vit c e e em gestantes
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Rev Bras Epidemiol
2008; 11(4): 573-83
Utilizao das recomendaes
de nutrientes para estimar
prevalncia de consumo
insuficiente das vitaminas C e E
em gestantes
Using recommended intakes
to estimate the prevalence of
insufficient consumption of vitamin
C and E by pregnant women
Mara Barreto Malta1
Maria Antonieta de Barros Leite Carvalhaes2
Cristina Maria Garcia Lima Parada2
Jos Eduardo Corrente31Departamento de Nutrio do Instituto de Biocincias da Unesp/Botucatu.
2Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina da Unesp/
Botucatu.
3Departamento de Estatstica do Instituto de Biocincias da Unesp/Botucatu.
Este trabalho teve auxlio financeiro da FAPESP - Processo: 05/51248-6.
Correspondncia: Mara Barreto Malta,Rua Primo Paganini, 990 casa D, Jardim Panorama, Botu-
catu-SP CEP 18609-190. E-mail:
Resumo
Na gestao ocorrem adaptaes que con-
duzem a um aumento da taxa metablicabasal, caracterizando um estado de alto n-
vel de estresse oxidativo, tornando relevantea avaliao do consumo de nutrientes antio-
xidantes por mulheres grvidas. Este estudo
teve como objetivo estimar a prevalncia deconsumo insuficiente das vitaminas C e E
em gestantes assistidas em servios pbli-cos de sade. Estudou-se amostra (n=107)
representativa das mulheres no segundotrimestre gestacional atendidas durante o
pr-natal nas unidades de ateno bsicado municpio de Botucatu/SP. O consumo
foi investigado mediante dois inquritosrecordatrios de 24 horas. Para estimar aprevalncia de inadequao de consumo
na populao, foi utilizado o mtodo EARcomo ponto de corte. Diferenas de consu-
mo (em tercis) em relao a fatores socio-econmicos, obsttricos e hbitos de vida
foram pesquisadas mediante anlise es-tratificada, adotando-se p
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Utilizao das recomendaes de nutrientes para estimar prevalncia de consumo insuficiente das vitaminas C e E
Malta, MB. et al.
Introduo
Gestantes e crianas tm sido o centro
das discusses sobre sade e nutriodesde a metade do sculo passado, sendo
reconhecida a vulnerabilidade de ambos osgrupos1. Mais recentemente, surgiram fortes
evidncias da associao entre exposies
nutricionais na vida intra-uterina e nosprimeiros anos com obesidade e doenas
crnicas na vida adulta2,3, colocando a nu-trio adequada de gestantes e lactentes
como parte integrante da estratgia mun-dial e nacional para reduo de doenas
crnicas no transmissveis4,5. As gestantesso suscetveis inadequao nutricional
pelo aumento das necessidades de energia,macro e micronutrientes. Especialmente, hrisco de consumo insuficiente de micronu-
trientes, cujo aumento de suas necessidades relativamente maior do que a elevao da
necessidade de energia6.Reviso de literatura que incluiu estudos
observacionais e de interveno do finalda dcada de noventa mostrou que, paraquase todas as vitaminas e minerais, havia
associao entre o estado nutricional ma-terno precrio e desfechos gestacionais ad-
versos, incluindo restrio de crescimentointra-uterino e prematuridade7. A natureza
destas associaes e os mecanismos querelacionam nutrio e sade materna, fetal e
infantil esto em investigao h dcadas.Villar et al.8, estudando intervenes nu-
tricionais durante a gestao para preven-
o e/ou tratamento de morbidade maternae parto prematuro, encontraram evidncias
de efeito positivo de alguns micronutrientespara reduo de anemia (ferro e folato),
defeitos do tubo neural (folato), doena
hipertensiva (clcio) e mortalidade mater-na (vitamina A e -caroteno), indicando a
necessidade de outras investigaes sobreo papel das vitaminas C e E na ocorrncia
ou preveno de pr-eclampsia e partoprematuro. Considerando a etiologia multi-
fatorial de vrios dos principais problemas,os autores concluram que seria pouco pro-
vvel que um nutriente sozinho, oferecidocomo suplemento, fosse capaz de prevenir
Abstract
The changes that occur during pregnancy
lead to an increase in the basal metabolicrate, which characterizes a high oxidative-
stress condition, thus making the evalua-tion of the intake of antioxidant nutrients
by pregnant women a relevant issue. This
study aimed at estimating the prevalenceof insufficient intake of vitamin C and E
by pregnant women assisted by publichealthcare services. A representative sample
(n=107) of women in the second gestationaltrimester was studied. Such womens pre-
natal care was provided by basic healthcareunits in the city of Botucatu/SP. Intake was
investigated by two 24-hour recalls. The EARmethod was adopted as cutoff point in orderto estimate the prevalence of intake inad-
equacy in the population. Intake differences(in terciles) in relation to social, economic
and obstetric factors as well as lifestyle wereinvestigated by means of stratified analysis
and by adopting a level of significance ofp
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pr-eclampsia, hemorragia, infeces ou
parto prematuro.O estado nutricional materno antes e
durante a gestao fundamental no pesoda criana ao nascer, j que boas condiesdo ambiente uterino favorecero o desen-
volvimento fetal adequado9.H evidncias de que melhorar o con-
sumo de mltiplos micronutrientes temefeito favorvel sobre o peso ao nascimento
e reduz a ocorrncia de restrio de cresci-mento intra-uterino10. Um estudo prospec-
tivo, realizado na ndia com gestantes combaixo peso, verificou associao entre pesodo recm-nascido e consumo de micronu-
trientes, entre eles vitaminas A e C, folato,clcio e ferro11.
Dentre os micronutrientes cujos efeitospositivos ou negativos do consumo elevado
ou insuficiente sobre resultados da gestaoainda no esto perfeitamente conhecidosesto as vitaminas anti-oxidantes C e E.
O interesse pelo papel destas vitaminasdecorre da constatao de que as adapta-
es metablicas verificadas no organismoda gestante conduzem a um aumento da
taxa metablica basal, do consumo deoxignio e da formao de radicais livres,
caracterizando-se este perodo como um es-tado de alto nvel de estresse oxidativo, que,
segundo Rumbold et al.12e Roberts & Lain13,pode ter papel importante na patogneseda pr-eclampsia. Nveis de marcadores de
estresse oxidativo esto elevados em ges-tantes com pr-eclampsia em comparao
com gestantes normais14.O cido ascrbico um importante
anti-oxidante em humanos, enquanto avitamina E o maior antioxidante liposso-lvel e o mais eficaz protetor da oxidao
das lipoprotenas, partculas que oxidadasso altamente txicas e aterognicas. V-
rios estudos identificaram concentraesplasmticas reduzidas das vitaminas C e
E em grvidas com pr-eclampsia15, maso significado destas alteraes ainda noest claro.
Diante dos indcios de um possvel efeitodas vitaminas C e E na preveno de desfe-
chos gestacionais adversos, atuando como
anti-oxidantes, vrios ensaios clnicos sobre
o efeito de mega-doses destas vitaminas emmulheres com alto risco de desenvolverem
pr-eclmpsia foram conduzidos no incioda dcada atual. Os resultados, recentemen-te analisados mediante reviso sistemtica
com meta-anlise, no identificaram efeitoprotetor sobre o risco de pr-eclmpsia,
morte fetal ou neonatal, prematuridadee restrio de crescimento intra-uterino.
Houve, inclusive, aumento do risco de partoprematuro e, embora este efeito tenha sido
discreto e no significante, levantou a pre-ocupao com possveis efeitos negativosdecorrentes desta interveno16.
No bojo do esforo para verificar o papeldas vitaminas C e E em complicaes da ges-
tao, Rumbold et al.12desenvolveram estudoobservacional de coorte com 299 gestantes
australianas visando identificar possveisassociaes entre consumo destas vitaminase doenas hipertensivas na gestao. Os re-
sultados no apontaram relaes claras entreos eventos: o consumo de vitamina C no foi
associado a doenas hipertensivas; ter umconsumo de vitamina E no quartil inferior
aumentou o risco deste distrbio (RR1,75; IC95%= 1,11-2,75), inclusive aps ajuste para
possveis confundidores (paridade e idadematerna). Os autores apontaram algumas
limitaes do estudo, como seu baixo poderestatstico para detectar pequenas diferenasde risco, recomendando novo exame destas
associaes com amostras maiores de mu-lheres, o que no foi encontrado na literatura
at o momento.A vitamina C tambm exerce papel
estrutural importante: participa da sntesedo colgeno, necessrio integridade dotecido conjuntivo, cartilagens, matriz ssea,
dentina, pele e tendes, sendo provvel quesua deficincia influa negativamente sobre
o crescimento e desenvolvimento fetal eplacentrio. H estudos observacionais
apontando correlaes positivas entre nveisplasmticos maternos de vitamina C e peso aonascer11,17. Baixos nveis plasmticos de ascor-
bato (vitamina C) apresentaram associaocom ruptura prematura de membranas e com
o deslocamento prematuro da placenta7.
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Utilizao das recomendaes de nutrientes para estimar prevalncia de consumo insuficiente das vitaminas C e E
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De acordo com a literatura, tanto a
baixa ingesto de vitaminas C e E, e o con-seqente estado corpreo sub-timo destes
micronutrientes, quanto a suplementaocom mega-doses podem ser prejudiciais aobinmio me-feto, tornando relevante o es-
tudo do consumo habitual destas vitaminaspor gestantes.
H poucos estudos sobre consumo demicronutrientes por gestantes brasileiras,
fato que revela certo descompasso entre aimportncia da nutrio na gestao e as
prioridades de pesquisa.Um estudo indicou que o baixo consu-
mo de vitamina C no constitua problema
para purperas adolescentes da cidade doRio de Janeiro18e outros dois apresentaram
resultados semelhantes para gestantescom sobrepeso de servios de sade da
cidade de So Paulo19e para adolescentesassistidas em hospital pblico de Forta-leza20. Entretanto, como tais estudos no
adotaram os procedimentos metodolgi-cos mais aceitos como capazes de estimar
prevalncia de consumo inadequado denutrientes21,22,estes resultados devem ser
vistos com cautela. No caso da vitaminaE, no h estudos brasileiros que tenham
investigado seu consumo por gestantes e,assim, permanece em aberto a real situa-
o de consumo de micronutrientes, entreeles as vitaminas C e E, por gestantes denosso meio.
O presente artigo apresenta os resulta-dos de inqurito alimentar sobre consumo
das vitaminas C e E em gestantes assistidaspela rede bsica de sade da cidade de
Botucatu SP, que adotou as diretrizesmetodolgicas para estimar prevalnciade consumo inadequado de nutrientes
em grupos populacionais conhecidoscomo tendo o mtodo EAR como ponto
de corte30.Especificamente, buscou-se conhecer o
consumo habitual mdio, estimar a preva-lncia de consumo insuficiente e verificar ainfluncia de fatores socioeconmicos, obs-
ttricos, estado nutricional materno e estilode vida sobre o consumo destas vitaminas
no segundo trimestre gestacional.
Medodologia
Trata-se de um estudo epidemiolgico,
transversal. O tamanho da amostra foi cal-culado com base no nmero de grvidas
atendidas no servio pblico de sade deBotucatu em 2004, levando-se em conta
a proporo de gestantes no segundo
trimestre gestacional atendidas em cadauma das 15 unidades de ateno bsica do
municpio, estimando-se que 40% delasestariam no segundo trimestre de gestao.
Considerando uma margem de erro de 10%,para um coeficiente de confiana de 95%, o
tamanho amostral mnimo foi estimado em92 gestantes. A este nmero foram acresci-
dos 10% para compensar possveis perdas,chegando-se a 107 gestantes.
A opo de estudar o consumo ali-
mentar no segundo trimestre gestacionalvisou evitar perodos nos quais nuseas,
vmitos, dispepsia e pirose so, em geral,mais freqentes.
Foram realizadas duas entrevistas,nas quais foram aplicados dois inquritosalimentares tipo recordatrio de 24 horas
com cada gestante. Os recordatrios foramcoletados em dias no consecutivos, com
intervalo de no mximo seis dias entreeles. Na primeira entrevista foi aplicado o
primeiro recordatrio de 24 horas (R24h) equestionrio sobre fatores socioeconmicos
(moradia com companheiro, sim ou no;trabalho fora de casa, sim ou no; escolari-dade, 1 grau completo ou 2 grau completo;
faixa de renda familiar, at R$ 520,00, de R$520,00 a R$ 1.299,00, de R$ 1.300,00 a R$
2.599,00 e R$ 2.600,00 ou mais); obsttricos(idade gestacional em semanas; nmero
de gestaes, primigestas, secundigestas e
tercigestas ou mais; idade da gestante, igualou menor que 18 anos, maior que 18 anos) e
hbitos de vida (prtica exerccio fsico, simou no; consumo de tabaco, sim ou no; uso
de suplementos nutricionais, sim ou noe, em caso afirmativo, tipo de suplemento
consumido), a fim de caracterizar a amos-tra e permitir a eventual identificao de
subgrupos com maior ou menor consumodas vitaminas.
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Utilizao das recomendaes de nutrientes para estimar prevalncia de consumo insuficiente das vitaminas C e E
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Tambm foram coletados dados nos
pronturios para avaliao do estadonutricional da gestante (estatura em me-
tros e peso pr-gestacional informado),calculando-se o ndice de massa corporal(IMC) pr-gestacional. Estes dados foram
categorizados de acordo com as recomen-daes do Institute of Medicine23.
Durante a segunda entrevista foi realizadoo segundo R24h. Um dos dois R24h (primeira
ou segunda entrevista) foi relativo a um do-mingo sendo que a outra entrevista contem-
plou os demais dias da semana. Os cuidadospara minimizar os erros na coleta de dadosforam seguidos de acordo com as recomen-
daes propostas em Marchioni et al.24.A anlise da composio nutricional dos
alimentos consumidos foi feita com auxliodo programa Nutwin25. Os alimentos que
no constavam do referido programa foramacrescentados ao mesmo, utilizando-se comfonte a Tabela de Composio de Alimen-
tos: suporte para deciso nutricional26, aTabela para Avaliao e Consumo Alimen-
tar em Medidas Caseiras27e a Tabela doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatsti-
ca28. Alguns alimentos industrializados queno constavam do programa e das tabelas
referidas foram analisados de acordo cominformaes do rtulo.Um banco foi cons-
trudo e os dados digitados no programaMicrosoft Access 2002, posteriormentetransferidos e analisados com o programa
SASfor Windows, v. 9.01, 1986.Como ponto de corte para avaliao
do consumo das vitaminas utilizou-se aNecessidade Mdia Estimada (EAR), que
o nvel de ingesto diria do nutrienteque atende s necessidades de metade dosindivduos saudveis em um determinado
estgio de vida
29
.Para estimar a prevalncia de gestantes
com consumo insuficiente das vitaminas Ce E foram feitas anlises seguindo os passos
metodolgicos descritos por Fisberg et al.30
para estimar a prevalncia de consumo in-suficiente em grupos populacionais. Aps o
uso da transformao logartimica, na tenta-tiva de normalizar os dados de consumo das
vitaminas C e E, calculou-se a variabilidade
inter e intrapessoal pela anlise da varincia,
corrigindo os valores mdios de consumonos dois recordatrios pela razo entre o
desvio padro intrapessoal e o desvio padrointrapessoal observado para cada gestante.
A seguir calculou-se a prevalncia de ina-
dequao desses nutrientes na populaode estudo.
Para a estimativa de prevalncia deconsumo insuficiente foram consideradas
apenas as fontes alimentares das vitaminasC e E, uma vez que estes so nutrientes
presentes em vrios alimentos dispon-veis para a populao, de modo que suasnecessidades podem ser satisfeitas com a
alimentao, no se recomendando seufornecimento mediante suplementos6. A
informao sobre uso de suplementos dasvitaminas C e E pelas gestantes foi coletada
com vistas a avaliar a freqncia desta pr-tica e o eventual risco de consumo superiorao Nvel Superior Tolervel de Ingesto (UL).
O consumo excessivo das vitaminas foiverificado comparando-se as estimativas
obtidas com o UL, conforme descrito emFisberg et al.30. Ressalta-se que, medida
que a ingesto ultrapassa o UL, aumenta orisco potencial de efeitos danosos sade.
Realizou-se anlise da distribuio dasgestantes segundo tercis de consumo das
vitaminas, levando-se em conta escolaridade,idade, estado nutricional da gestante, nmerode gestaes, faixa de renda familiar, atividade
fsica, estado relativo ao consumo de tabaco, eestado civil, sendo as diferenas avaliadas es-
tatisticamente pelo teste qui-quadrado, como auxlio do programa SPSS 13.0. Adotou-se
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Resultados
As gestantes analisadas (n=107) tinham
idade mdia igual a 24,6 5,8 anos; idadegestacional mdia de 20,1 4,3 semanas;
38,3% eram primigestas e 31,8% secundiges-tas. Constatou-se que 16,8% das gestantes
eram fumantes, aproximadamente metade
delas fazia algum tipo de atividade fsicapelo menos duas vezes por semana, a gran-
de maioria morava com parceiro; mais que ametade no trabalhava fora de casa e apro-
ximadamente 60% apresentaram eutrofiano incio da gestao. Na Tabela 1, esto
apresentados os dados socioeconmicos,obsttricos e relativos aos hbitos de vida
das gestantes estudadas.
So apresentados, na Tabela 2, o consu-
mo mdio das vitaminas em cada inqurito,evidenciando-se ser menor no domingo,
alm do consumo mdio ajustado pelavariabilidade intrapessoal e a necessidadediria mdia estimada, para comparao.
Foram estimadas as prevalncias deconsumo insuficiente dos nutrientes estu-
dados com os dados de consumo de doisR24h das gestantes e calculado o coeficiente
de variao para esses nutrientes, que estoapresentados na Tabela 3.
Quanto ao consumo excessivo, em rela-o s vitaminas C e E, nenhuma gestanteexcedeu o UL na dieta consumida.
A anlise do consumo de suplementosevidenciou que quatro gestantes faziam uso
de suplemento de vitamina C, e trs destasfaziam uso de suplementos que continham
vitamina E, sendo que as doses suplemen-tadas ultrapassavam o UL.
No houve associao entre os tercis
de consumo de vitamina C e escolaridade(p=0,820), faixa de renda familiar (p=0,528),
paridade (p=0,310), estado nutricionalpr gestacional (p=0,377), atividade fsica
(p=0,556), tabagismo (p=0,998), estadoconjugal (p=0,960) e trabalho fora de casa
(p=0,554). Houve associao entre os tercisde consumo de vitamina C e idade (p=0,028).
A proporo de gestantes adolescentes comconsumo no primeiro tercil foi maior do queem adultas, como mostra a Tabela 4.
O consumo de vitamina E no foi as-sociado escolaridade (p=0,507), faixa de
renda (p=0,954), idade (p=0,393), estadonutricional pr-gestacional (p=0,531), ativi-
dade fsica (p=0,588), tabagismo (p=0,530),estado conjugal (p=0,799) e trabalho fora decasa (p=0,142). Houve associao inversa
entre os tercis de consumo de vitamina Ee paridade (p=0.033), conforme consta da
Tabela 4.
Discusso
Parte-se do princpio que o presente es-
tudo constitui o primeiro no Brasil a avaliaro consumo de nutrientes de gestantes ado-
tando mtodo que considera a variabilidade
Tabela 1 -Dados socioeconmicos,obsttricos e relativos aos hbitos de
vida das gestantes (n=107) expressos em
porcentagens. Botucatu, 2006/2007.
Table 1 -Socioeconomic and obstetric data
and lifestyle data of pregnant women (n=107)
expressed in percentage. Botucatu, 2006/2007.
Dados das gestantes Porcentagem
Paridade
Primigestas 38,3
Secundigestas 31,8
Tercigestas ou mais 29,9
Tabagismo
Sim 16,8
No 83,2
Estado nutricional pr-gestacional
Baixo peso 19,6
Eutrofia 57
Peso excessivo 23,4
Prtica de atividade fsica regular
Sim 48,6
No 51,4
Morava com parceiro
Sim 81,3
No 18,7
Trabalhava fora de casa
Sim 40,2
No 59,8
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Utilizao das recomendaes de nutrientes para estimar prevalncia de consumo insuficiente das vitaminas C e E
Malta, MB. et al.
intra-individual de consumo e das necessi-
dades e adota a EAR como ponto de corte.Esta metodologia representa um avanopara estimar a adequao do consumo de
nutrientes, superando alguns equvocos dosmtodos de anlise anteriormente adotados
em inquritos com este objetivo22,30.
Foram adotadas medidas para minimi-
zar erros na coleta das informaes e estescuidados, somados aos procedimentos paraseleo de amostra representativa, apiam a
validade dos resultados, indicando situaopreocupante de consumo das vitaminas C e
E em gestantes assistidas na rede de unida-
Tabela 2 -Ingesto diria mdiade nutrientes nos R24h, ingesto mdia ajustada pela variabilidade intra e interpessoal
de consumo de nutrientes por gestantes (n=107) e valores de referncia (EAR/AI), Botucatu, 2006/2007.
Table 2 -Average daily intake of nutrients in the 24-h recalls, mean intake adjusted by intra and interpersonal variability of
nutrient intake by pregnant women (n=107) and reference values (EAR/AI), Botucatu, 2006/2007.
NutrientesConsumo Mdio e Dp (dia
de semana)
Consumo Mdio e Dp
(domingo)
Consumo Mdio
ajustado e DPEAR
Vit E (mg) 8,3 4,2 7,2 5,4 9,23 2,0 12
Vit C (mg) 52,1 261,8 45,4 168,1 61,69 29,8 18anos = 70mg
Dp Desvio padro = standard deviation
EAR - Necessidade Mdia Estimada = estimated average intake
Tabela 4 - Distribuio das gestantessegundo tercis de consumo de vitamina E e paridade e
segundo tercis de consumo de vitamina C e idade. Botucatu, 2006/2007.
Table 4 - Distribution of pregnant women according to terciles of vitamin E intake and parity and
according to terciles of vitamin C intake and age. Botucatu, 2006/2007.
Variveis Tercis de Consumo
1 N (%) 2 N (%) 3 N (%)
Paridade Vitamina E1 Gestao 14 (34,1) 13 (31,8) 14 (34,1)
2 Gestaes 6 (17,6) 13 (38,2) 15 (44,2)
3 Gestaes 11 (57,9) 3 (15,8) 5 (26,3)
4 ou + Gestaes 5 (38,5) 7 (53,8) 1 (7,7)
P*=0,033
Idade Vitamina C
Adolescente 13 (56,5) 6 (26,1) 4 (17,4)
Adulta 23 (27,4) 30 (35,7) 31 (36,9)
P*=0,028
* Teste qui-quadrado = chi-square test
Tabela 3 - Prevalncia de consumo insuficiente de nutrientes e coeficiente de variao em
gestantes assistidas na rede pblica de sade. Botucatu, 2006/2007.
Table 3 - Prevalence of insufficient intake of nutrients and variance coefficient in pregnant women
assisted by the public healthcare system. Botucatu, 2006/2007.
Nutrientes Prevalncia de Consumo Insuficiente (%) Coeficiente de Variao
Vit E (mg) 91,5 65,74Vit C (mg) 60,0 23,89
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Utilizao das recomendaes de nutrientes para estimar prevalncia de consumo insuficiente das vitaminas C e E
Malta, MB. et al.
des de ateno bsica sade do municpio
de Botucatu. Alm disso, como estas gestan-tes, vivendo em reas urbanas de cidade de
porte mdio do estado de So Paulo, tmalgumas caractersticas, como escolaridade,paridade, idade, situao familiar e hbitos
de vida, semelhantes s estudadas em v-rios outros estudos brasileiros, possvel
que estes resultados estejam prximos dasituao de gestantes brasileiras de outras
localidades32.Em relao vitamina C, 60,0% do bin-
mio gestante/feto estavam expostos a even-tuais efeitos negativos do baixo consumo.Cabe lembrar que baixos nveis plasmticos
de ascorbato (componente principal davitamina C) apresentaram correlao com
amniorexe prematura, que pode levar aoparto prematuro33, e que o baixo consumo
em situao de aumento das necessidades um fator de alto risco para um estadocorpreo deficiente desta vitamina.
Deve-se notar que a prevalncia deconsumo insuficiente das vitaminas C e E
pode estar subestimada, visto que 16,8%das gestantes estudadas eram fumantes,
condio que aumenta as necessidades devitaminas C e E34. Dado o tamanho da amos-
tra, no foi possvel realizar estimativas dasprevalncias de consumo insuficiente para
o grupo de gestantes fumantes.A prevalncia excepcionalmente alta
de baixo consumo de vitamina E detectada
na atual pesquisa indica necessidade deinvestigao em prximos trabalhos, j
que o consumo desta vitamina no muitopesquisado em grupos de gestantes.
A vitamina C est presente principal-
mente nas frutas ctricas e em vegetaisverde-escuros como o pimento, a couve,
entre outros, e a vitamina E encontra-senas amndoas, nozes, castanha do Par,
gema, leos em geral, vegetais folhosos elegumes35. Gestantes assistidas nos servios
pblicos, de modo semelhante ao observa-do para a populao brasileira adulta5emgeral, apresentam baixo consumo de frutas,
verduras e legumes, sementes, nozes e cas-tanhas, devendo constituir pblico alvo es-
pecfico das aes de incentivo de consumo
destes alimentos em curso no pas36.
No possvel comparar as prevalnciasde gestantes com consumo insuficiente de
vitaminas C e E com resultados de outrosestudos, por utilizarem procedimentosmetodolgicos distintos. Assim, o nico
cotejamento possvel entre os dados dopresente estudo e a literatura diz respeito a
comparaes entre resultados de consumomdio e respectivos desvios-padro.
Nascimento & Souza19encontraram,em estudo com 110 gestantes assistidas
em instituio hospitalar beneficente domunicpio de So Paulo, consumo mdio devitamina C de 110,42 105,88 mg, bastante
superior ao verificado no presente estudo(61,69 29,8 mg). Em inqurito alimentar
realizado no Rio de Janeiro com 1.180 ges-tantes adolescentes18, a mdia de consumo
de vitamina C nos trs quartis superiorestambm foi maior que a verificada emBotucatu.
Na Inglaterra, gestantes de baixa rendativeram consumo mdio de vitamina C
de 67,4 mg 34,3 mg37, valores bastanteprximos aos nossos achados. Em estudo
australiano12, a mdia de consumo de vita-mina C foi de 188 mg e de vitamina E foi de
6,74 mg. Neste caso, os valores so bastantedistintos dos nossos achados.
H apenas um estudo brasileiro38 queadotou os mesmos procedimentos meto-dolgicos da presente pesquisa para estimar
consumo insuficiente de vitamina C. Nocaso, foram analisadas 119 mulheres jovens
estudantes universitrias da cidade de SoPaulo, encontrando-se uma prevalncia deconsumo insuficiente de 19% contra 60% do
presente trabalho. Diferenas socioecon-micas entre as populaes podem explicar
a divergncia dos resultados.Um estudo americano, com 63 gestan-
tes de nvel socioeconmico mdio e alto,realizado para detectar se havia necessidade
da prescrio de suplementos de micronu-trientes para este estrato populacional, en-controu apenas 12% de prevalncia de con-
sumo insuficiente de vitamina C, e nenhumrisco de consumo alimentar deste nutriente
maior do que o UL. Novamente, diferenas
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Utilizao das recomendaes de nutrientes para estimar prevalncia de consumo insuficiente das vitaminas C e E
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socioeconmicas entre as populaes po-dem explicar a diferena de resultados em
relao ao presente estudo39.A baixa prevalncia de gestantes com
consumo excessivo das vitaminas C e E,ressaltando que nenhuma excedeu o UL
apenas com a alimentao, constitui re-sultado positivo, se lembrarmos que altas
doses podem apresentar efeitos adversos,como sugere Poston et al.40em uma recen-te reviso sistemtica dos ensaios clnicos
sobre o potencial papel da suplementaodessas vitaminas.
Cabe lembrar que quatro gestantes to-mavam suplementos de vitamina C que sozi-
nhos ultrapassavam o UL para este nutriente,o mesmo observado para trs destas gestan-tes quanto vitamina E. Justifica-se nesta po-
pulao a busca ativa de gestantes tomando
suplementos nutricionais no seguros, e odesaconselhamento desta prtica.
Em sntese, os dados obtidos indicam
uma preocupante situao em relao aobaixo consumo das vitaminas antioxidantes
C e E por gestantes assistidas em serviospblicos de sade. Como no houve asso-ciao entre consumo e fatores socioeco-
nmicos - renda e escolaridade supe-seque sejam fatores comportamentais e no
relacionados ao acesso aos alimentos os
principais condicionantes do consumodestes nutrientes nesta populao. Esta
hiptese, evidentemente, precisar de ve-
rificao por meio de estudos futuros comdelineamento adequado.
As altas taxas de gestantes com consumode micronutrientes insuficiente indicamtanto a necessidade de aes programticas
que incluam avaliao da alimentao eorientao alimentar, no nvel da ateno
individual no pr-natal, como, principal-mente, a relevncia de intervenes cole-
tivas de promoo e apoio ao consumo dealimentao saudvel. Estas aes devem
ter como pblico alvo no s as gestantes,mas mulheres em idade frtil em geral,especialmente adolescentes.
Concluso
O consumo mdio das vitaminas C e E
foi, respectivamente, de 61,69 29,8 mg e9,23 2,01 mg, valores prximos das ne-cessidades mdias (EAR) destes nutrientes;
a prevalncia estimada de consumo insufi-ciente de vitamina E foi de 91.5% e de 60,0%
para vitamina C; houve associao inversaentre consumo de vitamina E e paridade; o
consumo de vitamina C foi menor em ado-lescentes em comparao com as adultas. O
consumo destas vitaminas no foi associado faixa de renda familiar, escolaridade, es-
tado nutricional pr-gestacional e variveisrelativas ao estilo de vida das gestantes.
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Recebido em: 22/02/08Verso final reapresentada em: 07/07/08
Aprovado em: 16/07/08