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XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 1
METODOLOGIA PARA PREVISÃO DE VAZÕES NA BACIA DO RIO
GRANDE
Rogerio Saturnino Braga1, Marcio Cataldi
2 & Hadassiana Creton de Oliveira
3
RESUMO - Este trabalho relata a metodologia desenvolvida pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS para a realização da previsão de vazões uma semana à frente na bacia do alto/médio rio Grande. Esta metodologia considera a utilização do modelo chuva-deflúvio conceitual SMAP, de forma semiconcentrada (dividido em sub-bacias), com o uso de observações em estações fluviométricas e pluviométricas existentes na bacia e de informações de previsão de precipitação com horizonte de dez dias, obtidas a partir da integração do modelo numérico ETA, em uso no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC/INPE. Nestes estudos, foi verificada uma tendência de superestimativa nos valores de precipitação prevista, sendo desenvolvidos métodos para identificação e remoção deste viés. Testes de desempenho desta nova metodologia mostram ganhos significativos nos resultados das previsões das vazões uma semana à frente, quando comparados com os obtidos a partir da metodologia em uso pelo ONS para esta bacia.
ABSTRACT- This work relates the Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS methodologies development to one ahead week inflow forecast to upper and middle Grande river basin. This approach consider the use of the conceptual inflow model - SMAP in semi-concentrated form (divided in sub-basins), using fluviometric and pluviometric observations and forecast precipitation in basin area. The forecast rain was obtained from ETA model, which is operational use at Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC since 1994. A tendency of overestimation in the precipitation values was observed. A method was developed to identify and remove this tendency. Some tests with this new approach showed significant increase on the forecast accuracy when compared with the ONS´s actual approach.
Palavras-chave: Modelo de previsão de vazões, remoção de viés da previsão de precipitação.
1) Engenheiro Civil, Hidrólogo do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Rua da Quitanda 196/10º, 20091-000 Rio de Janeiro, RJ. E-mail [email protected] 2) Meteorologista do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Rua da Quitanda 196/10º, 20091-000 Rio de Janeiro, RJ. E-mail [email protected] 3) Engenheira Civil, Hidróloga do Operador Nacional do Sistema Elétrico, Rua da Quitanda 196/10º, 20091-000 Rio de Janeiro, RJ. E-mail [email protected]
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 2
1 INTRODUÇÃO
O Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS tem a responsabilidade de elaborar a
previsão de vazões naturais médias diárias, semanais e mensais para todos os locais de
aproveitamentos hidroelétricos do Sistema Interligado Nacional - SIN, além da geração de cenários
mensais a partir do segundo mês, a serem utilizados nos processos de planejamento e programação
da operação do SIN. Estas previsões são utilizadas como insumos básicos para a cadeia de modelos
de otimização deste Operador, no âmbito do Programa Mensal da Operação – PMO, e suas revisões.
O processo atual de previsão de vazões semanais, para a grande maioria das bacias, utiliza
modelos estocásticos univariados, que se baseiam na série histórica de vazões e nas últimas
afluências naturais verificadas, não considerando observações de estações pluviométricas ou
fluviométricas, nem tampouco informações de previsão de precipitação. Além disso, são obtidas
previsões de vazões totais em locais de aproveitamentos hidroelétricos, sendo as vazões relativas às
bacias incrementais calculadas a partir de diferenças entre os valores obtidos nessas previsões, sem
nenhuma consideração de defasagem temporal devido ao translado da água entre aproveitamentos.
Em 2000, o ONS verificou a necessidade de aprimorar o processo e as modelagens utilizadas
na obtenção das previsões de vazões naturais semanais dos aproveitamentos integrantes do SIN,
bem como as previsões relativas às bacias incrementais. Considerando a predominância
significativa da hidroeletricidade no parque gerador de energia elétrica do Brasil, a qualidade da
previsão da vazão natural dos aproveitamentos hidroelétricos apresenta-se como fator fundamental
no planejamento e programação da operação do SIN, pois, a partir destas informações, se tomam
decisões de operação visando minimizar os custos e otimizar o uso dos recursos disponíveis.
A partir do início de 2004, com o acompanhamento dos Agentes de Geração e da Agência
Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, o ONS passou a estudar novas metodologias que pudessem
ser utilizadas na previsão de vazões, incorporando, além das vazões naturais passadas, observações
de postos pluviométricos e fluviométricos e a previsão de precipitação. Em 2006, o ONS, após
autorização da ANEEL, passou a utilizar no PMO e suas revisões, para a bacia do rio Iguaçu, o
modelo misto de Redes Neurais - Mineração de Dados/PREVIVAZ – MPCV [ONS (2005)], que
incorporava dados observados de vazão e precipitação, além da previsão de precipitação para 10
dias elaborada com a utilização do modelo ETA/CPTEC.
Em 2008, após nova autorização da ANEEL, o ONS passou também a utilizar no processo do
PMO e suas revisões outras modelagens de previsão de vazões, com incorporação de informações
de precipitação, nas seguintes bacias: bacia do rio Iguaçu, com o modelo Fuzzy – Redes Neurais
[ONS/FEC (2005)]; bacia incremental da UHE Itaipu, no rio Paraná, com o modelo misto
conceitual/estocástico SMAP-MEL [Fadiga et al. (2008)]; bacias incrementais das UHEs São
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Simão e Cachoeira Dourada, no rio Paranaíba, com o modelo conceitual distribuído MGB-IPH
[Collischonn et al. (2007)]; e bacia do rio Uruguai, com o modelo misto de Redes Neurais -
Mineração de Dados/PREVIVAZ – MPCV [Borim et al. (2008)].
Considerando o melhor desempenho destas novas modelagens, quando comparado com os
resultados da modelagem até então vigente [Guilhon et al. (2007)], o ONS desenvolveu uma nova
metodologia para a previsão de vazões na bacia do Alto/Médio rio Grande (até a UHE Porto
Colômbia), envolvendo a utilização do modelo conceitual SMAP e o uso de observações de
estações pluviométricas e fluviométricas e de previsões de precipitação na bacia [ONS (2008)].
Como produto, obtém-se a previsão direta das vazões incrementais entre aproveitamentos, com
horizonte de até dez dias. Na próxima seção será apresentada a região onde foi aplicada a
metodologia, seguida da descrição dos dados utilizados, elucidando o procedimento de remoção do
viés da precipitação prevista pelo ETA. Na seção seguinte é apresentada uma breve descrição do
modelo SMAP, seguida dos resultados encontrados no estudo e as conclusões e discussões mais
pertinentes a ele.
2 DESCRIÇÃO DA ÁREA EM ESTUDO
2.1 Considerações gerais
A bacia do rio Grande no trecho em estudo (montante da UHE Porto Colômbia) possui uma
área de drenagem de 77.427 km2 e dez aproveitamentos hidroelétricos em operação integrados ao
SIN (Camargos, Itutinga, Funil, Furnas, Mascarenhas de Moraes, L.C.Barreto, Jaguara, Igarapava,
Volta Grande e Porto Colômbia).
A precipitação média anual na bacia do rio Grande varia em torno de 1.500 mm, exceto em
algumas regiões da Serra da Mantiqueira, onde ultrapassa 3.000 mm. A região tem uma estação
chuvosa no verão, estendendo-se de outubro a março, quando ocorrem cerca de 80% do total
precipitado sobre a bacia. O trimestre mais chuvoso é formado pelos meses de dezembro, janeiro e
fevereiro. A estação seca é definida pelos meses de junho, julho e agosto, no inverno.
Nos meses de verão, os totais mais significativos de precipitação se devem principalmente a
configuração da Zona de Convergência do Atlântico Sul – ZCAS que, quando ocorre, aciona o
transporte de umidade da região Amazônica diretamente para a região da bacia. O deslocamento de
frentes frias, áreas e linhas de instabilidade e o próprio aquecimento diurno, também contribuem
para a ocorrência de precipitação nesta época do ano.
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 4
Durante o inverno, somente o deslocamento de frentes frias ocasiona precipitação na região,
sendo que, neste período do ano, elas atingem esta região com menor freqüência e menor
intensidade, devido principalmente a menor disponibilidade de umidade na atmosfera.
A rede hidrográfica da bacia, estando sob influência das chuvas de verão, registra maiores
vazões nos meses de dezembro e janeiro. A vazão média de longo termo (1931/2007) em Porto
Colômbia é de 1.323 m3/s, o que corresponde a uma vazão específica de 17,1 l/s/km2.
2.2 Configuração das sub-bacias
Para aplicação do modelo, optou-se pela previsão direta das vazões apenas para os
aproveitamentos de Camargos, Funil, Furnas e Porto Colômbia. Os seis aproveitamentos restantes
do trecho deverão ter suas vazões previstas calculadas, posteriormente, com base em regressões
lineares obtidas a partir dos valores previstos para estes quatro locais.
Algumas estações fluviométricas existentes na bacia foram consideradas como pontos de
cálculo do modelo, devido à importância de suas localizações e áreas de controle. Estas estações
foram a do rio Verde em Porto dos Buenos e a do rio Sapucaí em Paraguaçu, situadas na bacia
incremental entre as UHEs Furnas e Funil, bem como a do rio Sapucaí Paulista em Fazenda Capão
Escuro, localizada na bacia incremental entre as UHEs Porto Colômbia e Furnas.
A figura 1 e a tabela 1 mostram, respectivamente, a localização e as principais características
das sete sub-bacias selecionadas para a aplicação do modelo.
-48.8 -48.6 -48.4 -48.2 -48 -47.8 -47.6 -47.4 -47.2 -47 -46.8 -46.6 -46.4 -46.2 -46 -45.8 -45.6 -45.4 -45.2 -45 -44.8 -44.6 -44.4 -44.2 -44 -43.8 -43.6
-48.8 -48.6 -48.4 -48.2 -48 -47.8 -47.6 -47.4 -47.2 -47 -46.8 -46.6 -46.4 -46.2 -46 -45.8 -45.6 -45.4 -45.2 -45 -44.8 -44.6 -44.4 -44.2 -44 -43.8 -43.6
-22.8
-22.6
-22.4
-22.2
-22
-21.8
-21.6
-21.4
-21.2
-21
-20.8
-20.6
-20.4
-20.2
-20
-19.8
-19.6
-19.4
-22.8
-22.6
-22.4
-22.2
-22
-21.8
-21.6
-21.4
-21.2
-21
-20.8
-20.6
-20.4
-20.2
-20
-19.8
-19.6
-19.4
1
2
3 4
5
6
7
Porto Colômbia
Fazenda Capão Escuro
Furnas
Funil Camargos
Porto dos Buenos Paraguaçu
Figura 1 - Localização das sub-bacias
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Tabela 1 - Principais características das sub-bacias
Sub-bacia Área Incremental Rio Área
(km2) % do total
1 - Camargos UHE Camargos Grande 6.279 8,1 2 - Funil UHE Funil / UHE Camargos Grande 9.491 12,3 3 - Porto dos Buenos Porto dos Buenos Verde 6.366 8,2 4 - Paraguaçu Paraguaçu Sapucaí 9.501 12,3 5 - Furnas UHE Furnas / UHE Funil; Porto
dos Buenos; Paraguaçu Grande 20.501 26,5
6 - Fazenda Capão Escuro Fazenda Capão Escuro Sapucaí Paulista
5.906 7,6
7 - Porto Colômbia UHE Porto Colômbia / UHE Furnas; Fazenda Capão Escuro
Grande 19.383 25,0
Total 77.427 100,0
3 DADOS BÁSICOS
3.1 Estações e dados fluviométricos
A tabela 2 apresenta as estações fluviométricas utilizadas nos estudos. As principais estações
fluviométricas foram as três citadas anteriormente, ou seja, Paraguaçu, Porto dos Buenos e Fazenda
Capão Escuro. As demais estações foram utilizadas no tratamento das vazões incrementais.
Tabela 2 - Estações fluviométricas utilizadas nos estudos
Código Estação Rio Área de Drenagem
(km²)
Operadora
61012001 Madre de Deus de Minas Grande 2.097 Cemig 61060001 Fazenda Laranjeiras Aiuruoca 2.102 Cemig 61425000 Paraguaçu Sapucaí 9.501 Furnas 61537000 Porto dos Buenos Verde 6.366 Furnas 61787000 Fazenda Capão Escuro Sapucaí Paulista 5.906 Furnas 61795000 Conceição das Alagoas Uberaba 1.984 Furnas
3.2 Estações e dados pluviométricos
Com vistas à etapa de calibração e validação dos parâmetros do modelo SMAP, trabalhou-se
com uma rede de estações pluviométricas mais densa possível. Desta forma, com base no período
de dados a ser utilizado nos estudos (1995 a 2007), foi realizada uma ampla pesquisa de estações
existentes na bacia e, posteriormente, uma coleta de dados junto à CEMIG, FURNAS e ANA, além
dos dados já disponíveis na Base de Dados Técnica – BDT do ONS. As estações pluviométricas
selecionadas para o estudo estão apresentadas na figura 2.
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 6
As falhas existentes no período de estudos foram preenchidas com dados observados em
estações próximas. Em geral, foram selecionadas apenas estações cujas falhas existentes não fossem
superiores a 25% do período total do estudo (1995 a 2007). A análise de consistência dos dados
pluviométricos foi realizada tanto em nível diário, por meio de Análise de Agrupamento (clusters) e
Componentes Principais (ACP) [Han e Kamber (2000)], quanto em nível médio anual, por meio de
comparação entre estações vizinhas e com base na topografia da área da bacia. Entre as estações
selecionadas para o estudo, não foi identificada qualquer inconsistência significativa. Em poucas
estações, dados inconsistentes em curtos períodos foram também substituídos por dados de estações
próximas.
-48.8 -48.6 -48.4 -48.2 -48 -47.8 -47.6 -47.4 -47.2 -47 -46.8 -46.6 -46.4 -46.2 -46 -45.8 -45.6 -45.4 -45.2 -45 -44.8 -44.6 -44.4 -44.2 -44 -43.8 -43.6
-48.8 -48.6 -48.4 -48.2 -48 -47.8 -47.6 -47.4 -47.2 -47 -46.8 -46.6 -46.4 -46.2 -46 -45.8 -45.6 -45.4 -45.2 -45 -44.8 -44.6 -44.4 -44.2 -44 -43.8 -43.6
-22.8
-22.6
-22.4
-22.2
-22
-21.8
-21.6
-21.4
-21.2
-21
-20.8
-20.6
-20.4
-20.2
-20
-19.8
-19.6
-19.4
Aiuruoca
Alagoa
AndrelândiaB.Jardim
Carvalhos
Faz.Laranjeiras
Faz.Paraíba
M. de Deus
Pte Costa
S.Vicente
Santana do Garembeu
SE Itutinga
SE Liberdade
Barroso
Bom Sucesso
Campolide
Carandaí
Carrancas
Cruzília
Ibertioga
Ibituruna
Itumirim
Luminárias
Porto do ElvasPorto Tiradentes
Resende CostaSão Tiago
SE BarbacenaUHE Itutinga Usina Barbacena
Usina São João del Rei
Vila Rio das Mortes
BaependiCaxambu
Conceição Do Rio Verde
Cristina
Fazenda Cachoeira
Fazenda Juca Casimiro
Itanhandu
Palmela Dos Coelhos
Porto Dos Buenos
Pouso Alto
Três Corações
Usina Congonhal
Usina Do Chicão
Virginia
Bairro do Analdino
Bairro Santa Cruz
Brasópolis
Cambuí (Csme)
Careaçu
Conceição dos Ouros
Fazenda da Guarda (Parque)
Maria da Fé
Monsenhor Paulo
Ponte do Rodrigues
Santa Rita do Sapucaí
São João de Itajubá
Sapucaí-Mirim
SE Pouso Alegre
Silvianópolis
UHE São Bernardo
UHE Xicão
Vargem do Cervo
Alfenas
Boa Esperança
Campos Gerais
Candéias
Carmo da Cachoeira
Carmo do Rio Claro
Coqueiral
Fama
Formiga
Guapé
Ilicínea
Juréia
Paraguaçu
Ponte Fernão Dias
Santana do Jacaré
SE Pimenta
Três Pontas
UHE Furnas
UHE Poço Fundo
Usina Couro do Cervo
Usina Nepumoceno
AntinópolisBrodosqui Cobiça
Fazenda Boa Sorte
Fazenda Carvalhais
Fazenda Santa Cecília
Fazenda Santo Antônio II
Franca
Ipuã
Bom Jesus da Penha
Conceição das AlagoasConquista
Delfinópolis
Desemboque
Fazenda Poço Bonito
Fazenda São Domingos
Fazenda Sassafras
GuaranésiaGuaxupé
Itaú de Minas
Ituverava
Lagoa
Ponte Joaquim Justino
SE Jaguara
UHE Luiz Carlos Barreto (Estreito)
UHE Masc. de Moraes
UHE Porto Colômbia
UHE Volta Grande Usina Junqueira
Usina Santana
Veríssimo
Zelândia
Figura 2 - Localização das estações pluviométricas
Vale ressaltar que algumas estações, cujos dados são disponibilizados diariamente, foram
implantadas após 1995 e, por isso, não possuem históricos completos em todo o período utilizado
nos estudos. Nesses casos, na etapa de testes de desempenho do modelo, foram utilizados dados de
uma estação convencional mais próxima.
3.3 Previsões de precipitação
As previsões de precipitação diária utilizadas nos estudos foram realizadas com a utilização
do modelo numérico de previsão de tempo ETA [Black (1994); Cataldi et al. (2007)], atualmente
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em uso no Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos - CPTEC. Os pontos de grade
utilizados do modelo ETA têm resolução espacial 40 x 40 km e a chuva média em cada sub-bacia
foi calculada a partir de média aritmética de todos os pontos localizados dentro da sub-bacia. A
precipitação prevista utilizada foi sempre para o intervalo de 10 dias à frente, no período de 1996 a
2003, com previsões efetuadas sempre com início às quartas-feiras.
Quando comparados os valores médios de precipitação prevista e de precipitação observada,
conforme pode ser visto na tabela 3, verifica-se, em todas as sub-bacias, uma tendência de
superestimativa dos valores previstos, principalmente em sub-bacias que possuem desníveis mais
acentuados em suas cabeceiras. A topografia mais elevada e irregular justifica os valores maiores da
relação Previsto/Observado nas sub-bacias de Porto dos Buenos, Paraguaçu, Camargos e Funil e os
valores menores nas sub-bacias de Fazenda Capão Escuro e Porto Colômbia. Contudo, o alto valor
encontrado para esta relação para a sub-bacia de Furnas não pode ser justificado pela topografia e
sua causa deve ser investigada em conjunto com a equipe técnica do CPTEC.
Tabela 3 - Precipitação média anual prevista e observada em cada sub-bacia - Período 1996/2003
Analisando a figura 3, elaborada com os dados de precipitação total média observada e
prevista nos nove primeiros dias de cada previsão para a sub-bacia de Camargos, percebe-se que a
precipitação prevista pelo modelo ETA tem um comportamento semelhante à observada, alterando
apenas a magnitude, o que indica que o modelo foi capaz de reproduzir os fenômenos
meteorológicos que ocorreram na bacia, porém possui uma tendência (viés) a superestimar os totais
previstos. Com vistas à identificação e remoção deste viés, foram realizados estudos para cada uma
das sete sub-bacias, considerando o total de precipitação prevista nos primeiros nove dias de cada
previsão realizada para o período 1996/2003. Considerando as análises das características climáticas
sazonais da região foram agrupados quatro períodos distintos para identificação e remoção do viés:
agosto a novembro; dezembro e janeiro; fevereiro e março; e abril a julho.
Pprev/Pobs
Observada Prevista
1 - Camargos 1.434,6 1.820,3 1,27
2 - Funil 1.400,4 1.774,8 1,27
3 - Porto dos Buenos 1.499,5 2.154,4 1,44
4 - Paraguaçu 1.435,6 1.838,3 1,28
5 - Furnas 1.333,9 2.013,3 1,51
6 - Fazenda Capão Escuro 1.532,1 1.716,6 1,12
7 - Porto Colômbia 1.476,6 1.614,8 1,09
Sub-bacia
Precipitação
Média Anual (mm)
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Figura 3 - Precipitação total média observada e prevista na sub-bacia de Camargos (1996/03)
A metodologia utilizada para a identificação e remoção do viés das previsões de precipitação,
para cada uma das sete sub-bacias em cada um dos quatro períodos, foi a seguinte:
• Obtenção dos totais de precipitação observada e prevista nos primeiros 9 dias de cada previsão.
• Elaboração de curvas de permanência de precipitação observada e prevista, como exemplificado
na figura 4, que é relativa à sub-bacia Camargos no período agosto/novembro.
• Elaboração de gráficos de precipitação prevista versus precipitação observada, plotando-se pontos
de mesma freqüência da curva de permanência, como o exemplo da figura 5.
• Ajuste de uma equação de segundo grau aos pontos do gráfico, passando pela origem e limitado
aos valores de precipitação prevista maiores do que a precipitação observada.
• Cálculo da precipitação diária prevista com remoção de viés para os 10 dias de previsão, por meio
da seguinte expressão:
9dias ETA
9dias(t)ETA(t) Ptot
PtotpreP Ppre ×= (1)
onde: ( ) ( )9dias ETA
2
9dias ETA9dias PtotbPtot a Ptotpre ×+×= (2)
Ppre(t): precipitação diária prevista com remoção de viés, para cada dia de previsão (mm).
PETA(t) : precipitação diária prevista pelo modelo ETA, para cada dia de previsão (mm).
Ptotpre 9dias: precipitação total prevista com remoção de viés, para os 9 primeiros dias (mm).
PtotETA 9dias: precipitação total prevista pelo modelo ETA, para os 9 primeiros dias (mm).
a e b: constantes da equação de segundo grau obtida para remoção de viés.
CAMARGOS
0
20
40
60
80
100
120
140
4/8
11/8
18/8
25/8 1/9
8/9
15/9
22/9
29/9
6/10
13/1
020
/10
27/1
03/
1110
/11
17/1
124
/11
1/12
8/12
15/1
222
/12
29/1
25/
112
/119
/126
/1 2/2
9/2
16/2
23/2 2/3
9/3
16/3
23/3
30/3 6/4
13/4
20/4
27/4 4/5
11/5
18/5
25/5 1/6
8/6
15/6
22/6
29/6 6/7
13/7
20/7
27/7
Pre
cip
itaç
ão
Acu
mu
lad
a 9
dia
s (
mm
)
Observadas
Média Móvel 7
Previstas
Média Móvel 7
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 9
Figura 4 - Curvas de permanência de precipitação - agosto/novembro - Sub-bacia de Camargos
Figura 5 - Precipitação total observada e prevista - agosto/novembro - Sub-bacia de Camargos
A figura 6 apresenta os dados de precipitação total média observada e prevista, sem e com
remoção do viés, nos nove primeiros dias de cada previsão, para a sub-bacia de Camargos. É
possível verificar que, com a remoção do viés da previsão, os dados apresentam uma melhor
distribuição em relação à reta de 45º, bem como a média dos valores de precipitação prevista se
aproxima mais da média dos valores de precipitação observada.
CAMARGOS - Período Agosto/Novembro
y = 0,00392x2 + 0,42709xR2 = 0,99056
0
50
100
150
200
250
300
0 50 100 150 200 250 300
Precipitação total Prevista 9 dias - x - (mm)
Pre
cip
itação
to
tal
Ob
serv
ad
a 9
dia
s -
y -
(m
m)
146,2
y = x
CAMARGOS - Período Agosto/Novembro
0
50
100
150
200
250
300
1% 7% 13% 18% 24% 30% 36% 42% 48% 54% 60% 65% 71% 77% 83% 89% 95%
Pre
cip
itação
To
tal
9 d
ias (
mm
)
Prevista
Observada
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0
50
100
150
200
250
300
0 50 100 150 200 250 300
Precipitação Observada 9 dias (mm)
Pre
cipi
taçã
o P
revi
sta
9 di
as (
mm
)Camargos
47,9Média das Precipitações Previstas =
36,9Média das Precipitações Observadas =
P prevista > P observada =
P prevista ≤ P observada =
73%
27%
Sem remoção de viés
0
50
100
150
200
250
300
0 50 100 150 200 250 300
Precipitação Observada 9 dias (mm)
Pre
cipi
taçã
o P
revi
sta
9 di
as (
mm
)
Camargos
38,2Média das Precipitações Previstas =
36,9Média das Precipitações Observadas =
P prevista > P observada =
P prevista ≤ P observada =
56%
44%
Com Remoção de Viés
Figura 6 - Precipitação observada e prevista, sem e com remoção do viés, na sub-bacia de Camargos
A tabela 4 apresenta as constantes a e b e os correspondentes limites de aplicação das
equações de segundo grau obtidas para a remoção do viés da previsão de precipitação, para cada
sub-bacia e período analisado. Observa-se que, para as sub-bacias de Fazenda Capão Escuro e Porto
Colômbia, somente se fez a correção do viés para os meses de agosto a novembro.
Tabela 4 - Parâmetros das equações para remoção do viés da previsão de precipitação
3.4 Séries de vazões naturais e incrementais
As séries de vazões das sub-bacias referentes às estações fluviométricas (Porto dos Buenos,
Paraguaçu e Fazenda Capão Escuro) foram fornecidas por FURNAS.
No período entre 01/janeiro/95 a 31/dezembro/2001, foi utilizada a série de vazões naturais da
sub-bacia de Camargos, definida no projeto de revisão das séries de vazões da bacia do rio Grande,
desenvolvido pelo ONS [Braga et al. (2005); ONS/HICON (2004)]. Para o período posterior, a série
de vazões foi obtida pelo processo de modulação [ONS (2005)], a partir dos dados fluviométricos
observados nas estações do rio Grande em Madre de Deus de Minas e do rio Aiuruoca em Fazenda
Laranjeiras, utilizando tempos de viagem iguais a 14 e 15 horas, respectivamente.
A série de vazões incrementais da sub-bacia de Funil foi obtida pela diferença entre a série de
vazões naturais de Funil e a série de vazões naturais de Camargos, anteriormente mencionada e
1 - Camargos 0,00392 0,42709 146,2 0,00179 0,69219 172,0 0,00127 0,65057 275,1 0,00725 0,59979 55,2
2 - Funil 0,00443 0,44497 125,3 0,00072 0,80994 264,0 0,00225 0,57288 189,8 0,01544 0,26893 47,3
3 - Porto dos Buenos 0,00351 0,35244 184,5 0,00238 0,47241 221,7 0,00155 0,49249 327,4 0,00814 0,39126 74,8
4 - Paraguaçu 0,00341 0,47233 154,7 0,00203 0,63334 180,6 0,00308 0,52903 152,9 0,00795 0,48164 65,2
5 - Furnas 0,00119 0,52182 401,8 0,00204 0,47112 259,3 0,00152 0,51448 319,4 0,00745 0,44803 74,1
6 - Fazenda Capão Escuro 0,00487 0,43763 115,5 - - - - - - - - -
7 - Porto Colômbia 0,00037 0,74494 689,4 - - - - - - - - -
a bLimite (mm)
Limite (mm)
a bLimite (mm)
bLimite (mm)
a b
Sub-bacia
Período
Agosto/Novembro Abril/Julho
Período
Dezembro/Janeiro
Período
Fevereiro/Março
Período
a
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 11
devidamente propagada com tempo de viagem igual a 13 horas. Em alguns dias do período de
estiagem, foi necessária a realização de tratamentos específicos para eliminar valores extremamente
baixos e oscilações diárias injustificáveis.
Para obtenção da série de vazões incrementais da sub-bacia de Furnas, primeiro foi calculada
a vazão incremental bruta Furnas/Funil, obtida pela diferença entre a série de vazões naturais de
Furnas e a série de vazões naturais de Funil, devidamente propagada com tempo de viagem igual a
36 horas. O passo seguinte foi o tratamento da vazão incremental Furnas/Funil, com uso do
processo de modulação, a partir dos dados fluviométricos observados nas estações do rio Verde em
Porto dos Buenos e do rio Sapucaí em Paraguaçu, utilizando tempos de viagem iguais a 12 e 10
horas, respectivamente. Por fim, as vazões incrementais da sub-bacia de Furnas foram obtidas pela
diferença entre as vazões incrementais tratadas Furnas/Funil e as vazões observadas em Porto dos
Buenos e em Paraguaçu, devidamente propagadas.
A série de vazões incrementais da sub-bacia de Porto Colômbia foi calculada com
metodologia semelhante à Furnas, utilizando para modulação as estações do rio Sapucaí Paulista em
Fazenda Capão Escuro e do rio Uberaba em Conceição das Alagoas.
4 O MODELO SMAP
4.1 Concepção do modelo
O modelo SMAP (Soil Moisture Accounting Procedure) é um modelo conceitual de
simulação hidrológica, do tipo transformação chuva-vazão [Lopes et al. (1982)]. O modelo foi
aplicado com sucesso em diversas bacias brasileiras e vem sendo utilizado pelo ONS, desde janeiro
de 2008, em combinação com o modelo estocástico multivariado “MEL”, para a previsão de vazões
uma semana à frente da bacia incremental da UHE Itaipu, no rio Paraná [Fadiga et al. (2008)].
Além do bom desempenho nesta bacia, tanto na fase de testes como na fase de operacionalização, a
escolha desse modelo para aplicação à bacia do alto/médio rio Grande deve-se: à facilidade de
entendimento da metodologia e do funcionamento do modelo e de seus parâmetros, o que permite a
realização de alguns ajustes/aprimoramentos, quando necessário; e à facilidade na obtenção dos
dados de entrada necessários e na aplicação para a grande maioria das bacias do SIN.
O modelo SMAP, em sua versão original, é constituído por três reservatórios lineares
hipotéticos representando: o reservatório do solo (Rsolo); o reservatório da superfície (Rsup),
correspondente ao escoamento superficial da bacia; e o reservatório subterrâneo (Rsub),
correspondente ao escoamento subterrâneo da bacia (escoamento de base). A concepção básica do
modelo, bem como sua formulação, já foi apresentada em diversos trabalhos [Lopes et al. (1982);
ONS (2008)].
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 12
Para a aplicação do modelo SMAP à bacia do alto/médio rio Grande, nas sub-bacias de Porto
dos Buenos e de Paraguaçu, constatou-se a necessidade de inclusão de um quarto reservatório, com
vistas à simulação de importantes extravasamentos pelas margens e de amortecimentos nos picos
das cheias, em eventos de fortes chuvas. Este quarto reservatório linear representaria o
armazenamento e o escoamento de água nas planícies de inundação existentes nas duas sub-bacias.
A figura 7 apresenta o esquema do modelo SMAP aplicado à bacia do rio Grande.
Figura 7 - Esquema do modelo SMAP aplicado à bacia do rio Grande (4 reservatórios)
Outra alteração em relação à configuração original do modelo SMAP, diz respeito a
coeficientes de representação temporal que foram introduzidos para o cálculo da precipitação média
na bacia a ser considerada pelo modelo - P(t), conforme a seguinte expressão:
P(t) = Pb(t - 3) . kt(-3) + Pb(t - 2) . kt(-2) + Pb(t - 1) . kt(-1) + Pb(t) . kt(0) + Pb(t + 1) . kt(+1) (3)
Onde: Pb(t): precipitação média observada na bacia (mm) no dia t, obtida a partir das observações
das estações pluviométricas da bacia e de seus respectivos pesos ke.
kt(-3) ; kt(-2) ; .. ; kt(+1): coeficientes de representação temporal.
4.2 Etapa de calibração/validação do modelo
Para o modelo SMAP aplicado à bacia do alto/médio rio Grande, os parâmetros calibrados,
para cada sub-bacia estudada, foram os seguintes:
Str: capacidade de saturação do solo (mm).
Capc: capacidade de campo (%).
Crec: parâmetro de recarga subterrânea (%).
Rsub
Kkt
Rsolo
Str
Crec
Cap
c
Rec
Rsup2
Ed2K3t
Ed
RsupK1t
K2tH
Eb
Er P - Es
Es
PEp
Marg
RsubRsub
Kkt
Rsolo
Str
Crec
Cap
c
Rec
Rsup2
Ed2
Rsup2
Ed2K3t
Ed
RsupK1t
K2tH
Eb
ErEr P - EsP - Es
Es
PPEpEp
Marg
Qcalc
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 13
K2t: constante de recessão do escoamento superficial (dia).
Kkt: constante de recessão do escoamento básico (dia).
H: altura representativa para início de escoamento em planícies (mm).
K1t: constante de recessão do escoamento para planícies (dia).
K3t: constante de recessão do escoamento da superfície/planícies (dia).
ke1 ; ke2 ; .. ; ken: coeficientes de representação espacial de cada posto pluviométrico.
kt(-3) ; kt(-2) ; .. ; kt(+1) : coeficientes de representação temporal.
kep: coeficiente de ajuste da evapotranspiração potencial média da sub-bacia.
Vale ressaltar que os cinco primeiros parâmetros (Str ; Capc ; Crec ; K2t e Kkt) são os
mesmos a calibrar quando se utiliza a versão original do modelo SMAP com três reservatórios. Os
três parâmetros seguintes (H ; K1t e K3t) são decorrentes da incorporação do quarto reservatório,
que representa o eventual extravasamento pelas margens e escoamento pelas planícies de
inundação. Os coeficientes ke; kt e kep devem ser calibrados com vistas a uma melhor
representatividade dos dados de precipitação média da sub-bacia - P(t) e de evapotranspiração
potencial média da sub-bacia - Ep(t), a serem utilizados pelo modelo. Neste estudo, optou-se por
fixar o valor da abstração inicial – Ai em 2,0mm.
Para as fases de calibração e validação do modelo, foram utilizados dois conjuntos distintos
de 4 anos de dados. Na seleção destes anos, buscou-se, sempre que possível, situações hidrológicas
diversificadas na bacia, ou seja, períodos com cheias anuais baixa, média e alta. A figura 8
apresenta, como exemplo, um dos anos utilizados para a calibração dos parâmetros da sub-bacia de
Camargos. Além dos hidrogramas observado e calculado pelo modelo SMAP, é apresentado o
hidrograma do escoamento básico, proveniente do reservatório subterrâneo.
Vazões (m3/s)
0
100
200
300
400
500
600
1/8/2003 1/9/2003 1/10/2003 1/11/2003 1/12/2003 1/1/2004 1/2/2004 1/3/2004 1/4/2004 1/5/2004 1/6/2004 1/7/2004
Q basica calc Q calc Q obs
Figura 8 - Calibração dos parâmetros do modelo - Período 2003/2004 - Sub-bacia de Camargos
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 14
A tabela 5 apresenta os parâmetros finais e os resultados obtidos na calibração do modelo para
cada uma das sete sub-bacias consideradas nos estudos.
Tabela 5 - Parâmetros e resultados obtidos na calibração do modelo
4.3 Etapa de testes de desempenho do modelo
A etapa de testes de desempenho do modelo é realizada com períodos distintos dos utilizados
na etapa anterior. O objetivo é a verificação do desempenho do modelo em situações semelhantes às
que ocorrerão na fase de operacionalização do mesmo (operação em tempo real), com uma rede de
estações pluviométricas de menor densidade (só as que disponibilizam dados diariamente) do que a
utilizada na calibração/validação, e com a incorporação das previsões de precipitação para dez dias
à frente (de forma diferente da etapa anterior, onde foram utilizados apenas valores observados de
precipitação).
O modelo SMAP opera de forma discreta no tempo. A cada intervalo de tempo, há
incorporação de precipitação média na bacia, contabilização de perdas por evaporação, liberação de
escoamentos e atualização do nível d’água em cada um dos quatro reservatórios. Após algum tempo
de uso, é normal a ocorrência de desvios entre o hidrograma de vazões observadas e o hidrograma
de vazões calculadas pelo modelo. Em relação às vazões calculadas, esses desvios, em geral, são
devidos aos seguintes fatores: erro ou falha nos dados observados de precipitação; não
representatividade ou baixa densidade da rede de estações pluviométricas considerada na etapa de
testes; não representatividade dos dados de evapotranspiração potencial; deficiência dos parâmetros
do modelo obtidos nas etapas de calibração/validação; e deficiência nas formulações básicas do
modelo.
SUB-BACIACamargos Funil P.dos Buenos Paraguaçu Furnas Faz.C.Escuro P.Colômbia
Str 100 125 110 115 85 240 115
Capc 42 46 42 50 44 46 42
Crec 100 100 100 100 100 100 100
K2t 5,5 3,9 4,0 5,5 6,5 5,0 8,0
Kkt 150 135 150 140 140 80 100
H - - 50 55 - - -
K1t - - 28 45 - - -
K3t - - 10 0,2 - - -
kt(-3) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
kt(-2) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
kt(-1) 0,00 0,05 0,36 0,36 0,25 0,15 0,05
kt(0) 0,33 0,50 0,34 0,44 0,25 0,25 0,11
kt(+1) 0,67 0,45 0,30 0,20 0,50 0,60 0,84
kep 1,01 1,10 0,95 0,97 1,07 0,92 1,10Erro médio % 11 12 11 11 16 11 12
Erro médio m3/s 14 17 15 19 38 9 34
PARÂMETRO
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 15
Caso esses desvios não sejam corrigidos, ou seja, caso não haja um ajuste razoável entre o
hidrograma de vazões observadas e o hidrograma de vazões calculadas pelo modelo em um período
significativo de dias anteriores ao dia da previsão, a qualidade das vazões previstas poderá ser
comprometida. Este ajuste pode ser obtido a partir da reinicialização do modelo com a aplicação de
dois métodos: o ajuste das variáveis de estado iniciais do modelo; e o ajuste dos valores da
precipitação observada a serem considerados pelo modelo.
O primeiro método baseia-se no emprego de um algoritmo de otimização para o cálculo das
variáveis de estado - Rsub, Rsup e Rsup2, no início do período de 31 dias anteriores ao dia da
previsão, com vistas à minimização dos desvios entre os hidrogramas observado e calculado neste
período. O segundo método, utilizado com sucesso nas bacias incrementais da UHE Lajeado [De
Jesus (2001)] e da UHE Itaipu [Fadiga et al. (2008)], consiste no uso do modelo de forma reversa,
calculando-se, por meio de um algoritmo de otimização, os valores da precipitação observada -
P*(t) a serem considerados pelo modelo, também com vistas à minimização dos desvios entre os
hidrogramas observado e calculado no período de 31 dias anteriores ao dia da previsão. Nos dois
métodos, é conveniente impor limites, tanto no ajuste das variáveis de estado iniciais, como no
ajuste dos valores de precipitação a serem considerados no modelo, fixando-se percentuais mínimos
e máximos a serem aplicados, respectivamente, nas variáveis de estado, calculadas na simulação da
semana anterior ao dia da previsão, e nas chuvas médias na bacia, calculadas com base nas estações
consideradas na etapa de testes. Neste estudo, optou-se pela utilização concomitante dos dois
métodos, já que o desempenho de ajuste das variáveis de estado é melhor no período de chuvas
fracas ou nulas e o desempenho do método de ajuste das chuvas médias nas sub-bacias é melhor no
período de chuvas de intensidade moderada e forte.
5 RESULTADOS
Os testes de desempenho do modelo SMAP, aplicado à bacia do alto/médio Grande,
envolveram um total de 208 simulações (4 anos x 52 semanas) para cada uma das sete sub-bacias
consideradas nos estudos, utilizando a metodologia descrita anteriormente. Os testes foram
realizados considerando sempre a quarta-feira como o dia da elaboração da previsão, com um
horizonte de dez dias à frente. Nos processos do ONS, considera-se sempre a semana operativa de
sábado a sexta-feira. Dessa forma, as vazões médias previstas para a próxima semana operativa
foram calculadas com base nas médias das vazões diárias previstas para o período entre o quarto e o
décimo dia da previsão.
A metodologia atual utilizada para obtenção da previsão de vazões da próxima semana
operativa (uma semana à frente), na bacia do alto/médio rio Grande, é realizada a partir do uso do
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 16
modelo estocástico univariado PREVIVAZ [CEPEL (2004)], que não considera informações de
previsão de precipitação e nem informações de chuva e vazões observadas em estações existentes
na bacia. As previsões de vazões das bacias incrementais, necessárias para alimentação dos modelos
utilizados pelo ONS nos processos de programação e planejamento da operação do SIN, são
calculadas pela diferença entre as previsões de vazões totais obtidas em locais de aproveitamentos.
As comparações entre os desempenhos da metodologia atual e da nova metodologia
(metodologia proposta com correção do viés da previsão de precipitação) foram feitas em relação às
vazões previstas na sub-bacia de Camargos e nas bacias incrementais Funil/Camargos, Furnas/Funil
e Porto Colômbia/Furnas. Além dessas quatro bacias, foram comparadas as vazões previstas para a
bacia total de Furnas, apenas para auxílio à análise dos resultados das duas metodologias, já que os
modelos de programação e planejamento da operação, utilizados pelo ONS, trabalham com séries
de vazões incrementais, sendo as mesmas obtidas, atualmente, por diferença entre as previsões de
vazões totais.
As figuras 9 a 12 apresentam as previsões de vazões da próxima semana operativa (4º ao 10º
dia) para a bacia total de Furnas, em cada um dos quatro anos utilizados na etapa de testes de
desempenho. Na figura 13 observa-se a comparação dos resultados obtidos nas previsões com as
duas metodologias. A figura 14 apresenta os erros médios absolutos referentes às previsões com as
duas metodologias. A tabela 6 apresenta os principais resultados obtidos nas simulações das
previsões de vazões da próxima semana operativa, com a aplicação da metodologia atual e da nova
metodologia.
1996/97
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
07/0
8/96
21/0
8/96
04/0
9/96
18/0
9/96
02/1
0/96
16/1
0/96
30/1
0/96
13/1
1/96
27/1
1/96
11/1
2/96
25/1
2/96
08/0
1/97
22/0
1/97
05/0
2/97
19/0
2/97
05/0
3/97
19/0
3/97
02/0
4/97
16/0
4/97
30/0
4/97
14/0
5/97
28/0
5/97
11/0
6/97
25/0
6/97
09/0
7/97
23/0
7/97
Vazã
o (
m3/s
)
Observado
Metodologia Atual
Metodologia Proposta
FURNAS TOTAL
Figura 9 - Previsão de vazões da próxima semana operativa - Bacia total de Furnas - 1996/97
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 17
1997/98
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
06/0
8/97
20/0
8/97
03/0
9/97
17/0
9/97
01/1
0/97
15/1
0/97
29/1
0/97
12/1
1/97
26/1
1/97
10/1
2/97
24/1
2/97
07/0
1/98
21/0
1/98
04/0
2/98
18/0
2/98
04/0
3/98
18/0
3/98
01/0
4/98
15/0
4/98
29/0
4/98
13/0
5/98
27/0
5/98
10/0
6/98
24/0
6/98
08/0
7/98
22/0
7/98
Vazã
o (
m3/s
)
Observado
Metodologia Atual
Metodologia Proposta
FURNAS TOTAL
Figura 10 - Previsão de vazões da próxima semana operativa - Bacia total de Furnas - 1997/98
2001/02
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
01/0
8/01
15/0
8/01
29/0
8/01
12/0
9/01
26/0
9/01
10/1
0/01
24/1
0/01
07/1
1/01
21/1
1/01
05/1
2/01
19/1
2/01
02/0
1/02
16/0
1/02
30/0
1/02
13/0
2/02
27/0
2/02
13/0
3/02
27/0
3/02
10/0
4/02
24/0
4/02
08/0
5/02
22/0
5/02
05/0
6/02
19/0
6/02
03/0
7/02
17/0
7/02
Vazã
o (
m3/s
)
Observado
Metodologia Atual
Metodologia Proposta
FURNAS TOTAL
Figura 11 - Previsão de vazões da próxima semana operativa - Bacia total de Furnas - 2001/02
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 18
2002/03
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
07/0
8/02
21/0
8/02
04/0
9/02
18/0
9/02
02/1
0/02
16/1
0/02
30/1
0/02
13/1
1/02
27/1
1/02
11/1
2/02
25/1
2/02
08/0
1/03
22/0
1/03
05/0
2/03
19/0
2/03
05/0
3/03
19/0
3/03
02/0
4/03
16/0
4/03
30/0
4/03
14/0
5/03
28/0
5/03
11/0
6/03
25/0
6/03
09/0
7/03
23/0
7/03
Vazã
o (
m3/s
)
Observado
Metodologia Atual
Metodologia Proposta
FURNAS TOTAL
Figura 12 - Previsão de vazões da próxima semana operativa - Bacia total de Furnas - 2002/03
Figura 13 - Resultados obtidos com as duas metodologias - Bacia total de Furnas
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
1/8
15/8
29/8
12/9
26/9
10/1
0
24/1
0
7/11
21/1
1
5/12
19/1
2
2/1
16/1
30/1
13/2
27/2
13/3
27/3
10/4
24/4 8/5
22/5 5/6
19/6 3/7
17/7
Mé
dia
do
s E
rro
s A
bs
olu
tos
Metodologia Atual
Met. Atual Média Móvel 7
Metodologia Proposta
Met. Proposta Média Móvel 7
FURNAS TOTAL
Médias dos Erros AbsolutosMet. Atual Met. Proposta GANHO
Agosto / Novembro 24,2% 18,8% 5,4%Dezembro / Janeiro 25,6% 14,1% 11,4%Fevereiro / Março 20,2% 11,2% 9,0%
Abril / Julho 12,8% 7,4% 5,3%Ano 19,9% 13,0% 7,0%
Período
Figura 14 - Média dos erros absolutos na previsão de vazões - Bacia total de Furnas
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500
Vazão Observada Semana Operativa (m3/s)
Vaz
ão P
revi
sta
Sem
ana
Ope
rativ
a (m
3 /s)
FURNAS TOTAL Metodologia Atual
R2 = 0,766
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 4.500
Vazão Observada Semana Operativa (m3/s)
Vaz
ão P
revi
sta
Sem
ana
Ope
rativ
a (m
3 /s)
FURNAS TOTAL Metodologia Proposta
R2 = 0,879
XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 19
Erros Médios Coef. de determin. Erros maiores
r 2 que 40%
Metodologia Metodologia Metodologia Diminuição Melhoras Piorasdos erros maiores maioresmédios que 30% que 30%
(%) (%) (%) (%) (%) (%) (%) (%)
Camargos 18,6 16,0 0,753 0,768 12 8 2,6 59 10 3
Incremental Funil/Camargos 25,8 15,6 0,471 0,632 19 10 10,2 63 15 3
Incremental Furnas/Funil 22,6 14,8 0,766 0,882 15 7 7,8 61 13 3
Incremental Porto Colômbia/Furnas 41,9 14,8 0,605 0,858 37 6 27,1 79 33 1
Furnas Total 19,9 13,0 0,766 0,879 14 5 7,0 63 12 2
PropostaFreq.
MAPEGanhos c/ uso da metodologia proposta
Atual Proposta
Bacia
Atual Proposta Atual
Tabela 6 - Principais resultados obtidos nas simulações das previsões de vazões da próxima semana
6 CONCLUSÕES
A metodologia proposta para a previsão de vazões da próxima semana operativa envolve: a
utilização do modelo determinístico SMAP, de forma semiconcentrada (dividido em sub-bacias),
com o uso de observações de estações fluviométricas e pluviométricas existentes na bacia; o uso de
informações de previsão de precipitação (com remoção de viés); a reinicialização do modelo para
proporcionar um ajuste adequado entre os hidrogramas de vazões observadas e calculadas pelo
modelo no período anterior ao dia da previsão; a utilização de séries de vazões incrementais e, em
conseqüência, a previsão direta das vazões incrementais.
Após as simulações da aplicação desta metodologia proposta, pode-se concluir que:
• De forma geral, o uso de previsões de precipitação traz ganho significativo nos resultados das
previsões de vazões. Contudo, foi verificado um viés positivo nas previsões fornecidas pelo modelo
ETA (tendência de superestimar os valores da precipitação prevista), sendo desenvolvida, nestes
estudos, uma metodologia para identificação e eventual remoção deste viés, que poderá ser utilizada
em qualquer bacia do SIN.
• A comparação entre os desempenhos da metodologia proposta e da metodologia atual mostrou, de
forma geral, um ganho significativo nos resultados das previsões das vazões da próxima semana
operativa com o uso da metodologia proposta, a saber: redução significativa dos erros médios da
previsão de vazões em todas as bacias e em todos os períodos do ano; e redução significativa da
ocorrência de grandes erros da previsão.
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XVIII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos 20
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