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AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
PÓS-GRADUAÇÃO CURSO: METODOLOGIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E
GESTÃO ESCOLAR
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE
LEITURA E DE ESCRITA
Dirce Maria Solano Gomes
Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo
BRASNORTE/2011
AJES - INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
PÓS-GRADUAÇÃO CURSO: METODOLOGIA DO ENSINO FUNDAMENTAL E
GESTÃO ESCOLAR
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA DE
LEITURA E DE ESCRITA
Dirce Maria Solano Gomes
Orientador: Prof. Ilso Fernandes do Carmo
“Trabalho apresentado como exigência parcial para a obtenção do título de Especialização em Metodologia do Ensino Fundamental e Gestão Escolar.”
BRASNORTE/2011
AGRADECIMENTO
A Deus: pela vida, pelo dom e pela luz que nos iluminou nesta caminha; a
nossos pais: por ter nos oferecido um lar com ambiente sadio, oportunizado a
crescer com sabedoria;
Ao meu conjugue: pela paciência, pela compreensão e pelo incentivo para
que persistimos nessa caminhada;
Aos meus filhos que: sofreram com minha ausência em vários momentos
desta jornada;
Aos colegas: pela amizade e pela cooperação;
Ao orientador acadêmico pela dedicação e atenção dirigida auxiliando-me
em meus estudos.
DEDICATÓRIA
A minha família que é a incentivadora da minha caminhada, dedico esse
trabalho que é fruto do meu esforço.
Ao nosso orientador e professor Ilso que não se omitiu em ajudar quando o
procurei.
Aos amigos e colegas que deram força para que eu não desistisse diante
das dificuldades.
E em especial aos meus netos que sofreram com a ausência da vovó.
Que Deus nos abençoe.
Amém.
(...) “Aprender a ler e a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais
nada, aprender a ler o mundo, compreender seu contexto, não numa
manipulação mecânica de palavras, mas numa retração dinâmica,
vincula linguagem e realidade...”
(Paulo Freire)
RESUMO
O Presente trabalho surgiu da minha inquietação e reflexão em definir e
compreender a relação que existe entre alfabetização e letramento, termo recém
chegado ao vocabulário da Educação e das Ciências Lingüísticas, palavras que se
tornam cada vez mais frequentes no discurso escrito e falado de especialistas onde
a nova maneira de compreender a presença da escrita no mundo social trouxe a
necessidade de discutir novos termos que surgem e que sugerem uma
reinterpretação das práticas pedagógicas em sala de aula. Diante dessa, esta
pesquisa tratará de discutir conceitos que têm sido construídos na área dos estudos
do letramento desde a década de 1980.
Esse trabalho é uma pesquisa bibliográfica de autores apaixonados pela
educação onde busquei conceitos para compreender a teoria desses pensadores
que defendem a Educação como a Doutora Magda Soares e outros, explica que
letrar é mais do alfabetizar, é ensinar a ler e a escrever dentro de um contexto onde
a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida do aluno, ela explica que
ao olharmos historicamente para as ultimas décadas, podemos observar que o
termo alfabetização sempre entendido como de uma forma restrita de aprendizagem
do sistema de escrita foi ampliado.
Para entender melhor o conceito de alfabetizar e letrar, busquei a história da
alfabetização e a sua trajetória definindo o conceito de cada termo para chegar a
uma definição e relacionar algumas diferenças que existem entre os dois termos,
pois nem sempre o alfabetizado é letrado.
Esta pesquisa mostrou-me a importância de alfabetizar letrando, levando
os alunos a fazerem uso da leitura e da escrita, envolvendo-os em práticas sociais
que realmente tenham sentido para eles, com materiais de qualidade.
PALAVRAS CHAVE: alfabetização, letramento, educação, leitura e escrita
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................07
CAPITULO I
1.História da alfabetização no contexto educacional brasileiro..........................09
1.1 O que é alfabetização?....................................................................................09
1.2 Trajetória da alfabetização............................................................................. 09
CAPITULO II
2.0 Alfabetização e letramento............................................................................15
2.1 Letramento em busca de uma definição......................................................17
2.2 O que é letramento..........................................................................................18
2.3 2.3 Letramento ideológico...........................................................................21
2.4 Letramento autônomo.................................................................................21
CAPITULO III
3.0 Alfabetizado ou letrado.....................................................................................22
3.1 Como diferenciar o alfabetizado do letrado?.....................................................23
CONCLUSÃO.............................................................................................................25
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................27
INTRODUÇÃO
A constante busca pelo saber, a formação continuada, o diálogo e a
pesquisa farão com que nos tornemos pessoas, profissionais melhores. É nessa
perspectiva que busco ampliar meus conhecimentos sobre a área em que atuo, a
educação, mesmo atuando como docente a muito tempo, não nos garante uma boa
atuação.
O presente trabalho surge de pensar a alfabetização e o letramento como
práticas de leitura e de escrita que devem ser vistas como um processo cultural e
social, buscando meios que auxiliem no processo do ensino aprendizagem dos
discentes.
A escolha do termo procura buscar conhecimento bibliográfico nos estudos
que diferenciam estes dois conceitos. Onde o letramento é considerado mais
abrangente do que a alfabetização.
O primeiro capitulo, analisa a trajetória da alfabetização no contexto
educacional brasileiro que trata da escrita onde o enfoque principal é analisar refletir
sobre a mesma, onde o Brasil vem a designar a condição de pessoas que mesmo
alfabetizados não conseguem fazer uso da leitura e da escrita.
O segundo capitulo, trata de uma abordagem conceitual sobre alfabetização
e letramento com pesquisa bibliográfica de autores apaixonados pela educação.
O terceiro capitulo vem relacionar algumas diferenças que existem sobre o
conceito de alfabetização e letramento, para que se possa refletir a respeito das
concepções que se tem até então sobre essas questões, pois nem sempre o
alfabetizado é letrado.
Precisaríamos de um verbo “letrar’’ para nomear a ação de levar os
indivíduos ao letramento... Assim , teríamos alfabetizar e letrar como duas ações
distintas, mas não inseparáveis, ao contrário:O ideal seria alfabetizar letrando, ou
seja: ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura eda escrita
de modo que o indivíduo se tornasse, ao mesmo tempo , alfabetizado e letrado.
Ressalto que esse estudo está fundamentado em pesquisas de vários
educadores apaixonados pela educação.
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CAPÍTULO I
1. HISTORIA DA ALFABETIZAÇÃO NO CONTEXTO EDUCACIONAL
BRASILEIRO
1.1-O QUE É ALFABETIZAÇÃO?
É o processo pelo qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever, ou seja: o domínio da tecnologia – do conjunto de técnicas – para exercer a arte e ciência da escrita. (RIBEIRO, 2003,p. 91)
É uma relação entre os educandos e o mundo, mediado pela prática transformada desse mundo, que tem lugar precisamente no ambiente em que se movem os educandos. (FREIRE e MACEDO, 1990, p. 10).
A alfabetização é uma construção de um objeto conceitual, de natureza complexa, cuja apropriação requer um processo de longa duração, ou seja, vários anos (...) um processo dificilmente auto-realizável. (GEEMPA, citado em MOOL, 2001, p. 70).
Durante muito tempo, segundo Leda Verdiani Tfoufi (2002), pensava-se que
ser alfabetizado era conhecer o código lingüístico, ou seja, conhecer as letras do
alfabeto. Atualmente, sabe-se que, em hora seja necessário, o conhecimento das
letras não é suficiente para ser competente no uso da língua escrita. A língua não é
um mero código para comunicação. A linguagem é um fenômeno social, estruturado
de forma dinâmica e coletiva e, portanto, a escrita também deve ser vista do ponto
de vista cultural e social. Para dar conta desse processo de inserção numa cultura
letrada, tal como a atual, utiliza-se atualmente a palavra letramento, onde a
alfabetização é apenas um meio para se chegar ao letramento.
1.2-TRAJETÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
O acesso à leitura e à escrita segundo CAGLIARI (2003), na antiguidade não
era privilegio só dos sacerdotes, reis ou pessoas de grande poder. Pessoas
adquiriam a leitura em sua própria casa sem ir à escola, apenas pela necessidade
de aprender a resolver seus negócios, comércios ou ler obras literárias ou em alguns
casos, para obter informações culturais da época.
Segundo CAGLIARI (2003), os semitas, os gregos e os romanos nos deixam
alguns “alfabetos”, tabuinhas ou pequenas pedras, nas quais podiam encontrar o
alfabeto e serviam de caminho para as pessoas aprenderem a ler e escrever. Pode-
se dizer, então que essas “tabuinhas” foram as mais antigas “cartilhas da
humanidade”.
Nos séculos XV e XVI, período do Renascimento, segundo CAGLIARI
(2003), a leitura deixou de ser coletiva e passou a ser individual. Surgiu uma
inquietude com a necessidade de se ter um povo alfabetizado (isso sinalizava que a
nação era oprimida) e passou-se a dar importância à alfabetização de todos. Como
conseqüência, apareceram as primeiras Cartilhas, ensinando a escrever nas
línguas vernáculas, que até então era o latim.
Segundo ARANHA (1996), por volta dos anos de 1549 ainda no período
colonial, chega ao Brasil seu primeiro governador-geral, Tomé de Sousa,
acompanhado pelos padres jesuítas, que imediatamente, fizeram funcionar em
Salvador uma escola de ler e escrever iniciando o processo das escolas
elementares, secundárias, seminários e missões. Essas primeiras escolas brasileiras
fundadas pelos jesuítas tinham o objetivo de ensinar índios e os filhos dos colonos a
ler, escrever, contar números e a falar a língua portuguesa. Por volta dos anos de
1600, a população brasileira dominante era a agrária e escravista e, por isso, não
era importante a educação elementar, sendo esse uma das causas desse período a
maior parte da população brasileira ser analfabeta.
A EXPULSÃO DOS JESUITAS
De acordo com ARANHA (1996), somente em 1759 os jesuítas são expulsos
do Brasil pelo marques de Pombal com objetivo de tornar laico o ensino e atender os
interesses políticos e civis de Portugal, ocorrendo a desestruturação do sistema
educacional criado pelos jesuítas. O ensino regular ficou a deriva durante dez anos,
causando um grande retrocesso no sistema educacional brasileiro.
O ensino oficial, segundo ARANHA (1996), é implantado no Brasil a partir
de 1772, depois da expulsão dos jesuítas, passando a ser baseado nas chamadas
aulas régias de disciplinas separadas. A sociedade brasileira, naquela época,
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continuava com sua aristocracia agrária escravista, a economia era agro-
exportadora dependente e submetida à política colonial da opressão. Com essas
características sociais e econômicas, a educação no Brasil sofre graves
conseqüências, ou seja, o analfabetismo e o ensino estava precários agravado pela
expulsão dos jesuítas e por demorar a reforma pombalina da educação brasileira.
Segundo SOUZA (2006, p.13), após a Revolução Francesa, a escola se
tornou universal, a educação passou a ser direto de todos, e teve grande relevância
a educação de crianças, que antes era realizada só com adultos, sendo que depois
houve a preocupação com a alfabetização das crianças e a alfabetização foi
introduzida como matéria escolar. As cartilhas, naquele contexto, passaram por
mudanças.
Antes, segundo SOUZA (2006), elas acompanhavam o calendário escolar
em sua estruturação, passando, então a ser em divididas, a partir daquele momento,
em lições, abordando um tema em cada lição. Seu método de ensino era pautado no
método alfabético, passando, mais tarde, ao método silábico, surgindo o ba- be- bi-
bo-bu, modelo para os futuros livros de alfabetização.
O ano de 1789, segundo SOUZA (2006), foi o ponto de partida para o
acesso do indivíduo à cultura escrita. A união de alfabetização e da escola só se
consolidou aproximadamente um século mais tarde com a promulgação das leis
fundamentais que formaram o alicerce da escola pública obrigatória, laica e gratuita.
Foram criadas as Escolas de Primeiras Letras através do decreto imperial de 15 de
outubro de 1827, que tratava da primeira Lei Geral relativa ao Ensino Elementar em
todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do império. Nas Escolas de
Primeiras Letras, deveriam ser ensinadas a leitura e a escrita das palavras, as
quatro operações (adição, subtração, multiplicação e divisão) e noções de geometria
prática.
CIDADÃOS ALFABETIZADOS
As idéias republicanas segundo SOUZA (2006, p.25), propõem um novo
modelo cultural, pois, com o surgimento das indústrias e a urbanização crescente
com novos valores em relação ao analfabetismo, elas são disseminadas pela classe
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dominante, exigindo dos cidadãos o mínimo de instrução. Naquele momento, a
educação ganha um novo conceito pelos pais das crianças, passando a ser
enxergada como a esperança de ascensão social.
Segundo SOUZA (2006), desde o inicio do século XIX até sua metade,
muitas pessoas que freqüentavam a escola com intuito de se alfabetizar não
passavam da terceira série primaria, hoje chamado de Ensino Fundamental e isso
acontecia também devido ao ensino estar centrado no professor e não no aluno.
Pesquisas revelam, segundo SOUZA (2006), que até o final da Segunda
Guerra Mundial (1939 a 1945), mais da metade da população brasileira era
analfabeta. Naquele período, a sociedade brasileira se caracterizava como uma
sociedade rural, vivia da agricultura e exportação e sua população maior estava no
campo.
Nos anos 50, instala-se no Brasil, o estado nacional desenvolvimentista
passado de um pais extremamente agrícola e rural para industrial e urbano,
começando o grande êxodo rural. Apareceram as novas exigências de mão-de-obra
qualificada e alfabetizada, com o surgimento das industrias, impulsionando o Estado
a reformular a sua função em relação á prestação de serviços públicos e, como
conseqüências, a educação básica também sofre mudanças. Houve a expansão da
Escola Básica Regular para atender as necessidades dessa nova sociedade e, no
que se referia a alfabetização, o objetivo era apensa o de decifrar palavras e frases.
(CARVALHO, 2005, p.27).
No segundo Congresso de Educação de Adultos em 1958, segundo
CARVALHO (2005), surgem reflexões em relação ás criticas das campanhas de
alfabetização, que se restringiam ao ensino de apenas assinar o nome, sendo que,
muitas vezes, a pessoa nem sabia escrever o alfabeto.
Como disse CARVALHO (2005), no inicio dos anos 60, surgem os
movimentos com objetivo de alfabetizar as classes populares:
• Centros Populares de Cultura (CPC);
• Movimento de Educação Popular;
• Movimento de Educação de Base (MEB);
• Campanha “De pé no chão também se aprende a ler”.
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Com o surgimento desses movimentos, não podemos deixar de citar as
contribuições de Paulo Freire (1975), como suas idéias de que o individuo só
aprende através da dialética, criando uma metodologia com a função de alfabetizar
a classe oprimida, vista por ele como a classe analfabeta. Seu método, segundo
Paulo Freire (1975), tinha como pressuposto a utilização de “palavras geradoras”,
palavras que faziam parte da vida do aluno, pois, em sua opinião, os indivíduos não
deveriam apenas aprender a formar palavras descontextualizadas, mas
compreender seu contexto dentro do meio onde estavam inseridos. A essência das
idéias de Paulo Freire (1975), era que antes de ensinar uma pessoa a ler as
palavras, era preciso ensiná-la a ler o mundo.
Nos anos 70, segundo SOUZA (2006, p14), surge um novo movimento.
Naquele período, há uma visão que para um país desenvolver sua população, esta
não pode ser analfabeta, dando inicio às ações do “Movimento Brasileiro de
Alfabetização” (Mobral) que nasceu como uma nova solução para erradicar o
analfabetismo atendendo a um contingente de jovens e adultos em 3.953
municípios. Porém, sua duração foi curta, sendo extinta em 1985, quando surge a
Fundação Educar que apoiava, financeira e tecnicamente, as iniciativas do governo,
das entidades civis e das empresas, com o intuito de alfabetizar os cidadãos
brasileiros.
Nos anos 80, PIAGET (1977), com a disseminação da idéia do
construtivismo atrelada às idéias de sobre a construção do conhecimento e as
pesquisas em relação á psicogênese da língua escrita, fases nos quais a criança
desenvolve as suas hipóteses de escrita, novas teorias de ensino e aprendizagem
começaram a surgir bem como outros métodos de alfabetização embasados na
concepção sócio interacionista. A competência técnica do professor alfabetizador
também era objeto de pesquisa.
Uma nova visão de alfabetização surgiu no final da década de 90 com o
fenômeno letramento e, segundo SOARES (2001), letramento é definido como o
estado ou a condição que adquire um grupo social ou um individua como
conseqüência de terço apropriado da escrita e da leitura e de suas praticas sociais.
Para COSTA (2002), o termo letramento possui um significado, mas abrangente e
complexo, valorizando as características sociais nas praticas de letramento, as
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quais são culturalmente determinadas e que se adquirem no processo interativo de
fala leitura e escrita.
Ressalta-se, ainda, segundo COSTA (2002), que no dia 13 de fevereiro de
2001, foi lançado a Década da Alfabetização das Nações Unidas. Naquele evento,
foram reforçadas as intenções e os esforços de sentido de tentar diminuir
significativamente o analfabetismo, disseminando essa preocupação de todos os
países do mundo. O lançamento da Década da Alfabetização Brasil coincide com
compromisso com a erradicação do analfabetismo.
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CAPÍTULO II
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
Segundo BURANELLO (2008, p. 7), mesmo antes de começar a frequentar
a escola, a criança já possui uma série de conhecimentos sobre a língua escrita.
Esses conhecimentos são decorrentes da interação sociocultural que ela mantém ou
manteve com a escrita e da relação com pessoas alfabetizadas, relação esta que
ocorre nos mais diversos contextos em que ler e escrever têm função social. Mesmo
a criança filha de pais não alfabetizados ou com baixo nível de escolarização, ou
ainda aquela que vive em zonas não urbanas, pode possuir algum conhecimento
sobre a função da escrita.
Tendo isso por pressuposto, ao receber o aluno para os 1º e 2º anos
escolares, o professor deve partir dos conhecimentos prévios dos alunos para levá-
los a construir novos conhecimentos acerca da língua escrita.
Como disse BURANELLO (2008), nesse nível de escolarização, o aluno
precisa entender a escrita como um objeto social e não como um objeto escolar.Isso
será possível a partir de uma prática pedagógica em que a leitura e a escrita sejam
trabalhadas de maneira significativa.
Ler, segundo BURANELLO (2008), é mais complexo que do que saber
codificar (isto é, transformar sinais gráficos em sons) e escrever vai além de saber
codificar( ou seja, transformar sons em sinais gráficos). Saber ler implica em
compreender as intencionalidades do texto, as características próprias do gênero, os
efeitos provocados pelas escolhas lingüísticas do autor etc. Saber escrever consiste
em produzir um discurso coerente e coeso conforme uma intenção comunicativa.
Diante disso, ensinar o nome das letras e o valor sonoro delas é uma tarefa
importante e necessária para o professor-alfabetizador, mas não deve ser a única.
Pode-se dizer que, nos primeiros anos de escolarização, o professor precisa garantir
ao aluno a alfabetização, ou seja, a habilidade de ler (decodificar) e escrever
(codificar), mas também o letramento. A respeito desses conceitos, esclarecem
LEAL, ALBURQUERQUE e MORAIS (2006, p. 71):
O primeiro termo, alfabetização, corresponderia ao processo pelo qual se adquire uma tecnologia- a escrita alfabética e as habilidades de utilizá-la para ler e escrever.Dominar tal tecnologia em que precisamos ler e produzir
textos reais.’’envolve conhecimentos e destrezas variados, como compreender o funcionamento do alfabeto, memorizar as convenções letra-som e dominar seu traçado, usando instrumentos como lápis, papel ou outros que os substituam.
Já o segundo termo, letramento, relaciona-se ao exercício efetivo e competente daquela tecnologia da escrita, nas situações
Alfabetização e letramento, conforme explica SOARES (2003, p.22), não são
práticas excludentes, pelo contrário. Ao mesmo tempo em que ensina a natureza do
sistema de escrita, o professor pode e deve propor atividades de leitura de textos.
Desse modo, alfabetizará letrando ou, alternando a ordem dos termos, mas não o
princípio, letrará alfabetizando.
Segundo BATISTA (2007, p. 11) afirma que há diferentes níveis de
letramento:
(...) Como são muito variados os usos sociais da escrita e suas competências a eles associados (de ler um bilhete simples a escrever um romance), é freqüente levar em consideração níveis de letramento (dos mais elementares aos mais complexos). Tendo em vista as diferentes funções (para se distrair, para se informar, por exemplo) e as formas pelas quais as pessoas têm acesso à língua escrita- com ampla autonomia, com a ajuda do professor ou da professora, ou mesmo por meio se alguém que escreve, por exemplo, cartas ditadas por analfabetos-, a literatura a respeito assume ainda a existência de tipos de letramento ou de letramentos, no plural.
Durante muitos anos, segundo KATO 1986), pensava-se que ser
alfabetizado era conhecer letras do alfabeto. Atualmente, sabe-se que o
conhecimento dessas letras não é satisfatório para ser competente no uso da
linguagem escrita, já que essa não é um mero código para comunicação. Ela é um
processo cognitivo, uma pratica social e ideológica, que é estruturada de forma
dinâmica e coletiva e, neste modo, a escrita também deve ser pensada assim.
‘‘É alfabetizada a pessoa que é capaz de ler e escrever com compreensão
um enunciado curto e simples sobre a vida cotidiana”. (UNESCO, 1958, p.4)
Em relação à alfabetização, segundo KATO 1986),, destaca-se que essa é
apenas um meio para o letramento (uso social da leitura e da escrita). Para constituir
cidadãos participativos, é necessário levar em conta a noção de letramento e não
somente de alfabetização. Letrar significa inserir o aprendiz no mundo letrado,
realizando atividades com diferentes usos de escrita na sociedade. Essa inclusão
começa antes da alfabetização escolar, ou seja, inicia quando o aprendiz começa a
se relacionar socialmente com as praticas de letramento no seu mundo social: os
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pais lêem para ele, quando vê alguém fazendo anotações ou observa os rótulos
indicando os produtos nas prateleiras no supermercado ou em casa, etc.
Segundo os PCNs (BRASIL,1997ª, p.54):
Um leitor competente só pode constituir-se mediante uma prática constante de leitura de textos de fato, a partir de um trabalho que deve de organizar em torno da diversidade se textos que circulam socialmente. Esse trabalho pode envolver todos os alunos, inclusive aqueles que ainda não sabem ler convencionalmente.
2.1 LETRAMENTOS EM BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO
Segundo SOARES (2001,p.80), a origem das duvidas e contradições sobre
letramento esta na dificuldade de formular uma definição mais precisa e universal
desse fenômeno. A dificuldade de se encontrar essa definição esta no fato que a
palavra letramento sugere uma vasta gama de conhecimento, habilidades,
capacidades,valores,usos e funções sociais.
Reconhecendo esses múltiplos significados e variedades de letramento,
SCRIBNER & COLE (1984,p.18), defende a convivência de “desagradar” seus
diversos níveis e tipos em um processo de decomposição. A sugestão que faz
Harman de uma definição de letramento que distinga três diferentes estágios
representa uma tentativa de realizar essa “desagregação”:
O primeiro estágio é a concepção de letramento como um instrumento. O segundo é a aquisição do letramento, a aprendizagem das habilidades de ler e escrever. O terceiro é a aplicação prática dessas habilidades em atividades significativas para o aprendiz. Cada estágio é dependente do anterior,cada um é um componente necessário do letramento.(HARMAN,1970,p.228)
Mesmo que apenas sob a perspectiva da dimensão individual, é difícil definir
letramento devido à extensão e diversidade das habilidades individuais que podem
ser consideradas como constituintes do letramento.
Uma primeira fonte de dificuldade, que atinge o cerne mesmo da questão, é
que o letramento envolve dois processos fundamentalmente diferentes: ler e
escrever. Nas palavras de SMITH:
Ler e escrever são processos frequentemente vistos como imagens espelhadas uma da outra, como reflexos sob ângulos opostos de um mesmo fenômeno: a comunicação através da língua escrita. Mas há diferenças fundamentais entre as habilidades e conhecimentos empregados
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na leitura e aquelrs empregados na escrita, assim como há diferenças consideráveis entre os processos envolvidos na aprendizagem da leitura e os envolvidos na aprendizagem da escrita. (1973, p.117)
2.2 E O QUE É LETRAMENTO?
Segundo Angela Kleiman (1991,p.15), os estudos no Brasil estão numaetapa
ao mesmo tempo incipiente e extremamente vigorosa, configurando-se hoje como
uma das vertentes de pesquisa que melhor conquretiza a união do interesse teórico,
a busca de descrições e explicações sobre um fenômeno, com o interesse social, ou
aplicado, a formulação de perguntas cuja resposta possa vir a promover uma
transformação de uma realidade tão preocupante como é a crescente
marginalização de grupos sociais que não conhecem a escreita.
O conceito de letramento começou a ser usado nos meios acadêmicos
numa tentativa de separar o impacto social da escrita (KLEIMAN,1991) dos estudos
sobre a alfabetização, cujas conotações escolaresdestacam as competências
individuais no uso e na prática da escrita.Eximem-se dessas conotações os sentidos
que Paulo Freire atribuiu à alfabetização, que a vê como capaz de levar o
analfabeto a organizar reflexivamente seu pensamento, desenvolver a consciência
crítica, introduzí-lo num processo real de democratização da cultura e de libertação
(FREIRE,1975). Porém, esse sentido ficou restrito aos meios acadêmicos,por outro
lado, os estudos sobre o letramento examinam o desenvolvimento social que
acompanhou a expansão dos usos da escrita desde o século XVI.
Uma estudante norte-americana, de origem asiática Kate M. Chong, citada
em SOARES (2004, p. 41), ao escrever sua história pessoal de letramento, define-o
em um poema:
Letramento não é um gancho
Em que se pendura cada som enunciado,
Não é treinamento repetitivo de uma habilidade,
Nem um martelo
Quebrando blocos de gramática.
Letramento é diversão
é leitura a luz de vela
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Ou lá fora, à luz do sol
São notícias sobre o presidente
O tempo, os artistas da TV
E mesmo Mônica e Cebolinha
Nos jornais de domingo.
É uma receita de biscoito,
Uma lista de compras, recados colados na geladeira,
Um bilhete de amor,
Telegramas de parabéns e cartas,
De velhos amigos.
É viajar para países desconhecidos,
Sem deixar sua cama,
É rir e chorar
Com personagens, heróis e grandes amigos.
É um atlas do mundo,
Sinais de transito, caças ao tesouro,
Manuais, e instruções, guias,
E orientações em bulas de remédios,
Para que você não fique perdido.
Letramento é, sobretudo,
Um mapa do coração do homem,
Um mapa de quem você é,
E de tudo o que você pode ser.
Segundo Magda Soares (2004, p.41), o poema mostra que letramento é
muito mais que alfabetização. Ele expressa muito bem como letramento é um
estado, uma condição:o estado ou condição de quem interage com diferentes
portadores de leitura e de escrita, com diferentes gêneros e tipos de leitura e de
escrita, com as diferentes funções que a leitura e a escrita desempenham em nossa
vida. Enfim: letramento é o estado ou condição de quem se envolve nas numerosas
e variadas práticas sociais de leitura e de escrita.
‘’Letramento “procura estudar e descrever o que ocorre nas sociedades quando adotam um sistema de escritura de maneira restrita ou generalizada; procura ainda saber quais praticas psicossociais substituem
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as “letradas” em sociedades ágrafas, letramento assim tem por objetivo investigar não somente quem não é alfabetizado, e , nesse sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social”. (TFOUNI, 2002, p.9-10).
‘’Letramento é o estado ou condição que adquire um grupo social ou um individuo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita e leitura e de suas práticas sócias. (SOARES, 2003, p.31-39)
‘’Letramento numa dimensão social é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e de escrita, em um contexto especifico, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais. (SOARES, 2003, p.31-39).
De acordo com TFOUNI (1995), a escrita, a alfabetização e o letramento
estão atrelados entre si e. Para essa autora, os sistemas de escrita são um produto
cultural, ou seja, são frutos de conhecimentos passados por outras pessoas. Já a
alfabetização e o letramento são processos de aquisição de um sistema escrito.
Segundo TFOUNI (1995, p.9).
A alfabetização refere-se à aquisição da escrita enquanto a aprendizagem de habilidade para a leitura e pra a escrita e as chamadas práticas de linguagem. Isso é direcionado a efeito por meio dos procedimentos de escolarização e, portanto, do ensino formal.
Podemos então concluir que “o letramento tem por objetivo pesquisar não
somente quem é alfabetizado, mas também quem não é alfabetizado e, nesse
sentido, desliga-se de verificar o individual e centraliza-se no social”. (TFOUNI, 1995,
p. 10).
Resumindo, disse SOARES (2004, p. 78), os conceitos de letramento que
enfatizam sua dimensão social fundamentam-se ou em seu valor pragmático, isto é,
na necessidade de letramento para o efetivo funcionamento na sociedade ( a
versão “fraca” ), ou em seu poder “revolucionário”, ou seja, em seu potencial para
transformar relações e práticas sociais injustas (a versão forte). Apesar dessa
diferença essencial, tanto a versão ”fraca” quanto a versão “forte” evidenciam a
relatividade do conceito de letramento:porque as atividades sócias que envolvem a
língua escrita dependem do projeto que cada grupo político pretende implementar,
elas variam no tempo e no espaço.
(...) um indivíduo alfabetizado não é necessariamente um indivíduo letrado; alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais da leitura e da escrita (SOARES, 2004, p.39).
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2.3 LETRAMENTO IDEOLÓGICO
Visão reveladora das legitimas possibilidades das práticas e eventos de
letramento, pois dá a entender o reconhecimento de fatores que acontecem por
estarem estritamente unidos ás composições culturais e dominantes do meio onde
ocorre. Depende, também, do jogo de forças nas relações sócias e considera os
contextos de uso de um determinado grupo. Uma exemplificação disso pode ser as
pessoas de classes sócias diferentes que tenderão também, a ter uma relação com
a escrita de maneira diferenciada, considerando que essa relação é sempre
dependente do contexto em que estas pessoas estão inseridas. Isso quer dizer que
quem vive num universo cheio de escrita poderá ter melhor desempenho nas
habilidades de leitura e de escrita. Segundo STREET:
Qualquer estudo etnográfico do letramento atestará, por implicação, sua significância para diferenciações que são feitas com base no poder, na autoridade, na classe social, apartir da interpretação desses conceitos pelo pesquisador. Assim, já que todos os enfoques sobre o letramento terão um viés desse tipo, faz mais sentido, do ponto de vista da pesquisa acadêmica, admitir e revelar, de início, o sistema ideológico utilizado, pois assim ele pode ser abertamente estudado, contestado e refinado. (1993, p. 9).
2.4 LETRAMENTO AUTÔNOMO
Representando nas escolas de concepção tradicional, enxerga a oralidade e
a escrita como praticas diferentes, considerando somente uma forma de letramento
a ser desenvolvida, estando essa forma atrelada ao progresso, a civilização e à
mobilidade social (KLEIMAN,1995, p.22). No modelo autônomo, a escrita é vista
habitualmente como um bem em si mesma, já que ela é o fator principal do
desenvolvimento cognitivo do sujeito.
Pode-se afirmar que a escola, a mais importante das agências do letramento, preocupa-se não com o letramento, prática social, mas com apenas um tipo de prática de letramento, a alfabetização, o processo de códigos (alfabeto numérico), processo geralmente concebido em termos de uma competência individual necessária para o sucesso e promoção na escola. Já outras agências de letramento como a família, a igreja, a rua como lugar de trabalho mostram orientaçõesde letramento muito diferentes. (KLEIMAN, 1995,p.20)
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CAPÍTULO III
3.0- ALFABETIZADO OU LETRADO
Chegamos finalmente a grande diferença, segundo Magda Soares (2001),
entre a alfabetização e letramento, pois uma pessoa alfabetizada é diferente de um
letrado.
Há, assim uma diferença entre saber ler e escrever mas não faz uso da
leitura e da escrita, é alfabetizada, enquanto que o letrado sabe ler e escrever e faz
uso freqüente da leitura e da escrita. Quais habilidades e aptidões de leitura e
escrita qualificam um individuo como letrado? Que tipos de material escrito um
individuo deve ser capaz de ler e escrever para ser considerado letrado?
As competências que constituem o letramento são contínuas e indicam
diversos tipos e níveis de habilidades, capacidades e conhecimentos que podem ser
aplicados a diferentes tipos de material escrito. Portanto, é difícil especificar, de uma
maneira não arbitrária, uma linha divisória que separaria o indivíduo letrado do
iletrado.
Segundo a UNESCO, as definições de letrado e iletrado, com o propósito de
padronização internacional das estatísticas em educação, são uma tentativa de fazer
tal distinção:
É letrada a pessoa que consegue tanto ler quanto escrever com compreensão uma frase simples e curta sobre sua vida cotidiana.
É iletrada a pessoa que não consegue ler nem escrever com compreensão uma frase simples e curta sobre sua vida cotidiana. (UNESCO, 1958, p.4 )
Portanto letramento é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura
e escrita, em um contexto especifico, e com essas habilidades se relacionam com as
necessidades, valores e práticas sociais, em outras palavras, letramento é o
conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e a escrita em que os indivíduos se
envolvem em seu contexto social. Assim, as práticas em sala de aula devem estar
orientadas de modo que se promova a alfabetização na perspectiva do letramento e,
tomando as palavras de SOARES (2001), que se proporcione a construção de
habilidades para o exercício efetivo e competente da tecnologia da escrita. Esse
exercício:
[...] implica habilidades várias, tais como: capacidade de ler ou escrever para atingir diferentes objetivos – para informar ou informar-se, para interagir com os outros, para imergir no imaginário, no estético, para ampliar conhecimentos, para seduzir ou induzir, para divertir-se, para orientar-se, para apoio à memória, para catarse...:habilidades de interpretar e produzir diferentes tipos e gêneros textos, habilidades de orientar-se pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de lançar mão desses protocolos, ao escrever: atitudes de inserção efetiva no mundo da escrita, tendo interesse e informações e conhecimentos,escrevendo ou lendo de forma diferenciada, segundo as circunstâncias, os objetivos, o interlocutor [...].( SOARES,2003, p.92).
3.1 COMO DIFERENCIAR O ALFABETIZADO DO LETRADO
Assim como disse Magda Soares (2001), é difícil a resposta a essa pergunta
porque letramento envolve dois fenômenos bastante diferentes, a leitura e a escrita,
cada um deles muito complexo, pois constituído de uma multiplicidade de
habilidades, comportamentos, conhecimentos:
LER: É um conjunto de habilidades e comportamentos que se estendem
desde simplesmente decodificar sílabas ou palavras até ler Grande Sertão Veredas
de Guimarães Rosa... Uma pessoa pode ser capaz de ler um bilhete, ou uma
história em quadrinhos, e não ser capaz de ler um romance,um editorial de
jornal...Assim:ler é um conjunto de habilidades, comportamentos, conhecimentos
que compõem um longo e complexo continuum: em que ponto desse continuum uma
pessoa deve estar, para ser considerada alfabetizada, no que se refere à leitura? A
partir de que ponto desse continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no
que se refere à leitura?
ESCREVER: É também um conjunto de habilidades e comportamentos que
se estendem desde simplesmente escrever o próprio nome até escrever uma tese
de doutorado... uma pessoa pode escrever um bilhete, uma carta,mas não ser capaz
de escrever uma argumentação defendendo um ponto de vista, escrever um ensaio
sobre determinado assunto... Assim: escrever é também um conjunto de
habilidades, comportamentos, conhecimentos que compõem um longo e complexo
continuum; em que ponto desse continuum uma pessoa deve estar, para ser
considerada alfabetizada, no que se refere à escrita? A partir de que ponto desse
continuum uma pessoa pode ser considerada letrada, no que se refere à escrita?
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Conclui-se que há diferentes tipos e níveis de letramentos, dependendo das
demandas do indivíduo e de seu meio, do contexto social e cultural.
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CONCLUSÃO
A importância deste trabalho que vem a finalizar minha formação em pós-
graduação é de avaliar a importância do assunto que provoca tantas reflexões entre
estudiosos da educação e nós professores que muitas vezes ficamos em dúvida
como muitas vezes ficamos em dúvida como oferecer condições para que eles
alcancem o contexto do letramento. Como disse Magda Soares, é preciso usar
letramentos, no plural, porque não é só responsabilidade do professor de Língua
Portuguesa, mas, de todos os professores que trabalham com leitura e escrita.
Compreendi que devemos ensinar o aluno e ele aprender. Há convenções
que precisam ser ensinadas e aprendidas, como decodificar letras e palavras e toda
a tecnologia muito complicada para o aluno, como segurar o lápis, escrever de cima
pra baixo e vice-versa, da esquerda pra a direita e outros que para um adulto letrado
é fácil, mas para eles são difíceis.
Então, conclui que para um aluno ter sucesso na aprendizagem, o ideal é
alfabetizar letrando, e para que isso aconteça devemos oferecer material escrito de
qualidade e estar convivendo num meio onde a escrita e a leitura façam parte do seu
contexto social.
A alfabetização e o letramento são termos distintos, há diferenças entre
aprender o código da escrita e ter habilidade de usá-lo.
Também compreendi que eles são indissociáveis em suas especificidades
sem hierarquia, pode-se letrar antes de alfabetizar ou ao contrário. Isso explica o
grande problema que enfrentamos em sala de aula, o fracasso do sistema de
alfabetização na progressão continuada. Os alunos chegam ao segundo ano sem
saber ler e escrever.
Compreendo então,que o nosso problema não é apenas ensinar a ler e a
escrever, mas é, também, e sobretudo, levar os alunos a fazer uso da leitura e da
escrita, envolvendo-se em praticas sociais de leitura e de escrita, que seja algo que
realmente tenha sentido, uso e função para as pessoas.
Somente a educação pode fazer com que cada cidadão seja o principal
personagem de sua história para exercerem seus direitos, sobre tudo para serem
felizes.
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