22. françois dosse - o império do sentido

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7/16/2019 22. François Dosse - o império do sentido http://slidepdf.com/reader/full/22-francois-dosse-o-imperio-do-sentido 1/7 I Coordena¢o Editorial Irma Jacinta Turolo Garcia Assessoria Administrativa Irma Teresa An a Sofjatti Assessoria Comerdal Irma Aurea de Almeida Nascimento Coordena¢o da Cole¢o Historia Luiz Eugenio vescio e COP\AS CL- . .. c "i- ( , r . o l ~ · . ____ "1"( v'.J;' - o Imperio do sentido a humaniza<;ao das Ciencias Humanas Franerois Dosse T RAn U C; A 0 Ilka Stern Cohen

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7/16/2019 22. François Dosse - o império do sentido

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I

Coordena¢o Editorial

Irma Jacinta Turolo Garcia

Assessoria Administra tiva

Irma Teresa Ana Sofjatti

Assessoria Comerdal

I rma Aurea de Almeida Nascimento

Coordena¢o da Cole¢o Historia

Luiz Eugenio vescio

e COP\ASCL-

. .. c "i-( , r . o l ~ · . ____"1"( v' . J ; ' -

o Imperiodo sentido

a humaniza<;ao das

Ciencias Humanas

Franerois Dosse

T RA n U C; A 0

Ilka Stern Cohen

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UMA FlLOSOFIA DO AGIR:

PAUL RICOEUR

o deslocamento do olhar. concentrado ate entao nas condic;oesda

a<;.3 0, na propria a<;ao em seus procedimentos significantes da urn lugar

central ao filosofo frances que. desde sua tesesobrea vontade.' nao deixou

de se colocar a questao do semido da a<;ao humana. Paul Ricoeur. Apesar

de urn dialogo constante com asdendas humanas - quer se tr.lle dasemio

logia. da antropologia estrutural de Levi-Strauss au da psicanalise freudia

na l-. Paul Ricoeur pennaneceu muito tempo ignorado pelos praticames

dessas cienaas humanas no tempo do estrutur<ilismo triunfante.

Hoje ecomp!etamente diferente. e. mesma que pernstam ail1da

algumas preven<;Oes com relac;ao as posic;6es da hermeneu t ica que en

carna, ele se tomoo u ma r ef er en da m ai or e m m ui to s trabalhos das

ciencias humanas. 0 que mudou e permitiu alimentar enHm esse dialogo fecunda foi a conjunrura intelectual e a abertura que cIa permite par

causa do esgotamemo dos grandes paradigmas unitados ate entao do

minantes. Contrariamente amaior parte dos filosofos levados pela onda

estruturalista. Paul Rlcoeur soube resistir a csta. 1cvando em conta urn

certo numere de contribui<;6es das disciplinas guias desse perfodo. E

essa resistenda que permite hoje a retomada. urn outro desdobramen

to dos questionamentos das dendas humanas numa nova relac;ao com

a filosofia. Paul Ricoeur p6de resistir as i1usoes da epoca. que ele alra- •

vessou semdesviar de suas orientac;6es-iriidais, g r a ~ s a uma retac;ao

muito intensa com a t radi ,ao hermeneut ica a lema d ~ e Friedrich

Schieiermacher, com a ciencia do espfrito de Wilhe lm Dilthey e a feno

menologia de EdmundHusser!. as reflexoes

de MartinHeidegger

sabre

a historicidade e as de Hans Georg Gadamer sabre a tradiyjo. atem de

oulrJS influcncias maiorcs como 0 exislcncialismo, 0 de Karl Jaspers e

dl" Gabriel Marcel, ou 0 ps:rsonalismo de Emmanuel Mounier. Ora. ·lc

mas em Dilthey e diferentemente em Husserl dois meios de resistir mui-

I. RlCOEUR, Paul. PJrilowphie de la volonti. Pari s: Aubie r. 1950 e 1960.

t. 1 e 2.

2. Id. lk J'inJapritalion. Paris: Seui\. 1965.

11\1

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I to fonemente ao objetivismo que se pode encomrar no marxismo, no

positivismo e no estruturalismo·.'

ENTRE EXPLICA<;AO E COMPREENSAO

VI.> linha direlriz de Paul Ricoeur consisre em se situar no cemc da

temao entre explicac;ao e compreensao, mais freqiientemente apresentadascomo alternativas exclusivas. Numa preocupac;iio dia16gica, Paul Ricoeur

explora todas as potencialidades desses dais polos, evirando apresema-los

como a expressiio de uma Jicotomia nao superavel entre 0 que seria do ter

reno das c iencias da natureza (explicaC;ao) e 0 que conviria as ciencias do

espirito (compreensao). Ainda que essa grande divisao seja rejeitada por

Paul Ricoeur, de niio deixa de tomar em Dilthey e em Husser! a orientac;iio

inidal que deve parti r da experienda subjetiva, de sua elaborac;ao discursi

va e de s eu desdobramento horizontal no universo intersubjctivo proprio acomunicaC;iio. 0 mundo vivido e as djversos procedimentos de subjetivac;ao

e socializac;ao possiveis estao portamo na base de urn lrabalho que DaO po

dia senao encomrar as c h ~ n c i a s humanas quando estas se questionam sa

bre a agir , au seja, sobre 0 sentido a dara pra tica SOCia£!

A Dutra grande razao da cemralidade adquir ida pcla obra de Pall]Ricocur c sua situac;ao cxcepcional no cruzamcnro dos caminho5. Fie! a

suas orienlaC;0l:S epistcmo16gicas. essa obra se enconlra em posic;ao dial{l

gica entre a rilosofia continental e a filosofia analilica, com il quzll Ricoeurd is cu le ha mll ito. Hojc, quando as cicncias humanas sc abrcrn para 0

!nundo anglo-saxao, elas dcscobrcm em Ricocur urn inlrodutor, lim Iei-

tor mCliculoso que precedclI lodo mundo nesse dcsvio peb America.

Waller Benjamin disse que a filosofia devia aliar 0 rigor (Kant ) e a p ro

fundidadc (Hegel) e que deveria se r sistematica: ·Eu acho que Rieoellr

cxemplifica cssa a l i a n ~ a tao preciosa do rigor com a profundidadc.·' Des

de 0 inkio,{o projeto de Paul R i c ~ u r roi 0 de construir uma fcnomcno-

l0/o:i..l da ac;Jo. rI1ultiplic<Jndo 0 .. <ksvio5 necessaria.. que 0 condllzem a urn

segundo momento marcado pda o p e r a ~ j o hennent:Ulica. ncccssariJ aD

pro}(r.1fna fcnomcnol6:£ ico:".

b ~ . J duria perspcCtiva situ,) Ricocur entre a l'xperiC'nl"ia vivida e 0

concci!.q.: Elc pode .:lSSllll evit.ar ceder as ·rcdu\ocs do (Onn:ilO. <los pen.

!>.Jmenl{)s de 10fa dOl F r a n ~ a · · e ao mcsmo tempo ('vitar a e X a l l J ~ j o scm

3. J("an-Marc F e r r , ! , ~ · ~ n t r r v i s t a com 03Utor.

4. Ibid.

5. MONGIN. Olivier. Paul RiCQiur. Paris : Seuil , 1994. p. 26.

182

COM O"RISCOU"E ...Gffi

media<;6es do ego transcendental. Esse meio termo correspondemuito

bern a terceira via que hoje proqlram dencias sodais embuscadaquilo

que fundamcnta a vinculo social. t aul Ricoeur se sima num espaC;o inter-

mediario entre 0 senso comum, cUjas competendas sao reavaliadasen-

quanto que omem eralTlrejeit.adas ria illusio pr6prla adoxa, e uma dirrien

sao epistcmo16gica que perdeu sua posic;ao de escora. 0 conceito .naomais se op6e entao aD vivido para desqualilica-Io, e Paul Ricoeurem-

preende uma busca do seorido a partir de · m e d i a ~ 5 e s imperfeitas" numa"dialetica inacabada" sempre aberta a uma nova. atribuic;ao do seotido.

Essa abenura sabre a temporalidade, na corrente de gerac;oes inscrita na

lrama da histeria op6e-seaabsolutizac;ao da nOC;ao de ruptura epistemo-

logica propria aD paradigma estruturalista.

o "ENXERTO" HERMEN"l:.UTICO

A. pretensao de objetividade e de cienda do estruturalismo. Paul Ricoeur op6e a via mais paciente e mais modesta de uma ·hermeneutica da

compreensao historica".· 0 enxerto hermeneutico sobre urn projeto feno-,

menologico pressupoe urn desvio triplo, uma tripla mediac;ao que faz a

~ t l s c a eidetica' passar pelos sinais, pelos sfmbolos e pelos textos: "Mediac;ao pelos sil1ais: por isso afirma-se a condiC;ao originariamente linguageira

de tada cspecie humana.·· A mediac;ao pelos simbolos [oi feita em dois

tempos. como 0 mamou Olivier Mongin.· Ela e apresentada em LA Symbo-

lique du mal,'n onde Ricoeur desenvolve a e x p l i c a ~ a o de urn sentido segun-

do e oculto de expressoes ambivalemes. Ele parte en tao da busca. de signi

ficac;ao dos simbolos primarios, mostrando que 0 sfmbolo emais que urnsinal, na medida em que manifesra em seu objetivo uma intencionalidade

dupla. Ossimbolossao ainda mais importantes para a rcflexao, fato de que •

visarn nao somente urn sentido primeiro. literal,mas que alem destee um

segundo que deve seralingido, contanto que se encontre 0 sentido p r i m e i ~

6. RICOEUR. Paul. VII /(xlt ai·action. Paris: SeuiL 1986. p_ 328.

7. A husca t'idClica correspondt' em Husser! .1 busca da essfncia do objclO.

conSlituida po r conlC!rnos ideais capazes de preencher imcn<;Oes signifi.cantes multiplas e variaveis. A essenda se experimenta numa intui,ao vi-vida. uma doac;ao originaria. Cabe pois procurar as leis que guiam 0 co-

nhecimento emp[rico, grayas a urn procedimemo de r e d u ~ o eidetica.

8. RICOEUR. Du ltXl( iJ [ 'actioll, p. 29.

9. MONGIN. Olivier. Paul Ricoeur. p. 137-44.

10. RlCOEUR, Paul. La symbolique du mal.In:__•Philosuphitde la volon-

Ie. t. 2. Finitude et Culpabilile.

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roo Ricoeur segue-'cntao, como exemplo, 0 percurso que faz transformar a

nO<;ao de macula em pecado, e a de pecado em culpabilidade. 0 Silllbofis

mo do pecado retoma algo da macula, e a distanda de sent ido entre as dois

e ordem ' fenomenologica' mais do que 'historica'w."

f!Jos anos 60, Ricoeur faz valer a dimensao polemica do conflito das

int.erpreta<;6es a partir dessa pluralidade do sentido. Mas dessa vez, a plurahdade deste fundamenta 0 carMer inelUlavel, irredutfvel do conflito, e

n;esmo do .tragico pondo em cena 0 confronto entre interpreta<;6es que

tern sua legltimidade propria, mas sao no entanto incompatfveis, como no

caso da oposic;ao entre Creonte e Antigona. Sendo inelutavel a pluralida

d,e dos pontos de vista, Ricoeur revitaliza entao 0 projeto hermeneutico

sltuando-o no c erne d e uma verdadeira ~ g u e r r a das herrneneuticaswil em

tensao entre uma legitima estrategia de desvendamento, conduzida pelos

m e s t r ~ s da suspeita (Marx, Freud, Nietzsche), e um nao menos legitimorecolhlffiento de urn sentido mais e l e v a d o ~ '

Mas a terceira mediac;ao vai ocupar urn lugar ainda mais importan

te obra.de . R i c . o ~ u r, e a rnediac;ao textual. A arenc;ao as forrnac;oes dis

curslvas nao slgmflca de modo a19um encerrar-se, amaneira estru tura lis

ta, na c 1 a s ~ r a do texto.i.J:ssa esta acompanhada em Ricoeur da supera<;ao

da alternauva de Saussure entre Ifngua e paJavra, apoiando-se na reoria

da enuncia<;ao de Benveniste e na noc;ao de referencia tal como

cdefini

da por Frege, com () fim de reformular a questao do sentido." A tripla <lU-

tonomia que adquire 0 discurso gra<;as J escrita, relal1vameme iJ inlen<;.Jo

do !oCUlor, a rccep<;ao pelo leitor e aD Contexto de sua produ<;ao tern

como deita no projcta hermencutico coJocar ~ d c f i J l i t i \ ' a m e n l e fim J()

ideal cartesiano, fichteano e, lambcm de uma cena forma husscrlLmo, dl:'

umJ t [ i l n S p a [ ~ n e j a do 5ujeito para ele mcsmo":-'"

C O ~ ' V E R G t : N C I A S. . Esse percurso particulannente exigente e rigoroso niio podia deixar

mdlkr(,!Ht"s 05 pC'squ isadores ci2nciJ; >ociJis preocupados em cscilpar

das. ~ . l U s a : i ~ , } d c s m ~ c a n i c J . 5

C dos esquC'mas delerminist.:!s. 0 socio!ogol.mm QlJcn- Imha fldo U C:mflit dn il11uprirdrions dcsde pu lJl1eJ<;.1o

! t. RICOEUR l'hilowplrit J( 10 wlol1ll. l. 2. finlludc cl CUlpaloi!i[(:. p. 207.

12. Id_. /.L amjlil da inUrpriliUiclJJ. Paris: 5<-uil. 1969.

13. G o l t l o ~ f r e ~ ( ' imrodu7ju uma distin{.1o, rundamental na ~ 1 n 1 i n l i c a ,entre sCnlldo .(SIIItt) e rdcrenda (Btdtulutl:/l. EJc pcrmilc assim da r lugar

is qualquer COlsa de ~ x t r a l i n g u i s l i c o qUI: ea rdcrcocia.

14, RICOEUR. VI/. IaJL al'aaion, p. 31.

184

J

C O ~ \ 0 'RISCO DE ,\(;11;

em 1969, mas 0 que \'ai contar para ele e posterior: ea descoberta, po r

ocasUio de uma eSlada no Canada no comeSo dos anos 80. deum texto

em ingles de Ricoeur que remonta a 1971.1'J>epais, a p u b l i c a ~ o de Temps

et Ridt entre 1983 e 1985 permite a Louis Quere compreender os ~ d e s l o -camemos que a hermeneutica opera na questao da ac;ao, da intencioria.:

lidade. da significa<;ao. em par ti cu la r s abre a estatuto do sujeito.da

ac;aow.,(, Esse liltimo dcslocamcnlo IE decisivo, pois a hermeneutica de Ri

coeur. assim como a de Gadamer . permite ultrapassar as aporias sobre as

quais desemboca a sociologia compreensiva, com sua ambic;ao de pene

trar as intenc;Oes do aUlar. Ricoeur rnostra de fato que a compreensao de

UI11 lexto e sobretudo resultJdo da relac;ao do texto com urn leitar. que

sobrevcm alraveS dessc conrronto. 0 paradigma da leitura se apresenta

assim a Ricoel1r como uma soluc;ao para 0 paradoxa melodol6gico das

ciencias humanas, e uma resposta posslvel a dicotomia de Dilthey entre

o explicar e 0 comprecnder, cuja relac;ao constitui a ~ c f r c u l o hermeneut i c o ' ~ ' E i s a: LIma ala\'Jnca aqual me apeguei para refletir sabre a trans

p o s i ~ o possivel de inllli<;oes fortes no dominio da semantica dol ac;ao. w17

Esse pomo de cOI1\'ergencia estara na origem de urn encontro l!Iue

tera lugar em 1985 emre. de um lade 0 Centre de sociologie de l'ithique eo .

Celllre J'irudes des m,1u\,,'nIents sociaux, e do oulro Paul Ricoeur. Na carta

cOI1\'ite, Paul Ladriere. Louis Quere e a filha de Claude Gruson, PascaleGrusoIl, pretcndem culocar as pcsquisJS sociologicas nas v i z i n h a n ~ a s da

filo50fia hermeneurica. pais ell'S constatam que as hip6teses sociologieas

nao permilcm pcnt?trar 0 sent ido que os arores socia is atribuem a sua

J<;;]\).'05 soci61ogos Ttconheccm na abordagern hermcneulica 0 merito de

rCJbrir cssa quesliio do sentido e de ter mostrado a importancia tiosjogos

de linguagem nas i n t e r a ~ 6 c s s o c i a ~ s ; Em sua conferenda, Paut-Ricoeur Sf

situa rnais ao lado de ~ 1 a x Weber do que de Wilhelm Dillhey, a fim de suo

perar a o p o s i ~ o entre explic3c;ao e interpreta<;ao. Ele lernbra nesse pon

to a expressao weberiana ~ c o m p r e e n s a o explicativa w• lJ ---

Diante dos so0610gos, Paul Ricoeur aprova a ideia de que a teoria da

3\iio engloba a semiotieJ, ou relo menos urn de seus ramos, 0 da teoria dos

15. R1COEUR. Paul. The Model of the Text: Meaningful Action C o n s i d ~ .r<.'d as a lexl. S,yi.J[ R(,,,arch, 38/3, p. 529-62, 1971; republicado com 0 u

luto: Le modele du lexte; I'action consideree comme un lexte, In: __DIII(xteo roeti,'Il, p. 183·211.

16. Louis Quh€, entrevista com 0 autor.

17. Ibid. ._ ..

18. RICOEUR Paul. Pizilosophie e t . s o c i o ~ o 9 i e . ~ ! s l ~ i r t d'uRt rtn",:,U;:::c

EHESS. 1985. p. 24. Groupede s o a o l o g H ~ de I elhlque, Cenl!e d b. ..:-,?X.mouvements sodaux. ·--':"'-.ZQSc'

- - . - - - - ~ ~ · j t . : .:1..':EL:!1.f-llll!l .

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atos de Iinguagem.',Ora; essedomfnio da a9io nao se adapla a ideia de causalidade mecanicarque ·riao ,e senao um a relac;ao extema de consecuc;ao,como mostrouHume. Ao.conmno;'ilO domlnio da aC;ao -existe uma lei de

implicac;ao entreumaraiao, urn motivo, uma razao de agir e uma a c ; a o " . ~Nenhuma r e d u ~ o ; p s i C a n a l i s t aeentao possfvel, e essa irredutibilidade fundamenta 0 cuidado de uma abordagemsempre complementar entre 0 ex

plicar e 0 compreender: MExplicarmais ecomprcendermelhor. -l"' . ~ i c o e u r e n c o n t r a aSSlmu-m eco enn-e os soci610gos preocupados em

reavaliar as competendas dos atoreS sociais e sua capacidade de descrever

o mundo socia!,'e assim a da r a ele uma e x p l i c a c ; a ~ 0 mesmo ocorre comLuc Boltanski e com Laurent ThevenoL Luc Bolta-nski s6 descobre a obra

de R icoeur em 1981, faw significativo da evoluc;ao inteleetual francesa;

-Em 1981, durante 0 verao, eu Jevei 1.L Cmtflit des imerpritations e Ciquei ex

tremamente impressionado com a oposi9io que Ricoeur fazia enlre a in

terpretac;ao da suspeita e a i n t e r p r e t a ~ o como obtenc;ao de urn sentido.' !

Isso foi absolutamente central para a inidativa da denuncia." uma des

sas IeHuras que fazem passarde urn es tado para outro.""

CAUSAS

E/ouRAZOES

fA descoberta da obra de Paul Ricoeur efacilitada pela Iripla influcncia que a fenomenologia, a pragmatica e a clnometodologia exercem daf

em diantc sobre os sod6/ogos franceses. Ora, Ricoeur situot!-sc no crUZ<1

mento dessas correntes para confrontar SIlas posic;6es a respcito da ac;ao,

recolocando espcda/mente a qucstao da intencionaJidadc, particularmcn

te disputada entre filosofia analilica e f e n o m e n o J o g i ~ , Na anieulac;,jo do

lexto e da a ~ o , ele discute as posi\6es inspiradas pa r VVittgenstein e ex

pressas po r Elisabeth AnscombeU .opondo-Ihes essendalrnente os argu

memos da fenomenologia· husserliana. Esse tesle da semanrica da ac;ao

p<Jssa pd a form u!a<;ao do *enigma da r e L : l ~ o enlre a a<;50 e seu agente"!'

r9, Ibid .• p, 26 .

20. lhid" p. 37.

2 J. Id .• U GmflitaN inurpri!lttiCOf7!, p. 10'· '59.

22. A!usJo ao l ivre 1 . " ~ 1 " i l O com THfVEl'iOT, Laurer;!. Dt la j U ~ l i f r c a ( i M .P . : J r i ~ : Gallirn.ard, 199L23. Lee Boltanskl. enuevisu com 0 autor.

24. ANSCOMBE, Elisabeth. Intention. Oxford: Basil Blackwell. 1957.

25, RrcOEUR. Paul. Soi·nzbnr commt U1f IJJltTt. Paris: Seuil. 1990. p. 73.

186

(('1M 0 R ISCO DE Af,[H

. 'duas entidades pertencem ao m e 5 m ~ horiz.?nte c o ~ c e p t l l a lE s s " ~ . meso as das circunstancias, JOten<;oes. mollvoS, de-

.c:fljp munas no .. . ,. .que envn . _ I I' 'as ou involuntarias... A poSH;ao \\"lttgens-

N nOllva<;oes vo un an1 i ~ e ~ a \ i l o , I, Elisabeth Anscombe, que distingue os j ? g ~ s ~ ~ . l i n ~ ~ a g : m cteJnlana dt' d' ' tros dlferendando causahdaae e mol l\ a<;ao na

. 'IT Iversos regIs , . .tenta matt· d I'f ' da pa r Ricoeur como -jrnpreSSlO nlSmO cOT!cep-

, 1II1 0 qua I lea I .a<;ao, e (HI·

lh be retoma 0 concdto central da fenomeno ogla,

- • E ll' filet Anscom ., .f U a l , ~ _ t 'do husserliano de transeendenCla a Sl mes-. - mas naD nO sen 1 . . d' t

a l n t e n ~ l 1 ( f i . . . ' Abandonando a perspectiva do mrenOT. a 10 e-nconsClenela. drna de uW 'd' rna c r ' I H ~ r i o s discriminantes aqueles a espac;o. . I la so a mite co 'd 'nondac (', I- • . b ' I Ela distingue dois jogos de hnE:uagem I-. . . . , I,ubhco 0 servave, . - l' d eImgUlsllCl1 'd - a qual motivo e proJeto estJO Iga as, a

IJD r eg ls tro a a<;ao n ., Hferentcs: I, I'd d e traduz uma dislinC;ao puramente lagKa, a·

. I I ausa 1 a e qu . •reg1stro (: 1 d l'ldade c uma ordem da motlVa<;ilO.

. I/rdem a causa ..vena lImlf . d'cotomia e ficlida. Ela certamente lem 0 men-

P glcoeur. essa 1 • I '1' se'<Jr:r hi a mas acaha p l.. faze-Io \· 0 all lZar- ,-- ~ s a t a r - · u m pro em , . I - r A

to de qlJFT enle conciliadora ede fato in5ustentavc.' re-'aD aparentem . . - ,. 1

-Essa r O ~ t ( r " " . ' redobra a recusa da dicotomla expl1cac;ao can -Ijlsnn<;ao, que . l ara

eusa dC5sa , R' r f zer convergir 0 paradlgma lex\Ua eO p",,(lnlte a Icoeu a . 1

prcensao j' • h mana e' em rnuitos campos urn quase·texto, Ca-:io"-A ac;ao u ., d

digma da "t.... ·t 'ra comparavel a fixa<;Jo carJcten-llca a es-

. . .• da de lima manel , ' . '.e ex (I?f1ur, I 'd ' Ie' 1 :1"10 adqUire LIma ilt!:O!lt1[,llJ s('nHJ'(lQ-se c sell al:Crl . " , ~ ,

cn:a. Dc',') . d In I'exw' e1a deixa u rn r as lr o. tll1lJ m a r c a ~ A,ononl1a ell' - 'r Ie

Ihan Ie il ,1," .• f'llosofia analilica 5C impoe. dl crcntemen '. - "c( lu"a que a • Ids

rcstrl<;ao (," ' 1" se afasta da qllCSIJO NQucm? .ocu,tan 0 a -. 'd 'omeno oglea. .. .o r i e n l a ~ , l " " r . r l i f i c a r ~ n " ,.) Ora <J ccrtlflcJ<;Jn e s c a p ~ J, .''-"'''laS rc e re il le s a cc ~ , . , . I' b I

sim as - p I ~ ' .. .. d'g a exelusivamenle descritivo. ASSllll Elsa el lonto aO para I m

visao e porr"" explicar 0 uso da intencionalidade tal como 0 en · •Anscombe f l ¥ a s ~ er;:.,. . Hus se r! no- sentidO-dc wint.enc;ao de._:"- Ora,

" " " ' " ' ~ t . l n o e ~ P O I S ' " b Ih stcndlam ,0' -= • d . ;ncia do agir que insplra mUllOS Ira a 0

.<nologla a experH: • . d -cessa tenor-:' . considerarao de uma semantlca a a<;ao.• . 'lUmanas alentoSa.. M' h-I

dJS cienCli"· . . I ' 0 ,"mpo que nos anas 70 , segundo 1C e,a \'al ong( ~ . . . . dA S ~ I " • d f to dc que a filosofla era consldera J

. M pe-ndenlemente a a .

CJllon,*111

. ' . e)lnoado a iM'lade usar

PaulRICOCllT

comOmnguern lenil . I C 11como pt'.!" 1 ne do horizonte teur ico de Mlche a on,* '" .' vte Rtcoeur az. p;l

reellrso r. ', '

26. ~ .• p.86.

27. In c pu UXTt iJ ['actiN!. p. 170.

28, n"'C" p. 175., SCi-mbnt (ommt un autre, p, 91.

29. f o '30. Mj;,:hd Callan, C'n1reViSla com a autor ,

187

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-I

p.ara quem N S ~ i - m e m e comme um aUlre permite reflerir sobre toda uma se

ne de categonas,que eram consideradas eyidentes·.,1

A ades30 as orienta¢es de Ricoeur, contudo, nao eun<lnime entre

as rcnovadores dasdenciashumanas, notadamenre na corrente da antro

pologia das ciencias marcada pelo nietzchefsmo;;Para Bruno Latour, Ri·

c ~ e u r 56 preocupa com uma unica vert en te do dispositivo, a da rela

c;ao do sUJelto com a mundo, a da imencionalidade, mas abandona total

~ e n t e _ a oU,tra vertente. ados objetos: -Eo todo 0 problema da hermeneut ~ c a , na o ha nenhum repertorio passlvel para falar dos objetos. E urn re

s lduo para salvar a consdenda, a mnscendencia. ·' l Segundo Bruno La-

tour. a herrneneutica e urn obsLkulo que se reserva urn solido canteiro aparte, 0 da filosofia. preservada da invasao das ciendas. e no qual se pode

f ~ l a r de suj.eito. de ninguem, de fantasmas: -Ampliando a importancia

dISSO, permne-se crcr que 0 outro lade eobjetivante, fora do yivjdo. rr r

OS HISTORIADORES EA NARRATNA

, pubJicac;ao. da magistral Temps el Ricit entre 1983 e 1985 nao po-

dia dClxar pa r mUlto tempo indjferente uma corporac;ao historiadora

nao obstante instalada na e poc a n a auto-satisfac;ao e no conforto

triunfo publico dJ escoJa dos Annales. rebatizada de NnovJ historiaN e

cuja t . e ~ d e n c i ~ nat,ural era a rejeic;ao de qualquer diillogo, at e em n o ~ edo oflelo de hls!Oflador, com a mosofia. Alguns hisIOriadores entretan

to, rapidamente tiverarn a mcdida da irnportancia da i n t e r v e ~ c ; a o de Ricoeur no campo da historia, c discutiram suas teses. Eric Vj"ne e Roncr

ChJ[[jcr assirn, participaram ativameme em junho de 1987 das jornadas

consagradas a Paul Rieoeur, cujos trabalhos foram publicados no nume

ro especial de Esprit."

rErie Vign.c registra 0 lugar da mediay30 central ocupado pelo enredo

entre 0 aconteamento e a hi5toria em Paul Ricoeur. A pohiciJ dJ narrativ3

dabora ferceira tempo, 0 tempo his:orico, de proprio !11cdiaJor entre

i C ' m ~ ,VIVldo c

t c m l . ~ J c ~ s m j c o :•A hjstoru. ncsse semido, pertcncc j her

meneullca da cxpcnr:no.a humana em sua dimcnsao temporal)" QuanlO

.l Roger Chart ier, sc etc por urn !ado manifesta sua dislanci.J, J cstranhcl.<!

31. Ibid.

32 . Bruno Latour. cntreviua rom 0 au tor.

33. Ibid.

34. RICOEUR. Paul. Espn't, n. 7/8, jul.lago. JSIBS.

35. VIGNE. Eric, L'lmrigue mode d'C'mploi. Esprit, p. 253.

188

COM0 RISCO DEA(,1Il

quesente

e n q u a n t o h i s r o r i a d ~ r , n e t l 1 pot' l ~ , o d e j ' l ( a de considerar 0 Iivro dePaul Ricoeur Tenips et RMt ~ c b m O o rna,s IT!lportante publicado sobre a hi s

roria no curso dos ultimos dez a n o s ~ . " ' · 0 prlmeiro rneritO de Ricoelu. se

g U I ! ~ C I ~ o g e r < ; h ~ r t i ~ r , " ~ 9 _ 4 ~ r o m p e r C Q l t \ l l q ~ i 1 2 ~ 5 1 U _ e . e s h ~ o ~ a ? o r : ~ r: .

cusam, as i n t e r v e n ~ o e s des fil6sofos da hlst6na, extenores a pratlca nJsto

rica: ·Ele a b r a ~ urn .reno numero de obrM-hist6ricas {..·lparaintegra.las

numa reflexao filos6fica sobrea h i s t 6 r i a , ~ ' t ttlcoeur, ao contr.irlo das inter

venl;oes habituais dos filosofos no terreno da hist6ria, affiWessou as obras

historicas, asde Braude!, Dully. Futet...; e pM causa disso eurn dos raros fi-16sofos a naO se contentar com metanarralivas sobre a historia. Ele assimi-

la assim 0 verdadeiro trabalho da pesquisa hist6rica.,Segundo merit 0, aos o lhos de Roger Chanier, Ricoeur nao tern

como ambic;ao propor uma filosofia da hislMia, mas ·compreender como

se organiza 0 discurso da hist6ria equal pode se r 0 estatutO de verdade,

a d i m e n s a o e p i s t e m o l 6 g j c a - d a - h i s t 6 r i a N ; ' ~ Ricoeur denwnstraque 0 dis

cursa hist6rico pertence-adasse dasnarrativas:por conta disso, cIe se si·

lUa numa rela\ao de proximidade particulM com a fic<;ao. e e.-I he impos

sive!, ao contrario do que acreditaram por muito tempo os A!males. r o ~ percom a narrativa para construiruIl1 discurso p u ~ m e n t e f o ~ a l . n o m o 16gico. Se a hist6ria enarrari\'a, nem por i550 ela e qualquer tlpO ~ a r raliva. Ricoeur

discule defaro.

semadotfi·las, as teses dos especlallslasamericanos em narrativa. que tentaram (l!Julir qualque r distin<;ao entre

eseri ta da hist6ria e escri la de ficl;ao. Ele man t t ~ r n a tensao interna aescrila historiea, que partilha com a fie<;ao as rncsrnas figuras retoricas. mas

que se prctende tambem e sobrctudo Lim d i s ~ u , r s o de \ ' e r d ~ d e , ~ e p r c :sentJr;JO de um real. de um passado refercfjte.::,Por eausa dlSSO, Rleoeu.

tera, acredito, urn espac;o para todas as tentativas que visam a articular a

explicac;ao hist6rica s ~ r ~ a c O r n ~ ~ e e n s a o n _ ~ r r a t i , v a · r'O -, •. -. - '_Roger C-harr ier;--como-os-sod6logos; tambem I!Sla iilUl!O. t n t e r e s s ~ -

do num segundo pontO de encontro com Ricoeur, acen.trahdade d<1 leI'

lUra" E r i ~ i d a em paradigma. essa l eo ri a da leitura esta no cer ne de urn

i J r ~ i e w t;amcneulico de Ricoeur notadamentc desenvolvido

em Du texlC

r ~ c t i O J 1 , ·0 conceilo quede considera central: 0 da a p r o p ' r i a ~ o ~ ' " pode

ser a fonle di:'um"a inspira<;ao decisjva para his'loriadores a tim de com·rrccndcr como se pode recompor a c o n f i g u r a ~ . a o da experienci

ado tern·

36. CHARTIER. Roger. Debat sur I'llistoir('. £spri!. p. 258.

3 7 . l b i d ~ p.258-9.

38. Roger Chartier, entfl"\lsta com 0 autor.

39. CHARTIER.. Roger. Esprit. p. 261.

40.Ibid.. p. 262.

Page 7: 22. François Dosse - o  império do sentido

7/16/2019 22. François Dosse - o império do sentido

http://slidepdf.com/reader/full/22-francois-dosse-o-imperio-do-sentido 7/7

Um dos aspectos maiores da reorientar;ao em 'cursa consiste em levar em considerar;ao a consdencia pratica. evidencia do paradigma estru

turalista. Ele consiste em anular a desalenc;ao a prop6sito daquilo que pa

rece emergir da ordem da evidencia, do cotidiano"_Certameme:? p a r a d i ~ rna critico ja tinha fundamentado suas investigac;oes numa cnIlca da e\"{-

dencia do cotidiano. Mas 0 modo de desvendamento era fundamental·

mente diferente, uma vez que nO caso do paradigma crftieo natava-se de

urn desvendamento denunciativo, enquanto que nas oriema<;6es aluais.

t ra ta -se de uma compreensao, de uma eaptac;ao do sen tido lateme G"ue

preenche 0 cotidiano. 0 mundo familiar. descritlvel, qu e p a n i c i ~ a do nos

so ambiente, deve enrao se tomar problematico, objeto de quest!onamen

toS. nao mais ponto de partida, mas ponto de ehegada da an2!ise. Ele deve

ser t ra tado naocomo urn dado. mas como

umaconstrw-;a,) que se aeba

no fim de uma atividade da qual se lOrna 0 correlato-

D desJocamento da concepC;ao segundo a qual 0 lugar de verdade

deve' ser procurado nos estrataS do inconsciente com uma atenc;ao na

pane explicita da aC;ao implica c o n c c d e ~ maior_ j m ~ o r t a n c i a ao esqucma

descritivo e minorar com isso a ambic;ao expllcatlvJ. Enc;:.:anto os

fates deviam ser vistos no quadro de uma fatalidade causal. determinis

la , que pareda distinguir 0 procedimento propriamente oen_tifieo.

pesquisadores em sociologia chegaram a reduzir suas p r e l e ~ s o e s de

plicar causalmente os fenomenoS s o c i a i s ~ . ' A partir desse: mse. da exph

cac;ao causal e da ·cura de emJgrecimento· de qu e cia ilteeSSlta. a des

c r i ~ a o , 0 t er renO e a empir ia apareceram com urn no\"o ? e s c ~ r como

uma base de retomada possive!. Em s eu debale com os nlstonadores.

Michel Foucaultja pregava numa mesa redondJ em 1 0 de maio de 1978

essa redu<;ao de peso do aparelho causal subsliluindo-o ro r urn p : o ~ e :dimcnto de ivinementialisation; MA diminuic;ao do peso causal conSlSma

pois em construir, em torno do acontecimento singular a;:alisado como

; -

- : ; , : - . : : ' : , : ~ p o . [ c o m a leitura, toca-se nas condi\oes de uma hermeneutica da c o n s ~_ ~ : > ; - ; C i e n e i a hislorica. Enesse ponto que Roger Chartier 10ma urn mm a d i f e ~

rente de Ricoeur. Segundo ele, coloear a questao da historicizac;ao desse

eneontro entre mundo do texlO e mundo do Ieitor obriga a Mromper essa

especie de idealismo textual que funciona em Ricoeur e que 0 aproxima

curiosamcnte nesse ponto das eorrentes da semi6tica estruturaIista·.41

Esse mundo dos lextos, Roger Chartier considera como historiador qu e

nao emuilO referido a formas de inscric;ao. a suportes produtores de sen·

_______ tido. Alern disso. 0 Ieitor deve ser historicizado e nao apresentado como

encarnac;ao de urn universal abstrato, de uma variavel anistorica. Vma di

fereneiac;ao soeiologica e historica dos leitores e necessaria para cercar

suas eompetencias e convenc;oes diferentes:WNo sujeito universal da her

meneulica. eu sempre me perguntei se nao havia uma proje\ao indevida

da posi<;ao do filosofo hermeneuta ... --Essa queda. muito b o u r d i e u s l ~ n a , na qual se encontra a prevenc;ao

_reiterada de Roger Chartier em relac;aoafilosofia, em nada rouba seu me-

rito de travar urn verdadeiro dia logo com a obra de Ricoeur. Mas sua eri-

l ica f inal a proposito da ausencia de historiciza\ao enl Ricoeur se Iiga so

bretudo a uma diferenC;a de registro entre aquilo que representa a dife

rendac;ao sociologica e hist6rica dos leitores no historiador Roger Char

t ier e a historicidade narrativa no fiJosofo Paul Ricoeur, Que nunca. muito ao cOlltrario, invalidou a especificidade do procedimenro historiografi.

co em nome da fiJosofia, As ·formas de inscric;oes· e os ·suportes produ

tores· em Chartiersao tecnologias inteleetuais e bens simboticos distribui

dos desigualmcnte no tempo e no espac;o social. A analise historica dessa

distribuiC;Jo n50 erejeitada por Ricoeur. Simplesmente cIa nao eseu pro

pOSilO, que se concentra n a _ ~ ~ _ ! 1 . l . t r U l ; a ( ) dajgemidade narraliva.O objeto

d ~ a n a J i s e de Rieoeur ea propria narrativa historica em suas dlversas con-

_ _-_.0 -tlgura\oes, como lugar de e f e t u a ~ o da identidade narrativa. fonte media

da do conhedmento de si: ·A m e d i a ~ o narrativa sublinha esse carater

notave! de 0 conhecimento si de seruma i m e r p r e t a ~ a o de si.·H A media

~ . a o imperFdta qu e representa 0 relalo hislorico ecertamente impr6pria.

segundo Rieoeur. para lamar transparentes a e 0 tempo, mas perm"!

Ie reimroduzir a i n t e r r o g a ~ o sobre 0 agir, urn agir e urn pade-cer enrai

l.1dos oa lradi<;ao, portadores de urn .. d iv ida e sempre abenos para urn

projelO,u rn It/os, ou 010 menos urn horizonte de expcetaliva.

.;.,,:

-4'. Ji;ii-:..-

. ~ : . ;

:Jt '

capItulo 15

A GUINADA DESCRITIVA

41. R o g ~ r C h a n i ~ r . ~ n t r e v i s t a com 0 autor.

42. Ibid.

43. RICOEUR. Paul. Esprit. p. 304.

190

1. QUERE. Louis. Le tourna nt descriplif en sodologie. Current S(la,'logy,

v. 40, n. J. p. 139. primavera 1992.

191