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HORTA MEDICINAL NO ENSINO DE CIÊNCIAS E MATEMÁTICA
Alunos: Ana Karolyna Gomes dos Santos, Loren Sales Gomes.
Orientador: Larissa Bahiense Pereira
Coorientador: Marcela Brite Alfaiate
Escola: Escola Municipal Elysio de Magalhães.
Rua Nair Paes Rangel s/n. Barcelos-São João da Barra/RJ. CEP -28.220.000
Resumo
O presente trabalho aborda o uso de plantas medicinais no ambiente escolar como instrumento
de aprendizagem no ensino interdisciplinar de Ciências e Matemática. Foram organizadas
atividades com alunos dos 7º ano regular da Escola Municipal Elysio de Magalhães, Barcelos
- São João da Barra/RJ em parceria com a Universidade Aberta/UENF, de modo que eles
pudessem conhecer algumas plantas medicinais, formas de cultivo e propagação de mudas. O
projeto foi executado em duas etapas: na primeira etapa os alunos do sétimo ano regular
participaram de uma aula teórica sobre plantas medicinais em parceria com um projeto de
extensão da Universidade Aberta/ UENF, onde foram abordados temas de ciências como
fotossíntese, partes das plantas, reprodução e propagação de mudas, saúde do solo e
importância dos componentes do substrato. Já no âmbito da matemática, foram abordados
temas de geometria plana e espacial, medidas, cálculos de volume e proporção. Na segunda
etapa, os alunos elaboraram uma horta medicinal na escola, aplicando os conhecimentos
adquiridos na aula teórica. Foi possível observar que o ensino de ciências e de matemática
foram positivos no preparo da horta das plantas medicinais e que o contato manual com as
plantas medicinais facilitou o entendimento das partes e funções das plantas. Conclui-se que
as atividades práticas facilitam a compreensão de assuntos que podem ser difíceis em sala de
aula, confirmado que é possível aprender ciências e matemática utilizando o tema plantas
medicinais e que o ensino prático e atuante do aluno proporciona um aprendizado mais eficaz.
Palavras chave: Plantas medicinais, ciências naturais, ciências exatas.
Introdução
A utilização de plantas para fins diversos remonta os nossos antepassados mais
longínquos. Do passado até o presente, as plantas são utilizadas pelas sociedades com
inúmeras funções: alimentação, aquecimento, construções e abrigo, vestuário e, em especial,
fins medicinais. Em relatos históricos a respeito da utilização de plantas medicinais é possível
verificar que a maioria das antigas civilizações se beneficiou do grande poder destas plantas
para os mais diversos tratamentos. Segundo estes relatos, os hebreus, egípcios e assírios
cultivavam ervas medicinais desde o ano 2.300 a.C., adquirindo, durante suas expedições,
várias espécies das quais produziam medicamentos para males diversos (Tomazzoni et al.,
2006).
Ao longo dos tempos, o conhecimento tradicional sobre as plantas medicinais foi
repassado de geração a geração, sendo que no presente, apesar da medicina moderna ter
evoluído consideravelmente, para muitas pessoas, sobretudo, em países subdesenvolvidos, o
uso de plantas é a principal forma de tratamento das doenças. E as plantas medicinais vêm
sendo utilizadas para fins terapêuticos por pessoas de baixa renda e da zona rural da
população brasileira desde a antiguidade. É notável o aumento da demanda por plantas
medicinais, a busca por culturas alternativas e rentáveis por agricultores e o estímulo a uma
produção ecologicamente sustentável, isso devido à integração da Universidade com a
comunidade (Amico, 2013 apud REMOA – v.14).
A interdisciplinaridade visa garantir a construção de um conhecimento globalizante,
rompendo com as fronteiras das disciplinas (Gadotti 2004 apud Thiesen 2008), e para
despertar o interesse dos alunos do ensino fundamental pela ciência e matemática, uma meta
deve ser constantemente seguida por professores de ambas disciplinas, quer seja para formar
profissionais nesta área, bem como formar cidadãos conscientes das necessidades de seus
conhecimentos para a melhoria da qualidade de vida da sociedade.
Os conteúdos trabalhados dentro do ambiente escolar são apresentados como
provenientes de uma ciência “pronta”, onde não há espaço para discussões acerca de seus
fenômenos (Carvalho; Gil-Pérez, 2001), levando assim, ao desinteresse dos alunos. Uma vez
que as crianças possuem uma curiosidade natural, as quais podem ser aguçadas nas aulas de
ciências e matemática, pois, sempre surgem temas interessantes e, para elas, muitas vezes
instigantes, e tem que aproveitar essas aulas para dar a essas crianças a oportunidade de
realizar descobertas para lhes despertar o interesse científico. Para isso temos que desenvolver
atividades que possibilitem a construção de significados e conceitos na ciência e na
matemática levando em consideração a curiosidade dos alunos.
Ivani Fazenda (1979 apud Thiesen 2008), diz que é preciso uma atitude
interdisciplinar, assumida como compromisso pelo educador, durante seu envolvimento com
os projetos de trabalho, buscando aprofundamento teórico e tendo postura ética.
Para Nunes et al. (2000) quando se trabalha partindo da curiosidade infantil mexemos
com questões existenciais, com as ideias e pensamentos, ampliando e construindo
conhecimento e representações de mundo. Compreendendo o espaço escolar como um meio
de interação e construção de conhecimento e as aulas de ciências e matemática como um
espaço ideal para despertar a curiosidade, desenvolvendo com os alunos do ensino
fundamental projetos de pesquisa envolvendo um tema de seu interesse.
A prática pedagógica por meio de desenvolvimento de projetos procura envolver tanto
o aluno quanto o professor, os recursos disponíveis e todas as intenções que se estabelecem
nesse ambiente. Essa perspectiva implica que o papel da escola não é somente ensinar
conteúdos, nem vincular a instrução com aprendizagem, mas preparar os alunos para um
convívio responsável e atuante na sociedade (Almeida, 1999).
Com base nestes fatos este trabalho foca em realizar um projeto que resulte em uma
aprendizagem que tem significado para os alunos, que tem relação com sua vida, que lhes
desafia e lhes traz, de fato, uma aplicação de conhecimentos no ensino de ciências e
matemática com o tema das plantas medicinais, possibilitando promover e estabelecer
estratégias de organização e estimular os alunos a fazerem escolhas e se comprometerem com
elas, assumindo responsabilidades e possibilitando a realização de um trabalho coletivo e
interdisciplinar.
Objetivos
O presente projeto teve como principal objetivo integrar o aprendizado dos alunos em
ciências e matemática utilizando a elaboração de uma horta medicinal na escola. É sabido que
aulas práticas e lúdicas são importantes meios de aprendizagem. Com a presença de materiais
e a elaboração de atividades, os alunos terão a oportunidade de aprimorar o conhecimento
sobre o reino vegetal, conhecer algumas plantas medicinais e utilizar a matemática em sua
vivência prática.
Objetivos específicos:
Conhecer a cultura sobre o uso de plantas medicinais;
Orientar sobre o cultivo, coleta, secagem, manipulação e formas de uso das plantas
medicinais;
Materiais e Métodos
Materiais utilizados:
6 caixotes de madeira
Sombrite
Grampeador
Trena
Luvas
Areia
Solo
Esterco Mudas de plantas medicinais
Água
O interesse inicial do projeto se deu a partir de um questionário aplicado pelo projeto
de extensão da Universidade Aberta/UENF sobre o uso e conhecimento de plantas medicinais.
O desenvolvimento metodológico foi realizado em duas etapas, da seguinte forma:
inicialmente foi ministrada uma aula teórica (Figuras 1 e 2) aos alunos do 7º ano do Ensino
Fundamental (6ª serie) da Escola Municipal Elysio de Magalhães, no município de São João
da Barra, RJ, para introduzir o tema ‘Plantas Medicinais”.
Figura 1 – Aula teórica
Figura 2 – Aula teórica
No desenvolvimento do estudo de ciências naturais foram trabalhadas algumas
vertentes como a importância do processo fotossintético (Figura 3), partes das plantas (Figura
4), importância da água para o desenvolvimento das plantas, as formas de reprodução e
propagação das plantas (Figura 5).
Figura 3 – Processo fotossintético
Figura 4 – Partes da planta
Figura 5 – Formas de propagação
Na aula também foram apresentadas informações sobre o que são plantas medicinais e
citadas algumas formas de uso. Também foi demonstrado como cultivar e como elaborar uma
horta medicinal.
Os alunos também tiveram a possibilidade de aprender sobre o preparo de substrato
utilizando areia, solo e esterco curtido, além de ver que a matemática é utilizada para o
conhecimento de figuras geométricas (Figura 6), medir área (Figura 7), volume, razão e
proporção durante a elaboração da horta medicinal (Figura 8).
Figura 6 – Formas geométricas planas e espaciais
Figura 7 – Cálculo de volume
Figura 8 – Cálculo de proporção dos componentes do substrato
Na segunda etapa, os alunos participaram de uma aula prática, elaborando e montando
a horta medicinal. No ensino da matemática foram utilizadas as medidas levantadas pelos
alunos para calcular a área total e o perímetro dos caixotes, permitindo o melhor
aproveitamento e facilidade de trabalho. Mediante as medidas dos caixotes, os alunos
calcularam quantas plantas seriam plantadas, outra atividade que foi relacionada com
medidas, principalmente de área, foi o cálculo da quantidade de solo, areia e esterco curtido a
ser aplicado dentro do caixote, o que possibilitou o aluno trabalhar com pesos e medidas
através da quantidade de substrato.
Antes do preparo do substrato, os caixotes foram forrados com sombrite, para impedir
que o substrato saísse dos caixotes e permitir que a água não se acumulasse (Figuras 9 e 10).
O substrato foi preparado utilizando areia, solo e esterco nas medidas e proporções adequadas
de cada componente, calculadas previamente (Figuras 11 e 12).
Figura 9- Caixotes
Figura 10 – Preparo dos caixotes com sombrite
Figura 11- Preparo do substrato
Figura 12 – Preparo do substrato
Todo o trabalho foi feito buscando integrar o tema sob a ótica do universo dos alunos,
abordando conhecimentos sobre o cultivo de plantas medicinais em hortas, modo de preparo,
forma correta de utilização, envolvendo as duas disciplinas propostas ciências naturais e
matemática.
As mudas plantadas nos caixotes foram a menta e hortelã (Mentha sp), boldo
(Plectranthus barbatus Andrews), alfavaca (Ocimum basilicum L.) e capim limão
(Cymbopogon citratus (DC) Stapf.) (Figura 13). A quantidade de mudas a serem
transplantadas foi calculada segundo os espaçamentos entre plantas dentro dos caixotes.
Figura 13 – Horta no 1º dia
Resultados e Discussão
Com a elaboração da horta de plantas medicinais na Escola Municipal Elysio de
Magalhães, é possível afirmar que a execução de projetos interdisciplinares auxilia no
aprendizado dos alunos. Os alunos demostraram grande interesse na elaboração da horta,
aplicando os conhecimentos adquiridos durante a aula teórica, participando da aula teórica
com perguntas relevantes e participando ativamente da elaboração da horta na escola. Foi
possível observar que a aplicação da matemática foi positiva tanto na medição dos caixotes
quanto no preparo do substrato. Também foi possível observar que o contato manual com as
plantas medicinais facilitou o entendimento das partes e funções das plantas, assim como
compreender a forma de reprodução e propagação das plantas.
Outro ponto importante observado foi o interesse em permanecer cuidando da horta,
regando diariamente e acompanhando o crescimento das plantas cultivadas (Figura 14).
Figura 14 – horta 01/11/2017
De acordo com Leite (2007), ao participar de um projeto, o aluno estará envolvendo-se
em uma experiência educativa em que o processo de construção de conhecimento está
integrado às práticas vividas. Ainda segundo esse autor, o aluno deixa de ser, nessa
perspectiva, apenas um aprendiz do conteúdo de uma área de conhecimento para tornar-se um
ser humano capaz de desenvolver uma atividade complexa e nesse processo está se
apropriando de um determinado objeto de conhecimento cultural.
A horta de plantas medicinais inserida no ambiente escolar é um laboratório vivo que
possibilita o desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas em educação ambiental e
alimentar no uso dos preparos para consumo de chás, sucos, doces e temperos, unindo teoria e
prática de forma contextualizada, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem e
estreitando relações através da promoção do trabalho coletivo e cooperado entre os agentes
sociais envolvidos.
A horta inserida no ambiente escolar contribuiu de forma significativa para a formação
integral do aluno, haja visto que o tema engloba diferentes áreas de conhecimento e pode ser
desenvolvido durante todo o processo de ensino aprendizagem, através de vastas aplicações
pedagógicas com situações reais, envolvendo educação ambiental. A presença marcante de
plantas medicinais nessas unidades se constitui como um rico elemento para vários trabalhos
dentro da própria escola com vários alunos de todas as faixas etárias de ensino aprendizagem,
podendo realizar e estimular a realização de pesquisas com as famílias e comunidade acerca
dos nomes populares, valor medicinal e o uso dessas plantas, juntamente com sua importância
na comunidade em que a escola está inserida.
Com isso é importante ressaltar o valor de promover iniciativas que transcendam o
ambiente escolar, atingindo os pais e a comunidade na qual a escola está inserida, pois este é o
caminho para potencializar as informações e atividades relacionadas à educação ambiental na
escola. Nesse contexto um fator que pode ser considerado é inserção da universidade junto às
comunidades, uma vez que o papel fundamental dessa é o ensino, pesquisa e extensão. Essas
hortas escolares podem e devem servir como unidades de experimentação participativa para o
desenvolvimento de hortas urbanas familiares e comunitárias, a fim de promover o
desenvolvimento local e proporcionando maior qualidade de vida a essas populações.
Conclusões
A partir deste trabalho conclui-se que as atividades práticas facilitam a compreensão
de assuntos que podem ser difíceis em sala de aula. Com o projeto foi confirmado que é
possível aprender ciências e matemática utilizando o tema “Plantas Medicinais”. Afirmamos
que o ensino prático e atuante do aluno proporciona um aprendizado mais eficaz. Os alunos
perceberam que a matemática está em tudo.
O trabalho apresentou grande importância educacional, tendo como intenção futura
um levantamento científico sobre as espécies de plantas medicinais já cultivadas na horta
medicinal escolar, e a correta identificação botânica ensinando aos alunos a utilizar a chave
botânica, e após o estudo de identificação das plantas os alunos irão elaborar um jardim
sensorial, com o aumento das espécies de plantas medicinais a serem cultivadas na horta
medicinal escolar e um maior aprimoramento no ensino-aprendizado dos alunos.
Agradecimentos
Agradecemos ao Laboratório de Fitotecnia-Setor de Plantas daninhas e Medicinais da
UENF, à direção e toda equipe da Escola Municipal Elysio de Magalhães que nos permitiu
elaborar e realizar este projeto.
Agradecemos também à coordenação e secretaria de educação e cultura do município
de São João da Barra pela infraestrutura para a realização da VI Feira Municipal de Ciência e
Tecnologia.
Referências
ALMEIDA, M. E. B. Projeto: Uma nova cultura da aprendizagem, 1999.
CARVALHO, A.M.P.; GIL PÉREZ, D. O Saber e Saber Fazer dos Professores. In.: Castro, A.D. e Carvalho, A.M.P. Ensinar a Ensinar: Didática para a escola fundamental e média. São Paulo: Pioneira Thonsom Learning, 2001.
LEITE, L. H. A. Pedagogia de projetos e Projetos de Trabalho. Presença Pedagógica, v. 73, p. 62-69, 2007.
NUNES, C.S.; RIBES, E.L.; SILVA, P.P.; GUIMARÃES, P.R.F. Trabalho com Projetos em Educação Infantil: Uma abordagem Sócio-Amabiental. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental. v. 4, p.1-10, 2000.
REMOA/UFSM. Plantas medicinais como proposta interdisciplinar no segundo segmento da educação de jovens e adultos. V.14, Ed. Especial UFMT, 2015, p.184-198. Disponível em https://periodicos.ufsm.br/remoa/article/viewFile/20454/pdf. Acesso em: 05/08/2017.
THIESEN, JS. A interdisciplinaridade como um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem 2008. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782008000300010 . Acesso em: 10/08/2017.
TOMAZZONI, M.I., NEGRELLE, R.R.B.; CENTA, M.L. Fitoterapia popular: a busca instrumental enquanto prática terapêutica. Texto & Contexto Enferm. Florianópolis 2006; 15(1):115-21.