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A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA DOGMÁTICA
JURÍDICO-CANÔNICA MEDIEVAL
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
ALUNOS: Andreílson Gonçalves e Eduardo Severo
Concílio Vaticano II
De forma condensada, pode-se dizer quedois foram os institutos legados pelaIgreja Católica para a constituição doDireito ocidental moderno:
Galileu diante do Santo Ofício, pintura do século XIX de Joseph-Nicolas Robert-Fleury.
a dogmática e o inquérito
A institucionalização da dogmática éencarada como elemento de construção,manutenção e manipulação da verdade,que legitimou a postura autoritáriaimposta pela Igreja Católica na IdadeMédia. Destarte, vê-se que a referidaideologia foi utilizada como mecanismode controle e manipulação social,essencialmente por meio do sistemajurídico.
As invasões germânicas originaramnumerosos sistemas de governomenores e autônomos, organizadosatravés dos vínculos de subordinação. Ochamado regime feudal, então, veiocomo uma junção das características doregime escravocrata e do regimecomunitário primitivo das tribosnórdicas. O responsável político poressa junção foi a Igreja Católica Romana.
O Direito derivado da Igreja serviu parasedimentar o poder institucional atravésde fundamentações “racionais” nainterpretação da verdade.
Na Idade Média, o Direito germânico foide grande influência, uma vez que foiutilizado para resolver conflitos.Observa-se que foi marcado pelaausência de um poder judicialorganizado. Desse modo, o processopenal, por exemplo, consistia numa“forma ritual de guerra” entre o ofendidoe o acusado.
No que tange à fidelidade na relaçãofeudal, constata-se um caráter ambíguo,uma vez que não eram obrigatórios osdeveres de tal relação. No entanto,alguns deveres contratuais entre senhore vassalos são fixos, bilaterais eobrigatórios.
O Direito germânico impunha umaimportante característica ao feudalismo,tal qual a autoridade baseada no carismade um líder guerreiro. Segundo MaxWeber apud Rogério Dultra dos Santosapud org. por Antonio Carlos Wolkmer,tal carisma estava ligado à qualidade deuma personalidade e apresentava certocaráter “mágico”.
Carlos, em sua primeira carta ao Papa São LeãoIII (eleito em 795), falou de seu próprio cargode protetor da Fé católica nos seguintestermos, capazes de chamar muito a atenção doSumo Pontífice.“Conforme ao que pactuei com VossoPredecessor, quero conservar conVosco umaaliança inquebrantável de amor e lealdade noteor seguinte: da Vossa parte me acompanharáem tudo a Bênção apostólica; e de minha parteestará protegida sempre a Santa Sé”.
À maneira de Clóvis e Pepino, Carlos propunha ao sucessor de São Pedro umverdadeiro pacto bilateral, segundo o qual o Papa ficava incumbido de procurarpara Carlos a bênção do Céu, que – como já sabemos – significava para o franconão só a bem-aventurança eterna, mas a conquista de todos os povos bárbarospara convertê-los e a obtenção “das coisas boas deste mundo”; e em troca detudo isso Carlos Magno defenderia o Papa contra hereges, pagãos, bizantinos etodos os inimigos temporais.
Para o autor, “o fundamento de todadominação, e, por conseguinte de todaobediência, é uma crença: crença noprestígio do que manda e dos quemandam”. Tal crença dará origem, no fimda Idade Média, à utilização do contratocomo fundamento político da existênciado Estado.
Assim foram os reis e papas na IdadeMédia em uma verdadeira simbiose depoder. O papado ainda persiste comoautoridade máxima da crença cristãcatólica.
Os “Ditames do Papa” e o maiorPapa da Idade Média: SãoGregório.
No ano do Senhor de 1075 foram incluídos nos registros pontifícios, os famosos Dictatus Papae, ditames do papa, I. é, regras, avisos, ordens ou
doutrinas do Papa, redigidos em forma concisa e penetrante.
Os ditames versam sobre as relações entre a Igreja (especificamente do Papado) com o Império, e a ordem temporal
em geral.No ano da inscrição, o Papa reinante São Gregório VII livrava
tremenda batalha contra as indevidas pretensões do Imperador Henrique IV.
Nessa famosa querela ‒ também conhecida como “querela das investiduras” ‒ Henrique IV teve que pedir perdão a São
Gregório VII, quem o tinha excomungado.
O grande Papa estava no castelo de Canosa, na Toscana. Henrique IV passou três dias do lado de fora, na neve, vestido de penitente até receber o perdão. De ali vem a expressão “ir a
Canosa”.
Henrique IV pede perdão a São Gregório VII em CanosaComoSão Gregório VII temia, o arrependimento de Henrique IV não era sincero. Voltou à Alemanha, montou um exército e assaltou
Roma.
São Gregório VII foi assim obrigado a se refugiar no sul da Itália, morrendo em Gaeta, não muito depois.
Suas últimas palavras foram: “Amei a justiça e detestei a iniqüidade, por isso morro no exílio”.
Entrementes, os príncipes alemães defensores do Papado, acabaram liquidando a revolta do imperador
excomungado e deposto.
São Gregório VII, embora na tumba, foi o grande vencedor.
Os Ditames refletem tão bem os ensinamentos desse pontífice que a ele foram atribuídos. Porém os especialistas discutem a
redação, sem chegarem ainda a uma conclusão.
A disputa acadêmica é sobre datas e não sobre a doutrina, que é a de São Gregório VII, para muitos o maior Papa da Idade
Média.
DICTATVS PAPAE, bula de São Gregório VII
1 ‒ Que a Igreja Romana foi fundada somente por Deus.
2 ‒ Que somente o Pontífice Romano pode ser chamado de universal com pleno direito.
3 ‒ Que somente o Pontífice pode depor e restabelecer bispos.
4 ‒ Que os legados do Pontífice, ainda que de grau inferior, em um concílio estão acima de todos os bispos, e pode contra estes
pronunciar sentença de deposição.
5 ‒ Que o Papa pode depor os ausentes.
6 ‒ Que não se deve ter comunhão ou permanecer na mesma casa com aqueles que tenham sidos excomungados.
7 ‒ Que só a ele é lícito promulgar novas leis de acordo com as necessidades dos tempos, reunir novas congregações,
converter uma abadia em casa canônica e vice-versa, dividir uma diocese rica ou unir pobres.
8 ‒ Que somente ele possui as insígnias imperiais.
9 ‒ Que todos os príncipes devem beijar os pés do Papa.
10 ‒ Que o seu nome deve ser recitado em toda igreja.
11 ‒ Que o seu título é único no mundo.
12 ‒ Que é lícito depor o imperador.
13 ‒ Que a ele é lícito segundo as necessidades transladar os bispos de uma sede para outra.
14 ‒ Que ele tem o poder de ordenar um clérigo de qualquer igreja para o lugar que queira.
15 ‒ Que o que foi ordenado por ele pode governar a igreja de outro, mas não fazer a guerra; não pode receber de outro bispo
um grau superior.
16 ‒ Que nenhum sínodo pode ser chamado de geral se não for guiado por ele.
17 ‒ Que nenhum artigo ou livro pode ser chamado de canônico sem sua autorização.
18 ‒ Que nada pode revogar sua palavra, só ele pode fazê-lo.
19 ‒ Que nada pode julgá-lo.
20 ‒ Que nada pode condenar quem apela a Sede Apostólica.
21 ‒ Que as causas de maior importância, de qualquer igreja, devem ser submetida ao seu juizo.
22 ‒ Que a Igreja Romana não erra e não errará jamais, isto está de acordo com as sagradas escrituras.
23 ‒ Que o Pontífice Romano, se houve sido ordenado em uma eleição canônica,está indubitavelmente santificado pelos mérito
do Bem Aventurado Pedro como nos testemunha Santo Ennódio, bispo de Pávia, com o consentimento de muitos Santos
Padres, como se encontra escrito nos decretos do bem aventurado Papa Símaco.
24 ‒ Que de baixo de sua ordem e com sua permissão é lícito aos súditos fazer acusações.
25 ‒ Que pode depor e restabelecer os bispos mesmo fora de reuniões de sínodo.
26 ‒ Que não deve ser considerado católico quem não está de acordo com a Igreja Romana.
27 ‒ Que o Pontífice pode absolver os súditos de juramento de fidelidade a iníquos.
Fonte: Gallego Blanco, E., Relaciones entre la Iglesia y el
Estado en la Edad Media, Biblioteca de Política y Sociología de
Occidente, 1973, Madrid, pp. 174-176)
Papa FranciscoFrancisco, nascido Jorge Mario Bergoglio é o 266º. Papa da Igreja Católica e atual chefe de estado do Vaticano, sucedendo o Papa Bento XVI, que abdicou ao papado em 28 de fevereiro de 2013.
No contexto da Idade Média, o paparepresentará a materialização do carismade Cristo e da IgrejaCatólica, estando, assim, vinculadosimbolicamente à figura paterna: ente queprotege e anima os fiéis na suacrença, encaixando-se no tipo ideal dedominação carismática.
A Igreja se consolidou, certamente, comoúnica instituição sólida da época medieval.Ela despontou como se fosse um grandesenhor feudal, proprietário de muitasterras e do poder espiritual e temporal emtoda Europa.
As regras jurídico-sagradas quedeterminavam a maneira correta deinterpretação e resolução dos litígios eramrepresentadas pelos cânones, que por suasvezes, eram tido como verdades reveladaspor um Ser superior, e a suadesobediência, era tida como um pecado.Destarte, por meio destes mecanismos, aIgreja passou a monopolizar a produçãointelectual judiciária.
Do ponto de vista jurídico, tem-se adescentralização da justiça. A jurisdiçãoeclesiástica passou a julgar, mediante ostribunais canônicos, principalmente, oscasos envolvendo o direito de família e oscasos relativos ao casamento.
Pode-se dizer que, o direito canônicoenquanto instituição jurídica-se encontrainafastavelmente associado à questão dequem proferirá a palavra legítima, ouseja, de quem terá a premência de dizer oque é verdade e, com isso, controlar ainstituição da própria realidade. Para alémdo lugar de legitimidade, o direitocanônico se arvora em objeto de amordaqueles a quem subordina com seucomando. A obediênciainquestionada, alçada ao grau de verdadeadoração, define o amor dos dominados.
Tal amor incondicional, cujo vacilar impõeculpa, caracterizará a genialidade doexercício do poder da igreja medieval e asua fundação no processo de veneraçãoabsoluta do papel da autoridade, comoinstrumento de reprodução das instânciasde dominação.
Desse modo, por serem os sujeitos quematerializam o saber divino na terra, aIgreja e o Direito canônico tem o condão deproceder “a demarcação do lugar idealonde reside a palavra que deve governarnão nesse ou aquele aglomerado, masrealmente todo o gênero humano”.
O Direito canônico permite, nessesentido, o exercício jurídico do impériocatólico por meio de rigorosa lógica,dogmática, que implica na existência deuma monarquia sacerdotal onipotente najurisdição (no dizer o que é o direito): oPapa será o pontífice católico e Imperadorromano ao mesmo tempo (viva Vox júris).
O Direito canônico, portanto, nascecomo discurso que exclui a cultura e odiferente, na medida em que seautodenomina único e natural através doprocesso de “canonização” dasinterpretações e, principalmente,quando, sob esse pretexto, funda e pune ocomportamento herético e tambémquando especifica as práticas deexcomunhão e penitência.
A lógica dogmática se materializaenquanto prática repressivainstitucionalizada, como formadora docomportamento humano através dasupressão de quaisquer realidadessimbólicas distintas de “verdade”codificada.
FIM