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  • Direito Fiscal 2006/07

    1 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    CAPTULO I O DIREITO FISCAL, TRIBUTRIO E FINANCEIRO

    O imposto uma transferncia de recursos do sector privado para o Estado. O objectivo uma afectao ptima dos recursos.

    Se acharmos que o Estado deve garantir um conjunto de obrigaes, temos que estabelecer um preo a pagar por elas. Esse preo so os impostos e determina se as polticas sociais do Estado so mais ou menos intervenientes, se o Estado mais ou menos providente.

    O trabalho mais localizvel do que o capital e por isso a presso fiscal sobre ele maior.

    O caminho ser cada vez mais impostos sobre o consumo (IVA. imposto indirecto).

    CAPTULO II - O IMPOSTO

    1. CONCEITO DE IMPOSTO

    O imposto uma prestao, a estrutura jurdica do imposto obrigacional.

    Objecto imediato: obrigao de pagar; objecto mediato: prestao em si.

    Os elementos da estrutura do conceito jurdico do imposto tambm incluem sujeito, objecto, vnculo e garantia.

    O imposto tem natureza patrimonial ou pecuniria, no tem carcter de sano.

    devido a entes pblicos para a realizao dos seus fins e que so os beneficirios: Estado, regies autnomas, autarquias.

    So ainda cobrados em Portugal mas entregues Comunidade Europeia impostos aduaneiros (cobrados sobre as importaes).

    H tambm institutos pblicos sem base territorial que cobram impostos (ex: Federao Portuguesa de Futebol). diferente dos grandes cobradores: entidades patronais, comerciantes, CTT,...

    Do ponto de vista estritamente jurdico, o imposto dever definir-se como prestao definitiva e unilateral, estabelecida pela lei a favor duma pessoa colectiva de direito pblico, para a realizao de fins pblicos, e a qual no constitui sano de um acto ilcito. De acordo com este autor, possvel detectar na definio, trs elementos caracterizadores distintos: o elemento objectivo, o elemento subjectivo e o elemento teleolgico. Dentro do elemento objectivo, podem-se encontrar diversos sub-elementos que convm distinguir e analisar individualizadamente. Objectivamente o imposto ser:

    Prestao relao jurdica obrigacional onde h um sujeito activo e um sujeito passivo;

    Dao em pagamento sujeito passivo entrega certo bem em pagamento dum imposto

    Definitiva no h lugar a qualquer reembolso do contribuinte relativamente prestao paga a ttulo de imposto; as importncias que o sujeito passivo transfere para o sujeito activo no lhes sero restitudas, a no ser que tenha sido indevidamente tributado ou que, por lapso, lhe haja sido exigido imposto superior ao efectivamente devido; esta ideia de definitividade no contradiz o chamado "reembolso" do IRS (calculado com base numa taxa);

    Unilateral - permite distinguir imposto de taxa; a prestao decorrente do imposto diz-se unilateral porque a ela no corresponde qualquer contraprestao por parte do sujeito activo;

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    2 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    por oposio, a taxa, que tem todas as caractersticas do imposto, dele difere na medida em que bilateral;

    Situaes em que podem surgir taxas:

    a) Taxas burocrticas;

    b) Domnio pblico: o conjunto dos bens pblicos que no podem ser objecto de transaces;

    c) Licenas: Aplicam-se s actividades legais mas no livres; ou seja, exige-se o preenchimento de certos requisitos conducentes obteno de uma licena para certo efeito.

    Estabelecida por lei - o nascimento da obrigao do imposto e a revelao do seu contedo resulta exclusivamente da lei; a vontade das partes irrelevante; embora possa depender da vontade dos particulares o praticar ou no o acto tributvel, o contedo dessa obrigao situa-se fora do campo da autonomia privada sempre definido pela lei; o carcter legal da obrigao fiscal torna-a irrenuncivel, imodificvel, pontualmente cumprida e indisponvel.

    No constituir sano dum acto ilcito distingue-se das coimas e das multas, as quais, consistindo igualmente numa prestao definitiva de direito pblico, visam punir certas violaes da lei cuja gravidade deve ser sancionada pela exigncia de determinadas importncias aos seus autores. O imposto no sanciona.

    Para a realizao de fins pblicos - h impostos que so criados com finalidades diferentes: impostos fiscais: aqueles que tm uma finalidade imediata (a obteno de receitas que permitam a cobertura de despesas pblicas); impostos extra fiscais: apenas mediatamente vo obter receitas para financiar despesas pblicas; impostos proibitivos: pretendem incentivar determinados comportamentos. O sujeito activo a Administrao Central ou os Municpios; o ente pblico pode ter base territorial ou base institucional.

    2. DISTINO DE FIGURAS AFINS

    2.1 - Fronteira entre imposto e taxa esta distino tem uma aplicao prtica (ao contrrio do que sucede com a distino entre taxa e preos);

    Os impostos carecem de aprovao parlamentar;

    Principais questes:

    As autarquias prestam um elevado nmero de bens divisveis aos seus cidados, o que as leva a criar taxas sistematicamente (exemplo: as taxas dos anncios e dos reclames luminosos); isto gera uma licena (passvel do pagamento de uma taxa); a questo agrava-se quando as mesmas Cmaras, depois, vm cobrar uma taxa do anncio (os tribunais tributrios consideram-na como um imposto, logo inconstitucional);

    Primeira ideia: ao pagamento de uma taxa contrape-se sempre a prestao de um servio ou acesso a esse servio; sem haver a possibilidade de existncia desse servio, ento estaremos na presena de um imposto; por outro lado, h tambm a ideia tradicional da proporcionalidade entre o servio e a taxa cobrada (pelo menos no deve haver desproporcionalidade entre o servio e a taxa cobrada); na medida do possvel, a taxa deve corresponder ao custo do servio.

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    A taxa tem uma contrapartida directa (bilateral). Quem mais cria taxas so os entes pblicos menores, nomeadamente as autarquias (no podem criar impostos). So tambm os maiores criadores e prestadores de servios (nomeadamente na rea imobiliria).

    Na taxa h uma contrapartida especfica; no imposto no h. Taxas so no fundo preos que se pagam para servios genuinamente pblicos.

    A contrapartida no tem que ser algo que se procurou mas a pessoa deu causa ao servio.

    Ex: algum que julgado por bater num polcia sofrer a sano aplicvel nomeadamente o pagamento de uma taxa; ter um BI; licena de construo de uma casa.

    O montante da taxa no tem que ser correspondente ao custo do servio ou sua utilidade. A taxa pode ter como objectivo restringir o consumo do servio em questo taxa moderadora.

    Mas deve haver uma regra. Princpio da proporcionalidade (constitucional). Os tribunais cobram a taxa consoante o valor da aco proposta mesmo quando o servio prestado exactamente igual.

    O problema que se pretende manusear as taxas como verdadeiros impostos.

    H que distinguir entre taxas e preos pblicos (ou tarifas). As empresas municipais no tm poderes para criar taxas mas sim tarifas. Preos, regulados pelo mercado, que so receitas de direito privado.

    Ex: Quanto RTP, quando se achou que era igual s televises privadas a nvel de publicidade foi terminada a cobrana da taxa de televiso.

    H 3 reas que no temos dvidas que so taxas:

    1. Utilizao privada do domnio pblico;

    2. Licenas e autorizaes (permissivas do exerccio de um direito)

    3. Servios (comisso de Bis, passaportes,...)

    Ex: parar o carro na rua e pagar o parqumetro. uma taxa. Utilizao privada do domnio pblico.

    Parar o carro num parque da Cmara. uma tarifa. J estamos no domnio pblico. Sobre estes incide IVA.

    Contribuies especiais

    Aparecem em 2 situaes e s pontualmente.

    Em situaes em que existem obras pblicas que beneficiam particularmente uma regio, os proprietrios de prdios rsticos pagam uma contribuio especial. Este mecanismo serve para evitar a especulao imobiliria e para equilibrar os mecanismos de mercado (oferta/ procura) pois por vezes os proprietrios no tm possibilidades de pagar o imposto e colocam os prdios venda. Esta figura hbrida pois no h uma contrapartida especfica mas h um benefcio indirecto.

    Trata-se de um imposto at porque a capacidade contributiva aumenta.

    Imposto de camionagem

    Os camies (indstria) estragam as estradas e por isso pagavam um imposto especial que era afecto recuperao das estradas.

    Embora a prioridade dos impostos seja a criao de receitas para o Estado, a sua distribuio obedece a um critrio que no o das receitas. A origem dos impostos legal e correctiva.

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    Nota: As obrigaes tm origem na lei ou na autonomia privada. No caso dos impostos tm origem na lei pois no h vontade na formao da obrigao. Podem ter finalidades extra-fiscais (preveno de vcios com tabaco, lcool,...).

    As finalidades extra-fiscais dos impostos acentuam hoje pela negativa, atravs dos benefcios fiscais.

    A poltica econmica feita essencialmente atravs dos impostos tudo o resto muito limitado pela CE.

    Nota: S para grandes projectos de investimento (superiores a 1 milho de contos) h possibilidade de um efeito fiscal.

    Temos que distinguir a criao dos impostos do mecanismo que vai possibilitar a sua aplicao.

    Na lei fiscal h 4 pontos fundamentais:

    1 - Normas de incidncia

    Pessoal, subjectiva. Sujeito passivo da obrigao do imposto aquele que tem de entregar o pagamento na tesouraria; contribuinte aquele que a lei pretende que o imposto atinja.

    Real, objectiva. Manifestao de riqueza que se quer tributar, varia de imposto para imposto (consumo, patrimnio,...). Temos que saber quais so as componentes das manifestaes de riqueza.

    Nota: quem est sujeito a imposto o sujeito passivo.

    2 - Taxas (como percentagem). Praticamente todos os impostos se calculam com base em taxas (o petrleo era calculado com base na quantidade).

    3 - Benefcios fiscais. Nem todos esto nos cdigos; podem ser de vrios tipos;

    Caracterizam-se por constiturem uma excepo regra (por razes no fiscais). Distinguem-se de normas de definio pela negativa de no incidncia.

    4 - Normas de definio pela negativa de no incidncia.

    2.2. O imposto e a Segurana Social - a Segurana Social representa o principal custo tributrio da prestao do trabalho e paga pela entidade patronal em partes no iguais; esta contribuio est autonomizada por razes histricas: comeou por ser uma iniciativa dos prprios trabalhadores (meados do sculo XIX), tendo em vista a preveno dos riscos por doena (os mineiros ingleses); posteriormente, o Estado chamou a si a prestao, recorrendo a um triplo financiamento: entidade patronal, Estado e trabalhador: era a lgica do seguro; este sistema manteve-se entre ns praticamente at finais dos anos sessenta; com Marcelo Caetano e, principalmente, com o 25 de Abril, consagrou-se o direito segurana Social (direito constitucional); assiste-se decadncia do sistema, ainda que subsistam alguns daquela modalidade (a Ordem do Advogados);

    Contudo, actualmente a regra a do regime geral; consequncia: passagem de um sistema de capitalizao (lgica dos seguros) para um sistema de distribuio (em que as quotas actuais destinam-se a pagar aos reformados actuais); contudo, o nmero de activos no acompanha o nmero de reformados. A Segurana Social foi, lentamente, integrando-se no regime normal das contribuies para o Estado, aproximando-se do regime dos impostos. Tal circunstncia esbate e atenua a distino entre imposto e contribuio para a segurana social; por este motivo, certos pases fizeram a integrao da segurana social nos impostos; deste modo, podemos hoje afirmar que, no obstante a diferena de regime jurdico, a segurana social um imposto (para certos autores, trata-se de uma contribuio para-fiscal). A este propsito releva a pertinente questo levantada em torno da Ordem dos Advogados, para a qual os seus

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    associados canalizam duas contribuies: a quota uma contribuio tipo segurana social na lgica do seguro; relativamente quota propriamente dita, questiona-se: ou a Ordem dos Advogados uma pessoa pblica, e nesse caso, a quota um imposto.

    Processo de vida do imposto

    O lanamento define a incidncia e a taxa a aplicar ao sujeito passivo. Para proceder liquidao necessrio calcular a colecta: colecta = matria colectvel * taxa.

    Esta tarefa feita maioritariamente pelos contribuintes. S no caso da contribuio Autrquica h uma administrao activa e um contribuinte passivo.

    A liquidao importante porque um acto definitivo e executrio (mesmo quando operado pelo prprio). A pessoa s pode reagir depois desse acto, s aqui acontece o efeito externo (salvo as excepes previstas na lei).

    Primeiro define-se o se e quanto do imposto: determinar o que d origem ao imposto, sujeitos activos e passivos, montante e eventuais benefcios ficais (no h imposto ou h menos imposto. Depois h a aplicao, efectivao, administrao ou gesto.

    Traduz-se nas operaes de:

    - Lanamento (identificam-se os contribuintes (lanamento subjectivo) e determina-se a matria colectvel ou tributvel e a taxa (lanamento objectivo).

    - Liquidao (determina-se a colecta aplicando a taxa matria colectvel; a colecta vir a coincidir com o imposto a pagar a menos que haja lugar a dedues colecta, caso em que a liquidao tambm abarca esta operao.

    - Cobrana dos impostos (pagamento).

    Exemplo de liquidao lato sensu do IRS:

    1 - Apuramento do rendimento bruto por categoria

    2 - Deduo relativamente a cada categoria das despesas realizadas para a obteno do respectivo rendimento, tornando esta uma categoria lquida

    3 - Englobamento dos diversos rendimentos lquidos apurados, obtendo o rendimento lquido total

    4 - O abatimento por despesas com penses a que o sujeito passivo esteja obrigado por sentena judicial ou por acordo extra-judicialmente homologado, determinando-se o rendimento colectvel

    5 - Aplicao do quociente conjugal no caso de contribuintes casados

    6 - Determinao da taxa aplicvel

    7 - Aplicao desta ao rendimento colectvel, apurando a colecta

    8 - Dedues colecta, entre as quais justamente se contam as despesas de carcter pessoal das famlias adstritas realizao dos direitos sociais sade, educao, habitao e segurana social, dedues que nos do o imposto a pagar.

    3. CLASSIFICAO DOS IMPOSTOS

    A distino mais vulgar faz-se em funo da capacidade contributiva e distingue:

    - Impostos Sobre o Rendimento / Patrimnio (incidem sobretudo sobre o trabalho, nomeadamente por conta de outrem) e cada vez menos sobre o capital que se move com uma

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    rapidez alucinante. Logo podemos questionar se este o sistema mais justo e ou se ser mais justa a tributao sobre o consumo.

    - Impostos sobre Consumo - sobre manifestaes de aquisio de bens (ex: IMT). No se sente tanto o seu pagamento; so injustos na medida em que no olham a quem paga. A nvel internacional h uma grande recuperao dos impostos indirectos.

    3.1. Impostos directos e impostos indirectos Trata-se de uma distino intuitiva e sem grande rigor cientfico. Nos impostos directos tributa-se um rendimento ou um patrimnio; nos impostos indirectos tributa-se a capacidade de se fazer despesa (ou consumo);

    Nos primeiros, existe a figura da reteno na fonte (que constitui uma espcie de anestesia fiscal) e no so repercutveis (uma excepo: a consulta ao mdico com recibo ou sem recibo vai condicionar o custo da mesma);

    Nos segundos, existe tambm uma espcie de anestesia fiscal, na medida em que o imposto est integrado no valor do bem, sendo repercutveis (ou seja, quem vende ou presta um servio tendencialmente integra o imposto no montante; quem o vai suportar o consumidor final).

    Dentro dos impostos directos, temos os que incidem sobre o rendimento (exemplos: o IRS e o IRC) e os que incidem sobre o patrimnio (exemplo: a Contribuio Autrquica). No mbito dos impostos indirectos, relevam os que incidem sobre a despesa ou o consumo, como por exemplo, o IVA e o IA.

    uma distino mais econmica.

    Os impostos directos no so custos para as empresas. No clculo do lucro no entra o IRC, tributado aps o apuro do lucro, no fundo mais um scio e no um custo.

    Os impostos indirectos so custos das empresas. Quando a empresa compra gasleo paga o imposto.

    O imposto directo suportado pelo contribuinte (caso dos impostos sobre o trabalho).

    O imposto indirecto pode ser suportado por outrem (exemplo: uma loja compra por 100 + IVA e, se quiser ganhar 50%, vai vender a 150 + IVA, visto no ser um critrio jurdico; exemplo: um mdico que tem preos com e sem IVA (estabelece quanto quer ganhar limpo.

    3.2. Impostos de obrigao nica e impostos continuados o trabalho convencionalmente uma realidade que permanece ao longo dos tempos (tributao peridica, normalmente anual, permite uma actividade contributiva repetitiva; actualmente, o princpio da auto-declarao vem aliviar aquela actividade administrativa). So impostos continuados os sobre o trabalho, lucros das empresas, arrendamentos; por outro lado, outros impostos so irrepetveis (exemplo: o imposto sucessrio); tambm os impostos sobre as despesas, embora repetitivos, so autnomos (exemplo: uma casa pode ser vendida seis vezes, o que dar lugar ao pagamento de seis IMT): so impostos de obrigao nica ou autnoma.

    Os impostos continuados so peridicos.

    A importncia desta distino hoje desapareceu (menos no pagamento da IMT).

    Importncia prtica: existem impostos que incidem sobre factos geradores continuados (por exemplo, os rendimentos do trabalho incidem sobre o perodo de um ano mas o facto prolonga-se por diversos anos (a base anual (imposto peridico).

    Obrigao nica (acontece sobre um facto isolado e nico (comprar uma refeio pago IVA nunca mais volto a pagar, irrepetvel) - so basicamente os impostos indirectos. So factos de gerao instantnea.

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    3.3. Impostos locais, regionais e nacionais - sempre que o sujeito activo so os Municpios (caso do IMT (Imposto sobre as Transmisses Onerosas de Imveis), IMI (Imposto Municipal sobre Imveis (antiga contribuio autrquica) e IA (Imposto Automvel), temos impostos locais (o carcter local, com a recente reviso constitucional tende a conferir distines entre os municpios); os impostos lanados nas Regies Autnomas so os impostos regionais; os impostos cobrados no conjunto do territrio nacional, cujas receitas se destinam ao poder central, so os impostos nacionais.

    H impostos estaduais (governo, Estado; previstos no OE (Oramento do Estado).

    H impostos no estaduais (regionais, municipais e de entes pblicos menores.

    Nota: O Prof. Casalta Nabais acredita no existirem impostos no estaduais pois tudo reverter a favor do Estado.

    3.4. Impostos reais e impostos pessoais Reais (olham ao valor da manifestao da capacidade contributiva. Ex: IMI (2 apartamentos com o mesmo valor patrimonial pagam exactamente o mesmo, independentemente de quem o proprietrio (no atende s circunstncias concretas de quem paga o imposto.

    No existem impostos pessoais puros, mas apenas mais ou menos puros (ver caractersticas).

    Mesmo o IRS est longe de ser um imposto pessoal puro (apareceu em 1989 e cada vez menos pessoal).

    Os primeiros apenas atentam ao elemento objectivo (est em causa o valor tributvel em detrimento de qualquer elemento subjectivo), ou seja, tributa-se uma manifestao concreta; os segundos olham situao concreta (elemento subjectivo) do indivduo, que vai pagar o imposto; nos impostos indirectos no se atende ao carcter pessoal (qualquer pessoa paga o mesmo imposto sobre um pastel); tendencialmente, o carcter pessoal dos impostos (associado ideia de justia fiscal) tem vindo a dar lugar ao carcter real dos impostos; o imposto pessoal apresenta quatro caractersticas, tambm denominadas de elementos de pessoalizao:

    a) Tem em considerao a totalidade do rendimento do contribuinte (ou seja, o rendimento de todas as fontes que devem dar origem a uma nica dvida de imposto; esta totalidade significa uma base mundial, isto , a globalidade dos rendimentos auferidos independentemente do local); Tem que incidir sobre a totalidade do rendimento (vindo de variadas fontes de rendimentos). Todo o rendimento, independentemente do lugar onde obtido; deve ter um mbito mundial. Temos actualmente o IRS dos residentes e o dos no residentes (e no dos portugueses e estrangeiros). Quando dizemos todo o tipo de rendimentos sero todos aqueles que a lei entende como tributveis.

    b) Tem em considerao a situao do agregado familiar (ou seja, o que se ganha e o que se gasta; isto , as despesas socialmente relevantes so abatidas matria colectvel: dimenso positiva e dimenso negativa); Ter em conta a estrutura do agregado familiar, certas despesas socialmente relevantes do agregado familiar. No IRS isto mais ou menos cumprido. O estado civil e os filhos so relevantes. Sade, educao e casa prpria tambm so relevantes.

    c) Tem de haver um mnimo de existncia (ou seja, o imposto no vai retirar aos contribuintes aquele mnimo que a lei entende como vital sua sobrevivncia; um imposto que se pretende pessoal tem necessariamente de saber "medir" a capacidade contributiva dos contribuintes; assim aqueles cujo rendimento mal chega para assegurar a sua sobrevivncia esto isentos de imposto); Existe uma iseno para o

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    mnimo de existncia: o imposto no tributar o mnimo definido por lei, como o indispensvel para a pessoa viver (no confundir com qualquer tipo de subsdio). A lei no cumpre com este requisito, s garante esta iseno a quem tem rendimentos predominantemente provenientes do trabalho por conta de outrem. Porqu? Isto o mesmo que dizer que estes fogem menos e os empresrios fogem mais.

    d) Os impostos tem taxas progressivas - trata-se de um dogma da justia fiscal; serve para combater alguma injustia decorrente das taxas proporcionais; visam aumentar consoante o nvel dos rendimentos; a CRP, no seu artigo 104, n1, consagra expressamente o imposto nico e progressivo.

    3.5. Impostos em funo da natureza das suas taxas proporcionais tem uma taxa constante e fixa que permanece invarivel perante a variao da matria colectvel; progressivos aumentam a taxa medida que aumenta a matria colectvel; a progressividade tem, contudo um limite (sob pena de se atingir os 100%, que deixava de ser um imposto para ser um confisco); por isso, a partir de certa altura a taxa fixa-se, tornando-se proporcional; regressivos -diminui a taxa medida que aumenta a matria colectvel; degressivo taxa proporcional (fixa e constante); contudo, para certo tipo de contribuintes reconhece-se que a tributao escolhida elevada; estabelece-se ento um rendimento tido como razovel (no mnimo) ao qual se aplica a taxa fixa, tornando o imposto proporcional para quem aufere aquele tipo de rendimento ou superior; quem estiver abaixo desse nvel v a taxa diminuir; combina-se assim uma taxa progressiva com uma taxa proporcional, sendo esta ltima a regra e a progressiva a excepo (justamente o contrrio do que sucede com o sistema progressivo, em que a progressividade a regra e a proporcionalidade a excepo).

    NOTA (actualizada a 2002):

    O IRS um imposto progressivo. Atender ao artigo 68, n1, que estabelece as taxas vigentes.

    Na progressividade por classes, enquadra-se o rendimento na classe respectiva aplicando-se a taxa que lhe corresponde (exemplo; 4100,12 x 12%). Na progressividade por escales, a matria colectvel distribuda pelos diferentes escales (4100,12 x 12%) + (6201,42-4100,12) x 14% + (7 000-6201,42) x 24%.

    Na prtica, o legislador, por razes de simplificao, ao lado das taxas normais, colocou as chamadas taxas mdias, possibilitando desse modo um clculo mais facilitado: o que se deduz do artigo 68, n2. O rendimento repartido em duas partes: na primeira, aplica-se a taxa mdia correspondente ao limite mximo que ainda couber dentro do rendimento (voltando ao exemplo anterior do rendimento de 7000, temos que o limite mximo o de 6201.42; logo, temos 6201.42 x 12.6777%); na segunda, aplica-se ao excedente a taxa normal que lhe corresponde (7000-6201.42 x 24%). A soma destas duas operaes d-nos o imposto apagar.

    3.6. Impostos principais e impostos acessrios -os impostos principais tem todos os elementos para existirem como imposto, ao passo que aos impostos acessrios faltam-lhes elementos que lhes permitam funcionar autonomamente; em regra, faltam-lhes normas prprias da sua matria colectvel (por isso, se calculam a partir do imposto principal).

    Dois tipos de impostos

    Acessrios:

    1) Adicionamento a matria colectvel do imposto acessrio o valor da matria colectvel do imposto principal;

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    2) Adicional a matria colectvel, do imposto acessrio a colecta do imposto principal. Recorde-se que matria colectvel, aquilo a que se aplica a taxa de imposto e colecta o que resulta da aplicao da taxa matria colectvel.

    Vejamos o seguinte exemplo: a empresa X tem de lucro 10 000 (matria colectvel); a taxa aplicvel de IRC de 36%; logo, o montante de imposto a pagar de 3 600 (colecta).

    Se existir um imposto acessrio do IRC (que o imposto principal), temos que se esse imposto for um adicionamento, a sua matria colectvel ser a matria colectvel do imposto principal (que o IRC), logo ser de 10 000; se for um adicional, a sua matria colectvel ser a colecta, ou seja, 3 600.

    Para certos autores, somente o adicional um imposto acessrio, dado que apenas nele se verifica uma coincidncia entre as pessoas que pagam o imposto principal e as que pagam o imposto acessrio (no adicionamento tal pode no acontecer). No caso de haver dedues colecta, o imposto a pagar pode ser negativo; em sentido tcnico no se vai pagar IRC; neste cenrio, no se paga, igualmente, adicional (a colecta nula); contudo, pode haver lugar a pagamento de adicionamento, na medida em que existe matria colectvel; o adicionamento assim muito mais abrangente; por isso tambm se diz que apenas um verdadeiro imposto acessrio.

    Impostos principais (IRS, IRC,...

    Impostos acessrios (ex: derrama.

    Adicionamentos Vs Adicional

    Hoje no h adicionamentos.

    A derrama um adicional, no tem lanamento prprio.

    A derrama incide sobre a colecta do imposto principal que o IRC.

    Colecta = matria colectvel (lucro) * taxa.

    Ex: 10000 (lucro fiscal) * 30% = 3000.

    Se lanamos um imposto sobre a colecta de 10% temos que pagar => 3000 * 10% = 300 (a colecta passa agora a matria colectvel).

    Porque no subir a taxa do imposto principal? Por razes histricas, sobretudo, pois aparecem em pocas histricas especiais (alturas de aperto), refora a ideia de suplemento.

    So os prprios municpios que decidem se h ou no derrama (receita municipal) e de quanto so as taxas (leva colecta da taxa mxima de 10%).

    um imposto que se baseia noutro, no tem lanamento mas apenas liquidao pois aproveita as contas feitas para efeitos de IRC.

    A derrama -o imposto acessrio que vigora, neste momento, entre ns a derrama ( um adicional que se aplica sobre o IRC). Trata-se de um imposto local, por isso, no estadual. Na derrama, o sujeito so os Municpios. No apenas as receitas revertem para os Municpios, mas tambm a estes cabe o poder de gesto e de administrao do imposto; so as autarquias que decidem o destino a dar derrama; consequncia constitucional do princpio da autonomia municipal. A AR ao criar aderrama conferiu s autarquias este duplo poder: (1) se vo ou no criar o imposto; (2) em caso afirmativo, poderem fixar o seu montante que tem todavia de ser inferior a 10%. Este duplo poder levanta algumas dvidas sobre a constitucionalidade da derrama, em face da reserva relativa da AR em matria fiscal. Ou seja, est em causa o princpio segundo o qual, os impostos so matria exclusiva da AR, ou, em

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    presena de uma lei de autorizao por esta emanada, do Governo. Em rigor, o problema reconduz-se ao facto de serem as autarquias que vo fixar, embora dentro de certas balizas, o montante (leia-se taxa) do imposto. Igual problema se levanta volta Contribuio Autrquica. uma violao literal do princpio da legalidade, na sua vertente formal.

    A doutrina divide-se em torno desta controvrsia:

    1) Por um lado, temos aqueles que defendem a inconstitucionalidade da derrama (Professor Brs Teixeira); 2) por outro lado, os que defendem a sua constitucionalidade (Dr. Rui Morais). Estas eram as posies antes da recente Reviso da CRP. Para o Dr. Rui Morais, a questo no pode ser analisada unicamente luz da vertente formal do princpio da legalidade. Devemos considerar tambm a dimenso material ou substancial daquele princpio. Posto o problema nestes termos, releva saber qual o fundamento do princpio da legalidade.

    Genuinamente os impostos eram matria dos Parlamentos; actualmente, o Governo dispe tambm de legitimidade democrtica, embora indirecta, sendo que est, seguramente, mais bem apetrechado para o fazer. Questiona-se: porque razo existe ainda a reserva relativa da AR neste domnio mesmo aps a Reviso de l997? A resposta s pode ser uma: que a AR tem uma muito maior representatividade; d a ideia de que so as prprias pessoas que pagam os impostos que tambm sobre eles legislam (princpio de autotributaao). Ento a questo a de saber se h ou no autotributao. Sendo a derrama um imposto municipal, ento, quem mais do que as Autarquias locais ter legitimidade para fixar esse imposto. Esta lgica do Dr. Rui Morais, para quem as Assembleias Municipais so quem melhor corporiza, no caso da derrama, a ideia de autotributao e de representatividade. Deste ponto de vista, no haver qualquer violao ao princpio da legalidade. O Tribunal Constitucional acolheu esta tese, tendo solicitado ao Dr. Rui Morais um parecer sobre o assunto. Com a reviso de 97, o novo artigo 238, n4, a CRP passou a prever a possibilidade das Assembleias Municipais serem dotadas de poderes tributrios nos casos previstos na lei (casos da Contribuio Autrquica e da derrama). Assim, a partir de agora, em princpio, a questo passou a ser indiscutvel; ou seja, a derrama constitucional.

    NOTAS (actualizada a 2002):

    1. Todos os impostos tem uma incidncia pessoal e uma incidncia real; pessoais, porque assinalam sempre quem paga; real, porque as manifestaes de capacidade contributiva definem a base de tributao (rendimento patrimnio, despesa).

    2. Em sede de IRS, os referidos elementos de pessoalizao aparecem no: a) artigo 13 e 15: define quem est sujeito ao IRS (os residentes e os no residentes que em Portugal obtenham rendimentos); para os no residentes, o IRS um imposto pessoal; para os no residentes, a tributao ser efectuada em termos de tributao real (no releva o nmero de filhos e outros factores subjectivos; apenas releva a sua capacidade contributiva -artigo 15; b) artigo 56: abatimentos: elenco dos encargos que se podem abater matria colectvel; c) artigo 70: iseno do mnimo de existncia; consagrao algo polmica (violao do princpio da igualdade? inconstitucionalidade?); esta iseno est associada queles que trabalham por conta de outrem (trabalho dependente); esto de fora os que vivem de rendas baixas e os trabalhadores independentes; contudo, o artigo 78, n1, vem corrigir esta situao (dedues colecta)

    d) Artigo 71: o caso das taxas liberatrias (art. 71) e das taxas especiais (artigo 72); tambm aqui pode colocar a questo da inconstitucionalidade por eventual violao do princpio da progressividade das taxas.

    CAPTULO III - FONTES DO DIREITO FISCAL

  • Direito Fiscal 2006/07

    11 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    O imposto uma violncia excepcional do Estado. A economia estadual improdutiva e deveria apenas assegurar o mnimo dos mnimos de estrutura colectiva para o financiamento de determinado tipo de servios segurana. H instrumentos constitucionais que controlam esta agresso.

    Antes da revoluo francesa tnhamos um Rei absoluto. Depois surge a ideia de parlamento: o Rei tinha o poder executivo e o parlamento o legislativo. Fronteira muito bem delimitada. O poder de criar impostos s pode ser dos cidados, o parlamento cria os impostos (hoje no to importante).

    Tambm achamos que as matrias mais importantes devem ser deixadas ao parlamento. Ideia de publicidade (debate pblico).

    Em matria de impostos sempre necessrio grande nvel de consenso.

    A reforma fiscal levada a cabo em pocas de maioria absoluta.

    No h, seguramente, matria jurdica na qual a influncia constitucional seja to visvel e marcante como aquela que acontece no mbito do Direito Fiscal. Desde logo, a prpria CRP de 1976, um exemplo do momento que se vivia ento (imposto como um instrumento da luta de classes). A Reforma Fiscal nela prevista apenas veio a ter expresso na segunda metade dos anos oitenta (IVA, IRS, IRC, CA). A CRP ainda tem muitos conceitos dos anos sessenta; veja-se os artigos 103 e 104, que constituem normas programticas conformadoras da legislao ordinria: a descrio dos impostos das pessoas fsicas (especficos e progressivos; uma exigncia de imposto nico quase impossvel); a tributao do agregado familiar; a tributao dos rendimentos reais das empresas; a tributao do consumo (j influenciada, contudo, pelas Directivas Comunitrias); a tributao do patrimnio; o imposto sobre doaes e sucesses (questo problemtica, na medida em que a sua aco praticamente se esgota na tributao dos bens imveis).

    Em suma, a CRP uma das Constituies que, ao nvel mundial, mais versa sobre a questo fiscal.

    Art 104 CRP:

    N1. nico e progressivo. No nenhum dos 2. Logo, em pura verdade, o IRS seria inconstitucional. Mas o IRS o que pode ser. O que est mal a CRP.

    Quando diz em conta... do agregado familiar levanta-se a questo de saber se a Constituio permite a tributao separada.

    N2. Rendimento real (lucro apurado pela contabilidade). Primeiro tributa-se pela contabilidade e se esta for provada falsa passa-se presuno de rendimentos. Podemos suscitar a questo do regime simplificado ser inconstitucional.

    N3. No diz nada; no temos verdadeiros impostos sobre o patrimnio. O que temos CA e IA.

    H impostos sobre a transmisso de patrimnio imobilirio (SISA e Imposto Sucessrio).

    O imposto sucessrio um instrumento de luta de classes. Visa combater a riqueza herdada; no funciona porque abrange s os imveis pelo seu valor patrimonial (muito desactualizado).

    N4. Impostos sobre o consumo. Sofreu maior n de alteraes. Porque estabelecem-se princpios orientadores numa matria muito pouco desenvolvida.

    O IVA quase todo (fora a fixao das taxas) matria de direito comunitrio (ex: isenes).

  • Direito Fiscal 2006/07

    12 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Art 103. Princpios constitucionais clssicos da tributao (sc. XIX. de ndole liberal). uma questo histrica.

    Mesmo em pases cujo objectivo era acabar com a propriedade privada estes princpios so consagrados. Estes princpios so liberais no sentido de que o Estado inimigo do cidado (logo este deve acautelar-se da agresso do Estado).

    Vejamos, agora, os princpios clssicos do Direito Fiscal com forte pendor constitucional:

    1 - Princpio da legalidade -a primeira questo que se pode levantar em tomo desta matria a seguinte: quem pode, quem tem competncia criar impostos? Que forma devem revestir a leis que criam impostos? Esto em causa dois preceitos constitucionais; o artigo 103, n2, que alude aos elementos essenciais dos impostos (incidncia, taxa, benefcios fiscais e garantias dos contribuintes) e o artigo 165, n1, alnea i), que respeita reserva relativa da AR neste domnio). Tradicionalmente, criaram-se resistncias aos monarcas criadores de impostos (exemplo: Robin dos Bosques e a Magna Carta); do ponto de vista do liberalismo pagar impostos representava contribuir para o Estado gastador, Estado que, luz daquela corrente, no se deve imiscuir na vida dos particulares; impensvel que a sociedade civil produza riqueza e v entregar ao Estado uma parte desses resultados (recorde-se, a propsito, que a Revoluo Americana comeou, justamente, por uma revolta contra um imposto lanado sobre a produo de ch). A consagrao do movimento constitucional e dos regimes parlamentares veio por em causa o lanamento dos impostos por parte do monarca. A partir do sculo XIX coabitam os poderes legislativo (as assembleias, parlamentares, ainda que eleitas por voto censitrio) e executivo (o Rei). A qual destes poderes deve incumbir aquela tarefa? Modernamente, tem-se como assente que o lanamento de impostos deve partir de decises parlamentares; duas razes nesse sentido:

    a) To importante como o voto o controlo que a opinio pblica exerce sobre os governos; uma discusso pblica no Parlamento sobre os impostos um momento de enorme importncia que prende as atenes das populaes, justamente em consequncia da exposio pblica a que as Assembleias esto sujeitas;

    b) O lanamento de impostos deve proceder de uma deciso altamente consensual; a base de sustentao parlamentar superior do governo, o que, nessa medida, contribui para a consensualidade sobre o lanamento de impostos.

    Atentemos agora, aos motivos que abonam no sentido de os governos poderem, eles prprios lanarem impostos. ao governo que compete fixar as despesas; logo, lgico ser que tambm lhe compita a criao das receitas, ou seja, que decida tambm em matria de impostos. Os governos no devem, portanto, ficar afastados da discusso.

    Dever prevalecer uma soluo de conciliao entre a Assembleia e Governo no que diz respeito ao lanamento de impostos. Dito de outro modo, a prtica constitucional deve-se impor-se imposio constitucional; em suma, um mtodo de compromisso. Esta conciliao opera-se luz dos dispositivos constitucionais (designadamente, custa das autorizaes legislativas) e da prtica constitucional. A Assembleia da Repblica pode lanar impostos de per si. Contudo, em regra, a AR aprova os projectos apresentados pelo Governo. Por outro lado, a prtica constitucional, no domnio fiscal, reflecte-se numa exigncia da AR: o Governo apresenta um esboo do que pretende fazer (apresentao de um mnimo j estruturado), ficando tal apresentao a dever-se a uma exigncia da AR (veja-se, a propsito, que o prprio Cdigo do IRS, publicado num Decreto-Lei do Governo, tem a sua fonte numa Lei de Autorizao da AR). Em suma o Governo tem iniciativa de elaborar o esboo e a AR introduz as alteraes que entender pertinentes; o projecto regressa ao Governo para se completar a parte tcnica. Esta a dimenso formal do princpio da legalidade. Mas ao lado dela, existe

  • Direito Fiscal 2006/07

    13 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    uma outra dimenso substancial ou material: ou seja, os contribuintes querem saber o que vo pagar e quanto vo pagar? Isto , quais as implicaes fiscais em que determinada situao tributvel, e em caso afirmativo, de quanto. Est em causa uma ideia de previsibilidade (antecipao) do montante a pagar a ttulo de imposto por simples leitura da lei. a relevante questo do planeamento fiscal. Tal circunstncia implica que as leis fiscais se revistam de um contedo especial (mais do que as prprias leis penais). Em direito fiscal, a lei, inequivocamente, tem de saber se paga e quanto paga; entre lei e contribuio no pode haver intermediao; trata-se de uma aplicao mecnica da lei; por isso, a lei fiscal no pode ter conceitos indeterminados e clusulas gerais. A lei define os princpios e os resultados a obter, competindo Administrao, em funo de cada caso concreto, aplic-la. a consagrao do princpio da tipicidade em direito fiscal. O legislador tem de legislar de forma tpica; ou seja, tem de formular tipos legais de imposto; trata-se de descrever exaustivamente as normas fiscais; para os contribuintes, aquelas normas tem de expressar com rigor e sem possibilidade de interpretaes subjectivas. O legislador fiscal, sempre que necessrio, muda a lei para evitar, justamente, a discricionariedade da Administrao Fiscal (o que seria uma tentao, caso no direito fiscal existissem clusulas gerais e conceitos indeterminados). Ou se paga imposto ou no se paga; s paga imposto quem estiver no mbito da lei. Esta noo , todavia, um sonho. Com efeito, a complexidade da vida actual (exemplo: a multiplicidade de produtos financeiros) no permite ao legislador avanar com mecanismos atempados. Estas dificuldades acrescidas do legislador vo ter como consequncia o aparecimento de conceitos indeterminados (exemplo: art. 6, n 1, alnea o): so rendimentos de capitais, os juros... e todos os negcios que...) ou de clusulas de segurana tendentes a evitar a evaso fiscal. Este preceito parece assim violar o princpio da tipicidade. Aparentemente, a sua evocao deveria resolver o problema levantado pelo enquadramento de novos tipos de rendimentos. Contudo, ele nunca foi evocado, sob pena da sua imediata inconstitucionalidade (por violao do princpio da tipicidade).

    O contribuinte facilmente evocaria o seu direito de resistncia e, consequentemente no pagaria o imposto. Outro aspecto fundamental o que resulta da discricionariedade na aplicao dos bens imveis. Concluso: nem sempre se vai poder aplicar integralmente o princpio da legalidade. Questiona-se ento, qual o verdadeiro mbito do princpio da legalidade? Ou seja, que matrias ele abrange efectivamente?

    A resposta a esta questo dada pelo artigo 103, n2 da CRP, que define os elementos essenciais do imposto: a incidncia, a taxa, os benefcios fiscais e as garantias dos contribuintes. Isto , no que diz respeito a estes elementos vigora o princpio da legalidade (significa que no domnio daquelas quatro matrias, apenas se pode legislar atravs de lei); nos restantes domnios, segue-se o regime normal, na medida em que j no h necessidade de tipificar outras matrias.

    O que a criao do Imposto? criar e modificar. Mexer nos elementos essenciais dos impostos, definir as caractersticas de obrigao. art. 103, n2. Incidncia, taxas, benefcios fiscais e garantias dos contribuintes. A maioria da legislao fiscal no concerne a estes 4 elementos (procedimentos, normas de execuo) logo partida no necessria a autorizao.

    Art.103,n2 CRP. Esto aqui includas as garantias dos contribuintes. A lgica que quantas mais melhor.

    Normas de incidncia. Quantificao da matria colectvel, ou seja, aqui a incidncia um conceito amplo.

  • Direito Fiscal 2006/07

    14 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Benefcios fiscais. Estranho que s a AR os possa aprovar mas entende-se nesta perspectiva: se eu tiver muitos benefcios fiscais, os outros tm que pagar mais logo h uma espcie de equiparao a criao de impostos.

    Dimenso material do princpio da legalidade/ princpio da tipicidade:

    Quanto ao contedo das normas: tem que haver discricionariedade na actividade administrativa fiscal: apontam-se os fins e a administrao escolher os meios mais adequados. O que dissemos at aqui refere-se apenas aos elementos essenciais, no restante para haver optimizao ter de haver discricionariedade.

    Cada um de ns, lendo a lei deveria saber se paga imposto e que imposto pagar.

    O ideal do princpio da tipicidade que a lei no deixe nenhuma margem de autonomia interveno da administrao (no que respeita ao ncleo essencial).

    Evitando clusulas gerais e conceitos indeterminados a lei de quase aplicao automtica. H uma desenficao das normas fiscais, em analogia ao direito penal.

    A questo da previsibilidade muito importante por ser muito difcil de prever que comportamentos levaro ao pagamento de um imposto.

    A ideia da tipicidade est em crise, a vida complicou-se muito e as estratgias tambm na tentativa de descobrirem lacunas na lei, o processo inverteu-se e o legislador que vem tapar o buraco de quem por l j conseguiu fugir.

    Isto leva a cada vez mais clusulas gerais ou ento a conceitos to complexos que ningum os compreende em matria fiscal.

    Quanto ao contedo:

    1 Evitar discricionariedade

    2 Evitar tambm o exagero da tipicidade. Ex: art. 5 IRS. Definio de rendimentos de capital; claramente uma clusula residual para combater a evaso fiscal.

    2-Princpio da igualdade o benefcio fiscal em si mesmo inconstitucional porque cria desigualdades fiscais; em direito fiscal, o princpio da igualdade no significa uma igualdade matemtica. O artigo 13 da CRP vai harmonizar os princpios constitucionais em choque: o princpio do sistema fiscal retributivo "versus" o princpio do desenvolvimento econmico que favorece os ricos ao no tributar o investimento.

    O direito fiscal subordina-se lgica do art.13 da CRP, no obstante este preceito no estar direccionado para a vertente fiscal. Em matria de impostos, o princpio da igualdade conformado pelo critrio da capacidade contributiva. A consagrao de um mnimo de existncia um exemplo paradigmtico do princpio da igualdade conforme critrio da capacidade contributiva. Veja-se o caso da discriminao qualitativa dos rendimentos do trabalho, no mbito da qual se defende um tratamento fiscal mais favorvel para estes rendimentos, em face dos rendimentos de capital. Esta discriminao no violar o princpio da igualdade? Atentemos no exemplo seguinte: A e B tem ambos um rendimento de 1 000 c, com a diferena dos rendimentos de A procederem do trabalho e os de B terem origem em capitais. Mas B vai ser mais tributado. Aparentemente temos uma violao do princpio da igualdade; contudo, a capacidade contributiva de cada um daqueles contribuintes diferente. Desde logo, h que referir a proteco ao trabalho, constitucionalmente prevista. Aqueles dois rendimentos no tm o mesmo significado: os rendimentos do trabalho exigem mais esforo e tendencialmente vo desaparecer (velhice, reforma) ao passo que os rendimentos de capitais, alm de no exigirem qualquer esforo fsico ou psicolgico do seu titular, so tendencialmente perptuos. Por outro lado, o trabalhador vai ter de aforrar (ou seja, vai ter de

  • Direito Fiscal 2006/07

    15 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    subscrever rendimentos de capital) para se proteger no futuro; ao retirar esses montantes para canalizar para poupanas, esse trabalhador est a diminuir a sua capacidade contributiva. Esta a justificao para aquela discriminao qualitativa dos rendimentos do trabalho. Dois modelos para aplicar tal discriminao: a) tributar os rendimentos do trabalho por taxas mais baixas; b) efectuar dedues especficas aos rendimentos do trabalho. O nosso Cdigo do IRS tomou partido por esta segunda alternativa (artigo 25). Isto significa que ao rendimento bruto se devem deduzir as dedues especficas a fim de se obter o rendimento lquido. Dedues especficas so, assim, os custos ocorridos com a obteno do rendimento. Na categoria A (trabalho dependente), o trabalhador, em princpio, no faz despesas com a obteno do seu rendimento, pelo que, no deveria poder efectuar aquelas dedues. Todavia, o legislador no distinguiu esses casos dos demais, ficcionando um custo para obteno desse rendimento para os trabalhadores dependentes (artigo 25, n1). Aqui est outra discriminao qualitativa dos rendimentos do trabalho. A lgica subjacente quela fico, tanto mais que os montantes ficcionados a ttulo de deduo so sempre fixos, a de beneficiar os rendimentos mais baixos.

    verdade que os rendimentos do trabalho so aqueles que mais facilmente so tributados; so aqueles com que o Fisco conta sempre. Por outro lado ainda, no podemos esquecer que os rendimentos de capitais so tributados por taxas liberatrias (que so taxas proporcionais que variam entre os 25% os 35%). Balano geral: a discriminao qualitativa no funciona porque os rendimentos do trabalho no so tratados mais favoravelmente do que os rendimentos de capital; esta discriminao apenas existe quando comparada com o trabalho independente.

    Hoje discute-se a questo dos benefcios fiscais da Igreja Catlica resultantes de um Tratado Internacional (a Concordata Portugal/Santa S); que o legislador nacional, s por si, no pode mexer no assunto (recorde-se, a propsito, que a introduo do divrcio em Portugal teve de ser previamente negociada pelo Ministro da Justia da poca Salgado Zenha); a soluo de equiparar a Igreja Catlica s demais religies no tem aplicao prtica; torna-se impossvel distinguir entre igrejas e seitas.

    O princpio da igualdade um conceito formal e abstracto. Dificilmente se encontra igualdade no sistema fiscal.

    Mas ter a CRP algum princpio de igualdade fiscal? Remete para o legislador. A CRP no se mete na rea fiscal (excepto 103).

    Tratar a desigualdade em situaes fiscais cada vez mais uma necessidade devido interferncia comunitria. Isto porque s h acesso directo s tributaes directas (sem interferncia comunitria).

    O PIF uma das emanaes do princpio da igualdade geral previsto no art. 13. Probe uma desigualdade com base em critrios sociais, religiosos, polticos.

    Hoje pe-se o problema da igualdade fiscal em razo da religio (a Igreja Catlica seria favorecida). Esto em curso negociaes para alterar a concordata.

    3-Princpio da autorizao anual de cobrana -este princpio resulta directamente das Leis do Oramento; so uma condio de eficcia da lei fiscal; todos os anos a AR tem de autorizar a cobrana dos impostos, mesmo que a lei esteja em vigor. uma questo prtica e no terica (o imposto sobre a indstria agrcola, que vigorou entre ns durante vinte e seis anos -1963 / 1989 -apenas foi autorizada a sua cobrana, ao longo daquele perodo, em quatro vezes). Subjaz a este princpio a seguinte ideia: a AR, anualmente, deve olhar para os impostos e verificar se a sua manuteno se justifica. Na prtica as coisas no se passam desta maneira:

  • Direito Fiscal 2006/07

    16 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    esta obrigao da AR esgota-se num simples artigo da Lei do Oramento que refere essa autorizao da AR.

    Alm destes princpios de pendor constitucional, o direito fiscal tem outras fontes:

    1. As normas internacionais -a relevante questo da influncia do direito comunitrio no direito fiscal portugus reflecte-se em trs zonas distintas: a) os impostos aduaneiros: cada pas, antes de aderir UE, tinha os seus prprios impostos aduaneiros; aps a adeso, vigora a Pauta Aduaneira Comum, na qual se consagram as taxas de direitos comuns a todos os Estados membros de forma a consolidar o mercado nico e a fronteira externa do territrio comunitrio; as receitas procedentes da cobrana dos direitos aduaneiros so receitas da Comunidade Europeia; temos, por isso, uma aplicao directa do direito comunitrio; b) os impostos indirectos designadamente o IVA e os IECs, no mbito dos quais a UE tem um papel conformador e corrector; os impostos indirectos so susceptveis de falsear a concorrncia (cada Estado membro pratica ainda a sua taxa); ainda no foi possvel estabelecer a harmonizao das taxas escala comunitria c) impostos directos a questo j no tem a mesma relevncia, naquilo que toca influncia do direito comunitrio; ningum vai construir uma fbrica em Tuy s porque a tributao em num pas de 28% e em Portugal de 30%. Outros factores vo condicionar a escolha. que os impostos indirectos integram o prprio preo dos bens, e nessa medida a conformao apenas tem lugar quando esto em causa fuses de empresas de diferentes Estados membros, ou nas complexas relaes entre sedes e filiais estabelecidas em diferentes Estados membros, ou nas complexas relaes entre sedes e filiais estabelecidas em diferentes Estados membros. No que diz respeito s pessoas singulares no se pode falar em qualquer tipo de conformao comunitria.

    Temos 2 nveis de DC em matria de impostos.

    H impostos verdadeiramente comunitrios normas comunitrias, revertem para a comunidade,... Ex: impostos alfandegrios, impostos sobre remuneraes, impostos dos funcionrios comunitrios.

    A comunidade emana normas sobre outros impostos nomeadamente no que toca a impostos indirectos IVA (atravs de directivas). Ao nvel dos impostos directos a interveno reduzida.

    A comunidade tem tentado um via diferente; em vez de uma directiva usam os cdigos de conduta (compromissos polticos).

    2. Tratados internacionais - dois problemas se colocam em torno desta fonte de direito fiscal. A) questo da dupla tributao internacional -veja-se o seguinte exemplo: uma empresa portuguesa que faz uma estrada em Moambique tributada naquele pas e tributada em Portugal; nestes casos, os pases em causa (Portugal e Moambique) devem entender-se em matria de tributao, a fim de evitarem que os negcios se percam ou sejam prejudicados por uma elevada e dupla tributao. por isso que surgem os tratados internacionais relativos a questes fiscais. No exemplo dado, Portugal e Moambique, por tratado internacional, estabelecem os meios de tributao relativos construo daquela ponte. Este o motivo que leva a justificar o elevadssimo nmero de tratados internacionais a versarem sobre assuntos fiscais; b) a questes da evaso fiscal - uma questo muito delicada e de difcil soluo; cada pas, em princpio, funciona como uma hiptese potencial de evaso fiscal, relativamente a outros pases. Para complicar a questo, acresce que os Estados so verdadeiros parasos fiscais (na Europa: o Mnaco, o Liechtenstein, Gibraltar, as Ilhas do Canal.) No havendo colaborao dos Estados, a evaso fiscal aumenta exponencialmente. A soluo tambm a do recurso aos tratados internacionais. Mas uma dificuldade subsiste; certos pases que so

  • Direito Fiscal 2006/07

    17 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    parasos fiscais, no esto interessados em subscrever estes tratados. Os parasos fiscais prejudicam o investimento dos pases vizinhos.

    Convenes internacionais de dupla tributao (concorrncia entre Estado residncia e Estado fonte. H que repartir o imposto entre 2 estados.

    A soluo passa quase sempre por acordos internacionais, levados a cabo pela OCDE e pelas NU (excepto para com os EUA) (Portugal segue este modelo.

    A OCDE produz comentrios aos modelos que fez, produto de um consenso mundial.

    O pas com o qual mais difcil celebrar convenes so os EUA. O modelo dos EUA, respeita aos residentes estrangeiros mas relativamente aos seus cidados diferente (independentemente da sua residncia). Fazem o que quiserem.

    Sempre que h um problema fiscal de mbito internacional, com uma PC residente noutro pas, a 1 atitude saber se existe ou no conveno, se houver sempre ela a aplicada. O texto das convenes muito complicado.

    Como aplicar a conveno?

    Ex: um professor residente em NY que vem a Portugal fazer uma palestra, o imposto a reter (pago pela entidade contratante (que cobradora) o que consta para o efeito na conveno.

    Os pagamentos de rendimentos a no residentes fazem-se com o imposto retido na fonte, ou seja pago em Portugal (resulta da conveno.

    Sempre que uma sociedade com scios estrangeiros paga dividendos, h que aplicar as convenes em vigor (reter o imposto a previsto.

    Existem normas no cdigo do IRS que so contra normas das convenes e so estas ltimas que prevalecem.

    No h tratados bilaterais, apenas convenes (arrumadas por tipo de rendimentos).

    Todos os pases pretendem tributar os seus residentes relativamente aos rendimentos que tenham em todo o mundo (1 requisito de pessoalizao) e os no residentes sobre os rendimentos obtidos dentro do pas (gera dupla tributao.

    Nesta matria todos os pases concordam na eliminao da dupla tributao porque seno no h negcios. Por isso tem que haver entendimento ou um dos Estados abdica da receita ou h partilha.

    Actualmente, mesmo quando h conveno, o Estado do residente muitas vezes abdica da sua receita (descontando no imposto portugus o que foi pago no estrangeiro).

    necessrio no criar obstculos ao investimento no exterior.

    H poucos anos, quando no havia convenes, havia dupla tributao.

    3. Os decretos-lei - em matria de direito fiscal, os decretos-lei derivam directamente da aplicao do princpio da legalidade.

    Os decretos-leis tm que ser autorizados para matrias essenciais (elementos essenciais dos impostos). Fora daqui existem muitos.

    4. Os regulamentos decorrem do princpio da tipicidade; no possvel a existncia de regulamentos autnomos. A questo mais relevante que se pode colocar a este respeito a de saber se podem haver regulamentos autrquicos a versar sobre impostos.

  • Direito Fiscal 2006/07

    18 Antnio Manuel de Albuquerque Pereira 2400030 Direito Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    As Assembleias Municipais podem fixar taxas dentro dos limites da lei? A questo perdeu muito do seu sentido com a ltima reviso constitucional. Quanto aos regulamentos internos, ou seja, aos regulamentos atravs dos quais os superiores hierrquicos estabelecem algumas regras aos seus subordinados, importa referir que embora no vinculem os contribuintes, no deixam, contudo, de ser do seu interesse. Ao fixarem-se certos comportamentos e certos procedimentos do conhecimento dos contribuintes. Estes podero evitar dissabores no futuro. E que sem prejuzo do seu direito de reclamao e da possvel razo que venham a ter no futuro, o conhecimento prvio desses procedimentos evitar que o imposto seja pago e somente anos depois se venha a concluir que o contribuinte no o deveria ter pago, ou a taxa que se lhe aplicou era mais elevada. Trata-se de uma preveno de hipotticos litgios. Actualmente h uma certa divulgao dessas circulares internas.

    1 Existncia de regulamentos autnomos em matria fiscal, fora dos elementos essenciais, parece no haver problema.

    Ns temos um caso de regulamento autnomo que incide nos elementos essenciais (j julgado pelo tribunal constitucional como vlido): a questo da derrama (define se existe ou no e qual a taxa a aplicar.

    Isto pode parecer contrrio ao princpio da legalidade (argumento a favor: tambm os membros da assembleias municipais so eleitos democraticamente da que foram tambm os contribuintes que os elegem e mantm-se a ideia de auto-tributao ( uma questo regulamentar, dentro dos limites da lei.

    2 Regulamentos internos: assegurar a eficincia do servio mas indirectamente projectar os seus efeitos nos contribuintes: ofcios, crculos, despachos, orientaes,...

    Esclarecem quais as interpretaes da lei que o sistema adoptou da que hoje este tipo de regulamentos aproveite cada vez mais aos contribuintes por questes de segurana.

    Se seguir a circular ptimo, se no s se for discutir para tribunal. Muitas vezes o Supremo Tribunal Administrativo faz mudar as circulares em curso, que so muitas vezes mais valiosas e seguidas que a prpria lei.

    Contratos:

    -Ideia tradicional

    -No domnio do direito pblico

    1) Teoricamente no existem contratos em DF (tudo resultaria da lei).

    2) Comea a existir a contratualizao em sede de obrigaes fiscais (grandes projectos de investimento (mnimo definidos por lei). Existe uma verdadeira negociao de benefcios e contrapartidas fiscais. Ora isto no definido pela AR, em bom rigor, mas todavia h a aprovao de uma lei quadro, sobre esta matria e os contratos so publicados. A questo dos casinos tambm sui generis, combina-se a matria colectvel.

    3) No domnio das relaes internacionais tudo to complicado que prefervel combinar com o contribuinte qual a base da tributao do que tentar apurar o lucro real.

    E Portugal ter de acompanhar o grupo dos pases mais desenvolvidos.

    CAPTULO IV -INTERPRETAO E INTEGRAO DAS NORMAS FISCAIS

    Interpretao de normas fiscais -importa saber se em direito fiscal existem regras diferentes no domnio da interpretao. Duas doutrinas coexistem: a) da interpretao favorvel Administrao Fiscal e b) a da interpretao favorvel aos contribuintes. No deve haver prevalncia de qualquer uma delas relativamente outra.

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    Todavia, a interpretao econmica tem vindo a ganhar algum peso; isto , para se atingir um certo resultado econmico recorre-se a certos contratos tipos que no observam o modelo legal.

    Esta tese ser de rejeitar, ainda que por trs dela esteja um pensamento razovel: no se deve privilegiar a fuga ao imposto por recurso a outro tipo de negcio jurdico. O que releva que o legislador ao definir ou tipificar os negcios passveis de imposto no consegue abranger todas as possibilidades; assim, surgem conceitos econmicos vagos (clusulas residuais); a prpria lei faz apelo a um resultado econmico em detrimento da tipificao dos negcios.

    Integrao de normas fiscais -o direito fiscal por definio um direito lacunar; a variedade de proliferao de produtos financeiros provoca uma permanente desactualizao da lei fiscal. O princpio da tipicidade exclui o recurso a analogias; parte-se do pressuposto que no existem lacunas no direito fiscal (ou est previsto na lei e tributado ou no existe); o direito fiscal, como ramo do direito pblico no deve admitir lacunas. Este contexto do direito fiscal impede-o de utilizar as solues preconizadas pelo artigo 10 CC; a saber: a) o recurso analogia, no mbito da qual o intrprete busca no sistema jurdico um caso anlogo e encontrando-o deve-o aplicar ao caso concreto e b) a criao de normas ad-hoc, ou seja, na impossibilidade de encontrar caso anlogo, o intrprete dever resolver o seu problema, criando uma norma concreta para o caso em questo, nos moldes em que a criaria em termos a abstractos e dentro da lgica do sistema jurdico vigente. Em sede de direito fiscal, prevalece o princpio da tipicidade e da exclusividade da AR. Assim, torna-se impossvel a adopo de uma das solues do artigo 10 do Cdigo Civil. Desta forma, as lacunas em direito fiscal apenas se resolvem por acto legislativo da AR ou por decreto lei do Governo. Por isso, seria impensvel, por exemplo, conceder benefcios fiscais por analogia. Contudo, para certos autores, seria possvel estender os benefcios fiscais, por analogia, repousando esta doutrina no princpio da igualdade. Esta teoria rebatida pelo seguinte argumento: na previso oramental, ao calcularem-se as despesas j se contabilizaram os benefcios fiscais e consequentemente, as respectivas taxas; alterando este quadro, as receitas revelar-se-iam insuficientes o que naturalmente teria de ser compensado por um a agravamento da carga tributria. Em concluso, alguns iriam ser sobretributados para que outros pudessem usufruir de benefcios fiscais. Onde o recurso analogia parece ser defensvel (o Dr. Rui Morais assim o entende) no domnio das garantias dos contribuintes; esto em causa os mecanismos de defesa dos contribuintes.

    No se pode recorrer analogia quanto s normas de incidncia se for para alarg-la (isto resulta do princpio da tipicidade da lei (s se pode tributar o que a lei diz). Se no h lei que o faa tributar determinada situao no h lugar a tributao/ problema resolvido) (isto para o ncleo essencial do imposto.

    O benefcio fiscal no contempla determinada situao mas, por analogia, estendemos o benefcio situao. No entanto no devemos esquecer que o benefcio de uns implica o maior pagamento/ sacrifcio de outros. (Isto o entendimento clssico.

    Hoje posto em causa.

    O que se faz hoje procurar buracos na lei para fugir ao fisco, lei fiscal.

    Um dos instrumentos de evaso fiscal seria a analogia.

    CAPTULO V -APLICACO DAS NORMAS FISCAIS

    Aplicao da lei fiscal no tempo -a grande questo que se coloca a este propsito a de saber se deve prevalecer o momento em que se d o facto gerador do imposto ou o momento em que determina o montante a pagar (exemplo: A morre mas o clculo do imposto sucessrio apenas tem lugar 20 anos depois, perodo de tempo esse em que a lei mudou diversas vezes;

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    teoricamente a dvida s nasce no segundo momento; contudo, a doutrina dominante entende que a lei aplicvel deve ser a que vigorava data em que se deu o facto gerador do imposto).

    Esta questo de enorme importncia em direito fiscal dadas as mutaes permanentes (anuais) de que so objecto as normas fiscais, acrescidas da circunstncia de o IRS e o IRC terem um facto gerador que dura um ano inteiro. A situao agrava-se ainda mais, na medida em que so cada vez mais frequentes as autorizaes legislativas condicionadas execuo do OGE: por vezes, sucede que as situaes legais vo-se alterar por forca de autorizaes legislativas que apenas vo ter execuo no ano seguinte (exemplo: em 1996 so publicados os Decretos-lei autorizados que se reportam a autorizaes legislativas de 1995). Tal facto gera uma espcie de retroactividade das leis fiscais. Para certos autores (Dr. Saldanha Sanches), o Governo tem o poder de usar as autorizaes legislativas e no apenas a possibilidade.

    Para obviar quela situao, a lei considera o facto gerador reportado a 31/12 -retroactividade de 1 grau, embora os rendimentos tenham sido auferidos ao longo de todo o ano (assim, por exemplo, se um contribuinte casar em Junho, a sua declarao feita no pressuposto de ele estar casado durante todo o ano); desta forma, no se pode falar em retroactividade, pelo menos em termos formais. Por outro lado, o legislador pode mandar aplicar uma lei a factos j passados; o que sucede, designadamente, naqueles casos em que a lei, sendo de 1997, apenas vai gerar receitas em 1999. Ao implementar este tipo de retroactividade de 2 grau, permite-se que a cobrana seja antecipada, evitando-se esperar por 1999. Ao lanar um imposto extraordinrio com efeitos retroactivos, a Administrao Fiscal dispe de uma razovel margem de segurana, no sentido de percepcionar as receitas previstas num curto espao de tempo. Em matria de IRS e IRC, o legislador tenta-se a recorrer a este expediente, sempre que tem necessidade de obter receitas rapidamente. Desde 1976 que se discute a constituio destas leis. O Tribunal Constitucional diz que depende dos casos, embora tendencialmente decida em favor da retroactividade com base em motivos econmicos (ver Acrdo n11/83). De um modo geral, as naes civilizadas no determinam nada em definitivo, remetendo para os Tribunais a anlise casustica das situaes (a retroactividade uma medida de carcter excepcional e desse ponto de vista que tem de ser encarada); em Portugal, preferiu-se optar pela constitucionalidade da retroactividade (artigo 103, n3), motivo pelo qual a questo perdeu algum do seu interesse.

    O imposto sucessrio nasce em 1996 (adquire bens que apresenta em 2001 (liquida o imposto em 2002 (pagamento de imposto.

    Qual a lei que aplicamos? S em 2001 que se sabe se h imposto e quanto. Poderia todavia haver injustias pois a prpria administrao espera por um agravamento da taxa para liquidar o imposto, ou ento, subornos dos contribuintes no sentido de esperar por uma taxa mais baixa para liquidar.

    Tambm podia acontecer que quem herdasse o mesmo valor mesma data pagasse diferentes impostos, consoante a data de liquidao do imposto.

    Logo chegamos concluso que a opo mais razovel a aplicao da lei vigente aquando do facto gerador (1996. Chegamos concluso que andamos sempre a aplicar leis revogadas!

    Quanto ao IRS, em 1996 h um facto gerador anual e peridico de 1-1 a 31-12 (Abril de 1997 h a declarao do contribuinte (Agosto de 1997 h a liquidao (em Setembro de 1997 h o pagamento.

    O que um lei fiscal retroactiva?

    Uma lei retroactiva dentro do mesmo ano retroactiva por exemplo de Jan a Nov mas no de Novembro a Dezembro, tudo dentro do mesmo ano (retroactividade de 2 grau.

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    O casamento em Outubro de 1996, quanto ao IRS do ano em que casou, casado ou no na declarao.

    Ter um filho, tem ou no eficcia retroactiva em termos da declarao.

    No OE, as autorizaes legislativas concedidas em Dezembro do ano da aprovao e as leis autorizadas vo ser feitas em Maro do ano seguinte, mas retroagir a Janeiro desse ano.

    1997(no havia na CRP nenhuma lei que proibisse a retroactividade fiscal. O tribunal decidia caso a caso. A retroactividade de 2 grau era frequente.

    Com a reviso constitucional aparece o art. 103, n3 que probe a retroactividade dos impostos?

    Qual delas? A de 1 grau ou a de 2 ou ambas?

    O tribunal constitucional foi chamado a pronunciar-se sobre a retroactividade dos impostos. ( uma violao da confiana e da segurana, h que pensar os interesses em conflito, mas como havia falta de dinheiro, a retroactividade passou.

    A retroactividade em 1 grau em princpio seria proibida.

    A retroactividade de 2 grau (princpios diversos matrias funcionais) nunca se levanta problemas.

    Em 1997 com a reviso constitucional e o art. 103, n3 surge novamente a questo. Foi este artigo sensato? No, quanto menos a CRP disser melhor.

    H um intervalo temporal de cerca de 2 anos em sede de IRS entre o seu aumento de taxa no OGE e a sua cobrana. Nos impostos peridicos entre a alterao da lei fiscal e a receita dessa mesma alterao h um tempo. A soluo para acelerar a receita ser conferir retroactividade lei fiscal.

    Quanto aos impostos peridicos temos que lanar sempre mo de leis retroactivas em momentos de crise. Foi exactamente isto que o art. 103, n3 veio vedar.

    Esta situao m mas quanto ao professor pode ser de entre as ms a menos m pois em momentos de grande crise melhor do que recorrer a emprstimos ou vender patrimnio do Estado ao desbarato.

    Aplicao da lei fiscal no espao

    um direito pblico logo, em Portugal, s se aplica o direito fiscal portugus a situaes previstas quer dentro quer fora do territrio portugus.

    O princpio da territorialidade estrito tambm est em crise (os estados no cobrariam impostos de estados estrangeiros) (atitude de no colaborao posta em causa pela prpria CE.

    Mais uma vez uma teoria clssica em crise.

    Como princpio geral, vigora o princpio da territorialidade, ou seja, em cada pas somente se aplicam as leis fiscais internas e cada administrao fiscal apenas executa as leis fiscais nacionais. Contudo, este estado de coisas est hoje desfasado da realidade. Nada impede que, actualmente, um tribunal Portugus julgue em face de leis de outros pases (exemplo: se na Alemanha se celebrar um contrato entre duas empresas portuguesas, os conflitos eventualmente surgidos so dirimidos em Portugal, mas segundo as leis alems -questo no mbito do Direito Internacional Privado). Em sede de direito fiscal, a administrao pblica apenas executava as leis nacionais e nunca as leis estrangeiras. Este era o contexto decorrente do princpio da territorialidade. Modernamente, a mundializao da economia traz novos

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    problemas. O princpio da territorialidade esgota-se nos factos praticados em Portugal. O importante no dizer que cada pas aplica a sua lei, mas sim quais os factos que devem ser tributados em determinado pais; h, portanto, que definir elementos de conexo entre os diversos estados.

    o clssico problema da rivalidade entre os estados da fonte e os estados da residncia. Vejamos o seguinte exemplo: uma empresa portuguesa vai construir casas para Angola; o capital e o know-how so portugueses. Se nada se acordar previamente iremos assistir a uma situao de dupla tributao internacional da empresa portuguesa, na medida em que se vai sujeitar tributao do pas da fonte (Angola) e do pas de residncia (Portugal). Seria uma situao incomportvel. Que soluo se deve adoptar nestes casos? Os estados devem acordar previamente os termos daquela tributao no sentido de a repartir. Em regra, o pas da fonte mais subdesenvolvido, o que gera que seja esse estado (onde se localiza a unidade fabril) a fazer a tributao do lucro empresarial registado pela empresa, reservando-se ao estado de residncia a tributao dos rendimentos de capitais (juros, dividendos, royalties,...). O problema de mais difcil soluo ocorre nos casos de no tributao dos rendimentos, em que a empresa operadora est estabelecida num pas que um paraso fiscal; neste caso, quer Angola, quer Portugal pretendem tributar, respectivamente, os lucros empresariais e os rendimentos de capitais; no exemplo atrs, teramos que Angola seria forada a pagar aquela obra no tal paraso fiscal.

    Assim, se percebe que a questo da dupla tributao internacional resolve-se, na medida em que os Estados esto interessados; mas j o caso da no tributao de rendimentos de difcil resoluo porque os Estados so parasos fiscais esto interessados em colaborar. Contudo, importa referir que a dupla tributao internacional no se resolver a partir de Convenes Internacionais (do tipo da FIFA ou da YATA) dados os diferentes interesses em jogo por parte dos estados da residncia. A soluo encontrada a que parte de modelos internacionais posteriormente objecto de tratados bilaterais. Temos um elo proposto pela ONU para os pases mais subdesenvolvidos e outro proposto pela OCDE para os mais desenvolvidos. Portugal adoptou, o segundo modelo, ou seja, seguiu o modelo dos pases de residncia. Contudo, todos os modelos so decalcados da proposta da OCDE, o que os torna praticamente iguais. Periodicamente so revistos por especialistas de renome internacional, o que tambm contribui para uma certa pacificao da questo, tornando os modelos adoptados de fcil aceitao pela generalidade da comunidade internacional.

    Estes modelos so, no fundo, "minutas" com um articulado e alguns comentrios, nos quais se reconhecem 4 caractersticas: 1) uniformizao de conceitos define-se o que um residente, o que um dividendo, um royaltie, etc. 2) estabelece-se quem tributa o qu: o lucro normalmente tributado no pas da fonte e os rendimentos de capitais no pas da residncia;

    3) Partilha absoluta ou no: que se partilha da tributao no for absoluta, a dupla tributao subsistir (exemplo: um banco alemo que gere lucros em Portugal e emprestar dinheiro a empresas portuguesas tributado duplamente); nestes casos, surge uma terceira parte do modelo (alm do articulado e dos comentrios), na qual se limitam os poderes de tributao do estado da fonte; no exemplo apresentado, Portugal no tributaria ao nvel habitual de 40%, mas, por exemplo, convencionar-se-ia que essa tributao seria apenas 15%; 4) cooperao administrativa: entre as respectivas administraes fiscais estabelecem-se procedimentos de troca de informao com vista a eliminar a no tributao de rendimentos.

    A importncia prtica destas Convenes enorme dado que elas prevalecem sobre o direito interno dos Estados que as subscrevem, no domnio das operaes financeiras internacionais (a questo relevante no nosso pas, na medida em que Portugal eminentemente um pas de destino de investimento estrangeiro nestes casos no se aplicam o IRS e o IRC).

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    CAPTULO VI -A RELAO JURDICO-FISCAL

    a relao que se estabelece por fora da lei. uma relao complexa; no se limita a indicar quais so os sujeitos activo e passivo, mas tambm indica as diversas obrigaes acessrias destinadas a preparar a obrigao principal e que giram em volta desta (exemplos: a obrigao de apresentao das declaraes em certos prazos; a obrigao de inscrio nas Finanas quando se d incio a uma actividade, etc.); em alguns casos, essas obrigaes acessrias custam mais do que a obrigao principal (veja-se o caso da empresa que no gera lucros, mas que ainda assim tem de dar cumprimento a essas obrigaes acessrias).

    Por outro lado, algumas dessas obrigaes acessrias tm punies mais severas do que a obrigao principal (exemplo: se no se paga executada a penhora, mas o incumprimento de um prazo pode acarretar uma coima elevada; motivo: atravs do cumprimento desta obrigao acessria que a Administrao Fiscal determina o facto gerador do imposto e a sua base tributvel). tambm a partir de obrigaes acessrias que a Administrao Fiscal controla o imposto de terceiros (exemplo: as entidades patronais declaram o que pagam a terceiros por via da reteno na fonte). Por todas estas razes se diz que a relao jurdico-fiscal complexa. A sua estrutura composta pelos sujeitos, pelo objecto, pelo facto jurdico e pelas garantias. Os sujeitos activos so o Estado e os entes pblicos. Os sujeitos passivos so as pessoas singulares ou colectivas a que a lei fiscal impe o dever de efectuar a prestao do imposto ou outros deveres acessrios. No mbito dos sujeitos passivos h que distinguir duas realidades diferentes:

    1) O contribuinte: aquele que preenche os pressupostos de facto de uma norma fiscal, e, consequentemente, paga o imposto (exemplo: o titular de um rendimento, um trabalhador, um comprador,...)

    2) O devedor de imposto: em certos casos no h coincidncia entre o sujeito passivo e o contribuinte; isto , a obrigao fiscal prestada por um terceiro (exemplo: o menor, o interdito e o caso mais flagrante do trabalhador por conta de outrem); o devedor do imposto ser, deste modo, a pessoa que, por fora da lei, est obrigada ao pagamento do imposto.

    Em princpio quem tem capacidade jurdica em geral tem, tambm capacidade jurdico-fiscal; mas h situaes excepcionais: certas entidades tm capacidade fiscal mas no possuem capacidade jurdica geral (exemplo; um clandestino). A questo mais relevante em torno desta dicotomia a que se levanta a propsito das chamadas sociedades irregulares. que uma sociedade comercial apenas adquire personalidade jurdica (e tambm capacidade) quando efectua o ltimo registo a que est sujeita. Pergunta-se: at l no deve essa sociedade pagar impostos? claro que sim, podendo o fisco recorrer a uma de duas hipteses: 1) ou tributa a sociedade em qualquer situao que ela se encontre ou tributa cada um dos seus scios nas respectivas quotas-partes. Esta ltima hiptese seria favorvel, na medida em que tributar 1 000 de uma s vez ou tributar 250 de cada vez representam resultados diferentes. Contudo, desde h alguns anos que a questo est resolvida: as sociedades irregulares so tributadas como se estivessem totalmente regularizadas (de outro modo, seria um prmio no realizao das sociedades).

    Obrigao principal: obrigao de algum pagar um imposto em montante definido por lei.

    Remeter aqui para o direito das obrigaes quanto estrutura da obrigao do imposto: facto jurdico, sujeito, garantia.

    As circunstncias complementares ou acessrias so muitas vezes mais importantes.

    Exemplos:

    -declarao de rendimentos ( uma substituio de administrao fiscal pelas empresas);

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    -ter contabilidade organizada segundo o POC (mesmo que no tenha lucro);

    -podem incidir sobre 3s que no os sujeitos passivos do imposto (facturas de outras empresas, na nossa contabilidade surgem numa inspeco).

    -os notrios notificam a administrao fiscal das escrituras sujeitas a mais-valias.

    este hoje o grande peso da obrigao do imposto pois o pagamento at s ocorrer se houver lucro.

    A lei considera mais grave o no cumprimento de obrigaes acessrias do que propriamente o no pagamento do imposto, as sanes so muito mais pesadas: juros, coimas, priso efectiva at.

    A questo da evaso fiscal acontece por causa das obrigaes acessrias.

    A questo do pagamento mais simples: ou pago ou no pago.

    Em quantidade e nus as obrigaes acessrias so bem maiores.

    S nos vamos ocupar dos sujeitos: activo (vamos falar aquando das classes dos impostos) e passivo.

    Sujeitos passivos (quem tem obrigaes resultantes da lei fiscal seja essa obrigao principal ou acessria. Normalmente usamos contribuinte, devedor do imposto e sujeito passivo com o mesmo sentido mas nem sempre assim.

    Devedor de imposto (aquele que segundo a lei dever entregar ao Estado o montante do imposto. Sujeito passivo e contribuinte continuam a coincidir.

    Contribuinte (o que contribui; aquele que a lei quer que sofra o desfalque patrimonial do Imposto poder no coincidir com o devedor do imposto.

    Quem o sujeito passivo/ devedor do IVA? Quem que suposto suportar o IVA? O consumidor. Mas quem tem obrigaes legais de entregar o IVA ser por exemplo o titular do restaurante. E o consumidor o contribuinte? Poder no ser at mesmo porque pode no haver repercusso do IVA.

    Exemplo: Um trabalhador que combina com o patro ganhar 400 cts limpos mais o pagamento do que ele pagaria de impostos.

    400 cts + 160 cts de impostos = 560 cts (se ganhasse isto o imposto j no eram os 160; o trabalhador deixa de ser o contribuinte.

    normal que apaream sociedades comerciais irregulares (em vias de regularizao) que ainda no so tratadas como regulares. O que economicamente igual deve ser tratado de igual forma.

    Exemplo: 2 oficinas de automveis sendo que uma est registada, outra uma sociedade de facto, dever a que cumpriu a lei ter mais obrigaes fiscais do que a outra irregular ( todavia tambm reconhecida, a estas os direitos de impugnao.

    Substituio fiscal - mecanismo prprio do direito fiscal d cobertura reteno na fonte. Como j se viu, nem sempre h coincidncia entre o devedor de imposto e o contribuinte. A lei, em certos casos, incumbe um terceiro de pagar os impostos de certos contribuintes. O exemplo paradigmtico o que resulta da relao laboral: a entidade patronal est obrigada por lei a reter mensalmente o montante de imposto imputvel aos seus empregados. Neste caso, o contribuinte o trabalhador e a entidade patronal o devedor do imposto. Dito de outro modo, a entidade patronal vai funcionar como o substituto e os trabalhadores so os substitudos. O substituto passa a ser o devedor de imposto. A lei, neste caso concreto, impe-

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    no desde o incio da relao jurdico-fiscal. a dimenso jurdica da substituio fiscal. Por outro lado, associa-lhe o mecanismo da reteno na fonte - a dimenso econmica da substituio fiscal.

    O mecanismo da reteno na fonte proporciona significativas vantagens: desde logo, o efeito da anestesia fiscal (os contribuintes nem chegam a ver o dinheiro que retido pelas entidades empregadoras); por outro lado, diminui-se o grau de evaso fiscal (entidade patronal est a pagar com o dinheiro dos seus empregados, sendo que, teoricamente, uma entidade mais slida, oferecendo, por isso, maiores garantias); por fim, a importante economia de processos (as entidades empregadoras, de uma s vez, fazem centenas de retenes na fonte -no se imagina o que seria cada trabalhador, mensalmente, a pagar o seu imposto).

    O substituto fiscal sempre o primeiro responsvel pelas prestaes retidas e, consequentemente, pela sua entrega nos cofres do Estado. A reforma fiscal dos anos oitenta trouxe substituio fiscal uma importncia acrescida, que se traduz na antecipao das receitas ocasionadas pela reteno na fonte. Sendo obrigaes fiscais do ramo de direito pblico, e por isso, indisponveis, ento a substituio fiscal tem de ser tipificada na lei; trs situaes a reter 1) os rendimentos da categoria A e H artigo 99: temos reteno na fonte sempre que haja pagamentos; as retenes operadas neste grupo dependem sempre dos rendimentos (ver tabelas do Cdigo do IRS); as tabelas variam consoante o estado civil, o nmero de dependentes, as dedues especficas e a progressividade da taxa; a influncia directa destas variveis faz com que, tendencialmente, haja uma aproximao entre os montantes retidos e o montante que se vai pagar; 2) os rendimentos das categorias B, E, F e comisses art. 101: esto em causa os rendimentos de capitais, prediais e comisses; neste grupo, somente h lugar substituio fiscal significa que nos casos em que tal garantia no possa ser dada, ou se tome excessiva essa exigncia (a reteno na fonte no pode ocasionar um custo desproporcionado para o contribuinte), no teremos reteno na fonte; o caso dos electricistas que chamamos a casa ou das penses de alimentos (da categoria H); neste grupo, a reteno opera-se sempre a partir de uma taxa fixa e proporcional; neste grupo, e ao contrrio do anterior, j no se verifica aquela tendncia igualitria entre o montante retido e o montante a pagar (exemplo: um advogado que tenha 1 000 de rendimento bruto, mas tenha 800 de despesas relevantes, apenas tem um rendimento lquido de 200; contudo, o imposto vai incidir sobre os 1 000, vindo posteriormente, se for o caso, a ser reembolsado); este regime sofre, contudo, algumas derrogaes especiais.

    Nos trabalhadores por conta de outrem temos o total bruto e o lquido. A entidade patronal fica com a obrigao de entregar ao Estado determinado montante que retm na fonte (IRS e SS) (a isto chamamos substituio fiscal. H uma distino clara entre sujeito passivo (obrigao fiscal) e contribuinte (o que sofre o desfalque).

    O mesmo acontece na reteno (20%) que feita nos juros dos depsitos bancrios.

    Totoloto, totobola e rifas (os prmios associados so lquidos.

    Rendas so lquidas se o inquilino for uma sociedade.

    A lei faz aqui incidir o pagamento de impostos sobre um sujeito passivo que no o contribuinte.

    O pagamento, a liquidao do imposto determina alguns conhecimentos, contabilidades organizadas, logo o Estado vai preferir receber destes. Ex: reteno na fonte nos arrendamentos.

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    O dever de liquidar e cobrar o imposto do substituto especializado (grandes empresas especializadas, nomeadamente bancos. So entidades financeiramente mais slidas que oferecem mais garantias de pagamento.

    Esta figura relativamente segura: o substituto no tem interesse em fugir ao imposto, pois se no o entregasse ao Estado entregaria ao substitudo.

    Temos aqui o efeito de anestesia: as pessoas sentem pouco a reteno, pensam no lquido e de certa forma no tm conscincia do que deixam de ganhar em prol do Estado.

    O substitudo nunca aborrecido pelas finanas se a deduo na fonte tiver sido feita; de outra forma haveria dupla tributao.

    A lei configura com grande violncia o no cumprimento da reteno na fonte. Se o patro ficar como depositrio da reteno na fonte e o no pagar configura-se um crime de abuso de confiana fiscal. Parece que se prefere a entrega do imposto do que a do salrio do trabalhador.

    Responsabilidade fiscal ou fiana legal a lei determina que certas pessoas sejam garantes da obrigao fiscal de terceiros; duas situaes relevam:

    1) Os funcionrios da administrao fiscal, sempre que sejam coniventes com a facilitao da no cobrana de impostos;

    2) Os gerentes das sociedades, sempre que as respectivas sociedades no cumpram as suas obrigaes fiscais. O objectivo desta figura da responsabilizao o de pressionar aqueles que tm funes de direco a conferirem prioridade ao pagamento de impostos. Importa distinguir entre responsvel fiscal e substituto fiscal