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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL
8,0
O PSICOPEDAGOGO E SUA INTERVENÇÃO NAS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
CARLA FERNANDA TRAMONTINI
ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO
PRIMAVERA DO LESTE/2013
AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INFANTIL
O PSICOPEDAGOGO E SUA INTERVENÇÃO NAS DIFICULDADES DE
APRENDIZAGEM
CARLA FERNANDA TRAMONTINI
ORIENTADOR: PROF. ILSO FERNANDES DO CARMO
“Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de Especialização em Psicopedagogia e Educação Infantil.”
PRIMAVERA DO LESTE/2013
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho de conclusão pós-graduação aos meus pais, irmãos,
familiares, marido e amigos que de muitas formas me incentivaram e ajudaram para
que fosse possível a concretização deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas do meu convívio que acreditaram e
contribuíram, mesmo que indiretamente, para a conclusão deste curso.
Aos meus pais, pelo amor incondicional e pela paciência. Por terem feito o
possível e o impossível.
Aos meus avós, que mesmo de longe sempre estiveram presentes ajudando
e torcendo pela concretização deste curso. Sem vocês, o sonho não seria possível.
Ao meu marido, por compreender a importância dessa conquista e aceitar a
minha ausência quando necessário.
A todos os familiares, tios, tias e primos que torceram e acreditaram na
conclusão deste curso, fico muito grata.
Aos amigos da turma “É uma festa” pelas agradáveis lembranças que serão
eternamente guardadas no coração, muito obrigado.
“O correr da vida embrulha tudo. Á vida é assim,
esquenta e esfria, aperta e depois afrouxa, aquieta e
depois desinquieta. O que ela quer da gente é
coragem. O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz de ficar alegre e amar, no
meio da alegria. E ainda mais no meio da tristeza.
Todo o caminho da gente é resvaloso, mas cair não
prejudica demais, a gente levanta, a gente sobe, a
gente volta”.
(João Guimarães Rosa em “Grande Sertão
Veredas”, 1956).
RESUMO
Considerando a escola responsável por grande parte da formação do ser
humano, o trabalho psicopedagógico na instituição escolar tem como caráter
preventivo no sentido de procurar criar competências e habilidades para solução dos
problemas com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com
dificuldade de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a
escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições
de ensino. Este trabalho surgiu da preocupação existente diante as dificuldades dos
alunos em que se faz construir seus próprios conhecimentos por meio de estímulos,
tem justamente o objetivo de fazer uma abordagem sobre a educação e a
importância do psicopedagogo diante da instituição escolar. O estudo do processo
de aprendizagem humana será feito e como suas dificuldades são desenvolvidas
pela Psicopedagogia, levando-se em consideração as realidades interna e externa,
utilizando-se de revisões bibliografias do conhecimento, integrando-os e
sintetizando-os procurando compreender de forma global e integrada os processos
cognitivos, emocionais, orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos que determinam
à condição do sujeito e interferem no processo de aprendizagem, possibilitando
situações que resgatem a aprendizagem em sua totalidade de maneira prazerosa.
Observou-se que o diagnóstico realizado pelas professoras está centrado
unicamente na produtividade que o aluno apresenta em sala de aula, outros
componentes do diagnóstico não são considerados, tais como a interação do aluno
com os colegas, as relações que ele estabelece com o seu entorno, o nível de
desenvolvimento proximal do aluno, as condições que são oferecidas pela escola,
família e comunidade para ajudar no seu desenvolvimento. Há também as
professoras que revelaram diagnosticar as dificuldades de leitura e de escrita
quando percebem que os alunos não lêem e não escrevem.
Palavras-chave: Aluno. Aprendizagem. Psicopedagogia.
SUMÁRIO
Introdução_________________________________________________________07
1. Psicopedagogia e aprendizagem_____________________________________10
2. Estratégias psicopedagógica e dificuldades de aprendizagem_______________12
3. Diagnóstico psicopedagógico________________________________________17
3.1 Etapas do diagnóstico_____________________________________________19
3.2 Entrevista familiar exploratório situacional_____________________________19
3.3 Entrevista de Anamnese___________________________________________19
3.4 Sessões lúdicas centradas na aprendizagem___________________________19
3.5 Provas e testes__________________________________________________20
4. O psicopedagogo e os aspectos da relação professor e aluno______________21
Considerações Finais________________________________________________26
Referência Bibliográfica______________________________________________28
INTRODUÇÃO
A psicopedagogia é basicamente reconhecida e entendida como um método
que contribui, juntamente com a psicanálise, pedagogia e a psicologia, para
participar na solução de problemas que surgem no contexto educativo, vindo estes,
do ambiente familiar, escolar, do meio social, econômico, cultural ou de outras
origens. Quando faz parte do ensino da escola, contribui para aquisição de
conhecimentos que são elaborados no processo de ensinar e aprender,
proporcionando ao aluno uma maneira gratificante e prazerosa para acontecer
aprendizagens, autonomia e emancipação. Trata o processo de aprendizagem suas
dificuldades humanas, considerando as realidades interna e externas à escola e
procura compreender as questões cognitiva, orgânica, social, familiar, emocional e
também o trabalho pedagógico como elementos relevantes de sucesso ou insucesso
para aquisição de aprendizagens.
Trata-se de apresentar uma reflexão sobre aspectos relativos ás dificuldades
de aprendizagem, bem como a importância da psicopedagogia em estabelecer
diretrizes para a resolução dessas dificuldades e a responsabilidade de educador
em proporcionar o bom desenvolvimento do processo esnsino-aprendizagem, o grau
de comprometimento psicomotor, e os fundamentos da psicopedagogia o presente
estudo está centrado na importância do psicopedagogo frente às dificuldades de
aprendizagem. Comecei a interessar pela presente temático logo que ingressei no
curso de psicopedagogia, ao perceber o quanto à educação de qualidade é
importante na formação do cidadão. Na escola que trabalho ali, convivendo com
professores, coordenadores e alunos, pude perceber que a educação escolar era
saída mais viável para escapar da situação de ignorância em que se encontrava a
maioria das crianças. A aprendizagem era entendida como acumulação de
conhecimentos onde cada professor cuida de sua disciplina, sem conexão com as
demais e sem levar em conta a experiência e os significados que os alunos haviam
construídos ao longo de suas experiências pessoais.
Nesse processo de busca e reflexão um questionamento sempre vinha à
tona: como educar sem que o processo educativo se transforme num instrumento de
manutenção da situação? O nosso maior cuidado é refletir sobre essas questões
sem colocar a culpa nos principais atores do processo educativo, os professores, os
alunos, e seus familiares. Sabemos que as transformações que estão ocorrendo no
mundo todo, em função do processo de reestruturação do capitalismo, têm exigido
que a sociedade refletisse sobre o papel do trabalho e do trabalhador frente às
mudanças que estão ocorrendo em níveis mundiais. O mundo do trabalho hoje
requer profissionais com maiores conhecimentos, uma cultura ampla e diversificada
prepara técnico, inclusive de forma interdisciplinar, sendo que estes fatores
determinarão sua inclusão ou exclusão no mundo do trabalho, dependendo da
educação recebida. Assim, as instituições de ensino e o trabalho docente não
ficaram imunes à realidade da globalização. O psicopedagogo usa o diagnóstico
psicopedagógico para detectar os problemas de aprendizagem. A Psicopedagogia
no Brasil está se consolidando, cada vez mais, num movimento de busca concreta
por respostas e alternativas aos problemas relacionados ao ato de aprender, que se
acumulam no cotidiano escola. A efetiva ação da Psicopedagogia tem se constituído
num espaço plural e multidisciplinar, à procura do conhecimento articulado entre o
psíquico e o cognitivo e as suas relações com a gênese da aprendizagem,
objetivando trabalhar com os distúrbios de aprendizagem e a oferta de sugestões
para a melhoria da qualidade do ensino. O psicopedagogo institucional diagnostica e
atua na resolução da crise do ensino, da aprendizagem, das relações entre
professores e alunos, das dinâmicas em sala de aula. Psicopedagogia voltada para
uma ação transdisciplinar tem como propósito o processo global da compreensão do
mundo presente, pela unidade do conhecimento e pela criação de uma nova forma
de viver. Compreender o grau de comprometimento das funções neuropsicomotoras
no quadro total da dificuldade de aprendizagem do aluno (paciente). Analisar as
Dificuldades de Aprendizagem; Conhecer os Fundamentos da Psicopedagogia e sua
Área de Atuação.
O título desse trabalho já contém em si mesmo a mensagem de que o tema
pode ser examinado sob vários enfoques porque inúmeras são as teorias para
explicar a aprendizagem humana e entre elas este trabalho destaca: a
comportamentalista, a cognitivista, a da mediação e a humanista com ênfase para a
abordagem psicopedagógica. Subjacentes a qualquer uma delas estão no sistema
de valores aos quais se pode chamar de filosofias ou visões de mundo.
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Mudanças na concepção de como a aprendizagem se dão acarretam
mudanças nas explicações acerca das dificuldades enfrentadas pelos alunos. As
explicações da psicopedagogia representam importantes contribuições seja para
compreender a dificuldades, seja para propor a intervenção adequada. O presente
trabalho surgiu da preocupação e da necessidade de melhor compreensão do
processo de aprendizagem humana e da identificação das dificuldades no processo
de aprender.
Veremos nos próximos capítulos que a psicopedagogia e aprendizagem
andam juntas, sendo as dificuldades, diagnósticos, e como lidar com essas
mudanças, e as estratégias psicopedagógicas segundo autores e seus relatos,
conversas com familiares, e chegar a uma conclusão.
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1. PSICOPEDAGOGIA E APRENDIZAGEM
O estudo psicopedagógico atinge plenamente seus objetivos? Sim quando,
ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de
aprendizagem daquele aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para
atender as necessidades de aprendizagem. Desta forma, segundo Heloysa Dantas
(1992) o fazer pedagógico se transforma, podendo se tornar uma ferramenta
poderosa no projeto terapêutico. No entanto, mudanças vêm ocorrendo, sobretudo
nos últimos anos. Dar conta da d0iversidade, do heterogêneo, possibilita o aprender
coletivo, a riqueza da troca, o aprender com o outro. O professor deixa de ser
apenas o difusor do conhecimento e vive o fazer pedagógico como o espaço para a
estimulação da aprendizagem.
A Psicopedagogia, segundo Simaia Sampaio Maia Medrado de Araújo
(2004), estuda o processo de aprendizagem e suas dificuldades, tendo, portanto, um
caráter preventivo e terapêutico. Preventivamente deve atuar não só no âmbito
escolar, mas alcançar a família e a comunidade, esclarecendo sobre as diferentes
etapas do desenvolvimento, para que possam compreender e entender suas
características evitando assim cobranças de atitudes ou pensamentos que não são
próprios da idade. Terapeuticamente a psicopedagogia deve identificar analisar,
planejar, intervir através das etapas de diagnóstico e tratamento.
Esta área de atuação também permite aos profissionais a análise do
processo de aprendizagem do ponto de vista do sujeito que aprende e da instituição
que ensina no que tange a seu decurso normal ou com dificuldades contribuir para o
crescimento dos processos da aprendizagem e auxiliar no que diz respeito a
qualquer dificuldade em relação ao rendimento escolar, também é do âmbito da
psicopedagogia, bem como de educadores em geral.
Ter conhecimento de como o aluno constrói seu conhecimento,
compreender as dimensões das relações com a escola, com os professores, com o
conteúdo e relacioná-los aos aspectos afetivos e cognitivos, permite uma atuação
mais segura e eficiente.
Segundo BOSSA (1994, p.23),
cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já que no caráter assistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.
Quando uma criança apresenta problemas no processo de aprendizagem
quando entra para a escola, estes podem acabar por se transformar em dificuldades
de aprendizagem, que afetarão o rendimento escolar da criança assim, importa
abordar as dificuldades de aprendizagem no que concerne à sua definição e
implicações. As dificuldades de aprendizagem podem resultar, segundo BOSSA
(1994, p, 23), da combinação de déficit de processamento fonológico, visual ou
auditivo, com consequências ao nível da reclamada ou da recuperação de dados de
informação, que se tornam lenta e pouco automatizadas. Estes déficit podem
expressar-se em dificuldades na aquisição da leitura, da escrita, do ditado, da
resolução de problemas, entre outros.
Todas estas dificuldades, segundo FONSECA & OLIVEIRA (2009), podem
conduzir a um comportamento impulsivo, sem planificação, incoerente, fragmentado
e inadaptado que pode acarretar dificuldades no aproveitamento acadêmico e no
relacionamento social. O professor como mediador do processo de ensino-
aprendizagem, precisa ser interventor na resolução de problemas e desenvolver um
trabalho consciente, que promova aprendizagens.
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2.ESTRATÉGIAS PSICOPEDAGÓGICAS E DIFICULDADAS DE APRENDIZAGEM
Para DANTAS (1992), a criança, na fase dos três a seis anos, quando está
iniciando a formação do caráter, fica muito mais fácil mostrar a relação com o adulto
e que ela pode fazer uso dele sempre que for necessário. A facilidade de acesso a
este poder que determinados seres humanos têm e que outros não tiveram a chance
de desenvolver que nos faz diferentes. Estamos acostumados a receber saberes
dependentes, pois nossos pais e professores nos ensinaram as leis que regem o
mundo segundo sua ótica, esquecendo-se de que cada ser humano pode ter uma
visão diferente sobre os mesmos assuntos. Todos os sistemas sociais, políticos e
econômicos estão fundamentados em experiências de alguém, portanto, revelam a
visão de mundo individual.
Para que a aprendizagem aconteça de forma significativa, é necessário que
todas essas funções estejam em perfeita harmonia e equilíbrio. Na sua
psicogenética, Wallon defende os aspectos afetivos, pois é de fundamental
importância para a construção do conhecimento e para o desenvolvimento pleno do
ser humano. (WALLON, 1968, apud DANTAS, 1992).
Também recebe influência da psicanálise, porém diferencia-se da psicologia
escolar nos aspectos: origem, formação e atuação. Quanto à origem, a psicologia
escolar tem como foco compreender as causas do fracasso escolar e a
psicopedagogia tem como função procurar as causas e tratar determinadas
dificuldades de aprendizagem específicas. Quanto à formação, a psicologia escolar
configura como uma especialização na área de psicologia, enquanto a
psicopedagogia é aberta a todos os tipos de profissionais e áreas de atuação. A
atuação da psicologia escolar configura especificamente como área psicológica e a
psicopedagogia age de forma interdisciplinar, abrangendo a psicologia e a
pedagogia.
Tendo como pressupostos básicos as teorias de Wallon e Vygotsky segundo
OLIVEIRA (1992), tais pesquisas, em linhas gerais, buscam identificar a presença de
aspectos afetivos na relação professor-aluno e as possíveis influências destes no
processo de aprendizagem.
A afetividade, por sua vez, tem uma concepção mais ampla, envolvendo
uma gama maior de manifestações, englobando sentimentos (origem psicológica) e
emoções (origem biológica). A afetividade corresponde a um período mais tardio na
evolução da criança, quando surgem os elementos simbólicos. Conforme WALLON,
apud OLIVEIRA (1992), é com o aparecimento destes que ocorre a transformação
das emoções em sentimentos. A possibilidade de representação, que,
consequentemente implica na transferência para o plano mental, confere aos
sentimentos certa durabilidade e moderação.
Aprendizagem não se restringe apenas a aprender a ler escrever. Porém
muitos alunos não conseguem ler e escrever na idade/série que se supõe que deva
dar a aprendizagem. Nisto são freqüentes as queixas de alguns professores de que,
a maioria de seus alunos, está com problemas relacionados ao grafismo e à leitura e
que não conseguem assimilar o conteúdo programático. Sabe - se que alguns
problemas de aprendizagem podem ser resultantes da interação da criança com o
seu meio. A nossa capacidade de concentração, de trabalho e de reflexão, segundo
FONSECA & OLIVEIRA (2009), altera-se dependendo de nosso estado emocional e
quando conseguimos um controle adequado do nível de nossa ansiedade, a
capacidade criativa, o pensar, o perceber e o aprender passa ter significados e a
partir de então, superamos nossas dificuldades. O ambiente familiar do aluno, neste
momento, se for acolhedor propicia a ele melhores condições para lidar com seus
impulsos agressivos e emocionais.
A capacidade de conseguir tolerar frustrações, segundo LOPES (2001), é
um dos fatores importantes para ser levado em conta pelos professores dentro da
sala de aula, pois o próprio ambiente escolar, quando não é capaz de superar
desafios, pode tornar-se motivador para acontecer falha no desenvolvimento da
aprendizagem e leva à defasagem, desarmonia, problemas afetivos/ emocionais e
ao baixo rendimento escolar. Isto causa elevado nível de tensão e de frustração, e
conseqüentemente, ocorre o desinteresse e eventualmente uma aversão
generalizada aos estudos, por conta do baixo fator afetivo promovido pela escola e
também pela família. O aluno precisa ter uma estrutura emocional controlada para
ser capaz de tolerar as cobranças impostas pela escola, pois muitas vezes é
obrigado a cumprir atividades que vem a partir de um currículo escolar
inquestionável, que não tem muito a ver com o momento, os anseios e suas
expectativas. São atividades que não contemplam as necessidades que a vida
requer para o aluno no diz respeito a um futuro promissor.
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A aprendizagem e a construção do conhecimento, segundo VITORIO (2011),
são processos naturais e espontâneos do ser humano que desde muito cedo
aprende a mamar, falar, andar, pensar, garantindo assim, a sua sobrevivência. Com
aproximadamente três anos, as crianças são capazes de construir as primeiras
hipóteses e já começam a questionar sobre a existência. A aprendizagem escolar
também é considerada um processo natural, que resulta de uma complexa atividade
mental, na qual o pensamento, a percepção, as emoções, a memória, a motricidade
e os conhecimentos prévios estão envolvidos e onde a criança deva sentir o prazer
em aprender.
Na aprendizagem mediada, segundo LINHARES (1995), enfatiza que os
eventos são selecionados, ordenados, filtrados e dotados de significado específico
por agentes mediadores, com o objetivo de modificar o repertório das crianças e
estimular a manifestação de níveis mais elevados de funcionamento, com o objetivo
de a criança revelar seu potencial para a aprendizagem. O estudo do processo de
aprendizagem humana e suas dificuldades são desenvolvidos pela Psicopedagogia,
levando-se em consideração as realidades interna e externa, utilizando-se de vários
campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os. Procurando
compreender de forma global e integrada os processos cognitivos, emocionais,
orgânicos, familiares, sociais e pedagógicos que determinam à condição do sujeito e
interferem no processo de aprendizagem, possibilitando situações que resgatem a
aprendizagem em sua totalidade de maneira prazerosa.
Em nível preventivo, segundo BOSSA (1994), a Psicopedagogia tenta
detectar perturbações no processo ensino - aprendizagem, conhecer a dinâmica da
instituição educativa, orientar a instituição quanto à metodologia de ensino utilizada.
Isto, através de orientação de estudos e apropriação dos conteúdos escolares.
Pode-se concluir que o campo de atuação do psicopedagogo é a
aprendizagem, sua intervenção é preventiva e curativa, pois se dispõe a detectar
problemas de aprendizagem e "resolvê-los", também, prevení-los evitando que
surjam outros. Os alunos difíceis que apresentavam dificuldades de aprendizagem,
mas que não tinham origens em quadros neurológicos, numa linguagem
psicanalítica, não estruturam uma psicose ou neurose grave, que não podiam ser
considerados portadores de deficiência mental, oscilavam na conduta e no humor e
até dificuldades nos processos simbólicos, que dificultam a organização do
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pensamento, que consequentemente interferem na alfabetização e no aprendizado
dos processos lógico-matemáticos, demonstram potencial cognitivo, podendo ser
resgatados na sua aprendizagem.
Para FERNÁNDEZ (1990), a principal tarefa é ajudar as crianças a
recuperarem o prazer de aprender, pois o próprio fracasso pode causar falta de
confiança em si mesma, com seus subsequentes efeitos negativos sobre a
aprendizagem. Raramente, as dificuldades de aprendizagem têm origens apenas
cognitivas. Atribuir ao próprio aluno o seu fracasso, considerando que haja algum
comprometimento no seu desenvolvimento psicomotor, cognitivo, lingüístico ou
emocional (conversa muito, é lento, não faz a lição de casa, não tem assimilação,
entre outros.), desestruturação familiar, sem considerar, as condições de
aprendizagem que a escola oferece a este aluno e os outros fatores intra-escolares
que favorecem a não aprendizagem.
As dificuldades de aprendizagem na escola podem ser consideradas,
segundo RABELO (1993), uma das causas que podem conduzir o aluno ao fracasso
escolar. Não podemos desconsiderar que o fracasso do aluno também pode ser
entendido como um fracasso da escola por não saber lidar com a diversidade dos
seus alunos. É preciso que o professor atente para as diferentes formas de ensinar,
pois, há muitas maneiras de aprender. O professor deve ter consciência da
importância de criar vínculos com os seus alunos através das atividades cotidianas,
construindo e reconstruindo sempre novos vínculos, mais fortes e positivos. O aluno,
ao perceber que apresenta dificuldades em sua aprendizagem, muitas vezes
começa a apresentar desinteresse, desatenção, irresponsabilidade, agressividade,
etc. A dificuldade acarreta sofrimentos e nenhum aluno apresenta baixo rendimento
por vontade própria.
Durante muitos anos os alunos foram penalizados, responsabilizados pelo
fracasso, sofriam punições e críticas, mas, com o avanço da ciência, Para KAPLAN
e SADOCK (1993), crianças que apresentam problema no desenvolvimento da
escrita têm como características recusam ou relutância em frequentar a escola, fazer
a lição de casa e desinteresse geral pelo trabalho escolar. Normalmente, fica hoje
não podemos nos limitar a acreditar, que as dificuldades de aprendizagem, seja uma
questão de vontade do aluno ou do professor, é uma questão muito mais complexa,
onde vários fatores podem interferir na vida escolar, tais como os problemas de
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3. DIAGNÓSTICO PSICOPEDAGÓGICO
Quando falamos em diagnóstico, pensamos logo em análise, porém, segundo
BOSSA (2000, p. 24), só podemos analisar algo se pudermos encontrar o que
estamos analisando. Por esta razão quando dizemos que estamos fazendo um
diagnóstico temos que saber o que estamos diagnosticando, para que estamos
diagnosticando e por que diagnosticar. Isto nos leva apensar que iremos analisar o
problema de aprendizagem durante o diagnóstico psicopedagógico.
Quando pensamos em problema de aprendizagem imaginamos as várias
faces que podem compor este problema: Qual a ordem deste problema? Familiar?
Da escola? Do sujeito? Da sociedade? De todos estes fatores associados? Para que
se possa compreender qual o tipo de problema existente é necessário que o
psicopedagogo esteja atento buscando todas as pistas possíveis. O olhar
psicopedagógico, tem que buscar as respostas para as perguntas: Por que este
sujeito não aprende? Ou por que ele não está conseguindo utilizar suas
potencialidades em toda a plenitude? Ou o que está impedindo de se desenvolver?
Não são respostas simples de serem encontradas, mas pode ser possível encontrá-
las. Precisamos ver aquilo que não está visível, ver o que está dito na entrelinha, no
silêncio, na intenção. É olhar a queixa trazida, pelos responsáveis, pelo professor,
pelo próprio sujeito, para o atendimento psicopedagógico com os olhos de
Psicopedagogo: um olhar transdisciplinar, construído. Esta construção precisa partir
do que já se sabe; do conhecimento anterior. É construir o presente visualizando o
passado com os olhos no futuro. É este o olhar psicopedagógico.
A partir do momento que nos dirigimos, com este olhar, a alguém que veio a
nossa procura já não conseguimos mais ouvir somente porque buscamos sentido
naquilo que ouvimos, isto é, a escuta Psicopedagógica. Buscamos o sentido da
queixa e nos questionamos: por que estão buscando ajuda agora? O que está
acontecendo com esta família? O que tem na sua fala que não está sendo dito?
Segundo PIAGET (1973), a aprendizagem só se dá com a desordem e
ordem daquilo que já existe dentro de cada sujeito. É necessário obter contato com
o difícil, com o incomodo para desestruturar o já existente e em seguida estruturá-lo
novamente, com a pesquisa e também motivações tanto intrínseca como extrínseca
para obter a aprendizagem, ressaltando que a motivação intrínseca é mais
importante porque o sujeito tem que estar interessado em aprender, sendo que a
junção dos dois (intrínseca e extrínseca) formam importantes aliados para a melhor
aprendizagem do sujeito.
Esta investigação permanece durante todo o trabalho diagnóstico através de
intervenções e da “escuta psicopedagógica...” para que “se possa decifrar os
processos que dão sentido ao observado e norteiam a intervenção.” (BOSSA, 2000,
p. 24). Durante o diagnóstico psicopedagógico, o discurso, a postura, a atitude do
paciente e dos envolvidos são pistas importantes que ajudam a chegar às questões
a serem desvendadas.
Estar atentos no que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e
expectativas com relação ao desenvolvimento do filho são de grande importância
para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. Vale lembrar o que diz BOSSA
(1994, p. 74), sobre o diagnóstico:
O diagnóstico é um processo contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito.
Às vezes, quando o fracasso escolar não está associado às desordens
neurológicas, a família tem grande participação nesse fracasso. Percebe-se nos
problemas, lentidão de raciocínio, falta de atenção, e desinteresse. Esses aspectos
precisam ser trabalhados para se obter melhor rendimento intelectual.
A família desempenha um papel importante na condução e evolução do
problema acima mencionado, muitas vezes não quer enxergar essa criança com
dificuldades que muitas vezes está pedindo socorro, pedindo um abraço, um
carinho, para chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência. Esse vínculo
afetivo é muito importante para o desenvolvimento da criança. Sabemos que uma
criança só aprende se tem o desejo de aprender, e para isso é importante que os
pais contribuam nesse processo. (BOSSA, 1994, p. 74).
Sejam quais forem os instrumentos aplicados no diagnóstico das dificuldades
de leitura e de escrita não se pode perder de vista o condicionamento sócio
histórico: “Os instrumentos a serem utilizados devem prevê provas, observações,
entrevistas; e todos estes procedimentos devem estar contextualizados com a
realidade do aluno e do processo ensino e aprendizagem.” (BASTOS, 2001a, p.217).
18
3.1 ETAPAS DO DIAGNÓSTICO Existem diferentes modelos de sequência diagnóstica, como os que
trouxeram para a psicopedagogia a herança da clínica psicológica tradicional, cujo
diagnóstico é composto de anamnese (entrevista com a família buscando conhecer
a história do sujeito), testagem e provas pedagógicas, laudo (relatório) e devolução
ao paciente ou família, necessariamente nesta ordem, ou como a proposta da
Epistemologia Convergente de Jorge Visca (1987), em que a sequência diagnóstica
é composta de uma Entrevista Operativa Centrada na Aprendizagem (EOCA), testes
para averiguar a estrutura cognitiva e emocional, entrevista de anamnese e
elaboração do informe psicopedagógico para o sujeito e para a família. O
diagnóstico psicopedagógico é composto, de várias etapas que se distinguem pelo
objetivo da investigação. Estas etapas podem ser modificadas quanto a sua
sequência e maneira de aplicá-las, de acordo com cada prática psicopedagógica.
3.2 ENTREVISTAS FAMILIARES EXPLORATÓRIOS SITUACIONAIS
Jorge Visca (1987), visa, à compreensão da queixa nas dimensões da
escola e da família, a captação das relações e expectativas familiares centradas na
aprendizagem escolar, a expectativa em relação ao psicopedagogo, a aceitação e o
engajamento do paciente e de seus pais no processo diagnóstico e o esclarecimento
do que é um diagnóstico psicopedagógico.
3.3 ENTREVISTA DE ANAMNESE
Para Jorge Visca (1987), é uma entrevista, com foco mais específico,
considerada como um dos pontos cruciais de um bom diagnóstico, visando colher
dados significativos sobre a história do sujeito na família, integrando passado,
presente e projeções para o futuro, permitindo perceber a inserção deste na sua
família e a influência das gerações passadas neste núcleo e no próprio.
3.4 SESSÕES LÚDICAS CENTRADAS NA APRENDIZAGEM
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Para Jorge Visca (1987), é fundamental para a compreensão dos processos
cognitivos, afetivos e sociais, e sua relação com o modelo de aprendizagem do
sujeito.
3.5 PROVAS E TESTES
Segundo Jorge Visca (1987), as provas e testes podem ser usados, se
necessário, para especificar o nível pedagógico, estrutura cognitiva e/ou emocional
do sujeito. O uso de provas e testes, não é indispensável em um diagnóstico
psicopedagógico, representa um recurso a mais a ser utilizado quando necessário.
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4. O PSICOPEDAGOGO E OS ASPECTOS DA RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO
Percebe-se nas salas de aulas que a maioria dos professores não está
preparada tanto no campo científico, metodológico ou político, na verdade eles se
preocupam mais em passar o conteúdo, e que o aluno aprenda o que foi dito por ele.
Ao considerarmos a aprendizagem com base nos pilares cognitivos e das
emoções, fazemos uso dos sentimentos envolvidos na relação professor-aluno e
como o processo de ensino é efetivado em função dessa interação. Se o professor
não si preocupa com a aprendizagem do aluno, no final do ano ele não terá uma
posição satisfatória. Falar da relação professor - aluno, segundo LUCKESI (1994, p.
117), é falar de relações humanas, é falar de alegria e da angústia do outro e até da
falta de interesse por parte do aluno e suas respectivas dificuldades. Cada um tem
uma história diferente, uma linguagem diferente, uma maneira diferente, um
incentivo diferente, esses elementos foram construídos pelas múltiplas relações da
realidade.
O aluno segundo LUCKESI (1994, p. 117),
[...] é um sujeito ativo que, pela ação, ao mesmo tempo se constrói e se aliena. Ele é um membro da sociedade como qualquer outro sujeito, tendo caracteres de atividade, sociabilidade, historicidade, praticidade.
Na relação educativa, dentro das práxis pedagógica, ele é o sujeito que
busca uma nova determinação em termos de patamar crítico da cultura elaborada.
Ou seja, é um ser humano que busca adquirir um novo patamar de conhecimentos,
habilidades e modo de agir. Mas, o próprio aluno não tem essa visão e muitas vezes
se angustia dentro da escola porque ao chegar ali traz de casa o auto-conceito e
autoestima a partir das relações que desenvolve com os pais ou pessoas de seu
convívio diário. O professor, em sala de aula, segundo LUCKESI (1994, p. 117), não
pode destruir essa relação. O educando não pode ser considerado, pura e
simplesmente, como massa a ser informada, mas sim como sujeito, capaz de
construir a si mesmo, desenvolvendo seus sentidos, entendimentos e inteligências, a
educação escolar não pode exigir uma ruptura com a condição existente sem suprir
seus elementos. Há uma continuidade dos elementos anteriores e, ao mesmo tempo
uma ruptura, formando o novo. O que o aluno traz de seu meio familiar e social não
deve ser suprimido bruscamente, mas sim incorporado às novas descobertas da
escola.
De acordo com BOSSA (2000, p. 14), “é comum, na literatura, os
professores serem acusados de si isentarem de sua culpa e responsabilizar o aluno
ou sua família pelos problemas de aprendizagem”, mas há um processo a ser visto,
às vezes, os métodos de ensino tem que ser mudados, o afeto, o amor, a atenção,
isto tudo influi muito na questão. Nesse caso, o psicopedagogo procura avaliar a
situação da forma mais eficiente e proveitosa. Em sua avaliação, no encontro inicial
com o aprendente e seus familiares, que é um recurso importantíssimo, utiliza a
“escuta psicopedagógica”, que o auxiliará a captar através do jogo, do silêncio, dos
que possam explicar a causa de não aprender.
O trabalho desempenhado pelo mesmo permite uma composição de
análises correspondentes a cada instituição escolar garantindo a elas uma melhor
qualidade de trabalho para os educadores e ainda estimular à desenvoltura de
relações interpessoais, a estabilidade de vínculos sócios afetivos, o emprego de
processos de ensino e aprendizagem compatibilizados com as concepções mais
atualizadas a respeito dos métodos de trabalho e planejamento por meio de um
envolvimento mais dinâmico com a equipe escolar, proporcionando acima de tudo
uma ampliação no modo de olhar o aluno em torno dos problemas que ocorridos em
torno de seu processo de aprendizagem. Está preparado para atender crianças e/ou
adolescentes que apresentam problemas de aprendizagem, com a função de
prevenir, diagnosticar e intervir, podendo sua atuação ocorrer em escolas, empresas
e clinicas.
Por meio do diagnóstico psicopedagógico, segundo VYGOTSKY (1988),
podem-se identificar os motivos que causam/causaram os problemas de
aprendizagem, tendo como instrumentos pedagógicos provas operatórias e
materiais pedagógicos em geral.
LIBÂNEO (1998), ressalta também que a vida contemporânea afeta as
práticas de convivência humana, ou seja, com os avanços dos meios de
comunicação mexem direto com o trabalho do professor, uma vez que os próprios
alunos levam o seu cotidiano, a rua, a cidade, a televisão e os problemas para a
classe. Desta forma, o professor precisa estar preparado para lidar com essas
diversidades, procurando reciclar seu conhecimento, rever o cotidiano e refletir
criticamente a realidade, buscando os fatores envolvidos. Cada criança mostra-se
como um ser único, com capacidades, limitações, motivações, habilidades, atitudes
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e interesses específicos. Diante desse universo de diversidades próprias do ser
humano, que o professor encontra na sala de aula, a intervenção psicopedagógica é
fundamental, pois na maioria das vezes, o professor não detém o conhecimento
necessário para conhecer cada criança na sua individualidade, principalmente por
ser grande o quantitativo de alunos que na maioria das vezes apresentam
problemas.
Segundo FERNÁNDEZ (1991)
Para resolver o fracasso escolar necessitamos recorrer principalmente ao plano de prevenção nas escolas batalhar para que o professor possa ensinar com prazer para que, com isso, seu aluno possa aprender com prazer, tende a denunciar a violência encoberta e aberta, instalada no sistema Educativo, em outros objetivos. (p.81-82).
De posse do diagnóstico o psicopedagogo e a escola, devem dirigir o ensino
não para etapas intelectuais já consolidadas, mas sim para estágios de
desenvolvimento ainda não alcançados pelos alunos, mas já iniciados no seu
processo de desenvolvimento. Assim, o psicopedagogo será o construtor da ponte
entre o que o aluno sabe e o que ele pode e deve aprender. Nesse percurso, é
necessário observar sempre as possibilidades das crianças e o nível de
desenvolvimento potencial de cada uma nessa perspectiva, o processo ensino-
aprendizagem na escola será construído a partir do nível de desenvolvimento real da
criança, num determinado momento, em relação a um dado conteúdo curricular a
ser desenvolvido, tendo em vista os objetivos e as metas estabelecidas pela escola,
professor e até mesmo pelo psicopedagogo, para aquele ano escolar e para cada
grupo de criança atendida.
O professor não precisa mais trabalhar o que a criança já sabe; precisa sim
trabalhar o que ela não sabe, mas o que ela precisa aprender e que certamente
aprenderá com o professor e o psicopedagogo na intervenção na zona de
desenvolvimento proximal e na interação inter-psíquica do grupo. Com o auxilio do
outro, seu processo de desenvolvimento será muito mais fácil.
Segundo VYGOTSKY (1988 126)
A aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar e esta nunca parte do zero. Toda a aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história. E a partir desse pressuposto que os professore devem ressignificar sua prática docente, pois ela precisa ser concreta, consciente, atual e transformadora, elaborando vínculos afetivos com o ser aprendente, mesmo que não se deseje aprender naquele momento, por alguma circunstância. E se persistirem tais resistências, a frustração, em função do
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não alcance dos objetivos devem ser banidos, pois, o trabalho é conjunto, e talvez seja o momento de compartilhá-lo com outro profissional especializado, pois como se viu a psicopedagogia trabalha concomitantemente com a aprendizagem e o desenvolvimento do seu processo.
O enfoque no sistema escolar e no papel do professor me conduziu ao
universo familiar e às funções paterna e materna, em todo seu alcance educacional
e constitutivo. Desse modo, meu questionamento tenta ampliar uma noção que não
permite mudanças, e ainda aceita como verdade estabelecida e imutável uma
condição ultrapassada, associada aos lugares ocupados por homens e mulheres na
família e na sociedade. Mas creio que pode se tornar mais interessante para o
exercício de reflexão, iniciar com os pensamentos pessoais, ou seja, um olhar do
indivíduo para o todo, ou ainda do universo particular para o coletivo.
A criança se torna menos dependente da sua percepção e da situação que a
afeta de imediato, passando a dirigir seu comportamento também por meio do
significado dessa situação: “a criança vê um objeto, mas age de maneira diferente
em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança
começa a agir independentemente daquilo que vê.” (VYGOTSKY, 1988, p. 127). No
brincar, a criança consegue separar pensamento (significado de uma palavra) de
objetos, e a ação surge das ideias, não das coisas. Por exemplo: um pedaço de
madeira torna-se um boneco. Isso representa uma grande evolução na maturidade
da criança.
Dentre elas podemos destacar: os processos humanos originados nas
relações sociais e compreendidos em seu caráter histórico-cultural; o entendimento
que o homem significa o mundo e a si próprio não de forma direta, mas por meio da
experiência social; a compreensão da realidade e do modo de agir tendo como
pressuposto a mediação do outro, os signos e os instrumentos, estes entendidos
como externos ao indivíduo, uma vez que atuam na transformação da realidade
física e social. Nesta perspectiva, a aprendizagem da criança é desenvolvida
anterior à aprendizagem escolar (VIGOTSKY, 1988, p.107), pois o encontro da
criança com o mundo, desde seu nascimento, já implica em aprendizagem.
Assim, diante de tais proposições consideradas relevantes para a atuação
do professor, sejam estes atuantes em espaços regulares ou especiais, percebemos
que ao assumir a concepção histórico-cultural, devemos privilegiar as atividades e
currículos que atuem na potencialidade dos sujeitos, devendo-se dar ênfase às
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interações sociais, bem como reconhecer o valor da heterogeneidade do grupo com
o qual se trabalha; sendo as interações professor/aluno crucial para o processo de
aprendizagem, pois ampliam a capacidade cognitiva do aluno através das trocas;
enriquecendo o desenvolvimento.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta perspectiva, a Psicopedagogia contribui significativamente com todos
os envolvidos no processo de aprendizagem, pois exerce seu trabalho de forma
multidisciplinar numa visão sistêmica. Por isso a proposta exposta neste artigo
reforça o pensamento que devemos exercer uma prática docente em parceria, em
equipe, onde todos deverão ter “olhar” e sua “escuta” para o sujeito da
aprendizagem. Não há como refletirmos sobre este trabalho e buscarmos
continuamente agregar valores a nossa formação, resignifica conteúdos e adotamos
novas posturas avaliativas, se não conhecermos o ser que si educa e a grande
responsabilidade que é de participarmos da sua formação com grandes êxitos.
Os problemas de aprendizagem constituem uma situação real dentro das
Instituições escolares, portanto faz-se necessário que todos os envolvidos no
processo de ensino e aprendizagem sejam leitores e pesquisadores de problemas
de aprendizagem para que possa os possibilitá-los a entender melhor como se dá a
influencia de fatores intra e extras escolares e como podem ser trabalhados de
forma a minimizar problemas de aprendizagens, no dia a dia da escola, que os
problemas de dificuldades de aprendizagem ora estão no professor, ora estão no
aluno, ora estão na família ou no ambiente no qual se insere o aluno. O que nos
causou admiração é que tanto a escola quanto a família estão distante como se não
fizessem parte da mesma relação. De um lado presenciamos, por parte da escola, à
vontade e disposição de promover uma discussão mais aprofundada em relação ao
papel do psicopedagogo na instituição.
Para que o aluno com dificuldades de aprendizagem receba uma educação
apropriada as suas necessidades, para além dos profissionais e pais, da adequada
formação dos professores e dos agentes educativos, há que ter em conta que o
conceito de dificuldade de aprendizagem não implica apenas no reconhecimento do
direito que assiste ao educando de freqüentar uma escola regular, pois, caso as
práticas educacionais se resumem apenas à sua colocação na escola, sem nenhum
tipo de serviços especiais, tais práticas resultam falaciosas e irresponsáveis.
É preciso que o professor ou psicopedagogo alterem a sua forma de
conceber o processo de ensino-aprendizagem. Ele não é um processo linear e
contínuo que se encaminha numa única direção, mas, sim, multifacetado,
apresentando parados, saltos, transformações bruscas. Acreditar que a dificuldade
de aprendizagem é responsabilidade exclusiva do aluno, ou da família, ou somente
da escola é, no mínimo, uma atitude ingênua perante a grandiosidade que é a
complexidade do aprender. Procurar e achar um corpo que assuma a culpa do
fracasso escola dá-nos a sensação de que tudo está resolvido. A atitude do não
aprender traz em si o subtexto da denúncia de que algo deverá ser feito. E este feito
não poderá jamais ser a duas mãos.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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