valdenir bassotto
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE AGRONOMIA
AGR 99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO
VALDENIR BASSOTTO 150916
Farroupilha/RS
PORTO ALEGRE, Abril 2011.
ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE AGRONOMIA
AGR 99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO
VALDENIR BASSOTTO
RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO
Orientador do Estágio: Engo. Agro. Alfredo Gallina
Tutor do Estágio: Engo. Agro. Profº Paulo Vitor Dutra de Souza
COMISSÃO DE ESTÁGIO: Prof. Elemar Antonino Cassol – Depto. de Solos (Coordenador)
Prof. Fábio de Lima Beck – Núcleo de Apoio Pedagógico
Prof. José Fernandes Barbosa Neto – Depto. de Plantas de Lavoura
Prof. Josué Sant’Ana – Depto. de Fitossanidade
Prof. Lair Angelo Baum Ferreira – Depto. de Horticultura e Silvicultura
Profa. Mari Lourdes Bernardi – Depto. de Zootecnia
Prof. Renato Borges de Medeiros – Depto. de Plantas Forrageiras e
Agrometeorologia
PORTO ALEGRE, Abril 2011.
iii
Agradecimentos
À equipe do escritório municipal da EMATER/RS-ASCAR de
Farroupilha-RS pelo apoio e pela ótima convivência durante o estágio.
Aos produtores, das visitas técnicas, pela receptividade em suas
propriedades e por colaborarem sempre que possível com as informações
requeridas por mim.
Aos professores da Faculdade de Agronomia da UFRGS pelos
ensinamentos passados durante o curso que permitiram a realização deste
estágio.
iv
Apresentação
Este relatório descreve as atividades realizadas durante o estágio, sendo
abordados o funcionamento do Sistema de Crédito Rural e as principais
culturas acompanhadas nesse período. O relatório descreve a viticultura e a
produção de kiwi, como culturas principais. A produção de ameixa, pêssego,
caqui e moranguinho são descritas como outras culturas (secundárias), devido
ao menor acompanhamento dessas durante o estágio.
A região da Serra Gaúcha foi o local escolhido para realização do
estágio, devido a sua grande diversidade de culturas, principalmente frutíferas
e olerícolas, sendo que a fruticultura é a área de meu maior interesse, e
posterior expectativa de trabalho como Engenheiro Agrônomo. A EMATER/RS-
ASCAR foi a entidade selecionada porque possibilita vivenciar várias culturas e
interagir diretamente com produtores.
v
Sumário
Página 1. Introdução ..................................................................................................... 1
2. Caracterização do Município de Farroupilha-RS ....................................... 2
2.1. Clima e Vegetação .................................................................................. 2
2.2. Relevo e Solo .......................................................................................... 3
2.3. Aspectos socioeconômicos ...................................................................... 3
3. Caracterização da empresa ......................................................................... 5
4. Estado da Arte .............................................................................................. 6
5. Atividades principais realizadas durante o estágio .................................. 8
5.1. Acompanhamento no atendimento aos produtores ........................... 8
5.2. Acompanhamento do funcionamento do sistema de Crédito Rural . 9
5.2.1. Modalidades do Crédito ..................................................... 9
5.2.2. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar –
PRONAF ............................................................................. 10
5.2.3. Declaração de Aptidão ao Pronaf - DAP ............................... 10
5.2.4. PRONAF Mais Alimento ................................................... 11
5.2.5. PRONAF Agroindústria .................................................... 11
5.3. Elaboração de projetos técnicos ........................................................ 12
5.4. Acompanhamento das culturas do município .................................. 13
5.4.1. Cultura da videira ......................................................... 13
5.4.1.1. Variedades ................................................................ 13
5.4.1.2. Poda verde ................................................................ 15
5.4.1.3. Cobertura vegetal ........................................................ 16
5.4.1.4. Análise de solo ........................................................... 16
5.4.1.5. Comercialização .......................................................... 17
5.4.1.6. Produção de uvas em sistema coberto ............................... 19
5.4.1.7. Problemas Fitossanitários .............................................. 20
5.4.2. Cultura do kiwizeiro ...................................................... 28
5.4.2.1. Variedades ................................................................ 28
5.4.2.2. Sistema de Condução ................................................... 29
vi
5.4.2.3. Sistema de Irrigação ..................................................... 29
5.4.2.4. Poda verde ................................................................ 30
5.4.2.5. Raleio ...................................................................... 30
5.4.2.6. Problemas Fitossanitários .............................................. 31
5.4.2.7. Ponto de Colheita ........................................................ 32
5.4.2.8. Adubação e cobertura do solo ......................................... 33
5.5. Acompanhamento de outras culturas - secundárias ........................ 33
5.5.1. Culturas do Pessegueiro e Ameixeira ............................... 33
5.5.1.1. Variedades ................................................................ 34
5.5.1.2. Poda verde ................................................................ 34
5.5.1.3. Comercialização .......................................................... 35
5.5.1.4. Tratamento pós-colheita ................................................ 36
5.5.1.5. Problemas Fitossanitários .............................................. 36
5.5.2. Cultura do caquizeiro .................................................... 39
5.5.2.1. Variedades ................................................................ 39
5.5.2.2. Poda verde ................................................................ 40
5.5.2.3. Problemas Fitossanitários .............................................. 40
5.5.3. Cultura do Moranguinho ................................................ 42
5.6. Outras atividades ................................................................................. 43
6. Conclusão ................................................................................................... 44
7. Análise Crítica ............................................................................................ 45
8. Referência Bibliográfica ............................................................................ 46
vii
Lista de Tabelas
Página
Tabela 1. Produção agropecuária estimada, de Farroupilha, na safra
2010/2011. ......................................................................................................... 4
Tabela 2. Produção e área estimadas da safra 2010/2011. .............................. 5
Tabela 3. Projetos Técnicos realizados durante o período de estágio na
Emater/RS – Ascar, Farroupilha-RS. ............................................................... 12
viii
Lista de Figuras
Página
Figura 1. Localização do Município de Farroupilha-RS. .................................... 2
Figura 2. Panorama do relevo no Município de Farroupilha-RS, 2011. ............. 3
Figura 3. Oídio em videira (A); Murcha de Fusarium em Tomateiro (B); Dano
por adubação em tomateiro (C); Dano por deficiência de cálcio e boro em
maçã (D); Podridão em kiwi (E); Dano por aplicação de herbicida videira (F). .. 9
Figura 4. Agroindústrias: Pães (A), Geléias (B) e Massas (C). Farroupilha,
2011. ................................................................................................................ 11
Figura 5. Uva da Variedade: Isabel (A); Niágara branca (B) e Niágara rosa
(C). ................................................................................................................... 14
Figura 6. Área realizada poda verde (direita) e área sem realização da poda
verde (esquerda). Farroupilha, 2011. ............................................................... 15
Figura 7. Cooperativa Vinícola Linha Jacinto LTDA. Farroupilha, 2011. ......... 17
Figura 8. Caixas para comercialização da uva in natura e caminhão com
refrigeração para transporte da uva para outros Estados. ............................... 18
Figura 9. Vinhedo em sistema latada com cobertura plástica. Farroupilha,
2011. ................................................................................................................ 19
Figura 10. Sintomas de Míldio em bagas da variedade Moscato. ................... 21
Figura 11. Massa de esporos em bagas atacadas por botritis. ....................... 23
Figura 12. Sintomas de Fusariose (A); Escurecimento da Casca (B) e Pé-
preto (C). .......................................................................................................... 25
Figura 13. Sintomas de ataque de ácaros em ramos novos da videira. .......... 26
Figura 14. Bagas pouco desenvolvidas e em diferentes estágios de
maturação devido à deficiência de boro. .......................................................... 27
Figura 15. Variedade ELMWOOD (piloso) e GOLDEN KING (glabro). ........... 29
Figura 16. Ramo de kiwizeiro com enrolamento característico de perda de
vigor. Farroupilha, 2011. .................................................................................. 30
ix
Figura 17. Ramo de kiwizeiro sem raleio (A) e com raleio (B). Farroupilha,
2011. ................................................................................................................ 31
Figura 18. Planta de kiwizeiro morta em meio ao pomar. Farroupilha, 2011. .. 32
Figura 19. Ameixa da variedade Fortune......................................................... 34
Figura 20. Máquina classificadora de frutos. SILVESTRIN FRUTAS.
Farroupilha, 2011. ............................................................................................ 36
Figura 21. Sintomas da Mancha Bacteriana em ameixeira. ............................ 38
Figura 22. Ramo de caquizeiro sem poda verde (à esquerda) e com a poda
verde realizada (à direita). Farroupilha, 2011. .................................................. 40
Figura 23. Queda do fruto de caqui com permanência do cálice na planta.
Farroupilha, 2011. ............................................................................................ 41
Figura 24. Cultivo de moranguinho sobre bancada suspensa coberta com
túnel baixo. Farroupilha, 2011. ......................................................................... 43
Figura 25. Participação da organização das variedades de uvas para a 6ª
Vindima em Monte Belo do Sul-RS, 2011. ....................................................... 44
Figura 26. Participação em programas da EMATER/RS-ASCAR na Rádio
Míriam. Farroupilha, 2011. ............................................................................... 44
1
1. Introdução
O serviço de assistência técnica e extensão rural é o meio através do
qual, os profissionais da área agrícola transmitem conhecimento e auxilio aos
agricultores. As orientações técnicas e trabalhos sociais realizados com os
produtores tornam o manejo mais eficiente e sustentável das atividades
agrícolas nas unidades de produção.
A possibilidade de poder compartilhar conhecimentos, interagir com
profissionais da área agrícola e produtores, sabendo das necessidades e
dificuldades destes, devido à vivência e origem do estagiário na região, são
motivadores para escolha da extensão rural, na área da fruticultura como tema
de estágio.
O estágio foi realizado no período de 3 de janeiro a 28 de fevereiro de
2011, na EMATER/RS-ASCAR do Município de Farroupilha-RS, totalizando
328 horas.
O objetivo do estágio foi vivenciar a atuação do extensionista no seu dia-
a-dia, familiarizando-se com a principal atividade agrícola do Município que é a
fruticultura, podendo vivenciar espécies, variedades, manejos, pragas que
ocorrem com maior freqüência no estádio de desenvolvimento das plantas
durante o período estagiado, e também acompanhar o funcionamento do
Sistema de Crédito Rural.
2
2. Caracterização do Município de Farroupilha-RS
O Município de Farroupilha (Figura1) está situado a 110 km de Porto
Alegre, na região serrana do Estado, conhecido como Serra do Nordeste do
Rio Grande do Sul, nas Bacias Hidrográficas dos rios Caí e Taquari-Antas.
Possui como coordenadas geográficas: latitude de 29° 14’ 30’’ Sul e longitude
de 51° 26’ 30’’ Oeste, possuindo uma área territorial de 361,8km² (FEE, 2010).
2.1. Clima e Vegetação
O clima é subtropical, segundo a classificação de Köppen sendo do tipo
Cfa. A precipitação pluviométrica média anual é de 1915 milímetros e umidade
relativa do ar entre 70 a 85%, conforme a normal climatológica da estação
meteorológica mais próxima, que é Caxias do Sul, UFFRJ (2009). Farroupilha
possui diversos microclimas, estando sujeito a ocorrência de geadas no
período de maio a setembro. Possui aproximadamente de 400 a 500 horas de
frio por ano. A temperatura média anual é de 17°C (EMATER/RS-ASCAR,
1994).
A vegetação original é a Floresta Subtropical com Araucária.
Figura 1. Localização do Município de Farroupilha-RS. Fonte: Wikipédia, 2011.
3
2.2. Relevo e Solo
O Município apresenta relevo ondulado a fortemente ondulado (Figura
2), sendo recortado profundamente por rios que formam vales estreitos em “V”.
A altitude média é de 783 metros.
Figura 2. Panorama do relevo no Município de Farroupilha-RS, 2011. Foto: V. Bassotto.
Os solos do Município são considerados de boa fertilidade natural,
porém com limitações para certos cultivos devido ao relevo ondulado. No
Município estão presentes os solos dos tipos: Neossolos, Cambissolos e
Argissolos, sendo tecnicamente classificados nas classes de solos: Cambissolo
Húmico Alumínico, Neossolo Regolítico Distrófico e Argissolo Bruno-
acinzentado Alítico (STRECK et al, 2008).
2.3. Aspectos socioeconômicos
O Município de Farroupilha possui uma população total de 63.641
habitantes sendo 13,4% destes, vivendo no meio rural, segundo o censo do
IBGE (2010). O setor de serviços e da indústria são os responsáveis por 78%
do Produto Interno Bruto (PIB) do Município. A atividade agropecuária contribui
com apenas 4% do PIB do Município, e o PIB per capta é de R$ 20.392,38,
IBGE (2008). As propriedades agrícolas são predominantemente familiares,
4
com média de 18 hectares. A organização social no meio rural está dividida em
40 comunidades nas quais estão distribuídas em quatro distritos, sendo suas
sedes localizadas da seguinte forma: 1° distrito - Sede, 2° distrito - Vila Jansen,
3° distrito - Nova Sardenha, 4° distrito - Nova Milano.
Farroupilha é considerado um dos municípios com maior diversidade de
cultivos na agricultura. A atividade agrícola é bem desenvolvida e baseada no
cultivo intensivo de frutas e olerícolas, possuindo também criadores de aves,
suínos e gado leiteiro, incluindo algumas agroindústrias familiares com
inspeção municipal e alguns produtores de flores.
A fruticultura é a principal atividade agrícola do Município, sendo a
produção de uvas, pêssegos, caqui, ameixa, kiwi e moranguinho os principais
cultivos respectivamente, como pode ser visto na tabela 1.
Para a safra 2010/2011, a estimativa de área plantada e produção total,
das principais atividades agrícolas do Município de Farroupilha, estão
apresentadas nas tabelas 1 e 2.
Tabela 1. Produção agropecuária estimada, de Farroupilha, na safra 2010/2011.
Cultura Área (ha) Produção (T)
Uva 3.900 70.000
Pêssego de mesa 600 9.000
Caqui 215 2.150
Kiwi 120 2.000
Ameixa 175 2.275
Moranguinho 35 1.400
Tomate 70 3.500
Alho 100 1.000
Milho 1.600 7.680
Cebola 80 1.600
Repolho 35 525
Beterraba 30 900
Fonte: Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar, Farroupilha-RS.
5
Tabela 2. Produção e área estimadas da safra 2010/2011.
Cultura Produção
Leite 9.000.000 litros
Ovos 7.665.000 dúzias
Frango de corte 9.500.000 cabeças
Mudas frutíferas 4.000.000 mudas
Mudas moranguinho 500.000 mudas
Fonte: Escritório Municipal da Emater/RS-Ascar, Farroupilha-RS.
3. Caracterização da empresa
A Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural – ASCAR surgiu em
junho de 1955 para executar o serviço de assistência técnica e extensão rural
do Rio Grande do Sul, tendo como objetivo levar conhecimento e orientações à
família rural. A partir de 1977 a ASCAR passou a atuar juntamente com a
Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e
Extensão Rural – EMATER/RS. Assim, com denominação conjunta
EMATER/RS – ASCAR, as duas entidades executam as atividades de
Assistência Técnica e Extensão Rural no Rio Grande do Sul.
A EMATER/RS – ASCAR está presente em 485 Municípios, sendo
assim, atuando em mais de 97% do total do Estado, tendo como missão:
“PROMOVER AÇÕES DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E SOCIAL, DE
EXTENSÃO RURAL, CLASSIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO, COOPERANO NO
DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL” (EMATER/RS, 2011).
No Município de Farroupilha a EMATER/RS - ASCAR vem
desenvolvendo suas funções desde 14 de dezembro de 1963, quando foi
fundado o Escritório Municipal. Neste período, os principais objetivos do
trabalho junto às famílias rurais era a diversificação da matriz produtiva nas
áreas de fruticultura, olericultura, bovinocultura de leite, avicultura e
agroindústria, tendo como meta principal, tornar as propriedades rurais mais
diversificadas e estruturadas, para atingir um melhor retorno econômico.
O escritório Municipal da EMATER/RS – ASCAR de Farroupilha realiza
trabalhos de assistência técnica em visitas nas propriedades rurais ou em
atendimento no próprio escritório. Em algumas situações são realizados outros
6
métodos de Extensão Rural, como cursos, seminários, dias de campo,
reuniões, demonstração de métodos, unidades demonstrativas, visando atingir
um maior número de famílias rurais. A empresa possui convênios com bancos,
a fim de formular projetos de investimentos, para que os agricultores obtenham
crédito em programas governamentais, como o PRONAF. Atua também em
outros programas governamentais que visam melhoria da qualidade de vida,
como por exemplo, o Crédito Fundiário. Mantém convênio com a Prefeitura
Municipal para viabilizar a presença da entidade no Município e em conjunto
elaborar projetos municipais de desenvolvimento rural.
Há também ações na área de bem–estar social, contribuindo para a
qualidade de vida e das famílias rurais. São realizados trabalhos visando a
promoção da cidadania, organização social, geração de renda, segurança
alimentar, educação e promoção da saúde.
A EMATER/RS – ASCAR de Farroupilha atua prestando serviços de
assistência técnica e extensão rural para aproximadamente 1600 famílias em
1400 propriedades rurais. A equipe que atua no escritório municipal é
composta por: Alfredo Galina (Engenheiro Agrônomo); Milton Antônio Grassiani
(Técnico Agrícola); Márcia Inês Berti Georg (Extensionista na área de bem–
estar-social) e Sílvia Rejane Grassiani (Auxiliar Administrativa).
4. Estado da Arte
A Política Agrícola do Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento
Agrário – MAPA envolve ações para o planejamento, financiamento e seguro
da produção agrícola. O crédito agrícola é o meio no qual há a liberação de
recursos destinados a custeio, investimento ou comercialização da atividade
agrícola. Entre as modalidades do crédito agrícola, as taxas de juros são
diferenciadas conforme enquadramento relativo à atividade agrícola e
rentabilidade do produtor. O Programa Nacional de Fortalecimento da
Agricultura Familiar - PRONAF é o programa que beneficia diretamente o
pequeno e médio produtor. Para aquisição de crédito via PRONAF, os
produtores devem fazer a Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP). Este
documento tem a função de identificar o agricultor familiar, sendo fornecido
pelas entidades credenciadas como a EMATER/RS - ASCAR e as Secretarias
7
da Agricultura. O Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011 prevê um montante de
R$ 16 bilhões para financiamentos da agricultura familiar (MAPA, 2011).
As linhas de crédito do PRONAF são: PRONAF Agroindústria, PRONAF
Agroecologia, PRONAF Floresta, PRONAF Mulher, PRONAF Jovem, PRONAF
Eco, PRONAF Mais Alimento e outros (ESREG CAXIAS DO SUL, 2010) e
(MDA, 2011).
A videira (Vitis sp) tem origem em três centros: Europeu, Asiático e
Americano. As variedades cultivadas são classificadas em três grupos e com
suas aptidões para as diferentes finalidades de uso (GIOVANNINI, 2009).
O Estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional de uvas. A
produção da safra 2008-2009 foi de aproximadamente 527 mil toneladas da
fruta em 35.000 hectares plantados no Estado (IBRAVIN, 2011).
No sul do Brasil os sistemas de condução utilizados são o latada, o
espaldeira, o lira e o GDC. A escolha do sistema de condução leva em
consideração aspectos de relevo, produtividade, qualidade, mão de obra e
custo (EMBRAPA UVA E VINHO, 2010).
O cultivo sob sistema protegido reduz a incidência de doenças e a
necessidade de aplicação de agroquímicos, porém os períodos de carência e
índices de resíduos são diferentes comparativamente ao cultivo convencional
(CHAVARRIA et al Apud VIDA et al, 2007).
O manejo da cultura da videira envolve ações de identificação, através
dos sintomas do ataque, de pragas SONEGO et al (2003), aplicação de
produtos químicos registrados para a cultura conforme AGROFIT (2011),
manejo da cobertura do solo, com utilização de plantas de cobertura e
manutenção com utilização de roçadeira, aplicação de poda verde para
melhorar a qualidade e maturação da uva (GIOVANNINI, 2009).
O kiwi (Actinidia deliciosa) é uma planta de clima temperado, originário
da China. A Itália e Nova Zelândia são os maiores produtores mundiais do
fruto. O kiwi foi introduzido no Brasil em 1971. É uma planta que necessita de
polinização cruzada conforme WIKIPÉDIA (2011). As variedades mais
produzidas no mundo são a Hayward, Abbott, Allison e Elmwood. As
variedades Abbott, Allison e Bruno necessitam menos horas de frio, portanto
são mais recomendadas para cultivo em climas mais ameno como a Região
Sul do Brasil (SIMONETTO et al, 1998).
8
Há kiwis pilosos e de polpa verde (os citados anteriormente), kiwis
glabros (sem pelo) e kiwis de polpa amarela. Estes estão sendo cultivados em
alguns países nos últimos anos, como no Brasil, por sua menor exigência em
frio.
O kiwizeiro necessita água disponível, solos bem drenados, ricos em
matéria orgânica e não tolera encharcamento, pois em solos com acúmulo de
umidade, a incidência das doenças relacionados com podridões de raízes e
consequente morte de plantas é alto. Phytophthora sp, Rosellinia sp, Botrytis
sp, Glomerella sp e Botryosphaeria sp são os principais causadores das
podridões de raízes encontrados nos Municípios de Farroupilha e Caxias
do Sul no RS conforme SAQUET,A.A.T & BRACKMANN Apud VALDEBENITO-
SANHUEZA (1995). O manejo da cultura do kiwi requer sistema de condução
do tipo latada, aplicação de poda verde visando reduzir incidência de quebra de
ramos, realização de raleio de frutos devido à alta produtividade e melhora de
qualidade do tamanho dos frutos (FEPAGRO, 2007).
5. Atividades principais realizadas durante o estágio
Durante o período estagiado foram realizadas diversas atividades
relacionadas com o dia-a-dia da EMATER/RS – ASCAR de Farroupilha. Na
seqüência, são descritas as atividades realizadas juntamente com informações
gerais captadas em bibliografia, relatos e das visitas às propriedades rurais.
5.1. Acompanhamento no atendimento aos produtores
Durante o estágio diversos produtores buscaram o atendimento no
Escritório Municipal. Muitos trouxeram amostras de materiais para identificação
e assessoramento quanto ao manejo que poderia ser realizado. Foi
diagnosticado em amostras trazidas pelos produtores (Figura 3) os seguintes
problemas: oídio (Uncinula necator) e botritis (Botrytis cinerea) na videira,
deficiência de cálcio e boro em maçã, murcha de fusário em tomateiro
(Fusarium oxysporum f. sp. lycopersici), queimadura por aplicação da
adubação muito próximo ao pé de tomateiro e dano por aplicação de herbicida,
ao invés de fungicida, na videira. Foi dado assessoramento quanto aos
métodos de coleta de amostras de solo, realização de questionário para
9
enquadramento nos programas de crédito como o PRONAF, preenchimento de
relatório para realização de projetos técnicos entre outras atividades.
Figura 3. Oídio em videira (A); Murcha de Fusarium em Tomateiro (B); Dano por adubação em tomateiro(C); Dano por deficiência de cálcio e boro na maçã(D); Podridão em kiwi (E); Dano por aplicação de herbicida videira(F). Fotos: V. Bassotto, 2011.
5.2. Acompanhamento do funcionamento do sistema de
Crédito Rural
O Crédito Rural é um programa governamental que oferece recursos
financeiros, com taxas de juros diferenciadas (que variam de 1% a 6,75%a.a.),
para aplicações nas atividades agrícolas e pecuárias, com o objetivo de
estimular os investimentos, custeios e comercialização das atividades rurais.
5.2.1. Modalidades do Crédito
Durante o período estagiado, foi possível acompanhar a demanda pelos
produtores para aquisição de crédito, e o processo de enquadramento destes.
Dentre as modalidades do Crédito Rural, o PRONAF é o mais procurado
pelos agricultores do Município, comprovando a utilização desse recurso pelos
agricultores familiares.
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5.2.2. Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar – PRONAF
Durante o estágio foram acompanhadas as etapas de enquadramento
de produtores no Pronaf e emissão da Declaração de Aptidão ao PRONAF
(DAP).
No escritório municipal da Emater/RS, os produtores respondiam um
questionamento verbal para ver se satisfaziam as condições primárias de
enquadramento ao Pronaf que são: ser produtor rural, possuir área de no
máximo 4 módulos fiscais (em Farroupilha consiste em 48 hectares), a renda
do ano anterior comprovada pelo talão de produtor ser no mínimo 70%
provinda da atividade agrícola, possuir no máximo 2 funcionários com carteira
assinada e a renda total não ultrapassando os limites estabelecidos para cada
atividade. Os produtores que atendiam a essas condições eram aptos a
fazerem o documento da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP).
5.2.3. Declaração de Aptidão ao PRONAF - DAP
É o documento que identifica os agricultores familiares. É fornecido
pelas instituições autorizadas, sem custo. Em Farroupilha é elaborada pelo
Sindicato dos Trabalhadores Rurais, para quem já é sócio, e pelo escritório
municipal da EMATER/RS, no caso de não ser sócio do sindicato.
Durante o período do estágio foram feitas três DAPs. O documento é
elaborado através do preenchimento do formulário em sistema de informática
chamado SISDAP vinculado ao Ministério da Agricultura. Os documentos
necessários para elaboração da DAP são: talões de produtor do ano anterior,
documentos pessoais ou do casal e escritura ou contrato da propriedade. Com
esse documento (DAP) os produtores eram encaminhados ao banco para fazer
o pedido de crédito conforme enquadramento na linha de crédito do PRONAF,
a qual pertence sua atividade.
O PRONAF Mais Alimentos, e PRONAF Agroindústria são as linhas de
crédito mais procuradas pelos produtores do Município de Farroupilha.
11
5.2.4. PRONAF Mais Alimentos
O PRONAF Mais Alimentos é uma linha especial de crédito de
investimento para a produção de alimentos. A taxa de juros é de 2% ao ano
com prazo de carência de até 3 anos e até 10 anos para pagamento do
financiamento. Muitos produtores buscam esse recurso. Durante o estágio foi
acompanhado o enquadramento de 6 produtores, da atividade frutícola, no
PRONAF Mais Alimentos, para aquisição de tratores, câmara fria e
pulverizador.
O limite de crédito é de R$ 10.000,00 a R$130.000,00 por beneficiário. O
produtor respondia a perguntas, onde um dos critérios para enquadramento,
era possuir no mínimo 80% da renda total da atividade rural na produção de
alimentos. Para captar o recurso os produtores devem apresentar um projeto
técnico, ao banco, constatando a viabilidade do investimento.
5.2.5. PRONAF Agroindústria
O PRONAF Agroindústria é uma linha de crédito de investimento com a
finalidade de incentivar a implantação de pequenas e médias agroindústrias ou
ampliação, recuperação e modernização de unidades agroindustriais. Com
isso, possibilitando a agregação de valor aos produtos processados.
Durante o estágio foram visitadas três agroindústrias que processam
pães, massas e geléias, respectivamente (Figura 4). Nestas agroindústrias foi
possível ver a organização do processo produtivo, e as exigências quanto à
infraestrutura e equipamentos de cada atividade. Pôde-se observar a exigência
de se ter uma área para recepção da matéria prima e processamento inicial,
área de processamento propriamente dita e uma área de saída dos produtos
embalados.
Figura 4. Agroindústrias: Pães (A); Geléias (B) e Massas (C). Farroupilha, 2011. Fotos: V. Bassotto, 2011.
12
5.3. Elaboração de projetos técnicos
Os produtores que buscam adquirir crédito na linha do PRONAF,
precisam da Declaração de Aptidão ao PRONAF (DAP), que é levada ao banco
(BANCO DO BRASIL, SICREDI OU BANRISUL). Estes analisam as condições
do beneficiário e emitem uma autorização para realização de um projeto
técnico. Com essa autorização, orçamento do equipamento, documentos da
propriedade e documentos pessoais, levam-se a uma entidade credenciada, no
caso a EMATER/RS ou Agrônomo particular para realização do projeto técnico.
Durante o estágio foi acompanhada a realização de 9 projetos técnicos
totalizando R$ 312.293,57 de crédito (Tabela 3). Os projetos são realizados
com a utilização de um programa computacional da EMATER/RS – ASCAR.
Neste projeto era feito um planejamento financeiro para comprovação da
capacidade de pagamento do financiamento pretendido. A EMATER/RS –
ASCAR faz os projetos técnicos e cobra do produtor a taxa de 0,5% do total
financiado. A cobrança é feita através da emissão de um Documento de Ordem
de Crédito (DOC) que é entregue junto com o projeto técnico. A cobrança é
feita somente após a liberação pelo banco do projeto técnico. Feito o
pagamento, o produtor traz o comprovante de pagamento até a EMATER/RS-
ASCAR, que libera seu cadastro para realização futura de outro projeto técnico.
Tabela 3. Projetos Técnicos realizados durante o período de estágio na Emater/RS – Ascar,
Farroupilha-RS.
Aquisição Linha de crédito Valor (R$) Prazo (Anos) Trator usado Poupança Rural 12.000,00 2
Trator PRONAF Mais Alimentos 56.369,92 10
Trator PRONAF Mais Alimentos 48.416,38 10
Trator PRONAF Mais Alimentos 56.369,92 10
Trator PRONAF Mais Alimentos 53.497,18 10
Pulverizador PRONAf Mais Alimentos 45.000,00 10
135 Novilhos Investimento Agropecuário 120.150,00 2
Câmara fria PRONAF Mais Alimentos 97.404,14 10
67 T de milho Outros 30.150,00 1
Total R$ 312.293,57
Fonte: Emater/RS – Ascar, Farroupilha 2011.
13
5.4. Acompanhamento das culturas do Município
Durante o estágio foram feitas saídas a campo, para visitas a produtores
das diversas culturas. Neste relatório, as informações captadas sobre a
fruticultura são baseadas nestas saídas de campo e em materiais do acervo da
EMATER/RS - ASCAR de Farroupilha, juntamente com a visualização feita nas
propriedades e relatos feitos pelos produtores e técnicos do Escritório da
Emater/RS de Farroupilha.
A fruticultura será descrita por culturas, no entanto sem especificar por
propriedades visitadas, e sim uma visão geral da fruticultura do Município. O
acompanhamento da cultura da videira e do kivizeiro juntamente com o
acompanhamento do Sistema de Crédito Rural são as principais atividades
descritas neste relatório.
5.4.1. Cultura da videira
Farroupilha destaca-se na produção de uvas, sendo esta, a principal
atividade agrícola do Município. É o terceiro maior produtor de uvas do Estado,
perdendo apenas para os Municípios de Bento Gonçalves e Flores da Cunha.
A área plantada com videiras em Farroupilha é de 3.900 hectares, com uma
estimativa de produção em torno de 70 mil toneladas para a atual safra 2010-
2011, conforme FEE (2010), superando em aproximadamente 22% a produção
da safra anterior 2009-2010. Essa expectativa se dá devido ao inicio de
produção de vinhedos novos e também pelas condições climáticas favoráveis
ao desenvolvimento e maturação das uvas, ocorridos nesta safra. A
produtividade média no Município de Farroupilha é de 18 toneladas por
hectare.
5.4.1.1. Variedades
No Município são cultivadas as videiras classificadas dos três grupos:
As americanas (Vitis labrusca): também chamadas de comuns, são mais
rústicas e apresentam maior resistência às doenças. Por isso, estão bem
adaptadas a região, possuindo aproximadamente 60% da área cultivada com a
viticultura do Município.
14
As variedades mais cultivadas, respectivamente no Município, são:
Isabel, Niágara Branca, Niágara Rosada (Figura 5), Bordô e Corcord. Essas
uvas são de menor qualidade para vinificação, no entanto, são bastante
utilizadas para produção de suco e para consumo in natura.
Figura 5. Uva da Variedade: Isabel (A); Niágara branca (B) e Niágara rosa (C). Fotos: V. Bassotto, 2011.
As européias (Vitis vinifera): são menos rústicas e exigentes quanto às
condições de clima e solos. São mais adaptadas em regiões com menor
precipitação pluviométrica, portanto são menos cultivadas no Município de
Farroupilha. As variedades mais cultivadas são: Moscato, Cabernet Sauvignon,
Merlot e Riesling, sendo todas com finalidade para vinificação. Também é
cultivada a variedade Rainha Itália destinada ao consumo in natura. Esta é
cultivada em sistema protegido com cobertura plástica.
A área com uvas européias é de 25% da área total dos vinhedos. Das
viníferas, a que possui área significativa é a variedade moscato, por ter boa
produtividade e por ser utilizada na produção de espumantes, cujo consumo
tem aumentado significativamente nos últimos anos, e com boas perspectivas
futuras de comercialização.
As híbridas (Vitis spp): são cultivares provenientes de cruzamentos. A
área cultivada com híbridas é menor em relação às viníferas, pois são
utilizadas em cortes na produção de vinhos. No Município tem-se
aproximadamente 15% da área total com uvas híbridas. As mais cultivadas
são: Lorena, Couderc, Moscato Embrapa e BRS Rúbia.
A B C
15
5.4.1.2. Poda verde
A poda verde é uma operação que é realizada durante o estágio
vegetativo da planta. Consiste em retirar o excesso de material vegetativo
desenvolvido durante a fase vegetativa da videira (Figura 6), propiciando uma
maior insolação no interior do vinhedo, maior ventilação, reduzindo a incidência
de moléstias fúngicas como as podridões e o míldio.
Figura 6. Área realizada poda verde (direita) e área sem realização da poda verde (esquerda). Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
Muitos produtores do Município de Farroupilha realizam a poda verde
fazendo o desponte deixando aproximadamente de 6 a 8 folhas após o último
cacho; a desrrama é realizada deixando de 2 a 3 brotações por ponto e os
mesmos são retirados quando tiverem de 10 a 20 cm de comprimento. O
desnetamento é bastante executado e consiste na retirada de ramos que
brotaram de gemas de ramos do ano. Estes são apenas vegetativos, e
considerados como ramos “ladrões”, pois somente utilizam a seiva elaborada
para crescimento vegetativo, causando sombreamento do dossel e desvio de
energia do cacho; e a desfolha que é a retirada das folhas do ramo abaixo do
cacho.
No entanto, durante o estágio foram visitados alguns produtores e
constatado a falta de poda verde, com conseqüente atraso na maturação de
suas uvas e sombreamento excessivo do vinhedo, conforme descrito em
GIOVANNINI (2009). A causa mais relatada pelos produtores para a pouca
16
realização da poda verde, é a falta de mão-de-obra, pois são produtores
familiares e geralmente contam somente com a mão-de-obra da família.
Um problema constatado em algumas propriedades é o excesso de vigor
das plantas, pelas características do solo e pela adubação química em
excesso, gerando um sombreamento alto no vinhedo. Foi visto ramos atingindo
aproximadamente 5 metros de comprimento, necessitando maior atividade de
desponte. Com isso, foi dado assessoramento para estes produtores quanto
aos benefícios da aplicação controlada da adubação e manejo da poda verde
no vinhedo.
5.4.1.3. Cobertura vegetal
Os produtores utilizam a cobertura verde na maioria dos vinhedos
visitados. O cultivo da aveia preta é predominante entre os produtores para
formação da cobertura verde do solo. No entanto, a quantidade de palhada
sobre o solo, nos vinhedos, é bem diversa. Em algumas propriedades com
vinhedos mais sombreados, ou excesso de crescimento vegetativo, é
percebida a quase inexistência de cobertura do solo com plantas de cobertura
em fase vegetativa ou com palhada. Nestes casos, foi explicado dos benefícios
da utilização da cobertura verde na manutenção da umidade no solo, controle
da erosão, ciclagem de nutrientes e manutenção de abrigos naturais, para os
inimigos naturais de algumas pragas. A utilização da roçadeira como prática de
manejo da cobertura verde, principalmente de plantas espontâneas, tem sido
bem aceita pelos produtores e muitos estão relatando melhoras na qualidade
de seus vinhedos. Isso vai de encontro aos benefícios descritos pela
EMBRAPA UVA E VINHO (2010).
5.4.1.4. Análise de solo
Durante o período do estágio foram recebidos, no Escritório Municipal da
EMATER/RS - ASCAR, 6 amostras de solo para envio ao laboratório de análise
de solos da UFRGS. Na ocasião foi possível acompanhar a interpretação e
recomendação para os resultados de análise que chegaram ao escritório.
Cinco das seis amostras eram de áreas com vinhedos. Na média, as análises
17
demonstram altos teores de fósforo, potássio e pouca necessidade de
aplicação de calcário para estas áreas.
5.4.1.5. Comercialização
A comercialização é parte fundamental do processo produtivo, pois é o
momento onde o produtor vai ter o retorno do trabalho realizado durante toda
safra.
Em Farroupilha, a maior parte da uva produzida é destinada a produção
de vinhos e sucos, e uma boa parte para consumo in natura. Para vinhos e
suco a comercialização se dá com as 40 cantinas que estão localizadas no
Município. Destas 40 cantinas, três são cooperativas vinícolas (Cooperativa
São João, Cooperativa da Linha Jacinto e Cooperativa Emboaba).
A uva também é comercializada com cantinas e outras cooperativas
existentes na região. Os produtores fazem a colheita e armazenam as uvas
em caixas de 20 kg. Estas são transportadas nos caminhões até o ponto de
industrialização (Figura 7). Alguns produtores transportam a uva a granel nos
caminhões, e quando chegam às cantinas, despejam a uva diretamente no
moedor.
Figura 7. Cooperativa Vinícola Linha Jacinto LTDA. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
Para consumo in natura, a uva é colhida cuidando de três requisitos:
coloração, textura e sabor. Estando de acordo com estes requisitos é feita a
colheita apenas dos cachos de tamanho médio a grande, com boa formação e
sem problemas de doenças ou danos. Estes cachos são acomodados em
18
caixas de 5 ou 7 kg cada (Figura 8) e transportados para os centros
distribuidores, como a CEASA de Porto Alegre, CEASA de Caxias do Sul e no
comércio local. Também é transportado para outros Estados como Santa
Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do sul.
Figura 8. Caixas para comercialização da uva in natura e caminhão com refrigeração paratransporte da uva para outros Estados. Farroupilha, 2011. Fotos: V. Bassotto.
Nesta safra, devido às boas condições climáticas, a boa qualidade das
uvas produzidas e a diminuição dos estoques das cantinas, proporcionaram
boas perspectivas na comercialização e valorização da uva. A diminuição dos
estoques deve-se à maior comercialização dos espumantes, vinhos e sucos, da
safra passada. Com isso, muitos produtores conseguiram negociar sua
produção antes mesmo de completar o período de maturação da uva. Um
exemplo é a busca pela uva Moscato, que nesta safra foi muito procurada.
Houve negociação e a compra da produção até um mês antes do período de
colheita, com garantias de pagamento em até três dias após o recebimento da
uva. Isto agradou muito os produtores. Normalmente, as cantinas realizam o
pagamento parceladamente, e somente a partir do inverno posterior à colheita.
O preço pago aos produtores é estabelecido pela CONAB, a qual fixa
um preço mínimo, conforme classificação do grupo e graduação glucométrica
das viníferas. Para a safra 2010-2011 o preço mínimo básico fixado é de
R$ 0,52 para as uvas americanas e híbridas, sendo que para cada grau
glucométrico acima de 20º, é concedido ágio de 5% e para cada grau abaixo
de 13º, é aplicado deságio de 5%, CONAB (2010). No entanto, o preço da uva
também é influenciado pela lei da oferta e da procura e nesta safra ele poderá
19
ter remuneração superior ao preço mínimo, como no caso da variedade
moscato.
5.4.1.6. Produção de uvas em sistema coberto
O Município de Farroupilha tem aproximadamente 20 hectares de
produção de uvas no sistema coberto com cobertura plástica. O sistema de
condução predominante é o latada com formação de túneis sobre cada fileira
de plantio (Figura 9). Foi visto que não há um consenso quanto ao
espaçamento a ser utilizado entre um túnel e outro. Existem vinhedos onde a
área de abertura entre os túneis é muito pequena, resultando na formação
inicial do processo de erosão do solo, sendo visto pelo inicio da formação de
sulco, ocasionado pelo deságüe da água da chuva no mesmo ponto entre os
dois túneis. No caso contrário, um espaçamento muito grande provoca um
umedecimento maior do dossel gerando aparecimento de doenças que
geralmente aparecem no cultivo convencional, sem cobertura plástica.
Figura 9. Vinhedo em sistema latada com cobertura plástica. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
A cobertura tem por objetivo evitar o molhamento foliar formando um
micro-clima desfavorável ao desenvolvimento de fungos, principalmente os
causadores do míldio e podridões, que são as doenças de maior ocorrência na
região.
20
Foi possível visualizar a sanidade maior da parte vegetativa da planta
que se encontra sob o plástico, com maior incidência de doenças,
principalmente o míldio, em ramos que crescem para fora da cobertura plástica.
Isso comprova a maior sanidade e permanência da folha na parte coberta, e
menor necessidade de aplicação de produtos químicos, conforme descrito em
CHAVARRIA et al (2007). Os produtores relatam que fazem aproximadamente
5 aplicações de produtos químicos, para controle de ácaros e oídio, nesse
sistema. Foi explicado a esses produtores, os resultados obtidos em
experimento realizado na EEA da UFRGS, onde foram realizadas 2 aplicações
de produtos e consequentemente foram encontrados resíduos nessas uvas
após a colheita. No entanto, no sistema convencional (fora da cobertura), onde
foram realizados 18 tratamentos, não houve presença de resíduos.
Há a necessidade de esclarecer aos produtores quanto aos prazos de
carência dos produtos aplicados. Como não há molhamento foliar e não ocorre
incidência direta dos raios UV, não ocorre uma lavagem dos produtos pela
água da chuva e também não ocorre a degradação rápida das moléculas do
produto químico aplicado, pois o plástico apresenta aditivos anti-UV. Com isso,
deve-se ter um manejo fitossanitário diferenciado do manejo convencional e os
prazos de carência dos produtos não devem ser levados em conta, pois foram
feitos para o manejo convencional, neste caso ocorre degradação da molécula
pelos raios do sol e também lavagem do produto pela ação da água da chuva.
Portanto, no sistema coberto só deve-se aplicar produtos químicos, quando há
alguma doença instalada com possibilidade de danos, já que os produtos vão
permanecer mais tempo agindo no fruto, podendo ter resíduos na hora da
comercialização, causando risco ao consumidor final.
5.4.1.7. Problemas Fitossanitários
No Município de Farroupilha, as doenças são as maiores causas de
perdas de produtividade dos vinhedos, devido às características topográficas e
climáticas da região. Com isso, necessita um manejo fitossanitário e práticas
culturais que possibilitem uma condição menos favorável ao desenvolvimento
dos patógenos durante o ciclo da cultura.
21
Os principais problemas visualizados durante o período do estágio e que
consequentemente são os de maior incidência e freqüência, no Município de
Farroupilha, são as doenças da parte aérea como o Míldio (agente causal:
Plasmopora viticola) e as Podridões, sendo a Podridão-cinzenta-da-uva
(agente causal: Botryotinia fuckeliana de forma conidial Botrytis cinerea) e a
Podridão-da-uva-madura (Glomerella cingulata de forma conidial Colletotrichum
gloesporioides) as principais. Nos problemas com mortandade de planta, tem-
se a Fusariose (agente causal: Fusarium oxysporum f. sp. Herbemontis), Pé-
preto (agente causal: Cilindrocarpon destructans) e o Escurecimento da casca.
Nos insetos tem-se a Pérola-da-terra (Eurhizococcus brasiliensis) e no sistema
protegido ocorre incidência do Ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus), o
Ácaro rajado (tetranychus urticae) e Oídio (agente causal: Uncinula necator).
Míldio: também chamada de mufa ou mofo, é a principal doença que
ataca a parte aérea da videira. A doença é causada pelo pseudofungo
Plasmopora viticola, o qual pode infectar a planta desde a floração até a
maturação da uva. Os danos ocorrem nas folhas e diretamente nas bagas
causando um murchamento e seca destas (Figura 10). As condições favoráveis
ao desenvolvimento do pseudofungo são temperaturas amenas, em torno de
18 a 25ºc e alta umidade relativa, coincidindo com as condições climáticas no
Município no período de desenvolvimento da cultura.
Figura 10. Sintomas de Míldio em bagas da variedade Moscato. Foto: V. Bassotto, 2011.
22
O controle dessa doença, no Município, é feito através de aplicações
preventivas de calda bordalesa e fungicidas registrados para a cultura. As
aplicações são realizadas conforme calendário de maior suscetibilidade de
ataque do patógeno, que consiste do inicio da brotação ao início da maturação.
Com isso, foi visto muito pouca incidência de danos causados por essa doença
nesta safra. Conforme relatos dos produtores e dos técnicos da EMATER/RS -
ASCAR, essa doença é a que mais utiliza defensivos para o controle, pois a
incidência da doença é alta nas condições climáticas do Município e o
tratamento curativo é menos eficaz.
Oídio: Causada pelo fungo Uncinula necator é a principal doença que
ataca a videira em sistema coberto, pois nesse sistema não há molhamento
foliar e conseqüentemente forma um ambiente seco e com temperaturas
amenas. Essas características combinam com a umidade e temperatura ótima
para o desenvolvimento do fungo, em torno de 25ºC, propiciando o
desenvolvimento da doença e ataque de ácaros.
Os sintomas se manifestam nas folhas através da produção de colônias
em ambos os lados da folha apresentando uma massa branca, que consiste no
micélio do fungo. Em ataques severos as folhas manifestam sintoma de
enrolamento para cima. Nas bagas infectadas, apresentam cicatrizes que
posteriormente podem rachar expondo as sementes (como foi visto em material
trazido por um produtor ao escritório municipal da EMATER/RS - ASCAR
(figura 3(A)) permitindo a entrada de organismos que causam podridões. O
controle dessa doença também é feito preventivamente com uso de produtos
registrados no AGROFIT.
Podridão-cinzenta-da-uva: também chamada de podridão-do-cacho, ou
botritis causada pelo fungo Botryotinia fuckeliana de forma conidial Botrytis
cinerea. É a doença mais importante das podridões do cacho. O fungo vive
como saprófita e não é específico da videira, atacando diversas plantas,
considerado um fungo polífago, conforme SONEGO et al (2003).
A infecção ocorre na floração onde o estilete floral é infectado e o fungo
invade as bagas permanecendo latente durante o desenvolvimento destas, só
aparecendo os sintomas no início da maturação. No início uma simples baga
infectada se torna marrom e apodrece produzindo visível massa de esporos
(Figura 11) e quando o teor de açúcar das bagas se eleva durante o
23
amadurecimento dos frutos, o fungo reinicia o crescimento e se dissemina
rapidamente através das bagas. Devido às condições climáticas do Município
de Farroupilha no período de maturação da uva, torna-se um ambiente
extremamente favorável ao desenvolvimento da doença que está associada
com alta umidade relativa e temperaturas amenas durante esse estádio de
desenvolvimento da cultura.
Figura 11. Massa de esporos em bagas atacadas por botritis. Foto: V. Bassotto, 2011.
Os produtores fazem o controle preventivamente a partir do estádio da
floração ao início da maturação da uva. São feitas aplicações com produtos
registrados para a cultura. Os técnicos da EMATER/RS-ASCAR esclarecem
aos produtores a necessidade de aplicação de produtos com menor período de
carência possível, pois se mal calculado, poderão estar colhendo uva com
resíduo do fungicida. Os sintomas conferem com as ilustrações contidas na
literatura SONEGO et al (2003).
Podridão-da-uva-madura: causada pelo fungo Glomerella cingulata,
forma conidial Colletotrichum gloesporioides. Tem como sintomas primários o
apodrecimento dos frutos maduros, apresentando manchas marrom-
avermelhadas, as quais posteriormente atingem toda a baga causando a
mumificação. Em condições climáticas favoráveis, temperaturas altas e elevada
umidade relativa, aparecem pontuações cinza-escuras constituídas de
estruturas do fungo e posteriormente, essa pontuações abrem-se exibindo um
crescimento róseo do fungo, sendo então a doença facilmente diagnosticada.
24
Outro dano ocorrido na atual safra é a ocorrência da mortandade das
plantas que tem preocupado os produtores. As doenças mais encontradas
causando esse dano são:
Fusariose: é uma doença que tem preocupado os produtores na atual
safra, foi diagnosticada uma maior incidência neste ano. É uma doença
vascular, cujo patógeno penetra através de ferimentos nas raízes, causando o
entupimento dos vasos de condução da seiva bruta (xilema). É causada pelo
fungo de solo Fusarium oxysporum f. sp. Herbemontis e os sintomas da doença
podem ser observados durante todo o ciclo de desenvolvimento da planta.
Os sintomas visualizados conferem com os descritos em EMBRAPA
UVA E VINHO (2003) onde na parte aérea, ocorre o retardamento da brotação
e redução de vigor, as folhas murcham subitamente, tornam-se amareladas,
secam e caem. Os frutos podem secar e permanecer aderidos ao ramo. A
doença foi facilmente diagnosticada em plantas doentes, através do corte do
tronco doente que mostra o escurecimento dos vasos do xilema.
Escurecimento da casca: é uma doença que vem aumentando em sua
incidência na região. Na atual safra 2010/2011 a doença tem causado a morte
de muitas plantas nos vinhedos. Os sintomas típicos são o escurecimento da
região do córtex da planta, murcha total da parte aérea com permanência dos
cachos e desenvolvimento reduzido da parte vegetativa da planta. Conforme
relatos do Eng. Agr. Alfredo Gallina, não se tem pesquisa sobre o agente
causal da doença. Podendo ser referida a condições abióticas.
Pé-preto: é uma doença relativamente nova no Município de
Farroupilha. Causada pelo fungo Cilindrocarpon destructans. Ataca
principalmente cultivares americanas, com idade inferior a 5 anos e mudas
proveniente de estacas (pé-franco). É considerado um fungo colonizador
pioneiro de raízes jovens, devido a sua grande habilidade competitiva. O
sintoma característico é o escurecimento e apodrecimento do colo da planta.
Os produtores seguem as recomendações dadas pelos técnicos da
EMATER/RS-ASCAR, visando diminuir a incidência dessas três doenças que
causam a morte de plantas (Figura12).
25
Figura 12. Sintomas de Fusariose (A); Escurecimento da Casca (B) e Pé-preto (C). Fotos: V. Bassotto, 2011.
As medidas de controle utilizadas pelos produtores do Município são
baseadas conforme descrito em GIOVANNINI (1999). As principais práticas
são:
Controle através do manejo cultural preventivo, utilização de mudas sem a
presença de inóculo, utilização de cultivares mais resistentes como a
variedade Isabel, quando cultivada de pé-franco, utilização do porta-enxerto
pausen 1103 ou o R99 e Rupestris Du lot;
Não revolver o solo, evitando qualquer tipo de ferimento ao sistema
radicular e colo da planta, durante a manutenção das estradas dentro do
vinhedo e na roçada da cobertura verde, dificultando e diminuindo a entrada
e ocorrência destas doenças;
Em áreas que já possuem a doença, fazem a erradicação das plantas com
sintomas da doença e preparo da cova com cal para replantio. Essas
medidas possibilitam eliminar algum foco de disseminação do patógeno,
permitindo, que a muda nova, se desenvolva num ambiente com todos os
nutrientes necessários, tornando a planta mais resistente;
Aplicação de Trichoderma. Este é um fungo entomopatológico que atua no
controle de fungos patogênicos do solo. Os técnicos recomendam fazer 3
aplicações durante o ano. A aplicação deve ser realizada quando há
umidade no solo e, preferencialmente, na época da primavera até início do
outono. Muitos produtores relataram que fazem esse controle biológico.
Essas práticas são seguidas conforme disponibilidade de mão-de-obra,
de área disponível e recursos financeiros dos produtores.
Ácaros: o ataque de ácaros tem ocorrido principalmente na produção de
uvas coberta, devido ao ambiente seco que se forma sob o plástico, sendo
C B A
26
favorável ao desenvolvimento desses insetos. O Ácaro branco
(Polyphagotarsonemus latus) e o Ácaro rajado (Tetranychus urticae) são os
principais. Os sintomas principais são a paralisação do crescimento e atrofia
das folhas e brotações novas causando um atraso na formação do vinhedo
(Figura13).
Figura 13. Sintomas do ataque de ácaros em ramos novos da videira. Foto: V. Bassotto, 2011.
Os produtores de farroupilha utilizam o controle químico para controlar
os ácaros. Utilizam de produtos registrados e com aplicações somente quando
o inseto está presente na área e causando danos ao desenvolvimento da
planta. A quantificação do momento de aplicação é feito visualmente e sem
referenciar um nível de dano econômico.
Pérola-da-terra: Eurhizococcus brasiliensis é uma cochonilha
subterrânea que ataca as raízes das plantas da videira e diversas plantas
silvestres. No Município de Farroupilha os técnicos da EMATER/RS-ASCAR
têm diagnosticado muitas áreas com incidência da praga.
O sintoma mais característico é o definhamento progressivo da planta,
causado pela sucção da seiva pela pérola-da-terra. Quando arrancada a planta
com sintomas, é relativamente fácil identificar as estruturas do inseto nas
raízes da planta.
A recomendação dada pelos técnicos da EMATER/RS-ASCAR, para o
controle da praga, tem sido: adoção de práticas culturais para que a
27
convivência com a doença não se torne danosa, realizar o plantio de novos
vinhedos em áreas livres da praga, fazer análise de solo e adubação de
correção e manutenção, utilização de mudas de boa procedência (sem a
praga) e aplicação de produtos químicos registrados para a cultura. Durante a
visita a produtores, foi relatado por estes, e pelos técnicos da EMATER/RS-
ASCAR, a dificuldade de controle da praga. O principal entrave para utilização
do controle químico é a necessidade de aplicação dos produtos
individualmente em cada planta, com isso, necessitando muita mão-de-obra.
Os produtores reclamam da ineficiência dos produtos aplicados e reduzido
número de produtos registrados, conforme pode ser visto no AGROFIT, onde
constam somente dois produtos registrados para controle da praga. Porém
conforme relatado pelo Eng. Agr. Alfredo Gallina, isto ocorre devido à má
aplicação dos produtos.
Deficiência de Boro: é um dos micronutrientes que interfere
diretamente na produtividade dos vinhedos. Os sintomas são facilmente
diagnosticados, pois se manifestam pela presença de bagas menores e em
vários estágios de desenvolvimento no cacho, ocorrendo também uma
maturação desuniforme das bagas (Figura 14). A recomendação para controle
dessa deficiência é a aplicação foliar, de produtos a base de boro, no estágio
de desenvolvimento vegetativo até a florada e aplicação de boro via fertilizante
no solo, em casos de alta deficiência.
Figura 14. Bagas pouco desenvolvidas e em diferentes estágios de maturação devido à deficiência de boro. Foto: V. Bassotto, 2011.
28
5.4.2. Cultura do kiwizeiro
O cultivo do kiwi em Farroupilha é importante, pois é o fruto que
identifica o Município, através da Festa Nacional do Kiwi (Fenakiwi), que ocorre
a cada dois anos. A produção do Município, para a atual safra é estimada em
2.000 toneladas da fruta. A média de produtividade é de 17 T/ha.
O kiwi é originário da China e seu cultivo, em Farroupilha, iniciou em
1985. A planta necessita de solos bem drenados, porém com boa umidade,
solos ricos em matéria orgânica e pH levemente ácido. As plantas possuem
crescimento vigoroso e necessitam de plantas polinizadoras.
5.4.2.1. Variedades
A principal variedade cultivada no mundo é a Hayward, sendo
caracterizada por apresentar maior período de conservação em câmaras frias,
possuir melhor padrão, qualidade de fruto e aceitação pelo mercado
consumidor.
No Município de Farroupilha a variedade Hayward não é muito
produzida, devido à falta de frio para quebra de dormência, que causa a
brotação desuniforme, pois somente as gemas da extremidade do ramo
brotam. Com isso, é necessária aplicação de Dormex, para quebra de
dormência. No entanto, mesmo com aplicação de produtos para quebra de
dormência, em muitos anos não se mostra eficaz.
As variedades mais produzidas no Município são o Elmwood, Bruno e
Monty (todos com pêlos) e recentemente esta crescendo a área plantada com
as variedades Actinidia chenensis: Golden king, Yellow Queen, MG-06 e
Farroupilha, que são variedades sem pêlos (Figura 15).
29
Figura 15. Variedade ELMWOOD (piloso) e GOLDEN KING (glabro). Foto: V. Bassotto, 2011.
As variedades do grupo sem pelo são mais precoces, mas se conservam
menos pós-colheita. Por isso são mais indicadas para mercados consumidores
próximos. Outro aspecto negativo, destas variedades, é a ocorrência de ataque
da Mosca-das-frutas sul-americana (Anastrepha fraterculus), devido à ausência
da proteção dada pelos pêlos.
5.4.2.2. Sistema de Condução
No Município de Farroupilha os pomares de kiwi são conduzidos no
sistema latada. A condução da planta é feita com dois ramos principais de
aproximadamente 2 metros de comprimento cada, nos quais se desenvolvem
os ramos produtivos e esporões para próxima safra.
O espaçamento utilizado é 4m entre plantas por 4 a 5m entre fileiras,
totalizando 500 a 625 plantas por hectare. No entanto, foi visto durante visitas a
produtores que o espaçamento de plantio tem reduzido para aproximadamente
3,5m entre plantas e 4m entre fileiras. A poda de inverno é realizada deixando-
se aproximadamente 20 varas com 10 a 12 gemas cada e um esporão para
cada vara, caso tenha galhos suficientes, para cada planta.
5.4.2.3. Sistema de Irrigação
A irrigação é essencial para o desenvolvimento do kiwizeiro. O
parâmetro utilizado é de 6 mm de água por dia de necessidade hídrica. No
entanto não tolera encharcamento. O sistema de irrigação utilizado é o micro-
30
aspersão. Os aspersores são instalados entre as filas e abaixo do dossel da
planta, para que não haja molhamento dos frutos e folhas, durante o período de
fornecimento de água.
5.4.2.4. Poda verde
A poda verde é uma prática de manejo fundamental na cultura do
quivizeiro, pois possibilita a redução de danos causados pela quebra de ramos,
através do vento. Nesta poda, realizada durante o período vegetativo, são
retirados os ramos ladrões e com desenvolvimento vegetativo excessivo.
Também é feito o desponte de ramos que crescem muito, e que começam a
perder vigor, mostrando sintoma de enrolamento (Figura 16), neste caso tem
por objetivo fortalecer o ramo para a próxima safra. O desenvolvimento
vegetativo vigoroso foi visto nos pomares, confirmando necessidade de
realização do desponte conforme dados da (FEPAGRO, 1998).
Figura 16. Ramo de kiwizeiro com enrolamento característico de perda de vigor. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
5.4.2.5. Raleio
O raleio consiste na retirada do excesso de frutos num mesmo ramo,
possibilitando gerar frutos com maior diâmetro e melhor apresentação para
comercialização. Os produtores realizam o raleio quando os frutos apresentam
31
diâmetro de 2 a 3 cm, retirando-se os frutos menores, mal formados. Em
muitos casos é comum uma penca com 3 frutos sendo normalmente o central
de maior tamanho. Neste caso, se o numero de frutos é elevado, retiram-se os
dois frutos laterais de menor tamanho.
Em visita a um pomar de kiwi, foi possível ver que durante a poda de
inverno foi feito a condução com aproximadamente 10 varas com 10 a 12
gemas cada, destas, cada gema brotou e produziu entorno de 5 frutos por
ramo do ano. Com isso se fez necessário fazer o raleio para que cada ramo
ficasse com aproximadamente 2 ou 3 frutos de bom calibre. (Figura 17)
Figura 17. Ramo de kiwizeiro sem raleio (A) e com raleio (B). Farroupilha, 2011. Fotos: V. Bassotto.
Outro parâmetro de raleio que consta na literatura é deixar em torno de
20 a 25 frutos por m², perfazendo um total de 200.000 a 250.000 mil frutos por
hectare. No entanto os produtores não utilizam esse critério, pois visualmente
reconhecem os frutos que devem ser retirados.
5.4.2.6. Problemas Fitossanitários
O quiwizeiro é uma planta muito rústica e resistente a doenças. O maior
problema encontrado no cultivo do kiwi é a morte de plantas (Figura18),
ocasionada pelo excesso de água em solos mal drenados, causando asfixia
das raízes e proporcionando o aparecimento de doenças fúngicas do solo. As
principais doenças que estão sendo diagnosticadas nos pomares são causadas
por Phytophthora, Roselinia e Fusarium. Os técnicos da EMATER/RS - ASCAR
recomendam medidas de controle preventivas, evitando-se o plantio em áreas
encharcadas e recém desmatadas. Ultimamente começa-se a preconizar o
A B
32
plantio de novas áreas em camalhões com sistema de drenagem entre os
camalhões.
Uma doença que tem aparecido nos pomares de kiwi do Município, é a
presença do fungo Ceratocystis finbriata que ataca o sistema radicular da
planta levando-a à morte. Esta doença é comum de ser diagnosticada
atacando eucalipto e mangueira. Os técnicos da EMATER/RS - ASCAR
relataram que está sendo investigada a ocorrência da doença na Região da
Serra, através de um trabalho de Pós-graduação, por um profissional da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cujo trabalho está sendo
realizado na Universidade Federal de Viçosa (UFV) de Minas Gerais.
Figura 18. Planta de kiwizeiro morta em meio ao pomar. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
5.4.2.7. Ponto de Colheita
A colheita é realizada a partir da primeira quinzena de março para as
variedades mais precoces e se estende até final de maio. Portanto, não foi
possível acompanhar a colheita, porém foi relatado pelos produtores e pelo
técnico da Emater, que o ponto de colheita é feito através de amostragem e
análise do teor de açúcar no fruto através do refratômetro. A colheita ocorre
quando os frutos atingem no mínimo 6,2º Brix e são armazenados em câmaras
frias. A comercialização destes, só é realizada quando os frutos armazenados
atingem no mínimo 12ºBrix.
33
5.4.2.8. Adubação e cobertura do solo
A manutenção da cobertura do solo é feita com o manejo através da
semeadura de inverno de plantas de cobertura como a aveia, sendo realizada a
rolagem ou roçada no inicio do período de floração destas.
A adubação química é baseada em análise de solo, e nos últimos anos a
tendência de recomendação é conforme a extração de nutrientes do solo:
Extração por tonelada de frutos produzidos: N= 5,09kg; P=1,45kg; K=7,88kg.
Essa tabela é utilizada nos pomares da Itália, portanto falta pesquisa para as
nossas condições. Parte do Nitrogênio e do potássio é utilizado em cobertura,
na fase de pós raleio e 45 dias antes do inicio da colheita.
5.5. Acompanhamento de outras culturas - secundárias
As culturas do pessegueiro, ameixeira, caquizeiro e moranguinho são
importantes no Município de Farroupilha. Essas culturas foram menos
visualizadas durante o estágio, por isso serão consideradas como secundárias.
5.5.1. Culturas do Pessegueiro e Ameixeira
O pessegueiro (Prunus pérsica) é a segunda cultura mais plantada no
Município de Farroupilha. A área plantada é de 600 hectares com produtividade
média de 15 toneladas por hectare. As cultivares comerciais são plantas de
porte médio, e que necessitam solos bem drenados e de boa fertilidade para
plena produção.
Farroupilha possui aproximadamente 175 hectares de ameixa em
produção com produtividade média de 13 toneladas por hectare. As principais
cultivares plantadas no Município provém da espécie Prunus salicina lindl,
conhecida como ameixa japonesa. Essa espécie, geralmente requer menor
acúmulo de frio, para quebra de dormência, do que as ameixeiras da espécie
Prunus domestica L. (ameixeira européia).
Em visitas a produtores, foi visualizado que o sistema de condução nas
duas culturas é do tipo taça que permite um bom desenvolvimento e insolação
da planta. São deixados entorno de 4 a 5 pernadas por planta e o espaçamento
34
mais utilizado pelos produtores do Município é de 3,0 a 3,5 x 4,5 metros entre
filas.
5.5.1.1. Variedades
As variedades de pessegueiro Chimarrita 57%, Chiripá 20%, Marli 10%,
Eragil 5% e Premier 4% são as mais cultivadas no Município. A variedade
Chimarrita é a mais cultivada devido ao fruto ser arredondado e com maturação
no período de alta demanda que é entre o Natal e Ano Novo. A variedade
Premier é mais precoce, com maturação na primeira quinzena de novembro
porém possui baixos teores de sólidos solúveis e polpa pouco firme, isso torna
o fruto pouco apreciado pelos consumidores.
As variedades de ameixeira Fortune, Letícia e Pluma Sete são as mais
cultivadas. A variedade Fortune (Figura 19) é a mais cultivada, pois é bem
adaptada a região e considerada de excelente qualidade pelos produtores e
consumidores, devido ao sabor e coloração do fruto. Foi relatado pelos
produtores e pelo Eng. Agrônomo da EMATER/RS-ASCAR que a ameixeira é
fortemente influenciada pelo clima e polinizadores, sendo que cada variedade
necessita uma variedade polinizadora que coincida a florada, isso para
ocorrência da efetiva polinização cruzada.
Figura 19. Ameixa da variedade Fortune. Foto: V. Bassotto, 2011.
5.5.1.2. Poda verde
A poda verde é realizada durante o período vegetativo da planta, sendo
mais frequentemente realizado juntamente com o raleio, 30 dias antes da
35
maturação e após a colheita. São retirados ramos muito vigorosos (ladrões) e
ramos mal posicionados, mantendo-se a planta bem arejada e com a formação
conduzida. Os produtores não retiram totalmente os ramos ladrões para evitar
que ocorra a exposição excessiva da radiação solar nos ramos principais,
causando queimadura e levando a morte destes.
5.5.1.3. Comercialização
A produção do Município é toda destinada para o consumo in natura.
Aproximadamente 35% dos produtores, representando em torno de 40% da
produção total do Município, possuem sistema de classificação e embalagem
de seus frutos para comercialização direta com atacadistas. Estes produtores
comercializam frutos com atacadistas de SC, PR, SP, RJ e também na CEASA
de Porto Alegre e Caxias do Sul. Os outros 65% dos produtores comercializam
os outros 60% da produção total do Município com os 4 maiores atacadistas
intermediários de Farroupilha e também com outros comerciantes do Município
de Pinto Bandeira e região.
Os atacadistas de Farroupilha são: Silvestrin Frutas, Fruticultura Polar,
Dalvino Girelli e Irmãos Belaver. Os produtores transportam os frutos até o
atacadista que realiza a classificação. Com isso, muitas vezes o produtor
entrega seu produto sem previsão de preço e com recebimento somente após
a venda de seus produtos.
No pêssego a classificação é feita com máquinas classificadoras que
separam os frutos por tamanho ou peso (Figura 20), dependendo do
equipamento. Existe um parâmetro que classifica os frutos em calibre
possibilitando relacionar o numero de frutos que se necessita para completar
as duas bandejas por caixa, totalizando 7 quilos. Os frutos são classificados
nos calibres: 18, 20, 22, 24, 28, 30, 36 ou 40. Por exemplo: os frutos
classificados como de calibre 24, significa que cada bandeja conterá 24 frutos.
Cada caixa contém duas bandejas, então teremos 48 frutos por caixa que
corresponderão aos 7 Kg padrão da embalagem.
36
Figura 20. Máquina classificadora de frutos. SILVESTRIN FRUTAS. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
A comercialização da ameixa é toda para consumo in natura, os frutos
são colhidos e acomodados em caixas de 7 kg cada ou vendidas em caixas de
20 kg cada para os atacadistas.
Muitos produtores possuem câmara fria e armazenam sua produção
para venda escalonada, conseguindo receber um valor maior na hora da
comercialização. O período médio de armazenamento está em torno de 1 a 2
meses.
A classificação das ameixas geralmente é feita visualmente
selecionando os frutos em três tamanhos (pequeno, médio e grande).
5.5.1.4. Tratamento pós-colheita
Uma prática utilizada pelos produtores de ameixa após a colheita é a
aplicação foliar do micronutriente boro. São feitas de 2 a 3 aplicações para que
a planta reserve esse nutriente, que é essencial no processo de
desenvolvimento das estruturas reprodutivas da planta. Com isso, aumenta a
eficácia da polinização. O tratamento é feito após a queda natural das folhas e,
em pleno inverno se faz a aplicação de calda bordalesa 1,5%, ou produtos a
base de cobre para diminuir o inócuo da bactéria Xanthomonas campestris.
5.5.1.5. Problemas Fitossanitários
As principais pragas que atacam o pessegueiro no estádio de maturação
e colheita são a mosca-das-frutas sul-americana (Anastrepha fraterculus) e a
37
mariposa oriental (Grapholita molesta), sendo imprescindível o controle destes
insetos. Na ameixeira, as principais pragas são a mosca-das-frutas sul-
americana, mancha bacteriana (Xanthomonas campestris) e a podridão-parda
(Monilinia fructicola) que ataca também o pessegueiro.
Mosca-das-frutas sul-americana (Anastrepha fraterculus) é a principal
espécie que ocorre na Região Sul do Brasil. É identificada pelas manchas
escuras que possui nas asas em forma de “s” e “v” invertido. O dano ocorre
somente no fruto causando um apodrecimento com característica mais úmida,
inviabilizando a comercialização.
Foi visualizado que os produtores do Município de Farroupilha
praticamente não utilizam o sistema de monitoramento, com as armadilhas de
suco, recomendado na literatura. O principal motivo pela não utilização do
monitoramento é a falta de tempo para troca do suco destas, falta de mão-de-
obra e dificuldades para separar e identificar a mosca das frutas, pois muitos
outros insetos são atraídos.
No Município de Farroupilha os produtores utilizam a aplicação de isca
tóxica a partir da fase pré-inicial da maturação (30 dias antes). São feitas
aproximadamente 3 aplicações sem a realização de um monitoramento para
comprovar a presença do inseto na área. Essa isca é feita com proteína
hidrolisada, ou melaço, ou açúcar (na proporção de 5%) mais inseticida
(conforme dosagem estabelecida para o produto) e água. A aplicação é feita
com pulverização na beirada de matos junto ao pomar, na periferia do pomar e
em 20% das fileiras dentro do pomar. O objetivo das aplicações é controlar e
reduzir a população do inseto na área.
Mariposa oriental (Grapholita molesta): os adultos são pequenas
mariposas de cor cinza-escura, com manchas distintas e escuras nas asas. Os
danos ocorrem no fruto e nos ponteiros (brotações novas).
Para controle da Grapholita molesta os produtores fazem o
monitoramento da mariposa através da utilização de armadilhas, tipo delta com
feromônio. A vistoria das armadilhas é feita duas vezes por semana. Na
literatura o parâmetro para entrar com o controle (aplicação de inseticida na
área total) é quando a média semanal atingir o número de 20
mariposas/armadilha/semana. Porém os técnicos da EMATER/RS - ASCAR de
Farroupilha aconselham os produtores a iniciar o controle quando a incidência
38
for de 12 grapholitas/armadilha/semana, principalmente quando há evidencias
de que há um aumento significativo entre uma contagem e outra. Devido às
condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento da praga, está se reproduz
muito rapidamente e, consequentemente, quando houver a presença de 20
grapholitas já atingiu dano econômico. Os produtores colocam as armadilhas e
fazem o monitoramento no período de agosto a setembro.
Bacteriose ou Mancha Bacteriana: é causada pela bactéria
Xanthomonas campestris. A identificação se dá pelos sintomas nas folhas que
aparecem inicialmente pequenas manchas angulares, tornando-se pardas e
perfurando a folha (Figura 21). Nos frutos, causa manchas escuras em
qualquer parte deste. Nos ramos ocorrem cancros. Alta umidade e temperatura
amena são os fatores favoráveis ao desenvolvimento da doença, por isso essa
doença é bem comum nos pomares de ameixa do Município de Farroupilha. É
uma doença passível de convivência.
Figura 21. Sintomas da Mancha Bacteriana em ameixeira. Foto: V. Bassotto, 2011.
O controle é feito com medidas preventivas como: instalação de quebra
ventos nos pomares para reduzir a disseminação da bactéria pelo vento e
eliminação e queima de ramos com cancros. Os tratamentos fitossanitários são
realizados com produtos à base de cobre durante o outono, após a queda
natural dos frutos, e no período de repouso vegetativo da planta.
Podridão parda: é causada pelo fungo Monilinia fructicola wint. Ataca o
pessegueiro e a ameixeira, com sintomas semelhantes para ambas as culturas.
O ataque pode ocorrer na floração, principalmente em períodos com alta
umidade e precipitação, e também no estádio inicial de maturação até a
colheita. O ataque é favorecido em ferimentos causados pelo ataque da
39
mosca-das-frutas, sendo, portanto o monitoramento e controle da mosca-das-
frutas a prática de manejo adotada para reduzir a incidência da doença.
5.5.2. Cultura do caquizeiro
O caquizeiro – Diospyrus kaki L.F. é uma planta que necessita solos
bem drenados, profundos, com alto teor de matéria orgânica e com teores
médios de argila para seu desenvolvimento pleno.
A área de produção com caquizeiro é de 215 hectares com produção de
2150 toneladas da fruta. O sistema de condução utilizado é em forma de taça,
sendo conduzido com três ou quatro pernadas, deixando-se em torno de 80
carregadores por planta. O espaçamento é de 4x5 metros totalizando 500
plantas por hectare. Com esses dados pode-se ter uma noção de
planejamento. Cada carregador, após o raleio, permanece com três frutos e
multiplicando-se por oitenta carregadores temos 240 frutos. Com uma média de
150g/fruto/planta, tem-se 36 kg/planta, que multiplicado por 500 plantas, dá
uma produção média esperada de 18.000 kg por hectare.
5.5.2.1. Variedades
Durante o estágio foi possível visualizar as características morfológicas
das diferentes variedades cultivadas, sendo possível fazer o reconhecimento
destas. O porta-enxerto utilizado é o Diospyrus kaki, que é a espécie a que
pertencem as variedades cultivadas.
As variedades são classificadas em dois tipos: chocolate branco (Fuyu)
e chocolate preto (Kyoto). No Município a variedade Fuyu representa 70% e a
variedade Kyoto 30% da área plantada respectivamente.
A variedade Fuyu possui frutos grandes com peso médio de 200g cada
com características de um fruto redondo e achatado, a planta possui porte
médio a alto e apresenta apenas flores femininas. Portanto, não possui
sementes caso não ocorra a polinização cruzada com polinizadores.
A variedade Kyoto é a segunda variedade mais plantada no Município e
no Sul do Brasil, o fruto apresenta características de ser grande, comprido e
arredondado. A planta apresenta flores masculinas e femininas, não
40
necessitando de variedade polinizadora. O período de colheita se dá em maio,
na região.
5.5.2.2. Poda verde
Os produtores fazem a retirada do excesso de ramos vegetativos e de
ramos ladrões para uma melhor ventilação da planta. São retirados ramos que
saem do mesmo ponto (Figura 22) deixando-se em média 2 a 3 brotações e
evitando aquelas que estão abaixo do ramo principal ou com tendência de
crescimento para o interior da planta. Neste momento também é feito desponte
de ramos mais vigorosos para forçar brotações laterais conduzindo a uma
melhor formação da planta e emitir ramos produtivos para a próxima safra. Foi
visto que se deve ter cautela nesse manejo, pois apenas as gemas da ponta,
ou seja, até aproximadamente a 5ª gema são produtivas, e se for realizado um
desponte justamente essas gemas são retiradas.
Figura 22. Ramo de caquizeiro sem poda verde (à esquerda) e com a poda verde realizada (à direita). Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
5.5.2.3. Problemas Fitossanitários
O caquizeiro é uma planta que não necessita de cuidados extremos no
tocante à incidência de doenças, pois é uma planta bem rústica e adaptada ao
clima da região. No entanto, o aumento da área plantada e a necessidade do
mercado consumidor em adquirir produtos isentos de qualquer defeito ou dano,
têm acarretado uma maior incidência de manejo fitossanitário nos pomares. As
principais pragas que atacam a cultura na fase de desenvolvimento vegetativo
visto durante o estágio foram:
41
Mancha-das-folhas ou Cercosporiose: É causada pelo fungo
Cercospora kaki sendo agente patogênico específico do caquizeiro. É a
principal doença que incide sobre as folhas resultando na queda precoce das
folhas, enfraquecimento da planta e o adiantamento da maturação dos frutos. A
identificação se faz pelos sintomas que se apresentam em ambas as faces das
folhas, principalmente na fase inferior. Aparecem manchas marrom-
avermelhadas com bordos pretos bem definidos, delimitadas pelas nervuras da
folha com aspecto angular. Na propriedade visitada foi relatado pelo produtor e
pelo Agrônomo da EMATER/RS - ASCAR que o controle fitossanitário é feito
através do controle químico, sendo realizada aplicação de caldas fungicidas
(calda sulfocálcica a 4º Bé), no tratamento de inverno, e após o início da
frutificação, fazendo 3-4 pulverizações.
“Doença desconhecida”: Nesta safra foi constatada a ocorrência de
queda dos frutos após o raleio, no qual, estes se desprendem do ramo e em
muitas vezes cai somente o fruto permanecendo o cálice (Figura 23). Foram
coletadas amostras de frutos e encaminhado para análise na EMBRAPA UVA
E VINHO de Bento Gonçalves. Como resultado, foi constatado ataque por
Botrytis e Alternaria.
Figura 23. Queda do fruto de caqui com permanência do cálice na planta. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
Um problema que tem sido constatado é a pequena quantidade de
produtos registrados para a cultura. Os produtores têm feito aplicações
preventivas para o controle da doença. Para essa doença causada por Botrytis
e Alternaria não existem produtos registrados, porém o produtor aplicou dois
42
produtos não registrados Sumilex e Rovral, sendo feitos duas aplicações que
controlaram o problema da queda dos frutos.
Mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) Os procedimentos de
monitoramento e controle são baseados na cultura do pessegueiro relatados
anteriormente.
Lagarta (Argyrotaenia sphaleropa) quando adulta, é uma pequena
mariposa com hábito noturno. Esta lagarta não foi vista nos pomares, porém foi
relatado pela Eng. Agro. Alfredo Galina que essa lagarta é comum existir nos
pomares no período de janeiro e fevereiro. No entanto, os produtores têm feito
aplicações de inseticidas, para eliminação das lagartas, não deixando que
completem o ciclo de vida.
5.5.3. Cultura do Moranguinho
O cultivo do moranguinho, principalmente em sistema convencional
(diretamente no solo) vem perdendo espaço para outras culturas no Município
de Farroupilha. Isso se deve ao alto custo, dificuldades de acesso a mão-de-
obra e alto custo de implantação da cultura.
Nota-se uma maior profissionalização dos produtores que
permaneceram na atividade. Os produtores estão optando pela produção sob
cobertura plástica em forma de túneis baixos, sobre bancadas suspensas
utilizando o sistema semi-hidropônico com utilização de substrato a base de
casca de arroz carbonizada (Figura 24). A utilização da fertirrigação é
predominante no cultivo do moranguinho. As vantagens deste sistema é a
menor incidência de doenças, maior número de plantas por área, maior
facilidade no manejo, pois o produtor não precisa trabalhar agachado e melhor
qualidade da produção.
43
Figura 24. Cultivo de moranguinho sobre bancada suspensa coberta com túnel baixo. Farroupilha, 2011. Foto: V. Bassotto.
5.6. Outras atividades
Durante o período estagiado foram realizadas outras atividades, as quais
não constavam no cronograma proposto. Porém de grande importância no dia-
a-dia dos técnicos da EMATER/RS - ASCAR. Essas atividades foram:
Participação da organização da exposição de uvas da 6ª Vindima
ocorrida em Monte Belo do Sul; (Figura 25)
Participação de programas de rádio da EMATER/RS – ASCAR na
rádio local (Rádio Miriam); (Figura 26)
Participação de tarde de campo sobre uva orgânica em Faria
Lemos-RS;
Acompanhamento em visita de produtores vindos de Passo
Fundo-RS a uma agroindústria de produção de suco de uva
orgânico;
Leituras de materiais do acervo da EMATER/RS - ASCAR sobre
aspectos sócio-econômicos do Município e das principais culturas
cultivadas em Farroupilha-RS;
Visita a FEPAGRO de Veranópolis-RS para visualização das
variedades de kiwi.
44
Figura 25. Participação da organização das variedades de uvas para a 6ª Vindima em Monte Belo do Sul-RS, 2011.
Figura 26. Participação em programas da EMATER/RS-ASCAR na Rádio Míriam. Farroupilha, 2011.
6. Conclusão
O estágio é uma atividade de fundamental importância no sistema de
aprendizado, pois neste, tem-se o contato direto com as atividades
relacionadas com a profissão. Com isso, possibilita uma fixação e agregação
dos conteúdos assimilados durante a graduação. Muitas dúvidas foram
esclarecidas, mostrando a diversidade de aplicações dos conhecimentos
técnicos adquiridos.
O objetivo do estágio foi atingido com sucesso. Tornou possível ter
contato com a diversidade de culturas e aplicação de conhecimentos
adquiridos durante a faculdade.
O estágio possibilitou ter mais confiança em mim mesmo, fazendo
transparecer o meu potencial como técnico da área agrícola, consolidando a
vontade de atuação na profissão de Engenheiro Agrônomo.
45
7. Análise Crítica
O estágio possibilitou interagir com os produtores e conhecer a
diversidade de costumes existentes. Portanto, mostrou-me a necessidade da
aplicação diferenciada do conhecimento técnico aos diferentes produtores. Isso
possibilitou ver o distanciamento, em muitas vezes, do teórico e do prático.
Um ponto positivo é a existência da Emater/RS – Ascar que presta
assistência aos produtores, podendo ser comprovado pela procura dos
produtores no escritório municipal.
A falta de mão-de-obra, relatada pelos produtores, para as atividades de
poda e colheita tem sido preocupante e isso pode tornar a fruticultura do
Município sem maiores possibilidades de aumento de produção. Por outro lado,
esse problema levará os produtores a aumentar a diversidade de cultivos
dentro da propriedade, para um maior escalonamento das atividades de
manejo dos pomares.
Um ponto negativo é a falta de infraestrutura da Emater/RS de
Farroupilha. São somente dois técnicos para atuação em 1400 propriedades, o
que torna inviável atender essa demanda.
O curto período de estágio também é um ponto negativo, pois não
possibilita vivenciar todo o ciclo de desenvolvimento das culturas, assim
perdemos etapas e manejos importantes do sistema de produção.
46
8. Referência Bibliográfica
SÔNEGO,R.O.; GARRIDO,R.L.; JÚNIOR,G.A. Principais doenças fúngicas da videira no Sul do Brasil. Bento Gonçalves: EMBRAPA, 2005. 32p. (Circular Técnica 56). FEPAGRO - CENTRO DE TREINAMENTO DE AGRICULTORES DE NOVA PETRÓPOLIS. Curso básico de fruticultura. Porto Alegre: EMATER/RS - ASCAR, 2007. Vol.1. e vol.2. SONEGO et al. Uva para processamento. Fitossanidade / editor técnico Thor Vinícius Martins Fojardo. Bento Gonçalves, RS. Embrapa Uva e Vinho, Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2003. 131p.; (Frutas do Brasil; 35). GIOVANNINI.E. Produção de uvas para vinho, suco e mesa. Porto Alegre: Ed. Renascença, 1999. 364p. ESREG CAXIAS DO SUL, 2010. Manual de Crédito Rural. Crédito Rural – Plano de safra 2010-2011. Caxias do Sul, RS. Julho,2010. EMATER/RS-ASCAR; SECRETARIA MUNICIPAL DA AGRICULTURA. Informações técnicas e econômicas sobre a economia e a agricultura do Município de Farroupilha-RS. – Secretaria Municipal da Agricultura / Emater/RS – Ascar, 1994. SIMONETTO, P.R.; FIORAVANÇO, J.C.; RASEIRA, M.C.B.; GRELLMANN, E.O. Fenologia e Características agronômicas de cultivares de ameixa (Prunus salícina LindL.) recomendadas para a região serrana do RS. Porto Alegre: Fepagro; Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2007. Circular Técnica, 22.p. SIMONETTO, P.R.; GRELLMANN, E.O. Cultivares de kiwi com potencial de produção na região da serra do nordeste do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Fepagro, 1998. 19p. (Boletim Fepagro, 7). STRECK, E.V.; KAMPF, N.; DALMOLIN, R.S.D.; KLANT, E.; NASCIMENTO, P.C. & SCHNEIDER, P. – Solos do Rio Grande do Sul. Editora da UFRGS, Porto Alegre: Emater/RS; UFRGS. 2008. MAPA, 2011. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Crédito Rural. Disponível
em:http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/politica-agricola/credito-rural. Acesso em 21 de fevereiro de 2011. MDA, Ministério do Desenvolvimento Agrário. Programas. Disponível em:
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