a poesia de amor - tibulo e prope_rcio
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7/23/2019 A Poesia de Amor - Tibulo e Prope_rcio
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A POESIA DE AMOR
Paolo Fedeli
3. PROPRCIO E TIBULO:O CNONE ELEGACO E AS SUAS INTERPRETAES
De Tibulo e Proprcio no importa tanto caracterizar os contedos de seus livros, em que o
aspecto da poesia de amor constitui o mais relevante, mas no o nico; preferivelmente interessa
individualizar aquilo que, graas a eles, concorre para definir um verdadeiro e prprio cnone da
poesia elegaca de amor, que j Ovdio sentir operante com a fora da tradio. Se alm de
Cornlio Galo o modelo constantemente ao fundo Catulo, isso no exclui por parte dos elegacos a
elaborao de novas temticas e uma postura diversa com relao aos motivos que haviam
caracterizado o modo catuliano de escrever poesia de amor.
A Dlia a quem Tibulo dedica o seu primeiro livro de elegias era provavelmente casada como a
Lsbia de Catulo. O livro se abre com uma elegncia programtica, em que o poeta proclama os
motivos de inspirao aos quais pretende adequar-se: o amor pela puella, a recusa guerra, a
exaltao de uma vida tranquila como proteo s preocupaes que honras e riquezas angariam aos
homens, o elogio do campo, representado como o lugar ideal em que transcorre uma existncia
apartada.
Na poesia tibuliana configuram-se rapidamente como dominantes os ideais de otium e depax: oprprio amor associado ao sonho de uma uita iners, a transcorrer de um modo arcdico, em
contato com a natureza; mas no faltam elegias em que o amor visto como seruitium, que fonte
de tormento. Na II, por exemplo, o poeta maldiz a porta fechada da casa de Dlia, a qual o impede
de alcanar a amada e o obriga a permanecer no escuro da rua: a impossibilidade de realizar
completamente o amor encontra, assim, uma sua manifestao no esquema bem testado do
paraclausithyron. Nas elegias do discidium, mais tarde, Tibulo reprova asperamente Dlia pela
traio, com acentos que recordam os catulianos, e o amor definido como tristis e asper.
A Nmese do livro II, vida por dinheiro e amante do luxo, cruel e fonte de contnuas
preocupaes para Tibulo, apresenta-se-nos bem diversa de Dlia: no livro II das elegias tibulianas
predomina a caracterizao negativa do amor, e nas relaes com a mulher amada o poeta se
submete a um duro seruitium. Mas, como acontecer tambm em Proprcio, o contedo amoroso
comea a diminuir progressivamente: durapuella, com efeito, so dedicadas apenas trs das seis
elegias do livro, que, com respeito ao precedente, apresenta-se mais complexo na estrutura e muito
mais prximo a temas caros propaganda augustana.
Isso est claro desde a elegia proemial, na qual o poeta toma como pretexto a festa rural dosAmbarualia para tecer os elogios do trabalho dos campos: a agricultura permitiu ao homem
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abandonar os hbitos nmades e civilizar-se, forou-o a aprender a arte de construir uma moradia
estvel e de conseguir alimento. Na vida dos campos o poeta pe tambm a origem das formas
literrias, que teriam nascido dos carmina rusticaacompanhados pela lira: o mesmo deus do amor
teria comeado a exercitar os seus poderes nos campos, entre os animais.
Pode-se notar como a representao idealizada da vida rural e a exaltao do trabalho nos camposse aproximam do programa de Virglio nas Gergicas: os motivos comuns correspondem ao plano
do prncipe, que desde a poca do confronto com Antnio havia manifestado a sua inteno de
reerguer as sortes da agricultura itlica duramente provada pelas guerras civis e de criar uma
prspera camada de pequenos proprietrios rurais, justamente considerados um fator importante de
estabilidade social.
Se, portanto, a contradio entre ideais artsticos e culturais, de um lado, e presses do prncipe,
de outro, ser clara em Proprcio e evidentes as suas resistncias integrao no programa
augustano, em Tibulo tal contradio se detecta de modo muito mais atenuado: se ele proclama a
prpria aspirao lrica ertica e no deixa de narrar os seus amores, o seu ideal supremo
permanece sempre o otium a transcorrer na vida dos campos, distante do tumulto da capital. A
securitas, que a Tibulo consente a vida apartada, possvel somente se as preocupaes da poltica
forem de competncia do prncipe e dos seus colaboradores mais diretos, aos quais vo
precisamente por esse motivo a aprovao e a exaltao do poeta. O ideal buclico de Tibulo e a
clara oposio que ele instaura entre cidade e campo no representam, portanto, um perigo para o
regime, mas inserem-se mesmo nas suas tendncias.Proprcio, de sua parte, no mesmo perodo em que aparecia o livro I das elegias de Tibulo,
publicou um livro de elegias em que o amor pela sua Cntia constitua o tema dominante. Desde o
poema inicial Proprcio declara os escopos da sua poesia e as suas escolhas de vida: ele foi
subjugado pelo amor a Cntia e a ele prefere sacrificar a carreira poltica e uma vida civilmente
empenhada. A conscincia da ilogicidade da prpria vida um motivo j presente em Catulo, a cuja
experincia Proprcio deseja claramente religar-se. O livro I das elegias propercianas, se tem no seu
centro Cntia, as suas traies, as penas do poeta obrigado a um duro seruitium, apresenta, todavia
uma grande variedade de temas e de gneros literrios: os dois poemas conclusivos (21; 22) so
verdadeiros e prprios epigramas, sepulcral o primeiro, dedicatrio o segundo; a vigsima elegia
um eplio, com a pattica histria de Hilas; outros poemas so dedicados a amigos e no faltam
temas de polmica literria. Disso se deduz que, no que diz respeito ao contedo das elegias e sua
posio num gnero literrio, o primeiro cancioneiro properciano inspira-se no livro de poesia
alexandrino!
O livro II apresenta uma pluralidade de motivos, que refletem a mudada posio de Proprcio no
panorama cultural romano: se, com efeito, o seu ingresso no crculo de Mecenas no significou osacrifcio das escolhas literrias, determinou, todavia o aparecimento de elementos e motivos, como
a celebrao de Augusto e da sua funo de pacificador, que estavam de todo ausentes no livro I.
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Assunto central continua sendo, todavia, o amor por Cntia, e parece clara a inteno, perseguida
tambm graas ao recurso a ciclos de elegias, de apresentar em sucesso estados de nimo e
situaes destinados a formar uma histria. No pano de fundo permanece constantemente a tomada
de posio inicial, que ser reforada na elegia conclusiva, segundo a qual a escolha da potica
calimaquiana ao mesmo tempo uma escolha de vida: o poeta pobre continua fiel Musa tnue erepele a Musa da poesia pico-trgica.
Que o livro III das elegias significasse, em vez disso, o fim do amor por Cntia estava claro ao
leitor desde a dedicatria. iluminadora a comparao com as elegias inaugurais dos livros I e II: o
livro I, mesmo sendo dedicado ao amigo Tulo, abria-se no nome de Cntia e enunciava a claras notas
a aceitao doseruitium amoris. A Mecenas era dedicado o livro II, mas na primeira elegia o elogio
de Cntia ocupava a parte inicial e a conclusiva. Na primeira elegia do livro III, em vez disso, falta
de todo o nome de Cntia que, mais, no livro inteiro aparecer somente trs vezes (duas, alm do
mais, na ltima elegia, aquela do discidiumdefinitivo). O pensamento do poeta se voltou para outro
lugar: enfim chegado a uma curva da sua vida e da sua atividade literria, ele se preocupa em
fornecer-lhe a motivao. No incio do livro define com clareza as suas escolhas de potica: no fim,
em vez disso, preocupa-se em tornar conhecido o abandono da ligao com Cntia. No livro III,
mais do que pelo amor Proprcio se interessa pelo seu status de poeta de amor: como consequncia,
ele se preocupa em diferenciar o seu de outros modos de vida. No surpreende, assim, que abundem
as reflexes existenciais e tenham amplo desenvolvimento temas diatrbicos: paralelamente
diminuio do interesse pelo amor como matria de canto, nota-se no livro uma constante nfase aopapel do poeta na sociedade e aos seus deveres.
Com o livro IV das elegias, publicado verossimilmente por volta de 15 a.C., na produo de
Proprcio opera-se aquela curva que j havia sido prenunciada por algumas temticas do livro III.
Os da redao do livro IV so anos em que, na organizao da cultura, a maior autoridade do
imperador se fez sentir. Provavelmente depois do ano 20 Mecenas foi posto de lado, e foi o prprio
prncipe a avocar a si a guia e a definio das linhas de poltica cultural: ele no teve, porm, a
sensibilidade de Mecenas, que at ento se tinha preocupado em respeitar o gosto dos literatos e em
lig-los ao regime sem for-los; Augusto usou com os intelectuais tticas muito mais precipitadas
(pense-se apenas no exlio de Ovdio). nesse panorama que preciso considerar o livro IV de
Proprcio. Mas se as presses do regime o impeliam a cultivar a lrica civil, mais uma vez o poeta
manifestou uma adeso somente parcial a tal tendncia, repropondo em substncia a sua fidelidade
aos ideais alexandrinos e, mesmo que em modo novo, poesia de amor.
Com efeito, ao lado de motivos ligados propaganda augustana (na elegia VI, que celebra o
dcimo quinto aniversrio da batalha de cio; na III e na XI, que tecem o elogio das virtudes
tradicionais da mulher romana; na X, em que se narra a origem do templo de jpiter Fertrio),Proprcio desenvolve outros que se ligam novamente sua experincia de poeta de amor: na elegia
IV ele transforma a Tarpia da tradio em uma mulher enamorada, que s por amor entrega a sua
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cidade ao inimigo; na VII aparece- lhe a sombra de Cntia, que o reprova por no haver-lhe prestado
honras fnebres adequadas e o faz recordar-se do tempo do seu amor feliz; na VIII, porm, Cntia
est de novo viva e operante, e o seu comportamento dissoluto provoca inclusive uma tentativa de
desforra ertica por parte do poeta: tentativa atrapalhada e mal-sucedida, que alm do mais
desencadeia a ira furiosa de sua mulher. Em suma, parece mesmo que Proprcio alterne no livro IVelegias civis e elegias de amor, continuando dessa forma fiel ao critrio da variao, to caro aos
alexandrinos.
Entre Tibulo e Proprcio a diferena mais sensvel consiste no papel diverso por eles conferido s
declaraes de potica. Em Tibulo faltam claros motivos de polmica literria: ele no se preocupa
em contrapor a sua poesia de amor aos gneros literrios nobres, como a epopia e a tragdia, e se
limita a conferir-lhe um escopo prtico: aquele de tornar-lhe mais fcil o acesso ao corao da
mulher amada (II, 4, 19). A poesia, assim, uma arma que se emprega para fins de conquista
amorosa; em tal sentido ela se revela mais eficaz do que a epopia e do que a literatura filosfica.
Tibulo o afirma explicitamente:
"Ide para longe, Musas, se no ajudais o amante:
eu no vos venero para que guerras devam ser cantadas,
nem conto os caminhos do Sol, nem qual a Lua quando,
completado o giro, retoma, volvidos os cavalos.
(II, 4, 15-18)Parece mesmo que em Tibulo a resposta com relao aos gneros literrios hostis poesia de
amor permanea de pura natureza formal: como bem disse La Penna, "Tibulo respondeu aos seus
desejos por uma via no diversa daquela que teria depois escolhido Proprcio, isto , alando o tom
e refinando a elaborao, mas mantendo-se dentro do gnero escolhido, reapoiando-se mais
firmemente em Calmaco e acolhendo regatos pindricos filtrados pelo poeta alexandrino, sem
renegar as prprias formas e o prprio estilo. Mesmo admitindo que o empenho polmico fosse
dbil no crculo de Messala, a absteno da polmica respondia fundamentalmente a uma escolha de
Tibulo".
A potica tibuliana permanece, assim, implcita e no encontra uma sua aberta teorizao. De sua
parte, Proprcio se detm no mbito da potica implcita somente na primeira elegia em que as
relaes com a tradio helenstica, de um lado, e com Catulo, de outro, esto constantemente
subentendidas: a aberta aluso a Meleagro no exrdio , com efeito, uma implcita declarao de
fidelidade a Catulo, que a Meleagro havia igualmente aludido no poema-dedicatria do seu libera
Cornlio Nepos. Mas, se se prescinde desse exrdio, a postura de Proprcio pontualmente
prenunciada por claras e explcitas declaraes de potica: parece que, na sua concepo, o amorelegaco requer a presena constante e o contnuo aporte de slidas premissas tericas, tais a
justificar aos olhos dos leitores a sua predileo pela Musa tnue. Fique dito, porm, que em
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Proprcio no se assiste nunca a uma teorizao fria; antes, a escolha de poesia se funde
perfeitamente com a escolha de vida: o poeta, que nos exrdios da sua atividade antepe vida
civilmente ocupada a escravido do amor, deve voltar-se ao culto da poesia tnue; quando,
posteriormente, a relao amorosa com Cntia se exaurir, no por acaso ele escolher um tipo
diverso de fazer poesia, e dele dar aberta teorizao na primeira elegia do livro IV. Desde o seuprimeiro livro Proprcio se preocupa em evidenciar o seu aberto contraste com a poesia pica, e o
faz em duas elegias (7; 9), em que tem como alvo o poeta Pntico: na primeira ele concede um valor
programtico sua poesia, que tem o escopo de instruir os jovens apresentando a sua experincia de
vida; na segunda o contraste entre os dois gneros literrios desenvolvido com a ridicularizaro do
graue carmen de contedos lacrimosos, com a contraposio da poesia de Mimnermo quela de
Homero, com o convite a Pntico a deixar de lado os seus tristes libellie a cantar temticas caras
aos enamorados.
No livro II a maturidade alcanada induz Proprcio a abandonar a polmica aberta e a escolher a
forma da recusatio. Isso est claro desde a elegia de abertura, em que o poeta justifica a sua recusa
ao poema pico-histrico mencionando o seu peito demasiado estreito para celebrar as empresas do
prncipe, e a sua tnue voz, prpria somente para cantar as batalhas erticas. Os mesmos princpios
da potica do tenue e do humile, que contra-distinguem a poesia de amor, retornam na elegia X.
Arestas abertamente polmicas aparecem somente na ltima (II, 34), em que o invejoso poeta pico
Linceu assume as caractersticas do rival no amor, que destinado a sucumbir seja no plano dos
afetos, seja no da poesia.A fidelidade aos princpios alexandrinos reforada desde o primeiro verso da primeira elegia do
livro III, que emoldurado entre nomes de Calmaco e Filetas. Comea, porm, a tomar corpo uma
sutil revalorao da pica: na elegia IX, mesmo reforando a sua escolha pela poesia tnue,
Proprcio d a entender a Mecenas que estaria disposto a aventurar-se na pica, se somente ele lhe
servisse de guia.
J na elegia III, por outro lado, o amplo espao concedido reevocao da poesia eniana e as
contnuas aluses aopater Enniusdavam a entender que o panorama havia mudado e mostravam no
poeta de amor uma plena conscincia da importncia do gnero recusado.
Todavia, tambm no livro IV a profisso de f no calimaquismo vir formulada desde a primeira
elegia: ser, porm, um calimaquismo de tipo diverso, tal a consentir ao poeta conformar as
exigncias do regime s suas tendncias pessoais. Tratar-se-, nesse caso, de conciliar uma poesia
do tipo celebratrio com o respeito tenuitasda elegia de amor: precisamente a poesia etiolgica,
que da produo calimaquiana havia representado o aspecto mais relevante, fornecer a Proprcio a
possibilidade de inserir-se no novo curso potico sem dever renunciar elegia. Na fase conclusiva
da atividade potica de Proprcio o calimaquismo no ser somente uma escolha literria, mastambm um meio para no refutar as tendncias poltico-culturais do perodo.
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Temas convenientes elegia:
Recusatio o poeta lrico se justifica por no escrever poesia pica. No poema a
seguir, Ovdio culpa o Cupido por sua escolha.
Ovdio,AmoresI, 1-30
Dispunha-me eu a cantar em ritmo solene as armas e as violentas
guerras, matria ajustada ao meu metro.
O verso inferior era de igual tamanho; mas, segundo dizem,
Cupido desatou a rir e tirou um p.
Quem que te deu, menino cruel, tal direito sobre a poesia?
Ns os poetas somos seguidores das Pirides, no teus.
Que aconteceria se Vnus tirasse as armas loira Minerva,ou se a loira Minerva ateasse tochas acesas?
Quem admitiria que Ceres reinasse nos escabrosos bosques,
que os campos fossem cultivados s ordens da Virgem da aljava?
Quem equiparia Febo, ilustre pelo seu cabelo, com afiada
lana, enquanto Marte tange a lira ania?
Os teus domnios so grandes, menino, e demasiado poderosos:
por que, ambicioso, procuras novos trabalhos?Ou acaso teu o mundo todo? So teus os vales do Hlicon?
Nem sequer Febo tem j a lira segura?
Quando a pgina em branco estreou-se corretamente com o primeiro verso,
aquele que segue diminui as minhas foras.
E no tenho matria adequada a ritmos mais ligeiros,
rapaz ou donzela que penteie os longos cabelos
Mal me tinha queixado, quando eis que aquele, aberta a aljava,
escolhe uma flecha criada para minha perdio
e curvou com vigor o sinuoso arco no seu joelho,
dizendo: Recebe, poeta, um tema que possas cantar.
Coitado de mim! Aquele rapaz tinha setas certeiras.
Ardo, e no meu corao vazio reina o Amor .
Que a minha obra se eleve em seis metros e descanse em cinco:
adeus, frreas batalhas, com os vossos ritmos!
Cinge as loiras frontes com mirto das beiras,
Musa, que hs de ser cantada em versos de onze ps!
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Paraclausithyronapelo porta, obstculo para as investidas do amante elegaco.
Tibulo, 1, 2, 5-14
Pois nossa amada foi-lhe colocada uma cruel custdia,
e a slida porta fecha-se com inflexvel ferrolho.Porta de um spero senhor, que te fustigue a chuva,
que te atinjam os raios enviados por mandato de Jpiter.
Porta, que te abras j apenas para mim, vencida pelas splicas,
e que, ao girar o gonzo para te abrires, no chies.
E, se a nossa loucura lanou maldies contra ti,
perdoa-me: peo que elas caiam sobre a minha cabea.
Convm que te lembres de quantas coisas pronuncieicom voz suplicante, ao deixar floridas grinaldas no umbral.
Propemtikonpoema de despedida com desejo de boa-viagem
Proprcio, 1, 8, 1-26
Ser que ficaste fora de ti e no te detm o meu cuidado?
Ou para ti valho menos que a glida I1ria?
E este, quem quer que ele seja, que te parece valer tanto
que pretendes pr-te a caminho, sem mim, com qualquer vento?
Ser que tu tens coragem de ouvir os murmrios do mar revolto
e consegues permanecer deitada, impassvel, no duro navio?
Sers tu capaz de aguentar nos ps delicados o frio do inverno por debaixo?
Sers tu capaz de suportar, Cntia, a neve a que no ests habituada?
Oh! Oxal duplicassem os tempos das brumas no inverno
e ficasse parado o navegante por causa do atraso das Viglias,
sem que as amarras fossem soltas na areia do Tirreno
nem uma ventania hostil tomasse inteis os meus rogos !
E que eu veja tanto aplacarem-se tais ventos de invernia
como a onda arrebatar-te o barco j adiantado,
por tal forma que a onda me permita, imvel, na praia vazia
chamar-te cruel, muitas vezes, com dedo ameaador!
No entanto, seja qual for o modo como te comportares comigo, perjura,
no fique Galateia estranha tua viagem:
Oxal que, dobrado o Cerunio em remadas auspiciosas,
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te receba rico em guas tranquilas!
De fato, nenhuma mulher ser alguma vez capaz de me desviar de ti,
pondo termo, vida minha, a endechas tua porta;
no me faltar lanar apelos aos marinheiros e perguntar-lhes de perto:
Dizei-me: em que porto se quedou encerrada a minha dama?E bradarei: Ainda que tenha ficado nas margens do trace,
ou nas costas dos Hileus ela permanecer minha.
Militia amoris Poema em que o amante se compara a um soldado, militando na
guerra amorosa.
Ovdio, Amores, 1, 9, 1-20
soldado todo amante, e Cupido tem o seu prprio acampamento;
acredita em mim, tico, soldado todo amante.
A idade adequada guerra, convm tambm a Vnus.
Ruim soldado um velho, ruim o velho amor .
A energia que os generais reclamam no esforado soldado,
reclama-a a formosa jovem no viril companheiro.
Ambos ficam de vigia; os dois descansam no cho,
este guarda as portas da sua senhora, o outro do general.
O dever do soldado exige longas caminhadas; faz andar a jovem
e o infatigvel amante segui-la- sem descanso.
Acometer contra os montes que se lhe oponham e os rios crescidos
pelas chuvas; pisar aquele os montes de neve,
e, se tiver de passar o mar, nem pretextar os inchados Euros
nem aguardar as pocas propcias navegao.
Quem, seno um soldado ou amante, suportar no s o frio
da noite mas tambm a neve misturada com espessa chuva?Um deles enviado como espia aos odiosos inimigos;
o outro mantm o olhar no rival, como inimigo que .
Aquele assedia poderosas urbes, este o umbral da cruel
amiga; um quebra portes, outro portas.
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Genethliaconpoema de aniversrio
Proprcio, 3, 10, 1-12
Estava admirado por as Camenas me terem vindo visitar de madrugada,
quedas de p junto ao meu leito, luz avermelhada do sol.
Vinham assinalar-me o aniversrio da minha amada,e trs vezes bateram as palmas com sons auspiciosos.
Que este dia passe sem uma nuvem, que os ventos se imobilizem no ar,
e que a onda ameaadora se pouse suavemente no areal;
que eu no veja ningum de luto luz do dia de hoje,
e que at mesmo a pedra de Nobe contenha as sua lgrimas;
que os bicos dos alcones descansem, pondo de lado os seus queixumes,
e que a prpria me no deplore com altos gemidos o filho morto, tis.E tu, minha querida, nascida sob felizes auspcios,
levanta-te e dirige justas preces aos deuses, que as reclamam.
Seruitium amorispoema em que o poeta se revela escravo da amada e acorrentado
pelo amor.
Tibulo, 2, 4, 1-12
Desta maneira vejo que me esto preparadas servido e dona.
Ai de mim, liberdade aquela dos meus pais, adeus!
D-se-me servido, mas penosa, e estou preso com corrente,
e o Amor jamais afrouxa as grilhetas ao desgraado,
e saber por que o mereci ou em que pequei me abrasa.
abraso-me, ai!, cruel menina, afasta as tochas.
Ah, pudera eu no sentir tais dores!
Como preferiria eu ser pedra nos glidos montes,
ou erguer-me, rochedo exposto aos furiosos ventos
que a procelosa onda do vasto mar golpeasse!
Agora, amargo o dia e mais amarga a sombra da noite,
todo o momento, agora, empapa-se de triste fel.