a geografia na prÁtica: corrida de orientaÇÃo, jogos
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A GEOGRAFIA NA PRÁTICA: CORRIDA DE ORIENTAÇÃO, JOGOS E
EXPERIMENTOS COMO RECURSOS DIDÁTICOS NO INSTITUTO FEDERAL DE
GOIÁS, CAMPUS/VALPARAÍSO
Danielle Pereira da Costa
Doutora em Geografia - Professora IFG/Campus, Valparaíso-GO
Resumo
Este relato de experiência tem por objetivo apresentar como a utilização de atividades
práticas foi de suma importância para o aprofundamento de conteúdos teóricos abordados pela
ciência geográfica no âmbito do ensino médio para cursos técnicos ofertados pelo Instituto
Federal de Goiás, campus Valparaíso. Dentre as atividades realizadas, destacou-se os
resultados obtidos por aquelas relacionadas a corrida de orientação, a utilização de jogos
didáticos e a prática com solos.
Relato de experiência
A associação de práticas ao ensino de conteúdos tem sido amplamente utilizada pelas
diversas ciências e mostra-se de fundamental importância para Geografia, posto que, permite
por meio da experimentação aproximar aspectos teóricos abstratos ao empírico tão caro a esta
ciência.
Nos ensinos médios integrados a cursos técnicos ofertados pelos institutos federais de
educação, como é o caso dos oferecidos pelo Instituto Federal de Goiás, essa combinação
teoria e prática se faz de suma importância, seja por se constituir em um desafio para as
disciplinas do dito núcleo comum, como é o caso da geografia, afinal, como torná-la atraente
para além dos conteúdos do vestibular? e como fazer com que os assuntos por ela trabalhados
dialoguem com cursos técnicos?; seja, pelas possibilidades de atividades integradas que
podem ser propostas entre essas disciplinas e aquelas do dito núcleo específico, que congrega
as áreas técnicas, que no caso do Campus Valparaíso, atualmente, tem como áreas de atuação
os ensinos voltados para Automação Industrial e Mecânica.
Venturi (2011) considera que a percepção que os estudantes têm mundo um ponto de
partida fundamental para o desenvolvimento da aprendizagem. Mas, tão importante quanto, é
o aprendizado da organização dessa percepção pelo uso de técnicas, para que se produza
conhecimento com elas e possa compartilhá-las adquirindo consciência das dificuldades,
possibilidades e limitações, visto que, a prática ajuda a tornar os conteúdos mais próximos da
realidade do aluno devendo o uso das técnicas ser coerente com a natureza do assunto
estudado e que a partir da utilização de instrumentos simples forja-se ao observador a prestar
mais atenção na dinâmica da natureza, favorecendo sua compreensão.
Desse modo, a experimentação e o uso das técnicas no âmbito da aprendizagem
contribuem mormente para coleta e a sistematização de informações e a fazer com que o
conteúdo teórico seja apreendido de maneira mais consistente pelos alunos. Em outras
palavras, as técnicas nos ajudam a organizar o mundo real e dar-lhe mais exatidão, reduzindo
as subjetividades, o que é necessário para que o conhecimento seja compreendido e
compartilhado.
A geografia, enquanto uma ciência que estuda o espaço geográfico tem em muitos
temas a contribuir para análise de fenômenos e a realização de práticas em laboratório, se
constituindo como uma ciência factual que permite a compreensão da realidade seja ao
abordar conteúdos da área física e ambiental, a citar como exemplo, assuntos relacionados as
características do solo, do clima; seja, por meio da elaboração de produtos cartográficos e da
análise de dados sociais e econômicos.
Desse modo, diante da problemática exposta, dos poucos recursos orçamentários e da
realidade de um campus em implantação, sem laboratórios e equipamentos, foi necessário
adotar estratégias de baixo custo para o desenvolvimento das atividades propostas e que esse
relato de experiência foca sua análise em 3 (três) atividades desenvolvidas ao longo do
primeiro semestre do ano de 2015 com as duas turmas de ensino médio, quais sejam: a prática
de corrida de orientação; a utilização de jogos geográficos; e, o experimento de medir o tempo
de infiltração da água no solo. A ideia de trabalhar essas atividades por sua vez vinculou-se
aos seguintes fatores:
- aos conteúdos abordados pela disciplina de Geografia no primeiro ano do ensino médio, tais
como: orientação, escala, cartografia, geologia, solos, entre outros; e,
- a associação de conceitos trabalhados pela disciplina a outras áreas como resistência
dos materiais, física e educação física, por exemplo.
Assim sendo, posteriormente as explicações teóricas sobre os conceitos de orientação,
escala, aspectos físicos do relevo e dos solos, foram elaborados para atividade de corrida de
orientação croquis e o mapa temático do campus, assim como, foi realizada atividade prática
com bússola conforme ilustram as figuras 1 e 2 e as fotos 1 a 5.
Figura 1: Croquis de parte do campus do IFG Valparaíso, utilizado para atividade de
orientação com e sem bússola
Figura 2: Exemplo de percurso em mapa de uso do solo do campus do IFG Valparaíso
utilizado na atividade de corrida de orientação.
Fotos 1 a 3: Alunos do Ensino Médio realizando atividade prática de orientação com croquis e
bússola no Campus do IFG Valparaíso.
Fotos 4 e 5: Alunos fazendo atividade de corrida de orientação no Campus do IFG Valparaíso.
O principal propósito de realizar uma corrida de orientação no Campus, foi o de
oportunizar aos alunos um contato direto com produtos cartográficos diversos, em escalas
diferentes, doados pelo IBGE (caso das folhas topográficas) ou disponibilizados gratuitamente
pelo INPE (imagens de satélites) e elaborados utilizando softwares livres como o Google
Earth e QuantumGIS, assim como, pela aplicação de materiais reciclados e/ou de baixo custo
como os utilizados para a produção dos prismas que constituem-se em pontos de referência a
serem marcados ao longo da realização do percurso orientado.
O foco da corrida de orientação é demonstrar que a leitura e compreensão do mapa é
uma habilidade muito importante e necessária para todo cidadão. Essas representações fazem
parte da vida contemporânea e podem ser utilizadas em diferentes contextos, como em artigos
de jornal, televiso, shopping, processo educacional, etc e dialogam com o que os Parâmetros
Curriculares Nacionais preconizam - que linguagem cartográfica deve ser conteúdo
obrigatário nas aulas de Geografia.
Sendo válido ponderar, de acordo com SHERMA (2010), que o termo orientação
refere-se a um esporte, constituído de regras, em que o praticante deve percorrer um trajeto,
previamente demarcado, e localizar os pontos de controle, podendo utilizar um mapa e uma
bússola. Desse modo, anteriormente a atividade prática propriamente dita, fez-se necessário
tecer algumas explicações teóricas acerca das regras do esporte e dos instrumentos utilizados,
o que, por si, gerou grande expectativa por parte dos alunos para realização da atividade fora
da sala de aula e explicitou a grande dificuldade dos mesmos em compreender alguns
conteúdos, em especial, o de escala cartográfica e aqueles relativos ao funcionamento da
bússola. Ficando também evidenciada uma maior necessidade de interação com as disciplinas
de matemática e física, posto que, na maioria das vezes o conceito era até absorvido, contudo,
as dificuldades de calcular e entender as diferenças de representação decorrentes das
mudanças de escala foram grandes.
Logo, dentre os principais resultados alcançados pelo desenvolvimento da atividade
prática de corrida de orientação listam-se:
- o primeiro contato de muitos alunos com diferentes produtos cartográficos, tais como:
croquis, mapas temáticos e folhas topográficas, assim como, com a própria bússola;
- a demonstração de satisfação apresentada por estes por estarem desenvolvendo uma
atividade fora da sala de aula, ainda que dentro do próprio campus, unida a uma prática
esportiva, sendo recorrente os questionamentos se as próximas aulas também seriam
realizadas fora de sala, com jogos, ou outras atividades lúdicas;
- a busca por superar a dificuldade que os alunos possuem em ler, analisar e interpretar os
mapas e se posicionarem, considerando que o conhecimento geográfico e cartográfico torna-
se uma exigência cada vez maior em nossa sociedade, que apresenta certa complexidade nas
relações econômicas, tecnológicas e sociais e faz parte do cotidiano de alguns desses alunos a
partir da utilização de aplicativos de localização e jogos digitais; e,
- o pensar sobre a importância e aplicabilidade da leitura cartográfica a partir da
experimentação dos procedimentos propostos.
Sendo válido ressaltar que os resultados foram bastante positivos em se tratando de
aperfeiçoar as habilidades leitura de mapas; de avaliação e escolha do itinerário; do uso de
bússola; da capacidade de decidir com desgaste físico e mental; de raciocínio rápido,
concentração e atenção; e de atividade física expressa pela corrida pelo terreno.
Em relação aos jogos didáticos foram utilizados jogos geográficos adaptados de sites,
tais como: o bingo geográfico; o jogo das coordenadas; a cruzadinha geográfica estrutura
geológica da terra; e, o caça-palavras da dinâmica interna do relevo (fotos de 6 a 11).
Fotos 6 a 11: Jogos geográficos no Campus do IFG Valparaíso
Atividade que teve como meta aprofundar conteúdos trabalhados em sala de aula
referentes a localização e os aspectos físicos do relevo de maneira lúdica, incentivou a
pesquisa e a colaboração, visto que, ora os jogos eram realizados ora individualmente, ora em
duplas ou equipes, que poderiam ser formadas envolvendo alunos das duas turmas, o que, por
sua vez, possibilitou ampliar o relacionamento entre os cursos. Valendo considerar o potencial
do jogo conforme coloca KISHIMOTO (1990) como recurso para o desenvolvimento, não
contrariando sua natureza, que requer a busca do prazer, a alegria, a exploração livre e o não-
constrangimento, sendo dada como premiação para o vencedor ou equipe vencedora
chocolates, afinal, mesmo que o lema seja “o importante é competir”, quem não gosta de ser
presenteado ao ganhar algo? (fotos 12 e 13).
Fotos 12 e 13: Premiação e aluno premiado em jogos geográficos
Por último, para a prática com solos foi aplicado o material da Experimentoteca do
Solos, do Programa Solos na Escola, disponibilizado pela Escola Agrária da Universidade
Federal do Paraná (UFPR) visando desenvolver atividades práticas de medição de infiltração
e reteno de água no solo; e, conhecer as diferentes composições, texturas, consistência e
porosidade desse elemento natural.
De acordo com YOSHIOCA E LIMA (2004) o Projeto de Extenso Universitária Solo
na Escola, do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola da Universidade Federal do
Paraná, está desenvolvendo um conjunto de experiências que visa constituir uma
experimentoteca de solos. A ideia desta iniciativa é organizar roteiros, que utilizem materiais
simples e possam facilitar a compreensão do tema solos, os quais são disponibilizados aos
professores em publicações e internet.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) (BRASIL, 1997), no contexto
desse conteúdo devem ser investigadas as relações entre a água e o solo, demonstrando neste
experimento por meio da infiltração e capacidade de armazenamento de água nas diferentes
amostras, bem como a importância deste armazenamento para s plantas, onde os alunos
identificam a amostra com maior capacidade de reteno de água, consequentemente,
armazenamento para o uso das plantas e microrganismos do solo através de comparações e
discussões.
Dessa maneira, posteriormente a serem abordados os conteúdos teóricos referentes aos
solos, tipos, distribuição e classificação a atividade extraclasse foi realizada utilizando
material reciclável e amostras de argila, areia e húmus coletadas no próprio campus, conforme
ilustram as fotos de 14 a 20.
Figura 3: Roteiro de uma das atividades desenvolvidas na experimentoteca de solos
Foto 4: Material utilizado na prática com solos
Fotos 15 a 30: Experimentoteca de solos no IFG Campus Valparaíso.
Fotos 15 a 30: Experimentoteca de solos no IFG Campus Valparaíso (continuação).
Como principais resultados observados na experimentoteca de solos realizada
destacam-se:
- o interesse demonstrado pelos alunos em compreender as diferenças apresentadas pelos
experimentos realizados expresso pelo fato de terem posto literalmente a mão na massa, desde
a separação do material até a realização dos experimentos;
- o surgimento no decorrer da realização de questionamentos que exigiram novas leituras e
busca de dados sobre o assunto; e,
- a elaboração de material fotográfico e vídeos a serem disponibilizados no futuro blog do
Clube de Ciências em implantação no Campus.
Referências citadas:
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências
naturais. Brasília-MEC/SEF, 1997. 136 p.
KISHIMOTO T.M. O Brinquedo na Educação Considerações Históricas. São Paulo-FDE, 199
disponível em: crmariocovas.sp.gov.br.
SCHERMA, E.P. Corrida de orientação: ouma proposta metodológica para o ensino da
geografia e da cartografia. Elka Pacelli Scherma. Rio Claro[s.n.], 2010, 201 f.
YOSHIOKA, M.H., LIMA, M.R. Experimentoteca de solos: infiltração e retenção da água no
solo. Arquivos da APADEC, Maringá, v. 8, n. 1, p. 63-66, 2004
VENTURI, L.A.B. Geografia – práticas de campo, laboratório e sala de aula. São Paulo:
Editora Sarandi, 2011. 528p.