alexandra fernandes bitencourt - a crianÇa e suas concepÇÕes de mundo atravÉs da fotografia

72
A CRIANÇA E SUAS CONCEPÇÕES DE MUNDO ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA ALEXANDRA FERNANDES BITENCOURT

Upload: especializacaoeducacaoinfantil

Post on 06-Apr-2016

234 views

Category:

Documents


20 download

DESCRIPTION

Este trabalho tem o objetivo de analisar as diferentes visões de mundo das crianças através da interpretação de fotografias. Ele traz algumas curiosidades importantes sobre o processo fotográfico e sua História na evolução dos tempos. Inicia-se com a História das descobertas em relação ao processo de fixação de imagens. Conta os progressos e conquistas desta arte que era considerada diferente e reveladora ao mesmo tempo. Ele também revela fatos sobre a Infância, como ela era representada antes e depois da fotografia, fazendo uma ligação entre a História das crianças e a invenção fotográfica. Tanto o sentimento da Infância, quanto o surgimento da câmera fotográfica, foram importantes na História da humanidade. Cada um deixou marcas e lembranças profundas em nossos registros. O sentimento de infância se faz presente em muitas produções artísticas em distintas épocas, onde a infância era vista como algo desnecessário para humanidade.

TRANSCRIPT

A CRIANÇA E SUAS CONCEPÇÕES DE MUNDO ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA

ALEXANDRA FERNANDES BITENCOURT

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO INFANTIL

ALEXANDRA FERNANDES BITENCOURT

A CRIANÇA E SUAS CONCEPÇÕES DE MUNDO ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA

São Leopoldo 2010

ALEXANDRA FERNANDES BITENCOURT

A CRIANÇA E SUAS CONCEPÇÕES DE MUNDO ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA

Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização apresentado como Requisito parcial para a obtenção do Título de Especialista em Educação Infantil, pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos

Orientadora: Profª Marita Martins Redin

São Leopoldo 2010

Dedico este trabalho a minha família pelos momentos

compartilhados e alicerçados no amor e na amizade.

E às crianças, que foram sujeitos

de minha pesquisa, pelo muito que me ensinaram.

AGRADECIMENTOS...

Gostaria de agradecer as pessoas que se envolveram na

elaboração deste trabalho.

Agradeço de coração...

...à minha família pelo companheirismo e atenção;

...à professora Marita Redin, por aceitar a orientação deste estudo

e pelos momentos companheirismo;

...às crianças, que foram sujeitos de minha pesquisa, pelo muito

que me ensinaram.

“Eu que fabrico o futuro como uma aranha diligente. E o

melhor de mim é quando nada sei e fabrico não sei o quê.

Eis que de repente vejo que não sei nada.

O gume de minha faca está ficando cego? Parece-me que o

mais provável é que não entendo porque o que vejo agora

é difícil: estou entrando sorrateiramente numa realidade

nova para mim e que ainda não tem pensamentos

correspondentes, e muito menos ainda alguma palavra que

a signifique. É mais uma sensação atrás do pensamento.”

Clarice Lispector

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de analisar as diferentes visões de mundo das crianças através da interpretação de fotografias. Ele traz algumas curiosidades importantes sobre o processo fotográfico e sua História na evolução dos tempos. Inicia-se com a História das descobertas em relação ao processo de fixação de imagens. Conta os progressos e conquistas desta arte que era considerada diferente e reveladora ao mesmo tempo. Ele também revela fatos sobre a Infância, como ela era representada antes e depois da fotografia, fazendo uma ligação entre a História das crianças e a invenção fotográfica. Tanto o sentimento da Infância, quanto o surgimento da câmera fotográfica, foram importantes na História da humanidade. Cada um deixou marcas e lembranças profundas em nossos registros. O sentimento de infância se faz presente em muitas produções artísticas em distintas épocas, onde a infância era vista como algo desnecessário para humanidade. Mas com a evolução do ser humano, a criança também foi se destacando dentro da sociedade, e aos poucos começou a conquistar seu território, onde suas especificidades eram compreendidas e respeitadas. Nos tempos modernos, a criança passou a ser importante na vida das pessoas e da sociedade, que passa a lutar e defender os direitos das crianças. A fotografia, como fonte de expressão contemporânea, nos traz esta referência, este sentimento de reconhecimento da infância. Com este meio a criança encontrou uma nova possibilidade de ver e interpretar o mundo em que está inserida. Através deste conteúdo será possível realizar análises e compreensões do mundo infantil partindo de imagens. Imagens que fazem parte da vida das crianças e nos revelam a sua verdadeira visão de mundo pela interpretação das fotografias. Os retratos nos revelam muito sobre os pensamentos e sentimentos mais profundos de uma criança. Palavras-chave: Visões. Interpretações. Infância. Fotografia. Sentimentos.

LISTA DE IMAGENS

Figura 1 – Imagem da primeira fotografia por Nicéphore Niépce........................ 16 Figura 2 – Retrato Louis Daguerre em 1839........................................................18 Figura 3 - Câmera escura portátil usada por Talbot.............................................20 Figura 4 - O Primeiro Negativo por volta de 1835, janela da casa de Talbot........21 Figura 5 - Trabalho fotográfico e a capa do livro criado por Talbot ......................22 Figura 6 - Estúdio de Talbot em Reading, 1844.....................................................23

Figura 7 - Talbot em daguerreótipo de 1844 ........................................................23 Figura 8 - George Eastman, inventor e fundador da Eastman Kodak..................26 Figura 9 - Logotipos criados ela Kodak no decorrer dos tempos..........................27 Figura 10 - Imagem de um filme fotográfico..........................................................28 Figura 11 - Obra de Sebastião Salgado................................................................34 Figura 12 - Obra de Sebastião Salgado ...............................................................34 Figura 13 – Imagem de crianças trabalhando no campo...........................................38

Figura 14 - Fotografia de uma criança morta, prática comum nesta época..........41 Figura 15 - Fotografia da menina Rafaela ............................................................52 Figura 16 – Fotografia tirada pela aluna Carolina ................................................54 Figura 17 – Fotografia tirada pela aluna Carolina................................................ .55 Figura 18 - Fotografia tirada pelo aluno Marcos ...................................................56 Figura 19 - Fotografia tirada pelo aluno Cauê ......................................................58 Figura 20 - Fotografia tirada pelo aluno Cauê ......................................................59 Figura 21 - Fotografia tirada pelo aluno Cauê ......................................................60

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................10

2 A FOTOGRAFIA E A CRIANÇA..........................................................................13

2.1 A História da Fotografia....................................................................................13 2.2 A contribuição do trabalho social de Sebastião Salgado..............................32 3 O SENTIMENTO DE INFÂNCIA .........................................................................37

4 ATRAVÉS DAS FOTOGRAFIAS DESVENDAMOS AS VISÕES DE MUNDO DAS

CRIANÇAS ...............................................................................................................44

5 O QUE AS CRIANÇAS VÊEM ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA ............................52

6 CONCLUSÃO ......................................................................................................63

REFERÊNCIAS ........................................................................................................66

10

1 INTRODUÇÂO

Este trabalho é o resultado de uma pesquisa realizada sobre a fotografia. Um

trabalho que iniciou com o meu Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia no

ano de 2007.

No meu Trabalho de Conclusão o objetivo era estudar e conhecer um pouco

mais sobre a História da Infância na História da Arte, que apresentou variadas

formas artísticas de representação. A fotografia apareceu na História por volta do

século XIX e trouxe grandes mudanças sociais.

No meu trabalho “As diferentes visões de Infância na História da Arte”, foi

possível acompanhar o reconhecimento e a representação da infância desde as

primeiras civilizações até os dias atuais, onde surgiu a fotografia. Nesta retrospectiva

foram revelados muitos dados importantes sobre como surgiu o sentimento de

Infância na humanidade.

Agora neste trabalho de Especialização o objetivo foi dar continuidade a esta

pesquisa que foi de grande importância para meu conhecimento e para minha

realização pessoal.

O trabalho com fotografias sempre aguçou a minha curiosidade, tanto a sua

técnica, quanto a sua utilização em trabalhos sociais. A atividade com imagens, com

fotografias, surgiu no século XIX como um meio de expressão dos ideais humanos.

Meio que se tornou inclassificável na expansão da Arte contemporânea, gerando

certa desordem no pensamento dos estudiosos.

Através dos retratos é possível analisarmos as mudanças qualitativas em

nossa sociedade, podemos acompanhar a evolução do sentimento de infância. As

imagens nos refletem diferentes momentos e distintas culturas, que buscam ao seu

10

modo, representar e respeitar a sua visão de vida, o seu povo, a sua criança, as

suas crenças, o seu mundo.

Acreditamos que esta arte seja uma mágica composta de vários elementos

químicos, onde conseguimos imortalizar pessoas e momentos nas fotos. A fotografia

revitaliza os pontos capturados pela imagem, preservando a fidelidade e a

autenticidade do momento congelado pelo tempo.

Os retratos nos revelam muitos fatos, mas precisamos ter a sensibilidade de

uma criança para interpretá-los. Quem fotografa, não perde nada do que esta ao

alcance da câmera fotográfica, tudo é presenciado e revelado por este aparelho que

congela a alma das pessoas.

As histórias vividas se firmam em nossas vidas através das lembranças, dos

relatos e dos registros significativos. Os registros de imagens, de acontecimentos

que marcam os momentos de nossa vida, fator que explica a importância das fotos

para os seres humanos, pois é através delas que conseguimos reconstituir o

presente e o passado, as muitas páginas de nossas vidas.

O trabalho fotográfico é muito abrangente, amplo e por isso ele apresenta

muitas interpretações. Pode ser considerado como arte ou não. Depende do ponto

de vista de quem analisa os retratos, pois nenhum sai igual ao outro, as fotografias

são sempre diferentes umas das outras.

Nem todas as pessoas gostam de ser fotografadas, mostram-se tímidas,

retraídas e inseguras diante de uma câmera fotográfica. As crianças já são mais

dispostas, adoram participar de sessões fotográficas, principalmente dos acessórios,

onde esbanjam criatividade.

Gostam de ser retratadas e principalmente de retratar. Adoram pegar uma

câmera fotográfica e tirar fotos de tudo que apareçam na sua frente.

As crianças não precisam de técnicas especiais para registrar as imagens, é

só apertar o botão e observar os flashes. Esta é uma experiência muito gratificante e

relativamente significativa para a criança, pois através desta brincadeira ela

consegue nos passar a sua visão do mundo em que esta inserida. Conseguimos

descobrir um pouco mais sobre a sua interpretação da realidade.

11

10

A primeira parte deste trabalho aparece como uma pesquisa sobre a História

da fotografia e alguns momentos Históricos da Infância que acabam se misturando

na História da Humanidade. Ela apresenta dados científicos e sociais desta arte.

Também apresenta um pouco do trabalho do fotografo Sebastião Salgado.

Na segunda parte trago um pouco da História da Infância, relembrando fatos

e acontecimentos importantes no reconhecimento das crianças pela humanidade.

A terceira parte trata da visão social da fotografia no reconhecimento da

Infância. Fala da ligação histórica entre a Infância e a fotografia. Mostra como é

possível revelar a visão de mundo, de vida das crianças através dos retratos.

A última parte vem como o relato de uma experiência fotográfica com

crianças. Onde as crianças tiveram a oportunidade de manipularem uma câmera

fotográfica da maneira quisessem. Uma atividade que foi realizada e apresentada

sob diferentes pontos de vista, que traz revelações sobre as diferentes visões de

mundo destas crianças.

Acredito que com estes conteúdos e reflexões será possível reconhecer e

analisar o papel da fotografia na História da Infância. Papel importante no

reconhecimento destes pequenos e nas suas diferentes visões de mundo, de vida.

Através deste meio conseguimos desvendar aos pensamentos mais internos de uma

criança.

12

10

2 A FOTOGRAFIA E A CRIANÇA 2.1 A História da fotografia

As nossas primeiras lembranças de vida são os registros visuais. A fotografia

busca na memória a vivência perdida no tempo, narrando um momento através da

imagem. E através destas fontes iconográficas nós também resgatamos a História

da Infância, demonstrando sua dinâmica ao longo dos tempos.

Assim como a História da Infância, a trajetória da fotografia também foi longa

e dispersa em alguns momentos. A história desta arte começa com os trabalhos

realizados por químicos, filósofos, alquimistas e físicos desde o inicio da

Antiguidade.

Aproximadamenete, por volta de 350 a.C., na Grécia Antiga, Aristóteles já

conhecia o fenômeno da reprodução de imagens através da passagem da luz por

um pequeno orifício. Este primitivo processo de produzir imagens foi denominado

como câmara escura e foi usada pela primeira vez pelos árabes no século X para

observar os eclipses. Este foi o principio de nossa câmera fotográfica.

A civilização grega realizava seus trabalhos artísticos direcionados para a

vida presente, contemplando a natureza. As suas representações visuais eram

voltadas à racionalidade e à inteligência. Fator que excluía a criança desta

sociedade, não havia a necessidade de registrar este ser.

Alhazen em meados do século X, concluiu suas descobertas químicas sobre

a reprodução de imagens, descrevendo um processo de observação dos eclipses

13

10

solares através da utilização de um instrumento óptico escuro. A câmara escura era

um quarto escuro com um pequeno orifício aberto para o exterior.

Esta câmara era usada por artistas do século XVI, como apoio para esboçar

as pinturas; Leonardo Da Vinci já fazia uso deste meio em suas obras1.

No ano de 1525 já se conhecia o trabalho de escurecimento dos sais de prata

que em 1604 foi aprimorado pelo físico-químico italiano Ângelo Sala, que realizou

experimentos com compostos de prata, que escureciam com a presença da luz

solar. Estudiosos e químicos desta época já conheciam este processo de

escurecimento que gerava a formação de imagens transitórias, passageiras sobre

uma fita de sais minerais. Mas uma grande dúvida pairava sobre este trabalho, o

processo era interrompido rapidamente, sem que a imagem pudesse ser registrada.

No campo das Artes Visuais, este período ficou conhecido como Idade

Moderna. Assim como os químicos e físicos trabalhavam no aprimoramento das

técnicas mais próximas de nossa fotografia atual, os artistas também aperfeiçoaram

suas técnicas artísticas.

Entre os diferenciais desta época, está a representação das crianças, que

passou a ser um dos personagens mais frequentes nas pinturas e nos retratos deste

período. Normalmente a criança aparecia na presença da família.

Os Renascentistas além de retomarem a arte greco-romana, também

alcançaram grandes progressos na Literatura e na Ciência. Buscavam novas

respostas para a técnica de capturação de imagens.

O professor de Medicina da Universidade de Aldorf, na Alemanha, Johann

Henrich Schulze, em 1725, realizou a projeção de uma imagem com uma duração

de tempo maior, porém não o suficiente para que a mesma conseguisse ser

regsitrada. Continuou seus experimentos, colocando à luz do sol um frasco com

nitrato de prata, que algum tempo depois, foi possível perceber que a parte da

emulsão atingida pela luz solar recebeu uma coloração violeta escura, e o restante

1 http://pt.wikipedia.org/wiki/Historia_da_fotografia

14

10

da solução não tinha alterado sua cor original, continuava com a cor esbranquiçada.

Ao sacudir a garrafa com o material, observou o desaparecimento da cor violeta.

Em busca de uma explicação e de um progresso neste processo, Schulze deu

continuidade ao estudo. Colocou papel carbono no frasco e levou-o ao sol na

esperança de ter um novo resultado. Passado um certo tempo, quando foi remover

os carbonos, percebeu marcas esbranquiçadas projetadas pelas matérias escuras,

que formavam o perfil claro nas tiras opacas do papel. Como não tinha certeza do

resultado, não podia afirmar qual era o determinante exato da alteração. Refez

novamente o experimento dentro de um forno na tentativa de desvendar se o

resultado se dava pelo calor ou pela luz. Nesta tentativa nada aconteceu, não houve

nehuma alteração, confirmando então que a luz provocava a mudança.

Em várias tentativas, acabou constatando que a luz de seu quarto era

suficientemente forte para escurecer as formas na mesma cor dos materiais que as

delineavam. Foram muitos anos de pesquisa procurando o resultado esperado.

Muitos físicos e químicos começaram a demonstrar interesse pelo processo

fotográfico; com o passar dos anos vários estudiosos tiveram progressos neste

processo. Carl Wilhelm Scheele, um químico suíço, em 1777, também conseguiu

comprovações do efeito de escurecimento dos sais minerais sobre o efeito da luz2.

Enquanto os quimicos realizavam suas pesquisas e descobertas no ramo da

fotografia, os artistas desta época dedicavam-se a técnica de retratar as pessoas

através da pintura. Esta prática de retratar despertou o interesse de muitas famílias

do século XVIII, que buscavam conservar a imagem através da arte dos pintores. Os

retratos de crianças tornaram-se numerosos neste período, fato que indicava a sua

existência e o seu reconhecimento; as crianças deixavam seus disfarces do

anonimato e fixavam-se na vida dos adultos.

Já no inicio do século XIX, na busca de novos resultados no processo

fotográfico, Thomas Wedgwood organizou experimentos semelhantes ao de

Scheele , colocando à luz do sol folhas de árvores e asas de insetos sobre papel e

couro branco que foram sensibilizados pela prata. Obteve o contorno em negativo,

2 www.fotoserumos.com

15

10

onde tentou de muitas maneiras torná-las permanentes no registro; fato que não foi

possível, pois era impossível interromper o processo e a luz escurecia

demasiadamente as imagens.

Wedgewood, Schulze e Scheele realizaram grandes descobertas no

processo onde os átomos de prata possibilitavam a formação de conjuntos e cristais

que apresentavam reagentes à energia da ondulação de luz.

Dentro da História da fotografia existem muitos nomes e muitas descobertas.

Em 1817, o francês Joseph Nicéphore Niépce , alcançou o registro de imagens com

cloreto de prata no papel. Já em 1822, Niépce obeteve a fixação de uma imagem

pouco definida sobre uma chapa metálica. Neste processo ele usou nas partes

claras betume da judéia, que mostrava-se insolúvel sob a ação da luz, e as formas

escuras na base metálica3.

No ano de 1826, tivemos a primeira fotografia conhecida em nosso mundo,

que foi tirada da janela da casa de Niépce, onde é conservada até hoje. Ele

conseguiu reproduzir, após dez anos de experiências, a vista descortinada da janela

do sótão de sua casa. Foi produzida com uma câmara, sendo exigidas cerca de oito

horas de exposição à luz solar. Isto aconteceu quando o francês realizava pesquisas

de um meio automático para copiar desenhos e traços nas pedras litográficas.

Figura 1: Imagem da primeira fotografia por Nicéphore Niépce, em 1825.

3VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

16

10

Muitos foram os progressos no estudo da fotografia. A sociedade, assim como

a química e a física desta época, também evoluiu. Na Idade Média as pessoas

ignoravam a existência de qualquer criança, a sua passagem pela família e pela

sociedade era muito breve e insignificante. E já na Idade Moderna a criança

começou a conquistar o seu lugar junto da família e da sociedade. Os retratos de

crianças sozinhas tornaram-se uma prática comum neste período.

Assim como a fotografia ganhava seu espaço e seu reconhecimento como

técnica para capturar imagens, a criança também assegurava seu espaço neste

tempo.

Niépce, como pesquisador interessado na área fotográfica, acabaou

descobrindo que alguns tipos de asfalto, como o betume da judéia, endureciam

quando expostos à ação da luz. No seu experimento dissolveu no óleo de lavanda o

asfalto, protegendo esta mistura com uma chapa de antimônio, estanho, cobre e

chumbo. Sobre a superficie fez uma ilustração com o traço banhado em óleo, para

que se mostrasse translúcida. De fato quando a experiência foi exposta ao sol, o

asfalto endureceu nas partes transparentes da ilustração, deixando a luz chegar a

placa, mas nas partes cobertas o conteúdo permaneceu solúvel.

Após, limpou a placa com óleo de lavanda retirando todo betume, passando a

chapa no ácido, que acabou corroendo as áreas onde o betume foi removido. Com

esta corrosão uma imagem começou a ser formada, fato que poderia ser usado na

reprodução de cópias.

Entusiasmado com suas descobertas, em 1829 Niépce começa a trabalhar

com Jacques Mandé Daguerre em novas pesquisas.

Niepce e Jacques Mandé Daguerre iniciaram suas pesquisas em 1829. Dez

anos depois, foi lançado o projeto que capturava as imagens. A conhecida “máquina

de tirar retrato” surgiu pela primeira vez em 1839, como um daguerreótipo4. Mande

Daguerre fez uma visita afável em Paris e acabou impressionado com os vultos

4Antigo aparelho fotográfico inventado por Daguerre; imagem produzida por este aparelho; reprodução exata.

17

10

imprecisos de um engraxate e seu cliente, que se mostravam paralisados o tempo

suficiente para realizar a impressão da imagem na lenta chapa do daguerreótipo.

Pela demora do processo, não era possível realizar o registro dos objetos em

movimento.

Este projeto de máquina era feito numa placa de ouro e de prata, que quando

exposta a vapores de iodo, acabava formando uma camada de iodeto de prata sobre

o mesmo. Quando colocado numa caixa escura e exposta à luz, a chapa era

revelada no vapor de mercúrio aquecido, registrando as imagens. As imagens eram

fixadas por uma solução de tiossulfato de sódio. Processo dificil e lento de se

entender, mas com um resultado visivel 5.

A imagem produzida no aparelho não era como a nossa fotografia atual, não

existia a possibilidade de fazer cópias, o retrato era único. Apresentava uma imagem

bastante nítida, pequena e de superfície distintamente refletida.

No dia 24 de junho de 1839, meses antes da oficialização da descoberta de

Daguerre, foi realizada a primeira exposição fotográfica de que se tem notícia. O

responsável por este evento foi o francês Hippolyte Bayard, que exibiu a cópia das

imagens sobre papel, revelando uma nova tendência na arte da fotografia.

Figura 2: Louis Daguerre em 1839

5 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

18

10

Este período mostrou-se ameaçador aos trabalhos artísticos, pois esta nova

técnica concorreria com as antigas pinturas. Neste período destacava-se a arte

romântica, que entre as grandes transformações sociais e econômicas, deparava-se

com o nascimento da fotografia, que surgia como uma forte concorrente. Como a

fotografia parecia ser uma técnica de baixo custo, os artistas acabaram perdendo o

seu lugar nas representações das imagens.

Muitas mudanças sociais ocorreram com esta nova técnica, que acabou

despertando o interesse da nobreza em adquirir seus próprios retratos de estúdio.

Assim as pessoas admiravam a sua imagem através de uma técnica barata e real.

Em 1839, Daguerre conseguiu o reconhecimento do projeto pela Academia de

Ciências e Artes, no Instituto Francês. A daguerreotipia se expandiu

extraordinariamente pelo mundo, atravessando o Atlântico, neste ano os norte-

americanos se destacaram na produção deste aparelho6.

Com a extensão desta técnica, este instrumento passou a ser um acessório

luxuoso, revestido de estojos requintados com metal dourado. O daguerreotipo

apareceu para a sociedade emergente como mais uma possibilidade de se igualar à

nobreza que era retratada por grandes pintores da época. Este objeto que congelava

a imagem, tornou-se algo luxuoso, uma oportunidade para as pessoas humildes

fugirem de suas limitações de espaço e tempo, surgindo como um troféu que era

exibido com orgulho pelas famílias.

A invenção de Daguerre e Niépce se difundiu pelo mundo todo. Em 1840,

Friedrich Viogtlander e John F. Goddard alcançaram um resultado satisfatório em

suas pesquisas, criando lentes com abertura maior, tornando mais sensível à placa

com bromo.

O inglês Willian Henry Fox Talbot sempre trabalhou em pesquisas sobre

imagens, em 1835 construiu seu primeiro invento, uma pequena câmara de madeira,

com somente 6,30 cm2, que era chamada de ratoeira por sua esposa. A câmara era

carregada com papel de cloreto de prata e de acordo com a óptica utilizada, era

6 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

19

10

necessário de meia à uma hora de exposição à luz solar. Com isso a imagem

negativa era projetada em sal de cozinha e submetida a um papel sensível. Desta

maneira a cópia era positiva sem a inversão lateral. A fotografia mais conhecida por

esta técnica, negativo/positivo, é da biblioteca de Locock Abbey7.

Figura 3: Câmera escura portátil usada por Talbot

Já em 1841, Talbot, lançou o calótipo, um processo mais eficiente de fixar as

imagens. O papel era molhado com iodeto de prata e depois exposto a luz numa

câmara escura, onde a imagem era revelada com ácido gálico e fixada com

tiossulfato de sódio. Gerando um negativo que era absorvido de óleo até ficar

transparente.

O positivo se dava pelo contato com um papel apreciável, como acontece nos

dias atuais. Talbot foi o grande inventor do negativo, que possibilitou a multiplicação

do número de cópias de uma mesma imagem. O negativo era constituído de um

papel de alta qualidade, pois na passagem para o positivo eram perdidos muitos

detalhes devido à fibrosidade do papel. Muitos profissionais buscavam melhorar a

qualidade das cópias usando uma base de vidro.

7 http://histfoto.wetpaint.com/page/William+Henry+Fox+Talbot

20

10

Figura 4: O Primeiro Negativo por volta de 1835, janela da casa de Talbot

Patenteou a sua idéia reivindicando a paternidade sobre a fotografia. Mas é

importante lembrarmos que a fotografia foi lançada, anunciada publicamente por

Daguerre, só que ela foi inventada por Joseph Nicéphore Niépce8 quase duas

décadas antes do lançamento oficial. Infelizmente o criador não conseguiu

acompanhar o reconhecimento de seu invento que foi terminado por Daguerre, que

deu o nome de Daguerreótipo ao projeto final9.

8 ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: olhares dentro-fora. São Paulo: EDUC, 2002.

9 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

21

10

A invenção do calótipo foi o inicio, a primeira fase no desenvolvimento da

fotografia moderna. O daguerreótipo direcionava a fotogravura, um processo usado

na reprodução de fotografias em revistas e jornais.

Em 1844, Talbot publica o primeiro livro do mundo a ser ilustrado com

fotografias, “The pencil of nature”, “Lápis da natureza”. Este trabalho foi editado em

seis volumes, com o total de 24 fotografias originais do profissional, com explicações

detalhadas dos trabalhos e com um alto padrão de qualidade10.

Figura 5: Trabalho fotográfico e a capa do livro criado por Talbot

Como seu trabalho estava se expandindo, Talbot resolveu comprar uma casa

na cidade de Reading e montar um pequeno estúdio fotográfico, onde passou a

fazer cópias de seus trabalhos que eram comercializados em tendas artísticas de

toda Grã Bretanha. Com este trabalho, a idéia de negativo/positivo se difundiu pelo

mundo todo, cujo fundamento até hoje é usado pelos profissionais.

10 http://histfoto.wetpaint.com/page/William+Henry+Fox+Talbot

22

10

Figura 6: Estúdio de Talbot em Reading, 1844

Em 1845, seu grande invento foi permitir a reprodução de fotos através da

fotografia negativa latente, ou seja, usando os negativos. Anos depois apresentou

uma nova patente que usava a porcelana como um suporte fotográfico11.

Figura 7: W. H. Fox Talbot em daguerreótipo de 1844

11 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

23

10

Em 1849 foi criada a câmera de lente dupla, que produzia duas fotografias de

focos diferentes, captadas pela nossa visão. Com isto surgiu um visor especial,

conhecido como “esteroscópio” que juntava e criava uma incrível ilusão de

profundidade tridimensional12.

Com o esteroscópio nasceu a esteriofotografia, que foi uma admirável

descoberta, pois sua visão binocular apresentou uma importante renuncia à

tradicional perspectiva pictórica e demonstrou pela primeira vez o poder da fotografia

em ampliar a visão do homem.

Com o passar do tempo, este estilo de retrato apresentou algumas

desvantagens, pois as pessoas eram acostumadas a apreciarem as pinturas com

um só olho e as fotografias não se reduziam a cópia na página impressa. Algo que

não deu certo e foi superado por novas invenções no ramo da fotografia.

No ano de 1851, o inglês Frederik Scott Archer criou uma operação de colódio

úmido, onde a placa era exposta a uma emulsão úmida. A solução continha

piroxilina em éter e álcool, adicionada a iodeto solúvel, com um pouco de brometo

que cobria a chapa de vidro com o preparo. A placa, ainda úmida, era exposta à luz

na câmara, revelada por uma solução em pirogalol com ácido acético e fixada

novamente com tiossulfato de sódio13.

Esta técnica gerava negativos sobre a chapa de vidro (onde o fundo era

pintado de preto para que a imagem aparecesse positiva), nos mesmos moldes dos

daguerreótipos. A imagem refletida no vidro foi chamada de ambrótipo, que significa

imagem imperecível. O responsável pelo o ambrótipo foi Marcus A. Root, que foi

popularizado com a ajuda de James A. Cutting e Isac A. Rehn, dois fotógrafos

americanos que divulgaram este trabalho14.

12 ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: olhares dentro-fora. São Paulo: EDUC, 2002.

13VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

14 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

24

10

O ambrótipo começou a competir seriamente com o daguerreótipo, por ter um

valor mais acessível, foi o mais procurado pelas famílias mais humildes. Depois este

foi sucedido pelo ferrótipo, outra técnica onde a base da imagem era uma fina folha

de ferro, como diz o próprio nome. Este processo foi patenteado pelo professor

americano Hamilton L. Smith de Ohio em 1856. Foi comercializado por Willian Neff e

Peter Neff Jr.

As chapas usadas pelos ferrótipos eram bem mais finas do que as do

daguerreótipo, tendo a vantagem de ser facilmente recortada e colada sobre a base

de papel. Fato que proporcionou sua expansão, pois desta maneira era possível

enviá-lo até pelo correio.

A passagem de um processo para o outro não foi de maneira linear,

passaram-se longos anos dividindo o mercado entre si, competindo e buscando

inovações para garantir a aceitação pela sociedade. No século passado a fotografia

atingiu seu auge na popularidade, os primeiros retratistas destacaram-se por uma

abordagem que obedecia cegamente os conceitos dos pintores, insuperados Nadar

e Carjat lançaram uma visão fotográfica do retrato.

Os primeiros clientes eram sempre amigos artistas e intelectuais, que

glorificavam este trabalho, achavam admirável esta técnica de registro das imagens.

Adolphe Eugene Disdere procurava aumentar o seu faturamento, com um

grande espírito prático, mostrou-se um novo inventor e pesquisador na área da

fotografia. Construiu uma câmera com diversas objetivas, ampliando as

possibilidades de uso de uma mesma chapa. Em 1854 ele cria um novo formato de

retrato, 6x9cm, que com seu custo baixo, ficou ao alcance de toda a população.

Com esta técnica Disdere acabou enriquecendo e sendo reconhecido

socialmente como um grande fotógrafo. Ainda mais quando foi convidado por

Napoleão III para retratar as suas tropas que estavam de partida para a Itália. Ele vai

além, em 1861 passou a ser o fotografo fixo do Ministério de Guerra Francês, onde

criou o retrato de identificação15.

15 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

25

10

Em 1864 este processo foi aperfeiçoado e começou a produzir uma solução

seca de brometo de prata em colódio. Em 1871, Richard Leach Maddox lançou as

primeiras placas secas com gelatina no lugar de colódio. Em 1874, as soluções

passaram a ser lavadas com água corrente, para retirar os sais residuais e

conservar as placas utilizadas no processo.

Em 1880 surgem os trabalhos do americano George Eastman, o criador da

famosa Kodak, que acabou revolucionando a História da fotografia. Há duas

explicações para o nome Kodak, a primeira é de que é uma onomatopéia do barulho

feito pela câmera ao ser disparada; a segunda é de que Eastman criou este nome

visando uma fácil pronuncia em qualquer língua, usando a letra “K”, que era sua

letra favorita16.

Figura 8: George Eastman, inventor e fundador da Eastman Kodak

Em oito de agosto de 1884, é dado um passo revolucionário na fotografia.

George Eastman e seu amigo Willian Walker registraram a patente do filme

16 www.comunicartedesign.blogspot.com/

26

10

fotográfico de rolo, que até então a foto era gravada numa chapa. Com um

adaptador, o filme era fixado a qualquer câmera que funcionasse à base de chapas.

Grandes foram seus feitos para sociedade, pois usufruímos destas descobertas até

hoje.

Em 1888, a Kodak lança sua primeira câmera compacta, leve e de simples

manipulação. As câmeras lançadas por esta empresa chegaram ao mercado com

valores populares ao alcance de todos, onde o slogan era “aperte o botão e nós

faremos o resto” 17. A partir daí, esta marca não parou de crescer, sempre

acompanhando a evolução dos tempos.

Figura 9: Logotipos criados ela Kodak no decorrer dos tempos Com esta marca surgiram as primeiras câmeras fotográficas descartáveis,

próximas de nossos modelos atuais. Mesmo com esta expansão no mercado da

fotografia, as antigas câmeras com chapas ainda firmavam seu espaço, como ainda

hoje, onde alguns profissionais continuam realizando seus trabalhos com velhas

máquinas fotográficas com chapas. Só que substituíram a chapa de vidro pelo papel

17 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

27

10

e depois pelo filme plano. Esta técnica continua sendo insuperável, a exposição e a

nitidez conseguem ser reguladas com maior precisão do que as máquinas de

pequeno porte.

Registros instantâneos não combinam com as antigas câmeras de chapas,

com o filme de rolo tudo ficou mais prático e a fotografia tornou-se uma arte popular.

Com o passar do tempo o retrato perdeu seu valor artístico e tornou-se uma

atividade amadora.

Figura 10: Imagem de um filme fotográfico

Todos que tinham uma câmera Kodak, se achavam fotógrafos, era apenas

apertar o botão e pronto. Mas não é tão simples assim, pois os fotógrafos

profissionais não apenas tiram as fotos, mas eles também às produzem.

A industrialização e a grande produção das fotografias fizeram com que este

meio perdesse a sua aura romântica, o seu encanto de ser o diferente. Antigamente

as pessoas iam ao fotografo para ganhar um status e a eternidade barata que a

fotografia fornecia. Não tinha espaço ou criatividade para retratos descontraídos,

naturais. Os batizados, casamentos e até a morte eram registrados da mesma

maneira, sem emoção, sem transparecer o que estavam sentindo naquele momento,

era algo frio e irreal.

A vulgarização do negativo e das cópias sobre o papel, acabaram

depreciando os famosos álbuns de fotografias, que antes eram exclusivos por suas

ornamentações que deslumbravam as pessoas. Antes os álbuns eram uma espécie

28

10

de objeto decorativo nas casas das famílias, algo fabuloso que só a nobreza poderia

ter e apreciar.

Com a vulgarização do negativo e das cópias sobre papel, o álbum, ricamente ornamentado com iluminuras, alguns até dotados de caixas de música acionadas ao abrir da capa, substitui os estojos, passando a enfeitar a sala de visitas das famílias abastadas, que brindavam o visitante com a história visual de toda a dinastia, do vovô imigrante ao caçulinha choramingas, passando pelo tio Juca e a tia Mimi.” (VASQUEZ, 1986, p. 17).

Nesta época já existia a comercialização de fotografias de celebridades

saciando a curiosidade das pessoas, fato que a imprensa tomou como tarefa, ela

tinha que saciar a curiosidade da população. Com isso a imagem perdeu seu valor

perante a sociedade, a sua qualidade diminuiu e o nome do profissional desta área

também recebeu uma conotação depreciativa, de fotografo passou a ser chamado

de retratista. Com a popularidade da fotografia muitos amadores tomaram o lugar

dos fotógrafos que eram especialistas no ramo, esta área transformou-se numa

atividade do “povão” onde bastava ter uma máquina fotográfica na mão para se

tornar um profissional.

Apesar desta vulgarização do retrato e de modificações em suas técnicas e

aparelhos, o seu caráter mágico nunca desapareceu, sempre levou e continua

levando, as pessoas a pensarem que esta atividade retira uma parcela da alma da

pessoa. Ela resgata o ser que se esconde neste corpo que é humano e incapaz de

transparecer a alma que a fotografia captura.

Por volta de 1850 a 1900, o movimento artístico começou a retomar o seu

lugar no meio cultural. Este período ficou conhecido como Realismo, que se

destacava pela tendência estética que retratava a crescente industrialização das

sociedades. Este movimento buscava uma abordagem objetiva da realidade e temas

sociais.

Temas como a infância eram bastante explorados. Agora a criança era vista

como uma pessoa de direitos que deviam ser preservados. Aos pequenos era

29

10

reservado o direito a sinceridade, a curiosidade e a espontaneidade, que são fatos

característicos da infância, que antes eram ignorados.

Em 1901, a fotografia foi projetada para o mercado em massa com a

produção da câmera Brownie-Kodak e com a industrialização e revelação de filmes.

O primeiro filme colorido moderno a existir em nossa história foi o Kodachrome, que

foi lançado em 1935, constituído de três soluções coloridas. O filme colorido

instantâneo foi divulgado pela Polaroid em 1963.

Já em 1990 foi lançada a primeira câmera digital pela Kodak, a DCS 100. Em

10 anos esta nova tecnologia tornou-se um produto de consumo próprio, quase

todas as pessoas passaram a ter uma câmera digital.

A grande revolução tecnológica no campo da fotografia se deu com a era

digital, que surgiu no final do século XX. Ela alterou todos os padrões no mundo da

fotografia, diminuindo custos, reduzindo etapas e acelerando os processos e a

produção de imagens pelo mundo atual. Este aprimoramento quebra todas as

barreiras e restrições que cercam o filme tradicional, fato que só amplia seu

prestigio18.

A era digital nos oferece diferentes meios e aparelhos para registrarmos as

imagens. Hoje conseguimos fotografar com câmeras digitais, telefones celulares,

aparelhos de MP4, entre outros que são lançados diariamente. Para nossa facilidade

estas imagens não precisam passar pelo longo processo de revelação, elas podem

ser arquivadas e editadas em um arquivo de computador, que podem ser impressas,

enviadas a outras pessoas por e-mail, ou armazenadas em web sites ou ainda

arquivadas em CD-ROM.

A antiga fotografia tornava-se um grande acervo de imagens que eram difíceis

de transportar de um lugar para outro, isso no caso da imprensa. Se acontecia algo

importante em outro continente e os jornais daqui quisessem publicar a imagem e a

noticia, ficava difícil, tornava-se um processo demorado, o que hoje é jogo rápido

através da imagem digital e da Internet.

18 www.comunicartedesign.blogspot.com/

30

10

A máquina digital possui um sensor digital CCD/CMOS que transforma a luz

em um mapa de impulsos elétricos, que são armazenados como informação em um

cartão de memória, um cartão digital de armazenamento. Como o ser humano está

sempre além, Daguerre não poderia imaginar que hoje nós teríamos uma máquina

que faz cópias de materiais e imagens, como a máquina de fotocópia ou a máquina

xerografia. Estes equipamentos formam imagens permanentes através da

transferência de cargas elétricas estáticas no lugar do filme fotográfico.

A grande invenção do século passado, a fotografia, surgiu como um meio de

expressar a imaginação humana, ampliando a percepção das coisas alheias. A

fotografia como arte, aprimorou o mundo a nossa volta mostrando o valor deste meio

moderno ao realista.

Ao aparecerem às mudanças sociais, transformou-se também a idéia de

infância, que no século XX tornou-se uma necessidade. Uma das principais

diferenças entre a criança e o adulto, mostrou-se no fato de os adultos terem

informações que não eram consideradas adequadas às crianças. Com sua

passagem pela infância, conforme saiam deste período passavam a ter acesso a

outros conhecimentos que eram reservados somente aos adultos.

O pensamento do homem é alimentado de comparações e meditações que

são proporcionadas através das imagens.

A arte de fotografar surgiu através da “fixação de imagem em uma placa

iodada” 19, de custo muito alto. A câmera fotográfica causou espanto às pessoas que

não conheciam esta técnica.

A nossa alma é alimentada por comparações e pensamentos entre os olhos e

a aura, os olhos e o conhecimento, olhos que nos dão a percepção para apreciar a

obra divina. Visão que também se mostra apática e desatenta quando se choca com

a realidade.

A alma também possui os olhos clínicos, estes sim, são capazes de entender

os diferentes indícios ao seu redor. Percepção que espelha a aura do ser humano e

reflete o meio em que ela vive.

19 ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: olhares fora - dentro. São Paulo: EDUC, 2002, p. 34.

31

10

A fotografia antes de qualquer definição é uma linguagem, um conjunto de

códigos verbais e visuais, ela é a comunicação. Toda linguagem tem a função de

significar, afirmar e comunicar. E a fotografia é tudo isso e mais um pouco, uma

parte que faz a diferença, “a emoção”.

2.2 A contribuição do trabalho social de Sebastião Salgado

A nossa História cultural e social se faz através de fatos e acontecimentos

que jamais serão apagados de nossa memória. E nossa lembrança é acionada

através das imagens, que revive cenas em nosso pensamento.

Muitas pessoas possuem esta sensibilidade de reviver as cenas pelas

imagens, e uma destas é o fotografo Sebastião Salgado. Os seus trabalhos são

significativos socialmente, pois são imagens chocantes, gritantes e reveladoras de

nossa realidade.

O economista mineiro, Sebastião Salgado Ribeiro Junior, tornou-se um

grande fotografo humanitário, onde o seu olhar e o seu coração passaram a estar

com os humilhados e ofendidos. Os cursos de pós-graduação em Paris, um cargo

confortável em Londres e trabalhos na Faculdade de Economia da Universidade de

São Paulo, levaram Sebastião a descobrir a existência de um fotógrafo, que estava

escondido na pastinha do executivo que tinha se tornado20.

Ao invés de ignorar esta descoberta e continuar sua vida normalmente com

seus trabalhos, acabou adotando esta idéia e mudando, virando a mesa, trocando a

pastinha e os papéis pelo equipamento fotográfico. Decidido a aprimorar suas

técnicas, retorna a África, que conheceu muito bem como economista, para iniciar

seu trabalho de denuncia contra os abusos sofridos por este povo.

20 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

32

10

Nos primeiros trabalhos fotográficos foram expressadas a revolta e angustia

que ele sentia ao ver tanta miséria, sofrimento e desigualdade social em diferentes

lugares do mundo. A sua primeira reportagem foi sobre a seca no Sahel, ao sul do

Deserto do Saara; a segunda foi sobre a fome da Etiópia, onde morreram mais de

meio milhão de pessoas com fome.

Em quatro anos conseguiu um vasto currículo, com muitas denuncias que

acabaram mexendo com algumas autoridades, que em 1976 acabaram confiscando

seu passaporte, interrompido uma parte de seu trabalho. Nômade por natureza

aproveitou suas férias forçadas para realizar seu primeiro projeto individual,

“L’afrique dês Colères”, enquanto esperava a sua liberação, que aconteceu meses

depois com a ajuda da Embaixada Brasileira em Paris.

Foram meses de reflexão, até sobre sua própria condição de emigrado,

registrando os imigrantes na França, realizando um trabalho dedicado, honesto e

humano. Após seu trabalho sobre a África, passou a ser conhecido por toda

imprensa, que saudava o novo e revolucionário fotógrafo.

Passou por muitos perigos, ameaças de morte por extremistas, contratempos

com as embaixadas, mas nada disso fez com que ele parasse de denunciar, de

mostrar a realidade que muitas vezes fica camuflada aos nossos olhos, seguiu na

sua missão. Continuou seus trabalhos em Portugal, na África, América Latina e inicia

sua trajetória no Brasil, com a greve dos metalúrgicos em abril de 8021.

Seus trabalhos conhecidos mundialmente despertam o interesse da Agência

Magnum, onde teve a oportunidade de fotografar o atentado contra o presidente

norte americano Reagan, quando preparava uma noticia sobre os cem dias de

governa. Esta publicação rodou o mundo todo, estas fotos lhe renderam muitos

dólares, faturamento que lhe ajudou a realizar um antigo sonho, passar oito meses

fotografando profissionalmente e quatro trabalhando com temas de seu interesse.

Sebastião sempre teve em mente o caráter subjetivo que a fotografia possui,

usando-o para discutir ideais e falsas profissões de fé. Ele tem respeito, admiração e

21 VASQUEZ, Pedro. Fotografia, reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM, 1986.

33

10

solidariedade com o próximo, por isso seus trabalhos refletem um ar de gravidade,

com um grande sentimento do trágico que transpira em seus trabalhos.

Figura 11: Obra de Sebastião Salgado

Os retratos de Sebastião transformam o sofrimento numa belíssima

declaração visual de esperança. A fome de viver, a dignidade, a fé, são expressas

ali nas imagens duras da luta pela vida e pela sobrevivência. Ele nos mostra que a

condição humana pede socorro, implora por alguns minutos beleza e atenção,

mesmo nas horas mais duras e terríveis. Sebastião nos mostra que o mal não

prevalece contra o bem.

Figura 12: Obra de Sebastião Salgado

As imagens das crianças fotografadas lançam uma maravilhosa incógnita que

pede para ser decifrada corretamente e com generosidade. Com seu olhar humano,

transfere todo o sentimento e angustia que estes pequenos seres sentem, ele é real

e mágico na transparência da imagem.

Em sua exposição Êxodos aparecem imagens de crianças mortas, algo que

para muitos é uma visão pesada e impressionante. Mas o objetivo era outro, mostrar

34

10

o olhar das crianças que foi golpeado pela solidão na hora de sua despedida. Fato

triste, mas real, a solidão na hora da morte é o pior dos modos de morrer. 22

A fotografia de Salgado coloca o espectador diante de uma denuncia sem

espaço de recuo, sem chance de uma leitura crítica da imagem e sua compreensão

e interpretação. Quem observa se vê diante de uma realidade consumada, já pronta

sem chances de alterações. Como diz José de Souza Martins, (2008, p. 108), “a

obra de Salgado não precisa de discurso e, menos ainda, de discursos de Salgado.

Ou ela “fala” por si mesma ou “não fala”. E, pessoalmente, acho que fala, fala muito

e fala bem”.

Este artista ficou reconhecido por diferentes nações pela sensibilidade

exposta em seus trabalhos. Quando trabalhou para a Organização dos Médicos

Sem Fronteiras, retratou por 15 meses os refugiados da seca e o trabalho dos

médicos e enfermeiros voluntários na Índia e na região africana da Etiópia.

Este trabalho resultou numa grande coletânea da luta por sobrevivência dos

diferentes povos de nosso planeta. Luta por comida, por liberdade, por honra, por

água, por um mundo mais humano e mais fraterno, onde cada pessoa tenha seu

espaço e direitos respeitados. Um mundo de crianças felizes, amadas e desejadas.

A fotografia dramática de Sebastião é presa às particularidades e

singularidades, sem fatores imagéticos que levem a desconstrução da interpretação

e da política expressa na imagem. As cenas trazem uma bagagem histórica que não

esta contida na imagem refletida, mas sinuosamente indicadas na verdadeira

fotografia, que infelizmente a maioria das pessoas ainda não conseguem fazer esta

leitura.

Ele nos traz as crianças refugiadas das guerras de gente grande, filhas de

sem-terra; órfãos de família e dignidade, de respeito e compreensão. Pessoas

nascidas em prisões, que desde o primeiro dia de vida já são privados de sua

liberdade de direito, que lhe é roubada, sem desfrutarem, sem viverem a sua

infância. Uma fase da vida do ser humano que passa a ser negada e roubada sem

que eles saibam o porquê. Sebastião nos mostra através de suas imagens, que o

22 MARTINS, José de Souza. Sociologia da fotografia e da Imagem. São Paulo: Editora Contexto, 2008.

35

10

nosso mundo está recusando a vida e anunciando a loucura humana em busca de

riqueza, sacrificando e explorando as nossas crianças.

O nosso mundo atual está violento e ambicioso, fazendo de vitimas as nossas

crianças. Crianças que são exploradas pela insensatez dos adultos. Mas mesmo

assim ainda esperamos mudá-lo, transformá-lo em um lugar seguro e fraterno para

as nossas crianças.

36

10

3 O SENTIMENTO DE INFÂNCIA

Assim como a fotografia, o sentimento de infância evoluiu através de

diferentes visões e pensamentos. A criança sempre se fez presente nos distintos

períodos de nosso progresso, sendo registrada em diferentes áreas do

conhecimento humano. Estas áreas nos apresentam valiosos estudos iconográficos

da evolução e do reconhecimento da infância na transformação dos tempos.

A infância sempre se fez presente na humanidade, manifestou-se de

diferentes formas, mas sempre de acordo com a hierarquia de cada época. A tão

conhecida sociedade tradicional, que era comandada pelo clero da época, não

reconhecia a criança, muito menos o adolescente, como um ser em

desenvolvimento.

Na Idade média o período da infância reduzia-se ao período mais frágil do

ser humano, ou seja, aos dois primeiros anos de vida. Quando a criança começava

a adquirir uma maturação física, a locomover-se, passava a ser misturada aos

adultos, onde partilhava jogos e trabalhos que eram direcionados às pessoas mais

velhas.

Ela deixava de ser aquela frágil criança e passava a agir como um jovem, que

tinha sua maturidade apressada pela sociedade e por sua família, que lhe roubavam

as etapas de sua juventude. A passagem da criança na família era muito rápida e

insignificante para ser lembrada e registrada, era um ser invisível e incapaz de tocar

a sensibilidade das pessoas desta época.

A construção dos valores éticos e morais não eram um dever da família. A

criança afastava-se cedo de seu lar e sua educação, por muitos séculos, foi

realizada através de sua convivência com outros adultos, onde aprendia o que

deveria e lhe era permitido saber. As crianças que eram capazes de superar os

37

10

desafios dos primeiros anos de vida eram obrigadas a viver na casa de outra família

que ficava responsável por sua educação e aprendizagem.

Figura 13: Imagem de crianças trabalhando no campo

O sentimento superficial da criança aparecia somente nos primeiros anos de

vida, quando era considerada “uma coisinha engraçadinha”. As crianças eram

consideradas como animais de estimação, que tinham o dever de divertir seus

donos.

Era comum a morte de crianças pequenas, algumas pessoas mais emotivas

mostravam-se desoladas com a perda, mas no geral as pessoas não se abalavam,

pois logo outra criança substituiria esta perda. Os pequenos viviam em outro mundo,

um lugar obscuro sem lugar para estes pequenos seres, eles viviam no anonimato.

As famílias pensavam somente na conservação de seus bens e na prática de

um oficio, valorizando a honra de sua casta. A afetividade não era o foco principal

das famílias, mas o amor se fazia presente entre os cônjuges e pais e filhos; não era

necessária a existência da criança, mas se ela existisse era melhor.

38

10

Os laços de afetividade eram construídos fora do seio da família, eram

realizados com os vizinhos, amigos, criados e amos. Era fora de casa que as

crianças encontravam o conforto e o carinho que precisavam.

A partir do século XVII este pensamento medieval sobre a criança foi

substituído por uma nova visão de infância. Uma das principais mudanças foi na

educação dos pequenos, onde a escola oficial substituiu a aprendizagem como

forma de educação, a criança não era mais misturada aos adultos.

O surgimento da escola trouxe muitos benefícios para as crianças, que

passaram a ter um lugar especifico para a sua aprendizagem. Mas toda mudança

tem seu lado negativo também, antes as crianças eram separadas de suas famílias

para a aprendizagem que ocorria em outras casas, e agora com o nascimento deste

lugar chamado escola, surgiu novamente uma quarentena para as crianças. Esta

instituição gerou um longo processo, onde as crianças ficavam por muitos anos

enclausuradas, presas num chamado processo de escolarização, que as detinham,

assim como os loucos da época eram isolados da sociedade.

Na verdade a escola deveria ser a luz no fim do túnel para as crianças desta

época, pois ela foi criada para ensinar e respeitar estes pequenos que antes não

tinham um reconhecimento perante a sociedade. Mas na verdade foi ao contrário o

que aconteceu, criaram um lugar para jogar e isolar as crianças de suas famílias e

da sociedade, não teriam mais problemas com estes pequenos.

Mas com surgimento da educação formalmente reconhecida, os olhares

começaram a mudar os pais, as famílias despertaram para um novo sentimento em

relação aos seus filhos, começaram a se preocupar e acompanhar seus estudos.

Nascia uma nova forma de afetividade entre os pais e filhos, pois as famílias

passaram a reconhecer e a entender a existência das crianças.

Começaram a organizar suas vidas em torno de seus filhos, que passaram a

ter um papel fundamental na organização familiar. Sua perda que antes era

indiferente aos olhos da família, agora passa a ser impossível perde-la ou substituí-

la sem uma enorme dor, pois cada criança era única e insubstituível. Com isto as

famílias diminuíram, pois se dedicavam mais aos filhos atuais, controlando o número

de crianças, para que pudessem dar o melhor aos seus herdeiros. Este

39

10

sentimentalismo gerou uma redução considerável na taxa de natalidade no século

XVIII.

Outro fato importante com o surgimento deste sentimentalismo em relação às

crianças foi a diminuição da mortalidade infantil no século XVIII. Pois as famílias

começaram a se preocupar e valorizar seus filhos, dando assistência e atenção,

conservando estas vidas. Fato que antes não acontecia, até por volta do século XVII

eram muito comum os infanticídios, um crime que era severamente punido, mas nem

por isso deixava de ser praticado. As crianças morriam asfixiadas naturalmente na

cama dos pais, onde dormiam, ninguém fazia nada para conservá-las ou salva-las,

os pais as deixavam morrer. Não existia nenhuma afeição por estas crianças, não

eram nada para estas famílias.

A igreja que era a controladora das famílias desta época, não aceitava a

prática dos infanticídios, mas mostrava-se moralmente neutra quando estes

aconteciam. Era uma situação de conflito entre os interesses das famílias com os do

clero, que se pronunciava como defensor do direito à vida.

Os infanticídios se equivalem aos abortos de nossa época, só que eles eram

praticados em silêncio e sem alarme, de maneira natural. Ao contrário dos abortos

que são denunciados em voz alta pela nossa sociedade.

A História da infância teve muitas direções na História da Humanidade. Dos

infanticídios que eram considerados naturais no século XVII, passou-se a ter um

respeito cada vez mais exigente pelo reconhecimento da vida da criança.

A vida física da criança não recebia tanta atenção quanto sua vida futura, sua

passagem após a morte. Desde as primeiras civilizações já existia a prática do

batismo, onde as idades apropriadas variavam conforme o ritual de cada época. O

Batismo era a prova escrita, o documento que comprovava a existência das crianças

em diferentes épocas da humanidade, além de “tratar a alma” destes inocentes.

No século XIV houve um grande aumento nos batismos, que passaram a ser

realizado logo após o nascimento das crianças, diferente dos séculos XI, XII, XIII,

onde o Batismo acontecia quando os pais quisessem, com atrasos de vários anos.

Nesta época as crianças eram batizadas grandes, os batistérios eram grandes

cubas semelhantes às banheiras, e este ritual acontecia em grupos, num longo

espaço de tempo. Por isso no século XIV os religiosos tornaram-se mais rigorosos,

40

10

exigindo que os pequenos fossem batizados logo após o nascimento, evitando que

esta pobre alma ficasse perdida se a criança morresse.

Figura 14: Fotografia de uma criança morta, prática comum nesta época

Ao falar em infanticídios e morte é importante ressaltar a representação das

crianças nos túmulos. Nos quatro primeiros séculos de nossa História, a imagem das

crianças é representada na companhia de seus pais, em seguida nos séculos V e VI

as crianças e suas famílias somem das representações funerárias. Nos séculos XI e

XII os túmulos passaram a ser separados, esculpidos individualmente e começaram

a usar as fotografias na identificação dos mesmos. Neste período não existiam

túmulos esculpidos de crianças.

No século XV os túmulos de crianças sozinhas ou na companhia de seus pais

tornou-se mais freqüente, tornando-se comuns no século XVI. Fato que

demonstrava a saudade que a família sentia pela perda da criança.

Aos poucos a criança foi conquistando seu lugar na família e na sociedade, foi

despertando diferentes sentimentos nas pessoas e em si mesma. Conhecendo suas

potencialidades e limitações perante o mundo de “gente grande”.

Mesmo vendo a criança com descaso e sem importância, as pessoas ainda a

reconheciam como um ser de alma, algo com vida. A representação da alma infantil

41

10

na maioria das vezes foi através da imagem de uma criança nua ou enrolada nos

cueiros. No século XVI a alma deixou de ser representada na forma de uma criança,

pois a criança começou a ser representada por ela mesma e com isso os retratos de

crianças tornaram-se comuns.

Distintamente ao que se pensa, ou ao que as fontes nos levam a pensar e

acreditar, o sentimento de infância como um momento próprio em nossas vidas, não

é natural ou inseparável a categoria humana do ser vivo. Esta idéia sobre a criança

teve seu inicio com o término da Idade Média, já que neste período era inconcebível

o reconhecimento de qualquer criança.

A infância foi descoberta no decorrer da História da Humanidade. Esta idéia

foi a grande descoberta do Renascimento e a mais humanitária na evolução do ser

humano. Esta consciência desenvolveu-se através do contato social e abstrato que

o homem concretizou com o mundo. Na sociedade de hoje existem várias infâncias,

o conceito de criança ainda é único, mas o conceito de infância é diversificado e

atemporal.

As crianças são mensagens que enviamos a um tempo que não veremos. Do ponto de Vista biológico é inconcebível que uma cultura esqueça a sua necessidade de se reproduzir. Mas uma cultura pode existir sem uma idéia social de infância. (POSTMAN, 1999, p. 11)

Na sociedade de hoje existem várias infâncias, o conceito de criança ainda é

único, mas o conceito de infância é diversificado e atemporal. Fica claro que o

conceito social de infância e de criança está relacionado à idéia de inocência, pureza

e fragilidade.

As civilizações de diferentes épocas conheceram a existência da criança, mas

não a reconheceram como um ser desenvolvimento, não lembravam de sua

existência. A criança era sufocada pelo mundo adulto, era obrigada agir como “gente

grande”, se não seria expulsa do mesmo e não teria um lugar próprio. Um lugar

onde fosse respeitada e valorizada por seus gestos simples de criança.

42

10

A visão encantadora da infância foi oprimida e ignorada pela sociedade por

muitos séculos. Por muito tempo os pequenos agiram, falaram e se vestiram como

os adultos, não tiveram a chance de vivenciarem este momento único na vida do ser

humano. Não brincaram como crianças, mas sim como os adultos. Não conseguiram

transparecer as suas especificidades infantis e a sua ingenuidade, pois infelizmente

as pessoas viam o seu físico como de uma criança, mas com um interior adulto, um

pequeno ser com responsabilidades de gente grande.

É importante ressaltar que a infância não foi e nem é um conceito rígido, que

se manteve igual por todos os séculos, ao contrário disso, é uma idéia, um

sentimento que continua em construção e que varia com as transformações de seu

tempo. A infância é a primeira etapa da vida e a mais importante no

desenvolvimento do ser humano.

Hoje conseguimos captar estas informações e emoções referentes à infância.

Um sentimento de querer ir além, de vencer os obstáculos em busca de novas

experiências e conhecimentos. Captamos os aspectos físicos, afetivos e

principalmente cognitivos de uma criança, reconhecemos a verdadeira alma de uma

criança.

43

10

4 ATRAVÉS DAS FOTOGRAFIAS DESVENDAMOS AS VISÕES DE MUNDO DAS CRIANÇAS

Das diferentes representações de expressões visuais que revelam a

realidade social, a fotografia mostra-se como uma forma que ainda procura o seu

lugar na sociedade contemporânea. Isso porque talvez seja a mais popular, a que

está ao alcance de todos os usuários, é o instrumento que possui um amplo leque

de variedades significativas de imaginários. Nossa imaginação voa com este

instrumento.

E isto não é diferente com as nossas crianças, se um adulto viaja com uma

câmera fotográfica, imagina uma criança que com sua inocência cria e recria o

nosso mundo. A tecnologia sempre se fez presente no progresso da imagem, em

diferentes momentos da História, as imagens concebidas pela imaginação que eram

modeladas pelas representações estéticas sofriam alterações ao serem

materializadas. Francastel estudou como o conhecimento cientifico influenciava a

representação das imagens no período do Renascimento.

A geometria veio fornecer meios, não para a compreensão abstrata de uma realidade teórica, mas para o arranjo de um novo material imaginário. O espaço do Renascimento é feito de todos os acessórios imaginados pelos artistas para concretizarem um julgamento prático – importante para sua conduta – e simbólico do mundo. O novo espaço plástico do Renascimento não é apenas uma forma, ele possui uma matéria que correspondia a certa soma de representações e sensações retiradas pelos artistas das condições positivas de sua existência, ela própria transformada simultaneamente pelo progresso das técnicas. Os pioneiros do Renascimento não descobriram e utilizaram uma lei permanente da natureza e do espírito humano. Eles adaptaram sua arte a determinado estágio do saber matemático de sua época. (FRANCASTEL, 1990, p. 42 apud PILLAR, 1999).

44

10

Ao considerarmos os recursos, técnicas e instrumentos disponíveis em cada

época de nossa História, observamos paradigmas que são caracterizados por

mudanças fundamentais na produção da imagem. As imagens eram produzidas

através de sistemas artesanais e mecânicos que dependiam da habilidade manual

de alguém para congelar o visível em alguma forma bi ou tridimensional.

A História da produção da imagem, desde o seu inicio, a sua manipulação da

matéria até a construção dos objetos, é um processo de superação das tecnologias.

A era digital das imagens, supera e engloba todas as descobertas anteriores de

captação de imagens pelas câmeras, dos métodos de recorte, de colagens, de

repetições, apesar dos materiais serem de outra natureza.

Cada linguagem tem uma expressividade própria, que mostra os propósitos

de cada artista. Nestes processos de representação, não pode se falar mais do que

a linguagem permite, o que pode ser dito por um meio, não pode ser dito por outro.

Desde o surgimento da fotografia que os artistas vem considerando estas

descobertas cientificas.

A intervenção de tecnologias pesadas afeta substancialmente a natureza da mesma imagem, um campo de fenômenos em que a intervenção das máquinas ópticas faz inserir a produção de imagens dentro de paradigmas que nos parecem novos e inéditos, embora nem sempre o sejam necessariamente. (MACHADO, 1994, p. 10 apud PILLAR, 1999).

A fotografia, o cinema, o vídeo e imagens que são construídas por

computadores, são atividades que mexem totalmente com o imaginário de qualquer

pessoa. A fotografia captura o real, memoriza a imagem registrada, ela congela o

tempo.

O trabalho fotográfico é um dos componentes da sociedade visual e

dependente da imagem. O retrato tem uma origem difusa e variadas funções, ele se

define no mundo contemporâneo, aparecendo como um suporte da necessidade de

vínculos entre momentos desencontrados, como documentos de tensão entre

ocultação e revelação, característica de nosso cotidiano.

45

10

No decorrer de nossa História as imagens sempre estiveram presentes como

uma forma de expressão. Com o estudo das imagens podemos descobrir

características econômicas, sociais e culturais de determinados grupos e pessoas.

As fotografias nos contam histórias, revelando costumes e histórias de vidas, que

acabam confundindo a própria memória.

As imagens nos levam a um mundo visível que nos faz buscar um sentido.

Quando folheamos um álbum de família, somos levados a reconstituição que levou à

seleção daquelas fotos, realizando um questionamento interno sobre as imagens

observadas.

As fotografias surgem como instrumentos importantes para recordar e

reconstituir uma história e conhecer um pouco mais sobre o objeto escolhido. O

registro da imagem é a marca do real, mas não apresenta o presente em sua

totalidade, pois o agora passa a ser uma reconstituição do passado. Esta marca é

um recorte, um fragmento do tempo e do espaço.

As imagens abrangem meios tradicionais de reconstituição, como os álbuns

de família, as imagens de hoje digitalizadas que circulam na Internet, que são fontes

de informação para quem assume o papel de leitor. As fotografias não são apenas

as imagens congeladas, elas condizem um texto implícito, onde o leitor terá que ter

a competência para a leitura, revelando a mensagem escondida na imagem.

A fotografia como fonte histórica é composta de uma série extensa e

homogênea de semelhanças e diferenças próprias do conjunto da imagem. Sua

analise pode ser organizada conforme seu tema: nascimento, infância, festas...

Partindo de uma analise temporal, a imagem fotográfica nos traz a presentificação

do passado, congela um momento que nunca mais retornará, que é único.

Faz parte de nossa vida, fotografar nossos filhos, nossos momentos

importantes e até os que não são tão significativos. Muitos temas e momentos são

registrados, como o dia-a-dia no crescimento das crianças, batizados, o primeiro dia

de aula, um passeio ao Jardim Zoológico, entre tantos outros. Admiramos e

colecionamos várias fotografias, organizamos em álbuns fotográficos onde também

são armazenadas muitas histórias vividas. Normalmente estes registros são a marca

da existência das pessoas e dos fatos ocorridos, onde conseguimos fazer

comparações, como: “olha como ele cresceu”.

46

10

Através da fotografia a memória ganha uma poderosa aliada, ela surge como

um reforço as nossas lembranças. A memória visual é pensada e sentida,

historicamente construída, ela é gerada pela visualização de fatos passados. Ela é

vista como uma mensagem de signos não- verbais, que são compreendidos através

de códigos onde sua leitura e análise geram certas reações ao leitor.

As mensagens visuais geram diferentes ações no humano, a ação cognitiva,

onde a pessoa reflete e pensa sobre o sentido da imagem; e a emotiva que produz

diferentes sentimentos nas pessoas. Como Barthes afirma: “na foto a imagem

transforma-se numa escrita”, uma linguagem gráfica que é traduzida para a

linguagem verbal.

A fotografia como técnica de registro utiliza-se da imagem como um ponto de

investigação e análise. É percebida como um instrumento de representação fiel da

realidade, onde a concretização desta imagem visual é realizada por um observador

atento e sensível a realidade, ao seu redor.

A leitura do registro visual mostra-se como uma maneira de aproximação da

realidade, de uma parte do todo, que é enfocada por vários ângulos e pontos de

vista que possibilitam e revelação da totalidade. A revelação das imagens

proporciona lembranças e a reconstituição das histórias vividas através das imagens

e na própria imagem.

Quando falamos em fotografia, pensamos num leque de possibilidades de

leitura na imagem revelada com uma bagagem histórica a ser interpretada, com

objetos, corpos, gestos que expressam um conteúdo ideológico. Revela emoções,

sensações, atitudes e denotações de uma época.

Precisamos ter um olhar curioso que desvende a narrativa do objeto

expresso, que procure a quem pertence, quando, onde e por quem foi realizado,

com que fundamento foi registrado e se faz parte de algum trabalho de pesquisa,

entre tantos outros questionamentos que podem ser realizados a partir do registro

de um objeto.

Entre outros recursos de investigação na área de Ciências Sociais, a

fotografia se destaca por seu caráter realista e natural, mostra-se como um recorte

do presente vivido no passado.

47

10

A fotografia é utilizada em várias áreas do conhecimento, na Psicologia, na

Sociologia, na História, na Arte entre muitas outras. Dentro do processo de ensino-

aprendizagem este meio é bastante explorado, tanto como atividade, quanto forma

de registro.

Na aprendizagem as imagens auxiliam na rememoração, ajudando a repensar

distintos aspectos no processo de ensino-aprendizagem, como a criatividade e o

próprio processo de criação, estratégias e formas para atender as necessidades dos

alunos, o processo de aprendizagem individual e em grupo, entre outros aspectos

importantes. A construção do estudo e da reflexão da imagem se faz através do

diálogo que narra o olhar nas fotografias.

Este trabalho com imagens não deve ser a confirmação de algo, mas sim o

ponto de partida para uma meditação, para um ato reflexivo de experiências

anteriores. Resgatando a experiência vivida através de observações e registros

desta realidade que já passou. Ao rever as imagens redescobrimos a realidade, a

escrita e a imagem, as diferentes linguagens e possibilidades de um tempo passado.

Ler uma fotografia é perceber, compreender, interpretar os elementos e a

própria imagem. Sendo que a imagem foi produzida por alguém num determinado

contexto, numa determinada época com sua visão de mundo, que é própria e

individual.

Muitos acontecimentos mundiais produziram efeito na fotografia, que passou

a representar muitas informações sobre o mundo. Com o passar dos anos o retrato

passou a ser visto como a representação da realidade, ele comprovava a existência

daquilo que era visto. A fotografia sempre transmitiu informações, visões e

pensamentos, mas nem sempre todos os leitores estão preparados para percebê-la

em sua totalidade.

A fotografia é uma atividade de expressão pessoal e também uma forma de

representação das diferenças do mundo. Muitos acontecimentos ficaram conhecidos

mundialmente através do retrato, este meio artificial que diz muito sobre a realidade.

Fotos históricas nos revelam guerras, conflitos, doenças, mortes, vidas entre

vários acontecimentos que tocam o ser humano. As imagens nos revelam a visão de

mundo, de vida do fotografado e do fotografo. É uma imagem carregada de anseios

e esperança.

48

10

Na fotografia imortalizamos pessoas e retomamos o tempo perdido. A

identidade individual do ser humano depende da memória, e através da fotografia

auto-afirmamos a nossa pessoa. Nada foge do alcance das câmeras fotográficas,

tudo que esta ao seu alcance é captado e revelado por este possuidor de almas.

O processo fotográfico surgiu como um meio artístico, ligado à criatividade e a

imaginação. A História da Arte e da fotografia tem grande contribuição social na

história da infância, pois estas trajetórias acabaram se cruzando no decorrer da

história da humanidade.

Através das imagens o homem primitivo entendeu e representou seu mundo,

revelando características de sua cultura. O sentimento de infância não nasceu com a

humanidade, ele se fez através d percepções e interpretações dos fenômenos

externos e internos das pessoas. Este sentimento tornou-se real a partir do convívio

social que a humanidade criou com o mundo.

A história da fotografia foi a enunciação do reconhecimento das crianças,

através do retrato elas deixavam o anonimato e faziam-se presentes na vida dos

adultos. Assim como a fotografia, a infância não nasceu do nada, elas levaram

quase duzentos anos para serem reconhecidas.

As imagens são as grandes aliadas no estudo da história da criança, no

estudo da infância, através delas conseguimos acompanhar as mudanças

qualitativas e significativas na visão dos pequenos. Observamos a visão dos adultos

em relação à criança e da própria criança em relação ao mundo em que está

inserida.

Imagens históricas nos remetem conteúdos e vivências de grande valor para

a nossa história e para que possamos compreender a mágica da fotografia e a

descoberta da infância.

Na História Social da Criança e da Família conseguimos identificar o

sentimento de infância em diferentes épocas de nossa história e principalmente

como as crianças eram vistas pelos adultos. Na maioria das fontes de estudo

encontramos a visão dos adultos em relação às crianças, dificilmente nos

deparamos com o contrário, com a opinião, a visão das crianças em relação ao

mundo em que estão inseridas.

49

10

Assim como as imagens conseguiram e ainda transmitem a visão que os

adultos tem das crianças, também é possível representar a visão infantil, a

compreensão dos pequenos neste mundo diverso.

As imagens de crianças e feitas por crianças nos trazem a tona um acervo

riquíssimo com distintas compreensões e leituras de mundo. A imagem leva o leitor

a desvendar o todo e as partes do universo particular da criança e o contexto social

que a cerca.

A criança viaja com sua imaginação e criatividade, ela é capaz de ver e captar

coisas que os adultos jamais imaginariam. A sua maneira de ver o mundo e o seu

contexto é particular e única de sua inocência. Seu olhar é ingênuo e verdadeiro

como nenhuma outra visão. Ela busca uma imagem que traduza suas emoções, seu

jeito de ser, de estar e de compreender o mundo.

Crianças pensam muito diferente dos adultos, elas percebem o mundo visual

de maneira especifica única, enquanto os adultos são incapazes de separar peças

individuais das fontes de informação para a percepção do todo. Os adultos não

conseguem captar a mensagem que esta além da imagem.

A criança olha o mundo com um olhar mais aguçado, é um olhar olhando

mesmo. Por isso devemos desestruturar a percepção, desacomodá-la, estranhar o

que é conhecido, precisamos propor um exercício de estranhamento que olhe o

velho de nova forma, percebendo o que está mais próximo. Quanto mais

trabalhamos este olhar, passamos a prestar à atenção a visibilidade do contexto

explicito. É preciso agir para conseguir ver.

A educação é um processo dinâmico e ininterrupto para se apegar a temas

consagrados e tradicionais, é preciso recorrer a estratégias próprias de comunicação

que assegurem a autoria e a criatividade das crianças. O trabalho educativo com

imagens precisa atender as expectativas e respeitar os pontos de vista das crianças.

Os pequenos são sinceros e verdadeiros em suas visões e crenças, na

maioria das vezes tudo é perfeito e mágico, mas quando as imagens refletem uma

energia negativa, são fielmente captadas pelas crianças. Elas são sensíveis e

receptíveis na análise das imagens.

50

10

O sentido real da imagem subsiste e tenta resistir, o possível esta escondido,

mas insiste, o modelo virtual existe, mas o atual é que acontece. O trabalho social e

educativo com imagens e processos de criação artística mobilizam saberes e formas

complexas de manuseio da fantasia e de repertórios conceituais.

Através da fotografia é possível desvendar o mundo de uma criança,

conhecer a sua maneira de entender e viver o mundo em que esta inserida. Este

meio serve de aliada nos trabalhos de pesquisas que buscam conhecer a vida e a

historia das crianças na história da humanidade.

A fotografia revela uma aura, uma narrativa que é registrada no retrato. Ela

não é apenas uma reprodução química que revela a realidade, não é apenas um

registro documental e cientifico, ela é a própria realidade revelada, resgatada e

atingida. Assim como a história da infância, que não é apenas um registro histórico,

é uma condição, uma fase, um período que foi revelado e reconhecido através de

suas imagens.

51

10

5 O QUE AS CRIANÇAS VÊEM ATRAVÉS DA FOTOGRAFIA

Quem nunca fez a experiência de dar uma câmera fotográfica a uma criança?

Quem ainda não fez não sabe o que esta perdendo. Esta simples brincadeira diz

muito sobre uma criança. Através de uma imagem e principalmente pelo processo

de capturação, conseguimos chegar aos sentimentos mais internos de uma criança.

Os pequenos não precisam de técnicas e posições para capturarem suas imagens,

o interessante são os flashes. As crianças registram suas mensagens brincando.

Dando continuidade ao meu primeiro trabalho sobre fotografia na conclusão

do meu curso de Pedagogia, aqui retomo a experiência com crianças fotografas.

Desta vez o meu trabalho de pesquisa foi realizado com quatro crianças de

diferentes idades, Rafaela de um ano e oito meses, Carolina de três anos e seis

meses, Marcos de quatro anos e cinco meses e Cauê de seis anos, todos

freqüentam a mesma Escola de Educação Infantil na cidade de Portão, onde resido.

Fiz várias propostas às crianças e todas foram bem sucedidas nos resultados.

Com a pequena Rafaela realizei um trabalho diferente, envolvendo a sua própria

imagem. Primeiramente capturei a imagem da “Rafinha”, como é conhecida pelos

colegas.

Figura 15: Fotografia da menina Rafaela

52

10

Não foi nada fácil, pois não parava um minuto, corria de um lado para o outro

fazendo rápidas poses que a câmera fotográfica não conseguia acompanhar.

Consegui congelar uma imagem de rosto da pequena, após imprimi esta e outras

imagens e levei-as para sala desta turma, para que pudéssemos observá-las.

É incrível a reação destes pequenos perante a imagem congelada no papel,

eles ficam impressionados, sem como isto acontece.

Ao mostrar a fotografia onde a Rafaela aparecia bem, foi instantânea a

resposta.

Perguntei: Quem aparece nesta foto? Quem esta aqui?

- “A Aufa” (a Rafa), respondeu os colegas.

Quando ela escutou o seu nome, veio correndo em minha direção para ver a

fotografia. Ao observar o retrato questionei: Quem é esta menina?

- “O nenê”, respondeu a Rafaela.

Pegou a fotografia e saiu correndo em direção aos amigos. Mostrava feliz

aquela imagem e não deixava ninguém tocar, era do nenê.

A pequena Rafaela se deparou com a mágica da fotografia, ficava

impressionada com aquele pedaço de papel que refletia a sua imagem. È uma

experiência muito gratificante, pois muitas vezes julgamos as nossas crianças pelo

seu tamanho e não por sua capacidade, nós profissionais da Educação ainda nos

pegamos admirados com algumas reações das crianças, às vezes duvidamos de

seu potencial.

Senti-me assim, pois a reação desta pequena, que ainda esta pronunciando

as suas primeiras palavras, me surpreendeu, esta simples brincadeira com imagens,

foi algo importante para a Rafaela.

Com as outras crianças a atividade foi diferente. Dei a câmera fotográfica

para que cada um tirasse as fotografias que quisesse. Tiram fotos da rua, da escola,

de casas, de flores, de tudo que eles acharam interessante.

53

10

Os resultados foram distintos. Cada um a sua maneira registrou alguma coisa

que achou importante. Começarei com a Carolina.

Entre as fotografias que ela tirou, eu pedi que ela escolhesse duas para

analisarmos em conjunto. A primeira foi da parede da Escola, onde tem a imagem

de crianças brincando de esconde- esconde.

Figura 16: Fotografia tirada pela aluna Carolina

Comecei a questioná-la sobre a fotografia.

- O que aparece na imagem?

- “Três criancinhas brincando” (Carolina).

- Esta imagem não poderia ser diferente?

- “Sim”.

- O que poderia ser?

-“As princesas dançando”.

- Por quê?

54

10

- “Eu gosto de princesas e elas são bonitas, elas não tem nariz grande”.

- Mas não poderia ser outra imagem além das princesas?

-“Podia se um monte de crianças brincando de não atirei o pau no gato”.

- o nome da brincadeira não é “atirei o pau no gato”?

-“Não pra mim é não atirei o pau no gato, o meu gatinho é querido e não é pra

bate nele”.

A segundo fotografia da Carolina foi a porta de uma sala que tem saída para

frente da escola.

Figura 17: Fotografia tirada pela aluna Carolina

- Por que tu escolheste a porta da frente?

- “Porque ela é grande e eu gosto dela”.

- E se fosse uma porta menor, tu irias gostar mesmo assim?

- “Eu gosto dela porque é grande, eu queria uma assim no meu quarto. Ia

entra muito vento”.

55

10

O questionamento seguiu conforme o interesse da aluna. A Carolina tem

problemas na fala, principalmente com a letra R, então quando começamos a

conversar e pedimos que ela repita alguma palavra que não entendemos ela se

irrita, por isso dei uma parada, ela já estava se cansando.

A Carolina é uma criança sensível que vive no mundo da sua fantasia.

Acredita fielmente nos contos de fadas, sonha em ser uma princesa. Fato que foi

mencionado no questionamento sobre a fotografia que ela registrou. Como não falar

nas princesas se elas fazem parte de sua vida, de sua imaginação. Doce encanto de

inocência, que perdure na infância da pequena Carolina.

Outro ponto importante foi o “não atirei o pau no gato”, onde trouxe para a

nossa conversa o seu pequeno gatinho, a quem ela tem um carinho enorme. Ela

imaginou o repertorio da brincadeira com o seu pobre gatinho, causando rejeição a

tradicional brincadeira do “atirei o pau no gato”. Como atirar o pau no gato? Ele é um

bichinho que não faz mal a ninguém, ele é amigo. Ela imaginou a cena com o seu

bichinho, onde não concordou com a brincadeira, pois machucaria o gatinho.

Muitas reflexões podem ser realizadas a partir do questionamento das

fotografias. Agora descreverei o trabalho realizado com o menino Marcos.

O colega escolheu apenas uma fotografia das cinco que ele registrou.

Escolheu a foto onde aparece à casa do vizinho da frente da Escola, a casa do

prefeito de nossa cidade.

Figura 18: Fotografia tirada pelo aluno Marcos

56

10

- Marcos por que tu escolheste somente uma foto?

-“Por que eu quis” (Marcos).

- O que tu vê nesta imagem?

- “Uma casa cheia de mato”.

-Ao invés da casa o que poderia existir ali?

- “A fábrica de colchão do meu pai e da minha mãe, ai ia se na frente da

Escola, era só atravessar a rua que eu tava na Escola.”

- Tu gostarias de morar na frente da Escola?

- “Sim, porque eu podia durmi até tarde e não tinha sinaleira pra espera”.

- Tu não gostas de esperar na sinaleira?

-“Não demora muito.”

- Como tu gostarias que fosse esta casa?

- “Eu sempre quis tê uma casa redonda e vermelha”.

- Por que uma casa redonda e vermelha?

- “Porque ela seria como uma bola e seria vermelha na cor do Inter”.

- Então tu és colorado?

-“Sim meu pai também é”.

Com o menino Marcos tivemos outra situação. Observamos a sua preferência

pelo futebol, onde gostaria que até a sua casa fosse redonda e vermelha, pois esta

cor é do time do pai, que conseqüentemente também é o time para que torce. Ele

citou um fato importante em sua história de vida, o seu trajeto diário até a Escola e a

indústria de sua família. Declarou que o acordar cedo lhe incomodava e que se a

fábrica de seus pais fosse perto da Escola, poderia ter mais contato com sua família.

Com a ajuda de algumas imagens, vamos conhecendo aos poucos as nossas

crianças e suas vidas, suas histórias, seus desejos e anseios. A fotografia diz muito

sobre uma pessoa.

Agora analisarei as fotografias do aluno Cauê. Ele registrou várias fotografias,

as escolhidas são todas da rua, do seu trajeto até a outra Escola de Ensino

Fundamental onde estudo no outro turno. Este menino não poupou a câmera

57

10

fotográfica, tirou várias fotos de diferentes objetos encontrados na rua. A primeira foi

o registro do lixeiro na rua.

Figura 19: Fotografia tirada pelo aluno Cauê

- Por que escolheu o lixeiro?

- “Ué, porque sim” (Câue).

-Qual o significado deste objeto?Para que ele é utilizado?

- “Ai prof. tu não sabe, é pra botar o lixo. Agente bota pros cachorros não fura

os sacos. E eu escolhi esse lixeiro porque lá atrás tem um monte de lixo no chão,

isso é feio, o lugar de lixo é no lixeiro”.

- Se pudesses faria alguma mudança neste objeto?

- “Botaria todo lixo que ta no chão ali dentro, minha mãe disse que tem muita

gente relaxada, que se continua assim as ruas vão fica tudo suja”.

Outra fotografia escolhida pelo aluno Câue foi à de um Condomínio que está

sendo construído nesta rua. Antigamente era um grande campo onde as crianças

jogavam bola e hoje um arsenal de máquinas e homens trabalhando.

58

10

Figura 20: Fotografia tirada pelo aluno Cauê

-O que tu vê nesta imagem?

-“Uma grande bagunça, muita casa e pouca árvore”.

- O que tu achas desta construção?

-“Acho ruim, agora não tem o campinho e tem muita bagunça na rua, muito

caminhão e sujeira na rua, não dá nem pra caminhar”.

- Mas daqui um tempo terão novas pessoas morando aqui. Não é bom?

-“Não sei prof., depende de quem vai mora ai, pode se bom ou ruim. Quando

fica pronto e as pessoas tiverem morando nas casas, agente tira outra foto pra

compara e dize se ta melhor ou pior”.

- Tu tens saudade do campinho?

-“Sim era um lugar que agente tinha pra brinca”.

Outra foto escolhida pelo menino Câue foi de uma flor.

59

10

Figura 21: Fotografia tirada pelo aluno Cauê

-Quem registrou esta imagem?

-“Quem registrou foi a máquina e eu bati, apertei o botão”.

- Por que tu escolheste esta flor?

-“Eu achei bonita, na rua tem tanta coisa feia e essa flor é uma coisa bonita”.

-O que tu mudarias nesta flor?

-“Nada eu gosto dela assim, só tirava os espinhos, é que dói”.

- Pra quem tu darias esta rosa?

-“Pra minha mãe e pra minha irmã”.

- Gostaria de apanhá-la?

- “Não, se não ela morre, ai ela ta bem”.

60

10

Este último menino mostra-se uma criança mais madura e critica comparado

aos outros que participaram da pesquisa. É visível a sua preocupação com o meio,

com seu ambiente que esta sendo destruído. Ele se deteve a questões ambientais,

como a questão do lixo na rua, o desmatamento no local da construção e a

preocupação com a vida da flor, que se fosse apanhada, acabaria morrendo.

Através destas experiências é possível identificar e analisar as diferentes

visões em distintos ambientes. Cada criança pensa conforme sua maturação,

conforme sua idade e sua realidade. Todos têm anseios e desejos que são expostos

pelas imagens. Cada criança tem sua maneira particular de ver e viver o seu mundo.

Foi muito gratificante realizar esta atividade com estes pequenos. As crianças

adoraram manipularem a câmera fotográfica e me ajudarem neste trabalho de

pesquisa. Fotos como estas mostram a capacidade de percepção das crianças em

diferentes idades, cada uma com suas potencialidades.

Os comentários são muito interessantes, revelando um pouco da vida de cada

um, seus desejos e preocupações. Através destes “clicks” percebemos o valor de

imagem, de algo que é captado por uma criança e imaginado pela mesma. A sua

visão de vida, de mundo e principalmente de futuro.

Graças a esta máquina que rouba imagens, conseguimos captar os traços do

que está mais próximo do pensamento infantil. É algo além da simples imagem,

percebemos o verdadeiro olhar, a imaturidade e a sensibilidade da criança ao lançar

o seu olhar e a sua interpretação sobre o mundo.

Ao interpretar o mundo, a criança passa a explorar a sua vivência no mesmo,

despertando percepções e diferentes estados afetivos, que sucedem a construção

do pensamento infantil. Suas visões e interpretações se dão através da emoção, ou

seja, a apreensão da situação, dos objetos visualizados que revelam significados as

imagens interpretadas. Como afirma João Francisco Duarte Júnior (1988, p.16), “o

sentir é anterior ao pensar, e compreende aspectos perceptivos (internos e externos)

e aspectos emocionais. Por isso pode-se afirmar que, antes de ser razão, o homem

é emoção”.

Ao interpretar a imagem, a criança manifesta seus desejos, expressa seus

sentimentos, expõe enfim sua personalidade. Livre de julgamentos seu

subconsciente encontra um espaço para se conhecer, relacionar, crescer dentro de

61

10

um contexto que o concede e norteia sua conduta. È nesse sentido que podemos

vislumbrar a importância do trabalho de imagens com as crianças.

Além do desenvolvimento da imaginação criadora e da percepção, destaca-se como questão de importante reflexão a possibilidade de o professor contribuir afetiva e cognitivamente para o desenvolvimento da expressão da criança. (BUORO, 1996, p. 33).

O trabalho com imagens busca ampliar o conhecimento de mundo que as

crianças possuem, explorando suas características, propriedades e possibilidades

de manuseio e entrando em contato com diferentes imagens e percepções. Ele

amplia o contato da criança com próprio imaginário, onde há a possibilidade de

expor suas imagens mais internas.

Precisamos ser profissionais investigadores, não apenas do contexto no qual

o aluno vive, mas também devemos aprender a buscar informações e estudar a

respeito da percepção, da visão das crianças. Devemos fazer uma conexão entre

cultura popular e o conhecimento de nossos alunos. Devemos buscar mudanças

qualitativas no processo de ensino, assumindo uma postura investigadora,

realizando leituras da realidade e interagindo com o meio.

62

10

6 CONCLUSÃO

Ao longo deste trabalho foi possível analisar de maneira crítica o papel social

e educativo da fotografia em nossas histórias de vidas. O trabalho fotográfico levou

anos para conquistar seu espaço na sociedade, assim como a criança, que precisou

de muitos séculos para firmar seu território.

A criança sempre esteve presente nas civilizações, mas o sentimento adulto

não permitia que aquele pequeno ser se fizesse presente no mundo de gente

grande. O sentimento de infância levou muitos anos para se firmar tanto nas

famílias, quanto nas sociedades de diferentes épocas.

As pessoas sabiam da existência das crianças, mas não as viam com amor e

ternura. Era um descaso continuo que passava de família para família, levando as

crianças a lutar por sua sobrevivência no mundo dos adultos.

Mas com a ajuda das representações artísticas e com o passar dos tempos,

da fotografia, um certo sentimentalismo em relação à Infância foi nascendo entre as

pessoas, que começaram a se preocupar com os pequenos. Mas precisamente, foi

no Renascimento que as pessoas começaram a aceitar e respeitar as crianças,

reconhecendo-as como um ser de alma imortal.

A fotografia também teve suas dificuldades perante a sociedade. Demorou

muitos anos para conseguir alcançar seu objetivo. Muitos experimentos e estudos

foram realizados para alcançar a sua forma atual.

O interesse pelo retrato foi um fator importante na descoberta das crianças,

estes pequenos deixavam o anonimato para se fazerem presentes na vida dos

63

10

adultos. As crianças eram transferidas da sociedade adulta para um mundo especial

pra elas.

Através das fotografias é possível observar as mudanças profundas no

sentimento de infância, na visão do adulto em relação às crianças, que por muito

tempo tentaram mostrarem-se vivas e presentes num mundo que ignorava sua

existência. Buscava um território que se mostrava distante, um lugar onde suas

especificidades fossem respeitadas. Mas a família e a escola juntas retiraram a

criança da sociedade dos adultos.

Era necessário criar um espaço para que as manifestações infantis pudessem

exteriorizar-se, revelando atitudes, visões e comportamentos que antes eram

reprimidos e ignorados. A criança precisava viver a sua infância, o seu momento de

criança.

Com isso surgiu a Escola, um lugar especial para a aprendizagem e

educação das crianças. Esta Instituição favoreceu e revelou o verdadeiro sentimento

de Infância.

O interesse pela História da Criança é algo novo, recente, é uma curiosidade

dos povos contemporâneos. A criança começou a ser reconhecida na Idade

Contemporânea, despertando o interesse e a curiosidade de muitos pesquisadores,

que realizaram um estudo detalhado sobre o seu desenvolvimento.

A História nos mostra idéias contrastantes sobre a duração da infância.

Revela-nos diferenças que hoje, graças a nossa consciência evoluída, são

perceptíveis através das imagens que remontam a História da Infância, o despertar

de um novo sentimento de valorização e admiração pelas crianças.

As imagens nos dizem muito sobre uma história, uma época, sobre um

tempo. Elas trazem a tona os sentimentos mais internos e profanos que o ser

humano guarda consigo. É algo revelador que surpreende muitas pessoas.

A criança reconstrói sua visão, seu mundo a partir do seu olhar infantil. Ela

pede que se conte uma nova história, baseada nela, a partir de expressões e

sentidos que lhe permitam compreender o mundo.

A infância não se esgota com o passar do tempo, nas experiências vividas,

ela torna-se fonte de significados na vida adulta. E esta ressignificação se faz

64

10

através das lembranças, das imagens que remontam o passado, que relembram a

vida de criança.

A linguagem fotográfica reconstrói o tempo perdido. Um álbum de fotografias

remonta a história de uma vida, que nos instiga a converter em palavras a história

revelada através das imagens. Percebendo além, o visível e o invisível da narrativa

apresentada.

A fotografia nos reprime através da memória. Ela controla o arquivo de

nossas lembranças. Ela desencadeia um processo de rememoração e reconstituição

de fatos vividos através das imagens.

O trabalho com imagens nos induz a refletir sobre as muitas possibilidades de

leitura do visível revelado e de sua carga histórica que é expressa. Transfere-nos a

um contexto cheio de emoções, sensações e costumes referente há um tempo

passado. Transmite uma ideologia a partir das imagens.

O trabalho com fotografias difundi o conhecimento de mundo das crianças.

Ele amplia suas perspectivas de leitura e compreensão da realidade em que esta

inserida. A fotografia desenvolve o imaginário das crianças.

Através das imagens os pequenos fazem uma releitura de seu mundo, onde

são destacados seus anseios, angustias e alegrias. Indiretamente nos revelam seus

pensamentos e sentimentos mais secretos.

Ao ler uma imagem, a criança libera seus desejos e revela sua personalidade.

Sem ser julgada, ou analisada diretamente, encontra no visível, um espaço para se

conhecer, aprender e crescer dentro de um mundo que norteia sua personalidade.

Com a fotografia é possível ver os traços do pensamento infantil. Não é a

simples imagem, é algo a mais, além deste visual, é o verdadeiro olhar cheio de

sensibilidade que a criança lança ao interpretar o mundo. A sua visão é única e

sincera.

65

10

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: olhares fora-dentro. São Paulo:

EDUC, 2002.

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Traduzido pela Editions

du Seuil, de Paris, França. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1981.

ARNHEIM, Rudolf. Arte e percepção visual: Uma Psicologia de Visão Criadora.

Traduzido por Ivonne Terezinha de Faria. São Paulo: Pioneira, 1997. p. 503.

BARBOSA, Ana Mãe. Arte-educação no Brasil. 3 ed.São Paulo: Perspectiva, 1999.

p. 133.

_________. Arte-educação: conflitos/acertos. 3 ed.São Paulo: Max Limonad, 1988.

p. 188.

BARTHES, Roland. A Câmara Clara. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.

66

10

BRONOWSKI, Jacob. Arte e conhecimento. Traduzido por Artur Lopes Cardoso.

São Paulo: Martins Fontes, 1983.

BUORO, Anamélia Bueno. O olhar em construção: uma experiência de ensino e

aprendizagem da Arte na escola. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2000. p. 160.

CAMARGO, Luis (org.). Arte-educação: da pré-escola à universidade. 2. ed. São

Paulo: Studio Nobel, 1994. p. 160.

CRAIDY, Maria; KAERCHER, Gladis Elise P. da Silva. Educação Infantil: pra que te

quero? Porto Alegre: Artmed, 2001. p. 164. (Série Biblioteca Artmed Educação

Infantil).

CUNHA, Susana Rangel Vieira (org.). Cor, som e movimento: a expressão plástica,

musical e dramática no cotidiano da criança. 2 ed. Porto Alegre: Mediação, 1999. p.

127.

CURY, Maria Zilda Ferreira; WALTY, Ivete Lara Camargos. Imagens na Educação.

Revista Presença Pedagógica. V.4, n.19. jan/fev. 1998. Belo Horizonte: Dimensão,

p. 15-21.

67

10

DORNELLES, Leni Vieira (org.). Produzindo pedagogias interculturais na infância. In: CUNHA, Susana Rangel Vieira da. Pedagogia de imagens. Petrópolis:

RJ: Vozes, 2007. p. 113-133.

DORNELLES, Leni Vieira (org.). Produzindo pedagogias interculturais na infância. In: SARMENTO, Manuel Jacinto. Culturas infantis e interculturalidade.

Petrópolis: RJ: Vozes, 2007. p. 19-39.

DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Por que arte-educação? 12 ed. São Paulo:

Papirus, 1991. p. 89.

EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Leila; FORMAM, George. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na Educação da primeira infância.

Traduzido por Dayse Batista. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999. p. 319.

FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Toledo; FUSARI, Maria F. Metodologia de Ensino da Arte. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1999. p. 135. (Coleção magistério 2º grau.

Série formação do professor).

___________. Metodologia do Ensino de Arte. São Paulo: Cortez, 1993. p. 135.

68

10

__________. Arte na educação escolar. 2 ed. São Paulo: Cortez, 1993. p. 157.

(Magistério 2º Grau Formação Geral).

FERREIRA, Sueli. Imaginação e linguagem no desenho da criança. Campinas:

Papirus, 1998. p. 111(Coleção Papirus Educação).

FOTOGRAFIA. Disponível em:< www.fotoserumos.com>Acesso em 05 de set. 2010.

GURAN, Milton. Linguagem Fotográfica e Informação. Rio de Janeiro: Rio Fundo

Editora, 1992.

HEYWOOD, Colin. Uma História da Infância: da idade Média à época

Contemporânea no Ocidente. Traduzido por Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre:

Artmed, 2004.

HISTÓRIA DA FOTOGRAFIA. Disponível em :

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Historia_da_fotografia > Acesso em: 05 de set. 2010

JANSON, Anthony F.; JANSON, H. W. Iniciação à História da Arte.Traduzido por

Jefferson Luiz Camargol. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 475 : “il. Color”.

69

10

KODAK. Disponível em: < www.comunicartedesign.blogspot.com/>Acesso em: 05

de set. 2010.

KRAMER, Sonia; LEITE, Maria Isabel Ferraz Pereira (orgs.). Infância e produção cultural. Campinas: Papirus, 1998.( Série Prática pedagógica).

LINHARES, Ângela Maria Bessa. O tortuoso e doce caminho da sensibilidade:

um estudo sobre arte e educação. Ijuì: UNIJUÍ, 1999. p. 256. (Coleção Fronteiras da

Educação).

MARTINS, José de Souza. Sociologia da Fotografia e da Imagem. São Paulo:

Editora Contexto, 2008.

MARTINS, Mirian Celeste Ferreira Dias; PICOSQUE, Gisa; GUERRA, Maria

Teresinha Telles. Didática do Ensino de Arte, a Língua do mundo: poetizar, fruir e

conhecer Arte. São Paulo: FTD, 1998. p. 200

MEIRA, Marly. Filosofia da Criação: reflexões sobre o sentido do sensível. Porto

Alegre: Mediação, 2003.

70

10

MEGALÓPOLIS. Disponível em <http:/ www.terra.com.br/sebastiaosalgado/ >

Acesso em 15 de set. 2010

NETO, Miguel Farah; SOUZA, Solange Jobim e. A tirania da Imagem na

Educação. Revista Presença Pedagógica. v.4, n.22. jul./ago. 1998. Belo Horizonte:

Dimensão, p. 29-33.

OSTROWER, Fayga. Criatividade e processos de criação. 15 ed. Petrópolis:

Vozes, 1987. p. 166.

PESSOA, Jason Brito. A outra face da memória. Revista Presença Pedagógica.

Set/ out. 1995. Belo Horizonte: Dimensão, p. 49-53.

PESSOA, Jason Brito. Imagem e Violência. Revista Presença Pedagógica. v.4,

n.23.Set/ out. 1998. Belo Horizonte: Dimensão, p. 43-49.

PILLAR, Analice Dutra (org.). A educação do olhar no ensino das artes. 3 ed.

Porto Alegre: Mediação, 1999.

POSTMAN, Neil. O Desaparecimento da Infância. Traduzido por Suzana Menescal

de Alencar Carvalho e José Laurenio de Melo. Rio de Janeiro: Graphia, 1999.

71

10

TALBOT. Disponível em:

<http://histfoto.wetpaint.com/page/William+Henry+Fox+Talbot>Acesso em: 05 de

set. 2010.

VASQUEZ, Pedro. Fotografia: reflexos e reflexões. Porto Alegre: L&PM Editores,

1986.

72