2009 cristina correia cpp
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Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
©2009
_____________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
3 e 4 de Dezembro de 2009
O Código de Processo Penal divide-se:
I – Parte Geral
II – Parte Especial – 4 partes:
1) Inquérito: existe obrigatoriamente no processo comum
2) Instrução: fase facultativa do processo comum, artigo 286.º/2 CPP
3) Julgamento
4) Recurso
Há duas formas de processo: Comum ou especial
Parte I – Parte Geral
Livro VI – Dos Sujeitos do Processo
DO JUIZ E DOS TRIBUNAIS – ARTIGOS 8 A 47.º
DO MINISTÉRIO PÚBLICO E DOS OPC – ARTIGOS 48.º A 56.º
O MP tem legitimidade para promover o processo penal, sendo que a falta da promoção
do procedimento criminal dá lugar a nulidade insanável nos termos do artigo 119.º/b) – a
este propósito ver o Assento 1/2000, que refere entre outras questões, que em crime semi-
público o MP não se pode limitar a acompanhar a acusação pelo o assistente, sob pena de
nulidade insanável nos exacta determinação da alínea b) do artigo 119.º.
Contudo, quando o procedimento criminal depender de queixa (crime semi-público), o
MP não pode promover o procedimento criminal sem que a mesma seja apresentada – artigo
49.º.
Tratando-se de crime particular o MP só tem legitimidade para promover o processo
criminal, se o ofendido ou outras pessoas se queixem, se constituam assistentes e deduzam
acusação particular. Neste caso, o MP procede a todas as diligências necessárias à descoberta
da verdade, acusa conjuntamente com a acusação particular e recorre autonomamente das
decisões judiciais – artigo 50.º.
Nos casos de crime semi-público ou de crime particular a intervenção do MP cessa com a
homologação da desistência de queixa; a homologação cabe ao MP (na fase de inquérito) ao
JIC (fase de instrução) ao presidente do tribunal (fase de julgamento). A entidade competente
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para se opor notifica o arguido que se pode opor à homologação; a falta de oposição equivale
a não oposição. A notificação pode ser feita editalmente nos casos do n.º 4 do artigo 51.º.
No concurso de crimes (artigo 52.º), o MP promove imediatamente o processo por
aqueles que tem legitimidade se: o crime mais grave for público ou se os crimes forem de igual
gravidade.
No caso de o crime mais grave ser semi-público (dependente de queixa) ou particular
(dependente de acusação particular), então o MP promove procedimento pelo crime de
menor gravidade para o qual tem legitimidade por se tratar de crime público e notifica os
titulares do direito de queixa ou acusação particular para declararem, em cinco dias, se
pretendem usar esse direito. Se declararem não querer fazer uso do seu direito ou nada
declararem, o MP promove o procedimento criminal pelos crimes que poder; se declararem
que pretendem apresentar queixa considera-se apresentada.
O MP tem as atribuições e competências previstas no artigo 53.º, nomeadamente, a de
direcção de inquérito e a dedução de acusação, alínea b) e c). Observa-se o regime de
impedimentos, recusas e escusas dos juízes para os Magistrados do MP, devendo as
declarações de impedimento e seu requerimento, bem como o requerimento de recusa e o
pedido de escusa ser dirigidos ao superior hierárquico do Magistrado em causa – artigo 54.º.
Aos OPC compete coadjuvar as autoridades judiciárias com vista à realização das
finalidades dos processos, nomeadamente:
• Colher notícia dos crimes e impedir quanto possível as suas consequências;
• Descobrir os agentes;
• Levar a cabo os actos necessários e urgentes destinados a assegurar os meios de
prova – artigos 248.º a 253.º (medidas cautelares e de polícia).
Os OPC actuam sob direcção das autoridades judiciárias e na sua dependência funcional.
DO ASSISTENTE – ARTIGOS 68.º A 70.º
Podem constituir-se assistentes, todas as pessoas presentes no n.º 1 do artigo 68.º,
nomeadamente, os ofendidos e as pessoas cuja queixa ou acusação particular depender o
procedimento. Atente-se na alínea e) que determina que qualquer pessoa nos crimes contra a
paz e a humanidade, bem como nos crimes de tráfico de influência, favorecimento pessoal
praticado por funcionário, denegação da justiça, prevaricação, corrupção, peculato,
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participação económica em negócio, abuso de poder e de fraude na obtenção ou desvio ou
subvenção.
É necessário conhecer devidamente a natureza dos crimes e analisar o regime que os
tipifica na lei substantiva:
Crimes públicos
• o ofendido pode constituir-se assistente sem
dependência de queixa;
Crimes semi-públicos
• é necessário apresentar queixa;
• a constituição como assistente é facultativa;
• a acusação é apresentada pelo MP e não pelo ofendido
(artigo 48.º).
Crimes Particulares
• a queixa tem que ser apresentada pelo ofendido;
• a constituição como assistente é obrigatória;
• a acusação é particular – artigo 285.º (não se confunde
com a acusação pelo assistente do artigo 284.º).
É possível desistir da queixa até à publicidade da sentença. Quando se dá a publicidade
da sentença? Na audiência de leitura de sentença.
Os assistentes fazem-se representar por advogado com a correspondente procuração –
artigo 70.º.
Requisitos para a constituição de assistente
� Constituição de Mandatário – artigo 70.º;
� Legitimidade – artigo 68.º;
� Tempestividade – n.º 2 e 3 do artigo 68;
� Pagar a taxa de justiça – artigo 519.º.
A entidade competente para admitir o requerimento de constituição de assistente é o
juiz, n.º 4 do artigo 68.º, sendo que será competente o juiz de instrução até à remessa do
processo para julgamento, nos termos do artigo 17.º.
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Requerimento
Processo n.º 358/07.48PRT
3ª Secção MP
(Inquérito)
Exmo. Senhor Juiz
do Tribunal de Instrução Criminal do Porto
(Introito)
António Silva, ofendido nos autos acima identificados em que é arguido Nuno Melo, diz/expõe:
(Corpo)
Porque tem legitimidade, constitui mandatário, está em prazo e pagou taxa de justiça, requer
ser admitido como assistente, nos termos das disposições conjugadas dos artigos 68.º,n.º3,
70.º, n.º1,519.º todos do CPP e artigo 80.º do Código das Custas Judiciais.
A Advogada
Junta: procuração e comprovativo do pagamento da taxa de justiça.
10 e 11 de Dezembro de 2009
DO ARGUIDO – ARTIGOS 57.º A 67.º
Assume a qualidade de arguido toda aquele contra quem for deduzida acusação ou
requerida instrução num processo penal, esta qualidade conserva-se no de todo decurso do
processo.
Sempre que há um suspeito tem que haver constituição de arguido – artigo 58.º, n.º 1 –
ou seja, não é necessário que seja formulada acusação ou seja requerida a instrução nos
termos do artigo 57.º, porque a regra é a da publicidade do processo, o arguido tem que ter
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conhecimento do processo para que se possa defender. Nestes termos, (1) sempre que corra
inquérito contra uma pessoa determinada sobre suspeita fundada de prática de crime, (2)
tenha que ser aplicada medida de coação ou garantia patrimonial, (3) um suspeito for detido
ou (4) for levantado auto de notícia que dê uma pessoa mo agente de crime e aquele lhe for
comunicado, salvo se a noticia for manifestamente infundada, é obrigatória a constituição de
arguido.
Se a pessoa for ouvida sem que lhe tenha sido dito que é arguido, a prova é inexistente
(artigo 355.º - proibição de valoração de prova).
Ao arguido tem que ser comunicado os seus direitos e deveres, nos termos dão artigos
58.º, n.ºs 2, 3 e 4e artigo 61.º.
No primeiro interrogatório, artigo 141.º n.º 3, o arguido tem que responder com
verdade à sua identificação e sobre os seus antecedentes criminais, contudo em julgamento já
não terá que responder, artigo 61.º, n.º 3, alínea b), uma vez que se juntam aos autos certidão
do registo criminal.
Contudo, muitas vezes, as diligências a que são submetidos os arguidos, para a
descoberta da verdade, conflituam com os seus direitos fundamentais (Ex: quando alguém se
recusa a fazer um exame de ADN). Segundo o artigo 172.º a autoridade judiciária competente
pode compelir o arguido a realizar o exame devido, não podendo nunca recorrer à força,
artigo 126.º.
Há outros casos de constituição de arguido previstos no artigo 59.º, nomeadamente, a
constituição de arguido a pedido da própria pessoa.
Quanto ao defensor, a sua constituição ou nomeação é obrigatória, conforme os artigos
62 a 67.º.
O arguido goza do direito de estar presente em todos os actos processuais que lhe
disserem respeito, sendo assistido pelo seu defensor nesses mesmo actos (alínea a) e f) do
artigo 61.º). Sempre que o arguido estiver detido tem que estar presente o seu defensor, uma
vez que aquele deve ser dado conhecimento de tudo o que se passa no processo.
Artigo 271.º e 244.º - declarações para memória futura.
É possível que o arguido substituía por mandatário por ele constituído, o mandatário que
lhe tenha sido nomeado, em qualquer dos casos o arguido terá que pagar os honorários a não
ser que haja lugar a patrocínio judiciário.
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Conflito de interesses – artigo 65.º: O Estatuto não permite que um advogado defenda
mais do que um arguido quando há conflitos de interesses entre eles; aplicando-se o mesmo
pressuposto em relação a arguidos e testemunhas.
O mandatário pode pedir escusa – artigo 66.º, n.ºs 3e 4 – mas tem que haver
conhecimento por parte da ordem. Advogados de escala intervêm nos termos do artigo 67.º.
Artigo 194.º: a aplicação de medida de coação tem que ser precedida de comunicação
ao arguido (n.º3) e pode ter lugar no 1.º interrogatório judicial (artigo 141.º). A
fundamentação do despacho que aplicar qualquer medida de coação, excepto TIR, tem que
conter o preceituado nas alíneas a) a d) do n.º 4, sob pena de nulidade, nomeadamente:
“A enunciação dos elementos do processo que indiciam os factos imputados, sempre que
as sua comunicação não puser gravemente em causa a investigação, impossibilitar a
descoberta da verdade ou criar perigo para a vida ou integridade física ou psíquica ou a
liberdade dos participantes processuais ou das vítimas do crime” – alínea b).
Sendo que, os factos ou elementos que não tenham sido comunicados ao arguido nos
termos do n.º 3, não podem ser considerados para fundamentar a aplicação de qualquer
medida de coacção – excepto TIR.
DAS PARTES CIVIS – ARTIGOS 71.º A 84.º
Artigo 71.º Princípio de Adesão: O pedido de indemnização civil fundado na prática de
um crime é deduzido no processo penal respectivo, só o podendo ser em separado, perante o
tribunal civil, nos casos previstos na lei.
As partes civis não têm que ser o ofendido, são sujeitos em sentido formal sendo que a
sua intervenção é meramente civil e não formal.
Artigo 72.º Pedido em Separado: o pedido de indemnização civil pode ser deduzido em
separado no tribunal civil, nos casos do n.º 1 do artigo 72.º. Se o procedimento depender de
queixa ou de acusação particular, a prévia dedução do pedido de indemnização civil pelas
pessoas com direito de queixa ou de acusação vale como renúncia a este direito.
No pedido de indemnização civil constam danos patrimoniais (danos emergentes e
lucros cessantes) e também danos não patrimoniais.
O pedido civil no processo penal segue a tramitação do processo civil (valor, identificar
danos, apresentar prova, tudo por articulado). Se se tratar de pedido intentado pelo
Assistente, este pode dar por reproduzido o que alegou na contestação; se se tratar de partes
civis já não.
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Artigo 77.º/ 2 e 3: o lesado que tiver manifestado a vontade de deduzir pedido de
indemnização civil nos termos do n.º 2 do artigo 75.º é notificado do despacho de acusação ou
de pronúncia para, querendo, deduzir o pedido de indemnização, em requerimento
articulado, em 20 dias. Se a lesado não tiver manifestado a vontade de deduzir pedido de
indemnização civil ou não tiver sido notificado nos termos anteriormente explicitados, pode
deduzir o pedido em 20 dias depois de o arguido, aqui lesante, ser notificado do despacho de
acusação ou de pronúncia.
Artigo 78.º - Contestação: a pessoa contra quem for deduzido o pedido de
indemnização civil é notificada para, querendo, contestar em 20 dias; a contestação é
deduzida por artigos; a falta dele não implica a confissão dos factos.
Os lesados, demandados e os intervenientes são obrigados a comparecer no julgamento
quando tenham que prestar declarações não podendo recusar-se – artigo 80º. O lesado pode
desistir, renunciar ou converter o pedido nos termos do artigo 81.º.
O recurso do pedido de indemnização civil é feito segundo a tramitação do n.º 2 do
artigo 400.º.
N.B.: Princípio Contraditório – artigo 4 do CPP: tem origem no artigo 640.º do CPC. É
inspirado na Contradita: pensada para o Processo Civil, colocar em causa a credibilidade da
testemunha por via de um interesse próprio que esta pretenda atingir por meio de uso do
processo. Apenas ocorre depois de prestado o depoimento e exercido o contraditório.
A quem se dirige o requerimento de pedido de indemnização civil: o tribunal de
julgamento e o juiz de julgamento é que vai decidir.
N.B.: quando estamos a dirigir uma acusação ela é sempre dirigida ao tribunal de
julgamento – artigo 311.º - só o juiz de julgamento pode rejeitar a acusação.
19 de Janeiro de 2009
A QUEIXA
Artigo 113.º CP: “Quando o procedimento criminal depender de queixa, tem legitimidade
para apresentá-la, salvo disposição em contrário, o ofendido, considerando-se como tal o
titular dos interesses que a lei especialmente quis proteger com a incriminação”.
Apresenta-se queixa ou há um direito de queixa sempre que se produza um dano na
esfera jurídica do ofendido.
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a) Prazo
Artigo 115.ºCP: “ O direito de queixa extingue-se no prazo de seis meses a contar da data
em que o titular tiver tido conhecimento do facto e dos seus autores, ou a partir da morte do
ofendido, ou da data em que ele se tiver tornado incapaz”.
O prazo de seis meses aqui estabelecido é um prazo de caducidade; corre o prazo dos
seis meses a partir do conhecimento do facto e do conhecimento do autor.
E se o autor for desconhecido? Apresenta-se queixa contra autor desconhecido dentro
dos seis meses.
Mas os dois requisitos não são cumulativos? Não corre o prazo a partir do conhecimento
do facto e do conhecimento do autor?
1ª corrente: os seis meses correm a partir do conhecimento do facto.
2ª corrente: o prazo corre a partir não só do conhecimento do facto, como do
conhecimento do autor, isto é, os dois requisitos são cumulativos. Se apenas se conhecer o
facto e não o autor, o prazo não corre.
E se se apresentar queixa com o conhecimento apenas do facto e o caso for arquivado e,
posteriormente, se dê o conhecimento da pessoa do autor?
Segundo a 2ª corrente não há qualquer entrave, uma vez que o prazo só passa a correr
desde então, porque só aí se verificam os dois requisitos.
Já a 1ª corrente resolve facilmente a questão através do expediente da abertura do
processo pelo Ministério do Público, não tendo que ser os dois requisitos cumulativos.
b) Desistência
Artigo 116.º, n.º2: “O queixoso pode desistir da queixa, desde que não haja oposição do
arguido, até à publicação da sentença da 1ª instância. A desistência impede que a queixa seja
renovada”.
O queixoso pode desistir até que o publicação da sentença; o arguido tem que ser
notificado para se opor se assim o desejar para defender a sua honra.
Quem pode desistir o queixoso ou o queixoso e o mandatário?
Os formadores da ordem entendem que apenas o queixoso tem o direito de desistir,
uma vez que depois da desistência o queixoso não pode ser renovar a queixa. Nestes termos, o
mandatário não pode desistir da queixa.
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Como se pode desistir materialmente da queixa?
Exmo. Senhor Juiz de Direito
do Juízo de Instrução Criminal do Porto
Processo n.º 341/08. PRT
3.º Juízo – A
Ana Silva assistente nos autos de instrução em que é arguida Filipa Matos, diz,
desiste da queixa apresentada contra a mesma nos termos do documento junto com o n.º 1,
requer a homologação da presente desistência nos termos de direito pela conjugação dos
artigos 116.º do CP e 51.º do CPP.
E.D.
Anexa: desistência de queixa
A desistência de queixa
Ana Silva, solteira, enfermeira, portadora do BI n.º ___________, residente na
rua__________________ queixou-se no processo n.º ____________, queixou-se no processo
n.º ________, que corre termos no 3.º Juízo – A do JIC do Porto, vem desistir da queixa
apresentada contra a arguida Filipa Matos e que deu origem aos presentes autos.
Porto, 19 de Janeiro de 2009
A queixosa,
N.B.: A queixosa não tem que apresentar o motivo porque desiste da queixa.
Oposição à homologação pelo arguido
Oponho-me à homologação da desistência de queixa.
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Se o arguido nada disser o Ministério Público, o Juiz de Instrução Criminal ou o Juiz Presidente
do Tribunal, consoante a fase do processo, homologa a desistência, sem mais.
Entidades competentes para receber a queixa, nos termos do artigo 49.º do CPP: Ministério
Público e órgãos de polícia criminal.
Queixa
Exmo. Senhor Procurador-Adjunto
da Comarca de Matosinhos
Ana Silva, solteira, enfermeira, portadora do BI n.º ____________,
residente na rua _____________, vem apresentar queixa-crime
contra
Filipa Matos, solteira, desempregada, portadora do BI n.º
____________, residente na rua _____________, por quanto:
1.º
No dia 20 de Dezembro de 2008, pelas 14.30 horas, a queixosa encontrava-se a almoçar na
praça da alimentação, no centro comercial “Norte Shopping”, sito à rua _______________,
Matosinhos.
2.º
Trazia consigo a sua carteira que se encontrava na cadeira, à sua direita.
3.º
No momento em que se preparava para sair notou o desaparecimento da mesma.
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4.º
De imediato, dirigiu-se ao segurança reportando o sucedido.
5.º
Por sua vez, o segurança comunicou aos restantes colegas em serviço o desaparecimento da
carteira.
6.º
Mais tarde, foi a suspeita identificada por recurso ao sistema de vídeo-vigilância instalado no
centro comercial em apreço.
7.º
tendo se logrado apurar que a suspeita seria funcionária da empresa “limpa bem”.
8.º
Deste modo, foi possível a recolha dos elementos de identificação da mesma, não tendo sido
possível recuperar a carteira e o seu conteúdo, até à presente data.
9.º
Nomeadamente, o BI, o NIF, a Carta de Condução, 10 Euros, um cartão de débito e um cartão
de crédito.
10.º
A arguida agiu livre e conscientemente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e punida
por lei, incorrendo no crime de furto simples, p. e p. no artigo 203.º do CP.
Nestes termos,
Requer-se que Vossa Excelência se digne receber a presente queixa
e, em consequência, promover todos os actos de inquérito, nos
termos do artigo 262.º e 267.º do CPP.
Prova:
a) Documental: imagens captadas pelo circuito de vídeo-vigilância do centro comercial.
b) Testemunhal: António Silva, portador do BI n.º ___________ e residente na rua da Boa
Hora n.º 26, Porto.
Mais requer que remeta o presente requerimento ao excelentíssimo juiz de instrução criminal ,
porquanto detém legitimidade, constituiu mandatário, é tempestivo e efectuou o pagamento
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da taxa de justiça, para que seja admitida a sua constituição como assistente, nos termos do
artigo 68.º, n.º 1, alínea a), artigo 70.º, n.º 1, artigo 68.º,n.º 3 e artigo 519.º do CPP.
Junta: Procuração Forense, comprovativo do pagamento de taxa de justiça reduzida ao abrigo
do artigo 15.º do CC e 3 documentos.
A Advogada,
21 e 22 de Janeiro de 2009
Livro II – Dos actos Processuais – artigos 85.º e ss.
Ao abrigo do Código de Processo Penal anterior, todos os actos processuais
encontravam-se sob segredo de justiça, contudo, com este novo código passou a vigorar o
princípio da publicidade.
Tanto assim é que, mesmo que o processo seja sujeito a segredo de justiça, esta sujeição
tem o limite máximo previsto no n.º 6 do artigo 89.º, cuja redacção é totalmente inovadora;
assim, o processo apenas poderá estar sujeito a segredo de justiça durante a fase de inquérito,
no prazo limite resultante da leitura articulada com os artigos 276.º e n.º 6 do artigo 89.º.
Ver a este propósito:
1. Acórdão da Operação Furacão (que definiu a interpretação do n.º 6 do artigo 89.º);
2. Pesquisar acórdão do Tribunal Constitucional;
3. Acórdão da Relação de Lisboa de 17.9.2008.
1.Prazo Máximo do Inquérito
A interpretação do n.º 6 do artigo 89.º não é pacífica. Com efeito, a Relação de
Guimarães, Porto e Coimbra defendem a tese de que a prorrogação prevista nesta disposição
tem que ser lida da seguinte forma: aos prazos do artigo 276.º (relativa à duração máxima de
inquérito) acresce um adiamento de três meses de acesso aos autos, se o MP o requerer e tal
for concedido, ao qual pode acrescer uma prorrogação, por uma só vez, de mais três meses
no máximo.
Contudo, como a lei não delimita temporalmente o período máximo da prorrogação, a
Relação de Lisboa tem decidido em diversos sentidos, sendo que um deles é o que defende
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que essa prorrogação tanto pode ser de um, três, seis meses …, isto é, não conhece um prazo
temporal máximo, o único que requisito que resulta da lei é que apenas pode ser feita por
uma só vez.
(Ver actas da unidade de missão)
Note-se que a questão de determinação do prazo máximo de duração de inquérito
coincide com a expectativa do arguido de se libertar, enquanto cidadão do ónus que resulta da
atribuição desse mesmo estatuto. Por isso, faz sentido o entendimento propugnado pela
Relação de Guimarães, Porto e Coimbra, em limitar temporalmente a prorrogação de um
possível adiamento de 3 três meses, até três meses, embora a lei não seja clara quanto a esta
limitação.
Todavia, não é menos verdade, que aquando da elaboração desta norma, foi intenção do
legislador que a prorrogação fosse definida casuisticamente, desde que apenas fosse
concedida por uma só vez. Esta intenção não tem sido acolhida pela maior parte da
jurisprudência dos nossos tribunais, como supra demonstrado, por um conjunto sério de
razões, entre as quais se destaca o ónus que acarreta a atribuição do estatuto de arguido a um
cidadão.
2.O Princípio da Publicidade
Os artigos 86.º e 89.º, em 2007, conheceram uma nova redacção que pretendeu
potenciar a celeridade processual. Esta nova redacção consagra o princípio da publicidade: “ O
processo penal é, sob pena de nulidade, público, ressalvadas as excepções previstas na lei ”.
Assim sendo, o segredo de justiça passa a consubstanciar uma excepção a regra da
publicidade.
Nestes termos, o JIC e o MP podem determinar a aplicação ao processo do segredo de
justiça, nos termos do n.º 2 e 3 do artigo 86.º respectivamente.
Depois de decretado, o segredo de justiça pode ser levantado a qualquer momento pelo
MP, oficiosamente ou a requerimento do arguido, assistente ou ofendido – n.º4; neste último
caso, se o MP não determinar o levantamento do segredo de justiça, os autos são remetidos
ao JIC para decisão, por despacho irrecorrível – n.º 5 com remissão para o artigo 400.º/1/b).
3. Consulta do Processo – artigo 89.º
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Quando o processo está sob segredo de justiça, só é admissível a consulta do processo
ou de elementos nele constantes, bem como a obtenção dos correspondentes extractos,
cópias ou certidões, mediante requerimento do arguido, assistente, ofendido, lesado e o
responsável civil – n.º1.
O MP pode opor-se quer à consulta, quer à obtenção dos elementos referidos, sendo
que neste caso o requerimento será presente ao JIC que decidirá, por despacho irrecorrível –
n.º 2 com remissão para o artigo 400.º/1/b).
Se o processo for público ou se tornar público, o arguido, assistente, ofendido, lesado e
o responsável civil podem pedir a confiança do processo (exame gratuito dos autos fora da
secretaria), sendo concedido o original ou o translado, consoante a vontade do JIC – n.º 4. Se
for concedido o original haverá um prazo para a devolução do mesmo processo.
No caso de não ser observado o prazo para a devolução haverá lugar à aplicação das
disposições da lei de processual civil, relativas a esta matéria – n.º 5.
Contudo, e mesmo sendo o processo público, à determinadas partes do processo que
podem não ser reveladas, sob pena de não fazer perigar a integridade da investigação.
Requerimento para Consulta do Processo
Exmo. Procurador-Adjunto
do Tribunal Judicial de Gondomar
Inquérito n.º 345/08TBGDM
Serviço do MP
António Silva, arguido nos autos acima referenciados, requer a consulta do processo, nos
termos do n.º1 do artigo 89.º do CPP.
E.D.
A Advogada,
Requerimento para Confiança do Processo
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Exmo. Senhor Juiz
da 3ª Secção Criminal do Porto
Processo n.º 398/08TBPRT
Tribunal Colectivo
António Silva, arguido nos autos acima referenciados, requer a confiança do processo por um
prazo nunca inferior a 3 dias, nos termos do n.º 4 do artigo 89.º do CPP.
E.D.
A Advogada,
1ª Nota: Quando o processo é muito extenso, ou de especial complexidade, é necessário
identificar os volumes e os apensos.
2.ª Nota: O juiz pode não conceder o processo por o período de tempo que é requerido; a
fixação do prazo é do âmbito da discricionariedade do juiz.
Exmo. Senhor Juiz de Instrução Criminal
do Tribunal Judicial de Gondomar
Inquérito n.º 345/08TBGDM
António Silva, arguido melhor identificado nos autos à margem
referenciados, diz:
O arguido requereu a consulta do processo, nos termos do n.º1 artigo 89.º do CPP.
O Exmo. Senhor Magistrado do MP opôs-se a tal consulta, alegando para o efeito o prejuízo
que daí poderia resultar para a investigação.
Manifestamente não se concorda com o alegado, pelo que se requer a V. Excelência se digne
autorizar a consulta requerida, nos termos do n.º 2 do artigo 89.º.
E.D.
A Advogada,
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26 de Janeiro de 2009
Caso Prático – Queixa
No dia 22 de Outubro de 2001 pelas 17 horas e 45 minutos, António passeava pela rua,
sendo que, quando passava pela casa de Manuel, foi surpreendido por uma buzinadela
deste último, que se fazia transportar, na companhia da mulher e do filho, num carro
de marca renault, cor cinzenta e matrícula 67-50-RN.
De seguida, Manuel vociferou contra António, chamando-o de “Filho da Puta” e
“Cabrão”. Sucede que António havia sido operado recentemente, em consequência,
havia perdido temporariamente a fala, e perante o ocorrido ficou em estado de
choque.
Nesse momento, um transeunte de nome Neves acudiu António, e acompanhou-o até
ao café central de Paredes, o café mais próximo.
Já no café, António escreve num papel um pedido: “Por favor, ligue para o seguinte n.º
224569876, peça para falar com a minha mulher Ana e diga-lhe para ela vir ter comigo.
Obrigada.”.
Neves acedeu ao pedido de António e pede ao dono do café para estabelecer a
ligação.
Prontamente, a mulher dirige-se ao café e chama a GNR. A GNR ao chegar ao local
onde reside Manuel, constatou que o mesmo já não se encontrava em casa e, bem
assim, a sua mulher e filho.
Como consequência do relatado, António agravou consideravelmente o seu estado de
saúde, já de si frágil.
Elabore uma queixa.
Exmo. Senhor Procurador-Adjunto
do Tribunal Judicial de Paredes
ANTÓNIO GOMES, casado, portador do BI n.º __________, residente
na rua _______________, vem apresentar queixa-crime contra
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
MANUEL COSTA, casado, portador do BI n.º _____________, residente
na rua __________________, porquanto:
1.º
No dia 22 de Outubro de 2001, pelas 17 horas e 45 minutos, o queixoso encontrava-se no
passeio em frente a casa do denunciado, quando foi por este abruptamente surpreendido.
2.º
Com efeito, o denunciado que se fazia transportar no seu veículo automóvel, de marca renault,
cor cinzenta e matrícula 67-50-RN, na companhia da mulher e do seu filho,
3.º
começou a buzinar incessantemente, sem qualquer justificação, contra o queixoso, ao mesmo
tempo que o insultava proferindo as seguintes palavras “Oh meu filho da puta!”, “Oh meu
cabrão!”.
4.º
O queixoso, que havia sido recentemente operando, encontrava-se em convalescênca e sem
capacidade de fala, ficou em estado de choque e profundamente abalado.
5.º
Por aquela altura, passou um transeunte de nome Neves que, apercebendo-se do estado grave
em que se encontrava o queixoso, socorreu-o de imediato.
6.º
O transeunte dirigiu-se, juntamente com o queixoso, ao café central de Paredes, com o
propósito de tentar contactar alguém que o pudesse ajudar.
7.º
Ali chegados, o queixoso escreveu o n.º de sua casa num papel, pedindo para contactar com
sua mulher Ana.
8.º
O transeunte contacta com sucesso a mulher do queixoso que se dirige de imediato ao já
identificado café, ao mesmo tempo, que chama a GNR.
9.º
Aquando da chegada da GNR à residência do denunciado, este já não se encontrava no local,
bem como a sua mulher e filho, não tendo sido, por este motivo, devidamente identificados.
10.º
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19
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Como consequência do sucedido, o queixoso agravou substancialmente o seu estado de saúde, já
na altura frágil.
11.º
O denunciado agiu livre e conscientemente, bem sabendo que a sua conduta era proibida e
punida por lei, querendo ofender, como ofendeu, a honra e o bom nome do queixoso, ocorrendo,
assim, num crime de injúria p. e p., no artigo 181.º do CP.
Nestes termos, requer-se a Vossa Excelência que receba a presente queixa e, em consequência,
promova todos os actos de inquérito, nos termos dos artigos 262.º e ss. do CPP.
N.B.: Se a queixa fosse apresentada hoje teria caducado o direito de queixa e prescrito o
procedimento criminal.
Mais se requer que remeta o presente requerimento ao excelentíssimo juiz de instrução criminal,
porquanto detém legitimidade, tempestividade, pagou taxa de justiça e constitui mandatário
para que seja admitida a sua constituição de assistente, nos termos do artigo 68.º, n.º 1, alínea
a), artigo 70.º, n.º 1, artigo 68.º, n.º 3 e 519.º CPP e 80.º CC.
Prova Testemunhal:
Joaquim Neves, casado, mecânico, portador do BI n.º ________________, residente em
______________.
Prova Documental:
Documento 1: papel escrito por António com o n.º da mulher e o pedido de contacto.
Junta: Procuração Forense, comprovativo do pagamento da taxa de justiça e um documento.
A Advogada,
28 de Janeiro de 2009
FORMA DOS ACTOS – ARTIGOS 92.º E SS.
As alegações quer escritas, quer orais são escritas/proferidas em língua portuguesa.
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Qualquer individuo de nacionalidade estrangeira tem direito a ter um intérprete e tem
que conhecer o direito a esse mesmo intérprete; este último obrigado ao segredo de justiça –
direito de reserva.
Caso haja inquérito de individuo de nacionalidade estrangeira sem a presença de
intérprete, toda a prova aí produzida é prova proibida e não pode ser invocada em juízo.
O mesmo se diga, no caso de surdo, deficiente auditivo ou mudo…em que também será
obrigatória a presença de intérprete nos mesmos termos – artigo 93.º.
Relativamente a documentos escritos em língua estrangeira, a sua apresentação tem
que ser acompanhada de uma tradução autenticada; o documento não seja acompanhado de
tradução, esta deverá ser promovida oficiosamente pelo tribunal.
1. Forma escrita
Tudo tem que ser reduzido a escrito, sem rasuras ou espaços em branco, tal como dita
o artigo 94.º. Quer isto dizer que quem consultar o processo tem que conseguir ler o que lá
está escrito. Em casos de inelegibilidade, deverá ser redigido um requerimento para tradução
dactilográfica, tal como previsto no n.º 4.
As abreviaturas a ser usadas tem que conter significado inequívoco, sendo que as datas
e os números podem ser expressos por algarismos, menos no caso do n.º5 do artigo 94.º.
Nos actos processuais é obrigatória a menção da data, o local, o momento de início e
conclusão, cfr. n.º 6.
De igual modo, qualquer acto reduzido a escrito tem que ser obrigatoriamente
assinado, porque sem assinatura o acto não produz efeitos, de acordo com o artigo 95.º. Por
exemplo, a falta de assinatura da sentença leva à repetição do julgamento – remissão para o
alínea e) do n.º 3 do artigo 374.º.
Se a pessoa cuja assinatura é obrigatória, não a puder prestar ou recusar-se a faze-lo, a
autoridade ou funcionário presentes declaram no auto essa impossibilidade ou a recusa e os
respectivos motivos – cfr. n.º 3 do artigo 95.º
2. Oralidade dos autos
Salvo o Presidente da República, Presidente do STJ ou Procurador da República, a
prestação das declarações tem que ser sob forma oral, sem recurso a documentos escritos,
salvo o caso do n.º 2.
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Os despachos e sentenças prestados oralmente são consignados no auto – n.º4.
3. Actos decisórios – artigo 97.º
• Actos que conhecem a final do objecto do processo: sentença (tribunal singular) ou
acórdão (tribunal colectivo);
• Actos que não conhecem a final do objecto do processo, mas que põe termo ao processo
– despacho homologatório (p.e. no caso de desistência de queixa); despacho de
conhecimento da prescrição (ou qualquer excepção dilatória);
• Actos interlocutórios – actos que conhecem uma questão suscitada incidentalmente no
processo.
Todos estes actos são fundamentados de facto e de direito! A falta de uns ou de outros
implica o vicio do acto – n.º 5 do artigo 97.º com remissão para o n.º2 do artigo 374.º (quanto
à sentença) e para o n.º 4 do artigo 194.º (quanto aos despachos).
4. Exposições, memoriais e requerimentos – artigo 98.º
O arguido pode de per si apresentar exposições, memoriais e requerimentos que são
necessariamente junto aos autos e não são assinados pelo mandatário.
5. Auto
A definição de auto é diferente da de acta. O Auto está destinado a fazer fé quanto aos
termos em que se densenrola/desenrolou o processo - cfr. n.º 1.
O auto contém todos os requisitos dos actos escritos em cumulação com os previstos no
n.º 3.
Ao auto é correspondentemente aplicável o artigo 169.º ex vi do n.º 4 do artigo 99.º:
sobre todos os documentos recai uma presunção de autenticidade e veracidade, até que
sejam impugnados.
N.B.: Falsificação de documentos: o documento pode ser verdadeiro por via da entidade,
mas o seu conteúdo pode ser falso porque o declarante está a mentir. Por outro lado, o
documento pode ser falso pela forma, porque alguém se faz passar pela entidade competente.
Qualquer um destes documentos autênticos ou autenticados são só postos em causa por
impugnação, caso contrário são verdadeiros.
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Quanto à redacção do autos, sempre que haja desconformidade entre o teor do que foi
ditado ou do ocorrido com o que ficou escrito no auto, há lugar a consignação das declarações
que atestam essa discrepância. Caso não seja permitida a consignação há lugar a protesto. Se o
juiz não permitir, o protesto será lavrado na secretaria.
Na audiência de julgamento são gravadas as declarações, exceptuando os requerimentos
que são ditados para as actas, sendo que esta gravação é obrigatória, sob pena de nulidade –
artigo 363.º e 364.º.
O artigo 101.º conhece uma redacção completamente nova! Antes da reforma para
recorrer da matéria de facto era necessário fazer a transcrição da matéria, porque não havia
duplicação das cassetes. Com a reforma requer-se a entrega das cópias da gravação no prazo
de 48 horas.
Reforma dos autos – ver artigo 102.º.
2 de Fevereiro de 2009
DO TEMPO DOS ACTOS E DA ACELERAÇÃO DO PROCESSO – PRAZOS!
O prazo geral (supletivo) previsto é de 10 dias, nos termos do n.º 1 do artigo 105.º.
O CPP é omisso quanto à forma de contagem dos prazos: “aplicam-se à contagem dos
prazos para a prática de actos processuais as disposições da lei de processo civil” – n.º 1 do
artigo 104.º. Este n.º remete quanto à contagem dos prazos para o artigo 144.º do CPC, entre
outros. Contudo, quanto a arguidos presos o prazo não suspende em férias judiciais – n.º 2.
Início da contagem: o prazo começa a contar a partir das notificações, nos termos do
processo civil, aplicando-se a dilação de 3 dias quando a notificação é feita por registo simples
(sem aviso de recepção). Quanto a esta dilação discute-se se apenas o último dia dos três tem
que ser útil ou se todos os dias da dilação têm que ser úteis.
Em processo civil a doutrina é pacífica no sentido de que apenas o último dia da dilação
é que tem ser útil. Já em processo penal a doutrina maioritária considera que cada um dos três
dias de dilação têm que ser úteis, sendo que apenas uma parte minoritária da doutrina
considera que só o último dos três dias é que tem que ser útil.
Caso 1
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Maria foi notificada por via postal registada no dia 4 de Maio, para contestar no prazo de 20
dias, nos termos do artigo 315.º. Quando começa a contar o prazo? Quando é que Maria se
considera notificada?
Maria foi notificada nos termos do n.º 2 do artigo 113.º, considerando-se, por isso, notificada
no dia 7 de Maio.
Nos termos do artigo 315.º pode, querendo, contestar no prazo de 20 dias, começando este
prazo a contar no dia 8 de Maio, por remissão do artigo 104.º do CPP para o artigo 144.º do
CPC que determina que a contagem dos prazos é feita de forma contínua.
O prazo termina no dia 27 de Maio.
Para além deste dia, Maria dispõe de mais 3 dias mediante o pagamento de multa,
independentemente de justo impedimento – n.º 5 do artigo 107.º.
Se ocorrer justo impedimento?
1) Dentro do prazo: dever ser requerida a declaração do justo impedimento até ao
fim do prazo para a prática do acto.
2) Fora do prazo (n.º 3 do artigo 107.º): deve ser apresentado o requerimento até
3 dias depois de cessar o justo impedimento (aqui porque este cessa depois de findo o prazo
para a prática do acto).
Caso 2
Manuel, arguido, é notificado por contacto pessoal no dia de 5 de Maio.
Berta, arguida, é notificada por carta registada de 9 de Maio.
Os dois foram notificados para requerer abertura de instrução em 20 dias, ao abrigo da
alínea a), n.º 1 do artigo 287.º.
Manuel considera-se notificado no próprio dia segundo a alínea a) do n.º 1 do artigo 113.º. O
prazo conta-se de forma contínua, artigo 144.º do CPC ex vi do artigo 104.º do CPP,
terminando no dia 25 de Maio.
Como dia 25 de Maio não é dia útil, o último dia de prazo transita para o primeiro dia útil
seguinte, ou seja, o dia 26.º como determina o n.º 2 do artigo 144.º do CPC que se aplica por
via do artigo 104.º do CPP.
Berta considera-se notificada dia 12 de Maio – n.º 2 do artigo 113.º.
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O prazo começa a contar dia 13, isto é, de forma contínua – artigo 144.º do CPC ex vi do artigo
104.º do CPP, e termina no dia 2 de Junho, uma vez que o prazo para a prática do acto é de 20
dias.
Sem justo impedimento, a Berta ainda poderia praticar o acto nos três dias subsequentes ao
dia 2 de Junho mediante pagamento de multa, nos termos do n.º 5 do 145.º ex vi do artigo
104.º do CPP, terminando o prazo, neste caso, no dia 5 de Junho.
Se ocorresse junto impedimento, a Berta poderia praticar o acto até cessar o impedimento.
Contudo, o prazo termina para os dois ao mesmo tempo, ao abrigo dos artigos 113.º/12 e
287.º/6, valendo o que começou a contar em último lugar. In casu, o prazo da Berta aproveita
ao Manuel.
Caso 3
Manuel, arguido, notificado por contacto pessoal no dia 8 de Maio.
Berta, assistente, notificada por carta registada no dia 5 de Maio.
Nos termos do artigo 287.º, ambos dispõe de 20 dias para requerer abertura de instrução.
Manuel considera-se notificado no dia 8 de Maio – alínea a) do n.º 1 do artigo 113.º.
Os prazos contam-se de forma contínua – artigo 144.º ex vi do artigo 104.º - começando, por
este motivo, a contar o prazo de 20 dias para requerer abertura de instrução no dia 9 de Maio
e terminando no dia 28 de Maio.
Se não ocorrer justo impedimento, Manuel dispõe de mais três dias após o fim do prazo para a
prática do acto mediante o pagamento de multa, terminando o prazo no dia 2 de Junho, uma
vez que todos os dias têm que ser úteis – n.º 5 do artigo 107.º que remete para o n.º 5 do
artigo 145.º.
Se se observar o justo impedimento, Manuel só pode praticar o acto após cessar o justo
impedimento devendo requerer a sua declaração com observação pelo disposto no n.º 3 do
artigo 107.º.
Berta considera-se notificada no dia 8 de Maio – n.º 2 do artigo 113.º.
A contagem dos prazos é contínua, por obediência ao previsto no artigo 144.º do CPC ex vi do
artigo 104.º do CPP, iniciando no dia 9 de Maio a contagem do prazo de 20 dias para requerer
abertura de instrução e terminando no dia 28 de Maio.
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O restante prazo contam-se da mesma maneira: mais três dias de multa terminando a 31 de
Maio; verificando-se justo impedimento só se pode praticar o acto depois de cessar o
impedimento, devendo a sua declaração ser requerida nos termos do n.º3 do artigo 107.º.
Não se observa o n.º 12 do artigo 113.º uma vez que Manuel é arguido e Berta é assistente,
não aproveitando a data da notificação um em relação ao outro.
Caso 4
Bento, arguido preso, é notificado no dia 8 de Maio à ordem deste processo.
Berta, assistente, é notificada com carta registada com aviso de recepção no dia 12 de Maio.
Ambos são notificados do despacho de acusação.
Bento considera-se notificado no próprio dia 8 de Maio – artigo 114.º.
Os prazos contam-se de forma contínua – artigo 144.º ex vi do artigo 104.º - começando, por
este motivo, a contar o prazo de 20 dias para requerer abertura de instrução no dia 9 de Maio
e terminando no dia 28 de Maio – artigo 287.º.
Se não ocorrer justo impedimento, Manuel dispõe de mais três dias após o fim do prazo para a
prática do acto mediante o pagamento de multa, terminando o prazo no dia 2 de Junho, uma
vez que todos os dias têm que ser úteis – n.º 5 do artigo 107.º que remete para o n.º 5 do
artigo 145.º.
Se se observar o justo impedimento, Manuel só pode praticar o acto após cessar o justo
impedimento devendo requerer a sua declaração com observação pelo disposto no n.º 3 do
artigo 107.º.
Berta considera-se notificada no dia 15 de Maio, por aplicação do n.º2 do artigo 113.º,
dispondo de 20 dias para requerer abertura de instrução, como estabelece o n.º artigo 287.º.
Dispõe o artigo 144 do CPC, aplicável por remissão do artigo 104.º, n.º 1 do CPP, que a
contagem dos prazos é feita de forma contínua, começando a correr, por este motivo, o prazo
de 20 dias no dia 16 de Maio e terminando no dia 4 de Junho, também por obediência à regra
da contagem contínua dos prazos.
Por outro lado, Berta na qualidade de assistente dispõe de 10 dias para deduzir acusação,
contando-se este prazo de forma contínua, nos termos acabados de expor, começando a
contar no dia 16 de Maio e terminando no dia 25 de Maio. Contudo, uma vez que o último dia
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do prazo tem que ser útil, por imposição do n.º2 do artigo 144.º que ora se aplica por remissão
clara do artigo 104.º do CPP, e dia 25 é domingo, o último dia para a prática do acto transitará
para o primeiro dia útil seguinte, isto é, dia 26 de Maio, segunda-feira.
O n.º 12 do artigo 113.º também não se aplica, uma vez que se tratam de sujeitos processuais
diferentes, arguido e assistente.
4 de Fevereiro de 2009
Janeiro/Fevereiro
Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado
1 2 3 4 5
6 7(F) 8 9 10 11 12
13 14 15 16 17 18(F) 19
20 21 22 23 24 25 26
27 28 29 30 31 1 2
3 4 5 6 7 8 9
Caso 5
Berta, arguida, notificada por via postal simples com prova de depósito no dia 10 de Janeiro.
Bento, arguido, notificado com aviso de recepção com registo de 9 de Janeiro.
Miguel, arguido, preso pelo processo à ordem do qual foi notificado no dia 11 de Janeiro.
Os três arguidos foram todos notificados do despacho que marca o dia da audiência de
discussão e julgamento, com a acusação, e nos termos do artigo 315.º podem, querendo,
contestar em 20 dias.
Berta considera-se notificada no dia 15 – n.º 3 do artigo 113.º (considera-se notificada cinco
dias depois da prova de depósito – nenhum dos dias tem que ser útil), a partir do qual se
contam 20 dias para, querendo, contestar.
Os prazos contam-se de forma contínua, tal como dita o artigo 144.º do CPC aplicável por
remissão do artigo 104.º do CPP, começando a contar no dia 16 e terminando no 4 de
Fevereiro.
Não obstante, Berta poderá praticar o acto nos três dias úteis subsequentes ao dia 4 de
Fevereiro, mediante o pagamento de multa, porque tal possibilidade se encontra prevista no
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n.º 5 do artigo 145.º CPC ex vi do artigo 104.º do CPP, terminando, por recurso a este
expediente, no dia 7 de Fevereiro.
Se se observar o justo impedimento, Berta só pode praticar o acto após cessar o justo
impedimento devendo requerer a sua declaração com observação pelo disposto no n.º 3 do
artigo 107.º.
Bento considera-se notificado no dia 12, sábado, transitando o dia da notificação para o dia
útil seguinte, isto é, dia 14 de Janeiro, segunda-feira, podendo contestar, querendo, no prazo
de 20 dias, nos termos do artigo 315.º.
A contagem dos prazos é contínua, por determinação do artigo 144.º do CPC aplicável por
remissão do artigo 104.º do CPP, começando o prazo de 20 dias a contar no dia 15 de Janeiro e
terminando no dia 3 de Fevereiro. Todavia, como dia 3 de Fevereiro é domingo e o último dia
de prazo tem que ser dia útil, nos termos do n.º2 do artigo 144.º do CPC ex vi do artigo
104.ºCPP, o prazo apenas terminará no dia 4, o dia útil que precede imediatamente o dia 3 de
Fevereiro.
Para além do prazo admitido pelo artigo 315.º, de 20 dias, a lei nos artigos 107.º, n.º5 do CPP
e 145.º, n.º5, o Bento ainda dispõe de mais três dias úteis para contestar após o dia 4 de
Fevereiro, desde que pague a multa por cada dia de atraso dentro do limite dos três dias úteis
subsequentes. Assim, mediante pagamento de multa, Bento poderia contestar até dia 7 de
Fevereiro.
Ocorrendo justo impedimento, Bento só poderia praticar o acto após cessar o impedimento,
desde que requeresse a sua declaração nos termos do n.º3 do artigo 107.º do CPP.
Miguel considera-se notificado no dia 11 de Janeiro – artigo 114.º. – dispondo de 20 dias para,
querendo, contestar.
Uma vez que a regra da lei processual é a da continuidade da contagem dos prazos – artigo
144.º do CPC ex vi do artigo 104.º do CPP – o prazo começaria a contar no dia 12 de Janeiro e
terminaria no dia 31 de Janeiro.
Porém, resulta da leitura articulada do n.º 5 do artigo 107.º do CPP e do n.º 5 do artigo 145.º
do CPC, que Miguel dispõe de mais três dias úteis para contestar após o último dia do prazo
contra o pagamento de multa por cada dia de atraso, terminando o prazo, neste caso, no dia 5
de Fevereiro.
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O n.º 12 do artigo 113.º poderá aproveitar a Bento e a Miguel, desde que o artigo 315.º
preveja a sua aplicação. Na verdade prevê no n.º 1 in fine. Assim o prazo do Miguel terminará
dia 7 de Fevereiro, mediante pagamento de multa, aproveitando o prazo que começou a correr
em último lugar, isto é, o prazo de Berta. Como o último dia de Bento é idêntico ao de Berta,
este não pode aproveitar o mesmo!! (óbio)
Caso 6
Berto, mandatário, foi notificado do despacho de acusação por via postal registada no dia 4
de Janeiro.
Manuel, assistente, foi notificado pessoalmente no dia 8 de Janeiro.
Maria, arguida, foi notificada por prova de depósito (PD) no dia 2 de Janeiro.
Mafalda, mandatária de Maria, foi notificada por carta registada no dia 3 de Janeiro.
Berto, na qualidade de Mandatário de Manuel, notificado do despacho de acusação poderia:
1) deduzir pedido civil, ao abrigo do n.º 2 do artigo 77.º;
2) acusar enquanto assistente, ao abrigo do artigo 284.º;
3) requerer a abertura de instrução, ao abrigo do artigo 287.º.
Berto considera-se notificado no dia 7 de Janeiro, contudo, uma vez que é feriado transita para
o 1º dia útil seguinte, conforme dispõe o n.º 2 do artigo 113.º, isto é, berto considera-se
notificado dia 8.
Para requerer a abertura de instrução, Berto dispõe de 20 dias, prazo este que se conta de
forma contínua, tal como dispõe o artigo 144.º do CPC ex vi do artigo 104.º do CPP, começando
a correr, por este motivo, no dia 9 e terminando no dia 28 de Janeiro.
Contudo, mediante o pagamento de multa, pode ainda Berto requerer a abertura de instrução
nos três dias úteis posteriores ao último dia de prazo, podendo in casu praticá-lo até ao dia 31
de Janeiro.
Verificando-se a existência de justo impedimento, o acto não pode ser praticado até o mesmo
cessar, devendo ser requerida a sua declaração nos termos do n.º3 do artigo 107.º.
Manuel considera-se notificado no dia 8, na medida em que foi notificado pessoalmente e por
aplicação do artigo 113.º/1/a).
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Á imagem do mandatário dispõe de 20 dias para requerer a abertura de instrução, sendo este
prazo contado de forma contínua por exigência do artigo 144.º do CPC aplicável por remissão
do n.º 1 do artigo 104.º do CPP, começando a correr no dia 9 de Janeiro e terminando no dia
28.º.
Para além deste prazo, Manuel dispõe de mais três dias úteis após o fim do prazo para a
prática processual sub iudice, desde que pague a devida multa por cada dia de atraso; nestes
termos, o Manuel ainda poderia praticar o acto até dia 31 de Janeiro, ao abrigo do artigo107.º,
n.º 5 que remete para o artigo 145.º, n.º 5 do CPC.
A este caso aplica-se o n.º 9 do artigo 113.º.
Maria considera-se notificada no dia 7 de Fevereiro, que não transita para o dia seguinte
apesar de dia 7 não ser dia útil, porque o artigo 113.º, n.º 3, determina que quando as
notificações são realizadas por via postal simples, há lugar a uma presunção de que a
notificação teve lugar no 5.º dia posterior ao pedido de depósito, não referindo que este dia
tenha que ser útil. Portanto são sempre 5 dias, úteis ou não!
Para requerer a abertura de instrução, Maria dispõe de 20 dias, prazo este que se conta de
forma contínua, tal como dispõe o artigo 144.º do CPC ex vi do artigo 104.º do CPP, começando
a correr, por este motivo, no dia 9 e terminando no dia 28 de Janeiro.
Contudo, mediante o pagamento de multa, pode ainda Maria requerer a abertura de instrução
nos três dias úteis posteriores ao último dia de prazo, podendo in casu praticá-lo até ao dia 31
de Janeiro, cfr. o n.º5 do artigo 107.º que remete para o n.º5 do artigo 145.º do CPC.
Verificando-se a existência de justo impedimento, o acto não pode ser praticado até o mesmo
cessar, devendo ser requerida a sua declaração nos termos do n.º3 do artigo 107.º.
Mafalda considera-se notificada no dia 6, domingo, que nos termos do artigo 113.º, n.º 2,
transita para o dia útil seguinte, ou seja, dia 8, terça-feira, uma vez que dia 7 de Janeiro é
feriado.
O prazo corre nos mesmos termos dos anteriores: termina a 28 de Janeiro, com mais três dias
de multa, 31 de Janeiro, nos termos do n.º5 dos artigos 107 do CPP e 145.º do CPC.
5 de Fevereiro de 2009
Março/Abril
Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado
1 2 3 4 5 6
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
30
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
7 8 9 10 11 12 13
14 15 16 17 18 19 20
21 22 23 24 25 26 27
28 29 30 31 1 2 3
4 5 6 7 8 9 10
Caso 7
Carla, arguida, foi notificada por carta registada com registo de recepção no dia 2 de Março.
A sua mandatária foi notificada por via postal simples, sendo a prova de depósito datada de
4 de Março.
Luísa, arguida presa, notificada por contacto pessoal, no dia 9 de Março.
A mandatária de Luísa foi notificada com a/r no dia 12 de Março.
A Berta, assistente, foi notificada por via postal registada no dia 10 de Março e a sua
mandatária por prova de depósito datada de 3 de Março.
Todos foram notificados do despacho misto de acusação-arquivamento.
Carla considera-se notificada no dia 5 de Março, por aplicação do n.º3 do artigo 113.º.
O prazo que dispõe para requerer a abertura de instrução é de 20 dias.
Uma vez que os prazos se contam de forma contínua, nos termos do artigo 144.º do CPC
aplicável ex vi do artigo 104.º do CPP, o prazo começa a correr no dia 6 de Março, terminando
no dia 25 de Março.
Todavia, ainda dispõe de mais três dias úteis findo o prazo, desde que pague a competente
multa, como estabelece o n.º 5 dos artigos 107.º do CPP e 145.º do CPC, terminando, neste
caso, no dia 30 de Março, terça-feira, na medida em que os dias 27 e 28 são dias de fim-de-
semana.
Mandatária de Carla considera-se notificada no dia 9 de Março, isto é cinco dias contados da
data da notificação, nos termos do n.º 3 do artigo 113.º.
Nos termos do n.º 1 do artigo 144.º do CPC ex vi do artigo 104.º do CPP, o prazo começa a
contar no dia 10 de Março, dispondo a mandatária de 20 dias para requerer a abertura de
instrução ao abrigo do artigo 287.º, terminando no dia 29 de Março.
Luísa:
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31
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
• considera-se notificada no dia 9 – artigo 114.º;
• 1º dia de prazo para abertura de instrução – 10 de Março;
• último dia - 29 de Março;
• com multa (artigo 107.º/5 e 145.º/5 do CPC) – 1 de Abril.
• Justo impedimento – n.º3 do artigo 107.º.
Mandatária da Luísa:
• considera-se notificada no dia 15 – artigo 113.º/2;
• 1º dia de prazo para abertura de instrução – 16 de Março;
• último dia – 4 de Abril, domingo – transita para o dia útil seguinte 5 de Abril – artigo
144.º/2 do CPC ex vi do artigo 104.º do CPP;
• com multa (artigo 107.º/5 e 145.º/5 do CPC) – 8 de Abril.
• Justo impedimento – n.º3 do artigo 107.º.
Berta, na qualidade de assistente, pode:
1) deduzir pedido civil: artigo 77.º para o qual dispõe de 20 dias;
2) requerer abertura de instrução: artigo 287.º para o qual dispõe de 20 dias;
3) deduzir acusação: artigo 284.º para a qual dispõe de 10 dias.
• considera-se notificada no dia 15 – artigo 113.º/2;
• 1º dia de prazo para abertura de instrução – 16 de Março;
• último dia – 4 de Abril, domingo – transita para o dia útil seguinte 5 de Abril – artigo
144.º/2 do CPC ex vi do artigo 104.º do CPP;
• com multa (artigo 107.º/5 e 145.º/5 do CPC) – 8 de Abril.
• Justo impedimento – n.º3 do artigo 107.º.
Mandatária da Berta:
• considera-se notificada no dia 13 – artigo 113.º/2;
• 1º dia de prazo para abertura de instrução – 14 de Março;
• último dia – 2 de Abril;
• com multa (artigo 107.º/5 e 145.º/5 do CPC) – 5 de Abril.
• Justo impedimento – n.º3 do artigo 107.º.
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32
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Concluindo – Prazos sem multa
Carla: 25 de Março;
Mandatária: 29 de Março;
Luísa: 29 de Março;
Mandatária: 5 de Abril;
Berta: 5 de Abril;
Mandatária: 2 de Abril.
Nos termos do n.º 9 do artigo 113.º, os prazos das mandatárias aproveitam, respectivamente,
à Carla e à Luísa.
Por sua vez, sendo as duas arguidas no processo, também se aplicará o n.º 12 do mesmo
artigo, aproveitando à Carla o prazo de Luísa, termos em que o prazo termina no dia 5 de Abril.
1. Prorrogação do prazo
Até ao limite máximo de 30 dias, ao abrigo do n.º 6 do artigo 107.º, desde que o
procedimento se revelar de especial complexidade e por despacho de deferimento do juiz.
2. Renúncia do prazo - artigo 107.º, n.º 1
“A pessoa em benefício da qual um prazo for estabelecido pode renunciar ao seu
decurso, mediante requerimento endereçado à autoridade judiciária que dirigir a fase do
processo a que o acto o respeitar, a qual despacha em vinte e quatro horas”
Apenas à lugar à renúncia do prazo quando o prazo correr em benefício de determinada
pessoa, ou de várias pessoas, se tal for o desejo das mesmas.
Exemplo: António está preso e é notificado do despacho de acusação. Não está em causa
a existência de mais nenhum arguido. Ele sabe que não quer requerer a abertura de instrução;
pode renunciar ao prazo de abertura de instrução.
António só pode fazer isto porque não há mais nenhum arguido, ou porque, havendo,
ambos renunciaram ao prazo.
Nota:
- Não correm em férias (artigo 103.º/2) os prazos de arguido preso à ordem de outro
processo, diferente daquele pelo qual o prazo corre.
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33
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
- No caso freeport houve uma constituição de assistente ao abrigo da alínea e) do artigo
68, sendo que a presença de um assistente que colabora sempre com o MP, implica que este
último já não poderá arquivar o processo sozinho; há sempre lugar a abertura de instrução.
9 de Fevereiro de 2009
3. Prazos de duração máxima nas fases processuais
O artigo 276.º fixa a regra geral de um prazo geral para o inquérito de 6 meses;
paralelamente, o n.º 2 prevê as excepções de 8, 10 e 12 meses.
Sempre que este prazo máximo é ultrapassado pode ser requerida a aceleração do
processo, nos termos do artigo 108.º e ss.. Contudo, para que o prazo do artigo 276.º comece
a contar é necessário preencher os requisitos do n.º 3 deste normativo, isto é, é necessário
que o processo corra contra pessoa determinada ou que se tenha verificado a constituição de
arguido.
N.B.: Quanto se requer a aceleração processual não é necessário fundamentar o
requerimento, basta que se verifiquem os pressupostos.
A quem é dirigido o requerimento de aceleração processual? Na fase de inquérito ao
Procurador-Geral da República que se pronuncia no prazo de cinco dias - n.º 3. Nos restantes
casos será sempre o Conselho Geral de Magistratura sem o prazo de 5 dias.
De igual modo, dispõe o n.º 5 do artigo 109.º que se o pedido de aceleração for admitido
poderá haver lugar:
� Determinação de pena disciplinar a aplicar ao magistrado;
� Conceder um prazo para que o processo seja dado como findo;
� Iniciar um inquérito de 15 dias para saber os motivos do não cumprimento do
prazo de inquérito;
� Artigo 276.º/4: o magistrado titular comunica ao superior hierárquico que os
prazos foram ultrapassados, sendo que depois da reforma passou a ser possível
ao superior hierárquico avocar para si o processo, dando conhecimento ao PGR,
Arguido e Assistente.
Exmo. Procurador-Geral da República
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Inquérito 397/08-A.PRT
3ªSessão DIAP
João Lopes, assistente nos autos à margem referenciados, onde é
arguido Fernando Mendes, diz:
No dia 13 de Fevereiro de 2008, apresentou uma queixa-crime contra o aqui arguido,
imputando-lhe a prática de um crime de emissão de cheques sem provisão.
Desde essa data que o processo corre contra pessoa certa e determinada.
Estão, assim, manifestamente excedidos os prazos máximos duração do inquérito, pois até ao
presente não se verificou a sua conclusão.
Termos em que,
Requer que seja recebido e declarada a aceleração processual, ao abrigo das
disposições conjugadas dos artigos 276.º, n.º 1 e 3 e 108.º do CPP, seguindo-
se os ulteriores termos do processo de acordo com o artigo 109.º do CPP.
Apenas devem constar os requisitos objectivos do requerimento de pedido de
aceleração processual:
Artigo 276.º, n.º 1 – prazo.
Artigo 276.º, n.º 3 – como se conta o prazo.
Artigo 108.º – legitimidade.
Artigo 109.º – tramitação.
DA COMUNICAÇÃO DOS ACTOS E DA CONVOCAÇÃO PARA ELES
1 – Outras formas de comunicação judicial dos actos para além da notificação – artigo 111.º
e 112.º
- carta rogatória e carta precatória – alínea b), n.º 3 do artigo 111.º.
- mandado judicial alínea a) do n.º 3 do artigo 111.º.
- outras formas (alíneas c) n.º 3 do artigo 111.º e n.º 4 do mesmo artigo): convocação para o
acto processual, artigo 112.º.
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
2 - Falta de comparecimento
2.1 – Justificação, artigo 117.º
Em caso de motivo previsível deve a pessoa comunicar ao tribunal a sua ausência, 5 dias
antes, explicitando o motivo, a duração e o local onde se vai encontrar – n.º 2 do artigo 117.º.
Exmo. Senhor Juiz
da 2ª Vara Criminal do Porto
Processo n.º 349/08.5TBPRT
Tribunal Colectivo
Luísa Ferraz, arguida melhor identificada nos autos à
margem referenciados diz,
Arrolou como testemunha Maria Belo. Esta, apesar de regularmente notificada para
comparecer na audiência de julgamento, designado para o dia 18 de Julho, às 14.00 horas,
encontra-se impedida de o fazer.
Com efeito, na data designada, a testemunha estará em Espanha, em gozo de férias na
companhia da sua família, apenas regressando no dia 31 de Julho.
Já há muito tempo tem as férias marcadas, conforme factura da agência de viagens que anexa
como documento 1.
Termos em que requer que lhe seja considerada justificada a falta e, em
consequência, seja designada nova data compatível com o seu impedimento,
nos termos do artigo 117.º,n.º 1 e 2.
Junta: 1 Documento.
A Advogada,
Para que este requerimento seja feito é necessário que o (1) impedimento seja
previsível, assim como (2) a sua duração, devendo culminar com (3) o pedido de falta
justificada.
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
36
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Em caso de impedimento imprevisível, deve observar-se o estipulado na 2ª parte, do n.º
3 do artigo 117.º, dispondo de mais 3 dias para prestar a prova por motivo imprevisível.
Em caso de impedimento por doença deve ser apresentado o atestado médico – n.º 5
do artigo 117.º.
2.2 – Falta injustificada – artigo 116.º
Condenação dos faltosos em multa. Caso falte advogado ele não é condenada em multa,
mas pode ser dado conhecimento à O.A.; se for o representante do Ministério Público é dado
conhecimento ao superior hierárquico.
18 de Fevereiro de 2009
DAS NULIDADES – ARTIGOS 118.º E SS.
António foi notificado no dia 31 de Janeiro, da data de audiência de discussão e julgamento
que se iria realizar no dia 10 de Fevereiro.
Nos termos do n.º 2 do artigo 313.º do CPP, a notificação deve ser feita com pelo menos 30
dias de antecedência. Está em causa uma irregularidade definida a contrario do n.º 1 do artigo
118.º.
A Maria foi notificada pelo MP de existência de indícios para deduzir acusação.
Nos termos do artigo 48.º, estamos perante uma nulidade insanável, na medida em que é ao
MP que cabe a promoção do processo nos crimes públicos – alínea b), artigo 119.º.
N.B.: as nulidades insanáveis não são sanadas pelo decurso do tempo, pelo que podem ser
conhecidas a qualquer altura.
Requerimento ditado para a acta, nos termos do artigo 340.º e 165.º, para junção dos
documentos que comprovam que a arguida se encontrava num congresso nos EUA e não no
lugar do crime. Os documentos não tinham sido ainda juntos por a mesma os ter na sua
posse.
O juiz indefere o requerimento e não admite a junção (este despacho é irrecorrível porque é
de livre apreciação).
Configura uma nulidade dependente de arguição – alínea d) do n.º2 do artigo 120, 2ª parte. É
esta arguição que, mesmo que indeferida, permite o recurso para a Relação. Recorre-se do
despacho que indefere a arguição da nulidade e não daquele que não admitiu a junção aos
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
37
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autos daqueles documentos, porque este último, por ser de livre apreciação, é irrecorrível –
artigo 400.º/1/b).
N.B.: o requerimento de junção de documentos tem que constar as palavras “essencial para a
descoberta da verdade”, sob pena de não se poder arguir a nulidade.
A PSP bate à porta e notifica Luís do despacho de acusação por crime de burla, pedindo que
este assine os documentos. Por via destas mesmas assinaturas, foi-lhe aplicado TIR.
Por via da alínea a) do n.º 1 do artigo 58.º Luís deveria ter sido constituído arguido e prestado
declarações. O que configura uma nulidade dependente de arguição, nos termos do n.º 1 do
artigo 120.º do CPP.
Exmo. Senhor Juiz
do Tribunal Instrução Criminal do Porto
Inquérito n.º 367/08
DIAP
LUÍS VIEIRA GOMES, arguido nos autos de inquérito à margem
referenciados, notificado do despacho de acusação e não podendo
conformar-se com o conteúdo do mesmo, vem requerer a abertura de
instrução, ao abrigo da alínea a), n.º 1 do artigo 287.º do CPP, pelas
razões de facto e de direito que se passam a expor:
I) Questão Prévia: Nulidades
1.º
No dia 29 de Janeiro de 2009, foi comunicado ao arguido pela PSP que tinha sido proferido
despacho de acusação contra este.
2.º
Até àquela data, o arguido não havia sido notificado da sua constituição de arguido, nem tão
pouco tinha sido interrogado.
3.º
Sendo que este reside no mesmo local à 35 anos, não se tendo ausentado nos últimos meses.
4.º
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
38
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Este facto permitia que o mesmo fosse notificado para comparecer a tribunal, que fosse
constituído arguido e, posteriormente, fosse interrogado.
5.º
Tendo, assim, ocorrido uma omissão da prática dos actos processuais exigidos pela lei de
processo aplicável, o que configura uma nulidade.
Termos em que se argui a nulidade, segundo as disposições
conjugadas do n.º 1 do artigo 272.º, alínea d) do n.º 2 do artigo 120.º
do CPP, com todos os legais efeitos, previstos no artigo 122.º do CPP.
19 de Fevereiro de 2009
António é detido e chamado para interrogatório judicial, o mandatário está atrasado e pede
para o juiz esperar. Este não espera e despacha no sentido de admitir a prisão preventiva.
N.B.: O detido só é apresentado ao JIC quando o MP considerar que é desadequada e
desproporcional a aplicação de TIR. Se o TIR for suficiente o próprio MP tem competência para
aplicar sem levar ao detido ao juiz (ver artigo 143.º conjugado com o artigo 196.º).
Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 64.º os interrogatórios de detido é obrigatória a
presença no defensor, constituindo a falta deste uma nulidade insanável por aplicação da
alínea c) do artigo 119.º.
O artigo 119.º, relativo às nulidades insanáveis, é meramente exemplificativo, sendo
que, importa reter:
- se o artigo não contemplar cominação há lugar a irregularidade;
- se o artigo cominar com nulidade, esta é sanável, seguindo o regime das nulidades
sanáveis;
- se o artigo cominar com nulidade insanável, esta integra os casos de nulidade
insanável, nos termos previstos no artigo 119.º.
As irregularidades e as nulidades sanáveis têm que ser arguidas no momento em que
são cometidas, sob pena de serem sanadas pelo decurso do tempo. As nulidades insanáveis só
devem ser arguidas na audiência de discussão e julgamento para se recorrer do seu
indeferimento.
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
39
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Isto porque, segundo o artigo 310.º, a decisão instrutória que pronunciar o arguido pelos
factos constituídos pela acusação do MP, formulada ao abrigo do artigo 283.º e n.º 4 do artigo
285.º, mesmo na parte em que apreciam nulidades e outras questões prévias ou incidentais é
IRRECORRÍVEL.
De resto, já foi suscitada a inconstitucionalidade desta disposição, sendo que o Tribunal
Constitucional ainda não se pronunciou.
O MP passou mandado de busca para que fosse apreendido determinado documento que
estava no consultório do Dr. Karamba, este mandado foi elaborado no dia 10 de Janeiro,
ontem, dia 18 de Fevereiro, foi feita a busca e apreendido o documento.
Determina o n.º4 do artigo 174.º há lugar a nulidade sempre que entre a emissão do mandado
e a busca haja um hiato temporal superior a 30 dias. Esta nulidade deve ser arguida:
Exmo. Senhor Juiz de Instrução
Criminal do Porto
Inquérito n.º 675/08
DIAP
KARAMBA, arguido nos autos à margem referenciados, diz:
1.º
No dia 18 de Fevereiro, o arguido foi alvo de busca às instalações onde desenvolve a sua
actividade profissional.
2.º
A busca foi levada a cabo com o objectivo de apreender um documento probatório.
3.º
O referido documento foi apreendido durante a busca.
4.º
Busca que foi realizada tendo por base um mandado de busca datado de 10 de Janeiro do
presente ano,
5.º
consubstanciando uma nulidade.
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Nulidade essa que se arguí nos termos das disposições conjugadas
do n.º 4 do artigo 174.º e do artigo 120.º do CPP e, em
consequência, não pode o documento apreendido ser valorado
como elemento probatório, conforme o disposto no artigo 122.º e
ss e o artigo 125.º do CPP.
2 de Março de 2009
Caso 8
O Juiz emitiu um despacho que designou o dia 1 de Abril de 2009, pelas 9 horas e 30
minutos, para audiência de discussão e julgamento.
O arguido foi notificada por via postal simples, no dia 9 de Fevereiro.
A Mandatária foi notificada por via postal registada no dia 10 de Fevereiro.
Quando se consideram notificados? Qual é a peça processual que deve ser elaborada?
Quando termina o respectivo prazo?
Fevereiro/Março
Domingo Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado
1 2 3 4 5 6 7
8 9 10 11 12 13 14
15 16 17 18 19 20 21
22 23 24 25 26 27 28
1 2 3 4 5 6 7
8 9 10 11 12 13 14
• Notificação:
O arguido considera-se notificado no dia 14, nos termos do n.º 3 do artigo 113.º
O mandatário considera-se notificado no dia 13, nos termos do n.º2 do artigo 113.º.
• Peça Processual:
Segundo o n.º 1 do artigo 315.º o arguido terá 20 dias para contestar.
• Prazo
Dispõe o artigo 144.º do CPC aplicável ex vi do artigo 104.º do CPP que os prazos se contam de
forma contínua, pelo que o prazo do arguido começa a contar no dia 15, ao qual se somarão os
20 dias estabelecidos no artigo 315.º, terminando no dia 6 de Março; ao mandatário aplica-se
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41
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a enunciada regra da continuidade dos prazos, pela aplicação dos mesmos normativos legais,
começando a contar os 20 dias de prazo no dia 14 de Fevereiro e terminando este mesmo
prazo no dia 5 de Março.
A contestação pode sempre ser apresentado nos três dias úteis posteriores ao fim do prazo,
mediante o pagamento de multa, tal como resulta do n.º 5 do artigo 107.º do CPP que remete
para o n.º 5 do artigo 145.º do CPC, terminando o prazo para o arguido no dia 11 de Março e
para o Mandatário no dia 10 de Março.
Não obstante esta disparidade de prazo, o prazo do arguido aproveita ao mandatário, porque
foi notificado em último lugar, por aplicação do n.º 9 do artigo 113.º.
Suponha que o despacho designava julgamento para o dia 2 de Março, tendo presente a
data das notificações, quid iuris?
O artigo 313.º do CPP determina que entre o despacho que designa audiência de julgamento e
a data da audiência deve mediar pelo menos 30 dias, sob pena de irregularidade nos termos
do n.º 1 do artigo 118.º.
As irregularidades ou são arguidas no próprio momento em que ocorrem ou nos três dias
subsequentes.
Exmo. Senhor Juiz de Direito
do Tribunal Judicial de Braga
Processo n.º1113/08TBBRG
2ª Vara Mista
ANTÓNIO FONTES, arguido nos autos à margem identificados
vem expor o seguinte:
1.º
No dia 14 de Fevereiro de 2009 foi o arguido notificado do despacho que designou a data de
audiência de julgamento,
2.º
por via do qual foi fixado o dia 2 de Março.
3.º
De onde resulta que o despacho apenas foi notificado ao arguido com 16 dias de antecedência.
4.º
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
42
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Não se verificando o prazo de pelo menos 30 dias fixado na lei processual penal.
Termos em que se arguí a irregularidade do despacho que
designou a data de audiência de julgamento, ao abrigo da
disposições conjugadas do n.º 2 do artigo 313.º e do n.º 2 do
artigo 118.º, com os efeitos legais previstos no artigo 123.º,
todos do CPP.
A Advogada,
4 e 9 de Março de 2009
Livro III – Da Prova
O princípio da legalidade, constante do artigo 125.º do CPP, determina que são
admissíveis todos os meios de prova que não forem proibidos por lei. Por sua vez, o artigo
126.º do CPP determina quais são os métodos proibidos de prova, sendo cominadas com
nulidade (logo sanável).
Por fim, e no que interessa nesta primeira parte das disposições gerais, o artigo 127.º
consagra o princípio da livre apreciação de prova enquanto afloração do princípio da
imediação da prova testemunhal. Esta livre apreciação determina a obrigatoriedade da
fundamentação das razões de facto e de direito que dão determinado facto por provado ou
não. Em caso de incumprimento desta obrigação de fundamentação, há lugar a nulidade nos
termos do artigo 314.º.
Há diferentes meios de prova admitidos pelo CPP: prova documental, prova
testemunhal, prova por declaração do arguido ou assistente (cfr. artigo 140.º e145.º); prova
pericial – subtraída ao princípio da livre apreciação de acordo com artigo 163.º; prova por
acareação (artigo 146.º e ss.); prova por reconstituição de facto. Quanto a esta última cumpre
referir que há crimes que pela sua natureza não admitem a sua reconstituição (v.g. os crimes
de incêndio); esta prova é muito usada nos acidentes de viação, cfr. artigo 150.º CPP. A
reconstituição é diferente do exame ao local, na medida em que o exame é um meio de
obtenção de prova e não um meio de prova como a reconstituição. A este propósito veja-se o
Acórdão do Supremo Tribunal proferido no caso Joana.
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DOS MEIOS DE PROVA
I) Da Prova Testemunhal - artigos 128.º a 139.º
As testemunhas são inquiridas porque prestam juramento e são obrigadas a
responder e a responder com verdade, sob pena de crime de falsas declarações.
Contrariamente os arguidos são interrogados, porque não prestam juramento e apenas têm
que responder com verdade acerca da sua identidade e dos seus antecedentes criminais.
A testemunha não é obrigada a responder quando alegar que das respostas resulta a
sua responsabilização penal.
Com a nova reforma as testemunhas podem ser acompanhadas por advogado, desde
que este não seja o advogado do arguido (conflito de interesses dos sujeitos processuais) – n.º
4 e 5 do artigo 132.º.
As testemunhas podem ser detidas para ser presentes a inquirição, sempre que do seu
comportamento resulte que esta não se apresentaria livremente. Se estivermos em fase de
julgamento o juiz emite mandado de detenção; na fase de inquérito compete ao MP a
promoção do mandado para a testemunha ser detida para efeitos de inquirição.
Quando a testemunha tiver uma relação familiar com o arguido pode recusar-se a
prestar depoimento nos termos do artigo 134.º. Se atentarmos na alínea a) desta disposição,
facilmente constatamos podem recusar-se a responder como testemunhas “os descendentes,
ascendentes, irmãos, afins até ao 2º grau, adoptantes, adoptados e cônjuge do arguido” e se
se tratar de enteado? Pesquisar jurisprudência acerca do assunto!
Por outro lado, dispõe o artigo 133.º do CPP, que estão impedidos de depor como
testemunhas:
Alínea a) os arguidos e os co-arguidos. Os co-arguidos prestam declarações, mas até
que ponto poderá ser valorada a prova produzida pelo co-arguido quando o outro co-arguido
se remete ao silêncio? (ver jurisprudência até ao TC). É preciso atender ao princípio da não
auto-incriminação; ao facto de o ónus da prova ser do MP e não do arguido, o que faz com que
o mesmo não tenha que contribuir para a verdade material. Todos estes factores concorrem
para a tese que defende que as declarações do co-arguido não possam ser valoradas enquanto
prova contra o co-arguido que se remete ao silêncio, sem que haja outros meios que provem a
verdade material das declarações proferidas. Acresce que os defensores desta tese baseiam a
sua convicção no n.º 4 do artigo 345.º do CPP.
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Alínea b) os assistentes. Não depõem como testemunhas porque estão impedidos,
assim apenas prestam declarações sem prestar juramento, embora sejam obrigados a
responder com verdade, sob pena de crime de falsas declarações.
II) Das Declarações do Arguido, do Assistente e das Partes Civis – artigos 140.º a
145.º
III) Da prova por acareação – artigo 146.º
IV) Da prova por reconhecimento – artigos 147.º a 149.º
O regime da prova por reconhecimento é quase tudo novo. A ideia base é a seguinte
este meio de prova não pode ser valorado se não obedecer aos trâmites previstos no artigo
147.º, por imposição do n.º 7. O reconhecimento é diferente da identificação das pessoas no
decurso da narração dos factos.
N.º 7 do artigo 147.º: “O reconhecimento que não obedecer ao disposto neste artigo não
tem valor como prova, seja qual for a fase do processo em que ocorrer”.
A Relação do Porto determina que o n.º7 não se aplica durante a audiência de discussão
e julgamento; desta decisão coube recurso para o Tribunal Constitucional, sendo que ainda
não foi proferida decisão. Não parece que esta interpretação faça qualquer sentido, uma vez
que a ratio é evitar o erro judiciário ao recorrer a este meio de prova. Se por hipótese no
decurso da audiência não se aplicasse o artigo 147.º, seria admissível o seguinte modo de
reconhecimento “A pessoa que o agrediu está nesta sala?”; no caso sub iudice se dúvidas
houvesse acerca da identidade do agressor bastaria indicar a pessoa sentada no lugar do
arguido, mesmo que tal não fosse verdade.
O artigo 148.º estabelece o regime para o reconhecimento de objectos.
O artigo 149.º regulamenta a pluralidade de reconhecimento, querendo isto dizer, que o
mesmo objecto ou mesma pessoa pode ser reconhecidos por mais do que uma pessoa, sendo
que cada uma delas terá que o fazer separadamente.
V) Da reconstituição do facto – artigo 150.º
VI) Da prova pericial – artigos a 151.º a 163.º
Está subtraída à livre apreciação do julgador, nos termos do artigo 163.º os
conhecimentos técnicos e científicos não estão na disponibilidade do julgador.
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Às vezes o juiz vem acompanhado de um consultor técnico, e o do mesmo modo, podem
os julgadores fazer-se acompanhar pelo consultor técnico que não só auxilia no conhecimento
da matéria, mas também no interrogatório aos peritos. Os consultores estão “melhor
colocados” para saber não só do que se fala, mas quais as questões que devem ser colocadas,
que são importantes para a produção de prova e, consequentemente, para a descoberta da
verdade.
Artigo 155.º prevê a existência de um Consultor Técnico por força de disposições do
Código Civil.
A perícia tem lugar sempre que a percepção ou apreciação dos factos exijam especiais
conhecimentos técnicos, científicos ou artísticos, conforme determina o artigo 151.º. A
perícia é realizada pelos serviços/pessoas constantes do artigo 152.º do CPP.
Exemplos: Contrafacção de Direitos de Autor. Há uma lista de peritos fornecida pelas
Universidades de onde se pode seleccionar um ou outro e para os quais se irão enviar os
quesitos a responder com aquela peritagem.
Contrafacção de Têxteis. A marca tem peritos que detectam através, por exemplo, das
gramagens dos tecidos para perceber se o mesmo é ou não verdadeiro.
Fraude Fiscal: São nomeados peritos os Inspectores das Finanças, juntamente com os
engenheiros informáticos, prestando ambos juramento não podendo divulgar a informação de
que terão pessoal conhecimento, nem depois de findo o julgamento – artigo 156.º.
A perícia pode ser ordenada oficiosamente ou a requerimento – artigo 154.º; se for por
via de requerimento este deve conter os quesitos que se pretendam ver respondidos por
forma à produção de prova favorável. Os peritos são obrigados a responder a todos os
quesitos que de lá constam.
A perícia pode ser requerida em qualquer fase do processo!
O artigo 158.º prevê a possibilidade de esclarecimentos e de uma nova perícia. Nos
termos do n.º 2 os peritos dos estabelecimentos, laboratórios ou serviços oficiais se tiverem na
sua disponibilidade o equipamento adequado são ouvidos por teleconferência a partir do local
de trabalho.
O perito só presta juramento uma vez e mesmo findo o processo, não podem falar dos
sues conhecimentos concretos – artigo 156.º.
As perícias médico-legais e forenses são realizadas no Instituto de Medicina Legal, artigo
159.º.
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VII) Da prova documental – artigo 164.º a 170.º
Artigo 164.º: “É admissível prova por documento, entendendo-se por tal a declaração,
sinal ou notação corporizada em escrito ou qualquer outro meio técnico, nos termos da lei
penal.”.
A prova documental é junta até ao final da instrução, sendo oferecida pelo assistente e
pelo arguido. O MP pode pedir a junção de documentos aos autos.
Contudo, a prova documental pode ser junta no decurso da audiência de julgamento; ao
abrigo do artigo 165.º em conjugação com o artigo 340.º do CPP, temos sempre que justificar
o porquê de apresentarmos um documento apenas neste momento. Exemplo: Maria acusada
de um crime. Diz que naquele dia e naquela hora estava numa conferência fora do país, mas
não tinha em seu poder os documentos comprovativos deste facto até à data em que os
apresentou, isto é, já em audiência de julgamento. Para além do porquê, a Maria tem que
referir o que pretende provar com a junção à posteriori daquele documento, dizendo que o
mesmo é essencial para a descoberta da verdade e que vem requerer a sua junção ao abrigo
dos artigos 165.º e 340.º do CPP.
É imprescindível o uso de palavras como essencial à descoberta da verdade, porque se o
despacho indeferir aquela junção, invocar-se-á uma nulidade, por forma a ser possível recorrer
com base na nulidade arguida. Caso contrário, nada se pode fazer contra o despacho que
indefere a junção dos documentos por ser um despacho de livre resolução e, como tal,
irrecorrível nos termos do artigo 400.º do CPP.
Artigo 167.º: valor probatório da reprodução mecânica.
Os documentos autênticos ou autenticados constituem prova plena, a não ser que sejam
impugnados, no artigo 169.º.
11 de Março de 2009
DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DE PROVA (CONTINUAÇÃO)
Escutas Telefónicas – artigos 187.º a 190.º
a) Admissibilidade
Esta é uma matéria totalmente nova no CPP, uma vez que as escutas eram tratadas
antes da reforma de 2007 como um meio de prova, quando na verdade devem ser um meio de
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
obtenção de prova. Nestes termos, era sempre arguida a nulidade das escutas, na medida em
que estas após um ano eram presentes ao juiz de instrução que as admitia, sem mais, em uma
hora!
Dispõe o artigo 187.º que o MP tem legitimidade para requerer as escutas, sendo que o
juiz de instrução apenas as pode admitir por despacho fundamentado, de facto e de direito,
quanto aos crimes previstos no n.º 1.
A autorização das escutas pode ser dada pelo juiz do lugar onde ocorre a conversação
ou a comunicação telefónica ou da sede da entidade competente para a investigação quanto
aos crimes aí previstos (n.º2). Esta autorização tem de ser comunicada ao JIC em 72horas
(n.º3).
Pode ser escutado o arguido ou suspeito, e também o intermediário ou o ofendido, se
derem o seu consentimento ou se este for presumível – n.º4.
Em caso de intercepção de conversas com os mandatários, a gravação não deve ser
parada, contudo, essa parte da gravação jamais pode ser usada no processo – n.º 5.
A autorização tem um prazo de 3 meses renováveis, desde que verificados os requisitos
do n.º 1 –n.º 6.
Por fim, o n.º 7 veio admitir o uso de escutas paralelas, querendo isto dizer que se as
escutas forem úteis para a descoberta da verdade material noutro processo, diverso daquele
ao abrigo do qual foram autorizadas as escutas, estas poderão ser usadas, desde que se tratem
de escutas que envolvam unicamente as pessoas do n.º 4.
b) Formalidades – artigo 188.º
1. O OPC lavra um auto e correspondente relatório, indicando as passagens
relevantes e descrevendo o seu alcance.
2. O OPC não está impedido de praticar os actos cautelares necessários, não
obstante o procedimento a obs.
3. O OPC leva ao conhecimento do juiz de 15 em 15 dias a partir do inicio da
primeira intercepção.
4. O juiz determina a destruição imediata dos suportes técnicos e relatórios
manifestamente estranhos ao processo nos termos das alíneas do n.º6.
N.B: Quem elabora os relatórios e a selecção fica vinculado ao silêncio para todo o
sempre.
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5. Durante o inquérito o juiz determina, a requerimento do MP, a transcrição e
junção ao auto das conversações e comunicações que sirvam de fundamento
para aplicação de uma medida de coacção (menos o TIR). Tudo para que o
arguido se possa defender cabalmente – n.º 7.
6. A partir do encerramento do inquérito sobre o assistente e o arguido caí o ónus
de, após exame dos suportes técnicos, transcrever à sua custa a parte das
gravações utilizadas para requerer abertura de instrução ou para contestar.
7. O tribunal pode ordenar oficiosamente a produção de prova tendo como
fundamento a descoberta da verdade – remissão do n.º 10 para o artigo 340.º.
8. Após o trânsito em julgado da decisão, os suportes técnicos que não forem
destruídos serão devidamente lacrados, só podendo ser usados em caso de
recurso extraordinário “leia-se” de revisão.
Cominação: A inobservância do previsto nos artigos 187.º a 189.º implica, necessariamente,
uma nulidade que TEM QUE SER ARGUIDA, sob pena de ser sanada pelo decurso do tempo;
quer isto dizer, que esta nulidade tem que ser arguida até ao final do inquérito ou (caso haja
lugar) da instrução.
Livro IV – Das Medidas de Coação e de Garantia Patrimoniais
A liberdade das pessoas só pode coarctada ou diminuída em casos muito restritos, sob
pena de violação do direito à liberdade constitucionalmente consagrado.
As medidas de coação estão previstas por ordem crescente, da menos para mais gravosa
e só podem ser aplicadas a arguidos.
Discute-se a natureza do Termo de Identidade e Residência (TIR), no sentido de se
duvidar se é ou não uma verdadeira medida de coação tudo isto porque: pode ser cumulada
com todas as outras; pode ser aplicada por um OPC ou pelo MP e não, unicamente pelo JIC, à
imagem do que se passa com as restantes medidas de coação.
Na aplicação das medidas de coação devem ser observados os princípios da
necessidade, adequação e proporcionalidade, sendo que estes requisitos devem ser
observados no momento de aplicação da medida de coação. A aplicação destas medidas
implica uma fundamentação de facto e de direito que determine a escolha de uma medida
mais gravosa de entre as possíveis.
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Acresce que as medidas restritivas da liberdade, prisão preventiva e obrigação de
permanência na habitação, só podem ser aplicadas em última ratio, devendo a segunda
prevalecer sobre a primeira.
Por fim, o n.º 4 do artigo 193.º, consagra o princípio da razoabilidade, como
decorrência constitucional.
ARTIGO 194.º
As medidas de coação (excepto TIR) são aplicadas pelo JIC, durante o inquérito a
requerimento do MP.
Assim, o JIC NUNCA pode aplicar uma medida de coação que seja mais gravosa do que
aquele que for proposta pelo MP.
Em princípio, haverá lugar à audição do arguido para garantir o contraditório, excepção
feita aos casos devidamente fundamentados, sob pena de nulidade.
Em qualquer caso, o despacho que admita a aplicação de uma medida de coação tem
que estar fundamentado, nos termos do n.º4, sob pena de nulidade.
Tal como determina o n.º 5, os factos devem ser comunicados ao arguido, quando for
ouvido para que se possa defender devidamente, sob pena de nulidade por omissão de actos
que deveriam ter sido praticados durante a fase de inquérito.
I) Termo de identidade e Residência (TIR) – artigo 196.º
Afasta o instituto da contumácia, pois permite que uma pessoa se considere sempre
devidamente/regularmente notificada quando a notificação é dirigida para a morada
constante do TIR.
Se a pessoa sujeita a TIR se for ausentar por mais de 5 dias tem que comunicar essa
ausência. Se não o fizer considera-se regularmente notificada com todos os efeitos legais,
podendo por isso mesmo, ser o arguido julgado sem estar presente, sem necessidade de ser
declarado contumaz.
Quando deve estar o arguido presente? Segundo o artigo 333.º deve o arguido estar
presente quando for essencial para a descoberta da verdade, sendo que como o arguido tem
sempre o direito de se remeter ao silêncio, apenas é essencial a sua presença nos casos de
produção de prova por reconhecimento.
II) Caução – artigo 197.º
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O arguido pode ser obrigado a prestar caução se o crime for punível com pena de prisão.
Se o arguido não puder ou quiser prestar a caução em dinheiro, deve requerer um dos
meios de prestação de caução previstos no artigo 206.º.
Se o arguido não tiver dinheiro, nem puder se socorrer de nenhum dos meios do artigo
206.º, terá que requerer a substituição desta medida de coação por outra medida não
preventiva da liberdade, sob pena de regressarmos à prisão por dívidas.
Neste último caso, em que é requerida a substituição da medida a aplicar, o juiz terá que
aplicar uma medida de coação mais gravosa do que a que foi proposta pelo MP; se assim for
como fazer com a limitação imposta pelo n.º2 do artigo 194.º? Abre-se vista do requerimento
ao MP para rever a medida de coação anteriormente pedida; contudo, a Dra. Cristina Correia
entende que pesembora esta obrigação o JIC ganha plena autonomia.
Excelentíssimo Senhor Juiz
de Instrução Criminal do Porto
Inquérito n.º 115/08.5TBPRT
FILIPA SOUSA, arguida nos autos acima identificados, diz:
À arguida foi aplicada a medida de coação prestação de caução, no valor de 50.000€.
Esta pretende prestar caução através da hipoteca da sua habitação própria,
o que requer a Vossa Excelência nos termos do n.º 1 do artigo 197.º e do n.º 1 do artigo 206.º
do CPP.
A Advogada,
Excelentíssimo Senhor Juiz
de Instrução Criminal do Porto
Inquérito n.º116/08 TBPRT
FILIPA SOUSA, arguida nos autos acima identificados, diz:
À arguida foi aplicado a medida de coação prestação de caução no valor de 50.000€. Não
tendo bens próprios e tendo uma situação económica preclitante e insuficiente, a arguida
encontra-se impossibilitada de prestá-la.
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Pelo que requer a substituição da medida de coação em causa por outra que julgar mais
conveniente, nos termos do n.º 2 do artigo 197.º do CPP.
A Advogada,
Reforço da caução – artigo 207.º
Trata-se de uma revisão da medida de coação já decretada. Nos termos da alínea b), do
n.º 1 do artigo 213.º há pronúncia sobre a medida de coação nos seguintes momentos:
� MP pronuncia-se no despacho de acusação;
� JIC no despacho de pronúncia;
� O juiz do julgamento na sentença a proferir.
17 de Março de 2009
III) Obrigação de apresentação periódica – 198.º
As medidas de coação são cumuláveis com quaisquer outras, excepção feita à prisão
preventiva e obrigação de permanência na habitação que apenas são cumuláveis com TIR.
O artigo 198.º determina um limite para a sua aplicação, isto é, tem que se tratar de um
crime com pena de prisão máxima superior a seis meses. Esta medida é cumulável com a
suspensão do exercício de profissão, de função, de actividades e de direitos e com a proibição
e imposição de condutas.
Tal é possível porque o arguido pode estar a responder por mais do que um crime, desde
que aplicação cumulativa destas medidas se revele necessária, adequada e proporcional.
IV) Suspensão do exercício de profissão, de função, de actividades e de direitos –
199.º
V) Proibição e imposição de condutas – 200.º
VI) Obrigação de permanência na habitação e prisão preventiva – 201.º e 202.º
Nos termos do n.º 3 do artigo 193.º a primeira prevalece sobre a segunda. Em ambos os
casos, verifica-se uma maior exigência na fundamentação dos despachos que as determinam;
na prisão preventiva exige-se a verificação de fortes indícios de prática do crime em apreço.
Em caso de violação das obrigações impostas por cada uma destas medidas, verifica-se o
regime constante do artigo 203.º.
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
REQUISITOS GERAIS DE APLICAÇÃO DAS MEDIDAS DE COAÇÃO – ARTIGO 204.º E SS.
a) Requisitos gerais
O artigo 204.º estipula novos requisitos, sendo que no momento da aplicação da medida
de coação é necessário que se verifique uma das situações das alíneas a) a d), separada ou
cumulativamente.
Quer isto dizer, que não basta que o arguido tenha uma casa no Brasil para que haja
perigo de fuga.
Em relação à prisão preventiva cumpre dizer que em caso de possibilidade de inêxito de
diligências para aplicação da prisão preventiva aplica-se o regime do artigo 210.º.
Por outro lado, pode haver lugar à suspensão da prisão preventiva, segundo o artigo
211.º, sendo que esta sujeição implica a sujeição do arguido à obrigação de permanência na
habitação. Uma questão prática: se o estabelecimento prisional considerar que tem condições
para tratar da doença de que o arguido padece não há lugar a suspensão da prisão preventiva.
Por exemplo: em Paços de Ferreira são recebidos e tratados os arguidos portadores do vírus de
HIV.
b) Revogação, alteração e extinção de medidas
As medidas de coação são revogadas nos termos do n.º 1 do artigo 212.º; podendo,
contudo, ser novamente aplicadas desde que haja uma alteração das circunstâncias que o
fundamente. Por outras palavras, a prisão preventiva pode ser revogada, mas por alteração
das circunstâncias pode ser aplicada de novo; tal só não acontece se já tiver terminado o
prazo limite da prisão preventiva.
Substituição da medida de coação: por atenuação ordenada oficiosamente ou a
requerimento do arguido ou do MP. De todo o modo, mesmo que a alteração seja ordenada
oficiosamente devem ser ouvidos o MP e o arguido. Só não há lugar a audição se houver
despacho fundamentado que a dispense.
Artigo 213.º: Reexame
É obrigatório dentro de 3 meses a contar da aplicação da medida de coação ou do
reexame (n.º1). É obrigatório, do mesmo modo, quando são proferidos despachos de
acusação, pronúncia ou decisão que conheça a final do objecto do processo e não determine a
extinção da medida aplicada (n.º2).
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Quando há uma sentença que condene o arguido a prisão efectiva, mesmo que haja
recurso da mesma, a medida de coação pode ser agravada por alteração das circunstâncias;
por mera hipótese, após sentença que decrete prisão efectiva, havendo recurso, pode ser
alterada a obrigação de permanência na habitação para prisão preventiva, enquanto aquele
não for decidido. Isto porque o recurso da decisão final sobe imediatamente, nos próprios
autos e com efeito suspensivo.
Artigo 215: Prazo de duração máxima da prisão preventiva
O n.º 1 estabelece os casos em que a prisão preventiva se extingue. O n.º 2 os casos em
que os prazos são elevados em razão do crime. O n.º 3 casos em que os prazos são elevados
em razão dos crimes, ex vi do n.º 2, e em que o caso revele especial complexidade.
A especial complexidade tem que ser decretada na 1ª instância o que não acontecia com
o anterior código – n.º 4.
A este prazo ainda pode acrescer mais seis meses em caso de recurso para o Tribunal
Constitucional ou se o processo penal tiver sido suspenso para julgamento em outro tribunal
de uma questão prejudicial – n.º 5.
N.º 6: “No caso de o arguido ter sido condenado a pena de prisão em 1ª instância e a
sentença condenatória ter sido confirmada em sede de recurso ordinário, o prazo máximo da
pena de prisão preventiva eleva-se para metade da pena que tiver sido fixada” – Esta
disposição derroga todas as anteriores relativas ao prazo máximo da prisão preventiva.
Exemplo: António é condenado na 1ª instância a 10 anos de prisão efectiva. A Relação
confirma a decisão, porque aplica a mesma medida de pena, isto é, 10 anos. Há recurso para o
STJ, o prazo máximo da prisão preventiva é de 5 anos.
Contudo, se a segunda instância determinar uma pena mais ou menos gravosa, exemplo,
12 ou 8 não há confirmação de sentença em 2ª instância, logo não se aplica o n.º 6.
N.º 7: António é arguido no processo 1, 2, 3 e 4. António é preso preventivamente à
ordem do processo n.º3, quando terminar o prazo da prisão preventiva ele não pode ser preso
à ordem dos restantes processos (n.º totalmente novo!).
Atenção: estes processos têm que existir por crime praticado antes de ser decretada a
prisão preventiva.
No caso Vale e Azevedo este teve preso preventivamente à ordem de um processo,
sendo que foi libertado por atingir o prazo máximo, mas voltou a ser preso preventivamente à
ordem de outro; isto acontecia ao abrigo do anterior código, agora já não é assim!
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Na contagem do prazo em questão é computado o tempo cumprido em obrigação de
permanência na habitação – n.º 8.
O artigo 216.º prevê a suspensão do decurso dos prazos.
O artigo 217.º prevê a libertação do arguido sujeito a prisão preventiva, o n.º3 acontece
efectivamente.
O artigo 218.º estabelece os prazos máximos para as restantes medidas de coação.
c) Dos modos de Impugnação – artigos 219.º a 224.º
Da decisão que aplicar, mantiver ou substituir uma medida de coação é admissível
recurso. Com a nova redacção do artigo 219.º o MP só poderá recorrer da medida de coação
aplicável no interesse do arguido, conforme dispõe o n.º 1 e 3.
Com o novo Código, passa também a ser possível recorrer da medida de coação aplicável
e requerer, simultaneamente, requerer a providência de habeas corpus – n.º 2.
Atente-se à seguinte equação: por força do artigo 212.º é possível requerer a alteração
da medida de coação e em caso de indeferimento pelo juiz é possível recorrer ex vi do artigo
219.º. Paralelamente, poderá haver lugar a reexame dos pressupostos pelo juiz ao abrigo do
213.º, após indeferir o pedido de alteração ou revogação, que determina que se mantêm
inalterados os pressupostos e como tal se mantém a medida de coação inalterada. Ao abrigo
da anterior legislação a relação não decidia do recurso, por força do reexame ocorrido após o
indeferimento nos termos do artigo 213.º, invocando a inutilidade superveniente da lide.
Agora não, o n.º 5 do artigo 213.º obriga a Relação a proferir uma decisão sobre o
recurso: “A decisão que mantenha prisão preventiva ou obrigação de permanência na
habitação é susceptível de recurso nos termos gerais, mas não determina a inutilidade
superveniente de recurso interposto de decisão prévia que haja aplicado ou mantido a medida
em causa.”.
Habeas Corpus – artigo 220.º e ss. – pode ser pedido em razão de detenção ilegal
(artigo 220.º) ou por prisão ilegal (artigo 222.º); o caso do General é ilustrativo do facto de
qualquer pessoa poder requerer habeas corpus. A diferença dos dois regimes é justificável,
porque na detenção não há juízo sobre o arguido.
18 de Março de 2009
Parte II – Parte Especial
Livro VI – Fase Preliminar
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Disposições Gerais
DA NOTÍCIA DO CRIME – ARTIGO 241.º A 247.º
A aquisição da notícia do crime é feita pelo MP, por conhecimento próprio, por
intermédio de OPC ou mediante denúncia.
A denúncia pode ser obrigatória (artigo 242.º) ou facultativa (artigo 244.º). A denúncia é
obrigatória em relação do sujeito: entidades policiais ou para funcionários na acepção do
artigo 386.º. Em caso de crime particular ou semi-público, a denúncia só dá lugar a instauração
de inquérito se a queixa for apresentada no prazo previsto: remeter do n.º 3 para o artigo
115.º do CP.
A denúncia facultativa apenas o é para crimes públicos e em relação aos sujeitos não
previstos no n.º1 do artigo 242.º.
O Auto de notícia faz fé em juízo, falaremos melhor sobre isto nos processos especiais -
artigo 243.º.
Artigo 246.º: forma, conteúdo e espécies de denúncia.
Artigo 247.º: o MP deve comunicar a denúncia/notícia do crime ao ofendido, para este,
querendo, apresentar queixa (n.º 1). Nos termos do n.º 3, há lugar a registo de denúncia que,
posteriormente, pode ser enviado para o Procurador-Geral da Republica, para que se proceda
à investigação pelas duas vias. Em caso de matérias complexas pode ser muito útil para fugir a
esquecimentos ou a negligência.
MEDIDAS CAUTELARES E DE POLÍCIA – ARTIGOS 248.º E SS.
Consubstanciam situações excepcionais a ser usadas em caso de urgência ou de perigo
na demora.
São dados meios para que as entidades que não têm competência para o procedimento
criminal (OPC’s) possam agir em tempo útil e preservar a investigação.
I) Providência cautelares quanto ao meio de prova – artigo 249.º “Compete aos
órgãos de polícia criminal, mesmo antes de receberem ordem da autoridade
judiciária competente para procederem a investigações, praticar os actos
cautelares necessários e urgentes para assegurar os meios de prova”.
Compete aos OPC’s: proceder a exames dos vestígios do crime, colher
informações das pessoas relacionadas com o agente do crime e a reconstituição
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do crime, proceder a apreensões no decurso de revistas ou buscas ou em caso
de urgência ou perigo na demora etc. …
II) Identificação de suspeito e pedido de informações – artigo 250.º
Antes de se identificar alguém o OPC deve provar a sua qualidade.
A identificação de suspeito pode ser feita pelo mesmo pela exibição pelo bilhete
de identidade, passaporte ou fotocópia ou qualquer tipo de documento de que
conste os elementos suficientes para uma cabal identificação (n.º 3 e 4). Caso
não tenha na sua posse qualquer documento, o suspeito pedir autorização para
deslocar-se a casa para ir buscar os documentos ou pode ligar a alguém para
trazer os documentos; pode também ser identificado por um terceiro, desde que
este por sua vez apresente documento passível de o identificar (reconhecimento
de identidade).
Quando não seja possível a identificação o suspeito pode ser detido por um
prazo nunca superior a seis horas – n.º 6.
III) Revistas e buscas
Estas diligências são feitas sem autorização judicial do artigo 251.º.
IV) Apreensão de correspondência – artigo 252.º
A apreensão é feita nos CTT e é transmitida de forma intacta ao juiz que tiver
ordenado ou autorizado a diligência.
Sempre que se trate de encomendas ou valores fechados e haja fundadas razões
para crer que eles possam conter informações úteis à descoberta da verdade e
que podem perder-se em caso de demora, os OPC devem comunicar com o juiz
pelo meio mais rápido para que este autorize abertura da correspondência
apreendida (n.º2).
Neste caso os OPC podem ordenar a suspensão de remessa de qualquer
correspondência nas estações de correios e de telecomunicações, sendo que
esta ordem tem que ser convalidada por despacho fundamentada do juiz no
prazo de 48 horas, sob pena de ser remetida ao destinatário.
V) Localização Celular – artigo 252.º-A
Medida para afastar o perigo de vida ou de ofensa à integridade física grave
(n.º1). Há lugar a comunicação ao juiz em 48 horas.
Relatório – artigo 253.º: estas medidas cautelares e de polícia terão que constar de um
relatório que será remetido para o MP ou para o JIC.
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DA DETENÇÃO
a) Finalidades – artigo 254.º.
A detenção tem por finalidades: a detenção para posterior apresentação ao juiz em 48
horas (não necessariamente para ser interrogados pelo juiz) ou assegurar a presença imediata
perante a autoridade judiciária para qualquer acto processual. É este artigo 254.º que legitima
a detenção de testemunhas para serem inquiridas.
A detenção pode ser feita:
1. Em flagrante delito (artigo 255.º);
2. Fora de flagrante delito (artigo 257.º).
A detenção fora de flagrante delito pode ser feita por (1) mandado do juiz, por (2)
mandado do MP quando for admitida prisão preventiva e houver fundadas razões que façam
crer que o visado não se apresentaria espontaneamente perante a autoridade judiciária, por
(3) iniciativa dos OPC verificados os requisitos do artigo 257.º.
No caso Apito Dourado, Pinto da Costa intentou uma acção contra o Estado, por
detenção ilegal, uma vez que não se verificarem os requisitos do n.º 1 do artigo 257.º; com
efeito, nada faria crer que Pinto da Costa não se apresentaria espontaneamente.
Artigos 258.º, 259.º e 260.º: mandados de detenção, dever de comunicação e condições
gerais de efectivação.
Os mandatos de detenção contém, sob pena de nulidade, a data de emissão e assinatura
da autoridade judiciária ou de polícia criminal competentes, identificação da pessoa a deter,
indicação do facto que motivou a detenção e as circunstâncias que legalmente a
fundamentam.
Em caso de urgência ou de perigo na demora a requisição da detenção pode ser feita por
qualquer meio de telecomunicação, à qual terá que se seguir uma confirmação por mandado
do juiz.
Ao detido é exibido o mandado e entregar uma cópia. No caso de urgência ou de perigo
na demora é exibida a ordem de detenção.
Artigo 261.º: Libertação imediata do detido: ocorre sempre que a detenção se torne
desnecessária ou for efectuada por erro sobre a pessoa.
23 de Março de 2009
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
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Caso prático sobre recursos (a matéria de recursos foi leccionada pela aula de Dr. Rui
Silva Leal – que aparecerá na parte final dos apontamentos para seguir a estrutura do
Código)
Manuel foi presente ao juiz para interrogatório judicial onde foi aplicada a medida de coação
prisão preventiva.
Havia fortes indícios da veracidade das suspeitas que recaiam sobre o arguido, em virtude da
produção de prova constante dos cd´s e resultante de escutas efectuadas, em especial a
passagem do minuto 1.23 até ao minuto 2.01, que se transcreve por se considerar relevante.
Nos termos do artigo 202.º a 204.º do CPP esta era a medida adequada, necessária e
proporcional. Havia perigo de fuga, uma vez que o arguido teria feito uma reserva na TAP
para o Brasil.
O crime em questão seria burla, com o valor considerável de 2 milhões de euros.
O arguido fazia da burla a sua vida, tendo já sido condenado anteriormente.
O arguido pretende recorrer.
Exmo. Senhor Juiz de Instrução Criminal
do Tribunal Judicial do Porto
Processo n.º 1340/08TBPRT
Manuel Silva, arguido nos autos acima referenciados, não se conformando com o
despacho que aplicou a medida de coação prisão preventiva, vem interpor
recurso para o Tribunal da Relação do Porto, a subir em separado,
imediatamente, com efeito suspensivo do processo, ao abrigo dos artigos 406.º,
407.º e 408.º,
Porque está em tempo, porque tem legitimidade e interesse em agir, porque
pagou a taxa de justiça requer que se digne admitir o presente recurso,
seguindo-se a demais tramitação legal.
Exmos. Senhores Juízes Desembargadores
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
59
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
(Exposição de Motivos…
…)
CONCLUSÕES
(por artigos e com referência às normas violadas)
A Advogada,
25 de Março de 2009
INQUÉRITO – ARTIGO 262.º A 286.º CPP
Conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os
seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher provas, em ordem à decisão
sobre a acusação.
A notícia de um crime dá sempre lugar à abertura de inquérito.
A direcção do inquérito cabe ao MP, sendo que se trata de uma competência territorial
– n.º 1 do artigo 264.º; se não se souber onde ocorreu o crime, será competente o MP onde
teve a notícia do crime.
Se o crime for cometido no estrangeiro é competente o MP que exercer funções no
tribunal competente para o julgamento – n.º 3 do artigo 264.º.
Artigo 265.º: se for objecto da notícia do crime magistrado judicial ou do MP, é
designado para a realização do inquérito magistrado da categoria igual ou superior à do
visado.
Transmissão dos autos – artigo 266.º. Se a competência não pertence ao magistrado ou
ao agente do MP os autos são transmitidos para o magistrado ou agente competente –
remissão para o artigo 35.º e 36.º em caso de conflito negativo de competência. O MP tem
competência para pedir a resolução dos conflitos de competência.
a) Actos de Inquérito – artigo 267.º a 275.º
� Actos do Ministério Público – artigo 267.º;
� Actos a praticar exclusivamente pelo juiz de instrução – artigo 268.º - actos que nunca
podem ser praticados pelo juiz de instrução. Atente-se na alínea e) declaração de perda de
bens a favor do Estado, costuma ocorrer por exemplo nos crimes de contrafacção em que o
crime é denunciado, é apreendida a mercadoria, mas o lesado não apresenta queixa nos seis
Ordem dos Advogados Conselho Distrital do Porto
60
_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
meses posteriores, sendo o processo arquivado. Que fazer com a mercadoria contrafeita? É
declarada perdida a favor do estado.
� Actos a ordenar ou autorizar pelo JIC – artigo 269.º.
� Actos que podem ser delgados pelo Ministério Público nos OPC – artigo 270.º. Por regra
não são delegados os actos constantes do n.º2 do artigo 270.º e dos artigos 268.º e 269.º,
contudo em razão de urgência e perigo na demora podem ser delegados nos OPC os actos
previstos no n.º 3 do artigo 270.º.
� Declarações para memória futura – artigo 271.º - é uma excepção ao princípio da
imediação da prova; são recolhidas declarações fora da audiência de julgamento: caso de
doença ou deslocação para o estrangeiro (1.ª parte); caso de vítimas de crime de tráfico de
pessoas ou contra a liberdade e autodeterminação sexual (2.ª parte); crime contra
autodeterminação sexual de menores, sendo que aqui este acto é obrigatório, sob pena de
nulidade, artigo 120.º/2/d). As diligências do n.º3 são obrigatórias, sendo a sua falta cominada
com nulidade insanável – artigo 119.º/c). A inquirição nas declarações para memória futura é
feita pelo JIC, cfr. n.º 5.
� Primeiro interrogatório e comunicação ao arguido – artigo 272.º. Remissão para o artigo
61.º e 120.º/2/c). O n.º 2 não se aplica a arguido preso ou detido em flagrante delito.
� Mandado de comparência, notificação e detenção – artigo 273.º – tanto se detém um
arguido como uma testemunha, desde que haja fundado receio da falta da sua comparência:
remissão para o n.º 1 do artigo 116.º e para o 117.º. O mandado de comparência tem que ser
notificado ao interessado com três dias de antecedência, sendo que esta falta de notificação
consubstancia uma irregularidade, nos termos do 118.º. Todavia, em caso de urgência
devidamente fundamentada, pode não se verificar o prazo dos três dias, tal como expõe e
obriga o n.º 5 do artigo 97.º.
� Certidões e certificados de registo – artigo 274.º. No primeiro interrogatório o arguido é
obrigado a responder com verdade sobre os seus antecedentes criminais, sob pena de falsas
declarações. A partir desse momento o arguido não mais que responder sobre os seus
antecedentes, porque o certificado do registo criminal é junto ao processo ao abrigo deste
artigo.
� Autos de Inquérito – artigo 275.º. As diligências de prova realizadas no decurso do
inquérito são reduzidas a escrito, salvo a documentação que o MP entender desnecessário (n.º
1); a denúncia quando feita oralmente é obrigatoriamente reduzida a escrito (n.º 2). Concluído
o inquérito, artigo 283.º:
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61
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…não havendo indícios suficientes… o auto de inquérito fica à guarda do MP e há lugar a
despacho de arquivamento;
…havendo indícios suficientes… o auto é remetido ao tribunal competente para instrução ou
julgamento, aqui há lugar a despacho de acusação.
b) Encerramento do Inquérito – artigos 276.º a 285.º
O Inquérito só encerra, nos termos do artigo 276,º, com o (1) despacho de acusação; (2)
despacho de arquivamento; ou (3) despacho misto de acusação e arquivamento.
A suspensão provisória do processo não implica o encerramento do inquérito em caso
algum.
� Aceleração Processual
O n.º 2 do artigo 276.º prevê o prolongamento dos prazos de inquérito, sendo que o
prazo começa a correr a partir do momento em que o inquérito começar a correr contra
pessoa determinada ou quando se tiver verificado a constituição de arguido. Quando o prazo
for excedido é possível recorrer à aceleração do processo atrasado, tal qual prevista no artigo
108.º (remissão do n.º 3 para o 108.º). A aceleração processual ocorre nos termos previstos
no n.º 4, 5 e 6 do artigo 276.º seguindo-se a tramitação do artigo 109.º.
� Despacho de arquivamento – artigo 277.º
O MP emite despacho de arquivamento logo que reúna prova bastante de não se ter
verificado crime ou de arguido não o ter praticado ou de não ser legalmente admissível o
procedimento (n.º 1 remissão para os artigos 48.º e ss.).
Do mesmo modo, há lugar a despacho de arquivamento quando o MP conclua não haver
indícios suficientes da verificação do crime ou da pessoa do agente – n.º 2 resulta a contrario
do artigo 283.º relativo ao despacho de acusação.
O n.º 4 na sua alínea a) estabelece que o despacho de arquivamento deve ser notificado
por via postal registada ao assistente e arguido, contudo é necessário perceber o arguido está
sujeito a TIR, uma vez que esta medida de coação dispensa a notificação por via postal
registada.
Na redacção do alínea b) parece ter havido um erro! Com efeito, determina-se que a
notificação ao arguido é feita por editais quando este não tiver defensor nomeado ou
constituído e não for possível a notificação mediante contacto pessoal. Todavia, quando há
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62
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constituição de arguido tem que haver a nomeação obrigatória de mandatário, logo não se
compreende o alcance desta norma. Note-se que há constituição de arguido com o primeiro
interrogatório judicial ou por despacho de acusação, sem um destes expedientes ele não é
arguido é suspeito, e apenas na qualidade de suspeito é que poderá não ter havido nomeação
de mandatário. A única hipótese de interpretação será entender que o mandatário é nomeado
para um acto isolado, como seja o primeiro interrogatório judicial … mesmo assim o alcance é
muito duvidoso!
O n.º 5 – procurar no Código Penal qual o tipo previsto para os casos de apresentação de
queixa falsa e fazer a correspondente remissão.
� Intervenção Hierárquica – artigo 278.º
A intervenção hierárquica pode ocorrer oficiosamente ou a requerimento. O imediato
Superior Hierárquico do MP, por sua iniciativa ou a requerimento do assistente ou do
denunciante com a faculdade de se constituir assistente, determinar que seja formulada
acusação ou que as diligências a efectuar e o prazo para o seu cumprimento.
De todo o modo, há um prazo de 20 dias durante o qual não se pode pedir a
intervenção hierárquica, estes 20 dias correspondem ao prazo de caducidade para o exercício
do direito de requerer abertura de instrução; assim sendo, só há intervenção hierárquica
depois de se garantir que o assistente não requereu abertura de instrução. Passados estes 20
dias, o Superior Hierárquico do Magistrado do MP, oficiosamente ou a requerimento do
assistente, dispõe de outros 20 dias para intervir hierarquicamente, quer isto dizer, para
determinar se perante despacho de arquivamento, deve haver lugar a despacho de acusação
ou se as investigações devam prosseguir.
Estes dois coincidentes prazos de 20 dias não se confundem.
Por outras palavras, perante despacho de arquivamento o assistente pode requerer
abertura de instrução ou requerer intervenção hierárquica. Todavia, a instrução e a
intervenção hierárquica não são cumuláveis, o assistente ou se socorre de um ou se socorre
de outro; nunca é o arguido, porque não tem interesse no caso de despacho de
arquivamento.
Quanto ao n.º 2 deste artigo, discute-se quanto ao prazo disponível para o assistente, há
quem considere que o assistente dispõe de 40 dias para requerer intervenção hierárquica,
tendo por base o argumento literal que remete para o procedimento do n.º 1!
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Há quem considere que o assistente só dispõe de 20 dias ou para requerer abertura
instrução ou para requerer intervenção hierárquica, tendo por base o argumento do princípio
da celeridade processual.
27 de Março de 2009
� Reabertura do Inquérito – artigo 279.º
Cláusula rebus sic standibus – o inquérito só pode ser reaberto se surgirem novos
elementos de prova que invalidem os fundamentos invocados pelo MP no despacho de
arquivamento. Exemplo: crime contra desconhecidos_ assim que se conhecer o autor do crime
há lugar a reabertura do inquérito.
Do despacho que deferir ou recusar a abertura de inquérito há reclamação para o
superior hierárquico (n.º 2).
� Arquivamento em caso de dispensa de pena – artigo 280.º
Há possibilidade de arquivamento quando se estiver em causa um crime relativamente
ao qual haja previsão de dispensa de pena; reunidos estes requisitos, o arquivamento pode
verificar-se na fase de inquérito ou após despacho de acusação proferido pelo MP. Na fase de
inquérito reunidos os requisitos de dispensa de pena previstos na lei substantiva, o MP decide
pelo arquivamento com a concordância do JIC; após a dedução de acusação e enquanto esta
decorrer, o JIC pode decidir pelo arquivamento com a concordância do MP e do arguido (uma
vez que já estamos na fase de instrução).
A decisão de arquivamento é irrecorrível quer seja proferida pelo MP, quer pelo JIC
(n.º 3).
� Suspensão provisória do processo – artigo 281.º e 282.º
Pressupostos cumulativos:
1. Crime punível com pena de prisão não superior a 5 anos ou com sanção
diferente de prisão;
2. Concordância do arguido e do assistente;
3. Ausência de condenação anterior por crimes da mesma natureza;
4. Não haver lugar a medida de segurança de internamento;
5. Ausência de um grau de culpa elevado;
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6. Ser de prever o cumprimento das injunções e das regras de conduta responda
suficientemente às exigências de prevenção que no caso que se façam sentir.
Reunidos todos estes pressupostos, o MP pode determinar com concordância do JIC,
oficiosamente ou a requerimento do arguido ou do assistente, a suspensão provisória do
processo com a imposição de injunções e regras de conduta ao arguido. (Na operação
Furacão o juiz optou por não suspender o processo).
O n.º 2 determina quais as injunções e regras de conduta que pode ser oponíveis ao
arguido, separada ou cumulativamente, sendo que não podem ser impostas injunções ou
regras de conduta que ofendam a dignidade do arguido (n.º3), consagrando a lei processual o
respeito pela dignidade do arguido.
Os serviços de segurança social, os OPC e as autoridades administrativas podem ser
incumbidos de vigiar o cumprimento das referidas injunções e regras de conduta (n.º4).
A decisão de suspensão é irrecorrível (n.º5).
Também pode haver lugar a suspensão do processo nos crimes de violência doméstica
não agravada pelo resultado, desde que não tenha havido condenação anterior por crime da
mesma natureza, nem tenha havido anterior suspensão provisória do processo por crime da
mesma natureza (n.º6); igual previsão existe para os crimes contra a liberdade e
autodeterminação sexual de menor não agravado pelo resultado (n.º7).
Duração e efeitos da suspensão – artigo 282.º: a suspensão do processo pode ir até
dois anos, ou nos casos de crime de violência doméstica não agravada pelo resultado ou de
crime contra a liberdade e autodeterminação sexual de menor não agravado pelo resultado
pode ir até 5 anos.
Durante a suspensão do processo a prescrição não corre (n.º 2).
Cumpridas as injunções e as regras de conduta o processo é arquivado não podendo ser
reaberto, caso contrário ou caso o arguido pratique novamente crime da mesma natureza o
processo prossegue e as prestações não podem ser repetidas (n.º4).
� Acusação pelo Ministério Público – artigo 283.º
Se durante o inquérito forem recolhidos indícios suficientes de se ter verificado o crime e
de quem foi o seu agente, o MP deduz acusação no prazo de 10 dias. Há indícios suficientes
sempre que deles resultar uma possibilidade razoável de ao arguido vir a ser aplicada em
julgamento uma pena e uma medida de segurança (n.º2).
A acusação tem que ter os elementos do n.º 3 sob pena de nulidade.
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Em caso de conexão de processos, é deduzida uma só acusação (n.º4).
Assim como em caso de despacho de arquivamento, o despacho de acusação deve ser
comunicado ao arguido, ao assistente, ao denunciante com faculdade de se constituir
assistente, a quem tenha manifestado o propósito de deduzir pedido de indemnização civil,
respectivo defensor ou advogado. A notificação ao arguido deve ser feita pessoalmente ou por
via postal registada, excepto se já tiver sido prestado TIR, caso em que pode ser feita por via
postal simples.
O n.º 7 admite ultrapassar o limite máximo de 20 testemunhas quando tal seja essencial
para a descoberta da verdade.
� Acusação pelo Assistente – artigo 284.º
O assistente também tem a faculdade de deduzir acusação, ou por mera adesão à
acusação do MP, ou indicando provas a produzir ou a requerer que não constem da acusação
do MP, no prazo de 10 dias.
Não se confunde esta acusação com a acusação pelo particular prevista no artigo 285.º.
A acusação particular é que dá impulso ao procedimento criminal, no caso de crime
particular, sem aquela este não pode ocorrer. Nestes termos, findo o inquérito o MP notifica o
assistente para que este deduza, querendo, acusação particular, constando desta notificação
os indícios colhidos da verificação do crime e dos seus agentes. Após acusação particular, o MP
pode nos cinco dias posteriores acusar pelos mesmos factos, por parte deles ou por outros
que não importem a alteração substancial dos factos (artigo 359.º).
30 de Março de 2009
INSTRUÇÃO – ARTIGOS 286.º A 310.º
a) Disposições Gerais
A instrução visa a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o
inquérito em ordem a submeter ou não a causa a julgamento. A instrução apresenta carácter
facultativo, não havendo lugar a instrução nas formas especiais de processo (artigo 286.º).
A abertura de instrução deve ser requerida no prazo de 20 dias, em caso de acusação ou
de arquivamento, pelo arguido ou pelo assistente.
Requerimento pelo arguido: não tem que ter quaisquer formalidades, obedecendo ao
n.º 2 do artigo 287.º.
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Requerimento pelo assistente: o requerimento tem que ter os elementos do n.º 2 do
artigo 287.º e os elementos do n.º 3 do artigo 283.º, alíneas b) e c), isto é, a narração dos
factos e a indicação das disposições legais aplicáveis. A jurisprudência tem entendido
inclusivamente que não há lugar a aperfeiçoamento deste requerimento.
Causas de rejeição do requerimento (n.º3): por ser extemporâneo, por incompetência
do juiz ou por inadmissibilidade legal da instrução.
Direcção da instrução – artigo 288.º: cabe ao juiz de instrução criminal assistido pelos
órgãos de polícia criminal. O juiz investiga de forma autónoma tendo em conta a indicação
constante do requerimento de abertura de instrução.
Conteúdo da instrução – artigo 289.º: a instrução é formada pelo conjunto de actos de
instrução que seguidamente se analisarão, podendo participar no debate instrutório qualquer
uma das partes processuais, com excepção das partes civis. O despacho de deferimento ou
indeferimento é de livre de resolução – alínea b), n.º 1 do artigo 400.º.
O MP, assistente, arguido, defensor, advogado (assistente) podem assistir aos actos de
instrução por qualquer deles requeridos e suscitar pedidos de esclarecimentos ou requerer
que sejam formuladas as perguntas relevantes para a descoberta da verdade.
b) Dos Actos de Instrução
O juiz pratica todos os actos necessários às finalidades do n.º 1 do artigo 286.º do CPP
(artigo 290.º).
Artigo 291.º: Ordem dos actos e repetição, os aços de instrução praticam-se pela ordem
que o juiz reputar mais conveniente para o apuramento da verdade.
O juiz é livre para indeferir os actos requeridos que considerar não relevantes para a
instrução ou que considerar que apenas são requeridos para protelar o andamento do
processo; pratica e ordena, também, os actos que considerar úteis (n.º1).
Do despacho do n.º 1 apenas cabe reclamação, onde se tenta sensibilizar o juiz para a
necessidade óbvia do acto. Do despacho que decide desta reclamação não cabe recurso (n.º2).
Há lugar a repetição dos actos já praticados no inquérito quando: não foram observadas
as formalidades legais ou a repetição se revelar indispensável à realização das finalidades da
instrução. O despacho que decida sobre a repetição dos actos tem que ser fundamentado de
facto e de direito – artigo 197.º, n.º 5.
Não são admitidas testemunhas que deponham sobre o carácter (n.º4).
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Artigo 292.º: Provas Admissíveis. Na instrução são admissíveis todas as provas que não
sejam proibidas por lei. O juiz de instrução interroga o arguido quando julgar necessário e
sempre que este solicitar.
Artigo 293: Mandado de Comparência e notificação. Sempre que seja necessária a
comparência de uma pessoa o juiz emite um mandado de comparência a ser notificado ao
interessado com pelo menos três dias de antecedência, salvo em caso de urgência
devidamente fundamentada.
Artigo 294.º: Declarações para memória futura – mesmos termos que o artigo 271.º.
Artigo 295.º: Certidões e certificados de registo, são juntos aos autos certidões e
certificados de registo, nomeadamente, certificado de registo criminal do arguido que não
conste dos autos e se afigure previsivelmente necessária à instrução ou julgamento que venha
a ter lugar e à determinação de competência do tribunal.
Artigo 296.º: Autos de Instrução, em determinados tribunais, quando vamos fazer
diligências instrutórias há lugar à gravação das mesmas, que posteriormente são reduzidas a
escrito. De todo o modo este artigo dispõe pela documentação por via de gravação ou redução
a escrito das diligências efectuadas e a junção de requerimentos apresentados e demais
documentos.
c) Do Debate Instrutório
Assim que se considerar que já não há lugar à prática de actos de instrução, o juiz
designa dia, hora e local para a realização do debate instrutório, que deve ser marcado por
forma a que o prazo previsto para a fase de instrução seja integralmente respeitado – artigo
297.º. A designação desta data é notificada ao MP, arguido e assistente, pelo menos cinco dias
antes da realização do debate. As testemunhas, peritos e consultores técnicos também são
notificadas com pelo menos três dias de antecedência.
Finalidade da instrução – artigo 298.º: é necessário justificar a ida do arguido a
julgamento, sendo que para tal basta haver indícios suficientes da verificação do crime e da
pessoa do agente; estes indícios são diferentes dos indícios fortes que se precisam de verificar
para a aplicação de uma medida de coação. – ver 283.º.
Actos supervenientes – artigo 299.º: o juiz pode ordenar ou praticar actos de instrução
antes ou durante o debate instrutório, desde que estes se revelem essenciais para a
descoberta da verdade.
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
O debate instrutório pode ser adiado (artigo 300.º) em razão de grave e legítimo
impedimento do arguido, mas o próximo debate não pode ser marcado em prazo superior a 10
dias depois do prazo inicialmente fixado.
O arguido pode renunciar à sua presença no debate instrutório mediante requerimento
subscrito pelo próprio e não pelo mandatário (n.º3). De todo o modo, o debate só pode ser
adiado por uma só vez, sendo que ausência do arguido no segundo debate é sanada por
representação do defensor constituído ou nomeado (n.º4).
A disciplina, direcção e organização do debate é da competência do juiz, sendo que este
decorre sem formalidades especiais; o juiz assegura a contrariedade na produção de prova e
possibilidade do arguido se pronunciar sobre ela em último lugar. O juiz recusa qualquer
requerimento ou diligência de prova que ultrapasse a natureza indiciária exigida para aquela
fase – artigo 301.º e 302.º sobre o decurso do debate.
Alteração dos factos descritos na acusação ou no requerimento para abertura da
instrução – artigo 303.º: se se tratar de uma alteração substancial o juiz terá que comunicar ao
MP, que vale como denúncia para que ele proceda pelos novos factos se eles forem
autonomizáveis em relação ao objecto do processo, sob pena de nulidade nos termos do n.º 2
do artigo 309.º.
O debate pode ser interrompido sempre que o juiz considerar indispensável a prática de
novos actos de instrução que não possam ser levados a cabo no próprio debate – artigo 304.º.
O debate é lavrado em acta – artigo 305.º.
d) Do Encerramento da Instrução
A instrução está sujeita aos prazos previstos no artigo 306.º: no prazo máximo de 2
meses se houver arguido preso e de 4 meses nos restantes casos. Os prazos podem ser
elevados nos termos do n.º 2 do artigo 306.º. Estes prazos no dia-a-dia apenas são cumpridos
em caso de arguido prazo.
O prazo conta-se a partir do recebimento do requerimento de instrução.
Decisão instrutória – artigo 307.º, encerrado o debate instrutório o juiz profere
despacho de pronúncia ou não pronúncia, que pode ser de imediato ditado para acta (n.º1) ou
no prazo máximo de 10 dias depois do debate (n.º3). É aplicável o disposto quanto à
suspensão provisória do processo – artigo 281.º.
Se a instrução for requerida apenas por um arguido, as consequências legais da mesma
aplicam-se aos restantes arguidos. Exemplo: 5 arguidos em que apenas 1 requer abertura de
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
instrução com fundamento em prescrição do procedimento criminal; a procedência do
invocado aproveita aos 5 arguidos. – cfr. n.º 4.
Despacho de pronúncia e de não pronúncia – artigo 308.º. Consoante se tenham
recolhido ou não indícios suficientes de que depende a aplicação de uma pena ou medida de
segurança ao arguido, há despacho de pronúncia ou não pronúncia, respectivamente (n.º1). O
juiz começa por decidir das nulidades e outras questões prévias ou incidentais de que possa
conhecer – n.º 3.
A decisão instrutória é nula na parte em que conheça de factos que constituam
alteração substancial dos descritos na acusação do MP ou do assistente ou no requerimento
de abertura de instrução (n.º1). A nulidade é arguida no prazo de oito dias a contar da data
da notificação da decisão (n.º2).
Recursos – artigo 310.º
Sempre que o arguido é pronunciado por factos diferentes da acusação do MP, há lugar
a recurso; contudo a decisão instrutória que pronunciar o arguido por factos constantes da
acusação do MP é irrecorrível, mesmo que conheça das nulidades ou outras questões prévias
ou acidentais.
O despacho que indeferir a arguição da nulidade em caso de prova proibida é recorrível.
É também recorrível o despacho que pronuncie o arguido sobre factos que impliquem
alteração substancial dos descritos na acusação do MP ou do assistente ou do requerimento
de instrução.
Por fim, cumpre dizer que o facto de a decisão instrutória não ser, por princípio,
recorrível, não preclude a competência do tribunal de julgamento para excluir provas proibidas
(n.º2), isto porque o tribunal está sujeito ao princípio da legalidade. O juiz de julgamento não
está vinculado à decisão instrutória, pelo que dita o princípio da legalidade que não podem ser
valoradas provas proibidas.
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
31 de Março de 2009
Livro VII – Do Julgamento
(artigos 311.º a 380.º)
DOS ACTOS PRELIMINARES – ARTIGOS 311.º A 320.º
� Saneamento do Processo – artigo 311.º.
Conhece logo das nulidades e questões prévias ou incidentais que possam obstar ao
conhecimento do mérito da causa.
Caso o processo seja remetido sem instrução é neste momento que o juiz despacha
rejeitando a acusação por ser manifestamente infundada ou na parte que importe alteração
substancial dos factos.
Uma acusação é manifestamente infundada quando: não contenha a identificação do
arguido; não contenha a narração dos factos; não indicarem as disposições legais aplicáveis ou
as provas que as fundamentam; os factos não constituírem crime.
� Data de audiência – artigo 312.º.
Conhecidas as questões do despacho saneador, o presidente despacha designando dia,
hora e local para a audiência, sendo que não pode mediar mais de dois meses entre o
recebimento dos autos e a realização da audiência (n.º1).
Do despacho deve constar uma data alternativa para o caso de adiamento nos termos
do artigo 333.º (falta e julgamento na ausência do arguido notificado para a audiência).
Nestes termos se o arguido regularmente notificado não estiver presente, o presidente
toma todas as medidas necessárias e legalmente admissíveis para obter a sua comparência
(artigo 254.º/1 e 257.º - detenção). A audiência só é adiada se o tribunal considerar
absolutamente indispensável para a descoberta da verdade material a presença do arguido,
desde o início da audiência (exemplo: reconhecimento).
A propósito do artigo 333.º cumpre dizer que o arguido mantém o direito de prestar
declarações até ao encerramento da audiência, quando o tribunal considerar que a audiência
pode começar sem a presença do mesmo (n.º2 do artigo 333.º); decorrendo a audiência na
primeira data marcada, o advogado nomeado ou constituído pode requerer que ele seja
ouvido na segunda data designada.
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Acresce que o artigo 343.º/1 prevê o direito de o arguido prestar declarações em
qualquer momento da audiência, sem que a isso esteja obrigado e sem que o seu silêncio o
possa comprometer.
Quanto aos arguidos presos, o n.º3 do artigo 312.º, determina que a data da audiência
daqueles é fixada com precedência sobre todas as outras; a existência de arguidos presos, é
um dos casos que justificam que não seja respeitado o prazo de dois meses previsto no n.º1.
� Despacho que designa a data da audiência – artigo 313.º.
Tem que conter todos os elementos previstos no n.º1 sob pena de nulidade.
Este despacho é comunicado ao MP, arguido e seu defensor, assistente, partes civis e
seus representantes com pelo menos 30 dias de antecedência.
Deste despacho não há recurso – é um despacho de mero expediente (n.º4 remete
para o artigo 400.º/2/a).
� Comunicação aos restantes juízes – artigo 314.º
� Contestação e rol de testemunhas – artigo 315.º.
Decorre do princípio do acusatório que a contestação é uma faculdade do arguido e
nunca um ónus, uma vez que não há qualquer efeito cominatório a esta associado, quer isto
dizer, que a falta de contestação não implica a confissão dos factos não impugnados em
processo penal.
� Adicionamento e alteração do rol de testemunhas – artigo 316.º
Quando aditamos ou substituímos testemunhas e as novas testemunhas forem de fora
da comarca temos que ser nós a garantir a sua presença, porque elas não são notificadas –
n.º2. O mesmo se diga quanto à indicação de peritos ou de consultores técnicos.
� Notificação e compensação de testemunhas, peritos e consultores técnicos –
artigo 317.º
Todas as testemunhas indicadas por quem não se tiver comprometido a apresentá-las na
audiência são notificadas para comparência, excepto peritos dos estabelecimentos,
laboratórios ou serviços oficiais que serão ouvidos por teleconferência, sendo apenas
notificados do dia e da hora designados para a sua audição.
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Os n.º2 e ss. estabelecem o regime para testemunhas com qualidade de órgão de polícia
criminal ou de trabalhador da Administração pública, cujas despesas de deslocação são pagas
pelo tribunal constituindo custas processuais, podendo ser atribuídas em valor certo, ou
arbitradas pelo tribunal. Do despacho que arbitra estas quantias, não há recurso (n.º 5).
� Residentes fora da comarca – artigo 318.º
A testemunha presta declarações da sua comarca e é ouvida na comarca onde decorre a
audiência, tendo que se observar os requisitos cumulativos do n.º1.
O não uso de teleconferência quando é possível, pode fazer perigar a compensação
arbitrada ao abrigo do artigo 317.º, por mau uso da lei processual. Se não requereu a
teleconferência, quando o devia ter feito, a compensação pelo tempo e custo de deslocação
pode não ser arbitrada nestes termos.
� Tomada de declarações no domicílio – artigo 319.º
Aplicam-se todas as regras da audiência, excepto no que respeita à publicidade.
� Realização de actos urgentes – artigo 320.º (actos cautelares)
DA AUDIÊNCIA – ARTIGOS 321.º A 380.º
A audiência é pública, sob pena de nulidade insanável, salvo nos casos em que o
presidente decidir pela exclusão ou restrição da publicidade.
A decisão de exclusão ou restrição tem que ser precedida de audição contraditória dos
sujeitos processuais interessados.
Por exemplo, a audiência deve ser sempre privada quando se trate de crimes sexuais.
A direcção dos trabalhos e a disciplina da audiência cabe ao presidente (artigo 322.º) e
as decisões proferidas neste âmbito são tomadas sem formalidades.
Poderes de disciplina e de direcção – artigo 323.º - a) ordenar a inversão de produção
de prova sempre que tal seja fundamental para a descoberta da verdade; b) “meios
adequados” leia-se mandados de detenção; c) remeter para o artigo 356.º e 357.º.
Nos artigos 324.º, 325.º e 326.º estão previstas as chamadas “regras de boa educação”
das pessoas que assistem, do arguido e dos advogados. O arguido em princípio não estará
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algemado, sendo que se faltar ao respeito ao tribunal é advertido, se persistir no
comportamento é mandado recolher a qualquer dependência do tribunal.
Se o arguido se ausentar, nem que seja para ir ao WC, deve-lhe ser comunicado o que se
passou de forma resumida – n.º 7 do artigo 332.º.
Princípio do Contraditório: prevê o artigo 327.º o princípio do contraditório que deve
ser assegurado não só em relação a questões incidentais ocorridas no decurso da audiência,
como em relação aos meios de prova apresentados, mesmo que oficiosamente requeridos
pelo tribunal.
A audiência obedece ao princípio da continuidade, previsto no artigo 328.º, sendo esta
continuidade interpretada sempre do ponto de vista do princípio – ver acórdão de fixação de
jurisprudência 12/2008 relativo aos 30 dias de intervalo máximo entre cada sessão.
O n.º 3 estabelece os casos em que é admissível o adiamento da audiência. O adiamento
e a interrupção implicam SEMPRE despacho fundamentado (n.º5 remissão para o artigo
97.º/5).
Se a audiência for adiada por mais de 30, a produção de prova já realizada perde
eficácia; haverá repetição de julgamento.
1. Actos introdutórios
� Chamada e abertura da audiência – artigo 329.º: à hora da audiência o funcionário de
justiça faz a chamada em voz alta e publicamente, identificando o processo e as pessoas que
nele vão intervir. Se faltar alguém há lugar a 2ª chamada, comunicando verbalmente ao
presidente o rol dos notificados faltosos e dos notificados presentes. Depois o tribunal entra
na sala e o presidente declara aberta a audiência.
O juiz quando entender que não se deve inverter a ordem de prova, então há um
impedimento para a realização da audiência de julgamento.
� Falta do Ministério Público, defensor e do representante do assistente ou das partes
civis – artigo 330.º. Na falta do magistrado do MP, o presidente procede à sua substituição
pelo substituto legal; se tal não for possível o julgamento não se pode realizar, sob pena de
nulidade insanável. Na falta de advogado é substituído por outro ou por advogado
estagiário. Em qualquer um dos casos, o presidente pode conceder algum tempo para
examinarem o processo e prepararem a intervenção.
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No caso do representante do assistente ou das partes civis a audiência prossegue, sendo o
faltoso admitido a intervir logo que comparecer. Em caso de procedimento dependente de
acusação particular a audiência não se realiza e é adiada por uma só vez; a falta não
justificada ou a 2ª falta valem como desistência tácita da acusação, salvo oposição do
arguido.
� Falta do assistente, de testemunhas, peritos, consultores técnicos ou das partes civis
– artigo 331.º. Sem prejuízo do artigo 116.º do CPP, a sua falta não dá lugar a adiamento,
porque este são representados pelo seu defensor; neste caso, os assistentes e as partes civis
são representadas para todos os efeitos legais pelo seu advogado.
O presidente, oficiosamente ou a requerimento, decide por despacho que o seu
comparecimento é indispensável à boa decisão da causa, pode alterar a ordem de produção
de prova (artigo 341.º) – não havendo neste caso adiamento da audiência – quando seja
previsível que mesmo com a interrupção da audiência não seja possível o seu
comparecimento.
� Presença do arguido – artigo 332.º: a presença do arguido é obrigatória, sem prejuízo
dos n.ºs 1 e 2 dos artigos 333.º e 334.º. O arguido deve responder perante determinado
tribunal, 2º normas gerais de competência, ele é requisitado à entidade que o tiver à sua
ordem, quando preso em comarca diferente pela prática de outro crime.
O arguido não se pode afastar até ao termo da audiência; durante as interrupções pode
deter o arguido se o considerar indispensável. Se for dispensada a sua presença após ter sido
interrogado, a audiência pode prosseguir mesmo que o arguido se afaste, considera-se
representado pelo defensor. Regressando à sala o arguido é, sob pena de nulidade,
resumidamente instruído pelo presidente de tudo o que se terá passado na audiência.
� Falta e julgamento na ausência do arguido notificado para a audiência – artigo 333.º:
O arguido regularmente notificado que não está presente no dia da audiência; o presidente
toma as medidas necessárias para que ele compareça, apenas sendo necessário o adiamento
na audiência, se se considerar que a sua presença é indispensável.
Não há lugar a adiamento da audiência se a presença do arguido não for considerada
indispensável ou se este justificar a sua falta; neste caso, as testemunhas são inquiridas nos
termos do artigo 314.º.
� Mesmo faltando à primeira audiência, o arguido mantém o direito de prestar
declarações até ao encerramento da audiência, podendo o advogado constituído ou o
defensor requerer que este seja ouvido na segunda audiência.
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� Audiência na ausência do arguido em casos especiais e citação edital – artigo 334.º, o
arguido que se encontre impossibilitado pode requerer ou consentir que a audiência tenha
lugar na sua ausência, mas é o próprio arguido que tem o subscrever, não pode ser o
mandatário. É uma excepção à representação do mandatário, seguindo o procedimento
previsto para a desistência de queixa na parte em que tem que ser elaborada pelo queixoso
e não pelo seu mandatário.
Se houver conexão de processos, os arguidos presentes e ausentes são julgados
conjuntamente, excepto se algum deles for declarado contumaz (n.º 4 do artigo 335.º).
� Declaração de contumácia – artigo 335.º, efectuadas todas as diligências para
notificar o arguido, não seja possível prestar TIR, o arguido tem que ser declarado contumaz,
sob pena de não poder ser realizado o julgamento.
A declaração de contumácia implica a separação dos processos. Imaginando António,
arguido em quatro processos diferentes, tendo sido declarado contumaz num deles. Os
processos são conexionados, nos termos do artigo 24.º, no entanto com ele é declarado
contumaz nos últimos dois processos, estes terão que ser separados dos outros processos
onde foi prestado TIR.
Todavia, antes da declaração de contumácia há notificação por editais segundo o n.º 2 do
artigo 335.º.
A declaração de contumácia implica a suspensão do prazo da prescrição e do procedimento
criminal; mais ainda, quando o arguido se apresenta ou é detido há caducidade da
declaração de contumácia – artigo 336.º.
Por fim, o artigo 337.º determina quais os efeitos e a notificação da contumácia; a medida
da contumácia pode implicar a proibição de obter determinados documentos para o forçar a
apresentar-se.
� Questões prévias ou incidentais que obstam ao conhecimento do mérito da causa –
artigo 338.º. É a primeira questão que deve ser conhecida pelo tribunal e invocada em sede
de contestação.
Contudo, se já estivermos em audiência de discussão e julgamento podem ser invocadas as
questões prévias em requerimento ditado para a acta ou entregue na audiência – artigo
340.º pode conhecer destas questões mesmo invocadas em julgamento + artigo 338.º.
Mas o tribunal pode decidir conhecer a final das questões prévias, não obstante a lei
determina que deve conhecer logo destas questões, o tribunal tem esta prerrogativa de
adiamento.
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� Exposições introdutórias – artigo 339.º: exposição inicial de estratégia, do que se
pretende provar, do que se assume como verdade ou como mentira.
2. Produção de Prova
Artigo 340.º: O Tribunal ordena, oficiosamente ou a requerimento, de todos os meios
de prova essenciais à descoberta da verdade e à boa decisão da causa, sob pena de nulidade –
artigo 120.º/d). Aqui consta um afloramento do princípio da investigação.
Um exemplo de escola desta obrigação: um testemunho baseado num relato de 3ºs,
testemunho do “ouvi dizer”: o tribunal deve, sob pena de nulidade, chamar esse terceiro a
depor.
Mais ainda, o uso do expediente do in dubio pro reu deve ser justificado por via, não só
da prova carreada para o processo pelo M.P. ou pelo arguido ou pelo assistente, mas também
por via da prova ordenada oficiosamente; finda esta produção de prova se não se conseguir
provar a verificação do crime e da identidade do agente, aí sim há lugar a absolvição por
aplicação do princípio in dubio pro reu.
O despacho proferido ao abrigo do n.º 4 é irrecorrível, por ser de mero expediente,
artigo 400.º/1/b). Só se pode recorrer perante nulidades, sendo que estas têm que ser
arguidas! Deste modo, só se pode arguir a nulidade do despacho que indefere o requerimento
de prova se se alegar que aquela prova é ESSENCIAL PARA A DESCOBERTA DA VERDADE; se a arguição
da nulidade for igualmente indeferida então aqui já há possibilidade de recurso.
Artigo 341.º: Ordem de produção da prova: 1) declarações do arguido; 2) apresentação
dos meios de prova indicados pelo MP, assistente e pelo lesado; 3) apresentação dos meios de
prova indicados pelo arguido e pelo responsável civil.
Em primeiro lugar, o arguido identifica-se nos termos do artigo 342.º - às perguntas
feitas sobre a sua identidade o arguido tem que responder com verdade.
a) Declarações do arguido
O arguido tem direito a prestar declarações, não sendo obrigado a prestar
esclarecimentos sobre o que declara – artigo 345.º. Do mesmo modo, o arguido é informado
que se pode remeter ao silêncio, sem que isso o possa desfavorecer – artigo 343.º, n.º 1
(remissão para o artigo 61.º/1/d).
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Confissão – artigo 344.º. O arguido declara confessar os factos que lhe são imputados,
estando o presidente obrigado, sob pena de nulidade, a perguntar se o faz de livre vontade e
fora de qualquer coacção, e se o faz de forma livre e sem reservas.
A confissão integral e sem reservas implica (n.º2): a) renúncia à produção de prova; b)
passagem de imediato às alegações orais e determinação da sanção aplicável; c) redução da
taxa de justiça a metade.
No caso de existirem co-arguidos tem que se verificar a confissão integral e sem reservas
de todos eles, para que se produzam aqueles efeitos. Há livre arbítrio do tribunal de apreciar
casuisticamente se a confissão é simplesmente aceite ou se deve ou não haver lugar à
produção de prova (caso em que se suspeita do carácter livre da decisão).
Após as declarações do arguido há lugar a perguntas sobre os factos – artigo 345.º - o
arguido não é obrigado a responder.
Artigo 345.º/4: “Não podem valer como meio de prova as declarações de um co-arguido
em prejuízo de outro co-arguido quando o declarante se recusar a responder às perguntas
formuladas nos termos dos n.ºs 1 e 2.”.
Este é o suporte legal para não haver valoração das declarações do co-arguido que
acuse, prejudique ou incrimine outro co-arguido, quando este se remeter ao silêncio.
Este facto não prejudica a produção de prova seja ela pericial, testemunhal ou
documental que vá no mesmo sentido e ateste as declarações do co-arguido que resolveu
prestar declarações.
A proibição de valoração tem porá base as seguintes ideias: o arguido nunca pode
testemunhar (mas apenas prestar declarações se assim o quiser), porque não presta
juramento e não está obrigado a responder à verdade (excepção feita à sua identificação e aos
antecedentes criminais); princípio da não auto-incriminação.
N.B.: Recurso para o Tribunal Constitucional – fundamentos:
� a decisão ter “efeito surpresa” (Fátima Felgueiras aplicação da prisão
preventiva pelo Tribunal da Relação, sem ter sido esta medida de coacção
aplicada na 1ª instância);
� a inconstitucional da norma/interpretação dada à norma tem que ser
previamente invocada.
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b) Declarações do assistente e das partes civis – artigo 346.º e 347.º - tem que
responder com verdade sob crime de falsas declarações.
c) Inquirição de Testemunhas – artigo 348.º - remissão para o artigo 131.º e ss. O
presidente pergunta pelos “costumes”: relação que tem com o arguido, interesse no processo,
sentimentos em relação ao arguido. Primeiramente, a testemunha é inquirida por quem a
indicou sendo depois sujeita a contra-interrogatório.
No caso de menor de 16 anos a testemunha é inquirida SEMPRE pelo presidente do
Tribunal (artigo 349.º).
d) Declarações de peritos e consultores técnicos – artigo 350.º. Os peritos dos
estabelecimentos, laboratórios ou serviços oficiais são ouvidos por teleconferência, sendo
apenas notificados no dia e hora a que se procede à sua audição (n.º3).
Sobre o arguido – cenários possíveis:
Sempre que no decurso da audiência se suscitar fundamentadamente a questão da
inimputabilidade do arguido, há lugar a perícia sobre o estado psíquico do arguido – artigo
351.º.
Afastamento do arguido durante a prestação de declarações – artigo 352.º: é
obrigatória em razão da possível inibição do declarante; do declarante ser menor; da audição
do perito poder afectar a integridade ou psíquica do arguido.
Sobre testemunhas - cenários possíveis:
Na contestação convém colocar as testemunhas do MP e as nossas, assumindo nós a
qualidade de mandatário deste, para o caso do MP as dispensar e o assistente se poder opor.
Do mesmo modo, apenas há dispensa por ordem e com autorização do presidente do
tribunal, sendo que mesmo que as partes acordem na dispensa das testemunhas, o tribunal
pode negar a sua dispensa por a considerar essencial à descoberta da verdade (n.º 2 remessa
para o artigo 340.º). Pelo mesmo motivo, o tribunal pode deslocar-se ao local onde tiver
ocorrido qualquer facto – exame ao local – artigo 354.º.
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N.B.: Contradita – colocar a testemunho/depoimento em causa demonstrando que há
um interesse da testemunha no processo que condiciona o seu depoimento, isto é, a
testemunha usa o processo para proteger ou privilegiar um interesse próprio.
“Não valem em julgamento, nomeadamente para o efeito de formação da convicção do
tribunal, quaisquer provas que não tiverem sido produzidas ou examinadas em audiência” –
artigo 355.º/1.
Por via deste normativo a lei processual consagra o princípio da imediação da prova,
contudo há uma ressalva prevista no n.º 2 e nos artigos 356.º e 357.º. Nestes termos, será
permitida a leitura de autos e declarações prestadas em qualquer fase anterior ao julgamento
e, bem assim, a leitura de declarações do arguido anteriormente feitas, desde que seja
estritamente observado o prescrito nas disposições em causa.
Artigo 356.º: leitura permitida de autos e declarações: o n.º 1 refere as partes dos autos
que podem ser lidas; o n.º 2 dispõe sobre as declarações. Quanto aos restantes n.ºs sublinhe-
se que: no n.º 4 remissão para o artigo 129.º; no n.º 6 remissão para o 132.º/2; n.º 7 – os OPC
que tiverem recebido declarações cuja leitura não for permitida, bem como quaisquer pessoas
que, a qualquer título, tiverem participado na sua recolha, não podem ser inquiridos como
testemunhas sobre o conteúdo da mesma – este n.º abrange os depoimentos do “ouvi dizer”
ou com base em declarações do arguido.
Artigo 357.º: leitura permitida de declarações do arguido. As declarações prestadas ao
MP e a um OPC só podem ser lidas em audiência por solicitação do arguido.
As declarações prestadas perante o juiz podem ser lidas em audiência por razão de
contradição ou discrepância, sem solicitação do arguido.
Alteração substancial e não substancial dos factos – artigos 358.º e 359.º (ver o Código
Anotado do Dr. Pinto de Albuquerque) – Acórdão 8/7/2008 STJ
“Alteração substancial dos factos aquela que tiver por efeito a imputação ao arguido de
um crime diverso ou a agravação dos limites máximos das sanções aplicáveis” – alínea f) do
artigo 1.º.
Para que haja alteração substancial os factos devem ser autonomizáveis em relação ao
objecto do processo, que devem ser comunicados ao MP o que vale como denúncia para que o
mesmo proceda pelos novos factos – artigo 359.º.
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No que respeita à noção de crime diverso cumpre sublinhar que não se está a falar de
um tipo legal previsto na lei penal substantiva. Estamos perante crime diverso quando esteja
em causa a protecção de diferente bem jurídico, o tipo não releva para efeitos de
interpretação da alínea f) do artigo 1.º. Se estivermos perante um caso de homicídio que
depois resulte em condenação por participação em rixa, não há alteração substancial dos
factos, há apenas alteração da qualificação jurídica que na definição da lei processual
consubstancia uma alteração não substancial. Contrariamente, se se tratar de roubo e se
novos factos conduzirem à verificação de crime de homicídio já há alteração substancial dos
factos, porque o bem jurídico protegido é diferente, estando presentes crimes diversos em
razão de novos factos trazidos ao processo (Ac. 6/1/2009).
Atenção, esta alteração tem que ser potenciada pelo aparecimento/com fundamento
em novos factos, senão não é por se alterar a qualificação jurídica para crime que protege bem
jurídico diverso, que há alteração substancial dos factos. Ou seja, é uma alteração nos factos
que conduz a uma alteração da qualificação jurídica para efeitos de aplicação dos artigos
358.º e 359.º.
Aparecendo novos factos que não impliquem a alteração substancial dos factos
descritos na acusação ou na pronúncia, mas que sejam relevantes para a decisão da causa,
então o presidente comunica ao arguido essa mesma alteração e concede, se ele assim o
requerer, o tempo estritamente necessário para preparação da defesa. Este procedimento
aplica-se em caso de simples alteração da qualificação jurídica dos factos descritos na
acusação e na pronúncia – artigo 358.º.
Alegações orais: artigo 360.º e 361.º
Finda a produção de prova segue-se a exposição das conclusões de facto e de direito,
concedendo o presidente a palavra ao MP, ao advogado do assistente e das partes civis e ao
defensor. Há lugar a réplica para cada um destes sujeitos processuais, que pode ser exercida
por uma só vez, sendo que sempre que o defensor pedir a palavra é o último a falar.
As alegações podem ser suspensas para nova produção de prova que se revele
imprescindível para a boa decisão da causa, por tempo fixado em despacho (n.º 4 do artigo
360.º).
Por fim, há lugar às últimas declarações do arguido e posto isto o presidente dá por
encerrada a discussão (artigo 361.º).
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
3. Documentação da audiência – artigo 362.º a 364.º
Acta: a acta de audiência tem que conter todos os elementos constantes do n.º1 do
artigo 362.º.
Os artigos 363.º e 364.º têm redacção nova. As declarações prestadas oralmente na
audiência são documentadas por gravação magnetofónica ou áudio-visual, sob pena de
nulidade. A gravação se for imperceptível, embora existindo, origina uma nulidade na opinião
de uns, e irregularidade no entender de outros. Na prática o melhor é invocar os dois vícios no
prazo de 3 dias.
Relativamente às gravações, ao abrigo do artigo 101.º/2 e 3 é possível aos mandatários
pedir uma cópia dessas mesmas gravações.
Dr. Silva Leal entende que se pode pedir as cópias apenas no fim, sendo que, enquanto
não forem concedidas, o prazo de recurso suspende em razão de justo impedimento, que deve
ser requerido pelo mandatário.
Dra. Cristina entende que não! Porque o artigo 101.º/3 contém um expediente que
permite ao mandatário obter cópias das gravações no fim de cada sessão, se assim não fizer
coloca-se numa situação de impedimento que pode e deve ser reconhecido como justo.
4 de Abril de 2009
4. A Sentença – artigos 365.º a 380.º
Deliberação e Votação – artigo 365.º
Ao encerramento da discussão segue-se a deliberação, onde participam todos os juízes e
jurados que constituem o tribunal, sob direcção do presidente, salvo absoluta impossibilidade.
Cada um enuncia razões da sua opinião, indicando meios de prova e votam sobre cada
questão, não é possível abstenção.
As deliberações são tomadas por maioria simples de votos.
À deliberação e votação pode assistir o secretário ou o funcionário judicial que o
presidente designar – artigo 366.º; aquele toma nota, sempre que o presidente o entender,
das razões e dos meios de prova indicados por cada membro do tribunal e do resultado da
votação de cada uma das questões a considerar. As notas tomadas são destruídas logo que a
sentença for elaborada.
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_________________________ Prática Processual Penal Dr.ª Cristina Correia
Acresce que, nos termos do artigo 367.º, os intervenientes não podem revelar nada do
que se passou durante a deliberação e votação, nem exprimir a sua opinião, salvo n.º 2 do
artigo 372.º (elaboração e assinatura da sentença). A violação deste segredo é cominada com
o artigo 371.º do Código Penal, sem prejuízo da responsabilidade disciplinar que posse da
lugar.
Questão da culpabilidade – artigo 368.º. O tribunal começa por decidir separadamente
as questões prévias ou incidentais sobre as quais ainda não tenha recaído decisão (como é o
caso do saneamento do processo do 311.º em que o presidente pode proferir previamente
decisão sobre eventuais questões prévias ou incidentais). Se estas questões não prejudicarem
o conhecimento do mérito da causa, o presidente enumera discriminadamente e
especificamente e submete a deliberação e votação os factos alegados pela acusação e pela
defesa e os que resultarem da discussão da causa relevantes para as questões enumeradas no
n.º 2 do artigo 368.º. do mesmo modo, são apreciadas as questões de direito, n.º 3.
Questão da determinação da sanção – artigo 369.º. Se da deliberação e votação
resultar que deve ser aplicada uma pena ou medida de segurança, o presidente manda ler
toda a documentação existente nos autos relativa aos antecedentes criminais do arguido, à
perícia sobre a sua personalidade e ao relatório social. Pode haver lugar à produção de prova
suplementar para a determinação da espécie e da medida da sanção a aplicar, nos termos do
artigo 371.º, se o tribunal considerar necessário – n.º2 do artigo 369.º. Se não for necessária
produção de prova suplementar o tribunal delibera e vota sobre a espécie e a medida da
sanção a aplicar.
Se na deliberação e votação se manifestarem mais de duas de opiniões, os votos
favoráveis à sanção de maior gravidade somam-se aos favoráveis à sanção de gravidade
imediatamente inferior, até se obter maioria.
Relatório Social – artigo 370.º: O tribunal pode em qualquer altura do julgamento,
sempre que o considerar necessário à correcta determinação da sanção a ser aplicada, solicitar
a elaboração de relatório social ou de informação dos serviços de reintegração social. Por sua
vez, estes podem actualizar a informação ao tribunal sem que este o solicite.
A leitura deste relatório em audiência só é permitida para efeitos do artigo 371.º
(reabertura da audiência para a determinação da sanção).
Reabertura da audiência para determinação de pena – artigo 371.º. Nestes casos, é
ouvido o perito criminólogo, o técnico de reinserção social e quaisquer pessoas que possam
depor com relevo sobre a personalidade e as condições de vida do arguido; os interrogatórios
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são feitos sempre pelo presidente sem prejuízo do disposto no nº 3 deste artigo. A produção
de prova suplementar decorre com exclusão da publicidade, salvo se o presidente entender
que da publicidade não pode resultar ofensa à dignidade do arguido – n.º 5.
Artigo 371.º-A: Abertura de audiência para aplicação retroactiva de lei penal mais
favorável. Após trânsito em julgado da decisão, mas antes da execução de sentença, o
condenado pode requerer a reabertura da audiência para que lhe seja aplicável novo regime
mais favorável que entre em vigor.
Elaboração e assinatura da sentença – artigo 372.º. Concluída a deliberação e votação,
o presidente elabora a sentença de acordo com as posições que tiverem feito vencimento,
sendo assinada por todos, declarando-se os votos de vencido. Regressado à sala de audiência o
tribunal a sentença é lida publicamente pelo presidente ou por outro dos juízes, sendo que se
a leitura da fundamentação foi muito extensa é lida a súmula, sob pena de nulidade. Esta
leitura vale como notificação. Por fim, o presidente procede ao seu depósito na secretaria,
sendo que é a partir do depósito que se começa a contar o prazo para recurso, mesmo que já
tenha havido leitura da mesma, nos termos do artigo 411.º, alínea b); ao prazo do recurso
nunca se aplica o previsto no artigo 113.º/12 quanto às notificações.
É com a leitura da sentença que se dá a sua publicação.
Requisitos da sentença – artigo 374.º - o não preenchimento destes requisitos importa
a nulidade prevista no artigo 379.º. Uma coisa é o mérito da sentença impugnável nos termos
do artigo 410.º, outra são os requisitos presentes no artigo 374.º e cuja falta gera nulidade ao
abrigo do artigo 379.º Contudo, nos termos do artigo 380.º, é possível corrigir a sentença; a
correcção da sentença pode ser protagonizada pelo tribunal de recurso. O despacho sobre a
correcção da sentença aplica-se aos despachos por remissão do n.º2 para o n.º 5 do artigo
97.º.
A sentença pode ser: condenatória (artigo 375.º) ou absolutória (artigo 376.º), sendo
que implica neste último caso a publicação da mesma segundo o disposto no artigo 378.º.
14 de Abril de 2009
Livro VIII – Dos Processos Especiais
(artigos 381.º a 398.º)
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SUMÁRIO – ARTIGOS 381.º E 391.º
Está em causa o princípio do acusatório pleno, uma vez que se tratam de crimes que
não possam ser puníveis com crime de prisão superior a 5 anos, sendo este limite estabelecido
pelo MP (n.º 3 do artigo 381.º + artigo 16.º).
Por outro lado, tratam-se de detidos em flagrante delito o que exclui os crimes
particulares, na medida em que nos crimes desta natureza não há detenção, mas sim
identificação.
Apresentação ao MP e julgamento – artigo 384.º - apresentação no prazo de 48 horas
ao juiz.
Notificações: são notificadas verbalmente as testemunhas no próprio acto e no máximo
de 5 e do mesmo modo é notificado o arguido – artigo 383.º.
Este processo pode ser suspenso tendo a suspensão como limite o prazo até dois ou
cinco anos nos termos do regime geral, havendo também lugar a arquivamento por dispensa
de pena, nos termos gerais.
Se o arguido não for presente ao juiz no prazo de 48 horas tem que ser libertado, sob
pena de detenção ilegal. Só é admitida a detenção por prazo superior a 48 horas se houver
razões para acreditar que este não se vai apresentar voluntariamente. Para que efeitos? Ou
para audiência de julgamento ou para 1º interrogatório judicial, porque já foi sujeito a TIR
aquando da detenção.
O julgamento é feito por tribunal singular – artigo 386.º.
A tramitação é a constante do artigo 389.º - O MP se não estiver presente é substituído,
não há lugar a réplica e a sentença é ditada para a acta. Não há lugar a inquérito.
Reenvio para outra forma de processo – artigo 389.º. Assume a forma de processo
abreviado (artigo 391.º-A/3/a)) e depois pode ser reenviado para a forma comum.
A aplicação indevida de processo especial consubstancia nulidade insanável – artigo
119.º/1/f).
N.B.: a nova LOFT altera os artigos 318.º, 390.º e 426.º-A do CPP – Lei 52/2008.
Apenas há recurso da sentença e não de despachos interlocutórios – artigo 391.º.
ABREVIADO – ARTIGOS 391.º-A A 391.º-F
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No processo abreviado há lugar a inquérito que não existe no processo sumário. Este
processo tem lugar nos termos do artigo 391.º-A.
A identificação do arguido e a narração dos factos podem ser efectuados por remissão
ao auto (artigo 99.º) da denúncia.
A acusação é feita em 90 dias; não tem que haver detenção em flagrante delito; aplica-
se também o regime de suspensão e arquivamento por dispensa de pena nos termos gerais.
Artigo 391.º-C: Saneamento. Este processo tem prioridade sobre qualquer outro na
realização de julgamento.
O julgamento tem lugar a 90 dias depois de deduzir acusação, caso contrário há
nulidade do artigo 119.º/f)., pois que ultrapassado este prazo o processo não é abreviado, mas
sim comum.
Só há recurso da sentença.
SUMARÍSSIMO – ARTIGOS 392.º E 398.º
Tem lugar nos termos do artigo 392.º. Este processo não tem partes civis.
O requerimento pode ser recusado e reenviado para outra forma que lhe caiba nos
termos do artigo 395.º. Em alternativa ao reenvio para outra forma de processo, segundo a
alínea c) do n.º 1 do artigo 395.º, pode o juiz fixar sanção diferente, em espécie ou medida, da
proposta pelo MP, com a concordância deste e do arguido.
No caso de reenvio para outra forma de processo, o requerimento toma forma de
acusação e o despacho que o decida é irrecorrível.
Artigo 396.º: em caso de admissão do requerimento, a notificação ao arguido é feita por
contacto pessoal, sendo que a não oposição ao requerimento implica a sua aceitação: se o
arguido não se opuser – artigo 397.º - ou se o arguido se opuser – artigo 398.º.
Não há recurso da decisão final/sentença porque implica o acordo de todos os
intervenientes no processo: juiz, MP e arguidos.
Não esquecer: Os processos especiais, sumário e abreviado, correm em férias judiciais
por determinação da alínea c), n.º 2 do artigo 103.º!
Aula do Dr. Silva Leal
Livro IX – Dos Recursos
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(artigos 399.º a 466.º)
É permitido recorrer dos acórdãos, sentenças e dos despachos cuja irrecorribilidade não
estiver presente na lei – artigo 399.º.
Quer isto dizer, que não podemos interpor recurso dos actos do MP, nomeadamente, do
despacho de acusação.
Quando se fala de recorrer, fala-se de recurso de decisões judiciais, do juiz de instrução e
do juiz de julgamento; se a lei nada disser podemos recorrer. Exemplos de casos em que não é
possível recorrer artigo 42.º, 47.º/2, 86.º/2, 86.º/5, 89.º/2,100.º/3,141.º/6, 219.º/3, 291.º/2,
310.º/1, 313.º/4, 405.º/4.
1. Prazos – artigo 411.º
O prazo para interpor recurso é de 20 dias.
O prazo é de 30 dias quando o recurso tiver por objecto a reapreciação da gravada
(matéria de facto).
Artigo 107.º/6: “Quando o procedimento se revelar de excepcional complexidade, nos
termos da parte final do n.º 3 do artigo 215.º, o juiz, a requerimento do Ministério Público, do
assistente, do arguido e das partes civis, pode prorrogar os prazos previstos nos artigos 78.º,
287.º e 315.º e nos n.os 1 e 3 do artigo 411.º, até ao limite máximo de 30 dias”. Por aplicação
deste artigo pode haver a prorrogação até ao limite de mais 30 dias a acrescer ao prazo normal
para recurso.
Este normativo apenas se refere ao n.º 1 e 3 do artigo 411.º, querendo isto dizer eu no
caso de recurso sobre a matéria de facto o prazo é de 30 dias para recorrer – não há direito a
prorrogação.
Determina o artigo 411.º/2 que os recursos podem ser interpostos em audiência por
simples declaração na acta. Seguidamente dispomos de 20 dias contados da data de
interposição para apresentação das motivações de recurso.
O recurso é uma das situações em que se deve proceder à auto-liquidação da taxa de
justiça, juntamente com a constituição de assistente e com o requerimento de abertura de
instrução. Quando recorremos para a acta a taxa de justiça deve ser paga nos 10 dias
subsequentes, se não for paga dentro do prazo pagar-se-á as taxas em dobro.
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(Dra. Cristina considera que podemos pagar a taxa de justiça no momento em que
apresentamos as motivações, isto é, no prazo de 20 dias, o mesmo prazo para as
motivações…faz todo o sentido!).
Se entregarmos as motivações já nos 3 dias de multa (145.º do CPC) devemos, no
próprio requerimento, pedir as guias de pagamento.
O requerimento e as motivações de recurso são notificados oficiosamente aos restantes
sujeitos processuais afectados pelo recurso, devendo ser entregue o n.º de cópias necessárias
– n.º 6 do artigo 411.º.
Interposto o recurso os sujeitos processuais afectados dispõe de 20 ou 30 dias para
responder ao recurso no mesmo prazo – artigo 413.º.
2. Competência para conhecer do recurso – artigos 427.º a 436.º
Interpomos recurso para:
A) Tribunal da Relação: Guimarães, Porto, Coimbra, Lisboa e Évora.
B) Supremo Tribunal de Justiça (STJ).
A regra é que o Recurso das decisões de 1ª instância são para a Relação, excepto nos
casos em que a lei diz que deve ser interposto directamente para o STJ (artigo 427.º e 432.º).
A alínea c) e d) do artigo 432.º consagram a interposição de recurso da 1ª instância para o STJ.
Exemplo: ofensa à integridade física simples. Para onde podemos recorrer? Teremos que
percorrer as alíneas do Artigo 432.º.
Alínea a) Os juízes são julgados em 1ª instância na Relação;
Alínea b) Recurso de decisão do tribunal da Relação que sejam susceptíveis de recurso e
que sejam decisões dadas em recurso;
Alínea c) o tribunal singular profere sentenças e não acórdãos, por aqui não cabe a
questão da ofensa à integridade física simples.
Alínea d) Também não se aplica!
Por exclusão de partes, se não se recorre para o Supremo então há lugar a recurso para
a Relação nos termos do artigo 427.º.
Em processo penal há muitos motivos para interpor recursos para o Tribunal
Constitucional (“Breviário do Tribunal Constitucional”). Para interpor recurso é necessário
invocar a inconstitucionalidade da norma antes da decisão, antes do final do processo: se o
Tribunal pretender aplicar a norma X do CPP, com o sentido Y, estará a violar o artigo 32.º da
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CRP, sendo por isso inconstitucional. Ou, esta decisão se pretender aplicar a norma com este
sentido, desde já se arguí a sua inconstitucionalidade por violar os princípios X, Z e Y.
Excepcionalmente podemos recorrer para o TC depois de findo o processo, depois da
decisão, se dissermos que se trata de uma “decisão surpresa”: a aplicação do artigo X com a
interpretação dada pelo tribunal que proferiu a decisão é inconstitucional.
O recurso para o TC tem sempre efeito suspensivo.
Posto isto, cumpre analisar os requisitos do artigo 432.º, n.º 1 alínea c):
• “Acórdãos finais” aqui nunca cabem decisões do tribunal singular;
• “Apliquem pena de prisão superior a 5 anos” tem que ter sido aplicada pena
efectiva de 5 anos;
• “Reexame da matéria de Direito”: não pode visar a matéria de facto, mas há
excepções, artigo 410.º/2/alíneas a), b) e c), no entanto não podemos invocar
este artigo quando estamos dentro do artigo 432.º/1/c).
3. Modos e efeitos do Recurso:
3.1. Modo de subida nos autos – artigos 406.º e 407.º
Os Recursos podem subir nos próprios autos (n.º1): quando se trate de recurso de
decisões que ponham termo à causa e os que com aqueles devem subir (recursos diferidos)
(n.º1 remissão para os artigos 407/3, 412/5 e 417/3). Se o recurso sobe nos próprios autos
quer dizer que o recurso sobe com o processo; com ele vai todo o processo para o tribunal
superior juntamente com o recurso.
Os Recursos podem subir em separado (n.º2): para o tribunal só sobe o recurso, cabem
aqui todos os que não devam subir nos próprios autos nos termos do n.º1. O recurso sobe com
o translado, que aqui não é mais do que a decisão, a resposta ao recurso e qualquer peça que
se tenha por conveniente.
Exemplo: Se estiver em causa o recurso de uma medida de coacção este subirá em
separado. O restante processo, o principal, prossegue a sua marcha, pelo que a aplicação de
uma medida de coação é uma questão incidental. Este recurso é urgente sobe imediatamente,
contudo não se trata de uma decisão principal, por isso o processo segue a sua marcha no
tribunal de 1ª instância, enquanto se recorre da aplicação de medida de coação no tribunal
superior!
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Translado – certidão: cópia de uma folha ou várias folhas do processo que leva o
carimbo branco do tribunal que certifica a autenticidade e conformidade daquelas folhas com
o original.
Os Recursos podem subir imediatamente, nos termos do n.º1 e 2 do artigo 407.º, são
interpostos, a parte contrária responde, o juiz profere despacho a admitir o recurso e o
recurso sobe para o tribunal superior.
Os Recursos podem subir em diferido: interpomos recurso, a parte contrária responde e
o juiz admite o recurso, contudo o recurso só subirá, será instruído e julgado conjuntamente
com o recurso que decidir da decisão final, que tiver posto termo à causa. Até este momento o
recurso ficará retido –n.º3 do artigo 407.º remissão para o artigo 412.º/5 e 417.º/3.
Exemplo: julgamento. Durante o julgamento requeremos a junção de documento
essencial para a descoberta da verdade; o juiz indefere o requerimento de junção. O
mandatário arguí a nulidade do artigo 120.º/2/d); o juiz indefere o requerimento onde se arguí
a nulidade. Aqui sim, com este segundo recurso, abrimos a porta para poder recorrer. Aqui
recorre-se de um despacho e não de uma sentença. Quando é que este sobe?
Esta situação não cabe nos n.º 1 e 2 do artigo 407.º. Como tal terá que subir nos termos
do n.º 3 do artigo 407.º: “Quando não deverem subir imediatamente, os recursos sobem e são
instruídos e julgados conjuntamente com o recurso interposto da decisão que tiver posto termo
à causa” – sobe este recurso em diferido. Acaba o julgamento é proferida sentença.
Interpomos recurso da sentença e nas conclusões deste recurso devemos referir, em face
deste recurso retido, se mantemos ou não interesse no mesmo – n.º 5 do artigo 412.º. Se
nada se disser quanto ao interesse do recurso retido, o relator convida o recorrente ao
aperfeiçoamento tal com dispõe o n.º 3 do artigo 417.º.
3.2. Efeitos do Recurso – artigo 408.º
Os Recursos podem ter efeito suspensivo do processo (suspende a marcha do processo)
ou da decisão (a decisão não produz efeitos).
Ou, o recurso sobe cm efeito meramente devolutivo não suspendendo a marcha do
processo nem a decisão. Entrega-se a decisão daquela questão ao tribunal para que o tribunal
superior analise e dê a decisão. Em penal não se usa esta terminologia civilista, considerando-
se antes este recurso como: recurso sem efeito suspensivo.
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Após a interposição do recurso, a secretaria oficiosamente notifica todos os
intervenientes processuais, tira fotocópia do recurso para o MP e restantes sujeitos
processuais, sem mandar ao juiz.
Os sujeitos processuais afectados pelo recurso dispõe de um prazo de 20 dias (ou 30 no
caso de recurso para reapreciação de prova gravada – matéria de facto) para responder, nos
termos do artigo 413.º.
O recurso apenas é concluso ao juiz, depois de apresentada reposta ao recurso ou após
terminar este prazo – n.º 1 do artigo 414.º.
O juiz admite o recurso por ser tempestivo, por ter legitimidade, por ser passível de
recurso e por ter sido paga a taxa de justiça.
Qualquer um dos sujeitos processuais pode desistir do recurso até ao momento em que
o processo é concluso ao juiz – artigo 415.º.
4. Estrutura do Recurso – n.º 1 do artigo 412.º
Embora a lei só refira duas partes, qualquer recurso tem três partes.
a) Requerimento de interposição do recurso
b) Motivação de recurso
c) Conclusão de recurso
O Requerimento é dirigido ao juiz que profere a decisão; onde se entrega o
requerimento ou o recurso? No local onde está o processo, na secretaria onde está o processo.
Exemplo: o requerimento da abertura de instrução é dirigido ao JIC, na secretaria onde
está o processo – MP.
Processo n.º 412/08.3TBPRT
1º Juízo Criminal
1ª Secção
Exmo. Senhor Juiz de Direito
do Tribunal Judicial da Comarca do Porto
Maria Albertina, arguida, melhor identificados nos autos acima
referenciados,
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Não se conformando com a sentença aqui proferida, dele pretende
interpor recurso para a Relação do Porto, a subir imediatamente,
com o processo, com efeito suspensivo.
Por ter legitimidade, ser tempestivo, ter interesse em agir, ser
recorrível, ter pago taxa de justiça, vem requerer admissibilidade do
recurso, nos termos dos artigos 399.º, 406.º, 407.º e 408.º do CPP.
Excelentíssimos Senhores Juízes Desembargadores
(apresenta a motivação de recurso…
…)
Conclusões
(Sintetizar o que foi dito na motivação. Só os pontos essenciais do recurso e é feito
obrigatoriamente por artigos. Têm que indicar as normas jurídicas violadas, o sentido com que
foi interpretada e o sentido em que deveria ter sido interpretada e ainda, caso tenha havido
erro na determinação da norma aplicável, indicar qual a norma que deveria ser aplicada. Do
mesmo modo, deve referir se mantém interesse em prosseguir com os recursos eventualmente
retidos. – n.º 2 e 5 do artigo 412.º).
(No final pedimos a procedência do recurso.)
Termos em que deve dar provimento ao presente recurso.
Junta: Comprovativo de pagamento de taxa de justiça.
O requerimento de interposição de recurso é sempre motivado – artigo 411.º/3.
A motivação de recurso enuncia sempre especificamente os fundamentos do recurso e
termina pela formulação de conclusões, deduzidas por artigos, em que o recorrente resume as
razões do pedido.
A falta de conclusões implica um convite à sua apresentação no prazo de 10 dias, sob
pena do recurso ficar deserto. A resposta ao recurso não tem que ter conclusões, a lei não
exige – artigo 413.º.
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Segundo o artigo 412.º o recurso pode versar sobre matéria de direito, matéria de facto
ou sobre ambas as matérias. Todo o acórdão tem que ter uma decisão sobre a matéria de
facto: factos provados, factos não provados e respectiva fundamentação.
Até à reforma de 1987 não havia recurso sobre a matéria de facto; só em casos de
grande contradição. Com a exigência de gravação de prova, passou a ser possível recorrer da
matéria de facto.
Nestes termos, a lei processual penal no artigo 363.º em articulação com 101.º a
audiência tem que ser sempre gravada, sob pena de nulidade, seja tribunal de júri, colectivo
ou singular.
Em face disto a imperceptibilidade da gravação consubstancia uma nulidade ou uma
irregularidade? Com efeito, houve gravação, mas esta não se percebe, o seu sentido não
descortinável. Parece que se está perante nulidade com fundamento na mesma disposição,
contudo há quem entenda que se trata de irregularidade por aplicação do artigo 118.º. De
uma forma ou de outra, deve ser arguida a nulidade/irregularidade, no prazo desta última, ou
seja, 3 dias.
O prazo para arguir a nulidade/irregularidade, o prazo de 3 dias, começa a correr
quando se recebe o CD de gravação, requerido nos termos do artigo 101.º. Tendo o
julgamento várias sessões, os CDs podem ser pedidos no fim de cada uma delas (o prazo
começa logo a contar). Dr. Leal acha que se deve pedir as gravações ou no final do julgamento
ou então devem ser logo ouvidas para o caso de estarem imperceptíveis, sob pena da
nulidade/irregularidade ficar sanada.
Da leitura do artigo 413.º/a) a contrario, resulta que se não constarem todos os
elementos de prova que lhe serviram de base não se pode conhecer do recurso da matéria de
facto.
Recurso sobre matéria de facto – artigo 412.º/2
As conclusões têm que indicar:
• as normas jurídicas violadas;
• sentido com que deveria ter sido interpretada a norma;
• em caso de erro da norma aplicável, qual a que deveria ter sido aplicada.
Recurso sobre a matéria de facto – artigo 412.º/3, 4 e 6
O recorrente deve explicitar:
• os concretos pontos de facto que considera incorrectamente julgados;
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• as concretas provas que impõem decisão diferente da recorrida;
• as provas que devem ser renovadas;
O recorrente não tem que transcrever as passagens em que se funda a impugnação,
bastando indicá-las – n.º 6.
Artigo 410.º - Fundamentos do Recurso, n.º 2
Mesmo nos casos em que a lei restrinja a cognição do tribunal à matéria de direito, o
recurso pode ter como fundamentos, desde que o vício resulte do texto da decisão recorrida
por si só ou conjugada com as regras da experiência comum:
• A insuficiência para a decisão da matéria de facto provada;
• A contradição insanável da fundamentação ou entre a fundamentação ou a decisão;
• Erro notório na apreciação de prova (artigo 430.º).
Estes vícios têm que ser conjugados com artigo 426.º - reenvio do processo para novo
julgamento. Quando se verificam as causas do n.º 2 do artigo 410.º, só não há reenvio do
processo para novo julgamento no caso do artigo 430.º/1 (renovação de prova).
O reenvio decretado pelo STJ é feito para a Relação que admite a renovação de prova ou
reenvia o processo para novo julgamento em 1ª instância – artigo 426.º/2.
No caso de reenvio para novo julgamento é competente o tribunal que tiver efectuado o
julgamento anterior, pesembora não seja o mesmo juiz – artigo 426.º - A. Este artigo não se
aplica aos casos do n.º 3 do artigo 410.º: “O recurso pode ainda ter como fundamento, mesmo
que a lei restrinja a cognição do tribunal de recurso a matéria de direito, a inobservância de
requisito cominado sob pena de nulidade, que não deva considerar-se sanado.”. Aqui não há
novo julgamento, mas sim repetição de julgamento, a requerimento da recorrente ou
oficiosamente.
5. Decisões que não admitem recurso – artigo 400.º
a) De despachos de mero expediente – artigo 156.º do CPC – despachos que
promovam o andamento do processo: notifique-se o arguido, admita-se o
requerimento…
b) De decisões que ordenam actos dependentes da livre resolução do tribunal –
exemplo, despacho que não admita a junção de documento de prova. Neste
requerimento o mandatário tem que referir que a sua junção é essencial para a
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descoberta da verdade, para que depois se possa arguir a nulidade ao abrigo do
artigo 120.º/1/d), que mesmo que indeferida, abre as portas ao recurso. Com efeito,
o juiz ou declara a nulidade ou determina que esta não se verifica, podendo aqui
haver recurso.
c) De acórdãos proferidos, em recurso, pelas relações que não conhecem a final do
objecto do processo – se o acórdão da relação não conhecer do objecto do processo
e só da prescrição, não podemos recorrer.
d) De acórdãos absolutórios proferidos, em recurso, pelas relações que confirmem a
decisão de 1ª instância – Dupla Conforme Absolutória;
f) De acórdãos condenatórios proferidos, em recurso, pelas relações que confirmem
decisão de 1ª instância e apliquem pena de prisão não superior a 8 anos – Dupla
Conforme Condenatória desde que não se aplique pena efectiva não superior a 8
anos. Se for superior a 9 anos, por exemplo, podemos recorrer para o STJ. Se a 1ª
instância condenar a 9 anos, e a Relação confirmar a condenação, mas condenar em
5 anos, não podemos recorrer, mas por via da reformatio in melius (há benefício par
o arguido);
g) Nos demais casos previstos na lei, a saber, artigos 42.º, 47.º/2, 86.º/2 e 5, 89.º/2,
100.º/3; 141.º/6, 219.º/3, 291.º/2, 310.º/1, 313.º/4, 405.º/4.
N.B.:
• Quando o tribunal da Relação altera uma condenação (no sentido de agravar ou
atenuar) não está a confirmar a decisão de primeira instância que o condenou em X
anos ou em X dias de multa.
Ler acórdão de fixação de jurisprudência que saiu a semana passada. Dra.Cristina
concorda com o voto de vencido – o direito de recurso adquire-se no momento da
constituição de arguido.
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