a praça em portugal - continente
DESCRIPTION
As praças portuguesas apresentam um leque muito variado de situações urbanas. Este estudo, de natureza enciclopédica, recolheu e tratou cerca de 125 praças do continente, caracterizadas morfologicamente através de peças desenhadas, fotografias e textos, seguindo um modelo uniforme de modo a permitir uma comparação entre os vários casos e possibilitar a sua utilização como um instrumento para o estudo e a prática do urbanismo.TRANSCRIPT
Equipa Responsável pelo Projecto
José Lamas. Coordenação 2001/2003
Carlos Dias Coelho. Coordenação 2003/2007
Sérgio Fernandes
Sérgio Proença
António Bicheiro, Alexandre Branco, Carla Silva, Daniel MateusAna Roque, João Sobral, João Leite, Rui Silva
Textos
Carlos Dias Coelho [CDC], Maria Calado [MC], Gabriela Carvalho [GC], João Pedro Costa [JPC], Sérgio Fernandes [SF], Sérgio Proença [SP]
Fotografia Aérea
Instituto Geográfico Português I IGP
Colaboração
Alberto Mendes, Alexandre Branco, Alexandre Codina, Alexandre Sousa, Ana Almeida, Ana Barreiros, Ana
Cabrita, Ana Caires, Ana Carradinha, Ana Carvalho, Ana Catarina Silva, Ana Correia, Ana Dias, Ana Escoval,
Ana Ferreira, Ana Ledo, Ana Lourenço, Ana Luz, Ana Martins, Ana Ng, Ana Pedras, Ana Santos, Ana Silva,
Ana Soeiro, Ana Timóteo, André Bento, André Kuzer, André Marques, Andreia Patrício, António Fernandes,
António Figueiredo, António Gaspar, António Martins, António Santos, António Serra, Bruno Figueiredo, Bruno
Fonseca, Bruno Lamas, Bruno Sousa, Bruno Vieira, Carine Coelho, Carla Correia, Carla Silva, Catarina Palma,
Catarina Pires, Catarina Serrão, Cátia Profano, Celso Ameixa, Clara Pisco, Cláudia Batista, Cláudia Silva,
Cristina Cruz, Cristina Reis, Daniel Martins, Daniel Valente, Daniela Barreira, Daniela Lopes, Dário Vieira,
David Rato, Dora Empis, Emildo Brito, Fátima Galvão, Filipa Santos, Filipe Almeida, Filipe Barradas, Filipe
Duarte, Filipe Oliveira, Flávio Silva, Francisco Claro, Francisco Monteiro, Frederico Elisabeth, Frederico Neto,
Frederico Santos, Gonçalo Aguda, Gonçalo Cascais, Gonçalo Pinto, Guilherme Alves, Helena Campos,
Helena Teles, Hugo Domingues, Hugo Palma, Hugo Silva, Hugo Varanda, Inês Encarnação, Inês Pinto, Inês
Vargas, Isabel Marques, Isabel Melo, Joana Freitas, Joana Guerreiro, Joana Monteiro, Joana Ribeiro, Joana
Silvestre, João Alves, João Branco, João Carrasco, João Coutinho, João Gomes, João Gonçalves, João
Guerreiro, João Jorge, João Marrana, João Tavares, Jorge Almirante, Jorge Carvalho, Jorge Costa, José
Brás, José Franco, José Mendes, José Pereira, José Teixeira, Júlia Silva, Júlio Almeida, Lúcia Durão, Luís
Avelar, Luís Carmona, Luís Chastre, Luís Correia, Luís Ó, Luís Ramos, Luís Rodrigues, Maria Barbado, Maria
Gomes, Maria Inês Matias, Maria Jacinto, Maria Parelho, Maria Sepúlveda, Maria Valverde, Mariana Teixeira,
Mário Lopes, Marta Martins, Marta Rodrigues, Michael Aguiar, Miguel Coelho, Miguel Martins, Miguel Sousa,
Mónica Garcia, Mónica Leite, Mónica Paulino, Nelson Simões, Njiila Carvalho, Nuno Catarino, Nuno Miguel
Silva, Nuno Paiva, Nuno Silva, Patrícia Galo, Patrícia Lago, Patrícia Oliveira, Paula Dourado, Paulo Marçal,
Paulo Martins, Pedro Bento, Pedro Dias, Pedro Espiga, Pedro Ferreira, Pedro Gaspar, Pedro Moura, Pedro
Oliveira, Pedro Palma, Philip Conceição, Raquel Amado, Ricardo Boaventura, Rita Carreto, Rita Páscoa,
Rita Soares, Rodrigo Teixeira, Rui Carvalho, Rui Cruz, Rui Ribeiro, Rui Rodrigues, Rute Afonso, Sandra
Vidal, Sara Fernandes, Sara Glória, Sara Machado, Sara Pereira, Sílvia Marinheiro, Sónia Antunes, Susana
Fonseca, Susana Magalhães, Susana Melo, Tânia Baleia, Tânia Teixeira, Valter Rodrigues, Vasco Pereira,
Vasco Torrete, Vera Pereira, Vitalina Sousa, Vítor Correia, Wilkes Figueiredo.
Título
A Praça em Portugal. Inventário de Espaço Público I Continente
Edição
Tiragem
Ana Cardoso, Ana Patrícia Santos, Ana Roque, Carlos Mercês, Catarina Andrade, Cláudia Silva, Diogo Corredoura, Diogo Francisco, Gilberto Carlos, Jacinto Ascensão, Joana Santos, Joel Moniz, Jonatas Lareiro, Jorge Dias, José Virgílio Teixeira, Leonor Duarte, Lucibel Viegas, Marco Moreira, Marina Félix, Marta Sequeira, Miguel Medeiros, Nuno Garcia, Paula Bento, Ricardo Bárrios, Rita Costa, Tiago Mestre, Vanda Silva.
Alunos da FA I UTL com participação no Projecto Pedagógico.
N. Calvet, Lda. Henrique Calvet
João Pedro Costa
Fotografias
© Propriedade da DGOTDU I Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano. Setembro 2007.Reservados todos os direitos de acordo com legislação em vigor
O conteúdo do estudo e a selecção dos exemplos que deram origem a esta publicação são da exclusiva responsabilidade dos seus autores.
A elaboração deste trabalho só foi possível pela disponibilização dos elemen-tos fornecidos por diversas entidades, entre as quais se destacam o Instituto Geográfico Português I IGP e as Câmaras Municipais do Continente.
Agradecimentos
Faculdade de Arquitectura I UTL
Design Gráfico
José Brandão. Coordenação
Sílvia Rala
Volume I: Volume II: Volume III: CD-Rom:
Nuno Soares [NS], João Couto C. [JCC], Alexandre Codina [AC]
Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento UrbanoCampo Grande, 50, 1749-014 LisboaHomepage: www.dgotdu.pte-mail: [email protected]
Revisão de Texto
DGOTDU I Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano
Squares in Portugal. A Public Spaces Inventory I Mainland
Pré-Impressão
DPI Cromotipo
TraduçãoRobert Douglas Russell, Graham Jamieson
ISBN
Laboratório Fotográfico Impressão
978-972-8569-39-6
Depósito Legal266852 / 07
3 volumes e 1 CD-Rom
1000 Exemplares1000 Exemplares1000 Exemplares1000 Exemplares
Tipografia Peres
: Pátio da Universidade
: Praça Humberto Delgado
Índice
AAbrantes01 : Praça Raimundo Soares
058
060
064
072
068
Introdução Carlos Dias Coelho
Apresentação FA - UTL
Apresentação DGOTDU
019
015
013
02
Index
: Praça da República
Aguiar da Beira01 : Largo dos Monumentos Nacionais
Alcácer do Sal01 : Largo Pedro Nunes
Alcobaça01 : Praça 25 de Abril / Rossio
076
080
084
088
Alcochete01 : Largo de São João Baptista
092
096
Alenquer01 : Praça Luís de Camões
100
104
Almeida01 : Praça Dr. Casimiro Matias
108
112
Amarante01 : Praça da República
116
120
Arraiolos01 : Praça Lima e Brito
124
128
Arruda dos Vinhos01 : Largo do Adro
132
136
Aveiro01
140
144
148
: Largo do Convento: Largo Cândido dos Reis
Avis01
152
156
: Praça Serpa PintoAzambuja01
160
164
: Praça dos ImperadoresAzambuja I Manique do Intendente01
168
172
BBarcelos01 : Largo do Apoio
176
178
182
Beja01 : Praça da República
186
190
02 : Largo do Lidador194
Braga01 : Praça da Município
198
202
02 : Largo do Paço206
Bragança01 : Praça da Sé
210
214
CCaldas da Rainha01
: Largo Rainha D. Leonor
218
220
224
228 02
: Praça 25 de Abril
Volume I
Caminha01 : Praça Conselheiro Silva Torres
232
236
Campo Maior01 : Praça da República
240
244
Cascais01 : Largo de Camões
248
252
Castelo Branco01 : Praça de Camões / Praça Velha
256
260
Castelo Branco I São Vicente da Beira01 : Praça 25 de Abril
264
268
Castelo de Vide01 : Praça D. Pedro V
272
276
02 : Largo Dr. Frederico Laranjo282
Chaves01 : Praça de Camões
286
290
Coimbra01 : Praça do Comércio / Praça Velha
294
298
02 : Largo da Sé Velha302
03 : Praça 8 de Maio306
04310
Coruche01 : Praça da Liberdade
314
316
Covilhã01 : Praça do Município
322
326
Crato01 : Praça do Município
330
334
Elvas01 : Praça da República
338
340
344
Estremoz01 : Praça D. Dinis
348
352
Évora01 : Praça do Geraldo
356
360
02 : Largo das Portas de Moura364
03 : Praça do Sertório368
E
Faro01 : Largo da Sé
388390
394
402
398 Freixo de Espada à Cinta01 : Praça Jorge Álvares
Guarda01 : Praça Luís de Camões
406408
412
Guimarães01 : Praça da Oliveira
416
420
02 : Praça do Município424
Idanha-a-Nova I Idanha-a-Velha01 : Largo da Igreja
428430
434
Lagos01 : Praça Gil Eanes
436438
442
Lamego01 : Largo da Sé
446
450
Leiria01 : Praça Rodrigues Lobo
454
458
Lisboa01 : Largo de São Miguel
462
468
02 : Praça do Comércio / Terreiro do Paço474
03 : Rossio / Praça D. Pedro IV 478
04 : Praça do Areeiro / Praça Francisco de Sá Carneiro
484
05 : Marquês de Pombal492
06 : Cruzamento Avenida dos Estados Unidos da América / Avenida de Roma
500
Loulé01 : Largo Dr. Bernardo Lopes
506
510
Loures I Santo Antão do Tojal01 : Largo da Mitra
514
518
Mafra01 : Terreiro D. João V
522
Marvão01 : Largo do Pelourinho
Mértola01 : Largo Luís de Camões
524
528
532
536
540
544
M
F
G
I
L
Moura01 : Praça Sacadura Cabral
588
592
598 02 : Praça Gago Coutinho
Mourão01 : Praça da República
602
606
Nazaré01 : Praça Sousa Oliveira
610
612
616
Nisa01 : Praça do Município
620
624
Óbidos01 : Praça de Santa Maria
628630
634
Odivelas01 : Largo D. Dinis
638
642
Oeiras01 : Largo 5 de Outubro
646
650
Olhão01 : Praça da Restauração
654
658
Oliveira do Hospital I Bobadela01 : Adro da Igreja
662
666
N
O
PPalmela01 : Praça do Duque de Palmela
670672
676
Ponte da Barca01 : Jardim dos Poetas
680
684
Ponte de Lima01 : Praça Luís de Camões
688
692
Portalegre01 : Praça do Município
696
700
Porto01 : Praça da Ribeira
704
708
02 : Adro da Sé712
03 : Largo do Colégio716
04 : Avenida dos Aliados720
05 : Praça Gonçalves Zarco / Rotunda do Castelo do Queijo
724
Montemor-o-Novo01 : Terreiro de São João de Deus
572
576
Montemor-o-Velho01 : Praça da República
580
584
Miranda do Douro01 : Largo D. João III
548
552
Mirandela01 : Praça do Município
556
560
: Praça da Liberdade: Praça do Município
Monção01 : Praça Deu-la-Deu
564
568
Volume II
R
01 : Largo D. Nuno Álvares Pereira
746
748
752
SSanta Comba Dão01 : Largo do Município
756
758
762
Santarém01 : Praça Visconde da Serra do Pilar
766
770
02 : Praça Sá da Bandeira774
São Brás de Alportel01 : Largo da Igreja
778
782
São João da Pesqueira01 : Praça da República
786
790
São Pedro do Sul01 : Praça da República
794
798
Serpa01 : Praça da República
802
806
Sesimbra01 : Largo do Município
810
814
Sesimbra I Cabo Espichel01 : Terreiro do Santuário de Nossa
Senhora do Cabo Espichel
818
820
Setúbal01
: Praça Teófilo Braga
824
828
02 : Largo de Santa Maria / Praça do Exército832
03
: Praça de Bocage
836
Silves01 : Praça do Município
840
844
Sines I Porto Côvo01 : Praça Marquês de Pombal
848
852
Sintra01 : Largo do Palácio / Largo Rainha D. Amélia
856
860
Soure01 : Praça Miguel Bombarda
864
868
TTavira01 : Praça da República
872
874
878
Tomar01 : Praça da República
884
888
Torre de Moncorvo01 : Adro da Igreja
892
896
Torres Vedras01 : Largo de São Pedro
900
904
Viana do Castelo01 : Praça da República
934
938
Vidigueira01 : Praça da República
942
946
Vila do Conde01 : Praça da República
950
954
Vila Franca de Xira01 : Praça Afonso de Albuquerque
958
962
Vila Nova da Barquinha01 : Praça da República
966
970
Vila Nova de Foz Côa01 : Praça do Município
974
978
Vila Nova de Gaia01 : Largo Miguel Bombarda
982
986
Vila Real01 : Largo da Capela Nova
994
998
Vila Real de Santo António01 : Praça Marquês de Pombal
1002
1006
Vila Viçosa01 : Terreiro do Paço
1010
1014
Vimioso01 : Largo da Igreja
1018
1022
Viseu01 : Largo da Sé
1026
1030
Vouzela01 : Praça da República
1034
1038
02 : Praça Conselheiro Morais de Carvalho1040
Créditos Fotográficos1045
Índice do CD1047
Viana do Alentejo01 : Praça da República
926
930
02 : Terreiro do Mosteiro da Serra do Pilar990
Reguengos de Monsaraz I Monsaraz
: Largo General Claudino
VValença01 : Praça da República
916
918
922
: Jardim do Coreto
Trancoso01 : Largo do Pelourinho
908
912
Volume III
Bibliografia1053
019::
O termo praça tem origem latina – platea – e a sua utilização procura identificar
um espaço público de carácter excepcional que, morfologicamente, se distin-
gue dos espaços canais constituídos pelas ruas. No entanto, a esta aparente
clareza morfológica correspondem espaços muito diversificados, cobertos por
uma variedade de nomenclaturas e que, de forma alguma, constituem uma
invariante cultural.
Se a praça é inexistente em certas culturas, no ocidente é, por natureza,
condição do urbano. Esta importância radica no mito assumido pelo agora
grego e pelo forum romano como suportes espaciais de instituições cívicas
das quais nos consideramos herdeiros.
O facto de, no final da Idade Média e na Idade Moderna, ter servido a múltiplas
funções – comerciais, políticas, sociais e religiosas – marginada pelos edifícios
públicos e privados de maior importância da cidade, reforçou o seu carácter
colectivo e deu-lhe uma importância destacada, em comparação com os
restantes espaços públicos urbanos. Em qualquer tipo de tecido, a sua supe-
rioridade hierárquica evidencia-se, não só pelas funções que suporta, como
pela natureza finita do seu espaço, pela sua dimensão relativa ou qualidade
da arquitectura, independentemente da origem da sua formação.
Hoje, apesar de tudo, a praça tradicional conservou muito do seu papel urbano.
Embora com novos contornos, a sua produção como elemento urbano, após o
fim do Movimento Moderno, conotou-a muito com o que alguns já chamaram
“símbolo nostálgico de uma qualidade urbana perdida”.
Ao empreendermos o trabalho de recolha, restituição gráfica e ilustração dos
principais exemplares de praças portuguesas, pretendemos que o material
obtido possa vir a constituir um conjunto representativo da sua diversidade
tipológica, estado de evolução, dimensões e utilização desta categoria tão
particular de espaço público. A abordagem incidiu, objectivamente, sobre os
espaços públicos de excepção que, de um modo genérico, são classificados
Introdução
INTRODUÇÃO ::
The term praça (square) is Latin in origin – platea – and it is used to identify a
public space of an exceptional character that is morphologically distinct from
the channel-like spaces that streets make. However, very different spaces cor-
respond to this apparently clear morphology, covered by varied nomenclature
and which in some way are not a cultural constant.
Although squares may not exist in certain cultures, in the West they are, by
nature, an urban quality prerequisite. This importance dates back to the myth
of the Greek agora and Roman forum as spatial supports for civic institutions
of which we believe ourselves to be the heirs.
The fact that, in the late Middle-Ages and the Modern Age, the square has
served multiple functions – commercial, political, social and religious – bor-
dered by the public and private buildings of greatest importance in the city,
has consolidated its collective character and has given it extra importance in
comparison with the other urban public spaces. Its hierarchical superiority is
evident in any type of fabric, not only due to the functions it supports, but also
due to the finite nature of its space, its relative size or quality of its architecture,
regardless of the origins behind its shape.
Nowadays, in spite of everything, the traditional square has retained much of
its urban role. Although with new outlines, its production as an urban feature
after the Modern Movement has seen it linked to what many were already
calling “a nostalgic symbol for a lost urban quality”.
By taking on the job of fact-finding, graphic restitution and illustrating the main
examples of squares in Portugal, our intention is for our work to be a repre-
sentative body of the diverse typology, the state of development, dimensions
and usages of this so particular a type of public space. Our approach was one
of taking exceptional public spaces that are generically labelled squares, even
if the varied terminology in Portuguese differentiates between them, such as:
“o largo”, “o terreiro”, “o campo”, “o rossio”, which in English equate to “the
IntroductionCarlos Dias Coelho
020 :::: INTRODUÇÃO
square” or “ the public square”. We excluded spaces that typologically act as
a channel, like a street. If spaces, originally or at one time or another, had a
clearly identifiable sub-type or affectation, as they developed the clarity of these
distinctions often became foggy.
As urban features, the selected spaces are an integral part of the urban fabric,
possessing a formal, functional hierarchical relationship with the other features
that they comprise. In this way, analysis cannot ignore the context, and the
spaces chosen were always approached as being part of a whole.
Our benchmark reference work was the Encyclopédie de l’Urbanisme, coor-
dinated by Robert Auzelle and Ivan Jankovic, whose preface describes the
work as “an irreplaceable instrument of work and culture”. We believed that
this study could meet these same objectives.
In this way, our aim was twofold in the way we approached the topic, that is,
studying one of the components of the urban layout through classical repre-
sentation methods of the structures, as well as using auxiliary illustrations and
characterisations, carrying out analysis with all the due rigour of our field, yet
remaining legible to the general public. On the other hand, it can serve as an
instrument for practising urbanism, as well as teaching it, insofar as it studies
the selected spaces in a methodical and comparable way as being examples.
Its operational nature rests on the ability to be a reference for designing con-
temporary urban structures.
At the beginning of the 21st century, urbanism practice, the philosophy of
intervention in cities and the idea of the city itself were showing less utopian
signs than in bygone eras, due to several factors. These include the Modern
Movement crisis and its models, and getting back to cities as points of refer-
ence, as well as the perspective of, if not disjunction in cities, then at least
their illegibility in terms of traditional urban morphologic concepts.
In the more speculative predictions of the future of the city, the urban space
as a support for human relationships, material and spiritual exchanges and
even traffic has been superseded in favour of immaterial media, without either
establishing the fate of the city’s structures or introducing new morphologic
models as a response to a different society. The 21st century city will naturally
be different to the city of the previous century, I as this was from the industrial
one, and this one from the city of Modern, Medieval or Ancient History. However,
the inevitable end of the city that some predict is not a certainty, and what is
more probable is that there will be developments towards new meanings which
will contain the tensions between the city’s structural legacy and its constant
renovation. This object – the city – has always shown signs of obsolescence,
due to its own nature and dynamics.
The policies of recuperating historical centres, so commonplace from the
mid-20th century on, in a process increasingly apart from the phenomena of
growth that has, in most cases, shaped urban peripheries, has support not only
in theoretical musings, but also in public opinion, shaped as it is by a great
deal of nostalgia and opting for the safe choice of preserving this value. We
should not manacle urbanity to the historic centre, nor to the inevitability that
urban renaissance has to make use of past shapes. However, the structural
examples we inherited, which are part of our city life, will always be a driving
force in new spatial conceptions.
como praças e que, mesmo assim, consideram situações muito diferenciadas
que a própria terminologia denuncia como: “o largo”, “o terreiro”, “o campo”,
“o rossio”, excluindo-se os espaços que tipologicamente são considerados
espaços canal, como as ruas. Se, na sua génese ou afectação, num dado
período temporal, estas diferentes terminologias remeteram para subtipos
claramente identificáveis, a evolução dos espaços atenuou, muitas vezes, a
clareza dessas distinções.
Como elemento urbano, os espaços seleccionados são parte integrante de
tecidos urbanos, com uma relação hierárquica formal e funcional com os outros
elementos que os compõem. Nesta medida, a análise não pôde esquecer o
contexto e os espaços escolhidos foram sempre abordados como parte de
um todo.
Tomando como referência a ‘Encyclopédie de l’Urbanisme’, dirigida por Robert
Auzelle e Ivan Jankovic que, no seu prefácio, caracterizava a obra como um
“instrumento insubstituível de trabalho e de cultura”, entendeu-se que este
estudo poderia atingir esses mesmos objectivos.
Assim, pretende possibilitar a divulgação do tema na forma abordada, isto é,
tratar um dos elementos componentes do tecido urbano através de métodos
clássicos de representação das formas construídas, assim como a utilização
de caracterizações e ilustrações auxiliares, trabalhados com o rigor próprio
da disciplina mas legíveis para um público generalista. Além disto, pode
constituir um instrumento para a prática do urbanismo, assim como para o
seu ensino, na medida em que trata, de forma metódica e comparável, os
espaços seleccionados como exemplares e cuja operacionalidade assenta na
capacidade de constituírem referência para o desenvolvimento de criações
urbanas contemporâneas.
No princípio do século XXI, a prática urbanística, a filosofia de intervenção na
cidade e a própria ideia de cidade apresentam sinais menos utópicos do que
em períodos anteriores, como resultado de vários factores, de entre os quais
se podem destacar: a crise do modernismo e dos seus modelos, o regresso
à cidade como objecto de referência e a perspectiva da desagregação da
cidade ou, pelo menos, da sua ilegibilidade à luz dos conceitos morfológicos
urbanos tradicionais.
Nas antevisões mais especulativas sobre o futuro da cidade, o espaço urbano
como suporte de relações humanas, de trocas materiais e espirituais e mesmo
de circulação, chega a ser suprimido em favor de meios de comunicação
imateriais, sem que se determine o destino da cidade construída nem se for-
mule novos modelos morfológicos como resposta a uma sociedade diferente.
A cidade do século XXI será, naturalmente, diferente da cidade do século que
o precedeu, como esta foi diferente da cidade industrial e esta da cidade
das épocas históricas Moderna, Medieval ou Antiga. No entanto, o inevitável
fim da cidade, que alguns antevêem, não é uma certeza e será mesmo mais
provável a sua evolução para novos significados que conterão a tensão entre
a herança da cidade construída e a sua permanente renovação. Este objecto
– cidade – em momento algum deixou de conter sinais de obsolescência,
pela sua própria natureza e dinâmica.
As políticas de recuperação dos centros históricos, tão presentes a partir de
meados do século XX, num processo cada vez mais distanciado do fenómeno
das expansões que configuram, na maioria dos casos, periferias urbanas, têm
suporte não só nas reflexões teóricas, mas também num sentimento público
que tem muito de nostálgico e representa a escolha de um valor seguro. Não
devemos aprisionar a urbanidade à cidade histórica, nem à inevitabilidade
de que o renascimento urbano recorra obrigatoriamente a formas passadas.
No entanto, os exemplos construídos que herdámos, e que fazem parte da
nossa vida na cidade, constituirão sempre modelos propulsores de novas
concepções espaciais.
029::INTRODUÇÃO ::
No entanto, analisando a praça no contexto específico português verifica-se
uma enorme riqueza e variedade de situações que, a partir do século XV, foram
levadas para todos os territórios da expansão.
Assim, a primeira questão a ser colocada é a que remete para o próprio
conceito de praça. Sé a Praça do Rossio, em Lisboa, constitui um exemplo
claramente representativo deste elemento urbano pela sua natureza, como
espaço de excepção, definição espacial, conteúdos funcionais, qualidade
dos seus edifícios ou mesmo enquanto símbolo de um espaço urbano sin-
gular, outros há em que estas características se esbatem até um conteúdo
mínimo, situação onde se colocará a dúvida sobre a pertinência da sua
inclusão neste conceito.
O Largo da Capela Nova, em Vila Real, pouco se distinguiria de um entron-
camento de ruas, não fosse o carácter excepcional do edifício e a sua acção
sobre o espaço, do qual se apropria através de uma plataforma escadeada.
A Praça Sacadura Cabral, em Moura, apesar do nome e de ter uma géne-
se semelhante à Praça do Geraldo em Évora ou à Praça do Comércio em
Coimbra, configurou-se num espaço mais alongado e estreito do que estas,
constituindo assim uma situação diversa, dado ter características morfológicas
na relação entre o perfil transversal e longitudinal que mais a aproximariam de
uma rua, não podendo ser inteiramente abarcado de nenhum ponto de vista.
No entanto, o seu carácter de espaço urbano de excepção e a sua vivência
remetem-na mais para o conceito de praça do que para um espaço canal.
Pelas mesmas razões, podemos questionar a natureza da Avenida dos Aliados
no Porto e por mais fortes razões a incluiremos dentro da tipologia espacial
das praças. Embora sendo um espaço muito alongado, apresenta um carácter
unitário e finito, aliado a uma coerência morfológica, além de assumir um papel
verdadeiramente excepcional no contexto urbano em que se insere.
However, analysing squares in the specific context of Portugal, we are pre-
sented with an enormous wealth of situations, which, from the 15th century
on, were taken to all the areas that were colonised.
Thus the first question to be asked concerns the very concept of a square.
Although Praça do Rossio (literally “large public square”) in Lisbon is a
clearly representative example of this urban feature due to its very nature
as a space of exception, its spatial borders, functional content, the qual-
ity of its buildings or even it being a symbol of a singular urban space,
these characteristics are only present in other squares to a minor extent,
which might cast some doubts as to why they should have been included
in this concept.
Capela Nova Square, in Vila Real, would be little more than a road junction
if it were not for the exceptional character of the building and its effect
on the area,which encompasses a platform with steps. Sacadura Cabral
Square, in Moura, despite its name and similar origins to Geraldo Square
in Évora or Comércio Square in Coimbra, is a longer, narrower space than
these two squares. It is thus a diverse situation, since its morphological
characteristics in the relationship between the cross-sectional and longitu-
dinal profile make it more of a street, as it cannot be entirely enclosed at
any point. However, the fact that it is an exceptional urban space and its
busy nature mean that it leans more towards the concept of a square than
a channel space. For the very same issues, we can hang a question mark
over the nature of Aliados Avenue in Porto and for even better reasons, we
can include it within the spatial typology of squares. Although it is a very
long space, it is a unit and is finite, morphologically coherent and it plays
a truly exceptional role in the urban context where it stands.
Largo da Capela Nova. Vila Real::
Praça Sacadura Cabral. Moura::
Avenida dos Aliados. Porto::
030 :::: INTRODUÇÃO
One of the factors that most differentiates squares one from another is the
very process behind them, i.e. if they are the result of an evolutionary process
whose shape progressively became sedimented or, on the contrary, if they
were built according to an entirely pre-conceived project.
Areeiro Square, in Lisbon, designed entirely by Cristino da Silva, was designed
three-dimensionally, so the square project as a space cannot be separated
from the project for the buildings themselves. In Mouzinho de Albuquerque
Square, in Porto, more widely known as Rotunda da Boavista (Boavista Round-
about), the buildings were designed independently from the space, yet they
always respect the ensemble’s alignment and heights, or at least they did until
the recent construction of the Casa da Música, which was positioned without
the logic behind the roundabout’s layout.
Yet, in most cases, the project was limited to defining the layout in its charac-
teristic two dimensions, leaving the buildings to be built sporadically over time
and with some of the original buildings even being replaced cyclically.
The vast majority of examples are the result of evolution, longer or shorter as
per the case, where sedimentation caused by human actions over time may
have even kept a space’s typology, albeit while entirely replacing the buildings
and completely changing the urban feature’s morphology.
Bobadela’s Church Square, in Oliveira do Hospital, testifies to its use as a
square for roughly two thousand years. Sitting on the site of the former Roman
city’s forum, it encompasses structures built from the forum and superimposes
buildings, such as the current church, which sits on top of the forum’s main
temple, showing continuity in terms of the collective use of the space as a
square. Nevertheless, the loss and change in the meaning of the functions,
shapes and buildings means that there is no morphological identity today
between the churchyard and the former forum.
Um dos factores que mais distingue as praças entre si é o próprio processo
que as origina, isto é, se foram o resultado de um processo evolutivo que
foi sedimentando progressivamente a sua forma ou, pelo contrário, se foram
construídas a partir de um projecto integralmente pré-concebido.
A Praça do Areeiro, em Lisboa, integralmente projectada por Cristino da Silva,
foi concebida de um modo tridimensional, não sendo possível desligar o
projecto da praça, como espaço, do projecto dos próprios edifícios. Já na
Praça Mouzinho de Albuquerque, no Porto, mais conhecida como Rotunda
da Boavista, os edifícios foram projectados autonomamente do espaço, res-
peitando sempre o alinhamento de conjunto, definição de frentes e cérceas,
isto até à recente construção da Casa da Música, implantada sem a lógica
do desenvolvimento da rotunda.
Mas, a maioria das vezes, o projecto limitou-se à definição do traçado nas duas
dimensões que o caracterizam, deixando que a dimensão do edificado fosse
sendo construída parcelarmente, de um modo diferido no tempo e mesmo
com substituição cíclica de algumas das suas construções originais.
A grande maioria dos exemplares é consequência de uma evolução, mais
ou menos longa, onde as sedimentações resultantes das acções humanas
exercidas ao correr do tempo podem até ter mantido a tipologia do espaço
com a integral substituição dos edifícios e completa alteração morfológica
do elemento urbano.
O Adro da Igreja de Bobadela, em Oliveira do Hospital, testemunha a sua
ocupação como praça desde há cerca de dois mil anos. Implantada sobre
o forum da antiga cidade romana, integra estruturas construídas daquele e
sobrepõe edifícios, como a erecção da actual igreja sobre o antigo templo
principal do forum, revelando uma continuidade da utilização colectiva do
espaço como praça. Apesar deste facto, a perda e alteração de significado de
Praça do Areeiro. Lisboa::
Rotunda da Boavista. Porto::
Adro da Igreja. Bobadela, Oliveira do Hospital.
::Forum Romano.Hipótese de reconstituição (H. Frade). Bobadela, Oliveira do Hospital.
::
031INTRODUÇÃO ::
funções, formas e edifícios, fazem com que não haja hoje qualquer identidade
morfológica entre o Adro da Igreja e o antigo forum.
No entanto, os processos e tempos de sedimentação raramente se revelam
tão intensos e longos como na referida aldeia beirã, mas não deixam de ser
intrínsecos à natureza própria dos espaços urbanos.
A Praça Marquês de Pombal, em Lisboa, apesar de projectada na segunda
metade do século XIX no contexto de expansão das avenidas novas de Lis-
boa, só se veio a consolidar cerca de 100 anos depois com a conclusão da
substituição do seu primeiro edificado. O Adro da Sé do Porto, por seu lado,
só se definiu nesta última década com a reconstrução da nova Casa dos Vinte
e Quatro, projectada pelo arquitecto Fernando Távora, que se pode considerar
que concluiu a grande remodelação iniciada nos anos 40 pela Direcção-Geral
dos Monumentos Nacionais, ao restaurar a Sé e remodelar profundamente
o seu adro fronteiro. Na mesma cidade podemos encontrar o caso de uma
praça provavelmente ainda não consolidada – a Rotunda do Castelo do Queijo
– que, apesar da remodelação operada no princípio da década de 2000, ainda
poderá ver as frentes interiores substancialmente alteradas, particularmente
com a consolidação do arranque da Avenida da Boavista.
A própria natureza do elemento urbano pode variar e nem sempre se reco-
nhece uma praça como um elemento individual e uno. Pode ocorrer, de modo
singular e bem identificável, como é o caso da Praça da República em Aveiro.
Nesta, o espaço é uno, bem definido e contrasta com as estruturas canais
das ruas que o servem.
No entanto, a praça pode ser constituída por um conjunto de subespaços,
com maior ou menor identidade, formando um conjunto indivisível. A Praça
de Camões em Chaves é composta pela relação entre diversos espaços arti-
However, sedimentation processes and times rarely prove to be as intensive
and long as in the aforementioned beirã village, yet they remain intrinsic to
the very nature of urban spaces.
Although Marquis of Pombal Square in Lisbon was designed in the second
half of the 19th century in the scope of the growth of Lisbon’s Avenidas Novas1,
it only became consolidated roughly 100 years later, after its initial buildings
were replaced. Porto’s Sé (Cathedral) Square, in turn, was only defined in
the last decade with the reconstruction of the new Casa dos Vinte e Quatro2,
designed by the architect Fernando Távora, which can be considered to have
concluded the major remodelling work began in the 1940s by the Directorate
General for National Monuments, restoring the Cathedral and considerably
remodelling the churchyard lying in front of it. In the same city we can find
the case of a square which has probably not yet been consolidated - Castelo
do Queijo Roundabout – where, despite being remodelled at the turn of this
millennium, it might still see its inner sides substantially altered, particularly
the area where Boavista Avenues starts.
The very nature of an urban feature may vary and it is not always possible to
recognise a square as a single, individual feature. There are particular and
easily identifiable examples, as is the case with República Square in Aveiro.
Here there is one, well-defined space that contrasts with the channel-like
structures of the streets serving it.
Conversely, the square can consist of a series of sub-spaces, each with its own
identity to a greater or lesser extent, which make an undividable whole. Camões
Square in Chaves is formed by the relationships between different spaces linked
to the Mother Church’s rotation, which makes a coherent whole, where each
unit is connected to a specific representational or functional situation, yet they
cannot be singled out due to the spatial dynamics of the space they relate to.
Praça Marquês de Pombal. Lisboa::
Adro da Sé. 2000. Porto::Adro da Sé.1940. Porto::
Praça de Camões. Chaves::
Rotunda do Castelo do Queijo. Porto::
1 House where the crasftmen representing
the 24 different trades of the city of Porto
would assemble, hence being considered
the first ever seat of municipal power.
1 The city of Lisbon’s nineteenth century area
of growth
056 INTRODUÇÃO::
Madre de Deus
Anjos
Bairro das Colónias
Arco Cego
Alvalade
Bairro Alto
Baixa
Campo de Ourique
Avenidas Novas
057::AMOSTRAS DO TRAÇADO URBANO DE LISBOA
Alfama
Colina de Santana
Chiado
Parque das Nações
Restelo
Aterro da Boavista
Olivais
Chelas
Telheiras
Caldas da Rainha
Caminha
Campo Maior
Cascais
Castelo Branco
Castelo de Vide
Chaves
Coimbra Covilhã
Coruche
Crato
cCaldas da Rainha
Caminha
Campo Maior
Cascais
Castelo Branco
Castelo de Vide
Chaves
Coimbra
Coruche
Covilhã
Crato
295::
Coimbra
01 : Praça do Comércio / Praça Velha
COIMBRA
02 : Largo da Sé Velha
03 : Praça 8 de Maio
04 : Pátio da Universidade
04
03
0201
Localizada no centro do país, numa encruzilhada de caminhos e constituindo
ponto de passagem entre o norte e o sul, Coimbra tem o seu território marcado
por vales, montes e encostas férteis. Construída à beira do Mondego, a cidade
é dominada pelo edifício da Universidade no alto da colina. Tem uma população
de cerca de 145 000 habitantes, com actividades repartidas pela agricultura, explo-
ração florestal, indústrias de transformação, hotelaria, comércio e turismo.
Aeminium foi o nome que os romanos deram a esta cidade cuja fundação remon-
ta seguramente à Pré-História. É com a decadência de Conimbriga que a cidade
toma o novo nome de Coimbra, passando a ser diocese. Durante a primeira
invasão moura a região é conquistada, tornando-se um importante entreposto
comercial entre o reino cristão do norte e o reino mouro do sul, com uma forte
comunidade moçárabe no interior das muralhas. Apesar de se tornar Condado
em 871, só em 1064 é definitivamente conquistada por Fernando Magno.
Cidade berço de D. Afonso Henriques, será capital do reino até 1255; apre-
sentando então uma estrutura urbana dividida entre cidade alta, residência da
aristocracia e do clero, e cidade baixa, centro de comércio, e dos bairros ribei-
rinhos de habitação. No século XVI, com a mudança definitiva da Universidade
para Coimbra, a história da urbe gira em torno daquela, da cultura e da vida
estudantil. O século XVIII vem dar novo incremento à cidade e começam a surgir
bairros de habitação fora do perímetro muralhado, aumentando a demografia
e a economia da região.
No início do século XIX Coimbra conhece tempos difíceis com as Invasões
Francesas e a extinção das ordens religiosas. A segunda metade do século
constitui, no entanto, uma época de recuperação, com a inauguração da linha
férrea em 1864 e a construção da ponte sobre o Mondego, que liga as duas
margens.
Standing at a crossroads in the centre of the country and a passageway between
the North and the South, the area around Coimbra is littered with valleys, moun-
tains and fertile slopes. Built alongside the River Mondego, the city is dominated
by the University campus, which sits on top of the hill. It has roughly 145,000
inhabitants who work in agriculture, logging, processing industries, the hotel
sector, commerce and tourism.
The Romans dubbed this city Aeminium and it was most definitely founded in
pre-historic times. As Conimbriga lay fallow, the city adopted the new name of
Coimbra, and became a diocese. The region was conquered during the first
Moorish invasion and became an important trading post between the Christian
kingdom in the North and the Moorish one in the South. It had a sizeable Arab
population living within its walls. Despite becoming a County in 871, it was only
in 1064 that it was finally conquered by Fernando Magno.
The city of King Afonso Henriques’ birth, it would serve as the kingdom’s capital
until 1255. By then it was already showing an urban structure divided between
the upper city, where the aristocracy and clergy resided, and the lower city, the
commercial centre, and the residential riverside neighbourhoods. When the
university came to Coimbra and settled for good in the 16th century, the town’s
history started to revolve around it, culture and student life. The city grew in the
18th century and new residential neighbourhoods began to shoot up outside the
walled perimeter, increasing the region’s demography and economy.
Coimbra underwent some trying times at the turn of the 19th century with the
French Invasions and the extinction of the religious orders. The second half of
the century was a time of recovery with the inauguration of the railway line in
1864 and the construction of the bridge over the Mondego, which linked the
two banks.
CoimbraVista Aérea I Aerial View1:5000.
::
296 ::
: Pátio da Universidade04
03 : Praça 8 de Maio
02 : Largo da Sé Velha
01 : Praça do Comércio / Praça Velha
CONCELHO DE COIMBRA
Coimbra Vista I View
::
A construção nos anos sessenta dos edifícios novos da Universidade aumen-
tou a população estudantil que, apesar de manter as tradições ancestrais na
vivência do dia-a-dia, exigiu novas formas de vida e o recrudescimento do
comércio e dos serviços.
O conjunto de objectos do património histórico e artístico construído ao longo
dos séculos transformaram Coimbra num alvo preferencial do turismo cultural,
promovendo a construção de hotéis e o aumento das actividades de bens e
serviços.
Com uma estrutura urbana interessante dividida entre a encosta e uma zona
plana e baixa, Coimbra é hoje objecto de revitalização, e prepara-se para os
tempos modernos, tentando ser uma cidade competitiva. [GC]
New University buildings were built in the 60s, which caused student numbers to
swell. Although they observed the traditions in their daily lives, they demanded
new life styles and better shopping and services.
The ensemble of historical and artistic heritage objects that have been built over
the centuries in Coimbra have made it a favoured site for cultural tourism, provid-
ing the impetus for hotels to be built and improved services and commerce.
With an interesting urban structure split between the slope and a flat, low-lying
area, today Coimbra is being regenerated, gearing it up for modern times and
trying to make it a competitive city.
297::
03
04
COIMBRA
0201
Traçado Urbano I Urban Layout 1:5000
::
306 :: CONCELHO DE COIMBRA
307::
Coimbra
03 : Praça 8 de Maio
COIMBRA / PRAÇA 8 DE MAIO
A Praça 8 de Maio, localizada na parte baixa da cidade, tem uma estrutura
geométrica regular e é a confluência de ruas comerciais da zona ribeirinha
que articula com a encosta da cidade velha.
É dominada na face leste pela Igreja de Santa Cruz, fundada no século XII e
construída sobre os antigos banhos reais. Exemplar do segundo período do
Românico coimbrão, este convento foi dos mais importantes da cidade; o
edifício teve a protecção de vários monarcas, nele se conservando os túmu-
los dos primeiros reis de Portugal. As sucessivas intervenções artísticas dos
séculs XVI e XVIII alteraram-lhe a fachada, acrescentando-lhe decoração e um
pórtico que constitui um corpo único e singular sobre o largo. As primeiras
devem-se ao cinzel de João de Ruão e de Nicolau de Chanterenne e o pórtico
ao artista barroco José do Couto.
Voltado à praça, ao lado da igreja instalou-se um dos cafés mais interessantes
da cidade. Ocupa o local de uma antiga dependência do Templo de Santa
Cruz, assumindo-se como um dos locais mais emblemáticos e de encontro
da urbe.
No canto norte, o edifício da Câmara Municipal de Coimbra, construído já na
segunda metade do século XX sob uma arcada, confronta a sumptuosidade
moderna e utilitária com a vetusta Igreja dos Cónegos Regrantes de Santo
Agostinho.
Embora as ruas irradiem do largo quer para a baixa de Coimbra quer para
a parte alta, este é atravessado pela Rua Ferreira Borges, que se prolonga
para norte como Rua da Sofia, onde a tradição diz que se situavam as
casas de todos os lentes da Universidade, sendo hoje um importante eixo
do comércio local.
Os trabalhos de recuperação a que foi sujeita nos últimos anos volveram-na
pedonal e local de charneira entre os mais antigos monumentos Românicos
e o poder político local. [GC]
Situated in the city’s downtown area, 8 de Maio Square has a regular geometric
structure. It is also where the river area’s shopping streets converge, joining
up with the slope where the old city lies.
The Santa Cruz Church dominates its eastern side. The church was founded
in the 12th century and was built over the former royal baths. An example of
the second Coimbra Roman period, this was one of the city’s most important
convents. The building enjoyed protection from several monarchs, as it is here
that the tombs of the first kings of Portugal are found. Successive artistic work
in the 16th and 18th centuries altered the façade, adding decorative work and a
portico, which looms over the square as a single and unique body. João de
Ruão and Nicolau de Chanterenne were responsible for the former and the
portico is the work of the Baroque artist José do Couto.
One of the city’s most interesting cafés can be found looking onto the square,
adjacent to the church. It stands on the site of what was once an outbuilding
of the Santa Cruz church and is one of the city’s most emblematic places
and meeting spots.
The Coimbra Municipal Council building sits in the northern corner. It was built
in the second half of the 20th century under an arcade, its modern and utilitar-
ian sumptuousness contrasting with the ancient Cónegos Regrantes de Santo
Agostinho (Canon Regulars Order of Saint Augustine) church.
Although the streets irradiate out from the square towards both Coimbra´s
downtown area and the higher areas, Ferreira Borges Street bisects the square
and extends northwards as Sofia Street. Local legend has it that this is where
all the university teachers had their houses. It is now an important local shop-
ping artery.
Regeneration work over recent years has turned the square back into a pedes-
trian area and a virtual hinge between the oldest Roman monuments and local
political power.
308 ::
Corte Transversal Cross Section1:500
::
Corte Longitudinal Cross Section1:500.
::
CONCELHO DE COIMBRA
309::COIMBRA / PRAÇA 8 DE MAIO
Praça 8 de MaioPlanta I Plan
1:1000
::TT
L
L
Tomar
Torre de Moncorvo
Torres Vedras
Trancoso
Tavira
tTavira
Tomar
Torre de Moncorvo
Torres Vedras
Trancoso
885::
Tomar
01 : Praça da República
01
TOMAR
A cidade de Tomar é sede de um município integrado no distrito de Santarém.
Localiza-se numa zona de transição entre a lezíria ribatejana, a sul, e a zona
de montanha, a norte.
Povoada desde os tempos do Paleolítico, a origem da cidade poderá estar
num dos castros pré-célticos que aí se instalaram.
No período romano floresceu uma urbe próxima do rio como resultado de uma
economia ligada à agricultura e à exploração mineira. No entanto, a importância
particular do povoado adveio da instalação da Ordem dos Templários, depois
da Reconquista, e o inicio da construção do castelo, em 1160.
Em 1162 foi concedido o primeiro foral à vila de Tomar, que se desenvolveu
entre o castelo e o Rio Nabão, num destino muito ligado à Ordem do Templo
até à sua extinção no reinado de D. Dinis, quando aquela foi transformada
em Ordem de Cristo.
A vila destacou-se quando o Infante D. Henrique assumiu o governo da Ordem
e passou a residir em Tomar, a partir de onde dirigiu a grande empresa dos
Descobrimentos. No período Manuelino foi um burgo cosmopolita, com uma
importante comunidade judaica onde, à sombra do Convento da Ordem de
Cristo, se instalaram várias outras instituições religiosas e se desenvolveram
actividades económicas, particularmente ligadas aos açudes e moengas da
Ribeira da Vila.
No século XVIII iniciou-se uma primeira industrialização que, aliada a um papel
administrativo regional, justificou a elevação de Tomar a cidade em meados
do século seguinte.
Tomar caracteriza-se por possuir um núcleo mais antigo limitado a poente pelo
Convento de Cristo e a nascente pelo Rio Nabão, para além do qual a cidade
se estendeu já no século XX. Morfologicamente, em Tomar distinguem-se as
Part of the Santarém district, the city of Tomar is the municipal seat. It is situ-
ated in an area where the landscape changes from the fertile plains of the
Ribatejo to the south and the mountains to the north.
The site has been inhabited since Palaeolithic times and the city’s origins may
be linked to one of the pre-Celtic Castros1 that were established here.
A town flourished by the river during the Roman period, resulting from an
economy linked to agriculture and mining. However, the settlement’s particular
importance came after the re-conquest when the Order of the Knights Templar
set up their base here and when work was begun on the castle in 1160.
The town of Tomar was awarded its first charter in 1162. The town developed
between the castle and the River Nabão, its fate closely linked to the Order
of the Knights Templar until it was extinguished during the reign of King Dinis
and converted into the Order of Christ.
The town came under the spotlight when Prince Henrique (Henry the Naviga-
tor) became head of the Order and started living in Tomar. It was from here
that he masterminded the major undertaking of the Portuguese Discoveries. It
was a cosmopolitan town with a sizeable Jewish community in the Manueline
period. Several other religious institutions were established in the shadow of
the Convent of the Order of Christ and economic activities linked especially
to the weirs and mills on the town’s stream evolved.
An initial phase of industrialisation took place in the 18th century, which, com-
bined with its regional administrative role, justified Tomar being raised to city
status in the mid-19th century.
Tomar has an older nucleus, bordered to the west by the Convent of Christ and
to the east by the River Nabão, from whose confines the city broke free in the
20th century. Morphologically-speaking, it is possible to distinguish between the
TomarVista Aérea I Aerial View1:10 000.
::
1 A term for a certain kind of Iron-Age
fortified village in the Portuguese and
Galician languages.
886 ::
01 : Praça da República
CONCELHO DE TOMAR
Tomar Vista I View
::
novas e extensas áreas de expansão de um tecido mais antigo, construído
sobre um traçado ortogonal, com quarteirões rectangulares de direcção nas-
cente-poente e centrado na actual Praça da República. O traçado revela uma
regularidade apreciável embora não geométrica, que denota ter origem num
desenho preconcebido. [CDC]
large, new areas of growth in Tomar and an older fabric built on an orthogonal
layout with rectangular east to west blocks centred on the current República
Square . There is noteworthy regularity in the layout, although it is not geometric,
suggesting it originates from a preconceived design.
887::
01
TOMAR
Traçado Urbano I Urban Layout 1:5000
::
888 :: CONCELHO DE TOMAR
889::
Tomar
01 : Praça da República
TOMAR / PRAÇA DA REPÚBLICA
A Praça da República é um espaço rectangular, regular, constituindo uma
supressão de um quarteirão no traçado do núcleo mais antigo de Tomar.
Delimitada a norte e a sul por frentes de edifícios de habitação de dois ou três
pisos, datados maioritariamente dos séculos XVIII e XIX, a praça é marcada
nas frentes de menor dimensão pelas construções da Igreja de São João
Baptista e da Câmara Municipal. A regularidade das cérceas só é quebrada
pelo edifício religioso, que na fachada faz transparecer três naves, agregando
uma torre sineira marcada pela agulha de um coruchéu ortogonal.
Pavimentada a calçada em branco e negro, a estrutura simples do desenho
em losangos destaca no centro o monumento a D. Gualdim Pais.
Apesar de a constituição deste espaço ser supostamente coeva da abertura do
traçado urbano de Tomar, a sua configuração foi sendo sedimentada ao longo
do tempo. O templo religioso remonta à época do Infante D. Henrique, mas foi
reconstruído no período Manuelino, cujo estilo marcou particularmente a traça
da fachada da praça. Da mesma época é o actual edifício da câmara, onde
D. Manuel viveu antes de se tornar rei de Portugal. Os edifícios das outras duas
frentes foram sendo progressivamente construídos e substituídos, concluindo-
-se a feição do espaço com a edificação do monumento ao primeiro mestre
dos cavaleiros do Templo na década de quarenta do século XX.
Se a Praça da República deixou de funcionar como mercado, mantém ainda
o papel de centro administrativo e religioso da cidade, sendo palco das prin-
cipais manifestações e festividades. [CDC]
República Square is a regular, rectangular space creating a block-sized inden-
tation in the layout of Tomar’s oldest nucleus.
It is bordered to the north and south by two or three-storey residential build-
ings, dating for the most part back to the 18th and 19th centuries, the smaller
façades being dominated by the S.João Baptista (St. John the Baptist) Church
and the Municipal Council building. The regularity in height is only disrupted
by the church building, which displays in its façade its three naves, in addition
to a bell tower dominated by the orthogonal roof’s spire.
Paved with black and white paving stones, the lozenge design’s simplicity draws
the eye towards the monument to Gualdim Pais at its centre.
Although this space probably evolved at the same time as Tomar’s urban layout
opened up, its configuration has become sedimented over the years. The church
dates back to the period of Prince Henrique (Henry the Navigator). However,
it was rebuilt during the Manueline period and it is this style that has been
particularly influential on the lines of the square’s façades. The Council building
is from the same period and was where Duke Manuel lived before becoming
King of Portugal. The buildings on the other two sides have been progressively
built and replaced, the space’s layout being completed with the construction
of the monument to the first Master of the Knights Templar in the 1940s.
Although Praça da República is no longer used as a market, it still retains its
role as the city’s administrative and religious centre and is where the main
events and festivities are held.
890 :: CONCELHO DE TAVIRA
Corte Transversal (1) Cross Section1:500
::
Corte Longitudinal Cross Section1:500.
::
Corte Transversal (2) Cross Section1:500
::
891::TOMAR / PRAÇA DA REPÚBLICA
Praça da RepúblicaPlanta I Plan
1:1000
::
T2
T2
L
L
T1
T1