violÊncia na escola: sÃo possÍveis aÇÕes de prevenÇÃo? · a violência que, por ventura,...
TRANSCRIPT
![Page 1: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/1.jpg)
VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO?
![Page 2: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/2.jpg)
Copyright © Paulo Cesar Pontes Fraga (org.), 2016
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por meio impresso ou
eletrônico, sem a autorização prévia por escrito da Editora/Autor.
Editor João Baptista Pinto
Capa/ Editoração Luiz Guimarães
Revisão Gabriel Noro
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
V792
Violência na escola: é possível ações de prevenção / organização Paulo Cesar Pontes Fraga. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital, 2016. 54 p. : il. ; 14x21 cm.
Inclui bibliografia ISBN: 978-85-7785-441-7
1. Negros - Condições sociais. 2. Discriminação racial. 3. Racismo. 4. Relações raciais. I. Fraga, Paulo Cesar Pontes.
16-38392 CDD: 305.896 CDU: 316.347
Letra Capital EditoraTelefones (21) 22153781 / 35532236
[email protected]. letracapital.com.br
![Page 3: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/3.jpg)
Paulo Cesar Pontes Fraga (Org.)Rogéria Martins
Ana Carolina Damasceno
VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO?
![Page 4: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/4.jpg)
![Page 5: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/5.jpg)
S U M Á R I O
7 Qualoobjetivodesselivro?
9 Pensandoaviolêncianaescola
15 Agressões,crimeseincivilidades
21 AEscolaeadiversidadesexual
27 Escola,Bullying eRacismo
34 EscolaeReligião
39 Escolaedrogas
45 ConsideraçõesFinais
46 Referências
48 OsAutores
![Page 6: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/6.jpg)
![Page 7: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/7.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 7
Qual o objetivo desse livro?
Este pequeno livro se destina aos profissionais do ensino.Professores(as),coordenadoras(es),gestores(as),orientadores
(as),enfim,todos(as)quedesenvolvemsuasatividadesprofissionaisvoltadasàescola.
Não se trata de um manual, daqueles que costumamos verpublicados em que especialistas buscam orientar, direcionar ações,dar dicas ao público a que se destina a publicação.Nós não temosesse objetivo, porque consideramos que todos os profissionais deensino têmuma reflexividade sobre o tema e uma rica experiênciano seu cotidiano, noqual enfrentamoproblemaem suasmúltiplasexpressõesedimensões.
Pretendemosqueolivrosejainstrumentoapermitir,apartirdeinformaçõesnelecontidaseproblematizaçõesinsertadas,enriquecerareflexividadedosprofissionaisdeensinoecolaborarcomabuscadesoluçõescoletivasnatemáticadaviolêncianaescola.
Reconhecemos, com isso, que a violência na escola é um temacomplexo,multifacetado,dedifícilconceituação.Pormaisquehajanosúltimosanos,debateserelevodeque,pelomenos,hámudançasemsuasmanifestaçõesno interior dos estabelecimentosdeensino, cadarealidaderequersoluçõesouenfrentamentodoproblema,coletivoseespecíficos,envolvendoosdiversossujeitosinternaeexternamenteaoambienteescolar,comprometidosdiretaeindiretamentecomaescola.
Assim, pretendemos estimular nos agentes educacionais suascapacidades de formular ações e produzir soluções para enfrentar
![Page 8: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/8.jpg)
8 PAULOCESARPONTESFRAGA
aviolênciaque,porventura,atinjaodiaadiadaescola,mas,alémdisso, busque intervir sobre questões polêmicas, que possam gerarconflitos,evitandoqueasdiferençaspossamdesembocarematosdedesumanizaçãodealunosealunas.
Comisso,nãopretendemosdizerqueépossívelumaescolasemdivergência,mas,aocontrário,afirmá-las.Entretanto,reconhecemosasnecessidadesdosatoresestarematentosàs formasda conduçãodas manifestações das diferenças no âmbito escolar evitandotransformarem-nasemconflitoseintolerância.
A intolerância, o não reconhecimento do outro, a resolução deconflitos pormeios ilegais e criminosos, a submissão de pessoas ecoletivospor grupos sãoasbasesda violênciaedeatos criminososquepermeiamasociedadeeaescola,particularmente.
Reconhecemos,portanto,aescolacomoespaçodediferençasepluralidade,porisso,orespeitoaessasdiversidadeséfundamentalnoambienteestudantil.Buscandodiferenciaroquesãoaspluralidades,orespeitoaelasnoâmbitodemocrático,evitandoqueaintolerânciaseimponha.Busca-se,ainda,distinguirdessemelhançadeviolência;decrimesedeconflitos.
Por fim, cabe-nos informar que esse livro nasceu de conversare debates com alunos e profissionais do ensino no âmbito de duaspesquisasdesenvolvidaspeloGrupodepesquisaViolência,PolíticasdeDrogaseDireitosHumanosefinanciadaspelaFAPEMIG.Agradecemosaessaagênciadefomentoosrecursosmobilizados.
![Page 9: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/9.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 9
Pensando a violência na escola
A violência na escola é um problema que vem mobilizandoespecialistas, educadores, pais, alunos e estudantes nos
últimosanos.Nãoéumproblemaexclusivodenossacidade,denossoestadooudenossopaís.Outrospaíses,assimcomotodososestadosda federação e muitos municípios brasileiros apresentam casos deviolêncianaescola.Essescasosenvolvemdiversossujeitospresentesnouniversoescolaredosambientespróximosounãoàescola.
Mas,afinal,queproblemas sãoesses?Eles são iguaisemtodosos estabelecimentos de ensino? Acontecem em escolas públicas eprivadas?Comoclassificá-los?
Essas perguntas e outras serão alvos denosso debate. Elas noscolocamdefrenteaumaquestãofundamental:Aviolêncianaescolapossuiespecificidadeouelareflete,noespaçoescolar,aviolênciadasociedadeemgeral?
Nos últimos anos, em escolas brasileiras, registrarem-semuitasocorrênciasdeagressões,assassinatos,entradadearmasdefogoemsaladeaulaounoespaçoescolaremmuitascidadesbrasileiras.Comopodemosclassificaresseseventosnoâmbitoescolar?
Elessãonovosousempreexistiram?Seeramcomuns,aconteciamcomasmesmascaracterísticasoumudaram?
Essasquestõessão importantesparapensarmossobreoquevemocorrendoeporqueadenominadaviolêncianaescolanosmobilizatanto.
O sociólogo francês Bernard Charlot (2002) reconhece que aviolêncianaescolanãoéum fenômenonovo. Jáqueno séculoXIX
![Page 10: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/10.jpg)
10 PAULOCESARPONTESFRAGA
explosões violentas aconteciam dentro das instituições escolarese eram sancionadas com prisões. Bem como, nas décadas de 1950e1960,a relaçãoentreprofessoresealunosnemsemprese faziamcordial,épossívelencontrarrelatosdeagressõesverbaiseincivilidadesentreosmesmos.
Oautorsupracitadopropõeainda,naconceituaçãodaviolênciaescolar, três planos de classificação: violência – golpes, ferimentos,violência sexual, roubos, crimes, vandalismo; incivilidades –humilhações,palavrasgrosseiras,faltaderespeito;violênciasimbólicaouinstitucional–faltadesentidoempermanecernaescolaportantosanos; o ensino comoumdesprazer, queobrigao jovema aprendermatériaseconteúdosalheiosaosseusinteresses.(Charlot,2002).
Charlotpropõe,portanto,quehácausaeconsequênciasdiversasque advém da violência escolar. Elas acabam se traduzindo emfenômenosheterogêneos,dedifícildelimitação.
Para outro importante autor francês, estudioso da temática,ÉricDebarbieux(2002),háumavisão inflacionista da violência,vistoque são agrupados no conceito tudo aquilo que é conhecido comoincivilidades, ou seja, xingamentos, ofensas, linguagens chulas,empurrões,humilhações,dentreoutros.“Essaabrangênciaexcessivaparece tornaro conceito impensável, criando confusão semânticaeléxica” (Debarbieux,2001,p.18).
![Page 11: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/11.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 11
Segundoumaautorabrasileiraquetemsededicadoapesquisassobreotema,MiriamAbramovay,oconceitodeviolêncianaescola,mas,também,ostermosusadosparaindicá-la,classificá-lavariamemdiferentespaíses.NosEstadosUnidos,porexemplo,diversaspesquisassobre violência na escola recorrem ao termo delinquência juvenil.ParaalgunsautoresdaliteraturaespecializadanaInglaterra,otermoviolêncianaescolasódeveriaserempregadonocasodeconflitoentreestudanteseprofessores(Abramovay,2009,p.72).
Não obstante, os contextos de diversidade na escola fazemparte das vivências e experiências domundo infanto-juvenil. Nesseconjuntodenovasexperiências,aindaemprocessodeconstrução,asdiferençasseexacerbamenovasformasdeviolênciasemanifestamnadifícilmissãodecompreenderooutronoseudireitodeserdiferente.Na contramãodesseprocesso, a escola tem sidopalco, tambémdepráticasviolentasmaisgraves,contribuindoparaumcontextoinseguroe apreensivo da instituição escolar. Os atores em jogo no universoescolardimensionamaspossibilidadesconflitantesemjogo:alunoxaluno;alunoxprofessores;jovemxescola;escolaxcomunidade).
Podemos,então,concluir,queestamostratandodeumatemática,cuja própria definição não é consensual. De acordo com o país, dequem esteja debatendo, informando ou problematizando (mídia,pesquisadores, comunidades escolares e entorno...), o tema temsido tratadode formaespecífica.NoBrasil, não é diferente.Muitasvezes,quandonosreferimosàviolêncianaescola,nãosabemosmuitobem do que estamos tratando. Depredação do patrimônio; brigasentre alunos; agressão contra professores; venda e uso de drogasnointeriordaescola,presençadearmasnoespaçoescolar,bullying; roubosefurtosdeequipamentos,entreoutrosproblemas,têmsidotratadocomoviolêncianaescola.Mas podemos dizer que tudo isso é violência na escola?
Aresposta seria simenão.Comcerteza,amaioriadoseventosdescritosacimapodesemoldarnaquilodenominadocomoviolêncianaescola.Atéporqueaviolênciatambémprecisasercontextualizada.Emalguns lugares,algopodeserconsideradoviolênciaeemoutrosnão.Háumcomponenteculturalquedeveserlevadoemconsideraçãonadefiniçãodotermo.Entretanto,também,nãopodemosesquecer
![Page 12: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/12.jpg)
12 PAULOCESARPONTESFRAGA
que à medida em que os direitos individuais e sociais avançamdeterminadaspráticas,vistasatéentão,comonãoviolência,podemserconsideradascomotal.Principalmentequandodeterminadosgruposalvosdediscriminaçãopassamaservistoscomosujeitosdedireitosedeterminadaspráticasdediscriminaçãoeintolerânciapassamasercondenadaspelasociedade.
Ou seja, o que antes era tolerável, admitido, hoje não é mais.Anteriormenteumxingamento,umcastigo,umaatitudemaisseverapoderia, inclusive, ser vista como recurso pedagógico, práticas que,atualmente,sãorejeitadasporespecialistasepelasociedade.
No entanto, a percepção de que há violência na escola entroucomoimportantequestãonaagendadoensinofundamentalbrasileiro.Osresultadosdeumapesquisarealizadacomprofessoresediretoresde escolas de todo o Brasil, a PROVA BRASIL, mostrou para o anode2013, que a violência interpessoal (agressõesfísicas e verbais) éo tipo que ocorre commais frequência nas escolas, segundo relatodosprofissionaisdeensino.Asprincipaisvítimaseagressoressãoosprópriosalunos.
![Page 13: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/13.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 13
Assim,podemosobservarqueemalgunspaísesapercepçãodequeaescolaélocalondeaviolênciasemostradeformaespecíficanoslevandoapensarseaviolênciaemseuinterioraumentououse,hoje,passamosaconsiderarviolênciapráticasqueantesnãopercebíamoscomotal.
Questiona-se, também, se a existe uma violência própria doambienteescolarousenointeriordaescolareflete-seumaviolênciaqueédaprópriasociedade?
QUADRO 1 Violência na Escola, Brasil
Em 2014, um em cada quatro brasileiros apontou a falta desegurançaeaviolêncianasescolascomooprincipalproblemadaeducaçãopúblicanoBrasil,segundodadosdepesquisarealizadapeloInstitutoDataPopular.Dentreosentrevistados,73%identificaramainda a existência de um grau elevado de violência nas escolas,revelando que para a população brasileira este é um problemaconcretoequeafligetodoopaís.Oavançodepesquisasnacionaissobre o tema, realizadas com diretores, professores, alunos eavaliadoresexternos,permiteidentificarqueaviolêncianasescolasconsistedefatoemumarealidadedosistemaeducacionalbrasileiro.No entanto, os dados revelam igualmente a complexidade destefenômeno,queseapresentasobdiversas facetasecomníveisdeocorrênciavariados,levandoànecessidadedeumaprofundamentoda reflexão sobre as estratégias de intervenção necessárias aoseu enfrentamento. (Anuário Brasileiro de Segurança Pública, FBSP, 2014)
QUESTÕESNa sua escola, verificam-se casos de violência? O que vocês
consideramviolêncianaescola?Épossívelclassificá-la?
![Page 14: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/14.jpg)
14 PAULOCESARPONTESFRAGA
QUADRO 2 Massacre de Realengo
NoDia7deabrilde2011,noturnodamanhã,às8h30min,daEscolaMunicipalTassodeOliveira, localizadanobairrodeRealengo,no Rio De janeiro, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, de23 anos, invadiu aunidadeescolar, portandoduas armasde fogoeadentrandoaleatoriamenteàssalasdeaula,atirouaesmo,matandodoze adolescentes de idades entre 13 e 16 anos e ferindo outrostreze.Atragédianãofoimaior,porqueoatiradorfoiinterceptadoporpoliciais,vindo,logoemseguida,acometersuicídio.
Passados alguns anos após essa triste ocorrência que ficouconhecidacomoMassacredeRealengo,poucosesabedomotivoquelevouojovemacometertalato,quedeixouperplexoecomovidotodoopaís.Foiaprimeiravezqueumaescolaemterritóriobrasileirosofreuestetipodeatentado,maiscomumenteocorridoemnaçõescomoosEUA.
FamiliareseconhecidosdeWellingtonrelataramqueeleeraumapessoareservada,depoucosamigos,quesofrerabullyingnaescolaese interessavaporhistóriasdeatos terroristas.Entretanto,nuncasepodeverificarseoatentadotevealgumaligaçãocomessesfatos.
QUESTÕESComo entender um massacre na escola?Vingançadehumilhações
passadas?Umarespostaàvitimizaçãodobullying?Motivaçãoreligiosaouideológica?Aspossibilidadessãomúltiplas,masnenhumaalcançauma questão mais ampla que está em jogo...a vulnerabilidade doambienteescolar.Épossívelevitarumatentadocomoesseemoutrasescolas?
![Page 15: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/15.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 15
Agressões, crimes e incivilidades
O sociólogo francês Bernard Charlot (2002) propôs umaclassificaçãoparaasdiversasformasdeviolênciaqueatingem
oespaçoescolar.Elebuscoudefini-lasegundotrêstipos:aviolênciaàescola,aviolênciadaescolaeaviolêncianaescola.
A primeira estaria relacionada à natureza e às atividades dainstituiçãoescolar,mirandodiretamenteà instituiçãoe àquelesquea representam. Seriam os atos que visam atingir os professores, osalunoseopatrimôniopeloqueelesrepresentamemrelaçãoaopapeldaescolanasociedade.
O segundo tipo seria aquela praticada pela instituição escolar,uma violência institucional simbólica. Ou seja, as manifestações deviolênciadainstituiçãocontraalunos,notadamente.
Aviolêncianaescolaseriaumtipoqueserefereaoespaçoescolar,ouseja,umaviolênciaqueacontecenoespaçofísicodaescola,masquenãoserefereàsatividadesdainstituiçãoescolar.Istoé,umaviolênciaque se reproduznaescola,masnão se vincula, especificamente, àsatividadesescolares,emborapossainfluenciaroandamentododia-a-diadoestabelecimentoescolar.
Essatipologiaéinteressante,poisserveparadefiniralgumasaçõeseatosqueacontecemnaescolanoseucotidianoebuscadiferenciaressesatos,permitindomelhorenfrentá-los.
Uma questão que aflige o cotidiano da escola refere-se aosinsultos,xingamentos,desobediênciaàsregraspraticadasporalunoscontraprofessorese,também,dessesúltimoscontraosalunos.
![Page 16: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/16.jpg)
16 PAULOCESARPONTESFRAGA
Esses eventos têm chamado a atenção nos últimos anos nasescolasbrasileiras. Em2009,oSindicatodosprofessoresdeMinasGerais em parceria com o Ministério do trabalho realizou umapesquisacomosdocentesdoensinofundamentalsobreascondiçõesde saúde e de trabalho do profissional do ensino e, entremuitasquestões, destacou-se o dado de que aproximadamente 41% dosprofessoresinformaramquejáhaviamsidoagredidosouameaçadosporalunospelomenosumavez.
Umapesquisamaisrecente,doanode2014,encomendadapeloSindicato dos Professores do EnsinoOficial do Estado de São Paulo(Apeoesp) ao Instituto DATAPOPULAR, apontou que é comum nodesempenho de suas atividades laborais, os professores de escolasdo ensino fundamental de vários municípios paulistas conviveremdiariamentecomcasosdeviolência.Relataramqueasmaiscomunssãobrigasentrealunos(72%);teralgumbempróprioavariadooudanificadoporalgumaluno(35%);presenciaralunosseameaçando(57%);sofreralgumtipodeameaçaporalgumaluno(35%).Informaram,ainda,sercomumpresenciaremalunosemsaladeaulaounasdependênciasdoestabelecimento de ensino em que trabalham sob efeito de drogas(42%); traficando algum tipo de substância psicoativa ilegal (29%);alunos sob o efeito de bebidas alcoólicas (29%); ter conhecimentode gangues (21%); alunos portando armas brancas (15%) e alunosportandoarmasdefogo(3%).(APOESP/DATAPOPULAR,2014).
![Page 17: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/17.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 17
Este quadro parece refletir uma situação recente, ou pelomenos,tornou-seumproblemadealgunsanosparacá,mesmoquereconheçamos que indisciplina e violência sempre fizeram parte docotidianoescolar.Brigasentrealunos,desobediências,insubordinaçãosempreocorreram.Mas,essesdadosmostramqueosconflitos,hoje,sãomaisproblematizados,ganhandocontornoseconsequênciasmaisdramáticas. Casos, como o a entrada de armas de fogo, ameaçascontra a vida do professor e a sensação de medo que acometealguns profissionais no âmbito do desempenho de suas atividadesprofissionais,parecemsersituaçõesmaisrecentes,comrarosregistrosanteriormente.
Poroutrolado,nãodevemos,comobemnosalertaosociólogoÉric Debarbieux,inflacionarouvalorizardemaisosconflitosnoambienteescolar.Épossíveladministrarpartedosconflitosetratá-loscomoalgopertencenteàconvivênciaentreaspessoas.
Entretanto, é importante distinguir entre incivilidades e crimes/violênciaparadarotratamentocorretoàquestão.Assimcomo,torna-se imprescindível não inflacionar a violência, não é possível tratarfatoseatosqueameaçamavidaeadignidadehumanacomoalgosemimportância.Paraisso,aescolaprecisarecorrer,emcasosespecíficos,
![Page 18: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/18.jpg)
18 PAULOCESARPONTESFRAGA
aoutras instituiçõesestataisounãovisandoaresoluçãodoconflito,sem,contudo,criminalizardeterminadascontendasadministráveisnoâmbitoinstitucional.
QUADRO 3 Aluno quebra os braços e seis dentes de
professora no RS
UmaprofessoradeumaescolatécnicaemPortoAlegre(RS)teveosdoisbraçose seisdentesquebradosapós serespancadaporumalunodocursodeenfermagemqueficourevoltadoportertiradoumanotabaixa.Ocasoocorreunaúltimaterça-feira.
Após tomar conhecimento de sua nota, o rapaz utilizou umacadeiradeferroparaagrediraprofessora,de57anos.Osbraçosdelaforam atingidos no momento em que tentou se defender. Mesmodepois de ela ter desmaiado, o estudante, que é instrutor de artesmarciais,desferiusocosechutes,quebrandoosdentesdaprofessora.Aoperceberachegadadeduasprofessoras,oalunodecidiufugir.
O delegado Fernando Soares, que investiga o caso, disseque um segurança e o porteiro do prédio ainda tentaram detero agressor mas não conseguiram. O estudante, de 25 anos,ainda não foi localizado pela polícia. (PRISCILA TRINDADE, AgênciaEstado,12Novembro2010)
QUESTÕESO que faz um aluno agredir uma professora ao receber uma
sanção no desempenho escolar? Onde se perdeu a expectativa da
![Page 19: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/19.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 19
relação ensino-aprendizagem colocada na interação entre aluno eprofessor,queconduzooutroaessetipodeintimidação?Oqueestáemjogoaquiéaautoridadedocente.(projetosdeavaliaçãoautomáticaimpactandoaautoridadedodocente,porexemplo.)
QUADRO 4 Adolescente sofre abuso sexual dentro de
escola do DF, diz polícia
Meninateriasidoempurradaparasaladeaulaeobrigadaafazersexooral.
Ummaiorde idadeestápreso;3menores foramapreendidoseliberados.
Umaadolescentede13anosfoiabusadasexualmentenaúltimasexta-feira(1º)porsetejovensnumaescolapúblicadeCeilândiaNorte,acercade26quilômetrosdeBrasília,deacordocominformaçõesdapolícia. A vítima teria relatado que os abusos ocorreram durante ointervalo,dentrodeumasaladeaulavazia.
OdelegadodaDelegaciadaCriançaedoAdolescente,FernandoFernandes,informouquetrêsmenoreschegaramaserapreendidos,masjáforamliberados.Umrapaz,maiordeidade,estápresoeoutrostrêsadolescentesestãosendoidentificados.
Fernandesdisse aindaque amenina teria sido empurradaparadentrodeumasalanahoradointervaloeobrigadaafazersexooralemdoisrapazes.Osoutrosteriamficadonaporta,vigiando.Osalunosquecometeramoabusoerammaisvelhos.Apolíciainformouqueumdelesteriafilmadoacenacomocelular.
ASecretariadeEducaçãonãoquisgravarentrevista.Pormeiodenota,oórgãoinformouquesóvaidecidirquemedidasserãotomadasdepoisdaconclusãodoinquéritodapolícia.
SAIBAMAISOpaidameninadissequeaelaéalunaespecialetemdificuldade
deaprendizagem.EmentrevistaaoBomDiaDF,eleafirmouqueafilhajáteriasidoabusadaportrêsvezesnaescola.“Eladissequetravou,ficoupreocupadadefalarnaescolaefalarcomospais”,declarou.
![Page 20: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/20.jpg)
20 PAULOCESARPONTESFRAGA
ApolíciaaguardaoresultadodoexamefeitonoInstitutoMédicoLegal para saber se também houve outras formas de abuso. Odelegado Fernando Fernandes disse que a investigação prosseguiráparaidentificaraparticipaçãodemaisjovensnoabuso.
“Um segundo relato da vítima indica que há a participaçãode outros jovens que ainda não foram totalmente qualificados,identificados.Nósprosseguiremoscomasinvestigações,nointuitodeinvestigaressesjovenseapresentá-los,semenores,àVaradaInfância,e,semaiores,àvaracriminalcompetente”,disseodelegado.
SegundoFernandes,comoocrimeteriaocorridodurantetrêsdiasseguidosemhoráriodeaula,aescolapodeserresponsabilizada.“Odiretorouservidorresponsávelpelasegurançadosalunosnaescolapoderá responder, sim, pela omissão, se ficar caracterizado que elepodia e devia agir para evitar que o resultado ocorresse”, afirmouFernandes.
O pai da menina também contou que a adolescente estáconstrangidaenãoquertocarnoassunto.Afamíliapretendemudardeendereçoetrocarameninadeescola.
Ossuspeitospodemresponderporestuprodevulnerável.Omaiordeidadepodepegaraté15anosdereclusão.Osmenorespodemterdecumprirmedidasócioeducativadeaté3anosdeinternação.
(http://g1.globo.com/distrito-federal/ noticia/2012/06/adolescente-sofre-abuso-sexual-
dentro-de-escola-do-df-diz-policia.html).
QUESTÕES1)Hácasosdeviolênciasexualemsuaescola?2)Oqueadireçãoeprofessorestêmfeitoparadiscutirotemaou
tomarprovidências?3)Aquestãosexualéumtabuemsuaescola?
![Page 21: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/21.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 21
A Escola e a diversidade sexual
Umadasquestõesmaispolêmicasequetemsuscitadomuitosdebatesnasescolasenasociedadeéadiversidadesexual.Hoje,
muitaspessoastêmassumidodeformamaisabertasuasexualidade,emtemposdemaioraceitaçãoedeafirmaçãodadiversidadesexual.Entretanto,gruposconservadoresepessoasintolerantestêmreagido,pornãoaceitaremessacondição.
Antesdeabordarmosmaisdetidamenteestaquestãonaescola,vamoscomeçarfalandodoqueestamostratando.Sexo,sexualidade,orientaçãosexual,diversidadesexualegênerosãoasmesmascoisas?Sobreoqueestamosfalandoaonosreferirmosàsexualidade?Queégênero?
Diversidade sexual refere-se às variadas formas de vivenciar eexperimentarasexualidade.Assim,nãoexisteumpadrão,mas,sim,diferentesmaneirasdeexpressar a sexualidade.Noentanto,muitaspessoas têm dificuldades e são discriminadas, sendo reprimidas ouimpedidasdeviverlivrementesuasexualidade.
VamostrazerdadosdeumapesquisadesenvolvidapelaFundaçãoPerseu Abramo, em 2009, considerada a primeira investigaçãovoltada para o tema da diversidade sexual no Brasil. Amaioria daspessoas entrevistadas, nessa enquete, respondeu que acredita queo preconceito contra as pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais,transexuaisetravestis)égrandenoBrasil,empercentuaisquevariamde93%paraostravestise26%contragays.
Nessamesmapesquisa,foifeitaumaescalaquebuscavaclassificar
![Page 22: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/22.jpg)
22 PAULOCESARPONTESFRAGA
oníveldopreconceitodaspessoasemrelaçãoàpopulaçãoLGBT.Osresultados apontaramque6%dos entrevistados foram classificadoscomo pessoas que têm forte preconceito; 39% com preconceitomediano; 54% apresentaram um grau leve de preconceitos.Mas, oquemais sedestacou, foio fatodeque, apenas,umpor centodosentrevistadosnãoexpressouqualquerníveldepreconceito.
Comosdadosdessapesquisa,podemosafirmarqueadiscriminaçãocontra a população LGBT émuito alta. Nem toda discriminação ouintolerânciacomdeterminadosgruposoucomportamentosacarretaemviolênciasmaisgravescomoagressãofísica,tentativadehomicídioou homicídio, ainda que a discriminação, por si mesma, possa serconsideradaumaformadeviolência.
Todavia,emmuitoscasosopreconceitoeaintolerânciaterminamemhumilhações,agressõesverbaisoufísicasqueafetamaspessoascomorientaçãosexualnogrupoLGBT.Nessescasos,estamostratandodeumagraveviolaçãodosdireitoshumanosdessaspessoas.
Noambienteescolarasituaçãonãoédiferente.Muitosalunoseatéprofessoresdiscriminamehumilhampessoasporsuaorientaçãosexualquenãoseencaixamnoscomportamentosheteronormativos,ouseja,localizadosforadospadrõesdaheterossexualidade.
Sexo é distinto de sexualidade e de gênero. O sexo é umadeterminaçãobiológica.Aspessoasnascemcom sexomasculinooucomsexofeminino.Entretanto,hoje,jásesabequeexistempessoasquenascemcomumacombinatóriadessesfatorese,porisso,podemapresentar características de ambos os sexos. Essas pessoas sãodenominadasintersexos.
Aorientaçãosexual,porsuavez,significaasformasdiferenciadasdeviveredirecionarodesejosexual/afetivodecadapessoa.Podemosdizerqueastrêsprincipaisorientaçõessexuaissão:
1) Heterossexual -Pessoasquetêmatraçãosexualporpessoasdosexooposto.
2) Homossexual - Sãoaqueleseaquelasquetêmdesejosexualporpessoasdomesmosexo.
3) Bissexual -Homensemulheresquetêmatraçãoporpessoasdomesmosexooupelosexooposto.
![Page 23: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/23.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 23
Logicamente,essasorientaçõesestão sempreem transformações.No entanto, o termo orientaçãoé o mais adequado para definiras formas de expressar o desejosexual. Não é correto se referirao direcionamento do desejosexual/afetivocomoopçãosexual,pois não se trata de escolha pordeterminadadireção.
Outra questão importante afrisar é que homossexualidadeou bissexualidade não é doença. Desde a década de 1990,a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconhece que ahomossexualidadenãoestáatreladaanenhumapatologia.
Ogênero,porsuavez,correspondeaumaidentidadequepodecorresponder ou não aos elementos culturais e sociais do sexo dapessoa. Ou seja, há uma relação entre o sexo e comportamentosespecíficos.Quandohárelaçãodiretaentreosexoeocomportamentosexualdocomportamentoculturale socialesperadoparao sexodapessoa,estapessoaéconsideradacisgênero.
Poroutrolado,hápessoasdosexomasculinoedosexofemininoque se identificam com hábitos e comportamentos, que sãoculturalmente associados ao sexo oposto ao seu. Isto é, apesar deserembiologicamentedosexomasculinooufeminino,seidentificamcomosexooposto.Assim,osestudiososdoassuntochamamaatençãodequeosexoébiológicoeogêneroéconstruídoculturalmente.
Hoje,épossívelidentificaralgunsgêneros:
1) Travesti - Pessoasquesevestemepodemfazertransformaçãono corpo, buscando ficar parecida com o sexo oposto.Entretanto,nãosãopessoasquefazemcirurgiasparamudardesexo.
2) Transexual masculino ou feminino - Pessoas que realizam,geralmente, mudanças mais profundas do corpo por meio
![Page 24: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/24.jpg)
24 PAULOCESARPONTESFRAGA
de terapias hormonais a ponto de seu corpo aparentar ascaracterísticas do sexo oposto. Muitas pessoas transexuais,nãochegamafazeraoperaçãoparatrocadesexo,selimitandoàscaracterísticasexternascomoseio,vozmaisafinada,curvaspróprias do corpo feminino para homens que se tornammulherestransgênerasebarbae músculosparaaspessoasdosexofemininoquebuscamsetornarhomenstransexuais.
3) Cisgênero - Pessoasqueagemese identificamcomhábitosculturalmenteassociadoaoseusexo.
Todas essas questões, logicamente, aparecem na escola, nemsemprecomtodaessa intensidade.Masnãorestadúvidadequeaspessoas homossexuais ou com identidade de gênero diferente doseu sexo sofrem muitos preconceitos de indivíduos e grupos quenãoaceitamousãointolerantescomoquesedenominadiversidadesexual.
Aescolacomolocaldeexercícioeaprendizadodevalorescidadãosedosdireitoshumanosdeveestaratentaaosepisódiosdeintolerânciasexualebuscarcoibirsuaspráticas.Paraisso,aescolaprecisater,alémdeboainformaçãosobreotema,estratégiasparaseuenfrentamento.Umbomcaminhoépromoverpalestras edebates sobreo assunto,envolver todoo corpodeatores ligadosdiretaou indiretamenteaouniverso escolar (responsáveis, funcionários, alunos e professores)para compreender suas visões sobre o assunto. O tema pode serincluídotransversalmenteemváriasdisciplinas.
NãoháestudosmaisaprofundadosnoBrasilsobreotema,masésignificativoonúmerode jovenseadolescenteshomossexuaisqueabandonamosestudosdevidoàperseguição, ahumilhaçãoeoutrasformasdeviolência.AUNESCOtemchamadoaatençãodesseproblemaqueestápresenteemmilharesdeescolaaoredordomundo.
No Brasil, em 2009, o Sindicato dos Profissionais de Ensinodo Estado do Rio de Janeiro (SEPE), estimou que cerca de 20%dos alunos homossexuais abandonavam o ensino fundamentaldevido ao preconceito e às discriminações que sofrem. Apesarde nos últimos anos ter havido avanço na garantia dos direitos
![Page 25: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/25.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 25
daspessoashomoafetivasedadiversidadesexual,aindaéforteadiscriminação.
Outraquestãoquetemmerecidoatençãonaescolaéopreconceitocontrafamíliashomoafetivas,notadamente,defilhosquetêmsofridoperseguições.
QUADRO 5 Garoto filho de casal homossexual morre
após agressão em escola
Um dos pais disse não saber que o filho sofria preconceito. Oadolescentede14anossofriadeaneurismaenãoresistiuàsagressões
Umadolescentede14anosmorreunestasegunda-feira,9,apósseragredidodentrodaescolapúblicaondeestudavanaGrandeSãoPaulo.PetersonRicardodeOliveiraéfilhodeumcasalhomossexualeesseteriasidoomotivoquegerouabriga.
Um dos pais, Márcio Nogueira, disse que nunca soube queo filho sofria preconceito. Ao ser informado pelo delegadoEduardo Boiguez Queiroz decidiu divulgar a agressão da últimaquinta, 5, para evitar que novos casos como esse aconteçam. Abriga que Peterson se envolveu poderia não ter causado grandesdanosasaúde,segundoodelegado.Oadolescentechegouaassistir
![Page 26: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/26.jpg)
26 PAULOCESARPONTESFRAGA
aula depois da confusão,mas como sofria de aneurisma foi levadoparaohospitalondeentrouemcomaenãoresistiu.
Doisdosagressores foramàcasados familiaresdavítimaparasedesculparem.OspaispretendemprocessaroEstado.ASecretariaEstadualdeEducaçãodeSãoPaulodivulgounotaoficialnegandoquetenha acontecido alguma agressão no interior da unidade onde oadolescenteestuda.
(O Povo on line, 10/03/2015)
QUESTÕES
1. Como uma instituição escolar pode negar a variabilidade do desejo sexual existente na sociedade? A dignidade humana é umprincípioverdadeiroouéumadisposiçãoseletivanouniversoescolar?A discussão no plano da cidadania envolve perspectivas universais,quedevemserreclamadasnaescola,nafamíliaenoEstado.(discursodetolerância)
![Page 27: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/27.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 27
Escola, Bullying e Racismo
A palavra bullying, que é originária da língua inglesa, e quesignifica intimidar, provocar, passou a ser utilizada por
especialistas para caracterizar a perseguição sistemática de umapessoaoupessoasporalguémouumgrupodepessoasquebuscamhumilhá-la(s),ofendê-la(s)ouconstrangê-las.
A caracterização do bullying como um problema que atinge,notadamente, crianças e jovens, podendo acarretar em sériosproblemasderelacionamento,psicológicose,emcasosextremo,aosuicídiodaspessoasatingidas.
Não é qualquer ofensa, xingamento ou desaforo que deveser considerado bullying, mas, sim, uma perseguição sistemática,direcionada e que se repete em período prolongado de tempo,podendochegaraanos.
Geralmente,asofensassedãoporalgumacaracterísticadapessoaperseguidaouqueaquelesqueaperseguemqueremdestacarequeestãoatreladasaalgumpreconceitoounão.Geralmentesãoalvosdebullying pessoas vistas como acima oumuito abaixo do peso pelospadrõesestéticosdominantes;pessoaspertencentesadeterminadasreligiões;pessoasafrodescentesouindígenas,nocasobrasileirooudealgumaraça/etnia,dependendodopaís;homossexuais,entreoutras.Entretanto, as características pessoais podem ser alvo de bullying comoatimidezouaformadesevestir.
Uma questão, entretanto, deve ser compreendida maisespecificamente. Racismoe injúria racial não sãomeras práticas de
![Page 28: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/28.jpg)
28 PAULOCESARPONTESFRAGA
bullying, sãocrimesespecíficos.Pormaisquehajaumaperseguiçãopor alguém devido à sua condição racial, o tratamento deve serespecíficopeladireçãodaescolaepelosprofessores.
Oumesmo pode ser dito em relação à liberdade religiosa, queiremos abordar mais à frente e à diversidade sexual, que já nosreferimos,anteriormente.
Ocombateàspráticas racistasdeveserprioridadeemqualquerescolaeaçõesespecíficasdevemserimplementadaspelainstituiçãodeensinovisandocoibirqualquerpráticadestanaturezaeobjetivandoàpromoçãodacidadaniaedosdireitoshumanos.
Oracismoéumaideologiaquepregaasuperioridadedeumgrupoétnicoouracialsobreoutroououtrosouainferioridadedeumgruposobreosdemaisoualgumespecífico.
Oracismonãotembasecientíficaalguma,emboramuitasfalsasteorias foram criadas para justificá-lo. Crimes contra a humanidadeeamanutençãodegruposespecíficosemcondiçõesdesumanas,deextremapobreza,misériaforamesãopraticadosporcausadoracismo.
ONazismo,oApartheid naÁfricadoSul,osistemadeleiseregrasnoSuldosEUAqueseparavamosnegrosdosbrancossãoexemplosdepráticasracistassistemáticaseorganizadaslevadasacaboporgovernoequeseconstituírampolíticasdeEstado,emalgunscasos.
No entanto, o racismo está difundido de maneira menossistemáticaecontinuaatingindopessoasegrupos.OBrasil,quefoiumpaísqueteveescravidão,continuacomumadívidahistóricacomosdescendentesdessapopulaçãoquefoiretiradaaforçadesuasterraspelosistemadetráficodeescravos.
OpreconceitoracialcontraafrodescendenteseospovosindígenaseseusdescendentesaindaéfortenoBrasileserefletenosindicadoressocioeconômicos e em práticas cotidianas como a injúria racial e asegregação.
Apráticadebullying emescolasbrasileirasnãoéalgonovo,masvem ganhandomaior relevo, pois atinge alunos e alunas de formamaiscontundentedoqueantes,porrelatosdedesencadeamentodedoençascomoadepressão.
APesquisaNacionaldeSaúdedoEscolar(PENSE),realizadapeloIBGEemparceriacomoMinistériodaSaúde,de2012,revelouque.
![Page 29: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/29.jpg)
7,2%dosalunosentrevistadosinformaramquenoperíododeumanoanterioràpesquisa,sempreouquasesempresesentiramhumilhadospor provocações no interior do estabelecimento de ensino ondeestudavamnos30diasanterioresàinvestigação.
APENSErevelouumdadoqueexpressabemasituaçãodebullying nas escolas brasileiras. Um percentual de 20,8% dos adolescentesadmitiuquepraticoualgumtipobullyingemcolegasdeescolas.
Naediçãode2009dapesquisa,5,4%dosentrevistadosadmitiramter sofrido bullying em algummomento na escola, percentual queaumentou6,9%napesquisade2012.
Outroproblemaquevemchamandoaatençãodosespecialistaséodenominadocyberbullying,ouseja,autilizaçãodainternetedemeioseletrônicos para divulgar imagens, difundir notícias que exponhamumapessoadeformaahumilhá-la,constrangê-laoudifamá-la.
As redessociais,hoje, sãomeiosutilizadosparaadisseminaçãodocyberbullyingeavelocidadeeaabrangênciaemquepodematingirexpõeumapessoaparaomundointeiro.Assim,casosdeadolescentesqueemsituaçõesdeintimidadefoifilmadasemseuconsentimentoeteveasituaçãoexpostanãotêmsidoincomuns.
Naescola,osdiretoressãoobrigadosaenfrentarsituações,muitasvezesgeradasdentrodaprópriainstituiçãodeensinooudifundidaporalunosealunas.Sãosituaçõesmuitocomplexas.
QUESTÕESComosuaescolatemenfrentadoaquestãodobullying?Comotemsido feitasorientaçõesparaosalunosquantoaouso
dasredessociais?Ospaistêmseenvolvidocomodebatedaquestãoemsuaescola?Qual o alcance da escola diante das virtualidades nas relações
escolares? Que tipo desociabilidade os alunosestabelecem nas redessociais que impactam acomunidade escolar? O queos alunos experimentamnão é possível controlar,
![Page 30: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/30.jpg)
30 PAULOCESARPONTESFRAGA
mas reconhecer essas virtualidades como um artefato cultural,que pressupõem estabelecimento de relacionamento, interação,comunicaçãoetambémviolênciareclamaumaposturapreventivadaescolar, sobretudona socializaçãodas responsabilidades e riscosnainternet
QUADRO 6 O desabafo de um menino de 11 anos que
é vítima de racismo na escola
“Eu não aguento mais”. Menino de apenas 11 anos que nãosuportamaissofrerpreconceito“todosantodia”naescolapublicaumvídeo-desabafopedindobasta
KauanAlvarengaestudanaescolaJoãoVieiradeAlmeida,naVilaMaria,cidadedeSãoPaulo.Omenino,deapenas11anos,publicounoYoutubeumvídeo-desabafoemquepedeumbastanasperseguiçõesracistasquesofrediariamentenaescola.
Apesar de comovente, o conteúdo soma pouco mais de milvisualizaçõesatéofechamentodestetexto.
“Meu nome é Kauan Alvarenga, tenho 11 anos. Olha aqui, voufalar uma coisa para vocês […] todo dia, todo santo dia, todo diamesmo,elesmexemcommeucabelo,mexemcomigo,equandoeuvoufalarpraprofessora,[ela]nãodáatenção,nãofalanada,fingequenãoouviu”,explicaKauan.
![Page 31: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/31.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 31
“Eunãotôaguentandomais.Tododia,naescola,narua,dentrodaminhasaladeaula,debochamdomeucabelo,nãoseiporquê[…]oproblemaémeu,ocabeloémeu.Asvezesmebatem,meagridem,queria que parassem com isso, entendeu?Não tô aguentando, nãodá, nãodá… tododia,muitas vezes são ‘ummonte’me zoando’, ‘5marmanjão’dotamanhodaminhamãe”,desabafaomenino.(...)
(Pragmatismopolítico,14deagostode2015)
QUADRO 7 Conselho responsabiliza diretora por
bullying e racismo
Estudantes de escola estadual de Campo Grande sofreram agressões e discriminação racial
A diretora da Escola Estadual Delmira Ramos dos Santos, deCampo Grande (MS), foi responsabilizada por “bullying associado àdiscriminação racial” cometido contra dois alunos de 13 e 15 anos,emparecerdoConselhoNacionaldeEducação(CNE).Adecisão,queaguardahomologaçãodoministrodaEducação,FernandoHaddad,foipublicadanoDiárioOficialdaUniãodestaquinta-feira.
De acordo com o parecer da conselheira e relatora Nilma LinoGomes, Antonesia Maria dos Santos da Costa, mãe das vítimas,registrou um Boletim de Ocorrência no qual afirmava seus filhossofreram injúria e agressões feitas pelos alunos da escola. SegundoAntonesia,osjovenseramalvosdeagressõesdecunhoracista,como“oseucabeloéfeitoprafazerBombril”,“suapeleéparafazercarvãoeacarneparafazercomidadeporco”,“pretosfedidos”e“urubu”.
Aindadeacordocomaversãodamãe,adireçãodaescola“fezpouco caso da situação”. Após a divulgação do caso na imprensalocal,Antonesiaeadiretora“tiveramumareunião tensanaqualasduasseexaltaram”.OcasofoiencaminhadoaoCNEpelaPresidênciada República/Ouvidoria da Secretaria de Políticas de Promoção daIgualdadeRacial(Seppir).
O CNE avalia que existiu “bullying associado à prática dediscriminaçãoracial”nocasoeexigequeadireçãodaescolapresteesclarecimentosaoColegiadoEscolar,aoConselhoTutelar,aoConselho
![Page 32: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/32.jpg)
32 PAULOCESARPONTESFRAGA
EstadualdeEducação,aoConselhoEstadualdosDireitosdoNegroeàSecretariaEstadualdeEducaçãodeMatoGrossoSul.AsexplicaçõesdevemserdadastambémàAntonesia,autoradadenúncia,feitaemjulhodesteano.
OparecerindicaaindaqueaSecretariaEstadualdeEducaçãodeMatoGrossodoSuleoConselhoTutelarverifiquemasituaçãoescolarda adolescente de 15 anos, filha de Antonesia, que abandonou osestudosapósasagressões.OdocumentotambémorientaaSecretariae todas as escolas do Estado a realizarem práticas pedagógicas,envolvendoos profissionais da educação, estudantes e comunidadeescolarna implementaçãodasDiretrizesCurricularesNacionaisparaaEducaçãodasRelaçõesÉtnico-RaciaiseparaoEnsinodeHistóriaeCulturaAfro-BrasileiraeAfricana.
OConselhodeterminaaindaqueaSecretariadeEducaçãoapoieaEscolaEstadualDelmiraRamosdosSantosnodesenvolvimentode“umprocessodeformaçãoemserviçoecontinuadadosprofessores,quefocalizeadiscussãosobrediversidadeerespeitoàsdiferenças,ocombateaoracismoeofenômenodobullyingnasescolas”.
Procuradapelareportagem,aSecretariaEstadualdeEducaçãodeMatoGrosso do Sul ainda não semanifestou sobre o caso. (ÚltimoSegundo,IGSãoPaulo,28/10/2010)
QUADRO 8 Jovens são vítimas de crimes contra a honra
nas redes sociais
No interior do Rio, meninas de até 11 anos já sofrem com aexposição na internet. Em Volta Redonda e Casimiro de Abreu,campanhas vão esclarecer a população para ajudar a combater a‘epidemia’
Rio-Aos11anos,aestudantedoEnsinoFundamentalW.viuseumundovirardepernasparaoardepoisqueenviouumafotoíntimaaumrapaz,de16,pormeiodoFacebook.Logoa imagemfoi compartilhada nas redes sociais. Moradora de Casimiro deAbreu, a criança virou o principal assunto da cidade de poucomaisde30milhabitantes,a140quilômetrosdoRio.W.teveque
![Page 33: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/33.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 33
mudardecolégioefoiproibidapelospaisdeusarcomputadores.Oinseparávelcelularquecarreganobolsoagoraserveapenasparaescutarmúsicasenãotemchipdenenhumaoperadora.Odramaenfrentadopela famíliadeW.écadavezmaiscomumno interiordoRio.
Nos últimos três anos, o número de crimes de informáticaregistradosnaúnicadelegaciaespecializadadoestado,quefuncionanacapital,aumentou43%,chegandoa2.094em2013.“Crimevirtualjádeixoudeserumproblemaapenasdecidadegrande.Apopularizaçãoda internetedoscelularescom internet tornoumuitomais comumessetipodecrime.
Cercade30%doscasosquechegamaquisãodecrimescontraahonra”,revelaodelegadotitulardaDelegaciadeRepressãoaosCrimesdeInformática,AlessandroThiers.Asprincipaisocorrênciasdomundovirtual são crimes contra a honra, fraudes diversas, pedofilia e usodainternetparaapologiaaoutroscrimes.Aindanãohá,noentanto,comomensurarcadaumdessessegmentos.
Oesclarecimentodapopulação,quetemprocuradocadavezmaisapolícia,éapontadoporThierscomoumfatordeterminanteparaosaltodasocorrênciascibernéticas.“Éimportantequeasvítimassaibamque,alémdaDRCI(localizadanoCentrodoRio),podemprestarqueixadecrimesvirtuaisemdelegaciascomunsdaprópriacidade”,completa.
FoioquefezaestudantedeEducaçãoFísicaY.,de21anos.Háduassemanas,ajovemprocuroua93ªDP(VoltaRedonda)paradenunciaroex-namoradoC.,de25.Inconformadocomofimdorelacionamento,orapazpostoufotosdeY.nainterneteimagensdarelaçãosexualquemantinham.Alémdisso,C.divulgoutelefoneseendereçodavítimaemredessociais,classificando-acomosupostagarotadeprograma.
O chamado ‘estupro virtual’, quedepreciamoralmente a vítimacomextensãoincalculável,comooqueenvolveuY.,éumdosdelitosqueocorremcomfrequênciaemVoltaRedonda,ondecercade120crimes cibernéticos são registrados por mês. O número, segundoodelegadoda93ªDP,Antônio Furtado, épraticamenteodobrodoregistradoanopassado.
(Jornal O DIA, 10 de maio de 2014)
![Page 34: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/34.jpg)
34 PAULOCESARPONTESFRAGA
Escola e Religião
O Brasil é um país laico, onde há a liberdade de associaçãoreligiosa.ACartaMagnagaranteoexercíciodereligiõesede
cultosreligiososemtodooterritórionacional,assimcomoasseguraodireitoàquelesquesãoateus,denãosofreremnenhumaperseguiçãopor isso. No entanto, nos últimos anos registraram-se casos deperseguiçãoadeterminadasreligiões,notadamente,asreligiõesafro-brasileirascomoocandomblé,eaumbanda.
As religiões afro-brasileiras que foram alvos de perseguiçõessistemáticasnaprimeirametadedo Século XX, passarama ter seuscultoseseguidoresalvosdeprofanação,violência,novamente,aofimdoSéculoeiníciodoSéculoXXI.Oscasosdeintolerância,antesapenasepisódicos e sem grandes repercussões, ganharamproporçõesmaisintensasetiveramonúmerodeocorrênciasincrementado,ganhandomaior visibilidade pública. Segundo Silva (2015), esse aumentosignificativo fez comque tais fatos saíssemda esfera cotidiana e setransformaramemprocessoscriminais.
Uma pesquisa sobre relações raciais na escola (Carreira, 2010)mostrou que émuito alta a discriminação na escola contra alunos,eatéprofessores,quesãoseguidoresdereligiõesafro-brasileiras.Oestudo revela que a falta de preparo dos profissionais de educaçãoem lidar com o tema reforça o preconceito, muitas vezes. Existemcasos,queosprópriosprofessoressãofundamentaisnaspráticasdeintolerânciareligiosa.
![Page 35: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/35.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 35
ALDBconcebeoensinoreligioso como completarà educação, mas buscagarantirarepresentatividadede todas as religiões. Ondeháensinoreligiosonoensinopúblico, no entanto, temhavido problemas, também,poisnãoháumequilíbrionaofertaparatodasasreligiões(DINIZ, LIONÇO e CARRIÃO,2010), tornando-se em suamaioria, ensino voltado,apenas, para o ensinocristão, majoritariamente,católico. Não significa queo ensino religioso reforce aintolerância, mas que há anecessidadede se trabalharmelhor a concepção deensino religioso, evitandoestigmas comdeterminadasreligiões não hegemônicasno conjunto da populaçãobrasileira.
Não somente em relação às religiões de matrizes africanas,mas, também, contra os mulçumanos, a intolerância religiosa temaumentado.Casosdejovensquetiveramseuvéuqueimado,xingadasdeterroristasedeoutrostiposdeofensasaumentaramnoBrasilnosúltimosanos.ORiodejaneiroéoEstadoquetemregistradonúmerocrescentedestetipodeintolerânciareligiosa.
![Page 36: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/36.jpg)
36 PAULOCESARPONTESFRAGA
Intolerância religiosa afasta professora de QUADRO 9 escola na Praça Seca, na Zona Oeste
Adereçodocandomblégerouconfusãoealunaacusadocentedeconstrangimento
Rio-AintolerânciareligiosaprovocoumaisumavítimaemescolanoRio de Janeiro, desta vez umamenina de 11 anos, aluna de umcolégioparticularnaPraçaSeca,emJacarepaguá,ZonaOeste.
Iniciada no fim do ano passado no candomblé, religião deseus pais e suas irmãsmais novas, C.T., aluna do 6º ano do EnsinoFundamental,acusouumaprofessoradeconstrangimentoedetê-laproibidodeassistiràaulacomumadereçofeitodepalhaeamarradoaosantebraços,conhecidonocandomblécomocontraegum.
“Eladissequeeunãopoderiaficarnaaulaporqueocontraegumnãofaziapartedouniformeeeu,semsaberoquefazer,saídesala”,disseaestudante,abatida.
AmãedeC.contouqueseassustouaoirbuscarafilhanaescola,na quinta-feira passada. Disse que a garota estava acanhada e, aoveramãe,começouachorarsemsaberoquefazer.Orientadapeloadvogadoda família, amãe foi à28ªDP (Campinho)prestarqueixacontraaescolaeaprofessora.
“Se ela não pode usar uma fita no antebraço, por baixo douniforme,outrascriançastambémnãopodemusarpulseiras,cordõesemedalhas.O que vale para um temque valer para todomundo”,disseamãedacriança.
Obabalorixádafamília,PaiMarcusdeOxóssi,bisnetodafamosaMãeMenininhadoGantois, lamentouqueaindatenhaqueconvivercom preconceito e intolerância, principalmente em escolas, onde oquedeveriaserensinadoéooposto.
“Infelizmente, em pleno século XXI, temos ainda casos e maiscasosdeintolerânciareligiosa”,disseobabalorixá.
A polêmica, desta vez, parece ter sido contornada sem anecessidadedeintervençãojudicial.Afamíliadajovemfoiprocuradapela escola, e informada que a professora foi afastada do cargo.Tambémfoioferecidaumabolsadeestudosàaluna.
“A escola entendeu o problema e procurou se redimir. Isso é
![Page 37: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/37.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 37
importante para servir de exemplo para os alunos”, disse amãedaestudante.
(JornalODIA11/02/2015)
QUADRO 10 Estudante agredida por intolerância religiosa
dentro de escola não quer voltar ao colégio
Háummês,aadolescenteAgnes,de14anos,nãoquervoltaraoColégioEstadualAlfredoParodi,emCuritiba,porvergonha.Nodia31deagosto,a jovemfoiagredidaporumacolegade turma,dentro da escola, por intolerância religiosa. A motivação para aagressãofoiumafoto,postadanodiaanterioremumaredesocial,emqueameninaapareceaoladodamãeedeumaamiga,astrêsdoCandomblé.
— A gente ia levar uma amiga no aeroporto e tirou uma fotocomela lá.AAgnes foimarcadana fotoe viramnoFacebookdela.Nodiaseguinte,naprimeiraaula,umameninadissequenãoqueriaficarpertodaAgnesporqueelaeradamacumba.AAgnescomeçouaexplicaroqueera,masdepoisfalaramqueiamchutá-la,porqueelaédamacumba.AmeninafoiechutouaAgnes,quecaiucomacabeçanaparede—explicaamãedaadolescente,DegaMariaPascoal.
Aindasegundoamãe,desdeoepisódio,aadolescentenãoquervoltaràescola,assimcomooirmãodela,de11anos.DegaMariacontaaindaquesósoubedaagressãoquandofoibuscarafilhanocolégioeatéhojenãorecebeuqualquerassistência.
—Chegueinocolégioparabuscarmeusfilhosefiqueinoportãoesperando.ViqueelesnãosaíamdocolégioefuiperguntarsetinhamvistoaAgnes.Mefalaram:“Tia,aAgnesestámachucadaládentro”.Entreiparadentrodaescolaeviaminhafilhacomorostomachucado,sangrando, umgalo enormeda testa. E elame falou: “Essameninamechamoudemacumbeira.Dissequeasenhoranãopresta,queasenhoraéumadoença”—descreveamãe,queregistrouocasonadelegacia,depoisdelevarafilhaatéumhospital.
— Passaram uns dias e eu fuim em uma reunião, mostrei foto,
![Page 38: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/38.jpg)
38 PAULOCESARPONTESFRAGA
coloquei no Facebook.Mandaram um assistente social para conversarcomaAgnesemefalaramparamarcarumapsicóloga.Sóisso.Játemmaisdeummêseatéagoraninguémfeznada.Elaestádeprimida.Todomundoviuoqueaconteceudentrodocolégio.Eopioréquefoidentro.Eutinhapreocupaçãodequeessetipodecoisaacontecesseforadaescola,porissoqueiabuscarmeusfilhostododia,masfoidentro—relataDegaMaria.
AmãecontaaindaqueessanãofoiaprimeiravezqueelaeAgnesforam vítimas de intolerância. Dega Maria lamenta que agressõesdessetiposejamfrequentes,porfaltaderespeitoàreligiãodosoutros.
—Écomumisso.Umavezfomosaumapadariacompraralgumacoisaefomosperseguidos,euemeustrêsfilhos,porumcarrocomrapazesdecamisade“exércitodeJesus”.Dessavezagoraeupreferiaquetivesseacontecidocomigo,seriadiferente.AAgnesestásofrendomuito,estámuitomagrinha,comorostomachucado,comvergonha,semvontadedevoltaraocolégio—lamenta.
Fonte: Jornal Extra em 30/09/2015
QUESTÃOComo as várias representações da formação religiosa pode
acender a chama do conflito e da violência, dentro da ostensiva que as disputas religiosas se colocam diante das instituições escolares? Alaicidadenãoéumaopção,éelaquepermitealiberdadedeopçãoqueosatorespodemacionar,nassuasdimensõesprivadas.
![Page 39: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/39.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 39
Escola e drogas
A questão das drogas é uma das principais preocupações deprofessores,paisediretoresdeescolaspúblicaseprivadasno
Brasil.Háquaseumaassociaçãodiretaquando se fala emviolêncianaescolacomousoeotráficodedrogas.Eapreocupaçãonãoésemsentido, são inúmerososcasosdeproblemasnasescolasbrasileirasligadasàquestãodasdrogas.
Entretanto, autores como Da Agra (2008) e Brochu (2006), querealizaramestudosemseuspaíses,relativizamessaassociaçãodiretaentredrogaseviolência.Elesacreditamquefazerumarelaçãodiretaentreosfenômenosédesconhecertodaacomplexidadequeseestabeleceentreeles.Paraeles,énecessárioconsiderarumasériedefatoresedevariáveisque interagem na relação. Nesse sentido, não consideram prudenteestabelecerumarelaçãoincondicionalentreasdrogaseaviolência.
No entanto, consideram que em relação à problemática dofenômenodasdrogas,osadolescentes sãoogrupoetárioquemaiscausampreocupações(BROCHU,2006).
NoBrasil,amaiorvisibilidadedotráficodedrogaseosconflitosentre quadrilhas, que são responsáveis pelo incremento das taxasdehomicídiosedeoutrasviolênciasemdiversascidadesbrasileiras,associaramasdrogasaesseseventos. Logicamente,a criminalidadevulnerabiliza aqueles envolvidos em suas ações a determinadasviolências.Entretanto,apesarde ilegalna totalidadedospaíses,emmuitosdelesotráficonãoseapresentacomaletalidadeouviolênciacomoocorreempaísescomoMéxicoeBrasil(Fraga,2015).
![Page 40: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/40.jpg)
40 PAULOCESARPONTESFRAGA
AviolênciadotráficonoBrasilestávinculadaaoutrosfatorescomo:agrandepresençadearmasdefogonasbocasdefumo;aresoluçãodeconflitospelaviolência;adisputaconstantedeexpansãoterritorialde determinados grupos; as estratégias de repressão da polícia e acorrupçãopolicial;estigmadeusuáriosetraficanteseoutrosfatores(Fraga,2015).
Nessecontexto,instituiçõescomoaescolanãoestãoimunesà violência que se observa em diversas áreas de pequenas,médiasegrandescidadesbrasileiras.Poroutro lado,a faltadeumapolíticapública mais abrangente e sólida de enfrentamento do problemafazcomquehajaoagravamentodasituaçãocomoaumentodousoproblemáticodesubstânciaspsicoativaseoenvolvimentodemuitosjovensnotráficodedrogas(Zaluar,2000).
Ousodeálcool eoutrasdrogas, também, tem sidoumdesafiopara muitas escolas. Uma das questões que se coloca é a falta deconhecimentoepreparodeprofessoreseprofessorasparalidarcomtema tão delicado. As secretarias de educação, apesar de todos osproblemas vividos pelos estabelecimentos de ensino, não têm tidosensibilidadesparatrabalharmelhorotemacomosprofissionaisdeensino.OtemaaindaéTABU.
Assim, a falta de informação leva, muitas vezes, à abordagemmoralizadorasobreotema.Asdrogastêmefeitosdiferenciadossobreoorganismo.
![Page 41: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/41.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 41
QUADRO 11 Tráfico de drogas está perto de 35% das
escolas públicas brasileiras
Pesquisa baseada em respostas de diretores de instituições mostra que problema é maior no Distrito Federal
Pouco mais de um terço (35%) das escolas públicas brasileirastem tráfico de drogas nas proximidades, segundo dados levantadospelo QEdu: Aprendizado em Foco, uma parceria entre aMeritt e aFundação Lemann., organização sem fins lucrativos voltada paraeducação.
EntreosEstados,oDistritoFederal(DF)éocommaiorinciência:53,2%, e amenor ocorrência é registrada no Piauí, com 15,3% dasescolas,masnenhumlugarestálivredarealidade.
PUBLICIDADEA pesquisa se baseou nas respostas dos questionários
socioeconômicosdaProvaBrasil2011,aplicadapeloInstitutoNacionaldeEstudosePesquisasEducacionaisAnísioTeixeira(Inep),divulgadaemagostodoanopassado.Aquestãosobreotráficonasproximidadesdasescolasfoirespondidapor54,5mildiretoresdasescolaspúblicas.Deles, 18,9mil apontaram a existência da atividade. A situação, deacordocomespecialistas,épreocupanteeestáassociadadiretamenteàviolênciaeàprecariedadequecercammuitoscentrosdeensinodopaís,alémdecontribuirparaqueosalunosdeixemdeestudar.
DROGASO responsável pelo estudo, o coordenador de Projetos da
FundaçãoLemann,ErnestoMartins,dizquenãodáparaisolarescolanocontextoemqueestáinserida.“Elafazpartedeumtodomaior,seháviolênciafora,poderáchegartambémaoscentrosdeensino.BastaobservarqueoDistritoFederal[53,2%]eSãoPaulo[47,1%],[regiões]comaltosíndicesdeviolência,são[asáreas]comomaiorpercentual.”
Outroproblemaqueadvémdasituaçãoéaevasãoescolar.ParaadiretoraexecutivadomovimentoTodospelaEducação,PriscilaCruz,aevasãodeveserumadasgrandespreocupaçõesdosgovernos.“Muitosjovensacabamdeixandoosestudospelaproximidadecomasdrogas.
![Page 42: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/42.jpg)
42 PAULOCESARPONTESFRAGA
Issogeraumproblemaaindamaiorquenãopodeserignorado”,diz.Aporcentagem(de35%)constatadapeloestudo,segundoela,seriaaltamesmoquefossem10%oumenos.Paraela,aescoladeveserumlocaldecuidadoeaprendizado.
Morador do Distrito Federal, o coordenador intermediário deDireitosHumanoseDiversidadenaRegionaldeEnsinodoRecantodasEmas (regiãoadministrativadoDF),oprofessorCelsoLeitãoFreitas,confirmaosdadosedizqueotráficopróximoàsescolasémaiscomumdoqueseimagina.
“Asocorrênciassãodiárias.Pensamosqueéumproblemasódoaluno,mas, quando se vai atrás, a família toda está envolvida comdrogaseeletrazessehábitodedentrodecasa”.Freitaséprovadequeotráficoestáassociadoàviolência,tantoentrepessoas,quantoaquechamoudeestrutural:afaltadeserviçosbásicos.“Aquipresenciamosa falta de moradia, de educação, a falta de benefícios econômicoscomoumtodo.”
Os programas para combater o uso de drogas são vários, tantogovernamentais quanto iniciativas privadas, e é consenso que paramudar a realidade nas proximidades da escola é preciso modificara realidadeda comunidade,pormeiodeassistência social e acessoa políticas públicas e a itens básicos como saúde, saneamento,alimentação,alémdeumaeducaçãodequalidade.
Para combatero tráficoeajudarosalunos, aindaenquantoeraprofessor, Freitas resolveu tomar uma iniciativa elemesmo: criou oprojeto Estudar emPaz, para resgatar o interessepelos estudos. “Acomunidadeperdeuoencantopelaescola,precisamosresgatarisso.Aomesmo tempo,as ruasestãocadavezmais ‘encantadoras’, cadavezmaisestamosperdendonossosalunosparaotrafico”,acrescenta.
O estudante Natanael Neves, de 18 anos, fez parte do grupoEstudar em Paz. Dos tempos de escola, ele conta que não tinhaa menor paciência, bastava “não ir com a cara” da pessoa parajá começar abater. E a violência estava lado a lado como tráfico.Apesardenãoterfeitoousodedrogas,eleviucolegasconsumiremtantonasruas,quandodentrodaescola,emSãoSebastião(regiãoadministrativadoDF).
“Olocaltinhapoliciamento,masosguardasficamcommedo.O
![Page 43: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/43.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 43
pessoalsabee[usardrogas]jáéalgoquasenormal”.Aagressividadefoialgoqueherdoudecasa.Eledizquequeriachamaraatençãodospais. A vida pessoal acabava chegando às salas de aula: “Na escolavocêsóaperfeiçoaoqueaprendeemcasa.”
Hoje,Natanaelsedizumanovapessoa,foiaprovadoparaocursodegestãopúblicapeloSistemadeSeleçãoUnificada(Sisu)epretendevoltaraoambienteescolardepoisdeformadoparamudararealidade.Eledizqueperdeuascontasdosamigosquedeixaramassalasdeaulaporproblemascomtráficoeviolência.
(IG São Paulo, 05/02/2013)
QUADRO 12 Alunos de escolas particulares usam
mais drogas que os de colégios públicos
Estudodizqueconsumodeentorpecentesentreestudantescaiupelametade
Levantamentosobreoconsumodedrogasentrealunosdoensinofundamentalemédiodaredepúblicanascapitaisbrasileirasapontaquedade49,5%nousodeentorpecentes,informaramnestaquinta-feira (16) a Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas) eo Cebrid/Unifesp (Centro Brasileiro de Informações sobre DrogasPsicotrópicasdaUniversidadeFederaldeSãoPaulo).
Os pesquisadores ouviram 50.890 estudantes, com predomínioda faixa etária de 13 a 15 anos, sendo 31.280 da rede pública deensinoe19.610daredeparticular.Comoestesúltimosentraramnolevantamentoapenasnesseano,nãopossívelcompararaevoluçãodoconsumoentreeles.
Ainda assim, os números mostram uma disparidade grande.Segundo o levantamento, 13,6% dos alunos de escolas privadasconsultadosafirmaramterusadoalgumtipodedroga(excetoálcooletabaco)nos12mesesanterioresàpesquisa.Naredepública,essepercentualéde9,9%.
Entreosalunosdaredepública,24,2%afirmaramjáterfeitousodedrogaspelomenosumaveznavida.Jáentreosdaredeprivada,30,2%admitiramjáterexperimentadoalgumentorpecente.
![Page 44: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/44.jpg)
44 PAULOCESARPONTESFRAGA
Dentre as substâncias ilícitas mais consumidas estão maconha,cocaína, crack, anfetaminas, solventes, ansiolíticos, esteroides, LSD,êxtase,anfetaminaebebidasenergéticasmisturadasaoálcool.
Apesquisa,noentanto,verificouqueoconsumodequasetodasessassubstânciascaiunosúltimosseisanos.Adrogaqueapresentoumaiorpercentualdereduçãofoiosolvente,usadamaiscomocoladesapateiro.De14,1%deusorecorrente,adrogacaiupara4,9%.Aindaestáàfrentedamaconha,quecaiude4,6%para3,7%,edocrack,queapresentoureduçãode0,7%para0,4%.
A cocaína, no entanto, apresentou crescimento no consumo.Em2004,1,7%dosestudantesdaredepúblicaafirmaramconsumiradrogapelomenosumavezaoano.Em2010,opercentualsubiupara1,9%.
O consumo de álcool caiu 35,1% entre os alunos de escolaspúblicas.Jáodetabaco,apresentoureduçãode37,6%.
(Gustavo Gantois, do R7, em Brasília, 16 de dezembro de 2010)
QUESTÕES1.O consumo e o tráfico de drogas na escola: duas dimensões
desafiantesparaouniversoescolar.Que tipo de relação entre a família, escola e alunos estão sendo estabelecidos na formação individual desses alunos?Quaismotivosàsdrogasestãosendoacionadas,emdeterminados períodos da fase desses alunos?O que está em jogosãoprojetosquesinalizereferênciaseexperiênciaspositivascomasexperiênciasdesseuniversopessoalecoletivodosalunos.
![Page 45: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/45.jpg)
VIOLÊNCIANAESCOLA:SÃOPOSSÍVEISAÇÕESDEPREVENÇÃO? 45
Considerações Finais
Esperamosqueestelivrocumpraseuobjetivodefomentardiscussões e debates entre educadores e profissionais
de ensino. Os desafios para a escola sãomuitos, mas temosqueconsideraraexperiênciadosprofessoreseprofessoresearealidadedecadainstituiçãodeensino.
Oseducadoresprecisamlidarcomumagamasignificativadetemaseproblemase,sozinhos,nãoconseguemenfrentá-los.Oapoioaosprofissionaisdeensinoéelementofundamentalparadiminuirasdiversasformasdeviolênciaqueseexpressamnoespaçoescolareesperamosterdadoumapequenaajuda,queseja.
.
![Page 46: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/46.jpg)
46 PAULOCESARPONTESFRAGA
REFERÊNCIAS
ABRAMOVAY, M. Cotidiano das escolas: entre violências. UNESCO.Brasília. DF. 2006. Disponível: http://unesdoc.unesco.org/images/0014/001452/145265POR.pdf.Acessoem: 16maio2009.______.(Coord.) Schools of Peace. Brasília: UNESCO e Governo do EstadodoRiodeJaneiro/SecretariadeEstadodeEducação,UniversidadedoRiodeJaneiro,2001.
AMARAL NETO, Castúlio do. Diários escolares: Fragmento e memórias dehomossexuais no cotidiano escolar. Disponível em: <http://www.armariox.com.br/documentos/textoeducargls.doc>.Acessoem:24ago.2015.
APOESP/DATAPOPULAR.QualidadedaeducaçãonasescolasestaduaisdeSãoPaulo.SãoPaulo,Apoesp,2009.
BROCHU, S.Drogue et criminalité: une relation complexe. 2. ed. Publ. à l’originedanslacoll:Perspectivescriminologiques.1995.BibliothèquenationaleDuQuébec,2006
CHARLOT, Bernard. A violência nas escolas: como os sociólogos francesesabordamessaquestão.Sociologias,PortoAlegre,ano4,n.8,jul/dez2002.
CARREIRA, D. Relatoria Nacional para o Direito Humano à Educação, daPlataformaDHESCA.Riodejaneiro,RN,2010.
DAAGRA,C.Entre droga e crime:chegouotempodedizermos,semhipocrisisaarogaénormalnanossasociedade.Masseráqueadrogaé,defato,acausadirectadacriminalidade?.Portugal:CasadasLetras,2008.
DEBARBIEUX,Eric.Aviolêncianaescolafrancesa:30anosdeconstruçãosocialdo objeto. Educação e Pesquisa, São Paulo, v.27, n.1, p. 163-193, jan./jun.2001.
DINIZ, D., LIONÇO, T. e CARRIÃO, V. Laicidade e ensino religioso no Brasil,Brasília:LetrasLivres/EditoraUnB/UnescoBrasil,2010.
FRAGA, PAULO C.P. Vida bandida: histórias de vida, ilegalismos e carreirascriminais. Um estudo com presos no sistema carcerário do Rio de Janeiro.Lisboa,NEA,2015.
JESUS, B. de e outros Diversidade sexual na escola: uma metodologia detrabalhocomadolescentese jovens. /Betode Jesus.Ed.Especial, revistaeampliada.–SãoPaulo:ECOS–ComunicaçãoemSexualidade,2008.92p.
SILVA, Wagner Ferreira da. Prefácio ou Notícias de uma guerra nadaparticular:Osataquesdosneopentecostaisàsreligiõesafro-brasileiraseaossímbolosdaherançaafricananoBrasilIn:Intolerânciareligiosa.Impactosdo
![Page 47: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/47.jpg)
neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São Paulo, EDUSP,2015.
TOSTA,SandraPereira;RIGOTTI, José IrineuRangeletal.RedeparticulardeensinoemMG:vidadeprofessoreviolêncianaescola.Relatório de Pesquisa.BeloHorizonte:PUC-Minas/SinproMinas,2009.200p.
ZALUAR,Alba. Para não dizer que não falei de samba: os enigmas da violência no Brasil. In: Schwartz, Lílian.(Org.). História da vida privada no Brasil, vol.4: Contrastes da intimidade contemporânea. Rio de Janeiro: Companhia dasLetras,p.246-318,2000.
![Page 48: VIOLÊNCIA NA ESCOLA: SÃO POSSÍVEIS AÇÕES DE PREVENÇÃO? · a violência que, por ventura, atinjao dia a dia da escola, mas, além disso, busque intervir sobre questões polêmicas,](https://reader034.vdocuments.pub/reader034/viewer/2022042303/5ece167c76ae9231b56f4b20/html5/thumbnails/48.jpg)
Estaobrafoiimpressaemprocessodigital,naOficinadeLivrosparaaLetraCapitalEditora.
Utilizou-seopapelPólenSoft80g/m²eafonteCalibriRegularcorpo10comentrelinha13,5.
OsAutores
ANA CAROLINA DAMASCENOAssistenteSocial,mestreemSociologia(UFJF),pós-graduadaemArteeEducação (PUC-MG), coordenaoCentrodeReferênciadaCasadeMaria(Cataguases-MG).
PAULO CESAR PONTES FRAGASociólogo, doutor em sociologia (USP), foi pesquisador convidado(Universidade de Montreal), é professor e do Programa de Pós-GraduaçãoemCiênciasSociais(UFJF).
ROGÉRIA MARTINSSocióloga,doutoraempolíticaspúblicas(UERJ)emestreemeducação(UFBA), é professora do Departamento de Ciências Sociais daUniversidadeFederaldeViçosa.Concentraseusestudosnocampodasociologiajurídicaedosdireitoshumanos.