrita de forma genérica em 64,4% (n=58) e com descrição individual de cada órgão

17,8% (n=16).

Nos exames complementares de diagnóstico 78,2% (n=68) solicitaram exame

toxicológico (figura 8), 12,6% (n=11) realizaram anatomia patológica e 9,2% (n=8)

realizaram exame radiológico (figura 9).

Figura 4 – Gráfico com percentagens dos diagnósticos diferenciais médico-legais

das necrópsicas médico-legais veterinárias realizadas entre os anos de 2009 e

2018 no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

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Figura 5 – Ferimentos provocados por arma de fogo. Imagem A apresenta animal da

espécie canina com múltiplos orifícios de entrada provocados por múltiplos projéteis.

Imagem B mostra orifício de entrada único com orla de contusão na cabeça de animal da

espécie bovino.

Figura 6 - Examinação de mucosas congestionadas

na realização do exame de hábito externo em animal

da espécie canina.

Figura 7 – Avaliação da pelagem e fauna cadavérica

em animal da espécie Vulpes Vulpes.

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Figura 8 – Recolha de conteúdo

gástrico para exame toxicológico.

Figura 9 – Exame radiológico, raio-x, realizado post mortem em cadáver da espécie canina.

Imagem A exibe animal na realização de raio-x na fase inicial na necrópsia. Imagem B

exibe radiografia da cabeça com múltiplos projéteis.

Verificou-se o envolvimento das autoridades em 42,2% (n=38) dos casos totais e o não

envolvimento em 57,8% (n=52).

A tabela 3 demonstra o número de casos tendo em conta a espécie e o ano de

realização da necrópsia. Após análise da tabela foi possível constatar que na maioria dos

anos a espécie mais comum foi a canina, com exceção do ano 2014 que apresentou 11

casos da espécie galináceos.

A tabela 4 demonstra o número de casos tendo em conta o sexo e o ano de realização

da necrópsia. Após a análise da tabela foi possível constatar que os anos com maior

número de casos com a informação não aferida foram o 2014 (n=15) e 2017 (n=11).

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A tabela 5 demonstra o número de casos tendo em conta a idade e o ano de realização

da necrópsia. Após a análise da tabela foi possível constatar que os anos com maior

número de casos com a informação não aferida foram o 2014 (n=12) e 2017 (n=14). Foi

ainda possível constatar que no ano 2018 a maioria dos casos (n=9) foram de animais

adultos.

Tabela 3 - Número de casos das espécies nas necrópsias médico-legais veterinárias

realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

Tabela 4 - Número de casos tendo em conta o sexo nas necrópsias médico-legais

veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da

UTAD.

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Espécie Canina 1 7 5 2 2 0 3 6 9 15 50

Felina 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 2

Vulpes Vulpes 0 1 2 1 0 0 0 0 6 0 10

Peixe 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1

Ovino 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 2

Marta 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1

Ciconia

Ciconia 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 3

Galináceos 0 0 0 0 0 11 0 0 0 0 11

Caprino 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1

Pica Pica 0 0 0 0 0 0 0 2 0 0 2

Sus Scrofa 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 2

Milvus Milvus 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 2

Talpa

Europaea 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1

Gyps fulvus 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1

Bovino 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Sexo Fêmea 0 4 1 4 0 1 1 3 6 8 28

Macho 1 5 5 1 2 0 2 3 4 8 31

Não aferido 0 1 2 0 0 15 0 2 11 0 31

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

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Tabela 5 - Número de casos tendo a idade nas necrópsias médico-legais veterinárias

realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

A tabela 6 demonstra o número de casos tendo em conta a presença e ausência de

chip ou marca de identificação e o ano de realização da necrópsia. Após a análise da tabela

foi possível constatar que o ano 2018 foi o que apresentou maior número de casos (n=10)

com presença de chip ou marca de identificação. Por outro lado, os anos 2010 (n=10),

2014 (n=15) e 2017 (n=17) foram os anos com maior número de casos com ausência de

chip ou marca de identificação.

Tabela 6 - Número de casos com presença ou ausência de chip ou marca de

identificação nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no

laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

A tabela 7 demonstra o número de casos de acordo com o diagnóstico diferencial

médico-legal e o ano de realização da necrópsia. Após a análise da tabela foi possível

constatar que na maioria dos anos, com exceção dos anos 2013 e 2015, as necrópsias

foram indeterminadas. O ano 2018 apresentou o maior número não só para as mortes

violentas acidental/não acidental (n=6), como também para as mortes não acidentais (n=3).

O ano 2017 foi o que apresentou maior número de mortes naturais (n=3).

Na análise da descrição da necrópsia, apenas em 1,1% (n=1) não foi descrito o exame

de hábito externo pertencendo ao ano 2017, uma vez que devido ao tamanho reduzido

tamanho da espécie Talpa Europaea, cerca de 3 cm de comprimento, esta não foi sujeita

necropsia, sendo congelada na íntegra para posterior exame toxicológico. Na descrição do

hábito interno o ano 2017 e 2018 foram os que apresentaram mais número de casos com

descrição, com 17 e 16 casos respetivamente.

A tabela 8 demonstra o número de casos de acordo com o fenómeno cadavérico

presente e o ano de realização da necrópsia. Após a análise da tabela foi possível constatar

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Idade Juvenil 1 2 0 2 0 3 1 0 0 2 11

Adulto 0 1 4 2 1 1 2 1 7 9 28

Não aferido 0 7 4 1 1 12 0 7 14 5 51

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Chip ou marca de identificação

Presente 0 0 0 1 1 1 1 3 4 10 21

Ausente 1 10 8 4 1 15 2 5 17 6 69

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

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que os anos que apresentaram maior número de ausência de fenómenos foram o 2014

(n=13), 2017 (n=10) e 2018 (n=11).

Tabela 7 - Número de casos de acordo com o diagnóstico diferencial médico-legal das

necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia

e anatomia patológica da UTAD.

Tabela 8 - Número de casos de acordo com o fenómeno cadavérico presente nas

necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia

e anatomia patológica da UTAD.

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Fenómenos cadavéricos

Período cromático 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 2

Período enfisematoso 0 2 4 1 0 0 0 1 3 2 13

Período de coliquação 1 0 0 0 0 3 0 0 2 0 6

Período de redução esquelética

0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1

Mumificação 0 0 0 0 0 0 0 0 2 0 2

Ausentes 0 6 2 2 1 13 2 4 10 11 51

Putrefação 0 1 2 1 1 0 0 3 2 3 13

Rigor Mortis 0 1 0 1 0 0 0 0 0 0 2

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

A tabela 9 demonstra o número de casos com descrição da condição corporal, pelagem

e mucosas nas necrópsias e o ano de realização. Após a análise da tabela foi possível

verificar que o ano 2018 é o que exibe o maior número de casos com descrição em todas

as variáveis. É de salientar que o ano 2009 não é mencionado na tabela uma vez que

nenhuma das características foi descrita.

No exame do hábito interno após a análise por ano, verificou-se que na cavidade cranial

o ano 2018 é o que exibe o maior número de casos com descrição (n=5), e com apenas 1

caso descrito cada os anos 2013, 2014 e 2017.

As tabelas 10 e 11 demonstram o número de casos tendo em conta as categorias

avaliadas na descrição das cavidades torácica e abdominal, respetivamente, e o ano de

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Diagnóstico diferencial médico-legal

Indeterminada 1 5 6 3 0 14 1 6 14 6 56

Violenta acidental 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1

Violenta não acidental 0 1 0 0 1 0 0 1 1 3 7

Violenta acidental/não acidental

0 3 1 1 1 1 0 1 3 6 17

Natural 0 1 1 1 0 0 2 0 3 1 9

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

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realização da necrópsia. Após a análise da tabela foi possível verificar que o ano 2018 é o

único que exibe casos com descrição individual de cada órgão.

Após a realização do teste Qui-quadrado para a descrição da cavidade torácica nas

necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017, podemos afirmar

que existe diferença estatisticamente significativa entre o tipo de descrição realizada

anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017 (valor-p=2,49x10-7). Da mesma forma,

para a descrição da cavidade abdominal podemos afirmar que existe diferença significativa

entre o tipo de descrição realizada anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017 (valor-

p=1,23x10-7).

Tabela 9 - Número de casos com descrição da condição corporal, pelagem e mucosas nas

necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia

e anatomia patológica da UTAD.

Tabela 10 - Número de casos tendo em conta as categorias de descrição da cavidade

torácica nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório

de histologia e anatomia patológica da UTAD.

Tabela 11 - Número de casos tendo em conta as categorias de descrição da cavidade

abdominal nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no

laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

Ano de realização da necrópsia

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Condição corporal 4 5 3 2 14 0 5 7 16 56

Pelagem 2 1 2 1 11 1 3 5 14 40

Mucosas 4 6 3 2 2 2 8 10 16 53

Total 7 7 5 2 16 2 8 14 16 77

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Cavidade torácica

Sem descrição 1 3 2 1 0 0 0 3 8 0 18

Descrição de forma genérica

0 7 6 4 2 16 3 5 13 0 56

Descrição individual de cada órgão

0 0 0 0 0 0 0 0 0 16 16

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Cavidade abdominal

Sem descrição 1 2 1 0 0 0 0 4 8 0 16

Descrição de forma genérica

0 8 7 5 2 16 3 4 13 0 58

Descrição individual de cada órgão

0 0 0 0 0 0 0 0 0 16 16

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

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A tabela 12 demonstra o número de casos em que foram solicitados ou realizados

exames complementares nas necrópsias e o ano de realização. Após a análise da tabela

foi possível verificar que o ano 2018 é o único em que foram realizados exames

radiológicos (n=8). Os anos 2014 (n=14) e 2018 (n=13) foram os que apresentaram um

maior número de casos com solicitação de exame toxicológico. É de salientar que o ano

2009 não é mencionado na tabela uma vez que nenhuma das características foi descrita.

Tabela 12 - Número de casos em que foram solicitados ou realizados exames

complementares nas necrópsias médico-legais veterinárias realizadas em cada ano no

laboratório de histologia e anatomia patológica da UTAD.

Após a realização do teste Qui-quadrado para o exame complementar de anatomia

patológica nas necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017,

não podemos afirmar que existe diferença estatisticamente significativa entre a realização

do exame de anatomia patológica anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017 (valor-

p=0,334).

Pelo contrário para o exame complementar de toxicologia nas necrópsias realizadas

anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017, podemos afirmar que existe diferença

estatisticamente significativa entre a solicitação do exame de toxicologia anteriormente ao

ano 2017 e a partir do ano 2017 (valor-p=0,003). De igual forma, para o exame

complementar de radiologia podemos afirmar que existe diferença estatisticamente

significativa entre a realização do exame de radiologia anteriormente ao ano 2017 e a partir

do ano 2017 (valor-p=0,00039).

A tabela 13 demonstra o número de casos em que foi verificado o envolvimento das

autoridades nas necrópsias e o ano de realização. Após a análise da tabela foi possível

verificar que o ano 2018 é o que exibe o maior número de casos (n=15) com envolvimento

das autoridades, sendo que apenas 1 caso desse ano não refere envolvimento das

autoridades. Por outro lado, os anos 2009, 2013 e 2015 não apresentam nenhum caso com

envolvimento das autoridades.

Após a realização do teste Qui-quadrado para o envolvimento das autoridades nas

necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017, não podemos

Ano de realização da necrópsia

2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Exames complementares

Anatomia patológica 2 0 0 0 1 1 1 4 2 11

Toxicologia 9 8 4 1 14 3 7 9 13 68

Radiologia 0 0 0 0 0 0 0 0 8 8

Total 9 8 4 1 15 3 7 11 13 71

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afirmar que existe diferença estatisticamente significativa entre o envolvimento das

autoridades anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017 (valor-p=0,000048).

Tabela 13 - Número de casos com envolvimento das autoridades nas necrópsias médico-

legais veterinárias realizadas em cada ano no laboratório de histologia e anatomia

patológica da UTAD.

Ano de realização da necrópsia

2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 Total

Autoridades Envolvimento 0 7 1 1 0 1 0 3 10 15 38

Não envolvimento 1 3 7 4 2 15 3 5 11 1 52

Total 1 10 8 5 2 16 3 8 21 16 90

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

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7. Discussão

Após a realização deste estudo podemos constatar que nos últimos 10 anos assistimos

a um aumento crescente do número de realização de necrópsias médico-legais

veterinárias. É importante salientar que o ano 2014 exibe um número de necrópsias mais

elevado comparativamente aos outros anos, devido à realização de 11 necrópsias

referentes a um conjunto de animais da espécie galináceos.

Posto isto, observou-se um aumento exponencial principalmente a partir do ano 2016.

Este aumento é observado também num estudo realizado na University of Life Sciences

de Lublin, Polónia, entre os anos 2003 e 2012, onde o ano 2012 apresentou mais 80% de

processos comparativamente ao ano 2003 (9).

Posto isto, podemos afirmar que existe diferença significativa entre o número de

necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017. Este

acontecimento em Portugal pode ser consequência sobretudo da publicação de novas leis,

tanto em 2016 com a Lei nº 27/2016, de 23 de Agosto, que “aprova medidas para a criação

de uma rede de centros de recolha oficial de animais”, como em 2017 com a alteração do

Código Civil com aprovação da Lei nº 8/2017, de 3 de março, que estabelece um estatuto

jurídico aos animais (20, 24, 26).

Quanto as espécies, este estudo demonstra que a espécie mais comum é a canina com

55,6% (n=50), o que vai ao encontro do estudo realizado na University of Life Sciences

com 57% dos casos pertencentes à espécie canina, sendo a raça indeterminada a mais

comum em ambos e a idade adulta. Contudo as percentagens da espécie felina diferem,

uma vez que o estudo em comparação refere esta como a segunda espécie mais frequente,

10%, o que não acontece neste estudo visto que percentagem obtido foi reduzida, cerca

de 2,2% (n=2) (9). Outro estudo realizado na Universidade de Guelph, no Canadá, entre

os anos 1998 e 2010, demonstrou uma percentagem mais baixa, cerca de 28%, de casos

médico-legais eram de animais de companhia, principalmente cães e gatos (31).

No estudo realizado na University of Life Sciences, os animais de quinta ou produção e

selvagens apresentaram uma percentagem mais baixa, com 11% e 23% respetivamente.

De igual forma, o presente estudo exibe uma percentagem para animais selvagens (Vulpes

Vulpes, Ciconia Ciconia, Talpa Europaea, Gyps fulvus, Pica Pica, Sus Scrofa e Milvus

Milvus, marta) de 24,3% (n=22) e para animais de quinta ou produção (galináceos, ovino,

caprino e bovino) de 16,6% (n=15) (9).

Quanto aos diagnósticos diferenciais médico-legais veterinários após este estudo

podemos afirmar que a maioria das necrópsias médico-legais veterinárias, cerca de 62,2%

(n=56), são de causa indeterminada. Tal facto pode ser devido às alterações provocadas

pelos fenómenos post mortem, uma vez que cerca de metade destes casos (n=27) tinham

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

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presente fenómenos cadavéricos, ou devido a alterações com quadro generalizados não

específico. O que acontece no estudo da University of Life Sciences que demonstra que

em 25% não foi possível estabelecer a causa de morte devido ao avançado estado de

decomposição dos cadáver ou à falta de material para análise (9). Percentagem mais baixa

foi obtida no estudo realizado na Universidade de Guelph onde apenas 11,43% foram

considerados inconclusivos (31).

O segundo diagnóstico diferencial médico-legais veterinário mais frequente foram

considerados os casos com morte violenta acidental/não acidental com 18,9% (n=17),

sendo a maioria devido a intoxicação. Semelhante percentagem é apresentada no estudo

realizado na University of Life Sciences em que as intoxicações apresentaram uma

percentagem de 12% (9). Porém, o estudo realizado na Universidade de Guelph apresenta

uma percentagem mais baixa com 4,80% designados com envenenamento (31).

Seguem-se as mortes de causa natural com 10,0% (n=9) correspondente a casos com

patologias, sendo que nos estudos realizados na University of Life Sciences e na

Universidade de Guelph a percentagem foi semelhante, cerca de 7% e 10,7%

respetivamente (9, 31).

As mortes violentas não acidentais foram descritas em 7,8% (n=7) dos casos, sendo

que a maioria destes (n=5) exibiram ferimentos por arma de fogo resultando na morte do

animal. Neste constatou-se ainda uma morte devido a politraumatismo e outra devido a

asfixia mecânica por estrangulamento. Da mesma forma, o estudo realizado na

Universidade de Guelph demonstrou que das causas violentas não acidentais a maioria

(52%) foi devido a trauma contuso, acompanhado por ferimentos devido a uso de força

excessiva, arma de fogo ou asfixia (31). Contrariamente, o estudo realizado na University

of Life Sciences apresentou como causa de morte mais frequente as lesões mecânicas no

geral com 25%, seguida dos ferimentos por arma de fogo com 23%. Porém, percentagem

mais baixa (9%) também foi obtida para casos com morte por asfixia (9).

Com apenas um caso constatamos a violenta acidental devido a intoxicação por taninos.

Na análise da descrição da necrópsia médico-legal veterinária, a maior parte apresenta

descrição do exame de hábito externo e interno. O ano 2018 é o que exibe o maior número

de casos com descrição condição corporal, pelagem e mucosas. Na descrição das

cavidades torácica e abdominal este estudo permitiu constatar que o ano 2018 é o único

que exibe casos com descrição individual de cada órgão, existindo uma diferença

significativa entre o tipo de descrição das cavidades torácica e abdominal realizadas

anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017. Desta forma, podemos afirmar que

existe uma evolução na elaboração dos relatórios das necrópsias médico-legais

veterinárias no sentido de melhorar descrição dos órgãos e lesões.

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

39

Esta evolução vai ao encontro do que está descrito na literatura, com o objetivo de toda

a equipa de trabalho seguir um formato sistemático e estruturado de relatório. Neste

constam descrições mais claras e que abrangem todos os órgãos, mesmo que não existam

alterações macroscopicamente significativas ou caso uma estrutura não tenha sido

visualizada. Este pode ainda ser complementado com fotografias ou referências sempre

que necessário, de forma a suporte as evidências encontradas (11).

Quanto aos exames complementares nas necrópsias médico-legais veterinária

verificou-se que nos últimos 10 anos existiu de forma geral um aumento do número de

solicitações ou execuções. Para um diagnóstico post mortem mais preciso e completo é

aconselhado a realização de exames complementares de anatomia patológica,

radiológicos, bacteriológicos, entomológicos toxicológicos (5, 12, 31).

O ano 2018 é o ano que exibe o maior número de casos com envolvimento das

autoridades e os anos 2009, 2013 e 2015 não apresentam nenhum caso com envolvimento

das autoridades. Desta forma, nota-se que em Portugal existe um aumento nos últimos 10

anos do envolvimento por parte das autoridades neste tipo de casos. Este acontecimento

pode dever-se ao facto da publicação de novas leis tanto em 2016 como em 2017, descritas

anteriormente (20). Outra causa para o envolvimento das autoridades é a criação de

programas contra os maus-tratos animais, como o programa antídoto que criado em 2004,

que consiste numa plataforma contra o uso ilegal de venenos para combater a utilização

indevida de substâncias tóxicas (32).

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

40

8. Conclusão

Após a realização deste estudo, podemos concluir que que existe diferença significativa

entre o número de necrópsias realizadas anteriormente ao ano 2017 e a partir do ano 2017,

traduzindo uma tendência evolutiva para o aumento deste número.

Concluímos ainda que a espécie mais frequente é a canina, sendo o resultado das

necrópsias médico-legais mais comum a causa indeterminada e as lesões mais frequentes

os ferimentos por arma de fogo.

Podemos ainda concluir que nos últimos 10 anos assistimos a uma evolução temporal

não só na descrição das necrópsias médico-legais veterinárias, como também na

realização de exames complementares e no envolvimento das autoridades neste tipo de

casos.

Como forma de complementar este estudo, numa perfectiva futura seria importante

correlacionar as causas de morte com os achados obtidos nos exames complementares e

aumentar o espectro do número de necropsias.

Em suma, é de relevante importância a continuação dos estudos nesta área não só

como forma de aumentar a aprendizagem e o desenvolvimento da área da medicina legal

na veterinária, como também demonstrar a importância das investigações nos casos de

crimes contra animais.

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Caracterização de casos de Medicina Veterinária em Portugal

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10. Anexos

Anexo 1 - Recomendação Conselho Profissional e Deontológico- Realização de

Necrópsias.

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