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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE PSICOLOGIA “You Raise Me Up to Walk on Stormy Seas”: Pressão Económica, Sentido de Pertença e Bem-estar Psicológico em Famílias com Jovens Adultos Ana Rita Figueira Lopes MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA (Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/ Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica) 2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

“You Raise Me Up to Walk on Stormy Seas”:

Pressão Económica, Sentido de Pertença e Bem-estar Psicológico

em Famílias com Jovens Adultos

Ana Rita Figueira Lopes

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/

Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)

2017

UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

“You Raise Me Up to Walk on Stormy Seas”:

Pressão Económica, Sentido de Pertença e Bem-estar Psicológico

em Famílias com Jovens Adultos

Ana Rita Figueira Lopes

Dissertação orientada pela Professora Doutora Carla Crespo

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

Secção de Psicologia Clínica e da Saúde/

Núcleo de Psicologia Clínica Sistémica)

2017

O conteúdo desta dissertação reflete o trabalho e as interpretações do autor à data

da sua entrega. Esta dissertação pode conter incorreções, tanto concetuais como

metodológicas, que podem ter sido identificadas em momento posterior ao da sua entrega.

Por conseguinte, qualquer utilização dos seus conteúdos deve ser exercida com cautela e

parcimónia. Ao entregar esta dissertação, o autor declara que a mesma resulta do seu

próprio trabalho, contém contributos originais e são citadas todas as fontes utilizadas. O

autor declara, ainda, que não divulga na presente dissertação quaisquer conteúdos cuja

reprodução esteja vedada por direitos de autor ou de propriedade industrial.

“This is what I know: In this life, a steady love and a place to call home, are far more

precious than all the earthly possessions and wealth in the world.”

Beau Taplin, True Value

Agradecimentos

A pedra à beira do caminho, para existir, precisa do Mundo. Só por hoje, eu agradeço…

À Professora Doutora Carla Crespo, por estar sempre pronta a orientar e a expressar uma

palavra vivificante, que permitiram avançar nas diversas etapas desta primeira viagem

pelo mundo da investigação. Agradeço profundamente não só pela sua vontade em ajudar-

me a chegar ao destino, como também por ter usufruído dos seus ensinamentos, sorrisos

e perseverança imprescindíveis durante o percurso.

À Drª Gabriela Fonseca, pela constante disponibilidade e simpatia, por me nutrir de uma

motivação e conhecimentos decisivos nesta etapa. Por ser um exemplo de que a distância

é mera ilusão na arte de poder auxiliar o outro.

À Drª Ana Tavares, pela surpreendente ajuda no aprimoramento deste estudo, produzindo

respostas e soluções face às exigências que o compõem.

Às Professoras Doutoras Sistémicas, por oferecerem espaço à criatividade, magia e

compreensão, ao aprofundamento das nossas aprendizagens e, sobretudo, ao

demonstrarem que a nossa vida profissional e pessoal constitui-se numa complexa rede

formada por laços.

À Professora Doutora Rosa Novo, pela perfumada partilha inesgotável de experiências,

de sabedoria e estima. Por ser uma ávida aprendiz, capaz de encarar qualquer desafio

pelos alunos. Agradeço por facilmente me ajudar a Crescer a todos os níveis.

À Joans, por seres a primeira pessoa que conheci na faculdade. Por seres “abraçável”,

não somente pela doçura que emanas, como também por te fazeres presente em todas as

horas. Por mais que percorramos caminhos diferentes, possuímos a vontade de dar ao

outro o que de melhor temos e somos.

À Fii, companheira de aventuras sistémicas, por todas as vezes em que fomos as primeiras

a chegar às aulas, pelos pequenos luxos que juntas partilhamos, bem como as tomadas de

consciência inesperadas e as gargalhadas mais inusitadas. “Quando eu flor, quando tu

flores, nós flores seremos!”

À Filó, pela maneira maternal com a qual nos brindas, pela permeabilidade em descobrir

que a vida académica é importante, mas além disso, há sistemas deveras fundamentais

para que o Todo se edifique harmoniosamente. Por seres exemplo de que a insegurança

se pode transformar em força.

À baby Ju, por me abrires inteiramente as portas da tua vivência na faculdade, da tua casa

e da tua Vida. Agradeço pela tua amizade que tanto contribuiu para a minha expansão de

horizontes. Por te mostrares disposta a caminharmos juntas rumo aos objetivos e por

quereres abrir mão das certezas.

À madrinha linda, que se derrete perante um chocolate, pela garra e empenho que

imprimes no teu trabalho e na Vida. Por acreditares em mim, desde sempre. Por juntas

vivenciarmos as angústias e as verdades que nos ecoam. Por saberes ser abrigo. Agradeço

pela tua gratidão.

À afilhada mais dedicada, peça fundamental neste processo criativo, mas sobretudo nesta

existência humana. Por me espelhares nas minhas potencialidades e vulnerabilidades. Por

me incentivares, hoje e sempre, nesta eterna busca da construção de um mundo mais livre

e humano.

À afilhada mais recente, chave mestra que abre todas as portas da Psicologia, mas

principalmente do meu coração. Por estares disponível, por sorrires para a vida, por

viveres calma e sabiamente, por estenderes a tua mão para os outros.

Aos colegas do núcleo de sistémica, por colaborarem nas diversas fases do mestrado,

sempre com a máxima de que podemos vivenciar algo de puro, luminoso e reconfortante,

se nos unirmos e empenharmos nesta Rede Sistémica. À Lexi, pela sua discreta e criativa

presença; À XanaJoni, pela tua imensa dedicação e pela nossa eterna irmandade; À Bea,

pela vontade de ser melhor; À Catarina, pela amizade e espírito de sacrifício; À

Carmencita, pelas surpresas diárias e amizade; À Carolina, pelo dom da comunicação e

de saborear o momento; À Cláudia, pela tua organização e pela confiança que sempre

depositaste; À Filipa pelo teu sorriso terno e bom-humor subtil; Ao Gonças, pela tua

calma e sentido artístico; Ao Hugo, pela viajada experiência de vida; À Inês Baptista, pela

assertiva e honesta presença; À Inês Filipe, pelo encanto e amizade; À Inês Ribeiro, pela

disponibilidade e sorriso meigo; À Joana, pelo dom da procura de soluções e sorriso

aberto; À Margarida, pela boa disposição e simplicidade; À Mafalda, pela tua honestidade

e descontração; À Martinha loira, pela tua natureza observadora e delicada; À Martinha,

pela alegria contagiante e pela nossa amizade; À Rita, pela tua sensibilidade e

expressividade; À Sara, pela tua dedicação descomunal; À Teresa, pelo encorajamento e

amizade.

Aos colegas e amigos que a faculdade me trouxe, o meu profundo reconhecimento pelo

esforço face aos desafios. Senti que esse caminho fortaleceu-se a cada conquista. Cada

um, à sua maneira, traz consigo verdadeiras pérolas, mesmo que ainda não vislumbradas,

permitem evoluir, caminhando seguros, com a certeza de que tudo é possível. Permite

ainda que contemple a faculdade como uma Casa.

A todas as famílias que participaram, pela ajuda preciosa neste estudo e,

consequentemente, contribuíram para olhar para a Psicologia como uma Ciência,

revelando-se esta em constante mutação.

À minha Avó, pelo seu exemplo de serenidade, força e mente aberta. Por naturalmente

não esquecer de olhar o outro através da “luz do coração”, partilhando uma palavra amiga

e um gesto de solidariedade. Agradeço por me considerares a Luz da tua Vida,

principalmente quando a escuridão toma conta de ti.

Aos meus pais, pela confiança nas minhas decisões, proporcionando assim momentos que

jamais esquecerei. Por me apoiarem da melhor maneira possível, por convosco conseguir

ser eu mesma.

Aos Caríssimos, mestres do meu caminho e testemunhas da mais alta poesia existente na

minha respiração, agradeço pela infatigável amizade ao longo dos tempos. Por todos os

domingos com alma, que foram fonte de inspiração e renovação, não só para esta etapa

da vida académica, mas também para cuidar de um jardim cada vez mais florido de cor e

alegria.

Aos amigos setubalenses, que me acompanharam em várias fases na procura de saber o

que ambicionava para o futuro e muitos constituíram-se um recurso de orientação

imparcial.

Aos amigos e família espalhados pelo país e pelo Mundo, pela amabilidade, preocupação

e força no decorrer da minha jornada.

A todos os seres maravilhosos que, pelo menos num momento, zelaram por mim neste

vasto Universo.

Índice

Introdução ..........................................................................................................................1

Enquadramento Teórico

Famílias e Pressão Económica ...................................................................................... 3

Famílias com Filhos Jovens Adultos ............................................................................. 5

Sentido de Pertença ....................................................................................................... 7

Bem-Estar Psicológico .................................................................................................. 9

O Presente Estudo ....................................................................................................... 10

Método

Participantes ................................................................................................................ 11

Procedimento ............................................................................................................... 11

Instrumentos ................................................................................................................ 12

Resultados

Análises de Correlação ................................................................................................ 14

Análise de Mediação ................................................................................................... 17

Discussão

Limitações e Futuras Direções .................................................................................... 21

Conclusão .................................................................................................................... 23

Referências Bibliográficas ...............................................................................................25

Lista de Tabelas e Figuras

Tabela 1 – Estatísticas descritivas e a matriz de correlações entre as variáveis

estudadas.

Figura 1 – Modelo dos efeitos mediadores do bem-estar psicológico dos pais na relação

entre o sentido de pertença dos pais e o bem-estar psicológico dos filhos.

Resumo

As famílias portuguesas têm sido afetadas pela situação de crise económica mundial,

sendo importante perceber o impacto do contexto económico adverso na experiência

psicológica individual. O presente estudo teve como principal objetivo compreender as

associações entre a pressão económica, o bem-estar psicológico e o sentido de pertença

em pais e filhos em famílias com filhos jovens adultos. A investigação prévia tem dado

pouca ênfase à relação entre estas variáveis, tanto ao nível individual como familiar.

Existe, adicionalmente, uma lacuna na investigação sobre a pressão económica nesta

etapa do ciclo vital da família. Neste estudo participaram 50 famílias portuguesas, entre

as quais 27 famílias em situação de primeiro casamento, 4 famílias reconstituídas e 19

famílias monoparentais. Por forma a avaliar as variáveis do presente estudo, foi utilizado

o Questionário de Dificuldades Económicas (Conger & Elder, 1994; Francisco & Pedro,

2015), a Escala de Sentido de Pertença (Lee, Draper & Lee, 2001; Francisco, Crespo,

Rocha, Malaquias & Dias, 2011) e a Escala do Bem- Estar Psicológico (Ryff e Keyes,

1995; Novo, 2004) Os resultados demonstraram não existirem correlações significativas

entre a perceção de necessidades materiais insatisfeitas e o sentido de pertença ou o bem-

estar psicológico nos filhos. Verificou-se uma correlação positiva forte entre o sentido de

pertença dos jovens e o seu bem-estar psicológico. Quanto às correlações diádicas entre

resultados de pais e de filhos, encontraram-se correlações positivas fortes entre as

necessidades materiais insatisfeitas percebidas pelos filhos e as percebidas pelas mães e

pelos pais. Relativamente às díades pais-filhos, o sentido de pertença dos filhos estava

positiva e fortemente correlacionado com o sentido de pertença e o bem-estar psicológico

dos pais do sexo masculino. O bem-estar psicológico de pais e filhos estava também

positivamente correlacionado. Finalmente, verificou-se que o bem-estar psicológico dos

pais era um mediador da relação entre o sentido de pertença dos pais e bem-estar

psicológico dos filhos. Da discussão dos resultados à luz de teorias do desenvolvimento

individual e familiar, conclui-se sobre o impacto da crise económica nas famílias e

derivam-se implicações para o acompanhamento psicológico com famílias com jovens

adultos, na tentativa de impulsionar o sentido de pertença e bem-estar psicológico de cada

elemento.

Palavras-chave: Pressão económica, sentido de pertença, bem-estar psicológico,

famílias com filhos jovens adultos

Abstract

Families have been increasingly affected by the worldwide economic crisis. This has led

to an urgent need for better understanding its impact on individual psychological

experiences. The main goal of this study was to understand the associations among

economic pressure, psychological well-being and social connectedness in parents and

children in families with young adults. Presently studies focusing on these variables at a

family and individual level are scarce. Additionally, there is a gap in the literature

concerning the study of economic pressure in this phase of the family life cycle. Fifty

Portuguese families participated in this study, among which 27 were intact families, four

were step-families and 19 were single-parent families. In order to evaluate these variables,

we used the “Economic Difficulties Questionnaire”, (Conger & Elder, 1994; Francisco &

Pedro, 2015), the Social Connectedness Scale (Lee, Draper & Lee, 2001; Francisco,

Crespo, Rocha, Malaquias & Dias, 2011), and the Psychological Well-Being Scale (Ryff

& Keyes, 1995; Novo, 2004). The results showed no significant correlations among the

young adults’ perceptions of the unmet material needs and social connectedness, or

psychological well-being. A strong positive correlation was found between social

connectedness in young adults and their psychological well-being. With regard to the

correlations between parents and children, strong positive correlations were found

between the unmet material needs perceived by the children and the ones perceived by

the mothers and fathers. With regard to the children-fathers’ dyads, the children’s social

connectedness was positive and strongly correlated to the fathers’ social connectedness

and to their well-being. The psychological well-being of the parents and children was also

positively correlated. Furthermore, the fathers’ psychological well-being was a mediator

of the link between the fathers’ social connectedness and the children’s psychological

well-being. Results are discussed in light of individual and family development theories,

considering the individual and family impact of a macroeconomic crisis. Implications for

the psychological support with these families, as a way to improve the social

connectedness and the psychological well-being of each element are presented.

Key words: Economic pressure, social connectedness, psychological well- being

families with young adults

Introdução

A vida das famílias portuguesas tem, desde 2008, sido exposta a desafios

resultantes da crise económica mundial. Sendo as famílias subsistemas inseridos no

macrossistema socioeconómico, a investigação em torno deste tópico adquire particular

relevância na atualidade (Fonseca, Crespo, Cunha & Relvas, 2016). Vários estudos têm

examinado as repercussões da pressão económica nas famílias, sendo dada ênfase à etapa

do ciclo vital das famílias com filhos adolescentes (Fonseca et al., 2016). Por sua vez, a

etapa das famílias com jovens adultos tem sido descurada no que respeita aos estudos

desta área (Stein et al. 2011).

Estas famílias apresentam tarefas desenvolvimentais particulares, envolvendo

movimentações constantes que desafiam a estrutura da família, não somente para os pais

que necessitam de preparar as condições necessárias à saída dos filhos de casa, de

aprender a dar um novo significado à sua relação de casal e de desenvolver a comunicação

de adulto para adulto entre os filhos e os pais, como também para os filhos jovens adultos,

já que investem numa diferenciação do eu bem definida face à família de origem, a

capacidade para desenvolver um relacionamento íntimo com os pares e a aceitação da

responsabilidade emocional do eu (Relvas, 2004; Carter & McGoldrick, 1995). Arnett

(2000) alerta que o constrangimento de estar sob um contexto de crise económica revela-

se mais proeminente para as famílias com filhos jovens adultos, na medida em que eles

planeiam ingressar no ensino superior, no mercado profissional e aprimorar a qualidade

das suas relações e da sua saúde. Hoje em dia, os jovens adultos têm sido confrontados

com um ambiente económico, social e cultural diferente em comparação com os jovens

de gerações anteriores. Estes jovens vivem um tempo em que há oportunidades de

trabalho reduzidas, aumento da diversidade e rápidas mudanças ao nível tecnológico. A

partir da recessão económica, passou a ser comum os filhos residirem com os pais, sendo

necessário conhecer os recursos que estas lhes podem fornecer (Settersten & Ray, 2010).

Tendo por base o estudo longitudinal de desenvolvimento adulto, em Harvard,

iniciado em 1938 e que ainda permanece a decorrer, Waldinger, em 2015, apresenta na

sua TedxTalk, que não são os bens materiais e a fama imprescindíveis para o bem-estar

psicológico e saúde do ser humano, mas sim a qualidade das suas relações (Vaillant,

1

2

2012). As pessoas que são apoiadas por relações próximas com amigos, família ou

membros de um grupo da comunidade são menos vulneráveis a doenças e à morte

prematura (Myers, 2000; Seppala, Rossomando, & Doty, 2013).

Apesar das evidências, persiste a escassez de estudos que englobem a pressão económica

sentida pelas famílias com filhos jovens adultos, o sentido de pertença e bem-estar

psicológico dos seus elementos. A relação entre estas variáveis é o foco deste estudo,

envolvendo todos os elementos da família.

Este estudo pretende ser um contributo inovador e relevante na atual conjuntura

nacional e internacional influenciada pela crise e instabilidade macroeconómicas. É neste

contexto que surge a frase da música “You raise me up” de Josh Groban como título deste

trabalho. A frase “You raise me up to walk on stormy seas” – poderia ter sido proferida

por um jovem adulto contemporâneo e dirigida aos seus pais e à rede que estabelece o seu

sentido de pertença. Adicionalmente, “os mares tempestuosos” podem aqui retratar tanto

a vivência da crise económica como a instabilidade caraterística desta fase de

desenvolvimento, sendo que o seu bem-estar psicológico depende da forma mais ou

menos adaptativa e acompanhada com a qual “caminha sobre estes mares”.

Esta dissertação encontra-se estruturada em cinco partes: 1) introdução; 2)

enquadramento teórico, onde serão definidos os constructos de pressão económica, bem-

estar psicológico e sentido de pertença, tendo por base as particularidades do

desenvolvimento do jovem adulto e onde se definem os objetivos e hipóteses do estudo;

3) metodologia utilizada, incidindo na caraterização dos participantes, o procedimento e

os instrumentos adotados; 4) resultados; 5) discussão geral dos resultados, incluindo ainda

as limitações do estudo, pistas de investigação futuras e conclusão.

3

Enquadramento Teórico

Famílias e Pressão Económica

A família é o contexto das primeiras formas de interação afetiva. É neste contexto

que são fornecidas as ferramentas essenciais ao desenvolvimento, já que a família

apresenta um papel decisivo na educação dos filhos, socialização, proteção e segurança,

sendo prioridade máxima a estabilidade emocional de todos os elementos (Carr, 2006).

Na perspetiva sistémica, a família é vista como “um sistema, um todo, uma

globalidade” (Relvas, 1996, p.12), no qual se desenvolvem relações e emoções

independentes de vínculos biológicos (Alarcão, 2000; 2006).

Para Macedo (1993), é a matriz de identidade pessoal e social, na qual se

desenvolve um sentimento de pertença, bem como o sentimento de independência e

autonomia baseado no processo de diferenciação, que fornece a consciência de si mesmo

como alguém diferente e separado do outro. Segundo Minuchin (1974), o pertencer é

elaborado pela participação da criança nos vários grupos familiares, ao acomodar-se às

regras, padrões interacionais e ao compartilhar a cultura particular da família que se

mantém através do tempo.

De acordo com o Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner (1979), as famílias são

microssistemas que se inscrevem em contextos mais vastos, influenciando e sendo

influenciadas pelas condições socioculturais e políticas de cariz mais macro. À luz deste

modelo, torna-se fácil compreender que a crise macroeconómica despoletada em 2008

poderá comprometer funções primordiais do microssistema família, nomeadamente a de

garantir a subsistência dos seus elementos (Voydanoff, 1990). Com efeito, com a crise

macroeconómica verificou-se um aumento no desemprego, bem com uma diminuição de

rendimentos mensais e um aumento da dívida nas famílias (Moore & Palumbo, 2009).

A um nível mais específico, o Modelo de Stress Familiar Económico (FESM;

Conger & Elder, 1994) postula que as famílias são influenciadas de uma forma negativa

pela adversidade económica em contexto de crise, uma vez que decréscimos nos seus

rendimentos ou mudanças negativas no trabalho podem conduzir a dificuldades

económicas diárias (e.g., incapacidade de pagar as contas, comprar alimentos ou roupa,

cortes nas despesas), e que, por sua vez, podem originar stress emocional, perda de

4

energia, sentimentos de tristeza e de zanga, pessimismo em relação à condição futura,

assim como um declínio nas relações interpessoais, podendo evoluir para implicações não

só no bem-estar dos adultos como também das crianças, caso possuam filhos a cargo

(Conger & Donnellan, 2007).

Neste sentido, pode-se considerar que as famílias em tempos de crise

macroeconómica experienciam pressão económica, um dos constructos centrais do

FESM, o qual não é simplesmente uma impressão subjetiva individual, mas um

verdadeiro descritor de eventos adversos que ocorrem na vida das pessoas quando se

encontram numa situação financeira difícil (Conger, Conger & Martins, 2010; Conger et

al., 2002). Previamente, outros autores (e.g., Guttman & Eccles, 1999; Vinokur et al.,

1996; Voydanoff, 1990), fizeram a distinção entre os conceitos de pressão económica e

de tensão económica, defendendo que a primeira se operacionaliza através das

experiências objetivas em vez das avaliações subjetivas das circunstâncias económicas,

como é o caso das medidas de tensão. Posto isto, a pressão económica é representativa

das experiências pesadas que dão significado psicológico à vivência da situação

económica (Conger et al., 1994, 1999). Assim, a pressão económica reflete as frustrações

diárias que podem traduzir-se na incapacidade de pagar contas ou de responder às

necessidades básicas (e.g., alimentação, vestuário), podendo, assim, estar associada a

sintomas de depressão, ansiedade, hostilidade e dificuldades sociais (Conger &

Donnellan, 2007; Falconier & Epstein, 2011). Além disso, a pressão económica não

apresenta somente consequências ao nível individual, mas também ao nível conjugal e

familiar. Ao nível da relação conjugal, estudos empíricos demonstraram que a perceção

de pressão económica está associada a intensificação do conflito conjugal e a insatisfação

no relacionamento (Cui, Donnellan, & Conger, 2007). Ao nível familiar, e de acordo com

Mistry, Benner, Tan e Kim (2009), as perceções dos adolescentes relativamente aos

problemas económicos vividos advêm da pressão económica sentida pelos pais e leva a

problemas de comportamento e a níveis mais reduzidos de bem-estar psicológico. A

investigação tem demonstrado que o impacto da pressão económica reflete-se também ao

nível do conflito entre pais e filhos, acarretando consequências negativas para os filhos,

particularmente o comprometimento das suas capacidades cognitivas e sociais, assim

como do sucesso académico (Conger et al., 2010). Adicionalmente, quando confrontadas

com o aumento da pressão económica, as famílias tendem a isolar-se da família alargada

e dos amigos (Conger & Elder, 1994;

5

Conger et al., 2002). Os resultados de Robila e Krishnakumar (2005; 2006) são

concordantes com esta hipótese, uma vez que indicam uma relação entre elevados níveis

de pressão económica e uma baixa perceção de apoio social, o que pode relacionar-se

com o papel parental que o casal desempenha.

Segundo Gomes e Pereira (2005), para uma família com níveis elevados de

pressão económica, a casa representa um espaço de privação, de instabilidade e de

reduzidos laços afetivos. Quando a casa deixa de ser um espaço de proteção para ser um

espaço de conflito, a superação desta situação ocorre de forma muito fragmentada, uma

vez que esta família não dispõe de redes de apoio para enfrentar as dificuldades,

resultando, possivelmente, na sua desestruturação. Por sua vez, o facto das necessidades

da família não estarem a ser sustentadas compromete a harmonia na dinâmica familiar,

sendo necessário um esforço acrescido para se constituir impulsionadora de um

desenvolvimento harmonioso e adequado para todos os seus membros.

Porém, apesar da crise económica ser comumente associada a resultados

negativos, existem algumas exceções que apontam para outra perspetiva. Por exemplo,

Davis e Mantler (2004) optam por conotar esta experiência vivida, de forma positiva e

alertam para a possibilidade de existir mudanças vantajosas, nomeadamente encontrar um

emprego mais satisfatório, promover novas perspetivas e adquirir competências na gestão

das despesas pessoais.

Famílias com Filhos Jovens Adultos

A investigação tem vindo a demonstrar que, é na fase de desenvolvimento entre

os 18 e 29 anos, que os indivíduos estão mais predispostos a criar um futuro que lhes

permita satisfazer as suas necessidades nas diversas áreas da sua vida (Arnett, 2014). Para

o mesmo autor, este período é visto como a etapa central na exploração da identidade,

sendo também marcada por instabilidade. Por um lado, é considerado um prelúdio das

várias possibilidades que o jovem tem para fazer escolhas que serão o fundamento para a

vida adulta, aprendendo mais sobre quem é, o que quer ser e o que pretende na vida. Por

outro, estas explorações podem tornar este período muito instável, por existirem

mudanças nos diversos contextos onde atua, nomeadamente a escola/universidade, o

trabalho, a casa e as relações pessoais e familiares. Esta instabilidade muitas vezes não é

voluntária, sendo que depende sobretudo das condições

6

externas ao indivíduo, as quais poderão comprometer o seu bem-estar psicológico

(Arnett, 2014).

A nível familiar, a família de origem do jovem adulto está a vivenciar o quinto

estádio do seu ciclo vital, sendo necessário adaptar-se a esta nova fase. É importante que

os pais facilitem a saída dos filhos de casa, aprendam a redefinir a relação conjugal (se

existir), a atingir o nível de comunicação entre pais e filhos como adultos iguais, a

permitir a entrada de novos elementos no sistema e aprender a lidar com a morte dos

avós e o seu próprio envelhecimento (Relvas, 2004). De acordo com Arnett (2000),

viver num contexto de crise macroeconómica pode ser particularmente desafiante para

famílias cujos filhos têm como objetivos imediatos procurar uma educação superior,

entrar no mercado de trabalho, desenvolver as suas relações pessoais e hábitos de saúde.

Painter (2005) corrobora a ideia de instabilidade associada ao período da emergência

dos jovens adultos, ao afirmar que pessoas que estão a viver essa etapa da vida têm a

maior frequência de distress psicológico do que qualquer outro grupo etário. Uma das

possíveis explicações para este resultado é o facto de os jovens adultos serem um

grupo muito afetado pelos efeitos das mudanças resultantes de um contexto de

adversidade económica (Greenleaf, 2014; Stein et al., 2011). Isto poderá levar a um

comprometimento das tarefas de desenvolvimento características desta etapa,

nomeadamente, a autonomia profissional e financeira, bem como a consequente saída

de casa dos pais. Quando tal não ocorre, o jovem permanece em casa dos pais, e não só

alcança tardiamente a sua estabilidade profissional, como também pode comprometer a

sua instabilidade emocional (McCullough & Rutenberg, 2007).

É fundamental expor a diferença existente entre os jovens que veem os pais, como

fonte de apoio, daqueles que não têm qualquer tipo de suporte. Para os jovens cujo apoio

dos pais é notório, esta fase pode espelhar uma oportunidade de crescimento e de

autoconhecimento, visto que não precisam de se preocupar constantemente com as

responsabilidades da família. Para aqueles que não contam com esse apoio, transforma-

se numa etapa marcada por um esforço acrescido na aquisição de competências exigidas

para conseguir um trabalho que possa sustentar a família e uma necessidade maior de

sentirem que exercem controlo no meio onde atuam (Furstenberg et al, 2004). Para além

deste aspeto, Coelho e Estramiana (2014) defendem que os fatores mais estruturais (e.g.,

inserção no mercado de trabalho) não são suficientes para compreender a complexidade

e as dimensões que atualmente existem perante esta fase, sugerindo a pertinência do

7

papel da própria cultura do jovem, as representações idealizadas sobre a juventude, e a

perceção que os jovens possuem acerca da família, do matrimónio e da parentalidade.

Os jovens têm presente as trajetórias que os seus pais construíram, igualmente as

questões que enfrentaram na época em que começaram a se sentir adultos. No entanto,

não existe entre os pais, o sentimento partilhado de que esta fase de desenvolvimento é

potencialmente complexa e desafiadora (Arnett, 2000). Este período do curso de vida terá

ganho contornos particulares nas últimas gerações: não haverá como compartilhar com

os pais uma crise que eles não tenham experienciado com a mesma intensidade. Larson

(1990) afirma que os jovens adultos passam o seu tempo livre sozinhos mais do que as

outras pessoas, a não ser os idosos, e passam mais tempo sozinhos nas suas atividades

produtivas (na escola e no trabalho) do que qualquer grupo etário abaixo dos

40. Assim, tal como descrito pela literatura, expressões como a angústia, a indecisão e a

incerteza de um compromisso com o presente e o futuro, estão altamente presentes no

quotidiano dos jovens adultos na atualidade.

Sentido de Pertença

Sentir que se faz parte de um grupo é uma necessidade do ser humano (Myers,

2000); por essa razão, os indivíduos procuram vivências sociais, nomeadamente a

manutenção de amizades, a construção de novas relações e a realização de atividades em

grupo (Baumeister & Leary, 1995). Para estes autores, a necessidade de pertencer

corresponde ao grau em que a pessoa possui um número suficiente de diferentes relações

pessoais, que permitem uma partilha de informação, apoio emocional e ajuda material; é

essencial criar, sobretudo, um sentido de pertença.

Lee & Robbins (1998, p. 338) definiram social connectedness1 como “a

consciência subjetiva de se estar numa relação próxima com o mundo”, não apenas com

os outros mas também com todo o mundo social, uma vez que inclui amigos próximos,

estranhos e comunidade. De acordo com Williams e Galliher (2006), a social

connectdness resulta da acumulação de experiências do passado e do presente e é

compreendida como uma diferença individual que determina a perceção subjetiva acerca

do mundo. Quando os indivíduos se sentem afastados da esfera social ao seu redor, apesar

de terem familiares e amigos próximos, o sentido de pertença pode estar

1 No âmbito deste trabalho, optou-se por traduzir a expressão social connectedness por sentido de pertença.

8

ameaçado ou em falta (Lee & Robbins, 1998). Esta ideia surge também na definição de

conexão (connection), um conceito próximo proposto por Barber e Schluterman (2008)

para a vivência da adolescência. Estes autores consideraram que a conexão pode ser vista

como a) a natureza ou qualidade da relação; b) o estado psicológico subjetivo (afetivo ou

cognitivo) mantido pelo adolescente acerca de uma relação; e c) a combinação de estados

psicológicos e comportamentos específicos para influenciar esses estados. Também é

remetida, sobretudo, para os laços formados nas relações e distinguem os seus vários

contextos, tais como uma única pessoa, um grupo ou uma instituição.

As pessoas que reportam de um grau elevado de sentido de pertença possuem um

sentimento de proximidade absoluta com as outras pessoas, identificam-se

espontaneamente com elas, expandindo e participando em grupos ou atividades sociais.

(Lee, Draper, & Lee, 2001). Além disso, o sentido de pertença conduz ao sentimento de

proteção por parte do indivíduo face a eventos de vida stressantes, bem como a capacidade

de lidar melhor com essas circunstâncias desafiantes (Myers, 2000). Por outro lado, um

sentido de pertença reduzido faz com que as pessoas sejam incapazes de fazer uma gestão

adequada das suas necessidades e sentimentos, podendo conduzi-las a uma baixa

autoestima, ansiedade e depressão; além disso, pode estar associado a um nível de

confiança interpessoal também diminuto, levando a comportamentos específicos

associados a resultados negativos, nomeadamente o evitamento ou o abandono de

oportunidades sociais (Lee, Draper, & Lee, 2001).

Whitlock (2006; 2007) acrescenta que o sentido de pertença não é meramente

recebido, através do envolvimento e do cuidado, mas apresenta uma natureza de

reciprocidade. Esta reciprocidade é muito importante para a saúde e bem-estar dos

indivíduos. Contudo, as pessoas que vivem em condições de pobreza, por exemplo,

podem sentir um desequilíbrio entre o apoio que transmitem aos outros e o apoio que

recebem (Moskowitz, Vittinghoff, & Schmidt, 2013).

Na última década, vários estudos têm dado especial atenção ao sentido de

pertença, evidenciando as suas associações positivas ao bem-estar psicológico de crianças

e adolescentes (Spencer e Lewis, 2001; Griffiths et al, 2007; Bernat e Resnick, 2009; Jose,

Ryan & Pryor, 2012; Sieving et al, 2017). Adicionalmente, o sentido de pertença tem sido

também considerado como um fator impulsionador do ajustamento e do bem-estar em

jovens adultos (Rossi, Stratta, & Capanna, 2012), embora seja pouco

9

enfatizada a relação entre estas variáveis nos jovens adultos. Diversos autores (Iwaniec,

2006; Lee, 2010; McLaren & Challis, 2009; Scannapieco & Connell-Carrick, 2005)

referem que o sentido de pertença desempenha um papel protetor, contribuindo para

amortecer resultados de adaptação negativos em condições adversas (Duru, 2008; Lee,

Dean, & Jung, 2008; Thoits, 2011; Yoono & Lee, 2010).

Bem-Estar Psicológico

Foi somente durante a década de 70 do século passado, aquando da mudança de

paradigma entre os investigadores para um domínio mais positivo da saúde mental, que

surgiu o interesse no que respeita ao bem-estar. Desde então, têm-se desenvolvido vários

estudos que exploraram a evolução da definição deste conceito, bem como os seus

principais correlatos.

Ryff e Keyes (1995) consideraram que o conceito de bem-estar abrange duas

áreas diferenciadas: o bem-estar subjetivo (BES), que se refere à dimensão psicossocial,

considerando-se aqui a satisfação com a vida, o afeto positivo e o afeto negativo; e o bem-

estar psicológico (BEP), que abrange dimensões psicológicas importantes para o

desenvolvimento harmonioso do ser humano. Novo (2003), a propósito do conceito de

BEP, considera que este advém de uma orientação teórica humanista, situando assim o

bem-estar num conjunto de dimensões globais da personalidade do indivíduo, sendo estas

basilares para um funcionamento psicológico adequado.

Mais concretamente, no âmbito do BEP, os autores consideravam que este

constructo inclui seis dimensões, que avaliam aspetos dos domínios cognitivo e afetivo

(Ryff, 1989 a,b; 1995): 1) Aceitação de si, como uma dimensão indispensável da saúde

mental, no que concerne ao reconhecimento dos múltiplos aspetos do self, das qualidades

pessoais, quer positivas, quer negativas; 2) Autonomia, que reflete o sentido de

autodeterminação, independência face às pressões exteriores e autocontrolo do

comportamento; 3) Domínio sobre o meio, não traduzindo apenas a capacidade de

adaptação face aos condicionamentos externos como também o poder de gerir e mudar as

exigências ambientais; 4) Relações positivas com os outros, dimensão que reflete o

envolvimento em relações interpessoais calorosas, empáticas e íntimas; 5) Propósito na

vida, que traz ao indivíduo a capacidade para atribuir e construir um significado maior

para a sua vida, através das metas estabelecidas; e 6) Crescimento pessoal, tratando-se do

funcionamento ótimo da personalidade, que requer não apenas as características

10

acima referidas, como também uma contínua e ávida expansão. Em suma, o modelo de

BEP concede ao indivíduo a consciência dos seus recursos psicológicos, em vários

domínios do seu desenvolvimento humano, permitindo assim mediar a sua relação

consigo mesmo e com os outros.

Neste estudo, torna-se relevante estudar o bem-estar psicológico pelo fato de

serem inexistentes estudos em jovens ou adultos; os existentes focam sobretudo a área do

bem-estar subjetivo, nomeadamente operacionalizada na variável satisfação com a vida.

Para Novo (2003), o bem-estar não só traz subentendida a ideia de descoberta, como

também inclui a construção da identidade e da personalidade. Poucos são os estudos que

avaliam o bem-estar psicológico de diferentes elementos numa família. Os três principais

determinantes que influenciam a maneira como os progenitores lidam com os seus filhos

são: a personalidade e o bem-estar psicológico dos progenitores, as características do filho

e o contexto social mais amplo no qual estas relações estão inseridas (Belsky, 1984).

O Presente Estudo

O presente estudo teve como principal objetivo analisar as associações entre a

pressão económica, o bem-estar psicológico e o sentido de pertença em famílias com

filhos jovens adultos. Para tal, mais especificamente, investigou-se a associação entre a

pressão económica – operacionalizada através do indicador necessidades materiais

insatisfeitas –, o sentido de pertença e o bem-estar dos pais, das mães e dos jovens adultos

a nível individual e diádico (i.e., associações entre variáveis do próprio e de outro

elemento familiar). Além disso, pretendeu-se especificamente analisar o papel mediador

do bem-estar psicológico dos pais, na relação entre o sentido de pertença dos pais e o

bem-estar psicológico dos filhos.Com base na literatura revista, não existem estudos em

que relacionem estas variáveis ao nível diádico e familiar, o que constitui uma mais-valia

da presente investigação. Adicionalmente ao considerar a família como um todo, é

possível obter a perceção de vários elementos da família e não apenas de um elemento

isolado. Mais concretamente, este estudo pretendeu averiguar as seguintes hipóteses:

Hipótese 1. A perceção das necessidades materiais insatisfeitas está associada a

a) níveis mais reduzidos de sentido de pertença e b) níveis mais reduzidos de

bem-estar psicológico em jovens adultos e seus pais/mães.

11

Hipótese 2. Níveis mais elevados de sentido de pertença estão associados a níveis

mais elevados de bem-estar psicológico em jovens adultos e seus pais/mães.

Hipótese 3. Níveis mais elevados de sentido de pertença dos pais/mães estão

associados ao bem-estar dos filhos, através dos seus próprios níveis de bem- estar.

Método

Participantes

Neste estudo, participaram 36 tríades (jovens adultos e ambos os pais), nove

díades (jovens adultos e um dos pais) e cinco jovens adultos. Relativamente à

caraterização dos tipos de família, 27 jovens adultos provinham de famílias de primeiro

casamento, quatro de famílias reconstituídas, nas quais três eram compostas pelo

padrasto, e, por último, 19 de famílias monoparentais, sendo 14 compostas pela mãe. Os

jovens adultos nesta amostra tinham idades compreendidas entre os 18 e os 28 anos (M

= 21.8; DP = 2.11), sendo a maioria do sexo feminino (n = 35, 70%). Todos eram solteiros

e, na sua maioria, estudantes (n = 39, 78%), sendo que 46% completaram o 12º ano e 44%

tinham terminado a licenciatura à data deste estudo.

O grupo das mães era composto por mulheres entre os 41 e os 63 anos (M = 50.9;

DP = 4.26). A maioria encontrava-se casada (n = 31, 68.9%), tinha completado o 12º ano

(n = 21, 46.7%), e encontrava-se empregada a tempo integral (n = 31, 70.5%). No que

concerne ao grupo dos pais, este era formado por indivíduos com idades compreendidas

entre os 43 e os 68 anos (M = 52.4; DP = 4.45). A maioria encontrava-se casada (n = 30;

83.3%), tinha concluído o 12º ano (n =10; 27.8%) e estava empregada a tempo integral

(n = 29; 80.6%).

Procedimento

Este estudo está inserido numa investigação mais ampla sobre a vivência das

famílias portuguesas no contexto de crise macroeconómica que tem sede na Faculdade de

Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra e na Faculdade de

Psicologia da Universidade de Lisboa. Relativamente à amostra, o critério de inclusão

12

para as famílias era serem uma família na qual houvesse pelo menos um filho jovem

adulto entre os 18 e os 29 anos de idade (Arnett, 2014). A recolha de amostra foi efetuada

a partir da seleção por conveniência, entre Junho e Dezembro de 2016. As famílias foram

contactadas pela investigadora e informadas acerca dos objetivos da investigação, da

duração do preenchimento dos questionários, bem como do caráter voluntário da

participação. Assegurou-se a confidencialidade dos dados e o fato de estes serem tratados

pelos investigadores apenas de forma coletiva. Estas informações eram disponibilizadas

no consentimento informado fornecido a todos os participantes. Nas instruções que

antecediam o protocolo de investigação, solicitava-se aos participantes que preenchessem

os questionários sozinhos, sem interferência dos restantes familiares. Após o seu

preenchimento, os participantes colocaram os protocolos num envelope selado que

devolveram à investigadora.

Instrumentos

Questionário Sociodemográfico

No sentido de se caracterizar os participantes do estudo, foi aplicado um

questionário sociodemográfico, com vista a identificar aspetos como sexo, idade, estado

civil, nível de escolaridade, situação laboral atual e a composição do agregado familiar.

Questionário de Dificuldades Económicas

Este é um questionário de autorrelato desenvolvido por Conger & Elder (1994),

formado por oito escalas, sendo que quatro permitem operacionalizar o constructo de

pressão económica. Foi adaptado para Portugal por Francisco & Pedro (2015). No

presente estudo, optou-se pela utilização de apenas um dos indicadores do constructo

pressão económica, as necessidades materiais insatisfeitas, 7 itens, como por exemplo

“Temos dinheiro suficiente para ter uma casa adequada à nossa família” e “Temos

dinheiro suficiente para comprar a comida que precisamos.” A resposta aos itens desta

escala é efetuada a partir de uma escala de Likert de 1 a 5, correspondendo 1 a Discordo

totalmente e 5 a Concordo totalmente. Neste estudo, optou-se por inverter todos os itens

do indicador, de forma a que resultados mais elevados na escala total significasse que as

necessidades materiais eram percebidas como mais insatisfeitas. Os

resultados deste indicador apresentaram uma excelente consistência interna: pais (α

13

= .92), nas mães (α = .90) e nos filhos jovens adultos (α = .92) (George & Mallery,

2003).

Escala do Sentido de Pertença

Esta escala foi criada originalmente por Lee, Draper, e Lee (2001), tendo sido

criada uma versão portuguesa por Francisco, Crespo, Rocha, Malaquias, e Dias (2011).

Contém 20 itens que avaliam o sentido psicológico de pertença, isto é, como os indivíduos

se relacionam com os outros no meio social. Dois exemplos de itens são: “Sinto que os

meus amigos são como família” e “Dou por mim envolvido ativamente na vida das

pessoas”.

Nesta escala, os participantes utilizam uma escala de resposta de 6 pontos do tipo

Likert (1= Discordo totalmente, 6= Concordo totalmente). No que diz respeito à sua

fiabilidade, os resultados desta escala apresentaram uma muito boa consistência interna

na amostra filhos jovens adultos (α =.94), nas mães (α = 87) e nos pais (α = .90) muito

boa (George & Mallery, 2003).

Escala do Bem-Estar Psicológico

A escala do Bem-Estar Psicológico de Ryff e Keyes (1995) adquiriu um formato

reduzido, com um total de 18 itens, tendo sido adaptada para Portugal por Novo (2004).

Foi desenvolvida a partir das versões anteriores (120 e 84 itens) das Escalas de Bem-

Estar Psicológico (Ryff, 1989b). Originalmente, a escala continha seis subescalas que

correspondem às dimensões contempladas no modelo de bem-estar psicológico,

designadamente Aceitação de si, Crescimento Pessoal, Objetivos na Vida, Relações

Positivas com os Outros, Domínio do Meio e Autonomia. Na versão reduzida, estas

dimensões são avaliadas conjuntamente através de um questionário de auto-relato de 18

itens cuja resposta é fornecida com uma escala tipo Likert de 6 pontos (1= Discordo

completamente e 6 = Concordo completamente). Dois exemplos de itens: “Sinto que, ao

longo do tempo, me tenho desenvolvido bastante como pessoa.” e “Gosto da maior parte

dos aspectos da minha personalidade”. A escala de bem-estar evidenciou uma boa

consistência interna nos pais (α = .86), nas mães (α = .81) e nos filhos jovens adultos (α

= .88) (George & Mallery, 2003).

14

Resultados

Análises de Correlação

Na Tabela 1, encontram-se as estatísticas descritivas (médias e desvios-padrão),

valores de alfa de Cronbach e correlações entre as principais variáveis em estudo, bem

como entre estas e variáveis sociodemográficas de relevo. Relativamente às correlações,

seguiram-se as indicações de Cohen; correlações entre .10 e .29 foram consideradas

fracas, entre .30 e .49 moderadas e entre .50 e 1 fortes (Cohen, 1988; Pallant, 2005).

Quanto aos filhos jovens adultos, a nível individual, não se verificaram

correlações significativas entre a perceção de necessidades materiais insatisfeitas e o

sentido de pertença ou o bem-estar psicológico. Porém, verificou-se uma correlação

positiva forte entre o sentido de pertença dos jovens e o seu bem-estar psicológico. Quanto

às correlações entre pais e filhos, verificou-se que existiam correlações positivas fortes

entre as necessidades materiais insatisfeitas reportadas pelos filhos e as percebidas pelas

mães e pelos pais.

Relativamente às díades pais do sexo masculino-filhos, o sentido de pertença dos

filhos estava positiva e fortemente correlacionado com o sentido de pertença e o bem-

estar psicológico do pai. O bem-estar psicológico de pais e filhos estava também

positivamente correlacionado.

Em relação às mães, a perceção das suas necessidades materiais insatisfeitas

estava correlacionada de forma moderada e negativa com o seu bem-estar psicológico.

Além disso, o sentido de pertença neste grupo estava positiva e moderadamente

correlacionado com o bem-estar psicológico. A um nível diádico, as necessidades

materiais insatisfeitas reportadas pelos pais estavam correlacionadas moderada e

negativamente com o bem-estar psicológico das mães. O sentido de pertença de pais e

mães estava também positiva e fortemente correlacionado.

Quanto aos pais, a sua perceção de necessidades materiais insatisfeitas estava

moderada e negativamente correlacionada com o seu bem-estar psicológico e de forma

positiva com a sua idade. O sentido de pertença estava correlacionado fortemente com o

seu bem-estar psicológico. A um nível diádico, o sentido de pertença dos pais estava

correlacionado positivamente com o sentido de pertença das mães e também com o dos

filhos. Por fim, verificou-se que o rendimento mensal familiar estava moderada e

15

negativamente correlacionado com as necessidades materiais insatisfeitas percebidas

por todos os elementos da família.

Tabela 1. Estatísticas descritivas e a matriz de correlações entre as variáveis estudadas.

Filhos Mães Pais

1 2 3 4 5 6 7 8 9 Média/DP Alpha de Cronbach

Filhos

1. NMI - 2.25/.78 .92

2. Sentido de Pertença -.18 - 4.55/.85 .94

3. Bem-estar psicológico

-.20 .76** - . 4.51/.69 .88

Mães

4. NMI .54** -.20 -.08 - 2.65/.84 .90

5. Sentido de Pertença -.11 .07 .15 -.20 - 4.23/.62 .87

6. Bem-estar psicológico

-.25 -.03 -.09 -.30* .45** - 4.18/.72 .81

Pais

7. NMI .58** -.14 .13 .61** -.11 -.47* - 2.50/.85 .92

8. Sentido de Pertença .02 .38* .30 -.25 .53** .18 -.23 - 4.39/.63 .90

9. Bem-estar psicológico

-.09 .46** .38* -.35 .22 .12 -.37* .69** - 4.44/.72 .86

10. Rendimento mensal familiar

-.33* .09 .09 -.30* .27 .28 -.37* .08 .17 1757.78/826 -

11. Idade dos filhos .23 -.13 -.15 -.06 .13 -.09 -.07 .09 .04 21.8/2.11 -

12. Idade das mães .16 .14 -.14 -.16 .01 .11 .03 .07 -.04 50.9/4.26 -

13. Idade dos pais -.28 -.19 -.18 .07 -.35 -.11 .39* -.25 -.32 52.4/4.45 -

16

17

.38† = .17

Bem-estar Psicológico dos

Filhos

.78***

Sentido de Pertença dos Pais

Bem-estar Psicológico dos

Pais

.33

Análise de Mediação

A análise de mediação foi efetuada a partir do teste de efeitos indiretos proposto

por Preacher e Hayes (2008), fundamentado em análises de regressão e no método de

bootstraping. Foi usada a macro PROCESS do SPSS para avaliar a significância de

efeitos diretos e indiretos, sendo que se considera um efeito indireto significativo se o

intervalo de confiança não incluir zero.

Foi testado um modelo de mediação, com vista a examinar o papel mediador do

bem-estar psicológico dos pais na relação entre o seu sentido de pertença e o bem-estar

psicológico dos filhos. Os resultados mostraram a presença de um efeito indireto (ponto

estimado = .30; IC = .0122/.6596) entre o sentido de pertença e o bem-estar psicológico

dos filhos através do bem-estar psicológico dos pais. Tendo em conta que a correlação

entre bem-estar psicológico das mães e bem-estar psicológico dos filhos não foi

significativa, não se testou o mesmo modelo de mediação com os resultados das mães.

= .47

.03

.30

Nota. O valor a negrito representa o efeito total; o valor em itálico significa o efeito indireto; os

outos valores representam o efeito direto.

*p < .05, **p< .01 ***p <. 001,† p =.09

Figura 1. Modelo dos efeitos mediadores do bem-estar psicológico dos pais na relação

entre o sentido de pertença dos pais e o bem-estar dos filhos.

18

Discussão

O presente estudo teve como objetivo principal analisar as relações entre a pressão

económica - através do indicador das necessidades materiais insatisfeitas percebidas - o

bem-estar psicológico e o sentido de pertença em famílias com filhos jovens adultos. De

seguida apresentam-se e discutem-se os resultados correspondentes a cada uma das três

hipóteses elaboradas para esta investigação.

A primeira hipótese do estudo foi apenas parcialmente confirmada. Relativamente

à primeira alínea desta hipótese - a perceção elevada das necessidades materiais

insatisfeitas das famílias está associada a menor sentido de pertença – esta não foi

confirmada pelos resultados. Apesar de Conger e Elder (1994; 2002) alertarem para a

tendência das famílias se isolarem da sua família alargada e dos amigos, quando

percecionam elevada pressão económica, no nosso estudo não se verificou qualquer

correlação significativa entre a pressão económica e o sentido de pertença, quer para

filhos, quer para as mães e pais.

Quanto à segunda alínea referente à perceção elevada das necessidades materiais

insatisfeitas das famílias estar associada a níveis mais baixos de bem-estar psicológico

para pais e mães, esta relação verificou-se para pais e mães mas não para o grupo dos

filhos. Pode ser particularmente difícil para os pais e mães, pelo menos no início desta

nova etapa do ciclo familiar (já que a média de idade dos filhos da nossa amostra é

relativamente baixa) o enfrentar de necessidades materiais insatisfeitas. Arnett (2000)

aborda o risco de uma crise económica ser uma condição muito exigente para famílias

com filhos jovens adultos, que pretendem estabelecer e alcançar objetivos de vida, sendo

estas uma das dimensões associadas ao bem-estar psicológico. É possível que este

indicador das necessidades materiais insatisfeitas se refira a situações que possam causar

particular preocupação sobretudo à díade conjugal (e.g., ter dinheiro suficiente para ter

uma casa adequada à família; ter dinheiro suficiente para comprar a comida necessária),

elementos responsáveis por garantir a subsistência da família. Estes resultados vão de

encontro ao de outros estudos, nomeadamente o de Leinonen e colaboradores (Leinonen,

Solantaus, & Punamäki, 2002) que verificaram que sob condições de pressão económica,

os pais respondiam demonstrando ansiedade e disfunção social, enquanto as mães

respondiam em termos de ansiedade e depressão,

19

afetando a maneira como ambos interagiam com os elementos da família. Relativamente

aos filhos, a interpretação dos dados é mais complexa. Tal como os resultados obtidos

neste estudo indicaram, a perceção que os filhos apresentavam acerca da perceção das

necessidades materiais insatisfeitas da família estava associada à perceção dos seus pais,

uma vez que pertencem à mesma família e este é um indicador que retrata a família e não

um indivíduo. Contudo, pode ser que os filhos estejam, de certa forma mais protegidos

relativamente ao impacto da perceção das necessidades materiais insatisfeitas no seu

bem-estar que não se revelou significativa. De facto, a maioria dos jovens portugueses na

faixa etária considerada neste estudo reside com os pais, não contribuindo, na sua maioria,

para o rendimento mensal familiar (Funstenberg et al. 2004), o que poderá explicar, em

parte que o seu bem-estar psicológico possa não estar comprometido pela pressão

económica. Futuros estudos que examinem esta relação entre necessidades materiais

insatisfeitas e bem-estar psicológico poderão clarificar se a ausência de resultados

significativos para jovens adultos se deveu ao reduzido número da amostra ou a outros

fatores de cariz desenvolvimental e /ou geracional. Esta linha de investigação assume

relevância dado que segundo Diener (2003), a relação entre recursos económicos e o bem-

estar subjetivo tem sido uma temática estudada empiricamente; o mesmo não se tem

verificado especificamente ao nível do bem-estar psicológico, apesar de esta relação ter

sido teoricamente proposta por Ryff (1989b) que considerou que a dimensão financeira

constitui uma variável significativa de influência no bem-estar psicológico.

Para todos os elementos do sistema familiar que participaram neste estudo, a

perceção das necessidades materiais insatisfeitas estava correlacionada negativamente

com o rendimento mensal familiar. Este resultado é consonante com a literatura anterior

(e.g., Ho, Lempers, & Clark-Lempers, 1995; Conger & Conger, 2002), embora não tenha

sido incluído nas hipóteses estudadas, vai simultaneamente ao encontro dos pressupostos

do FESM: indicadores objetivos de adversidade económica, neste caso o rendimento,

originam pressão económica. As necessidades - sejam materiais, sejam sociais - dirigem

o comportamento humano, sendo que quando surge algum obstáculo que impede a

satisfação desta necessidade, pode surgir um sentimento de fracasso, de impotência e de

diminuição (McCullough & Rutenberg, 2007; Larson, 1990).

O sentido de pertença estava associado ao bem-estar psicológico em todos os

elementos da família, resultados que confirmaram a segunda hipótese deste estudo. Não

20

foram encontrados estudos que relacionem estas duas variáveis no contexto familiar nem

especificamente em jovens adultos, sendo uma mais-valia deste estudo a avaliação da

relação entre estas variáveis a nível individual e diádico. Futuros estudos poderão

clarificar esta relação. Vários autores (Griffiths et al., 2007; Rossi, Stratta, & Capanna,

2012; Spencer & Lewis, 2001; Whittaker, 2008) demonstraram que o sentido de pertença

é fundamental para o ajustamento dos filhos e para o seu bem-estar psicológico, podendo

constituir-se como um fator de resiliência (Capanna et al, 2013). Porém é necessário

considerar que conceitos que se podem confundir com o sentido de pertença, como é o

caso do apoio social e o suporte familiar, podem potenciar um efeito que contribui para

níveis elevados de bem-estar psicológico (Myers, 1999).

A terceira hipótese previa uma relação de mediação, na qual o bem-estar

psicológico dos pais seria o mediador da relação entre o sentido de pertença dos pais e o

bem-estar psicológico dos filhos. Esta hipótese foi confirmada apenas para os pais do

sexo masculino mas não para as mães.

Uma possível explicação para este resultado reside no papel mais ativo que o

homem poderá estar a ter na educação dos filhos desde o nascimento (Cia et al., 2006).

Paquette (2004) enfatiza o papel do pai no desenvolvimento infantil, sendo responsável

pela tarefa de ativação, ou seja, proporcionar a descoberta das capacidades do filho,

facilitando a exploração do ambiente e permitir que o filho construa uma relação de

confiança em relação a si próprio e ao pai. Neste sentido, o filho começa a desenvolver

as suas competências sociais. Na linha dos resultados obtidos, Mead (1973) aborda que o

sentimento de se sentir mais seguro e ligado a um elemento da família pode facilitar e

promover a formação de ligações com os outros elementos exteriores ao seu contexto

familiar. A nossa amostra é sobretudo composta por jovens do sexo feminino, o que

poderá também ter influenciado esta mediação ter resultados significativos para os pais e

não para as mães.

Larson e Richards (1994) demonstram que os progenitores transmitem as suas

emoções aos filhos, havendo mais facilmente uma transferência de emoções negativas.

Os pais transmitem também a ambição aos seus filhos para que tenham uma vida com um

estatuto diferente do que possuem. Nesse caso, ocorre um adiamento da autonomia

financeira dos filhos devido a dificuldades em conciliar a carga horária de trabalho com

a educacional (Biasoli-Alves, 2000). Contudo, uma vinculação segura na relação com os

21

pais garante a construção de modelos positivos de si próprio e dos outros, que possibilitam

o desenvolvimento de competências necessárias para beneficiar de relações próximas

com os outros e reforçar o seu sentido de pertença (Crespo, 2012). Corroborando esta

ideia, Sampaio (2012) refere que só é possível o jovem se tornar independente

psicologicamente se for capaz de abandonar o vínculo infantil que o ligava aos pais e

construir uma relação menos dependente, mas não menos importante, onde o respeito e a

confiança mútua são essenciais.

Ao longo de todo este processo, concretamente descrito no estudo de Feres-Carneiro,

Henriques e Jablonski (2011), os pais e filhos avançam e recuam no plano relacional.

Trata-se de uma sucessão de idas e vindas, que se constituem como estratégias de

convivência, configurando o jogo interativo. Não se trata de competir entre si, de se

superarem um ao outro, mas sim de permanecerem unidos e tentar encontrar um sentido

na relação. Estes resultados reforçam a importância de se potenciar tanto o sentido de

pertença como o bem-estar psicológico do pai, para que se possa estabelecer um vínculo

emocional que seja mais positivo para a saúde mental dos filhos. Em suma, estes

resultados, ainda que preliminares, reforçam a importância de se potenciar tanto o sentido

de pertença como o bem-estar psicológico do pai, para que se possa estabelecer um

vínculo emocional que seja mais positivo para a saúde mental dos filhos.

Limitações e Futuras Direções

O presente estudo apresenta contributos importantes para o plano científico sobre

a relação entre a perceção da pressão económica, o bem-estar psicológico e o sentido de

pertença em famílias com jovens adultos. Contudo existem algumas lacunas que devem

ser consideradas: 1) a amostra utilizada carateriza-se por ser de conveniência e de

tamanho bastante reduzido, tendo sido selecionada através de uma estratégia de

amostragem não-probabilística, o que limita a interpretação e generalização dos

resultados para a população portuguesa; 2) existe uma discrepância em relação ao sexo,

sendo a amostra deste estudo formada sobretudo por jovens do sexo feminino; 3) os

instrumentos escolhidos para a sua concretização são de autorrelato, conduzindo assim a

possíveis enviesamentos causados pela desejabilidade social (Novo, 2005); 4) o fato das

análises serem quantitativas não permite extrair informação adicional relativamente a

cada resposta do participante; 5) o estudo é transversal, pelo que não permite estabelecer

uma relação causal entre as variáveis.

22

Quanto à recolha de dados, recomenda-se que estudos futuros sobre a temática

utilizem uma amostra mais heterogénea e extensa, no sentido de contribuir para a

investigação com conclusões mais generalizáveis. Seria também uma mais-valia recorrer

a metodologias longitudinais e mistas. Além disso, foi incluído apenas um dos três

indicadores de pressão económica, sendo que se sugere a presença em estudos futuros de

outros indicadores (e.g., cortes e ajustamentos financeiros), para que seja avaliada a

pressão económica de uma forma mais abrangente. Também se poderia optar por fazer

comparação entre grupos, tendo em linha de conta as diversas configurações de famílias

presentes na sociedade, para ver se existiriam diferenças significativas entre os jovens

adultos que pertencem a cada configuração familiar (e.g famílias nucleares intactas vs.

famílias monoparentais), nas variáveis estudadas.

Os resultados deste estudo possuem implicações para o campo da Psicologia da

Família, uma vez que as dinâmicas familiares contribuem em grande parte para o

desenvolvimento dos jovens que nesse contexto têm os primeiros modelos

comportamentais, cognitivos e emocionais (Silva, 2004). Adicionalmente, podem auxiliar

a criar guidelines na intervenção psicológica com indivíduos e famílias, nomeadamente a

promoção do sentido de pertença e de bem-estar psicológico dos pais e, assim,

consequentemente, influenciar o bem-estar psicológico dos filhos. Esta atenção especial

dada à família é evidenciada por Sampaio (2012), que considera ser uma construção

mútua de uma realidade diferente; o problema que é identificado como leitmotiv da

motivação para a consulta (comumente denominado o “pedido”) não existe no individuo,

mas na complexa rede de relações que vivencia com a família e os pares.

A um nível mais macro, as implicações são também relevantes. Por exemplo, é

importante considerar medidas políticas e sociais para promover, a entrada no mercado

de trabalho de uma forma mais eficiente, para que os jovens adultos não permaneçam

numa espécie de adolescência quase infinita (Birman, 2008), assim como dinamizar

novos programas com atividades que promovam o sentido de pertença tanto para pais

como para filhos. Investigações têm demonstrado que a participação em atividades

sociais, fora do contexto escolar (e.g. desporto, música) está relacionada com a construção

de relações interpessoais positivas, competências e recursos positivos necessários para

tornar-se um jovem adulto ativo. A participação nessas atividades são excelentes

oportunidades de crescimento, uma vez que desenvolvem uma boa autoestima e previnem

índices de depressão (Howie, Lukacs, Pastor, Reuben, &

23

Mendola, 2010). Acrescentam Moraes et al. (2007) que, tanto as crianças como os jovens,

começam a reconhecer os seus interesses, através da participação em diversos grupos,

contribuindo assim para a formação da sua identidade social. Menos claro está, neste

momento, o significado do sentido de pertença na idade adulta e dos fatores contextuais

e individuais que propiciam um elevado sentido de pertença nesta faixa desenvolvimental.

Os resultados deste estudo sugerem a importância deste sentido de pertença em adultos,

pais de jovens adultos, quer para o seu bem-estar psicológico, quer para os dos seus filhos.

Poder-se-á hipotetizar que o sentido de pertença seja uma peça fundamental para os

homens desta faixa etária para o seu bem-estar psicológico, realçando a importância dos

diferentes grupos nos quais se inserem e desenvolvem as suas competências sociais.

Assim, estudos futuros poderão aprofundar o conhecimento sobre o que significa para os

adultos sentir-se parte de um contexto social mais amplo, bem como identificar os

resultados positivos que poderão estar associados a esse sentido de pertença, quer para o

próprio, quer para os outros significativos.

Conclusão

A crise económica a nível mundial tem criado diversos efeitos na vivência das

famílias, como a pressão económica que exerce impacto em todo o sistema familiar. Esta

pressão concebe restrições e condicionamento à família, podendo os seus elementos

muitas vezes sentir-se privados de alguns bens materiais, o que tem um impacto negativo

o seu bem-estar psicológico. Particularmente, as famílias com jovens adultos têm

conquistado, pouco a pouco, visibilidade na investigação, dado que existem tarefas

desenvolvimentais que poderão ficar comprometidas no contexto de crise envolvente

(Stein et al. 2011).

No âmbito deste estudo com famílias portuguesas com jovens adultos, ao nível

das correlações entre resultados dos diferentes elementos da família verificou-se,

contrariamente ao esperado, que não existia uma correlação significativa entre a pressão

económica e o sentido de pertença ou o bem-estar psicológico dos filhos. Já o sentido de

pertença vivenciado pelos pais do sexo masculino estava significativamente associado ao

bem-estar psicológico dos filhos, sendo este efeito mediado pelo bem-estar psicológico

dos pais.

24

A importância do sentido de pertença a um contexto social mais vasto do que a

família realça a importância da ligação entre diferentes níveis sistémicos, ou seja, o modo

como a família pode beneficiar quando os seus elementos constroem relações positivas

noutros contextos (Castro & Zautra, 2016). Como refere Sampaio (2012) a família não se

trata de uma célula indestrutível, mas um espaço emocional onde cada um procura crescer

e individualizar-se. Finalmente, os resultados deste estudo podem contribuir para o

desenvolvimento e implementação de intervenções individuais e/ou familiares

especificas, com vista ao incentivo do sentido de pertença e promoção do bem-estar

psicológico dos vários elementos das famílias nesta importante etapa do ciclo vital.

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