0164600-33.2008.5.03.0007-data-20091207-seq-8027844- sentença pejotização trt mg
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PODER JUDICIRIOJUSTIA DO TRABALHOTRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO 3 REGIO
7 VARA DO TRABALHO DE BELO HORIZONTE/MG PROCESSO N 01646-2008-007-03-00-8 1
TERMO DE AUDINCIA
Aos sete dias do ms de dezembro de 2009, na
e. 7 Vara do Trabalho de Belo Horizonte/MG, presente a
Exma. Sra. Juza do Trabalho, THASA SANTANA SOUZA, que
ao final assina, para audincia relativa aos autos n
01646-2008-007-03-00-8, entre as partes:
RECLAMANTE: DIGENES AMORIM LEITE
RECLAMADA: DTS LATIN AMERICA SOFTWARE E CONSULTORIA LTDA.
s 16h02, aberta a audincia, foram as
partes apregoadas por ordem da MM. Juza, ausentes.
Submetida a lide a julgamento, foi proferida
a seguinte SENTENA.
RELATRIO
Digenes Amorim Leite, devidamente
qualificado fl. 03, ajuizou a presente ao perante DTS
Latin America Software e Consultoria Ltda, alegando, em
sntese, que: foi admitido na cidade de So Paulo, no dia
01/10/2002 para gerenciar os negcios da reclamada,
desenvolvendo projetos de sistema da informao para o
banco Bradesco e empresas do grupo, tendo sido dispensado
em 19/01/2007; recebia salrio fixo no importe de R$
7.000,00 acrescido de comisses; na ocasio de sua
admisso foi obrigado pela reclamada a constituir uma
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pessoa jurdica, com o objetivo de fraudar seus direitos
trabalhistas; no teve sua CTPS assinada, razo pela qual
no recebeu os direitos trabalhistas pelo perodo
laborado, tampouco as verbas rescisrias a que faz jus;
laborou nas dependncias da reclamada, com subordinao
aos empregados desta; em meados de julho de 2006 foi
transferido para Belo Horizonte onde continuou
trabalhando com subordinao reclamada, no tendo
recebido o adicional de transferncia; na ocasio de sua
transferncia para Belo Horizonte passou a receber
salrio fixo de R$ 7.350,00, contudo as comisses
recebidas foram suprimidas; o intervalo intrajornada no
foi regularmente concedido pelo perodo em trabalhou na
cidade de So Paulo.
Em conseqncia, pleiteou as parcelas
elencadas s fls. 09/10. Deu causa o valor de R
$20.000,00. Juntou documentos e procurao (fls. 11/296).
Regularmente notificada e aps rejeitada a
tentativa de conciliao, a reclamada apresentou defesa
escrita, com documentos, arguindo, inicialmente a
impossibilidade jurdica do pedido e sua ilegitimidade
passiva e, no mrito, sustentou, em sntese, que: no h
vnculo de emprego com o reclamante, uma vez que houve
apenas um contrato de prestao de servios com a empresa
que tem como um dos scios o autor; referida empresa foi
constituda no ano de 1998, no prosperando a alegao de
que o reclamante foi obrigado a abri-la para sua
contratao; no havia pessoalidade e subordinao; a
empresa constituda pelo reclamante no prestava servios
exclusivos reclamada; no so devidos direitos
trabalhistas, ante a ausncia de vnculo de emprego; o
intervalo intrajornada foi devidamente concedido; no
havia pagamento de comisses; a transferncia do
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reclamante para Belo Horizonte se deu por convenincia de
ambas as partes, em especial em razo do autor ter sido
acometido por problemas de sade. Requer a compensao de
valores j pagos ao reclamante sob o mesmo ttulo.
Na audincia inicial, foram ouvidos o
reclamante e o preposto da reclamada.
Determinada a expedio de carta precatria
para oitiva das testemunhas cujos depoimentos encontram-
se s fls. 382/385.
Na derradeira audincia foi ouvida uma
testemunha do reclamante e, sem mais provas, encerrou-se
a instruo processual.
Recusada a ltima tentativa de conciliao.
Razes orais finais pelas partes.
Tudo visto e examinado.
o relatrio.
A DECISO E SEUS FUNDAMENTOS
I Impugnao aos Documentos
O reclamado impugnou os documentos juntados
por no condizerem com a realidade e no possurem
fundamentao tcnica.
No h razo para referida impugnao, uma
vez que tais documentos juntados aos autos no ilidem
qualquer eventual prova em sentido contrrio, alm de que
sequer houve impugnao especfica acerca do seu
contedo.
No h, ademais, qualquer prejuzo s
partes, motivo pelo qual rejeito a impugnao em tela.
II - Impossibilidade Jurdica do Pedido
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A reclamada alegou a impossibilidade
jurdica do pedido, sob o fundamento de que inexiste
vnculo empregatcio.
Sem razo, uma vez que s h que se falar em
impossibilidade jurdica do pedido quando existe veto
expresso no ordenamento jurdico, o que certamente no
o caso.
Rejeito.
III Ilegitimidade Passiva
Sem razo a preliminar em tela eriada pela
reclamada, uma vez que se adota na ordem jurdica
nacional a Teoria da Assero, sendo suficiente a
afirmao juridicamente coerente para restarem presentes
as condies da ao.
Assim, legtima para figurar no plo passivo
a parte que, em tese, a partir simplesmente das
afirmaes contidas na petio inicial, pode vir a
responder pelas pretenses deduzidas.
No caso em tela, o reclamante pleiteia o
reconhecimento do vnculo de emprego com a reclamada, ao
argumento de que houve fraude na sua contratao, sendo o
que basta para estar configurada a legitimidade para
figurar no plo passivo da presente demanda.
Rejeito.
IV - Da relao havida entre as partes e consectrios
O reclamante pleiteia o reconhecimento do
vnculo de emprego com a reclamada ao fundamento de que
prestou servios na forma dos artigos 2 e 3 da CLT,
sendo condio para sua contratao a constituio de
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pessoa jurdica, com quem a reclamada firmou contrato de
prestao de servios.
A reclamada, por sua vez, aduz que firmou
contrato de prestao de servios com a empresa DEB
Informtica Ltda., que possui o reclamante como um dos
scios, no havendo que se falar em relao de emprego.
Pois bem.
No presente caso, em que a reclamada alegou
a prestao de servios pelo reclamante de forma
autnoma, por meio de empresa interposta cujo quadro
societrio era composto pelo reclamante, a ela cabia o
nus de prova, uma vez que no Direito do Trabalho reina a
presuno de que, admitida a prestao de servios, esta
se deu sob a forma empregatcia.
Assim, competia reclamada comprovar a
inexistncia de relao de emprego entre as partes, nus
do qual, a meu sentir, no se desincumbiu, seno vejamos.
Analisando a prova oral, verifico que as
testemunhas ouvidas pelo reclamante comprovaram as
alegaes exordiais, ao passo que a testemunha ouvida a
rogo da reclamada prestou informaes imprecisas, no se
prestando o depoimento ao convencimento deste juzo.
Com efeito, assim afirmaram as testemunhas
ouvidas:
que trabalhou na reclamada de fevereiro de
2001 a julho de 2006, na funo de diretora
de RH; que a depoente trabalhou com o
reclamante na cidade de So Paulo; que
trabalhou com o reclamante de outubro de 2002
at a sada da depoente; que em julho de 2006
o reclamante foi transferido para a cidade de
Belo Horizonte; que o reclamante atuava como
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gerente comercial, sendo que na cidade de So
Paulo atendia o cliente Bradesco; que o
reclamante era subordinado ao diretor da rea
de projetos, Sr. Tadeu Portas; que o
reclamante comparecia todos os dias
reclamada, das 08:00 s 17:30 horas,
aproximadamente, com uma hora de intervalo
para refeio, de segunda sexta-feira; que
o reclamante recebia por ms atravs da
emisso de nota fiscal de servio; que o
reclamante recebia um fixo de R$ 7.000,00
mais um valor varivel de acordo com o
faturamento do cliente, em mdia, de R$
2.500,00 a 3.000,00 mensais; que o reclamante
foi transferido para BH para ser gerente de
contas, mas a depoente no teve mais contato
direto com o mesmo; que o reclamante no
podia mandar outro gerente para trabalhar em
seu lugar; que o reclamante no desenvolvia
programas na reclamada, sendo que na cidade
de So Paulo apenas fazia gesto do contrato
com o Bradesco; que havia uma equipe
desenvolvendo programas de software na
reclamada; que o reclamante no vendia
produtos para a reclamada na cidade de So
Paulo; que a depoente no tinha registro em
CTPS; que para ser admitido na reclamada a
pessoa tinha que ter uma empresa, isso
ocorrendo para todas as funes, exceo
dos servios de limpeza que eram
terceirizados; que alguns funcionrios eram
registrados por exigncia do cliente, como o
banco Bradesco, por exemplo, em caso de a
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pessoa permanecer dentro das dependncias do
cliente; que o reclamante ficava nas
dependncias da reclamada, embora se
dirigisse, constantemente, ao banco Bradesco;
que quem determinava os prazos de contratos
para serem cumpridos era a assessoria
tcnica; que o material e equipamento de
trabalho utilizado pelo reclamante era da
reclamada e no dele prprio; que a
manuteno dos computadores era feita pela
reclamada; que no tem conhecimento se o
reclamante prestou servios para outras
empresas no mesmo perodo em que trabalhou
para a reclamada, esclarecendo que, ao que
sabe, isso no ocorreu; que no havia
cobrana de resultados do reclamante
(...) (1 testemunha do reclamante fls.
382/383 grifos acrescidos)
que a depoente trabalhou com o reclamante de
2002 a 2006; que o reclamante foi subordinado
ao diretor, Sr. Jos Tadeu, em So Paulo, e
em BH ao diretor Sr. Lus Carlos Prestes; que
o reclamante atuava como gerente comercial,
controlando todo o faturamento, projetos,
data de entrega; que na cidade de So Paulo o
reclamante gerenciava o cliente Bradesco e
empresas coligadas; (...) que poca a
depoente era subordinada ao reclamante e
antes desse ser admitido, a depoente era
subordinada ao departamento financeiro; (...)
que se o reclamante precisasse se ausentar
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tinha que justificar as faltas com o Sr. Jos
Tadeu; que o reclamante no desenvolvia
programas de software na reclamada; que o
reclamante no vendia produtos da reclamada;
(...) que a depoente teve trs tipos de
contratao na reclamada, inicialmente foi
contratada como celetista, depois passou trs
anos como cooperada e depois foi registrada
novamente como celetista; que outras pessoas
que tambm trabalhavam na reclamada tambm
eram registradas em CTPS, dependo da
exigncia do cliente; (...) que o reclamante
e outros funcionrios tiveram a exigncia de
possuir empresa para serem admitidos; que
quem controlava o horrio de trabalho da
depoente era o reclamante; que quem
controlava os horrios do reclamante eram os
diretores da reclamada, sendo que eram
enviados relatrios de controle de jornada
aos mesmos; que o reclamante tinha cobrana
de resultados, a qual era feita pelo Sr. Jos
Tadeu, em So Paulo; que a depoente continuou
tendo contato com o reclamante aps sua
transferncia para BH; que quem fazia o
faturamento era a depoente; que o reclamante
ficava em escritrio aberto pela reclamada na
cidade de BH; que o reclamante foi
transferido para cuidar desse escritrio na
cidade de BH; que o reclamante mudou para a
cidade de BH com toda a sua famlia; (...)
que o reclamante trabalhava na sede da
reclamada em So Paulo, e saa para fazer
visitas ao cliente Bradesco... (2
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testemunha do reclamante fls. 383/384
grifos acrescidos)
que possui uma pessoa jurdica em seu nome
desde 1999; que comeou a prestar servios
para a reclamada apenas no ano de 2003, sendo
que possua pessoa jurdica em seu nome desde
1999 (...); que o reclamante era gerente de
contas do cliente Bradesco; que trabalhava no
mesmo andar que o reclamante; que o
reclamante tambm possua pessoa jurdica em
seu nome; que o reclamante comeou a prestar
servios reclamada antes da entrada da
depoente, mas tem conhecimento que isso
ocorreu no ano de 2002; que teve conhecimento
que a contratao do reclamante foi feita por
meio de pessoa jurdica, que na poca
prestava servios ao banco Bradesco, sendo
que a reclamada assumiu todas as pessoas que
possuam pessoas jurdica constituda,
dispensado aqueles que possuam vnculo
celetista e no concordaram em constituir
pessoa jurdica; que o nome da pessoa
jurdica que foi absorvida pela reclamada foi
a PL Alcoran; que o reclamante era
subordinado ao diretor da rea de tecnologia
da reclamada, Sr. Jos Tadeu Portas; que era
a prpria reclamada quem fornecia todo o
material de trabalho ao reclamante; que o
reclamante tinha empregados a ele
subordinado; que todos esses subordinados
eram empregados com carteira assinada pela
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reclamada; que o reclamante podia contratar e
demitir funcionrios da reclamada, sempre com
suporte do RH; que o reclamante nunca vendeu
produtos de informtica para a reclamada; que
a pessoa jurdica do reclamante atua na rea
de prestao de servios de gerenciamento de
projetos, sendo que esses servios eram
prestados em prol da reclamada; que esses
servios eram prestados exclusivamente para o
banco Bradesco, cliente da DTS; que o
reclamante nunca desenvolveu nenhum programa
de computador; que aproximadamente em junho
de 2006 o reclamante foi transferido para
Belo Horizonte; que essa transferncia se deu
em virtude da reclamada ter aberto uma filial
nesta cidade, colocando o reclamante como
responsvel pela referida filial; que nessa
poca o reclamante passou a ser subordinado
ao diretor comercial da reclamada Luiz
Carlos Prestes; que havia outras pessoas que
prestavam os mesmos servios que o reclamante
para outros clientes da reclamada, sendo que
todas essas pessoas tambm possuam pessoa
jurdica constituda em seu nome; que a sada
do reclamante da reclamada se deu
posteriormente ao desligamento da depoente;
(...) que o reclamante possua autonomia
total no tocante a realizao e consecuo do
projeto a ser entregue ao banco Bradesco,
sendo que o Sr. Jos Tadeu Portas apenas
fiscalizava a efetiva entrega do projeto, no
dando ao reclamante ordens de execuo do
projeto; que o reclamante, de fato, possua
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autonomia para dispensar empregados da
reclamada, sendo que apenas a
operacionalizao da dispensa era feita pelo
RH da reclamada; que a transferncia do
reclamante para Belo Horizonte teve carter
definitivo (testemunha do reclamante fls.
396/397 grifos acrescidos)
que a depoente trabalhou no mesmo local com
o reclamante no perodo de 2004 at a
transferncia do mesmo para BH; que o
reclamante atuava como representante
comercial junto ao Bradesco, alavancando
vendas de servios de consultoria; que a
reclamada contratou o reclamante para essa
atividade porque o mesmo j tinha experincia
prestando servios ao Bradesco; que a
depoente no via o reclamante todos os dias
na reclamada; que o reclamante comparecia
para participar de reunies; que a depoente
no participava de tais reunies; (...) que o
reclamante foi transferido aps retornar ao
trabalho, por volta de julho de 2006, para BH
por interesse prprio porque tinha famlia no
local e disse depoente que tambm pretendia
uma melhor qualidade de vida; (...) que o
reclamante continuou prestando servios de
vendas de consultoria em BH para a empresa
GVC; que todas as pessoas que entram na
reclamada tm que passar um crach
eletrnico, inclusive visitantes; que a
depoente tem registro em CTPS; que outros
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funcionrios tm registro em CTPS; que as
pessoas que atuam na rea comercial
geralmente no tm registro em CTPS, uma vez
que atuam como representantes comerciais; que
o reclamante j tinha empresa aberta quando
contratado pela reclamada, uma vez que quem
indicou o mesmo foi o prprio banco Bradesco;
que o reclamante tinha cobrana de resultados
e quando foi para BH no conseguiu as metas
exigidas pela reclamada; que por esse motivo
houve o rompimento da prestao de servios,
uma vez que no houve faturamento que
justificasse a continuidade de escritrio na
cidade de BH; que o rompimento mencionado
ocorreu entre o reclamante e a reclamada; que
o reclamante no desenvolvia projetos de
software, sendo que existe uma equipe interna
na reclamada para esse fim; que o reclamante
vendia esses produtos; que havia uma equipe
que acompanhava o cumprimento de projeto e
no o reclamante; que se no se engana, um
dos responsveis pela equipe era o Sr. Joo
Eduardo; que desconhece se o reclamante
recebia ordens de algum da reclamada; que
desde que a depoente foi admitida j existia
o controle de acesso na reclamada, atravs da
catraca eletrnica; que ao que sabe o
reclamante no tinha horrio a cumprir na
reclamada; que ao que sabe o reclamante no
precisa justificar ausncia na reclamada; que
o reclamante dividia uma sala com outras
pessoas, onde havia mesas e computadores; que
no sabe informar se havia uma mesa de
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trabalho para o reclamante; que as mesas e os
computadores eram da prpria reclamada; que
acredita que o reclamante usava o telefone da
reclamada quando estava no local; que se
encontrava com o reclamante, em mdia, 2 a 3
vezes por semana na reclamada; que o Sr. Jos
Roberto Rocco tambm exerceu as mesmas
funes que o reclamante por volta de 3 a 4
anos, mas no sabe informar se ambos
exerceram a funo concomitantemente; que o
reclamante fazia visitas ao banco Bradesco,
mas a depoente no via quanto tempo o mesmo
permanecia no local; que desconhece se o
reclamante prestou servios para outras
empresas no perodo em que trabalhou para a
reclamada (testemunha da reclamada fl. 384
grifos acrescidos)
Como se v dos depoimentos supratranscritos,
as testemunhas ouvidas a rogo do reclamante foram firmes
ao afirmar que este prestou servios reclamada no no
atendimento e elaborao/venda de projetos para o Banco
Bradesco, como alegado em defesa, mas sim como gerente
comercial, podendo inclusive admitir ou dispensar
empregados da empresa, restando patente a sua integrao
dinmica empresarial.
As testemunhas tambm afirmaram a existncia
da subordinao, j que o reclamante tinha de se reportar
diretamente a superiores hierrquicos da empresa durante
sua jornada, havia controle de horrio e imposio de
metas, bem como impossibilidade de substituio desse por
outra pessoa.
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Tambm restou provado que a reclamada
contratava outros empregados com CTPS assinada, conforme
exigncia dos clientes, o que evidencia a fraude
perpetrada, j que a anotao em CTPS e a regularizao
da relao de emprego decorre de norma imperativa, no
podendo depender seu reconhecimento pelo empregador da
mera exigncia de clientes, que no coadunam com esse
procedimento irregular.
Corroborando a prova testemunhal, o
documento de fl. 344 demonstra a existncia de inqurito
civil instaurado pelo Ministrio Pblico do Trabalho para
apurao de irregularidades na conduta da reclamada,
pelos mesmos fatos ora provados.
Lado outro, a testemunha trazida pela
reclamada foi evasiva, prestando informaes imprecisas
ao juzo. Com efeito, essa disse que no via o
reclamante todos os dias na reclamada, que desconhece se
o reclamante recebia ordens de empregados da empresa, que
ao que sabe este no tinha horrio a cumprir, que no
sabe informar se havia uma mesa de trabalho para o
reclamante, que desconhece se o autor prestou servios
para outras empresas no perodo em que trabalhou para a
reclamada (ata de fls. 384/385).
Assim, com base nas provas produzidas nos
autos, percebo que a reclamada apenas buscou fraudar
direitos trabalhistas, uma vez que possua verdadeiros
empregados, dentre eles o reclamante, exercendo sobre
eles o seu poder diretivo, mas sem ofertar as condies
previstas na legislao trabalhista.
Portanto, declaro a nulidade do contrato de
prestao de servios firmado entre a empresa DEB
Informtica Ltda e a reclamada e, conseqentemente,
reconheo a existncia da relao de emprego entre as
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partes, que perdurou de 01/10/2002 a 19/02/2007 (projeo
do aviso prvio indenizado OJ 82, SDI-I), vez que
incontroverso o perodo.
Em conseqncia, determino que a reclamada
proceda anotao do vnculo empregatcio na CTPS do
reclamante, com admisso em 01/10/2002, dispensa em
19/02/2007 e funo de gerente de negcios, no prazo de
oito dias a contar do trnsito em julgado desta deciso,
sendo que na sua omisso tais anotaes podero ser
efetivadas pela Secretaria deste Juzo, com posterior
remessa de ofcio para a DRT.
No havendo prova nos autos de quitao do
acerto rescisrio, defiro ao reclamante, j considerada a
projeo do aviso prvio indenizado (OJ 82 da SDI-I do C.
TST):
- aviso prvio;
- 13 salrio integral dos anos de 2003,
2004, 2005 e 2006;
- 03/12 de 13 salrio do ano de 2002;
- 02/12 de 13 salrio do ano de 2007;
- frias em dobro referente aos perodos de
2002/2003, 2003/2004 e 2004/2005 + 1/3;
- frias simples referente ao perodo de
2005/2006 + 1/3;
- 05/12 de frias proporcionais + 1/3;
- FGTS e multa de 40%;
- multa do art. 477 da CLT.
A reclamada dever entregar as guias CD/SD
para percepo do seguro desemprego, caso preenchido os
requisitos, sob pena de arcar com indenizao
substitutiva caso o autor deixe de receber a
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integralidade dos benefcios por culpa exclusiva da
reclamada.
A reclamada dever entregar, ainda, as guias
TRCT no cdigo 01, ressaltando que no houve depsitos no
curso do contrato de trabalho, razo pela qual j foi
deferido o pagamento integral do FGTS e da multa
fundiria, sendo que o TRCT servir apenas para fins, se
for o caso, de recebimento de seguro-desemprego pelo
reclamante.
V Diferenas de Comisses. Integrao ao Salrio
O reclamante alegou que recebia,
habitualmente, alm, da parcela fixa da remunerao,
valores a ttulo de comisses, as quais foram suprimidas
quando da sua transferncia para Belo Horizonte, fazendo
jus, portanto, ao pagamento das diferenas, bem como
integrao de tais parcelas sua remunerao. A
reclamada, por sua vez, negou o pagamento da parcela.
Pois bem.
A testemunha Mrcia Regina de Souza
(depoimento de fl. 382) corroborou a tese exordial de que
o autor recebia salrio fixo no importe de R$ 7.000,00,
acrescido de comisses que atingiam, em mdia, o valor de
R$ 2.500,00/R$3.000,00, ao passo que as demais
testemunhas ouvidas nada disseram acerca da remunerao
percebida pelo autor.
Assim, entendo que o reclamante logrou
provar o recebimento de valores a ttulo de comisso,
ficando, pois, deferido o pedido de diferenas salariais
no importe de R$ 2.500,00, suprimido a partir de julho de
2006, quando o reclamante foi transferido, desde ento
at a resciso contratual, bem como os reflexos dessas
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comisses, por todo o contrato de trabalho, em 13
salrio, frias mais 1/3, FGTS + 40% e aviso prvio.
Para fins de liquidao, fixo o salrio do
reclamante no valor mensal de R$ 9.500,00 (valor fixo de
R$ 7.000,00, acrescido do valor das comisses ora
fixado), o qual servir como base de clculo para todas
as parcelas deferidas neste decisum, bem como dever
perdurar durante todo o contrato de trabalho do
reclamante, tendo em vista o princpio da
irredutibilidade salarial.
Esclareo que no prospera a tese defensiva
no tocante ao reequilbrio econmico do contrato, uma
vez que o valor do salrio ora delimitado restou provado
nos autos, devendo o empregador, ademais, assumir todos
os riscos da atividade econmica.
VI Intervalo Intrajornada
O prprio reclamante confessou em depoimento
pessoal (fl. 298) que trabalhava de 08:00 s 17:00 horas,
com uma hora de intervalo para alimentao.
Ante a confisso real do reclamante quanto
ao integral gozo do descanso intervalar, indefiro o
pedido de pagamento de horas extras pela no concesso do
mesmo e, consequentemente, todos os reflexos postulados a
esse ttulo.
VII Adicional de Transferncia
O reclamante alega que em julho de 2006 foi
transferido para Belo Horizonte, contudo no recebeu o
adicional de transferncia a que faria jus. A reclamada,
por sua vez, aduz que a transferncia se deu por
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convenincia das partes, e que o reclamante exercia cargo
de confiana, no sendo devido o adicional.
Inicialmente deve ser esclarecido que, nos
termos da OJ n 113 da SDI-I do C. TST, o adicional
devido pelo simples fato de a transferncia ser
provisria, limitando-se a esse fato a anlise do acervo
probatrio.
E, analisando a prova oral, verifico que
todas as testemunhas ouvidas se manifestaram no sentido
de que o reclamante foi transferido para Belo Horizonte
com a finalidade de gerenciar os negcios de uma nova
filial da reclamada aberta naquela cidade, com inteno
de levar toda a sua famlia para essa capital, o que j
levaria a concluso de que referida transferncia teria
carter definitivo.
Ademais, consta expressamente do depoimento
da testemunha Ftima (fls. 396/397) que a transferncia
do reclamante para Belo Horizonte se deu em carter
definitivo.
Assim, indefiro o pedido.
VIII Compensao
Nada a compensar ou deduzir, uma vez que as
parcelas deferidas nunca foram pagas ao reclamante.
IX Ofcios
Tendo em vista as irregularidades
constatadas neste processo, determino que, aps o
trnsito em julgado, seja oficiado o Ministrio Pblico
do Trabalho, para as providncias cabveis, no havendo
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fatos ensejadores para envio de ofcios ao outros rgo
informados na petio inicial.
DISPOSITIVO
POR TODO O EXPOSTO, nos autos da Ao
Trabalhista que DIGENES AMORIM LEITE move em face de DTS
LATIN AMERICA SOFTWARE E CONSULTORIA LTDA, rejeito a
impugnao aos documentos, bem como as preliminares de
impossibilidade jurdica do pedido e ilegitimidade
passiva e, no mrito, julgo parcialmente procedentes os
pedidos, nos termos da fundamentao que integra este
dispositivo, para, reconhecendo a relao de emprego
entre o reclamante e reclamada pelo perodo de 01/10/2002
a 19/02/2007, conden-la, a pagar ao reclamante, a partir
do trnsito em julgado da presente ao:
- aviso prvio;
- 13 salrio integral dos anos de 2003,
2004, 2005 e 2006;
- 03/12 de 13 salrio do ano de 2002;
- 02/12 de 13 salrio do ano de 2007;
- frias em dobro referente aos perodos de
2002/2003, 2003/2004 e 2004/2005, acrescidas do tero
constitucional;
- frias simples referente ao perodo de
2005/2006, acrescida do tero;
- 05/12 de frias proporcionais + 1/3;
- FGTS e multa de 40%;
- multa do art. 477 da CLT;
- diferenas salariais, em razo das
comisses suprimidas, no importe de R$ 2.500,00 por ms,
a partir de julho de 2006 at a resciso contratual;
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- reflexos das comisses, cujo valor mensal
de R$2.500,00, por todo o contrato de trabalho, em 13
salrio, frias mais 1/3, FGTS + 40% e aviso prvio.
Determino que a reclamada proceda anotao
do vnculo empregatcio na CTPS do reclamante, com
admisso em 01/10/2002, dispensa em 19/02/2007, funo de
gerente de negcios, salrio fixo no importe de R
$7.000,00 acrescido de comisses no valor mdio de R
$2.500,00, no prazo de oito dias a contar do trnsito em
julgado desta deciso, sendo que na sua omisso tais
anotaes podero ser efetivadas pela Secretaria deste
Juzo, com posterior remessa de ofcio para a DRT.
A reclamada dever, ainda, entregar as guias
CD/SD para percepo do seguro desemprego, caso
preenchido os requisitos, sob pena de arcar com
indenizao substitutiva caso o autor deixe de receber a
integralidade dos benefcios por culpa exclusiva da
reclamada.
A reclamada dever entregar, por fim, as
guias TRCT no cdigo 01, ressaltando que no houve
depsitos no curso do contrato de trabalho, razo pela
qual j foi deferido o pagamento integral do FGTS e da
multa fundiria, sendo que o TRCT servir apenas para
fins, se for o caso, de recebimento de seguro-desemprego
pelo reclamante.
Liquidao por meros clculos.
Para fins de liquidao de sentena, dever
ser observado o salrio do reclamante no importe de R
$9.500,00.
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Correo monetria a partir do primeiro dia
til do ms subseqente ao vencido e juros a partir do
ajuizamento da ao.
Em ateno ao art. 832, pargrafo 3, da
CLT, declara-se que possuem natureza salarial: 13
salrio, aviso prvio, comisses e reflexos em aviso
prvio e 13 salrio, sobre os quais devem incidir os
recolhimentos previdencirios e fiscais, conforme art.
28, da Lei 8212/91 e na forma da Smula 368 do C. TST. As
demais parcelas deferidas possuem natureza indenizatria.
Custas pela reclamada, no importe de R$
1.000,00, calculadas sobre o valor ora arbitrado
condenao, R$ 50.000,00.
Aps o trnsito em julgado, oficie-se o
Ministrio Pblico do Trabalho, para as providncias
cabveis.
Ciente o reclamante (S. 197, C. TST).
Intime-se a reclamada.
Intime-se a Unio, ao final.
Nada mais.
Encerrou-se.
THASA SANTANA SOUZA
Juza do Trabalho