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VIOLÊNCIA COMO ELEMENTO DE RELAÇÕES COTIDIANAS NO COLÉGIO

ESTADUAL PRESIDENTE VARGAS EM TELÊMACO BORBA – PARANÁ

Autora: Eliane Bettega Batista de Paula 1

Orientadora: Joseli Maria Silva 2

Resumo

Através desse artigo buscou-se relatar o desenvolvimento da pesquisa sobre a violência no espaço escolar realizada durante a participação no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, do Governo do Estado do Paraná, que tem como proposta a formação continuada dos professores da rede pública estadual. O ambiente de aplicação da pesquisa foi o Colégio Estadual Presidente Vargas – Ensino Fundamental e Médio, localizado no município de Telêmaco Borba onde o público alvo foram alunos da 7ª série. A escolha para trabalhar com essa temática aconteceu devido a grande ocorrência de ações violentas dentro do espaço escolar, sendo dirigida a professores alunos, funcionários e ao patrimônio da instituição. A violência é uma das principais preocupações da sociedade e suas consequencias são sentidas além do momento em que ocorrem, interferindo no processo ensino-aprendizagem, na sociabilidade, na didática do professor e gerando um ambiente de tensão e medo. Com a ocorrência cada vez mais constante de ações violentas na sociedade onde o jovem está inserido, estes ficam mais vulneráveis a repeti-las no espaço escolar, tornando-os protagonistas desses atos. Por isso é necessário atuar diretamente com as crianças e os adolescentes no intuito de minimizar essas ações, tornando o ambiente escolar acolhedor e propício ao desenvolvimento das atividades pedagógicas.

Palavras-chave: Violência escolar; ações violentas; sociedade; espaço escolar.

1 Pós-graduação em Didática e Metodologia do Ensino, Graduada em Geografia, Professora da

Rede Pública do Estado do Paraná, atua no Núcleo Regional de Educação. 2 Pós Doutorado em Geografia e Gênero, Doutorado em Geografia, Mestrado em Geografia,

Graduada em Geografia, Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa.

1. Introdução

A violência nos dias atuais é um fenômeno presente na sociedade em geral

e, consequentemente, faz parte do ambiente escolar, onde todos os sujeitos

integrantes e participantes dele, como alunos, professores, funcionários, pais e

comunidade local, vivenciam diariamente essa situação.

O jovem como ser integrante desta sociedade está constantemente exposto

às ações violentas e sujeito a praticá-las dentro do espaço escolar, seja com seus

colegas ou até mesmo com professores, independentemente de qual seja o motivo

causador de tal atitude, ou como ocorre muitas vezes sem a necessidade de um

motivo, por simples satisfação de praticar e atingir alguém.

Assim, este artigo tem por objetivo analisar a violência presente no Colégio

Estadual Presidente Vargas – Ensino Fundamental e Médio, localizado no município

de Telêmaco Borba – PR, buscando identificar o perfil das ações violentas

desenvolvidas no ambiente escolar, conhecer os agentes envolvidos nos atos de

conflito e desenvolver ações para estimular a mudança de atitudes e a de

comportamento das pessoas envolvidas.

Para tanto, antes de atuarmos contra a violência, precisamos conceituá-la e

entender suas causas e consequências, para que, na sequencia, possamos

estabelecer estratégias de ação e enfrentamento que surtam os efeitos esperados.

Entre as inúmeras definições existentes na literatura sobre violência, talvez a

mais completa e abrangente seja a de Michaud (1986, p. 10-11), o qual relata que a

violência ocorre quando, durante uma interação, um ou mais atores provocam danos

a uma ou mais pessoas em diferentes graus, atingindo sua integridade física, moral,

suas posses, suas participações simbólicas ou culturais.

Na citação acima o autor elencou os diversos modos de manifestação da

violência, sendo da mais simples como a verbal, passando pela contra o patrimônio,

até a mais agressiva e preocupante que é a física.

Quando a violência atinge o ambiente escolar, não só as relações sociais

podem ficar prejudicadas como também o processo de ensinar e aprender.

A função principal da escola é transmitir informações para incrementar o

processo de aquisição de conhecimentos pelo aluno através dos conteúdos

escolares estabelecidos previamente. Contudo, não se pode esquecer a ideia de

que a escola também se constitui de um espaço de sociabilidade.

Neste sentido, Nonato Junior e Bianco (2008, p. 37-38), confirmam que na

escola não ocorre somente a aquisição do conhecimento cognitivo, mas também o

aprendizado da construção das relações afetivas, dos valores e dos papéis dos

sujeitos que fazem parte do processo educativo.

Como ocorre em qualquer espaço de sociabilidade, os sujeitos ali presentes

têm a necessidade de estabelecer relações sociais e afetivas como forma de

interação e integração com os demais. Este processo é presenciado no ambiente

escolar através da interação entre os próprios alunos, alunos e professores,

professores e pais, professores e funcionários e alunos e funcionários.

Almeida (2008, p. 62) relata que através das relações sociais pode-se

originar a violência e, quando essas são reproduzidas no interior da escola, esse

processo estabelece-se como determinante.

Em decorrência destas inúmeras interações pode ocorrer estremecimento

das relações sociais vivenciadas, com capacidade de acarretar a execução de atos

de violência quando esse estremecimento for mais intenso.

Assim, ao desenvolver esse projeto e aplicá-lo no Colégio, a intenção não foi

achar a solução para este problema, até porque seria uma ousadia, mas

desenvolver um trabalho que servisse como semente disseminadora da cultura de

paz, transformador da realidade vivenciada e fortalecedor dos valores sociais, para a

melhoria do desempenho escolar e a promoção da motivação de alunos e

professores.

2. Uma discussão sobre violência e juventude na escola

De modo semelhante ao que ocorre nas cidades de outros países, as

cidades brasileiras estão em constante contato com ações de violência e, assim,

com as suas consequências (APPLE, 1998). A violência não se restringe a lugares e

pessoas específicas dentro da sociedade, está disseminada e embrenhada em cada

canto que olhamos, seja nos bairros da periferia ou nos bairros nobres das cidades.

A violência também não está restrita à pessoas de classe social baixa, a um

sexo específico ou à idade. Pessoas integrantes da alta classe social também estão

envolvidas, praticam seus atos do mesmo modo. Talvez os motivos sejam

diferentes, mas do mesmo modo a cometem. Também não nos surpreendem nos

dias atuais de vermos mulheres envolvidas, praticando ações violentas iguais ou

piores do que os homens.

Contudo, nada é mais impactante do que presenciar crianças e adolescentes

praticando a violência, sem qualquer consideração ou remorso com a vítima ou qual

seja seu foco. Sendo crianças e adolescentes eles ainda estão na escola e acabam

praticando a violência dentro da instituição.

Os focos de atuação são diversos, vitimam principalmente colegas da

mesma classe e professores, mas atingem também alunos de outras turmas,

funcionários e até mesmo o patrimônio institucional. A violência interfere nas

escolas, que são ambientes destinados a ensinar crianças e adolescentes (APPLE,

1998).

É neste espaço que os alunos, durante o seu cotidiano, têm acesso às

formas elaboradas da cultura, vivenciam diferentes valores e culturas trazidas do

espaço familiar. Do mesmo modo as transformações ocorridas na sociedade

chegam até o espaço escolar, assim a violência presente no espaço urbano passa a

fazer parte do cotidiano escolar.

Braga e Werthein (2003, p.15) afirmam que:

É necessário que cada instituição escolar brasileira enfrente as violências escolares com firmeza e altivez pedagógica. (...), por intermédio de uma educação de qualidade (...) que haveremos de formar mentes voltadas para a construção de uma cultura de paz.

No espaço escolar é possível presenciar relações de conflitos de diversas

naturezas, desde palavras de baixo calão a agressões físicas, trocadas entre alunos

e até mesmo dirigidas a docentes, que ecoam no aprendizado do aluno e interferem

na convivência desses atores. Muitos dos atos praticados ali não são percebidos

como violência e também vitimam enormemente o processo educacional.

Uma definição bastante abrangente sobre violência é de Chauí (1999), (apud

SCHILLING, 2004, p. 38), a qual contrapõe violência e ética:

Violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror. A violência se opõe à ética porque trata seres racionais e sensíveis, dotados de linguagem e de liberdade, como se fossem coisas, isto é, irracionais, insensíveis, mudos e inertes ou passivos.

Muitas vezes ao abordar o assunto violência as pessoas pensam em atos de

agressão física, talvez porque seja uma das que ocorre com mais freqüência na

sociedade, no entanto, ela não é a única.

A agressão verbal também se caracteriza como um ato de violência, mas

muitas vezes não é considerada como tal, visto que este modo é o mais freqüente e

está tão embutido nas relações sociais que a maioria das vezes passa sem a

tomada de providências.

Outra forma de violência é contra o patrimônio, na qual os atos não são

dirigidos às pessoas em si, mas são praticados contra as posses que a pessoa ou

instituição possui.

O autor Peter Burke (2002, p. 122), com base em Bourdieu (1972), comenta

que a violência simbólica refere-se à imposição da cultura da classe dominante aos

grupos dominados e, em particular, ao processo pelo qual esses grupos

subordinados são forçados a reconhecer a cultura dominante como legítima e a

própria cultura como ilegítima.

Na escola este tipo de violência manifesta-se segundo Abramovay e Rua

(2002)

(...) quando as escolas impõem conteúdos destituídos de interesse e de

significado para a vida dos alunos; ou quando os professores se recusam a

proporcionar explicações suficientes, abandonando os estudantes à sua

própria sorte, desvalorizando-os com palavras e atitudes de

desmerecimento.

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do

Paraná (2008, p. 26) assim como a questão ambiental, os problemas relacionados à

sexualidade e à drogadição, a necessidade de enfrentamento a violência é um dos

problemas sociais contemporâneos que deve ser abordado de forma

contextualizada.

Atualmente a sociedade apresenta graves problemas que gera um ambiente

de agressividade, conflito, atitudes anti-sociais. Atos de agressividade, intolerância,

desrespeito vêm sendo constantemente noticiados pelas mídias, ocupando espaço

cada vez maior e estremecendo instituições sociais importantes e caras ao conjunto

da sociedade.

Nesse sentido a violência passa a ser entendida como um problema de

políticas públicas, pois esta sociedade é marcada pela perversa desigualdade social,

resultante de uma economia capitalista sustentada pela exploração do homem pelo

homem, o que causa a exclusão dos empobrecidos e automaticamente o aumento

da violência, onde os jovens são os mais vulneráveis, quer seja na condição de

vitima ou de agressores.

Freitas e Papa (2003, p. 7) discorrem sobre esta questão e afirmam que:

De modo geral, os jovens passaram a chamar a atenção da sociedade como vitimas ou protagonistas de problemas sociais. Múltiplos projetos e ações foram então criados, dirigidos majoritariamente a adolescentes e focando questões como desemprego, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez na adolescência, drogas e particularmente violência.

Independentemente de que tipo de violência se pratica ou por quem ela é

praticada, seus efeitos repercutem negativamente no ambiente escolar, gerando

incertezas, medo, interferindo nas relações interpessoais e no processo pedagógico

prejudicando a rotina diária das escolas, impedindo que ela cumpra sua função

institucional: ensinar.

Quando se fala em violência no ambiente escolar, a lista de atos parece não

ter fim: agressões verbais, que muitas vezes passam despercebidas como forma de

violência, agressão física, a face mais visível do fenômeno, roubo considerado

muitas vezes de menor gravidade, omitindo assim o desrespeito ao outro,

indisciplina, incivilidades, discriminação, humilhação, patrimônio público

depredado,... atos que podem ser oriundos de causas diversas, internas e externas.

Nesse sentido, Flavia Schilling (2008, p. 17-18) aponta violência contra escola, da

escola e na escola.

Entre os atos violentos praticados “contra a escola” estão às depredações,

as bombas explodidas no banheiro, as pichações... ações essas praticadas

geralmente por aqueles alunos ou ex-alunos que não vêem na escola utilidade

alguma e revoltados com a falsa expectativa de que ela lhes daria igualdade de

oportunidade na sociedade. Além disso, pode-se considerar, neste tipo de violência,

o descaso dos governantes ou gestores reproduzido em prédios sem manutenção,

salas superlotadas, desvalorização da profissão docente, ou seja, abandono quase

total, onde esses fatores contribuem para aumento da tensão.

Quando a violência toma dimensão institucional ela é apontada como

“violência da escola”, praticada entre alunos e professores ou de alunos entre si e

revela-se na discriminação, na indiferença, no não ensinar e, assim, reproduz a

pobreza, a injustiça, a desigualdade existente na sociedade. Alunos e professores

sentem-se vítimas, os primeiros por acharem-se discriminados e os professores por

estarem diante de alunos agressivos.

A partir dessas dimensões aparece a “violência na escola”: roubos,

agressões verbais, físicas, e outras mais. Inserem-se aqui também os reflexos da

violência sofrida em casa, como violência na família, maus tratos, abandono, abuso

sexual e negligência.

É importante que a família atue junto aos jovens, participe da sua vida

escolar, demonstre e realmente se interesse pelas atividades desenvolvidas e dos

fatos ocorridos na escola, não deixando essa função somente à instituição de

ensino.

O processo educacional não cabe somente à escola, cabe também, e

principalmente, à família, cuja responsabilidade não é extinta quando a criança entra

na escola. A educação não diz respeito somente ao fato de se ensinar e aprender

determinados conteúdos que integram as disciplinas do currículo escolar, diz

respeito ao ensinamento de boas maneiras, que são ensinadas primeiramente pelos

pais ao longo do crescimento de seus filhos.

Através disso pode-se pensar sobre o significado da frase repetida ano após

anos de que a educação vem do berço. Para Rego (1996, p. 97), a

(...) família, entendida como no primeiro contexto de socialização, exerce, indubitavelmente, grande influência sobre a criança e o adolescente. A atitude dos pais e suas práticas de criação e educação são aspectos que interferem no desenvolvimento individual e, consequentemente, influencia o comportamento da criança na escola.

Com a atuação profissional dos pais fora dos lares familiares, os jovens

passam menos tempo com os pais, não se sentem vigiados, monitorados e

pressionados constantemente, o que lhes causa uma sensação de liberdade e poder

perante suas ações e decisões.

Os pais, muitas vezes por sentirem-se culpados por não passarem e

dedicarem muito tempo aos seus filhos, não estabelecem limites e permitem que

eles ajam livremente. Muitos filhos ao perceberem essa fragilidade maternal e

paternal não respeitam a autoridade familiar, transpõem os limites impostos e

chegam à idade adulta desprovidos de valores morais e respeito. Tais atitudes

ocorrem semelhantemente no ambiente escolar, onde aluno não respeita o colega

de classe, desafia o professor e gera tumulto.

As principais vítimas dessa transição cultural são os filhos, cada vez mais negligenciados nas atuais condições da crise familiar. Sua situação poderá piorar, seja porque as mulheres ficam com seus filhos em condições materiais precárias, seja porque elas, em busca de autonomia e sobrevivência pessoal, começam a negligenciá-los da mesma forma que os homens. Considerando que o auxílio do Estado do bem estar social vem minguando, homens e mulheres têm de resolver, eles próprios, os problemas dos filhos, ao mesmo tempo que perdem o controle sobre suas vidas (CASTELLS, 1999, p. 270).

Além disso, não se pode deixar de mencionar a influência que a mídia

exerce na vida e no comportamento dos jovens. Igualmente como a tecnologia

permite que as informações sejam transmitidas de maneira rápida, também permite

que programas divulguem atividades violentas ou que induzam a violência, como é o

caso de redes sociais na internet e programas televisivos os quais exibem cenas

com lutas, tiros, perseguição, assassinatos, destruição de patrimônios públicos e

privados, entre outras.

Muitos adolescentes têm a mídia como sua família, ou seja, a partir dela, do

que é transmitido, o jovem toma para si aquilo como correto, ideal ao seu estilo, a

sua identidade, papel este que caberia aos pais. A mídia em seu enfoque

consumista emite a ideia de felicidade, de destaque na sociedade, onde, por

exemplo, ter um tênis de marca faz do sujeito alguém de respeito e reconhecimento.

No entanto, pode estimular jovens desorientados de princípios e valores

éticos a praticarem atos violentos, como o furto, para adquirirem estes bens

materiais que lhe geram cobiça e que, do seu ponto de vista, lhe darão status social.

3. A experiência desenvolvida junto aos alunos do Colégio Estadual

Presidente Vargas em Telêmaco Borba - PR

A fase da implementação ocorreu no Colégio Estadual Presidente

Vargas – Ensino Fundamental e Médio, localizado em Telêmaco Borba – PR e

iniciou-se com a apresentação do Projeto à equipe pedagógica e de apoio do

estabelecimento de ensino. Para este feito aproveitei a Semana Pedagógica,

ocorrida em julho de 2011, pois esse momento é um dos poucos que se consegue

reunir todos os profissionais atuantes no estabelecimento.

Nessa apresentação foi exposta a questão da violência no espaço

escolar, fenômeno este que atinge todas as escolas, independentemente de sua

localização no espaço ou da procedência de sua clientela. O público presente

demonstrou interesse na aplicação do projeto e formularam perguntas a respeito de

como o mesmo seria desenvolvido.

Sendo um fenômeno recorrente e muito presente no trabalho docente,

conforme verificado nas atas do colégio, havia então a necessidade de realizar

intervenções na busca de um ambiente harmonioso, desenvolvendo uma cultura de

paz através da prática de valores morais quase esquecidos na atualidade e tão

essenciais nas relações humanas.

Com total apoio da Direção e equipe docente chegou a vez de

apresentar o trabalho aos alunos, o que aconteceu no dia 30/08/11, onde a acolhida

por parte dos mesmos foi parcial, fato visto por mim, como normal, pois o que estava

sendo proposto não vinha ao encontro do comportamento de alguns no seu dia a dia

e significava limites e regras a seguir.

Paralelamente aos trabalhos com os alunos e professores foram realizadas

observações livres e conversas informais com os alunos no espaço escolar nos

horários de entrada, saída e durante o recreio, com o objetivo de verificar situações

da pratica da violência.

Ainda como estratégia de ação elaborou-se uma unidade temática que

conteve a exibição de filmes, estudos de textos reflexivos, elaboração de histórias

em quadrinhos, criação de slogans sobre a paz, os quais posteriormente foram

fixados em pontos estratégicos do Colégio.

Através da unidade temática foram abordadas atividades que estimulassem

a mudança de hábitos, atitudes e comportamento das pessoas, fatores esses que

são indispensáveis e fortalecedores das relações sociais e da organização efetiva do

espaço ao nosso redor.

Foram convidados para participar do projeto, professores de Educação

Física e Língua Portuguesa da série visando promover a interdisciplinaridade no

trabalho pedagógico desenvolvido, além de fomentar a participação mais reflexiva

dos alunos.

Durante a implementação do projeto foram aplicados questionários aos

professores, direção, pedagogos e aos alunos da turma em que estava sendo

aplicado o projeto.

O trabalho foi desenvolvido no segundo semestre de 2011, onde

participaram da pesquisa 25 alunos da 7ª série, os quais responderam no segundo

encontro o Instrumento de Pesquisa. Também foram sujeitos da pesquisa a diretora,

professores e pedagogos, que responderam ao Instrumento de Pesquisa – Equipe

Pedagógica.

3.1. Análise da violência sob a perspectiva dos alunos

Este instrumento de pesquisa foi aplicado a 25 alunos da 7ª série do colégio,

dos quais 44% eram do sexo masculino e 56% do sexo feminino, com idades

variando de 12 a 15 anos, predominando, porém, alunos com 13 anos (56%).

Indagados sobre o motivo de sua ida à escola a maioria (76%) respondeu que vai

porque gosta de estudar, 20% não responderam e o restante (4%) disse que vai por

ser obrigado pelos pais e não gostar de estudar.

Quando questionados sobre a sua opinião a respeito da escola onde estuda,

houve pouca variação entre as respostas apresentadas, ordenadas por ótima (36%),

boa (32%), mais ou menos (28%) e não respondeu a questão (4%).

Ao abordar a questão referente a terem observado a presença de drogas

dentro do ambiente escolar, 48% dos alunos responderam afirmativamente. No

gráfico a seguir podemos analisar os tipos de drogas mencionados:

Gráfico 1 - Droga observada dentro da escola

Observamos neste gráfico que todos os alunos que responderam terem visto

alguma droga dentro da escola viram bebidas alcoólicas. Na seqüência aparece a

maconha, seguida pelo crack e a cocaína.

Outro tópico abordado é sobre a ocorrência de brigas, onde podemos

analisar estes dados em 3 segmentos diferentes. O primeiro deles refere-se aos

agentes envolvidos, ou seja, entre quem ocorrem mais brigas.

Gráfico 2 - Agentes mais envolvidos nas brigas

Observamos que a maioria dos alunos acha que as meninas se envolvem

mais em brigas, seguidos pelos meninos e por último as brigas ocorrem em igual

proporção entre ambos.

O segundo segmento diz respeito ao local onde ocorrem essas brigas.

Gráfico 3 - Local onde ocorrem mais brigas

Através do gráfico acima observamos que os alunos citaram que o principal

local de ocorrência da maior parte das brigas ocorre fora do espaço escolar.

Por fim, o último segmento aborda o momento em que as brigas ocorrem.

Gráfico 4 - Momento em que mais ocorrem as brigas

Verifica-se através do gráfico acima que a maioria dos alunos relatou que as

brigas ocorrem com mais freqüência no horário da saída.

Dos 25 alunos que responderam ao instrumento de pesquisa, 40% relataram

que já foram vítimas de agressão, onde o tipo de agressão sofrida encontra-se

representada no gráfico a seguir:

Gráfico 5 - Agressão sofrida

As agressões sofridas que mais se destacaram foram a verbal e a física,

atingindo, respectivamente, 60% e 30% dos alunos. A ocorrência de agressão verbal

e física simultaneamente representa 10% dos alunos.

Realizando indagação inversa, ou seja, se eles já agrediram alguém, obteve-

se como resposta que 56% dos alunos nunca agrediram ninguém, enquanto 40% já

realizaram agressão, ficando 4% sem responder.

Quanto ao tipo de agressão que realizaram destaca-se a verbal, seguida

pela verbal e física e por último a física. Os dados encontram-se representados no

gráfico abaixo:

Gráfico 6 - Agressão realizada

Questionados sobre qual o tipo de violência que eles mais presenciam no

colégio constatou-se que os mais ocorridos tratam-se de discussão com uso de

palavras de baixo calão (83%), seguidas pelo desrespeito aos professores e/ou

funcionários (74%) e pichação (61%). Além destes, o gráfico a seguir revela também

outros dados a respeito dos tipos de violência presenciados pelos alunos.

Gráfico 7 - Violência mais presenciada no colégio

3.2. Análise da violência sob a perspectiva da Equipe Pedagógica

Este instrumento de pesquisa teve como foco direcionado a equipe

pedagógica atuante no estabelecimento de ensino de aplicação do projeto,

envolvendo professores, pedagogos e direção. Os participantes possuíam tempo de

atuação profissional variando de 6 a 26 anos.

O Instrumento de Pesquisa era composto por 7 questões abertas, permitindo

que o profissional pudesse discorrer livremente a cerca da pergunta realizada. Pode-

se perceber que alguns profissionais responderam de modo sucinto os

questionamentos em comparação com aqueles que deram respostas mais

explicativas.

Quando indagados sobre qual a intervenção da equipe pedagógica no

combate a violência no espaço escolar obteve-se como respostas:

“Conscientização individual sobre respeito, solidariedade e nos caos mais

graves é chamado a família na escola.” (Entrevistado 04, em 05/10/2011)

“Aconselhamento, registro da ocorrência, encaminhamento para o conselho

tutelar, patrulha escolar e promotoria de acordo com o fato.” (Entrevistado 06,

em 05/10/2011)

Na pergunta “O que a escola costuma fazer para inibir/prevenir atos de

violência no espaço escolar?” foram elencadas, entre outras, as seguintes

respostas:

“Reunião com pais, palestra com policiais da Patrulha Escolar, reunião com o

Conselho Tutelar.” (Entrevistado 01, em 28/09/2011)

“Conscientização que o respeito deve estar presente em qualquer situação e

em qualquer ambiente.” (Entrevistado 04, em 05/10/2011)

Quanto ao perfil da maioria dos autores que cometem violência na escola, os

profissionais relacionaram aspectos como crianças que não são orientadas em casa,

que não tem limites e noção de valores, sendo unânimes em responder que são

crianças provenientes de lares desestruturados.

Na pergunta “Os pais colaboram com a escola na melhoria da conduta do

aluno envolvido?”, houve maior e melhor envolvimento por parte dos profissionais ao

elaborarem suas respostas, como podemos observar nas frases a seguir:

“Os pais perderam totalmente a autoridade, não sabem corrigir e educar seus

filhos e querem transferir essa missão para a escola e para os professores.”

(Entrevistado 01, em 28/09/2011)

“Temos pais que colaboram e apoiam as ações da escola, porém temos

alguns que passam a mão na cabeça dos filhos, se revoltam com a escola e

vem tirar satisfação com os professores, direção e equipe pedagógica sobre

a maneira que estamos “tratando” seus filhos, não aceitando o “desvio” de

conduta dos mesmos.” (Entrevistado 04, em 05/10/2011)

“Quando são chamados, prometem conversar com os filhos, uns dias

melhoram... mas, na maioria das vezes não adianta.” (Entrevistado 02, em

28/09/2011)

4. GTR – Grupo de Trabalho em Rede

O Grupo de Trabalho em Rede – GTR constitui uma ferramenta integrante

do PDE, utilizada com o objetivo de promover a formação continuada através da

oferta e realização de curso on-line, onde o professor PDE é o Tutor do mesmo.

Por meio do GTR o professor PDE tem a possibilidade de compartilhar seu

projeto com outros professores de várias cidades do estado, permitindo a troca

mútua de informações e, consequentemente, o enriquecimento do projeto,

fortalecendo os objetivos propostos.

O Grupo de Trabalho em Rede denominado Violência como elemento de

relações cotidianas no Colégio Estadual Presidente Vargas em Telêmaco Borba -

Paraná iniciou-se em setembro de 2011 com a participação total permitida, isto é, 15

professores inscritos de diversas cidades do Paraná, atuantes na rede estadual de

ensino, e seu término ocorreu em novembro do mesmo ano com 14 alunos

concluintes.

Acredita-se que o tema abordado foi fator essencial para que o número de

inscritos atingisse capacidade máxima logo nos primeiros dias de inscrição, pois se

trata de um tema presente e recorrente nos ambientes escolares, atingindo tanto

alunos quanto professores, interferindo no processo ensino-aprendizagem e que

gera transtornos de modo geral.

Ao longo das 3 unidades que compõem o curso foram propostas diversas

atividades com o objetivo de promover a interação entre todos os participantes,

conhecer a realidade vivenciada por cada um deles, promover discussões

construtivas e reflexivas a respeito da temática.

As postagens realizadas pelos alunos participantes e as discussões

desenvolvidas foram de grande auxílio para o desenvolvimento metodológico do

projeto e a posterior intervenção realizada no estabelecimento de ensino proposto.

Entre essas postagens podemos destacar algumas que contribuíram de forma

relevante e significativa para o projeto:

“Esta é uma questão muito bem elaborada, como educador gostaria muito que ela

viesse com a resposta. No colégio onde trabalho percebo que a violência se expressa

de todas as formas desde contra os bens do patrimônio do colégio até agressões

verbais e ameaças aos professores. Percebo também que o corpo docente tenta de

todas as formas contornar essa situação, mas nossos adolescentes (...) parecem

admirar a violência, onde o mais forte é venerado, onde um pequeno empurra-

empurra se torna motivo pra, muitos que estão vendo a cena aplaudir, gritar

e incentivar. Ora, que em mundo de paz ou busca dela nós vivemos? E esses fatos

ocorrem não por motivo de negligência de professores ou da própria escola, ocorre

por esses jovens estarem vivendo em um mundo totalmente ausente de princípios,

onde "aparecer" mais que o colega é bonito, onde afrontar o professor é motivo de

aplausos a eles.” (Postagem do docente 02 no GTR, em 18/10/2011)

“As escolas não ficam isoladas do contexto social uma vez que, realmente estão

muito próximas das famílias e da sociedade. (...) As escolas estão tentando se

proteger da prática da violência ou pelo menos inibí-las instalando câmeras de

segurança por todos os lados e o estado coloca a patrulha escolar para rondar as

áreas próximas aos colégios, quando a escola deveria ser um lugar seguro,

cumprindo sua função principal: assegurar aos alunos a formação para cidadania e

fornecer-lhes meios para progredir no trabalho, como descrito no artigo 22, da LDB.”

(Postagem do docente 01 no GTR, em 20/10/2011)

“O trabalho proposto pela professora Eliane é um tema bem presente em nossas

escolas, que necessita ser abordado com muita seriedade, pois afeta as relações

sociais, a vida futura de nossos alunos por deixar seqüelas e, portanto influenciam no

processo de construção do conhecimento. Toda a comunidade escolar precisa se

envolver no trabalho, com apoio mútuo, para conseguir a aprendizagem dos alunos

ao longo do ano letivo. Precisamos enfrentar o desinteresse dos alunos, a indiferença

e o pessimismo de alguns colegas, o descompromisso e a omissão dos pais, o

descaso com que a educação muitas vezes é tratada e mostrar como a educação

desempenha seu papel na construção de uma sociedade mais justa e acredito em

projetos como esse que está sendo analisado, que pode nos dar as ferramentas para

enfrentar nossas dificuldades.” (Postagem do docente 05 no GTR, em 26/10/2011)

Durante o GTR os professores tiveram acesso ao Projeto de intervenção

Pedagógica na Escola e à Produção Didática Pedagógica, ambos elaborados pela

professora PDE, e puderam analisar e realizar comentários a respeito dos materiais

produzidos, expressando suas opiniões a respeito, contribuindo para a melhoria do

projeto e sua aplicabilidade na escola, posteriormente.

5. Conclusão

Abordar a temática violência dentro do espaço escolar nunca foi fácil,

existem muitas barreiras que dificultam esse desenvolvimento, principalmente por

parte dos alunos, pois isso significa atuar diretamente sobre seus comportamentos,

estabelecendo normas e limites e cobrando responsabilidades que muitos não

desejam ter.

Assim como na sociedade em geral, a escola torna-se palco de atos de

violência, que se expressam de todas as formas possíveis, ou seja, verbal, física,

contra o patrimônio e simbólica. Observa-se, além disso, que não só os alunos são

vítimas desse processo, mas também os professores, funcionários e a comunidade

ao redor da qual a escola está inserida.

As consequências advindas da violência se fazem presentes além do

momento em que ela ocorre, interferem no processo ensino-aprendizagem, geram

um ambiente de tensão e medo constante, influem na didática do professor e na

sociabilidade dos sujeitos integrantes deste espaço.

A escola como espaço educativo e formador de cultura, local de encontro e

interação de crianças e adolescentes, instituição que se faz presente e necessária

em todos os lugares, torna-se uma aliada da sociedade no combate à violência e

suas formas de manifestação.

Contudo, não se deve esquecer que ser aliada não quer dizer ser a principal

responsável por transmitir uma cultura de paz, ou seja, antes da escola exercer esse

papel cabe aos pais, em casa, ensinarem seus filhos sobre normas básicas de

convivência social para estabelecer e manter um ambiente de não violência.

Mesmo tendo ciência da complexidade da temática abordada, esse trabalho

teve participação efetiva e colaboradora dos professores participantes do Grupo de

Trabalho em Rede (GTR), apoio essencial da direção e professores atuantes no

colégio e envolvimento significativo dos alunos da turma escolhida como foco de

atuação.

Apesar desse trabalho ter sido realizado apenas com alunos de uma turma

do colégio foi possível perceber que os mesmos tem interesse em manter a escola

em um ambiente de paz e que compreendem que a violência não traz benefícios.

Seria importante que projetos como esse fossem desenvolvidos pelas

escolas abrangendo completamente a comunidade escolar, ou seja, todos os alunos

participassem das atividades propostas, que os professores desenvolvessem

estudos e realizassem debates, que a sociedade ao redor participasse das

atividades desenvolvidas, levasse idéias para a escola, interagisse com alunos,

professores e funcionários, todos cooperando juntos com o intuito de tornar a escola

um ambiente livre da tensão, do medo, da insegurança e, principalmente, da

violência.

Referências

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