viagens na minha terra
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Análise da obra Viagens na Minha Terra.TRANSCRIPT
Viagens na Minha Terra
Almeida Garret
• O título: a pluralidade de significados.
• Gênero: misto – narrativa de viagens e narração novelesca.
• Estrutura: 49 capítulos - introdução explicativa.
Foco narrativo • 1ª pessoa: narrador se confunde com o autor.
• 3ª pessoa: onisciência na digressão principal.
Enredo• Os registros da viagem de Lisboa a Santarém:
A relação entre liberalistas e absolutistas e sua consequência para os destinos de Portugal.
A história trágica da família de Carlos e Joaninha.
A proposta da obra
“Estas minhas interessantes viagens hão de ser uma obra prima (...). Já agora rasgo o véu e
declaro abertamente ao benévolo leitor a profunda ideia que está oculta debaixo desta
ligeira aparência de uma viagenzita que parece feita a brincar, no fim de contas é uma coisa séria,
grave, pensada como um livro novo (...).
Ora nesta minha viagem Tejo arriba está simbolizada a marcha do nosso progresso social.”
As viagens da viagem: Reavaliação inicial da Guerra Civil: livrar o país do governo absolutista.
Reflexão sobre a marcha do progresso social:
Princípio espiritualista X Princípio materialista Absolutismo X Liberalismo
D. Quixote Sancho
O tom oralizante do narrador – diálogo com o leitor, humor, ironia e digressão.
“Ainda assim, belas e amáveis leitoras, entendamo-nos; o que eu vou contar não é um romance, não tem aventuras enredadas, peripécias, situações e incidentes raros; é
uma história simples e singela, sinceramente contada e sem pretensão.”
“Benévolo e paciente leitor, o que eu tenho decerto ainda é consciência, um resto e
consciência: acabemos com estas digressões e perenais divagações minhas. Bem vejo que te deixei parado à minha espera no meio da ponte da Asseca. Perdoa-me por quem és
(...)”
O romance romântico (modelo)
“Não senhor: a coisa faz-se muito mais facilmente. Eu lhe explico. Todo o drama e todo o romance precisa de: Uma ou duas
damas. Um pai. Dois ou três filhos, de dezenove a trinta anos. Um criado velho. Um
monstro, encarregado de fazer as maldades.Vários tratantes, e algumas pessoas capazes para intermédios.”
A defesa da construção de Os Lusíadas (aproximação de estilos)
“(...) bem sei quem era Camões e quem sou eu; mas trata-se da entalação, que é a mesma,
apesar da diferença dos entalados. O autor de Os Lusíadas viu-se entalado entre a crença do
seu país e as brilhantes tradições da poesia clássica, que tinha por mestra e modelo.”
A percepção dos costumes locais
O café é uma das feições mais características de uma terra. O viajante experimentado e fino
chega a qualquer parte, entra no café, observa-o, examina-o, estuda-o, e tem
conhecido o país em que está, o seu governo, as suas leis, os seus costumes, a sua religião.
A analogia com outros romances
“Nunca dormi tão regalado sono em minha vida. Acordei no outro dia ao repicar incessante e
apressurado dos sinos da Alcáçova. Saltei da cama, fui à janela, e dei com o mais belo. o mais
grandioso, e ao mesmo tempo, mais ameno quadro em que ainda pus os meus olhos.”
“Quem tem uma ideia fixa, em tudo a mete. A minha ideia fixa em coisas de arte e literárias da
nossa península são xácaras e romances populares.”
“Joaninha pensava os feridos, velava os enfermos, tinha palavras de consolação para todos, e em tudo quanto dizia e fazia era tão
senhora, tinha tão grave gentileza, um donaire tão nobre, que a amavam todos muito, mas
respeitavam-na ainda mais.”
“A majestade sombria e solene de um bosque antigo e copado, o silêncio e escuridão de
suas moitas mais fechadas, o abrigo solitário de suas clareiras, tudo é grandioso, sublime, inspirador de elevados pensamentos. Medita-se ali por força; isola-se a alma dos sentidos
pelo suave adormecimento em que eles caem... e Deus, a eternidade .— as primitivas e inatas ideias do homem .– ficam únicas no
seu pensamento...”
Guerra civil portuguesa
• 1828 – 1834.• Liberais X Tradicionalistas.• D.Pedro X D. Miguel.• Sucessão ao trono português.• Apesar da vitória de D.Pedro, D Miguel não
abdicou de seu direito ao trono português.
Obs: Garret viveu os conflitos políticos e sempre foi adepto do liberalismo.
• Personagens: O autor - D. Francisca – Carlos – Frei Dinis – Joaninha – Georgina – Companheiros de Viagem.
• Tempo: a viagem em 1843 – o romance de 1832 a 1834 (período da Guerra Civil).
• Espaço: Santarém – região do Ribatejo e locais visitados pelo viajante.
• Linguagem: clássica, popular, jornalística e dramática.
Santarém
• Capital da antiga província do Ribatejo.
“A mais histórica e monumental das vilas”.
• Símbolo da força dos antigos portugueses.
O trajeto da viagem:
•Lisboa – Vila Nova da Rainha
(velho barco a vapor)
•Vila Nova da Rainha - Azambuja
(traquitana de cortinas)
•Azambuja - Cartaxo
•Cartaxo - Santarém
(lombo de mula)
O Reflexo:
O pinhal da Azambuja – floresta do folclore português.
Os interesses econômicos e políticos destruíram o antigo esplendor da natureza – efeito do princípio materialista.
A narrativa dentro da narrativa
A história de Carlos e Joaninha
• O narrador apresenta D. Francisca e Joaninha.• A visita de Frei Dinis (sextas-feiras) > critica o Carlos pela posição política (liberalismo)• O passado de Frei Dinis (armas e letras – magistratura – ordenação franciscana).
Obs: doa o dinheiro a D. Francisca antes de se ordenar.
• A morte dos pais de Carlos e Joaninha.• A partida de Carlos para o exílio (Inglaterra).
“Joaninha não era bela, talvez nem galante sequer no sentido popular e expressivo que a palavra tem em português, mas era o tipo de gentileza, o ideal da espiritualidade. Naquele rosto, naquele corpo de dezesseis anos, havia por dom natural e por uma admirável simetria de proporções toda a
elegância nobre, todo o desembaraço modesto, toda a flexibilidade graciosa que a arte, o uso e a
conversação da corte e da mais escolhida companhia vêm a dar a algumas raras e
privilegiadas criaturas no mundo.”
• A conversa de Frei Dinis e D. Francisca > isolamento de 3 dias e a cegueira.
• A invasão das tropas constitucionalistas no vale.
• O respeito dos soldados por Joaninha – a “menina dos rouxinóis”.
• Joaninha adormece no campo – observada por Carlos.
• O encontro e a separação: Joaninha volta escoltada pelos soldados.
• Joaninha escreve a Carlos > cria uma história para a avó.
• O conflito emocional de Carlos: entre Joaninha e Georgina.
• O encontro no fim de tarde: Joaninha pede que Carlos visite D. Francisca.
Obs: Joaninha repara nos traços faciais de Carlos: semelhança com Frei Dinis.
• Joaninha percebe a tristeza de Carlos: descoberta de uma outra mulher.
Retorna à narrativa da viagem: a chegada à Santarém.
A continuação da história:
• Carlos ferido na batalha de Almoster: cuidado por Georgina e Frei Dinis.
• Georgina termina o relacionamento com Carlos e pede que ele fique com Joaninha.
• O encontro de Carlos e Frei Dinis no Convento de São Francisco – o desejo de vingança.
• A chegada de D. Francisca e a revelação da paternidade de Carlos.
• Frei Dinis revela que matou o outro pai de Carlos e também seu tio.
• Carlos finge perdoar o frei e a avó, mas vai embora para Évora.
O último registro da viagem:
Passeios por Santarém – a cidade em ruínas.
A degradação das construções.
A profanação do túmulo de S. Frei Gil.
O desfecho da história de Carlos e Joaninha
• O retorno do narrador: encontro com Frei Dinis na casa de D. Francisca.
• A carta de Carlos a Joaninha: revelação do passado na Inglaterra:
A paixão pelas 3 irmãs: Laura – Júlia – Georgina.
Confessa-se indigno do amor de Joaninha: a despedida definitiva.
“És mulher, e as mulheres não entendem os homens. Sempre o entrevi, hoje sei-o
perfeitamente. A mulher não pode nem deve compreender o homem. Triste da que chega a
sabê-lo!... (...)
Tu és jovem e inexperiente; a tua alma está cheia de ilusões doces; vou dissipá-las enquanto se não condensam; que te ofusquem a razão e te deixem para sempre escrava, cega do maior
inimigo que temos - o coração.”
“Quero contar-te a minha história; verás nela o que vale um homem. Sabe que os não há
melhores que eu; e tão bons, poucos. Olha o que será o resto!”
“E não há mais doce nem mais suave entretenimento de espírito do que o flertar com uma elegante e graciosa menina inglesa; com duas é prazer angélico, e com três é divino.
Veio a admiração primeiro. E como as eu admirava todas três. as minhas gentis
fascinadoras! E elas conheciam-no, riam, folgavam e estavam encantadas de me encantar. Fizeram nascer os desejos! Julguei-me perdido,
e quis fugir.”
“Eu renuncio para sempre ao lar doméstico, a tudo quanto quis, a tudo quanto posso querer.
Deus que me castigue, se ousa fazer uma injustiça, porque eu não me fiz o que sou, não me talhei a minha sorte, e a fatalidade que me
persegue não é obra minha. Adeus Joana, adeus prima querida, adeus irmã da minha alma! Tu acompanha nossa avó, tu consola esse infeliz que é o autor da sua e das nossas desgraças.
Tu, sim, que podes, e esquece-me.”
Os destinos finais
• Carlos: enriquecimento - torna-se barão.
• Joaninha: loucura e morte.
• Georgina: abadessa num convento.
• D. Francisca: demência – acompanhada por Frei Dinis.
A despedida do autor e do Frei Dinis: um balanço entristecido das posições políticas de liberais e absolutistas.
O autor — Erramos ambos. O frei — Erramos e sem remédio. A sociedade já não é o que foi, não pode tornar a ser o que era: — mas muito menos ainda pode ser o que é. O que há de ser, não sei. Deus proverá.
O caráter alegórico das personagens
Carlos: contraditório e sem capacidade de amar: sociedade burguesa.
Frei Dinis: Absolutismo conservador.
Joaninha: a imagem da pureza fora de época.
D. Francisca: Portugal cego que apenas sofre pelos filhos.