viagens na minha terra

35
Viagens na Minha Terra Almeida Garret

Upload: katlyn-dias

Post on 30-Oct-2014

701 views

Category:

Education


1 download

DESCRIPTION

Análise da obra Viagens na Minha Terra.

TRANSCRIPT

Page 1: Viagens Na Minha Terra

Viagens na Minha Terra

Almeida Garret

Page 2: Viagens Na Minha Terra

• O título: a pluralidade de significados.

• Gênero: misto – narrativa de viagens e narração novelesca.

• Estrutura: 49 capítulos - introdução explicativa.

Page 3: Viagens Na Minha Terra

Foco narrativo • 1ª pessoa: narrador se confunde com o autor.

• 3ª pessoa: onisciência na digressão principal.

Enredo• Os registros da viagem de Lisboa a Santarém:

A relação entre liberalistas e absolutistas e sua consequência para os destinos de Portugal.

A história trágica da família de Carlos e Joaninha.

Page 4: Viagens Na Minha Terra

A proposta da obra

“Estas minhas interessantes viagens hão de ser uma obra prima (...). Já agora rasgo o véu e

declaro abertamente ao benévolo leitor a profunda ideia que está oculta debaixo desta

ligeira aparência de uma viagenzita que parece feita a brincar, no fim de contas é uma coisa séria,

grave, pensada como um livro novo (...).

Ora nesta minha viagem Tejo arriba está simbolizada a marcha do nosso progresso social.”

Page 5: Viagens Na Minha Terra

As viagens da viagem: Reavaliação inicial da Guerra Civil: livrar o país do governo absolutista.

Reflexão sobre a marcha do progresso social:

Princípio espiritualista X Princípio materialista Absolutismo X Liberalismo

D. Quixote Sancho

Page 6: Viagens Na Minha Terra

O tom oralizante do narrador – diálogo com o leitor, humor, ironia e digressão.

“Ainda assim, belas e amáveis leitoras, entendamo-nos; o que eu vou contar não é um romance, não tem aventuras enredadas, peripécias, situações e incidentes raros; é

uma história simples e singela, sinceramente contada e sem pretensão.”

Page 7: Viagens Na Minha Terra

“Benévolo e paciente leitor, o que eu tenho decerto ainda é consciência, um resto e

consciência: acabemos com estas digressões e perenais divagações minhas. Bem vejo que te deixei parado à minha espera no meio da ponte da Asseca. Perdoa-me por quem és

(...)”

Page 8: Viagens Na Minha Terra

O romance romântico (modelo)

“Não senhor: a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico. Todo o drama e todo o romance precisa de: Uma ou duas

damas. Um pai. Dois ou três filhos, de dezenove a trinta anos. Um criado velho. Um

monstro, encarregado de fazer as maldades.Vários tratantes, e algumas pessoas capazes para intermédios.”

Page 9: Viagens Na Minha Terra

A defesa da construção de Os Lusíadas (aproximação de estilos)

“(...) bem sei quem era Camões e quem sou eu; mas trata-se da entalação, que é a mesma,

apesar da diferença dos entalados. O autor de Os Lusíadas viu-se entalado entre a crença do

seu país e as brilhantes tradições da poesia clássica, que tinha por mestra e modelo.”

Page 10: Viagens Na Minha Terra

A percepção dos costumes locais

O café é uma das feições mais características de uma terra. O viajante experimentado e fino

chega a qualquer parte, entra no café, observa-o, examina-o, estuda-o, e tem

conhecido o país em que está, o seu governo, as suas leis, os seus costumes, a sua religião.

Page 11: Viagens Na Minha Terra

A analogia com outros romances

“Nunca dormi tão regalado sono em minha vida. Acordei no outro dia ao repicar incessante e

apressurado dos sinos da Alcáçova. Saltei da cama, fui à janela, e dei com o mais belo. o mais

grandioso, e ao mesmo tempo, mais ameno quadro em que ainda pus os meus olhos.”

“Quem tem uma ideia fixa, em tudo a mete. A minha ideia fixa em coisas de arte e literárias da

nossa península são xácaras e romances populares.”

Page 12: Viagens Na Minha Terra

“Joaninha pensava os feridos, velava os enfermos, tinha palavras de consolação para todos, e em tudo quanto dizia e fazia era tão

senhora, tinha tão grave gentileza, um donaire tão nobre, que a amavam todos muito, mas

respeitavam-na ainda mais.”

Page 13: Viagens Na Minha Terra

“A majestade sombria e solene de um bosque antigo e copado, o silêncio e escuridão de

suas moitas mais fechadas, o abrigo solitário de suas clareiras, tudo é grandioso, sublime, inspirador de elevados pensamentos. Medita-se ali por força; isola-se a alma dos sentidos

pelo suave adormecimento em que eles caem... e Deus, a eternidade .— as primitivas e inatas ideias do homem .– ficam únicas no

seu pensamento...”

Page 14: Viagens Na Minha Terra

Guerra civil portuguesa

• 1828 – 1834.• Liberais X Tradicionalistas.• D.Pedro X D. Miguel.• Sucessão ao trono português.• Apesar da vitória de D.Pedro, D Miguel não

abdicou de seu direito ao trono português.

Obs: Garret viveu os conflitos políticos e sempre foi adepto do liberalismo.

Page 15: Viagens Na Minha Terra

• Personagens: O autor - D. Francisca – Carlos – Frei Dinis – Joaninha – Georgina – Companheiros de Viagem.

• Tempo: a viagem em 1843 – o romance de 1832 a 1834 (período da Guerra Civil).

• Espaço: Santarém – região do Ribatejo e locais visitados pelo viajante.

• Linguagem: clássica, popular, jornalística e dramática.

Page 16: Viagens Na Minha Terra

Santarém

• Capital da antiga província do Ribatejo.

“A mais histórica e monumental das vilas”.

• Símbolo da força dos antigos portugueses.

Page 17: Viagens Na Minha Terra

O trajeto da viagem:

•Lisboa – Vila Nova da Rainha

(velho barco a vapor)

•Vila Nova da Rainha - Azambuja

(traquitana de cortinas)

•Azambuja - Cartaxo

•Cartaxo - Santarém

(lombo de mula)

Page 18: Viagens Na Minha Terra

O Reflexo:

O pinhal da Azambuja – floresta do folclore português.

Os interesses econômicos e políticos destruíram o antigo esplendor da natureza – efeito do princípio materialista.

Page 19: Viagens Na Minha Terra

A narrativa dentro da narrativa

A história de Carlos e Joaninha

Page 20: Viagens Na Minha Terra

• O narrador apresenta D. Francisca e Joaninha.• A visita de Frei Dinis (sextas-feiras) > critica o Carlos pela posição política (liberalismo)• O passado de Frei Dinis (armas e letras – magistratura – ordenação franciscana).

Obs: doa o dinheiro a D. Francisca antes de se ordenar.

• A morte dos pais de Carlos e Joaninha.• A partida de Carlos para o exílio (Inglaterra).

Page 21: Viagens Na Minha Terra

“Joaninha não era bela, talvez nem galante sequer no sentido popular e expressivo que a palavra tem em português, mas era o tipo de gentileza, o ideal da espiritualidade. Naquele rosto, naquele corpo de dezesseis anos, havia por dom natural e por uma admirável simetria de proporções toda a

elegância nobre, todo o desembaraço modesto, toda a flexibilidade graciosa que a arte, o uso e a

conversação da corte e da mais escolhida companhia vêm a dar a algumas raras e

privilegiadas criaturas no mundo.”

Page 22: Viagens Na Minha Terra

• A conversa de Frei Dinis e D. Francisca > isolamento de 3 dias e a cegueira.

• A invasão das tropas constitucionalistas no vale.

• O respeito dos soldados por Joaninha – a “menina dos rouxinóis”.

• Joaninha adormece no campo – observada por Carlos.

Page 23: Viagens Na Minha Terra

• O encontro e a separação: Joaninha volta escoltada pelos soldados.

• Joaninha escreve a Carlos > cria uma história para a avó.

• O conflito emocional de Carlos: entre Joaninha e Georgina.

• O encontro no fim de tarde: Joaninha pede que Carlos visite D. Francisca.

Page 24: Viagens Na Minha Terra

Obs: Joaninha repara nos traços faciais de Carlos: semelhança com Frei Dinis.

• Joaninha percebe a tristeza de Carlos: descoberta de uma outra mulher.

Retorna à narrativa da viagem: a chegada à Santarém.

Page 25: Viagens Na Minha Terra

A continuação da história:

• Carlos ferido na batalha de Almoster: cuidado por Georgina e Frei Dinis.

• Georgina termina o relacionamento com Carlos e pede que ele fique com Joaninha.

• O encontro de Carlos e Frei Dinis no Convento de São Francisco – o desejo de vingança.

• A chegada de D. Francisca e a revelação da paternidade de Carlos.

Page 26: Viagens Na Minha Terra

• Frei Dinis revela que matou o outro pai de Carlos e também seu tio.

• Carlos finge perdoar o frei e a avó, mas vai embora para Évora.

Page 27: Viagens Na Minha Terra

O último registro da viagem:

Passeios por Santarém – a cidade em ruínas.

A degradação das construções.

A profanação do túmulo de S. Frei Gil.

Page 28: Viagens Na Minha Terra

O desfecho da história de Carlos e Joaninha

• O retorno do narrador: encontro com Frei Dinis na casa de D. Francisca.

• A carta de Carlos a Joaninha: revelação do passado na Inglaterra:

A paixão pelas 3 irmãs: Laura – Júlia – Georgina.

Confessa-se indigno do amor de Joaninha: a despedida definitiva.

Page 29: Viagens Na Minha Terra

“És mulher, e as mulheres não entendem os homens. Sempre o entrevi, hoje sei-o

perfeitamente. A mulher não pode nem deve compreender o homem. Triste da que chega a

sabê-lo!... (...)

Tu és jovem e inexperiente; a tua alma está cheia de ilusões doces; vou dissipá-las enquanto se não condensam; que te ofusquem a razão e te deixem para sempre escrava, cega do maior

inimigo que temos - o coração.”

Page 30: Viagens Na Minha Terra

“Quero contar-te a minha história; verás nela o que vale um homem. Sabe que os não há

melhores que eu; e tão bons, poucos. Olha o que será o resto!”

Page 31: Viagens Na Minha Terra

“E não há mais doce nem mais suave entretenimento de espírito do que o flertar com uma elegante e graciosa menina inglesa; com duas é prazer angélico, e com três é divino.

Veio a admiração primeiro. E como as eu admirava todas três. as minhas gentis

fascinadoras! E elas conheciam-no, riam, folgavam e estavam encantadas de me encantar. Fizeram nascer os desejos! Julguei-me perdido,

e quis fugir.”

Page 32: Viagens Na Minha Terra

“Eu renuncio para sempre ao lar doméstico, a tudo quanto quis, a tudo quanto posso querer.

Deus que me castigue, se ousa fazer uma injustiça, porque eu não me fiz o que sou, não me talhei a minha sorte, e a fatalidade que me

persegue não é obra minha. Adeus Joana, adeus prima querida, adeus irmã da minha alma! Tu acompanha nossa avó, tu consola esse infeliz que é o autor da sua e das nossas desgraças.

Tu, sim, que podes, e esquece-me.”

Page 33: Viagens Na Minha Terra

Os destinos finais

• Carlos: enriquecimento - torna-se barão.

• Joaninha: loucura e morte.

• Georgina: abadessa num convento.

• D. Francisca: demência – acompanhada por Frei Dinis.

Page 34: Viagens Na Minha Terra

A despedida do autor e do Frei Dinis: um balanço entristecido das posições políticas de liberais e absolutistas.

O autor — Erramos ambos. O frei — Erramos e sem remédio. A sociedade já não é o que foi, não pode tornar a ser o que era: — mas muito menos ainda pode ser o que é. O que há de ser, não sei. Deus proverá.

Page 35: Viagens Na Minha Terra

O caráter alegórico das personagens

Carlos: contraditório e sem capacidade de amar: sociedade burguesa.

Frei Dinis: Absolutismo conservador.

Joaninha: a imagem da pureza fora de época.

D. Francisca: Portugal cego que apenas sofre pelos filhos.