a história do corpo ou o corpo da história

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  • 8/16/2019 A História Do Corpo Ou o Corpo Da História

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     A história do corpo ou o corpo da história Para o papa Gregório Magno, o corpo era a "abominávelvestimenta da alma" 

    maria teresa horta 

    O corpo continua a ser uma das maiores lacunas dahistória. Ou seja, inquietos com a sua incontornávelfora, os historiadores remeteram!no para umsobranceiro e moralista silncio. Uma História do Corpona Idade Média, obra conjunta de #acques $e Goff,principal continuador da escola dos %nnales, e &icholas'ruong, antigo director da revista Lettre, vem levantarde novo esta quest(o. O livro quer fa)er o levantamentodos motivos que tm empurrado o corpo para fora dahistória, apontando!os, um por um, com e*pressa

    vontade de enumerá !los, de debat!los numaperspectiva din+mica e clara, a dei*ar para trásequvocos, mist-rios, ideias feitas. %t- porque, desde osprimeiros captulos deste projecto comum, os autorespretenderam, ambiciosamente, preencher de formamoderna e auda) o que parece por e*plicar. Presos quecontinuamos a tabus e preconceitos.

    rente ao trabalho acabado, deparamo!nos com umainvestiga(o aturada e com um estudo ao mesmo tempoarguto, esclarecedor e claro, que prop/e a e*actid(o, origor e simultaneamente a ousadia, a contesta(o,

    impelindo o leitor a mergulhar na aventura dadescoberta e da busca, atrav-s de um pensamentoinovador, com o qual se desafia. 0 quando este se dáconta, apercebe!se de n(o se encontrar apenas a olharno espelho do imaginário da -poca a clamorosa ausnciado corpo, mas tudo o resto que desponta em seu torno,como erva daninha negrumes e interdi/es, proibi/es eespessuras. Porque aqui há um desafio que osinvestigadores nos fa)em1 partirmos com eles na esteirada aventura do corpo, a vistoriar de alto a bai*o oespao necessariamente agreste de uma -poca

    inquietante. &a análise, portanto, do que di) respeito amentalidade e costumes desse tempo sombrio, onde alu) mal entrava.

    Hildegard de Bingen. 0ssa -poca escamoteou o corponum jogo ambguo, tapando!o e destapando!o,mostrando!o e iludindo!o. 2obretudo o corpo feminino,tomado como imperfeito, conspurcado pelo pecado de

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    0va. 3omo nos - lembrado nesta História, "Os Padres da4greja e os cl-rigos preferiam a modelagem divina de0va a partir da costela de %d(o" e "da cria(o dos corposnasce portanto a desigualdade original da mulher".

    5esigualdade e pecado de 0va sublinhados no s-culo 644por 7ildegard de 8ingen, abadessa, visionária, pintora,escritora e m9sica. Mulher intensa, de cintila/es einterioridades que, recusando o negrume do seu tempo,preferiu mergulhar na desmesura da claridade, que nosdei*ou ver nos seus escritos ": vara, ó diadema dep9rpura real,; -s couraa em tua clausura." Ou1 ": flor,tu n(o germinaste do orvalho,; nem das gotas da chuva,nem do ar que te sobrevoara; mas o e*plendor do%ltssimo em nobilssima vara; te fe) desabrochar". ":vós, radiosas rai)es, ; que sustentais a obra dos

    prodgios; e n(o a dos crimes". ...? que figura no G-nesis como pecadode orgulho e desafio lanado a 5eus, torna!se na 4dadeM-dia um pecado se*ual". %ssim, "o corpo - o grandederrotado do pecado de %d(o e 0va revisitado nesta

    vers(o."

    Corpo do Pecado. 3orpo da se*ualidade, de que tantose fala neste livro, a partir de contrastes da severidadedo cristianismo @ obstina(o do paganismo, da urgnciado riso ao dom das lágrimas, do rigor do celibato aoamor corts, da gula @ abstinncia anor-ctica, do elogioda dor @ busca clandestina e marginali)ada, ao voo do

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    pra)er e da constru(o do erotismo. Mas o trabalho de$e Goff e 'ruong - igualmente elaborado em torno dasin9meras tens/es vigentes na 4dade M-dia. 'ens/es1"0ntre 5eus e o homem, entre o homem e a mulher,entre a cidade e o campo, entre o topo e a base, entre arique)a e a pobre)a, entre a ra)(o e a f-. Mas uma dasprincipais - a tens(o que e*iste entre o corpo e a alma."

    %lma sublime e glorificada a contrastar com o corpodespre)ado e perverso.