vila franca de xira - ameam concurso a minha escola ......colaborações de discipulado (como é...
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CONJUNTO SELECIONADO DE TESTEMUNHOS DISPONIVEIS NO MUSEU
MUNICIPAL DE VILA FRANCA DE XIRA/NÚCLEO-SEDE PARA O CONCURSO
“A MINHA ESCOLA ADOTA: UM MUSEU, UM PALÁCIO, UM
MONUMENTO”
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1. ESPONSAIS DA VIRGEM
Autor: Bento Coelho da Silveira.
Data: Cerca de 1690.
Estilo: Barroco.
Técnica/Materiais: Pintura a óleo sobre tela.
Dimensões: 2720 x 1680 mm.
Localização: Capela da Quinta Municipal de Subserra. São João dos Montes.
Proveniência: Capela da Quinta Municipal de Subserra. São João dos Montes.
Propriedade: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Museu Municipal.
Para a capela do solar da Quinta Municipal de Subserra, dedicada a São José e instituída
em 1633 pelo abastado viajante Diogo da Veiga, ao regressar da Índia, foi encomendado
ao pintor régio Bento Coelho da Silveira (cerca de 1630-1708) um grande quadro
dedicado ao Casamento de Nossa Senhora com São José. O encomendante da tela,
então senhor da quinta, foi D. João Roxas de Azevedo. Homem do partido
restauracionista, antigo embaixador de D. João IV em Roma e amigo de Pedro II,
monarca que aliás visitou a Quinta por mais de uma vez.
Trata-se de uma das melhores pinturas de Bento Coelho, que a realizou sem visíveis
colaborações de discipulado (como é comum na maioria das suas telas) e com uma
intervenção direta, cuidada e pessoal, que valoriza o resultado. A tela data de cerca de
1690 e inspira-se num modelo de Rubens, tendo o artista recorrido a uma estampa de
Schelte a Bolswert, mas nem por isso descuidou o acabamento, tanto na caracterização
das figuras e poses, como na arquitetura clássica de enquadramento, quer ainda na
glória celeste do registo superior. Foi obra cara, por certo que ocupou Bento Coelho
mais do que era comum na “facilidade de pintar” que caracteriza o fa presto. O
Casamento da Virgem da capela da Quinta Municipal de Subserra mereceu tanto
encómio que ainda em 1892, visitando a propriedade, Lino de Macedo ouviu elogios à
pintura e a tomou por italiana, adquirida pelo embaixador em Roma durante a sua
estada na cidade dos papas!
A pintura foi alvo de uma intervenção de conservação e restauro promovida pelo
Município e desenvolvido pela empresa Ocre SA, em 2000. Foi exposta na exposição
“Memórias de Pedra e Cal” organizada pelo Museu Municipal de Vila Franca de Xira em
2001.
Vítor Serrão, in A Arte no Concelho de Vila Franca de
Xira, Grandes Obras, pág. 124, Edição da Câmara
Municipal de Vila Franca de Xira/Museu Municipal,
fevereiro de 2015, Vila Franca de Xira.
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2. RELIGIOSA APRESENTANDO O CALVÁRIO
Autor: Desconhecido.
Data: Último quartel do século XV.
Estilo: Finais do Gótico.
Técnica/Materiais: Escultura, calcário com vestígios de policromia.
Dimensões: 840 x 228 x 320 mm.
Localização: Museu Municipal de Vila Franca de Xira.
Proveniência: Solar dos Sousas. Vila Franca de Xira.
Propriedade: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Museu Municipal.
Esta escultura devocional, lavrada em pedra calcária (possivelmente das pedreiras de
Coimbra), e ainda com vestígios de policromia, terá feito parte, eventualmente, do
aparato litúrgico de algum altar da antiga igreja matriz de Vila Franca de Xira (destruída
em 1755), ou de algum dos vários conventos que existiram na vila e no seu termo.
Apresenta um tema iconográfico muito raro, mesmo no quadro da intensa e variada
produção escultórica de imagens de altar que marcou o século XV em Portugal. Sabemos
que o seu último paradeiro, antes de integrar as coleções museológicas municipais por
doação de Joaquim Ramalho, foi o Solar dos Sousas (Palácio da Vilafrancada), onde
permaneceu até 1959, num nicho aberto na cerca da casa.
A imagem representa a figura de uma mulher, de pé, em posição frontal, que segura
com ambas as mãos, os braços de uma cruz em que se representa Cristo Crucificado, em
relevo, e, aos pés da figura feminina, de ambos os lados da cruz e encostadas à parte
inferior da sua indumentária, duas pequenas figuras representando a Virgem Maria e
São João Evangelista, perfazendo, assim, a representação de um Calvário, na sua
composição mais simplificada.
Tanto a figura de Cristo na Cruz, como as da Virgem e de São João Evangelista, são
devedoras de uma boa qualidade de tratamento escultórico. As duas últimas, tratadas
formalmente também de forma sumária e com notória desproporção anatómica, são,
no entanto, totalmente eficazes do ponto de vista do tratamento iconográfico, isto é,
da sua clara identificação: a Virgem, com indumentária muito semelhante à da figura
feminina de maiores dimensões, veste manto azul para rapidamente ser identificada, e
São João, com o tradicional manto verde, cabeleira farta e anelada e rosto imberbe, não
deixa de ser uma digna representação quatrocentista do discípulo dileto e mais jovem
de Jesus Cristo; ambas as figuras, em posição orante, não exercem os gestos de choro
ou introspeção dolorosa pela morte de Jesus, como muitas vezes acontece nas cenas do
Calvário, mas a gestualidade própria dos que são, pela sua estreita ligação ao
crucificado, os especiais intermediários dos pecadores junto do Salvador, aquele que
com a sua morte sacrificial abriu as portas da Redenção.
A avaliar pela indumentária da figura que sustenta a cruz – lona túnica que cai em pregas
tubulares em paralelas e onde ainda se podem contemplar vestígios de pigmentos
encarnados, manto azul que lhe cobre os ombros e as costas, touca soqueixal e véu
curto -, poder-se-ia dizer que estamos diante da representação de uma religiosa, ou de
uma figura da sociedade laica, uma mulher viúva (como pode indicar a presença do véu
que lhe cobre totalmente os cabelos e o pescoço, tal como era habitual em situações de
viuvez, se atentarmos em algumas representações de viúvas nas suas estátuas jacentes
da baixa Idade Média).
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Esta iconografia, rara por ter como figura principal uma figura feminina, filia-se, como
já tive oportunidade de desenvolver em estudo anterior, nas imagens tardo medievais
do tema da Santíssima Trindade ou Trono de Graça, nas quais é Deus Pai que apresenta
o Filho crucificado, sobrepujado pela pomba do Espírito Santo. Mas, raramente,
aparecem as restantes figuras do Calvário. Sobre a sua autoria nada se sabe e estamos
diante, como é mais comum na escultura destes anos do século XV, de um mestre que
não assina as suas obras, e de uma obra da qual se desconhece o contrato para a sua
realização ou um documento que comprove a quem foi pago o trabalho.
Carla Varela Fernandes, in A Arte no Concelho de Vila Franca de
Xira, Grandes Obras, pág. 146, Edição da Câmara
Municipal de Vila Franca de Xira/Museu Municipal,
fevereiro de 2015, Vila Franca de Xira
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3. PAINEL DE AZULEJOS COM CENA DE “CHINOISERIE”
Autor: Valentim de Almeida (1692-1779) e Sebastião Ferreira (falecido 1750).
Data: 1744.
Estilo: Barroco.
Técnica/Materiais: Azulejos de Cerâmica esmaltada, faiança (produção de Lisboa).
Dimensões: 840 x 2240 mm.
Localização: Quinta Municipal de Nossa Senhora da Piedade. Póvoa Stª Iria.
Proveniência: Quinta Municipal de Nossa Senhora da Piedade. Póvoa Stª Iria.
Propriedade: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Museu Municipal.
Este painel e mais dois, igualmente com cenas de Chinoiserie, foram os únicos que
sobreviveram do conjunto de azulejos aplicados nos bancos e alegretes de um recinto
junto da Ermida de Nossa Senhora da Piedade, no jardim da Quinta Municipal de Nossa
Senhora da Piedade, na Póvoa de Santa Iria, empreendido pelo 5º Conde de Vila Nova
de Portimão, D. Pedro de Lencastre (1697-1752). Foram removidos do local para
garantir a sua conservação, fazendo parte do acervo do Museu Municipal de Vila Franca
de Xira, onde foram reconstituídos e completados com alguns azulejos novos. Esta obra
do jardim, segundo documentação revelada por Celso Mangucci, foi realizada numa
olaria da Rua da Madragoa, em Lisboa, pertencente ao mestre oleiro Francisco de Sales
(e da qual os Condes de Vila Nova de Portimão eram enfiteutas), que em 1744 forneceu
“600 azulejos de brutesco e 600 de ordinário” para esta quinta, antecedendo a vasta
encomenda de azulejos para o palácio da mesma, realizados entre 1747 e 1752 e
pintados por Valentim de Almeida e o seu colaborador Sebastião Ferreira, o que permite
atribuir aos mesmos a realização dos bancos do jardim, nomeadamente ao segundo,
pelo caráter algo sumário da pintura.
Envolvido por ornatos ligeiros, revelando a fase final do Barroco Joanino e a transição
para o estilo Regência, o presente painel inclui uma interessante representação de
Chinoiserie ao ar livre, formando duas cenas separadas por uma árvore e um pedestal
com vaso de jardim, o da esquerda com uma senhora sentada e um servo, e o da direita
uma curiosa banca de bazar, um comprador e um músico a tocar um instrumento
dedilhado. Estas cenas chinesas do Jardim da Quinta (bem como as de uma sala no
interior do palácio, mais cuidadas), foram uma manifestação destacada do gosto do
século XVIII (também presente num conjunto de painéis neoclássicos da Quinta
Municipal do Sobralinho), baseando-se em gravuras europeias que reproduziam
criações exóticas de artistas ocidentais, por vezes muito fantasiadas, como as do
holandês Johan Nieuhof, e dos franceses Jean Bérain, Watteau, François Boucher,
Gabriel Hucquier ou Henri Pillement, ao contrário das obras dos séculos anteriores, que
eram inspiradas diretamente por obras chinesas. As pilastras laterais deste painel, com
pedestais, volutas e cabeças de meninos aladas, lembram o enquadramento do painel
A Enamorada, mas são menos delicadas.
José Meco, in A Arte no Concelho de Vila Franca de
Xira, Grandes Obras, pág. 180, Edição da Câmara
Municipal de Vila Franca de Xira/Museu Municipal,
fevereiro de 205, Vila Franca de Xira.
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4. FORAL NOVO DE VILA FRANCA DE XIRA
Autor: D. Manuel I e Fernão de Pina (Cavaleiro da Casa Real, escrivão).
Data: Século XVI. 1510.
Estilo: Manuelino. Escrito com letra gótica.
Técnica/Materiais: Pergaminho, madeira, couro e liga metálica.
Dimensões: 405 x 300 mm.
Localização: Museu Municipal de Vila Franca de Xira.
Proveniência: Museu Municipal de Vila Franca de Xira.
Propriedade: Câmara Municipal de Vila Franca de Xira. Museu Municipal.
Durante o reinado de D. Manuel I, são tomadas medidas para centralizar o poder e
unificar Portugal, criando-se leis gerais para todo o País, consignadas nas Ordenações
Manuelinas e substituindo-se os forais antigos. Entre os anos 1500 e 1520 são
elaborados 575 forais, que são conhecidos por Forais Novos ou Manuelinos. Para esta
reforma D. Manuel I nomeou uma comissão que, durante duas décadas, procedeu à
recolha de toda a documentação existente – privilégios e antigos forais – e reformulou-
a segundo uma certa sistematização, o que fez com que os chamados “Forais Novos”
fossem quase idênticos. Esta comissão foi constituída por Rui Boto (chanceler-mor),
João Façanha (desembargador régio) e Fernão de Pina (cavaleiro da Casa Real). Foi um
trabalho de grande envergadura, que durante cerca de 20 anos mobilizou vários
desembargadores, homens-bons e vereadores dos concelhos, oficiais das contadorias
das comarcas, dos almoxarifados, escrivães, calígrafos e iluminadores.
No território que é atualmente o concelho de Vila Franca de Xira, foram atribuídos dois
forais novos, ambos a 1 de junho de 1510: O Foral Novo de Vila Franca de Xira e o Foral
Novo de Castanheira e Povos. O Foral Novo de Vila Franca de Xira é uma das peças
museológicas mais valiosas que o Museu Municipal guarda. Trata-se de um códice
iluminado cujas páginas são ainda de pergaminho, escrito com letra gótica (o monarca
instituiu um novo tipo de letra caligráfica, a letra gótica libraria, mais inteligível).
No frontispício estão pintados símbolos que representam e legitimam o poder real. Este
foral apresenta, na parte superior, duas esferas armilares, as armas reais e uma faixa
horizontal com o nome do rei (DOM MANVEL). A esfera armilar representa a ligação do
rei com o mundo celeste, mas também o domínio sobre o mundo terreno, legitimando
D. Manuel como imperador. As armas reais simbolizam o pacto sagrado que está na
origem do reino de Portugal; as cinco quinas remetem para as cinco chagas de Cristo,
querendo significar que a monarquia portuguesa tem um caráter divino desde a sua
origem. Ladeando o texto, estão pintadas flores e pássaros que são a expressão de uma
sensibilidade que dá vida à arte manuelina, tendo também estes elementos simbologia
litúrgica.
Após a apresentação do rei “DOM MANUEL Por graça de Deus Rei de Portugal e dos
Algarves daquém e dalém mar em África. Senhor da Guiné e da conquista e navegação
e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e da India item. A quantos esta nossa carta de foral
virem dada a nossa vila de Vila Franca. Fazemos saber…”, o texto do foral inicia-se com
impostos sobre o pão, o vinho e o linho e termina com a indicação do lugar, a data da
concessão e o subscritor “Dada na nossa nobre e sempre Leal villa de Santarem.
Primeiro dia de Junho. Anno do nasçimento de nosso Senhor Jesu Cristo de mijll e
quinhentos e dez. E fernam de pina o fiz fazer per especial mandado de sua alteza o fiz
fazer e so escrevy e conçertey. e vay em quatorze folhas com esta”.
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Fernão de Pina, o oficial régio que presidiu à comissão reformadora dos forais redigiu as
últimas linhas desta carta de foral, expressando o seu mandato régio para confirmação
do foral, bem como a foliação, acrescentando, por último, “registado no Tombo da
Torre”. Em termos gerais, este documento fala-nos de como viviam e se organizavam as
populações locais naquela época, que produtos produziam, como os pesavam ou
mediam, de que forma os comercializavam, que privilégios tinham alguns e que
obrigações tinham os menos afortunados. Este foral foi encadernado em capas de
madeira, forradas de couro, decorada com as armas reais, esferas armilares e cercadura
com motivos naturais. Com dois fechos.
Paulo Silva, in A Arte no Concelho de Vila Franca de
Xira, Grandes Obras, pág. 193, Edição da Câmara
Municipal de Vila Franca de Xira/Museu Municipal,
fevereiro de 2015, Vila Franca de Xira.