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VIDA EM PROFUNDIDADE VIDA EM PROFUNDIDADE George Verwer Digitalização: Karmitta http://semeador.forumeiros.com/portal.htm ÍNDICE

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Livro teologico sobre liderança e intimidade com Deus.

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Page 1: Vida Em Profundidade - George Verwer

VIDA EM PROFUNDIDADEVIDA EM PROFUNDIDADE

George VerwerDigitalização: Karmitta

http://semeador.forumeiros.com/portal.htm

ÍNDICE

Page 2: Vida Em Profundidade - George Verwer

Introdução

1. Somos Revolucionários

2. Discípulos Esfomeados

3. A Oração da Liberdade

4. A Terra do Descanso

5. Perigos na Linha de Frente

6. O Amor que Vence

7. Quando Estou Fraco

8. Passos para a Revolução

Introdução

Adeus à Esquizofrenia

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Nos dias que correm, ninguém poderia dizer que nós os cristãosestamos espiritualmente famintos. Graças ao cuidado e fidelidade dos servosde Deus, somos generosamente alimentados, instruídos, encorajados,animados, estimulados, apoiados e rodeados de cuidados. Circunda-nos ummundo religioso de sermões, discussões, artigos de revistas, hinos,mensagens, livros, reuniões e conferências, visando a nossa participação ecrescimento. E, contudo, sabemos muito bem, se quisermos ser honestos,que todas estas coisas têm um efeito muito diminuto nas nossas vidas. Quala razão disso?

Se meditarmos um pouco sobre o assunto, verificaremos que muitosde nós estamos a viver em "dois mundos". Dividimos as nossas convicções,atividades e alvos em duas categorias. Em primeiro lugar, as nossasexperiências religiosas: o que cremos, aquilo que cantamos, os assuntospelos quais oramos, e o que defendemos com argumentos.

A segunda categoria contém o nosso mundo de valores e açõesseculares: o nosso uso do tempo livre; as ações que realizamos paraimpressionar as pessoas; a nossa atitude para com colegas que são melhoresou piores do que nós no trabalho; e como conseguimos e usamos o nossodinheiro.

Mantemos estes dois mundos rigorosamente separados e, emborapossamos sentir vagamente que algo está errado, não suspeitamos de quesofremos duma grande desordem — uma espécie de esquizofreniaespiritual.. Na igreja, e ocasionalmente entre amigos cristãos, falamos sobrededicação, entrega, rendição, avivamento, uma vida em fogo para Deus eoutras expressões de lealdade e amor a Deus. Mas tanto estas palavras comoos atos que lhes correspondem têm pouco relevo fora das paredes da igreja.

Esta dicotomia evangélica tem tido resultados mais sérios do quesupomos. Tem produzido homens com quem é difícil lidar, mulheres que seclassificam a si mesmas pelo mobiliário das suas casas e pelo estilo dos seusvestidos, e famílias inteiras que acompanham com faces risonhas as suasroupas domingueiras, durante algumas horas que passam na igreja.

O falecido A.W. Tozer comentou esta situação no seu livro De Deuse o Homem, (Edit. Mundo Cristão): "As correntes evangélicas, bíblicas,como as conhecemos. .., produzem de fato alguns cristãos de verdade. . .

Mas o clima espiritual em que muitos cristãos modernos nascem nãofavorece crescimento espiritual vigoroso. Na verdade, todo o mundoevangélico é, em grande extensão, desfavorável ao cristianismo sadio. E nãoestou pensando no modernismo, de modo nenhum. Tenho em vista antes amultidão de crentes na Bíblia, e crentes que usam o nome da ortodoxia. . .

O fato é que não estamos produzindo santos hoje. Estamosconseguindo conversos a um tipo de cristianismo impotente, que tem poucasemelhança com o do Novo Testamento. O cristão bíblico, assim chamado,

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em seu tipo comum em nossos tempos, não passa de uma infeliz paródia daverdadeira santidade. Contudo, colocamos milhões de dólares atrás demovimentos para perpetuar esta degenerada forma de religião, e atacamos ohomem que se atreve a desafiar a sabedoria dela."

Por onde quer que passe, encontro jovens cônscios desta separaçãoentre os valores cristãos e os valores seculares. Muitos têm-se tornadoateístas ou agnósticos por causa disso, enquanto outros têm resvalado paraos abismos da indiferença. Muitos cristãos — inclusive líderes — têmadmitido na minha presença que as suas crenças não controlam o seu viverdiário.

Todavia, muitos têm fome de autenticidade e genuinidade na vidacristã. Encontrei num seminário evangélico um estudante que era o primeiroda sua turma, no que toca ao aspecto acadêmico, presidente do grupomissionário da escola e capelão do corpo discente. Ao falar comigo, eleadmitiu que tinha pouco conhecimento experimental de Deus, mas ansiavapor uma experiência cristã que o satisfizesse.

Poderá esta dicotomia acabar e esta esquizofrenia ser curada?Poderá Cristo realmente revolucionar a sua vida de modo a torná-laconsistente e produtiva? A resposta é sim. Não ofereço uma fórmula paraconseguir esse resultado, mas posso oferecer o Cristo autêntico. Tenho-Ovisto revolucionando as vidas de pessoas em todo o mundo.

Esses cristãos haviam vivido em esterilidade espiritual, mas entãoenfrentaram honestamente a Cristo e confessaram o pecado arraigado que semantinha ligado à velha vida. Jesus transformou-os e pode transformá-lo.Não se trata duma vida de perfeição, mas duma vida de autenticidade. Nãosignifica uma vida fácil, mas uma vida de alegria.

Se você está cansado duma vida dividida, peça a Jesus que o torneuma pessoa inteira.

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Somos Revolucionários

Senhor Jesus Cristo foi um revolucionário! Considere, por exemplo,alguns dos Seus mais básicos ensinos: "Amai os vossos inimigos"; "Fazei obem aos que voz odeiam"; "Abençoai aos que vos perseguem"; "Quemquiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos"; "Não acumuleis paravós outros tesouros sobre a terra"; "Todo aquele que dentre vós não renunciaa tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo".

Você supõe que todas estas idéias se harmonizavam com os padrõesculturais do tempo de Cristo? Claro que não! As pessoas do Seu tempoestavam tão escravizadas pelo aspecto material da vida, como as do séculovinte. Mas o Senhor Jesus rompeu com qualquer padrão cultural queinterferia com a vida de amor sacrificial que Ele veio dar!

Na história do cristianismo tem havido poucos, comparativamente,que tenham vivido de acordo com os ensinos literais de Cristo. Claro que osprimitivos apóstolos fizeram-no. E para eles, os resultados foram sofrimento,perseguição, prisão, exílio e morte! Parecerá isto estranho? Não! Estes sãoos resultados normais de qualquer vida baseada nos princípios apresentadospor Cristo.

Por que é que será isso? A resposta é simples: o indivíduo que quiser

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viver este tipo de vida é necessariamente um revolucionário, um não-conformista cultural, um "fanático", se você preferir! A adesão literal aosprincípios estabelecidos por Jesus Cristo resultaria, sem dúvida, umarevolução a nível mundial — uma revolução motivada pelo amor, umarevolução executada pelo amor, e uma revolução culminando em amor!

E nós somos revolucionários! Somos apenas um pequeno grupo dejovens cristãos na Operação Mobilização, todavia decidimos, pela graça deDeus, viver as nossas vidas de acordo com os ensinos revolucionários donosso Mestre. Dentro da esfera duma obediência absoluta e literal aos Seusmandamentos jaz o poder que evangelizará o mundo. Fora dessa esfera,encontra-se o cristianismo nauseabundo e insípido dos nossos dias.

Temo-nos entregado a nós próprios em abandono total àsreivindicações de Cristo sobre as nossas vidas compradas pelo Seu sangue.Não possuímos direitos! Qualquer desejo pessoal, por mais insignificante,deve ser subordinado à suprema tarefa de alcançar o mundo para Cristo.Somos devedores. Não devemos permitir a nós mesmos o sermos arrastadospela maldição, que acorrenta as almas, do pensamento e da vida materialistados tempos modernos. Os cristãos há muito tempo que estão "dispostos" aabandonar tudo — chegou a hora (e está passando) em que temos deabandonar tudo! Cristo deve possuir o controle absoluto sobre o nossotempo e dinheiro. Temos de entregar bens, conforto, alimento e sono; temosde viver com o estritamente indispensável, a fim de que a Sua causa possaser alargada. A propagação da fé é o nosso alvo supremo! Cristo é digno detudo quanto é nosso! Temos de estar prontos a sofrer por Ele, considerandoisso gozo; a morrer por Ele, considerando isso ganho. A luz da presentebatalha espiritual, algo inferior à dedicação absoluta tem de ser consideradoinsubordinação ao nosso Mestre e escárnio da Sua causa!

É este o nosso compromisso, e prosseguiremos até que cada pessoatenha ouvido o Evangelho. Em breve estaremos em muitos e diferentespaíses, envolvidos em combate com todas as forças das trevas. Olhamosalém dos milhares, para os milhões; além das cidades, para os países. Omundo é o nosso objetivo! O nosso primeiro alvo são as áreas aparentementeimpenetráveis dos países comunistas e muçulmanos, que só podem receber aliberdade na medida em que tiverem oportunidade de receber a. Verdade.Estes países serão alcançados para Cristo, custe o que custar. A vitória final énossa!

Temos que dizer-lhe, companheiro cristão, que ressuscitamos comCristo; buscando as coisas que são de cima, onde Cristo está sentado à destrade Deus. Já colocamos os nossos afetos nas coisas de cima, não nas coisasda terra, pois estamos mortos, e a nossa vida está escondida com Cristo emDeus. Que esperança bendita! Que verdade impulsionadora para nos levar aum total abandono do eu e à rendição a Cristo! Sem isso, há vitória certapara o inimigo, e derrota para o nosso Senhor Jesus Cristo que Se deu a Si

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mesmo por nós, a fim de que Ele pudesse ser tudo para nós!(Este manifesto para a evangelização do mundo, com leves

alterações aqui, foi feito por vinte e cinco estudantes, em 1961, data doinício da Operação Mobilização, que o autor agora coordena.)

Discípulos Esfomeados

Qualquer pessoa que pretende ser um discípulo de Jesus Cristodeveria estar experimentando a realidade de 1 João 2: 6: "Aquele que dizque permanece nele, esse deve também andar assim como ele andou". Estáfora de questão que é da vontade de Deus que os discípulos cristãos vivamcomo Cristo viveu. Isto não é uma mera teoria ou uma observação casualacerca do viver cristão; é o padrão dinâmico que produz um testemunho vitala respeito de Cristo perante os homens e mulheres perdidos.

Por vezes, os homens do mundo são mais sábios nos negócioshumanos, do que os homens de Deus. H.G. Wells disse no seu Outline ofHistory (Esboço da História): "Pouco depois de Jesus Cristo ter morrido,aqueles que afirmavam segui-1O desistiram da prática dos Seus princípiosrevolucionários". Sim, " revolucionários", foi a sua descrição, e como eletinha razão! A igreja tem-se agarrado a estruturas e a muitas das doutrinas,mas perdeu o âmago da verdade que Jesus ensinou.

Hoje, pode-se notar cada vez mais a diferença entre os que "dizemser evangélicos" e os que "são evangélicos". À medida que vou visitandoescolas bíblicas, uma após outra, e um número crescente de instituiçõescristãs, encontro muitos "faladores" de cristianismo, — mas poucos que ovivem

Não apenas eu, mas muitos jovens cristãos estão profundamenteconscientes desta discrepância. Muitos têm ficado desiludidos por estacontradição entre a fé e a vida.

Se estivermos bem informados, iremos reconhecer que muitos dosjovens que crescem em igrejas evangélicas negam a fé antes de chegaremaos vinte e cinco anos. Interrogamo-nos por que, e alguns dizem: "Devemser os últimos dias" — os dias de apostasia e juízo. Isso pode ser verdade,mas não é explicação suficiente para as nossas trágicas derrotas diante deSatanás.

Alguns cristãos afirmam que a resposta está num "bom e são ensinobíblico". Mas isto também não chega. Nunca na história da igreja houvetantas conferências bíblicas, estudos bíblicos pela rádio e livros de estudobíblico. Você sabia que há mais de mil livros à venda, em língua inglesa,sobre as epístolas paulinas? E hoje em dia, temos também excelentes estudos

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bíblicos gravados. Você pode ouvir ilustres professores da Bíblia, em suacasa, g:xando apenas o botão dum rádio.

Temos todas as oportunidades de aprender a respeito da vida eensinos de Paulo, mas onde estão os Paulos do século vinte? Onde estão oshomens preparados como ele e os seus companheiros para enfrentarem ofrio, os naufrágios e os ladrões por amor do evangelho, e para agradecer aDeus os vergões que lhes dilaceravam as costas? Temos muitos servos deDeus sinceros e muitos e grandes pregadores. Mas onde estão aqueles quepodem dizer com Paulo que não cessava noite e dia de admoestar a homense mulheres, com lágrimas? É muito Difícil, senão impossível, encontrar taishomens. Por quê? A razão, creio eu, está em que nós temos separado asnossas convicções bíblicas do nosso viver diário. Paulo nunca fez isso.

Nós queremos servir ao Senhor e afirmamos:

"Estou pronto a servir ao Senhor, se, simplesmente, puder encontraro meu lugar no Seu serviço!"Não o encontrando, sentimo-nos frustrados. Oque é que está mal?

Deus está muito mais interessado em que você encontre o seu lugarno próprio Cristo, do que no Seu serviço. O essencial no viver cristão não éo lugar para onde você vai, nem aquilo que está fazendo, mas sim, na forçade quem está vivendo. Pode ir para além da Cortina de Ferro, ousimplesmente atravessar a rua para servir o Senhor, mas de quem ê a forçana qual você vai? Vejamos o caso de Paulo. Em Atos 2O:19-2O, lemosacerca dele: "Servindo ao Senhor com toda a humildade, lágrimas eprovações que, pelas ciladas dos judeus, me sobrevieram; jamais deixandode vos anunciar cousa alguma proveitosa, e de vô-la ensinar publicamente etambém de casa em casa."

Repare nas palavras: "com toda a humildade." O apóstolo não dizque serve ao Senhor com grandes pregações, distribuição de literatura,tremendas campanhas através da Cortina de Ferro e grandes façanhas naTurquia e na índia. Ele diz que serviu ao Senhor com muitas lágrimas etentações. O discipulado é antes de tudo uma questão de coração. A não serque o coração esteja bem, tudo o mais estará mal. Os nossos coraçõesprecisam experimentar uma profunda fome e anseio de Deus.

Fome de Deus é a marca genuína dum discípulo. Dá-me aconfirmação de que eu sou Seu filho e de que Ele está trabalhando em mim.O que eu faço para Deus não prova que eu seja um discípulo. Posso tentarcumprir os termos do Sermão da Montanha, ou dos credos da igreja; possoviver frugalmente e viver no chão; mas estas coisas não me definem comodiscípulo. A maneira de saber que sou discípulo é ter fome intensa einsaciável pelo Senhor da Glória crucificado. Se esta é a sua experiência, sevocê anela por uma comunhão profunda com o seu Criador, se deseja

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conhecê-lo intimamente, andar com Ele e respirar com Ele — embora vocêpossa parecer um fracassado e tenha cometido inúmeros erros graves —então estará bem no caminho para o discipulado.

Davi foi uma personagem do Velho Testamento que conhecia a Deuse andava com Ele. Será que Deus disse: "Davi foi um homem que viveu empureza todos os dias da sua vida"? Não. Deus disse que Davi era "umhomem segundo o meu coração".

Como vemos nos Salmos, Davi tinha fome de Deus. "A minha almatem sede de Deus, do Deus Vivo." "Como suspira a corça pelas correntes daságuas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma." A despeito dos erros edesvios de Davi, ele sentia fome e sede de Deus. Na história da igreja,exatamente no seu início, verificamos que a marca do verdadeiro discípulo,dum homem de Deus, é a fome de conhecer a Deus e a Sua justiça.

O homem segundo o coração de Deus é descrito no Salmo 34. Elepode louvar a Deus por todas as suas experiências. "Bendirei o Senhor emtodo o tempo, o seu louvor estará sempre nos meus lábios. Gloriar-se-á noSenhor a minha alma; os humildes o ouvirão e se alegrarão. Engrandecei oSenhor comigo e todos à uma lhe exaltemos o nome. Busquei o Senhor e eleme respondeu; livrou-me de todos os meus temores" (vers. 1-4). E oversículo 1O: "Os leõezinhos sofrem necessidade e passam fome, porém dosque buscam o Senhor, bem nenhum lhes faltará. Aos que buscam ao Senhor:buscá-lo e sentir fome dEle; louvá-lo continuamente; estas são as caracterís-ticas dum verdadeiro discípulo de Jesus Cristo.

As características externas são muitas vezes enganadoras. O cristãoesperto, aquele que brilha pela sua oração fluente ou pregação vigorosa, ouaquele que é capaz de responder a todas as questões teológicas não énecessariamente um discípulo. Nem o é necessariamente aquele que vendeutudo, até a última camisa, num ato de "verdadeiro discipulado". Estas coisas,em si mesmas, não nos aproximam de Deus. Todavia, diz a Escritura, Deusaproxima-Se "dos que têm o coração quebrantado, e salva os de espíritooprimido". Nenhuma descoberta da verdade cristã me trouxe mais ânimo doque esta. Você lembra-se da parábola de Jesus acerca dos dois homens queforam orar no templo? O primeiro dirigiu-se para a frente e contemplando oauditório, exultou: "Õ Deus, quanto te agradeço por não ser como aquelehomem!" Talvez ele se tenha recordado do rico que se afastou de Jesus porpossuir muitos bens, e então orou: "Ó Deus, agradeço-te porque também nãosou como ele. Nenhum fariseu procederia assim!" Pode ser que tenhapensado num jovem que nunca tivesse tomado parte numa cruzada defariseus, sentindo-se por isso inspirado a declamar: "Graças te dou, ó Deus,porque não sou como aquele!" Em seguida, desenrolou uma bela oração quehavia aprendido no Colégio Bíblico dos Fariseus e dispos-se graciosamenteem torno do microfone a fim de a dizer perante o público. Mas o outrohomem, bem à distância, inclinou-se humildemente e bateu no peito em

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agonia, implorando: "Ó Deus, tem misericórdia de mim."De quem é que Deus se aproximou? Do orador teológico que

proferia palavras vãs? Certamente que não! Ao sair com as suas vestes dejustiça própria, esse ignorava em absoluto a justificação ou a bênção deDeus.

Deus aproximou-se daquele que veio com o coração quebrantado ecom um espírito contrito. E ouviu o clamor: "Ó Deus, tu sabes que eu souum fracasso. Sabes que sou um embusteiro; sabes que sou um inútil. Eu souum pecador! Tem misericórdia de mim." Aquele homem reconheceu os seuspecados e Deus justificou-o. Isto perturba o nosso entendimento humano, etodavia, constitui uma das razões por que eu creio na Bíblia: nenhumhomem daria origem a este modo de salvação. Isto revela-nos o coração deDeus.

Com exceção do cristianismo, todas as religiões oferecem umacombinação de serviço e recompensa: faça isto e terá aquilo. Por isso,qualquer pessoa em geral deduzirá que, se você for um bom discípulo deJesus e viver de acordo com o Sermão da Montanha, ou se associar-se acampanhas evangelísticas e distribuir folhetos, ou talvez, se engraxar ossapatos de qualquer pessoa para mostrar quão humilde você é, então serárecompensado com uma grande bênção. Mas a bênção só vem pelo métodode Deus e não do homem.

Você, por si mesmo, nunca será capaz de polir os sapatos de alguém,sem uma falsa motivação. Nem mesmo distribuirá folhetos sem qualquerambição pessoal. Paulo perguntou aos gálatas: "Tendo começado peloEspírito, ireis acabar agora pela carne? " Muitos cristãos tentam fazer isso:"Sou salvo pela graça", poderão eles dizer,"mas agora tenho de traçar o meupróprio caminho ao longo da vida cristã."

Este é um erro grave! Você é salvo pela graça de Deus, e pela Suagraça terá de servir. O Senhor está perto, não do que prospera, mas daquelesque têm o coração quebrantado. Ele salva, não os enérgicos, mas os que têmum espírito contrito.

"Agrada-te do Senhor" — diz o Salmista — "e ele satisfará osdesejos do teu coração"(Salmo 37:4). A razão por que muitas vezes nãoconseguimos descobrir a vontade de Deus é que nos deleitamos noutrascoisas. Os cristãos envolvidos na evangelização são tentados a deleitarem-sena aventura da mesma. Ou então deleitamo-nos na comunhão do evangelhoe no entusiasmo que partilhamos. Asseguro-lhe que, se vocêse deleitar em qualquer trabalho para Deus, ou em qualquer organização oumovimento, mais cedo ou mais tarde, o desânimo apoderar-se-á de você. Onosso Deus é um Deus zeloso e não partilhará a Sua Glória com umaorganização, uma personalidade ou um movimento, mesmo que sejaespiritual.

Isto está muito claro em João 5:44, quando Jesus diz aos judeus

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incrédulos: "Como podeis crer, vós os que aceitais glória uns dos outros, econtudo não procurais a glória que vem do Deus único? Como é quepodemos crer em Deus para coisas grandes — obreiros, sustento financeiro,conversões, vitória na vida dos cristãos — quando buscamos a honra deoutros seres humanos?

Enquanto buscamos honra para nós mesmos, ou tentamos promovero programa ou reputação dum movimento ou dum pregador, estamos aconstruir sobre o frágil mérito dos homens. Como a característica dumverdadeiro discípulo é a sua fome de Deus, o seu alvo é receber a aprovaçãode Deus. Depois do trabalho feito, ele deseja ouvir Deus lhe dizer: "Bemestá, servo bom e fiel." Dia após dia, ele vive para Deus e Sua glória,buscando-a como o veado anela pelas correntes das águas.

Não obstante as fraquezas do povo de Cristo, há muitos hoje quetêm fome de Deus. Esta fome deve ser cultivada, quer alimentando-a, querdesenvolvendo a sua capacidade. Deus quer todo o nosso ser, não apenas onosso trabalho para o Senhor, as nossas soluções dos problemas, ou o nossoserviço atrás dos bastidores. Podemos ficar tão envolvidos em atividades,mesmo cristãs, que chegamos a perder o contacto consciente com o próprioDeus. Ele espera, perto mas em silêncio, pronto a recordar-nos: "Meu filho,você está demasiado ocupado para receber qualquer força da minha parte."

O Seu conselho permanece: "Aquietai-vos, e sabei que eu souDeus"(Salmo 46:1O). O único caminho para encontrar o poder e recursosnecessários para cada dia é esperar calmamente em Deus. Arranje tempopara passar a sós com Ele; aprenda a deleitar-se nele; cultive a fome peloSeu ser infinito. Sem isso, o seu trabalho será superficial; com isso, os seusmais profundos anseios serão satisfeitos e o seu discipulado glorificá-lo-á.

A nossa situação hoje está bem descrita nestas palavras deA.W.Tozer:

"Nesta hora de quase total escuridão universal, surge um alegreresplendor — dentro da esfera do cristianismo conservador está a revelar-se um número cada vez maior de pessoas cujas vidas piedosas sãomarcadas por uma fome crescente do próprio Deus. Elas anseiam pelasrealidades espirituais e não se contentarão com palavras, nem se satisfarãocom corretas interpretações da verdade. Têm sede de Deus e só se sentirãosatisfeitas quando se dessedentarem profundamente na Fonte da Água Viva"

Muitas coisas nos têm cegado os olhos; uma multidão de diferençasteológicas e de tradições religiosas tem causado uma dicotomia entre asdoutrinas de Deus e uma relação íntima com Ele. Contudo, há esperançaonde quer que os cristãos sintam fome de Deus. Eles juntam-se numacruzada para conhecerem a Deus. Esta é a única causa que efetivamenteconta, o único elo que não será torcido ou quebrado pela ignorância e

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egoísmo dos homens. A nossa ligação real não é com qualquer organização,mas com o Deus vivo. Quando nos humilharmos junto à cruz, conheceremosa realidade do poder de Jesus que venceu o pecado e a morte. Nósreceberemos a promessa: "Bem-aventurados os que têm fome e sede dejustiça, porque serão fartos" (Mateus 5:6).

A Oração da Liberdade

“Litania" é uma palavra que descreve uma oração formal, lidasempre da mesma maneira pelas pessoas que freqüentam a igreja. Depois daReforma, muitas litanias foram abandonadas pelas igrejas protestantes, emuita coisa de origem católica romana foi rejeitada pelas novas igrejas.Disso resultaram algumas perdas espirituais que não podíamos dispensar,pois alguns dos católicos romanos devotos são capazes de nos ensinarverdades vitais. O poder do evangelho e a presença do Senhor Jesus Cristoinfiltram-se mesmo em igrejas sonolentas, e algumas pessoas chegam aconhecê-lo e a amá-lo, corno no caso de Martinho Lutero, dentro da IgrejaCatólica. Se nós, protestantes, possuíssemos algo da profundidade espiritualevidenciada por homens tais come Francisco de Assis, creio que poderíamosrealiza: muito mais para o Senhor. Eu não sei o nome do católico romanoque escreveu a seguinte litania, mas ela fala duma vida que todos osdiscípulos de Cristo precisam experimentar.

"Ó Jesus, manso e humilde de coração, ouve-me.Livra-me, Jesus,do desejo de ser estimadodo desejo de ser amado,do desejo de ser exaltado,do desejo de ser honrado,

do desejo de ser louvado,do desejo de ser preferido a outros,do desejo de ser consultado,do desejo de ser aprovado,do medo de ser humilhado,do medo de ser desprezado,do medo de ser repreendido,

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do medo de ser esquecido,do medo de ser ridicularizado,do medo de ser prejudicado,do medo de ser alvo de suspeitas.E, Jesus, concede-me a graça de desejarque outros possam ser mais amados que eu,que outros possam ser mais estimados que eu,que na opinião do mundooutros possam crescer e eu diminuir,que outros possam ser escolhidose eu posto de parte,que outros possam ser louvadose eu passe despercebido,que outros possam ser preferidosa mim em tudo,que outros possam tornar-se mais santosdo que eu, contantoque eu me tornetão santo quanto devo ser."Se nós orássemos assim, sinceramente, todos os dias, estou certo de

que o Espírito Santo transformaria dum, modo maravilhoso as nossas vidas.Creio que as qualidades de que se fala nesta oração podem tomar-se, hoje,nossas. Deve ser este o nosso alvo, e não a realização de qualquer tarefaespecial para Deus.

Existem muitos substitutos baratos e caminhos secundários para asantidade genuína. Podemos vaguear dum caminho falso para outro,apoiando-nos em falsificações do discipulado novo-testamentário, em vezde possuirmos a realidade.

Quando eu era estudante, senti fome de saber em que consistia asantidade cristã, e investiguei as Escrituras a fim de descobrir o coração damensagem do Novo Testamento. Cheguei à convicção profunda de que oEspírito Santo deseja produzir indivíduos semelhantes a Cristo — nãoautômatos religiosos, nem campeões em doutrina, nem furacõesevangelísticos, mas homens que sejam como Jesus Cristo. E, basicamente, édisso que trata esta oração.

Estes atributos são característicos de Jesus. Ele, na realidade, não foiestimado, não foi amado, não foi exaltado. Ele não quis receber honra nemnenhuma das coisas por que suspiram os homens ambiciosos. Finalmente,Ele foi completamente desprezado e, conseqüentemente, executado. Estaoração foi escrita por uma pessoa que conhecia Deus intimamente.

A obra que Deus quer Fazer acima de tudo nos nossos corações éproduzir a semelhança com Cristo. E um trabalho que durará toda a nossavida — não há atalhos para este tipo de crescimento espiritual. Não há

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qualquer organização ou atividade que o possa substituir. Precisamos dumaconstante fome e sede de que a natureza de Cristo seja reproduzida em nós.Precisamos também ter uma clara consciência da incessante guerra espiritualque nos rodeia.

Os homens que andam na guerra têm de estar prontos a morrer emqualquer dia. Podem não conhecer a Cristo, mas quando saem para a pelejadispõem-se a perder a vida, pois doutra maneira seriam fracos soldados.Precisamos de algo desse mesmo espírito na guerra espiritual. Nós quepossuímos a vida eterna de Cristo, necessitamos lançar fora as nossaspróprias vidas. Esta pronta disposição pode surgir quando orarmos evivermos na direção desta oração.

Começa assim: "Livra-me, Jesus, do desejo de ser estimado." Todosnós temos um desejo inato de sermos estimados. Por mais insignificantesque sejamos, queremos ser apreciados. Quando nos encontramos com umnovo grupo de cristãos, e um deles diz: "É um prazer tê-lo conosco, Irmão!Gostaria de nos falar do que Deus está fazendo na sua vida? " — entãosentimo-nos compensados. Mas se somos ignorados ou desprezados,ficamos feridos. Quer sejamos extrovertidos ou introvertidos, desejamosegoisticamente atenção e, portanto, todos precisamos de orar: "Senhor, livra-me do desejo de ser estimado." Em Filipenses, Paulo adverte contra osresultados da excessiva auto-estima: "Nada façais por partidarismo, ouvangloria, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores asi mesmo" (2:3). Isto requer o poder do amor de Jesus Cristo.

A segunda súplica da oração é: "Livra-me, Jesus, do desejo de seramado." Ser amado é a nossa necessidade psicológica básica As crianças nãose podem desenvolver normalmente, sem amor, e os adultos não podemtrabalhar felizes sem a segurança do amor. Deus satisfez supremamente estasnecessidades, dando o Seu Filho por nós, em amor. 'Nisto conhecemos oamor, em que Cristo deu a sui vida por nós" (1 João 3:16). A maiordemonstração que Deus pôde fazer do Seu amor foi dar o Seu Filho amado eperfeito para nos redimir do pecado. O Seu desejo em relação a nós é queministremos uns aos outros esse mesmo amor, pois o texto citado continua: "e devemos dar nossa vida pelos irmãos".

Creio que alguns cristãos lutam ansiosamente por manifestações doamor de Deus, por não experimentarmos o amor de irmãos na fé comoCristo ordenou. Quando flui pouco amor entre nós, podemos sentir-nosimpelidos a buscar favores e bênçãos especiais da parte de Deus, como umaconfirmação de que somos amados.

O plano de Deus, de acordo com as Escrituras, é que os cristãos seamem uns aos outros, assim como Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Seentregou por ela. A pessoa é apanhada na revolução do amor e difunde-atanto horizontal como verticalmente.

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A maior parte dos homens que estão ardendo em zelo por Deusrecebeu a centelha de outro homem em fogo. Grandes servos de Deuscresceram até à semelhança de Cristo, porque haviam estado em comunhãocom um homem de Deus, bem assim com o próprio Deus. Deus encontra-nos na oração e na Sua Palavra, mas também vem ao nosso encontro atravésda pessoa e exemplo de outro irmão.

Eu devo mais ao amor e encorajamento de outros cristãos, do queposso expressar. Um deles é Billy Graham, embora eu não o conheça naintimidade. Li a história da sua vida e tenho seguido o seu progresso; umavez, cumprimentei-o no meio duma multidão e, mesmo ali, senti o seu amor.

Eu tinha ido em serviço ao seu escritório, em Londres, e já seencontravam lá muitas pessoas antes de mim. Todo o pessoal do escritórioestava envolvido nos preparativos para uma campanha evangelistica, eninguém falara com o meu amigo ou comigo, a não ser o recepcionista.Nesse momento, entrou Billy Graham e começou imediatamente a apertaramão a todos os presentes. Dirigiu-se a nós e cumprimentou-nos, dizendo-nosalgumas palavras muito amáveis. Ali estava um homem famoso, cinqüentavezes mais ocupado do que a maior parte das pessoas, mas que achavatempo para dar um aperto de mão aos desconhecidos que se encontravamfora de seu escritório. Isso foi particularmente animador para mim, poistinha encontrado Cristo como meu Salvador, através da pregação de BillyGraham.

As pessoas chegarão a conhecer Jesus, se nós formos ao seuencontro e as amarmos desta mineira, mas a revolução do amor não sepoderá propagar se nós estivermos empenhados em ganhar o amor dosoutros. Todos precisamos de amor, mas o discípulo cristão concentra-se emdar amor, porque o tem recebido de Deus em abundância. Uma prova difícilvem quando sentimos que não somos amados e que somos rejeitados comoJesus foi. Mas nesse momento crucial podemos provar quão maravilhoso é oamor do Senhor, dando-nos a nós mesmos pelos outros.

A outra cilada de que temos de ser libertos é "do desejo de serexaltado". Eu defino "exaltar" como lisonjear ou louvar. Apreciamos muitoisso! E quase como tomar parte num banquete. Jesus, como lemos emFilipenses, era exatamente o contrário. Ele era "tudo" no céu, e tornou-Secomo um criminoso na terra. A Bíblia diz: "Se o grão de trigo, caindo naterra, não morrer, fica ele só". Para dar fruto, o cristão tem de morrer para simesmo. Não procure ser levantado, submerja-se.

Isto pode ser posto em prática todas as vezes em que não repararemem nós ou não reconhecerem os nossos feitos. É duro para o ego — mas édisso exatamente que o ego precisa. Esta oração ajuda-nos a desligarmo-nosradicalmente da cancerosa ânsia de ser alguém, de conseguir uma posiçãosuperior aos outros. Ela impede a invasão traiçoeira de Satanás aos obreiroscristãos.

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A prece seguinte é muito semelhante a esta: "Livra-me do desejo deser honrado." Deus disse: "Como podeis crer, vós os que aceitais glória unsdos outros, e contudo não procurais a glória que vem do Deus único? " (João5:44). O testemunho de Jesus era: "Eu não aceito a glória que vem doshomens." Muitas vezes, depois de um cristão ter realizado alguma coisa paraDeus, é tentado a explorá-la para enaltecer a sua honra pessoal. Esta tentaçãovem de Satanás. Algumas honras e reconhecimentos são muito sutilmenteperniciosos. Vêm de pessoas ou organizações cristãs bem intencionadas, eesses elogios tornam-se alimento para a exaltação própria. Por vezes,podemos receber mais honra de amigos cristãos do que das pessoas domundo, e essa fonte "santificada" torna o louvor muito mais insidioso.

Há mesmo o perigo de procurarmos experiências espirituais doengrandecimento próprio. Somos tentados a dar testemunho acerca dalibertação do pecado, duma oração respondida, ou de qualquer outra expe-riência da graça de Deus, dum modo que nos traga satisfação a nós mesmos,em vez de darmos honra a Deus. A Sua graça deve ser realmente louvada,mas não ostentada como sinal do nosso mérito.

Por vezes, recebo cartas de jovens que desejam preparar-se e queescrevem recomendando-se a si mesmos. Informam-me de quão importantessão e de quantas qualificações possuem. Você poderá imaginar-se recebendouma carta assim do apóstolo João? Claro que houve tempo em que, como osoutros, João procurou crédito e, mesmo, prioridade por ter seguido a Jesus,mas isso foi antes de a cruz ter produzido uma revolução na vida de todoseles. Não é mau ser encorajado. O que não está certo é procurar o louvor eelogios dos outros. Será que louvamos tanto a Deus quando estamos sós,como quando estamos acompanhados? Será que continuamos o nossotrabalho a sós com tanto entusiasmo como quando estávamos sendoobservados? Eu não gosto de trabalhar sozinho e acredito no trabalho a dois.Mas por vezes, estamos preocupados com a nossa honra ou com a de Deus.

A petição a seguir está muito próxima desta no seu significado:"Livra-me do desejo de ser louvado." Isto relaciona-se com os contatos eatividades de todos os dias. Se temos fome de louvor, aceitamosprontamente migalhas de aprovação de qualquer pessoa, sejam elas sincerase honestas, ou não. Tal louvor torna-se podre na boca de homens volúveis esem princípios.

Também oramos: "Livra-me do desejo de ser preferido aos outros."Como é que nos sentimos quando, sendo nós qualificados, é escolhidaqualquer outra pessoa? Alegramo-nos quando outro ciente é honrado? Estabênção dada a outro pode ferir-nos profundamente. A.W. Tozer diz: "A cruzferirá profundamente as nossas vidas no lugar onde mais nos magoe, semnos poupar a nós, nem a nossa reputação cuidadosamente cultivada." Oshomens do mundo dão muita importância à sua categoria, mas João Batistadeclarou facilmente: "Aquele que vem depois de mim. . .já existia antes de

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mim.""Livra-me também do desejo de ser consultado." A nossa

experiência e conhecimento tornam-se entraves quando esperamos que osoutros condescendam conosco e reconheçam a nossa sabedoria. Não nosdarem importância é particularmente doloroso quando o nosso conselhoparece estar tão nitidamente certo. Mas esta é outra forma de nos servirmos anós mesmos, uma vez que podemos confiar que Deus aplicará o nossoconselho se ele for necessário para a Sua Glória.

Muitos de nós precisamos, também, ser libertados "do desejo de seraprovado" — de recebermos dos outros a certeza de que, afinal, nósestávamos certos. Os discípulos têm de continuar a aprender na escola davida de Deus. Quando alguém me pergunta que curso é que eu estoufazendo, respondo: "O curso de A.P.D — Aprovado Por Deus". Não me seráconcedido o diploma nesta vida, mas é o único que interessa eternamente.

Um fardo comum que todos carregamos é "o medo de serhumilhado". Queremos "parecer bons" aos outros, desejando mesmo causarimpressões favoráveis "para Deus". Mas Deus não tem esse problema — naSua perfeição e poder Ele nunca Se sente humilhado. E o Seu Filho nãoSe furtou às humilhações quando esteve na terra.

Deus leva-nos muitas vezes pelo mesmo caminho que o Seu Filhoseguiu. As humilhações são uma ilustração viva do contraste entre osprocessos de Deus e os dos homens, e apontam o caminho para a salvação.As estatísticas mostram-nos que os nadadores que têm praticado socorros anáufragos são propensos a morrerem afogados por se sentirem demasiadoconfiantes na água. Deus quer salvar-nos duma confiança demasiada no "eu"e, portanto, humilha-nos. Ele mina e enfraquece os nossos pontos natural-mente fortes para nosso bem e para o nosso crescimento nEle. Não temamosa humilhação que pode trazer este valioso benefício.

Livra-nos, também, Senhor, "do medo de ser desprezado". Oh!quanto necessitamos desta ousadia para o testemunho! Tantas pessoasescarnecem dos cristãos que testemunham de Cristo. Aquele que distribuifolhetos pode ser desprezado, mas nós que conhecemos o seu valor,devemos entregá-los como se fossem notas de banco. Algumas pessoasreagem à "invasão da sua. vida privada" no que diz respeito aos assuntosespirituais, mas a testemunha cristã está a investir na eternidade. Que o amorde Deus afaste por completo este medo.

O "medo de ser repreendido" apega-se à maioria dos cristãos e,contudo, precisamos de correção para evitar atrasos no nosso discipulado.Os cristãos têm de aprender a falar uns com os outros tanto em amor comoem repreensão. Embora aprendamos principalmente do Espírito de Deus, Elepode usar um irmão ou uma irmã para nos ensinar. Os discípulos fervorosospodem esperar que Deus fale através da Sua Palavra, da oração e dasexortações .

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Deus tem-me concedido, creio eu, uma graça crescente para aceitarrepreensões, mas tem levado anos. Eu reagi como uma cobra cascavel àsprimeiras repreensões que recebi como cristão. Existe uma grande diferençaentre uma cobra cascavel e um verme. A Bíblia compara Jesus a um vermeno tratamento que recebeu (Salmo 22:6). Se você bater num verme, elecontorce-se ou morre, mas se ferir uma cascavel, ela responder-lhe-á,atacando. Quão significativo é o fato de Satanás ser descrito como umaserpente!

As nossas vinte e cinco razões pelas quais o outro amigo está erradoe nós certos estão sempre debaixo da nossa língua. Mas a prontidão ourelutância em nos defendermos a nós mesmos constitui uma medida danossa espiritualidade. Imploremos a Deus que nos dê coragem paraaceitarmos a repreensão.

Depois, há também o quase universal "medo de ser esquecido". Naíndia, onde as condições de vida são tão pobres, algumas pessoas acumulamdinheiro para terem a certeza de que um belo memorial sobre a sua sepulturairá perpetuar o seu nome. Algumas igrejas cristãs também estão cheias dememoriais — que perpetuam o nome e o prestígio dos mortos.

Muitos de nós receamos ser esquecidos pelos amigos. Se nãolutarmos para provar o nosso valor e as nossas boas obras, as nossascontribuições passadas poderão ser esquecidas — e nós também.

Mas a vida não se vive no passado. O serviço, a satisfação e aparticipação são experimentados no presente. Esquecendo as coisas queficam para trás — embora jamais possamos esquecer as pessoas — prosse-guimos para o alvo do dia de hoje. Receamos ser lembrados somente pelopassado. Deus lembra-se de tudo o que fazemos de bem e isso é suficiente.

"Livra-me, Jesus, do medo de ser ridicularizado." A pessoa queconsegue rir-se de si mesma é sábia. Às vezes, há motivos muito bons! Nãoraro, o ridículo é malicioso e pretende ferir. Em tais ocasiões, pode ser difícilreconhecer que o ridículo seja um bumerangue, ferindo a sua origem. ABíblia diz: "O Senhor olha para o coração" e, se o meu coração é reto, possoexperimentar a plenitude da paz. Quando pomos os nossos corações a nu naSua presença, Ele está pronto a dar-nos segurança quando o homem estápronto a ridicularizar.

"O medo de ser prejudicado" pode impedir-nos de confiarmos naspessoas. Este medo pode paralizar-nos, obstando a que demos o passo de féque está logo diante de nós.

O "medo de ser alvo de suspeitas", intimamente relacionado comeste, imobiliza alguns cristãos. Mas nós haveremos de ser sempre malcompreendidos por alguém, independentemente do que façamos. O1 fato devocê orar muito em público levará alguns a pensar que está pretendendoexibir a sua espiritualidade. Não podemos deixar-nos prender pelo medo doque os outros possam pensar. "Alegrai-vos" — disse Jesus — "quando,

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mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa." Podemoschegar àquele grau de liberdade em que, por amarmos o Senhor Jesus eagirmos com fé, não nos sentiremos ansiosos quanto ao que as outraspessoas possam pensar ou suspeitar. A segunda seção desta oração trata dedesejos dignos. "Jesus, concede-me a graça de desejar que outros possam sermais amados que eu." Isto recorda-nos a necessidade que as pessoas têm deamor, a qual eu posso ajudar a suprir. Por onde quer que passe, encontropessoas que necessitam de amor e atenção — de serem visitadas, escutadas,de receberem cartas, de alguém que ore com elas. Como é que esta enormenecessidade pode ser satisfeita? Só pela graça de Deus operando em mim, afim de que outros possam ser mais estimados do que eu.

"Concede-me o desejo de que na opinião do mundo outros possamcrescer e eu diminuir." O testemunho de João Batista é inequívoco: "importaque eu diminua". As frases que se seguem na oração: "Que outros possamser escolhidos e eu posto de parte; que outros possam ser preferidos a mimem tudo; que outros possam ser louvados e eu passe despercebido",resumem-se no princípio de que Jesus tem de crescer, mas eu tenho dediminuir. Tenho de me esconder atrás da cruz, para que o meu Senhor possaser visto e adorado. Tenho de reconhecer que não sou ninguém, e assim,Jesus será o meu Tudo.

A frase final é revolucionária: "Que outros possam tornar-se maissantos do que eu, contanto que eu me torne tão santo quanto devo ser." Hásempre o perigo de os cristãos terem tal fome da realidade espiritual, quepassem por cima das outras pessoas nessa sua busca por ela. A vida cristãnão é uma competição com outros. Temos um alvo comum e crescemosjuntos na força e na graça do corpo de crentes. Temos de beber juntos naFonte da Água Viva.

Poderemos honestamente proferir esta maravilhosa oração?Recordo-me de umas palavras de AW.Tozer que tenho escritas na primeirapágina da minha Bíblia:

"A Igreja, neste momento, precisa de homens prontos a gastarem-seno combate das almas. Tais homens estarão livres das compulsões quecontrolam os mais fracos, da concupiscência dos olhos, da concupiscênciada carne e da soberba da vida. Eles não serão forçados a fazer coisas sob apressão das circunstâncias. A sua única motivação virá de dentro e de cima.Esta qualidade de liberdade é necessária, se queremos ter de novo profetasnos nossos púlpitos, em vez de mascotes. Estes homens livres servirão aDeus e à humanidade por motivos demasiado elevados para seremcompreendidos pelo povo comum que se arrasta hoje para dentro e para forado santuário. Eles não tomarão decisões com base no medo, não seguirãoqualquer rumo só para satisfazer um desejo, não aceitarão qualquer serviçopor razões financeiras. Não praticarão qualquer ato religioso, por mero

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costume. Nem se permitirão a si mesmos ser influenciados por amor dapublicidade, ou pela ambição duma boa reputação."

O elo entre esta passagem e a oração está claramente delineado. Écomo se estes dois oradores, o católico mais antigo e o evangélico moderno,tivessem aprendido na mesma escola. E aprenderam realmente, porqueambos estudaram aos pés de Jesus.

A Terra do Descanso

A Terra do Descanso e a Terra Prometida era um território a

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conquistar sob a liderança de Josué, era também um lugar de descanso evitória para os israelitas. Uma "Terra Prometida" espera também o cristãoque deseja sair das jornadas do deserto do esforço próprio e da frustração.

"Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrarno descanso de Deus, suceda parecer que algum de vós tenha falhado.Porque também a nós foram anunciadas as boas-novas, como se deu comeles; mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou, visto não ter sidoacompanhada pela fé, naqueles que a ouviram. Nós, porém, que cremos,entramos no descanso; conforme Deus tem dito: Assim jurei na minha ira:Não entrarão no meu descanso; embora, certamente, as obras estivessemconcluídas desde a fundação do mundo. Porque em certo lugar assim disse,no tocante ao sétimo dia: E descansou Deus, no sétimo dia, de todas as obrasque fizera. E novamente, no mesmo lugar: Não entrarão no meu descanso.Visto, portanto, que resta entrarem alguns nele, e que, por causa dadesobediência, não entraram aqueles aos quais anteriormente foramanunciadas as boas-novas, de novo determina certo dia, Hoje, falando porDavi, muito tempo depois, segundo antes fora declarado: Hoje, se ouvirdesa sua voz, não endureçais os vossos corações. Ora, se Josué lhes houvessedado descanso, não falaria posteriormente a respeito de outro dia Portanto,resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou nodescanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deusdas suas. Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso, a fim de queninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência." (Hebreus 4: 1-11.)

Tantos cristãos estão carregando fardos! Embora tentemos lançá-losfora ou fugir deles, agarram-se como lama aos nossos pés e oprimem-nos amente. Esses fardos são cargas dos tempos pré-cristãos, e Deus quer que oscrentes se vejam livres deles.

O relato da saída de Israel do Egito e da sua entrada na TerraPrometida, Canaã, é uma descrição gráfica da redenção perfeita que temosem Jesus Cristo. Narra vividamente a intervenção de Deus nos assuntoshumanos, assim como a variedade e complexidade de problemas que o povode Deus encontrou. Paulo recorda-nos que "estas coisas foram escritas parao nosso exemplo".

Moisés, o homem que recebeu de Deus os Dez Mandamentos,gravados na pedra, não havia compreendido os caminhos de Deus em anosanteriores. Ele abandonou realmente o prestígio e privilégios na hierarquiado Egito, para se identificar com o povo de Deus, mas colocou-seprecipitadamente ao lado dos israelitas, em vez de agir sob a direção deDeus. O resultado foi um exílio de quarenta anos no deserto do Sinai. Aí,duma sarça ardente, o Senhor chamou e comissionou Moisés para quevoltasse ao Egito e salvasse Israel.

Moisés teve medo, tão viva era a consciência do seu antigo fracasso.

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Quando Deus o mandou ir, ele disse: "Não me ouvirão." E argumentou:"Não sei falar.. ." Moisés era como tantos embaixadores de Deus que têmcomeçado por dizer: "Nunca serei uma testemunha de Cristo; mal sei falar.Nunca serei um missionário. Não gosto de aranhas e serpentes; não possodormir no chão. Nunca poderei fazer isto, porque tenho medo daquilo." E,todavia, Deus fez coisas fantásticas através de Moisés.

A saída de Israel da escravidão do Egito é uma figura do livramentodo cristão das cadeias do pecado. O juízo de Deus caiu sobre os impenitentesegípcios, mas não sobre as pessoas marcadas com o sangue do cordeiropascal. Depois de o anjo da morte ter ferido todos os lares egípcios, Faraócapitulou e ordenou: "Deixa-o ir": E a nação de escravos iniciou a viagempara a Terra Prometida.

Não iam ainda muito longe quando Faraó mudou de idéia e selançou em sua perseguição. Se Moisés pensou que os seus problemas tinhamacabado apôs a saída do Egito, a sua educação estava ainda no princípio.

Dirigindo uma das maiores operações de mobilização na história,Moisés estava a desempenhar perfeitamente a tarefa de apascentar ummilhão de pessoas e inúmeros animais para os lugares amplos e seguros. Foientão que nuvens de poeira dos velozes carros de guerra do Egitoassinalaram a aproximação dum exército vingativo, e o pavor espalhou-seentre os refugiados. "Moisés", gritaram eles, "você nos trouxe para aqui parasermos mortos. Por que é que não nos deixou ficar lá? As coisas no Egitonão estavam tão mal."

Cercado de murmuradores, com os soldados egípcios a avançar edispostos a chaciná-los ou recapturá-los, e com as vagas encapeladasbloqueando-lhes a fuga, Moisés parecia estar em terríveis apuros. Mas aaparência era enganadora.

Moisés clamou a Deus por auxílio e logo obedeceu à ordem divinade aguardar o livramento. Realizou-se então outro milagre quando as águasdo mar Vermelho se dividiram e o vento fez um caminho seco para osisraelitas atravessarem. Eles correram, mal acreditando no que os seus olhosviam, e os carros de Faraó apressaram-se a alcançá-los. De repente, as águasjuntaram-se de novo, e carros, egípcios e Faraó desapareceram!

Satanás não é aniquilado quanto Cristo primeiramente nos livra dassuas garras. Na noite em que me converti, saí do Madison Square Garden,em Nova Iorque, onde tinha aceitado Cristo, e esbarrei com forte oposição.Ela surgiu na forma dum jovem beligerante ansioso por demonstrar a suamasculinidade. Eu manifestei-me contrário a um comentário grosseiroacerca dumas moças e logo esse pugilista da rua me atirou contra opavimento, com um soco. Foi essa a minha introdução na vida cristã —aprendi cedo que se trata dum combate!

Os problemas que Moisés enfrentou no deserto eram os mesmos quequalquer líder cristão encontra. As pessoas queixavam-se das condições,

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questionavam os motivos de Moisés e avidamente recordavam os poucosprazeres que haviam deixado para trás. Assemelhando-se à igreja do séculovinte, lamentavam-se: "Claro que desejamos ser livres, mas não poderemoslevar um pouco do Egito conosco? Não queremos continuar a viver lá, masalguns costumes egípcios não nos podem fazer mal!"

Todavia, Deus tinha-lhes prometido um lugar de repouso, uma terraque manava leite e mel. Ele nunca pretende que o Seu povo subsistaindefinidamente à base de rações de maná. A travessia do deserto para Canaãera curta e podiam ter-se dirigido para lá diretamente. Mas os espias queforam à frente só viram riscos e inimigos da Terra Prometida. "Há lágigantes", gaguejaram eles. "Parecemos insetos à vista deles. Nuncapoderemos possuir tal Terra." E eles ficaram imobilizados por falta deconfiança era Deus.

Hoje ouvimos e vemos a mesma descrença. 'Não se pode fazerisso!" "Há gigantes na terra — budismo, islamismo, comunismo." "Temosque esquecei: os países fechados ao evangelho." Como Israel, muitas vezes aIgreja não vê que o lugar de desafio é também o lugar de repouso.

Houve dois "loucos por Cristo" em Israel: Calebe e Josué. Estesestavam prontos a crer em Deus e a agir, e mais tarde, entraram na TerraPrometida. A grande maioria foi condenada a vaguear, lutar e morrer nodeserto. Quantos homens de fé e visão têm, na nossa geração, apontado parao lugar de descanso espiritual e têm sido desprezados? ! A Terra Prometidaainda espera.

Não podemos viver uma vida de vitória no "deserto" daincredulidade e desobediência. Se vamos servir ao Senhor na Ásia, naEuropa ou na América — onde quer que seja — e vamos com dúvidas,carregados de problemas e de oposição violenta na nossa própria força,experimentaremos terrível fracasso e desânimo.

Hebreus 4:1O declara que "aquele que entrou no descanso de Deus,ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das suas". Qualquertrabalho para Deus que dependa dos nossos próprios esforços, do nossopróprio zelo, da nossa própria habilidade e recursos, falhará. O lugar devitória e repouso é o lugar das obras de Deus, não das nossas. Estamosativos e completamente envolvidos, mas a vitória não depende de nós e,assim, desaparece a causa da ansiedade.

Podemos entrar agora no descanso de Deus, porque Cristo entrounele por nós. Quando contemplamos o que Cristo fez por nós na cruz,verificamos que Deus tem-nos genuinamente identificado com Cristo.Através da nossa fé nAquele que morreu por nós, fomos "crucificados comCristo" - identificados com Ele na Sua morte. Se você é um cristão, já foicrucificado com Cristo! Não é qualquer coisa que pode ocorrer no futuro seconfiarmos eficazmente, orarmos com interesse, ou decorarmos mais setentae oito versículos das Escrituras. Não, temos de nos ver morrendo para o

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pecado, com Cristo, na Sua cruz, e à medida que a verdade surge, podemosencontrar-nos entrando no Seu repouso espiritual, assim como o povo deIsrael achou o Jordão dividido e a sua herança pronta a ser recebida depoisde o atravessarem. Esta entrada tem lugar quando reconhecemos que Cristoé o nosso Tudo, a nossa força, o nosso guia, a nossa esperança, a nossavitória — e embora a batalha não esteja ainda terminada, a ansiedade e omedo desapareceram.

Algumas pessoas sabem o dia exato em que nasceram de novo.Comigo, isso aconteceu em 5 de março de 1955. Outros têm umaexperiência tão real como a minha, mas não conseguem indicar a data.Sabem que aconteceu. Passa-se o mesmo quando entrarmos nestaexperiência de vitória — podemos não ser capazes de a explicar ou de dizerquando ocorreu, contudo, sabemos que estamos numa nova relação comDeus.

Nenhum homem pode oferecer ao Senhor um serviçoverdadeiramente eficiente, a menos que tenha entrado na sua vida derepousante confiança em Deus, esta vitória do Cristo ressurreto. Porqueentão, assim como estamos verdadeiramente identificados com Cristo noSeu triunfo sobre o pecado e a morte, também estamos identificados comEle na Sua vida da ressurreição. Cessamos a nossa luta por realizaçõescentralizadas em nós mesmos e vivemos pelo poder da ressurreição deCristo. Isso é vitória autêntica. Este é o único caminho para o sucesso navida cristã. É o caminho da fé, o mesmo tipo de fé que nos trouxe salvação."O justo viverá por fé" (Rom. 1:17). "Ora, como recebestes a Cristo Jesus, oSenhor, assim andai nele" (Col. 2:6). Então diremos como Paulo: "Logo, jánão sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim" (Gál. 2:2O). Quandoentramos no descanso de Deus, acabamos com as nossas lutas egoístas ecom as preocupações que as acompanham.

Há ocasiões em que tenho um cento de cartas na minhaescrivaninha, muitas delas a respeito de problemas. Aonde devem ir asequipes de evangelização? Onde está o dinheiro para as sustentar? Comoencontraremos veículos para fazer chegar as equipes e a literatura ao seudestino? Tenho aprendido de 1 Pedro 5:7, como proceder com elas:"Lançando sobre ele a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós." Àsvezes, consigo dizer: "Senhor, aquelas cartas e aqueles telegramas são todosTeus. Eu vou-me deitar." O sono é uma bênção maravilhosa e não devemospermitir que a preocupação no-la roube. Não acredito em cuidados, porqueacredito no lugar de descanso de Deus. Creio que Jesus Cristo foi crucifi-cado por todas as preocupações do mundo, e se o Senhor Jesus fez isso, porque é que então eu hei de andar ansioso acerca delas? Isto aplica-se a todasas esferas da vida, a toda a frustração, a todo o sentimento de inferioridade, atudo o que me perturba. Nada disto me pode derrotar, a não ser que euabandone o lugar de repouso — a minha segurança em Cristo.

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Como cristãos, sabemos que caminhamos diariamente pelo desertodeste mundo, mas as atrações do deserto não precisam caminhar dentro denós. Sempre que elas se intrometem através dos nossos olhos, dos ouvidosou da mente, o cidadão na Terra Prometida deve orar: "Senhor, eu costumavaapreciar esse divertimento na escravidão, mas já morri para ele em Cristo;mantém-me no Teu descanso e na Tua vida da ressurreição." Ela é nossa sepedirmos e confiarmos. A Terra Prometida de descanso' nesta terra não épara dormir, é para lutar — mas é o lugar onde você ouve Deus dizer: "Eulutarei por você." Rodeiam-no oposição, perigo, tentações e incômodos,todavia o seu espírito descansa na fortaleza do amor e do poder de Deus.Você quer escolher este santuário em vez de tentar pôr um pé do lado de ládo Jordão, conservando o outro no mundo? É a coisa mais importante quevocê pode fazer em resposta a este livro.

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Perigos na Linha de Frente

Já decidiu percorrer a estrada do discipulado? Está determinado aseguir a Cristo para onde quer que Ele o dirija? Então, prepare-se para obstá-culos, insucessos e desprendimentos de rochas! Pois é absolutamente certoque você tem à sua frente um caminho difícil.

Uma das maneiras pela quais Deus ajuda o discípulo é dar-lhe, nasEscrituras, um vislumbre dos perigos que se encontram no caminho parauma vida cristã vitoriosa.

"Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveramtodos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar, tendo sido todos batizados,assim na nuvem, como no mar, com respeito a Moisés. Todos eles comeramde um só manjar espiritual, e beberam da mesma fonte espiritual; porquebebiam de uma pedra espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo. Entre-tanto, Deus não se agradou da maioria deles, razão por que ficaramprostrados no deserto. Ora, estas cousas se tornaram exemplos para nós, afim de que não cobicemos as cousas más, como eles cobiçaram. Não vosfaçais, pois, idolatras, como alguns deles; porquanto está escrito: O povoassentou-se para comer e beber, e levantou-se para divertir-se. E nãopratiquemos imoralidade, como alguns deles o fizeram, e caíram num só diavinte e três mil. Não ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles jáfizeram, e pereceram pelas mordeduras das serpentes. Nem murmureis comoalguns deles murmuraram, e foram destruídos pelo exterminador. Estascousas lhes sobrevieram como exemplos, e foram escritas para advertêncianossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado. Aquele,pois, que pensa estar em pé, veja que não caia. Não vos sobreveio tentaçãoque não fosse humana; mas Deus é fiel, e não permitirá que sejais tentadosalém das vossas forças; pelo contrário juntamente com a tentação, vosprovera livramento, de sorte que a possais suportar." (1 Cor. 1O:1-13.)

Note particularmente que Paulo diz que todas estas experiências sãoexemplos "para advertência nossa". Ele está alertando quanto aos muitosperigos que afligem os cristãos. Embora estes israelitas participassem narevelação do poder de Deus a Moisés na coluna de nuvem e na divisão domar, e embora recebessem o mesmo sustento espiritual, não conseguirampassar nos rigorosos testes em que Moisés venceu. Semelhantemente, ocristão deixa o Egito — o mundo — e atravessa o mar Vermelho — que fala,creio eu, da salvação. Ele começa a cantar a sua libertação, como fizeram osisraelitas quando viram as águas do mar Vermelho juntar-se de novo e os

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inimigos ficarem para trás, destruídos. Mas erra em não reconhecer que háainda poderosos inimigos em frente.

O ancião Simeão Stylites viveu no topo duma coluna durante trintaanos e, todavia, não escapou a tentações. Você pode isolar-se em qualquerlugar e, mesmo assim, enfrentar conflitos. Por que? Porque o inimigovagueia dentro de você. O povo de Israel fugiu dos gigantes de Canaã, massofreu derrota após derrota no solitário deserto. Só Josué e Calebesobreviveram dentre os viajantes pioneiros, porque confiaram em Deus.

Estes dois homens ilustram a realidade da entrega do coração aDeus. Eles podiam facilmente ter discordado um do outro, mas os seuscorações eram retos para com Deus. Calebe, por exemplo, disse: "Eia!subamos, e possuamos a terra, porque certamente prevaleceremos contraela." Alguns observadores podem tê-lo acusado de auto confiança, mas oSenhor conhecia a sua intenção fiel. Josué focalizou as suas palavras emDeus: "Se o Senhor se agradar de nós, então nos fará entrar nessa terra e no-la dará."

O que me faz vibrar, é que ambos andaram com Deus, ambosentraram na Terra Prometida e ambos foram ricamente abençoados. Cada umdeles não julgou os motivos do outro na base duma variação determinologia. Nem nós o devemos fazer. Um cristão ainda novo na fé, comvocabulário incorreto e doutrina mal expressa, pode na verdade estarconfiando mais na obra de Cristo, do que o senhor "muito espiritual" que aexplicou completamente até a última sílaba. A chave para a entrada deCalebe e Josué em Canaã foi a mesma: a sua resposta sincera e perseveranteà promessa de Deus.

Eu creio que a Terra de Canaã fala da vida vitoriosa do cristão. Asalvação de Deus levou-nos através do "Jordão", mas muitos cristãosdesfalecem na fronteira da Terra Prometida. Teimosamente, não acreditamosque a subida do monte nos leve à nossa herança, e escondemo-nos entre asrochas do vale.

Temos de prosseguir, embora não estejamos a penetrar num local depiquenique ou num acampamento de férias quando atravessamos o Jordão.Batalhas, lutas, provações e fracassos esperam-nos na Terra Prometida, masdo mesmo modo nos aguardam a vitória, a alegria e o poder. Depois derealmente entrar nesta terra, você conhecerá mais da plenitude e poder deDeus, das emocionantes respostas à oração e da intimidade do verdadeirodiscipulado. Contudo, ficará admirado por poder o combate ser tão renhido.Em certas ocasiões não haverá mais do que necessidades essenciais supridas.Então compreenderemos que estamos numa luta para acabar com o pecado,o eu e Satanás.

O reconhecimento de que estamos envolvidos num constantecombate espiritual pode constituir uma grande fonte de energia e conforto.Quando surge alguma situação difícil e os dardos inflamados de Satanás nos

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atravessam, sabemos que isto é parte do maravilhoso plano de Deus paranós. A minha esposa e eu podemos testificar que isso está fazendomaravilhas por nós na nossa vida conjugai. Os amigos dão muitas vezesconselhos: "Vocês deviam fazer isto.. "; "Todos os pais fazem aquilo. ..".Mas nós podemos ajoelhar-nos e dizer: "Senhor, aquilo está certo em tempode paz, mas isto é uma guerra!"

Somos ajudados quando refletimos nas duas guerras mundiais desteséculo: Pense no que se exigiu dos jovens; pense nas ansiedades sofridaspelas esposas e filhos. E a nós foi-nos dado o privilégio de lutar no campo debatalha ao lado do Senhor da glória, o Capitão da nossa salvação. Quesacrifício poderá ser grande demais para Ele? Comparado com o que Cristofez por nós na cruz, o nosso serviço para Deus não é nada.

Alguém disse: "O diabo não desperdiça os seus dardos inflamadoscom cristãos nominais." A história da guerra confirma que os exércitosfazem dos dirigentes na oposição os seus alvos. Satanás usa a mesma tática.Ele não perde tempo com aqueles que não contam para Deus; visa osdiscípulos ativos. Quando o diabo vê alguém que segue firmemente a Cristo,convoca uma reunião de estratégia com os demônios do inferno e, juntos,planejam um ataque em grande escala. Se nós percebermos alguma coisa dosmovimentos do inimigo e nos armarmos contra ele, não seremos apanhadosdesprevenidos.

As duas táticas que somos aconselhados a usar contra o diabo, são:resistir e fugir. Sempre tenho sido melhor "corredor" do que "resistente",mas desejo aprender mais no que toca a resistir no poder de Deus: A Palavrado Senhor diz-nos: "foge" das tentações de Satanás (2 Tm. 2:22). Diz quelhe devemos resistir, não no nosso próprio poder, mas no poder da cruz deCristo (Tiago 4:7). O sangue remidor de Jesus Cristo remove a culpa donosso pecado, e a cruz destrói o controle de Satanás sobre nós. A vidacrucificada dum discípulo só se mantém na medida em que outros perigoscamuflados são reconhecidos e evitados.

O primeiro é a soberba. A Palavra de Deus diz: "A soberba precede aruína" (Prov. 16:18). Precisamos pedir a Deus que sonde os nossos coraçõese desenraíze este sutil perigo que muitas vezes tem arruinado tantos cristãos.Tenho visto jovens dedicados, zelosos, cheios do Espírito, aparentementesendo usados por Deus, tornarem-se totalmente inúteis por causa do orgulho.Têm constatado respostas à oração e estão certos de que têm acesso a Deus;ou então têm sido grandemente usados por Deus na salvação de almas; oualguém lhes afirmou que são excepcionalmente dotados, de algum modo.Então, invade-os a presunção espiritual e esta assume a direção.

Permanecer indiferente a elogios é um sinal de estabilidadeespiritual e emocional. Uma pessoa assim é capaz de encarar o louvor e ahonra dos homens com realismo. Ela sabe a quem é devida a verdadeirahonra.

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A pessoa instável recebe o louvor e agarra-se a ele como umaproteção. Se alguém lhe diz que ela é fraca numa determinada área, deleitar-se-á com a recordação de que alguém lhe afirmou ser esse o seu ponto forte!Um cristão equilibrado sabe como aceitar o louvor dos homens comindiferença, e apreciar a crítica com verdadeiro interesse. Quando vocêcomeçar a realizar algo para Deus, acautele-se do orgulho que se segue earrependa-se dele diante da cruz.

Há uma espécie de soberba que nos eleva, ao mesmo tempo querebaixa os outros. Temos de ser cuidadosos na crítica a crentes, por eles nãoterem conseguido alguma coisa espiritual que nós julgamos já possuir. Mas,se realmente a temos, não fomos nós que a ganhamos; recebemo-la de Deus.

Às vezes gosto de pensar em como serei daqui a quarenta anos:Pregarei com tanto zelo, com tanto senso de urgência, com tanta energia deespírito como agora? Não posso saber, e tenho de ter cuidado quanto ao quedigo a respeito dos outros.

Alguém já me fez notar que os defeitos que por vezes vemos econdenamos nas outras pessoas podem ser cicatrizes de combate, sofridasem serviço fiel a Cristo. Talvez esses cristãos tenham presenciado maisbatalhas, e mais duras, do que nós. Eles podem ter ganho até muitasbatalhas, mas não sem cicatrizes e feridas no combate.

Podemos considerar servos de Deus veteranos como antiquados epouco zelosos. Os cristãos mais jovens têm de mostrar bondade para com ageração anterior. E eu peço a estes que, por sua vez, sejam compassivos nassuas relações conosco. Deus quer que tanto as gerações mais velhas, comoas mais novas, reconheçam que nenhuma delas seria coisa alguma semCristo e a Sua graça.

O perigo mais aparentado com a soberba é o dum espírito de crítica.Parece fácil ver distintamente tudo o que está errado nas outras pessoas. Masos psicólogos dizem-nos que as coisas que mais prontamente criticamos nosoutros, são, por vezes, coisas que estão erradas nas nossas próprias vidas.Isto chama-se projeção, e alguns cristãos, sem darem por isso, especializam-se nela.

Quando me provei a mim mesmo nisto, fiquei assustado com osresultados. Se dia sim, dia não, eu via algo de errado nos outros, seria issorealmente o reflexo de alguma fraqueza na minha própria personalidade ouhábitos? Eu notava tão prontamente as inconsistências dos outros: Um tendiaa ser superficial; outro dizia coisas que não fazia; um terceiro era fraco naquestão de economizar tempo. Mas seria verdade que essas fraquezassupostamente contrastassem com as minhas forças, embora a comparaçãonão fosse justa nem amável?

Paulo ensinou os cristãos em Filipenses 4 a pensar positivamente:"Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é

respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo

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o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja issoo que ocupe o vosso pensamento."

Eu creio que isto representa parte da revolução que Cristo veiooperar na vida dos homens. É uma revolução que substitui as queixas porpensamentos saudáveis e afirmativos, uma revolução que passa por cima doserros e loucuras das pessoas, para pôr em evidência a luz e o amor de Deus.

Certa vez, eu ia correndo para apanhar um trem, em Estocolmo e, noíntimo, criticava duramente o irmão que tinha confundido o horário e mehavia trazido à estação dez minutos depois da hora da partida: "Por que éque pessoas que têm passado uma vida inteira em Estocolmo não sãocapazes de conhecer os seus horários?" — pensava eu com meus botões. Eupretendia chegar a Gotemberg na manhã seguinte a fim de inspecionar umbarco que poderia servir para o nosso alvo da evangelização mundial

Deixei a estação em luta comigo mesmo, até que o Senhor trouxe àminha mente Romanos 8:28. Alguns poderiam dizer que este versículo éuma "muleta" para o aleijado, mas eu sentia-me realmente aleijado,enquanto procurava a vitória sobre os sentimentos do meu coração. Apoiei-me na promessa: "Todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amama Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." E, pela fé,pude louvar a Deus por não haver apanhado o trem.

Nessa noite, o trem que eu perdi chocou com outro. Eu não douqualquer explicação ao acidente, mas aprendi a ser mais cuidadoso quanto aconcluir que acontecimentos desanimadores são erros. Nós cometemoserros, mas o nosso Deus, não. E com infinita paciência e previsão, Ele éespecialista em dominar os nossos.

A Bíblia diz-nos que Deus confiou os tesouros do Espírito Santo aosvasos de barro do nosso corpo, como recipientes. No nosso trabalho para oSenhor, confundimos muitas vezes o Seu propósito. Há ocasiões em que eupoderia chorar por desfigurar a maravilha da Sua verdade com a minhapersonalidade corroída, o meu vaso gasto. Mas o soberano poder de Deusestá por cima e faz com que o mais rude, . o mais fraco, o maisinsignificante, o mais deslocado testemunho dado a Seu respeito, conte paraa eternidade.

Se tivéssemos uma visão maior do nosso soberano Deus, o nossonegativismo e as críticas diminuiriam ou desvanecer-se-iam. Quando nosapercebemos exatamente de que os líderes humanos estão a aprender comotodos nós, podemos concentrar-nos em Deus e ficarmos livres dum espíritode crítica.

Um outro perigo para o cristão vitorioso é acostumar-se às coisasespirituais. À medida que vemos o poder de Deus a operar, respondendo àoração e realizando o impossível nas vidas das pessoas, podemos ficarcalejados quanto ao miraculoso.

Uma equipe que trabalhava na Operação Mobilização reuniu-se,

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para orar, em Zaventem, na Bélgica, e um bom número permaneceu emoração até às 3 horas da manhã. As necessidades financeiras do trabalhoeram graves e Deus incitou-nos a um grande exercício de fé: Quando nosfomos deitar, tínhamos uma emocionante convicção de que Deus ia agir.

Na manhã seguinte, eu tive de telefonar para o escritório central, naInglaterra, a respeito de qualquer outro assunto. Ao telefone, alguém meperguntou se eu já sabia da avultada oferta que havia chegado dum outropaís. O telegrama que anunciava essa oferta chegou ao nosso escritório nessemesmo dia. A quantia era cerca de 6.OOO dólares. O dinheiro não veio deninguém que tivesse sido despertado na reunião de oração, mas de alguém amilhares de quilômetros de distância que o havia mandado algum tempoantes. Temos visto acontecer coisas como esta, durante mais de uma década,e nós tão somente louvamos a Deus pelas Suas respostas à oração Mas háum grande perigo em se ficar familiarizado com o miraculoso e quaseindiferente quando Deus atua de maneiras maravilhosas.

A Bíblia diz que há alegria na presença dos anjos por uma alma quese arrepende, mas por vezes nós não nos alegramos a não ser por uma dúzia.Lembro-me que na Escola Bíblica, saí um dia e consegui ajudar alguém aencontrar Cristo. Fiquei realmente excitado e entrei pelo quarto dum colega,vibrando de alegria. "Venha cá, deixe o seu trabalho. Vamos fazer umareunião de oração, irmão. Usemos algum tempo para louvar o Senhor." Umasemana mais tarde, um outro irmão veio ter comigo. Este não era tãobarulhento como eu: "Louvado seja o Senhor, George; um amigo lá embaixo na rua aceitou Cristo, esta noite." Qual foi a minha reação? "Oh,graças a Deus; isso é bom. Amém." E voltei aos meus estudos. Que Deusnos perdoe por nos tornarmos demasiado familiarizados com as coisassantas, ou por nos alegrarmos com a nossa vitória e não com a de um colega.

Tal familiaridade pode ser desoladora em encontros do povo deDeus: Às vezes reunimo-nos em torno da mesa do Senhor para recordarmosa Sua morte, e há menos louvor entre nós do que se participássemos numarefeição de presunto com ovos, depois duma longa noite. No deserto, osisraelitas consideravam os milagres de Deus como certos: acostumaram-seao maná e suspiravam por carne. Deus deu-lhes a carne que desejavam, e assuas almas encheram-se de pobreza. Isso pode acontecer-nos também a nós.

Um outro perigo da vida cristã é o ascetismo. Se procurarmosdificuldades por elas aumentarem o nosso prestígio, não estamos a sofrer poramor de Cristo. Um exemplo disto foi um jovem que numa viagem detestemunho foi convidado a pernoitar num lar cristão. Aí, a hospedeira nãose poupou a esforços para lhe preparar um leito confortável. O jovemendireitou-se orgulhosamente e anunciou que já não dormia em camas. Eletinha-se esquecido — ou nunca havia aprendido — que Paulo sabia tanto ternecessidade como ter abundância. Este equilíbrio é difícil, mas é possível, namedida em que fazemos do amor o nosso caminho e de Cristo o nosso alvo.

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O ascetismo não chega a ser um problema tão grande como o seuoposto — preguiça e comodismo. Este é um dos perigos mais fatais para ocristão de responsabilidade independente. A disciplina é-nos benéfica, a pre-guiça é um grande pecado. Uma razão por que a igreja carece de soldados deinfantaria é que lhe faltam pessoas que queiram trabalhar duramente. Oshomens de Neemias terminaram a sua tarefa, porque o seu "coração seinclinava a trabalhar". Quando a pressão dos deveres desaparece, a preguiçatorna-se um tremendo perigo para muitos cristãos.

Depois, há o sério perigo da desqualificação. Quando Deus começaa usá-lo de modo significativo, o diabo concentra-se na descoberta dealguma falha que possa explorar e tornar num escândalo. O Dr. AlanRedpath salientou que o pecado do rei Davi com Bate-Seba foi precedido doseu pecaminoso afastamento da batalha. Enquanto as suas tropas lutavamcom o inimigo, ele estava ocioso, e a sua descontração física e espiritual oexpôs à fúria da tentação que o arrastou para a luxúria indigna e o juízo deDeus.

Isto ilustra o perigo de se estar longe do lugar para o qual Deus noschamou, de quebrar a comunhão com o Senhor Jesus Cristo, de auto-indulgência e de crítica arrogante. Estes dão a Satanás a oportunidade deinvadir o nosso espírito e inflamar o pecado que desonrará a Deus earruinará o nosso testemunho. Embora o pecado possa ser perdoado, asconseqüências podem prejudicar o evangelho durante anos.

Os perigos continuam a rodear o cristão que vive na TerraPrometida, e temos de estar conscientes deles. Devemos lembrar o aviso em1 Coríntios 1O:12: "Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia."A provisão de Deus para nós no meio dos perigos é constante: "não vossobreveio tentação que não fosse humana; mas Deus é fiel.. - provera livra-mento" (1O:13). Escolha-a e a graça de Deus dar-lhe-á vitória.

O amor que vence

O Amor que Vence João 13:34 e 35, lemos estas palavras de Jesus:"Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como euvos amei, que também vós ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos quesois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros." Esta é a pedra detoque do cristianismo e a dinâmica da revolução que foi iniciada pelopróprio Jesus Cristo.

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Alguns cristãos dão a impressão de que têm lido mal este versículo.Aparentemente vêem-no assim: "Nisto todos conhecerão que sois meusdiscípulos, se não possuirdes quaisquer bens." Ou " . . .se lerdes e trouxerdesas vossas Bíblias". Ou talvez " . . .se tiverdes uma sã doutrina".Ou mesmo"... se atravessardes a terra e o mar para ganhar almas para Cristo".

Mas Jesus não mencionou nenhuma destas coisas. Ele afirmou queexiste algo superior capaz de convencer o mundo de que nós somos Seusdiscípulos e isso é o amor que temos uns pelos outros. Não somos discípulosduma teoria, duma doutrina ou duma instituição, mas sim discípulos deJesus que ama! O Seu amor levou-O a dar a vida por nós, e é esse tipo deamor que se requer entre os seguidores de Jesus.

Por vezes, as pessoas perguntam-me: "Como é que você concebe oamor de Deus?" A minha resposta encontra-se em 1 João 3:16: "Nistoconhecemos o amor, em que Cristo deu a sua vida por nós". Como resultado,João afirma: " e devemos dar nossa vida pelos irmãos." Este é o amorsupremo, pois Jesus disse-nos: "Ninguém tem maior amor do que este: dedar alguém a própria vida em favor dos seus amigos"(João 15:13).

O amor é a essência do discípulado: é o muro que cerca o discípulo,o telhado que o protege e o soalho que o suporta. A Bíblia diz com toda aênfase: ainda que eu possa falar línguas de homens e de anjos, ter toda asabedoria, fazer tremendos sacrifícios, dar o meu corpo para ser queimado eabandonar tudo o que possuo, nada valho, se não tiver feito isso em amor.

Muitos de nós temos de admitir que conhecemos muito poucoacerca de pessoas que verdadeiramente amam. Sabemos que muitas vezesamamos por causa dos benefícios que recebemos. O amor divino éimparcial; ama o repelente e o que atrai, o pedinte e o príncipe.

Será realmente possível este amor? Será que ele funciona? Se eu meder por amor de outro, se "cair na terra e morrer" a fim de dar fruto, se menegar a mim mesmo, tomar a cruz e seguir a Jesus — fará isso umadiferença revolucionária? Ou transformar-me-á isso num fanático cego,correndo duma boa obra para outra, e sendo espezinhado pelos fortes?

Este amor é possível e muito prático. Não surge naturalmente, nemaparece instantaneamente num culto de consagração ou em qualquerexperiência particular. O amor autêntico vem de Deus, que é amor, edesenvolve-se na dura escola da vida, ao longo de muitos anos. Pode haveruma crise na apropriação do amor de Deus, mas segue-se então um processode expressão do amor, ou tudo se tornará num abcesso.

A Bíblia fala claramente sobre como adquirir e desenvolver o amorde Deus. A primeira coisa que ela me diz é que o amor é um fruto doEspírito (Gál. 5:22). Como cada cristão tem o Espírito, todos os cristãospodem ter este amor. Efésios 5:18 apresenta um dos poucos mandamentosacerca do Espírito Santo, no Novo Testamento: "E não vos embriagueis comvinho, no qual há dissolução; mas enchei-vos do Espírito." O encher provoca

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um transbordar que toca outras pessoas.Quais são as evidências de se estar cheio do Espírito? " . . .falando

entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais." Isto é alegria eencorajamento partilhados com outros cristãos. E também comunica comDeus ". . . cantando ao Senhor com graça em vosso coração; dando sempregraças a Deus por tudo." Estes sinais acompanham o amor dado peloEspírito Santo.

As Escrituras ensinam também que a oração . desenvolverá esteamor. Paulo constitui um exemplo para nós: "Por esta causa me ponho dejoelhos diante do Pai, . . . para que.. . vos conceda que sejais fortalecidoscom poder, mediante o seu Espírito. . . e conhecer o amor de Cristo queexcede todo entendimento" (Ef. 3:14,16,19).

A medida que o Senhor abençoa a pessoa por quem você orou, Eletrabalhará também no seu coração. Somos por vezes, parcialmenteresponsáveis pelas fraquezas dos outros, e as fraquezas na vida dum irmãopodem refletir fraquezas na nossa própria vida. Se eu tenho estado a notaralgo de errado no campo espiritual, através da oração poderei ajudar a mudaras coisas. Oremos fervorosamente pelas pessoas de quem não gostamos, ouque não compreendemos, e Deus fará alterações na situação. Temos muitosexemplos disto nas Escrituras, e somos exortados a orar por todos oshomens, mesmo pelos nossos inimigos, disse o Senhor Jesus.

Outro passo proveitoso é orar com a pessoa em questão. Se vocêestá tendo problemas com alguém da sua igreja ou grupo, tente orar com eleacerca de várias necessidades e alegrias. Este esforço no sentido de partilhare compreender será recompensado com comunhão e amor crescentes.

O amor de Deus acredita no melhor acerca das pessoas e dá odesconto a relatos e rumores. O amor compadece-se e auxilia. Talvez hajagraves problemas a embaraçar a pessoa. Uma saúde débil pode deixá-ladeprimida e inativa. O meio ambiente ou a hereditariedade podem controlar,ainda, o indivíduo. O fato de orarem juntos pode abrir o canal do amor e dasabedoria de Deus para ambos.

A crença na soberania de Deus habilita-nos a descansar na certezade que Ele é responsável por tudo o que está a acontecer na terra. Às vezes,o diabo parece estar ameaçadoramente perto, mas ele é fraco em comparaçãocom Deus que tem a Seu cargo as nossas vidas. Embora Satanás façaprogressos, não pode vencer o cristão que confia em Deus. O crente podedizer: "O Senhor está nisso". E procurar em Deus a saída. Filipenses 1:6assegura-nos que Deus começou a Sua obra em nós e a completará.

Um outro passo que desenvolve o amor é o interesse pessoal nobem-estar dos outros. Isto mostra-se tanto por palavras como por obras. Aatenção sincera constrói um laço que nos envolve na vida dos outros. Se apersonalidade de alguém choca com a sua, faça perguntas sobre os seus

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interesses comuns e procure coisas que você possa elogiar. Você verá que oamor brota do interesse, e poderá receber amor em resposta.

Alguns de nos caçoam das pessoas com muita facilidade: da formadas suas orelhas, do estilo das roupas, ou de maneirismos excêntricos. Asanedotas sobre outras pessoas são um bom divertimento, exceto quandoferem a vítima. Amy Carmichael disse:

"Se eu sinto prazer numa anedota à custa de outrem, se de algumamaneira humilho outra pessoa, em conversa ou mesmo em pensamento,então desconheço por completo o amor do calvário. Se menosprezo aquelesque sou chamada a servir, se falo dos seus pontos fracos em contraste comos que, na minha opinião, constituem o meu forte; se adoto uma atitude desuperioridade, esquecendo,'Quem te fez diferente? Que tens tu que nãotenhas recebido? ' então ignoro por completo o amor do calvário."

Um outro estímulo para o amor é dar algo a uma pessoa. Conta-se ahistória dum casal cujo matrimônio estava em ruínas. O marido nunca selembrava de aniversários e andava constantemente a queixar-se. Ela sentia-se cada vez mais desanimada. Um dia, inexplicavalmente, ele decidiu trazer-lhe algumas flores. Isso era uma coisa tão rara que, quando ele chegou àporta e lhe estendeu as flores, ela desatou num choro histérico. "Oh, que diahorrível!" - lamentou ela — "Tive problemas com as crianças durante todo odia, a máquina de lavar quebrou-se; a sopa queimou-se, e agora ainda venstu bêbado para casa!" Não espere tanto para restabelecer um convívio, aponto de a sua oferta não poder ser acreditada! Dê algo em ajuda prática, ouuma lembrança que mostre o seu cuidado. Quão cegos nós somos, às vezes,em relação às simples palavras das Escrituras! Jesus ordenou ao Seu povoque se ajudassem uns aos outros, dizendo: "Sempre que o fizestes a umdestes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes" (Mat. 25:4O). Esta é umapassagem revolucionária das Escrituras, e se a deixarmos penetrar dia a dianas nossas mentes, ela mudará as nossas vidas. Deus diz que a nossa atitudepara com o fraco e necessitado revela a que temos para com o Seu Filho. Istodeve conduzir-nos ao arrependimento. "Aquele que não ama a seu irmão, aquem vê, não pode amar a Deus a quem não vê" (1 João 4:2O).

E teremos nós esquecido a chamada Regra de Ouro? "Tudo quanto,pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei vós também a eles;porque esta é a lei, e os profetas" (Mateus 7:12). Este versículo oferece-nosuma maneira simples de aferirmos o nosso falar ou proceder: Ficaria eucontente com isto se me fosse dirigido? Isto eliminaria a cruel maledicênciae crítica destrutiva, e poupar-nos-ia de futuro juízo.

A Bíblia diz-nos que devemos corrigir alguém, quando fornecessário, rio espírito de amor. "Irmãos, se alguém for surpreendidonalguma falta, vós, que sois espirituais" — o que exclui um bom número decristãos — "corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que nãosejas também tentado" (Gál. 6:1). Amy Carmichael escreveu: "Se somos

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capazes de ir corrigir alguém sem sentir angústia no nosso coração, entãonão conhecemos nada do amor cio calvário." O amor descrito em 1 Coríntios13 não admite um coração alegre ante as falhas de outra pessoa. O amornunca fala com esta atitude: "Eu avisei-o; devia ter ouvido o que lhe disse!"Ele chora com os que choram e levanta os que caem.

No Seu amor, Deus pode transformar tristezas e fracassos, de modoa podermos ajudar e confortar os outros. Deus, diz Paulo, "consola-nos emtoda a tribulação, para que também possamos consolar os que estiverem emalguma tribulação, com a consolação com que nós mesmos somosconsolados de Deus" (2 Cor. 1:4). Como é que uma mulher que teve quatrofilhos, sem complicações nos partos, nem problemas durante o crescimento,será capaz de ajudar outra que teve três bebês mortos e que agora tem umacriança aleijada? Ela não está preparada para esta oportunidade. Mas umaoutra que perdeu, ela própria, um filho, ou que sofreu profundamente dequalquer outro modo, pode comunicar a sua experiência do amor de Deus.Pode falar, diretamente mas com compaixão, àquela que está sofrendo.

Repreender a exortar outro cristão é uma das coisas mais difíceis defazer devidamente. É mais fácil passar por alto essa falta, mas o amor, porvezes, tem que corrigir. Amy Carmichael comenta: "Se tenho medo de dizera verdade com receio de perder afeto, ou de que a pessoa em causa diga: "Tunão compreendes", ou se temo perdera minha reputação de pessoa amável;se ponho o meu nome acima do maior bem do meu semelhante, então nãoconheço nada do amor do calvário."

O amor atua. Quando vejo uma criancinha correr em direção a umarua de movimento, não me limito a presenciar e a sugerir: "Não seria melhorvocê ficar no passeio?" Entro em ação. Agarro a criança e tiro-a da rua, a fimde que a sua vida possa ser salva. A Bíblia diz que temos de arrebatar oshomens do fogo do inferno. Considerar tal ação demasiado drástica é ter umconceito errado do amor.

O amor de Jesus não era do tipo do de Hollywood. O Seu amorlevou-O a servir. Eu creio que foi também o amor que levou Jesus ao templopara purificar toda a confusão mercenária e expulsar violentamente osavarentos comerciantes. Era o amor pela Justiça; era o amor por aqueles queestavam a ser defraudados. O Seu amor levou-O à ação durante toda a Suavida.

O amor cresce — quando é exercido. Providenciar o amor que tudovence é da competência de Deus; expressar tal amor é nossaresponsabilidade. À medida que andarmos com Deus, Ele nos fará ter porcerto "de que aquele que começou boa obra, em vós há de completá-la até odia de Jesus Cristo" (Fil. 1:6). E Deus agirá nas vidas de outros pelo amor,pois o Seu perfeito amor nunca falha.

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Quando Estou Fraco

Muitos jovens começam o serviço cristão convencidos de que são

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crentes dedicados e fiéis. Foram encorajados a pensar assim pelos elogiosdos amigos ou oficiais da Igreja. E talvez realmente eles se tivessem erguidoacima do cristão médio à sua volta Mas o serviço na linha de fogo torna-oscada vez mais conscientes das palavras de Jesus: "Sem mim, nada podeisfazer" (João 15:5).

Todos os obreiros cristãos chegam a determinada altura — se sãohonestos — ao ponto em que já não podem afirmar naturalmente a suadedicação ao Senhor. Reconhecem simplesmente, sem qualquer dúvida, quenão são Hudson Taylor, George Muller ou C.T. Studd. O resultado pode seruma depressão extrema: uma vez que constantemente fracassam quandotentam grandes façanhas, concluem que não há qualquer esperança para eles.

Existe um antídoto para isso. Robert Murray M'Cheyne disse um diaque, por cada olhadela que dava a si mesmo, olhava dez vezes para o SenhorJesus: Ele tinha deixado de ter esperança em si mesmo, mas a sua esperançaem Cristo era ilimitada! Para M'Cheyne e para nós pode ser necessário umfracasso total para nos levar à convicção de que a nossa única esperança estáem Jesus! E não é Jesus mais dinheiro, ou Jesus mais uma organizaçãoeficiente, ou equipamento próprio, mas só Jesus!

Graças ao apóstolo Paulo, temos um exemplo que tem provado estecaminho para a vitória. "E disse-me: A minha graça te basta, porque o poderse aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nasfraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo" (2 Coríntios12:9).

Quando você estiver numa situação difícil, quando os demônios dadiscórdia, crítica, desentendimentos e confusão o esmagarem, como seestivesse sendo espremido, recorde estas palavras: "A minha graça te basta."Sem este conhecimento e confiança você não pode sobreviver ao combateque espera o discípulo de Cristo.

Poderá o custo da peleja cristã ser menor que o de nações emconflito? Se é, então não é peleja. Alexandre Duff, o santo de Deus escocês,conhecia o preço. Chorando enquanto enfrentava a multidão, ele perguntouse a Escócia tinha mais filhos para dar. "Quando a rainha Vitória pedevoluntários para a índia, centenas respondem" — lembrou ele — "masquando o Rei Jesus chama, ninguém vai." O silêncio foi total."Se não háninguém que vá" - continuou ele — "então, eu voltarei lá. Irei e deixarei osmeus ossos junto do Ganges, para que a índia saiba que a Escócia tem aomenos um que se interessa por ela".

Quer permaneçamos em casa ou vamos para o estrangeiro, o apelode Cristo às nossas vidas é uma chamada à batalha. O inimigo é poderoso;ele arrasta e engana as almas para o inferno; ele devasta as esperanças e osplanos dos homens na terra. Todavia, Jesus pode derrotá-lo através dequalquer cristão que env ergue a sua armadura espiritual (Ef. 6:11-18).Portanto, a nossa esperança está no todo suficiente Senhor Jesus, não em nós

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mesmos. Quaisquer que sejam as circunstâncias: "A minha graça te basta" éa promessa de Deus.

Alguém disse que "graça são as riquezas de Deus à custa de Cristo".Esta definição realça a grande dádiva que Deus nos concedeu por Cristo.São as riquezas do Deus infinito herdadas pela morte e ressurreição do SeuFilho. É realmente muito fácil tornarmo-nos indiferentes ao que Cristo fezpor nós na cruz. É de fato muito possível reunirmo-nos em torno da Mesa doSenhor, descuidadamente. Quando isto acontece, estamos a considerar denenhum valor as riquezas da graça de Deus!

Há uma outra maneira de tornar vã a graça de Deus; fazemo-loquando a menosprezamos. Se chegarmos ao ponto de desesperar e dizer: "ÓDeus, o que é que adianta? Eu não posso ir mais além — e tu também nãome podes ajudar" — estamos a negar a graça de Deus. E, precisamente nessemomento, nós poderíamos descobrir que a Sua graça, a Sua suficiência, aSua vida e o Seu poder estão ao nosso alcance para nos levar até ao fim. Istoé trágico e pecaminoso.

As exigências e padrões de Cristo são, sem dúvida, extremas — defato, impossíveis. Mas Jesus não nos pede que vivamos a vida cristã; pede-nos, sim, que O deixemos vivê-la em nós. Não houve graça para o homemque se considerava a si mesmo justo e que orou: "Graças te dou, Senhor,porque não sou como os demais". Mas houve graça para aquele que clamou:"Sou um pecador; Senhor, tem misericórdia de mim!" A completasuficiência do Senhor Jesus Cristo compensa a nossa deficiência. Nãopodemos ganhar a Sua graça; só a podemos obter, indo vazios à cruz.

Paulo afirma uma grande verdade em Colossenses 2:9,1O:"Porquanto nele (Cristo) habita corporalmente toda a plenitude daDivindade. Também nele estais aperfeiçoados". Perfeitos! Estaremosconscientes disto quando lutamos por adquirir uma boa reputação?

Estaremos conscientes disto quando alguém nos priva deconsideração? Estaremos conscientes disto quando não nos sentimos àvontade num grupo? Talvez nos sintamos pior quando sofremos perseguiçãoou doença por servirmos a Deus. Ou poderemos desfalecer na cadeia poramor da justiça. Os nossos planos falham; o nosso testemunho é rejeitado.Como nos sentimos então?

Estais perfeitos em Cristo! A nossa perfeição não está em Cristomais amigos, em Cristo mais serviço, em Cristo mais posição, em Cristomais almas salvas. Estamos perfeitos só em Jesus. NEle está toda aplenitude, por isso Jesus é tudo o que precisamos. Tudo o mais pode falhar:Jesus nunca nos deixará. Nem abandonará.

Surja o que surgir para nos desencorajar, podemos fazer eco daconvicção de Paulo: Jesus é suficiente para o que quer que seja. A questãonão está na Sua suficiência, mas só na nossa confiança nEle. Nós não somos

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capazes de avançar, simplesmente, não conseguiremos! Poderemos quererdesistir: o Senhor está a pedir demasiado de nós! Em qualquer ocasião, Ele ésuficiente. Ele diz-nos: "Estais perfeitos em mim." Fomos feitos agradáveis aDeus, em Cristo, o Amado.

Todos buscamos aceitação; todos desejamos que necessitem, gosteme cuidem de nós.

Se esperamos vir a encontrar o marido ou a esposa ideal parasatisfazer essas necessidades, iremos ficar desapontados. Nem mesmo ummarido ou uma esposa pode preencher os anseios mais profundos do nossocoração, porque fomos feitos para Deus. Só Ele pode baixar até nós e encheresse profundo vazio; só Ele pode satisfazer.

Em Jesus Cristo, somos agora aceitos por Deus. Fomos aceitos, nãopor um grupo social, mas pelo Deus infinito. Fomos aceitos, não na nossavirtude manchada, mas no perfeito Senhor Jesus Cristo. Com esta confiançaa motivar-nos, nada nas alturas, ou nas profundezas, na vida ou na morte,nem em todo o universo, nos pode fazer parar, porque nada Lhe pode resistir.A Sua graça abundante e transbordante é nossa — se a quisermos receber.

Passos para a Revolução

Depois de ler estas páginas, você poderá perguntar a si mesmo: "Oque é que eu vou fazer agora?" Ler acerca da total suficiência de Jesus Cristoé uma coisa, obtê-la e experimentá-la na sua vida é outra.

Mais do que qualquer outra coisa, este livro constitui um apelo e umguia para a autenticidade da vida cristã. O padrão do cristianismo vivodescrito nestas páginas não se atingirá facilmente. Não ocorrerá atravésduma breve oração de entrega, ou por qualquer espécie de experiênciacrucial. Deus pode usar uma crise para sacudir o cristão para a ação, mas énecessário uma crise mais um processo para o manter em movimento comodiscípulo revolucionário de Jesus Cristo. A fim de que este livro se tornesignificativo para você, você terá de "declarar uma revolução pessoal". Istoexigirá toda a sua dedicação e a aplicação de todos os meios de graçaoferecidos na Palavra de Deus. Não pode haver uma revolução para aquelesque meramente "entram no jogo" ou se deixam ir na onda. Nem a revoluçãoé possível para o cristão que não está disposto a negar-se a si mesmo, atomar diariamente a sua cruz e a seguir a Jesus.

Não estamos prontos para a revolução, se ainda não nosapercebemos da esquizofrenia em nós e à nossa volta. Deus tem de nosconvencer de que "o coração é enganoso mais do que todas as coisas edesesperadamente perverso". O nevoeiro espiritual deste mundo penetra nosnossos corações e só Deus pode dissipá-lo em resposta à oração fervorosa.

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Se queremos aprontar-nos para a revolução, temos de admitir quesomos culpados por não vivermos uma vida cristã dinâmica. Cristo vivedentro do cristão, e Ele é o revolucionário. Temos de estar dispostos amorrer para os nossos próprios interesses e determinação, e deixar queCristo viva a Sua vida através de nós.

Muitos cristãos entram no ministério, nos campos missionários enoutros lugares de serviço cristão, sem estarem espiritualmente preparados.Temos de reconhecer que estamos em território perigoso, se o serviço quefazemos para Deus nos leva além da nossa experiência com Ele. Satanás estálá, pronto para nos atacar — e nós somos muito vulneráveis. A vidaespiritual revolucionária emana duma profunda relação e experiência comDeus, que faz do discípulo um fiel soldado de Cristo.

Estou absolutamente convencido de que os cristãos que dão osseguintes passos para a revolução descobrirão que eles "dão resultado". Elessão eficazes, porque o cristianismo é eficaz. Estes passos são princípiosbíblicos básicos que Jesus Cristo e os apóstolos repetidamente salientaramperante aqueles que queriam ser discípulos de Jesus.

1. Uma revolução na nossa vida de oração. Um dos maisdeprimentes sinais na igreja de hoje é a falta de oração tanto a sós como emgrupos. É quase incrível ver quão pouco a igreja evangélica em geral seapóia na oração para fazer a obra de Deus. Quando há uma reunião deoração, só um pequeno número participa. Noites de oração, reuniões deoração nos lares, dias de oração e jejum— uma parte tão importante daIgreja primitiva — parecem não ser mais que relíquias cristãs, hoje em dia.Porque estão ocupadas, as pessoas convencem-se de que estão demasiadoocupadas para orar. A Igreja tem procurado inúmeros substitutos para aoração a fim de levar a cabo o trabalho que só pode ser feito através daoração.

Se levarmos a sério o fato de sermos revolucionários espirituais,temos de decidir aprender a orar! Há muitos livros excelentes sobre oassunto, mas não há nada que substitua o ajoelharmo-nos e começarmos aorar. Samuel Chadwick disse: "A única preocupação do diabo é afastar ossantos da oração. Ele nada receia de estudos sem oração, de trabalho semoração, de religião sem oração. Ri-se do nosso labor, troça da nossasabedoria, mas treme quando oramos."

O cume do monte da nossa vida de oração será adoração. Todos osdias se deve reservar tempo específico para subir ao cume da realidadeespiritual através da adoração, louvor e ação de graças. O rei Davi declarou:"Louvarei com cânticos o nome de Deus, exaltá-lo-ei com ações de graça.Será isto muito mais agradável ao Senhor do que um boi ou um novilho comchifres e unhas" (Salmo 69:3O,31).

A autenticidade no culto criará uma revolução espiritual no homeminterior, algo que poucas pessoas têm experimentado no século vinte. Não se

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conseguirá num ano ou dois, nem talvez em dez ou vinte. Contudo, uma vezque esta é a mais alta chamada do cristão, vale bem a pena, seja qual for onúmero de anos, chegar a conhecer a realidade no culto diário. Não háaspecto mais importante do que esta na revolução espiritual.

Há um sentido em que nós podemos "orar sem cessar", e fazeroração e louvar a Deus a qualquer hora do dia. Contudo, há também anecessidade de nos separarmos a nós mesmos dos outros seres humanos e deficarmos a sós com Deus. Toda a Igreja e a causa de Cristo ao redor domundo estão a sofrer por falta deste tipo de oração. Se a única resposta dadaa este livro fosse a determinação de separar todos os dias um períododefinido para oração, louvor e deleite na Palavra de Deus, o livro seriaeminentemente bem sucedido. Pois pela oração podemos chegar a ver osoutros princípios da revolução espiritual, os quais nos levarão de vitória emvitória, na medida em que a Palavra de Deus se mistura com a nossa fé.

2. Uma revolução no nosso estudo bíblico. Os revolucionáriosespirituais têm de se tornar a todo o custo "homens do livro". D.L. Moodydeclarou: "O pecado te fará evitar este Livro, ou este Livro te fará evitar opecado." A maior parte dos cristãos dá pouco valor à memorização emeditação da Palavra de Deus. Contrastando com isso, milhares demuçulmanos deixam as suas universidades com o Alcorão totalmentedecorado. Atores e atrizes decoram milhares de linhas para ganharem fama eriqueza. A despeito das recompensas espirituais prometidas aos estudantesda Palavra de Deus, poucos cristãos as buscam. O resultado são igrejaspovoadas por anões espirituais, alguns deles tendo estado a "crescer" há dezou vinte anos na fé.

Em alguns casos, os anões espirituais tomam-se líderes dacongregação, e o contraste com as igrejas do Novo Testamento é chocante.Se alguém chama a atenção para isso, é considerado um fanático, umextremista ou um intrometido.

Por outro lado, tenho encontrado por todo o mundo um crescentenúmero de crentes que estão cansados de comer miolo de pão e desejampenetrar na Palavra de Deus, dum modo novo e revolucionário. Contudo, oimportante não é tanto "penetrarmos nós na Palavra de Deus", como "aPalavra de Deus penetrar em nós!" Isto significa que devemos empenhar-nosem mais do que simples leitura da Bíblia; temos de meditar intensamente naPalavra de Deus,como o salmista nos ensina no Salmo 119:9,11.

O nosso estudo da Bíblia deve ser tão honesto e livre depreconceitos, quanto possível. Não podemos aproximar-nos da Palavra deDeus com o nosso ponto de vista favorito, esperando que a Bíblia derramenova luz. Temos de nos abeirar das Escrituras, com humildade e menteaberta, e tentar obedecer na nossa vida diária a cada verdade que láencontramos.

Um certo evangelista advertiu: "Nós temos pegado na Palavra de

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Deus, a Espada do Espírito, e temo-la usado para nos ferirmos uns aosoutros, em vez de avançarmos numa grande ofensiva em nome de Cristo: Émuito mais fácil guerrear por doutrinas prediletas e versículos favoritos, doque continuar a receber todo o conselho de Deus e avançar contra o inimigo.

Temos, não só de determinar obedecer aos versículos de quegostamos, ou que nos impressionam como sendo importantes, mas tambémestarmos prontos a obedecer aos versículos que, por vezes, nos chocam nosentido oposto.

Não raro estamos ansiosos por aceitar aqueles versículos que falamacerca de bênção, negligenciando os que falam de sofrimento. Recebemosalegremente a primeira parte de 1 João 3:16, "Nisto conhecemos o amor (deDeus), em que Cristo deu a sua vida por nós" — e o resto passa pela nossaconsciência e desaparece: "... e devemos dar nossa vida pelos irmãos". Aadmoestação seguinte também nos merece pouca atenção: "Ora, aquele quepossuir recursos deste mundo e vir a seu irmão padecer necessidade efechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? "

Isto também é Palavra de Deus! Que desculpa podemos dar por nãoatendermos ao mandamento "não amemos de palavra, nem de língua, mas defato e de verdade"? Obediência aqui é revolução!

3. Uma revolução de disciplina. Para muitos, disciplina é umapalavra desagradável. Contudo, a história da igreja não mostra qualquerhomem ou mulher sem disciplina que tivesse feito muito por Cristo. A basede apoio para a disciplina é a motivação, e a melhor motivação é o amor deCristo que constrange.

Cristo disse: "Se me amardes, guardareis os meus mandamentos." Edisse também: "Se guardardes a minha palavra, sereis verdadeiramente meusdiscípulos." Isto é um ponto crítico, como podemos verificar pelapreocupação de Paulo em 1 Coríntios 9:26,27: "Assim corro também eu, nãosem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro omeu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, nãovenha eu mesmo a ser desqualificado." Paulo era disciplinado, mas reco-nhecia o perigo de escorregar e cair em pecado.

A verdadeira disciplina é possível, somente por causa da promessade Deus. Nós achamo-nos incapazes de guardar um mandamento emespecial, ou de empenharmos numa forma de auto disciplina, mas podemosser apoiados por promessas tais como estas: "Tudo posso naquele que mefortalece" (Fil. 4:13). Para cada batalha e dificuldade na vida, há umaafirmação da graça e suficiência de Deus que nós podemos reivindicar.

Ouvimos falar cada vez mais nos círculos cristãos acerca duma vidavitoriosa que se obtém através duma teoria especial de santificação ou dumaexperiência de crise que inicia um descontraído e alegre passeio com Deus.Mas para cada versículo bíblico que fala de descanso, permanência,

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confiança e submissão à atuação de Deus em você, há uma outra palavra,bem perto, que fala de batalha, prova, obediência, e da necessidade deapresentarmos os nossos corpos como um sacrifício vivo parafazermos a vontade de Deus. Estes são complementares e essenciais parauma vida equilibrada.

Nós não pomos Josué contra Calebe por usarem terminologia econceitos diferentes ao desafiarem o povo a entrar na Terra Prometida. Orevolucionário espiritual aprende a ver o equilíbrio entre a ação de Deus e asua própria. Ele depende da força e sabedoria de Deus para operar a vida desalvação dentro de si.

Por exemplo, se amanhã de manhã você estiver na cama e orar paraque o Senhor o levante, provavelmente irá tomar o café da manhã muitotarde! O recitar "Não eu, mas Cristo" produzirá poucas mudanças, se nãoentrar em movimento. Mas se você se mover, a consciência de "Não eu, masCristo" produzirá resultados eternos pelo Espírito de Deus.

Uma das disciplinas importantes é o arrependimento. Quandopecamos ou falhamos, podemos recuperar-nos e prosseguir, seimediatamente encontrarmos perdão junto à cruz. Muitos cristãos têmdesfalecido em depressão e derrota por não terem aprendido a disciplina doarrependimento. Nem mesmo Jesus Cristo "sentiu " vontade de ir à cruz,mas foi porque nos amava e porque era obediente à vontade de Deus. Nóspodemos não "sentir" vontade de ir à cruz, mas iremos por causa do nossoamor a Cristo. Lá, receberemos perdão total e uma renovação jubilosa quenos capacitará para vivemos em disciplina.

4. Uma revolução de amor. Jesus Cristo disse que as pessoasconheceriam que os cristãos são seus discípulos, por causa do seu amor unspelos outros. A maior acusação contra o cristianismo evangélico é que oscristãos não têm evidenciado esta espécie de amor. Todavia, sempre quetenho visto este amor nuns poucos cristãos, isso me tem impressionadocomo sendo a expressão do cristianismo genuíno.

É admirável ver como o Senhor Jesus Cristo pode transformar umaalma sem amor e perdida. Tenho visto o poder desta revolução de amor emmuitos países. Se mais de entre nós entrassem e ateassem as chamas desteamor, creio que veríamos uma revolução espiritual por todo o mundo, nanossa geração. Isto não significa necessariamente a conversão de grandesmultidões, mas sim indivíduos por todo o lado transformados pelosprincípios revolucionários do Novo Testamento, e vivendo-os diante dosoutros.

Contudo, a não ser que "declaremos uma revolução" nas áreas davida já mencionadas, não veremos uma revolução de amor. Pois é só quandochegamos a conhecer Deus a um nível profundo e confiamos em Cristo afim de que Ele opere através de nós, que podemos receber e demonstrar

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amor revolucionário. Antes de experimentarmos realmente este amor, arevolução espiritual não irá muito longe.

Nada obstrui tanto o cristianismo revolucionário como o oposto doamor — ressentimento, inveja, ira, medo, ciúme e ódio. A tolerância mútuaevidenciada nos apertos de mão depois de um típico culto de domingo demanhã, também está longe do amor revolucionário que une irmãos emcomunhão dinâmica. No entanto, uma maior exibição de interesse uns pelosoutros não é a resposta autêntica; o amor revolucionário é o resultado daobediência a Cristo e da comunhão com Ele.

O maior impacto possível no mundo seria feito se os cristãos demuitas raças, ambientes, igrejas e temperamentos trabalhassem juntos emamor e harmonia com Jesus como Rei e Senhor. A Bíblia diz: "O amor lançafora o temor" e nós podíamos avançar na base desta promessa, verificandoque o amor divino lançaria fora o temor dos nossos corações — o temor daspessoas que não entendemos, que são duma raça diferente ou que prestamculto de maneira diversa.

Temos de abandonar completamente as nossas facções e trabalharcom todo o povo de Deus Temos de nos unir sob a bandeira do amor deCristo e as doutrinas fundamentais e princípios do cristianismo do NovoTestamento. O orgulho que despreza os cristãos fora do " nosso grupo1' teráde morrer na cruz, antes que possamos juntar-nos em revolução. Se qualquerde nós recebeu mais luz. exerceu mais dons ou recebeu mais atenções, issodeve demonstrar-se em mais humildade e mais amor.

Este é o princípio essencial do viver cristão e da revoluçãoespiritual; sem ele, não há poder.

5. Uma revolução de honestidade. Honestidade espiritual é uma dasnossas maiores necessidades. Nós, evangélicos, temos vindo a acostumar-nos cada vez mais às nossas máscaras religiosas, pretendendo ser uma coisae vivendo de modo completamente diferente. Isto tem-se prolongado portanto tempo, que agora dificilmente sabemos onde está a realidade. Poderávocê imaginar o que é que uma revolução de honestidade faria nas nossasigrejas? Se fôssemos honestos, muitos de nós teríamos de mudar as palavrasde "Avante Soldados Cristãos" em algo do seguinte teor:

Pra trás soldados cristãos, fugi da dura peleja, Fazei com que a cruzde Cristo neste mundo se não veja; Jesus nosso bom Senhor quer Satanásdestruir, Mas em frente para a batalha, nós recusamos seguir. Qual pesadatartaruga, move-se a Igreja de Deus;; Irmãos, nós marcamos passo na sendaque vai aos céus. Tantos corpos divididos no trabalho do Senhor, Tendodiferentes doutrinas, e carecendo de amor.

Coroas e tronos passam, e reinos perecerão, Mas a Igreja de Cristo éprocurada em vão; Portas do inferno sobre ela jamais hão de triunfar, É apromessa de Cristo que, cremos, irá falhar.

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Sentai-vos, povos, conosco, engrossai a multidão; Misturai as vossasvozes na nossa débil canção. Bênçãos, alívio e conforto a Cristo o Reisuplicai, Com o nosso pensar moderno o tempo desperdiçai.

Estas palavras poderão parecer duras, mas você encontrará palavrasmais fortes no Novo Testamento: "Conheço as tuas obras, que nem és frionem quente. Quem dera fosses frio, ou quente! Assim, porque és morno, enem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; poisdizes: Estou rico e abastado, e não preciso de cousa alguma, e nem sabes quetu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu" (Apoc. 3:15-17).

Temos de declarar guerra a esse tipo de auto-ilusão descrita nestesversículos. Para isso, temos de determinar tornarmo-nos espiritualmentehonestos. Temos de nos ver como somos, e temos de permitir que Deuscomece a produzir mudanças revolucionárias. Muitos de nós tentam vivernum nível espiritual especial, quando sabem que estão muito longe dele! Istoleva a todos os gêneros de irrealidade, confusão e, por vezes, até aesgotamentos nervosos.

Acontece também que o cristão mais ansioso por melhorar a suavida espiritual acaba tendo os maiores problemas - porque tenta ele própriomudar as coisas. A necessidade não é de extremistas espirituais, mas derevolucionários espirituais que conhecem a realidade do equilíbrio espiritual.O revolucionário espiritual sabe que, de acordo com Efésios 1:6, ele éplenamente aceito no Amado e, portanto, deixa de tentar ganhar méritoatravés da sua atividade espiritual. Reconhece que é um pecador, mas queem Cristo é vitorioso.

Os líderes cristãos podem cair nesta armadilha mais depressa do queo cristão em geral. Quando os crentes fazem dos seus líderes heróis, estespodem sentir-se forçados a representar os seus papéis, ao mesmo tempo quedesprezam a hipocrisia de tais atitudes. É um caminho muito pouco saudávele precário para se seguir. Uma das razões por que muitos jovens crentesabandonam a igreja e os seus pais, é a pretensão espiritual muito espalhada.Um jovem normal compreende que as falhas são inevitáveis, mas umaincoerência e desonestidade espiritual contínuas confundem-notremendamente. Alguns ficam tão revoltados com essa duplicidade que "de-sistem". Eles prefeririam conviver com um agnóstico "honesto", a viver àsombra de esquizofrenia espiritual. Poderá ser necessária uma revoluçãoespiritual para trazer estes rebeldes à comunhão da igreja. Eu desafio osrebeldes a seguirem a Cristo e a ajudarem a fazer surgir esta revolução.

6. Uma revolução de testemunho. Quando a revolução tem lugar nasáreas descritas, trará espontaneamente uma revolução de testemunho.Metade do mundo ainda permanece em trevas espirituais, no que se refere aoconhecimento de Jesus Cristo.

Ao avançarmos, temos muitas vezes seguido uma forma de

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cristianismo não revolucionária. A.W. Tozer escreveu: "A noção popular deque a primeira obrigação da Igreja é levar o Evangelho a todos os cantos daterra é falsa. A sua primeira obrigação é ser espiritualmente digna de odisseminar. . . Espalhar um tipo de cristianismo estéril e degenerado àsnações pagas não é cumprir os mandamentos do Senhor."

Tozer foi um profeta do século vinte que falou da parte de Deus nopúlpito e nos seus livros. Se pusermos em prática os princípios que eleapresentou (descontando o erro humano), veremos uma revolução espiritual.Isto, por seu lado, levará a testemunhar de todas as formas, o que agregariamuitas pessoas à Igreja do Senhor Jesus Cristo. Através da história, homensque tinham diferentes perspectivas teológicas têm vivido o mesmo tipo decristianismo dinâmico e revolucionário, e nós devemos ser capazes de largaras nossas armas explosivas doutrinárias e trabalharmos juntos naevangelização e revolução espiritual do mundo.

As Testemunhas de Jeová, com todas as suas falsas doutrinas,orgulham-se de serem noventa por cento ativas. Isto é, noventa por cento dosseus membros estão envolvidos em ação definida e testemunho. Quepoderemos nós dizer da mobilidade das nossas igrejas evangélicas? Emalgumas igrejas parece que só o pastor e talvez alguns outros sabem comoganhar almas para Cristo. Mas o Novo Testamento ensina claramente quecada crente em Cristo é uma testemunha. O fato de haver pessoas que têmvindo a Cristo apenas pela leitura duma porção de literatura cristã, deviamostrar-nos que nenhum cristão precisa chegar ao céu sem ter ajudadoalguém a ir para lá.

Há muitos meios de testemunhar e, embora alguns possam sermelhores do que outros, o ensino das é que devemos em primeiro lugartestemunhar através da vida e da palavra. Muito mais do que uma cruzada,um projeto especial ou um programa de ação evangelística, o verdadeirotestemunho é um jorrar espontâneo do Cristo que em nós habita.

Cessemos de nos agarrar às nossas fraquezas, timidez, falta detreino, temor, ou a qualquer outra desculpa, e comecemos a crer no Deus doimpossível que é perito no uso de vasos fracos. Não há um único cristão quenão possa tornar-se uma testemunha eficiente e revolucionária de JesusCristo, se realmente quiser.

Em conclusão, tenho dois pedidos a fazer. O primeiro é o maisimportante. Peço que se una comigo em arrependimento aos pés da cruz ecreia que Deus pode trazer uma revolução às nossas vidas e às vidas deoutros cristãos. Inclinemo-nos em arrependimento diário, reconhecendo osnossos fracassos e crendo em Deus para grandes e dinâmicas mudanças nosdias vindouros.

Segundo, peço-lhe que use alguns minutos e me escreva, 1expressando o que sente após a leitura destas páginas. Talvez este possa ser

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o seu primeiro ato de disciplina, depois de ler este livro. Eu sinto umprofundo desejo de orar por qualquer pessoa que deseja verdadeiramenteuma revolução espiritual no seu próprio coração e vida. Aqueles de nós quedesejam uma revolução espiritual no século vinte devem unir-se e trabalharjuntos para atingir este alvo. Deus está do nosso lado — e se Ele é por nós,quem será contra nós?

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1 Operação Mobilização Rua da Constituição, 14 Rio de Janeiro.

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Prezado leitor,

Se este livro o ajudou escreva à Editora Mundo Cristão, pois ela teminteresse em saber suas opiniões a respeito dele.

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