a cultura circense como ferramenta educacional

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A CULTURA CIRCENSE COMO FERRAMENTA EDUCACIONAL “Só a verdade e a beleza podem convencer o público” Chaplin “Historicamente pode-se afirmar que as artes circenses surgiram na China, onde foram descobertas pinturas de quase 5.000 anos em que aparecem acrobatas, contorcionistas e equilibristas”. (AYALA, 2008). Acredita- se também, que pode ter surgido de atividades de entretenimento como elemento das festividades sacras e religiosas, de apresentações públicas nas praças, ruas, tablados, teatros populares, para constituir-se hoje como uma arte dos malabaristas, equilibristas, acrobatas, trapezistas, palhaços e tantos outros artistas circenses. Apesar de sua longa história, atualmente o circo aparece como uma forma emergente de conhecimento em nossa sociedade. Nesse sentido, observa-se a crescente presença da arte circense em clubes e academias que oferecem essas atividades, assim como a prática informal dessa arte em outros espaços públicos ou privados e, da mesma forma, um aumento considerável de escolas que têm absorvido tal cultura como ferramenta interdisciplinar capaz de promover um alcance significativo da dimensão ética/éstética, fundamental no processo de ensino-aprendizagem. A perspectiva interdisciplinar das práticas circenses se assenta em propostas que valorizam a criatividade, a

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Circo do Zé

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Page 1: A Cultura Circense Como Ferramenta Educacional

A CULTURA CIRCENSE COMO

FERRAMENTA EDUCACIONAL

“Só a verdade e a beleza podem convencer o público”

Chaplin

    “Historicamente pode-se afirmar que as artes circenses surgiram na China, onde

foram descobertas pinturas de quase 5.000 anos em que aparecem acrobatas,

contorcionistas e equilibristas”. (AYALA, 2008). Acredita-se também, que pode ter

surgido de atividades de entretenimento como elemento das festividades sacras e

religiosas, de apresentações públicas nas praças, ruas, tablados, teatros populares, para

constituir-se hoje como uma arte dos malabaristas, equilibristas, acrobatas, trapezistas,

palhaços e tantos outros artistas circenses.    

Apesar de sua longa história, atualmente o circo aparece como uma forma

emergente de conhecimento em nossa sociedade. Nesse sentido, observa-se a crescente

presença da arte circense em clubes e academias que oferecem essas atividades, assim

como a prática informal dessa arte em outros espaços públicos ou privados e, da mesma

forma, um aumento considerável de escolas que têm absorvido tal cultura como

ferramenta interdisciplinar capaz de promover um alcance significativo da dimensão

ética/éstética, fundamental no processo de ensino-aprendizagem. A perspectiva

interdisciplinar das práticas circenses se assenta em propostas que valorizam a

criatividade, a sensibilidade, proporcionando vivências lúdicas, que se utilizam da ação,

do pensamento e da linguagem, tendo no jogo, na brincadeira e na fantasia, sua fonte

dinamizadora. As atividades circenses vêm constituindo-se como aliadas das outras

disciplinas, por serem atividades que geram atitudes com um potencial educativo.

Durante o processo de ensino e aprendizagem, os alunos desenvolvem diferentes

aspectos pessoais, como a cooperação, o desenvolvimento da criatividade, a melhora da

auto-superação e da auto-estima. 

Muitos países, principalmente europeus, possuem programas de formação em

atividades circenses desde a pré-escola até os cursos universitários ou de formação

profissional, reconhecendo tanto a riqueza motriz como a cultural (valor histórico,

social, artístico, etc.) do circo para a sociedade contemporânea, como é o caso de França

e Bélgica. “Outros tantos países europeus, reservam um espaço para tais atividades,

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principalmente por seu valor cultural, como é o caso de Portugal, Alemanha, Espanha e

Itália.” (BORTOLETO, 2003).

No Brasil, a inclusão das atividades circenses também começa a dar seus

primeiros passos. Já existem escolas públicas e privadas de algumas regiões (São Paulo,

Brasília, Bahia, Rio de Janeiro, etc.) que já incluem as atividades circenses como

conteúdo em diferentes níveis (do ensino fundamental até o superior) dentro do

programa curricular ou como conteúdos optativos. “O circo é o último vestígio de um

saber antigo, existencial e iniciático. Esse saber, essa arte ancestral e única que é o

circo, só se perpetua graças a dois mecanismos: a transmissão de saber de pai para filho,

e o ensino proporcionado por uma escola.” (FRATELLINNI, 1988)

    Dentre as diversas modalidades da arte circense desenvolvidas no processo

educacional podemos destacar, por exemplo, a prática do malabarismo. Tal atividade

“possibilita desenvolver no educando o raciocínio lógico, a coordenação motora, o

domínio visual, a psicomotricidade e as noções de lateralidade (direito, esquerdo),

direção (frente, trás, diagonal), ritmo (lento, moderado, acelerado) e organização

espacial (dentro, fora, acima, baixo, ao lado, sobre.)” (COSTA, TIAEN, SAMBUGARI,

2008), além, é claro, dos valores presentes na esfera ética-estética-política, quais sejam:

criatividade, cidadania, sensibilidade, tolerância, imaginação, autonomia, respeito,

ludicidade, introjecção de regras, cooperação mútua, aumento da auto-estima e etc.

Algo muito trabalhado também, através do malabarismo, é a atenção e a visão

periférica, pois não é possível manter-se atento, por exemplo, a apenas uma das mãos ou

uma das bolas, mas é necessário um cuidado a toda movimentação executada pelo

corpo, mantendo o olhar em um ponto fixo e não desconsiderando o que acontece ao seu

redor para não perder a atenção e errar o movimento. Em pesquisa divulgada na revista

“Nature Neuroscience” em outubro de 2009, é evidenciado que tal atividade aumentaria

a massa encefálica branca (sistema de fibras e nervos que atua na transmissão de

informações que serão processadas pela massa cinzenta, considerada o sistema de rede

do cérebro) em 5%, principalmente na região responsável pela visão periférica

(JOHANSEN, 2009). Também podemos utilizar todo o corpo como auxiliar nas

manobras feitas com as bolas de malabares, refinando a coordenação motora, agilidade

para executar movimentos finos, equilíbrio, concentração, agilidade, e raciocínio rápido

para conseguir fazer o malabarismo de forma exemplar.

Page 3: A Cultura Circense Como Ferramenta Educacional

Referências bibliográficas

AYALA, D. J. P. O Circo vai a Escola: Possibilidades de Utilizar Atividades

Circenses nas Aulas de Educação Física Escolar. Ponta Porá, 2008

BARONI, J. F. Arte Circense: A Magia e o Encantamento Dentro e Fora das

Lonas. Rio Grande do Sul, 2006.

BERG, HEIDI JOHANSEN. O malabarismo aumenta o poder do cérebro. BBC

Brasil, 2009

BORTOLETO, M. A. C. Perna-de-Pau Circense: O Mundo Sob Outra

Perspectiva. Revista Motriz. Rio Claro, 2003, n. 3, v. 9. p. 125-133.

COSTA, A. C. P., TIAEN, M. S., SAMBUGARI, M. R. N. Arte Circense na Escola:

Possibilidade de um Enfoque Curricular Interdisciplinar. Ponta Grossa: Olhar

de Professor, 2008.

FRATELLINNI, ANNIE. O picadeiro é a liberdade. Correio da Unesco. Rio de

Janeiro,1988