01 - pollak, m. - memória e identidade social (15 cps)

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  • 5/10/2018 01 - POLLAK, M. - Memria e identidade social (15 cps)

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    MEMORIA E IDENTIDADE SOCIAL*Michael Pollak

    Michael Pollak nasceu em Viena, Austria, em 1948, e morreu em Paris em1992. Radicado na Franca, formou-se em sociologia e trabalhou comopesquisador do Centre National de la Recherche Scientifique -CNRS Seuinteresse academico. voltado de inicio para as relaciies entre polltica eciencias socia is, lema de sua lese de doutorado orientada por PierreBourdieu e defendida na Ecole Pratique des Hautes Etudes em 1975,estendeu-se a divers os outros campos de pesquisa, que confluiam para limareflexiio teorica sobre 0problema da identidade social em situaciies IitnitesEntre sells liltimas trabalhos incluem-se um estudo sobre ntulheressobreviventes dos campos de concentraciio publicado sob 0 tituloL 'experience concentrationnaire: essai sur Ie maintien de 1'identite socia Ie(Paris, Editions Metailie, 1990), e um a pesquisa sobre a Aids (Leshomosexuels face au SIA)_Pollak esteve no Brasil entre outubro e dezembro de 1987 Como professorvisitante do CPDOC e do PPGAS do Museu Nacional. Na ocasiiio concedeulima entrevista sabre a Aids a Alzira Alves de Abreu e Aspasia Camargopublicada em Ciencia Hoje, vol. 7,11.D 41 (abr. 1988). Proferiu tambem, noCPDOC, a conferencia aqui transcrita, que vem se somal' a seu artigo"Memoria, esquecitnento, silencio"; publicado em Estudos Historicos 3(1989). Prestamos hoje lima homenagem postuma a este grande expoentedas ciencias sociais na Franca

    Tratarei aqui do problema da ligacao entre mernona e identidade social, maisespecificamente no ambito das hist6rias de vida, au daquilo que hoje, como nova area depesquisa, se chama de historia oral.

    Ultimamente tem aparecido certo numero de publicacoes que dizem respeito, sobaspectos relativamente diferentes, ora ao problema da memoria ~ e refire-me apenas aabordagem historica - ora ao problema da identidade.

    Para falar apenas da Franca, a ultima obra de Fernand Braudel foi precisamente urnIivro sobre a identidade deste pais, Neste caso, e claro, predominava a preocupacao com osconceitos de identidade e de construcao, na longa duracao, de uma identidade nacional. Noque diz respeito a memoria, penso sobretudo no livre de Pierre Nora, Les Iieux de la memoire,que e uma tentativa de encontrar uma metodologia para apreender, nos vestigios da mem6ria,aquilo que pode relaciona-los, principal mente, mas nao exclusivamente, com a memoriapolitica. Finalmente, no caso das diversas pesquisas de historia oral, que utilizam entrevistas,sobretudo entrevistas de historia de vida, e obvio que 0 que se recolhe sao memoriasindividuais, ou, se for 0 caso de entrevistas de grupo, mem6rias mais coletivas, e 0 problemaai e saber como interpretar esse material .. N ota : E sta conferen cia fo i transcrita e traduzida por M oniquc A ugras A edicao C d e D ora R och a.

    Estudos Historicos, Rio de Janeiro. vol 5, /1. J O. J 992, P 200-2 J 2

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    uma lembranca pessoal, mas tambem pode nao ter apoio 110 tempo cronologico ..Pode ser, porexemplo, um lugar de ferias na infancia, que permaneceu multo forte na memoria da pessoa,muito marcante, independentemente da data real em que a vivencia se deu ..Na memoria maispublica, nos aspectos mais publicos da pessoa, pode haver lugares de apoio da memoria, quesao os lugares de comemoracao ..Os monumentos aos mortos, pOI'exemplo, podem servir debase a uma relembranca de um periodo que a pessoa viveu par ela mesma, ou de urn perfodovivido por tabela ..Para a minha geracao na Europa este e 0 caso da Segunda Guerra Mundial,

    Locals muito longinquos, fora do espaco-tempo da vida de uma pessoa, podemconstituir lugar importante para a memoria do grupo, e por conseguinte da pr6pria pessoa, sejapOl"tabela, seja por pertencimento a esse grupo..Aqui estou me referindo ao exemplo de certoseuropeus com origens rias colonies ..A memoria da Africa, seja dos Camaroes ou do Congo,pode fazer parte da heranca da familia com tanta forca que se transforma praticamente emsentimento de pertencimento ..Outro exemplo seria 0 da segunda geracao dos pieds noirs naFranca, que na verdade nern chegaram a nascer na Argelia, mas entre os quais a Iembrancaargelina foi mantida de tal mane ira que 0 lugar se tornou formador da memoria ..

    Esses tres criterios, acontecimentos, personagens e lugares, conhecidos direta auindiretamente, podem obviamente dizer respeito a acontecimentos, personagens e lugaresreais, ernpiricamente fundados em fatos concretos ..Mas pode se tratar tambem da projecao deoutros eventos ..Eo caso, na Franca, da confusao entre fatos Jigados a uma ou outra guerra ..APrimeira Guerra Mundial deixou marcas muito fortes em certas regioes, por causa do grandemimero de mortos ..Ficou gravada a guerra que foi mais devastadora, e freqiientemente osmortos da Segunda Guerra foram assimilados aos da Prirneira, Em certas regioes, as duasvirararn uma 56 , quase que uma grande guerra,o que ocorre nesses casos sao portanto transferencias, projecoes .. Numa serie deentrevistas que fizemos sobre a guerra na Normandia, que foi invadida em 1940 pelas tropasalemas e foi a primeira a ser libertada, encontramos pessoas que, na epoca do fato, deviam terpor volta de 15,16,17 anos, e se lembravam dos soldados alemaes com capacetes pontudos(casques it pointe), Ora, os capacetes pontudos sao tipicamente prussianos, do tempo daPrimeira Guerra Mundial, e foram usados ate 1916, 1917" Era portanto uma transferenciacaracteristica, a partir da memoria dos pais, da ocupacao alema da Alsacia e Lorena naPrimeira Guerra, quando os soldados alemaes eram apeJidados de "capacetes pontudos", paraa Segunda Guerra ..Uma transferencia por heranca, por assim dizer ..

    Alem dessas diversas projecoes, que podem ocorrer em relacao a eventos, lugares epersonagens, ha tambem 0 problema dos vestigios datados da memoria, ou se]a, aquilo quefica gravado como data precisa de urn acontecimento. Em funcao da experiencia de umapessoa, de sua inscricao na vida publica, as datas da vida privada e da vida publica vao ser oraassimiladas, ora estritamente separadas, ora VaG faltar no relato ou na biografia .. Quandofizemos entrevistas com donas de casa da Normandia que passaram pela guerra, pel aOcupacao, pela Libertacao etc .. as datas precisas que pudemos identificar em seus relatoseram as da vida familiar: nascimento dos filhos, ate mesmo datas multo precisas denascimento de todos os primos, todas as primas, todos os sobrinhos e sobrinhas Mas haviauma nitida imprecisao em relacao as datas publicus, ligadas a vida politica ..

    No extremo oposto, so para marcar a polaridade, se fizermos entrevistas compersonagens publicas, a vida familiar, a vida privada, vai quase que desaparecer do relate,Iremos nos deparar com a reconstrucao politica da biografia, e as datas publicas quase que setornam datas privadas. E claro que nao podemos interpretar isso exclusivamente como umaespecie de sobre-construcao politica da personagem. Pode ocorrer de fato que as coacoes da

    Estudos Histortcos, Rio de Janeiro, vol 5, II 10, J 992. p 200-212

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    ser conscientes como inconscientes, 0 que a memona individual grava, recalca, exclui,relembra, e evidentemente 0 resultado de urn verdadeiro trabalho de organizacao.

    Se podemos dizer que, em todos os niveis, a memoria e um fenomeno construidosocial e individualmente, quando se trata da memoria herdada, podemos tambem dizer que hf!lima ligacao fenornenologica muito estreita entre a memoria e 0 sentimento de identidade.Aqui 0 sentimento de identidade esta sendo tomado no seu sentido mais superficial, mas quenos basta no momento, que e 0 sentido da imagern de si, para si e para os outros. Isto e, aimagern que uma pessoa adquire ao longo da vida referente a ela propria, a imagem que elaconstr6i e apresenta aos outros e a si propria, para acreditar na sua pr6pria representacao, mastambem para ser percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros.

    Nessa construcao da identidade - e at recorro a literatura da psicologia social, e, emparte, da psicanalise - ha tres elementos essenciais ..Ha a unidade ffsica, ou seja, 0 sentimentode ter fronteiras flsicas, no caso do copo da pessoa, ou fronteiras de pertencimento ao grupo,no caso de urn coletivo; l U I a continuidade dentro do tempo, no sentido fisico da paJavra, mastambem no senti do moral e psicologico; finalmente, ha 0 sentimento de coerencia, ou seja, deque os diferentes elementos que formam um individuo sao efetivamente unificados. De talmodo isso e importante que, se houver forte ruptura desse sentimento de unidade ou decontinuidade, podemos observar fenomenos patologicos. Podemos portando dizer que amemoria e lim elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual comocoletiva, na medida em que ela e tambem lim fator extremamente importante do sentimento decontinuidade e de coerencia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrucao de si,

    Se assimilamos aqui a identidade social a imagem de si, para si e para os outros, ha urnelemento dessas definicoes que necessariamente escapa ao individuo e, por extensao, aogrupo, e este elemento, obviamente, e 0 Outro. Ninguem pode construir uma auto-imagemisenta de mudanca, de negociacao, de transforrnacao em funcao dos outros. A construcao daidentidade e urn fenomeno que se produz em referencia aos outros, em referencia aos criteriosde aceitabilidade, de admissibilidade, de credibilidade, e que se faz por meio da negociacaodireta com outros. Vale dizer que memoria e identidade podem perfeitamente ser negociadas,e nao sao fenornenos que devam ser compreendidos como essencias de uma pessoa ou de urngrupo,

    Se e possivel 0 confronto entre a memoria individual e a memoria dos outros, issomostra que a memoria e a identidade silo valores disputados ern conflitos sociais eintergrupais, e particularmente em conflitos que opcem grupos politicos diversos. Todomundo sabe ate que ponto a memoria familiar pode ser fonte de conflitos entre pessoas Porexemplo, todos os que fizeram pesquisas de historia oral sobre as estruturas familiares nasclasses populares, como ja fiz na Austria, puderam verificar 0 quanto urn nascimento ilegitimopode ser urn ponto importante quando se trata de resolver litigios ligados a herancas. Nao setrata apenas de heranca no sentido material, mas tambem no sentido moral, ou seja, do valoratribuido a determinada filiacao, Sabemos que a memoria, bern como 0 sentimento deidentidade ness a continuidade herdada, constituem urn ponto importante na disputa pelosvalores familiares, urn ponto focal na vida das pessoas.

    Em nivel mais organizado, vejamos 0 que acontece em relacao a memoria de urngrupo, Tornemos como grupos nao apenas partidos politicos ou sindicatos, mas tam berngrupos urn pouco mais informais. Na Franca, tomarei 0 exemplo daqueles que, durante aSegunda Guerra Mundial, foram deportados. E totalmente tragico verificar ate que ponto amemoria deles constitui um cacife importante para serern reconhecidos pelos outros, ou seja,serern valorizados pelos outros, num momento, logo depois da guerra, em que ninguem ou

    Estudos Historicos, Rio de Janeiro. vol 5 . II 10, 1992, p 20021 '2

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    p aises cu ja un ificacao n acion al se d eu tard iam e nte, e o nd e a cien cia h istorica I inh a u m a tarefad e un ificacao e m a nutencao d a un idade. E stou m e referin do a certa co rren te da h istorio grafiaalerna do seculo X IX , m arcada pelo nom e de T raitschke, m as tam bem em outros paises essefenomeno e b ern co nh ecid o d e to do s.

    P o r c on se gu in te , 0 trabalho de enquadram ento da m em oria po de ser analisado emterm o s de inv estim e nto, E u p od eria d izer q ue , em certo sentid o, u m a h isto ria social da h isto riaseria a anal ise desse trabalho de enquadram ento da m em oria .. T al anal ise pode ser feita emorganizacoes po l iticas, sindicais, na Igreja , enfim , em tudo aquilo que leva os grupos asolidificarem 0 socia l .

    A lem do trabalho de enquadram ento da m em oria, ha tam bem 0 trabalho da propriamemoria em si. O u seja: cada v ez q ue u m a m e m o ria esta re lativam e nte co nstituid a, ela efetu aum trabalho de m a nutencao, de coerencia, de unidade, de continu idade , da organizacao . P arex em p lo , a partir do m om ento em que 0 P artido C om u nista am a rrou bern a sua historia e a suam em oria, essa m esm a m em oria passou a trabalhar por si so , a influ ir na organizacao, nasgeracoes fu turas de quadros; os investim e ntos do passado , por assim dizer, renderam juros.Esse fenorneno torna- se bern claro em m om entos em que, em funcao da percepcao por outrasorganizacoes, e p r ec iso r ea l iz a r 0 trabalho de rearrum a cao da m e m oria do proprio grupo: I ssoe obvio no caso do P artido C om u nista. C ada vez que ocorre um a reorganizacao in tem a , a cadareo rien taca o id eo lo gica im p o rta nte , ree scre ve ra- se a h isto ria d o p artid o e a h isto ria g eral . T a ism o m e nto s nao ocorrem a toa, sao objeto de investim e ntos ex trem a m ente custosos em term ospo l iticos e em term os de coerencia, de unidade, e portan to de identidade da organizacao.C om o sab em o s, e nesses m om entos que ocorrem as cisoes e a criacao, sobre urn fundoh ete ro gen eo d e m e m o ria , o u d e fid elid ad e a m em o ria a ntig a, d e n ov os ag ru pa m en to s.

    E sp ero qu e esta rapid a d escricao d a p ro blem a tica da co nstitu icao e d a co nstricao so cia lda m em oria em diversos niveis m ostre que ha urn preco a ser pago , em term os deinvestim ento e de risco , na hora da rnudanca e da rearrurnacao da m em oria , e evidencietam bem a ligay ao desta com aquilo que a socio log ia cham a de identidades co letivas .. P O I 'iden tidades cole tivas, estou alud indo a todos os investirnentos que urn grupo deve fazer aolo ng o d o tem p o, to do 0 trabalho necessario para dar a cada m em bro do grupo - quer se tra te defam il ia ou de nay ao - 0 sentim e nto de u nid ad e, de co ntin uidad e e de co erencia ..

    G ostaria de enfatizar que , quando a m em oria e a identidade estao suficientem entecon stituid as, su ficien tem e nte institu idas, su ficien tem e nte am a rradas, o s q uestio nam e nto sv in do s d e g ru po s ex tern os a o rganizacao, os p rob lem a s colo cad os p elo s o utros, njio ch eg am aprovocar a necessidade de se proceder a rearrum a coes, nem no nivel da identidade cole tiva,nem no nivel da identidade individual . Q uando a m e m oria e a identidade trabalham par si sos,isso corresponde aquilo que el l cham a ria de conjunturas ou periodos calm o s, em que dim inui apreocupacao com a m e m oria e a identidade .. S e cornpararm o s, por ex em p lo, paises de antigatradicao nacio nal , p aises qu e sao E stado s nacio nais ha m u itos secu lo s, co m E stad os nacio naisrecentes, verem os que a preocupacao com a identidade e a m em oria tom a feicoes bernd iferentes no s do is casos. P od eriarno s to m ar co m o o bjeto d e an al ise a corre lacao, em p erio do sde longa duracao, en tre a rearrurnacao das relacoes entre paises em m om entos de crise ou deguerra , e a crise da m em oria e dosentim ento de identidade co letiva que frequentem entep rec ed e, ac om p a nh a o u su ced e e sses m e m e nto s.S eguindo esta m inha hipotese , poderiam o s propor aqui urn ponto para discussao: perque sera que atualm ente assistim os a um interesse renovado, nas ciencias hum anas e nahisto ria, p elo p rob lem a d a forte l ig acao en tre m e m o ria e identid ad e? E sse interesse e patenteem m uitas publ icacoes, que util izam m etodos m uito d iferentes, tais com o a anal ise das

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    9Algo que quero voltar a sublinhar e 0 problema da subjetividade e das fontes. Em

    primeiro lugar, ate as mais subjetivas das fontes, tais como uma historia de vida individual,podem sofrer uma critica, por cruzamento de inforrnacoes obtidas a partir de fontes diferentes.Mas acredito que, ao faze-lo, e vou dar urn exemplo, chegamos rapidamente a esgotaracapacidade de trabalho dos pesquisadores. E preciso reconhecer isso honestamente.

    Na pesquisa sobre histories de vida de mulheres deportadas, de onde foi extraido 0meu artigo 11 Le temcignage",' a prime ira historia de vida que recolhemos, com duracao deaproximadamente dez horas, foi controlada sob todos os aspectos. Emmos quatropesquisadores para uma so historia de vida, e comecamos urn controle muito cerrado de todasas informacoes. Primeiro, controlamos a data de nascimento da mulher; mediante consulta aoregistro civil. Depois, controlamos as escrituras do apartamento de sua familia em Viena, adata do comboio que a levou para 0 campo de exterrninio, a data da operacao que sofreu emAuschwitz. Achamos isso tudo. Para uma so entrevista, uma so historia de vida, quatropessoas trabalhararn durante dois anos. Fica evidente que se voce fizer urn projeto implicandouma centena de historias de vida, ate mesmo urnas trinta, ira logo esgotar a possibilidade detrabalho da equipe. Se pretendermos controlar todos os dados, sera multo diflcil realizar issona pratica.

    Acho que 0 que devemos fazer e levantar meios de controlar as distorcoes ou a gestaeda memoria. Quanto menos uma historia de vida for pre-construida, rnais isso funcionara.Numa historia de vida muito comprida, ha certas coisas que sao completamente solidificadas.Na minha experiencia de trabalho, as coisas mais solidificadas, assim como as coisas maisfluidas - ou seja, as que se transformam de uma sessao de entrevista para outra - sao as maisproblematicas .. Paradoxalmente, sao ao mesmo tempo indicadoras de "verdade" e de"falsidade", no senti do positivista do termo. Acredito que as partes mais construidas dizemrespeito aquilo que e mais verdadeiro para uma pessoa, mas ao mesmo tempo apontam paraaquilo que e mais false, sobretudo quando a construcao de determinada imagem nao temligacao, ou esta em franca ruptura com 0 passado real, 0 que mais nos deve interessar, numaentrevista, sao as partes mais solidas e as menos solidas, Eu diria que no mais solido e nomenos solido se encontra 0 que e rnais facil de identificar como sendo verdadeiro, bern comoaquilo que levanta problemas de interpretacao,

    Vou dar urn exemplo. Entre os fatos mais traumatizantes dos campos de exterminio,havia alguns que apareceram nos primeiros relates publicados imediatamente depois daguerra. Ora, tais fatos desapareceram dos relatos pubJicados entre 1949 e 1980, para soreaparecer agora, em dois relatos publicados recentemente. Esses fatos dizem respeito aonascimento de filhos de mulheres deportadas, Nos campos de extennlnio, quando umadeportada estava gravida, a comunidade das mulheres a escondia para que nao fosse morta.Como nao poderia ter no trabalho 0 mesmo rendimento das demais, a gravida seria morta logoque fosse descoberta Entao havia esse problema agudo, da realidade biologica da mulher, daalegria do nascimento, coincidindo totalmente, naquele universo, com a inevitabilidade damorte, tanto do recem-nascido como da mae.

    Esse tema apareceu nas historias de vida que recolhemos, mas sempre Jigado a outramulher que nao a entrevistada. So quando uma entrevistada nos contou 0 fato em relacao aoutra mulher que ja tinhamos entrevistado foi que pudemos tratar do assunto, Essa outramulher tinha tido realmente uma crianca no campo de exterminio, e pudemos retomar entao a

    E m co-autoria com N atha lie H ein ich , publicado em Acles de la Recherche ell Sciences Sociales, 62/63:3-29,juin 1986 V er ain da, d e M . P ol lak, n a m e srn a rcvista, p 3 0 5 3 , " L a g estio n d e I 'in dic ib le '.

    Estudos Historicos, Rio de Janeiro, vol .5 . II J 0, J 9 9 2 . P 200-212

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    militante, quer dar a palavra aqueles que jamais a tiveram, dai essa vontade de reabilitar 0subjetivo frente ao objetivo Cria-se assim uma oposicao entre historia oral e historia socialquantificada, enquanto eu, por mim, nao vejo oposicao, e sim continuidade potencial.

    Acho que hoje a questao objetivo versus subjetivo esta urn poueo ultrapassada, Emcertos artigos de Bertaux, e sobretudo de Regine Robin, a questao foi transportada para outronivel. 0 debate entre subjetividade e objetividade transformou-se num debate opondo a escritaliteraria a escrita cientificista. Haveria de urn lado 0 vazio, 0 seco, 0 enfadonho, que seria 0discurso cientifico, ainda par cima reducionista e, diz Regine Robin, fechado a pluralidade doreal, enquanto a historia oral seria uma das possibilidades de reintroduzir nas cienciashumanas, depois do periodo estruturalista, uma escrita nao apenas subjetiva, mas sobretudoliteraria, Regine Robin toma como paradigm a daquilo que deveriamos fazer 0 romanceclassico do seculo XIX e do inlcio do seculo XX, portanto, 0 proprio romance polif6nico, dotipo Proust, Musil, James Joyce. Diz ela que a pluralidade do romance e em realidade 0criterio do verdadeiro no discurso sobre 0 social, Ou seja: 0 discurso cientlfico, com 0 seufechamento e sua tendencia reducionista, e um discurso que restringe a realidade, e pOI'conseguinte nao e verdadeiro, ja que nao leva em conta 0 plural - aqui se trata mais do pluraldo que do subjetivo, 0 subjetivo nao e mais 0 problema para Regine Robin, A historia devidaindividual diretamente relatada, que a prirneira geracao de historiadores coloca em termos deoposicao, e recusada pOI'eIa, porque ela acha que a historia individual expressa, de fato, 0pre-construido social, em vez da verdade, enquanto a construcao romanesca seria 0 modoprivilegiado da escrita, capaz de restituir a verdade social em todas as suas alternativas e todaa sua pluralidade.E claro que quando confrontamos a producao atual sobre historia de vida com Musil,Proust e James Joyce, 0 argumento e extremarnente valido. Mas quando pegamos tudo aquiloque foi escrito no campo romanesco, como par exernplo os livrinhos que se compram nasestacoes de trem ou de 6nibus, compostos com a tecnica romanesca de condensacao de variaspossibilidades em uma ou duas personagens que tern um caso de amor que geralmente chegaas raias do inverossimil, verificamos que a falta de dominio da tecnica romanesca produztanto de nao-verdadeiru, de nao-plural, quanta 0 faria a falta de dorninio tecnico no campo dasciencias socials. Digo portanto que se nos proporcionamos os meios e as condicoes paraconstruir cientificamente, com todas as tecnicas das quais dispomos hoje em dia, temoscondicoes de produzir urn discurso realmente sensivel a pluralidade das realidades, Temosuma possibilidade, nao de objetividade, mas de objetivacao, que leva em conta a pJuralidadedas realidades e dos atos, Acredito que um discurso cientffico desse tipo e perfeitamentepossivel, nem que seja como projeto.

    Nao aceito portanto essa oposieao, que nao e mais entre subjetivo e objetivo, mas entretecnica romanesca - vista como restituicao verdadeira do social - e escrita cientitica -vistacomo reducionista. Alias, acredito que as oposicoes binarias, das quais as discussoesintelectuais fazem grande uso - subjetivo/objetivo, racional/irracional, cientifico/religioso - soservem para fins de acusacao ou de autolegitimacao. Acho que e muito mais interessanteestudar as condicoes de possibilidade dessas oposicoes do que leva-las a serio em si mesmas,A rigor, quando aparece esse tipo de discussao, nao se deve dar importancia, a nao ser, e claro,que se queira utilizer urn desses p610s numa tatica destinada a marcar forternente uma posicao,

    - Sobre 0 inicio da utilizaciio da historic oral napesquisa historica

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    Na Franca tivemos exemplos disso, em relacao a assinaturas de manifestos ..Quando 0historiador positivista, que acredita naquilo que esta escrito, nas assinaturas que constam nomanifesto, ouvir as pessoas que supostamente assinaram, ele vai levar urn susto com 0 sustodessas pessoas. Isto porque, frequentemente, as pessoas que organizam os abaixo-assinadosnao tem tempo de telefonar para todo mundo, con tam com a concordancia de um cidadao,colocam seu nome e depois esquecem de avisa-lo. Este e urn caso em que a fonte escrita naopossui validade superior a da fonte oral,

    ~Sobre 0depoimento pre-construido, comum entre as politicos:A esse respeito, posso falar a partir das entrevistas que fiz corn as deportadas ..Entre

    elas, havia militantes deportadas por razoes politicas, pOI' acoes na Resistencia, mas haviatambem algumas que tinham sido deportadas quase que par acaso, porque tinham escondidouma mala, algo assim, ou seja, por urn ato nao-politico. Logo, haveria uma oposicao entre 0discurso destas ultimas e 0das outras, urn discurso relativamente construido, de mulheres quedepois da Libertacao tiveram funcoes politicas, foram deputadas it Assernbleia Nacional naFranca. Se quiserrnos fazer a analise desses relatos, sera necessario introduzirrnos outroselementos que nao 0 conteudo, elementos que dizem respeito ao estilo.o primeiro criterio, ao meu ver, e reconhecer que con tar a propria vida nada tern denatural, Se voce nao estiver numa situacao social de justificacao ou de construcao de voceproprio, como e 0 caso de urn artista ou de urn pclitico, e estranho. Uma pessoa a quem nuncaninguem perguntou quem eia e , de repente ser solicitada a relatar como foi a sua vida, temmuita dificuldade para entender esse subito interesse ..Ja e dificil faze-la faJar, quanta maisfalar de si, Em nossa pesquisa, tivemos assirn interesse em analisar 0 estilo e 0 emprego dospronomes pessoais utilizados para falar de si propria ..Talvez seja interessante eu contar issoem detalhes.

    Entre as falas de deportadas, encontramos tres tipos de estilo: estilo cronologico, estilotematico, e 0 que chamamos de estilo factual, Todo relato rnistura esses tres estilos, vejambern. Mas descobrimos que 0 predominio do estilo cronologico estava conelacionado com acaracteristica de um grau minirno de escolarizacao. Isto e, pensar em si proprio em termos deduracao, de continuidade, e situar-se em term as de inicio e fim, nao era simplesmente natural.Percebemos tambem que 0 relate que segui~uma cronologi~~ra f()rt~mt;:!1!(;lc:grI'~lflC;i()I1

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  • 5/10/2018 01 - POLLAK, M. - Memria e identidade social (15 cps)

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    pessoais no conjunto de urn relato de vida seria uma medida, ou urn indicador, do grau deseguranca interna da pessoa.Observamos, e isso e muito interessante, que no momenta da chegada a urn universetotalitario, ao campo de concentracao, havia pessoas que saiam do comboio perdiam a suafamilia durante a selecao,' nao tinharn mais ninguern, e caiam imediatamente do "eu" para "agente", S6 falavarn "a gente". Enquanto isso, as militantes politicas, mesmo quando naotinharn ninguem no trem, conservavam uma ligacao imaginaria com outras pessoas, ou comurn ideal que as podia manter afastadas daquela realidade, e logo usavam 0 "nos ' ' dasdeportadas. Era portanto algo extremamente forte.

    Ainda nao publicamos isso, mas acho que, se trabalhamos com esses textos, e preciseintegrar a analise do estilo e a analise de certos indicadores como 0 usa dos pronomespessoais, Ha urn monte de coisas que se pode extrair dai.

    - Sabre a iconografia conservada par determinados grupos e sua interpretaciio dasimagens:Tenho a impressao de que ha como que uma mem6ria visual que e reconstruida. Mas

    em termos de pesquisa, nao temos nada a esse respeito. S6 posso me referir aos trabalhos deNora sobre a integracao dos lugares da memoria e sobre os simbolos e as imagens que seformam a partir dos monumentos. Temos tarnbern trabalhos sobre comernoracoes, sobre amontagem das cornemoracoes e as mudancas que van ocorrendo nelas, Estudamos, porexemplo, qual seria a razao pela qual, na Franca, em determinadas epocas, os ex-combatentesusam pouco uniforme ao desfilar. Isto e, pesquisamos 0 valor relativo da farda emdeterminadas epocas. Sera algo espontaneo? Integramos esses aspectos aos trabalhos sobrecomernoracao e sobre os lugares da memoria. Mas no sentido da questao que me foi colocada,talvez encontremos algumas pistas na direcao da hist6ria social da arte. 0 que seriainteressante, seria 0 estudo das mudancas e da significacao dessas imagens. E urn assuntomuito importante. A (mica coisa nessa direcao talvez sejam os trabalhos de Choutard, queencontrou, em cerimonias que se referem a fatos hist6ricos do seculo XX, no sui da Franca, apresenca de elementos ligados as guerras de religiao do seculo XVI, que parecem ter sidoprojetados no irnaginario dessa mOI(:~agem

    N a chegada do com boio, havia urna irnedia ta selecao que separava os grupos e dirig ia parle dosre ce rn -c he ga do s p ara a c ur na ra d e g as , o ut ra para os b ar ra co es e tc , a p ar tir d e c rl te rio s j am a is e sc la rc cid os (N dT)

    Estudos Historicos, Rio de Janeiro, vol 5 . /l 10, 1992, P 200-212