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Estado de emergência para Coronavírus
O risco de Moçambique ser epicentro do Jihadismo Centrais
A subida de tom dos “terroristas” em Cabo Delgado
TEMA DA SEMANA2 Savana 03-04-2020
Abel Fernando, um cliente ouvi-
do pelo SAVANA, disse ter gasto
mais de 3 mil meticais na compra
de máscaras, desinfectantes e lu-
vas para a sua família. Para Fer-
nando, apesar dos preços serem
altos, o que realmente importa,
neste momento, é cuidar da saúde
e preservar a sua vida.
Com a procura em alta, o SA-VANA sabe que há farmácias que
não comercializavam produtos
como máscaras e gel, mas que, ao
se aperceber da demanda, tive-
ram de aderir ao negócio rentável
nesses tempos em que o mundo
enfrenta uma das maiores pande-
mias de todos os tempos.
A situação é tão caricata que até
mercearias de venda de produtos
alimentares passaram a comercia-
lizar produtos de protecção con-
tra a covid-19, estimuladas pelos
preços do momento.
Produtos alimentares Com o isolamento social, assiste-
-se a uma corrida desenfreada
para os centros comerciais para a
aquisição de produtos de primeira
necessidade, também uma opor-
tunidade única para os agentes
económicos.
E com a África do Sul, um dos
principais mercados de importa-
ção para Moçambique, em qua-
rentena obrigatória, os preços so-
bem, igualmente com especulação
na venda dos produtos de primei-
ra necessidade.
O mercado grossista do Zimpeto
é exemplo disso. Um quilograma
de alho, que antes variava entre
190 a 200, hoje custa entre 330
a 400 meticais. Dez quilo-
gramas do mesmo produto
O novo coronavírus não é só um problema de saú-de pública. A pandemia já está a afectar, conside-
ravelmente, o tecido económico
nacional. Mas com dois gumes.
Enquanto uns sucumbem àquela
que é considerada a maior cala-
midade pública dos nossos tem-
pos, outros estão a lucrar a valer,
incluindo sindicatos mafiosos
que encontram no desespero dos
outros a base para um oportunis-
mo sem escrúpulos.
Mário Vemba é estudante de so-
ciologia numa das universidades
privadas do país. Desde 23 de
Março que não pode ir à Faculda-
de por causa da proibição decre-
tada pelo presidente Filipe Nyusi.
Mas para não comprometer o ano
académico, a sua universidade
instituiu “aulas virtuais”, que fre-
quenta via internet, a partir de
casa, onde cumpre isolamento
social.
Para tal, o estudante do primeiro
ano precisou de mais internet. Ao
invés do pacote mensal de 1000
meticais que os pais compravam a
cada mês, agora tiveram de com-
prar um pacote de 5 mil meticais,
a contar com os outros 4 irmãos
do Mário, que também passaram
a ter “aulas virtuais”.
O caso da família Vemba é o
exemplo de milhares de famílias
moçambicanas que, com o isola-
mento social, se viram obrigadas
a investir mais dinheiro para a
aquisição de dados móveis e fixos,
o que significa mais receitas para
as três operadoras de telefonia
móvel no país.
A título de exemplo, a Tmcel, em-
presa pública de telefonia móvel
que resultou da fusão das antigas
Mcel e TDM, registou, desde 23
de Março, quando iniciou o iso-
lamento social, um crescimento
de cerca de 25% no consumo de
dados móveis e fixo.
“O volume de carregamentos, de
um modo geral, aumentou con-
sideravelmente, não só pelo fac-
to de os clientes habituais terem
aumentado o seu consumo, como
também vimos a base crescer com
novos consumidores”, confirma
ao SAVANA, a Tmcel, que in-
dicou também que o consumo
de dados acompanhou a mesma
tendência.
Questionamos a Tmcel se ponde-
rava ou não baixar os custos dos
seus serviços neste momento difí-
cil para os seus clientes.
“Redução de preços não é algo
que esteja planeado, mas sempre
que possível ajustamos as nossas
ofertas, sem prejuízo da nossa es-
trutura de custos. Temos a plena
consciência que os nossos clientes
e os consumidores, de um modo
Uns lucram, outros à beira do precipício
geral, terão, nos próximos dias,
outros tipos de necessidades, que
não sejam apenas de comunica-
ção e, por esse motivo, acredita-
mos estar atentos para a dinâmica
que for necessária implementar
no sector em que actuamos, pri-
vilegiando, igualmente, uma co-
laboração directa e estreita com
Governo”, respondeu a empresa.
Sobre a estratégia para este perío-
do de emergência, a empresa diz
que já definiu o lançamento de
novos pacotes de dados, no âm-
bito do projecto de modernização
da rede em curso.
“O que foi feito, logo após o
anúncio do Governo do encerra-
mento das aulas por um período
de trinta dias, foi ajustar e an-
tecipar algumas ofertas (pacote
Fica Em Casa, lançando no dia
29.03.2020), prevendo-se já uma
iminente declaração de estado de
emergência, que acabou por se
materializar uma semana depois”,
refere a empresa.
Quem também confirma um cres-
cimento no consumo de dados
móveis e fixo é a Movitel. Mesmo
sem avançar números, o director
de Marketing e Comunicação da
Movitel, Hélder Cassimo, disse
que está a crescer a procura de da-
dos e de dispositivos de internet
como WIFI e modens.
Questionado se, dado o momen-
to, a Movitel ponderava ou não
oferecer pacotes especiais aos seus
clientes, Hélder Cassimo respon-
deu que a sua empresa já vinha
tendo pacotes bonificados.
“O que agora estamos a fazer é
promover esses pacotes para que
o público tome conhecimento da
sua existência para adquiri-los”,
disse, garantindo que, a partir de
1 de Abril, a Movitel faria entre-
ga ao domicílio de serviços como
recargas e modens, a quem os so-
licitar.
A Vodacom prometeu, na terça-
-feira, pronunciar-se sobre o
assunto, mas até ao fecho desta
reportagem, quarta-feira, não o
tinha feito, apesar das nossas in-
sistências.
Sem data à vista para que tudo
volte a normalidade, as operado-
ras de telefonia são o exemplo de
actividades que estão a somar em
tempos de crise.
Farmácias também vivem melhores dias As farmácias são outro sector que
está a viver os seus melhores dias.
Produtos para a protecção da co-
vid-19, como gel desinfectante,
álcool, máscaras e luvas, conti-
nuam a conhecer uma demanda
jamais vista um pouco por todo
o país.
E, em meio à grande procura, os
preços disparam, com oportunis-
mo de algumas farmácias à mis-
tura. Uma máscara que antes cus-
tava 50 meticais, hoje é comprada
a 200 meticais, um aumento de
150%. O gel desinfectante de 125
ml, outrora a 250 mt, hoje ronda
entre 400 a 600 meticais, enquan-
to a vitamina C passou de 980 a
1200 meticais.
O técnico de Farmácia Dinis
Cumbane, sem precisar números,
confirma que as vendas dispara-
ram para os produtos de protec-
ção contra do novo coronavírus,
originando escassez dos mesmos.
Aliás, na sua farmácia, Dinis
Cumbane não tinha Vitamina C
e do Álcool Etílico porque esgo-
tados.
Sobre a razão da subida de preços,
Cumbane queixa-se de subidas
também junto dos fornecedores.
O farmacêutico relata casos de
De cerca de 300 Meticais , o saco de cebola passou para pouco mais de 700 meticais
Efeitos económicos da Covid-19
Por Armando Nhantumbo e Elias Nhaca
maior procura de cloroquina, um
medicamento antimalárico que,
para o senso comum, cura coro-
navírus. Mas o farmacêutico ex-
plica que o uso da cloroquina não
é aconselhável.
Hélder Cassimo, Movitel
Dinis Cumbane
TEMA DA SEMANA 3Savana 03-04-2020
custam 3.400 meticais, contra os
anteriores 1700.
Vinte e cinco kg de arroz, que
antes custavam 1200 Mt, hoje
são adquiridos a 1450 meticais.
O caldo passou de 150 para 200
e 10kg de farinha subiu de 380 a
450 Mt.
Um quilo de açúcar, antes 50 me-
ticais, hoje custa 80 meticais.
Os vendedores queixam-se de
escassez dos produtos nos forne-
cedores.
O presidente da Associação dos
Pequenos Importadores de Mo-
çambique (Mukhero), Sudecar
Novela, justifica a subida de pre-
ços com as restrições nas impor-
tações por causa da quarentena
obrigatória na África do Sul.
“Já não se importa como no pe-
ríodo normal por causa de res-
trições”, disse. Confrontado com
situações de oportunismo que se
verificam no mercado, Novela
aponta a maior procura como a
principal razão.
“Quando o produto escasseia, a
tendência é subir”, lembra.
Entretanto, a Inspecção Nacio-
nal de Actividades Económicas
(INAE), na voz da sua directora-
-geral, Rita Freitas, promete mão
dura contra a especulação de pre-
ços. A inspectora-geral avisou que
os comerciantes que especularem
Transportadores ressentidos O sector dos transportes públicos
é dos que mais se ressente da crise
da covid-19, agora que o número
de passageiros não deve exceder a
50.
Os transportadores referem que
ter 15 passageiros, num transpor-
te semicolectivo que antes levava
24 pessoas, ou ter 50 pessoas, num
autocarro que antes transportava
mais que o dobro, não tem sido
rentável para o seu negócio.
Por isso, na luta pela receita, al-
guns transportadores não obser-
vam as medidas de prevenção
contra o novo coronavírus.
Arnaldo Sitoe, passageiro resi-
dente no bairro da Mozal, confir-
mou ao Jornal que as medidas de
prevenção anunciadas pela Agên-
cumprir com a receita.
Hoje Manhiça diz que dificil-
mente consegue 2 mil meticais/
dia, contra a receita de 5.500 es-
tipulada pelo patrão.
Terminal internacional da Baixa às moscas Com o confinamento obrigatório
na África do Sul, os transporta-
dores que fazem a ligação entre
Táxis também abalados O sector de táxis também é um
dos que ressentem da crise cor-
rente.
Virgílio Matavel, taxista há 10
anos, diz que, se antes o negócio
do táxi estava a sofrer abalos, ago-
ra, praticamente, “não existe”.
Lamenta e explica que há dias
que não consegue transportar
ninguém e, noutros dias, “mais
abençoados”, consegue 500 Mt
ou um pouco mais, depois de um
sacrifício que o força a trabalhar
madrugada adentro.
Os seus principais clientes eram
turistas e pessoas que pretendiam
efectuar viagens urgentes, mas
hoje não os vê e fala da incerteza
que o seu trabalho vive nos últi-
mos dias.
De igual modo, os operadores de
“txopela”, um transporte flexível
para os grandes centros urbanos,
sobretudo na hora de ponta, tam-
bém lamentam pela falta de clien-
tes nos últimos dias, somando,
igualmente, prejuízos avultados.
Armando Malunga, um dos “txo-
pelistas” ouvidos pelo SAVANA,
fala de uma redução de 75% na
receita diária que, em dias nor-
mais, rondava aos 800 Mt, contra
os actuais 200 Mt.
Malunga explica que os seus
principais clientes eram alunos,
professores e alguns funcionários,
mas, com a paralisação das aulas,
tudo também ficou parado.
Por sua vez, César Mfumo, outro
“txopelista”, diz que há duas se-
manas que só consegue fazer 500
Mt contra 1500 a 3000 Mt que
conseguia antes.
Mfumo também diz estar numa
condição de sufoco, pois o patro-
nato não aceita justificações con-
tra o não cumprimento da receita.
O Governo diz que há stock suficiente de produtos alimen-tares básicos para cobrir as necessidades durante o pe-ríodo de 30 dias que irá durar o estado de emergência declarado, esta segunda-feira, pelo presidente da Repú-
blica.
As medidas se situam no “nível 3’’ de restrições, abaixo do “nível 4”
já em vigor noutros países, como por exemplo, o recolher obriga-
tório em curso desde sexta-feira da semana passada na África do
Sul.
Entretanto, na tarde desta terça-feira, o porta-voz do Conselho
de Ministro, Filimão Suaze, disse aos jornalistas, momentos após
término da 11ª Sessão Ordinária, que o Governo já garantiu
o stock suficiente de alimentos para os próximos três meses. Po-
rém, as evidências nos principais mercados contrariam a retórica.
Nos vários supermercados de venda a grosso, vulgo “recheios”,
registam-se enchentes descomunais.
Porém, Suaze referiu que, tendo em conta a evolução da pande-
mia de coronavírus e o seu impacto para a economia do país, o
Governo adoptou uma estratégia de reserva alimentar, mas reco-
nheceu que, apesar desta garantia, já se nota tendência de escassez
de alguns produtos alimentares no mercado nacional.
‘‘Há preocupação de frango e trigo, mas estão sendo criadas al-
ternativas com os principais armazenistas nacionais e da vizinha
África do Sul’’, disse Suaze. (Sérgio Carimo)
Governo diz que há stock
Produtos alimentares
preços serão penalizados, poden-
do cumprir até 2 anos de prisão.
Por outro lado, Freitas garantiu
haver stock de produtos alimen-
tares suficientes para, pelo menos,
os próximos 3 meses, enfatizando
que as fronteiras serão apenas fe-
chadas para pessoas singulares e
não para a entrada de mercadoria.
Manuel Arcanjo, um utente do
mercado grossista do Zimpeto,
que conversou com a nossa equi-
pa de reportagem, queixou-se de
elevados preços, que não lhe per-
mitiram fazer o rancho na tota-
lidade.
cia Metropolitana de Transporte
de Maputo não têm sido eficazes
por falta de uma fiscalização mais
severa. Sitoe avançou mesmo que
as medidas de introdução de de-
sinfectantes e lotação mínima de
50 pessoas não têm sido observa-
das.
Os condutores dizem que o nú-
mero indicado pelo patronato é
de 65 passageiros e não os 50 im-
postos pelas autoridades no âmbi-
to da prevenção da covid-19.
Alexandre Cumbane, condutor
na rota Baixa – São Dâmaso, diz
que o negócio do transporte tem
passado por dias desoladores, o
que torna difícil cumprir com a
receita.
Se antes conseguia arrecadar 16
mil de receita, agora nem sequer
consegue arrecadar a metade.
Outro automobilista, Marcos
Manhiça, da rota Mogoanine
– Baixa, diz estar na mesma si-
tuação de não conseguir cumprir
com a receita, e refere que, apesar
de ser consequência de uma pan-
demia que desestabiliza todo o
mundo, o seu patronato não acei-
ta desculpas, tanto é que prome-
te despedi-lo se continuar a não
Maputo e a RSA estão, pratica-
mente, sem negócio.
Quando a nossa equipa de repor-
tagem escalou o terminal, só ha-
via viaturas estacionadas e alguns
condutores a se retirarem do local
por falta de passageiros.
Daniel Saia, automobilista há
mais de 25 anos no troço Maputo
– Joanesburgo, confirma que não
tem encontrado passageiros devi-
do ao medo da covid-19.
Outro transportador, Filipe Cos-
sa, diz que os próximos dias são
cruciais para o seu negócio, e
diz estar num dilema, porque o
seu patronato não se pronunciou
sobre a garantia de vencimento
neste período que vai ficar sem
trabalhar.
Sudecar Novela
Rita Freitas, INAE
Arnaldo Sitoe
Os “txopela”, tal como os táxi, estão parados por falta de clientes
Virgílio Matavel
Marcos Manhiça
Felipe Cossa
TEMA DA SEMANA4 Savana 03-04-2020
Continua na pág. 6
Depois de concertações das bancadas parlamentares para a clarificação de al-gumas zonas de penum-
bra em torno das circunstâncias e condições de limitação de ‘‘cer-tas liberdades’’, os deputados da Assembleia da República ratifi-caram, por unanimidade e acla-mação, a declaração de estado de emergência, que vai vigorar por um período de 30 dias, contados a partir desta quarta-feira.
Entretanto, o Conselho de Mi-
nistros reuniu-se na tarde desta
quarta-feira para concretizar (re-
gular) algumas medidas adminis-
trativas avançadas pelo decreto
presidencial, mas até ao fecho da
presente edição o órgão ainda não
havia as anunciado publicamente.
O decreto presidencial, cujas me-
didas se enquadram no nível 3 de
resposta à covid-19, impõe limita-
ções à circulação e confinamento
de pessoas em domicílio ou outro
lugar apropriado e encerramento
de estabelecimentos comerciais,
sancionando os prevaricadores.
A oposição aplaude a medida,
mas critica a falta de tempo para
que as populações assimilem o
novo quadro.
Horas após o decreto entrar em
vigor, uma força conjunta com-
posta pela PRM e Polícia Mu-
nicipal ocupou algumas ruas e
avenidas da baixa da cidade de
Maputo, obrigando o encerra-
mento de lojas e outros estabele-
cimentos comerciais, como cafés e
restaurantes. Foi uma espécie de
lockdown (bloqueio total), medida
só possível nas restrições de nível
IV. O porta-voz do CM, Filimão
Suaze, quando confrontado com
o assunto, reconheceu que terá
havido uma “certa confusão” na
intepretação do decreto por parte
das autoridades policiais.
O decreto refere que estabeleci-
mentos de diversão (discotecas e
bares) terão de fechar as portas
e não faz menção de estabeleci-
mentos comerciais no geral.
A alínea g) do artigo 2 do De-
creto presidencial 11/2020, de 30
de Março, publicado no Boletim
da República com data de 31 de
Março, fala sobre o “encerramento
de estabelecimentos comerciais de
diversão e equiparados, ou redu-
zir a sua actividade e laboração”.
Mas nesta quarta-feira na baixa,
a Polícia mandou encerrar to-
dos estabelecimentos comerciais,
incluindo de venda material de
construção.
Movimento desusado Com excepção de algumas insti-
tuições que introduziram o mo-
delo de trabalho rotativo preconi-
zado pelo decreto presidencial, a
vida continuava o seu curso nor-
mal ao longo do primeiro dia da
vigência.
Chapas lotados, mercados com
Estado de emergência à saca rolhas
movimento desusado, comércio
formal e informal e até algumas
barracas funcionavam como se
nada de novo houvesse.
O deputado António Muchan-
ga criticou o facto de não se ter
estabelecido um prazo razoável
para que as populações sejam ex-
plicadas do significado da lei, tal
como aconteceu na África do Sul
e Angola.
Anotou que as chefias das Forças
de Defesa e Segurança tinham
que estudar o documento e serem
municiadas de informações “sobre
quando e como devem agir sob
pena de saírem a rua a seu bel-
-prazer”.
A aprovação do decreto sobre o
estado de emergência pela As-
sembleia da República foi mar-
cada por momentos de tensão e
intervalos para a busca de consen-
sos entre as três bancadas parla-
mentares.
Inicialmente, o arranque dos tra-
balhos estava agendada para as 16
horas, mas só foi possível quando
o relógio marcava 18 horas.
A ministra da Justiça, Assun-
tos Constitucionais e Religiosos
(MJACR), Helena Kida, funda-
mentou que a comissão técnico
- científica para a prevenção e res-
posta à pandemia da covid-19 re-
comendou a introdução de medi-
das do terceiro nível de prevenção,
cujos pressupostos para adopção
passam pelo registo de transmis-
são local do coronavírus, aliada as
fragilidades do sistema nacional
de saúde.
Até esta quarta-feira, o Minis-
tério de Saúde havia anunciado
um registo de 10 casos positivos
do coronavírus, dos quais oito são
importados e dois de transmissão
local.
“Perante esta situação de iminen-
te calamidade pública, e porque
não podemos perder a curta janela
de oportunidade que o país tem,
o Presidente da República decidiu
decretar o estado de emergência”,
disse.
Compulsada a proposta, o presi-
dente da Comissão dos Assuntos
Constitucionais, Direitos Huma-
nos e de Legalidade (CACDHL),
António Boene, disse que a mes-
ma apresenta os fundamentos da
decretação de estado de emergên-
cia, mormente ao reforço de me-
didas sanitárias para evitar a pro-
pagação e evolução da pandemia
da Covid-19 no país. Igualmente
referiu que a declaração restringe
alguns direitos e liberdades indi-
viduais na medida e na proporção
do necessário para suster a doen-
ça.
No entanto, recomendou a cla-
rificação das circunstâncias e
condições em que tal limitação e
imposição de circulação e confi-
namento devem ocorrer.
É que a alínea a) do número 1 do
artigo 4 estabelecia que: limitar a
circulação interna de pessoas em
qualquer parte do território na-
cional. A alínea b) determinava:
Impor o confinamento de pessoas
em domicílio ou estabelecimento
adequados, com objectivos pre-
ventivos.
Boene recomendou ainda a deslo-
cação das alíneas a), b), c) e d) do
artigo 4 para o artigo 3 do decreto
presidencial pelo facto de serem
medidas limitativas dos direitos,
liberdades e garantias dos cida-
dãos.
Esta situação fez levantar um
grande barrulho na chamada casa
do povo, pois, quando chamada a
intervir em considerações finais,
Helena Kida manifestou aber-
tura no acolhimento das reco-
mendações, mas na condição de
o dispositivo ser aprovado para a
posterior rectificação, facto que
levou a troca de acusações entre as
bancadas.
Os deputados da Renamo, José
Manteigas e António Muchanga
acolheram a proposta do decre-
to presidencial, mas criticaram
o avanço para a votação sem as
devidas rectificações, alegando a
existência de fortes riscos de as
alterações não corresponderem às
recomendações pelo que era im-
perioso que tudo fosse feito na-
quela noite.
Do lado da Frelimo, António Ni-
quice e Caifadine Manasse apela-
ram para ponderação por se tratar
de uma matéria urgente e de inte-
resse nacional.
Às 20 horas e face à situação
prevalecente, a presidente da As-
sembleia da República, Esperan-
ça Bias, solicitou um intervalo de
uma hora para a introdução das
emendas.
A sessão retomou cerca de hora
e meia depois com as partes já
concertadas. A limitação de circu-
lação interna de pessoas em qual-
quer parte do território nacional
só sucede caso se verifique um
aumento exponencial de casos de
contaminação. Imposição ao con-
finamento de pessoas em domicí-
lio ou estabelecimento adequados,
com objectivos preventivos, só
ocorre em casos de incumprimen-
to das medidas impostas na alínea
b) do número 1 do artigo 3.
Os 208 deputados presentes na
sala votaram a favor, por unanimi-
dade e por aclamação, mediante
um longo processo de votação no-
minal do decreto presidencial, tal
como emana o regimento da AR.
Basicamente, o decreto presi-
dencial suspende a emissão de
vistos de entrada e cancela os já
emitidos; reforça as medidas de
quarentena domiciliar obrigató-
ria de 14 dias para todas pessoas
que tenham viajado recentemente
para fora do país e para todos que
mantiveram contacto directo com
suspeitos ou casos confirmados da
Covid-19.
Limita a entrada e saída de pes-
soas do território moçambicano,
através do encerramento parcial
das suas fronteiras, exceptuando
assuntos de interesses do Estado,
apoio humanitário, saúde e trans-
porte de carga.
O dispositivo manda encerrar os
estabelecimentos comerciais, de
diversão e equiparados ou reduzir
a sua actividade e laboração, entre
outros.
O sistema judicial entra num re-
gime de férias judicial durante os
30 de estado de emergência, sem
prejuízo dos actos urgentes.
Não instalar autocracia O relator da bancada parlamentar
da Renamo, Venâncio Mondla-
ne, apelou ao executivo para não
confundir o estado de emergência
com a suspensão da Constituição
da República em que os direitos
fundamentais são sacrificados, tal
como é o caso da instalação de um
estado autocrático.
Para Mondlane, não se pode
aproveitar este momento para a
perseguição de opositores políti-
cos, reactivação dos esquadrões da
morte e castração das conquistas
em matéria de direitos humanos.
“Não se deve neste momento
confundir o estado de emergência
com suspensão da CRM em que
os direitos fundamentais podem
ser suspensos. Não se deve usar
este momento para alimentar ve-
lhos e inconfessáveis apetites de
instalar um estado autocrático
como a perseguição política, reac-
tivação dos esquadrões de morte,
castração das conquistas em ma-
téria de direitos humanos”.
A bancada da Renamo concor-
dou com aprovação do decreto do
estado de emergência que limita
algumas liberdades, mas apelou
Por Argunaldo Nhampossa
para a necessidade de salvaguarda
de outros direitos fundamentais,
que não foram contemplados no
decreto como é o caso da liberda-
de de imprensa e de expressão e
do sigilo.
É necessário ainda, na óptica de
Mondlane, deixar bem claro em
que âmbito as FDS devem inter-
vir sob pena de cometerem arbi-
trariedades.
Não desviar recursos públicos A bancada parlamentar do Movi-
mento Democrático de Moçam-
bique (MDM) também concor-
dou com a decretação da medida
para conter os efeitos negativos da
covid-19.
Para o porta-voz da bancada,
Fernando Bismarque, o estado
Venâncio Mandlane
TEMA DA SEMANA 5Savana 03-04-2020 PUBLICIDADE
TEMA DA SEMANA6 Savana 03-04-2020PUBLICIDADETEMA DA SEMANA
de emergência não deve ser
usado para outros fins, como
o desvio de recursos públicos à
margem da AR, para alimentar
esforços de guerra em Cabo Del-
gado.
Sublinhou também a necessidade
de não se usar este período de 30
dias, como pretexto para a per-
seguição de opositores políticos,
jornalistas, activistas da sociedade
civil e muito menos para que as
FDS cometam atrocidades.
As medidas a serem adoptadas no
âmbito do estado de emergência,
segundo Bismarque, devem ser
proporcionais à situação em con-
Sérgio Pantie, defendeu que os
poderes ampliados do Estado,
com declaração do estado de emer-
empresas, a CTA apontou os sec-
tores de aviação civil, agricultura e
turismo como sendo aqueles que
serão mais afectados pela crise da
pandemia.
Contrariamente à Lei do Traba-
lho que determina a redução dos
ordenados em 75%, 50% e 25%
nos três meses posteriores à de-
claração do estado de emergência,
a CTA propõe que se deixe de pa-
gar os salários na totalidade, mas
propõe o pagamento de subsídios.
Sugeriu a mobilização de fundos
no valor de 49 milhões junto dos
parceiros para cobrir a volume de
massa salarial durante seis meses e
assegurar a sobrevivência das em-
presas e manutenção dos postos
de trabalhos e das condições de
vida dos trabalhadores.
CTA deve ter cuidadoPorém, o chanceler da Univer-
sidade Politécnica, Lourenço do
Rosário, saudou a decisão presi-
dencial, apontando que Moçam-
bique não é uma ilha e tinha que
estar alinhada às medidas toma-
das internacionalmente.
Disse que o PR foi prudente em
não tomar medidas mais radicais,
tendo em conta que a situação
macroeconómica do país em que
o informal vive do seu dia-a-dia e
as PME´s da boca do caixa.
Falando esta quarta-feira ao SA-
VANA, antes da divulgação do
regulamento do decreto presiden-
cial, o Rosário disse que o blo-
queio das actividades leva ao de-
semprego de milhares de pessoas
por falta de capacidade de gerar
receitas. Mas anotou que não é
legítimo aproveitar-se da situação
para despedir pessoas.
“Há que manter os postos de tra-
balho e aguardar o pronunciamen-
to do Governo em torno da forma
que vai encontrar para apoiar as
empresas, que pode ser através de
medidas fiscais ou INSS, mesmo
sabendo que os seus recursos fo-
ram delapidados”, disse.
O antigo reitor da Politécnica
apelou à CTA para ter mais cui-
dado nas suas posições, procurar
apresentar propostas acessíveis
que concorram para a promoção
de uma paz social que é muito im-
portante pois a suspensão de con-
tratos e pagamento salarial pode
gerar convulsões sociais.
Disse que não restam dúvidas
que Moçambique vai entrar em
dificuldades, devido ao desempre-
go, fome e um tecido empresarial
destruído, o que requer pondera-
ção na emissão de pareceres.
Manifestou satisfação com o facto
de numa das raras vezes um Go-
verno dar a devida importância à
academia em detrimento da polí-
tica, em alusão à comissão técni-
co-científico de aconselhamento
ao PR em matérias de covid-19,
para dizer que é preciso que se tire
proveito da academia, incluindo a
CTA, para fazer um trabalho con-
sistente de modo a trazer possíveis
soluções para os empregadores.
Devolver impostos às empresasO presidente do grupo Sir Mo-
tors, Amad Camal, entende que
o país é privilegiado, porque já
acompanhou a situação de mui-
tos e deve aproveitar enquanto é
possível para se proteger. Referiu
que a decisão foi adequada por ter
tomado em consideração a reali-
dade formal e informal, urbana e
suburbana.
Segundo Amad Camal, não há
dois casos iguais, pelo que enten-
de que a proposta de suspensão de
salários não pode ser generalizada
como uma medida para todos.
O decreto do estado de emergên-
cia não meteu todos no mesmo
saco, mas procurou trazer propos-
tas para diferentes situações.
Reconhece que há empresas em
dificuldades, mas que também há
outras que podem criar oportuni-
dades de sobrevivência com pres-
tação de serviços necessários neste
tipo de situações.
Como forma de apoiar o sec-
tor empresarial em dificuldades,
propôs a devolução pelo Estado
de pelo menos 10% do valor de
Continuação da pág. 4
impostos pagos pelas empresas,
naquilo que chamou de pro-rata.
Explicou que esta situação vai
servir de lição para as empresas de
modo que possam passar a pagar
os impostos.
“É do interesse do Governo man-
ter as empresas saudáveis, porque
geram contribuições fiscais e pos-
tos de trabalho para os cidadãos.
Se houver muito desemprego, ha-
verá problemas sociais, as doenças
aumentam e quem vai pagar a
factura é o Estado. Se o Governo
mantiver as empresas saudáveis
a crise vai passar e com o apoio
terá minimizado os problemas”,
concluiu.
A consultora Oxford Economics considerou que a perspectiva de evolução da economia
de Moçambique foi ensombra-da significativamente devido à redução das exportações de matérias-primas, à violência no norte do país e à pandemia da covid-19.
“A perspectiva de evolução da
economia a médio prazo dete-
riorou-se rapidamente no último
mês, com a queda dos preços das
suas principais exportações, o
carvão, o alumínio e o gás natu-
ral, devido ao pânico global in-
duzida pelo novo coronavírus”,
escrevem os analistas numa nota
sobre Moçambique.
Na análise, enviada aos investido-
res e a que a Lusa teve acesso, os
analistas da Oxford Economics
escrevem que “a forte queda nos
preços do gás natural, em parti-
cular, significa que o desenvolvi-
mento dos principais projectos
de gás natural liquefeito está em
risco”.
A este propósito, os analistas ci-
tam uma notícia da Reuters, se-
gundo a qual a ExxonMobil já
teria decidido adiar a Decisão Fi-
nal de Investimento para o pró-
ximo ano, mas sobre a qual não
há confirmação oficial, apesar de
ser genericamente aceite entre os
observadores que o adiamento
vai mesmo acontecer, principal-
mente devido à incerteza trazida
pela pandemia da covid-19.
“O desenvolvimento destes gran-
des projectos de gás natural é a
base da nossa análise positiva
sobre o crescimento do PIB, mas
a queda no preço das matérias-
-primas causada pela pandemia
e a escalada de conflito em Cabo
Delgado e Sofala vão levar-nos a
baixar significativamente a pre-
visão de evolução da economia
a médio prazo”, alerta a Oxford
Economics.
“Para tornar as coisas ainda pio-
res, os dois ataques nestas pro-
víncias ameaçam deixar ainda
mais vulneráveis as comunidades
já de si arrasadas pelos ciclones
do ano passado, e perturbar a
logística das exportações”, apon-
tam os analistas.
Desde o princípio do ano, o
metical desvalorizou-se em 6%
devido à queda do preço das ma-
térias-primas, prejudicando Mo-
çambique, que é um importador
da maioria dos bens de consumo
“e, consequentemente, uma moe-
da mais fraca é fortemente asso-
ciada a preços mais altos para os
consumidores”, que deverão ter
de enfrentar perturbações na ca-
deia de distribuição e escassez de
produtos”.
No continente africano, já mor-
reram 152 pessoas e registaram-
-se 4.871 casos da covid-19 em
46 países.
O novo coronavírus, responsável
pela pandemia da covid-19, já
infectou mais de 750 mil pes-
soas em todo o mundo, das quais
morreram mais de 36 mil.
Depois de surgir na China, em
Dezembro, o surto espalhou-se
por todo o mundo, o que levou a
Organização Mundial da Saúde
(OMS) a declarar uma situação
de pandemia.
Economia moçambicana ensombrada
gência, devem ser utilizados com
ponderação e proporcionalidade,
razão pela qual o decreto clarifica
que algumas liberdades e garantias
dos cidadãos serão restringidas.
Em nenhum caso, prosseguiu,
afectará a limitação ou suspensão
do direito à vida, integridade das
pessoas, capacidade civil e cidada-
nia, não retroactividade da lei pe-
nal, direito de defesa dos arguidos
e a liberdade de religião.
Suspensão de salários No entanto, a Confederação das
Associações Económicas de Mo-
çambique (CTA) defendeu como
medida de apoio as empresas
afectadas pela covid-19, suspen-
são dos contratos de trabalho
por um período de seis meses e a
substituição dos salários por sub-
sídios.
Fazendo menção a um estudo,
obtido através de entrevista a 118
BM corta comissõesPor sua vez, o Banco de Moçam-bique (BdM) reviu em alta os ju-ros no mercado, numa altura em que as empresas pedem o rela-xamento de modo a fazer face a situação financeira em que se en-contram. Assim, o indexante único ficou nos 12,80%; o prémio de custo de dinheiro passa dos anteriores 5,2%, para 5,60% enquanto que a prime rate do sistema financei-ro moçambicano foi fixada em 18,40% contra os anteriores 18%. O Metical está a derrapar face às principais moedas de transacções, o dólar, que antes da eclosão da pandemia rondava os 60 meticais, agora está nos 67 meticais. Em movimento contrário está o rand da vizinha África do Sul, que nesta quarta-feira rondava nos 3,76 por cada unidade de metical, contra os anteriores 4,11 meticais a 16 de Março. Ainda esta semana o BdM pro-cedeu ao corte das comissões e encargos nas transações no sis-tema financeiro moçambicano, como forma de aliviar o impacto provocado pela pandemia. Numa medida que vai entrar em vigor a 10 de Abril e com duração de três meses, o BdM determinou que as instituições de moeda electró-nica e-Mola, M-pesa e m-Kesh passam a não cobrar encargos e comissões nas transferências de clientes para cliente até ao limite diário de mil meticais. Ajustou o limite diário de tran-sacções na carteira móvel de 25 mil meticais para 50 mil meticais, sendo que o limite diário para transacções na carteira móvel pas-sou dos 125 mil meticais para 250 mil meticais. O tecto máximo de transacções para clientes de nível I (tier I) na carteira móvel sobe para 400 me-
ticais.
creto, permitindo que a vida dos
cidadãos não pare por completo.
Ponderação e proporcionalidadeA bancada da Frelimo considerou
oportuno o decreto, porque em
causa está a vida de todos.
O chefe da bancada da Frelimo,
Fernando Bismarque
Sérgio Pantie
Lourenço de Rosário
Amad Camal
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cy
PUBLICIDADE8 Savana 03-04-2020SOCIEDADE
ma Pinto declarou que “está em
curso um trabalho que vai cul-
minar com o esclarecimento de-
finitivo dos contornos do caso”.
Uma “carta-denúncia” escrita
por professores da Escola Se-
cundária 29 de Setembro e di-
vulgada no ano passado acusa a
direcção do estabelecimento de
envolvimento em esquemas de
corrupção e emissão de certifi-
cados falso.
Na sequência do caso, o Ga-
binete Provincial de Combate
à Corrupção em Inhambane
iniciou um processo que ainda
se encontra na fase de instrução
preparatória.
Um dos certificados falsos terá
beneficiado Adérita Jacinto Se-
vene, funcionária do Estado na
província de Gaza.
No âmbito do processo aberto
pelas autoridades judiciais, mui-
tos docentes e funcionários não
docentes já foram ouvidos no
Gabinete Provincial de Com-
bate à Corrupção. “O processo
está a seguir os seus trâmites le-
gais”, disse uma fonte oficial do
gabinete.
Eleição de Sitoe na Frelimo anuladaDias antes da sua destituição,
Pedro Sitoe havia sido eleito para o cargo de secretário de mobilização do partido Frelimo na Maxixe, no dia 09 deste mês.A eleição foi imediatamente contestada por figuras influen-tes no seio do partido no poder. Na sequência do avolumar das objecções, a eleição acabou sen-do anulada. “Prevaleceu o bom senso. Constatou-se que os camara-das haviam depositado voto de confiança numa pessoa errada. Felizmente, o erro foi, pronta-mente, corrigido”, assegurou ao SAVANA uma fonte do Comi-té Provincial da Frelimo.Ao que apuramos, quatro dias depois, isto é, no dia 14 de Mar-ço, houve outra eleição. A Pedro Sitoe nem sequer foi dada a oportunidade de concorrer. No
novo escrutínio, foi eleito Ricar-
do Almeu Chau, com 60 votos
contra 12 votos de Augusto Jú-
lio Amaral.
A direcção da Escola Se-cundária 29 de Setem-bro da Maxixe, pro-víncia de Inhambane,
foi exonerada em bloco, alguns
meses após um escândalo de
corrupção relacionado com a
venda de certificados falsos.
Em declarações ao SAVANA,
a directora provincial da Edu-
cação e Desenvolvimento Hu-
mano de Inhambane, Palmira
Palma Pinto, confirmou a ces-
são de funções dos membros da
direcção da Escola Secundária
29 de Setembro, mas conside-
rou a decisão parte de um “pro-
cesso normal”.
Deixaram os seus cargos o di-
rector da escola, Pedro Sitoe, e
os directores adjuntos Glória
Elisângela Januário e Felisberto
Jonasse.
Contudo, o SAVANA soube
de fontes sólidas que a emissão
de certificados de habilitações
literárias falsos, corrupção e ne-
potismo terão motivado à desti-
tuição dos dirigentes da Escola
Secundária 29 de Setembro, a
mais antiga e maior da provín-
cia de Inhambane.
Sobre o escândalo, Palmira Pal-
Direcção da “29 de Setembro” cai em blocoMaxixe
Por Eugênio Arão
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Mês da Mulher8 de Março a 7 de Abril
[Opinião]
A integração do género no ciclo de projetos, desde a sua formulação, implementação até a monitoria & avaliação – constitui um passo fundamental para melhorar a participação equitativa, a agência & a partilha dos benefícios entre as mulheres & os homens em intervenções de desenvolvimento. A incorporação da perspetiva de género é também uma ferramenta fundamental para tornar as preocupações e experiências das mulheres & dos homens uma componente integrante da cadeia de valor da programação dos esforços de desenvolvimento, desde a formulação, implementação, monitoria & avaliação das políticas, programas e projetos. O produto principal & final das iniciativas da incorporação do género cingem-se nos diferentes comportamentos, aspirações & necessidades das mulheres & homens, raparigas & rapazes quando estes são igualmente & equitativamente considerados, valorizados & satisfeitos de uma maneira abrangente & holística nas diferentes esferas política, económica, cultural & social.
O princípio da igualdade de género é grandemente enaltecido na Carta Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Contudo, a real e efectiva incorporação da perspectiva de género nas intervenções de desenvolvimento não tem sido abordada de maneira adequada e eficaz. Em outras palavras, a sociedade tem vindo a utilizar uma narrativa obsoleta para o assunto da injustiça de género, ignorando a forma desproporcional que esta afecta a vida das mulheres & raparigas. Este cenário criou uma lacuna ainda maior nas desigualdades de género, principalmente em África, onde as fortes noções & normas culturais colocam as mulheres & raparigas em posições sociais de marginalização permanente. Em outras palavras, as mulheres & raparigas são continuamente tratadas como “cidadãs de segunda classe” em vários sectores da sociedade, e Moçambique não constitui excepção. Ora vejamos, o nível educacional das mulheres & raparigas é quase metade do homólogo masculino; situação que reduz os resultados positivos de saúde, limita as possibilidades de uma carreira progressiva & o avanço económico pessoal & colectivo.
A violência contra mulheres & raparigas, incluindo as uniões forçadas, erroneamente tratadas por casamentos precoces/prematuros – uma forma de legitimar o processo, através do exercício de uma violência simbólica & sistemática. Estes são problemas tão generalizados que acabam se tornando “normais” e com impactos directos nas áreas social, económica e de saúde. Os resultados das
avaliações do ODS5 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 5) para o período entre 2009 & 2015 indicam que, dentre os 87 países onde os dados desagregados por género, foram observados, 19% das mulheres entre 15 & 49 anos de idade, vivenciaram violência física/sexual por um parceiro íntimo nos últimos 12 meses anteriores à pesquisa.
As mulheres estão também sub-representadas em cargos & posições de gestão/liderança. Segundo os dados de 2009 a 2015, na maioria dos 67 países observados, menos de um terço dos cargos de gestão sénior foram em média, ocupados por mulheres. Globalmente, a participação das mulheres nos parlamentos nacionais com poder legislativo atingiu apenas 23,4% em 2017, apenas 10 pontos percentuais acima do que se verificou no ano 2000. Apesar desse progresso recente que mostra um certo nível de compromisso político para cumprir com o sistema de cotas de género que elevam a participação política das mulheres de forma numérica, ainda é preciso fazer-se muito mais para que a voz das mulheres seja ouvida e que elas possam efectivamente contribuir eloquentemente no debate político. Dizendo em inglês “it’s a big deal” (constitui um problema) ter e ver mulheres a liderar posições gestão ou a liderar agendas políticas de forma igualitária com os homens. Os Artigos 35 & 36 da Constituição Moçambicana enaltecem que todo o cidadão deve usufruir de Direitos de Equidade de Género, Igualdade de Oportunidades e a viver em uma Sociedade Livre de Discriminação. Este também é um dos principais tópicos da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU. Apesar de Moçambique ter ratificado a Declaração da ONU, a plena implementação desses direitos iguais permanece muito marginal devido aos estereótipos sociais que colocam as mulheres em posições desfavorecidas no que diz respeito a oportunidades de desenvolvimento. Dados estatísticos recentes revelam uma fraca representação feminina em muitas esferas da sociedade, especialmente nas principais posições de tomada de decisão. Infelizmente, as mulheres & raparigas ainda são o género mais vulnerável quando se trata de oportunidades ao trabalho & emprego formal, incluindo aos benefícios salariais iguais & justos, ao assédio sexual no emprego, a exclusão social, ao HIV & SIDA e outras doenças, incluindo aquelas associadas as enfermidades materno-infantil. É como se as mulheres fossem vítimas da tripla jornada - como indivíduos, como mães/esposas e profissionais (sem mencionar as mulheres de baixa renda inseridas no
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Celebrar os avanços das mulheres com um olhar crítico aos problemas estruturantes - o caso de Moçambique
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emprego informal, que são muitas vezes ignoradas pelas intervenções de desenvolvimento.
As mulheres & raparigas estão igualmente sub-representadas nos campos da Ciência, Tecnologia, Engenharia & Matemática (STEM), tanto no sector público quanto no privado, em países de baixa e média renda e Moçambique não constitui excepção - esse é o efeito de "vazamento" – the leaky pipeline.
Resultados semelhantes foram também publicados em outras fontes, indicando um número insuficiente de projetos utilizando abordagens adequadas que incidem nas causas de raiz destes problemas sociais, que no nosso entender começam com a ausência de um engajamento positivo dos homens & rapazes em toda a narrativa da igualdade de género. Existe um reconhecimento global, regional & local que os homens são os “guardiões” da actual ordem de género. No entanto, eles não têm sido adequadamente abordados & engajados numa perspectiva capacitadora, que os vê & os considera como elemento integrante da solução. Esta ausência do homem compromete a sustentabilidade dos resultados dos projectos de desenvolvimento e do alcance de uma real equidade para o problema do género. Na ausência do engajamento adequado dos homens, continuamos a ampliar a brecha da injustiça de género, bem como o ciclo vicioso da opressão, exclusão e abuso das mulheres & raparigas - estas são as violências simbólicas que a sociedade consistentemente refuta em resolver através de diferentes intervenções com vista a um desenvolvimento inclusivo. Por outro lado, esta é precisamente uma das questões que o Instituto Fanelo Ya Mina está tentando erradicar, abordando uma das causas de raiz destas injustiças e iniquidades estruturantes através do engajamento dos homens & rapazes & da promoção das
masculinidades positivas. No entanto, ainda é preciso muito fazer-se para integrar efectivamente o género em Moçambique e em muitos outros países em desenvolvimento. Para o caso Moçambicano, a integração do género nas principais intervenções de desenvolvimento torna-se imperioso para ajudar a reduzir as desigualdades e garantir que as vozes de mulheres e homens sejam ouvidas em igual medida e que os benefícios do desenvolvimento sejam igualmente compartilhados. Assim, sectores como os da Saúde, Educação, Agricultura, Meio Ambiente, Energia, Água, Biodiversidade, Ciência, Tecnologia, Engenharia & Matemática (STEM) seriam um passo fundamental para ajudar a diminuir estas desigualdades de género estruturantes.
Para ser eficaz a integração da perspetiva de género deve ocorrer em todos os níveis – na Política, nos Programas & Projetos. Para efeito, torna-se imperioso desenvolver as capacidades das instituições Moçambicanas (públicas, privadas & do terceiro sector) para formular, executar, monitorar & avaliar os planos de acção de género assim como monitorar os indicadores de impacto por forma a fazer-se uma integração efectiva do género nas principais áreas de desenvolvimento. É igualmente importante garantir que as pessoas no terreno, isto é, os gestores, formuladores de políticas, instituições académicas, organizações da sociedade civil e os indivíduos estejam conscientes que a necessidade de reduzir as iniquidades é tão importante quanto simplesmente garantir que o género seja integrado nos níveis político & programático; isso exige adoptar uma nova narrativa de género centrada na consciência crítica, na inclusão social & na diversidade humana.
Muito Obrigado.
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Direcção Executiva (Celma E. Menezes)
Mês da Mulher8 de Março a 7 de Abril
[Opinião]
12 Savana 03-04-2020PUBLICIDADE
Women’s Month March 8 to April 7
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Direcção Executiva (Celma E. Menezes)
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Mainstreaming gender within project cycles – design, implementation & monitoring and evaluation is a key step towards improving equitable participation, agency & benefits sharing between women & men in developmental interventions. Gender mainstreaming is also a fundamental tool for making the concerns & experiences of women & men an integral component of the value chain of developmental programming from design, implementation, monitoring & evaluation of policies, programs & projects. The key ultimate result of gender mainstreaming initiatives is that different behaviors, aspirations & needs of women & men, girls & boys are equally considered, valued and satisfied in an all-encompassing & inclusive fashion across the political, economic, cultural & societal spheres.
Despite the fact that, the principle of gender equality is highly emphasized within the United Nations Universal Human Rights Charter, gender mainstreaming in development interventions has not been properly & effectively addressed. This has led to an enormous gender inequality gap, mostly in Africa where strong cultural norms place women & girls in marginalized positions; to put it other way, women & girls are very offer treated as “second class citizens” across various sectors of society. As the result, women & girls education is almost half of their male counterpart. This reduces positive health outcomes, limits their career prospects along with their economic advancement. Violence against women & girls, including early marriages combined with early pregnancies, is a widespread problem with direct impact upon the social, economic & health arenas. Data from the SDG5 (Sustainable
Developmental Goal # 5) evaluations for the period between 2009 - 2015 indicates that, among the 87 countries where gender disaggregated data was collected, 19 per cent of women between 15 & 49 years of age, had experienced physical/or sexual violence by an intimate partner in 12 months prior the survey.
Women are also underrepresented in managerial positions. In the majority of the 67 countries with data from 2009 to 2015, less than a third of senior & middle management positions were held by women. Globally, women’s participation in single or lower houses of national parliaments reached only 23.4 per cent in 2017, just 10 percentage points higher than in 2000. Despite this recent progress showing a certain level of political commitment to fulfil gender quotas that boost women political participation & empowerment, more still needs to be done so that the voice of women is heard, & they can effectively contribute to the debate. It looks like it’s a big deal for women to lead managerial positions or to lead political agendas in equal proportions with men.
Articles 35 & 36 of the Mozambican Constitution, highlight that every citizen is entitled to Gender Equity Rights, Equal Opportunities & to live in a Discriminatory Free Society. This also happens to be one of the main topics of the UN Universal Human Rights Declaration. Even though Mozambique had ratified the UN Declaration, the full implementation of those equal rights, remain very marginal due to societal stereotypes that place women at
República de MoçambiqueMinistério da Saúde
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Celebrating women’s milestones with a critical eye at the plight of women & girls – the case of Mozambique
13Savana 03-04-2020 PUBLICIDADE
Women’s Month March 8 to April 7
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disadvantaged positions as far as advancement opportunities are concerned. Recent statistical data reveals weak female representation in many spheres of society especially in key decision making positions. Unfortunately, women & girls are still the most vulnerable gender when it comes to employment opportunities including equal pay benefits, sexual harassment, social exclusion, HIV & AIDS, and other diseases including those related to new born, maternal & child sicknesses. It’s like women are the victims of the triple journey – as individuals, as mothers/wives & professionals (not to mention the low-income women in the informal employment which are virtually overlooked by developmental interventions).
Women & girls are also underrepresented in Science, Technology, Engineering & Mathematics (STEM) fields both in the public & the private sectors, in low & middle income countries in which Mozambique is not an exception – this is the “leaky pipeline” effect.
Similar findings were also published indicating an insufficient number of projects utilizing adequate approaches that tackle the root cause of these societal problems which begins with the positive & meaningful engagement of men & boys in the gender equality narrative. There is a worldwide acknowledgment that men are the gatekeepers of the current gender order. However, they haven’t been properly approached & engaged from an enabling perspective by seeing them as part of the solution thus compromising the sustainability of projected outcomes of the problem. With the lack of proper men engagement, we continue to widen the gender injustice gap as well as the vicious cycle of women’s oppression, exclusion & abuse – these are the symbolic violence & systemic barriers that society hardly fails to
address through their interventions.
And these are precisely some of the issues that the Fanelo Ya Mina Institute is attempting to eradicate by addressing the root cause of these structural injustices & inequities through the positive & meaningful engagement of men & boys.
However, far more still needs to be done to effectively mainstream gender in Mozambique & many developing countries. For the Mozambican case, mainstreaming gender into key developmental interventions is paramount to help curb inequalities and assure that both women & men's voices are equality heard, & the benefits of development are equally shared. By doing so, sectors such as – Health, Education, Agriculture, Environment, Energy, Water, Biodiversity, Conservation & Science, Technology, Engineering & Mathematics (STEM) would be a fundamental step towards help diminishing the gender inequity gap.
However, to be effective gender mainstreaming should happen at all levels - Policy, Programs & Project levels. For that, building Mozambican institutions (Public, Private & the third sectors) manager’s capacity to assess, design, implement gender action plans & monitor their impact indicators is paramount for effectively mainstream gender across key developmental areas. Making sure that people on the ground, i.e managers, policy makers, academics institutions, the civil society organizations & individuals are aware of the need to curb inequalities is as important as simply guaranteeing that gender is mainstreamed into the policy & programmatic levels – this requires embracing a new gender awareness critique, social inclusion narrative & diversity perspective.
Thanking you all sincerely.
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Direcção Executiva (Celma E. Menezes)
O risco de Moçambique ser epicentro do jihadismo
14 Savana 03-04-2020Savana 03-04-2020 15NO CENTRO DO FURACÃO
O ataque e ocupação a duas
vilas distritais, na semana
passada, foi a maior de-
monstração de força de
sempre por parte do grupo armado
que, desde Outubro de 2017, mata e
destrói no norte de Cabo Delgado.
A subida de tom nos ataques sugere
avanços e mudanças de estratégias na
actuação do grupo. Na sequência, o
SAVANA foi ouvir três estudiosos
que, aqui, dissecam sobre o significa-
do do escalar da violência no norte de
Moçambique.
Paolo Israel é professor associado e
director do Departamento de História
na Universidade do Cabo Ocidental,
África do Sul. O estudioso segue, aten-
tamente, a situação de Cabo Delgado,
uma província que conhece ao detalhe.
Quando chamado a comentar sobre
as duas grandes incursões armadas da
semana passada, o professor começou
por anotar que, na verdade, desde Ja-
neiro de 2020, há um escalar de ataques
pelos “insurgentes”, o grupo conhecido
como Ansar Al-Sunna, e localmente
chamado de “Mashababus”.
“Em Janeiro, os ataques concentraram-
-se na aldeia de Mbau, antiga sede da
Missão de Nambudi, que se encontra-
va evacuada e ocupada por soldados.
Os atacantes conseguiram derrotar
um grupo de mais de 100 soldados das
FADM, matando 22 destes; os mortos
e feridos foram levados para Mueda.
Todas as aldeias ao longo da Estrada
Nacional, que vai de Myangalewa para
o cruzamento de Awasi, foram ataca-
das; machibombos foram queimados
e os seus ocupantes degolados. Depois
foi a vez do Instituto Agrário de Bili-
biza e da Sede do Distrito de Quissan-
ga”, conta o historiador que, de 2002
Ansar Al-Sunna se ter afiliado ao Es-
tado Islâmico (Daesh). Lembra que,
em meados de 2019, um sector das
Allied Democratic Forces (ADF), grupo
rebelde islamita originário do Uganda,
que actua no Congo Oriental, aliou-
-se ao Daesh e transformou-se numa
organização independente, chamada
inicialmente Madinat al Tawhid wal Muwahedeen e depois État Islamique Province Afrique Centrale (EIPAC), da
mesma forma que o Boko Haram se
dividiu em duas facções, uma das quais
se aliando ao Daesh.
O historiador cita informações, in-
cluindo provas fotográficas, dando
conta de que o Al-Sunna jurou fide-
lidade ao Daesh e, especificamente, ao
EIPAC, em Julho 2019.
Sucede que, em Dezembro de 2019, o
ADF e o EIPAC sofreram uma der-
rota às mãos das Forças Armadas da
República Democrática do Congo
(RDC), que tomaram uma base cha-
mada “Medina” na província do Kivu
Setentrional.
“A hipótese é que elementos do ADF/
EIPAC tenham fugido para Moçam-
bique, alimentando a guerrilha em
Cabo Delgado. De facto, desde os
meados de 2019, muitos dos ataques
do Al-Sunna foram reivindicados pelo
Daesh, e o grupo utiliza a bandeira
desta organização nas suas operações.
A ligação foi reconhecida num docu-
mento do Conselho de Segurança das
Nações Unidas, que afirma que as ope-
rações em Cabo Delgado são dirigidas
desde o Congo, e que o Daesh mistura
imagens do Congo, Moçambique e
Somália na sua propaganda. Este últi-
mo facto é confirmado pela circulação,
em Cabo Delgado, de fotografias pro-
venientes do Congo Oriental. Outra
coincidência é de o Al-Sunna ter es-
tabelecido uma «zona libertada», tam-
bém chamada Medina, que se estende
na zona costeira do distrito de Maco-
mia, ao redor da aldeia de Pangane e
mais para norte”, refere o historiador.
Para o académico, a consequência da
entrada do Daesh em Cabo Delgado
não pode ser subestimada. Destaca
que o grupo tem conseguido ataques
de grande envergadura, que indiciam
melhorias em equipamento, arma-
mento, treinamento, estratégia militar
e propaganda.
“O risco concreto é que Moçambi-
que se torne num dos epicentros de
actuação do jihadismo internacional,
tal como a Nigéria ou o Lago Chade”,
alertou, justificando que Cabo Delga-
do seria o centro deste interesse por-
que, em geral, o terrorismo islâmico
procura intervir em sítios que apresen-
tam duas características: investimentos
do capital internacional, que garante
visibilidade; e uma população muçul-
mana descontente e marginalizada.
O que, para o professor, leva ao segun-
do factor desta guerra: o factor local.
“Nos ataques de Mocímboa, os ho-
mens do Al-Sunna foram acolhidos
por partes da população como liberta-
dores; distribuíram comida e dinheiro
dos ATMs e foram aplaudidos”, des-
taca.
“Será este apenas o reflexo do medo de
uma população acostumada a aplaudir
quem tem o poder de matar? Ou será
um indício de suporte real?”, questio-
na.
Mas depois refere que a marginaliza-
ção económica e política das popula-
ções Mwani; as fricções étnicas entre
Makonde, Makua e Mwani; a repres-
são exercitada nas minas de rubis de
Namanhumbir contra os garimpeiros,
que até recorda a dos campos de ree-
ducação de outrora; a violência infligi-
da às populações civis pelo exército na
tentativa, aliás, fracassada, de estancar
a guerra; a percepção que os benefícios
do gás vão ser aproveitados por pou-
cos, todos estes factores terão levado
muitos para os braços do Al-Sunna.
Para ele, pouco importa o nome, se o
grupo deve se chamar de “insurgente”
ou de “terrorista”.
“A mesma pergunta [se insurgentes
ou terroristas] se fazia nos tempos da
guerra civil protagonizada pela Rena-
mo. O importante é entender que os
dois tipos de factores, o interno e o ex-
terno, coexistem. Por um lado, estamos
face a um grupo que já tem ligações
com as redes internacionais do terro-
rismo islâmico. Por outro, o grupo terá
suporte de sectores locais da população
muçulmana, desiludidos com a política
da Frelimo e alienados pela violência
exercitada pelo Estado”, refere o his-
toriador, para quem qualquer interven-
ção que não contemple estes dois fac-
tores, o militar e o civil, está destinada
ao fracasso.
Guerra contra o Estado – João Pereira Para o politólogo João Pereira, co-au-
tor de um dos primeiros estudos sobre
os ataques de Cabo Delgado, com as
investidas da semana passada, os insur-
gentes queriam, por um lado, demons-
trar a sua capacidade militar, incluindo
ganhar espetacularização e, por outro,
demonstrar que não são mais um gru-
po pequeno, mas um grupo com capa-
cidade para confrontar o Estado.
Diz que os atacantes demonstraram
que a sua guerra não é mais contra a
população e suas palhotas apenas, mas
contra o Estado e as instituições pú-
blicas.
No entendimento de João Pereira, os
atacantes transmitiram às populações
a mensagem de que, “se vocês querem
ficar do lado do Estado, saibam que es-
tão com um poder fragilizado”.
Para ele, no ataque da semana passada,
o grupo aproveitou-se das fragilidades
de logística e do descontentamento
dentro das Forças de Defesa e Segu-
rança (FDS).
São fragilidades de logísticas agudi-
zadas pela destruição de pontes na
província, o que dificulta a mobilidade
das FDS. Mesmo assim, Pereira não
compreende como é que as forças po-
sicionadas a cerca de 100 km, a con-
trolarem infra-estruturas da Total, e as
dos distritos vizinhos não reagiram às
investidas dos atacantes.
De qualquer das formas, o professor
de ciência política entende que os
ataques da semana passada colocaram
em causa a capacidade combativa das
FDS. Mais do que isso, prosseguiu,
os ataques abriram uma nova fase no
decurso do conflito que deflagra desde
Outubro de 2017. Uma fase que exige
que o Governo comece a repensar as
suas estratégias.
O académico fez saber que está a con-
cluir um artigo sobre mudanças de tác-
ticas por grupos de insurgentes. Para
já, uma das conclusões a que chegou
é que a capacidade militar dos grupos
de insurgência começa a crescer quan-
do têm capacidade financeira que lhes
permite recrutar forças estrangeiras,
com larga experiência.
Diz ainda que tem de se estudar como
é que a Tanzânia não sofre os ataques
como os de Moçambique, mesmo ten-
do uma fronteira comum com o país.
Para Pereira, a reivindicação que é feita
sobre a bandeira islâmica e Allah per-
mite ao grupo se identificar com ou-
tros grupos que usam o mesmo discur-
so e bandeira, tais como Boko Haram,
Estado Islâmico e Al Shababe, para
daí obter apoios.
Sobre uma eventual intenção de esta-
belecer um Califado no norte de Cabo
Delgado, a fonte diz que o discurso
dos atacantes é limitado e, até aqui,
não se percebe o que pretendem, mas
anota que os outros grupos também
começaram com dificuldades para se
fazerem compreender e só mais tarde é
que conseguiram apoios e legitimidade
local até introduzirem leis de sharia.
O que João Pereira não tem dúvidas é
que o Estado está a perder controlo e
é necessário começar a repensar estra-
tégias. “Por exemplo, será que a tropa
convencional é a correcta para esta si-
tuação? Será que a situação militar é a
única saída ou há outros pacotes para
resolver como pobreza, marginalização
e conflitos ideológicos?”, questionou.
Diz que a ajuda internacional não será
a solução em si, recordando que paí-
ses como a Nigéria e Somália tiveram
apoios internacionais, mas isso não re-
solveu o problema.
“Não é uma questão de ajuda interna-
cional, mas é compreender as razões
profundas por detrás daquilo. Isso
[ajuda internacional] pode ajudar, mas
as tropas internacionais não vão resol-
ver o problema do desemprego e con-
trabando de madeira e outros recursos
naturais”, observa.
Lembrou que Cabo Delgado é uma
província onde, durante muito tempo,
o Estado esteve ausente e os recur-
sos naturais estiveram sob controlo
de redes criminosas. Citou o caso de
tanzanianos e outros estrangeiros que
estavam envolvidos no contrabando de
rubis, em Namanhumbir, no distrito
de Montepuez, que foram expatriados,
perdendo aquela que, ao longo de anos
,foi sua fonte.
“Portanto, a razão é mais profunda”,
disse, em alusão aos vários interesses
que foram colocados em causa com o
aparecimento, nos últimos anos, dos
interesses das elites que, durante muito
tempo, andaram ausentes na província,
mas que agora apareceram a “correr”
as redes que sempre viveram desses
recursos.
Estado perdeu controlo - João FeijóPara o pesquisador João Feijó, do Ob-
servatório do Meio Rural (OMR), é
tempo de se chamar as coisas com os
próprios nomes, tratando os atacantes
de terroristas e não insurgentes, uma
designação que lhe parece simpática,
até pela imprensa.
A subida de tom dos “terroristas” em Cabo Delgado:
Operação Mocímboa-Quissanga“A greve foi o ponto mais alto de saturação de um histórico que vinha se desenhando há longo tempo” – Jorge Arroz
Por Armando Nhantumbo
Atacantes deixaram um rasto de de destruição na incursão Mocímboa-Quissanga Relatos que o jornal colheu no
terreno indicam que os ata-
cantes teriam chegado a Mo-címboa da Praia pelo menos
um dia antes do ataque de domingo. Teriam acampado no bairro de Milam-ba, o mesmo onde, mais tarde, foram aplaudidos pela população local. Teriam sido dois grupos a atacar a vila da Mocímboa. Um vindo de Mbau, onde se acredita estar uma das princi-pais bases do grupo. Mbau é um Posto Administrativo do distrito de Mocím-boa da Praia, que se localiza entre os rios Muela e Messalo, este último que faz fronteira entre Macomia e Mui-dumbe. A área de influência do grupo vai des-de Mbau até Mucojo, em Macomia, incluindo parte da lagoa Nguri, que dá nome ao famoso regadio dos tempos de Samora Machel. Fontes locais contam que, actualmente, Nguri é uma zona sob domínio dos in-surgentes, depois que a população fugiu para locais como a vila de Mocímboa e Macomia, sobretudo, depois das elei-ções do ano passado, quando os ataques começaram a subir de tom. Outras aldeias abandonadas e sob con-trolo dos atacantes incluem Nachi-tengue e Nanquidunga, também per-tencentes ao distrito da Mocímboa da Praia. Terá sido neste corredor, aliás, que, em finais do ano passado, os atacantes apo-deraram-se de uma viatura da Polícia, de marca Mahindra, com a qual posta-ram para as redes sociais. Bernardino Rafael, o comandante-geral da Polícia da República de Moçambi-que (PRM), reconheceu, publicamente, que a sua corporação perdeu uma via-tura para os “malfeitores”. O SAVANA sabe também que aldeias como Lalane, no distrito de Palma, também estão abandonadas.Outra parte dos atacantes à vila da Mo-címboa teria vindo do norte do distrito,
concretamente, nas aldeias de Mitum-
bate, Maculo e Chiucula, também elas
abandonadas pela população na se-
quência dos ataques.
Para João Feijó, que também vem es-
tudando os ataques de Cabo Delgado,
as incursões da semana passada foram
uma mensagem de força, de muscula-
tura e de provocação do Estado.
“Há ali uma situação de provocação ao
Estado e se aproveitam da fragilidade
do Estado”, observa. O pesquisador
nota, igualmente, uma clara mudança
de estratégia por parte dos atacantes.
“Em vez de atacar à população, ataca-
ram ao Estado”, sublinha, acrescentan-
do que, desta vez, não houve cabeças
da população decepadas.
Para o pesquisador, se há uma vila que
é atacada e ocupada e os “terroristas”
saem porque lhes apetece sair, o Esta-
do perdeu o controlo da situação.
Mas não só. Há coincidências que,
para João Feijó, são, simplesmente, es-
tranhas, a exemplo de os dois adminis-
tradores, de Mocímboa da Praia e de
Quissanga, não terem estado com suas
famílias, na altura dos ataques.
“É uma coincidência que nos levanta
questões”, diz, questionando o papel da
inteligência.
Feijó entende que, sem ajuda interna-
cional, as autoridades moçambicanas
não irão conseguir resolver a situação.
Mas também observa que não será
a ajuda internacional, por si, que irá
resolver a situação. Defende que, se
há uma clara ingerência externa nos
ataques de Cabo Delgado, também é
preciso entender que há componentes
internas por detrás do conflito, nomea-
damente, contradições que não foram
bem geridas e que, se não forem resol-
vidas, não vale a pena trazer gente de
fora.
Apontou, como exemplos, contra-
dições etno-linguísticas, o tráfico de
a 2005, viveu em Muidumbe, quando
pesquisava sobre a dança Mapiko,
tema da tese do seu doutoramento e,
mais tarde, um livro.
Paolo Israel, com forte domínio da
história e cultura de Cabo Delgado,
diz que, para compreender o significa-
do desta intensificação das operações
militares, dois factores têm de ser to-
mados em consideração.
O primeiro é a alta probabilidade de
drogas, a pobreza e grupos económi-
cos islâmicos suspeitos de financiar os
“terroristas”, ao mesmo tempo que fi-
nanciam campanhas eleitorais.
Aliás, Feijó chama atenção a um dis-
curso populista dos “terroristas”, que se
aproveitam dessas tensões e contradi-
ções locais para obter uma base local
de apoio.
“O problema é complexo e a solução
não será só militar”, avisou.
Sobre uma eventual instituição de um
Califado no norte de Cabo Delgado,
o professor diz que o discurso parece
ser esse. Contudo, até aqui os ataques
ainda não se tornaram numa guerra de
ocupação.
“Neste momento, a estratégia deles é
de destruição, terror e incidentes que
sejam mediatizados pela imprensa”,
afirmou.
Até que, na noite de domingo, em
preparativos para o grande assalto,
os atacantes começavam a tomar
posições estratégicas pela vila da
Mocímboa, fazendo-se, transportar,
sobretudo, em motorizadas. Conta-
-se uma azáfama de motorizadas fora
do comum entre a vila e os arredores
na noite de domingo, horas antes do
ataque da madrugada.
Entre as 3h e as 4h, iniciava o grande
assalto à vila, sem grande resistência
das FDS. Tomaram a vila, destruíram
instituições públicas e privadas, cir-
culavam de motas e carros em cele-
bração durante todo o dia e só à noi-
te, cerca das 18h, é que saíram, depois
de cumprido o seu plano.
Ainda foram glorificados em Milam-
ba, um bairro tipicamente muçulma-
no, nos arredores da vila que, tradi-
cionalmente, vota a Renamo.
Em Milamba, os atacantes de ins-
piração islâmica avisaram que vol-
tariam a Mocímboa e não querem
levaram diversos produtos alimenta-
res e distribuíram alguns para a po-
pulação.
População em fuga Uma semana depois, a sede de Mo-
címboa da Praia continua uma vila
fantasma, ainda que o porta-voz do
Conselho de Ministros, Filimão Sua-
zi, um operativo do G40 transforma-
do em vice-ministro da Justiça, As-
suntos Religiosos e Constitucionais,
ache o contrário.
Até esta terça-feira, as instituições
públicas, incluindo o Governo distri-
tal, estavam fechadas. O Hospital e os
dois centros de saúde da vila também
estavam abandonados.
Parte considerável da população, in-
cluindo comerciantes, abandonou
e continua a deixar a vila para trás,
seguindo para distritos como Mue-
da, Muidumbe, Montepuez e para
Pemba, a capital provincial de Cabo
Delgado.
O mafioso sindicato dos transporta-
dores aproveitou-se da tristeza dos
deslocados, inflacionando os preços
dos transportes.
No troço Mocímboa-Mueda, por
exemplo, um trajecto de cerca de 100
quilómetros, que antes era feito a
300 meticais, chegou a se cobrar mil
meticais. Mas porque o transporte
não chegava para os deslocados de
guerra, houve quem até fez apostas,
disponibilizando-se a pagar até 2 mil
meticais. Os sem posses, esses tiveram
de fazer o trajecto a pé.
Os preços, embora com tendência
crescente desde a queda das pontes
sobre os rios Montepuez e Messalo,
que dificultou a circulação de merca-
dorias, agravaram-se com os aconte-
cimentos da semana passada.
A título de exemplo, um litro de gaso-
lina, que antes dos ataques da segun-
da-feira da semana passada custava
entre 90 a 100 Meticais, esta terça-
-feira era comprado a 250 Meticais.
Na cesta dos produtos alimentares
básicos, 25 kg de arroz subiram de
1300 meticais para 2 mil; 25 kg de fa-
rinha de milho passaram de 600 para
1500; 5litros de óleo de 450 para 850;
uma barra de sabão de 24 para 70; um
crédito de 25 é comprado a 75 me-
ticais; 1kg de cebola de 50 para 120;
1kg de feijão manteiga também de 50
para 120 e 1 kg de açúcar castanho de
60 para 100 meticais.
Ao que o SAVANA apurou, o grupo
que atacou, na madrugada de quarta-
-feira, a vila de Quissanga, não terá
sido o mesmo que atacou a vila da
Mocímboa.
O Jornal sabe também que, ainda na
sexta-feira da semana passada, a vila
de Quissanga voltou a ser atacada,
com os “insurgentes” a sensibilizarem
a população a seguir práticas religio-
sas emanadas no alcorão, tal como
apelam num vídeo gravado defronte
da residência do administrador do
distrito, no qual declaram pretender
instalar um Estado na base da ban-
deira islâmica.
“A consequência da entrada do Daesh em Cabo Delgado não pode ser subesti-
mada” – Paolo Israel
“O Estado está a perder controlo e é necessário começar a repensar estraté-
gias” – João Pereira
“Os ataques [a Mocímboa e Quissanga] foram uma mensagem de força, de
musculatura e de provocação do Estado” – João Feijó
encontrar cristãos, mas
somente muçulmanos.
É de Milamba, um
bairro que faz ligação
com o mar, onde saiu
grande parte dos jo-
vens da Mocímboa que
se juntaram ao grupo.
Durante o seu “rei-
nado” de 24 horas, os
atacantes aconselha-
vam a comunidade a
ficar em suas casas. “Fi-
quem em casa, senão
vão morrer”, diziam
eles. Aconselhavam a
comunidade a se man-
ter tranquila, sempre
lembrando que tinham
chegado a vila com an-
tecedência, pelo que,
se quisesse fazer mal à
população, já o teriam
feito muito antes da-
quela segunda-feira.
Na incursão da semana
passada, os atacantes “Insurgentes” exibem viatura da Polícia, que
capturaram no teatros das operações
16 Savana 03-04-2020SOCIEDADE
O Governo moçambicano precisa de introduzir refor-mas nas forças de defesa e segurança e construir uma
forte aliança com a Tanzânia para travar o crescimento da insurgência armada no Norte do país, defende o investigador Alex Vines, director para África do Programa da Cha-tham House, uma entidade britâni-ca de pesquisa independente.
A visão de Alex Vines está vertida
na análise “A insurgência em Cabo
Delgado piorou. Porquê”, que publi-
cou esta semana no jornal sul-africa-
no Mail&Guardian.
Assinalando que se esperam mais
revezes para as forças de defesa e
segurança moçambicanas – depois
dos contratempos que sofreram em
Mocímboa da Praia e Quissanga – o
pesquisador defende que o Governo
moçambicano precisa de introduzir
reformas nas instituições de segu-
rança e estabelecer uma forte aliança
com a vizinha Tanzânia.
“O Governo moçambicano ainda
pode conter [a progressão da insur-
gência] e vencer, se construir fortes
alianças com os seus vizinhos, espe-
cialmente a Tanzânia”, lê-se no texto.
Nessa frente, prossegue Alex Vines,
Moçambique deve igualmente esco-
lher cautelosamente as empresas de
segurança privadas e as parcerias in-
ternacionais com que pretende con-
tar face à acção de grupos armados
em Cabo Delgado.
O investigador assinala que a abor-
dagem militar no combate à insur-
gência em Cabo Delgado deve ser
combinada com melhores serviços
de informação e projectos de desen-
volvimento que ofereçam esperança
aos jovens potencialmente vulne-
ráveis ao recrutamento por grupos
armados.
Alex Vines alerta que a guerra em
Cabo Delgado poderá levar tempo
e não é realista pensar que a solução
será encontrada ainda este ano.
O combate à crise provocada pela
pandemia da covid-19 vai distrair o
Governo moçambicano da atenção
necessária à insurgência de Cabo
Delgado, criando uma oportunidade
para os grupos armados ganharem
terreno no teatro das operações.
Alex Vines refere que as fotos e ví-
deos dos mais recentes ataques na
Mocímboa da Praia e em Quissanga
mostram uma mudança de estratégia
por parte dos insurgentes.
“Parece ter havido um esforço para
evitar vítimas civis, conquistar co-
rações e mentes, através da distri-
buição de comida, medicamentos e
combustível roubado aos habitantes
leais”, sublinha.
Paralelamente, os grupos visaram
instituições do Estado e seus símbo-
los, incluindo esquadras e quartéis.
“É difícil avaliar à distância se houve
um regozijo genuíno da população
em relação a estes ataques. Enquan-
to os residentes que não fugiram
dos ataques pareciam receptivos aos
atacantes, esta atitude pode ter sido
provocada pela percepção de que o
Governo é incapaz de garantir segu-
rança”, refere a análise.
Por outro lado, a atitude dos grupos
mostra que os insurgentes, com li-
gações a grupos “jihadistas” estão a
ganhar cada vez mais confiança.
Os “jihadistas” estão a combater for-
ças de defesa e segurança que mos-
tram pouco apetite para lutar.
O estranho momento com a Tanzânia Para Alex Vines, o Governo moçam-
bicano esperava contratempos como
Mocímboa da Praia e Quissanga,
uma vez que tem consciência de que
as suas forças estão desmoralizadas e
muitos comandantes estão exaustos
ou corrompidos por uma economia
de guerra em emergência.
Os “jihadistas” estão igualmente a
tirar vantagem enquanto o Governo
delineia uma estratégia eficaz e re-
formada contra a insurgência.
Filipe Nyusi fez do combate à insur-
gência em Cabo Delgado uma das
prioridades do seu segundo manda-
to, assumindo-se como ministro da
Defesa de facto.
O investigador observa que as forças
de defesa e segurança estão a enfren-
tar uma acção armada complexa e
assimétrica, alimentada por factores
internos e externos.
Recordando que as autoridades mo-
çambicanas já contaram com o apoio
da empresa de segurança privada
russa Wagner, Alex Vines diz que a
cooperação com a Tanzânia é, po-
rém, crucial.
Maputo deve mobilizar as autori-
dades tanzanianas para uma cola-
boração mais séria, uma vez que os
“jihadistas” têm ligações com grupos
na Tanzânia e o swahili é a língua
usada pelos grupos que atacam Mo-
çambique.
“É misterioso que as relações entre
os dois estados se encontrem frias,
tendo em conta os laços históricos
bilaterais e o facto de a Tanzânia ter
albergado bases da Frelimo durante
a luta de libertação de Moçambi-
que”, assinala.
Igualmente estranho é o facto de o
Presidente tanzaniano, John Magu-
fuli, não tenha estado presente na to-
mada de posse de Filipe Nyusi para
o seu segundo mandato.
O momento que as relações entre
os dois países atravessa dá lugar a
teorias de conspiração: interessa à
Tanzânia fragilizar Moçambique,
por um lado, por outro, empurrar a
pressão jihadista no seu próprio ter-
ritório para o país vizinho.
Governo precisa restruturar exércitoAlex Vines:
Alex Vines:
17Savana 03-04-2020 PUBLICIDADE
18 Savana 03-04-2020OPINIÃO
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CartoonEDITORIAL
Uma das consequências ter-
ríveis que chegaram com o
coronavírus é a história dos
hospitais, por falta de recur-
sos, terem de escolher quem vai mor-
rer, a quem calha a fava.
Não tenhamos dúvidas que este dra-
ma também vai atingir Moçambique.
É um dilema moral terrível e que pode
até envolver questões familiares: ima-
ginemos um médico face à escolha en-
tre um ancião da sua família e um jo-
vem, que tem ainda a vida em aberto.
Outras questões se colocam: como
distribuir os ventiladores, tão escas-
sos, face aos números de contamina-
dos? Salvar um político medíocre ou
um professor, um bom arquitecto, um
físico-químico de mérito, o melhor
engraxador de sapatos da 25 de Se-
tembro? Qual será mais útil ao futuro
do país? Só o dinheiro conta? Apro-
ximam-se tempos de definição moral
para todos, igualmente para a ínfima
maioria que recorrerá aos hospitais
com recursos.
E no seio das famílias, quem privile-
giar nos cuidados? Segundo as tradi-
ções seriam os mais velhos, mas será
assim? E ser mais velho será condi-
ção suficiente, num mundo egoísta e
numa sociedade que educou os seus
membros a sobreviverem a todo o
custo, à custa de todos?
Uma crise como esta mete a céu aber-
to o que não se fez, aquilo de que não
se cuidou, as responsabilidades que se
alhearam. No capítulo da saúde e da
agricultura, por exemplo, a responsa-
bilidade pública foi sacudindo a água
do seu capote, e agora?
Outra coisa que as crises trazem: a
ordem anterior que balizava as roti-
nas será doravante neutralizada face
ao novo mundo global que se levantar
da pandemia. Há consciência disso?
As soluções antigas serão varridas, as
crises antecipam novos cenários que
questionam hábitos e costumes e fa-
zem aflorar princípios que julgávamos
Contra os panhonhasarredados. Por exemplo, nos períodos
de crise avulta uma retomada de aten-
ção para a noção de sacrifício. Não
falo apenas da material, ou da ideia de
que agora ao egoísmo deve suceder-se
a contenção e a solidariedade (tendo
em conta de que os bens essenciais
podem faltar se nos entregarmos ao
açambarcamento), mas deste novo
sacrifício de nos resguardarmos de
toda a vida social para não agravarmos
a propagação do mal e perigarmos
os mais frágeis de entre os nossos.
Nunca o cuidado com os nossos de-
pendeu tanto, simultaneamente, da
atenção que reservarmos ao cuidado
para com os outros.
Por isso, no mundo inteiro, a decisão
de alguns políticos que têm corona-
vírus de o esconderem e mentirem é
assassina e imperdoável. Irresponsa-
bilidade que começa por desrespeitar
a vida do seu círculo íntimo, posto ao
fundo da consciência saberem que não
mentem apenas para os de fora – sen-
do esse mesmo um divisor de águas
entre quem ama a vida ou pelo con-
trário é um apóstolo da morte.
Vou contar agora uma história notá-
vel de sacrifício, uma das mais belas
histórias da antiguidade, a de Alceste
que amava os outros mais do que a si
mesmo e se ofereceu para a morte, Ta-
natos, a levar no lugar do seu marido,
Admeto.
O deus Apolo, pelo seu lado, tentou
em vão persuadir Tanatos a poupar
Alceste, que se oferecera para substi-
tuir o marido no Hades (o inferno), ao
contrário dos pais deste, que apesar da
muita idade se mostraram cobardes,
preferindo ver os netos crescer sem
mãe a oferecer-se no lugar do filho. O
sacrifício de Alceste valeu-lhe ser con-
siderada “entre as mulheres a melhor
para com o seu marido” e é indubita-
velmente uma das mais soberbas len-
das da história da humanidade. Esse
gesto que a magnificou não pertenceu
a qualquer herói, não foi perpetrado
por varão viril, mas pela imensa ge-
nerosidade de uma mulher anónima e
subalternizada e cuja maior glória era
não pedir para si glória alguma.
Algo se perdeu, na história dos valores,
com a menorização da dádiva única de
Alceste e com o desinvestimento na
sua força simbólica como propulsão
moral. Um tal pendor para o sacrifício
só teria equivalente na crucificação de
Cristo, embora executado com mais
simplicidade e sem angústia pessoal:
Alceste - que não tinha por si ser se-
midivina nem filha de qualquer Altís-
simo que lhe prometesse ressuscitá-la
-, não hesitou, e ofereceu-se à morte
“apenas” pelo marido. O que ela não
faria pela humanidade!
Também o carácter do marido, Adme-
to, se mostrou falho, fraco: apesar de
muito aparatoso nas lamúrias, ainda
que regateie ao princípio a iniciativa
da esposa de privar-se da vida por ele,
conforma-se a tal “fatalidade”.
O sacrifício de Alceste é tão genuíno,
causou tanta admiração, que os deu-
ses (que temiam a morte) mandaram
Hércules resgatar Alceste ao Hades.
Assim conta Eurípedes, o dramaturgo
de há 2500 anos e relator desta his-
tória.
O gesto de Alceste é tanto mais ir-
repetível que não voltou a acontecer,
pelo menos em mito que tal grandeza
registasse. Mas talvez sirva como his-
tória de proveito e exemplo e nos leve
a pensar na necessidade de estar mini-
mamente à altura do respeito que os
outros nos merecem e a sacrificarmo-
-nos por eles, isolando-nos com rigor
e serenidade.
Escreveu Camus, em A Peste: “O que
nós aprendemos em tempo de peste é
que há mais coisas a admirar nos ho-
mens do que a desprezar.” Que isto se
confirme, é o que mais ansiamos. Nas
favelas do Brasil, as milícias e os trafi-
cantes estão a ter a decência de serem
os primeiros a exercer o controlo sani-
tário, um sinal de esperança.
No primeiro grande embate com os cenários da covid-19, o
Governo de Moçambique resistiu à tentação de implementar
situações draconianas como sectores influentes e avisados na
nossa sociedade defendiam, como as projecções do Imperial
College recomendavam, como a África do Sul e o Zimbabwe deci-
diram quando avançaram para o confinamento obrigatório de grande
parte da sua população, a aplicação do “lockdown”.
A ideia dos especialistas, apoiados pelas projecções do Imperial Col-
lege, é que medidas duras de contenção poderão “achatar” a curva de
progressão das infecções, minimizando o número de mortes por con-
taminação. Do outro lado da barricada, os realistas argumentaram,
aparentemente com sucesso, que Moçambique não tem condições para
aplicar o “lockdown’’, porque uma parte da sua população, sobretudo
aquela que vive em situação de semi- indigência, tem que ir à rua todos
os dias para pôr algo no prato.
O que parece real, e os deuses continuam a estar do lado de Moçam-
bique, é que o país procura desesperadamente ganhar tempo enquanto
os números da pandemia não se abatem catastroficamente sobre a sua
população mais vulnerável. Uma situação de crise profunda levará a
situações não menos calamitosas em termos de confrontação social,
decorrentes do desespero da doença e das dificuldades para a enfrentar.
Na Beira, no laboratório de catástrofe que foi o ciclone Idai, no ano
passado, grupos movidos pelo desespero invadiram e saquearam vários
armazéns de comida, passando ao lado dos apelos à calma e urbanidade.
É esta tensão larvar que vivem os moçambicanos, confinados às suas
fronteiras, dependentes da comida e das ajudas para combater à pande-
mia que chegam de fora e a conta-gotas, de olhos postos nos números
de infectados que todos os dias lhes chegam em comunicado, remoen-
do desconfianças e conspirações fabricadas nas redes sociais, mas tam-
bém fruto de políticas e práticas pouco transparentes, que levam os
cidadãos a não ter confiança plena no seu próprio Governo. Quando
se inventam centenas de milhares de cidadãos, numa província, para
cumprir expedientes eleitorais, colhem-se agora os frutos destas práti-
cas a arrepio da democracia e dos valores mais elementares do que se
convencionou chamar de boa governação.
Mesmo com estas imperfeições decorrentes do pecado original de uma
democracia de segunda categoria, o regime fez questão em respeitar
os preceitos constitucionais, declarando o estado de emergência, um
mecanismo accionado pela primeira vez em 45 anos de independência
e que teve o voto unânime da Assembleia da República, onde se sentam
dois partidos da oposição que, tradicionalmente, votam contra tudo o
que é iniciativa governamental.
Sem que existam ainda instrumentos científicos que expliquem de for-
ma convincente a progressão mais lenta do coronavírus no hemisfério
sul, o Governo espera que rapidamente seja encontrada uma terapia
para o tratamento da pandemia, ao mesmo tempo que, e à medida que
as curvas epidemiológicas vão entrando em recessão noutros continen-
tes, surjam apoios substanciais que possam muscular às respostas que
o nosso esquelético sistema de saúde tenha que vir a dar numa fase de
mitigação do surto infeccioso.
Não são conhecidas ainda as medidas de carácter económico que cer-
tamente terão de ser tomadas para responder à epidemia paralela que
assola as famílias e empresas, num pais em que o emprego formal não
atinge sequer 3% do seu tecido social. Também aqui são necessárias
medidas arrojadas que estejam de acordo com o estado de emergência,
claramente na antecâmera da fase quatro da crise, cenário de que difi-
cilmente o país poderá escapar.
Ganhar tempo, como táctica tem funcionado até agora, mas é extrema-
mente temerário considerar o que é conjuntural em algo de estratégico.
E é tudo menos sério acreditar em milagres, agora que os milagreiros
desapareceram para parte incerta.
A vacina que tanta gente salvou da cólera, o ano passado, em Sofala e
Cabo Delgado, na melhor das hipóteses, só estará disponível no pri-
meiro trimestre de 2021.
Até lá Moçambique tem que fazer muito mais que ganhar tempo.
Num dramático finta-finta ao seu próprio destino.
o coronavírus
19Savana 03-04-2020 OPINIÃO
Nada é previsível; as circuns-
tâncias da vida mudam
muitas vezes por força de
circunstâncias fora do nos-
so controlo. Apenas algumas sema-
nas atrás, tínhamos tudo para dar
certo. Hoje estamos a declarar o
estado de emergência para contro-
lar a propagação do novo coronaví-
rus, mas que pode também alterar
o curso deste país. Este vírus vem
juntar-se à instabilidade crescente
no norte e aos ataques no centro de
Moçambique, aumentando a nossa
vulnerabilidade.
Do norte, existem várias teses sobre
o terror que se vive. Umas é que
os chamados insurgentes são jo-
vens sem oportunidades e vêem no
fundamentalismo a saída para uma
vida melhor.
Outras afirmam que a instabilida-
de é liderada por elites nacionais
com conexões internacionais, com
o objectivo de enriquecer e con-
trolar os recursos naturais. Um post recente, nas redes sociais, indicava
que quem pode estar por detrás da
conspiração em Cabo Delegado
são alguns veteranos da luta de li-
bertação nacional. Esta articulação
é preocupante.
Se por um lado se questiona o pa-
pel da nossa inteligência, quanto à
sua capacidade de se antecipar aos
acontecimentos, por outro, pode-
mo-nos remeter à justificação das
famosas dívidas ocultas, suposta-
mente feitas para assegurar e criar
condições de segurança na região.
O mais curioso ainda é que de
acordo com fontes internacionais
(SIC), imagens de satélite demos-
tram que os pontos de entrada nos
ataques recentes foram por via ma-
rítima. Serão assim uma demons-
tração de força? confirmação da
tese ou uma justificação?
A história nos mostra que cedo ou
tarde tudo se desclassifica. Quem
hoje é amigo amanhã pode ser o
inimigo e com ele todos os segre-
dos são expostos, arrastando assim
o nome das famílias dos envolvidos.
O dinheiro hoje em dia deixa rasto,
o telefone celular , os aplicativos e
muitos outros instrumentos que no
futuro poderão deixar cair másca-
ras. Por outro lado, aqueles jovens
que estão lá a cada dia que passa
ganham sede não só pelo sangue
e reconhecimento, mas principal-
mente pelo poder, e vão querer ficar
independentes de quem os está a
financiar e efectivamente a liderar.
Quem garante aos verdadeiros lí-
deres deste movimento que con-
seguirão manter o controlo no
futuro? Quem está efectivamente
a liderar os chamados insurgen-
tes hoje pode não o ser amanhã .
Esperemos que o próximo ditador
não nasça deste conflito não decla-
rado, quer seja do lado do Estado,
dos fundamentalistas ou do cida-
dão que perdeu tudo, como aconte-
ceu com Gadafi (Líbia), Siad Barre
(Somália) entre outros jovens que
nasceram de conflitos e instabilida-
de. Mesmo no nosso país, a histó-
ria recente nos ensina que quando
morre o líder, a transferência de
poder não é assim tão linear, tal
aconteceu na Frelimo e tal aconte-
ceu na Renamo.
Se o dinheiro for a objectivo final,
o momento em que estamos a vi-
ver agora nos dá outra lição, pois
os chamados ricos estão confinados
nas capitais. Não conseguem viajar
e, dependendo de como vai evoluir
a situação, podem nem conseguir
ter acesso à saúde (ventiladores) ou
gastar dinheiro se tentarem fora da
Julius Nyerere nem mesmo para
um café. Eles estão aqui e o dinhei-
ro está lá fora e fisicamente não o
conseguem alcançar. Em caso de
morte, vão igualar-se aos Mobutos
e Abachas, com o seu dinheiro a
desaparecer em bancos suíços. Na
hora da verdade, o que acabamos
por ver é que cada país cuida de si
mesmo.
Por outo lado, temos de garantir
que novos fenómenos catalizan-
do jovens sem oportunidades não
apareçam em outras partes de Mo-
çambique. Com a proliferação de
profetas, como cogumelos em tem-
po de chuva, quem pode assegurar
que os jovens não sejam influencia-
dos por mensagens duvidosas.
O estado de emergência, para além
do controlo do vírus, pode lidar
com este e outros assuntos pen-
dentes. No entanto, a minha espe-
rança é que não se faça uso desta
situação para criar injustiças e des-
mandos como acontece em muitas
outras democracias. A luta contra
o Covid-19 demonstra que países
que estão a ter maiores sucessos são
os que têm a mão dura do Estado.
Como cidadãos, vamos ter que ce-
der algumas liberdades e espere-
mos que não precisemos de lutar
por elas quando a crise terminar.
Como cidadão gostaria de ouvir
mais soluções oficiais alternativas
de como lidar com o vírus, como
por exemplo, através de suplemen-
tos locais que ajudem a melhorar
o sistema imunológico (malambe,
cacana, moringa, etc.) bem como
sobre cuidados adicionais a ter.
Espero também mais civismo e
contribuições da sociedade civil,
menos chamadas para liberdades
elitistas e mais solidariedade intra-
-classe. A nossa socidade civil pare-
ce estar presa na luta pela democra-
cia e governação, que ficou em casa
face a este novo desafio, enquanto
os funcionários públicos navegam
na tempestade. Ou talvez este-
jam a desenhar um novo programa
numa nova onda de activismo, com
novas palavras da moda, com no-
vos fundos, porque afinal de con-
tas é tambem um novo mercado
ou um mercado antigo com novos
desafios.
A única certeza que temos é que
no Sul, Centro e Norte vão conti-
nuar a morrer moçambicanos, pois
a morte é a única cara conhecida
neste novo território desconhecido.
Há dias passei uma tar-
de de sábado agradá-
vel, sozinho a ouvir um
compacto de música
moçambicana que me tinha sido
oferecida antes, pelo meu amigo,
Tiago Gonera Samuel, em cum-
primento de uma promessa que já
vinha tardando há alguns meses.
Era uma selecção de música mo-
çambicana que ia desde os finais
da década de 30 até aos dias de
hoje.
Antes mesmo de chegar ao fim
da audição, que durou mais de
seis horas, tinha tomado uma de-
cisão: a de materializar uma ideia
que me vinha fazendo cocegas no
cérebro desde princípios de Ou-
tubro.
Como deves saber, a cada dia 1 de
Outubro, assinala-se o dia mun-
dial da música.
Na última data em que se ce-
lebrou isso deu-se o caso de eu
estar em casa a ouvir uma pro-
gramação especial de um canal de
rádio, sobre a data, entrevistando
várias pessoas ligadas a área da
música, tanto como produtores,
como instrumentistas, executan-
tes, em fim.
Fez-me espécie, entre várias en-
trevistas, aquela a que foi feita a
uma jovem, estudante de música,
que dizia convictamente que: “A
música moçambicana só come-
çou a ganhar qualidade com o
surgimento das escolas de músi-
ca”, assim mesmo.
Se fosse só ela a pensar dessa for-
ma talvez não me incomodasse
tanto. É que, ao longo das en-
trevistas que foram sendo feitas,
quase todos os jovens afinavam
pelo mesmo diapasão.
Senti-me tremendamente ofen-
dido.
Significa que tudo que foi produ-
zido como música, da geração do
Alexandre Jafete, do Fany Mpfu-
mo, do Alexandre Langa, do Eu-
sébio Joane Tamele, do Lázaro
Vinho, do Armando Mabwaia,
por aí em diante, não significa
absolutamente nada em termos
de qualidade.
Uma afirmação ou uma convicção
dessas só revela duas ou três coi-
sas: ou se deve a pura ignorância,
ou a pura presunção, ou a puro
atrevimento, o que no fundo vai
dar no mesmo. Porque como to-
dos nós sabemos, o atrevimento
é o primeiro filho da ignorância.
Com ele, o arrivismo, a presunção
e a falta de humildade na forma
como analisamos as coisas.
Dizer que tudo que foi produzido
antes do surgimento das escolas
de música não tem qualidade é
deitar fora tudo o que foi produ-
zido desde os anos trinta e muito
recentemente, porque, na verda-
de, as escolas de música como tal
não existem, digamos, a mais de
trinta anos ou talvez menos.
E mesmo para as gerações mais
modernas, não acredito mui-
to que músicos da qualidade de
um José Mucavel, de uma Zaida
Chongo, de uma Zena Bacar, de
um Jimo Remani, de um Otis, de
uma Guegue, de uma Elvira Vie-
gas, de um Chico António e por
aí adiante, tenham passado, algu-
ma vez, de uma escola de música.
Dizer que daí a sua música deve
ser qualificada como não tendo
qualidade é, repito, pura ignorân-
cia ou atrevimento, o que vai dar
no mesmo.
Não é que se esteja a dizer que as
escolas de música não sejam ne-
cessárias, bem pelo contrário, são
o cumprimento, absolutamente,
indispensável, para a formação de
um músico com firmeza naquilo
que está a fazer.
Mas da mesma forma que o tra-
balho de um joalheiro, ao lapidar
um diamante, não é dar-lhe mais
quilates ou não, mas sim realçar
a sua beleza, pela forma como o
trata. Da mesma forma, uma es-
cola de música não imprime qua-
lidades natas a um músico, dá-lhe
instrumentos para que ele utilize
da melhor forma, o talento que
ele tem um artefacto nato.
É certo que, como diz o filósofo,
o talento é um adorno, porque o
talento sem trabalho não conduz
a lugar, absolutamente, nenhum,
mas também é certo que o tra-
balho por mais árduo que seja, se
é feito sobre uma matéria-prima
que não tem qualidades natas,
também não leva a lugar nenhum.
As escolas são necessárias, mas
aqueles que as frequentam preci-
sam de ir para elas para aperfei-
çoar o uso dos instrumentos que
lhe são ministrados para utilizar
da melhor forma as qualidades
natas que têm.
Há exemplos por demais disso, e
não só da área artística ou, neste
caso particular, na área musical.
Há muito bom menino que fre-
quenta boas escolas mas sai de lá
sem qualidade nenhuma, por uma
razão muito simples, é que a esco-
la não te dá inteligência, a escola
dá-te os instrumentos para usar
da melhor forma a inteligência
que tens.
Uma escola de música não dá
qualidades natas a um músico,
dá-lhe instrumentos para traba-
lhar melhor as qualidades que
tem, sem menosprezar a necessi-
dade de perseverar e de trabalhar
arduamente.
São duas faces da mesma moeda, claramente, sabendo-se, também, que essas duas faces desta moeda, sem a terceira, muitas vezes, não funcionam, e essa terceira chama--se sorte. Temos que conjugar na vida ou na carreira, seja ela qual for, conside-rando estas três faces da mesma moeda: talento, trabalho e uma varinha mágica chamada sorte. De modo que para além daquela tarde me ter feito ganhar cora-gem de fazer e coçar a comichão que me vinha incomodando o cé-rebro desde o dia 1 de Outubro do ano passado, também serviu de pretexto para considerar, para chamar a atenção para o facto de que não podemos ser arrivis-tas, alimentando preconceitos de nos considerarmos pertencentes a uma geração superior, só pelo fac-to de ter acesso a meios, mais ou menos, sofisticados ou melhora-dos de lhe dar com as qualidades que a natureza nos deu para viver e singrar nas nossas carreiras.Sob o risco que, também, fazer-
mos a mesma figura que um ri-
noceronte faz quando entra numa
loja de porcelanas.
Um rinoceronte numa loja de porcelanas
O território desconhecidoPor Mantchiyani Machel
20 Savana 03-04-2020OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
O aumento da oferta de testes
(repetidos) em indivíduos com
sintomas do novo coronavírus
foi recomendado, em meados
de Março (2020), pela Organização
Mundial de Saúde. Em paralelo, pela
sua eficácia, a ideia principal continua a
consistir na quebra da cadeia de trans-
missão da pandemia, isolando os casos
positivos. Com base nos testes é possí-
vel ter, de um modo geral, uma apro-
ximação e percepção da realidade. No
caso de África é recorrente ouvirmos
que os sistemas de saúde são muito fra-
cos e pressionados pela cólera, malária,
ébola, entre outras doenças. Indepen-
dentemente das razões da debilidade
desses sistemas, onde constam por
exemplo a corrupção das elites gover-
namentais e o seu fervoroso apego ao
poder, aventa-se a forte possibilidade
de desastre na saúde pública caso a
pandemia fique fora do controlo. Neste
sentido, é importante aprofundar e assumir o
real significado de “sistema de saúde débil ou
fraco” tendo em conta as possibilidades do
referido controlo. Que mecanismos estão a
ser usados, para o caso de Moçambique, para
que se massifiquem os testes (mesmo consi-
derando a questão de indivíduos “assintomá-
ticos” que acabam por infectar outras pessoas
por desconhecimento da sua condição quan-
to à Covid-19)? Qual a nossa capacidade de
massificação de testes de despiste ou despis-
tagem da doença em causa?
Nos países onde as mortes já se contam aos
milhares a procura pelos testes de despis-
tagem tem sido enorme ou, simplesmente,
desenfreada, pressionando a capacidade dos
laboratórios. Nesta avalanche não falta o
grupo das pessoas ansiosas. Em laboratórios
privados (portugueses) os custos dos testes
de despistagem da Covid-19 variam entre
os cerca de cem a duzentos euros, qualquer
coisa como sete mil e picos a pouco mais de
catorze mil meticais. Tendo em conta a reali-
dade das famílias moçambicanas, aqui a mão
do Estado seria importante, se considerar-
mos tanto o salário mínimo como o médio.
Mesmo a um valor bonificado constituiria de
certo modo uma barreira ao teste. A solução
segura para massificar o teste seria o seu ca-
rácter gratuito ou algo não distante disso.
Moçambique continua a apostar na quebra
da cadeia de transmissão da pandemia. É
uma solução primeira, razoável, barata e de
gestão possível. O estado de emergência que
entrou em vigor a 01 de Abril surge neste
âmbito, como resultado do impacto da pan-
demia do Coronavírus. Os números oficiais,
de tendência crescente, apontam para dez
casos confirmados. O distanciamento social
poderá evitar a rápida propagação do Coro-
navírus. Ainda que se considere a economia
de Moçambique como “marginal” espera-se
um impacto negativo na economia nacional.
Quando a maré económica baixar, baixará
para todos. Em processo já se assiste a um
cenário que um dia se alterará: empresas a
fechar ou em redução de pessoal. O
mercado informal em processo de defi-
nhamento. O volume de produção a bai-
xar. O aumento do número de pessoas
desempregadas. Aumento da pobreza
nas famílias.
Cá entre nós: impõe-se o reforço mul-
tidimensional na área de saúde: des-
conhece-se o tipo de companhias que
a Covid-19 arrastará consigo directa
ou indirectamente. Lavar as mãos com
água e sabão ou cinza está ao alcance de
qualquer cidadão. Medidas de conten-
ção, sim. Prevenção, sim. Mas não só. É
importante que as autoridades de saúde
do nosso País elaborem um pouco mais
sobre os testes de despistagem da Co-
vid-19. Os custos. A nossa capacidade.
As possibilidades de massificação. As
vantagens para o País. Caro leitor: lave
bem as mãos (mas não entre em psico-
ses). Que medidas internas estão a ser
desenvolvidas pelos nossos cientistas?
O obituário refere 1941-2020 como
espaço temporal da passagem do
Professor Carlos Serra pelo planeta
terra e Moçambique. Também, faz
alusão à Tete como a cidade onde ficou enter-
rado seu cordão umbilical. Todavia, algo deve
estar errado! O Professor Carlos Serra, um
dos mais profícuos e engajados intelectuais
moçambicanos, não partiu para lugar algum.
Ele permanece imortal e devoto às análises
epistemológicas. Carlos Serra, no jeito Sa-
moriano, não poderá, nunca, despedir-se da
sua terra, dos seus estudantes e seguidores.
Ao redigir esta evocação, das mais complexas
que alguma vez pude fazer, evitei a expres-
são “Pai da Sociologia Moçambicana”. Não
é que eu tenha dúvidas dessa paternidade,
como os sociólogos locais assim o apelidam,
mas não queria, pelas experiências anterio-
res, recriar, bem no modelo político nacio-
nal, mais uma paternidade para designações
comuns. Porém, concordo, salvaguardadas
as devidas proporções, que o Professor Car-
los Serra, a seu tempo e espaço, contribuiu,
como ninguém, para recriar esta sociedade.
De todos se faz um país e o bom do Pro-
fessor interpretou e desmistificou realidades
sociais complexas que, de outro modo, teriam
passado inexplicadas.
Não fazia ideia que o haviam tratado por
obstinado e excêntrico, em algum momen-
to da sua intensa e bem vivida carreira. Mas,
ele era um nacionalista, convicto e livre. Foi
assim quando sentiu que o fervor azul da re-
volução conduzia, irremediavelmente, a uma
aceitação e esquecimento colectivos e pacífi-
cos da história de Moçambique, pela história
da revolução e dos 10 anos de luta de liber-
tação nacional.
Temia que perdíamos a capacidade de ques-
tionar e ajuizar as realidades sociais. Sem se
eximir das suas responsabilidades, à seme-
lhança do que propõe Noam Chomsky, “falar
a verdade e expor mentiras dos governos”, o
Professor foi escrevendo textos dilacerantes
sobre a história pré-colonial moçambica-
na, para que não se deturpasse, nunca, uma
historiografia secular prenhe de heróis e he-
roicidade, um percurso histórico de reinados
e sultanatos memoráveis e inexpugnáveis.
Nem se coibiu de pesquisar a essência do
proto-nacionalismo, onde Kamba Simango
se destacou não só pela sua tenacidade, mas,
e principalmente, pelo seu academicismo.
Mas o Professor Carlos Serra não partiu, e
deve estar, algures, repousando. Nós recu-
saremos, perpetuamente, a aceitar, de cons-
ciência, essa ausência física. Ainda acredito,
talvez lunaticamente, que ele regressará, com
os textos inéditos, com reflexões pertinentes
e actuais, conclusões assertivas e, outros juí-
zos de valor perspicazes. Regressará porque
deixou inconcluída uma obra que pertence a
este povo e país.
O Professor regressará para esclarecer a pan-
demia do coronavírus, o reacender dos dis-
cursos Samorianos nos chapas, os linchamen-
tos que o “encrencado” sistema de justiça não
consegue desvendar e travar, os raptos que
estão na moda e, até, o entendimento sobre
as igrejas pentecostais e profetas em períodos
de mudanças climáticas.
Professor Carlos Serra regressará mesmo,
pois, ainda carece de autorizações para se au-
sentar. Carecemos todos de um entendimen-
to sobre a fome, as epidemias, a inanição e a
violência que perduraram, e algumas até pre-
valecem, incontroláveis, ao longo de milhares
de anos. Esta natureza imperfeita, não acei-
ta o domínio humano no modelo actual e,
por isso, se rebela. Também, ele precisará de
abordar o porquê de vivermos resguardados e
com a sensação de que o mundo já não pre-
cisa dos humanos. Ou será que voltaremos a
rezar aos deuses e anjos para nos salvarem?
Como forma de o honrar, teremos de resu-
mir, em quatro ou cinco parágrafos, bem no
seu estilo, a sua contribuição epistemológi-
ca. Resumir o deslumbramento dessa men-
te brilhante e preocupada. Dizer em duas
palavras a chave e as soluções para todas as
questões sociais, económicas e jurídicas. Para
isso, serviram as oficinas de sociologia, uma
das suas mais marcantes inovações.
Não resistiria, nestes resumos, de resgatar os
dois volumes sobre a história de Moçambi-
que que fizeram dele um historiador de re-
ferência e, dos estudantes, agentes activos de
uma mudança que construiu Moçambique e
suas gentes. O blog e o diário de um soció-
logo merecem referência. Pelo seu blog, antes
bem mais visitado que agora, o Professor não
se limitou a reproduzir conceitos, mas, an-
tes, recriou um modelo híbrido e endógeno
de observação e interpretação de alguns dos
fenómenos sociais que marcaram os nossos
anos de independência e liberdade.
Os textos mais científicos ou mais jornalís-
ticos inspiraram e cimentaram o entendi-
mento de que um sistema se alicerça muito
para além da democracia representativa e de
eleições multipartidárias. Para lá dessa linha
do horizonte, existe um povo culturalmente
maduro, uma classe média com valores e re-
gras de conduta, uma massa também menos
esclarecida, mas ciente das verdades munda-
nas e uma academia que procura firmar-se
dentro e além-fronteiras. Enfim, existem as
crenças, religiões, arte e vontade próprias.
Todos nós procuramos, de forma incessante,
rebuscar as fórmulas e os modelos que fa-
rão desta sociedade e país, um lugar de paz e
prosperidade.
Também ficará órfã a página do SAVANA
sem o Fungula Masso. Mas o Professor
pregou-nos uma partida! Mudou-se para
uma outra galáxia quando ainda precisava
de finalizar um conjunto de cadernos de
ciências sociais que, nos últimos anos, coor-
denou com mestria e habilidade. Cadernos
que se converteram em manuais de consulta
para todos os extractos sociais, com respostas
simples sobre temas complexos. Esta colec-
ção combinava simplicidade e rigor de au-
tores de vários quadrantes do mundo, falan-
tes de língua portuguesa. Qual constelação
de pesquisadores espalhados pelo mundo e
várias universidades! Ninguém conseguiria
congregar tantas e mais variadas áreas de sa-
ber num projecto que tinha alma e espírito.
“Olá, muito bom dia, boa tarde ou boa noite,
consoante o vosso fuso horário. Apenas para
vos dizer que foram editados mais 5 livros
da nossa colecção, com capas e contracapas
em anexo......”. Era assim que ele aparecia em
nossas telas, todas as semanas, solicitando os
trabalhos e cuidando da posterior edição.
Nestes cadernos, seu último trabalho epis-
temológico de vulto, foram desconstruídas
matérias eclécticas e complexas. O direito e
a justiça, revisitou a pobreza e o porquê de
continuarmos pobres, esgrimiu argumentos
sobre ideologia e poder político, viajou no
âmago da nossa sofrida educação e da vio-
lência sexual, enfim, pincelou as facetas sobre
como se produz a cultura do medo e tantas
outras coisas.
Estou convencido que ele andaria, bem no
jeito dos heterónimos de Fernando Pessoa,
dialogando sobre a insurgência de Cabo
Delgado. Afinal, nem importa desbravar
apenas o fenómeno, teremos de seguir por
uma via de resolução de conflitos. Um país
como o nosso merece paz, bem-estar e de-
senvolvimento social. Merecemos, todos, um
Moçambique com as mesmas oportunidades
e direitos.
Só mais um detalhe, obrigado pelos múl-
tiplos conselhos sobre educação. Foi uma
bênção ter sentado consigo para entender o
porque do sistema educativo nacional ter co-
lapsado. Ainda ecoa, pelos nossos ouvidos, a
proposta de Pacto Nacional sobre educação,
com especial atenção a ser dada a formação
de professores. Onde quer que estejas, Pro-
fessor Carlos Serra, repousa em paz e ao som
do Soul Makossa de Manu Dibango.
Até sempre, Professor Carlos SerraPor Jorge Ferrão
21Savana 03-04-2020 DESPORTO
Em relação aos falsos profetas, onde eles estão agora, onde
estão os cultos de milagres, onde estão os lenços ungidos,
onde está a teologia da prosperidade agora, o triunfalis-
mo?
Vocês não curam tudo, vocês não têm o poder contra qualquer
doença, aonde é que está a vossa igreja; porque elas não estão
abertas, recebendo os infectados do Coronavírus, para que sejam
curados por vocês, com imposição das mãos, sem máscaras e sem
luvas.
Vocês arrogam ter os dons de cura; peguem os vossos lenços e en-
viem um pouco para a Itália vejam aquele País, vejam a Espanha,
África do Sul, Moçambique e não só, são milhares de mortos! Os
vossos lenços não curam! Porque vocês não enviam 4 ou 5 inte-
grantes de vossa Igreja, 2 na Itália, 2 na Espanha, 2 nos Estados
Unidos, e 12 que fiquem em Moçambique!...Essa epidemia está a
servir para desmascarar essa farsa, para desmascarar essa teologia
Provérbios, dizem que as riquezas de nada aproveitam no dia da
ira e agora, o que vale é a casa própria, o carro 0km’s! Os vinte
salários que vocês prometem àquele que fizer campanha receber.
Porque não vão alguns para Hospitais e Clínicas? Porque vocês
não impõem as mãos sobre os entubados e com uma oração os
curem? Porque isso tudo é uma farsa!!!
Porque isso é mentira! Esses lenços não curam, esses óleos não
curam, porque seria omissão de socorro e vocês seriam processa-
dos por omissão de socorro, tendo a cura nas mãos e omitindo-a.
As igrejas estão fechadas, ninguém está sendo curado por óleo,
lenço ou imposição das vossas mãos.
As Nações estão morrendo vidas e vidas sendo ceifadas e vocês
não podem fazer nada. A epidemia está desmascarando a teo-
logia de tanta prosperidade. De que serve a riqueza se Pobres,
Ricos, Jovens e Velhos; não há quem tenha mais dinheiro. Agora
dinheiro não resolve nada! Agora dado o número e a explosão de
enfermos para que serve a prosperidade e as promessas de cura!
O povo que abra os olhos, ao passar essa pandemia, que ninguém
deles volte para essas igrejas.
Procurem não ser Analfabetos. Valorizarem-se academicamente,
profissionalmente, desportivamente, moralmente e civicamente.
O povo que ganhe consciência do valor do saber e do trabalho.
O povo que lute contra o destino, a adversidade e lute até conse-
guir! Depois dirá: consegui, eu posso, porque quero!!!
E não me venham com a teoria do Diabo, por quem não está à
aparecer é o todo poderoso, no céu e na terra !!!
Cuidemo-nos do “ Zigue Zague.”
“Zigue Zague”
Contrariamente ao cepticis-mo de muita gente ligada ao futebol quanto à capa-
cidade técnica de Arnaldo
Salvado de dirigir o gabinete téc-
nico da Federação Moçambicana
de Futebol, numa altura em que os
clubes mantêm as portas fechadas,
o tempo tratou de demonstrar o
contrário. Aliás, atento às medidas
que têm sido tomadas pelas auto-
ridades governamentais, face ao
surto do coronavírus, o gabinete
técnico da federação apresentou,
numa assentada, três cenários,
os quais serão discutidos em as-
sembleia geral daquele organismo
agendado para Junho.
Trata-se de um encontro em que se
ficará a saber o modelo futebolís-
tico que o país seguirá, doravante,
incluindo as suas implicações e os
pontos fortes.
Ou seja, as 11 associações
provinciais vão sentar à mesma
mesa, cada uma com uma ideia
clara de qual dos modelos é o mais
eficaz, uma vez que até lá terão tido
tempo suficiente para esmiuçar por
cada um deles.
Mas é ponto assente que, apesar da
hibernação que caracterizou a As-
sociação Moçambicana dos Treina-
dores de Futebol, na altura dirigida
por Arnaldo Salvado, o actual gabi-
nete técnico se mostra mais proac-
tivo e com ideias robustas do que
o anterior dirigido pelo professor
Abdul Abdulá, antigo preparador
físico da selecção nacional.
Na verdade, o surto do coronavírus
criou condições para a paralisação
de todas as provas internacionais
assim como internamente, ainda
que algumas federações ou asso-
ciações foram adiando a medida
convencidas de que a doença não
atingiria proporções alarmantes ao
ponto de a Organização Mundial
de Saúde a considerar uma pande-
mia.
Coronavírus leva gabinete técnico da FMF a ensaiar modelos competitivos
As implicações da mudança da época futebolísticaPaulo Mubalo
Para já, exceptuando a Superta-
ça Mário Coluna, disputada pelo
Costa do Sol, campeão nacional
e União Desportiva de Songo,
no passado dia 3 de Fevereiro, no
mítico Estádio da Machava, que
marcou o arranque oficial da época
futebolística 2020, as outras provas
ou não iniciaram ou não chegaram
ao fim, casos dos campeonatos pro-
vinciais, cujo término estava agen-
dado para 22 de Março.
O Moçambola, que devia iniciar
a 4 de Abril tinha o seu término
previsto para 22 de Novembro,
enquanto os campeonatos provin-
ciais da segunda divisão, divididos
em duas fases, que também deviam
iniciar a 4 de Abril, tinham como
data de término 15 de Novembro.
A primeira fase iria terminar a 4 de
Outubro, altura em que as provín-
cias deveriam entregar os seus cam-
peões que disputariam a poule de
apuramento ao Moçambola 2021.
Essa segunda fase, que iniciaria
a 10 de Outubro seria disputada
pelos campeões provinciais, em re-
giões, durante seis semanas, sendo
que a 15 de Novembro se conhe-
ceriam os campeões regionais e que
ascenderiam ao Moçambola do
próximo ano.
Já a Taça de Moçambique, também
seria dividida em fases, sendo que a
primeira- fase provincial- começa-
ria a 28 de Março e o seu término
aconteceria a 7 de Junho.
As províncias, por sua vez, deve-
riam entregar os vencedores até ao
dia 10 de Junho, ao que seguiria a
segunda fase, que teria lugar a 25
de Junho.
A terceira fase (nacional), come-
çaria nos quartos-de-final, e seria
disputada em duas mãos. Assim,
os quartos-de-final teriam lu-
gar nos dias 12 de Julho, primeira
mão, e 9 de Agosto, segunda mão.
As meias-finais, também em duas
mãos, teriam lugar nos dias 20 de
Novembro e 25 de Outubro, fi-
cando a final marcada para 29 de
Novembro, altura em que fecharia
a época futebolística 2020.
No meio destas competições, os
Mambas teriam entrado em cena
em Março passado, para a quali-
ficação ao mundial do Qatar, em
2022, cujo sorteio foi realizado a
21 de Janeiro, bem como em Junho,
também de qualificação ao mun-
dial. Em Agosto (31), Setembro
(8), Outubro (5) e Novembro (9),
realizariam jogos de qualificação
ao CAN 2021, que terá lugar nos
Camarões, em princípio em Janeiro
ou Fevereiro.
Os três cenários propostos pelo gabinete técnico O gabinete técnico da Federação
Moçambicana de Futebol, depois de estudar detalhadamente a si-tuação no terreno, à luz das várias medidas governamentais que têm sido tomadas para evitar a propa-gação da covid-19, apresentou três cenários, que merecerão estudo aprofundado pelas associações pro-vinciais.Com efeito, caso a paragem seja de um mês, a época irá até 20 de Dezembro, sendo que a época 2021 poderá iniciar a 20 de Janeiro, in-cluindo as subsequentes. O gabinete técnico da federação chama atenção ao facto de que se for observado este cenário, a nossa época não se ajustará à da CAF e FIFA, o que levará a adiamentos por períodos longos de alguns jogos do Moçambola, isto se Moçambi-que lograr qualificar-se para as fa-ses finais do CAN ou CHAN. Como vantagem, o gabinete lide-rado por Arnaldo Salvado indica o facto de se poder contornar o pe-ríodo chuvoso, entre outras. Enquanto isto, caso a paragem vá até três meses, a época vai com-preender o período de Junho deste ano a Maio do próximo ano, sendo que os moldes da disputa da Taça
de Moçambique também irão so-
frer alteração.
Neste cenário, haverá uma inter-
rupção de um mês (20 de Dezem-
bro a 20 de Janeiro) para férias de
fim de ano e para se evitar a época mais quente e chuvosa. Outrossim, a época desportiva estará, caso seja seguida esta proposta, em conso-nância com o calendário da CAF, o que constituirá uma vantagem. Mas como desvantagem aponta-se o facto de que os jogos irão decorrer num período chuvoso, propiciando adiamentos.O terceiro e último cenário indica que a época iniciaria a 1 de Junho com término a 31 de Maio de 2021.Para este cenário, as provas inicial-mente agendadas para este ano se-riam retomadas, como os Campeo-natos Provinciais, que substituíram os torneios de abertura. O ponto forte deste cenário é o en-
quadramento da época futebolísti-
ca nacional ao calendário da CAF.
Mas apesar desta vantagem, há um
ponto crítico: o facto de que muitos
jogos seriam adiados devidos à di-
versidade das questões climatéricas,
a saber, chuvas intensas e calor.
Outrossim, os clubes teriam de ar-
car com as despesas relativas aos
salários dos seus jogadores, ainda que estes estivessem em interreg-no, o que se mostra simplesmente contraproducente tendo em conta a débil situação financeira de muitos deles. Por todas estas questões que, à priori, merecerão uma atenção es-pecial das associações provinciais, espera-se que a retromencionada assembleia geral encontre o melhor modelo para a época desportiva na-cional, até porque não raras vezes as derrotas ou fracassos das equi-pas moçambicanas nas afrotaças é justificada pelo desfasamento entre a época futebolística interna e a de outros países do continente.Mas há que salientar que existem especificidades que, em algum mo-mento, tornam essa necessidade de se compatibilizar as épocas bastan-te difícil, como a época chuvosa, a qual, salvo raras excepções, deixam os campos alagados por diversos
dias, ou mesmo parcialmente des-
truídos.
A bola está, de facto, do lado das
associações provinciais.A mudança da época futebolística é irreversível
22 Savana 03-04-2020DIVULGAÇÃO
1. MEDIDAS TOMADAS POR PAÍSES COM GRANDE INCIDÊNCIA DO COVID-19
A rápida disseminação da corona vírus à escala planetária registou, no dia 30 de Março corrente, mais de 34,000 mortos e mais de 720,000 pes-soas, num período de menos de quatro meses. Este fenómeno, classi-
por a epidemia viral se ter alastrado a todos os continentes, estando no presente momento a espalhar-se pelo continente africano. Econo-mistas referenciados advertem que a presente crise social e económica
-gou ao fecho de fronteiras em quase todos os países, centenas de mi-lhares de aviões estão parqueados, cidades que ´nunca dormem´, como
ordenaram ´lockout´´- são como cidades fantasma, cidades quase de-sertas.Para prevenir a recessão global, a maioria dos governos dos países
económicas não normais, medidas fora dos quadros conceptuais das
até recentemente, eram consideradas heresia pelos defensores do neo--
pelo menos momentaneamente, deixaram de ser critério fundamental
-fesa e funcionamento da economia, defesa do emprego e dos rendi-
-
evitar a recessão económica, podendo até gerar o caos humanitário e
é imprevisível. -
presas, sobretudo dos sectores mais afectados e que necessitam de
relacionados com o abastecimento de bens essenciais de consumo --
tos do Estado, como a polícia e forças de manutenção da ordem. Estas medidas incluem distribuição de dinheiro às famílias. As medidas
e o rendimento das famílias, de forma a assegurar a capacidade de
-dora da produção. Para evitar o alastramento do contágio, as medidas incluem fecho temporário de escolas e universidades.
-
consumidores, para que as trocas aconteçam. Em situação de baixa -
ao consumidor, o Estado pode constituir ou reforçar os fundos de con-
medicamentos, alimentos, meios de transporte, entre outros bens. Em
2. UM POUCO DE TEORIA ECONÓMICA-
nes foi o economista da grande depressão de 1929, crise económica -
do com o momento actual e observando as medidas governamentais
-
a rentabilidade das empresas e o custo e nível de vida das famílias,
actividades, para a criação de emprego e, consequentemente, maior
factor incentivador da oferta.
3. CARACTERÍSTICAS DO COVID-19
-cia. É certo que os investimentos para situações de crise epidemio-
a sua ociosidade em momentos de normalidade. E essa constatação
necessário repensar as funções do Estado na prestação de serviços aos cidadãos, como direitos fundamentais e previstos nas constituições. Nos países pobres, a cobertura sanitária é muito fraca e os rendimen-tos da maioria do povo não permitem o acesso à medicina privada.
-blicos é, geralmente, muito baixa. Este facto, aliado à baixa dimensão da maioria das economias menos desenvolvidas, tem implicado um
Independentemente de ideologias e de modelos económicos, o ho-
repensar as funções do Estado e as complementaridades e funcionali-
princípios.lockdown -
demia, tem sido uma medida aplicada em muitos países, em fases
profundidade do lockdown não é igual, sendo, em alguns casos, permi-
muito elevados e socialmente não equitativos. -
dem com os que aplicaram o lock down mais tarde ou mais relaxado, sendo, por isso, importante ponderar as medidas conforme o fasea-
-
COVID-19: LINHAS GERAIS SOBRE MEDIDAS E IMPACTOS ECONÓMICOS EM MOÇAMBIQUE
João Mosca
23Savana 03-04-2020 DIVULGAÇÃO
da aquisição e tratamento por ventilação, é muito menor que os efeitos económicos do lockdown. A questão é que os países pobres
que os custos imprevisíveis, mas seguramente severos, são miti-gáveis?
-te possíveis, partindo de pressupostos de casos de infectados de
-
-
em vários cenários, sem considerar muitos outros factores que in-
de observações metodológicas, não deve ser simplesmente negli-genciado.É muito importante o que se designa por casos “importados”, po-dendo-se concluir que os países com maiores relações económicas com o exterior e menor controle sanitário de fronteira, agravam a
-
em outras situações, estas devem ser assumidas pelos cidadãos.
-tamente, os mais vulneráveis, devido ao menor acesso à informa-
e posse de recursos para poderem cumprir as medidas de emer-
---
bora não conste no quadro, é importante considerar o tempo de medidas drásticas comparativamente ao momento de detecção
Países com
de casos 9
Nº de casos
Nº de mortes
Proporção de mortes sobre o nº
total de casos
Proporção dos
totais em 2016
Proporção dos gastos
sobre o PIB em 2016
1.3063.292
ItáliaEspanhaAlemanha 47.373Irão 32.332
1.69612.311 207
Moçambique 7 0
a Alemanha possui a menor taxa de mortalidade, o que coincide com o
percentagem de mortos sobre o total de infectados, é a Espanha o que
-
coincide com os países com melhor cobertura e alocação de recursos aos
no início do surto da pandemia e onde os povos possuem maior forma-ção, informação e cidadania.
surgimento da pandemia e, portanto, nada se conhecia sobre a mesma.
-
-ses, às medidas impostas pelo governo aos cidadãos para cumprimento
-sas transformações/mutações virais.
4. COVID-19 E MEDIDAS ECONÓMICAS EM MOÇAMBIQUE4.1 Pontos prévios
-mente sob a forma de uma curva exponencial, a partir de um determi-
e necessidade de obter renda diária para gastos de consumo no próprio dia e, portanto, necessidade de trabalho diário fora de casa;
-lações sociais; que não permitem cumprir o ´distanciamento
-
de longa e curta duração e o retorno dos emigrantes devido à
desta magnitude.
no campo, onde as aglomerações e os contactos pessoais são -
4.2 Sectores económicos e sociaishttps://www.worldometers.info/coronavirus/
-ções até 27 de Março. A situação dos países pode variar constan-temente e alterar a análise aqui apresentada. o funcionamento dos sectores fundamentais relacionados com a sobre-
-res mais directamente relacionados com a pandemia:
24 Savana 03-04-2020DIVULGAÇÃO
Na saúde:-
As actividades que podem estancar a propagação da epidemia são es-sencialmente:
Informação e educação dos cidadãos sobre a pandemia
hospitalares, nas farmácias e, eventualmente, em agentes económicos preparados para o efeito de forma a serem
tempo e o custo de acesso aos medicamentos.--
Estas medidas necessitam de recursos para importações, horários ex-traordinários dos centros hospitalares e farmácias. As medidas para manter em funcionamento os sectores económicos relacionados com a pandemia e em contexto de lockdown, poderiam ser as seguintes:
Na agricultura: Promover e apoiar os pequenos e médios produtores com
-
a elevação rápida da produtividade e da produção, com foco nas culturas/produtos de ciclo vegetativo mais cur-
mais próximos dos centros urbanos;--
agentes económicos para compra e venda de carrinhas e -
temas de rega funcionem melhor.Na agroindústria:
-
de determinados bens por efeito de substituição de outros
No comércio:-
para situações de extrema gravidade de abastecimento, e dependendo dos recursos e de volume dos produtos, es-
-ceria com o sector privado.
-
-
--
nas empresas da grande distribuição.Estudar e aplicar medidas de mercado para que a pro-
-
melhores que as oferecidas pelos comerciantes vindos de
Nos transportes:Assegurar o transporte de passageiros com garantias de cumprimento do distanciamento social sem riscos, e com multas pesadas para os incumpridores.
-
bens essenciais.Outros sectores
Adiar o pagamento das facturas de energia e água e esca-lonamento do respectivos pagamentos.
com população muito pobre nas periferias das cidadesAssegurar o abastecimento de combustíveis.
famílias sem recursos nem negócios.4.3 Oferta e procura do mercado de alimentos
-lisação de empresas, pequenos negócios e das economias informais.
-
e de despedimentos, subsídios às empresas para pagamento de parte
contexto de crise. E, por outro lado, assegurar a oferta em níveis que -
cional como por importações.
principalmente nos centros urbanos, vivem da renda diária, isto é, consomem o que as receitas quotidianas lhes permite. Nestas circuns-
possíveis em mercados não infraestruturados e de rua, em meios de transporte abarrotados.
4.4 Medidas orçamentais e de política monetáriaPara o funcionamento dos sectores-chave no contexto de crise e de baixa actividade económica são necessárias medidas extraordinárias na gestão e alocação de recursos orçamentais e na política monetá-
evolução da epidemia.No orçamento do Estado:
Alocar recursos, tantos quanto necessários, ao sector da
ambulantes, e equipamentos hospitalares, medicamentos, -
25Savana 03-04-2020 DIVULGAÇÃO
-
meses.-
do possui dívidas atrasadas, como forma de criar mais li-
--
gestão orçamental, dos procedimentos de procurement, ao
Na política monetária
funcionamento e investimento, com efeitos imediatos nos
A massa monetária emitida poerá ser parcialmente utili-
a capacidade de pagar parte dos salários nos casos de des-pedimentos ou não pagamento pelo patronato e outras instituições, para suportar subsídios e gastos extraordiná-rios do Estado devido à crise.
garantias a conceder através dos bancos comerciais, para
no período de 6 meses, renováveis.
bancos comerciais, para os agentes económicos com acti-vidades consideradas prioritárias.
períodos de entre 6 e 12 meses.Alocar reservas em divisas para importação dos bens es-senciais, segundo orientação dos órgãos competentes.
subsidiadas, investimentos com comparticipação do Estado, tarifas
-
-
---
5. SOLIDARIEDADE E COMPARTICIPAÇÃO NOS
CUSTOS DA CRISEA crise que será também humanitária, requer solidariedade e genero-sidade de todos: Estado, agentes económicos e cidadãos.
Sobre o Estado: -
--
dade económica. Aceitar mudanças na alocação de recursos, nos procedi-
e o controle da execução, evitando desvios e corrupção.
Assegurar, parte dos salários dos trabalhadores desem-pregados, em proporção a acordar por sector e conforme os níveis salariais, de modo a que a crise não gere mais
importante dos custos da crise.Sobre as empresas
mercados, subindo os preços e obtendo lucros extraordi-nários.Garantir parte dos salários evitando despedimentos.
-ponder à demanda de determinados bens e serviços.
Sobre os cidadãos.-
-dimentos, etc.
--
Em situação de crise, surge geralmente o agravamento do pequeno e grande crime, comportamentos não éticos, aproveitamento dos de-
se destinavam e corrupção. Estas situações exigem vigilância dos ci-
policial e tribunais de crise para resolução rápida dos casos de ilega-lidades. As forças policiais devem ser formadas e informadas sobre novas situações e formas de ilegalidade e desordem.
-
--
abertura ao diálogo e inclusividade dos cidadãos da sociedade civil e de outras forças políticas.
-
-
-tério.
6. INSTITUIÇÕES PARA A CRISE--
capacidade de análise em cima dos acontecimentos de forma a se to-
capacidade de coordenação intersectorial, muitos recursos adicionais
das irregularidades. As funções do Estado em exercício normal, pos-
E, situação de crise, o Estado deve reforçar as funções de planeamento,
-senvolvam as suas actividades em condições de mercados desestru-
26 Savana 03-04-2020DIVULGAÇÃO
turados e para que os cidadãos desempenhem as funções no quadro dos comportamentos sociais e das actividades económicas e sociais indispensáveis.Assim, sugere-se que s -nistérios mais relacionados com a situação de pandemia. Estes gabi-netes teriam como funções:
Assessorar os centros de decisão para a tomada de medidas urgentes e extraordinárias.
-tos administrativos ou que os substitua temporariamente por outras formas de tomada de decisões e alocação de recursos.
respectivo sector.
a crise com os departamentos do ministério e com outros ga-binetes de risco de outros ministérios.Negociar com os agentes económicos as acções e actividades decididas, assim como negociar ou informar acerca dos in-centivos e benefícios para as empresas.Monitorar a implementação das decisões de crise.
respectivo ministério e dos agentes económicos envolvidos em actividades relacionadas com a crise.
procedimentos administrativos e sobre decisões fundamen-tais de implementação de resoluções ministeriais relaciona-das com a crise.
-
Gabinete. -
mesmas funções dos gabinetes dos ministérios para as decisões go-
-ças e banca;
-mentos do Estado mais relacionados com a crise, individualidades
dos gabinetes de crise são indicados/nomeados/convidados pelo Ministro.
-
7. LIÇÕES DA CRISE
aa seguintes:
os vectores de transformações virais, incluindo o surgimento -
produtos que facilitem mudanças virais negativas e sistemas de produção e de produção mais amigas das pessoas e do ambiente. Em síntese é necessário repensar os modelos eco-nómicos de desenvolvimento.
-cados e os que pagam grande parte da factura das crises. Por isso, é importante repensar os serviços de segurança social,
sobretudo, modelos de crescimento criadores de emprego e autoemprego e de distribuição e redistribuição da renda na-cional.Em situações de crise, os países menos desenvolvidos, como Moçambique, são os mais afectados. É necessário criar reser-
fome, da subnutrição, com mais distribuição da renda, edu-
negativos e não geríveis pelos governos nacionais.É necessário repensar o papel e as funções do Estado na eco-nomia e na sociedade moçambicana, evitando-se extremis-
-
por si próprios, não resolvem todos os problemas da socieda-de e da economia.
-ção das empresas, considerando também, o papel social.
--
as actividades económicas e socias mais directamente rela-
qualquer modelo de desenvolvimento.-
exequíveis, deixando de haver as chamadas governações de “navegação à vista”.A formação e informação das pessoas para uma cidadania activa, são fundamentais para a redução dos efeitos de epi-demias e pandemias. É necessário envolver solidariamente a sociedade civil e as empresas na implementação das resolu-ções.A governação tem de ser mais aberta ao diálogo, ser mais transparente, ser inclusivo nas decisões governamentais, e é
obrigatórias e com sancionamentos severos. Nestes casos é, -
cracia e autoritarismo, entre liberdades individuais e com-promissos colectivos, entre deveres e obrigações dos cida-dãos e direitos humanos.É essencial, encontrar-se um balanceamento adequado entre os limites extremos e a negociação permanente entre os di-
povo.
8. A QUESTÃO CHAVEA questão-chave é como estancar a pandemia em condições de ex-
diariamente e a consequente necessidade de trabalho diário, recur-
para cumprir as medidas de precaução sociais? A resposta passa por assegurar o cumprimento das regras de con-
garantir o funcionamento dos sectores económicos fundamentais
-mentos e comportamentos de aproveitamento económico. Para isso,
-doras.
-do, é absolutamente necessário o apoio da comunidade internacio-
-
31 de Março de 2020
27Savana 03-04-2020 OPINIÃO
Pedro Madruga (Texto)
Ilec Vilanculos (Fotos)
Não sei que bicho mordeu ao célebre escritor Josep Corand ao ponto
de no livro O CORAÇÃO DAS TREVAS colocar na boca do si-
nistro personagem Kurtz um molho de palavras infames, que hoje
decidi recordar: «exterminem todas as bestas». Contextualizando
o que disse Kurtz, não seria difícil nomear as bestas deste mundo:
Bolsonaro, Trump e Johnson, por mérito próprio estariam na linha da frente.
Cada cabeça uma sentença, reza o adágio! O lado curioso disto é não haver
um preto na lista. A imbecilidade, por muitos séculos, foi atribuída aos negros.
Covid-19 é o nome do Juiz que abre, em parangonas, as notícias que gover-
nam o mundo, se tivermos sorte reinará por mais alguns meses.
Quem está alheia às bestas e a mentira é a senhora que atravessa a rua, com
uma criança ao colo. Chama-se Teresa Mondlane. Teresa percorre os becos do
subúrbio, carregando uma bacia de peixe à cabeça. À medida que o passo lento
de Teresa acaricia a terra, sempre ouvido atento ao chamado dos clientes, um
líquido atrevido salta da borda da bacia azul e cai sobre a cabeça descoberta
do pequeno. Se fosse água da chuva, diríamos que é uma bênção, o que infe-
lizmente é um baptismo que ninguém merece. Olhei para Teresa pela segunda
vez e apercebi-me que ela estava atenta à minha chamada. Sem jeito pedi dois
quilos. «Não tenho dinheiro trocado, freguês», - alertou-me. Usei o que podia
pagar a nota azul, antes que Samora zangue comigo. As más línguas dizem
que ele anda de costas voltadas ao edil Eneas Comiche…
No dia que a senhora Namashulua cruzar o vosso caminho, caros leitores,
perguntem-lhe quando é que vai mandar trocar o currículo escolar. Tenho
umas ideias na manga, nem que para isso tenha de convidar Jorge Ferrão a
prestar-me consultoria.
«Uff, aleluia! O terrível coronavírus foi erradicado» foi a mentira que muitos
«desconseguiram» contar esta semana, em vários cantos do mundo, a propósi-
to do dia 1 de Abril. Alberto Vaquina, Aires Aly, Verónica Macamo e o meu
amigo Salomão Dzovo bem tentaram, mesmo com o pedido de ajuda ao ex-
homem forte do Tribunal Administrativo Machatine Munguambe e ao presi-
dente do Tribunal Supremo. Debalde!
Luís Mondlane, juiz conselheiro do Tribunal Supremo, antes de ceder o seu
lugar a Hermenegildo Gamito ficou conhecido pela renúncia ao cargo no
Conselho Constitucional, por conta de um escândalo de corrupção. Eu e
Gamito aproveitamos contar-lhe o filme do ZÉ GALINHA e, pelos vistos,
gostou.
Amigos meus, por favor digam ao Mr. Kurtz que gostei mesmo maningue do
distanciamento social entre Ericino de Salema e Ossufo Momade. E nestes
tempos de estado de emergência, quem está em casa, como eu, aproveite ler
um bom livro!
Mentiras de Abril!
À HORA DO FECHOwww.savana.co.mz o 1369
Diz-se... Diz-se
www.savana.co.mz
Foto: Ilec Vilanculos
O banco Absa registou um lucro líquido de pouco mais de 1.048 milhões de meti-cais, no exercício de 2019,
uma queda de 15,3% se comparado
ao idêntico período anterior, anun-
ciou o banco nesta segunda-feira.
Segundo uma nota do banco, a re-
dução dos lucros em 15,3% é jus-
tificada pelos investimentos no
processo de “mudança de marca e
separação operacional”.
“Em 2019, incorremos num con-
junto de custos com a separação
estatutária do Barclays PLC, que
ascendeu a 279 milhões de Meticais
e impactou o desempenho estatutá-
rio”, sublinha o banco.
-
-Barclays Bank Moçambique
adoptou a designação Absa Bank
Moçambique, na sequência de uma
decisão tomada em 2018 pela em-
presa-mãe, o grupo Absa, com sede
em Joanesburgo e com presença em
12 países em África.
Segundo o relatório do banco, no
processo de mudança de nome, a
instituição incorreu em custos com
a agências e sede, cartões de débi-
to e crédito, plataformas, sistemas e
formulários. Substituição dos siste-
mas de monitoria do crime finan-
ceiro, mudanças de plataformas de
integração entre bancos e grandes
clientes e implementação de novo
sistema de gestão de capital humano
foram outros dos investimentos que
impactaram nos lucros do banco no
Outras operações De acordo com o relatório do banco,
os empréstimos a clientes aumenta-
ram 32,5%, “materialmente acima
linha estiveram os depósitos de
clientes, que cresceram 14,7%.
receita aumentou 2% e rácio de sol-
vabilidade está acima de 20%, “con-
tinuando como um dos bancos mais
sólidos do mercado”.
-
tram o crescimento e a consolida-
ção da posição do Absa no mercado
financeiro nacional e a contribui-
ção da operação em Moçambique
banco, fazendo notar que o rácio
de liquidez é dos mais elevados do
mercado, “em linha com a estratégia
alicerçada em níveis robustos de ca-
pital e liquidez e a abordagem pru-
dente adoptada pela Administração,
mas com foco contínuo no desem-
penho financeiro e na satisfação dos
clientes”.
o crescimento do balanço acima do
mercado foi resultado da melhoria
dos níveis de serviço e de uma ofer-
ta de produtos adequada às necessi-
dades dos clientes, sendo que ambos
potenciaram um aumento do envol-
vimento bancário por Cliente.
Para Rui Barros, Administrador
desempenho do Absa Bank Mo-
de 2019, deveu-se, em grande me-
dida, aos programas implementados
pela Gestão para o aumento da efi-
ciência e incremento do volume de
negócios, contribuindo, assim, para
o crescimento da receita e para o re-
sultado líquido acima de um bilião
de meticais.”
Rui Barros destacou ainda que,
“embora 2019 tenha sido um ano
de desafios para o sector financeiro,
marcado pela ocorrência de desas-
tres naturais, que impactaram ne-
gativamente na economia, o desem-
penho do Absa Bank Moçambique
foi fantástico na forma como com-
binou um conjunto de resultados
financeiros tão sólidos, num ano em
tecnológica, enquanto teve ainda
que gerir as adversidades sentidas na
economia nacional e, em particular,
no sistema financeiro.”
Actualmente, o Absa possui 756
colaboradores (51% homens e 49%
mulheres), uma redução em 38
-
co possui 44 agências em todo o
país, dos quais 19 estão na cidade
e província de Maputo. A segunda
província com maior número de
agências é Sofala (5), seguida de
esquecida do país, aparece na cauda
com apenas um balcão.
Lucros do Absa caem 15,3%
Com a verdadeira pandemia económica que já nos bate à porta,
bem mais grave que os 10 infectados “descobertos” até agora, há
uns iluminados que se sentam numa sala climatizada e decidiram
produzir um selo electrónico para mercadorias em trânsito, uma
espécie de kudumba-2 para alimentar os bolsos de uns tantos. A
começar pelo partidão que gosta sempre de comer neste tipo de
da mola cá do sítio decidiram-se pelo aumento do “prime rate”,
vem nos acordos de crédito.
pistolões fumegantes ao banqueiro mais governamental da pra-
ça. Para lá das importações decorrentes do capital accionista, há
apostas na juventude prata da casa. Benvindos…
E no banco com as três primeiras letras do alfabeto, em tempos
proscrito do Barclays lá terá que esperar por melhores dias à es-
pera que o Equity Group decida abrir os cordões da bolsa.
camião de 8 ton. e “permit” para comprar no “jone”o que se podia
produzir por cá. Mal está aquela mãe de cinco filhos que dorme
com a Alfândega e a bófia e passa no “chapa” da noite com 10
favos de ovos na cabeça “guevando” a vida. Agora vai ser a prova
dos nove se o governo é ou não refém dos informais do “comércio
antes de haver espigas libanesas implantadas na Matola…
aos seus trabalhadores. Mas há um idiota, pago com os impostos
dessas mesmas empresas que, na senda dos constipados que ficam
-
te, o tal acha que não pode haver férias à custa do covid-19, por-
que isso não são férias de verdade. País da marrabenta mesmo …
Pela banda dos escribas, a boleia do corona que foi mesmo uma
carona para justificar problemas de tesouraria, está a levar a que
eventualmente, os homens da pena, nesta momento crucial das
suas vidas, tenham que abandonar os seus tradicionais blocos de
notas para evitar o covidis-19. Pior, só o boato da proibição da
E o corona, no dia das mentiras, por causa de uma vírgula mal
colocada na alínea g do nr. 2 do artigo 3, deu carta branca à po-
lícia da capital para um pente fino sobre o comércio geral quando
a medida era apenas para “centros de diversão”. Já para não falar
-
to errado da aplicação do estado de emergência. Ao menos pela
presidência, é só tirar uma nova cópia digital corrigindo a asneira
inicial nos comunicados para a imprensa.
-
do Sul, dos 38.409 testados, temos 1,326 positivos, o equivalente
-
tado 38,409 teríamos, teoricamente, recorrendo aos 3,7%, 1.421
casos positivos entre nós, comparativamente aos outros países vi-
de testes que Moçambique faz.
Com o Estado de Emergência também vão se fazendo algumas
-
em que falham…
Savana 03-04-2020 EVENTOS1
o 1369
EVENTOS
Através do programa “Contribuindo para a prevenção e resiliência comunitária contra o
novo Coronavírus em Moçam-
bique”, o Centro para Democra-
cia e Desenvolvimento (CDD)
e o Centro de Aprendizagem e
Capacitação da Sociedade Civil
(CESC) está a promover cam-
panhas de sensibilização das
pessoas sobre a pandemia da co-
vid-19, numa altura em que Mo-
çambique contabiliza dez casos
confirmados, de um total de 267
testados até 31 de Março.
Com as campanhas de sensibiliza-
ção, o CDD e CESC pretendem
contribuir para a redução da ve-
locidade da propagação do novo
coronavírus no território nacional,
evitando-se assim o congestiona-
mento do Sistema Nacional de
Saúde.
“Atendendo à incapacidade que as
poucas unidades sanitárias existen-
tes em Moçambique têm de gerir
doentes com a covid-19, o CDD
entende que o descongestionamen-
to das unidades sanitárias pode-
rá salvar muitas pessoas e poupar
os poucos recursos do Estado tão
necessárias para áreas prioritárias.
Cidadãos bem informados sobre o
coronavírus, incluindo sobre as for-
mas de prevenção, podem mudar
os seus hábitos de higiene e evitar
a propagação da doença nos seus
meios”, explicou Adriano Nuvunga,
director do CDD.
Um estudo recente feito pela Im-
perial College do Reino Unido
prevê um cenário catastrófico para
Moçambique, se o país não tomar
medidas urgentes de prevenção da
covid-19. O estudo faz notar que,
no pior cenário, o novo coronavírus
pode infectar 94% da população e
o número de mortes pode atingir
entre 61.000 e 65.000. No pico da
pandemia, 190.000 moçambicanos
podem precisar de atendimento
hospital, causando o congestio-
namento do Sistema Nacional de
Saúde.
Covid-19
Línguas nacionais As campanhas de sensibilização in-
cluem a difusão de mensagens em
português e em 13 línguas nacio-
nais, através das redes sociais e de
rádios comunitárias, para a popula-
ção em geral. Várias figuras públi-
cas, como activistas sociais e defen-
sores de direitos humanos, actores
e músicos já gravaram mensagens
de sensibilização em línguas nacio-
nais, nomeadamente, Xichangana,
Cicopi, Citshwa, Cisena, Cindau,
Shona, Cinyungue, Emakhuwa,
Elomwe, Cinyanja e Swahili. Es-
sas mensagens são difundidas, em
formato de vídeo, nas redes sociais
e, em formato de áudio, passam
nas rádios comunitárias que usam
essas línguas, atingindo milhões de
moçambicanos que de outra forma
não teriam acesso a informações
relevantes sobre as medidas de pre-
venção da covid-19.
O programa é de âmbito nacional,
mas tem como foco a cidade de
Maputo e as províncias de Maputo,
Gaza e Inhambane. A escolha des-
ta região do país não foi por acaso:
cerca de 23 mil moçambicanos que
regressaram ao país devido ao blo-
queio total (lockdown) na África
do Sul são oriundos da zona sul,
sobretudo das províncias de Gaza e
Inhambane.
“A maioria dos trabalhadores das
minas da África do Sul que regres-
sou depois do início da implemen-
tação de medidas de isolamento so-
cial naquele país, não está a cumprir
a quarentena. Isto pode constituir
um grande risco para as comuni-
dades da região sul do país, zona
de origem de muitos mineiros. Por
isso, as nossas campanhas de sensi-
bilização têm como foco esta região
do país”, disse Nuvunga.
Para fazer face à chegada massiva
de mineiros que não cumprem com
a quarentena, o CDD alugou 10
viaturas equipadas com megafones
que circulam por toda a província
de Gaza difundindo mensagens
sobre a importância da observância
de quarentena e de outras medidas
de prevenção da pandemia da co-
vid-19. Além de Gaza, o CDD está
a promover uma campanha seme-
lhante em Inhambane, onde traba-
lha com oito viaturas. Através de
megafones, vários activistas estão
a mobilizar os mineiros a ficarem
em quarentena para protegerem as
suas famílias e as comunidades do
coronavírus.
Através de uma parceria com a
Federação Moçambicana das As-
sociações dos Transportadores Ro-
doviários (FEMATRO), o CDD
faz chegar as mensagens a todos os
transportadores de passageiros no
país. O director do CDD aponta
para os transportes de passageiros
como factor de risco de propagação
da covid-19. “Os transportado-
res não têm a consciência da res-ponsabilidade que carregam para evitar a propagação da doença. Diariamente, eles transportam e contactam com centenas de pes-soas, propiciando a rápida propa-gação da doença. Por isso, estamos a trabalhar com a FEMATRO para sensibilizar os transportadores de passageiros”. Além da FEMA-TRO, o CDD está a trabalhar com a Associação Provincial dos Trans-portadores de Gaza (ASTROGA-ZA). “Neste momento, temos 21 viaturas de transporte de passagei-ros da ASTROGAZA que já estão a passar as mensagens de sensibili-zação contra a covid-19, sobretudo a necessidade de respeito da lotação e do distanciamento exigidos. Mui-tos mineiros regressados da África do Sul vão usar estes transportes para movimentar-se na província, por isso é importante que os trans-portadores passem mensagens de sensibilização”, disse o director do
CDD. Durante a semana, a campa-
nha será alargada para a província
de Inhambane.
As mensagens de sensibilização são
produzidas de acordo com os prin-
cípios da Organização Mundial da
Saúde (OMS) e com as normas e
boas práticas divulgadas pelo Mi-
nistério da Saúde. Os conteúdos
são difundidos em vários formatos,
como panfletos, cartazes, vídeos e
áudios.
O programa “Contribuindo para
a prevenção do novo Coronavírus
em Moçambique” é implementa-
do pelo CDD em parceria com o
CESC.
CDD e CESC na linha de frente
Carlos Mula, coordenador provincial do CDD em Gaza, em plena actividade no Mercado Limpopo, Xai-Xai
Savana 03-04-2020EVENTOS2
O Millennium bim foi dis-
tinguido com o Prémio
“Melhor Banco de Mo-
çambique 2020” pela
Global Finance, uma conceituada
revista internacional de informa-
ção sobre mercados financeiros e
análise do sector bancário mun-
dial.
Esta é 11ª vez, consecutiva, que o
bim é reconhecido e seleccionado
pelos editores da revista e reputa-
dos analistas do sector, tendo com
base os critérios de rentabilida-
de, crescimento e eficiência, bem
como outros padrões que avaliam
a estratégia, a liderança, a capaci-
dade de inovação e a responsabili-
dade social adoptada pelo Banco.
A presente eleição foi ainda re-
forçada por um estudo de opinião
junto dos leitores da revista, entre
os quais se encontram líderes de
opinião do mercado financeiro
internacional, seguradoras de cré-
Millennium bim eleito melhor banco pela 11ª vez
A empresa Água das Região de Maputo
(AdeM) passou, desde a passada sexta-
-feira, a fornecer água potável 24 horas
por dia, uma materialização do “Projecto
de Abastecimento de Água 24 Horas”, enquadra-
do no Programa Acelerado Integrado de Redução
de Perdas (PAIRP). Com a arranque sexta-feira
passada estão abrangidos cerca de 13 mil consu-
midores, mas o projecto prevê o fornecimento de
água a um total de 30 mil clientes, até ao final do
presente ano.
João Francisco, director da Área Operacional da
Matola, disse que, com o projecto, pretende-se que
gradualmente se forneça água a cerca de 30 mil
clientes, localizados nos bairros de Djonasse, Dju-
ba, Matola-Rio, Beleluane, Trevo, Machava-Sede,
Acordos de Lusaka, Tchumene, bem como a área
operacional de Laulane e a Vila Olímpica, Central
C, Alto-Maé e Costa do Sol.
“Está previsto para este ano cobrir mais 17 mil
clientes na nossa carteira e esperamos que até ao
fim do ano tenhamos 30 mil clientes a receber
água 24 horas por dia. A nossa expectativa até
2023 é de que cerca de 200 mil clientes já tenham
água de forma contínua, o que representa aproxi-
madamente 50 por cento daquilo que é da nossa
carteira de clientes”, explicou João Francisco.
Por sua vez, Isabel Zandamela, residente no bairro
Djuba, referiu que receber água 24 horas por dia,
já é uma realidade.
“Esta iniciativa vai ajudar as pessoas que não têm
condições para comprar água mineral, pois já te-
mos água potável para o consumo. No âmbito das
acções de prevenção do novo Coronavírus nós
precisamos de água para lavar as mãos constante-
mente”, disse Isabel Zandamela.
Félix António, igualmente beneficiário, disse estar
satisfeito pelo facto de a AdeM passar a forne-
cer água 24 horas por dia aos residentes do bairro,
pois isto vai melhorar a qualidade de vida de cada
utente.
“Estou satisfeito por estarem a fornecer água sem
interrupções. Antes não tínhamos este benefício.
Agora já é uma realidade e 24 sobre 24 a água sai
limpa. É motivo de alegria”, manifestou-se Félix
António.
Importa referir que o PAIRP tem como objectivo
diminuir o índice actual de perdas em diferentes
sectores de 50 por cento para 19 por cento até
2023.
AdeM materializa projecto “Água 24 horas” A
Galp activou o seu Plano
de Contingência com me-
didas que contribuem para
travar a expansão do coro-
navírus, observando as orientações
emitidas pelo governo e pela Orga-
nização Mundial de Saúde (OMS).
Estas medidas, segundo a empre-
sa da área dos combustíveis, visam
garantir um ambiente de trabalho
adequado “para as nossas pessoas,
um serviço em segurança aos nos-
sos clientes e o reforço da resiliência
das nossas operações”.
Assim que eclodiu o surto da pan-
demia da Covid-19, a Galp tomou
medidas a nível global, incluindo
em Moçambique, como a suspen-
são das viagens de colaboradores,
com a excepção de casos de estrita
necessidade, a introdução progres-
siva do regime de trabalho a partir
de casa (home office) e de video-
conferência, bem como a suspensão
de eventos e reuniões sociais.
Nos postos de abastecimento, que
se mantêm todos em funciona-
mento e sem constrangimentos,
foi lançada uma campanha de sen-
sibilização e prevenção destinada
à população e foram reforçadas as
medidas de higienização e limpeza
das zonas mais críticas de contacto
com os clientes.
Foi ainda fixado um limite ao nú-
mero de clientes que podem aceder
em simultâneo ao interior das lojas
e indicações para a manutenção de
uma distância de segurança de 2
metros entre clientes. É ainda enco-
rajado o pagamento através de car-
tão bancário, sempre que possível.
A Galp sublinhou igualmente que
mantém o seu compromisso com
Moçambique e com o seu desenvol-
vimento económico e social, para o
qual o maior contributo é o desen-
volvimento dos projectos de inves-
timento em curso no país, como os
parques logísticos da Matola e da
Beira, cuja construção prossegue
no terreno, ou com os projectos da
Área 4 da bacia do Rovuma, que
continuam a progredir.
Humberto Luís lança a sua música intitulada “Co-ronavírus, Prevenção é a Salvação” nas principais
plataformas de download e strea-
ming, fruto do contrato assinado
recentemente com a MODIGI-
-distribuição digital.
Preocupado com a situação da
pandemia do Coronavirus, Hum-
berto Luís, na música, aborda so-
bre a importância de evitar o ví-
rus através de simples hábitos tais
como: lavar as mãos com água e
cada vez mais desafiado pela cres-
cente procura por serviços com
alto nível de segurança, comodi-dade no acesso a canais bancários, em tempo real e pela capacidade e rapidez de resposta”, justificou. Por sua vez, José Reino da Costa, PCE do Millennium bim, congra-tula-se com o galardão e dedica o Prémio aos que, no dia-a-dia, tra-balham com empenho e dedicação pelo melhor banco de Moçambi-que. “Estes prémios são reflexo da actividade do Millennium bim no mercado moçambicano e refor-çam o compromisso e a respon-sabilidade do Banco no desenvol-vimento económico e financeiro de Moçambique, bem como para a bancarização do país. Por outro lado, traduzem o elevado desem-penho de todos os colaboradores na procura de novas soluções para irem ao encontro das necessidades
e satisfação dos nossos Clientes”,
disse.
dito, empresas, correctores e con-
sultores seniores da área.
O Director Editorial Global Fi-
nance, Joseph Giarraputo, reco-
nhece que a selecção dos melhores
bancos do mundo é cada vez mais
difícil. Acrescentando ainda que
“As expectativas dos Clientes nun-
ca foram tão altas e isto deve-se à
sua exigência para com o sector
bancário. O sistema financeiro é
sabão ou com cinza, aplicar álcool
nas mãos, entre outras medidas de
prevenção.
Na música, ele chama a consciên-
cia de que o vírus que assola o
mundo “não escolhe idade, raça ou
cor”, por isso deve ser preocupação
de todos.
Humberto Luís é jovem mo-
çambicano, natural da cidade de
Maputo, nascido no bairro do
Chamanculo. Ele sempre teve a
música como sua paixão e Ivo Ma-
hel como motivador para engrenar
no mundo musical.
Ficou nacional e internacional-
mente conhecido, após lançar a
música “Você Não Vale Nada’’, e desde então nunca mais parou.
Também lançou as músicas “Per-dão”, “Já Tenho Dona”, “Te Amo”,
“A Ni Guenti Hi Wena”, “Amor
Perfeito” ao lado da Mimae,“Hoje Choras” e para além da música
sobre Coronavírus, recentemente lançou “Não Planejei, Aconteceu”
que está a ser um sucesso.
“Coronavírus, prevenção é a salvação”
Galp reforça prevenção contra Covid-19
A mediacoop, SA informa os seus clientes que, desde dia 10 de Agosto de 2018, tem disponível o jornal SAVANA e o diário electrónico mediaFAX no seu telemóvel, PC e tablet. Para o fazer, aceda à nossa plataforma pelo link https://www.jornal.savana.co.mz O envio aos assinantes da cópia PDF será descontinuado nessa data. Os assinantes com contrato em dia, receberão as senhas de acesso fornecidas pelo nosso Departamento Comercial.
Para mais informações contacte-nos:Avenida Amílcar Cabral n.º 1049 R/C Maputo
E-mail: [email protected] ou [email protected]: 84 2272591 | 82 3171100 | 21 301737
Direcção Comercial
mediaFAX e
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+258 874441444
Savana 03-04-2020 EVENTOS3
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Savana 03-04-2020EVENTOS4
O Banco Moza acaba de anunciar medidas de pre-venção contra a Covid-19, numa altura em que Mo-
çambique registou, até esta quarta-
-feira, 10 casos de infecção por este
vírus. Para o Moza, a rápida evo-lução da Covid-19, recentemente declarado pandemia pela Organi-zação Mundial da Saúde (OMS), deve colocar todos em alerta e pre-cavidos, de modo a mitigar o risco de contágio e propagação.
Preocupado com a segurança e bem-estar de todos os seus cola-boradores, clientes, parceiros e da comunidade em geral, o Moza tem estado a monitorar atentamente o evoluir da situação e a implemen-tar proactivamente um conjunto de medidas alinhadas com as re-comendações da OMS e com as medidas extraordinárias decretadas pelo Governo. Das várias medidas anunciadas, destaca-se a divulgação de infor-
mação e medidas preventivas so-
bre a Covid-19 aos colaboradores,
clientes, e público em geral, através
dos respectivos canais de informa-
ção, bem como reforço dos proce-
dimentos de limpeza e desinfecção
das instalações, agências, ATM e
quiosques. O Banco determinou a
obrigatoriedade de uso de máscaras
de protecção por todos os colabora-
dores no atendimento aos clientes
e o uso de luvas no manuseamento
de dinheiro.
“Não obstante este cenário carac-
terizado por algumas restrições,
gostaria de reafirmar que todos os
nossos balcões continuam abertos
e a funcionar no horário habitual.
Contudo, o nosso apelo é para que
se privilegie o uso dos meios di-
gitais (Moza Net, Moza Mobile
e Moza Já-USSD) ou telefónicos,
para realizar operações bancárias
do dia-a-dia”, disse João Figueire-
do, PCA do Moza.
Figueiredo referiu, igualmente, que
caso os clientes não tenham ainda
aderido aos canais digitais do Ban-
co, podem fazê-lo de forma sim-
ples, rápida e gratuita, em qualquer
agência Moza.
E os que não conseguirem usar os
meios digitais, tal como fez refe-
rência o PCA do Moza, podem uti-
Moza recomenda uso de meios digitais nas operações bancárias
lizar as ATM ou quiosques digitais,
lembrando que a utilização destes
canais deve ser seguida de higieni-
zação e desinfecção das mãos.
“Devemos recorrer às agências
apenas em caso de absoluta neces-
sidade e evitar ao máximo o manu-
seamento de dinheiro, optando por
pagamentos com cartão”, frisou Fi-
gueiredo, alertando, entretanto, que
a eventual intensificação do uso dos
canais digitais poderá aumentar a
exposição a fraudes, pelo que de-
verão ser reforçados os mecanismos
de segurança online.
O Banco Comercial e de In-
vestimentos (BCI) intro-
duziu, nesta quarta-feira,
um conjunto de medidas
de âmbito financeiro que visam
ajudar os seus clientes a manter
a sua actividade e cumprir com
a suas responsabilidades perante
terceiros. As iniciativas do banco
visam mitigar e apoiar empresas
moçambicanas a fazer face aos
impactos da Covid-19
Para este efeito, o BCI definiu
medidas orientadas aos clientes
com financiamento em curso, em
situação regular, e que apresentem
dificuldades no pagamento das
prestações devido aos impactos da
pandemia do novo Coronavírus,
nomeadamente uma moratória de
até 6 meses no reembolso de ca-
pital e/ou no pagamento de juros.
“Esta facilidade está disponível
para diferentes modalidades de
financiamento de curto, médio e
longo prazo no BCI e tem sub-
jacente uma decisão simples e
rápida. As empresas interessadas
BCI cria medidas para mitigar impactos Covid-19em beneficiar destas medidas
poderão manifestar o interesse e
negociar com o Banco, entrando
em contacto com o seu gestor e
formalizando a adesão por cor-
reio electrónico. Esta forma de
comunicação, ainda pouco habi-
tual, foi adoptada com o objectivo
de minimizar as necessidades de
deslocação ao Banco, conforme
recomendado no actual contex-
to”, sublinhou o banco em comu-
nicado.
Segundo o administrador finan-
ceiro do BCI, Manuel Soares, as
facilidades devem vigorar por seis
meses, mas este prazo poderá ser
revisto mediante a evolução da
pandemia. Soares frisou que estas
medidas vêm acrescer o conjunto
de outras que o BCI tem vindo
a adoptar para ajudar os clientes
a lidar com a pandemia da Co-
vid-19, entre outras, a promoção
da utilização dos canais digitais
para a realização das operações
do dia-a-dia sem a necessidade
de se deslocarem às agências.