a ideia de história.collingwood

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© C o p y r ig h t b y T h e C la re n d o n P re s s O x fo rd

E D IT O R IA L P R E S E N l;A , L D A .

R u a A u g u s to G il, 3 5 -A - L 1 S B O A

94

C711i

1. A Filosofia da Hist6ria .

2. Natureza, objecto, metoda e valor da Hist6ria.

3. 0 problema das partes I-IV . . . . . . . . .

1. Hist6ria teocratica e Mito . . . . . . . . .

2. Cria<;ao da Hist6ria cientifica por Her6doto .

3. Tendencia anti-hist6rica do pensamento grego

4. Concep<;ao grega da natureza e do valor da natureza.

5. 0 metoda hist6rico grego e as suas limita<;oes

6. Her6doto e Tuddides

7. 0 periodo helenistico

8. Polibio. . . . . . .

9. Tito Livio e Tacito .

10. Caracter da historiografia Greco-Romana:

a ) Humanismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

11. Cankter da historiografia Greco-Romana:

b ) Substancialismo. . . . . . . . . . .

1. 0 Fermento das ideias crisUs. . . .

2. Caracteristicas da historiografia crista

3. A historiografia medieval. . . . . .

pags.

7

14

18

4. Os historiadores do Renascimento.

5. Descmtes .

6. A historiografia cartesiana . . . .

7. Anti-cartesianismo: a ) Vico ...

8. Anti-cartesianismo ; b ) Locke, Berkeleye Hume.

9. 0 lIuminismo. . . . . . . .

10. A ciencia da natureza humana .

l. 0 Romantismo

2. Herder.

3. Kant ..

4. Schiller.

5. Fichte .

6. SchelIing

7. Hegel .

8. Hegel e Marx .

9. Positivismo. .

l. Inglaterra:

a ) Bradley. . . . . . . . . . . . .

b ) Os sucessores de Bradley. . . . .

c) A hist6ria de fins do seculo XIX.

d) Bury ...

e) Oakeshott

f ) Toynbee .

2. Alemanha:

a) Windelband.

b) Rickert.

c) Simmel.

d) Dilthey.

e) Meyer.

f ) Spengler

3. Franr,;a:

a) 0 espiritualismo de Ravaisson

b ) 0 idealismo de Lachelier. . .

c) 0 evolucionismo de Bergson.

d) A historiografia francesa moderna

117

. 121

126

139

141

147

150

160

165

4. ItAlia:

0 ) 0 ensaio de Croce (1893) . . . . . . . 240

b ) A segunda posiCao de Croce: a «L6gica» 243

c) Hist6ria e Filosofia . . . . . . . . . . 246

d) Hist6ria e Natureza . . . . . . . . . . 247

e ) A concepcao final de Croce: a autonomia da historia 250

1. Natureza humana e historia humana:

0 ) A ciencia da natureza humana . . . . . . 257

b ) Ambito do pensamento historico . . . . . 262

c) A hist6ria como conhecimento do esplrito. 271

d) Conclusoes. . . . . . . . 282

2. A imaginacao hist6rica. . . . . 287

3. As provas historicas: Introducao 307

a) A historia como inferencia . 310

b ) Diferentes especies de inferencias 311

c ) 0 testamento. . . . . . . 314

d) A Hist6ria de cola e tesoura . 316

e ) A Influencia historica . . . . 320

f ) Os comportimentos estanques 323

g ) Quem matou 0 John Doe? 325

17) As perguntas . . . . . . 328

i) Afirmacao e prova . . . 334

j ) As perguntas e as provas 338

4. A hist6ria como reconstituicao da experiencia passada 343

5. 0 assunto da hist6ria . . . . . . . . . . . 365

6. Hist6ria e liberdade . . . . . . . . . . . . 380

7. 0 Progresso, tal como foi criado pelo pensamento hist6rico. 387

INTRODU<;AO

ESTE livro e urn ensaio sobre a filosofia da historia. A ex-. pressao «filosofia da histor~» foi inventada, no seculo

XVIII, por Voltaire, que entendia por tal nada mais doque a historia critica ou cientifica, urn tipo de pensamento his-

torico em que 0 historiador resolvia por si proprio, em vez derepetir quaisquer historias encontradas em alfarnlbios. A mesma

expressao foi usada por Hegel e outros escritores, em fins do se-culo XVIII, dando-lhes eles, porem, urn sentido diferente, ao con-sidenl-la simplesmente como historia universal. Encontra-se urn

terceiro emprego dessa expressao em varios positivistas do seculoXIX, para quem a filosofia da historia era a descoberta das leisgerais que regem 0 curso dos acontecimentos que devem ser re-feridos pela historia.

As tarefas atribuidas por Voltaire e Hegel a filosofia da

historia so podiam ser realizadas pela propria historia, ao passoque os positivistas tentavam fazer da historia nao uma filosofia

mas uma ciencia empirica, como a meteorologia. Em cada urndestes exemplos, ha uma concep((ao filosofica que orienta a con-cep((ao de filosofia da historia: para Voltaire, filosofia signifi-cava urn pensamento critico e independente; para Hegel, significaurn pensamento acerca do mundo, na sua totalidade; para 0

positivismo do seculo XIX, significava a descoberta de leisuniformes.

o uso ue fa 0 da ex ressao «filosofia da hist6ria» diferedc to os estes. Para explicar 0 que entendo por ela, come<;areipor zer al uma coisa sobre 0 meu conceito de filosofia.

Atlosofia e reflexiva 0 espirito filosofante nunca pensasimplesmente acerca de urn objecto, pensa tambem no seu pr6-

prio pensamento acerca desse objecto. A filosofia pode ser cha-mada, assim, urn ensamento do se undo grau, pensamento acer-

~ 0 ensamento. Por exemplo, descobrir a distancia da terraao sol e uma tarefa para 0 pensamento do primeiro grau, neste

caso para a astronomia; descobrir 0 que e que n6s estamos exac-tamente a fazer, quando descobrimos a distancia da terra ao sol,e uma tarefa para 0 pensamento do segundo grau, neste casopara a 16gica ou para a teoria da ciencia.

Tal nao significa que a filosofia seja a ciencia do espirito oupsicologia. A psicologia e pensamento do primeiro grau; trata

o espirito precisamente do mesmo modo que a biologia trataa vida. Nao se ocupa directamente do pensamento como algoperfeitamente separado do seu objecto, algo que acontece sim-

plesmente no mundo, como uma especie particular de fen6meno,que pode ser discutido em si mesmo; diz respeito a rela<;aoentre

pensamento e objecto, interessando-se tanto pelo objecto comopelo pensamento.

Esta distin<;ao entre filosofia e psicologia pode ser ilustradapelas diferentes atitudes adoptadas por estas disciplinas paracom 0 pensamento hist6rico, que e uma forma especial de pen-samento interessado numa especie particular de objecto, quedefiniremos provisoriamente como 0 passado. 0 psic610go pode

interessar-se pelo pensamento hist6rico; pode analisar os modosespecificos de actividade mental que se operam nos historiadores;pode, por exemplo, argumentar que os historiadores sac pes-

soas que constroem um mundo de fantasia, tal como os artistas,porque sac demasiado nevr6ticos para viv rem normalmenteno mundo real, mas que - ao contnlrio dos artistas - projec-tam este mundo de fantasia para 0 passado, pois ligam a ori-

gem das suas neuroses a acontecimentos passados da sua inffm-cia e dirigem-se sempre para 0 passado, numa va tentativa dese libertarem dessas neuroses. Esta analise podia ser mais por-menorizada e mostrar como 0 interesse do historiador por umafi ura tao im ortante omo a de Julio Cesar representa a atitudedo historiador, em crianr;:a, para com 0 pai, etc. ao suglro

que tal analise seja urn desperdicio de tempo. Limito-me a apon-

tar urn caso tipico, a fim de salientar que ela concentra a suaaten9aO exclusivamente no termo subjectivo da primitiva rela9aOsujeito-objecto. Da aten9aO ao pensamento do historiador enao ao seu objecto - 0 passado. Toda a analise psicologica do

pensamento hlstorico sena exac amente a mesma se nao hou-vesse, de facto, uma coisa como 0 passado, se Julio Cesar fosseuma figura imaginaria, e se a hist6ria nao fosse conhecimento

e sim pura fantasia.Para 0 fil6sofo, 0 facto que exige aten9ao nao e 0 passado

em si mesmo - como e para 0 historiador - nem 0 pens a-mento, em si mesmo, do historiador em rela9aO ao passado- como e para 0 psic610go- mas as duas coisas na sua rela9aO

reciproca. 0 pensarnento, na sua rela9aO com 0 objecto, naoe mere pensamento e sim conhecimento. Assirn, 0 que e para apsicologia a teoria do pensamento puro, dos fenomenos mentaisabstraidos de qualquer objecto, e para a filosofia a teoria doconhecimento. Enquanto 0 psic610go pergunta a si proprio:

como e que pensam os historiadores? - 0 filosofo pergunta asi mesmo: - como e que os historiadores sabem? como e quedes conseguem apreender 0 passado? Contrariarnente, cabe aohistoriador - e nao ao filosofo - apreender 0 passado como

uma coisa em si mesrna, dizer -eor exemplo - que, ha tantosanos, tiveram lugar efectivamente tais e tais acontecirnentos.Ao fil6sofo, interessam estes acontecimentos nao como COlsasem si mas como coisas conhecidas do historiador. Quanto ao

historiador, e interrogando-se acerea do destine a dar aos acon-tecimentos - e nao interrogando-se acerea da sua especie, domomenta e do lugar em que ocorreram - que ele tera a possi-

bilidade de conhece-Ios.Assim, 0 filosofo tern de tomar em considera9aO 0 pensa-

mento do historiador, mas ao faze-Io nao esta a duplicar 0 tra-

balho do psic6logo, pois, para ele, 0 pensamento do historiadornao e urn complexo de fenomenos mentais mas urn sistema deconhecimento. Tambem ele pensa no passado, mas nao de modoa duplicar 0 trabalho do historiador, porque 0 passado, para

ele, nao e uma serie de acontecimentos mas urn sistema de coisasconhecidas. Podia-se afirrnar isto, dizendo que 0 filosofo, na medidaem que pensa no aSRecto subjectivo da hist6ria, e urn episte-m610go, e, na medida em que pensa no aspecto objectivo, e urnmetafisico. Mas essa maneira de par a questao seria perigosa

porque sugere que os aspectos epistemologicos e metafisicos------------, . .__ • . . .- . ~--_.-

do s u lrabalho podem ser tratados separadamente, e isso seriau rn crr . A filosofia nao pode separar 0 estudo do que l i l l a conhe-

'cr d cstudo do que ja e conhecido. Esta impossibiiidade resultadircctamente do conceito de filosofia c n m o pensamento doscgllnd0 grau.

Se e este 0 caracter gentlrico do pens;rmento filosofico, 0

que e que pretendo dizer quando qualifico (, termo «filosofia»

acrescentando-Ihe «da historia»? Em que sentido ha uma filo-sofia especificamente da historia diferente da filosofia em geralc da filosofia de qualquer outra coisa?

Concorda-se, geralmente, embora de forma urn tanto pre-dtria, que ha diferencia~5es dentro do corpo da filosofia. Vmaparte das pessoas distingue a logica ou teoria do conhecimentoda etica ou teoria da ac~ao, embora a maioria daqueles que

fazem essa distin~ao possa tambem concordar que 0 conheci-mento e, em certo sentido, uma especie de ac~ao, e que essa ac~ao,tal como e estudada pela etica, exprime (ou, pelo menos, implica)certas formas de conhecimento. 0 pensamento que 0 16gico

estuda e urn pensamento que aspira it descoberta da verdade,sendo assim um exemplo de actividade dirigida a urn fim, e estas

sao concep~5es eticas.~A ac~ao estudada pelo filosofo que seocupa da moral e uma ac~ao baseada no conhecimento ou na

cren~a respeitante ao que esta certo ou errado, e 0 conhecimentoou a cren~a sao uma concep~ao epistemologica. Deste modo,a logica e a etica estao ligadas e sao, indubitavelmente, insepara-veis, embora distintas. Se ha uma filosofia da historia, nao po de

deixar de estar menos intimamente ligada as outras cienciasfilosoficas do que estas duas estao ligadas uma a outra.

Temos entao de perguntar por que e que a filosofia da his-toria deve ser objecto de urn estudo especial, em lugar de serinclufda numa teoria geral do conhecimento. Atraves da evo-lu ;-0 da civiliza ao europeia, tem-se pensado, em certo grau,

historicamente; mas raramente reflectimos nas ac~5es que pra-ticamos com toda a facilidade. Sao apenas as dificuldades que

cncontramos que nos for~am a ter consciencia dos nossos esfor-

~os para as vencer. Assim 0 objecto da filosofia, tal como 0 desen-volvimento organizado e cientifico da autoconsciencia, depende,1TI1iitasvezes, dos problemas especificos em que, num dado

momcnto, os homens encontram dificuldades especificas. Olharpa ra os tapicos mais evidentes da filosofia dum determinadorovo em determinado periodo da sua historia, e encontrar urn