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1 Noções de Planejamento Estratégico

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    Noes de Planejamento Estratgico

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    Noes de Planejamento Estratgico

    Noes de Planejamento estratgico. Administrao da Qualidade

    Aqui temos os dois tpicos mais complicados do

    nosso edital. Ento vamos luta!

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    Noes de Planejamento Estratgico

    1. Excelncia nos Servios Pblicos Vamos ver dois contedos nesse item. Primeiro, vamos estudar a gesto da

    qualidade total, que so conceitos importantes da qualidade como um todo.

    Depois veremos os programas de qualidade brasileiros.

    1.1 Administrao

    da Qualidade

    A Gesto da Qualidade Total (Total Quality Management, uma prtica de ges-

    to que, apesar de desenvolvida por autores americanos como Deming, Juran

    e Feigenbaum, nas dcadas de 1950 e 1960, foi primeiramente aplicada por

    empresas japonesas. Somente na dcada de 1980 que ela se tornou bastan-

    te popular entre as empresas americanas. Antes de entrarmos nos conceitos

    da TQM, vamos ver um pouco do histrico da qualidade nas organizaes. Po-

    demos identificar trs fases da qualidade: (a) Inspeo em Massa; (b) Controle

    Estatstico da Qualidade; e (c) Gesto da Qualidade Total.

    A inspeo em massa, do incio do Sculo XX, buscava inspecionar todos os

    produtos que saiam da linha de produo, verificando se eles atendiam as es-

    pecificaes do projeto. Com o passar do tempo, o constante aumento das

    quantidades e da complexidade dos produtos fabricados elevava os custos para

    obteno de nveis razoveis de qualidade. Tornava-se impossvel olhar pea

    por pea para saber se havia defeito ou no. Nos anos 1930, as empresas de-

    senvolveram e ferramentas estatsticas para uso no controle da qualidade.

    Contudo, a lgica do controle de qualidade foi mantida. A qualidade ainda era

    verificada apenas no final do processo de produo. Somente depois que os

    produtos j estavam prontos que se verificava se tinham defeitos ou no. Na

    dcada de 1950 comearam a surgir autores defendendo que a qualidade no

    deveria ser algo a ser pensado apenas no final da cadeia de produo, mas du-

    rante todo o processo. Uma organizao que pretenda ser capaz de entregar

    produtos e servios de qualidade aos seus clientes precisa que todos os seus

    departamentos e reas funcionais excedam seu desempenho, e no somente a

    rea de operaes. Por isso dizemos que chamada de qualidade total.

    A parir desta ideia, ganha importncia a noo de trabalho em equipes dentro

    da organizao. O controle uma das funes administrativas, junto com o

    planejamento, a organizao e a direo. A TQM uma forma de controle des-

    centralizado, ou seja, no burocrtico. Os prprios funcionrios podem realizar

    o controle, no h necessidade que ele parta de cima. Assim, importante a

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    Noes de Planejamento Estratgico

    formao de equipes para se discutir a qualidade e identificar os problemas

    dentro das organizaes.

    Alm disso, outra diferena em relao viso anterior estava no conceito de

    qualidade. Enquanto antes se pensava na qualidade como a conformidade com

    o projeto, a ausncia de defeitos, na metade do Sculo XX percebe-se que

    quem define o que qualidade o cliente, e no o projeto. Se um produto sai

    da linha de produo de acordo com o que fora pensado no projeto, no signi-

    fica que o cliente ir gostar do produto. O projeto, desde o incio, poderia estar

    equivocado. Vamos ver algumas definies de qualidade:

    Ishikawa: qualidade o desenvolvimento, projeto, produo e assistncia

    de um produto ou servio que seja o mais econmico e o mais til possvel,

    proporcionando satisfao ao usurio.

    Juran: adequao ao uso, satisfazendo as necessidades do usurio.

    Misuno: deve ser definida em termos de vantagens ao consumidor.

    Feigenbaum: o melhor para certas condies do cliente. Essas condies so

    o verdadeiro uso e o preo de venda do produto.

    Crosby: atendimento das especificaes definidas para satisfazer o usurio.

    Deming: atender continuamente s necessidades e expectativas dos clientes

    a um preo que eles estejam dispostos a pagar. Um quarto ponto importante ligado ao surgimento da Qualidade Total est no

    fato de que a qualidade no algo que, uma vez alcanado, no precisa mais

    ser procurado. A busca pela qualidade deve ser contnua, todos os dias deve-

    se tentar melhorar um pouco mais. Esta ideia surgiu principalmente no Japo,

    com o conceito de kaizen.

    No entanto, buscar um produto de maior qualidade no significa que este pro-

    duto necessariamente ter um custo maior e, consequentemente, um preo

    maior para o consumidor. Outra ideia muito ligada noo de qualidade total

    a reduo de custos por meio da eliminao de desperdcios. a partir da que

    ferramentas como o Just in time ganham importncia, principalmente ligados a

    noo de qualidade. Aqui podemos identificar os princpios da TQM:

    Princpios da Qualidade Total

    Quem define qualidade o cliente;

    A qualidade deve ser um compromisso de toda a organizao;

    O controle deve ser feito de forma descentralizada e por equipes;

    A qualidade deve ser buscada continuamente;

    Custos menores e eliminao de desperdcio.

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    Noes de Planejamento Estratgico

    1.2 Programas de Qualidade no Brasil

    O Governo Collor, apesar de curto, foi um grande choque para o pas. Alm de

    congelar a poupana de milhes de brasileiros, ele tambm realizou a abertura

    comercial do pas. Uma economia extremamente fechada, de repente, se viu

    com as taxas alfandegrias l em baixo e uma enxurrada de produtos interna-

    cionais. As empresas, que tinham seu mercado garantido, viram-se diante de

    uma competitividade muito maior e precisaram evoluir para sobreviver no

    mercado. Collor dizia que no Brasil no se fabricava carros, mas carroas.

    Para contrabalancear a abertura comercial Collor lanou o Programa Brasileiro

    da Qualidade e Produtividade (PBQP), em 1991. O objetivo era apoiar o esforo

    de modernizao da empresa brasileira, atravs da promoo da qualidade e

    produtividade, objetivando aumentar a competitividade dos bens e servios

    produzidos no Pas.

    Collor tambm via de forma negativa os rgos e empresas estatais. Os servi-

    dores eram marajs, que deveriam ser demitidos. Assim, a administrao p-

    blica tambm foi inserida no PBQP, no subprograma setorial Programa da Qua-

    lidade no Servio Pblico (PQSP), que viria mais tarde a ser transformado em

    um programa.

    Collor deu o pontap inicial, e, desde ento, vem-se desenvolvendo na admi-

    nistrao pblica brasileira aes cujo propsito transformar as organizaes

    pblicas, procurando torn-las cada vez mais preocupadas com a qualidade,

    com o cidado e no apenas com os seus processos burocrticos internos.

    No Governo FHC, em 1996, o PBQP foi alterado para Programa da Qualidade e

    Participao da Administrao Pblica (QPAP), dando ainda mais valor ao car-

    ter da qualidade voltada para o cidado. Bresser Pereira, analisando em 1997,

    os resultados e perspectivas do PBQP, afirmou que:

    ainda que considerada a debilidade do desempenho no setor pblico frente

    aos resultados da iniciativa privada, o saldo alcanado pelos esforos de

    sensibilizar as organizaes pblicas foi positivo. A posio, hoje, no

    mais de 'marco zero', registrando-se inmeras instituies pblicas federais,

    estaduais e municipais que j aderiram prtica de implantar programas de

    Qualidade, recebendo, por isso, manifestao positiva da sociedade.

    O Programa da Qualidade e Participao na Administrao Pblica foi um dos

    principais instrumentos de aplicao do Plano Diretor da Reforma do Aparelho

    Estado, propondo-se a introduzir no Setor Pblico as mudanas de valores e

    comportamentos preconizados pela Administrao Pblica Gerencial, e, ainda,

    viabilizar a reviso dos processos internos da Administrao Pblica com vistas

    sua maior eficincia e eficcia.

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    Noes de Planejamento Estratgico

    O termo participao no nome do programa se refere participao dos ser-

    vidores, entendendo que somente com comprometimento de todos e com a

    gesto participativa que o servio pblico poderia alcanar a qualidade. Os ob-

    jetivos do programa eram:

    Contribuir para a melhoria da qualidade dos servios pblicos, por meio da

    institucionalizao dos seus princpios, com nfase na participao dos ser-

    vidores. Apoiar o processo de mudana de uma cultura burocrtica para

    uma cultura gerencial, fortalecendo a delegao, o atendimento ao cidado,

    a racionalidade no modo de fazer, a definio clara de objetivos, a motiva-

    o dos servidores e o controle de resultados.

    Em 1999 o QPAP transformado em Programa da Qualidade no Servio Pblico

    (PQSP), cuja nfase seria a satisfao do cidado. As aes do Programa iriam

    se desenvolver, principalmente, no espao em que a organizao pblica se

    relaciona diretamente com o cidado, seja na condio de prestadora de servi-

    o, seja na condio de executora da ao do Estado.

    Neste espao, o Programa atuaria mobilizando e sensibilizando as organizaes

    para a melhoria da qualidade da gesto pblica e do desempenho institucional.

    Atuaria, tambm, junto aos cidados, procurando torn-los participantes das

    atividades pblicas, desempenhando o papel de avaliadores dos servios e das

    aes do Estado. Neste sentido, o Programa da Qualidade no Servio Pblico

    buscava ser um instrumento da cidadania, conduzindo cidados e agentes p-

    blicos ao exerccio prtico de uma administrao pblica participativa, transpa-

    rente, orientada para resultados e preparada para responder s demandas so-

    ciais.

    1.3

    Em 2005 ocorreu a ltima alterao no programa, que passou a ser chamado

    de Programa Nacional de Gesto Pblica e Desburocratizao (GesPblica),

    que, na realidade a fuso do PQSP com o Programa Nacional de Desburocra-

    tizao. Foi institudo com a finalidade de contribuir para a melhoria da quali-

    dade dos servios pblicos prestados aos cidados e para o aumento da com-

    petitividade do Pas, formulando e implementando medidas integradas em a-

    genda de transformaes da gesto, necessrias promoo dos resultados

    preconizados no plano plurianual, consolidao da administrao pblica pro-

    fissional voltada ao interesse do cidado e aplicao de instrumentos e abor-

    dagens gerenciais.

    O GesPblica tambm traa um panorama da evoluo dos programas, estabe-

    lecendo o seguinte quadro:

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    Noes de Planejamento Estratgico

    O Gespblica foi institudo pelo Decreto 5.378 de 2005, segundo o qual:

    Art. 1 Fica institudo o Programa Nacional de Gesto Pblica e Desburocrati-

    zao GESPBLICA, com a finalidade de contribuir para a melhoria da quali-

    dade dos servios pblicos prestados aos cidados e para o aumento da com-

    petitividade do Pas.

    Art. 2 O GESPBLICA dever contemplar a formulao e implementao de

    medidas integradas em agenda de transformaes da gesto, necessrias

    promoo dos resultados preconizados no plano plurianual, consolidao da

    administrao pblica profissional voltada ao interesse do cidado e aplica-

    o de instrumentos e abordagens gerenciais, que objetivem:

    I - eliminar o dficit institucional, visando ao integral atendimento das compe-

    tncias constitucionais do Poder Executivo Federal;

    II - promover a governana, aumentando a capacidade de formulao, imple-

    mentao e avaliao das polticas pblicas;

    III - promover a eficincia, por meio de melhor aproveitamento dos recursos,

    relativamente aos resultados da ao pblica;

    IV - assegurar a eficcia e efetividade da ao governamental, promovendo a

    adequao entre meios, aes, impactos e resultados; e

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    Noes de Planejamento Estratgico

    V - promover a gesto democrtica, participativa, transparente e tica.

    a) Modelo de Excelncia em Gesto Pblica

    O Decreto 5.378 de 2005 determina que:

    Art. 3 Para consecuo do disposto nos arts. 1 e 2, o GESPBLICA, por

    meio do Comit Gestor de que trata o art. 7, dever:

    I - mobilizar os rgos e entidades da administrao pblica para a melho-

    ria da gesto e para a desburocratizao;

    II - apoiar tecnicamente os rgos e entidades da administrao pblica na

    melhoria do atendimento ao cidado e na simplificao de procedimentos e

    normas;

    III - orientar e capacitar os rgos e entidades da administrao publica pa-

    ra a implantao de ciclos contnuos de avaliao e de melhoria da gesto;

    IV - desenvolver modelo de excelncia em gesto pblica, fixando parme-

    tros e critrios para a avaliao e melhoria da qualidade da gesto pblica,

    da capacidade de atendimento ao cidado e da eficincia e eficcia dos atos

    da administrao pblica federal.

    No inciso IV, ficou estabelecido que o Gespblica elaborasse um modelo de ex-

    celncia em gesto pblica. Esse modelo est no Documento de Referncia do

    Gespblica. Tal documento coloca que:

    O Gespblica uma poltica pblica, formulada para a gesto, alicerada em

    um modelo de excelncia que trata do sistema de gesto das organizaes

    como um todo, contemplando as dimenses tcnicas tradicionais, como

    pessoas, planejamento, oramento e finanas, entre outras, e, tambm, as

    dimenses sociais da gesto, como participao e controle social, orientao

    para os cidados, interao organizao-sociedade e, principalmente, a pro-

    duo de resultados que agreguem valor sociedade. Cabe destacar que

    esse modelo est calcado em valores que orientam e instrumentalizam a

    gesto pblica para o cumprimento de seu papel de promover o bem-estar

    da sociedade, gerando benefcios concretos para o Pas.

    As principais caractersticas dessa poltica de gesto pblica so:

    Ser essencialmente pblica: o Gespblica uma poltica formulada a

    partir da premissa de que a gesto de rgos e entidades pblicos pode e

    deve ser excelente, pode e deve ser comparada com padres internacio-

    nais de qualidade em gesto, mas no pode nem deve deixar de ser pbli-

    ca. A qualidade da gesto pblica tem que ser orientada para o cidado, e

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    Noes de Planejamento Estratgico

    desenvolver-se dentro do espao constitucional demarcado pelos princ-

    pios da impessoalidade, da legalidade, da moralidade, da publicidade e da

    eficincia.

    Estar focada em resultados para o cidado: sair do servio burocra-

    cia e colocar a gesto pblica a servio do resultado dirigido ao cidado

    tem sido o grande desafio do Gespblica. Entenda-se por resultado para o

    setor pblico o atendimento total ou parcial das demandas da sociedade

    traduzidas pelos governos em polticas pblicas. Neste sentido, a eficin-

    cia e a eficcia sero to positivas quanto a capacidade que tero de pro-

    duzir mais e melhores resultados para o cidado (impacto na melhoria da

    qualidade de vida e na gerao do bem comum).

    Ser federativa: a melhoria da qualidade dos servios pblicos prestados

    aos cidados e o aumento da competitividade do Pas pressupem a me-

    lhoria da qualidade da administrao pblica como um todo, em todos os

    poderes e esferas de governo, e implicam em uma atuao cada vez mais

    coordenada e integrada entre os diversos entes e instituies pblicos. As-

    sim, o Gespblica atua junto s organizaes pblicas federais, estaduais,

    municipais, do legislativo e do judicirio, transcendendo, portanto, ao E-

    xecutivo Federal. A base conceitual e os instrumentos do Gespblica no

    esto limitados a um objeto especfico a ser gerenciado (sade, educao,

    previdncia, saneamento, tributao, fiscalizao etc.). Aplicam-se a toda

    administrao pblica em todos os poderes e esferas de governo.

    O Modelo de Excelncia em Gesto Pblica tem como base os princpios consti-

    tucionais da administrao pblica e como pilares os fundamentos da exceln-

    cia gerencial. Os fundamentos da excelncia so conceitos que definem o en-

    tendimento contemporneo de uma gesto de excelncia na administrao p-

    blica e que, orientados pelos princpios constitucionais, compem a estrutura

    de sustentao do Modelo de Excelncia em Gesto Pblica. Estes fundamen-

    tos devem expressar os conceitos vigentes do estado da arte da gesto con-

    tempornea, sem, no entanto, perder de vista a essncia da natureza pblica

    das organizaes.

    O Modelo de Excelncia em Gesto Pblica foi concebido a partir da premissa

    segundo a qual preciso ser excelente sem deixar de ser pblico. Esse Modelo,

    portanto, deve estar alicerado em fundamentos prprios da gesto de exce-

    lncia contempornea e condicionado aos princpios constitucionais prprios da

    natureza pblica das organizaes. Esses fundamentos e princpios constitucio-

    nais, juntos, definem o que se entende hoje por excelncia em gesto pblica.

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    Noes de Planejamento Estratgico

    A base do modelo so os princpios constitucionais da administrao pblica. A

    gesto pblica para ser excelente tem que ser legal, impessoal, moral, pblica

    e eficiente.

    Legalidade: estrita obedincia lei; nenhum resultado poder ser conside-

    rado bom, nenhuma gesto poder ser reconhecida como de excelncia

    revelia da lei.

    Impessoalidade: no fazer acepo de pessoas. O tratamento diferenciado

    restringe-se apenas aos casos previstos em lei. A cortesia, a rapidez no

    atendimento, a confiabilidade e o conforto so requisitos de um servio

    pblico de qualidade e devem ser agregados a todos os usurios indistin-

    tamente. Em se tratando de organizao pblica, todos os seus usurios

    so preferenciais, so pessoas muito importantes.

    Moralidade: pautar a gesto pblica por um cdigo moral. No se trata de

    tica (no sentido de princpios individuais, de foro ntimo), mas de princ-

    pios morais de aceitao pblica.

    Publicidade: ser transparente, dar publicidade aos fatos e aos dados. Essa

    uma forma eficaz de induo do controle social.

    Eficincia: fazer o que precisa ser feito com o mximo de qualidade ao

    menor custo possvel. No se trata de reduo de custo de qualquer ma-

    neira, mas de buscar a melhor relao entre qualidade do servio e quali-

    dade do gasto.

    Orientados por esses princpios, integram a base de sustentao do Modelo de

    Excelncia em Gesto Pblica os fundamentos apresentados a seguir.

    Pensamento sistmico: entendimento das relaes de interdependncia

    entre os diversos componentes de uma organizao, bem como entre a

    organizao e o ambiente externo, com foco na sociedade.

    Aprendizado organizacional: busca contnua e alcance de novos patamares

    de conhecimento, individuais e coletivos, por meio da percepo, reflexo,

    avaliao e compartilhamento de informaes e experincias.

    Cultura da Inovao: promoo de um ambiente favorvel criatividade,

    experimentao e implementao de novas ideias que possam gerar

    um diferencial para a atuao da organizao.

    Liderana e constncia de propsitos: a liderana o elemento promotor

    da gesto, responsvel pela orientao, estmulo e comprometimento para

    o alcance e melhoria dos resultados organizacionais e deve atuar de forma

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    Noes de Planejamento Estratgico

    aberta, democrtica, inspiradora e motivadora das pessoas, visando o

    desenvolvimento da cultura da excelncia, a promoo de relaes de

    qualidade e a proteo do interesse pblico. exercida pela alta

    administrao.

    Orientao por processos e informaes: compreenso e segmentao do

    conjunto das atividades e processos da organizao que agreguem valor

    para as partes interessadas, sendo que a tomada de decises e a

    execuo de aes devem ter como base a medio e anlise do

    desempenho, levando-se em considerao as informaes disponveis.

    Viso de Futuro: indica o rumo de uma organizao e a constncia de

    propsitos que a mantm nesse rumo. Est diretamente relacionada

    capacidade de estabelecer um estado futuro desejado que d coerncia ao

    processo decisrio e que permita organizao antecipar-se s

    necessidades e expectativas dos cidados e da sociedade. Inclui, tambm,

    a compreenso dos fatores externos que afetam a organizao com o

    objetivo de gerenciar seu impacto na sociedade.

    Gerao de Valor: alcance de resultados consistentes, assegurando o

    aumento de valor tangvel e intangvel de forma sustentada para todas as

    partes interessadas.

    Comprometimento com as pessoas: estabelecimento de relaes com as

    pessoas, criando condies de melhoria da qualidade nas relaes de

    trabalho, para que elas se realizem profissional e humanamente,

    maximizando seu desempenho por meio do comprometimento, de

    oportunidade para desenvolver competncias e de empreender, com

    incentivo e reconhecimento.

    Foco no cidado e na sociedade: direcionamento das aes pblicas para

    atender, regular e continuamente, as necessidades dos cidados e da

    sociedade, na condio de sujeitos de direitos, beneficirios dos servios

    pblicos e destinatrios da ao decorrente do poder de Estado exercido

    pelas organizaes pblicas.

    Desenvolvimento de parcerias: desenvolvimento de atividades

    conjuntamente com outras organizaes com objetivos especficos

    comuns, buscando o pleno uso das suas competncias complementares

    para desenvolver sinergias.

    Responsabilidade social: atuao voltada para assegurar s pessoas a

    condio de cidadania com garantia de acesso aos bens e servios

    essenciais, e ao mesmo tempo tendo tambm como um dos princpios

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    Noes de Planejamento Estratgico

    gerenciais a preservao da biodiversidade e dos ecossistemas naturais,

    potencializando a capacidade das geraes futuras de atender suas

    prprias necessidades.

    Controle Social: atuao que se define pela participao das partes

    interessadas no planejamento, acompanhamento e avaliao das

    atividades da Administrao Pblica e na execuo das polticas e dos

    programas pblicos.

    Gesto participativa: estilo de gesto que determina uma atitude gerencial

    da alta administrao que busque o mximo de cooperao das pessoas,

    reconhecendo a capacidade e o potencial diferenciado de cada um e

    harmonizando os interesses individuais e coletivos, a fim de conseguir a

    sinergia das equipes de trabalho.

    O Modelo de Excelncia possui uma representao grfica, baseada no PDCA.

    Temos aqui quatro blocos que representam o PDCA:

    Os quatro primeiros elementos (liderana, estratgias e planos, cidados e

    sociedade) compem a primeira etapa, o planejamento, ou seja, um

    planejamento participativo, que deve envolver a sociedade. Por meio da

    liderana forte da alta administrao, que focaliza as necessidades dos

    cidados-usurios, os servios, os produtos e os processos so planejados

  • 12

    Noes de Planejamento Estratgico

    conforme os recursos disponveis, para melhor atender esse conjunto de

    necessidades.

    O segundo bloco Pessoas e Processos - representa a execuo do

    planejamento. Nesse espao, concretizam-se as aes que transformam

    objetivos e metas em resultados. So as pessoas, capacitadas e

    motivadas, que operam esses processos e fazem com que cada um deles

    produza os resultados esperados.

    O terceiro bloco Resultados representa o controle, pois serve para

    acompanhar o atendimento satisfao dos destinatrios dos servios e

    da ao do Estado, o oramento e as finanas, a gesto das pessoas, a

    gesto de suprimento e das parcerias institucionais, bem como o

    desempenho dos servios/produtos e dos processos organizacionais.

    O quarto bloco Informaes e Conhecimento representa a inteligncia

    da organizao. Nesse bloco, so processados e avaliados os dados e os

    fatos da organizao (internos) e aqueles provenientes do ambiente

    (externos), que no esto sob seu controle direto, mas, de alguma forma,

    influenciam o seu desempenho. Esse bloco d organizao a capacidade

    de corrigir ou melhorar suas prticas de gesto e, consequentemente, seu

    desempenho. A informao e o conhecimento formam o bloco do agir

    corretivamente, buscando melhorar a gesto constantemente.

    O Modelo utiliza os oito critrios para avaliar as organizaes pblicas, vocs

    podem ver que embaixo de cada um deles tem a pontuao que pode ser al-

    canada.

    1. Liderana Este critrio examina a governana pblica e a governabilidade

    da organizao, incluindo aspectos relativos transparncia, eqidade,

    prestao de contas e responsabilidade corporativa. Tambm examina

    como exercida a liderana, incluindo temas como mudana cultural e

    implementao do sistema de gesto da organizao. O Critrio aborda a

    anlise do desempenho da organizao enfatizando a comparao com o

    desempenho de outras organizaes e a avaliao do xito das estratgias.

    2. Estratgias e Planos: examina como a organizao, a partir de sua viso de

    futuro, da anlise dos ambientes interno e externo e da sua misso

    institucional formula suas estratgias, as desdobra em planos de ao de

    curto e longo prazos e acompanha a sua implementao, visando o

    atendimento de sua misso e a satisfao das partes interessadas.

  • 13

    Noes de Planejamento Estratgico

    3. Cidados: examina como a organizao, no cumprimento das suas

    competncias institucionais, identifica os cidados usurios dos seus

    servios e produtos, conhece suas necessidades e avalia a sua capacidade

    de atend-las, antecipando-se a elas. Aborda tambm como ocorre a

    divulgao de seus servios, produtos e aes para fortalecer sua imagem

    institucional e como a organizao estreita o relacionamento com seus

    cidados-usurios, medindo a sua satisfao e implementando e

    promovendo aes de melhoria.

    4. Sociedade: examina como a organizao aborda suas responsabilidades

    perante a sociedade e as comunidades diretamente afetadas pelos seus

    processos, servios e produtos e como estimula a cidadania. Examina,

    tambm, como a organizao atua em relao s polticas pblicas do seu

    setor e como estimula o controle social de suas atividades pela Sociedade e

    o comportamento tico.

    5. Informaes e conhecimentos: examina a gesto das informaes,

    incluindo a obteno de informaes comparativas pertinentes. Tambm

    examina como a organizao identifica, desenvolve, mantm e protege os

    seus conhecimentos.

    6. Pessoas: examina os sistemas de trabalho da organizao, incluindo a

    organizao do trabalho, a estrutura de cargos, os processos relativos

    seleo e contratao de pessoas, assim como a gesto do desempenho.

    Tambm examina os processos relativos capacitao e ao

    desenvolvimento das pessoas e como a organizao promove a qualidade

    de vida das pessoas interna e externamente ao ambiente de trabalho.

    7. Processos: examina como a organizao gerencia, analisa e melhora os

    processos finalsticos e os processos de apoio. Tambm examina como a

    organizao gerencia o processo de suprimento, destacando o

    desenvolvimento da sua cadeia de suprimento. O Critrio aborda como a

    organizao gerencia os seus processos oramentrios e financeiros,

    visando o seu suporte.

    8. Resultados: examina os resultados da organizao, abrangendo os

    oramentrio-financeiros, os relativos aos cidados-usurios, sociedade,

    s pessoas, aos processos finalsticos e processos de apoio, assim como

    aos relativos ao suprimento. A avaliao dos resultados inclui a anlise da

    tendncia e do nvel atual de desempenho, pela verificao do atendimento

    dos nveis de expectativa das partes interessadas e pela comparao com o

    desempenho de outras organizaes.

  • 14

    Noes de Planejamento Estratgico

    2. Paradigma do Cliente Outra distino muito importante entre a gesto pblica e a privada se refere

    diferena entre os bens pblicos e os bens privados.

    O bem pblico se caracteriza pelo princpio da no-excluso, o que signifi-

    ca que o consumo de uma pessoa no exclui o consumo de outra. Os bens pri-

    vados so exclusivos: quando uma pessoa compra um carro, as outras no

    podero usar esse mesmo veculo. J nos bens pblicos, se uma pessoa usa a

    segurana pblica, as outras tambm usam.

    No caso dos bens privados, somente aqueles que contribuem para sua aquisi-

    o podem desfrut-lo; com os bens pblicos, mesmo aqueles que no contri-

    buram vo poder utiliz-lo. Quem no paga impostos, vai ter proteo policial,

    limpeza nas ruas e iluminao pblica do mesmo jeito.

    Assim, como a pessoa vai ser beneficiada mesmo sem contribuir, surge a figu-

    ra do free rider (carona). Quando algum conta com a possibilidade de benefi-

    ciar-se da ao coletiva dos demais sem sofrer os custos da participao, tem

    um grande incentivo para se comportar isoladamente. Pode-se dizer, portanto,

    que o problema da ao coletiva aparece quando o interesse privado sobrepe-

    se obteno do bem pblico.

    Essa diferenciao importante quando nos referimos ao chamado paradigma

    do cliente na gesto pblica. Outra mudana importante do final do sculo

    passado, que veio com a administrao gerencial, foi o fato de a administrao

    pblica passar a ver as pessoas como clientes dos servios pblicos que dese-

    jam qualidade, dentro do chamado consumerism, que estudamos na aula 02.

    O consumerism agregou a idia de que a administrao pblica deve se voltar

    para as necessidades de seu cliente. A qualidade deve ser entendida como a

    satisfao do cliente e no como conformidade com as regras. aqui que co-

    mea o paradigma do cliente na administrao pblica.

    A administrao pblica voltada para o cidado-usurio tem origem ainda nos

    anos 80. Em 1987, a OCDE publica um documento, intitulado Administration

    as Service, the Public as Client, que traz alguns princpios gerais dessa nova

    administrao. Segundo esse documento, os clientes devem saber como a ad-

    ministrao funciona, o que a constrange, como controlada e quem so os

    responsveis. Alm disso, a administrao deve possibilitar a participao dos

    clientes, satisfazer suas necessidades e ser, ao mximo, acessvel ao pblico.

    O paradigma do cliente na administrao pblica surge, portanto, dentro da

    evoluo da administrao gerencial. A administrao burocrtica era auto-

    referida, ou seja, no olhava para fora da organizao para saber qual eram as

  • 15

    Noes de Planejamento Estratgico

    reais necessidades das pessoas. Havia a desconfiana tanto em relao aos

    servidores quanto em relao queles que lhe traziam demandas. A adminis-

    trao gerencial tenta mudar esta perspectiva, incorporando a viso do cliente

    noo de qualidade no servio pblico. a partir da que se aprimoram os

    processos de participao na administrao pblica, o Estado precisa fornecer

    meios para que as pessoas se comuniquem com os rgos pblicos e partici-

    pem das decises.

    Na fase mais recente, o entendimento de que o usurio do servio deve ser

    visto como cliente-consumidor perdeu fora, principalmente porque a idia de

    consumidor poderia levar a um atendimento melhor para alguns e pior para

    outros, num universo em que todos tm os mesmos direitos. possvel perce-

    ber isso quando levamos em considerao que clientes melhores organizados e

    estruturados teriam mais poder para pleitear mais ou melhores servios, cul-

    minando em prejuzo para os menos estruturados. Por isso, nesta abordagem

    prefervel o uso do conceito de cidado, que ao invs de buscar a sua satis-

    fao, estaria voltado para a consecuo do bem-comum. Com isso, o que se

    busca a eqidade, ou seja, o tratamento igual a todos os que se encontram

    em situaes equivalentes.

    O Public Service Orientation tem como uma de suas idias-chave a conjugao

    entre a accountability e o binmio justia/equidade. Ele veio agregar os valores

    relacionados transparncia e participao, entendendo que a administrao

    no lida somente com clientes, mas principalmente com cidados.

    2.1

    Vamos dar uma olhada em uma questo do CESPE:

    1. (CESPE/SEGER/2007) Na anlise do paradigma do cliente na gesto pblica, de grande relevncia a distino que cada

    sociedade estabelece entre bens pblicos e pri- vados. Aos bens

    considerados pblicos, deve-se aplicar o princpio da no-excluso,

    segundo o qual o consumo efetuado individualmente, e no,

    coletivamente.

    A questo ERRADA porque o princpio da no-excluso defende que o con-

    sumo feito coletivamente e no individualmente. Os bens pblicos so carac-

    terizados pela no rivalidade ou indivisibilidade e pela no excluso no seu

    consumo, o que indica que o consumo de um bem pblico realizado por toda

    a populao e o consumo de um indivduo no exclui o consumo dos demais

    indivduos da sociedade. Alm disso o seu consumo no pode ser realizado em

  • 16

    Noes de Planejamento Estratgico

    partes, por exemplo a Segurana, um bem pblico clssico, no pode ser feita

    apenas para um indivduo especificamente.

    Esta caracterstica dos bens pblicos refora a noo de que o Estado lida com

    cidados e no com clientes. Esta a principal diferena entre os bens pblicos

    e os bens de mercado, pois o mercado trabalha exatamente com a excluso, o

    consumo de um indivduo exclui automaticamente o consumo de outro indiv-

    duo, como por exemplo, quando existe em uma loja apenas um determinado

    produto e existem do outro lado dois consumidores, um deles com certeza ser

    excludo.

    Nessa relao do Estado com a sociedade, em que deve-se consider-los como

    cidados, alm de clientes, ganha importncia a noo de equidade. Vamos

    ver uma questo do CESPE.

    2. (CESPE/IEMA/2007) Para se alcanar a justia, preciso superar o conceito de i- gualdade e aplicar o conceito de eqidade.

    O conceito de equidade vem desde a Grcia Antiga e ele surgiu referindo-se

    disposio de reconhecer o direito de cada um, mesmo que isso implique em

    no obedecer exatamente ao direito objetivo, pautando-se sempre pela busca

    de justia e moderao. A equidade um dos instrumentos de integrao no

    direito e consiste na adaptao da regra existente situao concreta, obser-

    vando-se os critrios de justia e igualdade. Pode-se dizer, ento, que a eqi-

    dade adapta a regra a um caso especfico, a fim de deix-la mais justa. Ela

    uma forma de se aplicar o Direito, mas sendo o mais prximo possvel do justo

    para as duas partes.

    Podemos perceber que o conceito de equidade est diretamente relacionado

    justia. Esta a principal diferena de equidade para igualdade. Com freqn-

    cia os termos igualdade e equidade so traduzidos e incorporados de mo-

    dos semelhantes. Apesar de serem muito confundidas, as palavras tm dois

    significados distintos e so conceitualmente diferentes. Igualdade semelhan-

    a; equidade justia. Dessa forma, ser igual no significa necessariamente

    ser equnime, e vice-versa.

    O Dicionrio Houaiss traz algumas definies para o verbo superar. Vejamos

    duas delas:

    4 - fazer desaparecer, livrar-se de; remover, afastar, solucionar.

    6 - ir mais alto que, subir alm; ultrapassar, sobrelevar-se a, avantajar-se a.

  • 17

    Noes de Planejamento Estratgico

    Nas questes, s vi o CESPE usar o termo no segundo sentido. Veremo-lo no-

    vamente em uma questo mais para frente. Assim, quando falamos que pre-

    ciso superar o conceito de igualdade, estamos dizendo que devemos ir alm

    dele, ultrapass0lo, mas sem abandon-lo. isso que a equidade faz. Ela no

    abandona o conceito de igualdade. Com a equidade dizemos que os iguais de-

    vem ser tratados de forma igual e os desiguais de forma desigual.

    Com base nesta diferenciao, a equidade pode ser dividida em duas: horizon-

    tal e vertical. A eqidade vertical exige que seja dado desigual tratamento pa-

    ra desiguais. Normalmente isto significa que os cidados com maior renda de-

    vam pagar mais impostos que os com menor renda. Uma das aplicaes da

    eqidade vertical o princpio de capacidade de pagamento sugere que os

    contribuintes devem arcar com cargas fiscais que representem igual sacrifcio

    de bem-estar, interpretado pelas perdas de satisfao no setor privado.

    A eqidade horizontal implica tratar a todos iguais igualmente e a eqidade

    vertical implica um tratamento desigual para os desiguais, ou seja, o estabele-

    cimento de aes afirmativas para incluso dos mais desfavorecidos social, cul-

    tural ou economicamente. A chamada discriminao positiva visa dar priorida-

    de aos que tm menos condies ou capital, favorecendo-os. Nesse sentido, os

    que no dispem de alternativas de atendimento no setor privado, os que tm

    menos vez e voz, os que tm menos recursos, devero contar com um aten-

    dimento diferenciado.

    Turner (1986) diferencia quatro tipos diferentes de eqidade: ontolgica, de

    oportunidade, de condies e de resultados.

    A eqidade ontolgica se refere igualdade fundamental entre as pessoas.

    Varia das abordagens religiosas de igualdade perante Deus, passando pela a-

    bordagem marxista - para a qual a natureza do ser humano forjada por sua

    "praxis" livre e transformadora, que busca um domnio cada vez maior sobre a

    natureza e maior comunicao, autonomia e conscincia - at as perspectivas

    "relativistas" modernas, de que a natureza humana especfica de certas cul-

    turas e sistemas sociais.

    O segundo tipo diz respeito eqidade de oportunidades de se alcanar os

    objetivos almejados. Esta concepo, herana das revolues francesa e ame-

    ricana, est na base da teoria social da meritocracia, sendo uma caracterstica

    da doutrina poltica do liberalismo clssico, que considera ser possvel uma

    mobilidade social perfeita, a partir da igualdade de oportunidades. Uma vez

    garantida a universalidade dos direitos fundamentais vida, liberdade e

    propriedade, todos tm, independente de sua origem, as mesmas oportunida-

    des de alcanar as mais altas posies individuais. Assim, de acordo com esta

    concepo, as posies na estrutura ocupacional da sociedade so preenchidas

  • 18

    Noes de Planejamento Estratgico

    apenas pelo mrito pessoal, a partir da igualdade de oportunidades para o in-

    gresso nas instituies sociais. Por exemplo, na ndia, a diviso em castas im-

    pede a igualdade de oportunidades.

    De maneira apropriada, Turner resgata que a igualdade de oportunidade pra-

    ticamente inseparvel da noo de eqidade de condies. Para haver, de

    fato, oportunidades iguais para todos os membros da sociedade, a eqidade

    precisa ser observada tambm no "ponto de partida": apenas pessoas subme-

    tidas s mesmas condies de vida podem vir a ser consideradas "em igualda-

    de" para competir com base em habilidades e mritos individuais.

    Finalmente, o quarto tipo a eqidade dos efeitos ou resultados. Nele, a

    legislao e outras medidas polticas procuram compensar os efeitos das desi-

    gualdades de condies sociais. Mecanismos de discriminao positiva preci-

    sam operar em favor de grupos menos privilegiados que tm, assim, suas o-

    portunidades aumentadas, assegurando a eqidade nos resultados.

    Vamos ver um exemplo. Uma forma de equidade de oportunidades permitir

    que todas as pessoas possam ingressar nas universidades pblicas. Eliminam-

    se barreiras relacionadas raa, classe social, etc. Contudo, como alguns

    tm mais condies de receber uma melhor educao, tm mais chances que

    outros de conquistar a vaga. Por isso a equidade de condies prega que se-

    jam colocadas em prtica polticas sociais que busquem melhorar as condies

    de pessoas mais necessitadas. J a equidade de resultados vem dizer que no

    basta tentar melhor as condies preciso dar tratamento diferenciado dire-

    tamente no processo de seleo, criando assim as cotas nas universidades p-

    blicas.

    Atualmente, as tendncias preponderantes reconhecem como pilares principais

    do conceito de eqidade a distribuio de recursos atravs de uma discrimina-

    o positiva em favor dos mais desfavorecidos e a diminuio das desigualda-

    des que resultam de fatores que esto fora do controle individual. O princpio

    da discriminao positiva a base das chamadas aes afirmativas, que fo-

    ram conceituadas por um Grupo de Trabalho Interministerial do Governo FHC

    como:

    Aes afirmativas so medidas especiais e temporrias, tomadas ou deter-

    minadas pelo Estado, espontnea ou compulsoriamente, com o objetivo de

    eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantindo a igualdade

    de oportunidades e tratamento, bem como de compensar perdas provoca-

    das pela discriminao e marginalizao, decorrentes de motivos raciais,

    tnicos, religiosos, de gnero e outros. Portanto, as aes afirmativas visam

    combater os efeitos acumulados em virtude das discriminaes ocorridas no

    passado.

  • 19

    Noes de Planejamento Estratgico

    Atualmente, as aes afirmativas podem ser definidas como um conjunto de

    polticas pblicas e privadas de carter compulsrio, facultativo ou voluntrio,

    concebidas com vistas ao combate discriminao racial, de gnero, por defi-

    cincia fsica e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efei-

    tos presentes da discriminao praticada no passado, tendo por objetivo a con-

    cretizao do ideal de efetiva igualdade de acesso a bens fundamentais como a

    educao e o emprego.

    Diferentemente das polticas governamentais anti-discriminatrias baseadas

    em leis de contedo meramente proibitivo, que se singularizam por oferecerem

    s respectivas vtimas to somente instrumentos jurdicos de carter reparat-

    rio e de interveno depois do fato ocorrido, as aes afirmativas tm natureza

    visam a evitar que a discriminao se verifique nas formas usualmente conhe-

    cidas. Em sntese, trata-se de polticas e de mecanismos de incluso concebi-

    dos por entidades pblicas, privadas e por rgos dotados de competncia ju-

    risdicional, com vistas concretizao de um objetivo constitucional univer-

    salmente reconhecido - o da efetiva igualdade de oportunidades.

    2.2

    Antes de entrarmos no conceito de Accountability, acho interessante vermos o

    que fala a teoria da agncia e a relao entre agente e principal.

    a) Teoria da Agncia

    A Teoria da Agncia estuda as relaes contratuais em que se observa a figura

    de um sujeito ativo que recebe o nome de principal, e de um sujeito passivo

    chamado agente. O principal quem contrata e o agente o contratado.

    Essas relaes podem ser explcitas (formais), em que existe um instrumento

    jurdico em que so expressos os direitos e deveres de cada um, ou implcitas

    (informais), em que as relaes so orientadas por usos e costumes que sus-

    tentam e do legitimidade s aes praticadas entre as partes relacionadas.

    Como exemplo de uma relao formal, temos os contratos de compra e venda,

    o contrato de trabalho, etc. So relaes contratuais informais a entre o em-

    pregado e o patro, o empregado e o cliente, etc.

    A suposio bsica existente na relao principal-agente de que o agente ir

    agir em favor do principal e que por isso receber alguma recompensa. O a-

    gente, ou contratado, dever desempenhar certas funes, de acordo com os

    critrios do principal, ou contratante. A teoria tenta identificar os incentivos

    que levam o agente a servir melhor os interesses do principal.

  • 20

    Noes de Planejamento Estratgico

    Esta teoria originou-se na Economia, baseando-se na ideia de escolha racional,

    que pressupe que, do leque de aes possveis numa situao dada, as pes-

    soas escolhem racionalmente aquelas que maximizam as chances de conseguir

    suas metas e realizar seus projetos.

    A teoria da agncia focaliza os problemas gerados pelo fato de que o agente

    tem de fazer algo pelo principal, mas no tem os mesmos interesses. Ao mes-

    mo tempo, o principal nunca tem informao completa sobre as atividades do

    agente, e muitas vezes nem sabe fazer as tarefas do agente. Assumindo-se

    que as partes buscam a maximizao de interesses individuais, de se esperar

    que o agente no v agir sempre no interesse do principal. Por outro lado, o

    principal procurar estar cercado de garantias para evitar que seus interesses

    sejam prejudicados.

    Segundo essa teoria, os conflitos de agncia aparecem quando o bem-estar de

    uma parte, o principal, depende das decises tomadas por outra, responsvel

    pela gesto do patrimnio do principal, o agente.

    Embora o agente deva tomar decises em benefcio do principal, muitas vezes

    ocorrem situaes em que os interesses dos dois so conflitantes, dando mar-

    gem a um comportamento oportunista por parte do agente.

    Essa abordagem tenta descobrir que arranjos contratuais e institucionais po-

    dem melhor alinhar ou compatibilizar os interesses do agente com os interes-

    ses do principal. O ideal, para o principal, um sistema de incentivos em que o

    agente s pode ganhar mais por meio de esforos que aumentam os benefcios

    do principal.

    O grosso dessa literatura tenta identificar as condies que estimulam maiores

    esforos dos agentes. Enfatiza especialmente os tipos e combina aes de in-

    centivos e fiscalizao que so mais adequados para os interesses do principal

    em vrios tipos de agncia.

    No entanto, em muitos casos o principal tem certa dificuldade em saber se o

    agente est realmente cumprindo com suas obrigaes de forma satisfatria.

    Aqui entra a assimetria de informao. O agente dispe de um conjunto de

    possveis comportamentos a adotar, suas aes afetam o bem-estar entre as

    partes e dificilmente so observveis pelo principal.

    Decorrentes da assimetria de informao surgem outros dois problemas:

    Seleo adversa = quando so selecionados os agentes com maior

    risco. Se a indstria de seguros de vida praticar um preo baseado na

    mdia de risco das pessoas, sara perdendo porque quem ter maior

  • 21

    Noes de Planejamento Estratgico

    propenso a fazer seguros sero as pessoas com maior risco. Por isso

    que so praticados preos de acordo com o risco de cada um.

    Risco moral = uma das partes envolvidas em um contrato no dispe

    de condies ou mecanismos para monitorar as aes e as atitudes da

    outra parte envolvida, que pode ter um comportamento de risco. Muitas

    pessoas com plano de sade passam a usar os servios mdicos numa

    proporo bem maior do que quando no tinham o plano. Tambm

    existe para o agente. Por exemplo, quando o Estado determina alguns

    critrios no momento da contratao das empresas privadas e depois

    passa a usar outras regras.

    Devido a esses problemas, o principal incorre em custos adicionais para ter

    que monitorar a atuao do agente. Por exemplo, quando uma empresa con-

    trata um pessoa para distribuir panfletos na rua, no sabe se essa pessoa ir

    realmente entreg-los ou ento jog-los no lixo. Assim, preciso monitorar a

    ao desse agente. A auditoria surgiu justamente para servir de instrumento

    do principal no controle das aes do agente.

    Segundo Peters, o conflito de agncia

    existe desde que as empresas passaram a ser administradas por agentes

    distintos dos proprietrios h cerca de 100 anos. Por essa poca, comeou

    a ser delineado o conflito de agncia, em que o agente recebe uma delega-

    o de recursos e tem, por dever dessa delegao, que gerenciar estes re-

    cursos mediante estratgias e aes para atingir objetivos, tudo isto medi-

    ante uma obrigao constante de prestao de contas. (grifo nosso).

    A relao entre a sociedade e o Estado tambm uma relao de principal-

    agente. A sociedade o principal que delega a responsabilidade pela gesto de

    seu patrimnio para o Estado. Este o agente que deve atuar de acordo com o

    interesse pblico, ou seja, o interesse da sociedade

    Podemos observar trs tipos de relaes agente-principal no setor pblico:

    Cidados e polticos:

    Polticos e burocratas;

    Estado (burocracia e sistema poltico) e agentes econmicos;

    Os primeiros so os principais, os segundos os agentes. A sociedade o princi-

    pal que delega a responsabilidade pela gesto de seu patrimnio para o Esta-

    do. Este o agente que deve atuar de acordo com o interesse pblico, ou seja,

    o interesse da sociedade.

  • 22

    Noes de Planejamento Estratgico

    A auditoria, tanto no setor pblico quanto no setor privado, surge justamente

    dentro desta relao principal-agente, como um instrumento do primeiro para

    verificar as aes do segundo. Vamos ver uma questo do CESPE:

    3. (CESPE/DATAPREV/2006) A teoria da agncia prov justificativa conceitual ou filo- sfica para a realizao de auditorias, ao definir

    que uma organizao representada pelo conjunto de seus

    contratos entre agentes com interesses prprios, o que exige

    superviso.

    A questo certa. A auditoria tem como pressuposto o controle da ao dos

    agentes tendo em vista os interesses do principal. E assim tambm que po-

    demos observar a accountability. A accountability indica o dever do agente em

    desempenhar suas funes em nome do principal, quais responsabilidades o

    agente possui quando administra bens e direitos de um terceiro, e como o

    principal pode realizar o controle das aes desempenhadas pelo agente.

    b) Conceito

    O termo accountability vem do latim:

    ad + computare: contar para, prestar contas a, dar satisfao a, cor-

    responder expectativa de.

    O termo que mais se aproxima de accountability responsabilidade. Frederich

    Mosher, inclusive, trata-a como sinnimo de responsabilidade objetiva:

    Acarreta a responsabilidade de uma pessoa ou organizao perante uma outra

    pessoa, fora de si mesma, por alguma coisa ou por algum tipo de desempenho

    Assim, a accountability abrange a responsabilidade para com um terceiro, o

    principal. Porm, o termo vai alm da responsabilidade. Fernando Abrucio e

    Maria Rita Loureiro definem accountability democrtica como:

    A construo de mecanismos institucionais por meio dos quais os governantes

    so constrangidos a responder, ininterruptamente, por seus atos e omisses

    perante os governados.

    No h traduo de accountability para o portugus. Alguns autores afirmam

    que isto se deve a pouca qualidade de nossa democracia em comparao com

    as anglo-saxs. Por exemplo, Guillermo O'Donnell, um dos autores mais cita-

    dos acerca da accountability, classifica as democracias da Amrica Latina como

    Democracias Delegativas.

  • 23

    Noes de Planejamento Estratgico

    Nos pases desenvolvidos vigora a democracia representativa, em que a popu-

    lao elege representantes para atuar em seu nome, e por isso esses repre-

    sentantes devem atuar segundo os interesses de seus eleitores. Na Amrica

    Latina h uma cultura em que o representante eleito recebe um mandato para

    governar da forma que ele achar melhor. Ele possui ampla liberdade de ao,

    sendo considerado o salvador da ptria. No h uma cultura de cobr-lo pe-

    las promessas de campanha nem de acompanhar de perto suas decises.

    J Anna Maria Campos, no texto Accountability: quando poderemos traduzi-la

    para o portugus?, afirma que:

    Quanto mais avanado o estgio democrtico, maior o interesse pela accoun-

    tability. E a accountability governamental tende a acompanhar o avano de

    valores democrticos, tais como igualdade, dignidade humana, participao,

    representatividade.

    Alguns autores traduzem o termo como responsabilizao, outros como dever

    de prestar contas, mas nenhum destes termos consegue abarcar todos os sen-

    tidos presentes na accountability. Ela abrange pelo menos trs aspectos:

    Elementos do Conceito de Accountability

    Obrigao em prestar contas

    Responsabilizao pelos atos e resultados

    Responsividade

    O agente administra bens pertencentes ao principal, por isso deve prestar

    contas desta administrao. Peters fala em obrigao constante de prestar

    contas.

    O segundo aspecto a responsabilizao. O agente deve responder pelos

    seus atos, tanto em termos de legalidade quanto de resultados. A administra-

    o gerencial mudou o foco do controle a priori sobre os processos para ser a

    posteriori de resultados, por isso o administrador pblico responde no s em

    termos de legalidade, mas tambm em termos de eficincia, eficcia e efetivi-

    dade.

    A responsividade refere-se sensibilidade do agente em relao vontade

    do principal. O agente deve tomar suas decises de forma a maximizar os inte-

    resses do principal, e no os seus prprios interesses. Assim, na administrao

    pblica, as decises do governo devem ter como finalidade sempre o interesse

    pblico, seguindo o princpio da impessoalidade.

    J Andras Schedler identifica no conceito de accountability dois aspectos:

  • 24

    Noes de Planejamento Estratgico

    Capacidade de resposta dos governos (answerability), ou seja, a

    obrigao dos oficiais pblicos informarem e explicarem seus atos

    Capacidade das agncias de accountability de impor sanes e perda

    de poder (enforcement) para aqueles que violaram os deveres pblicos.

    Estes dois aspetos no se diferenciam muito dos trs vistos acima. O autor

    considera a noo de accountability bidimensional: envolve capacidade de res-

    posta e capacidade de punio (answerability e enforcement). Contudo, a ca-

    pacidade de resposta engloba dois tipos de questes: uma dimenso relativa

    informao das decises e outra condizente com a necessidade dos governan-

    tes explicarem tais decises. A informao pode ser associada necessidade

    de prestao de contas, o primeiro aspecto visto anteriormente. J a explica-

    o, ou justificao, est ligada responsividade, ou seja, o administrador de-

    ve justificar seus atos para demonstrar que eles esto de acordo com o inte-

    resse pblico, com os anseios da sociedade Temos aqui a responsividade. Por

    fim, a capacidade de punio pode ser associada com a responsabilizao.

    Essas mesmas trs dimenses esto nas Normas de Auditoria do TCU (NAT):

    Esse conceito de accountability fundamental para a compreenso da prti-

    ca da boa governana e da auditoria governamental. Ele envolve, no con-

    texto das relaes que se estabelecem entre os administradores pblicos, o

    Parlamento e a sociedade, pelo menos trs dimenses informao, jus-

    tificao e sano como formas bsicas pelas quais se pode prevenir o

    abuso de poder.

    O documento apresenta uma definio da Intosai, instituio que congrega as

    instituies fiscalizadoras superiores:

    As normas de auditoria da Intosai conceituam a accountability pblica como

    a obrigao que tm as pessoas ou entidades s quais se tenham confiado

    recursos, includas as empresas e corporaes pblicas, de assumir as res-

    ponsabilidades de ordem fiscal, gerencial e programtica que lhes foram

    conferidas, e de informar a quem lhes delegou essas responsabilidades. E,

    ainda, como obrigao imposta, a uma pessoa ou entidade auditada de de-

    monstrar que administrou ou controlou os recursos que lhe foram confiados

    em conformidade com os termos segundo os quais lhe foram entregues.

    Em vrios momentos do texto das NAT podemos perceber ela falando da dele-

    gao de recursos e poder por parte da sociedade para o Estado, que justa-

    mente o carter da relao agente-principal. A auditoria surge nessa relao

    como um instrumento do principal para fiscalizar a conduta do agente, ou seja,

    os tribunais de conta tem como funo agir em nome da sociedade (principal)

    para garantir que o agente busque seus interesses. Segundo as NAT:

  • 25

    Noes de Planejamento Estratgico

    A auditoria, no contexto da accountability, conforme o conceito desenvolvi-

    do pelo Escritrio do Auditor-Geral do Canad (OAG) a ao independente

    de um terceiro sobre uma relao de accountability, objetivando expressar

    uma opinio ou emitir comentrios e sugestes sobre como essa relao es-

    t sendo cumprida.

    A accountability um conceito que vem recebendo novas interpretaes, prin-

    cipalmente aps as reformas ocorridas no final do Sculo passado. Arlindo Car-

    valho Rocha traa a evoluo do conceito.

    Em resumo, a viso de accountability no modelo da velha administrao

    pblica explica a nossa to conhecida atuao dos tribunais de contas

    focada nos padres tradicionais de controle e restritos verificao da

    conformidade/legalidade da ao dos gestores pblicos, restringindo as

    possibilidades de accountability a esse tipo de controle;

    J nos anos de 1980, surgem presses por mudanas para superar as

    suas deficincias. Como resposta surge o modelo da nova gesto pblica.

    H uma mudana de perspectiva da accountability, de uma perspectiva

    pblica para uma perspectiva essencialmente privada, na qual a nfase

    est na prestao dos servios desejados pelos clientes da forma mais

    rentvel possvel;

    O terceiro modelo de administrao pblica, batizada por seus autores de

    O Novo Servio Pblico (que podemos associar ao PSO), constitui-se em

    uma nova proposta. A sua concepo de accountability reconhece,

    tambm, que medidas de eficincia e resultados so importantes, mas

    no so suficientes para abranger outras expectativas que a sociedade

    projeta em relao aos administradores pblicos, tais como agir

    eticamente e em conformidade com os princpios democrticos.

    Podemos resumir assim: na administrao burocrtica, valorizava-se apenas o

    controle de conformidade e legalidade; com a NGP, valoriza-se o controle de

    resultados, em termos de eficincia e efetividade; com o PSO, valoriza-se a

    participao da sociedade e o carter democrtico. O problema que os tribu-

    nais de contas se concentram ainda muito na legalidade, tendo avanado pou-

    co em termos e resultado e nada no carter democrtico.

    Segundo Fernando Abrucio e Maria Rita Loureiro:

    Normalmente, a literatura sobre a accountability trata do controle dos atos

    dos governantes em relao ao programa de governo, corrupo ou

    preservao de direitos fundamentais dos cidados. Mais recentemente, es-

    se tema tem sido estudado em sua interseco com a reforma do Estado,

  • 26

    Noes de Planejamento Estratgico

    analisando como o aperfeioamento das instituies estatais pode contem-

    plar, ao mesmo tempo, a melhoria do desempenho dos programas gover-

    namentais e sua maior transparncia e responsabilizao do poder pblico

    frente sociedade.

    2.3

    A implementao de Ouvidorias Independentes se constitui em mais um forma

    de controle social, na medida em que essas ouvidorias tm como objetivo fun-

    damental servir de interlocutores entre a sociedade civil e os rgos pblicos

    responsveis legais pela constatao e defesa dos direitos que, por ventura,

    sejam violados.

    Segundo Vaz, o princpio bsico do trabalho de um ouvidor (tambm conhecido

    como ombudsman) o de ser um representante dos cidados dentro do go-

    verno, atuando de forma independente no desempenho de suas funes, fun-

    cionando como uma crtica interna da administrao pblica, sob a tica do ci-

    dado. um canal de comunicao direta entre o cidado e o governo. O tra-

    balho do ombudsman realizado em carter individual.

    Para isso, as solicitaes rotineiras devem ser acolhidas por telefone ou

    pessoalmente por uma equipe treinada para isto. A interveno direta do

    ouvidor fica reservada para reclamaes sobre servios, solicitaes no a-

    tendidas e problemas j notificados e no resolvidos.

    Atuando dessa forma, o ombudsman pode se converter em uma fonte de in-

    formaes de avaliao dos servios pelos cidados

    No h previso legal expressa sobre as ouvidorias na Constituio Federal,

    nem em nenhuma lei complementar ou ordinria. Contudo a Emenda Constitu-

    cional n 19 de 1998 alterou a redao do art. 37 da CF/88:

    3 A lei disciplinar as formas de participao do usurio na administrao

    pblica direta e indireta, regulando especialmente:

    I - as reclamaes relativas prestao dos servios pblicos em geral, as-

    seguradas a manuteno de servios de atendimento ao usurio e a avalia-

    o peridica, externa e interna, da qualidade dos servios;

    II - o acesso dos usurios a registros administrativos e a informaes sobre

    atos de governo, observado o disposto no art. 5, X e XXXIII;

    III - a disciplina da representao contra o exerccio negligente ou abusivo

    de cargo, emprego ou funo na administrao pblica.

    Por meio de uma interpretao extensiva deste dispositivo, podemos conside-

    r-lo a base legal para a institucionalizao de ouvidorias no poder pblico, cu-

  • 27

    Noes de Planejamento Estratgico

    ja lei regulamentadora ainda no foi editada. Isso foi cobrado no ltimo con-

    curso de APO:

    4. (ESAF/APO-MPOG/2008) Embora no chegue a impedir a realizao do trabalho das ouvidorias municipais, estaduais e federais, a falta de

    uma legislao federal especfica que regulamente a funo das

    ouvidorias no pas considerada uma das principais fa- lhas do

    sistema brasileiro de ouvidorias.

    O Decreto N 3.507, de 13 de junho de 2000, estabeleceu as diretrizes norma-

    tivas para a fixao de padres de qualidade do atendimento prestado pelos

    rgos e entidades da Administrao Pblica Federal direta, indireta e funda-

    cional que atendem diretamente aos cidados. Observou o 2 do Art. 40 do

    Decreto a obrigatoriedade da aferio do grau de satisfao dos usurios com

    o atendimento recebido, indicando a necessidade da instituio de uma unida-

    de administrativa ou metodologia para realiz-la.

    No contexto da qualidade, o texto constitucional e as disposies contidas no

    Decreto 3.507 sugerem a instalao de um organismo ou servio de ouvidoria

    na Administrao Pblica. Por isso a maioria das ouvidorias que foram criadas

    na esfera federal tem por objetivo o aprimoramento das prticas administrati-

    vas e dos servios prestados ao cidado.

    A funo de ouvidoria empregada na Administrao Pblica e corresponde

    de ombudsman, mais usual na iniciativa privada. Seus propsitos so: receber

    observaes, queixas e dvidas dos cidados; buscar solues e respostas a

    tais comunicaes; e subsidiar os gestores com dados e informaes que pro-

    movam o aprimoramento das atividades e servios pblicos.

    Com a publicao do Decreto n 4.177 de 2002, a Corregedoria-Geral da Unio

    incorporou a competncia de Ouvidoria-Geral, com jurisdio sobre toda a ad-

    ministrao do Executivo Federal, atrada do Ministrio da Justia, que res-

    guardou apenas a Ouvidoria-Geral de Direitos Humanos. Desde ento, a Cor-

    regedora-Geral tem estimulado os demais ministros a criarem ouvidorias em

    suas pastas.

    Segundo Eliana Pinto, Ouvidora-Geral da Unio, so quatro os princpios fun-

    damentais da ouvidoria:

    ser um instrumento de democracia;

    um rgo de controle;

    um espao de resoluo de conflitos extra-judicial; e

  • 28

    Noes de Planejamento Estratgico

    uma ferramenta para melhoria da gesto.

  • 29

    Noes de Planejamento Estratgico

    A Ouvidoria Pblica busca a soluo de conflitos extrajudiciais, por isso se tor-

    na mediadora eficaz. No apenas canal inerte entre o cidado e a adminis-

    trao pblica. A agregao e anlise das reclamaes recebidas devem servir

    de base para dois procedimentos importantes: informar a estrutura gerencial

    do organismo sobre a incidncia de problemas, servindo como indutor de mu-

    danas estruturais, e informar ao pblico sobre as mudanas introduzidas na

    estrutura como resultado da atividade.

    Segundo Eliana Pinto:

    As ouvidorias no devem ser voltadas para as atividades fins dos rgos,

    mas para o seu funcionamento na consecuo dessas atividades, tendo co-

    mo objetivo a qualificao do prprio rgo ao qual ela est vinculada, pro-

    pondo solues viveis e, sempre que possvel, aceitvel por todas as par-

    tes envolvidas, atuando como mediadora na definio das polticas pblicas,

    pois sua matria prima envolve questes referentes a cidadania e o fortale-

    cimento de seus conceitos.

    3. Gesto Estratgica Existem trs tipos de planejamento: Estratgico; Ttico;

    Operacional.

    Estratgico

    Ttico

    Operacional

    Prazo

    Longo

    Mdio

    Curto

    Amplitude

    Toda a organizao

    Setor

    Atividade

    Nvel Hierrquico

    Alta Cpula

    Gerncias Setoriais

    Operacional

    Riscos

    Maiores

    Intermedirios

    Menores

    Aqui podemos identificar algumas das caractersticas que diferenciam o plane-

    jamento estratgico do ttico e do operacional:

    responsabilidade da cpula da organizao;

    Envolve a organizao como um todo;

    Planejamento de longo prazo.

    J o Planejamento Ttico ser uma setorizao do planejamento estratgico.

    Se este envolvia a organizao como um todo, aquele vai fazer um planeja-

    mento para um setor da organizao. Ele trabalha com decomposies dos ob-

    jetivos, estratgias e polticas estabelecidos no planejamento estratgico. Ele

  • 30

    Noes de Planejamento Estratgico

    desenvolvido em nveis organizacionais intermedirios como as gerncias de

    recursos humanos, de marketing, financeira.

    O Planejamento Operacional o desdobramento do ttico. Pode ser considera-

    do como a formalizao, principalmente atravs de documentos escritos, das

    metodologias de desenvolvimento e implantao estabelecidos. neste nvel

    que so definidas as aes especficas que permitem realizar os objetivos dos

    nveis anteriores. So planos desenvolvidos nos nveis mais baixos da organi-

    zao para especificar as etapas de ao para realizao das metas operacio-

    nais e para sustentar os planos tticos.

    Vamos ver algumas definies de planejamento estratgico:

    Philip KOTLER: O Planejamento Estratgico uma metodologia gerencial que

    permite estabelecer a direo a ser seguida pela Organizao, visando maior

    grau de interao com o ambiente.

    Mosimann e Fisch, a finalidade do planejamento estratgico estabelecer

    quais sero os caminhos a serem percorridos para atingir a situao desejada.

    a arte da passagem do estgio onde estou para o estgio onde quero ir.

    Maximiano caracteriza o planejamento estratgico como o processo de elabo-

    rar uma estratgia (ou plano estratgico), com base na anlise do ambiente e

    nos sistemas internos da organizao.

    As vrias definies trazem em comum que a estratgia (1) estabelece os ob-

    jetivos, (2) o caminho a ser seguido para alcan-los, (3) levando em conside-

    rao o ambiente em que a organizao est inserida.

    importante diferenciar planejamento estratgico da gesto estratgica. Mui-

    tos autores resumem a gesto estratgica com a frase:

    colocar em prtica o plano estratgico

    H uma diferena entre Gesto Estratgica e Planejamento Estratgico. O Pla-

    nejamento Estratgico um processo gerencial que diz respeito formulao

    de objetivos para a seleo de programas de ao e para sua execuo, levan-

    do em conta as condies internas e externas empresa e sua evoluo espe-

    rada. J a Gesto Estratgica uma forma de acrescentar novos elementos de

    reflexo e ao sistemtica e continuada, a fim de avaliar a situao, elaborar

    projetos de mudanas estratgicas e acompanhar e gerenciar os passos de im-

    plementao. Como o prprio nome diz, uma forma de gerir toda uma orga-

    nizao, com foco em aes estratgicas em todas as reas.

    Segundo Enrique Saravia:

    A gesto estratgica ocupou o lugar do planejamento estratgico. Este s

    faz sentido quando se limita a indicar metas, meios e estratgias genricas

  • 31

    Noes de Planejamento Estratgico

    e a preparar a organizao para superar as situaes diversas e inesperadas

    que ela poder encontrar.

    O planejamento estratgico representou um grande avano sobre a planifica-

    o organizacional clssica na medida em que agregou a preocupao com as

    dimenses ambientas. No entanto, s tem utilidade prtica quando fornece s

    organizaes uma metodologia de ao que lhes permite reagir imediatamente

    aos riscos e oportunidades gerados pelas mudanas.

    Entende-se gesto estratgica como um processo integrado de aes que per-

    mite:

    a identificao de objetivos poltico-estratgicos;

    a anteviso dos provveis cenrios futuros;

    a elaborao das mais adequadas solues estratgicas para sua

    conquista;

    o permanente monitoramento do ambiente, que envolve a conquista

    desses objetivos; e

    a coordenao, no nvel estratgico, de todo esse processo.

    A gesto estratgica abrange o planejamento estratgico. Segundo Oliveira, a

    gesto estratgica seria composta de trs fases. A primeira o planejamento

    estratgico. A segunda fase a do desenvolvimento estratgico, esta relacio-

    nada com a implantao organizacional das determinaes definidas na fase

    anterior. Esta fase consiste em converter as determinaes em resultados e

    aes concretas, viabilizados atravs de planos tticos (planos dos nveis in-

    termedirios da empresas) e operacionais da estrutura organizacional. Nela se

    pressupe uma mudana organizacional para incorporao de novos papeis,

    nova matriz hierrquica, o sistema de retro-alimentao organizacional e as

    peculiaridades da estrutura de pessoal.

    A terceira fase refere-se ao controle estratgico, e considera as definies no

    plano estratgico da organizao e avalia periodicamente o grau de consecu-

    o e desvio obtidos, relativamente aos padres determinados, de modo a cor-

    rigir distores e aperfeioar os resultados alcanados. O controle estratgico

    possibilita a gerao de informaes teis para as duas fases anteriores, per-

    mitindo o aprimoramento das aes prescritas e praticadas, viabilizando o me-

    lhoramento contnuo, por mudanas de processos, e de adaptao a diferentes

    situaes surgidas ao longo do tempo.

    Para Maximiano, a administrao estratgica compreende: o planejamento es-

    tratgico, a implementao da estratgia e a avaliao da estratgia. Pelo ex-

  • 32

    Noes de Planejamento Estratgico

    posto, a gesto estratgica, diferentemente das confuses conceituais, apre-

    senta caractersticas que transcendem o planejamento estratgico. Deste mo-

    do, o processo de administrao estratgica procura se pautar em uma srie

    de etapas que so repetidas ciclicamente constituindo assim um processo inte-

    gral, contnuo, flexvel e criativo que propicia um enquadramento que orienta

    os outros componentes da gesto (elaborao de planos tticos e operacionais,

    avaliao de recursos etc.).

    Segundo Maximiano, como objetivos fundamentais da administrao estratgi-

    ca, destacam-se:

    A reorientao de recursos materiais, financeiros e humanos;

    O estabelecimento de padres de excelncia;

    Implantao do processo de melhoria contnua;

    A definio de valores comuns;

    As formas de lidar com a incerteza;

    O fornecimento de uma base para o controle de avaliao.

    3.1. Fases do Planejamento Estratgico

    Segundo, Djalma de Oliveira, h duas possibilidades de metodologia para o

    desenvolvimento do planejamento estratgico nas empresas:

    Primeiro se define aonde se quer chegar e depois se identifica como a em-

    presa est para chegar situao desejada. Isto significa que primeiro se

    estabelece a misso para depois ser feito o diagnstico estratgico.

    Primeiro verifica-se como se est para ento se estabelecer aonde quer

    chegar. O diagnstico estratgico vem antes da definio da misso.

    A vantagem do primeiro mtodo a possibilidade de maior criatividade no pro-

    cesso pela no existncia de grandes restries. J o segundo tem a vantagem

    de colocar o executivo com o p no cho, j que na anterior pode ser muito

    mais ambicioso. Kotler afirma que esse um debate sem soluo na literatura

    administrativa. O problema que as bancas de vez em quando consideram a-

    penas uma das duas como verdadeira. Djalma de Oliveira desenvolveu seu

    modelo com base na segunda metodologia, com as seguintes fases:

  • 33

    Noes de Planejamento Estratgico

    Fases do Planejamento Estratgico

    Diagnstico estratgico;

    Misso da empresa;

    Instrumentos prescritivos e quantitativos;

    Controle e avaliao

    Temos que tomar cuidado nas questes, porque as bancas tem o costume de

    copiar de determinado autor consideram correto o que ele fala e do como

    errado algo diferente do que ele fala, mesmo que outro autor defenda esse po-

    sicionamento divergente. O CESPE tem mais questes sobre o assunto:

    5. (CESPE/TJDFT/2008) No processo de planejamento, a definio da nova misso da organizao deve ocorrer aps a etapa de diagnstico

    estratgico.

    O gabarito preliminar desta questo era certa. Mas o CESPE percebeu a bestei-

    ra que estava fazendo e ela foi ANULADA com a seguinte justificativa:

    Embora a sequncia apresentada no item seja sugerida por muitos autores,

    no obrigatria, especialmente quanto procedncia da definio da mis-

    so organizacional. Alm disso, deve-se considerar as peculiaridades de ca-

    da organizao para a adequada definio das atividades do planejamento.

    Percebemos claramente a preferncia do CESPE pelo incio do planejamento

    estratgico pelo diagnstico. Para vocs verem como eles se confundem nestas

    questes, em certos momentos eles usam a ordem do Djalma de Oliveira e ou-

    tras do Chiavenato.

    6. (CESPE/INSS/2008) A primeira fase na elaborao de um planejamento de longo prazo voltado para uma possvel mudana no

    modelo de previdncia social seria a fixa- o dos novos objetivos.

    Esta questo foi dada como ERRADA, justamente porque o CESPE considerou

    que a primeira fase do planejamento estratgico o diagnstico estratgico, e

    no o estabelecimento da misso, dos objetivos.

  • 34

    Noes de Planejamento Estratgico

    7. (CESPE/SEBRAE03/2008) O primeiro passo para o processo de planejamento de- senvolver premissas quanto s condies futuras

    do mercado, para s ento definir os objetivos da empresa

    Esta questo ERRADA. Aqui eles usaram as fases do Chiavenato, segundo o

    qual h seis passos no processo de planejamento:

    1. Definir os objetivos;

    2. Verificar qual a situao atual em relao aos objetivos;

    3. Desenvolver premissas quanto s condies futuras;

    4. Analisar as alternativas de ao;

    5. Escolher a melhor entre as vrias alternativas;

    6. Implementar o plano e avaliar os resultados.

    Nesta tica a questo anterior estaria certa. A ESAF j usou a classificao do

    Djalma de Oliveira:

    8. (ESAF/EPPGG-MPOG/2005) O planejamento estratgico uma ferramenta que tem como fases bsicas para sua elaborao e

    implementao o diagnstico estratgico, a definio da misso, a

    elaborao de instrumentos prescritivos e quantitativos, alm do

    controle e da avaliao.

    Portanto, nas questes, prestem ateno para tentar perceber que autor est

    sendo usado.

    a) Diagnstico Estratgico

    O diagnstico estratgico, tambm denominado de auditoria de posio, con-

    siste na anlise do como se est. Podemos dividir esta fase em quatro eta-

    pas:

    Identificao da Viso: identificam-se quais so as expectativas e os

    desejos dos acionistas, conselheiros e elementos da alta administrao da

    empresa. A viso pode ser considerada como os limites que os principais

    responsveis pela empresa conseguem enxergar dentro de um perodo de

    tempo mais longo e uma abordagem mais ampla.

  • 35

    Noes de Planejamento Estratgico

    Anlise Externa: verifica as ameaas e oportunidades que esto no

    ambiente da empresa e as melhores maneiras de evitar ou usufruir destas

    situaes. A empresa deve olhar para fora de si, para o ambiente onde

    esto as oportunidades e ameaas.

    Anlise Interna: verifica os pontos fortes, fracos e neutros da empresa.

    Os pontos neutros tambm devem fazer pat da anlise porque muitas

    vezes no se tm condies de estabelecer se determinada atividade ou

    aspecto est beneficiando ou prejudicando a empresa.

    Anlise dos Concorrentes: esta etapa, na realidade, decompe um

    aspecto da etapa da anlise externa. Entretanto, o seu tratamento deve

    ser detalhado, pois o produto final ir proporcionar a identificao das

    vantagens competitivas da prpria empresa e a dos concorrentes.

    Na anlise externa e interna da empresa utilizada a anlise SWOT, cuja sigla

    traz as letras iniciais das palavras Strength, Weakness, Opportunities e Thre-

    ats, ou seja, foras, fraquezas, oportunidades e ameaas.

    b) Definio da Misso

    Seguindo a metodologia do Djalma de Oliveira, a segunda fase do planejamen-

    to estratgico a definio da misso. Depois de identificado onde a empresa

    est, ser definido aonde ela quer chegar.

    A Misso uma forma de se traduzir determinado sistema de valores em ter-

    mos de crenas ou reas bsicas de atuao, considerando as tradies e filo-

    sofias da empresa. Ela exerce a funo orientadora e delimitadora da ao

    empresarial, e isto dentro de um perodo longo de tempo, em que ficam com-

    prometidos valores, crenas, expectativas, conceitos e recursos.

    Segundo Megginson:

    A misso define o propsito fundamental e nico que a organizao tenta

    seguir e identifica seus produtos ou servios e clientes. Assim a misso i-

    dentifica a razo-de-ser da organizao, ou seja, o que ela representa.

    A misso de uma organizao define o propsito fundamental que ela tenta

    seguir, identificando seus produtos ou servios e clientes. Deve ser definida de

    modo a satisfazer alguma necessidade do ambiente externo e os propsitos da

    organizao. A misso deve ser entendida como uma identificao a ser segui-

    da, mas nunca algo especfico a ser alcanado. Para facilitar o entendimento,

    pode-se comparar a determinao da misso de uma empresa utilizao de

    uma bssola, que permite que o navio faa sua viagem de maneira planejada.

  • 36

    Noes de Planejamento Estratgico

    importante no confundir a misso da organizao com a sua Viso. Esta

    consiste num macro-objetivo, no quantificvel de longo prazo, que expressa

    onde e como a organizao pretende estar no futuro. A viso atua como um

    elemento motivador, energizando a empresa e criando um ambiente propcio

    ao surgimento de novas ideias. J a misso de uma organizao define o pro-

    psito fundamental que ela tenta seguir, identificando seus produtos ou servi-

    os e clientes. A misso deve ser definida de modo a satisfazer alguma neces-

    sidade do ambiente externo e os propsitos da organizao.

    A Receita Federal tem como Misso Institucional:

    Prover o Estado de recursos para garantir o bem-estar social; prestar servi-

    os de excelncia sociedade; prover segurana, confiana e facilitao para

    o comrcio internacional.

    J a Viso de Futuro:

    Ser reconhecida pela sociedade como uma organizao justa e slida, que

    presta servios de excelncia ao cidado, dotada de poltica moderna de ges-

    to de pessoas e que seja um padro de referncia nacional e internacional.

    c) Instrumentos Prescritivos e Quantitativos

    A terceira fase a Definio dos Instrumentos Prescritivos e Quantitativos, em

    que a anlise bsica a de como chegar situao que se deseja. Para tan-

    to, pode-se dividir esta fase em dois instrumentos perfeitamente interligados.

    Os instrumentos prescritivos vo proporcionar a explicao do que deve ser

    feito pela empresa para que se direcione ao alcance dos propsitos estabeleci-

    dos dentro de sua misso, de acordo com a sua postura estratgica, respeitan-

    do as macropolticas bem como as aes estabelecidas pelas macroestratgias:

    Objetivo o alvo ou situao que se pretende atingir. Aqui se determina

    para onde a empresa deve dirigir seus esforos;

    Objetivo funcional o objetivo intermedirio, relacionado s reas

    funcionais, que deve ser atingido com a finalidade de alcanar os objetivos

    da empresa;

    Desafio uma realizao que deve ser continuamente perseguida,

    perfeitamente quantificvel e com prazo estabelecido, que exige um

    esforo extra e representa a modificao de uma situao;

    Meta corresponde aos passos ou etapas perfeitamente quantificados e

    com prazos para alcanar os desafios e objetivos.

  • 37

    Noes de Planejamento Estratgico

    Estratgia a ao ou caminho mais adequado a se executado para

    alcanar o objetivo, o desafio e a meta.

    Poltica: definio dos nveis de delegao, faixas de valores e de

    abrangncia das estratgias e aes para a consecuo dos objetivos. A

    poltica fornece parmetros ou orientaes para a tomada de decises.

    Diretrizes o conjunto estruturado e interativo dos objetivos, estratgias

    e polticas da empresa.

    J os instrumentos quantitativos consistem nas projees econmico-

    financeiras do planejamento oramentrio, devidamente associadas estrutura

    organizacional da empresa, necessrias ao desenvolvimento dos planos de a-

    o, projetos e atividades previstas. Nesta etapa, deve-se analisar quais so os

    recursos necessrios e quais as expectativas de retorno para atingir os objeti-

    vos, desafios e metas da empresa.

    d) Controle e Avaliao

    Por fim, a ltima fase o Controle e Avaliao. Nesta fase, verifica-se como a

    empresa est indo para a situao desejada. O controle pode ser definido, em

    termos simples, como a ao necessria para assegurar a realizao das estra-

    tgias, objetivos, desafios, metas e projetos estabelecidos. Essa funo, em

    sentido amplo, envolve: processos de avaliao de desempenho; comparao

    do desempenho com os objetivos, desafios e metas; anlise dos desvios dos

    objetivos; tomada de ao corretiva provocada pelas anlises efetuadas.

    O controle e a avaliao podem ser exercidos em trs estgios ou momentos:

    Controle preliminar: antes da ocorrncia do evento ou fato que se preten-

    de controlar. Portanto, procurar evitar que ocorram variaes no plano,

    bem como minimizao do surgimento de problemas;

    Controle corrente: ao mesmo tempo da ocorrncia do evento ou fato que

    se pretende controlar. Procura corrigir o desempenho durante a execuo;

    Ps-controle: aps a ocorrncia do evento ou fato que se pretende contro-

    lar. Portanto, avalia os desvios ocorridos, determina as causas dos mes-

    mos, bem como corrige o desempenho programado.

    3.2. Planejamento Estratgico no Servio Pblico

    No setor pblico, uma das metodologias mais divulgadas de planejamento es-

    tratgico o Planejamento Estratgico Situacional (PES), que foi sistematizado

  • 38

    Noes de Planejamento Estratgico

    originalmente pelo Economista chileno Carlos Matus e foi concebido a partir de

    uma viso crtica da abordagem tradicional de planejamento.

    Uma caracterstica importante nesse mtodo o subjetivismo, que tem por

    objetivo identificar e analisar uma situao problemtica, centrando-se nos in-

    divduos envolvidos (atores), em suas percepes e pontos de vista, pressu-

    pondo, portanto, que se cada indivduo tem suas prprias caractersticas, sua

    prpria viso de mundo, a interpretao de determinada situao vai depender

    de seus conhecimentos, experincias, crenas, posio no jogo social etc. Co-

    mo as aes, por sua vez, surgem do significado dado a cada situao, e este

    varia de um indivduo para outro, tambm a maneira de agir varia. Assim, o

    PES preconiza que no se pode planejar como se o planejador fosse o nico

    ator, ignorando os demais envolvidos ou predizendo seus comportamentos.

    necessrio, portanto, diferenciar as explicaes dos diferentes autores, sem

    ignorar nenhuma, para que se possa agir de modo eficaz.

    em funo dessa perspectiva que Matus argumenta que a realidade no pode

    ser explicada por uma simples descrio (diagnstico), mas pelas diferentes

    interpretaes dadas pelos atores envolvidos (apreciao situacional). Por con-

    seguinte, o termo situacional vem do conceito de situao, que a chave pa-

    ra entender os outros atores e suas interpretaes da realidade, permitindo

    uma ao mais eficaz no jogo social.

    O autor ressalta ainda que, nessa perspectiva, o conceito de situao exige de-

    terminar quem est explicando a realidade, uma vez que esta pode ser expli-

    cada de formas distintas, pois os diferentes atores participam do jogo social

    com diferentes propsitos.

    muito importante no PES o papel dos demais atores, o quanto eles podem

    influenciar o planejamento. Para exemplificar, vamos contar uma historinha

    famosa de nosso futebol. A seleo brasileira ia jogar com a Rssia, a o tcni-

    co Feola diz para o Garrincha: voc dribla o primeiro russo, voc dribla o se-

    gundo, corre na linha de fundo, cruza para o Vav, que entra pelo meio e mar-

    ca de cabea. O Garrincha olhou para o Feola e disse: Sr. Feola, algum j

    combinou com os russos?.

    Essa histria traz o cerne do PES, que justamente considerar as aes dos

    demais atores no planejamento. O PES , na verdade, uma ferramenta de li-

    berdade, pois, ao no se basear na capacidade de predio, mas na de previ-

    so, se constitui em um clculo que precede e preside a ao para criar o futu-

    ro, dependendo, portanto, das possibilidades de os atores serem capazes de

    imaginar e descobrir e da qualidade dos planos desenvolvidos. , nesse senti-

    do, um