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23 / maio / 2017

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CRIAÇÃO DE TRILHAS NA REGIÃO DE BALSA NOVA INCENTIVA A CONSERVAÇÃO DA MATA

ATLÂNTICA

Projeto vai promover ações de educação para conservação da natureza a fim de fomentar o

desenvolvimento sustentável na região, que abriga remanescentes importantes do bioma

Área da Fazenda Monjolo, adotada pelo Instituto Purunã. Créditos: SPVS

Uma rede de trilhas ecológicas por entre as áreas de Mata Atlântica preservada na região dos Campos

Gerais é o novo projeto que está em desenvolvimento para estimular a educação para conservação da

natureza e a manutenção do patrimônio natural. A partir da parceria entre o Instituto Purunã e a

Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) uma importante avaliação

ecológica foi realizada para estruturação das trilhas. A ação acontece em um remanescente da Floresta

com Araucária, ecossistema associado ao bioma Mata Atlântica, no distrito de São Luiz do Purunã, em

Balsa Nova (PR). [Saiba mais sobre o bioma Mata Atlântica]

A primeira ação das instituições é a reestruturação da Trilha da Floresta Encantada, presente na Fazenda

Monjolo. A área particular com cerca de 260 hectares com aproximadamente 84% de cobertura florestal

em diferentes estados de conservação. Segundo a técnica da SPVS, Natasha Choinski, o projeto

representa um passo importante para ampliação de uma cultura de preservação da natureza. “Já não

existem florestas como as de São Luiz do Purunã. Remanescentes bem conservados de Mata Atlântica

como os que encontramos na Fazenda Monjolo são raros e estão ameaçados”, diz a pesquisadora.

A Fazenda Monjolo abriga exemplares de flora e fauna nativas, além de cinco nascentes e alguns

córregos. A avaliação ecológica realizada pela SPVS permitiu registrar na área espécies ameaçadas,

como, por exemplo, a araucária, o xaxim-bugio, a imbuia, além de uma família de bugios. “É um projeto

que tenho na cabeça há anos, mas sozinho era difícil colocar em prática”, conta Roberto Kulig,

proprietário da fazenda. “Com o apoio técnico da SPVS e do Instituto Purunã vai ser possível transformar

a Fazenda Monjolo em um exemplo de conservação para outras propriedades”, afirma.

A área escolhida para implementação das ações também representa um importante esforço na

proteção do bioma no Paraná, por estar localizada dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da

Escarpa Devoniana. A APA pode perder até 70% de seu território, caso seja aprovado o Projeto de Lei

527/2016, que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná [Conheça mais sobre a APA da Escarpa

Devoniana]. O projeto é um importante exemplo de que o desenvolvimento é possível sem que as

florestas sejam derrubadas.

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“Buscamos, através desta iniciativa, inspirar outros proprietários, dando visibilidade para a riqueza

existente na região”, afirma Adriane Rieke, diretora-executiva do Instituto Purunã. “Ressaltando a

importância da conservação e ainda permitindo que o turismo seja uma fonte de desenvolvimento

sustentável” acrescenta.

O desenvolvimento das trilhas foi inspirado na experiência da SPVS com a Reserva Natural Mata do Uru,

apoiada pelo Instituto Positivo, no município da Lapa (PR). A reserva que também integra a APA da

Escarpa Devoniana possui um conceito inovador e único para atividades de educação para a

conservação da natureza e realização de pesquisas científicas. [Conheça mais sobre a Mata do Uru]

O Instituto Purunã

Criado no final de 2016, o Instituto Purunã tem como principais objetivos a conservação ambiental, a

educação e o desenvolvimento do turismo sustentável. Em janeiro, a ONG curitibana SPVS, com mais de

trinta anos de experiência em preservação da natureza, se tornou a primeira parceira do Instituto para o

desenvolvimento de projetos em conservação da natureza na região dos Campos Gerais. Além das

trilhas, a parceria visa à implementação de outras linhas de ação que continuem a promover o

desenvolvimento sustentável local. [link para o site do Instituto Purunã]

Saiba mais:

Mata do Uru é exemplo para o desenvolvimento de ações em prol da conservação da biodiversidade

Remanescentes de Mata Atlântica garantem a existência da maior biodiversidade do mundo

“As pessoas não lembram que havia um ecossistema para as araucárias”

Nova história da Turma do Pinho alerta para a importância da conservação da APA da Escarpa Devoniana

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Galeria de imagens:

Inauguração da sede do Instituto Purunã. Créditos: Daniel Snege

Entrada da Fazenda Monjolo. Créditos: Arthur Scheuer

Maquete da área de implementação do projeto do Instituto Purunã em parceria com a SPVS. Créditos:

Arthur Scheuer

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MATA DO URU É EXEMPLO PARA O DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES EM PROL DA

CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

O modelo de educação para conservação da natureza implementado na reserva natural inspirou a

criação de trilhas ecológicas na região dos Campos Gerais

Reserva Mata do Uru. Créditos: R. Buhrer

A Reserva Mata do Uru é responsável pela conservação de cerca de 128 hectares de remanescentes de

Floresta com Araucária e Campos Naturais, ecossistemas associados ao bioma Mata Atlântica no

município da Lapa (PR). [saiba mais sobre o bioma Mata Atlântica]. A reserva, que também integra a

Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa, abriga importantes espécies de fauna e flora, como os

bugios, o puma, a jaguatirica e as araucárias, além de 34 nascentes e 40 rios dentro de seu perímetro.

Entre as ações desenvolvidas na área, a principal delas é a visitação guiada pelas trilhas de sensibilização

e educação para a conservação da natureza. A trilha foi construída para atender a diferentes públicos e

a visitação é sempre acompanhada da supervisão de técnicos que explicam os detalhes e características

da fauna e flora, disseminando conceitos de conscientização ambiental. Os visitantes também tem

acesso, no início da trilha, à “Calçada da Fauna”, na qual podem observar pegadas de alguns dos animais

encontrados na Mata do Uru. Além disso, a reserva é um importante laboratório para o

desenvolvimento de pesquisas científicas.

Desde o ano de 2003 a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Uru é apoiada pelo

Instituto Positivo que trabalha em parceria com todas as empresas do Grupo. Esse apoio demonstra que

a aliança entre empresas interessadas na causa ambiental, proprietários de áreas naturais e instituições

que trabalham em prol da conservação como a SPVS garante aos proprietários condições adequadas

para manter os remanescentes em suas propriedades, colaborando com a manutenção de ecossistemas

nativos.

Atividades como essas têm grande potencial para serem replicadas em outras áreas, a exemplo da

Fazenda Monjolo, na região dos Campos Gerais (PR). Tendo como inspiração o trabalho desenvolvido da

Mata do Uru, o Instituto Purunã firmou parceria com a SPVS para reestruturação de trilhas ecológicas

que servirão de estímulo para a educação para conservação da natureza e manutenção do patrimônio

natural. [conheça mais sobre este projeto]

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REMANESCENTES DE MATA ATLÂNTICA GARANTEM A EXISTÊNCIA DA MAIOR

BIODIVERSIDADE DO MUNDO

Neste bioma estão presentes 60% de toda fauna ameaçada de extinção do país e 40% da flora brasileira

Borboleta. Crédito: Reginaldo Ferreira

O bioma Mata Atlântica está distribuído ao longo de 17 estados da costa atlântica do Brasil, alcançando

também países como Argentina e Paraguai. O bioma cobria originalmente uma área de mais de 1,3

milhão de km² de todo o território nacional (dados: SOS Mata Atlântica), onde vivem aproximadamente

72% da população brasileira, distribuída em 3.429 municípios.

Entretanto atualmente restam apenas 12,5% de remanescentes em bom estado de conservação, ou

seja, pouco menos de 16 milhões de hectares em todo Brasil. Isso se deve, sobretudo, a ameaças como

desmatamento para uso das terras pela agricultura e pecuária, utilização de madeira para indústrias de

papel e celulose, caça e captura ilegal de animais, introdução de espécies exóticas invasoras, além da

intensa urbanização e expansão das cidades.

“A Mata Atlântica possui importantíssimos ecossistemas associados, caracterizados pela transição

terrestre e marinha.” Explica Marlon Prestes, responsável pelo Sistema de Informação Geográficas (SIG)

da SPVS. “São exemplos, a Floresta com Araucária, os campos de altitude, as restingas e os manguezais”,

acrescenta Prestes.

A Mata Atlântica é uma dos biomas mais ricos em biodiversidade do mundo. Estima-se que das 633

espécies de fauna ameaçadas de extinção no Brasil, 383 ocorram na Mata Atlântica, sem esquecer que

aproximadamente 40% de toda a riqueza da flora nacional são endêmicas deste bioma (dados: SOS

Mata Atlântica).

A manutenção de áreas naturais bem conservadas, como as do bioma Mata Atlântica, garante também

o fornecimento de serviços ecossistêmicos, dentre eles a regulação climática, a proteção das bacias

hidrográficas e do ciclo hidrológico, a absorção de poluentes atmosféricos, o conforto térmico e

acústico, a redução dos riscos de enchentes e deslizamentos, além de outros benefícios diretos

essenciais à qualidade de vida das populações e ao bem estar social.

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NOVA HISTÓRIA DA TURMA DO PINHO ALERTA PARA A IMPORTÂNCIA DA CONSERVAÇÃO

DA APA DA ESCARPA DEVONIANA

Em nova história, o ouriço Pinho e sua turma estão preocupados com a conservação da Área de

Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana. A área que ocupa 392 mil hectares do estado do

Paraná corre risco de ser reduzida caso o projeto de Lei 527/2016 seja aprovado.

A APA da Escarpa Devoniana foi criada em 1992 para proteger a diversidade biológica e geológica da

região que abriga remanescentes de vegetação nativa associada à Mata Atlântica. Originalmente com

3.920m², a área se estende por 12 municípios paranaenses. O projeto que ainda tramita na Assembleia

Legislativa prevê a retirada de 2,6 mil quilômetros da APA da Escarpa, reduzindo em até 70% de sua

extensão, agravando o processo de degradação da biodiversidade.

Pinho e sua turma convidam aos leitores a proteger este importante patrimônio natural.

Confira aqui esta história [clique aqui].

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“AS PESSOAS NÃO LEMBRAM QUE HAVIA UM ECOSSISTEMA PARA AS ARAUCÁRIAS”

Confira a entrevista com Clóvis Borges, diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem

e Educação Ambiental (SPVS), publicada originalmente no Blog do Planeta, em 22 de junho de 2017

(acesse aqui o link do Blog do Planeta)

Para Clóvis Borges, da SPVS, não há tempo para grandes campanhas nacionais para salvar a floresta

com araucária. Ele defende incentivos econômicos para preservar o que restou em terras privadas

Floresta com Araucária e Campos Gerais. Dois ecossistemas cada vez mais raros. (Foto: Zig Koch)

Não há motivo algum para orgulho ou celebração no Dia Nacional da Araucária, neste sábado (24). A

árvore, símbolo do Sul do Brasil, faz parte do ecossistema mais devastado e ameaçado do país. Poucos

brasileiros sabem que a araucária originalmente faz parte de uma floresta temperada nacional, numa

paisagem praticamente varrida do nosso mundo. Essas florestas de coníferas do Brasil cobriam 200 mil

quilômetros quadrados, o equivalente ao território do Paraná. Na última estimativa, feita pela Fundação

de Pesquisas Florestais do Paraná em 2001, restava 0,8% da floresta. Mas de lá para cá o desmatamento

continuou. Restaram poucas manchas da floresta original. E elas estão em perigo. Apesar de o corte ser

proibido, a tentação dos proprietários é grande para converter em madeira o que restou das araucárias

em floresta nativa. Esse quadro quase desesperador é traçado por Clóvis Borges, diretor da Sociedade

de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS). Ele tem esperança de salvar os últimos

nacos da floresta com araucária com incentivos econômicos.

ÉPOCA – Por que devemos nos preocupar com a floresta com araucárias?

Clóvis Borges – É a floresta temperada de coníferas brasileira. Um ecossistema típico do Sul do Brasil.

Rico em biodiversidade, inclui os campos naturais. Ao longo das últimas décadas, a madeira dessa

floresta foi usada para alimentar um ciclo econômico insustentável em Santa Catarina e no Paraná.

Houve um tempo em que a economia da região girou em torno da madeira. Mas esse ciclo se exauriu na

década de 1960. Hoje restam poucos remanescentes dessa floresta. E com pouca proteção.

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ÉPOCA – Por quê?

Clóvis – A araucária é o símbolo de vários municípios. Está na bandeira de Curitiba. O nome da cidade

significa “região de muitos pinhões”. Apesar dessa carga simbólica toda, a sociedade não tem um

entendimento do patrimônio natural como um bem comum de todos. Não valoriza. Ficamos atrás da

Argentina, que tem uma cultura de parques próxima à dos Estados Unidos. Falta em geral aos brasileiros

um orgulho de ver a área natural protegida. De saber que pode visitar e desfrutar. Quando surge um

novo parque, é como se fosse uma guerra. O reflorestamento ou a plantação de florestas é

sistematicamente usado na mídia para se referir a plantações de espécies exóticas, como eucalipto e

pinus. A floresta é um tipo de vegetação complexa. A monocultura de pinus e eucalipto não é floresta. A

usurpação dessa terminologia pela monocultura é sabiamente utilizada no mal sentido para colocar

tudo na mesma bandeja.

ÉPOCA – Como explicar que a floresta com araucária está ameaçada se há tantas árvores de araucária

no Sul?

Clóvis – É uma grande confusão. Que talvez não tenha surgido por acaso. O fato de ter uma árvore ou

outra perdida em Curitiba cria a ilusão de que não precisamos salvar a floresta. As pessoas olham para a

árvore na rua ou no quintal de casa e não lembram que havia um ecossistema. São dois problemas. O

primeiro é a falta de entendimento popular. A segunda é uma tendência da academia de apoiar a ideia

de que as últimas áreas com araucária precisam passar por manejo. Um proprietário que tem 200

hectares de floresta com araucária deve, pela legislação vigente, proteger essa área. Mas a mentalidade

predominante é antiga. Dizem que é preciso deixar o proprietário cortar as araucárias para poder

sobreviver. Senão ele detona toda a floresta e vai plantar soja. É uma estratégia perniciosa de interesse

do proprietário que tem esse patrimônio. Eles não enxergam a floresta como patrimônio natural. Mas

como metro cúbico de madeira.

ÉPOCA – Como está a floresta com araucária hoje?

Clóvis – A floresta é um ambiente associado à Mata Atlântica. Havia 200.000 quilômetros quadrados de

floresta com araucária no Sul do Brasil. Ela era predominante no Paraná e em Santa Catarina. Com

manchas no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Mas essa floresta foi extirpada

entre os anos 1940 e 1960. Em 1965, surgiu o Código Florestal. Só a partir daí houve algum controle da

exploração de floresta nativa. Mesmo assim, entre 1965 e 2006, apesar do Código Florestal, os órgãos

ambientais do Paraná e de Santa Catarina licenciaram planos de manejo de floresta com araucária. Eles

não reconheceram o decreto federal da Mata Atlântica de 1993, que proíbe o corte da floresta. Eles se

recusam a admitir que a floresta com araucária é parte da Mata Atlântica, e tem o mesmo nível de

proteção, embora o decreto de 1993 diga isso de forma bem clara. Em 2001, saiu um levantamento

sobre a situação da floresta com araucária. No Paraná, restou 0,8% da floresta original. E 0,1% dos

campos naturais.

ÉPOCA – Se a floresta com araucária é o bioma mais ameaçado do Brasil, por que essa luta não foi

encampada por todo o país? Por que essa floresta não é motivo de preocupação nacional, como a

Amazônia?

Clóvis – Escrevi há alguns anos uma carta ao Greenpeace perguntando se eles não queriam criar uma

campanha pela preservação da floresta com araucária. Responderam que só trabalham para grandes

causas. Que só conseguem se concentrar na Amazônia. Para não diluir as campanhas. Os biomas mais

ameaçados do Brasil pagam por uma situação unilateral. Todos os grandes esforços internacionais vão

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para salvar a Amazônia. Mas precisamos cuidar de todos os ecossistemas da América do Sul. Temos um

problema de foco.

ÉPOCA – Qual é o melhor lugar para uma pessoa conhecer uma floresta com araucária?

Clóvis – A Área de Preservação Ambiental da Escarpa Devoniana é uma característica topográfica do

Paraná. Ao longo dela há trechos de floresta. Alguns têm cachoeiras e fauna, como lobo-guará. Mas os

deputados do estado querem reduzir em dois terços a proteção da área. O Cânion de Itaimbezinho

oferece uma imersão. Mas esse lugares mostram a floresta de solo ruim, arenoso. As florestas mais

exuberantes, com árvores de 5 metros de diâmetro, não existem mais. Eram chamadas de floresta

preta, pela densidade da mata. O sol não passava. Você ia de Curitiba a Foz do Iguaçu passando por

estradinhas no escuro, quase sem ver o sol, pela cobertura das árvores gigantes. Esse era o relato dos

viajantes. É isso que perdemos.

ÉPOCA – Qual é a prioridade agora para salvar a floresta com araucária?

Clóvis – Não temos mais grandes áreas para proteger. Só áreas pulverizadas. Acredito mais no

instrumento econômico que incentive os pequenos proprietários a preservar. Isso é mais importante do

que uma campanha agora para a sociedade ficar ligada na importância do ecossitema. Não dá tempo. A

situação é desesperadora. As últimas áreas estão sendo desmatadas. O proprietário que ainda tem algo

precisa ser reconhecido, premiado, remunerado. Agora é corpo a corpo para salvar cada área. Fizemos

um programa de desmatamento evitado para proteger 40 áreas privadas no Rio Grande do Sul e Paraná.

Durante cinco anos, remuneramos mensalmente o proprietário. Depois que o programa acabou, um

terço dos proprietários criou Reserva Particular do Patrimônio Natural [RPPNs] em suas áreas.

Clóvis Borges é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa Selvagem e Educação Ambiental (SPVS)

Publicado originalmente no Blog do Planeta (acesse aqui o link do Blog do Planeta)