A CULTURA CIRCENSE COMO
FERRAMENTA EDUCACIONAL
“Só a verdade e a beleza podem convencer o público”
Chaplin
“Historicamente pode-se afirmar que as artes circenses surgiram na China, onde
foram descobertas pinturas de quase 5.000 anos em que aparecem acrobatas,
contorcionistas e equilibristas”. (AYALA, 2008). Acredita-se também, que pode ter
surgido de atividades de entretenimento como elemento das festividades sacras e
religiosas, de apresentações públicas nas praças, ruas, tablados, teatros populares, para
constituir-se hoje como uma arte dos malabaristas, equilibristas, acrobatas, trapezistas,
palhaços e tantos outros artistas circenses.
Apesar de sua longa história, atualmente o circo aparece como uma forma
emergente de conhecimento em nossa sociedade. Nesse sentido, observa-se a crescente
presença da arte circense em clubes e academias que oferecem essas atividades, assim
como a prática informal dessa arte em outros espaços públicos ou privados e, da mesma
forma, um aumento considerável de escolas que têm absorvido tal cultura como
ferramenta interdisciplinar capaz de promover um alcance significativo da dimensão
ética/éstética, fundamental no processo de ensino-aprendizagem. A perspectiva
interdisciplinar das práticas circenses se assenta em propostas que valorizam a
criatividade, a sensibilidade, proporcionando vivências lúdicas, que se utilizam da ação,
do pensamento e da linguagem, tendo no jogo, na brincadeira e na fantasia, sua fonte
dinamizadora. As atividades circenses vêm constituindo-se como aliadas das outras
disciplinas, por serem atividades que geram atitudes com um potencial educativo.
Durante o processo de ensino e aprendizagem, os alunos desenvolvem diferentes
aspectos pessoais, como a cooperação, o desenvolvimento da criatividade, a melhora da
auto-superação e da auto-estima.
Muitos países, principalmente europeus, possuem programas de formação em
atividades circenses desde a pré-escola até os cursos universitários ou de formação
profissional, reconhecendo tanto a riqueza motriz como a cultural (valor histórico,
social, artístico, etc.) do circo para a sociedade contemporânea, como é o caso de França
e Bélgica. “Outros tantos países europeus, reservam um espaço para tais atividades,
principalmente por seu valor cultural, como é o caso de Portugal, Alemanha, Espanha e
Itália.” (BORTOLETO, 2003).
No Brasil, a inclusão das atividades circenses também começa a dar seus
primeiros passos. Já existem escolas públicas e privadas de algumas regiões (São Paulo,
Brasília, Bahia, Rio de Janeiro, etc.) que já incluem as atividades circenses como
conteúdo em diferentes níveis (do ensino fundamental até o superior) dentro do
programa curricular ou como conteúdos optativos. “O circo é o último vestígio de um
saber antigo, existencial e iniciático. Esse saber, essa arte ancestral e única que é o
circo, só se perpetua graças a dois mecanismos: a transmissão de saber de pai para filho,
e o ensino proporcionado por uma escola.” (FRATELLINNI, 1988)
Dentre as diversas modalidades da arte circense desenvolvidas no processo
educacional podemos destacar, por exemplo, a prática do malabarismo. Tal atividade
“possibilita desenvolver no educando o raciocínio lógico, a coordenação motora, o
domínio visual, a psicomotricidade e as noções de lateralidade (direito, esquerdo),
direção (frente, trás, diagonal), ritmo (lento, moderado, acelerado) e organização
espacial (dentro, fora, acima, baixo, ao lado, sobre.)” (COSTA, TIAEN, SAMBUGARI,
2008), além, é claro, dos valores presentes na esfera ética-estética-política, quais sejam:
criatividade, cidadania, sensibilidade, tolerância, imaginação, autonomia, respeito,
ludicidade, introjecção de regras, cooperação mútua, aumento da auto-estima e etc.
Algo muito trabalhado também, através do malabarismo, é a atenção e a visão
periférica, pois não é possível manter-se atento, por exemplo, a apenas uma das mãos ou
uma das bolas, mas é necessário um cuidado a toda movimentação executada pelo
corpo, mantendo o olhar em um ponto fixo e não desconsiderando o que acontece ao seu
redor para não perder a atenção e errar o movimento. Em pesquisa divulgada na revista
“Nature Neuroscience” em outubro de 2009, é evidenciado que tal atividade aumentaria
a massa encefálica branca (sistema de fibras e nervos que atua na transmissão de
informações que serão processadas pela massa cinzenta, considerada o sistema de rede
do cérebro) em 5%, principalmente na região responsável pela visão periférica
(JOHANSEN, 2009). Também podemos utilizar todo o corpo como auxiliar nas
manobras feitas com as bolas de malabares, refinando a coordenação motora, agilidade
para executar movimentos finos, equilíbrio, concentração, agilidade, e raciocínio rápido
para conseguir fazer o malabarismo de forma exemplar.
Referências bibliográficas
AYALA, D. J. P. O Circo vai a Escola: Possibilidades de Utilizar Atividades
Circenses nas Aulas de Educação Física Escolar. Ponta Porá, 2008
BARONI, J. F. Arte Circense: A Magia e o Encantamento Dentro e Fora das
Lonas. Rio Grande do Sul, 2006.
BERG, HEIDI JOHANSEN. O malabarismo aumenta o poder do cérebro. BBC
Brasil, 2009
BORTOLETO, M. A. C. Perna-de-Pau Circense: O Mundo Sob Outra
Perspectiva. Revista Motriz. Rio Claro, 2003, n. 3, v. 9. p. 125-133.
COSTA, A. C. P., TIAEN, M. S., SAMBUGARI, M. R. N. Arte Circense na Escola:
Possibilidade de um Enfoque Curricular Interdisciplinar. Ponta Grossa: Olhar
de Professor, 2008.
FRATELLINNI, ANNIE. O picadeiro é a liberdade. Correio da Unesco. Rio de
Janeiro,1988