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ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio Introdução O presente relatório de estágio enquadra-se no 2º ano do Mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde lecionado pelo Instituto Universitário da Maia- ISMAI. O estágio teve uma duração de 250 horas. As horas foram realizadas na sua totalidade no Centro Geriátrico Comunitário e Lar da Terceira Idade Quintinha da Conceição, sob a supervisão do Professor Doutor José Martins e a orientação da Dr.ª Conceição Silva. Este, ocorreu entre Outubro de 2014 e Março de 2015 tendo como objetivo aplicar os conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso, contribuir para a aquisição de experiência e competências profissionais, refletir sobre as práticas e as aprendizagens no contacto com a realidade e promover a formação ética alicerçada com a componente teórica. Assim, o objetivo deste relatório é descrever de forma pormenorizada as atividades realizadas no âmbito do estágio, bem como, as dificuldades sentidas e as competências que foram desenvolvidas no decorrer do processo. Inicialmente, o relatório começa por apresentar uma breve descrição do contexto institucional, bem como qual o papel a desempenhar pelo Psicólogo Clínico e da Saúde na Quintinha da Conceição. No segundo capitulo, serão descritas as diversas atividades realizadas durante o estágio, nomeadamente observação de consultas clínicas, sessões de avaliação, consultas de intervenção psicológica e formações efetuadas.

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ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Introdução

O presente relatório de estágio enquadra-se no 2º ano do Mestrado em Psicologia

Clínica e da Saúde lecionado pelo Instituto Universitário da Maia- ISMAI.

O estágio teve uma duração de 250 horas. As horas foram realizadas na sua totalidade

no Centro Geriátrico Comunitário e Lar da Terceira Idade Quintinha da Conceição, sob a

supervisão do Professor Doutor José Martins e a orientação da Dr.ª Conceição Silva.

Este, ocorreu entre Outubro de 2014 e Março de 2015 tendo como objetivo aplicar os

conhecimentos teóricos adquiridos ao longo do curso, contribuir para a aquisição de

experiência e competências profissionais, refletir sobre as práticas e as aprendizagens no

contacto com a realidade e promover a formação ética alicerçada com a componente teórica.

Assim, o objetivo deste relatório é descrever de forma pormenorizada as atividades

realizadas no âmbito do estágio, bem como, as dificuldades sentidas e as competências que

foram desenvolvidas no decorrer do processo.

Inicialmente, o relatório começa por apresentar uma breve descrição do contexto

institucional, bem como qual o papel a desempenhar pelo Psicólogo Clínico e da Saúde na

Quintinha da Conceição. No segundo capitulo, serão descritas as diversas atividades

realizadas durante o estágio, nomeadamente observação de consultas clínicas, sessões de

avaliação, consultas de intervenção psicológica e formações efetuadas. Posteriormente, no

terceiro capítulo serão apresentados, de forma mais profunda e pormenorizada, dois casos

clínicos, contemplando diversas informações desde a sua avaliação à intervenção, e ainda a

sua conceptualização. Finalmente será efetuada uma breve reflexão acerca de todo o percurso

do estágio, bem como uma síntese das principais aprendizagens desenvolvidas na prática em

Psicologia, que serão fundamentais para o percurso profissional da estagiária.

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Índice

Agradecimentos ........................................................................................................................i

Resumo .................................................................................................................................. iii

Abstract ....................................................................................................................................iv

Índice .........................................................................................................................................v

Índice de Tabelas .....................................................................................................................vii

Índice de Figuras ....................................................................................................................viii

Índice de Anexos ...................................................................................................................... ix

Introdução..................................................................................................................................1

Capitulo I – Caracterização do Contexto Institucional e Organizacional do Local de Estágio

e dos seus Serviços de Psicologia...............................................................................................2

1.1. História, objetivos e descrição da Quintinha da Conceição.........................................2

1.1.1 Funcionamento e recursos......................................................................................3

1.2 Caraterização dos serviços de psicologia na instituição...............................................3

Capitulo II- Caraterização das atividades de observação, avaliação e de intervenção............5

2.1. Observação....................................................................................................................6

2.2. Caracterização Geral da Avaliação..............................................................................7

2.2.1 Avaliação................................................................................................................7

2.2.2 Descrição dos instrumentos de avaliação..............................................................8

2.2.3. Avaliação Psicológica em casos clínicos...............................................................9

2.3. Intervenção psicológica...............................................................................................10

2.3.1. Intervenção Psicológica em casos clínicos..........................................................10

2.4. Formações...................................................................................................................15

Capitulo III – Discussão e análise de dois casos práticos.......................................................15

3.1. Caso Ana......................................................................................................................16

3.1.1. Identificação sociodemográfica...........................................................................16

3.1.2. Motivo / Queixa principal....................................................................................16

3.1.3. Protocolo de avaliação........................................................................................16

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

3.1.4. Problema e história do problema........................................................................17

3.1.5. História de desenvolvimento psicossocial...........................................................18

3.1.6. Resultados dos Instrumentos de Avaliação..........................................................20

3.1.7. Diagnóstico Multiaxial........................................................................................21

3.1.8. Formulação Clínica.............................................................................................23

3.1.9. Plano de Intervenção:..........................................................................................26

3.1.9.1 - Objetivos Gerais....................................................................................26

3.1.9.2. Objetivos específicos...............................................................................26

3.1.9.3. Duração..................................................................................................27

3.1.9.3. Descrição da intervenção.......................................................................27

3.1.10. Ponto de Situação e prognóstico:......................................................................36

3.1.9.11. Reflexão crítica.....................................................................................37

4.1. Caso H.........................................................................................................................37

4.1.1. Identificação sociodemográfica...........................................................................37

4.1.2. Motivo / Queixa principal....................................................................................38

4.1.3. Protocolo de avaliação........................................................................................38

4.1.4. Problema e história do problema........................................................................38

4.1.5. História de desenvolvimento psicossocial...........................................................39

4.1.6. Resultados dos Instrumentos de Avaliação..........................................................40

4.1.7. Diagnóstico Multiaxial........................................................................................41

4.1.8. Formulação Clínica.............................................................................................41

4.1.9. Plano de Intervenção...........................................................................................43

4.1.9.1 - Objetivos Gerais....................................................................................43

4.1.9.2. Duração..................................................................................................43

4.1.9.3. Caracterização geral das estratégias e técnicas de intervenção............44

4.1.9.4. Objetivos específicos e respetivas estratégias........................................44

4.1.10. Ponto de Situação e prognóstico.......................................................................48

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

4.1.11. Reflexão crítica..................................................................................................48

Reflexão crítica do estágio.................................................................................................48

Referências...............................................................................................................................51

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Capitulo I – Caracterização do Contexto Institucional e Organizacional do Local de

Estágio e dos seus Serviços de Psicologia

1.1. História, objetivos e descrição da “Quintinha da Conceição”

Lar da terceira idade “Quintinha da Conceição”.

O lar da terceira idade “Quintinha da Conceição” entrou em funcionamento no ano de

1994, com o alvará nº 136, ao abrigo do nº 2 do artigo 8º do Decreto-Lei nº 30/89, de 24 de

Janeiro, em conjugação com o artigo 15º do mesmo Decreto-Lei, na Rua da Levadinha, nº112,

Pedrouços, concelho da Maia. Tendo como sócios-gerentes da instituição a Dra. Conceição

Silva e o Dr. Agostinho Sousa.

Desde a data da sua abertura foram feitas alterações de forma gradual à planta original,

no sentido da instituição ver a sua dimensão física ampliada, podendo assim receber mais

utentes. Assim, através do alvará nº 215 emitido a 27 de Setembro de 1999 por Serviço

C.D.S.S.S. – Porto, ao abrigo do nº 2 do artigo 18º e do nº 1 do artigo 25º do Decreto-Lei nº

133-A/91, de 30 de Maio, esta instituição passa a ter uma capacidade máxima de 33 utentes.

A instituição destina-se ao alojamento coletivo e prestação de serviços de acolhimento

de idosos e rege-se pelo Despacho Normativo nº 12/98, de 25 de Fevereiro e demais

legislação aplicável. Na instituição, encontram-se utentes com os mais distintos problemas

característicos da terceira idade, destacando-se antecedentes de Acidente Vascular Cerebral,

doença de Alzheimer, Depressão, Défices cognitivos, perda de memória, envelhecimento

normal, diabetes, hipertensão, problemas visuais, entre outros.

Os serviços prestados pelo Lar incluem: alojamento que pode ser em quarto duplo ou

individual, alimentação, cuidados de higiene pessoal, tratamento da roupa, atividades

ocupacionais, cuidados médicos e de enfermagem, administração da medicação, marcação de

consultas de especialidade e, quando necessário, o respetivo acompanhamento psicológico.

Poderão ainda ser prestados os serviços de cabeleireiro, serviços específicos de

manicura e pedicura, programas de estimulação cognitiva, e excursões em transporte

contratado. Possui um regulamento interno, no qual estão descritas as normas a respeitar por

todos os integrantes da instituição, para o bom funcionamento da mesma.

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Centro geriátrico e comunitário “Quintinha da Conceição”.

O Centro Geriátrico Comunitário “Quintinha da Conceição” situa-se na Rua da

Levadinha, nº 178 e 182, na Freguesia de Pedrouços, Concelho da Maia, com o parecer

técnico da segurança Social nº 076172, possuindo os alvarás da Segurança Social para a

valência de Lar N.º 10/2006 e para a valência de apoio domiciliário o N.º 11/2006. Os sócios-

gerentes da instituição são a Dra. Conceição Silva e Dr. Agostinho Sousa. Este segundo Pólo

apareceu em Abril de 2006, sendo uma ampliação do já existente Lar da Terceira Idade

“Quintinha da Conceição”, podendo assim a instituição albergar um maior número de idosos.

No centro, encontram-se utentes com os mais variados problemas característicos da

terceira idade, destacando-se os antecedentes de Acidente Vascular Cerebral, doença de

Alzheimer, Esquizofrenia, défices cognitivos, perda de memória, envelhecimento normal,

diabetes, hipertensão, problemas visuais, entre outros. A instituição tem uma capacidade de

“Lar da Terceira Idade e Acolhimento Temporário” para 35 utentes.

Objetivos Institucionais

O Lar da Terceira idade e o Centro Geriátrico Comunitário “Quintinha da Conceição” têm

como principal objetivo contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos seus utentes,

assegurando-lhes o acesso aos serviços prestados.

De uma forma geral os objetivos centrais desta instituição são: garantir uma solução

residencial sénior de elevada qualidade; Defender a privacidade dos seus residentes; Ter uma

prestação de cuidados Humanizada; Manter o vínculo dos residentes com a família;

Possibilitar, a disponibilidade da prestação de cuidados de saúde mais diferenciados. Inserido

neste complexo, como complemento das valências referidas, existe o Clube de Saúde.

Clube de saúde.

O Clube de Saúde “Quintinha da Conceição” organiza atividades em grupo como por

exemplo:

Hidroginástica Sénior, Tai – Chi – Chuan, Musicoterapia, Caminhadas, Ginástica Localizada.

1.1.1 Funcionamento e recursos

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Funcionamento e Organização da Instituição

O lar da Terceira Idade situa-se num ambiente urbano periférico e, apresenta-se como

uma moradia unifamiliar à qual foi adaptada para poder reunir as condições necessárias para a

criação de infraestruturas possíveis com lotação máxima de 33 pessoas, de acordo com o

alvará nº215 da Segurança Social.

Relativamente ao espaço interior, o lar dispõe de dois pisos, o resto-chão e o primeiro

andar, num total existem dezasseis quartos duplos e um individual para regime de

internamento e, dois quartos para centro de dia com acolhimento temporário. Ambos os pisos

apresentam uma sala comum, uma copa e duas casas de banho. A acessibilidade entre os pisos

é feita através de uma cadeira elevatória e de uma plataforma de escada. No que toca ao

espaço exterior, o lar possui um jardim e um pátio com acessibilidade ao interior do mesmo

através de rampas.

1.2 Caracterização dos serviços de psicologia e do papel do psicólogo na instituição

O papel do psicólogo clínico numa instituição como a Quintinha da Conceição prende-

se com a avaliação psicológica e elaboração de relatórios clínicos, acompanhamento

psicológico individual ou de grupo, participação em ações de formação, elaboração de

projetos.

Neste contexto, de acordo com a American Psychological Association (2014) os

psicólogos clínicos podem estar envolvidos em pesquisas, ensino e supervisão,

desenvolvimento e avaliação de programas, consultas, implementação de políticas públicas,

prática profissional e outras atividades que promovam a saúde psicológica em indivíduos,

famílias e grupos. Os Profissionais de Psicologia Clínica podem trabalhar diretamente com

indivíduos em todos os níveis de desenvolvimento, bem como com grupos (famílias,

pacientes de psicopatologia semelhante e organizações), utilizando uma ampla gama de

métodos de avaliação e de intervenção para promover a saúde mental e para aliviar o

desconforto e o desajustamento (APA, 2014).

Capitulo II- Caraterização das atividades de observação, avaliação e de intervenção

Durante o percurso de estágio a estagiária desempenhou funções através de atividades

de observação, avaliação e intervenção. Esta situação ocorreu sob a orientação da Psicóloga

Clínica, Dra. Conceição Silva e acompanhada pela Psicóloga Clinica e da Saúde Francisca

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Silva, e sob a supervisão do Dr. José Martins. Assim, percebe-se a relevância da realização

das reuniões com a orientadora de estágio, bem como das reuniões semanais com o

supervisor.

Estas reuniões contribuíram para que a estagiária pudesse desenvolver competências

ao nível da comunicação, trabalho de equipa, resolução de problemas, contacto com diversas

perspetivas e naturalmente desenvolver um maior conhecimento na área da psicologia.

Concretamente, as reuniões com a Dra. Francisca Silva tinham como objetivos refletir sobre

diversos casos clínicos acompanhados pela estagiária, esclarecer dúvidas e discutir ideias

sobre formas mais adequadas em termos de intervenção efetuada ou a desenvolver. Desta

forma, foi possível a estagiária atingir os objetivos propostos descritos no seu plano de estágio

(anexo2).

2.1. Observação

As primeiras semanas foram dedicadas à observação do cotidiano do centro, e foi este o

ponto de início para o conhecimento e compreensão tanto de todos os utentes e funcionários

do Lar, como de toda a dinâmica institucional. Esta primeira fase de observação foi essencial

para a integração na instituição, pois assim foi mais simples planificar o trabalho que era

necessário fazer posteriormente.

Posteriormente, comecei a assistir a consultas e intervenções psicológicas, existindo

sempre o cuidado de obter autorização prévia dos utentes. Assim a estagiária teve a

possibilidade de entrar em contacto com a realidade da consulta psicológica. De uma forma

geral os utentes reagiram muito bem e não demonstraram grande constrangimento pela

presença da estagiária. Assim, após ter sido pedida autorização prévia e garantida a

confidencialidade, foram sendo efetuados registos de aspetos relacionados com a consulta.

Relativamente aos casos observados foram realizados relatórios de consulta, contendo

todas as informações referentes ao mesmo. Foi também possível, no final de cada consulta,

discutir com a orientadora a evolução dos casos, a importância de uma escuta ativa e

incondicional relativamente aos acontecimentos de vida que provocam sofrimento ou stress,

os aspetos que foram trabalhados na consulta, bem como planear o que deveria ser feito de

seguida. Isto possibilitou ao estagiário uma evolução do raciocínio clinico sobre os casos,

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permitindo aumentar o seu conhecimento nas diferentes terapias e técnicas associadas.

Foi necessário conhecer individualmente cada utente, com a elaboração de uma

entrevista semiestruturada e alguns testes de rastreio Mini-Mental State Examination, Escala

de Depressão Geriátrica, Teste do Relógio e escalas de avaliação das atividades da vida diária.

Este rastreio foi feito a alguns utentes e teve como objetivo o conhecimento mais

detalhado da população a trabalhar, conhecendo assim as suas competências, recursos e

características pessoais.

As principais atividades realizadas durante o estágio foram as seguintes:

(1) Contacto geral com as diversas problemáticas do serviço;

(2) Dar continuidade aos trabalhos iniciados anteriormente pelos profissionais da mesma área

neste serviço;

(3) Criar uma perspetiva alargada sobre a contribuição dos psicólogos num serviço deste tipo;

(4) Desenvolvimento e Promoção uma vida ativa e saudável potenciando o aumento qualidade

de vida do/a idoso/a institucionalizado;

(5) Efetuar avaliação e intervenção psicológica;

Aspetos cognitivos do envelhecimento:

- Velhice e aprendizagem

- Avaliação das funções cognitivas

- Estimulação das funções cognitivas: Preservar ou melhorar o desempenho ou as funções

cognitivas das pessoas, tais como a memória, a atenção, o raciocínio, a capacidade de

resolução de problemas, entre outras;

(6) Auxiliar e Criar junto da educadora social e outros técnicos, atividades lúdicas e novos

projetos;

2.2. Caracterização Geral da Avaliação

A avaliação em Psicologia Clínica envolve a determinação da natureza, causas e

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

efeitos potenciais de angústia pessoal, de disfunções pessoais, sociais e de trabalho e os

fatores psicológicos associados com distúrbios físicos, comportamentais, emocionais,

nervosos e mentais. Exemplos de procedimentos de avaliação são as entrevistas, avaliações

comportamentais e a administração e interpretação dos testes de habilidades intelectuais,

aptidões, características pessoais, e outros aspetos da experiência humana e do

comportamento em relação à perturbação (APA, 2014).

2.2.1 Avaliação

Ao longo do estágio e após observação de avaliações efetuadas pela Dra. Francisca em

consultas, foi possível à estagiária, com supervisão, participar em sessões de avaliação, na

aplicação de instrumentos de avaliação e colaboração na cotação e elaboração dos respetivos

relatórios. Desta forma, foram desenvolvidas capacidades ao nível da recolha de informação,

de avaliação clínica de casos, bem como da elaboração de relatórios sucintos de avaliação que

permitissem de forma breve compreender a problemática e respetiva evolução. Para além

disso, a ajuda e acompanhamento das psicólogas estagiárias da ordem constante de todos os

casos, possibilitou uma discussão enriquecedora dos aspetos relacionados com os respetivos

diagnósticos.

Neste contexto, torna-se pertinente efetuar uma alusão à entrevista clinica. A fase

inicial da avaliação clinica consiste na realização da entrevista clínica (Anexo 4), onde se

procura estabelecer uma relação empática e um ambiente que facilite a comunicação. A

entrevista tem como objetivos a) explorar a história do sujeito (dados pessoais, história

clinica, antecedentes familiares e pessoais; antecedentes médicos e história do problema; b)

analisar a perceção do sujeito tal como se apresenta (e.g. gestos, orientação espacial e

temporal, gestos); c) registar as modalidades de comunicação (e. g. linguagem não verbal); d)

estudar o sistema relacional (e. g. principais figuras de vinculação e atitudes prante os outros);

e) analisar o pedido do utente; f) selecionar os testes em termos de avaliação psicológica mais

apropriados (Horvath, Del Re, Fluckger & Symonds, 2011; Leal, 2011; Leal, 2005; Ribeiro,

2010). Apesar da entrevista clínica ser um instrumento que possibilita a recolha de muita

informação, em termos de complemento foram ainda entregues, aos utentes, alguns

instrumentos específicos de avaliação psicológica adequados à problemática apresentada.

2.2.2 Descrição dos instrumentos de avaliação

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Durante o estágio efetuado no Centro e Lar Quintinha da Conceição, os instrumentos

de avaliação psicológica mais utilizados foram: o Mini-Mental State Examination (MMSE),

Escala de Depressão Geriátrica (GDS) e o Teste do Relógio. O instrumento menos utilizado

foi o Frontal Assessment Battery (FAB) e o Montreal Cognitive Assessment (MOCA).

O Mini Exame do Estado Mental (MEEM), exame breve do estado mental ou teste de

Folstein é um breve questionário usado para rastrear perdas cognitivas. É

comummente utilizado para o despiste na demência (Lourenço & Veras, 2006). É

também utilizado para estimar a severidade da perda cognitiva num momento

específico e seguir o curso de mudanças cognitivas num indivíduo através do tempo,

portanto fazendo dele um meio efetivo de documentar a resposta do indivíduo ao

tratamento. Por si só este teste não é adequado para fazer um diagnóstico, mas é útil

para indicar uma possível presença de demência (Thomas, 2010). Em cerca de 10

minutos mede funções incluindo Aritmética, Memória, e Orientação. As instruções

são simples e fáceis de compreender, tem uma pontuação máxima de 30 pontos, que

resultam da soma obtida em cada uma das sub-provas do teste. É um teste do

conhecimento de vários profissionais, por isso comunica-se de forma simplificada os

resultados (Thomas, 2010).

Escala de Depressão Geriátrica: É uma escala que pode ser de autoaplicação. Foi

elaborada para avaliar a depressão nos idosos tendo em conta as características

específicas da depressão nesta população. Permite detetar a intensidade do quadro

depressivo. A pontuação de 0 a 10 é considerada ausência de depressão, de, 11 a 20

depressão ligeira e de 21 a 30 depressão grave (Paradela, Lourenço & Veras, 2005).

Teste do Relógio: Trata-se de uma prova simples e rápida que visa avaliar a

compreensão da memória, noção espacial, abstração, planeamento, construção e

habilidade visuo-construtivas (Atalaia-Silva KC & Lourenço RA, 2008).

A FAB é uma ferramenta de rastreio e tem sido utilizada em vários grupos de

pacientes como utentes de Alzheimer, de Parkinson e em utentes com demência

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frontotemporal. É de aplicação rápida (10 minutos) e é constituída por seis subtestes

(Beato et al., 2007).

O MOCA é um teste de rastreio breve para o despiste do défice cognitivo ligeiro, tem

um total de 30 pontos (tal como no MMSE), que consiste na soma das pontuações

obtida em cada uma das sub-provas e é de rápida aplicação (+10/15minutos). Avalia

múltiplos domínios cognitivos, tais como: a capacidade visuo-espacial e executiva;

nomeação; memória imediata; atenção; linguagem; abstração; memória; evocação

diferida e orientação (temporal e espacial) (Simões et al., 2008).

Os testes neuropsicológicos de rastreio são caraterizados como sendo fáceis e rápidos de

aplicar e são extremamente importantes no apoio ao diagnóstico precoce da demência (Atalaia

- Silva & Lourenço, 2008).

2.2.3. Avaliação Psicológica em casos clínicos

Madalena (Nome Fictício), 84 anos, viúva, de nacionalidade Portuguesa, encontra-se

institucionalizada na Quintinha da Conceição em Pedrouços – Maia. Foi avaliada através de

uma entrevista, Mini Mental State (MMS) e Teste do Relógio.

De início teve alguns problemas de integração que foram rapidamente ultrapassados,

atualmente está perfeitamente integrada.

Durante a observação esteve vígil, o seu discurso foi organizado e coerente.

Estabeleceu uma relação empática e um grande interesse em colaborar.

Através da análise dos resultados obtidos verifica-se que não existe evidência de

deteorização da capacidade cognitiva nem de Organização Visuoespacial.

Em conclusão, e embora não existam evidências de deteorização cognitiva aconselha-

se a participação recorrente nas sessões de estimulação cognitiva bem como nas atividades

diariamente realizadas pelo Lar.

Rita (nome fictício), 72 anos, casada, antiga professora primária, é residente em

regime de interno no Centro Geriátrico Quintinha da Conceição desde há 5 anos. A seguinte

avaliação consistiu numa entrevista semiestruturada que utilizou os seguintes instrumentos de

avaliação: o MMSE (Mini Mental State Examination) e o FAB (Frontal Assessment Battery).

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Durante a observação esteve vígil, o seu discurso foi organizado e coerente.

Estabeleceu uma relação empática, mas não demonstrou grande vontade em colaborar. Dª

Rita apresentou-se um pouco apreensiva e recusou realizar os itens referentes à escrita e ao

desenho.

Tendo em conta os resultados obtidos, a nível cognitivo, Dª Rita apresentou

comprometimento cognitivo ligeiro com défice elevado a nível das funções executivas. Exibe-

se no entanto consciente apesar de desorientada.

Assim, de acordo com a avaliação realizada, verifica-se que Dª Rita mantém

preservadas as seguintes capacidades:

• A linguagem, compreensão, retenção e a autonomia ambiental.

Não exibindo desta forma dificuldades significativas a estes níveis. No entanto,

apresenta várias dificuldades a nível da:

• Evocação, atenção e cálculo, controle inibitório, sensibilidade à interferência,

programação, conceptualização e fluência lexical.

Ao concluir o processo avaliativo de Rita, importa referir que, face a esta avaliação, é

pertinente a utente beneficiar de maior estimulação quer a nível cognitivo, quer a nível social.

Procurando atenuar os momentos de evitamento e isolamento e evitar o declínio das

suas capacidades.

2.3. Intervenção psicológica

A Psicologia Clínica integra a ciência, teoria e prática para compreender, prever e

aliviar o desajustamento, incapacidade e desconforto, bem como promover a adaptação

humana, o ajustamento e desenvolvimento pessoal (APA, 2014; Kazdin & Blase, 2011).

2.3.1. Intervenção Psicológica em casos clínicos

De uma forma geral, a Psicóloga da Ordem em termos de intervenção, utilizou

preferencialmente a abordagem da terapia narrativa, demonstrando ser muito competente na

construção conversacional da mudança, facto que me permitiu na prática, aprender como

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

intervir utilizando a Terapia Narrativa, fruto de uma perspetiva construcionista do

funcionamento psicológico. Na terapia Narrativa há uma mobilização dos recursos da pessoa

no sentido de poder controlar os problemas. Trata-se de um modelo centrado na

reconfiguração dos problemas de forma a tornar mais o sujeito mais resistente aos aspetos que

a tornam vulnerável (Gonçalves, 2001; Gonçalves, 2008). Assim, a orientadora procurou

explorar a forma com as narrativas dominantes eram organizadas e contadas, pretendeu

promover uma transformação na natureza dessas histórias ou na forma de as narrar,

modificando a sua força na manutenção do problema.

Relativamente às técnicas mais utilizadas, a externalização foi a atitude de base,

pretendeu-se situar os problemas não no utente, mas sim, como algo separado e que exerce

influência sobre o utente, ou seja colocar os utentes à parte do problema. Através da

externalização foi possível promover uma libertação nos utentes e uma maior abertura para a

diversidade de outras narrativas. Implicou compreender os problemas psicológicos (e. g.

fracasso, ansiedade) como sendo externos. Assim, não se pretendeu promover o insight mas

sim o outsight dado que os problemas surgem devido aos constrangimentos sociais. A

externalização foi desenvolvida ao longo de toda a terapia nos casos em que os utentes tinham

o problema internalizado (e. g. estou deprimido). Nesse sentido, a orientadora analisava o

problema percebendo onde estava a narrativa problemática e efetuava um co-construção com

o utente do processo (Gonçalves, 2008). Utilizou-se também o modelo Cognitivo

Comportamental que, baseia-se na mudança comportamental e cognitiva, partindo do não são

as situações em si, que influenciam as emoções e os comportamentos mas sim a forma como

os utentes as encaram e interpretam. Desta forma, o objetivo do psicólogo consiste em aceder

a essas interpretações e auxiliar o utente a alterá-las, substituindo-as por outras mais

adaptativas. Estamos perante um tipo de terapia, onde a díade utente-psicólogo é mais ativa,

colaborando mutuamente no desenvolvimento de competências de compreensão da relação

existente entre situação, pensamento, emoção e comportamento, de forma a autonomizar o

utente (Beck, 2011).

Desta forma, foi possível desenvolver um conjunto de competências essenciais em

meio terapêutico, que possibilitassem uma melhor visão de cada caso e das respetivas

particularidades. As diversas problemáticas que surgiram em contexto de consulta

contribuíram igualmente para o desenvolvimento de competências, porque permitiram um

contacto próximo com diferentes técnicas em termos de intervenção. A possibilidade do

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

estagiário intervir autonomamente contribuiu para o desenvolvimento da sua autonomia,

colocar em prática os seus conhecimentos, constatar limitações, colocar dúvidas e aprender

num contexto que requer constante aprendizagem e atualização de técnicas e conhecimentos.

Desta forma, surgiu gradualmente evolução em termos de capacidades ao nível da terapia e

técnicas utilizadas, bem como do feedback proporcionado pelos utentes que contribuiu para

elevar os níveis de confiança da estagiária.

2.4 Formações

Durante o estágio, o estagiário teve a oportunidade de estar presente em várias

formações. Nos dias 28 e 29 de Novembro de 2014, participei nas “I Jornadas Internacionais

de Neurociências e Neuropsicologia da Avaliação à Intervenção “, realizada no Fórum da

Maia, com carga horária de 12 horas.

Ação de Formação teórica e prática, de INTERVENÇÃO SNOEZELEN “TEORIA E

PRÁTICA DA ESTIMULAÇÃO SENSORIAL”. A ação decorreu nos dias 7 e 8 de Fevereiro

de 2015. Teve a sua parte teórica em sala de formação e a parte prática em Sala Snoezelen.

Workshop “ Cuidar Melhor na Doença de Alzheimer- Lidar com as Alterações do

Comportamento e da Cognição” no dia 21 de Fevereiro de 2015, facultado pela Dra. Belina

Nunes da Clínica da Memória, realizado nas instalações da Culsen Cuidados Domiciliários na

Maia.

2.5 Outras Atividades

Sessões de Estimulação Cognitiva

As seguintes sessões em grupo descritas decorreram no Lar Quintinha da Conceição

com um pequeno grupo relativamente heterogéneo. Apesar do grupo escolhido ser constituído

por 9 pessoas, diferentes em capacidades e dificuldades, a escolha dos elementos não foi ao

acaso. Procurou-se incluir utentes com as capacidades relativamente preservadas e utentes

com algum défice cognitivo, já que, o principal objetivo é proporcionar um momento de lazer

e convívio. Naturalmente, também se procura com estas sessões estimular algumas

capacidades mentais como é exemplo a memória e raciocínio dos utentes. Assim, reajustaram-

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

se as temáticas às dificuldades do grupo e procurou-se incentivar o debate e a aprendizagem

do grupo.

Sessão 1:

Objetivo estimular a memória, o raciocínio, a atenção e concentração do grupo e a

partilha de opiniões. Para tal preparou-se a seguinte atividade:

1. Apresentação sobre o tópico “Portugal”. Nesta atividades preparou-se uma

apresentação PowerPoint relativa a Portugal, nomeadamente o Porto com o recurso a imagem

da cidade antigamente e como se encontra na atualidade.

Portanto, para se realizar a sessão criou-se um PowerPoint que continha várias

informações e imagens apelativas quanto ao tópico abordado. Assim, após exposto o tema,

realizaram-se algumas perguntas com o objetivo estimular a memória do grupo, recordando as

informações expostas e promover a partilha de experiências e opinião critico-construtiva.

Sessão 2 a 6:

Objetivo estimular a memória, o raciocínio, a atenção e concentração do grupo e a

partilha de opiniões. Para tal preparou-se a seguinte atividade:

1. Apresentação sobre o tópico “Vamos pensar um pouco”. Nesta atividades preparou-

se uma apresentação PowerPoint dinâmica e interativa. Existem três categorias: Frutos,

Provérbios e Músicas Portuguesas. O grupo tem de chegar a um consenso sobre a categoria

que deseja trabalhar. De acordo com a categoria que sair o participante escolhe um entre dez

slides. Os slides acerca dos frutos possuem características referentes a um fruto específico e

pede-se que o grupo adivinhe qual é. O mesmo se passa com os cartões sobre músicas, em que

ouvem o refrão de uma música, pretendendo-se que se adivinhe o nome desta e/ou nome do

cantor, e com os slides dos provérbios, pede-se a um dos participantes que leia o início do

Provérbio em voz alta e os outros tem de tentar adivinhar o resto caso não consigam são dadas

3 hipóteses de resposta e tem de discutir a que lhes parece melhor.

Jogo sócio recreativo – Bingo

Objetivos:

Estimular e manter o cérebro ativo;

Promover a concentração e a atenção;

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Preservação das capacidades;

Promover a interação grupal.

Grupo proporcionalmente heterogéneo, onde foram incluídos elementos com as aptidões

preservadas e elementos com algum défice cognitivo.

Assim sendo, e perante o resultado positivo obtido no momento em questão, passou-se a

realizar 1 a 2 vezes por semana, indo de encontro aos objetivos inicialmente descritos.

Dinâmicas de Grupo

Foram organizadas várias sessões de dinâmicas de grupo, dos mais variados temas onde

os participantes tiveram a hipótese de estimular e ao mesmo tempo trabalhar três dimensões

do funcionamento psicológico humano: a dimensão emotivo-afetiva, a cognitiva e a

experimental.

Os participantes nestas Dinâmicas de Grupo eram essencialmente os utentes com menor

grau de dependência, para poderem assim tirar o maior partido da experiência. Embora por

vezes existissem alguns participantes esporádicos com menos capacidades.

As Dinâmicas tiveram como objetivo principal a criação de empatia com os participantes

e também fomentar uma prática diferente de aprendizagem. Os jogos realizados através destas

dinâmicas de grupo estimularam processos que facilitam a tomada de consciência das

dimensões intrapsíquicas e relacionais do funcionamento humano. Tudo isto facilitará a

aquisição de novas formas de pensar e agir, e essencialmente de se relacionar com o outro. Há

então regras para a realização destas dinâmicas que tem como função deixar fluir o contacto

com os estímulos propostos. Assim os participantes ficam num ambiente mais amigável o que

os faz baixar as defesas e tornar-se mais liberto na participação nas atividades.

Biblioterapia

Leitura do conto “Cinderela” – Adaptado do Conto dos Irmãos Grimm

Objetivos:

Estimular e manter o cérebro ativo;

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Ativação da linguagem;

Promover a concentração e a atenção;

Preservação das capacidades;

Promover a interação grupal.

Assim sendo, e diante o resultado positivo adquirido no momento em questão, é pertinente e

aconselhável que o exercício se realize 1 a 2 vezes por semana, indo de encontro aos objetivos

inicialmente descritos, variando ao longo das sessões de vários tipos de histórias pedindo

sempre aos utentes a sua colaboração na escolha de uma história.

Terapia da Reminiscência/ Álbum de Recordações

A sessão de Terapia da Reminiscência ou de Revisão de Vida tem como objetivo guiar

progressivamente os utentes para a recordação detalhada de tudo o que é possível relativo à

sua vida, como forma de estimular a memória autobiográfica, preservar a sua identidade e

promover a interação social e a motivação e combater a apatia (Gonçalves, Albuquerque &

Martín, 2008). As sessões de Terapia da Reminiscência ocorrem semanalmente e são

realizadas em grupo também com um número de elementos reduzido, que foi selecionado

criteriosamente à priori. Nestas sessões são frequentemente usados recursos facilitadores

como fotografias, jornais, filmes e músicas antigas para levar os utentes a recordar aspetos

importantes da sua vida fazendo assim um álbum de recordações através da técnica de

scrapbooking (Art Therapy,2011). Cada sessão comporta um tema diferente, sendo que este

tem por base recordações significativas da vida dos utentes. Estes, ao longo das sessões vão

aumentando o conteúdo do seu álbum quer seja com fotos de familiares, viagens que já

fizeram, receitas de culinária ou até mesmo poemas da sua própria autoria.

Durante este tipo de intervenção, os utentes têm demonstrado capacidade para recuperar,

de forma estruturada, eventos do passado, evocar lembranças e partilhá-las com os restantes

elementos do grupo, o que tem gerado uma maior socialização.

Esta atividade baseada no método do scrapbooking foi realizada durante todo o estágio

sempre 1 a 2 vezes por semana. No término do álbum de recordações o objetivo seria ou

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

oferecer a um familiar, amigo ou cuidador para mostrar a riqueza e etapas que a vida têm para

oferecer, quer com momentos felizes ou mais complexos.

Musicoterapia

Objetivos: De acordo com a definição da Federação Mundial de Musicoterapia

(WFMT): "a Musicoterapia é a utilização da música e/ou de seus elementos (som, ritmo,

melodia e harmonia), por um musicoterapeuta qualificado, num processo sistematizado de

forma a facilitar e promover a comunicação, o relacionamento, a aprendizagem, a

mobilização, a expressão, e organização de processos psíquicos de um ou mais indivíduos

para que ele(s) recupere as suas funções, desenvolva(m) o seu potencial e adquira(m) melhor

qualidade de vida. A musicoterapia procura desenvolver potenciais e/ou restabelecer funções

do individuo para que este alcance uma melhor organização intra e/ou interpessoal e,

consequentemente, uma melhor qualidade de vida, através da prevenção, reabilitação ou

tratamento.

Destinatários: Todos os utentes que queiram participar

Dias/Duração: 1 vez por semana, durante 60 minutos

Recursos humanos: Professor com formação especializada na área.

Snoezelen

“Snoezelen significa SNUFFELEN = Ver e explorar; DOEZELEN = Relaxar, numa

sala equipada com rico material sensorial. Local maravilhoso, feito de luz, sons, cores,

texturas e aromas, onde os objetos são coloridos e disponibilizados para serem tocados e

admirados.

Encantam os que veem ou tocam desviando o seu stress e agressividade. Os sentidos

primários (visão, audição, tato, paladar, olfato) são estimulados dando sensação de prazer,

favorecendo o desenvolvimento intelectual (Amcip 2009).

Segundo Pinkney (1999), “o Snoezelen proporciona estímulos sensoriais para aguçar

os sentidos.” Durante a década passada, a aplicação clínica de Snoezelen estendeu-se desde o

campo da deficiência e dificuldades de aprendizagem até à atenção à demência. A justificação

do seu uso reside em proporcionar um ambiente sensorial com menos exigências sobre as

capacidades intelectuais enquanto se aproveitam as capacidades sensório motoras residual das

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

pessoas com demência, como também o asseguram os estudos de Marcus (1983),Hanley

(1988), descritos por Pinkney (1999).

Os doentes ao se exporem à terapia Snoezelen melhoram significativamente,

nomeadamente a nível dos comportamentos desajustados e agressivos, depressão, apatia e

perda de autonomia. Observaram-se mudanças significativas, em sentido positivo, no humor,

na relação interpessoal, na relação com o meio e ao nível comportamental.

Benefícios da terapia Snoezelen em pessoas Idosas

O principal objetivo nesta abordagem multissensorial é acompanhar a pessoa no

crescimento da aceitação da sua nova condição, na manutenção das suas capacidades e na

reabilitação, criando um contexto de calma e tranquilidade, motivador e desafiador, onde não

existem exigências, expetativas, mas um “lugar sagrado”, longe de todos os espaços comuns e

recolhido onde todos os sentidos e experiências proporcionadas só para si mesmo, o seu

tempo, as suas limitações, os seus sentimentos. Porque cada humano é único e irrepetível, e

mais do que incapacidades e deficiências, tem talentos e potencialidades que devem ser

melhorados e reforçados, para aumentar e permitir uma vida com mais qualidade (Montobbio

& Lepri, 2000). Pretende-se um “espaço multissensorial” dedicado ao cuidado dos idosos com

défices cognitivos, comportamentais ou físico-funcionais. Pela estimulação dos sentidos

podemos limitar o estado de desconforto físico e dor, aliviar a tensão emocional e

agressividade, reduzir o medo que vem do desconhecido e, ao mesmo tempo, tornar a pessoa

participante na descoberta de um mundo de luzes, sons, cheiros, sentimentos, emoções.

Jardim Sensorial

Jardim sensorial tem como objetivo estimular o desenvolvimento e perceção dos cinco

sentidos do corpo humano:

• O tato, através das texturas das diversas espécies de plantas,

• A audição, utilizando instrumentos musicais, e objetos metálicos

• A visão, através das cores exuberantes

• O olfato com os aromas das espécies, principalmente o aroma das ervas aromáticas

• O paladar através da degustação de frutos.

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Segundo especialistas, as ervas aromáticas possuem efeitos terapêuticos, entram

através das células sensíveis que cobrem as passagens nasais, chegando direto para o cérebro.

Desta forma tais ervas afetam as emoções, atuando no sistema límbico que também controla

as principais funções do corpo.

As ervas e temperos que podemos utilizar na montagem de um jardim sensorial, são

inúmeras e podem ser adequadas as diversas situações as quais o jardim se destinará

Objetivos: Estimulação sensorial e a diminuição dos níveis de ansiedade e de tensão. Permitir

a estimulação dos sentidos primários.

Destinatários: Todos os utentes que queiram participar

Dias/Duração: 2 x por semana durante 60 minutos

Participação em festividades.

O Centro Comunitário Geriátrico Quintinha da Conceição aposta na participação dos seus

utentes nas mais variadas festividades de modo a os fazer sentir parte integrante da sociedade.

Deste modo sempre que existe alguma data especial é feita uma comemoração adequada à

época. São feitos trabalhos manuais alusivos que posteriormente são vendidos às visitas e

funcionários com o fim de angariar fundos para novos materiais.

A primeira festividade onde estive presente foi no Magusto e a na Desfolhada, onde os

utentes assaram castanhas, desfizeram milho para cestos ao som de música popular e de um

grupo de música ao vivo que se dirigiu ao Lar de Terceira Idade Quintinha da Conceição. Na

festa de Natal foi realizada uma festa onde os utentes colaboraram nas em pequenas peças de

teatro e poemas, um coro também foi espalhar a sua alegria e magia quer no Centro Geriátrico

quer no Lar. No Dia dos Namorados foi feito atividades manuais que consistia num coração

em rolhas e pintado com tintas e na elaboração de biscoitos para venda. No Ano Novo junto

das estagiárias de Educação Social fez-se uma coleta de desejos para colar na parede de

entrada do Lar, cada utente espelhava o seu desejo para o ano que viria. No carnaval os

utentes foram convidados a se mascarar e a participar no cortejo de carnaval de Pedrouços.

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Em todas estas comemorações é sugerida a participação ativa de todos os funcionários,

família e amigos dos utentes.

A participação nestas festividades como estagiárias ajuda-nos a garantir uma maior

integração na instituição, o que facilita em muito o trabalho com os utentes.

Capitulo III – Descrição e análise de dois casos práticos

Neste capítulo serão discutidos dois casos práticos que foram seguidos

autonomamente pela estagiária, no Centro Geriátrico e no Lar Quintinha da Conceição. A

escolha dos casos teve por base dois critérios primordiais, nomeadamente ter sido uma

intervenção efetuada de forma autónoma embora sempre supervisionada pela orientadora de

estágio, para além da relevância clínica das problemáticas apresentadas. A conceptualização

dos casos foi baseada no modelo teórico Cognitivo-Comportamental, dado ser uma

abordagem que de acordo com a revisão da literatura apresenta eficácia e um maior número

de estudos efetuados relativamente à problemática em causa (Barlow, 2008; Butler, Chapman,

Forman, & Beck, 2006; Fairburn, Cooper & Shafran, 2003) como será explicado mais

adiante.

De modo a manter o princípio ético da confidencialidade, o nome dos utentes foi

alterado para proteger a confidencialidade dos mesmos.

3.1. Caso Ana

3.1.1. Identificação sociodemográfica

Ana, 76 anos, Viúva, de nacionalidade Portuguesa, Escolaridade 4ª Classe, Reformada e a

residir no Centro Geriátrico Comunitário Quintinha da Conceição. A utente veio com o

diagnóstico de Depressão Major.

3.1.2. Motivo / Queixa principal

A utente foi encaminhada a pedido do Centro Geriátrico Comunitário Quintinha da

Conceição pelo facto de ter falado/comentado com uma funcionária sobre a possibilidade de

suicidar-se, apresentava sintomatologia depressiva, tinha baixa-autoestima, apresentava

sentimentos de frustração e um luto muito presente no seu quotidiano.

3.1.3. Protocolo de avaliação

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Os instrumentos de avaliação utilizados pela estagiária de psicologia foram: A

entrevista clínica de forma a perceber a história clínica da utente e, consequentemente

perceber qual o seu problema e sintomatologia. Para além disso, utilizou o mini mental e o

teste do relógio para despiste de perdas de capacidades cognitivas, bem como a Escala de

Depressão Geriátrica (GDS) para identificar e avaliar a intensidade de um quadro clínico

depressivo associado ao problema atual. E um questionário sobre o luto de forma a perceber

de que forma realizou ou não as fases do Luto.

3.1.4. Problema e história do problema

O problema intensifica-se após o falecimento do seu companheiro. Ana, mãe de 2

filhos sempre viveu um casamento muito feliz.

Ana relata que o seu esposo era acima de tudo um amigo, um confidente uma alma

gémea e que a perda deste fez com que todo o seu mundo desabasse.

Após o falecimento do seu companheiro, começou-se a isolar em casa e deixou de ir

passear com amigos ou familiares.

Nesta altura, os filhos de Ana acharam por bem contratar uma empregada interna pois

a sua mãe ficou sozinha em casa.

Após alguns meses, Ana esperou que a sua empregada adormecesse e saiu de casa

tendo tomado uma dose excessiva de medicamentos com o intuito de se suicidar.

Com esta ocorrência e em concordância com Ana os seus filhos decidiram procurar

ajuda e um local onde a mãe tivesse atividades e conseguisse continuar com a sua vida de

forma pacífica.

Atualmente apresenta dificuldade em gerir situações relacionadas com o fato de não

poder sair da instituição sozinha e recentemente perguntou a uma funcionária se caísse do

segundo andar se morreria.

3.1.5. História de desenvolvimento psicossocial

Ana foi criada pelos pais, tendo uma história familiar feliz. O seu desenvolvimento

inicial foi normal, tendo iniciado o percurso escolar aos seis anos de idade, sem problemas de

adaptação. Acabou a 4ª classe com 10 anos e acabou deixou a escola, fato muito comum para

a época vivida na altura.

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Tem algumas memórias da infância e demostra que foi criada sempre com muito afeto

e carinho. Lembra-se que ainda em jovem passeava algumas vezes com as colegas dando

passeios pela calçada.

Na adolescência conta que era muito normal, gostava muito de passear junto da

companhia da mãe e passar tempo a ouvir as histórias de trabalho do pai.

Por esta altura, a mãe de Ana sofre uma depressão e começa-se a isolar-se muito na

sua casa, fato que abalou bastante o casamento dos seus pais.

Ana conheceu o seu companheiro na Adolescência, diz que foi um processo muito

normal e que os pais sempre se deram bem com do seu companheiro. Após alguns anos de

namoro, casou e teve 2 filhos. Os seus filhos são ambos Professores Universitários.

Ana revela muito orgulho nos seus filhos e diz que estes sempre tiveram toda a

liberdade quem por parte dela quer do seu companheiro. Ambos eram muito modernos e não

conservadores.

Conta que ao longo da sua vida passeou por diversos sítios, gostava de acampar e

viajar, diz que nunca presenciou ou viveu nenhum momento de violência quer com ela ou

com os filhos por parte do seu companheiro.

Atualmente, Ana encontra-se medicada para a sintomatologia depressiva tomando:

Lexotan que pertence ao grupo farmacoterapêutico dos ansiolíticos, sedativos e hipnóticos;

Mirtazapina que pertence ao grupo de medicamentos conhecidos como anti depressores;

Venlafaxina Sandoz é um medicamento antidepressivo que pertence a uma classe de

medicamentos designados por inibidores da recaptação da serotonina e norepinefrina (IRSNs)

e Lorenin que é um medicamento para a ajudar a tratar a sua ansiedade e para a ajudar a

dormir. Toma ainda, diariamente, medicação para o Colesterol (Sinvastatina); Omeprazol que

é um medicamento pertencente à classe dos inibidores da bomba de protões, que inibe a

produção de ácido no estômago, evitando assim que o seu excesso possa provocar sintomas

associados a hiperacidez gástrica; Trimetazidina que pertence a um grupo de medicamentos

conhecidos como vasodilatadores e beta-histina que é um medicamento que é utilizado para

tratar os sintomas da síndroma de Ménière tais como tonturas, zumbidos nos ouvidos, perda

de audição e náuseas.

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Embora tenha tido uma adaptação morosa, neste momento afirma gostar de estar no lar

e participar de algumas atividades que dispõem.

3.1.6. Resultados dos Instrumentos de Avaliação

Após ter sido realizada a entrevista clínica foi possível verificar que o utente preenchia

os critérios para o diagnóstico de Perturbação Depressiva Major, embora não evidenciasse

apresentar outros sinais de psicopatologia significativos, dado preencher os critérios para

episódio depressivo major, ao apresentar mais de cinco sintomas (humor deprimido, redução

do interesse e prazer em todas as atividades, insônia, agitação psicomotora, fadiga e perda de

energia, sentimentos de falta de valor e culpa inapropriados, redução da concentração e ideias

de morte e suicídio). Estes sintomas estiveram presentes mais de duas semanas e foram

acompanhados de humor deprimido e perda de interesse e prazer.

O diagnóstico foi corroborado pelos resultados obtidos através da administração de

dois instrumentos psicométricos. Escala de Depressão Geriátrica (23 pontos) depressão grave

e o Inventário Depressão Beck.

3.1.7. Diagnóstico Multiaxial

Eixo I: Perturbação Depressiva Major, Recorrente Grave sem características

psicóticas [296.33]

Eixo II: V71.09 Sem diagnóstico [Z03.2]

Eixo III: Doença Coronária

Eixo IV: Problemas com o grupo de apoio primário (morte do cônjuge)

Eixo V: AGF = 50

Diagnóstico Diferencial: Ana não apresenta Perturbação Bipolar porque não tem

história de episódio maníaco, misto ou hipomaníaco. Não se trata de Perturbação do Humor

Secundaria a Um Estado Físico Geral, porque apresenta história de episódios depressivos

Major, anteriores ao falecimento do cônjuge. Não surgiu como consequência da ingestão de

substâncias (Perturbação do Humor Induzida por Substancias). A utente não tem Perturbação

Distímica porque teve vários Episódios Depressivos Major.

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3.1.8. Formulação Clínica

Após ter sido efetuada uma análise cuidada sobre o caso, foi possível detetar que as

suas principais áreas problemáticas são: sintomatologia depressiva (humor deprimido,

angustia, perda de interesse e prazer, ausência de vontade para iniciar tarefas, anedonia,

insónia, fadiga e perda de energia, sentimentos de culpa, diminuição da capacidade de

pensamento e concentração) e dificuldades no funcionamento social (isolamento).

Ana apresenta diversos problemas que provavelmente terão sido exacerbados desde

que ficou viúva [Precipitante]. A mãe quando a utente tinha 16 anos, apresentou problemas

com história de sintomatologia depressiva. A utente parece ter alguma vulnerabilidade

biológica face à depressão evidente pela história de sintomatologia depressiva apresentada

pela mãe. Existem alguns pensamentos automáticos negativos que parecem estar ligados à

sintomatologia depressiva. Os esquemas dos outros enquanto críticos são ativados

[precipitantes] pelo piorar da sua condição médica e a pressão que sente quando lhe dão

tarefas de responsabilidade tais como cuidar de alguns animais domésticos no Centro

Geriátrico, parece ter aumentado a sua sintomatologia depressiva, provocado alguma

ansiedade e o comportamento de evitamento social.

Finalmente importa referir que Ana possui recursos que podem facilitar o sucesso do

processo de intervenção terapêutica e da mudança. A utente procurou ajuda psicológica para a

resolução de problemas de depressivos, tem um bom suporte familiar, tem amigos e realizou

uma boa adaptação ao lar, apesar da pressão que sente enquanto cuidadora de alguns animais

de estimação, estes também são uma terapia que ao longo do tempo tem trazido alegrias. Tem

objetivos definidos, pretende alcançar uma maior autoconfiança, conseguir ultrapassar

barreiras que impõe a si próprio e trabalhar na questão do luto.

3.1.9. Plano de Intervenção

3.1.9.1 - Objetivos Gerais

O plano de intervenção tem como objetivos gerais: a) promoção do alívio sintomático

e prevenir potenciais recaídas; b) trabalhar o luto.

3.1.9.2. Duração

O número de sessões estabelecido para o processo terapêutico foi elaborado tendo em

atenção que estarmos perante um problema de depressão. Assim, será necessário um total de

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16 sessões, duas vezes por semana e duração de 45 minutos. No final do processo existirá um

espaçamento quinzenal para evitar finalizar a intervenção abruptamente. Serão também

efetuadas quatro sessões de encorajamento e follow-up.

3.1.9.3. Caracterização geral das estratégias e técnicas de intervenção

Para a intervenção com este utente recorreu-se à intervenção cognitivo-

comportamental dado ser uma abordagem que de acordo com a revisão da literatura apresenta

eficácia e um maior número de estudos efetuados relativamente à problemática em causa

(Barlow, 2008; Beck, Rush, Shaw, & Emery, 1997; Beck et al., 2006; Beck, 2011; Leahy, &

Holland, 2000; Young, Klosko & Weishaar, 2003). Assim, foi tida em consideração a Terapia

cognitiva da depressão de Yong, Weinberger e Beck (2008). Esta intervenção foi efetuada

através de duas fases distintas: a diminuição dos sintomas na primeira fase, dado que ao

existir sintomatologia depressiva grave a causar sofrimento ao utente, este não reúne

condições em termos de estabilização de humor e disposição para colaborar na intervenção.

Na segunda fase concentra-se o foco nos esquemas cognitivos centrais. Trabalhando também

as questões do Luto onde é trabalhado o reconhecimento da realidade da perda, e o utente é

estimulado a compartilhar a experiência.

O desenrolar típico das sessões foi feito habitualmente, em quatro partes:1) A parte

inicial, onde se estabeleceu uma plano da sessão e uma agenda com a síntese das experiências

do utente desde a última consulta, incluindo o trabalho de casa; 2) decisão e exploração do

problema a ser tratado na sessão de forma a detetar os aspetos cognitivos envolvidos,

verificação se o comportamento foi adaptativo e as soluções experimentadas, seleção dos

aspetos cognitivos que forma mais se destacaram na dificuldade, escolha de uma técnica para

lidar com esses aspetos, tendo o cuidado de a explicar ao utente; 3) no final foi efetuada a

sumarização da sessão. 4) Foi elaborado o trabalho de casa, clarificou-se a importância do

utente treinar as competências e técnicas específicas para o problema ao longo da semana).

3.1.9.4. Objetivos específicos e respetivas estratégias

Na primeira fase da intervenção (objetivo a), foram determinados os seguintes

objetivos específicos: 1) estabelecer uma relação terapêutica de confiança e colaboração; 2)

envolver o utente no processo; 3) regular as rotinas comportamentais e melhorar o

funcionamento social e ocupacional; 4) identificar os problemas 5); identificar distorções de

pensamento; 6) efetuar progressos rápidos relativamente ao problema-alvo.

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

Relativamente ao objetivo 1, inicialmente e ao longo de todo o processo da

intervenção, foi fundamental estabelecer a relação terapêutica e um ambiente colaborativo

através de uma relação empática, de confiança mútua e um discurso encorajador. Para além

disso, os objetivos a atingir foram negociados em conjunto e foi fornecido feedback

regularmente. De forma a atingir o objetivo 2, foi necessário efetuar psicoeducação sobre a

depressão e sobre o luto, disponibilizando uma brochura informativa. Para auxiliar o utente a

ficar mais funcional e atingir o objetivo 3, procedeu-se à elaboração de uma agenda de

atividades de prazer e de mestria efetuando o planeamento das atividades e o registo do grau

de mestria e prazer atribuído. Assim, as tarefas foram divididas em pequenos passos

sucessivos, começando pelas necessidades fisiológicas e tarefas mais simples, encorajando

progressivamente o utente a realizar tarefas com maior responsabilidade. Foi sendo efetuado

treino de autoconfiança, técnicas de diversão para reduzir a intensidade dos afetos negativos,

caminhando pelas instalações cuidando dos animais de estimação lá presentes, deslocando-se

até à área de lazer e sentar-se a beber um café e conviver com os outros utentes, usufruir da

área de esplanada e ler um livro ao ar livre. Desta forma, estas técnicas comportamentais

permitiram distrair os pensamentos automáticos negativos diminuindo a ruminação e a

passividade, treinar competências sociais, a falta de motivação e esperança, contribuindo pata

contrapor as crenças de que o utente não era capaz de realizar determinadas tarefas, nem de

obter prazer ao realizá-las. Para alcançar o objetivo 4, foi necessário salientar a importância

da elaboração do trabalho de casa e da aplicação das técnicas aprendidas na sessão, dado que

permitem tornar o processo mais rápido e eficaz. Relativamente aos objetivos 5, 6 e 7 tivemos

em consideração que já tínhamos noção dos pensamentos automáticos negativos após termos

utilizado as técnicas comportamentais. Assim, foi necessário suscitar os pensamentos

automáticos de forma a ajudar o utente a tomar consciência dos pensamentos negativos,

através das mudanças de humor e identificação do pensamento subjacente. Para além disso,

foi pedido à utente que efetuasse o preenchimento do registo do diário de pensamentos

disfuncionais (tabela de cinco colunas: situação, emoções, pensamentos automáticos, resposta

racional e resultado). Inicialmente só foram utilizadas as três primeiras colunas da tabela, ou

seja até aos pensamentos automáticos, a partir do debate cognitivo, utilizou-se as cinco

colunas, entramos na resposta racional e colocou-se à prova os pensamentos automáticos. Os

pensamentos automáticos negativos foram tratados como hipóteses a ser testadas através da

análise de evidências ou do questionamento, possibilitando identificar erros cognitivos que

ISMAI 2014/2015 Relatório de Estágio

mantêm a tríade cognitiva, visão negativa de si (sinto-me incapaz), do mundo (as pessoas não

apreciam o meu trabalho) e do futuro (as coisas nunca vão melhorar).

Na segunda fase da intervenção (objetivo b), foram determinados os seguintes

objetivos: 1) identificar os esquemas cognitivos desadaptativos precoces; 2) mudança do

esquema cognitivo.

Para atingir o objetivo 1, tivemos em consideração que os esquemas desadaptativos

precoces são extremamente duráveis e estáveis, desenvolvem-se a partir da infância, são

elaborados ao longo da vida e acabam por ser significativamente disfuncionais. Assim,

inicialmente examina-se a origem dos esquemas através da revisão da história da utente e

avalia-se a forma como afetaram as relações precoces e a representação que a utente efetuou

sobre as relações para ligá-la aos problemas atuais. Efetua-se psicoeducação para a utente

saber identificar os esquemas que nesta fase da terapia poderiam trazer mal-estar. Explica-se o

funcionamento dos esquemas, referindo que a utente aprendeu a representar a realidade de

acordo com as experiências, particularmente com o falecimento do cônjuge. Posteriormente,

para atingir o objetivo 2 (mudança do esquema cognitivo), é necessário relacionar os

problemas atuais com os esquemas desadaptativos, analisar as vantagens e desvantagens dos

esquemas.

3.1.10. Ponto de Situação e prognóstico

A evolução da utente foi evidente, verificando-se um decréscimo gradual da sua

sintomatologia depressiva acompanhado por um aumento do insight face às problemáticas.

Esta capacidade de reflexão foi fulcral para reavaliar e corrigir as cognições disfuncionais de

forma a retomar o seu funcionamento normal, bem como para promover a autoestima, a

autoconfiança, competências sociais e assertividade. Desta forma, os objetivos delineados têm

vindo a ser atingidos, faltando ainda finalizar o trabalho relativo aos esquemas que estão na

base da perturbação. Assim, prevê-se um bom prognóstico neste caso, com a probabilidade de

obtenção da resolução das problemáticas.

3.1.11. Reflexão crítica

A eficácia desta intervenção acaba por estar relacionada com uma ótima relação

terapêutica, para além do empenho e da adesão por parte da utente ao processo terapêutico.

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Contudo, surgiram algumas dificuldades para dar sequência ao plano de intervenção

estabelecido, devido ao facto da utente ter tido algumas desavenças familiares e sentir alguma

culpa na discussão envolvente.

4.1. Caso Joana.

4.1.1. Identificação sociodemográfica

Joana de 83 anos de idade, viúva, de nacionalidade Portuguesa, Reformada, trabalhou

em casa (Doméstica), encontra-se institucionalizada na Quintinha da Conceição Sousa e Silva,

Lda., em Pedrouços – Maia.

4.1.2. Motivo / Queixa principal

A utente apresentava uma autocrítica exagerada em relação ao funcionamento do Lar,

nomeadamente comida, higiene pessoal entre outros, o que promovia algumas desavenças

com funcionários e utentes. Apresentava ainda isolamento social e baixa autoestima.

4.1.3. Protocolo de avaliação

Os instrumentos de avaliação utilizados pela estagiária foram: A entrevista clínica de

forma a perceber a história clínica da utente e, consequentemente perceber qual o seu

problema e sintomatologia. Para além disso, utilizou o mini mental para despiste de perdas de

capacidades cognitivas, bem como a Escala de Depressão Geriátrica (GDS) para identificar e

avaliar a intensidade de um quadro clínico depressivo associado ao problema atual.

4.1.4. Problema e história do problema

A situação de Joana agravou-se quando partiu a perna e pelo fato de já ter estado

internada por causa da mesma encontra-se em cadeira de rodas, ainda que consiga andar com

dificuldade se tiver o apoio de alguém. Apesar de referir gostar do lar, Joana critica

constantemente os alimentos que lhe trazem quer seja pela sua confeção ou paladar e critica

severamente os funcionários por não a ajudarem nas suas idas ao WC (sendo que estes estão

proibidos por ordens médicas de a levar, e ela usar fralda), pois Joana deveria repousar a

perna e não realizar esforços.

4.1.5. História de desenvolvimento psicossocial

Joana é de nacionalidade Portuguesa e natural de Lisboa. É Analfabeta, foi criada

pelos pais e partilhava a casa com mais irmãos. O pai trabalhava na agricultura e a mãe era

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peixeira. Teve um namorado aos 17 anos com quem viria a casar, dessa relação nasceram

cinco filhos (três raparigas, sendo que duas são gémeas e dois rapazes), nessa altura dedicou-

se por completo à família. Diz que viveu bem a sua vida sem problemas. Ficou Viúva muito

cedo 39 anos e passado alguns anos voltou a casar-se com um senhor ligado à Marinha.

Durante este percurso perdeu uma das filhas na infância fruto de uma doença (Escarlatina),

revela que foi um período muito delicado na sua vida e que passou a proteger mais os seus

filhos e a estar atenta a qualquer sintomatologia que estes apresentassem.

Tem algumas memórias da infância e da adolescência e demostra que foi criada

sempre com carinho mas muitas regras. Lembra-se que ainda em jovem passeava algumas

vezes com as colegas e que brincava muito descalça pelas calçadas.

Em adulta foi operada a uma Colecistectomia (retirou uma pedra na vesícula) e

realizou uma Histerectomia (cirurgia de retirada do útero).

Atualmente encontra-se institucionalizada no Lar de terceira idade da Quintinha da

Conceição, mas anteriormente residia num lar em Lisboa. Ana foi transferida para este novo

lar pela filha que tem mais presente na sua vida, pois esta mudou-se para o Porto e achou por

bem trazer a sua mãe consigo.

Apesar de uma adaptação morosa, atualmente encontra-se enquadrada no lar bem

como nas atividades diárias disponíveis.

4.1.6. Resultados dos Instrumentos de Avaliação

Após a avaliação - Mini-Mental State – MMS, o resultado obtido foi de 23 Pontos

(sem défice cognitivo). Algumas questões relevantes no teste foram: No subteste de Atenção e

Cálculo, foi obtida a pontuação de 2 pontos, não efetuando corretamente as três últimas

subtrações, constatando-se falta de atenção. No subteste da Linguagem, a paciente obteve 7

pontos, não atingindo pontuação na execução de ordem escrita devido à mesma ser analfabeta.

Por último, ao nível da Habilidade Construtiva, a paciente não realizou a tarefa a

pedido da mesma, mencionando “Não consigo fazer, a minha mão treme muito” (sic). De uma

forma geral, observam-se alterações nas funções cognitivas de Orientação temporal e Atenção

e Cálculo.

No teste de Escala de Depressão Geriátrica obteve a pontuação de 18 Pontos o que nos

indica uma depressão ligeira.

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4.1.7. Diagnóstico Multiaxial

Eixo I: V71.09 Sem Diagnóstico [Z03.2]

Eixo II: V71.09 Sem Diagnóstico [Z03.2]

Eixo III: Doenças Nutricionais (Excesso de peso)

Eixo IV: Problemas relacionados com o ambiente social (Lar)

Eixo V: AGF= 65 (momento de avaliação)

Justificação do Diagnóstico

A avaliação realizada e, consequente, o diagnóstico levam-nos a inferir uma análise

desses resultados. A paciente manifesta dificuldades no apoio social e familiar, e sintomas

relacionados com a Perturbação de Humor e a Perturbação de Ansiedade Generalizada.

As Perturbações de Humor estão relacionadas com a depressão. Esta patologia “refere-

se a uma doença caracterizada pela presença de uma alteração do humor persistente e

suficientemente grave para ser considerada «perturbação» ” (Crujo & Marques, 2009,p.579).

Posto isto, a paciente preenche alguns dos critérios de diagnóstico para a Perturbação

de Humor, nomeadamente, “a baixa da autoestima e a desesperança, um sentimento de

tristeza, o cansaço, as alterações do apetite, as queixas somáticas e a ansiedade” (Crujo &

Marques, 2009, 579). Apesar de apresentar sintomatologia depressiva, não se verifica um

défice significativo nas áreas sociais e familiares, logo não preenche todos critérios de

diagnóstico para uma Perturbação de Humor.

Joana apresenta ainda, alguma sintomatologia ansiosa, o que nos leva a inferir que na

300.02 Perturbação de Ansiedade Generalizada [F41.1] estão presentes os seguintes sintomas:

“ansiedade e preocupação acerca de um número de acontecimentos ou atividades”;

“dificuldade em controlar a preocupação” e “fadiga” (DSM-IV TR, 2002: 476). No entanto,

não preenche todos os critérios de diagnóstico para uma perturbação.

4.1.8. Formulação Clínica

Após ter sido efetuada uma análise cuidada sobre o caso, foi possível detetar que as

suas principais áreas problemáticas são: sintomatologia depressiva (humor deprimido, perda

de interesse e prazer, insónia) dificuldades no funcionamento social (isolamento) e ansiedade

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e preocupação acerca de um número de acontecimentos ou atividades”; “dificuldade em

controlar a preocupação.

A situação de Joana agravou-se quando partiu a perna e por encontra-se em cadeira de

rodas [Precipitante]. Os esquemas dos outros enquanto críticos são ativados pelo piorar da sua

condição médica ainda que consiga andar com dificuldade se tiver o apoio de alguém

[mecanismo]. A utente desenvolveu [Mecanismos], esquemas de outros enquanto críticos e

fonte de rejeição para com as mais variadas situações do quotidiano. Apresenta erros

cognitivos (e.g., pensamento dicotómico- “hoje não consegui me levantar sozinha, nunca vou

conseguir voltar a andar”; inferência arbitrária- “ nunca faço nada bem”). Pensamentos

automáticos (e.g., “Nunca levo nada até ao fim”). A regra subjacente parece consistir em

pensamentos automáticos negativos [Mecanismos]. Quando não consegue realizar algo sente-

se insegura e ansiosa [Mecanismo] acabando por exacerbar o medo das avaliações por parte

dos outros [Mecanismo]. Como consequência surge o isolamento e o facto de evitar sair da

sala onde está instalada [Mecanismo], esta situação gera uma fraca rede de apoio social

[Mecanismo]. A paciente possui medo da avaliação negativa por parte dos outros

[Mecanismo] consequentemente hipervaloriza as situações sociais de uma forma negativa

[Mecanismo], o que consequentemente faz com que mantenha um padrão de hipercriticismo

na forma como se autoavalia e avalia os outros, estabelecendo padrões excessivamente

elevados de realização e de desempenho em relação ao controlo da alimentação [Mecanismo].

Finalmente importa referir que Joana possui recursos que podem facilitar o sucesso do

processo de intervenção terapêutica e da mudança. A utente procurou ajuda psicológica para a

resolução de problemas de ansiedade, bem como de conflitos interiores. Pretende mudar a

forma como olha para si própria e para os outros e alcançar uma maior autoconfiança.

4.1.9. Plano de Intervenção:

4.1.9.1 - Objetivos Gerais

O plano de intervenção tem como objetivos gerais: a) promoção do alívio da

sintomatologia depressiva; b) redução da sintomatologia ansiogénica; c) promoção do

envolvimento social.

4.1.9.2. Objetivos específicos

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Os objetivos específicos prendem-se com a) regular as rotinas comportamentais; b)

ajudar a reduzir sintomas de ansiedade face às adversidades; c) auxiliar a reavaliar e corrigir

as cognições disfuncionais, modificando-as ou substituindo-as por outras mais adaptativas; d)

promover competências sociais e de assertividade em situações de potencial avaliação.

4.1.9.3. Duração

O número de sessões estabelecidas para o processo terapêutico, bem como o

planeamento e elaboração dos módulos, foram elaborados tendo em atenção que a utente

encontra-se sempre sentada e no mesmo local todos os dias devido à utilização de cadeira de

rodas. Assim, subdivide-se em vários módulos de intervenção, com um total de 16 sessões,

especificamente, com frequência semanal e duração de 1h.

4.1.9.3. Descrição da intervenção

Para a intervenção com esta utente recorreu-se à intervenção cognitivo-

comportamental para a Ansiedade (Barlow, 2008; Butler, Chapman, Forman, & Beck, 2006;

Knapp & Beck, 2008; Marchand, 2012; Segal, Williams & Teasdale, 2001).

Módulo I – Avaliação (Sessão 0)

Este módulo teve como finalidade obter uma conceptualização geral do caso, para

além de um diagnóstico congruente. Para tal foi utilizada a entrevista clínica, a IACLIDE que

forneceram informações importantes para o diagnóstico clínico por parte do terapeuta.

Módulo II – Socialização e Definição de Objetivos (Sessão 1 e 2)

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Neste módulo, para além do estabelecimento relação terapêutica, foi efetuada

psicoeducação e entregue o racional teórico da Terapia Cognitivo- Comportamental para a

depressão e ansiedade, disponibilizando-se informações relativas a estas problemáticas, para

além de ser efetuada uma explicação acerca da própria terapia e de como iriam ser

processadas as sessões. Neste módulo foi ainda trabalhada e negociada uma lista de objetivos

(supramencionados) congruentes com os problemas apresentados pela utente.

Módulo III – Psicoeducação referente à Depressão e a Ansiedade (Sessão 3)

Foi efetuada psicoeducação sobre as problemáticas apresentadas. Foram apresentadas

as características da ansiedade normal e as que fazem parte da problemática. Foram referidas

as componentes fisiológicas, cognitivas e comportamentais relacionadas com a ansiedade.

Procedeu-se à identificação destas componentes através de um exemplo onde o terapeuta foca

a relação entre elas e como influencia a espiral de ansiedade.

Módulo IV – Ativação comportamental (Sessão 4 a 8)

Este módulo teve como objetivo restabelecer as necessidades básicas da utente,

nomeadamente ao nível do sono, das atividades diárias e da alimentação, pelo facto destas não

estarem a ser devidamente efetuadas. A ativação comportamental foi efetuada para tentar

regular as rotinas comportamentais e reduzir a sintomatologia depressiva evidenciada pela

utente e desta forma prevenir também uma potencial recidiva da perturbação depressiva. Para

tal, foi necessário começar por regular as rotinas, nomeadamente os ciclos de sono-vigília. Foi

essencial que utente tivesse contacto com atividades de interesse pessoal no sentido de

promover a realização de tarefas nas suas áreas de interesse e para poder sentir maior

realização pessoal. Foi negociado um plano através de uma agenda atividades que permitiu à

utente realizar atividades recompensadoras que lhe proporcionassem experienciar a noção de

capacidade e obtenção de prazer nas atividades diárias (fazer ginástica como foi recomendado

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pelo fisioterapeuta, ouvir música,). Relativamente ao sono e alimentação, foi disponibilizado à

utente um formulário de Auto monitorização com o propósito de se poder observar o padrão

habitual.

Módulo V – Reestruturação Cognitiva (Sessão 11 a16)

Após ter diminuído a sintomatologia depressiva, foi possível efetuar reestruturação

cognitiva, começando por identificar os pensamentos disfuncionais da utente que estão

associados aos seus sintomas (e. g, alteração de humor, ansiedade, preocupação, dificuldade

de concentração, irritabilidade, agitação psicomotora, sono perturbado) de forma a conseguir

diminuir a ansiedade, promover o desenvolvimento da flexibilidade face às exigências que a

Joana impõe a si própria e aos outros. Explicou-se que as emoções resultam das interpretações

das situações, e não propriamente das situações em si. Foi esclarecido que os pensamentos

automáticos são pensamentos negativos, ou irracionais acerca de si próprio, do mundo e do

futuro, que levam ao aumento das experiências de ansiedade.

Neste caso foram exploradas crenças disfuncionais da utente que pudessem estar na

base da preocupação excessiva e da ansiedade de forma a torná-las adaptativas. Joana passou

a avaliar os pensamentos como hipóteses e não como pensamentos únicos, procurando

encontrar pensamentos alternativos, mais realistas perante a perceção das situações

problemáticas. Assim, foi possível perceber em conjunto com o terapeuta quais os

mecanismos que estão a manter o problema.

Foi efetuada psicoeducação sobre os estados de humor para que a utente aprendesse a

aceitá-los e entender que não têm de ser neutralizados. Para além disso, realizou-se treino de

resolução de problemas constituído por seis passos: 1) identificar o problema; 2) especificar o

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problema; 3) considerar a diversidade de soluções possíveis; 4) perceber as implicações de

cada solução; 5) selecionar a melhor opção; 6) implementar a solução.

Assim, a utente passou a ter uma visão de si própria mais adaptativa e irá conseguir

percecionar o mundo e os outros como menos ameaçadores. Os sintomas de preocupação e

ansiedade tendem a diminuir após a aquisição de pensamentos mais adaptativos e realistas.

Esta situação irá permitir uma gestão mais eficaz das situações de sucesso e de insucesso após

a exposição social, tendo em conta que a tendência para a catastrofização será menor do que

quando Joana possuía pensamentos disfuncionais.

Modulo VI – Exposição

Procedeu-se à integração das técnicas de exposição, reestruturação cognitiva e treino de

competências sociais. A exposição visou a redução das respostas ansiosas e de preocupação

excessiva e autocritica para com os outros.

Realizou-se treino de competências sociais, através da psicoeducação sobre

competências comunicacionais (e. g. passo a passo, saber iniciar, manter, bem como terminar

uma conversa) modelagem e reforço social, que possibilite à utente adquirir mais recursos

para lidar com a ansiedade e com a autocritica excessiva. Foi efetuado trabalho em termos de

assertividade com a Joana através de role -play no sentido de adquirir uma postura mais

assertiva face a situações difíceis, conseguindo expressar as suas vontades, necessidades,

pensamentos e sentimentos de forma adequada em várias situações. Este treino de

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competências sociais torna-se eficaz dado que irá facilitar a redução da sintomatologia

ansiógena aquando dos contactos interpessoais. Finalmente foi realizada a pós exposição

porque permite rever objetivos, discutir a eficácia das respostas em termos emocionais, bem

como os novos pensamentos. Entretanto Joana deveria identificar o que tinha aprendido.

Módulo VII - Prevenção de Recaída e Finalização

Os objetivos são avaliar o processo e prevenir a recaída. É feita a avaliação do processo,

a Joana identifica os conteúdos aprendidos durante a intervenção, avalia os itens relativos à

ansiedade criados no início e efetua uma revisão do seu progresso. A prevenção da recaída

será tida em conta, sendo necessário identificar os fatores de risco e estimular a utente para a

continuação da utilização das técnicas aprendidas de modo a atingir um nível de autonomia e

capacidade que lhe permita resolver problemáticas futuras após o término do tratamento

formal.

Após o término das quatro sessões de encorajamento e follow-up, foi referido um plano

que permita lidar e gerir os sinais de recaída.

4.1.10. Ponto de Situação e prognóstico:

A evolução da utente foi evidente, atualmente já não apresenta sintomatologia

depressiva, verificando-se também um decréscimo gradual da sua sintomatologia ansiosa

acompanhado por um aumento do insight face às problemáticas. Esta capacidade de reflexão

foi fulcral para reavaliar e corrigir as cognições disfuncionais, bem como para ajudar a

promover a autoestima, a autoconfiança, competências sociais e assertividade. Assim, já

consegue gerir de outra forma a preocupação excessiva e a ansiedade. Contudo, prevê-se um

bom prognóstico neste caso.

4.1.9.11. Reflexão crítica

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A intervenção efetuada com esta utente constituiu um enorme desafio, dado

tratar-se de um caso composto pela existência de várias problemáticas. Assim, foi

fundamental estabelecer a relação terapêutica e manter um ambiente empático, Posteriormente

existiram algumas dificuldades em dar sequência ao plano de intervenção estabelecido,

devido a doença temporária da utente. Contudo, a adesão, o interesse e a capacidade de

reflexão por parte da utente contribuíram para o sucesso da intervenção, ao ponto da utente

demonstrar enorme satisfação quando tomava consciência da evolução em relação às

cognições disfuncionais e aos comportamentos desadaptativos que tinha apresentado no

passado recente.

Conclusão

Findado o percurso desta minha caminhada, as palavras são limitadoras para descrever

o quão importante foi para mim a experiência de estágio. Esta fase e todo o percurso realizado

desde o início do curso ficam marcados por momentos diversos, pelas dificuldades e

oportunidades, pela autonomia e confiança que alcancei, pelo crescimento que fui

desenvolvendo ao longo deste tempo.

Na formação profissional, o estágio constitui um espaço crucial para aplicar e

desenvolver conhecimentos no contacto com uma realidade concreta proporcionando o

desenvolvimento da prática profissional. Assim, a realização do estágio curricular contribuiu

para a construção da experiência profissional e para desenvolver competências práticas em

contexto real de trabalho.

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