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VARIANTES TEXTUAISDO NOVO TESTAMENTO
Anlise e Avaliao do Aparato Crtico
de O Novo Testamento Grego
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VARIANTES TEXTUAISDO NOVO TESTAMENTO
Anlise e Avaliao do Aparato Crtico
de O Novo Testamento Grego
Adaptao do Comentrio Textual de
Bruce M . M etzger
s necessidades de tradutores
e estudiosos da crtica textual
por
RogerL. O manson
Traduo e adaptao ao portugus
por
V1LSON SCHOLZ
Sociedade Bblicado Brasil
3c
3CDEUTSCHE BIBELGESELLSCHAFT
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Misso da Sociedade Bblica do Brasil:
Promover a difuso da Bblia e sua mensagem como instrumento de transfor-mao espiritual, de fortalecimento dos valores ticos e morais e de incentivo aodesenvolvimento humano, nos aspectos espiritual, educacional, cultural e social,em mbito nacional.
Omanson, Roger L.Variantes textuais do Novo Testamento. Anlise e avaliao do aparato
crtico de O Novo Testamento Grego / Roger L. Omanson; traduoe adaptao de Vilson Scholz. Barueri, SP : Sociedade Bblicado Brasil, 2010.
624 p. : II. ; 16 x 23 cm
Ttulo original: A Textual Guide to the Greek New Testament.ISBN 978-85-3111245-4
1. Novo Testamento. 2. Crtica Textual. 3. Variantes Textuais. I. SociedadeBblica do Brasil.
CDD 220.9
Omanon, Roger,A Textual Guide to the Greek New Testament, 2006 Deutsche Bibelgesellschaft, Stuttgart. Usado com permisso.
Publicado no Brasil por Sociedade Bblica do Brasil 2010 Sociedade Bblica do Brasil. Ceei, 706 - TamborBarueri, SP - CEP 06460-120Cx. Postal 330 - CEP 06453-970www.sbb.org.br- 0800-727-8888Todos os direitos reservados
Traduo e adaptao ao portugus: Vilson ScholzReviso, edio e diagramao: Sociedade Bblica do BrasilIntegralmente adaptado reforma ortogrfica.
Este livro foi escrito para ser usado em conjunto com ONovo Testamento Grego(edio da Sociedade Bblica do Brasil) ou a quarta edio do The Greek NewTestament(edio das Sociedades Bblicas Unidas)
Impresso no Brasil
EA983VTNT - 5.000 - SBB - 2010
http://www.sbb.org.br/http://www.sbb.org.br/ -
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INDICE
Prefacio...............................................................................................................................vii
Introduo: A prtica da crtica textual do Novo Testamento...................................xiiBibliografa....................................................................................................................xxxvAbreviaturas.................................................................................................................xxxix
O Evangelho Segundo Mateus.......................................................................................... 1
O Evangelho Segundo Marcos........................................................................................56O Evangelho Segundo Lucas......................................................................................... 107
O Evangelho Segundo Joo.......................................................................................... 163Atos dos Apstolos..........................................................................................................215
Carta de Paulo aos Romanos........................................................................................296
Primeira Carta de Paulo aos Corintios........................................................................ 331Segunda Carta de Paulo aos Corintios........................................................................ 361Carta de Paulo aos Glatas...........................................................................................382
Carta de Paulo aos Efsios............................................................................................393Carta de Paulo aos Filipenses.......................................................................................412
Carta de Paulo aos Colossenses................................................................................... 422Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses........................................................... 436
Segunda Carta de Paulo aos Tessalonicenses...........................................................444
Primeira Carta de Paulo a Timoteo ............................................................................ 449
Segunda Carta de Paulo a Timoteo.............................................................................457Carta de Paulo a Tito..................................................................................................... 461Carta de Paulo a Filemom.............................................................................................466
Carta aos Hebreus...........................................................................................................469
Carta de Tiago................................................................................................................ 486
Primeira Carta de Pedro..............................................................................................499Segunda Carta de Pedro...............................................................................................513
Primeira Carta de Joo................................................................................................ 523
Segunda Carta de Joo................................................................................................ 537Terceira Carta de Joo...................................................................................................539
Carta de Judas................................................................................................................ 540
Apocalipse de Joo.........................................................................................................547
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PREFACIO
As notas que aparecem neste livro se baseiam na segunda edio de A TextualCom men tary on the Greek New Testament, de Bruce M. Metzger (1994), obra que foi
traduzida para o espanhol por Moiss Silva e Alfredo Tepox e publicada em 2006 pelas Sociedades Bblicas Unidas, com o ttulo de Un Comentario Textual al Nuevo Testamento Griego.Convm ressaltar que, para se 1er as notas do livro que o leitor
tem em mos, no necessrio consultar o livro de Metzger. No entanto, indis- pensvel ter diante de si o texto e as notas textuais (o aparato crtico) de O NovoTestamento Grego, publicado pela Sociedade Bblica do Brasil, ou, ento, a quartaedio do The Greek New Testament, publicado pelas Sociedades Bblicas Unidas.
r A ideia deste livro surgiu alguns anos atrs, por ocasio de um dos encontrostrienais dos consultores de traduo das Sociedades Bblicas Unidas. Os consultores
entenderam que era necessrio revisar o Comentrio Textual de Metzger. O quese precisava era um texto mais acessvel, um texto que pudesse ajudar tradutores
sem maior formao na rea da crtica textual a entenderem por si mesmos e semmaiores dificuldades os motivos por que determinadas variantes textuais do NT
tm mais chances de ser o texto original do que outras.^ ,As notas que aparecem neste livro no foram escritas para substituir as no-
tas originais de Bruce M. Metzger, mas apenas para simplificar e ampliar aquelas.
Um recurso usado nessa simplificao das notas foi omitir a citao da evidncia manuscrita (isto , as siglas dos manuscritos) que apoia as diferentes variantestextuais. Para isto, o leitor ter de consultar o aparato crtico de O Novo Tes tamen to
Grego.
Desde que foi inicialmente publicado, em 1971, o Comentrio Textualde Bruce
M. Metzger atendeu muito bem s necessidades daqueles que esto mais bem in-
formados a respeito das questes de natureza crtico-textual. O livro de Metzger,
com certeza, continuar a preencher essa lacuna. Alm disso, a obra de Metzger discute algumas centenas de outras variantes textuais que no foram includas no
aparato crtico de ONovo Te stamento Grego . Devido natureza deste Comentrio,essas notas foram omitidas.
As notas que integram este livro foram escritas tendo em mente que a lngua materna da maioria dos tradutores do NT no o ingls, o portugus, ou qualquer
outra lngua majoritria. Em funo disto, assuntos tcnicos foram explicados em linguagem no tcnica. Entretanto, no foi possvel evitar por completo o uso de
termos e expresses tcnicas. Por este motivo, no captulo intitulado A Prtica daCrtica Textual do Novo Testamento, aparece um breve panorama da crtica tex-
tual, incluindo a explicao de termos importantes, uma histria do texto e uma
descrio dos mtodos que os crticos de texto empregam para chegarem s suasconcluses.
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Neste livro, as notas de Metzger foram ampliadas por meio de consideraes
relativas traduo das leituras variantes que se encontram no aparato crtico (veja,
por exemplo, Lc 4.17; At 2.37; 2C0 5.17). Num caso como 0de ICo 4.17, por exemplo,
os tradutores no tero maiores dificuldades para compreender, a partir do aparatocrtico em O Novo Testamento Grego, que o texto diz em Cristo Jesus, e que as va-
riantes so em Cristo e no Senhor Jesus Mas no caso de leituras variantes como
as de 1C0 7.34, talvez no fique claro quais sejam as diferenas de significado, por
isso as notas explicam como as diferentes variantes so interpretadas e traduzidas.
Ficar evidente que algumas das leituras variantes tm pouca ou nenhuma impor
tncia para a traduo do texto. As diferenas entre as leituras variantes podem ser
mera questo de estilo (Mt 20.31; 23.9), como o uso ou no de uma preposio diante
de um substantivo (Mc 1.8). Muitas vezes, variantes textuais desse tipo sero tradu-
zidas de forma idntica na lngua receptora. As variantes textuais podem, tambm, ser sinnimos (Mt 9.8; 16.27; 28.11), consistir na presena ou ausncia de um artigo
(Mc 10.31; 12.26) ou, ento, no uso de um pronome de terceira pessoa para indicar
posse (Mt 19.10; Mc 6.41). possvel que a natureza da lngua receptora exija que
variantes desse tipo sejam traduzidas da mesma maneira como se traduz a leitura que
aparece como texto e vice-versa. Existem outras variantes que, no caso de tradues
de equivalncia funcional, no tm maior importncia. Exemplos disso so variantes
relacionadas com formas diferentes de escrever o nome de certas pessoas (Mt 13.55)
ou a presena ou ausncia do sujeito ou do objeto de um verbo (Mt 8.25; Mc 9.42).As notas textuais abordam tambm algumas das mais importantes diferenas na
diviso e pontuao do texto, sempre que estas implicam diferena de significado
(veja O Aparato de Segmentao do Discurso, na Introduo de O Novo Testamento
Grego), Edies modernas do Novo Testamento em grego, bem como as tradues,
s vezes divergem quanto segmentao do texto. Isto se aplica de forma especial
questo do incio de pargrafos e de sees do texto. Entre as mais significativas
diferenas de segmentao do texto discutidas neste livro esto as seguintes:
diviso ou separao entre pargrafos (lTm 3.1);
diviso ou separao entre palavras e expresses (Mc 13.9; 2Co 8.3; Ef 1.4); uso ou no de aspas para indicar que se trata de discurso direto
(1C0 6.12-13; 7.1);
incio e final de citao direta (Jo 3.13,15,21; Gl 2.14);
final de citao embutida em outra citao (Mt 21.3);
existncia de observaes parentticas (Lc 7.28; At 1.18);
pontuao de frases como afirmativas ou interrogativas (ICo 6.19);
uso de formato potico para indicar que se trata de material tradicional
(Fp 2.6; Cl 1.15); tlvisto como recitativo (introduzindo uma citao direta), introduzindo
uma citao indireta, ou introduzindo uma locuo causai (Mc 8.16).
viii VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTO
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Recomenda-se que o leitor siga as leituras que aparecem em O N ovo T esta m en to
Grego. Em outras palavras, importante acompanhar o que se encontra no texto e
no aparato crtico (as informaes ao p da pgina) de O N ovo T estam en to Grego ,
pois este livro um comentrio sobre o que l se encontra. As notas textuais deste
livro com frequncia do a traduo tanto da leitura escolhida para ser o texto quanto das variantes textuais includas no aparato crtico, para que se possa en-
tender melhor as diferenas de significado entre e texto e as variantes, e de uma
variante para a(s) outra(s), se este for o caso.
Muitas vezes, para ilustrar essas diferenas, so citadas algumas tradues mo-
dernas, principalmente em lngu a portuguesa, com o ARA (Almeida Revista e Atua-
lizada, 1993); ARC (Almeida Revista e Corrigida, 2009); NTLH (Nova Traduo na
Linguagem de Hoje, 2000); BN (A Boa Nova Traduo em Portugus Corrente,
1993); NVI (Nova Verso Internacional, 2001); TEB (Traduo Ecumnica da B- blia, 1995); NBJ (Nova Bblia de Jerusalm, 2002); CNBB (Bblia Sagrada Tradu-
o da CNBB, 2a edio, 2002 ). (Para outras siglas, veja a lista de Abreviaturas.) O
propsito dessas citaes no recomendar a variante como tal ou a sua traduo,
mas un icamente ilustrar a mesma.
As notas que tratam das diferentes possibilidades de segmentao e de pontua-
o no incluem nenhuma argumentao exegtica a favor ou contra as diferentes
possibilidades, e tambm no recomendam umas em detrimento das outras. O pro-
psito dessas notas alertar os tradutores para o fato de que existem lugares onde o significado e a traduo do texto podem ser diferentes, dependendo da diviso
que se faz entre palavras, locues e frases do texto. Recomenda-se que, neste parti-
cular, os tradutores consultem bons comentrios, alguns dos quais aparecem na lis-
ta das obras citadas que se encontra no final das notas referentes a cada livro do NT.
Ao longo desta obra, faz-se referncia a comentrios em lngua inglesa que fo-
ram publicados recentemente, a maioria dos quais ainda est disponvel no merca-
do internacional e aos quais se tem acesso em algumas bibliotecas. Para o estudo
do texto do NT, existem muitos livros e artigos de grande valor em outros idiomas,
como o francs e o alemo; entretanto, nesta obra, levando em conta os leitores que
originalmente se teve em vista, as referncias incluem apenas livros e artigos em
lngua inglesa.
PREFCIO ix
ROGER L. OMANSON
Sociedades Bblicas Unidas
Consultor para Publicaes Eruditas
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INTRODUO: A PRTICA DA CRTICATEXTUAL DO NOVO TESTAMENTO
I- D efinio e propsito da crtica textual
A cr tica textu al do NT o estudo dos textos bblicos que aparecem nos ma-
nuscritos antigos, com o objetivo de recuperar uma forma de texto que se aproxime
o mxim o possvel do texto exato dos escritos originais (chamados de autgrafos)
assim como estes se apresentavam antes de copistas introduzirem alteraes e co-
meterem erros durante o processo de cpia. Como observa Michael W. Holm es, esta
tarefa envolve trs aspectos principais:1
(1) A coleta e a organizao do material ou da evidncia; (2) o desenvolvimento
de um mtodo que permita avaliar e determinar o significado e as implicaes da evidncia, para que se possa determinar qual das variantes textuais tem mais chan-
ces de representar o texto original; e (3) a reconstruo da histria da transmisso
do texto, na medida em que o material disponvel permita tal reconstruo.
A crtica textual no se preocupa com a inspirao do Novo Testamento e no
trata da questo se os textos originais continham erros de contedo ou no. Os ma-
nuscritos originais no existem mais. Os nicos manuscritos de que dispomos hoje
so cpias de cpias. O manuscrito mais ant igo de um trecho do NT um fragm ento
de papiro que contm uns poucos versculos do Evangelho de Joo. Este fragmento,chamado de data de aproximadamente 125 d.C. Convm notar igualmente que,
embora a palavra crtica aparea muitas vezes, em linguagem corriqueira, num
sentido negativo, os eruditos a empregam num sentido positivo, como avaliao
(da evidncia a favor do texto).
Mesmo tradutores que nunca estudaram crtica textual do NT esto, em geral,
conscientes de que existem diferenas textuais nos manuscritos antigos, pois, em
tradues modernas, j se depararam com notas como Outros manuscr i tos ant igos
tm , Outros manuscritos antigos acrescentam, Outros manuscritos antigos no tra- z e m , e M uitos m anuscrito s o m ite m . Tomemos o exemplo de Glatas: algumas tradu-
es no trazem nenhuma nota indicando que existem problemas textuais; a REB
tem somente trs notas textuais, e a NRSV tem sete. Assim, tradutores podem ficar
1 Michael W. Holmes, Textual Criticism, inDictionary of Paul and His Letters(ed. Gerald F. Hawthorne, etal.; Downers Grove, 111: InterVarsity Press, 1993), 927. Vrios estudos recentes indicam que os eruditosempregam a expresso texto original de modo um tanto ingnuo. Veja Eldon Jay Epp, The Multiva-lence of the Term Original Text in New Testament Textual Criticism, Harvard Theological Review 92
(1999): 245-281. Num outro escrito, Epp afirma que a expresso texto original, que muitas vezes entendida de forma simplista, tem sido fragmentada pelas realidades de como os escritos do Novo Testa*mento se formaram e foram transmitidos, e, a partir disso, originalprecisa ser entendido como um termoque designa diferentes camadas, nveis, ou significados... (Issues in New Testament Textual Criticism,inRethinking New Testament Textual Criticism[ed. David Alan Black; Grand Rapids: Baker, 2002], 75).
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VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTOXII
surpresos ao descobrirem que o N ovo Testa m en to Grego lista vinte e oito lugares
apenas em Glatas onde os manuscritos antigos tm leituras diferentes. O N ovo Tes-
tamento Grego, publicado pela Sociedade Bblica do Brasil, registra mais de 1.440
lugares em todo o NT onde ocorrem leituras variantes que tm implicaes para a
traduo do texto. O texto grego dessa edio no reproduz o texto exato de nenhum
manuscrito especfico. Ao contrrio, com base no estudo dos muitos manuscritos
antigos, os editores se valeram de mtodos (a serem apresentados abaixo) que per-
mitem reconstruir um texto que, luz do conhecimento de que dispomos hoje, o
que mais se aproxima dos textos originais (ou autgrafos).
H milhares de variantes textuais nos manuscritos antigos, mas a maioria delas
no passa de erros de grafia ou de outros erros de cpia bem evidentes, no tendo,
portanto, nenhuma importncia para a traduo. Entretanto, convm notar que at
mesmo entre as leituras que tm significado para a traduo, isto , que afetam a
traduo, so poucas aquelas que so de fato significativas para a teologia. Consi-
dere, por exemplo, Mc 1.1, onde alguns manuscritos no tm as palavras 0eo)
(Filho de Deus). No entanto, mesmo que estas palavras no sejam originais nessa
passagem, o autor com certeza acreditava que Jesus era o Filho de Deus (Mc 1.11;
3.11; 5.7; 15.39).
Muito se discute se possvel ou no determinar o texto exato dos escritos
originais. Por exemplo, Trebolle Barrera afirma: Tentar criar um texto recebido
continua sendo um projeto marcado por certa arrogncia, e encontrar o original
em casos discutveis no passa de utopia.2 Os manuscritos de papiro descobertos
na primeira metade no scu lo vinte nos deram manuscritos que so pelo m enos um
sculo mais antigos do que os manuscritos que eram conhecidos no sculo deze-
nove. Para alguns eruditos, esses manuscritos fornecem toda a evidncia de que se
necessita para recuperar os textos originais. Para outros, os manuscritos de papiro
apenas nos levam at uma forma do texto que existia no terceiro sculo, mas no
necessariamente s formas originais do texto, isto , o texto como se apresentava
antes que mudanas e erros fossem introduzidos nos manuscritos.
II. OS MATERIAIS DA CRTICA TEXTUAL
Como ser detalhado nos pargrafos seguintes, existem trs fontes que so utili-
zadas para reconstruir o texto original do NT. A mais importante dessas fontes so
os prprios manuscritos gregos. Existem vrios milhares de manuscritos, que datam
desde o comeo do segundo sculo at o sculo dezesseis. Igualmente importantes
so os manuscritos do NT em outras lnguas. Por volta do final do segundo sculo ecom eo do terceiro, o NT j havia sido traduzido para o latim e o siraco. Um pouco
2 Julio Trebolle Barrera, The Jewish Bible and the Christian Bible: An Introduction to the History of the Bible(Leiden: Brill/Grand Rapids: Eerdmans, 1997), 413.
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INTRODUO
depois, foi traduzido para o copta e outras lnguas antigas. Os crticos de texto se
referem a essas tradues como ve rses antigas. Uma terceira fonte para estudo so
os escritos de telogos cristos da Igreja Antiga, desde o segundo ao oitavo sculos,
que escreveram em grego e latim, e que citam trechos do Novo Testamento.
M a n uscrito s gregos
Esses manuscritos se dividem em dois grupos: (1) manuscr i tos de t ex to
contnuo, que contm o texto em ordem, por captulos e livros, do com eo ao fim;
e (2) manuscr i tos de lec ionr ios , que contm passagens de vrias partes do
NT organizadas segundo a ordem em que aparecem na lista de leituras para os do-
mingos e dias festivos do calendrio litrgico ou eclesistico. (Veja Os Manuscritos
Gregos, pp. xiv-xxiv na Introduo a O N ovo T estam en to Grego .)Os mais antigos documentos foram copiados em papiro, um material feito da
medula da planta de papiro, que era cortada em tiras bem finas que, por sua vez,
eram prensadas umas sobre as outras para formar pginas nas quais se podia escre-
ver. A partir do quarto sculo d.C. aproxim adam ente, com eou-se a fazer cpias em
pergaminho , um m aterial feito de peles de animais. Fazer cpias desses escritos
era um processo caro, por duas razes: o custo elevado do material de escrita e o
tempo necessrio para fazer a cpia de um s livro. Em mdia, para se fazer uma
cpia manuscrita do NT em pergaminho eram necessrias as peles de, pelo m enos,
50 a 60 ovelhas ou cabras! O pergaminho foi usado at que com eou a ser substitu-
do pelo papel no sculo doze.
Cada um dos manuscritos de papiro identificado com a letra
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VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTOXIV
grego, ou ento com um algarismo arbico antecedido por um zero. Em alguns
casos, o manuscrito conhecido por uma letra e um nmero. O Cdice Vaticano,
por exemplo, um manuscrito do quarto sculo que, quase com certeza, continha
originalmente toda a Bblia grega.4 Geralmente ele chamado de Cdice B, mas
tem tambm o nmero 03 . Os uncais eram copiados sem qualquer espao entre aspalavras e frases. Esse tipo de escrita cham ada desc rip tio c o n tin u a (escrita cont-
nua). As divises em captulos que conhecem os e usamos hoje foram introduzidas
no texto por Estevo Langton, arcebispo de Canturia, no sculo treze. A diviso
em versculos teve incio em 1551, numa Bblia impressa por Roberto Stephanus.
Desde o nono sculo at o tempo em que o NT passou a ser impresso, foi usada
a escrita m in sc u la (do latim minuscu lus ,bem pequeno) ou cursiva. Manuscri-
tos que tm esse tipo de escrita so chamados de m in sc u lo s ou c u r si v o s e so
identificados por algarismos arbicos. O Cdice 33, por exemplo, um manuscrito do nono sculo que contm todo o NT, menos o livro do Apocalipse. A grande
maioria dos manuscritos gregos de que dispomos em nossos dias (o nmero chega
a 2.856) so minsculos, e a maioria deles data do perodo que vai do sculo onze
ao catorze.
Alm dos mais de 300 0 manuscritos de texto contnuo mencionados acima, exis-
tem 2403 manuscritos de lecionrios. Esses manuscritos aparecem no aparato cr-
tico e so identificados pela letra lem itlico seguida de um nmero ou do smbolo
coletivo Lee (veja Os lecionrios gregos, pp. xxiv-xxvi da Introduo a O N ovo Testamento Grego). A maioria dos manuscritos de lecionrios representa o tipo de
texto bizantino (veja abaixo) e, em razo disso, so geralmente considerados menos
importantes na tentativa de reconstruir o texto original do NT.
Para uma discusso mais detalhada a respeito dos manuscritos gregos, incluin-
do os lecionrios, veja os captulos 1-4 (pp. 174) da obra The T ext of the N ew Testa-
m ent in Con tem porary Research ,editada por Ehrman e Holmes.
Os responsveis por edies modernas do Novo Testamento em grego costu-
mam agrupar as v a r ia n te s t e x t u a is (isto , as diferentes leituras que existem em alguns manuscritos no mesmo lugar de determinado versculo) ao p da pgina,
numa seo chamada de aparato crtico. Em seguida eles listam os manuscritos
que apoiam as diferentes leituras pelas letras ou pelos nmeros que os identificam.
Segundo a maioria dos crticos de texto, esses manuscritos gregos, em especial
os papiros e uncais, so de grande importncia para a tarefa de tentar recuperar
o texto original dos livros do NT. Entretanto, outros especialistas afirmam que os
manuscritos gregos somente nos fornecem a forma do texto que era conhecida no
4 O nmero de manuscritos gregos disponveis hoje que continham, originalmente, todo o NT chega a 61,mas o nmero dos que de fato contm hoje todo o NT se aproxima de 50 (veja Daryl D. Schmidt, TheGreek New Testament as a Codex, in The Canon Debate[ed. Lee Martin McDonald e James A. Sanders;Peabody, Mass: Hendrickson, 2002], 469-471).
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XVINTRODUO
terceiro sculo. Em outras palavras, os manuscritos gregos no do acesso ao texto
anterior ao terceiro sculo. Segundo esses especialistas, para recuperar uma forma
mais antiga do texto do NT, que esteja mais prxima do original, tambm se precisa
de um estudo cuidadoso dos escritos dos Pais da Igreja (veja abaixo) e de um estud o
das antigas tradues do NT para o copta, siraco e latim (veja abaixo, Tradues para outras lnguas antigas).
Escritos dos Pais da Ig re ja an tig a
Importantes lderes da Igreja que viveram entre o segundo e o oitavo sculos e
que escreveram em grego e latim, com frequncia citaram versculos do NT. Esses
lderes so muitas vezes chamados de P a is d a Ig re ja ou, simplesmente, o s P a is,
e o que eles escreveram recebe o nome de obras p a t r s t ic a s (dep a ter
, o termolatino para pai). Os escritos dos Pais da Igreja tm valor especial para o estudo do
texto do NT. Como observa Ehrman, quando se trata de manuscritos gregos, ver-
ses antigas e escritos patrsticos, apenas os escritos patrsticos podem ser datados
e localizados geograficam ente com relativo grau de certeza.5 Entretanto, muitas
vezes difcil saber se os Pais estavam de fato citando um texto ao p da letra ou se
estavam apenas fazendo aluso ao mesmo. E, se estavam citando, ser que citaram
de memria (talvez de forma incorreta) ou a partir de uma cpia do NT que estava
aberta e ao alcance dos olhos deles? Alm disso, as pessoas que copiavam as obras
dos Pais por vezes alteravam o texto durante o processo de cpia, fazendo com que
o texto bblico citado concordasse com o texto que eles, os copistas, conheciam . Por
essas razes, nem sempre fcil saber o que um Pai escreveu originalmente (veja
O testemunho dos Pais da Igreja, pp. xxx-xxxiv na Introduo a O N ovo Testa m en-
to Grego).
Contudo, apesar das dificuldades ligadas ao uso dos escritos dos Pais da Igreja,
os eruditos entendem que o estudo dos escritos dos Pais da Igreja antiga contri*
bui para a recuperao do texto original do NT. A Sociedade de Literatura Bblica
(SBL), por exemplo, patrocina uma srie de estudos denominada O Novo Testa-
mento nos Pais Gregos. O primeiro volume foi publicado em 1986 e, at agora,
apenas os volum es referentes a uns poucos Pais esto dispon veis. No entanto, entre
outras coisas, cada volume traz uma lista completa das citaes do NT feitas pelo
Pai da Igreja e indica se essas citaes reproduzem ao p da letra o que se encontra
no NT. Alguns eruditos argumentam que os papiros e manuscritos uncais s nos
do acesso ao texto conhecido no terceiro sculo e que se ... realm ente querem os...
reconstruir um texto o mais prximo possvel do orig inal, temos que nos valer das
5 Bart Ehrman, The Use and Significance of Patristic Evidence for NT Textual Criticism, inNew TestamentTextual Criticism, Exegesis and Church History: A Discussion of Methods(ed. Barbara Aland e Joel Delobel;Kampen, Netherlands: Kok Pharos, 1994), 118.
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fontes patrsticas e levar a sr io o tes tem unh o dessas fonte s . E, diferentemente dos
papiros, o uso da evidncia patrstica ir... alterar significativamente a configura-
o do texto crtico.6
Para uma discusso mais aprofundada a respeito do uso da evidncia dos Pais
da Igreja no estudo do texto do NT, veja os captulos 15-17 (pp. 299-359) em Epp e Fee, S tud ies in the Th eory and M ethod o f New Tes tamen t Tex tua l Cr i t ic i sm; e os
captulos 12-14 (pp. 189236 ) em Ehrman e Holmes (editores), The Tex t o f the New
Tes tam ent in C ontem porary Research .
xvi VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTO
III. H i stria da transmisso do texto do N ovo T estamento
Nos primeiros tempos da Igreja crist, depois que uma carta apostlica havia
sido enviada a uma congregao ou a um indivduo, ou depois que um Evangelhohavia sido escrito para atender s necessidades de um determinado pblico alvo,
comeava o processo de cpia desses textos. Esse processo tinha a finalidade de am-
pliar o mbito de influncia des ses textos e permitir que mais pessoas se beneficias-
sem d esses escritos. Essas cpias manuscritas certamente apresentariam diferenas
de texto em relao aos originais. Algumas cpias podiam apresentar um nmero
significativo de diferenas; outras, um nmero bem reduzido. A maioria dessas
diferenas se devia a erros de carter involuntrio, como a troca de uma letra ou
de uma palavra por outra que tinha um formato quase igual (veja, por exemplo, a discusso em 2Pe 1.21).
Os copistas tam bm cometiam erros por muitos outros motivos. Se duas linhas
de texto prximas uma da outra comeavam ou terminavam com o mesmo conjunto
de letras, ou se duas palavras parecidas apareciam quase que lado a lado numa mes-
ma linha, era muito fcil para o copista saltar do primeiro conjunto de letras para
o segundo, fazendo com que omitisse o texto que estava entre esses dois conjuntos.
Esses erros recebem um nome tcnico: homeoarcton (as letras semelhantes
apareciam no incio das palavras; veja a discusso de 2Pe 2.6) e h o m e o t e l e u t o
(as letras semelhantes apareciam no final das palavras). Essas duas palavras, ho-
m eoarcton e homeote leu to , vm do grego e significam incio semelhante
e final semelhante. Outro tipo de erro ocorria quando o copista acidentalmente
voltava do segundo grupo de letras ou palavras parecidas para o primeiro grupo e,
equivocadamente, copiava uma ou mais letras, slabas ou palavras duas vezes. O
termo tcnico para isso ditograf a, que significa escrito duas ve zes. O contr-
rio da ditografa a haplograf ia , que designa a omisso acidental de uma ou mais
letras. s vezes, os copistas faziam confuso entre letras ou slabas que tinham
pronncia idntica ou parecida. O termo tcnico para isso io tac ismo.
6 William L. Peterson, What Text Can NT Textual Criticism Ultimately Reach? in New Testament TextualCriticism, Exegesis and Church History: A Discussion of Methods, 151.
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Erros acidentais como esses so quase que inevitveis quando trechos mais lon-
gos so copiados mo. A probabilidade de que viessem a ocorrer aumentava se
o copista no enxergava direito, se era interrompido enquanto copiava, se estava
cansado ou no se concentrava suficientemente no seu trabalho. Alm disso, como
lembra R. E. Brown, tambm se deve contar com a possibilidade de uma leituramal feita pela pessoa que ditava o texto para os copistas.
INTRODUO xvii
E xem plo de erro resu lta n te de h om eo a rc ton
Veja a discusso sobre Mc 10.7, onde possvel que as palavras m i
) (e se unir com a sua mulher) te-
nham sido omitidas porque o olhar do copista passou, acidentalmente, do (e)
que aparece no incio dessa frase para (e) que ocorre no comeo do v. 8.
E xem plo de erro resu lta n te de hom eo te leu to
Veja a discusso sobre lPe 3.14, onde as palavras (no fiqueis
alarmados) foram acidentalmente omitidas porque o olhar do copista passou do
final da palavra (vos amedronteis) para a palavra (fiqueis
atemorizados).
E xem plos de erro s resu lta n tes de d ito gra fia e hap logra fia
s vezes difcil saber se uma letra foi acidentalmente repetida (ditografia) ou
acidentalmente omitida (haplografia). Veja, por exemplo, a discusso a respeito de
(crianas) e (d ceis), em lTs 2.7.
E xem plos de erro s causados p o r io tac ism o
Em grego coin, as vogais , 1e , bem como os ditongos , e passaram a
ter a mesma pronncia.78 Os copistas muitas vezes faziam confuso entre os prono-
mes plurais ns () e vs () em suas vrias formas declinadas, pois as
vogais iniciais destes pronomes eram pronunciadas de forma idntica (ou seja, com
som de i). Veja, por exemplo, as observaes a respeito de Cl 2.13. Na passagem
de 1C0 15.54, em alguns manuscritos o substantivo (vitria) foi alterado,
7 Raymond E. Brown,An Introduction to the New Testament(Nova Iorque: Doubleday, 1997), 48, n. 3.8 Chrys C. Caragounis, The Development of Greek and the New Testament: Morphology, Syntax, Phonology,
and Textual Criticism(Tbingen: Mohr Siebeck, 2004), mostrou, de forma bastante convincente, quejno quarto sculo d.C. essas vogais e esses ditongos tinham pronncia idntica, o mesmo acontecendocom o e co, e com e o ditongo ai. S no Evangelho de Joo, o copista de ty66introduziu 492 erros degrafa por causa desse fenmeno chamado de iotacismo (501515 ).
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por engano, para (disputa). Veja tambm a discusso a respeito de
(vendo) e (sabendo), em lPe 1.8.
Tambm as vogais o e passaram a ter a mesma pronncia. As vezes, a nica
diferena grfica entre um verbo no modo indicativo e o mesmo verbo no modo
subjuntivo essa diferena entre as duas vogais. Veja, por exemplo, a discusso sobre (temos) e (tenhamos), em Rm 5.1.
Igualmente, a vogal s e o ditongo ol passaram a ter a mesma pronncia. Em
funo disso, s vezes os copistas faziam confuso entre a desinncia verbal -,
que da segunda pessoa do plural, e a desinncia -, que do infinitivo. Veja,
por exemplo, 2Pe 1.10.
Os copistas desenvolveram um sistema de abreviaturas ou contraes para quin-
ze nomes sagrados (nomina sacra , em latim), como (Deus), (Senhor),
(Cristo), (Jesus), (Pai), (Esprito), e (Salva- dor). Essas contraes consistiam em escrever apenas a primeira e a ltima letra
da palavra, ou ento a primeira e as duas ltimas letras, colocando-se uma linha
horizontal por cima da combinao resultante. As letras de algum as dessas contra-
es eram semelhantes, o que s vezes levou os copistas a confundirem uma com a
outra. Veja, por exemplo, as discusses sobre ICo 1.14; ICo 4.17; lTm 3.16.
Num recente estudo sobre o
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do Jesus tinha doze anos de idade, ele ficou em Jerusalm aps a festa da Pscoa, em
vez de voltar para casa com o grupo de peregrinos. Os melhores manuscritos dizem,
no v. 43, que ele ficou em Jerusalm sem que os pais dele soubessem disso. Uma
vez que Jos no era o pai biolgico de Jesus, um copista mudou as palavras os pais
dele para Jos e a me dele, provavelmente para salvaguardar a doutrina de queJesus nasceu de uma virgem. (Veja tambm a nota a respeito de Mt 24 .36).
Como os pargrafos anteriores do a entender, durante os anos que se seguiram
composio dos diferentes documentos que viriam a fazer parte do NT surgiram
centenas, m esmo milhares de leituras variantes ou variantes textuais.
INTRODUO xix
Tradues para outras l ngua s an t igas
Ainda outros tipos de diferenas surgiram quando os documentos do NT foram traduzidos do grego para outras lnguas. Durante o segundo e o terceiro sculos,
depois que o cristianismo havia sido levado para a Sria, para o Norte da frica e
a Itlia, bem como para o centro e o Sul do Egito, era natural que congregaes e
pessoas quisessem ter uma cpia das Escrituras em suas prprias lnguas. Assim,
surgiram verses para o siraco, o latim, e vrios dialetos coptas utilizados no Egito.
A partir do quarto sculo foram feitas outras tradues, para o armnio, georg iano,
etope, rabe e nbio, no Oriente; e para o gtico, eslavo eclesi stico antigo, e (mais
tarde) para o anglo-saxo, no Ocidente. Os crticos de texto se referem s tradues
para essas lnguas antigas como v e r s e s ou v e r s e s a n t ig a s (veja As verses
antigas, pp. xxvi-xxix na Introduo a O N ovo T estam en to Grego ).
A preciso dessas tradues dependia diretamente de dois fatores: o conheci-
mento adequado, ou no, que o tradutor tinha da lngua fonte (o grego) e da lngua
receptora, e o cuidado com que o tradutor fez o seu trabalho. No deveria nos
surpreender que muitas diferenas tenham surgido dentro dessas verses antigas.
Vrias pessoas fizeram tradues diferentes a partir do que podem ter sido formas
ligeiramente diferentes do texto grego. Alm disso, outros indivduos, que copia-
vam essas tradues, por vezes faziam correes para que o texto concordasse
com uma forma diferente do texto conhecida por eles, que podia ser em grego ou
na lngua receptora.
Para mais detalhes a respeito do uso das verses antigas no estudo do texto do
NT, veja os captulos 5-11 (pp. 75-187) em Ehrman e Holmes (editores), The Text o f
the Ne w Tes tamen t in Con tempo rary Research .10
10 Bart Ehrman, The Orthodox Corruption of Scripture: The Effect of Early Christological Controversies onthe Text of the New Testament(Nova Iorque: Oxford University Press, 1993), mostra que muitas leituras
variantes se originaram quando, no contexto das controvrsias cristolgicas do segundo e terceiro s-culos, escribas alteraram o texto para fundamentar pontos de vista ortodoxos. Veja tambm Wayne C.Kannaday,Apologetic Discourse and the Scribal Tradition: Evidence o f the Influence of Apologetic Interestson the Text of the Canonical Gospels(Atlanta: Society of Biblical Literature, 2004).
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VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTOxx
Osu rg im en to de te x to s loca is e tipos de texto
Durante aqueles primeiros sculos de expanso da Igreja crist, foram se for-
mando aos poucos os assim chamados t e x t o s lo c a is do NT. Congregaes
recm-fundadas numa grande cidade ou nas suas proximidades, fosse Alexandria,Antioquia, Constantinopla, Cartago ou Roma, recebiam cpias das Escrituras na
forma que era utilizada naquela regio. medida que se faziam mais cpias, o
nmero de leituras especiais e variantes era preservado e, at certo ponto, aumen-
tado, de modo que no final do processo havia surgido um tipo de texto que era
tpico daquela localidade. Hoje possvel identificar o tipo de texto preservado em
manuscritos do NT pela comparao entre suas leituras caractersticas e as citaes
dessas passagens nos escritos dos Pais da Igreja que atuaram naqueles importantes
centros eclesisticos ou nas imediaes dos mesmos.s vezes, porm, um texto local tendia a se tornar menos distinto, pois se mistu-
rava com outros tipos de texto. Por exemplo, um manuscrito do Evangelho de Mar-
cos, copiado em Alexandria, no Egito, pode ter sido levado mais tarde para Roma.
Esse manuscrito acabaria influenciando, at certo ponto, os escribas que copiavam
a forma do texto de Marcos que, quele tempo, estava sendo utilizado em Roma.
Entretanto, em termos gerais, durante os primeiros sculos a tendncia de se criar e
preservar um tipo de texto especfico era mais forte do que a tendncia no sentido
de criar uma mistura de tipos de texto. Assim, surgiram vrios tipos distintos de
texto do NT.
Tipos de texto
Atravs de um cuidadoso exam e de centenas de manuscritos e milhares de erros
de cpia, os crticos de texto desenvolveram critrios para selecionar os manuscri-
tos e grupos de manuscritos que so mais confiveis, reconhecendo que todos os
manuscritos tm alguns erros. A maioria dos manuscritos pode ser classificada em
trs grupos ou ti p o s d e te x to . Alguns manuscritos tm tanta concordncia no que
diz respeito ao texto que so designados de fa m l ia s . Por exemplo, a Famlia 1
feita de mais ou menos meia dzia de manuscritos intimamente relacionados, e a
Famlia 13 consiste em mais de doze manuscritos que tm vinculao estreita. Mui-
tas vezes, esses manuscritos so listados no aparato crtico sob o smbolo coletivo f 1
e f 13. Os crticos de texto usam a designao tcnica v a r ia n t e s t e x t u a is para se
referirem a diferentes leituras que ocorrem no mesmo lugar em determinado vers-
culo bblico. Quando certos manuscritos concordam de forma consistente, tendo a
mesma variante ou forma textual em determinada u n id a d e d e v a ria o , isto ,um lugar onde os manuscritos apresentam duas ou mais variantes textuais, diz-se
que esses manuscritos pertencem ao mesmo tipo de texto.
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Convm notar que alguns manuscritos tm um tipo de texto em uma parte ou
seo do NT, e outro tipo de texto em outra parte. Por exemplo, o Cdice Alexan-
drino (A 02) representa o tipo de texto bizantino nos Evangelhos, mas um tipo de
texto alexandrino no restante do NT. No livro The Tex t o f the New Tes tamen t , de K.
e B. Aland, pp. 159162, aparece uma tabela bastante prtica, que agrupa os ma- nuscritos por sculo e tipo de texto. Tambm Daniel Wallace, na p. 311 do captulo
The Majority Text Theory: History, Methods, and Critique, traz uma tabela muito
til, que classifica os manuscritos gregos por sculo e tipo de texto. Veja tambm a
seo V, abaixo, Listas de Testemunhos Segundo o Tipo de Texto
Os mais importantes tipos de texto so os seguintes:
INTRODUO xxi
Texto a lexan dr ino
Westcott e Hort, crticos de texto britnicos que viveram no sculo dezenove, deno
minaram esse texto de texto neutro.Embora na maioria das vezes, hoje, seja chamado
de texto alexandrino, por vezes tambm chamado de texto B. Geralmente consi-
derado o melhor texto e aquele que, de forma mais fiel, preserva o original. A carac-
terstica do texto alexandrino o uso de poucas palavras desnecessrias. Isto significa
que, em geral, um texto mais curto, se comparado com os outros tipos de texto, e
um texto que no revela o mesmo grau de polimento gramatical e estilstico que ca-
racteriza o tipo de texto bizantino. At recentemente os dois principais representantes
do texto alexandrino eram o Cdice Vaticano (B 03) e o Cdice Sinatico (01 ), dois
manuscritos de pergaminho copiados por volta da metade do quarto sculo. Entretan-
to, com a descoberta e publicao, em meados da dcada de 1950, dos papiros de Bodmer (^66 72 73 74 75 em eSpecial de Vp66 e p 75,que foram produzidos por volta do
final do segundo sculo ou comeo do terceiro, existe agora evidncia que indica que
o tipo de texto alexandrino remonta ao comeo do segundo sculo. As verses sadica
e boarica, em lngua copta (que aparecem, no aparato crtico, sob os smbolos copsa e
copbo), tambm trazem, com frequncia, leituras tipicamente alexandrinas.
Texto ocidental
O fato de eruditos terem reconhecido, inicialmente, que essa forma de texto foi
usada na parte ocidental do mundo cristo fez com que essa forma de texto recebes-
se o nome de ocidenta l (por vezes chamado tambm de texto D). Mas esse tipo
de texto se encontra tambm na igreja que usava a lngua siraca, no Oriente, bem
como no Egito. Ele remonta ao segundo sculo e foi amplamente utilizado na Itlia
e na Glia, bem como no Norte da frica e em outros lugares. Esse tipo de texto foi
usado por Marcio, Taciano, Irineu, Tertuliano e Cipriano. Sua presena no Egito
confirmada pelo testemunho de $p38 (aproximadamente 300 d.C.) e de ^p48 (mais
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ou menos o final do terceiro sculo). Os mais importantes manuscritos gregos que
apresentam um tipo de texto ocidental so o Cdice de Beza (D 05), do quinto
sculo (que contm os E vangelhos e Atos), o Cdice Claromontano (D 06 ), do sex to
sculo (que contm as epstolas paulinas), e, no caso de Mc 1.15.30, o Cdice Wa-
shingtoniano (W 032), do quinto sculo. Alm disso, as verses latinas antigas so
importantes testemunhos do tipo de texto ocidental. Essas verses latinas antigas
(cujos manuscritos so citados, no aparato crtico, pelo smbolo coletivo i t [que re-
presenta o latim ta la ] segu ido de sm bolos em sobrescrito que identificam manus-
critos individuais) constituem trs grupos principais: africano, italiano e hispnico.
Embora os crticos de tex to m uitas vezes em preguem a expresso texto ocidental,
convm notar que muitos pensam que, diante do fato de os testemunhos do texto
ocidental terem uma relao menos estreita no que diz respeito s suas leituras,
esse texto oc idental no forma um tipo de texto exatam ente igual ao que se tem emmente quando se fala dos tipos de texto alexandrino e bizantino.
A principal caracterstica do texto ociden tal o gosto pela parfrase. Com relati-
va liberdade, esse texto altera, omite ou insere palavras, locues e at frases intei-
ras. As vezes a motivao parece ter sido a de harmonizar textos, ao passo que em
outros mom entos parece ter sido o desejo de ampliar a narrativa, incluindo material
tradicional ou apcrifo. Algum as leituras tm a ver com mudanas bem pequenas,
para as quais no se encontra uma razo especial. Um dos aspectos enigmticos do
texto ocidental (que, em geral, mais longo do que os outros tipos de texto) que,no final de Lucas e em algumas outras passagens do NT, alguns testemunhos oci-
dentais omitem palavras e versculos que se encontram em outras formas de texto,
at mesmo no tipo de texto alexandrino. No final do sculo dezenove, alguns erudi-
tos tendiam a considerar essas leituras mais breves como originais. Entretanto, com
a descoberta dos papiros de Bodmer, muitos hoje tendem a ver essas leituras mais
breves como algo excntrico no texto ocidental e, portanto, no originais.
No livro de Atos, o texto ocidental levanta questes bastante difceis de respon-
der. Neste livro, o texto ocidental aproximadamente dez por cento mais longo do que a forma de texto que normalmente considerada o texto original daquele livro
(para uma discusso a respeito do texto ocidental em Atos, veja a Introduo a
Atos, no incio das notas relativas a esse livro, mais adiante nesta obra).
Para maiores detalhes a respeito do texto ocidental, veja Epp, Western Text; e
Petzer, The History of the New Testament Text, pp. 18-25.
xx VARIANTES TEXTU AIS DO NOVO TESTAMENTO
Uma form a de t ex to or ien ta l
Esta forma de texto, que, no passado, era conhecida como texto cesareense, est
representada, em maior ou menor escala, em vrios manuscritos gregos (incluindo
, 565, 700) e nas verses armnia e gergica (citadas, no aparato crtico, sob o
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smbolos coletivos arm e geo). Esse tipo de texto por vezes chamado de texto C
e se caracteriza por uma mistura de leituras ocidentais e alexandrinas. Por mais
que, na pesquisa recente, se tenha questionado a existncia de um tipo de texto
especficamente cesareense, permanece o fato de que cada um dos manuscritos
que, anteriormente, eram considerados membros desse grupo ainda , por si s, um importante testemunho textual.
Outro tipo de texto oriental, conhecido em Antioquia e seus arredores, foi pre-
servado principalmente em testemunhos siracos antigos, a saber, nos manuscritos
sinaticos e curetonianos dos Evangelhos (citados, no aparato crtico, como sir5e
sir0) e nas cita es bb licas que aparecem nos escritos de Afraates e Efraim, lderes
da igreja sria no quarto sculo.
INTRODUO xxiii
Texto b izant ino
Esta forma de texto j recebeu, entre outras, as seguintes designaes: texto
s r io , texto coin,texto eclesistico, texto ant ioq uen o , e texto m a j o r i t r i o Por
veze s cham ado de texto A, porque o Cdice Alexandrino , nos Evangelhos (e s
ali), o mais antigo representante desse texto. Em termos gerais, este o mais recen-
te dos vrios tipos de texto do NT e se caracteriza por sua tendncia de ser completo
e apresentar clareza de estilo. Os editores desse texto trataram de eliminar toda e
qualquer aspereza de linguagem, combinar duas ou mais leituras variantes para
formar um texto expandido (um processo chamado de conflao), bem como
fazer com que o tex to de passagens paralelas concordasse entre si (um processo co-
nhecido com o harm onizao). Esse tipo de texto est representado, hoje, no Cdice
Alexandrino (A 02, nos Evangelhos; no restante do NT, este manuscrito representa
outro tipo de texto), nos manuscritos unciais copiados mais recentemente, e na
grande massa dos manuscritos cursivos ou minsculos. No aparato crtico, esses
manuscritos m insculos so citados coletivamente atravs do smbolo B iz .
Essa forma de texto, criada possivelmente em Antioquia da Sria, foi levada
para Constantinopla e, dali, foi distribuda em larga escala por todo o Imprio
Bizantino. Mais ou menos oitenta por cento dos manuscritos minsculos e quase
todos os lecionrios trazem um tipo de texto bizantino. Assim sendo, no perodo
que vai mais ou menos do sexto ou stimo sculo at inveno da prensa de tipo
mvel (1450-1456 d.C.), o tipo de texto b izantino foi, em geral, visto como a forma
de texto que tinha autoridade e que, portanto, foi amplamente difundida e aceita. A
nica exceo talvez tenha sido um ou outro manuscrito que preservou uma forma
de texto m ais antiga.
Em torno do ano 200 d.C., manuscritos latinos eram utilizados na parte ociden-
tal do Imprio Romano; manuscritos coptas, no Egito; e manuscritos em siraco, na
Sria. O grego ainda era usado principalmente na parte oriental do Imprio Romano.
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VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTOXXIV
Na verdade, existem hoje mais de 8 mil manuscritos da Vulgata latina, um nmero
bem maior do que o conjunto de todos os manuscritos gregos que se conhece. No
final do sculo sete, o NT era lido em grego apenas numa rea bem restrita da Igre-
ja, a Igreja Ortodoxa Grega, cujo patriarcado de maior destaque ficava na cidade
de Constantinopla. A forma de texto grego usada ali era o tipo de texto bizantino. A rigor, mais ou menos noventa por cento dos manuscritos que se conhece hoje
e que preservam um tipo de texto bizantino foram copiados depois que o uso do
grego na Igreja ficou restrito a Bizncio (Constantinopla). Em outras regies, onde
anteriormente se lia o NT em grego, agora se usava um Novo Testamento traduzido
para uma das lnguas locais. Ppr exemplo, no Egito os manuscritos gregos com um
tipo de texto alexandrino foram aos poucos sendo substitudos por tradues para
diferentes dialetos da lngua copta. Quando foi inventada a imprensa, no tempo de
Gutenberg, a nica forma do texto do NT que ainda se usava era o texto bizantino.Este ltimo aspecto precisa ser bem enfatizado . Alguns eruditos de nossos dias,
baseados no fato de que os m anuscritos gregos com um tipo de texto bizantino su-
peram em muito o nmero de manuscritos que tm um tipo de texto alexandrino,
ainda argumentam que 0tipo de tex to bizantino deve estar mais prximo dos escri-
tos originais do N T.11 A tese a seguinte: D eus no teria permitido que as leituras
corretas fossem preservadas num tipo de texto (o alexandrino) que tem m enos ma-
nuscritos gregos do que outro tipo de texto (o bizantino). Essa argumentao ignora
as condies histricas que fizeram com que, na maior parte do Imprio Romano, o grego fosse substitudo por lnguas locais.
Com a inveno da prensa de tipo mvel, que fez com que a produo de livros
passasse a ser um processo mais rpido e barato em relao produo de cpias
manuscritas, o texto padro do NT em ed ies impressas passou a ser o texto bizan-
tino, de qualidade inferior. Essa situao, at certo ponto lamentvel, no de todo
surpreendente, um a vez que os m anuscritos gregos do NT que os primeiros editores
e impressores tinham mo eram manuscritos que continham o corrompido texto
bizantino.
Edi es im pressas do N ovo Testam en to Grego
A primeira edio impressa do Novo Testamento Grego, lanada em Basilia no
ano de 1516, foi preparada por Desidrio Erasmo, um erudito humanista holands.
Como no encontrava nenhum manuscrito que tivesse o NT em sua ntegra, Eras-
mo valeu-se de vrios manuscritos para as diferentes sees ou divises do NT. Na
11 Para uma breve argumentao a favor do texto bizantino, feita recentemente, veja Maurice A. Robin-son, The Case for Byzantine Priority, emRethinking New Testament Textual Criticism (ed. David AlanBlack; Grand Rapids: Baker, 2002), p. 125139 . Neste mesmo livro aparece uma convincente resposta argumentao de Robinson; veja Moiss Silva, Response, p. 141150 .
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XXVINTRODUO
maior parte do seu texto, baseou-se em dois manuscritos de qualidade inferior,
copiados por volta do sculo doze, um para os Evangelhos e outro para Atos e as
Epstolas. Erasmo comparou esses manuscritos com dois ou trs outros manuscritos
e, aqui e ali, inseriu, na cpia encaminhada ao impressor, correes nas margens
ou entre as linhas de texto.Para o Apocalipse, Erasmo dispunha de um s manuscrito, datado do sculo
doze, que lhe foi emprestado por um amigo. Acontece que esse manuscrito no tinha
a ltima folha, onde haviam sido copiados os ltimos seis versculos do Apocalipse.
Para esses versculos, Erasmo se baseou na Vulgata latina de Jernimo, traduzindo
o texto latino para o grego. Como seria de se esperar no caso de um procedimento
desses, em vrios momentos a reconstruo que Erasmo fez desses versculos inclui
algumas leituras que nunca foram encontradas em nenhum manuscrito grego, mas
que ainda hoje so reproduzidas em edies do assim chamado Textus R eceptus
do Novo Testamento Grego. Em outras partes do NT, ocasionalmente Erasmo tam-
bm introduzia em seu texto grego material tirado da Vulgata latina, na forma em
que era conhecida naquele tempo. O irnico que a Vulgata latina, que havia sido
traduzida onze sculos antes de Erasmo, por vezes tem um texto bem prximo do
original, pois uma traduo que foi feita a partir de melhores manuscritos gregos.
A primeira edio do Novo Testamento Grego de Erasmo teve tanta aceitao
que logo estava esgotada, tornando necessria uma segunda edio. Essa segunda
edio, de 1519, na qual alguns (mas nem de perto a totalidade) dos muitos erros
tipogrficos da primeira edio haviam sido corrigidos, foi utilizada por Martinho
Lutero e por William Tyndale, quando estes fizeram as suas tradues do NT para
o alemo, em 1522 (Lutero), e para o ingls, em 1525 (Tyndale).
Nos anos que se seguiram, muitos outros editores e impressores publicaram uma
variedade de edies do Novo Testamento em grego. Todas elas reproduziam, em
maior ou menor escala, o mesmo tipo de texto, isto , aquele que foi preservado nos
manuscritos bizantinos, de produo mais recente. Mesmo quando um editor tinha
acesso a manuscritos mais antigos, fazia pouco ou nenhum uso dos mesmos, pois
estes eram por demais diferentes da forma de texto que havia sido padronizada nas
cpias mais recentes.
Entre as mais antigas edies do NT Grego esto duas de Robert Etienne (mais
conhec ido com o Robert Stephanus, que a forma latinizada do nome dele). Trata-se
de um impressor parisiense que, mais tarde, se mudou para Genebra e se associou
aos protestantes daquela cidade. Em 1550, Stephanus publicou, em Paris, sua tercei-
ra edio. Este foi o primeiro NT Grego impresso que trazia um aparato crtico, ou
seja, uma lista de leituras variantes encontradas em diferentes manuscritos. Na mar-
gem interna das pginas dessa edio, Stephanus anotou leituras variantes encon-tradas em catorze manuscritos gregos, bem como leituras que apareciam em outra
edio impressa, a Poliglota Complutense (publicada na Espanha em 15211522). A
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quarta edio de Stephanus (Genebra, 1551), que, alm do texto grego, contm duas
verses latinas (a Vulgata e uma traduo de Erasmo), se destaca porque nela, pela
primeira vez, o texto do NT aparece dividido em versculos numerados.
Teodoro Beza, amigo e sucessor de Calvino em Genebra, chegou a publicar nove
edies do NT Grego, entre 1565 e 1604; uma dcima edio apareceu em 1611, aps a morte dele. A obra de Beza importante na m edida em que as suas ed ies
ajudaram a popularizar e padronizar o texto que veio a ser denominado de t ex tus
receptus (que, muitas vezes, chamado simplesmente de TR). Os tradutores da
Bblia inglesa King James, de 1611, fizeram bastante uso das edies de Beza, pu-
blicadas em 1588-1589 e 1598.
A expresso tex tus receptus (texto recebido), aplicada ao texto do NT, se ori-
ginou a partir de uma formulao usada pelos irmos Boaventura e Abrao Elzevir,
impressores da cidade de Leiden. No prefcio segunda edio do NT Grego queos irmos Elzevir publicaram em 1633 aparece a seguinte afirmao latina: Tex-
turn ergo habes, nun c ab om nibus r ecep tum , in quo n ih i l imm uta tu m au t cor rup tum
d a m u s (Portanto, tens [,amado leitor,] o texto que agora recebido por todos, no
qual no apresentamos nada que tenha sido mudado ou corrompido). Num certo
sentido, esta afirmao, que revela certa dose de orgulho, at se justificava, pois
aquela edio era, em grande parte, idntica s mais ou menos 160 outras edies
do NT Grego impresso que haviam sido publicadas desde a primeira edio feita
por Erasmo, em 1516. Muitas vezes, em escritos menos tcnicos, as expresses tex-to bizantino e l textus receptus aparecem como se fossem sinnimas. Entretanto,
preciso levar em conta que existem aproximadamente 1500 diferenas entre a
maioria das edies do tex tus receptus e a forma de texto bizantina.
A forma de texto bizantina, reproduzida em todas as primeiras edies impres-
sas do NT Grego, foi sendo descaracterizada, ao longo dos sculos, pela incluso de
numerosas alteraes feitas por copistas. Muitas dessas alteraes no tm maior
significado ou importncia, mas algumas fazem significativa diferena. Mas foi
essa forma de texto bizantina, corrompida, diga-se de passagem, que serviu de base
para quase todas as tradues do NT em lnguas modernas, at o sculo dezenove.
Durante o sculo dezoito, eruditos reuniram uma grande gama de informaes
extradas de muitos manuscritos gregos, bem como das verses antigas e de fontes
patrsticas. Mas, exceo feita a umas trs ou quatro edies que, de forma tmida,
corrigiram alguns dos erros mais evidentes do tex tus receptus , foi esta forma cor-
rompida do NT que foi sendo reimpressa em sucessivas edies.
Muitos eruditos que viveram nesse perodo poderam ser citados, mas um deles
merece destaque especial. Trata-se de Johann A. Bengel (1687-1752).12 Foi Bengel
quem comeou a prtica de agrupar os manuscritos em fam lias a partir das leituras
xxvi VARIANTES TEXTU AIS DO NOVO TESTAMENTO
12 Veja William Baird,History of New Testament Research.Volume One: From Deism to Tubingen (Min-neapolis: Fortress, 1992), p. 69-74.
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ou variantes que aparecem neles. Ele tambm elaborou critrios para avaliar as lei-
turas variantes, incluindo o princpio de que a leitura mais difcil tem mais chances
de ser o original. Bengel, que imprimiu o tex tu s receptus, foi tambm o primeiro a
inserir, na margem, uma avaliao das variantes textuais: a indicava a leitura que
ele considerava original; , uma leitura que era considerada melhor do que aquela no texto; , uma leitura to boa quanto aquela do texto; , um a leitura de valor infe-
rior quela no texto; e , uma leitura sem valor nenhum. A obra de Bengel permitiu
aos eruditos pesar o valor dos manuscritos que apoiam determinada leitura, em
vez de simplesm ente fazer a contagem dos manuscritos.
Foi somente na primeira metade do sculo dezenove (em 1831) que o alemo
Karl Lachmann, um estudioso dos clssicos, decidiu aplicar ao NT os critrios que
ele havia adotado na edio de textos clssicos, isto , da literatura da antiga Grcia
e da antiga Roma.13 Posteriormente, apareceram outras edies crticas, incluindo
as de Constantin von Tischendorf, cuja oitava edio (1869-1872) continua sendo
uma importante fonte de variantes tex tuais.14 A influente edio de B.F. Westcott e
F.J.A. Hort, dois eruditos de Cambridge, foi publicada em 1881.15 Foi ela que serviu
de ponto de partida para as edies das Sociedades Bblicas Unidas e desta edio
da Sociedade Bblica do Brasil. Durante o sculo vinte, com a descoberta de vrios
manuscritos do NT que eram muito mais antigos do qualquer um dos outros que
se conhecia at ento, foi possvel fazer edies do NT que se aproximam cada vez
mais daquilo que se considera como o texto dos documentos originais.
No sculo vinte, tanto eruditos da Igreja Catlica Romana (Vogeis, Bover e
Merk) quanto eruditos protestantes editaram Novos Testamentos em grego. Du-
rante a primeira metade do sculo vinte, as sete edies mais utilizadas foram as
editadas pelos seguintes eruditos:
(1) Tischendorf, 1841, 8a ed., 18692) ;1872) Westcott-Hort, 1881; (3) von So-
den, 1902-1913; (4) Vogels, 1920; 4a ed., 1955; (5) Bover, 1943; 6a ed., 1981; (6)
Nestle (Aland), 1898; 27a ed., 1993; e (7) Merk, 1933; 11a ed., 1992.
Uma comparao entre essas sete edies mostra que as de von Soden, Vogeis,Merk e Bover concordam com o tex to de tipo bizantino m ais vez es do que as edies
de Tischendorf, Westcott-Hort e Nestle-Aland, que se aproximam mais dos manus-
critos que constituem o texto alexandrino. Entretanto, apesar dessas diferenas,
essas sete edies do Novo Testamento Grego esto em total concordncia... em
mais ou menos dois teros do texto do N ovo Testamento, sendo que as nicas dife-
renas se devem a detalhes de carter ortogrfico (ou de grafia).16
13 Veja Baird,History of New Testament Research.Volume One, p. 319322.
14 Veja Baird,History of New Testament Research.Volume One, p. 322-328.15 Veja William Baird,History of New Testament Research.Volume Two: From Jonathan Edwards to Ru-
dolf Bultmann (Minneapolis: Augsburg Fortress, 2003), p. 60-65.1 6 Kurt e Barbara Aland, The Text of the New Testament(ed. rev.; Grand Rapids: Eerdmans, 1989), p. 29.
INTRODUO xxvi i
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Um pequeno grupo de eruditos continua a defender a ideia de que o texto bi-
zantino est mais prximo dos escritos originais. Z.C. Hodges e A.L. Farstad, que
rejeitam os mtodos e as conc luses de Westcott e Hort, editaram, em 1982 , O Novo
Testamento Grego segundo o Texto Majoritrio (The Greek Ne w Tes tament According
to the M ajor i ty Text) ,um texto baseado na tradio de texto bizantina . A maioria dosmanuscritos dessa tradio so manuscritos cursivos copiados no perodo que vai do
sculo onze ao sculo quinze e que correspondem aos manuscritos que Kurt e Bar-
bara Aland, em The Te xt o f the N ew Tes tamen t [O Texto do Novo Tes tamento] (edio
revisada, pp. 159-162), denom inam de Categoria v. Na maior parte do Novo Testamen-
to, essa edio de Hodges e Farstad apresenta, em cada pgina , umas trs ou quatro
diferenas em relao ao texto publicado em ON ovo Testa m ento Grego (edio SBB).
No Apocalipse, o nmero de diferenas por pgina maior ainda.7 -O Novo Testa
mento Grego segundo o Texto Majoritrio (edio de Hodges e Farstad) traz doisaparatos crticos: o primeiro aponta para diferenas entre os prprios manuscritos
bizantinos; o segundo registra as diferenas entre o texto majoritrio impresso por
Hodges e Farstad e o texto impresso na vigsima sexta edio de Nestle-Aland e na
terceira edio do The Greek Ne w T es tament (o texto das Sociedades Bblicas Unidas).
A maioria dos estudiosos do Novo Testamento discorda dos pressupostos e da
metodologia adotada por Hodges e Farstad.*18 Portanto, Kurt e Barbara Aland tm
razo quando afirmam que de certa forma pode-se pressupor que todos os que
hoje em dia trabalham com o Novo Testamento Grego esto usando ou uma cpia
do The Greek Ne w T es tament das Sociedades Bblicas Unidas em sua terceira edio
(GNT3, 1975 [a quarta edio saiu em 1993]), ou a vigsima sexta edio doN o v u m
Tes tamentum Graece de Nestle-Aland (NA26, 1979 [a 27a edio saiu em 1993]).19
Entretanto, como observou Raymond Brown, o texto que aparece em todas as
edies impressas do Novo Testamento Grego consiste em leituras tiradas de di-
ferentes manuscritos. Isto significa que o texto das edies crticas nunca existiu
como uma unidade no mundo antigo... Disso decorre que, por mais que os livros
do NT sejam cannicos, nenhum texto grego em particular deveria ser canonizado;
e o mximo que se pode reivindicar para uma edio crtica do NT Grego que ela
goza de aceitao entre os eruditos.20
1 7 Segundo Daniel B. Wallace, existem cerca de 6.500 diferenas textuais entre o texto grego editadopor Hodges e Farstad e o texto da vigsima stima edio de Nestle-Aland (The Textual Basis of NewTestament Translations, in The Evangelical Parallel New Testament [ed. John R. Kohlenberger III; NovaIorque/Oxford: Oxford University Press, 2003], p. xxiv).
18 Veja a resenha sobre The Greek New Testament according to the Majority Textescrita por J.K. Elliott epublicada em The Bible Translator34 (July 1983), p. 340-344.
1 9 Kurt e Barbara Aland, The Text of the New Testament(Ia edio inglesa, 1987), p. 218. Em 1959, Kurt
Aland fundou o Instituto para a Pesquisa Textual do Novo Testamento, em Mnster, na Alemanha. Esteinstituto est publicando uma edio crtica maior do Novo Testamento, que se chama Editio Critica
Maior.At a presente data, foram publicados volumes avulsos de Tiago (1999), l-2Pedro (2000), IJoo(2003), e 2-3Joo e Judas (2005).
xxviii VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTO
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Para mais detalhes a respeito de modernas edies crticas do Novo Testa-
mento Grego, veja o captulo 18 (pp. 283-296) em Ehrman e Holmes (editores),
The Tex t o f the Ne w Tes tam en t in C on tem porary Research .
INTRODUO xxix
IV. C ritrios adotados para escolher entre leituras conflitantes
EM TESTEMUNHOS DO N0V 0 TESTAMENTO
Na seo anterior, o leitor ter notado como, durante mais ou menos catorze
sculos, quando o NT foi transmitido atravs de cpias feitas mo, um gran-
de nmero de modificaes e acrscimos foram introduzidos no texto. Hoje
temos mais ou menos cinco mil manuscritos gregos que contm uma parte ou
todo o NT, mas no existem dois manuscritos que concordem exatamente em
todos os detalhes. Confrontados com uma pluralidade de leituras divergentes,
os editores precisam decidir o que merece ser includo no texto e o que pre-
cisa ser colocado no aparato crtico. Embora, primeira vista, possa parecer
uma misso quase impossvel escolher o texto considerado original do meio de
tantas variantes textuais, os eruditos elaboraram alguns critrios de avaliao
que so geralm ente aceitos e que facilitam esse processo de seleo . Como ser
possvel notar, essas consideraes dependem de probabilidades e, s vezes, o
crtico de texto precisa optar entre dois conjuntos de probabilidades. Por mais
que os critrios que sero apresentados a seguir formem um esquema mais ou
men os ordenado, sua aplicao nunca poder ser feita de maneira m ecnica ou
impensada. Devido ao mbito e complexidade dos fatos textuais, imposs-
vel aplicar uma srie de regras bem ordenadas com rigor matemtico e numa
ordem fixa. Cada uma das variantes precisa ser considerada individualmente,
e no pode ser avaliada simplesmente a partir de uma regra pr-estabelecida.
O leitor deve dar-se conta de que a lista de critrios que ser apresentada a
seguir apenas uma descrio das consideraes mais importantes que foram
levadas em conta pela comisso editorial do T h e G r e e k N e w T e s t a m e n t (e, por
extenso, de O N ovo T es ta m e n to G rego , edio SBB) quando da escolha entre leituras variantes.20
20 Brown,An Introduction to the New Testament,p. 52. Esse assunto, todavia, pode ser encarado de umponto de vista diferente. Segundo Epp, cada um dos mais de 5.300 manuscritos do NT Grego e dos 9.000manuscritos de verses, dos quais no existem dois que sejam exatamente idnticos, foram consideradoscomo tendo autoridade e, portanto, vistos como sendo cannicos e usados no culto e nas atividadesde instruo de uma ou mais das milhares de igrejas espalhadas pelo mundo (Issues in the Interrelationof New Testament Textual Criticism and Cnon, in The Canon Debate[ed. Lee Martin McDonald e JamesA. Sanders; Peabody, Mass: Hendrickson, 2002], p. 514). Elliott disse algo semelhante: os eruditos esto
cada vez mais se dando conta de que cada um dos manuscritos do Novo Testamento era a Escritura cano-nica, utilizada e vivida por aqueles que possuam aquela cpia at mesmo leituras que no tm paraleloou que, segundo a erudio moderna, so consideradas secundrias, eram o texto bblico daqueles cris-tos (The Case for Thoroughgoing Eclecticism, inRethinking New Testament Textual Cnticism, p. 124).
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VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTOXXX
Entre os critrios para a avaliao de leituras variantes, a mais importante
a regra de que se deve escolher a leitura que melhor explica a origem das outras
leituras21 (veja, por exemplo, ITs 3.2). As principais categorias ou tipos de critrios
e consideraes que ajudam a avaliar o valor relativo de variantes textuais so os
que tm a ver comev idnc ia ex terna , isto , com os manuscritos em si, e com
evidn c ia interna, isto , com dois tipos de consideraes, a saber:
(A) aquelas que dizem respeito a prob abi l idad es de transcr io
(isto , que tm a ver com hbitos de cpia dos escribas) e
(B) aquelas que dizem respeito a probab i l idades in tr nseca s
(isto , que esto relacionadas com o estilo do autor).22
E vidncia e x te rn a , envolvendo consid eraes que tm a ver com:
A . A idade e o car te r dos tes tem u nhos: Em geral, manuscritos mais antigos tm
mais chances de estarem livres dos erros que resultam de sucessivas cpias. Entre-
tanto, mais importante do que a idade do manuscrito em si a data e o carter do
tipo de texto que ele representa, bem como o cuidado revelado pelo copista quando
produziu o manuscrito. Por exemplo, embora os manuscritos cursivos 33 e 1739
tenham sido copiados no sculo nono e dcimo respectivamente, ambos preservam
um tipo de texto alexandrino nas cartas paulinas.B. A d istr ib u i o geogrfi ca dos te s tem un h os que apo ia m a varian te : Quando,
por exemplo, manuscritos de Antioquia (na Sria), Alexandria (no Egito), e da G-
lia (que corresponde Frana e Blgica de nossos dias) concordam em seu apoio
a determinada leitura, este fato, deixando de lado consideraes de outra ordem,
mais significativo do que o testemunho de manuscritos que representam apenas
um centro de produo e distribuio de textos. Entretanto, preciso ter certeza de
que manuscritos que esto geograficamente afastados no tenham , de fato, nenhu-
ma dependncia entre si. Por exemplo, a concordncia entre testemunhos latinos
antigos (Itala) e siracos antigos pode ser resultante do fato de que todos foram
influenciados pelo Diatessaro de Taciano. (Veja Diatessaro, pp. xxxiv e xxxv, na
Introduo a O N ovo Testam en to Grego).
C. O re lac iona m en to genea lg ico en t r e t ex tos e fa m l ia s de man uscr i to s : O
simples nmero de manuscritos que apoiam determinada variante no prova
necessariamente a superioridade daquele texto. Por exemplo, se o texto a tem
o apoio de vinte manuscritos e o texto b, o apoio de um s manuscrito, a re
21 Bruce M. Metzger, The Text of the New Testament(3a ed.; Oxford: Oxford University Press, 1992), p. 207.2 2 Para um apanhado geral de estudos mais recentes nesta rea, especialmente no que diz respeito ao
argumento de que a leitura mais breve a melhor, veja Epp, Issues in New Testament Textual Criticism,p. 20-34.
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lativa vantagem numrica da variante a ficaria anulada, caso se descobrisse
que todos aqueles vinte manuscritos so cpias de um mesmo manuscrito cujo
copista criou aquela variante a. Num caso assim, preciso comparar aquele
um manuscrito que tem a leitura b com o ancestral comum aos vinte manus-
critos que tm a variante a.D . M a n u scr ito s devem ser p esados, no contados: Em outras palavras, o princ-
pio enunciado no pargrafo anterior precisa de uma formulao mais completa.
Em passag ens onde fcil identificar o texto ou a leitura original, perceb e-se que,
em geral, alguns manuscritos so dignos de confiana. Esses so os manuscritos
aos quais deve-se dar maior peso ou valor na hora de resolver problemas textuais
que envolvem ambiguidade ou cuja soluo incerta ou complicada. Ao mesmo
tempo, no entanto, visto que o peso relativo dos diferentes tipos de evidncia
no sempre o mesmo, nunca se pode fazer uma mera avaliao mecnica da
evidncia textual.
INTRODUO xxx i
E vid ncia in tern a , l igada a dois t ipos de probabil idade:
A . P robab ili dades de transcrio dependem de consideraes relacionadas com
os hbitos dos copistas e com a maneira como as letras eram escritas nos manus-
critos.
(1) Em geral, deve-se preferir a leitura mais difcil, especialmente se, numa
leitura superficial, o texto parece no fazer sentido, mas, aps um exame mais
cuidadoso, revela que de fato o texto correto. (Neste caso, mais difcil significa
mais difcil para o copista, que seria tentado a alterar o texto. A maioria das mo-
dificaes feitas pelos copistas se caracteriza por sua superficialidade. E claro que,
s vezes, se chega num ponto em que a leitura, de to difcil que , no pode ser
original, mas deve ter surgido como resultado de um erro do copista.)
(2) Em geral, deve-se preferir a leitura mais breve, exceo feita a casos em que
(a) pode ter havido erro de observao resultante de hom eoarcton ou ho-meoteleuto (ou seja, em que o copista, diante de palavras que tm a
mesma sequncia de letras no comeo ou no final, passou da primeira
para a segunda e omitiu o texto que ficava entre as duas); ou em que
(b) o copista pode ter omitido material que ele considerou desnecessrio,
ofensivo ou contrrio piedade, ao uso litrgico ou prtica da ascese.
(3) Visto que copistas tinham a tendncia de harmonizar passagens paralelas
que apresentavam pequenas diferenas entre si, sempre que se trata de passagens
paralelas (seja citaes do AT ou diferentes relatos do mesmo acontecimento ou narrativa nos Evangelhos) deve-se, como regra geral, preferir a leitura que preserva
as diferenas verbais e no aquela que faz com que os relatos concordem entre si.
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(4) s vezes, os copistas tratavam de
(a) substituir uma palavra rara por um sinnimo mais familiar ou conhecido;
(b) alterar uma forma gramatical menos refinada ou uma formulao me
nos elegante, adaptando-as aos padres do grego tico ou do estilo ati-
cista;23 ou(c) acrescentar pronomes, conjunes, etc., para produzir um texto mais fluente.
B. P robabilidades in trn seca s dep endem de consideraes daquilo que o autor, e
no o copista, provavelmente teria escrito. O crtico de texto leva em considerao:
(1) Em geral:
(a) O estilo e o vocabulrio do autor em todo 0 livro;
(b) O contexto imediato; e
(c) concordncia com o uso lingust ico do autor em outros textos;
(2) Nos Evangelhos:(a) o pano de fundo aramaico do ensin o de Jesus;
(b) a prioridade do Evangelho segundo Marcos (ou seja, que Marcos foi es-
crito primeiro e que Mateus e Lucas tiveram acesso ao texto de Marcos
quando escreveram os seus Evangelhos); e
(c) a influncia da comunidade crist sobre a fraseo logia e a transm isso do
texto em questo.
claro que nem todos esses critrios sero usados em cada caso. O crtico de
texto precisa saber quando convm dar maior ateno a um critrio e menos valora outro. Uma vez que a crtica textual tanto cincia quanto arte, inevitvel que,
em alguns casos, diferentes especialistas faam diferentes avaliaes do significado
da evidncia textual. Essa divergncia praticamente inevitvel quando, em casos
bem concretos, a situao to indefinida que, por exemplo, o texto mais difcil
aparece somente em manuscritos mais recentes, que, em geral, so menos confi-
veis, ou o texto mais longo se encontra apenas em manuscritos mais antigos, que,
de modo geral, so mais confiveis.
V . L istas de testemunhos segundo o tipo de texto
Uma lista bastante til de testemunhos segundo o tipo de texto se encontra em
Um Com entar io Textual a l Nuev o T es tamento Gr iego, de Bruce M. Metzger, pp. 15-16.
Igualmente valiosa a lista organizada por sculo e categoria que aparece em K. e
B. Aland, The Tex t o f the New Tes tamen t , pp. 159-162.
23 Em 1963, George D. Kilpatrick, um crtico de texto britnico, apresentou a sugesto de que, durante o
segundo sculo, escribas com uma boa formao lingustica tinham a tendncia de alterar o grego coine, sob a influncia de gramticos neoaticistas, adaptaram esse grego ao estilo do grego tico. Para umaextensa relao de artigos escritos por Kilpatrick e J.K. Elliott, bem como argumentos contrrios ao pontode vista deles, veja Epp, Issues in New Testament Textual Criticism, p. 2527 .
xxxii VARIANTES TEXTUAIS DO NOVO TESTAMENTO
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V L Referncias a tradues modernas
Nas notas sobre as variantes textuais que aparecem neste livro so citadas v-
rias tradues modernas, em geral tradues portuguesas. Isto foi feito unicamente
para fins ilustrativos, e no deve ser interpretado como indcio de que uma tra-
duo seja melhor do que a outra ou que se est recomendando a deciso textual
de determinada traduo quando a mesma mencionada ou citada no contexto
de uma variante textual. Recomenda-se aos tradutores que sigam as leituras que
fazem parte do texto; mas quando uma traduo moderna como NBJ ou outra opta
pela variante, esta traduo mencionada ou citada, em alguns casos, para que
tradutores de outras lnguas possam entender melhor as diferenas entre a leitura
escolhida como texto e uma ou mais variantes que aparecem no aparato crtico.
INTRODUO xxxiii
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