a mineraçaõ no brasil colônia
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Apostila sobre a mineração no Brasil Colonial produzida por Marco LamarãoTRANSCRIPT
História do BrasilHistória do Brasil Prof. Lamarão
A descoberta do ouro e a sociedade mi-
neradora.
A descoberta do ouro no Brasil
colonial foi um sonho nutrido e persegui-
do desde a chegada dos portugueses ao
Brasil. Ainda no descobrimento, havia
uma preocupação explícita com todo e
qualquer sinal que os índios fizessem em
alusão a qualquer objeto de ouro trazido
pelos portugueses. Estes gestos, quais-
quer que fossem, eram entendidos pelos
portugueses como indícios de que pode-
ria haver metais pre-
ciosos nas terras que
estavam sendo des-
cobertas. Ainda no
século XVI, a desco-
berta de jazidas de
pratas na América
Espanhola (1527) foi
importante pondera-
ção para o início da
ocupação efetiva dos
territórios portugue-
ses na América. Aliás,
a participação brasi-
leira no comércio do
Rio da Prata fora um
objetivo perseguido
por longa data em
nossa história.
Contudo, a descoberta das
primeiras jazidas de ouro no Brasil só se
dão no final do século XVII e foram em-
preitadas pela ação dos bandeirantes
vicentinos que, dentre outras tarefas,
faziam incursões no interior do território
não desbravado pelos colonos em busca
de metais preciosos. Neste sentido, a
Capitania de São Vicente foi o mais im-
portante núcleo de atividade bandeiran-
te.
São Vicente e os bandeirantes.
Fundada através do que se convencio-
nou chamar de colonização acidental, a
Capitania de São Vicente terá na ativida-
de bandeirante um importante comple-
mento da atividade açucareira desenvol-
vida em seus Engenhos, que não prospe-
raram tanto quanto Pernambuco por
conta de três fatores principais: o solo
menos fértil, a presença de uma forma-
ção montanhosa que limitava a expansão
da lavoura e a maior distância com rela-
ção à Metrópole. Além de buscarem pe-
dras e metais preciosos os bandeirantes
tinham na atividade de apresamento dos
índios outra importante ocupação eco-
nômica. A necessidade de mão de obra
escrava fazia com que, em cenários me-
nos favorecidos ou diante de qualquer
revés no comércio de escravos (como a
interrupção do fornecimento durante a
invasão holandesa), a escravização indí-
gena fosse uma alternativa. Se no início,
as guerras contra os índios tinham o ca-
ráter defensivo, ou seja, buscavam de-
fender a vila dos ataques dos índios que
resistiam ao povoamento branco, com o
passar do tempo, esta guerra passou a
ser ofensiva. É certo que esta ação de
determinados colonos entrava em cho-
que com os interesses dos jesuítas, ponto
de diversas tensões entre colonos e Igre-
ja Católica na colônia, sendo que, em São
Paulo os primeiros levaram vantagem
sobre os clérigos. A ideia de guerra justa,
ou seja, a concepção de que é justo fazer
guerra contra os índios que representas-
sem uma ameaça (e nesta categoria aca-
bava se enquadrando todos os índios que
não se submetiam aos interesses dos
colonos), foi a forma encontrada pela
Metrópole para intermediar este confli-
to.
No caso do bandeirantismo
de apresamento, o “exército” bandeiran-
tes era composto majoritariamente, por
índios e mamelucos sendo capitaneados
por homens brancos. A presença dos
índios nestas bandeiras era fundamental,
devido ao seu conhe-
cimento do terreno e de formas de so-
brevivência na mata, essencial para estas
atividades. A arma mais utilizada por
estes bandeirantes eram o arco e flecha
A expressão desertão é de
onde surge a expressão “sertão” que
designará durante o período colonial,
as regiões ainda não habitadas da
colônia. Diferentemente, o sertão
brasileiro atual não corresponde ao
mesmo emprego da palavra no perío-
do colonial.
Buscando despistar os
bandeirantes brasilei-
ros, diversos índios
desenvolveram a téc-
nica de usarem suas
sandálias de forma
invertida. Assim, o
vestígio encontrado no
chão indicava o senti-
do oposto para onde os índios estavam
indo se esconder. Deste episódio, surge
a lenda do CURUPIRA.
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que era de fácil transporte e poderia
ser produzido ao longo da viagem.
Além disso, indicavam as frutas e raízes
comestíveis, os lugares onde havia agua
potável que não estivesse contaminada
por pestes, os remédios a determina-
das doenças, etc. Suas vestes eram sim-
ples, muitas vezes andavam descalços,
sendo de uso obrigatório o esculpil, um
gilbrão acolchoado que absorvia as
flechas inimigas.
Outra atividade bandei-
rante que assumiu muita importância
foi a chamada bandeira de contrato,
onde os bandeirantes são chamados a
agirem como mercenários coloniais, ou
seja, um exército contratado para de-
belar determinados levantes ou insur-
gências. Foi assim, que os bandeirantes
formaram um exército para combater a
Confederação dos Tamoios, nome dado
pelos portugueses a uma aliança militar
de diversas tribos contra os colonos.
Foram os bandeirantes, sob o comando
de Domingos Jorge Velho, que comba-
teram e derrotaram o Quilombo dos
Palmares no interior da Bahia e Alago-
as, considerado o mais importante mo-
vimento negro de resistência à escravi-
dão colonial. Nestes episódios, estes
bandeirantes procuraram ganhar o má-
ximo de benefícios das autoridades
coloniais, como o caso de Jorge Velho
que conseguira, em troca da vitória
sobre Palmares, o perdão por todos e
quaisquer crimes anteriores que tenha
cometido.
Uma terceira ocupação
realizada pelos bandeirantes era o ban-
deirantismo de prospecção, cujo maior
objetivo era a busca por metais precio-
sos. É importante notar que muitas
destas atividades eram apoiadas pela
Metrópole, sendo “oficiais” e sendo
chamadas de Entradas. As entradas ou
bandeiras de prospecção eram distin-
tas, em sua composição, das bandeiras
de apresamento, sendo compostas
agora por pessoas que detenham al-
gum conhecimento acerca da minera-
ção e de metais e pedras preciosas. As
descobertas das primeiras jazidas de
ouro por conta do bandeirantismo de
prospecção datam de 1695.
2. A descoberta do ouro:
transformações na sociedade colonial.
Atribui-se a descoberta de
ouro a iniciativa do bandeirante Antô-
nio Rodrigues Arzão. As primeiras notí-
cias de descoberta de ouro já provocam
uma intensa corrida do ouro para a
região onde, por conta da atividade
mineradora que ali se desenvolverá, de
Minas Gerais. Os fluxos migratórios
para esta região foi bastante intenso,
provocando uma intensa urbanização
naquela região. O direito pela posse das
Minas era reivindicado pelos paulistas
contra os forasteiros que para a região
se dirigiam, dando origem a chamada
guerra dos emboabas. Esta guerra pro-
vocou o deslocamento dos paulistas
derrotados para as regiões onde hoje
se situam o centro- oeste brasileiro.
Algumas regiões de Portugal ficaram
praticamente despovoadas devido a
este fluxo, a ponto da Coroa portugue-
sa limitar a emigração para a colônia.
Esta explosão demográfica da região
deu origem a uma urbanização espon-
taneísta e irregular, com exceção de
Mariana e Diamantina, mais reticuladas
em suas áreas centrais, tendo causado
de imediato um problema de abasteci-
mento de víveres que acarretou uma
crise de fome. O preço dos alimentos e
outras mercadorias naquela região pas-
sava a ser regulado pela abundancia de
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ouro, tornando- o bastante valorizado e
as atividades auxiliares a mineração, por
vezes, tornavam-se tão rentáveis quanto
a própria extração do ouro.
2.1 O sistema de tributação
A coroa Portuguesa
mantinha, desde 1603, um Códi-
go dos Mineiros que regulamen-
tava, caso fosse descoberta, a
atividade com metais preciosos
da colônia. Desde então se prevê
que a quinta parte do total pro-
duzido (o quinto, ou 20%) seria
destinada à Coroa. Este código é
alterado quase cem anos depois,
pelo Regimento dos Superinten-
dentes , Guardas Mores e Oficiais Depu-
tados para as Minas do Ouro, de 1702. Lá
se prevê a criação da Intendência das
Minas em cada localidade onde se desco-
brisse o ouro, que se submeteria direta-
mente ao Conselho Ultramarino, sediado
em Lisboa, sendo autônomo diante as
autoridades coloniais.
Cada Intendente teria como principais
funções:
O policiamento e fiscalização da ativi-
dade mineradora, cada região era dividi-
da em datas que, por sua vez, era entre-
gue para os senhores de escravos na ra-
zão de 2 para os senhores e 1 para a Co-
roa. Quanto mais escravos possuíssem,
maior a data que os senhores de escra-
vos poderiam requerer para explorar.
Cobrança de impostos, em particular
soba forma do quinto, imposto que re-
caiu sobre vários produtos sendo na
região mineradora apelidado de o quinto
dos infernos. Tentou-se cobrar um im-
posto sobre o tamanho da área explora-
da (sistema de fintas), depois passou-se
a cobrar um imposto equivalente ao
número de cabeças de escravos utiliza-
dos, mesmo aqueles que não estavam
diretamente ligados a atividade minera-
dora. As Casas de Fundição foram insti-
tuídas no Brasil em 1719 tendo como
uma das respostas a revolta de minera-
dores que ficou conhecida como a revol-
ta de Vila Rica ou de Filipe dos Santos,
em 1720.
Ainda tinha responsabilidade pelas
questões jurídicas relacionadas a mine-
ração.
Todo esforço da Coroa não consegui-
ram dar cabo de uma prática muito co-
mum na região: o contrabando. O des-
vio do ouro em pó (mais fácil de ser
transportado); o Santo do “Paoco”
(quando clérigos contrabandeavam ouro
em santos ocos); as pepitas engolidas
pelos escravos e depois expelidas com
ajuda de laxantes; as Casas de Fundição
falsificadas, foram algumas das formas
de contrabando existentes na região.
2.2 a integração do
mercado interno e o tráfi-
co de escravos.
A atividade mine-
radora fez florescer, nas
regiões vizinhas as Minas,
diversas atividades que
auxiliavam e mantinham o
cotidiano da vida nas Mi-
nas. Assim, a produção de
alimentos, de equipamen-
tos, o comércio de escra-
vos, o comércio de gado e
de outras mercadorias que
se destinavam às Minas
permitiram uma maior
integração entre as regiões coloniais do
que na época do açúcar. Estradas foram
abertas conectando as distintas regiões
da colônia cujo centro era o mercado
ocasionado pela exploração do ouro.
Além disso, a capital colonial foi
transferida para o Porto do Rio de
Janeiro, de onde se escoava a pro-
dução de ouro que se destinava a
Metrópole. A Cidade do Rio de
Janeiro, em contrapartida, irá se
aproveitar da demanda de escra-
vos promovida pelas Minas para
florescer a atividade de traficante
de almas. A maior proximidade do
Rio de Janeiro a Colônia do Sacra-
mento, Foz do Rio da Prata, também pe-
sou nesta escolha.
A abertura de novas estradas foi
proibida pela Metrópole a partir de 1730,
com o objetivo de controlar melhor a
circulação do ouro, a Estrada Real era
quem fazia a conexão das Minas a Paraty
(caminho velho) e Rio de Janeiro
(caminho novo). Diversos povoamentos
passaram a existir devido às atividades
de comércio de abastecimento das Minas
que os tropeiros (que levavam alimen-
tos); os boiadeiros (que comercializavam
gado); e os comboieiros ( que comerciali-
zavam escra-
vos) faziam
de ponto de
apoio para
repouso e
reabasteci-
mento: Pouso
Alto, Passo
Alegre, Passo
Fundo, Passa
Três, Passa
Quatro, Passa
Vinte, etc.
A atividade
mineradora e
a demanda
pelo escravo
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negro deu impulso à indústria da cachaça
e do tabaco, importantes moedas de
troca por escravos na África. Além disso,
passou a ser comum o Tráfico Interno de
escravos do nordeste para as minas.
Com a decadência do ouro nesta região,
ela passou a viver como abastecedora do
Rio de Janeiro.
2.3 O distrito Diamantino
Em 1727, em uma região das
Minas, se tem o anúncio oficial da desco-
berta de diamantes, que deu origem ao
mais rígido controle sobre as atividades
mineradoras: o Distrito Diamantino. Su-
bordinado ao Monopólio Régio (somente
a Coroa poderia explorar o diamante)
devido à dificuldade de se “quintar” a
pedra. Com um regimento específico,
deu origem a Intendência dos Diamantes,
onde se notabilizava a rigidez da fiscaliza-
ção, ao contrário de outras regiões onde
se percebia a frouxidão das leis. Em 1740
foi instituído um sistema de contrato,
onde o contratante deveria repassar a
Coroa parte do que havia extraído, sendo
que esta extração não poderia ultrapas-
sar o uso de 600 escravos. O mais famoso
contratante foi João Fernandes de Oli-
veira, casado com uma negra- Chica da
Silva- que ostentou o seu poder e riqueza
mandando fazer um lago artificial e insta-
lando um barco no meio dele, para capri-
cho de sua amada. A partir de 1771, a
extração de diamante será submetida à
extração real, já sob Marques de Pombal.
2.4 A riqueza e a pobreza do
Brasil do Ouro.
A descoberta do ouro, como já
foi dito, provocou alterações na socieda-
de colonial brasileira, dentre estas o in-
cremento a camada intermediária da
sociedade com o surgimento de novas
profissões que se destinavam a garantir o
abastecimento e funcionamento das regi-
ões das minas. Assim, novos tipos urba-
nos passaram a se fazer presente neste
cenário como: advogados que buscavam
representar interesses nos diversos con-
flitos que a posse das minas ou outras
questões poderiam trazer; artesãos que
produziam manufaturados e outros pro-
dutos, em especial, os ligados a ourivesa-
ria; comerciantes responsáveis pelo
abastecimento das minas, traziam ali-
mentos, gados para a tração e escravos;
médicos, mesmo que ainda presos a um
saber rudimentar, bem como se apoian-
do na curandeira indígena.
Desta forma, é possível afirmar
que a sociedade mineradora permitia
uma maior mobilidade social do que a
açucareira, em especial, nas atividades
que garantiam o funcionamento das mi-
nerações. Contudo, as condições de vida
para os escravos brasileiros que era bas-
tante precária e o custo de vida altíssimo
nesta região não atestam a ideia de que
a riqueza era facilmente produzida nes-
tas regiões.
Por fim, embora o número de
alforrias nesta região tenha sido mais
alto do que em outras, isto se deve ao
período de decadência do ouro, onde
muitos senhores já não gozavam de con-
dições para arcarem com os custos da
manutenção de um escravo e, por isso,
preferiram dar aos seus cativos o direito
à liberdade.