a moda brasileira ganha o mundo - sistemas.mre.gov.br · moda praia cresceram mais de 0% e o...

14
11 A MODA BRASILEIRA GANHA O MUNDO

Upload: doannhan

Post on 08-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

11�

a moda brasileira ganha o mundo

121

este artigo traça uma breve história da indústria têxtil no brasil e sua crescente ParticiPação no mercado

internacional. o grande Potencial de atuação no comércio exterior faz do

setor têxtil um Poderoso segmento industrial, considerando matéria-Prima, variedades de tecelagem e acabamentos aliadas a modernas

técnicas emPresariais.

No imaginário popular, a história da indústria têxtil do

Brasil começou com a chita, “tecido ordinário de algodão

e estampado em cores”, segundo definição do dicionário

brasileiro Aurélio. Afinal, a chita estampada com desenhos de flores

e cores aberrantes, incluindo o vermelho-encardido, surgiu na Índia

e chegou ao Brasil com os portugueses para vestir primeiramente os

negros escravos, depois os trabalhadores rurais nos engenhos de cana-

de-açúcar, mais tarde os colonos nas fazendas de café, lá adiante as

meninas nas festas juninas e até os pequenos e grandes personagens da

nossa literatura. Por isso, a chita incorporou-se na cultura nacional e

representa um pouco da alegria, malícia e arte faceira da nossa gente.

Mas a história da indústria têxtil no Brasil é muito mais antiga,

tendo começado com os índios que habitavam a terra brasileira milha-

res de anos antes da chegada dos europeus ao País, a partir de l.500. E

foi a necessidade de produzir seu próprio tecido para vestir o seu povo

que fez surgir, há mais de 200 anos, as primeiras fábricas do nosso par-

que industrial, que se desenvolveu influenciado pela mistura das cul-

turas nativas, européias e negras. Embora muito jovem, se comparada

122

com a tradição milenar das indústrias têxteis da Europa e Ásia, a força

do setor têxtil brasileiro é exatamente a valentia da sua juventude, pois

permitiu que conquistasse posições que o igualam aos grandes produ-

tores históricos.

Não por acaso, o Brasil já tem o sexto maior parque têxtil do

mundo, é o segundo no ranking mundial na produção de denim e o

terceiro na de malharia. Emprega atualmente mais de 1,5 milhão de tra-

balhadores, sendo o segundo maior empregador da indústria de trans-

formação. Hoje já temos 30 mil empresas produtoras de fibras naturais

e químicas, de fiações, de tecelagens, de confecções e de moda ponti-

lhando o mapa do Brasil.

Todos esses segmentos concentram sua representação na Associa-

ção Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), onde discutem

em conjunto as necessidades e as estratégias do setor brasileiro, permi-

tindo de forma inédita no mundo uma integração completa entre todos

os elos da cadeia têxtil, incluindo o setor varejista. Por isso mesmo,

os compradores internacionais chegam em número cada vez maior ao

Brasil para conhecer a moda brasileira e se surpreendem quando visi-

tam as nossas fábricas, tão modernas e com a mesma tecnologia de

algumas poucas no mundo. Ficam fascinados com o olhar singular e

o jeito do brasileiro para criar padrões, estampas, misturar texturas e,

principalmente, modelar as peças.

Organizadas principalmente para atender esse grande mercado

consumidor interno, as indústrias têxteis e de confecção brasileiras

estão ampliando sua participação no mercado internacional. Muitos

empresários já atuam no comércio exterior, outros fortaleceram suas

posições já conquistadas e milhares estão se capacitando para também

ultrapassar as fronteiras nacionais rumo ao grande e potencial mercado

mundial.

123

Ainda assim, sabemos que a ampliação da participação brasileira

nos negócios externos, mesmo com o fim do Acordo de Têxteis e de

Vestuário no fim de 2004, certamente não será fácil e nem será emprei-

tada de curto prazo. Não desconhecemos que o mapa-múndi têxtil tem

se estruturado em torno de acordos de preferência comercial junto aos

principais mercados consumidores dos Estados Unidos, União Européia,

Canadá e Japão.

Portanto, para não perder a competitividade, o jovem setor brasi-

leiro deverá usar, mais do que nunca, toda sua fibra e criatividade para

obter seus próprios acordos e ainda superar as contradições e dificul-

dades intrínsecas da economia brasileira. O esforço e o talento dos pro-

fissionais, dos trabalhadores e empresários brasileiros da cadeia têxtil e

de confecção estão ajudando a escrever uma história de sucesso e per-

mitindo que o Brasil entre na moda através de sua cultura, suas cores e

sua alegria. A coragem e otimismo de enfrentar os desafios e enxergar

sempre onde estão as oportunidades também são características daque-

les que compõem este setor.

Indústria Têxtil - Gaspar - SC

124

a força que brota da terra e da tecnologia

A força do setor têxtil e de confecção brasileiro nasce literalmente

da terra, no plantio e no cultivo do algodão, em cadeia, pelos campos

do interior do País. Para isso os cotonicultores nacionais investiram

durante anos em avanços tecnológicos e em maquinário para transfor-

mar o Brasil num dos maiores produtores mundiais, colhendo hoje 1,3

milhão de toneladas de fibra anualmente. Assim, desde 2001 o setor

têxtil brasileiro se tornou auto-suficiente para o seu consumo de fibra

natural, absorvendo cera de �00 mil toneladas de algodão e exportando

o excedente. Enquanto isso, o governo, o setor privado e a área acadê-

mica desenvolvem em conjunto pesquisas tecnológicas para melhora-

mento contínuo da qualidade do algodão brasileiro, já considerado um

dos melhores do mundo.

Por conta da incorporação pela indústria têxtil brasileira de moder-

nas tecnologias e a utilização de matérias-primas de origem química, o

Brasil desponta também como importante produtor de fibras artificiais

e sintéticas, focadas nas especialidades que agregam valor aos produtos

com elas fabricados.

Contando com grande disponibilidade de matérias-primas, as fia-

ções e tecelagens brasileiras avançaram. Estão entre as oito maiores

do mundo na produção de tecidos e, de acordo com o Instituto de

Estudos e Marketing Industrial (IEMI), já produz mais de 1,312 milhão

de toneladas por ano. O Brasil desenvolve produtos de alto valor agre-

gado, desde tecidos inteligentes até lã fria, alcançando os mercados

mais exigentes do mundo. Por isso, várias tecelagens brasileiras parti-

cipam anualmente de feiras internacionais como a Texworld e Premiére

Vision, consideradas as maiores do cenário mundial. Não por acaso, em

2005, o Brasil foi o país-tema das edições primavera-verão e outono-

inverno da Texworld.

125

No segmento de confecção, a linha de cama, mesa e banho é a

locomotiva que puxa boa parte do volume de confecção brasileira

exportada, já se tornou referência internacional e o Brasil está entre

os cinco maiores produtores mundiais. Só para os Estados Unidos são

exportadas por ano �0 milhões toalhas de banho e o País tem produção

suficiente para exportar muito mais, particularmente agora que não há

mais limitação de cotas. Empresas no Brasil atendem pedidos de todo

o mundo e são destaques na Heimtextil, na Alemanha, e na Market

Week, em Nova Iorque, as maiores “vitrines” desse segmento no mer-

cado internacional.

Além de ser o segundo maior produtor de índigo do mundo, a

indústria brasileira também se especializou no design e no acabamento

para a confecção de jeanswear. Hoje esse segmento é responsável por

grande parte das exportações brasileiras de vestuário e fornece tanto

para marcas de renome que atendem um público de maior poder aqui-

Indústria - Linhas - Gaspar - SC

126

sitivo, quanto para grandes lojas de departamento com marca própria

ou private label. Como conseqüência, diversas grifes mundiais famosas

de jeanswear têm uma pitada brasileira nos produtos, sejam o denim ou

mesmo o design e a confecção realizada aqui.

o sol, a mulher e a sedução do biquíni

Oito mil quilômetros de costa, com sol o ano todo, bronzeando

e tornando ainda mais belas as mulheres brasileiras, constituem, no

nosso país, os fatores fundamentais na inspiração para desenvolver os

biquínis mais desejados de todo o mundo. A sensualidade, a ginga e a

alegria das nossas mulheres, aliadas ao design e estampas diferencia-

das, conferem à moda praia nacional identidade única, hoje procurada

e copiada internacionalmente. Só no ano passado, as exportações de

moda praia cresceram mais de �0% e o crescimento não foi só em

volume, mas também em preço médio das peças, o que demonstra cla-

ramente que o Brasil está vendendo muito mais do que confecção de

biquínis. Está vendendo moda com marca nacional.

Assim como a moda praia, a sensualidade e a qualidade também

são características fundamentais do lingerie brasileiro, que conquista

cada vez mais o mercado internacional. Empresas brasileiras fornece-

doras de importantes lojas no mundo também estão exportando para

grifes famosas da Europa e Estados Unidos e as vendas externas cresce-

ram 1�,5% nos dois últimos anos. A moda íntima brasileira, com fortes

pólos de confecção, emprega atualmente 32 mil pessoas, a maioria for-

mada por costureiras que produzem �00 milhões de peças por ano. Hoje

o governo já contabiliza seis mil empresas atuando na área, que juntas

respondem por �,6% do faturamento total de vestuário no Brasil.

12�

Cia. Marítima – São Paulo

Fashion Week – Verão 2006

12�

Como a população brasileira é jovem, com grande número de

crianças e adolescentes na faixa entre zero e 16 anos, o segmento da

confecção infantil tem destaque no Brasil. O desenvolvimento da moda

infantil no País vem atraindo a atenção dos compradores pelo caráter

criativo e qualidade das peças. Por isso mesmo, a cada edição, as fei-

ras infantis do Brasil recebem mais compradores internacionais, o que

possibilitou que algumas marcas brasileiras já tenham showroom e até

lojas próprias na Europa e Ásia. O segmento de Fitness brasileiro, muito

ligado à moda praia, é outro que vê crescer sua participação no exte-

rior, assim como o da moda masculina, que já representa atualmente

35% do faturamento total do vestuário brasileiro.

a brasilidade no glamour das Passarelas

Embora as feiras internacionais, missões comerciais e rodadas de

negócios sejam importantes oportunidades para aumentar as exporta-

ções de têxteis e de confeccionados brasileiros, as semanas de moda

realizadas no Rio de Janeiro e em São Paulo estão sendo decisivas para

consolidar a imagem da moda nacional. Com mais de 50 desfiles e rea-

lizada há 10 anos, a São Paulo Fashion Week, por exemplo, é a quinta

maior semana de moda do mundo, bastante visitada também por com-

pradores externos e que, na sua última edição, teve a cobertura de �0

veículos da imprensa internacional. O Fashion Rio, com quatro anos de

existência e quase 40 desfiles na última edição de junho de 2005, já é

um importante evento que movimenta o setor e atrai grandes redes de

varejo, que também realizam compras no Fashion Business, um evento

de negócios realizado junto com o glamour da moda.

12�

André Lima – São Paulo

Fashion Week – 2005

130

Indústria Têxtil - Gaspar - SC

131

As semanas de moda representam, portanto, o topo de uma pirâ-

mide, mas na base dessa grande estrutura estão milhares de confecções,

centenas de tecelagens e fiações, a disponibilidade de toneladas e tone-

ladas de algodão, seda, lã, fibras sintéticas e artificiais, movidas pelo

talento e esforço de centenas de milhares de mulheres e homens. Uma

indústria que tem sucesso porque utiliza tecnologia de ponta está organi-

zada com métodos empresariais modernos, tem escala na produção, custo

competitivo e capital compatível com uma atividade intensiva em capital.

É, principalmente, criativa na produção de tecidos de qualidade e padro-

nagens brasileiras e, por isso, conseguiu resgatar por inteiro o legado

dos nossos antepassados, uma herança que assegura o sucesso em nosso

artesanato e em toda a moda inspirada na riqueza da cultura nacional.

associação fortalece o setor

A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT)

começou a ser organizada por um grupo de industriais em 1�5� e fun-

ciona com o atual nome desde 1��0, quando encarou o desafio de

promover e desenvolver de forma sustentável e sustentada a cadeia

produtiva de têxteis e confeccionados. Para isso, o trabalho da ABIT se

concentra hoje nas áreas de Comércio Exterior, Negociações Internacio-

nais, Fortalecimento da Confecção Nacional, Reforma Tributária e Tra-

balhista e Promoção da Cadeia Têxtil, através do programa Texbrasil de

incentivo às exportações.

No comércio internacional concentram-se as áreas de comércio

exterior, trabalho que a entidade desenvolve em conjunto com os órgãos

responsáveis do governo federal. Para tanto, a ABIT monitora os fluxos

mundiais de comércio de têxteis e confeccionados e coordena processos

de antidumping e salvaguardas. Na área de negociações internacionais

132

o setor acompanha e participa de todos os fóruns internacionais (OMC,

Alca, Mercosul, União Européia, Comunidade Andina, México) e realiza

estudos de tarifas, lista de preferências e propostas internacionais.

Fortalecer a confecção nacional é outro tema estratégico para

o Brasil ganhar cada vez mais mercados. Nesta área, empresários,

governo e institutos acadêmicos estão desenvolvendo estudos, pesqui-

sas e alguns pilotos para os Arranjos Produtivos Locais e para as Pla-

taformas Produtivas de Alto Desempenho. Como nesses estudos estão

apontadas reformas necessárias para o sistema de tributação e leis tra-

balhistas. Essa é, portanto, outra área focada pela ABIT. A entidade

tem apresentado ao governo freqüentemente sugestões embasadas em

estudos e projeções e tem mantido encontro com o corpo técnico dos

ministérios para análise conjunta das soluções.

Por fim, a ABIT tem avançado no mercado internacional e irá dar

prosseguimento ao Programa Texbrasil, em parceria com a Agência

de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). O objetivo

do Programa agora é aumentar o número de empresas exportadoras,

treinando-as e capacitando-as para o comércio exterior. A Associação

quer ampliar as oportunidades de negócios internacionais através do

Texbrasil. Para tanto, estão sendo feitas parcerias com vários sindicatos

do setor e unidades do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (Sebrae) em todo o Brasil, bem como com redes de varejo

internacional e câmaras de comércio.

O programa Texbrasil foi criado em 2000 e nos últimos quatro anos

conseguiu resultados além das expectativas. Realizando 21� palestras

com a participação de 21 mil empresários, incentivando e patrocinando

a visita de 302 jornalistas internacionais ao Brasil e coordenando a

participação do setor brasileiro em cerca de �0 feiras internacionais, o

Texbrasil, dentre outros resultados, aumentou em �0% as exportações

de têxteis brasileiros, fez crescer em 34% o número de países de destino

133

e aumentou em �6% a quantidade de empresas exportadoras. Até o

momento R$ �0 milhões foram investidos entre o apoio da Apex-Brasil

e a contrapartida das empresas, obtendo-se um resultado de US$ �5�

milhões em negócios realizados. Em razão dessas conquistas é que a

ABIT obteve novo convênio com a Apex-Brasil estimado em mais de

R$ 24 milhões de investimentos, sendo a meta brasileira do setor a de

chegar a US$ 4 bilhões em exportações até 200�.

Perfil do setor têxtil e de confecção brasileiro

6º maior produtor têxtil do mundo

Auto-suficiência em algodão, com produção de 1,3 milhão de toneladas

Produz �,2 bilhões de peças de vestuário/ano

2º maior produtor mundial de índigo

3º maior produtor mundial de malha

5º maior produtor mundial de confecção

�º maior produtor mundial de fios e filamentos

�º maior produtor mundial de tecidos

30 mil empresas instaladas

Empregada 1,5 milhão de trabalhadores

US$ 25 bilhões de faturamento (2004)

US$ 2,0� bilhões em exportação (2004)

US$ 656 milhões de superávit na balança comercial do setor (2004)

2� Faculdades de Moda

5ª maior Semana de Moda do mundo

Josué gomEs da silVa

Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT)

www.abit.org.br