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JACQUELINE DOURADO PENAFORT
A integração do esporte adaptado com o
esporte convencional a partir da inserção de
provas adaptadas: um estudo de caso.
Campinas, 2001
Dissertação de Mestrado
apresentada a Faculdade de
Educação Física da Universidade
Estadual de Campinas, com
apoio da CAPES. Orientador:
Prof' Dr. José Júlio Gavião de
Almeida.
NICAMP BIBLiOTECA CENTRAL SEÇÃO CIRCULANTE
CM00160227-4
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA-FEF-UNICAMP
P37i Penafort, Jacqueline Dourado
A integração do esporte adaptado com o esporte convencional a partir da inserção de provas adaptadas: um estudo de caso I Jacqueline Dourado Penafort. --Campinas, SP : [s. n.), 2001.
Orientador: José Júlio Gavião de Almeida Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas,
Faculdade de Educação Física
1. Esportes. 2. Esportes para deficientes. 3. Deficientes físicos. 4. Deficientes visuais. 5. Integração funcional. 6. Jogos. 7. Natação para deficientes. I. Almeida, José Júlio Gavião de. 11. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física. 111. Título.
Este exemplar corresponde à redação final da dissertação de mestrado defendida
por Jacqueline Dourado Penafort e aprovada pela comissão julgadora em 02 de
março de 2001.
ProFDr:José J~li \ aviro de Almeida
iií
AGRADECIMENTOS
Em muitas horas de nossa vida, nós já podemos ter esquecido de
demonstrar nossa gratidão por qualquer gesto, situação ou detalhe que tenha nos
auxiliado de alguma forma. Porém, ao final dessa etapa a qual me propus a
cumprir, mostrar que sou grata surge como uma necessidade (interna) e tem uma
dimensão imensa. Isso porque esse momento expõe a fragilidade das coisas e a
importância da colaboração que acontece a toda hora e de diversas formas, pois
não tem o que não faça diferença. Indo mais além, é um prazer poder agradecer;
resta saber se conseguirei agradecer a tudo e a todos que me auxiliaram nessa
caminhada. Espero que sim. Só quem já passou por algo que mexe com os
nossos paradigmas de vida, com as nossas perspectivas futuras, nosso jeito de
lidar com as situações de decisão, de organização, com o jeito de ser de forma
geral, é que sabe que nesse momento não é fácil lembrar de tudo. Para não
correr o risco de deixar alguém de fora desse agradecimento, gostaria de lembrar
e agradecer a todos aqueles que contribuíram de maneira direta e indireta, de
forma tranqüila ou turbulenta, com atitudes, pensamentos e sentimentos positivos,
com a presença ou a simples lembrança, com um comentário, uma sugestão,
uma orientação, uma correção, uma crítica construtiva, um assunto que se
relacionava com o tema ou ainda aqueles que somente colocaram-me nas suas
orações, pois cada uma dessas pessoas fez diferença. Em particular gostaria de
agradecer:
• à CAPES por ter sido o órgão financiador de pesquisa que me concedeu
uma bolsa por dois anos, a qual foi imprescindível;
• ao meu orientador Prof"Dr. José Júlio Gavião de Almeida, que soube me
dar espaço e cobrar na hora exata, procurando estar comigo nas horas difíceis do
trabalho;
• ao Prof"Dr. Paulo Araújo, que desde quando procurei a UNICAMP em
1996, auxiliou-me na execução do projeto de treinamento em natação com atletas
que buscavam disputar as vagas para as Paraolimpíadas de Atlanta. Orientou
NIC p BIBLIOTECA CENTRAL
v
minha preparação do projeto para o mestrado, apoiando-me neste tempo todo e
ainda, como parte da banca, contribuiu muito para a conclusão deste trabalho;
• à Prof"Dr. Ruth Estanislava Toloka que, participando da banca, foi de uma
minúcia e dedicação nas suas leituras significativas, fazendo correções, críticas e
sugestões bastante pertinentes, contribuindo fundamentalmente para a conclusão
deste trabalho, além de ter sido uma gratíssima descoberta minha;
• aos Prof"Dr Bráulio Araújo Júnior e Orival Andries Júnior, que auxiliaram
me com revisões sobre a natação convencional, parte do capítulo Natação e que
cujas correções foram valiosas;
• ao Prof" Vanilton Senatore que, em grande parte, é o responsável por
essa abertura nos jogos tradicionais de São Paulo e se predispôs a conversar
sobre todo o processo, oferecendo material, apoio logístico e contatos junto ao
CEAPPD, já que foi por duas vezes consecutivas conselheiro deste órgão,
período no qual a inserção de provas adaptadas nos Jogos Regionais e Abertos
de São Paulo foi articulada;
• ao então presidente da ABRADECAR, Irajá de Brito Vaz, que sempre foi
muito gentil e solícito em todas as minhas buscas de informação, oferecendo
material, dando esclarecimentos imprescindíveis e o apoio fundamental;
• ao Prof" Pedro Stucchi, que foi a pessoa que tendo em sua biblioteca
particular publicação histórica sobre os Jogos referente aos anos de 1953-54, nos
fez um empréstimo, possibilitando assim o exame desse material que contém as
reflexões e tendências da época reforçando o apoio aos Jogos e dando
esclarecimentos pessoais valiosos sobre os mesmos, já que durante muito tempo
foi dirigente dos Jogos Regionais e Abertos pela região de Campinas/SP e foi um
dos precursores do movimento dos Jogos Regionais na região;
• ao então presidente do CEAPPD, Teógenes Oliveira Neto, pelo seu
interesse no trabalho e pelo fornecimento de todas as cópias de documentos
referentes a esse processo de abertura nos eventos da SEET visando a uma
política de integração;
vi i
• ao ProfO Antonio Carlos Pereira, coordenador da CER, divisão da SEET, à
Prof" Angela Leite Rodrigues representante da SEET junto ao CEAPPD, ao ProfO
José Maffei e ao ProfO Adilson Vieira, que viabilizaram a investigação e a coleta
de material referente aos Jogos junto à biblioteca da SEET;
• aos companheiros da Unicamp e do Esporte Adaptado, Wagner Xavier de
Camargo e Ciro Winckler de Oliveira Filho que me auxiliaram no projeto e no
trabalho com dicas e materiais;
• à Dulce, bibliotecária da FEF, que deu todas as informações das quais eu
precisava para fazer minhas referências bibliográficas se enquadrarem nas
normas acadêmicas ditadas pela ABTN, fazendo também as correções
necessárias para tal;
• à Maria Luiza, secretária da ABRADECAR, por estar auxiliando na busca
do material solicitado e ser muito prestativa no rápido envio do mesmo;
• à Cibelle, secretária do CEAPPD, por preparar todos os documentos
referentes à inserção de provas adaptadas;
• aos funcionários da biblioteca da SEET/CER, que me auxiliaram com
prestimosidade na localização e no manuseio dos documentos;
• ao pessoal do Departamento de Atividade Física e Adaptação (Deafa
Unicamp), Dora, Simone, Aletha, e funcionários da FEF-Unicamp Rita, Maria,
Layses, Renata, Beth e as meninas das secretarias, Geraldo e Paulo (do
áudiovisual), Tânia e o pessoal da Pós, Geraldo, Gonzaga e (biblioteca), Paulo e
Zé (piscina), Marcelo e Robson (Codesp), Berotti e Fátima (centro de
computação). Enfim, a todos que colaboraram com esse meu tempo de estada
aqui, além de terem dado suporte técnico à minha pesquisa;
• aos funcionários da xerox da FEF por terem sempre sido tão rápidos,
prestativos e cuidadosos com os meus pedidos;
• à Paula e Morgana pela atenção e cuidadosa revisão dessa pesquisa e à
Andréia e ao Gilbert pela minha preparação para a proficiência no Inglês;
I MP ix
• aos atletas que participaram dos Jogos Regionais e Abertos;
• aos amigos que fazem parte do meu trilhar profissional e que, de alguma
forma, tiveram influência sobre a minha direção, minha formação como
profissional, bem como no meu envolvimento com a área adaptada: Menescal
Pedrinha, Sheila Salgado, Paulo Miranda, Sandra Péres, Menescal Conde,
Regina Uchoua, Carlinhos, Samira, Nelsinho, Blanco, Humberto, Marcelo Índio,
Maurinho, João Luiz, Biscuit, Tita, Lia Mara, lrapuan, Raul, Fábio Ricci, Carlão,
Malú, Débora, Adriana, Marlene, Aninha, Isabel, Jefferson, Patrícia, Alexandre,
João Cu ri, Simone, Ricardinho, Rodrigo, Dênis, Cássio e todos aqueles que foram
da SADEF-RJ; Sheila, Beth Caetano, Jefferson, Ethel e todo o pessoal do CVI-RJ;
Cássio, Adélia, Sérgio, Rose e o pessoal do GEDAI-CPS; Beth, Jefferson e Drica,
companheiros de classificação que me auxiliaram na aplicação teórica e prática
do sistema e com as quais até hoje trabalho; a todas as pessoas com as quais
convivi e fazem parte do esporte adaptado competitivo como as equipes técnicas
da ABRADECAR, ANDE, ABDC, CPB; os clubes do Brasil; os atletas com quem
tive oportunidade de treinar, classificar e trocar informações; os companheiros de
trabalho em campeonatos e cursos; os professores da Unicamp com os quais
cursei disciplinas, troquei impressões, busquei informação e suporte técnico para
o trabalho nesta área; os meus professores de graduação que me deram
excelente formação acadêmica para a prática da educação física; aos meus
variados trabalhos ao longo da minha experiência profissional; a todos os meus
alunos e atletas e a todos aqueles que em algum momento fizeram parte do meu
convívio;
• ao Prof"Dr.Roberto Pável que me estimulou para a vida acadêmica e me
preparou para a competição de forma abrangente, e ao Prof" Menescal Pedrinha
pela longa parceria profissional de ensinamentos, dicas e trocas na natação
adaptada competitiva;
• à Nina, à Suzana, ao Carlos, à Alessandra, ao Ayrton, ao Silvio, ao
Heraldo, à Claudia, à Gislene, enfim aos profissionais que me atendem e me
ajudam a chegar num equilíbrio tal para conseguir alcançar minhas metas;
xi
• ao Paulinho, à Rosa, ao Luis Eduardo, à Claudinha, ao Tom, ao Porto, à
Claudia, ao Tadeu, à Andréia, à Angélica, por sempre estarem ligando na hora
certa, interessando-se sempre em saber como estavam indo as coisas, por darem
dicas e sugestões valiosas para o desenvolvimento do trabalho e da
apresentação;
• aos meus amigos antigos e recentes que me deram suporte afetivo,
psicológico, prático, ideológico, religioso e que, naturalmente, me auxiliaram a
chegar onde cheguei;
• à minha família, aos meus pais, meus sogros, minha avó, minhas irmãs e
sobrinha, meu cunhado e família, meus tios e primos, agregados, minhas
pequenas Dana e Morena, por todo amor, carinho, torcida, apoio de todos os
tipos, por tudo o que nos torna uma família;
• ao Nando meu marido, um
interessou, apoiou-me e passou a
companheirão de todas as horas que se
entender de natação, esporte adaptado,
chumbado e de todo o meu universo, além de ter sido meu interlocutor
especializado em esporte adaptado. Obrigada por tudo.
Nesse sentido de reconhecimento e gratidão, procuro rezar agradecendo
antes de mais nada a Deus, a todas as pessoas e às oportunidades que tive e
que culminaram nesta etapa.
Muito obrigada de coração,
Jacque
xiií
SUMÁRIO
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS---------- x'.x
LISTA DE QUADROS---------------- xxiii
RESUMO _________________ ~_ XXV
ABSTRACT ___________________ xxvii
11NTRODUÇÃ0 _____________________________ 01
2 METODOLOGIA _________________ 09
3NATAÇÃO
3.1 ASPECTOS GERAIS DA NATAÇÃ0 ________________ 14
3.2 NATAÇÃO CONVENCIONAL ____________________ 15
3.3 NATAÇÃO ADAPTADA _____________________ .22
3.4 PONTOS CONVERGENTES DECORRENTES DA PRÁTICA DA
NATAÇÃO 28
3.5 CLASSIFICAÇÃO DA NATAÇÃO ADAPTADA _______ 32
4ESPORTE
4.1 ESPORTE CONTEMPORÂNEO E SUAS BASES------ 45
4.2 O ESPORTE E O ESTADO ____________ 54
4.3 O ESPORTE ADAPTADO NO BRASIL _________ 58
4.3.1 ESPORTE ADAPTADO DE RENDIMENTO-------- 64
4.3.2 A ESTRUTURA DE EVENTOS ESPORTIVOS BRASILEIROS DAS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA 69
XV
5 JOGOS REGIONAIS E ABERTOS DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO
PAULO
5.1 JOGOS REGIONAIS E ABERTOS __________ 75
5.2 A INSERÇÃO DE PROVAS ADAPTADAS NOS JOGOS REGIONAIS E ABERTOS DO ANO DE 2000 78
5.3 SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO UTILIZADO NOS JOGOS 81
5.4 ANÁLISE DOS REGULAMENTOS DE AMBOS OS JOGOS NOS ANOS DE 1999, 2000 E 2001 _____________ 84
5.4.1 Regulamento dos Jogos Regionais e Abertos de 1999 _ 85
5.4.2 Regulamento dos Jogos Regionais e Abertos de 2000 _ 88
5.4.3 Regulamento dos Jogos Regionais e Abertos de 2001 _ 92
6 DISCUSSÃO ------------------97
7CONCLUSÃ0 _______________________ 117
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS __________ 132
9ANEXOS
9.1 ANEXO 1 _________________ 142
9.2ANEX02 ________________ 151
10 GLOSSÁRIO DE TERMOS -------------166
xvi
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Para facilitar a leitura do texto, esclareceremos inicialmente as siglas e
abreviaturas usadas ao longo do mesmo, em ordem alfabética:
ABDC -Associação Brasileira de Desportos para Cegos
ABRADECAR- Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas
AMP -Amputação
ANDE- Associação Nacional de Desporto para Deficientes
CBBC - Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas
CEAPPD - Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Portadora de Deficiência
CER- Coordenadoria de Esportes e Recreação, subordinada à SEET
COROE- Coordenadoria para Integração das PPDs
CPB - Comitê Paraolímpico Brasileiro
CP-ISRA- Associação Internacional de Esportes e Recreação de Paralisia Cerebral
DEESP - Departamento de Esportes do Estado de São Paulo
DEF- Departamento de Educação Física do Estado de São Paulo
DEFE - Departamento de Esportes e Educação Física do Estado de São Paulo
EPT- Esporte Para Todos
FAP- Federação Aquática Paulista
FINA- Federação Internacional de Natação Amadora
IBSA- Associação Internacional de Esporte para Cegos
IES- Instituição Superior de Ensino
INDESP- Instituto Nacional de Desenvolvimento do Desporto
IPC- Comitê Paraolímpico Internacional xix
ISMWSF - Federação Internacional de Esportes em Cadeira de Rodas de Stoke Mandeville
ISO O - Organização Internacional de Esportes para Deficientes
LA- "Les Autres", são pessoas que possuem outras patologias diferentes das já mencionadas e que também caracterizam a deficiência física
LM - Lesão Medular
PC - Encefalopatia Crônica, conhecida como paralisia cerebral
POLIO - Seqüelas de Poliomielite
PPD - Pessoa Portadora de Deficiência
PPDF- Pessoa Portadora de Deficiência Física
PPDV- Pessoa Portadora de Deficiência Visual
SEED/MEC - Secretaria de Educação Física e Desportos do Ministério da Educação e Cultura
SEET- Secretaria de Esporte e Turismo do Estado de São Paulo
xxi
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 - lnervação muscular da coluna vertebral, base da
classificação médica 37
QUADRO 2 - Exemplos de padrões motores da classificação funcional da
natação __________________________________________________ 41
QUADRO 3 - Acuidade visual prevista na classificação funcional da
natação para PPDV 43
QUADRO 4 Resultados das participações brasileiras em
Paraolimpiadas ------------------------------------------- 66
QUADRO 5 - Perfil motor das classes funcionais do esporte adaptado
utilizadas como base para o sistema de classe única dos Jogos Regionais e
Abertos de 2000/2001 83
QUADRO 6 - Quantidade de participações de PPDs nos Jogos Regionais
e Abertos de 2000 11 O
QUADRO 7 - Modalidades e categorias constantes no regulamento dos
Jogos Regionais de 1999 152
QUADRO 8 - Modalidades e categorias constantes no regulamento dos
Jogos Regionais de 2000 157
QUADRO 9 - Modalidades e categorias constantes no regulamento dos
Jogos Regionais de 2001 163
xxiii
RESUMO
O objetivo dessa pesquisa foi compreender o processo de inserção de
provas adaptadas nos Jogos Regionais e Abertos do Interior do Estado de São
Paulo, como e por que aconteceu, seus problemas, possíveis soluções e
tendências futuras. Esse interesse se deve ao fato de ter sido uma iniciativa
pioneira no Estado e muito significativa para o esporte adaptado nacional, bem
como em relação ao movimento de integração da PPD. Na revisão de literatura,
aprofundamos nossos conhecimentos acerca do Esporte - sua evolução, a
relação com o Estado e o esporte adaptado competitivo- e da Natação (uma das
modalidades que teve provas adaptadas inseridas nos Jogos) - seus aspectos
gerais, os fundamentos teóricos e o sistema de classificação utilizado pela
natação adaptada competitiva. Foi realizado ainda, um estudo de caso dos Jogos,
através de análise documental, complementada por observação direta
assistemática. A pesquisa revelou que a inserção de provas adaptadas teve sua
origem a partir de um movimento articulado pelo CEAPPD, com base na proposta
de integração da PPD pelo Programa de Governo Mário Covas 1999-2002, e que
sensibilizou a SEET/CER. Identificamos alguns problemas, como a ausência de
metas estabelecidas em relação à inserção de provas adaptadas, o que dificulta a
avaliação desse processo. Observamos também que os regulamentos não
prevêem adaptações de alojamentos e locais de competição, necessários para
dar condições de acessibilidade aos atletas PPDs, e que o único incentivo à
participação da PPD, uma pontuação extra, foi prematuramente retirado, logo
após o primeiro ano de inserção, sem um critério que suportasse essa decisão.
Esses pontos indicaram-nos um desconhecimento da área adaptada e a
necessidade de instrumentalização por parte da Secretaria para poder conduzir
adequadamente a inserção de provas adaptadas, tendo assim o devido cuidado
para não trata-la como mera inclusão de modalidades novas, mas sim como um
movimento social baseado na integração da PPD através do esporte. Acreditamos
que essa situação possa ser revertida e, se bem planejada, a inserção de provas
adaptadas nos Jogos pode tornar-se referência para o resto do pais, como uma
política social que se utiliza do Esporte para auxiliar o desenvolvimento da nossa
sociedade e fazer valer na prática o que as Constituições Federal e Estadual
prevêem para a PPD. XXV
ABSTRACT
The objective of this research is to understand the introduction of adapted
trials in lhe Jogos Regionais e Abertos do Interior do Estado de São Paulo
(Regional and Open Games of São Paulo), how and why did it happen, its
problems, possible solutions and future trends. This is a subject of interest
because it was a pioneering initiative and really meaningful for lhe national
adapted sport, as well as regarding lhe integration of handicapped people. The
literature review explored Sports - its evolution, its connection with lhe State, lhe
competitive adapted sport- and Swimming (one of lhe sports which had adapted
trials introduced in lhe Games) - its general aspects, theoretical foundations, lhe
classification system used by the competitive adapted swimming. lt was also
accomplished a case study of lhe Games made through a documental analysis
and direct observation of lhe Games. The research revealed that lhe introduction
of adapted trials had its beginning by an action conducted by CEAPPD (State
Council for lhe Handicapped) based on an integration proposal from the São Paulo
Government Program 1999-2002. There were some problems noticed, as the
absence of established goals regarding the introduction of adapted trials, what
makes it difficult to evaluate its outcomes. Also, the Game rules don't show any
clause about the adaptation of lodgings and competition sites, necessary to give
accessibility conditions to disable athletes, and lhe only score incentive to lhe
handicapped participation was early withdrawn, soon after lhe first year of lhe
introduction. These findings indicates a lack of knowledge about the adapted area
and that SEET/CER (State Sports Office) needs to gain technical capability in
order to give an adequate drive to the introduction of adapted trials, being careful
about not handling it as a simple inclusion of a new sport, but as a social action
based on handicapped people integration through lhe sport. We believe this
situation can be improved and, if well planned, the introduction of adapted trials
can become a reference for the rest of the country as a social policy that uses the
Sport to help lhe development of our society and to support what is foresee for lhe
disable people in the Federal and State Constitutions.
xxvii
1 INTRODUÇÃO
O esporte abre um vasto campo de descobertas, experiências e pesquisas
com relação a quase todas as ciências conhecidas da humanidade. Ele apresenta
aspectos individuais e coletivos, desperta sentimentos no ser humano e na
sociedade, projeta indivíduos e grupos, proporciona vivências pessoais e de
massa. Devido as suas diversas interfaces e implicações, o esporte transformou
se, declaradamente, em um dos maiores fenômenos sociais do final do século XX
(Cavalcanti, 1984; Tubino, 1987; Bento, 1991; Vargas, 1995; Fernandes, 1998;
Proni, 1998; Camargo, 1999). Por isso, está em contínua transformação de
conceito, de forma e de campo de ação, entre outras. Acreditamos que o esporte
seja um instrumento poderoso, que necessita de muita pesquisa e de olhares
aprofundados para as inúmeras relações diretas ou indiretas por ele
estabelecidas.
O esporte é também um instrumento de grande poder por estar
diretamente relacionado às emoções e às formas de expressão do ser humano
(Vargas, 1995). Através dele, interesses pessoais e de grupo são trabalhados e
veiculados (Lobato, Valente, 1997). Há comprovações, segundo Cavalcanti
(1984), Tubino (1987, 1992, 1999) e Vargas (1995) de sua utilização ideológica e
como instrumento de manipulação, tanto por parte do sistema vigente como
também daqueles que o repudiam. Acreditamos que somente focalizar essa
característica como um problema ou impasse pode nos levar a uma não
valorização de outros aspectos que são inerentes ao esporte, e que podem ser
elementos transformadores na nossa sociedade.
Nesse sentido, a nossa forma de encarar a natação possibilita vislumbrá-la
como um desses elementos transformadores. Através de 16 anos dedicados ao
ensino da natação, sendo 15 deles atendendo principalmente à PPDF, desde a
iniciação até o treinamento competitivo, observamos que o processo de
aprendizado da natação adaptada (aquela que segue a filosofia e princípios da
modalidade, porém é aplicada às PPDs) constitui-se numa riqueza de vivências e
num desafio, tanto para o aluno quanto para o professor, pois o aprendiz irá entrar
em contato com um meio diferente (Escobar, Burkhardt, 1985; Catteau, Garoff,
1988; Velasco, 1994 ). Há que se considerar também que o ambiente líquido é
multidimensional, permitindo a todo indivíduo, inclusive á PPD, movimentar-se
livremente, explorar, descobrir e realizar possibilidades motoras ainda
desconhecidas (Adams et ai., 1985). O ambiente aquático, que naturalmente é
exposto, muitas vezes significa também um obstáculo a ser vencido pela PPDF
em vários aspectos, inclusive porque deverá se permitir estar nesse ambiente
sem a utilização de próteses, órteses e todos os aparatos que fazem parte do seu
dia-a-dia. Desafio esse que não existe para quem vive de forma protegida
(AST, 1986). Vale lembrar também que a água permite inúmeras possibilidades de
trabalho (Pável, 1992), e muitas vezes os alunos não tiveram experiência anterior
de aprendizagem nela; alguns já vivenciaram essa experiência em outra condição
física (Souza, 1994 ), ou ainda podem ter passado por situações desagradáveis.
Estes e outros motivos nos têm levado a observar as mudanças de atitude
ocorridas com essas pessoas após a iniciação na natação como prática esportiva.
A partir de aulas com caráter holístico, a motivação com relação à própria vida
pode assumir proporções repletas de novos significados, possibilitando efeitos
inequívocos na realização pessoal e reinserção social, associados aos benefícios
da prática desportiva. Adams et ai. (1985) já haviam dito que tais experiências
diversas vêm contribuir para o crescimento pessoal e possivelmente para uma
melhor qualidade de vida da PPDF.
A prática esportiva da natação pela PPD tem demonstrado ser excelente
recurso para se contrapor ao estigma da deficiência (Carmo,1994; Araújo,1998;
Rosadas,2000), trazendo consigo a idéia de eficiência/capacidade. Além disso,
essa prática nos têm feito acreditar no potencial intrínseco que o meio aquático
possui como um ambiente favorável à integração das PPDs com as pessoas não
portadoras de deficiência, tendendo conseqüentemente a favorecer a um
rompimento de barreiras socioculturais.
Neste sentido, o esporte adaptado vem ganhando espaço como campo de
trabalho na área da educação física e esportes, através de estudos e aplicações
2
e, por conseguinte, ampliando sua participação no fenômeno esportivo social.
Chamamos aqui de esporte adaptado aquele que está inserido na filosofia e
princípios do esporte, porém é aplicado às PPDs, e esporte convencional aquele
aplicado às pessoas não-portadoras de deficiência. Considerando o esporte
adaptado como um ramo mais recente das atividades esportivas, que está em
evolução e necessita de constante pesquisa, vislumbramos a possibilidade de
discutir a integração do esporte adaptado com o esporte convencional, a partir da
abertura para a inserção de provas adaptadas nos tradicionais Jogos Regionais e
Abertos do Interior do Estado de São Paulo.
Esta pesquisa está estruturada segundo três pontos de análise. O primeiro
está no capitulo Natação, no qual fazemos uma leitura dos fundamentos teóricos
dessa modalidade, dos aspectos relevantes conseqüentes da sua prática e da
interface direta com a natação adaptada, bem como abordamos o sistema de
classificação aplicado à natação adaptada competitiva. Escolhemos a natação
não só pela nossa experiência na área e por suas características que facilitam a
integração, mas também por ser uma das modalidades que foram escolhidas para
a inserção de provas adaptadas nos Jogos.
O segundo aparece no capitulo Esporte, no qual buscamos, através de
uma revisão bibliográfica apresentada nos dois primeiros itens do capítulo,
construir uma compreensão do Esporte contemporâneo através do conhecimento
de seus pressupostos e da sua relação com o Estado. Nos itens subseqüentes,
abordamos essencialmente o esporte adaptado de rendimento no Brasil.
O terceiro ponto de análise é o estudo de caso presente no capítulo Jogos
Regionais e Abertos do Interior do Estado de São Paulo. Neste capítulo, por meio
de uma análise documental, investigamos a evolução histórica dos Jogos, o
processo de inserção de provas adaptadas, as motivações que propiciaram a
oportunidade dessa inserção e como ela vem sendo conduzida, o sistema de
classificação adotado nos Jogos e seus regulamentos.
3
Na Discussão buscamos estabelecer a relação entre aquilo que
examinamos nos capítulos anteriores e a inserção de provas adaptadas, bem
como discutir a possibilidade da integração do esporte convencional ao adaptado
que poderia ser propiciada por esta iniciativa. Apontamos as virtudes, as falhas e
os pontos frágeis do processo de inserção, quais as suas implicações,
necessidades e conseqüências imediatas.
Na Conclusão, com base no capítulo anterior, cremos ser possível apontar
alternativas que levem a um caminho efetivo de integração social da PPD através
do esporte, partindo do processo de inserção de provas adaptadas nos Jogos.
Fazemos algumas sugestões que, acreditamos, possam ajudar para que essa
integração saia dos objetivos das propostas da política social - que suporta essa
iniciativa- e seja de fato realizada, pelo menos no âmbito do esporte competitivo.
No intuito de elucidar a idéia de integração da qual falamos, nos
basearemos em Glat (1995), que procurou esclarecer a concepção do movimento
de integração. A partir da segunda metade do século XX, quando ciências como
lingüística, psicologia e pedagogia (entre outras afins) tiveram um
desenvolvimento expressivo, criando propostas educacionais alternativas para a
população deficiente, foram gerados meios de se superar, pelo menos em parte,
as dificuldades/desvantagens próprias da deficiência, tornando assim
desnecessária e ilógica a segregação desses indivíduos. Nesse sentido, a
premissa da integração é a de que todas as PPDs têm direito de gozar uma vida o
mais próximo possível das condições gerais que prevalecem para as pessoas não
deficientes, tendo oportunidade e livre acesso às mesmas práticas sociais,
educacionais e de lazer oferecidas à população como um todo, privilegiando o
convívio entre grupos de mesma faixa etária (Giat, 1995).
A filosofia de integração alcançou amplitude mundial, levando os países a
adotarem políticas sociais e educacionais nessa direção. Essa tendência
verificou-se também em relação ao esporte adaptado. Podemos constatar esse
fato através do I PC, órgão máximo do esporte adaptado, que inclui mais de 100
nações-membros e reúne cinco federações esportivas internacionais que
4
representam as deficiências física, visual e mental - a auditiva possui uma
federação que não faz parte do IPC. Um dos objetivos primários do IPC é
justamente a integração do esporte adaptado com o esporte convencional (ligado
ao Comitê Olímpico Internacional) (Araújo, 1998).
Ainda conforme Glat (1995), no Brasil essa filosofia também domina o
posicionamento teórico dos profissionais da área, as propostas de atendimento de
diferentes tipos de instituições e a política governamental de educação em todas
as esferas. Como evidência desse predomínio, a autora cita a Constituição
Federal e a Política Nacional de Educação Especial, que se constituem numa
expressiva mobilização no caminho da integração. Glat (1995) mostra que a
dificuldade maior está em se transformar o discurso sobre integração em uma
prática generalizada e permanente, ou seja, é preciso que a proposta existente
nas leis seja de fato posta em prática em todos os âmbitos.
Vale ressaltar que a inserção de provas adaptadas nos Jogos está sendo
uma tentativa de se cumprir, no contexto do esporte, o que se prevê em leis e
programas de governo do estado de São Paulo, que tem a integração como linha
mestra. Segundo Tubino (1992), a partir do redimensionamento do esporte, as
atribuições do Estado tendem a uma reatualização de sua responsabilidade social
junto ao mesmo. Para o autor, o Estado tem papel fundamental no fomento á
expressão do direito de todos às práticas esportivas e à normatização do
esporte/performance. Nesse ponto, em relação aos Jogos, o Estado deu início ao
processo; mas no nosso entender ainda não assumiu este papel integralmente.
A presença do Estado é essencial para que a própria sociedade se
organize no sentido de acompanhar dinamicamente o esporte contemporâneo e
de criar mecanismos de cobrança com relação às políticas sociais relativas ao
esporte. De alguma forma, isso se deu em relação à atuação do CEAPPD na
inserção, todavia vemos que este órgão representa um instrumento de cobrança
muito mais abrangente, logo poderia desenvolver uma seção voltada
exclusivamente para os mecanismos de cobrança nessa área do esporte, fazendo
urna interface com as demais áreas onde o órgão atua. A sociedade, de tal
5
maneira organizada, pode vir a, por fim, reverter a atuação do Estado como
aquele que ainda hoje apresenta uma postura tutelar e paternalista, não
viabilizando muitas vezes a realização efetiva das transformações advindas das
propostas de políticas sociais, apesar de estarem previstas em formas de leis,
decretos e outros mecanismos oficiais.
Com relação ao paternalismo do governo nas questões pertinentes ao
esporte, não observamos meios efetivos de dar uma continuidade às ações
iniciadas pelas diferentes gestões governamentais (Lobato, 1987; Araújo, 1998)
no intuito de criar condições adequadas a uma crescente autonomia das
entidades esportivas de forma geral. Percebemos ainda que a dependência da
estrutura do esporte adaptado em relação à atuação do Estado é quase total. Os
exemplos disso são os eventos esportivos adaptados competitivos, a própria
inserção de provas adaptadas nos Jogos e até o processo de integração da PPD
via esporte, da forma como está sendo conduzido. Caso o governo decida deixar
de lado esse apoio, o que aconteceria? Se não refletirmos seriamente sobre
essas questões, correremos o risco de regredir nas conquistas alcançadas.
A integração dos esportes e da PPD através do esporte são conquistas que
estão sendo gradativamente viabilizadas através da mobilização social e de ações
do poder público. Entendemos que ambas representam um campo novo, carente
de pesquisa, e que toda oportunidade que surja nessa área deva ser
criteriosamente estudada, pois há envolvimentos e responsabilidades diversas
para todas as áreas relacionadas, como a própria sociedade, as universidades, as
entidades esportivas e o Estado. Neste sentido, é imprescindível que haja uma
maior aproximação dos meios acadêmicos às questões esportivas, para que se
amplifique de fato o exercício das funções da Universidade. Esta não deve
manter-se restrita aos seus muros, mas sim envolver-se realmente nos processos
sociais a partir da prática esportiva, já que tem o compromisso de desenvolver a
ciência e a formação de recursos humanos.
Também a divulgação é muito importante no meio esportivo adaptado, com
o intuito de captar o apoio e a participação de entidades, clubes e até o interesse
6
individual da própria PPD. É necessário buscar parceria com as entidades
nacionais - que são responsáveis pelo fomento das práticas esportivas adaptadas
em todos os níveis e já acumulam uma maior experiência/envolvimento em
competições esportivas adaptadas - para que possam auxiliar na política de
desenvolvimento esportivo nas três dimensões, bem como dar suporte ao
processo. Contatar as universidades que já desenvolvem algum tipo de trabalho
nesta área de esporte adaptado, buscando gerar intercâmbio de informação,
assim como obter o apoio das mesmas no sentido de suportar a iniciativa. É
preciso, ainda, captar patrocínio da iniciativa privada em parceria com o Governo
do Estado, considerando-se as leis e propostas estaduais e federais, para
incentivar o desenvolvimento esportivo e ao mesmo tempo poder ser um exemplo
de viabilização das ações neste sentido.
Baseado na nossa pesquisa e na vivência prática que tivemos como
classificadora de PPD nos Jogos, acreditamos que os mesmos têm condições de
receber provas adaptadas, pois sua estrutura é bem montada, cobre todo o
estado, tem relevância histórico-social e não requer quase nenhuma alteração a
ser feita nas competições propriamente ditas que justifique o contrário. Os ajustes
necessários para que ocorram as provas adaptadas se dão mais no
conhecimento das adaptações de regras adaptadas, por parte do coordenador da
modalidade e sua equipe de arbitragem, na aquisição de uma equipe de
classificação permanente - que seja conhecedora dos procedimentos e sistema
de classificação, bem treinada para atuar e orientar os atletas PPDs e capaz de
auxiliar na condução do processo de inserção de provas - e, principalmente, no
direito ao acesso às instalações de alojamento e áreas de competição, de
responsabilidade da Secretaria e do comitê organizador dos eventos.
É importante lembrar que as adaptações são muitas vezes uma questão de
bom senso e de uma análise mais acurada do evento. Toda modificação que
possa ser feita em relação às barreiras arquitetônicas torna-se um benefício para
as próprias cidades e soma-se à evolução política da sociedade, e não somente
do esporte adaptado. Benefícios esses que são garantidos por lei de
acessibilidade e que favorecem a toda a sociedade civil.
7
Outro instrumento à disposição da Secretaria, do qual ela pode e deve
fazer uso para direcionar a condução do processo de inserção, são os
regulamentos dos Jogos. Nortear ações através dos regulamentos, dando
tratamento diferenciado às PPDs, ou seja, dando proteção e garantia de acesso,
bem como respeito às particularidades do esporte adaptado e da PPD como uma
minoria, no intuito de dar condições de igualdade às suas oportunidades em
relação ao restante da população, é fundamental, especialmente nessa fase inicial
de implementação e construção de um novo espaço para a prática esportiva da
PPD. Um rápido exemplo para ilustrar o que queremos apontar são os
vestibulares e concursos públicos, nos quais é previsto um percentual específico
de vagas disponíveis para a PPD não como um privilégio, mas sim para
possibilitar uma igualdade de oportunidades.
Todas as críticas e sugestões feitas nesta pesquisa visam a aproveitar, da
melhor maneira possível, a iniciativa da SEET/CER de inserir provas adaptadas
nos Jogos Regionais e Abertos do Interior do Estado de São Paulo e a
conseqüente integração do esporte adaptado com o convencional advinda dessa
inserção, bem como dar também uma contribuição para que esse processo de
integração (ao qual essa iniciativa está intrinsecamente ligada) seja clarificado e
muito bem trabalhado em todas as suas instâncias, já que oportunidades
pioneiras e de valor social tão grande jamais devem ser desperdiçadas.
8
2 METODOLOGIA
O presente trabalho está estruturado em três áreas de pesquisa. A primeira
se refere ao estudo de caso sobre os Jogos Regionais e Abertos do Interior do
Estado de São Paulo, seu histórico, objetivos, regulamentos, o momento de
inserção de provas adaptadas e ações conseqüentes á inserção. A segunda área
de pesquisa trata do esporte contemporâneo, suas bases teóricas, sua relação
com o Estado, a evolução do esporte adaptado no Brasil, sua dimensão e
estrutura competitiva. A terceira abrange um estudo referente á modalidade
natação, seus aspectos gerais, natação convencional e adaptada, aspectos
relevantes para ambas e o sistema de classificação da natação adaptada
competitiva. A integração da PPD está como motivação da inserção de provas e
surge como um elemento novo fazendo a interface entre essas três áreas de
estudo.
Esta dissertação se enquadra como pesquisa exploratória, já que pretende
tornar o objeto de estudo (a inserção de provas adaptadas nos Jogos Regionais e
Abertos do Interior do Estado de São Paulo) mais explícito, levantar a
problemática desse momento inicial de inserção, sugerir caminhos para a
condução da hipótese de integração da PPD através do esporte, além de analisar
as propostas a partir de exemplos construídos e baseados na realidade do
esporte adaptado e dos Jogos (Gil, 1991 ).
O campo de atividade a que esta pesquisa pertence é o do esporte e da
educação física, tanto adaptada como convencional (Marconi, Lakatos, 1996).
Segundo seu nível de interpretação, o presente estudo pode ser identificado,
como revisão de literatura, análise documental e estudo de caso (Marconi,
Lakatos, 1996).
O estudo de caso objetivou investigar o momento inicial do fenômeno da
inserção de provas adaptadas nos Jogos, buscando esclarecer as suas relações
e multiplicidade de dimensões, bem como levantar hipóteses sobre a sua
9
natureza e propostas para sua condução (Gil, 1991 ). A coleta de dados baseou
se na análise documental referente à inserção (Gil, 1991 ).
A pesquisa bibliográfica foi importante para fazer um levantamento da
literatura e reunir dados teórico-conceituais acerca das áreas determinadas para o
estudo, assim como para revisar a evolução histórica dessas áreas e resgatar
momentos históricos importantes que ajudaram na compreensão desse momento
específico (Gil, 1991; Marconi, Lakatos, 1996; Severino, 1996).
A pesquisa documental auxiliou a atestar informações sobre o histórico dos
Jogos, o tratamento dado à inserção, e ainda ajudou a esclarecer quais foram os
meios e caminhos que levaram à inserção de provas adaptadas pela SEET/CER,
tornando explicitas os pontos frágeis desse processo (Gil, 1991 ).
A natureza dos dados é objetiva e as fontes são primárias e secundárias
(Gil, 1991; Marconi, Lakatos, 1996; Severino, 1996). A procedência dos dados é
variada, em função do caráter de inovação que está tendo o processo de inserção
de provas adaptadas nos Jogos: são bibliográficos, documentais, publicações
periódicas e de pesquisa, impressos diversos e internet (Marconi, Lakatos, 1996).
Segundo técnicas e instrumentos de observação, essa pesquisa é indireta,
incluindo dados provenientes de observação direta assistemática (Marconi,
Lakatos, 1996). A utilização dos resultados é aplicada, já que seu interesse é que
os resultados sejam utilizados diante dos problemas identificados para que haja
um redirecionamento da prática (Marconi, Lakatos, 1996).
Fornos à Biblioteca da Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de São
Paulo (SEET) buscar todo e qualquer material referente aos Jogos Abertos e
Regionais. Deparamo-nos com o fato de não havermos encontrado nenhum
documento original do inicio desses dois movimentos esportivos e de, na própria
biblioteca, não se acreditar que houvesse meios de se recuperar os primeiros
regulamentos e relatos dos momentos de criação e evolução inicial dos Jogos.
Isso significou ter que examinar os relatórios, as publicações a fim de encontrar,
10
enfim, algo que nos informasse sobre ou trouxesse algum histórico a respeito dos
Jogos.
Conseguimos os regulamentos dos Jogos Abertos do Interior e dos Jogos
Regionais referentes aos anos de 1975, 1997, 1999 e 2000, o Diário Oficial de
2000 que traz a portaria estabelecendo as classes que serão utilizadas no
atletismo e na natação, e o de 2001, com as portarias a respeito dos
regulamentos para os Jogos de 2001, alguns recortes de jornal de anos variados
retirados da imprensa escrita durante o período de realização dos Jogos, assim
como algumas revistas e periódicos informativos, feitos pela própria Secretaria em
anos distintos.
Obtivemos o empréstimo de dois livros históricos e importantes, da
biblioteca pessoal do Prof.0 Stucchi: o "Relatório das Atividades"- documento do
Departamento de Esportes do Estado de São Paulo (DEESP), relativo ao ano de
1953, e o "Relatório das Atividades" do Departamento de Esportes e Educação
Física do Estado de São Paulo (DEFE), correspondente ao ano de 1954. O
DEESP, que foi criado em 1939, fez o seu último relatório de atividades em 1953,
já que em 53/54 houve a fusão desse departamento com o Departamento de
Educação Física do Estado de São Paulo (DEF), que havia sido criado em 1934,
resultando no Departamento de Educação Física e Esportes do Estado de São
Paulo (DEFE). Este novo órgão preparou o relatório de 1954. Esses livros contêm
alguns comentários e análises sobre o início e o desenvolvimento dos Jogos
Abertos, trazem relatos das iniciativas dos municípios para participar dos Jogos
Abertos, descrevem a vontade das cidades em criar os seus próprios eventos
esportivos locais e da região circunvizinha, o que no caso foram os embriões dos
Jogos Regionais, formando assim uma consciência a respeito dessa época e
indicando o que incentivou a criação dos Jogos Regionais e orientou a evolução
de ambos.
Junto ao Conselho Estadual de Assuntos da Pessoa Portadora de
Deficiência (CEAPPD) obtivemos folhetos (folders) sobre o CEAPPD e a parte do
Plano de Governo Mário Covas 1999-2002 que prevê a inserção das PPDs ern
1 J
atividades esportivas, e no qual se baseou toda a ação deste Conselho para
pleitear e conseguir essa abertura. Tivemos também acesso aos ofícios que o
CEAPPD encaminhou referentes ao "/ Encontro Estadual sobre Esporte
Adaptado", promovido pelo Conselho e que forneceu o real suporte para a
inserção das provas adaptadas nos Jogos, bem como relacionados a toda a
movimentação de articulação feita pelo CEAPPD para efetivamente provocar a
inserção de provas adaptadas.
Quanto ao material de pesquisa referente aos capítulos da Natação e do
Esporte, recorremos às Bibliotecas da Faculdade de Educação Física (FEF) e do
Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), ambas da UNICAMP, para buscar teses,
dissertações, livros e todos os materiais que auxiliassem o nosso interesse de
pesquisa, como também utilizamos material da minha própria biblioteca e das
bibliotecas particulares dos Profs.0 Menescal Pedrinha e Roberto Pável, que
cederam livros que me ajudaram a escrever o corpo técnico da natação, além do
material coletado via internet, jornais e revistas especializadas.
Buscando então uma classificação quanto às fontes, podemos afirmar que
as fontes bibliográficas utilizadas foram livros de leitura corrente das áreas de
estudo, publicações periódicas como jornais, revistas (especializadas ou
científicas), teses e dissertações, e impressos diversos (Gil, 1991; Marconi,
Lakatos, 1996).
As fontes documentais primárias foram os ofícios e documentos obtidos no
CEAPPD, Manuais de Regulamentos e boletins dos Jogos cedidos pela
SEET/CER, Diário Oficial, programa de governo, impressos diversos, como
apostilas e manuais do IPC, etc. Já as secundárias foram os artigos de jornal
sobre os Jogos e antigos jornais da SEET/CER, relatórios anuais sobre as
atividades da Secretaria dos anos de 1953 e 1954, artigos da internet, revistas e
sites especializados, etc (Gil, 1991; Marconi, Lakatos, 1996). Procuramos
considerar as mais diversas implicações relativas aos documentos antes de
formular as nossas conclusões acerca da utilização e condução da iniciativa de
12
inserção pela Secretaria, evidenciada por eles, e levantamos possibilidades em
relação à sua condução e a seus objetivos futuros.
Este trabalho ainda contou com a observação direta intensiva para coleta
de dados através de um contato direto com a realidade, com o objetivo de
identificar as dificuldades observadas nos Jogos em relação à inserção de provas
adaptadas, ou seja, quanto à condução prática desse processo, além de registrar
a quantidade de atletas PPDs em ambas as modalidades. Neste estudo
exploratório, utilizamos a observação assistemática para recolher e registrar os
fatos da realidade, a partir da participação real da observadora como
classificadora para as provas adaptadas nos Jogos citados, ou seja, observação
participante individual (Marconi; Lakatos, 1996).
Acreditamos que, ao esclarecermos como procedemos, abrimos a
possibilidade para a compreensão de como conduzimos as nossas descobertas e
traçamos nossos questionamentos. Esperamos que, com base nessa pesquisa,
outras surjam para contribuir com o universo do esporte, da integração, das
atividades esportivas adaptadas, das políticas públicas sociais, e que esta
iniciativa de inserção de provas adaptadas possa vir a ganhar muitas outras
dimensões além daquelas que vislumbramos.
J3
3 NATAÇÃO
3.1 Aspectos gerais da natação
Historicamente, a água foi o ambiente propício para o desenvolvimento da
vida e, com o surgimento do homem, ela foi e continua sendo utilizada tanto como
meio, quanto como objeto para diferentes propósitos. Nessa relação do homem
com a água surgiu o ato de nadar em várias culturas, como nos mostra Navarro
(1995), dando o exemplo dos egípcios (3000a.C.), dos gregos, dos fenícios, dos
japoneses (38 a.C.), entre outros. A natação como modalidade esportiva
organizada surgiu há apenas 150 anos, conforme Colwin (2000).
Apesar dos bebês humanos até determinada faixa etária apresentarem
movimentos "natatórios" harmonizados e coordenados (Catteau, Garoff, 1988) e
"reflexo de bloqueio da respiração", o qual faz com que não engulam e nem
aspirem água quando as vias respiratórias externas (boca, nariz) são molhadas
(Bresges, 1980; Pérez et ai., 1997), deve-se também considerar que a
motricidade aquática é diferente da terrestre, sendo que o meio líquido não é o
habitat natural humano (Velasco, 1994). De acordo com Colwin (2000, p.1),
somos
"seres "eminentemente terrestres", nossos
movimentos de natação iniciais são rústicos,
comparativamente ineficazes e longe de uma
verdadeira eficiência na água. A verdade é que a
natação é tanto um esporte adotado quanto
adaptado pelos humanos".
Feitas essas observações quanto às suas origens e à sua conexão com a
humanidade, além de alguns aspectos motores básicos da modalidade,
percebemos na natação, com base na literatura pesquisada, a existência de dois
grandes blocos. Há primeiramente aquele que trata dos princípios e bases da
modalidade (a natação convencionaf), com uma bibliografia que aborda a didática
14
e a pedagogia da natação, normas de segurança para atividades aquáticas,
técnicas de salvamento, a higiene, o aspecto hidrodinâmico, as bases fisiológicas,
o processo de iniciação, aperfeiçoamento e treinamento (Counsilman, 1971;
Navarro, 1978 e 1995; Maglischo, 1986; Catteau, Garoff, 1988; Palmer, 1990;
Reischle, 1993; Reis, 1987 e 1997; Rouse, 1997; Guzman, 1998; Colwin, 2000;
Makarenko, 2000). Há um outro tipo de obras que trata das questões que não são
comumente abordadas na bibliografia anterior, formando assim uma literatura
específica na qual os autores, baseados nos princípios da natação, apresentam
temas que ampliam o campo de pesquisa e ação da área, como natação para
portadores de deficiências ou natação adaptada (Meier, 1981; Lehmann, 1984;
Escobar, Burkhardt, 1985; AST, 1986; Damasceno, 1992; INSERSO, 1994;
Archer, 1998), natação para a terceira idade (Pável, 1992), para bebês (Bresges,
1980; Damasceno, 1994; Pérez et ai., 1997), para problemas comuns da coluna
vertebral (Jiiménez, 1998). Há ainda estudos que abordam a relação entre
natação e psicomotricidade (Reis, 1987 e 1997; Velasco, 1994), ou que analisam
a natação no contexto histórico-pedagógico brasileiro (Araújo Junior, 1993).
3.2 Natação convencional
Ao longo dos tempos, os modos de aprendizagem da natação foram
sofrendo influências dos intentos da prática, de acordo com a época e o local, e
aperfeiçoamento de técnicas, até se chegar ao que existe atualmente. Pode-se
verificar, através dos estudos de Navarro (1978), Colomina (1985), Catteau,
Garoff (1988), Reischle (1993) e Pérez et a1.(1997), que a didática, a pedagogia e
as técnicas dessa modalidade evoluíram muito neste último século.
De acordo com Colwin (2000), a partir de descobertas feitas por pesquisas
científicas como as de Counsilman (em 1968, 1969 e 1971 ), as de Counsilman &
Brown (em 1970) e as de Schleihauf (em 1974, 1977, 1979), a teoria de propulsão
e o ensino da mecânica da braçada dos diferentes estilos modificou-se. As teorias
de propulsão hidrodinâmica baseadas nas leis da Física foram mais bem
15
exploradas, o que anteriormente não ocorria, pois predominavam exclusivamente
juízos de caráter empírico, ou seja, técnicas desenvolvidas sem o aproveitamento
mecânico ideal (Maglisho, 1986).
Esses estudos enfocando problemas "comuns" da natação e seus atletas
não-PPDs foram reconhecidos em todo o mundo e modificaram o ensino da
natação, impulsionando outras pesquisas em âmbitos diversos, desde a iniciação
desportiva até o treinamento de alto nível (Maglischo, 1986).
De acordo com autores como Reischle (1993) e Makarenko (2000), o
desenvolvimento de áreas afins como a fisiologia, a biomecânica, a psicologia, a
pedagogia, a nutrição, entre outras, somado aos avanços tecnológicos de
materiais e dos métodos de observação, avaliação e pesquisa, tem influenciado
diretamente nos procedimentos e resultados da natação, principalmente a
competitiva.
Navarro (1978) e Pérez et ai. (1997), autores que representam algumas
das concepções pedagógicas mais recentes sobre a natação, defendem que um
método de ensino dessa modalidade, mais que fazer do aprendiz um bom
nadador, deve inclusive levar o aluno a poder acumular experiências de suas
vivências que enriqueçam e contribuam para sua melhor educação integral.
Navarro (1995) sustenta que o ensino atual da natação tem de levar em conta
todos os componentes sensoriais e motores do aluno, bem como aqueles
elementos que influenciam no todo.
Esses autores preconizam também que o ensino de natação deve estar
compatível com o ponto de vista psicológico e pedagógico de cada idade, e que
sempre se deve evitar que as falhas se tornem hábitos, pois é muito mais dificil
reeducar do que educar, além de que se corre o risco de o aluno nunca atingir um
bom nível de habilidade. Para Feijó (1992), aprender é perceber. Quanto mais
correta a percepção, ou seja, organização e interpretação das sensações através
dos recursos mentais, mais adequada e coerente é a ação. E a ação será
dependente tarnbém da informação transmitida.
16
A bibliografia aqui pesquisada enfatiza que o básico para a aprendizagem
da natação é o domínio do corpo na água [a adaptação] e o bom desenvolvimento
das etapas de respiração, flutuação e propulsão. Esses pontos são destacados
normalmente e estão presentes em livros de natação (convencional ou não),
facilitando a conexão com distintas áreas de conhecimento. A tríade das etapas
está sempre presente conjuntamente em qualquer fase da natação; o que difere
as fases é a intensidade, a freqüência e o objetivo com que a tríade é trabalhada
em cada uma (Navarro, 1978 e 1995).
Para obter o domínio do corpo na água é preciso um processo de
adaptação ao novo meio. Segundo Reis (1987), essa fase consiste na adaptação
à pressão, ao empuxo, à resistência, à excitação provocada pela temperatura
mais baixa e pela presença de líquido nos orifícios da cabeça (nariz, boca,
orelhas, olhos), além do domínio dos reflexos do fechamento das pálpebras ao
mergulhar o rosto na água e controle da posição da cabeça, que modifica a
posição do corpo.
O autor também relaciona nesta fase o conhecimento e a utilização das
propriedades físicas do meio líquido. Este processo, também conforme outros
autores como Catteau, Garoff (1988) e Lehmann (1984), requer total segurança,
atenção a tudo, compreensão de que a água é um meio estranho ao aluno e que
por isso exige muito cuidado, paciência e habilidade para se lidar com os medos e
inseguranças por parte do aprendiz, atenção e alegria para aproveitar cada
situação e transformá-la num momento prazeroso, criativo, de aprendizagem e
incentivador às novas práticas. Segundo Palmer (1990), as primeiras incursões
em um mundo novo e excitante devem ter um efeito duradouro e positivo.
A bibliografia sobre a aprendizagem da natação normalmente aborda, com
bastante ênfase, a respiração, pois esta influencia todas as fases. Navarro (1995),
por exemplo, escreve que é importante aprender a respirar na água com a
finalidade de nadar. Catteau, Garoff (1988) esclarecem que, para tentar
solucionar o problema de sincronismo nos movimentos motores, deve-se observar
com cuidado a respiração, pois esta é específica, limitada e limitante. Maglischo
17
(1986) pontuou erros comuns da respiração dos nadadores e suas conseqüências
no equilíbrio dos nados e no desempenho nas competições. Reis (1987) enfatiza
que é na fase de aprendizagem que as falhas devem ser sanadas, gastando-se
muito tempo em exercícios que facilitem a aquisição de cadência e ritmo
respiratório. Para Lehmann (1984,p.62), "todo o exercício em natação é um
exercício de controle respiratório."
A flutuação é a propriedade que tem um corpo de manter-se à superfície de
um líquido, sem que seja auxiliado (Mazarini, 1992). Varia segundo idade, sexo,
quantidade de tecido adiposo, constituição óssea, massa e tônus muscular, bem
como segundo o tipo de água (salgada ou doce), o tipo de ambiente (se é rio, mar
ou piscina) e, ainda, segundo a profundidade e o volume d'água
(Catteau,Garoff, 1988; Navarro, 1995).
A flutuação pode ser entendida como um tipo de equilíbrio. O equilíbrio
está presente em todas as fases da natação, ou seja, a adaptação, a propulsão,
as técnicas de movimentos e os estilos dependem dele. O equilíbrio é estático ou
dinâmico e varia de acordo com a posição da cabeça, das pernas e braços,
através dos quais se pode modificar a flutuação (Reis, 1987). Esta pode ser
vertical, lateral ou horizontal {decúbito ventral ou dorsal). O Princípio de
Arquimedes é igual para qualquer corpo submerso, ou seja, o corpo submerge até
que o peso do volume de água deslocado seja igual ao peso do corpo (Reis, 1987;
Catteau,Garoff,1988; Reischle,1993). Logo, o corpo está sujeito á ação de duas
forças iguais e em sentidos contrários (a gravidade e o empuxo) e só alcança o
equilíbrio estático quando as mesmas se anulam. A flutuação horizontal vai
depender também de essas duas forças estarem aplicadas num mesmo ponto
coincidente, pois, caso contrário, a posição verticalizar-se-á. Já o equilíbrio
dinâmico requer domínio corporal nas diversas posições em movimentos
seqüenciais (Navarro, 1978 e 1995; Pável, 1992).
A recuperação de uma posição é um dos procedimentos de segurança que
são ensinados na fase de aprendizado. Em geral, está associada a alguma
rotação e é muito importante no aprendizado de mudanças e manobras com
18
segurança dentro da água, bem como a todo processo de adaptação (AST, 1986;
INSERS0,1994). Para Escobar,Burkhardt (1985), além de o equilíbrio ser
fundamental para a capacidade de aquisição de novas experiências e
informações, o domínio do equilíbrio nas posições estáticas e dinâmicas é aquele
responsável por completar o esquema corporal. Segundo os autores, o meio
aquático propõe um singular desafio à capacidade de nos equilibrarmos, pois
exige novas referências espaciais, sensações cinestésicas, domínio dos reflexos
e controle emocional.
A propulsão implica na adaptação humana ao meio aquático de maneira
completa, por isso é importante que o professor estimule o aluno a exercer auto
controle sobre as suas sensações para que perceba que ele empurra a água para
trás (Navarro, 1978). Para Reis (1987) (baseado na terceira lei de Newton -lei de
ação e reação), a propulsão é a reação de apoio provocada pela resistência que
as mãos e os pés encontram na água.
Segundo Catteau,Garoff (1988), o nadador, para se manter em movimento
deve constantemente usar sua própria força muscular, pois ele deve criar e utilizar
eficientemente os apoios motores e ao mesmo tempo reduzir ao máximo possível
a resistência ao avanço. O nadador desloca-se em função da massa de água que
projeta atrás de si e depende da postura que seu corpo assume em
deslocamento, da relação funcional dos eixos anatômicos (transversal e
longitudinal), da eficiência da ação propulsora de braços e pernas, da amplitude
dos movimentos, do sincronismo com a respiração, das variações da velocidade,
da cadência e da continuidade das ações motoras (Escobar,Burkhardt, 1985).
Navarro (1978) e Catteau,Garoff (1988), descrevendo a evolução histórica
da pedagogia da natação, destacam três correntes fundamentais:
• Global, a mais antiga das três. Inicialmente não se utilizava de
técnica pedagógica, formalização da técnica e análise de problemas. O nadar era
praticamente instintivo, ocorrendo uma adaptação orgânica. Hoje consiste num
método de explicação/demonstração da habilidade completa, que se inicia numa
19
versão simplificada e, conforme o domínio, vai ampliando o nível de detalhe do
movimento (Colomina, 1985).
• Analítica, oposta à anterior. Base da escola militarista, sua
abordagem determina que toda ação tem uma razão e uma forma específica que
pode ser reproduzida. Todos os gestos motores eram decompostos e, a partir
desse enfoque, desenvolveu-se a criação de educativos - exercícios próprios que
visem a correção de um ou mais gestos ou movimentos coordenados. Hoje
consiste em ensinar uma destreza motora por partes, para depois uni-las entre si
(Xavier, 1986). Colomina (1985) aborda três variações da corrente analítica (ou
parcial), que são: o parcial puro, analítico-progressivo e encadeamento. E ainda
hà o que alguns autores chamam de método misto ou global-analítico-global, que
se utiliza do global como base e do analítico como alternativa.
• Sintética (ou moderna), uma concepção pedagógica mais recente e
mais racional. São utilizadas variadas estratégias de ensino aumentando as
perspectivas pedagógicas, bem como contribuições extraídas de diversos
métodos técnicos e de outras ciências, como psicologia, pedagogia, biologia, etc.
Esta corrente é baseada no feedback, podendo ser analisada e retomada dos
pontos de insucesso, sendo assim reestruturada. Está em constante
experimentação e evolução. A aprendizagem dá-se baseada no trabalho
simultâneo da respiração, flutuação, propulsão e seus aprofundamentos (Navarro,
1978; Catteau,Garoff, 1988).
Para Colomina (1985) essas correntes são as que determinam as bases
dos variados métodos de ensino de natação, como o da Cruz Vermelha
Americana (analítico-progressivo, cujo objetivo predominante é o utilitário); o
lnfaquatics (analítico-progressivo, com objetivo semelhante ao anterior); Catteau e
Garoff (sintética, com objetivo utilitário, educativo e competitivo); Associação
Cristã de Moços - YMCA (analítico-progressivo, com rápidas introduções de
exercícios globais e objetivo utilitário, competitivo e recreativo); "mãos e pés" ou
Silvia (global, com objetivo utilitário e educativo); Corlett {global e analítico
simultaneamente, com objetivo utilitário, recreativo e competitivo); entre outros.
Segundo Navarro (1978; 1995), a preocupação pedagógica é maior com a
repercussão do esporte na personalidade do indivíduo do que no seu organismo.
20
A prática desportiva deve estar ligada ao bem-estar, ao bem viver e á saúde,
independente da modalidade. O esporte contemporâneo tem como uma de suas
tendências a volta à natureza, e a natação enquadra-se bem dentro desse apelo.
O objetivo da natação não deve ser o de o aluno ser apenas um bom nadador, e
sim que todo processo de ensino-aprendizagem o enriqueça e contribua para sua
melhor educação integral.
Catteau,Garoff (1988) afirmam que para aprender a nadar a pessoa pode
estar em situação individual ou coletiva, com seqüências de situações fortuitas e
anárquicas (auto-aprendizagem) ou com seqüências de situações organizadas e
sistematizadas pelo professor, a partir de uma formalização técnica (ensino); o
que acaba por diferenciar o aprendizado é a qualidade do processo.
Feijó (1992) acredita que o educador e seu ensino são catalisadores de
recursos do aluno. Aprender, para ele, está intimamente ligado à percepção, que
é a elaboração das sensações. E através do processo perceptivo que a
personalidade instrumentaliza o conhecimento; a falta de percepção, portanto,
impede a compreensão. Entendemos, assim, que qualquer aluno deve ser
cuidadosamente estimulado dentro do processo de ensino-aprendizagem, para
que possa usufruir ao máximo de todas as possibilidades e benefícios que cada
modalidade oferece, inclusive a natação.
Nossa reflexão sobre natação, após o resgate desses autores, aponta para
se trabalhar as técnicas adequadas dos nados às condições biopsicossociais do
indivíduo, fazendo uso de métodos que proporcionem o aproveitamento integral
do aluno, possibilitando que ele tenha maior oportunidade de desenvolver-se
amplamente dentro da modalidade, tendo inclusive a possibilidade de atingir o
nivel de alto rendimento, se este for seu objetivo. São essas, na nossa
compreensão, as bases que devem nortear o trabalho na natação de forma geral,
não importando que o aluno seja ou não PPD.
21
3.3 Natação adaptada
As atividades aquáticas vêm sendo utilizadas ao longo dos anos para o
desenvolvimento de objetivos diversos, como educacional, utilitário, esportivo,
recreacional, terapêutico e de relaxamento (Catteau,Garoff, 1 988). Na natação, de
acordo com Adams et ai. (1985), as PPDs nadavam exclusivamente com
propósitos terapêuticos. Escobar,Burkhardt (1 985) escrevem que o uso de
exercícios terapêuticos na água é mencionado desde a Antigüidade, por autores
como Aureliano (Roma Antiga no final do século V), que faz a recomendação da
prática de natação no mar ou em nascentes quentes. O médico Jaques Delpech,
no início do séc. XIX, enfatizava o valor da natação no tratamento dos males que
acometem a coluna vertebral. Skinner,Thomson (1985,p1) ressaltam:
"Não existe evidência muito nítida sobre quando a
água foi utilizada pela primeira vez para
finalidades curativas, mas é sabido que
Hipócrates (c.460-375AC) empregava água
quente e fria (banhos de contraste) no tratamento
de doenças. A água para finalidades recreacionais
e curativas era amplamente utilizada pelos
romanos."
Apesar dos relatos demonstrarem, desde os romanos, a popularidade das
atividades na água, seu desenvolvimento foi prejudicado durante séculos pela
idéia de que o ambiente aquático favorecia a disseminação de epidemias.
Somente a partir da metade do século XIX, a natação começou a progredir como
desporto, vindo a fazer parte da história das competições desportivas desde 1837
(FINA, 1 998). Já a natação como modalidade competitiva para a PPDF, foi
introduzida no ano de 1960, pelo Dr. Guttmann, primeiramente nos eventos de
esportes adaptados de Stoke Mandeville (Adams et ai., 1985).
Na revisão de literatura sobre natação adaptada, verificamos que essa se
direciona quase que por completo para objetivos terapêuticos, recreativos e
utilitários, fazendo geralmente menção ao aproveitamento desportivo, mas sem
desenvolvê-lo plenamente, como ocorre na natação convencional.
22
Entre as obras voltadas mais especificamente para a PPDF, encontramos a
preocupação com os fundamentos da natação, ou seja, a adaptação ao meio
liquido e o desenvolvimento da tríade (respiração, flutuação e propulsão), porém
apresentam diferenças na ênfase ou filosofia do trabalho. Alguns autores, como
Velasco (1994) em seu livro Habilitações e reabilitações psicomotoras na água,
relacionam psicomotricidade, natação e PPD, atendo-se aos aspectos
psicomotores da atividade na água como um meio para a iniciação e
aprendizagem. Em O esporte na paraplegia e na tetraplegia, Souza (1994) volta
se para os lesados medulares, discorrendo sobre diversos assuntos relacionados
com a LM e o esporte, mencionando somente no último capítulo a aplicação da
natação desde a fase de terapia e reabilitação, abordando cuidados, contra
indicações e vantagens, fazendo uma menção à possibilidade da escolha
posterior da prática desportiva, sem aprofundar essa reflexão.
Natação para deficientes (AST, 1986) baseia-se no método de natação
Halliwick, específico para diversas deficiências motoras, desenvolvendo desde a
adaptação até a iniciação da natação, abordando as várias deficiências com as
quais trabalha, propriedades físicas da água, medidas de segurança e manuseio
com as PPDs, jogos aquáticos, avaliação do trabalho realizado e sugere como
formar um clube social para PPDs. Não dá, porém, prosseguimento aos outros
aspectos da modalidade de natação, como a preparação técnica do aluno para o
desporto.
Jogos, esportes e exercícios (Adams et ai., 1985) é um livro que procura
ser bastante completo no que se refere à descrição de patologias mais comuns no
trato com a PPD e ao trabalho físico-esportivo com as mesmas, abordando
diversas atividades físicas e modalidades esportivas. Possui um capitulo
estruturado sobre o método aquático da Cruz Vermelha Americana, adaptado
basicamente para deficiências motoras; porém, não aborda a natação adaptada
de maneira a incluir os pressupostos esportivos da natação convencional da
mesma forma e com a mesma ênfase.
23
Atividade física para deficiente (Meier, 1981} é um livro que traz um resumo
de algumas modalidades esportivas e suas aplicações práticas iniciais, fazendo
uma abordagem mais generalizada sobre a PPD e falando sobre patologias,
cuidados, exercícios físicos e jogos. Com relação á natação para PPD, apresenta
um capitulo, com base na Escola Suíça de Natação, que propõe a aula de
natação adaptada na mesma concepção da aula convencional e não apenas
como terapia, buscando o prazer da execução aliado á técnica e correções
adequadas ao nível de habilidades. Meier não desenvolve, no entanto, o tema de
maneira mais aprofundada. Aborda, apenas, algumas patologias, com suas
características, necessidades, cuidados na água, exercícios, alguns
procedimentos da natação, regras e noções metodológicas.
Ensino da natação a deficientes motores (Lehmann, 1984} é um livro que
traz a importância da prática da natação por deficientes físicos e visuais visando
ao desenvolvimento de habilidades aquáticas voltadas inclusive para a
competição, pois defende que um esportista, independente de ser ou não
deficiente, traz consigo aspectos psicológicos como a vontade de superar a si
próprio que, muitas vezes, pode levar à superação de variados obstáculos,
gerando como conseqüência uma possibilidade maior de reinserção social.
Lembra que o direito à pratica desportiva é comum a todos e afirma que a
natação como atividade física permite uma melhor utilização das capacidades
motoras existentes, podendo conduzir o indivíduo a uma maior autonomia
funcional e a uma readaptação social. Porém, como sua preocupação primordial é
com a formação do profissional que vai trabalhar a PPDF na água, o autor
procura abordar a adaptação e a triade da natação aplicadas a quadros motores e
a patologias específicas, para que o profissional que venha a trabalhar com
natação adaptada tenha um conjunto de informações essenciais para conduzir o
trabalho. Baseia-se na Escola Francesa de natação, no entanto, apesar de
difundir a prática esportiva para PPD, não desenvolve as fases de
aperfeiçoamento dos nados e treinamento esportivo como na natação
convencional.
24
Natação para portadores de deficiências, de Escobar,Burkhardt (1985),
aborda os cuidados necessários ao trato com o deficiente e aspectos
psicopedagógicos do trabalho, estabelecendo uma relação entre a natação e a
psicomotricidade e procurando trabalhar as expectativas da natação para a PPD.
Os autores, ao tratarem da natação competitiva, atestam a falta de literatura a
respeito de treinamento esportivo específico para a área, a falta de treinamento
regular para a PPD, de forma geral evidenciada nas competições próprias, e o
inadaptado uso das técnicas em relação à capacidade funcional das mesmas.
Apontam para a necessidade de uma reforma curricular das escolas de Educação
Física, com relação à formação profissional de pessoas para conduzir o processo
de treinamento esportivo para a PPD de forma científica; porém, também não
desenvolvem um trabalho para essa aplicação.
Actividades Acuaticas para la Rehabilitacion de Minusvalidos
(INSERS0,1994), baseado no método adaptado da Cruz Vermelha Americana,
traz um programa de aprendizagem básica da natação, ensinado na Universidade
de Rhode lsland, apresentando a natação como um instrumento de integração
social e desenvolvimento das capacidades de pessoas com encefalopatias
crônicas, paraplégicos e idosos. Não trata do desenvolvimento das técnicas para
o aspecto competitivo da modalidade.
Ao tratarmos da natação adaptada, nosso foco central de estudo tem sido a
PPDF por permitir-nos aliar os conhecimentos acadêmico-científicos àqueles
provenientes de experiências práticas, através de uma revisão bibliográfica na
qual verificamos que o caráter competitivo, apesar de sua importância, não vem
sendo tratado adequadamente pela literatura da área, que mantém o predomínio
do enfoque terapêutico, recreativo e utilitário na abordagem da modalidade, não
favorecendo, conseqüentemente, uma maior interface da natação adaptada com
a convencional e até a possibilidade de aulas integradas.
Os livros relacionados até aqui abrangem a deficiência física, destacando
também algumas vezes aspectos relativos aos diversos tipos de deficiências,
aplicados à natação. As obras que citaremos abaixo, embora não tratem da
deficiência física, fazem parte do universo da natação adaptada além de
25
apresentarem alguns pressupostos e pontos coincidentes com aqueles já
apresentados.
Natação, psicomotricidade e desenvolvimento, de Damasceno (1992),
relaciona natação, psicomotricidade e deficiência mental num experimento sobre
desenvolvimento psicomotor, a partir da aplicação de um programa experimental
de iniciação em natação com portador de deficiência mental e Síndrome de Down.
Natação adaptada: metodologia de ensino dos estilos crawl e peito com
fundamentação psícomotora para alunos Síndrome de Down (Archer, 1998)
sugere uma metodologia de ensino de natação específica para alunos portadores
de Síndrome de Down, baseando-se na aplicação dos princípios psicomotores e
abordando aspectos educacionais da natação voltada para essa população alvo.
Natação para crianças portadoras de deficiência visual: uma proposta de ensino,
de Mazarini (1992), traz uma proposta de trabalho sobre a iniciação na prática de
natação aplicada a crianças portadoras de deficiência visual, relacionando
aspectos da natação convencional, preparo do professor para aulas com esta
população, cuidados necessários e informações próprias sobre a deficiência
visual.
Todas essas obras, em termos pedagógicos, assemelham-se áquelas
voltadas para o ensino da natação convencional, no qual a preocupação é a de
que a natação venha a contribuir para a formação do indivíduo, proporcionando
uma aprendizagem segura e rica em oportunidades de vivência motora e social.
Metodologicamente, observamos que as idéias que norteiam a prática da
natação para a PPDF mais difundidas estão baseadas nos métodos de Halliwick e
da Cruz Vermelha Americana adaptada. Ambos enfatizam a segurança
necessária para ocorrer a atividade e tornar o aluno apto a deslocar-se
seguramente no meio aquático. Empregam profissionais de diversas áreas que
possam trabalhar com a água, como os da Educação Física, os da área de Saúde
e de voluntários treinados. Suas bases são as mesmas da natação convencional,
fazendo uso das propriedades da mecânica de fluídos e das técnicas de
empunhaduras e manuseios para cada tipo de deficiência (Skinner,
Thomson, 1985). Justificam seus benefícios pelas qualidades terapêuticas da
água, bem como pelos próprios efeitos da atividade física sobre o corpo e seus
26
resultados biopsicossociais. O aspecto recreativo, ou seja, o usufruto das
atividades na água, é importante para ambos os métodos, assim como o utilitário
também. Diferem na utilização ou não de dispositivos e equipamentos, como
também na condução das aulas, fazendo menção ao aproveitamento desportivo,
porém sem desenvolvê-lo aprofundadamente.
Esses dois métodos têm muita importância no desenvolvimento da natação
adaptada e constituem-se nos seus fundamentos; porém, percebemos que ambos
enfatizam o aspecto utilitário, recreativo e terapêutico da natação, não priorizando
o ensino técnico do gesto desportivo o mais adaptadamente possível, limitando
suas possibilidades de aplicação bem-sucedida á iniciação desportiva. Como não
tivemos acesso à quantidade suficiente de informações sobre os métodos da
Escola Suíça e da Escola Francesa aplicados à natação adaptada, fica
compreendido que esses se utilizam das noções de segurança e de recursos
humanos dos métodos de Halliwick e da Cruz Vermelha Americana adaptada.
Diferentemente dos dois anteriores, procuram não apresentar o enfoque
terapêutico como sendo o principal objetivo durante as aulas. Entretanto, não
esclarecem a progressão pedagógica dentro das técnicas dos nados e nem
estabelecem como objetivo que o aluno desenvolva um nível técnico que lhe
permita a escolha de uma prática competitiva de alto rendimento, apesar de
apontarem para a natação competitiva (Meier, 1981; Lehmann, 1984 ).
Acreditamos que o uso de uma metodologia na qual o gesto motor deva ser
ensinado adequadamente, dentro das bases mecânicas do nado, ajustado a cada
circunstância, desde o início da aprendizagem, para que se reduza a possibilidade
de instalação de vícios e as dificuldades advindas deste processo (como a não
utilização ampliada do potencial esportivo do indivíduo), vale para o trabalho com
qualquer população. Essa visão pode propiciar aulas com caráter de integração,
ou seja, aulas com a participação de alunos portadores de deficiência juntamente
com os que não o são, pois o objetivo geral será o mesmo para ambos. Isso
poderia ocasionar, como conseqüência natural a médio e longo prazos, o
cumprimento das adaptações necessárias para a acessibilidade da PPD aos
locais públicos onde ocorrem as aulas, os treinos e as competições (hoje
previstas em lei, porém não cumpridas integralmente), contribuindo até para a 27
realização de futuros campeonatos estruturados com provas para ambos,
respeitando-se integralmente as peculiaridades de cada área de atuação.
3.4 Aspectos relevantes conseqüentes
da prática da natação
Baseado em autores como Pável (1992), Navarro (1995), Archer (1998),
entre outros, compreendemos que existem diferentes razões para se praticar a
natação: desfrutá-la, por ser um bom exercício, gerar bem-estar, ser divertida,
competitiva e terapêutica. De acordo com a literatura da natação pesquisada,
tanto a convencional quanto a da área adaptada proporcionam diversos
beneficios a seus praticantes, tais benefícios, muitos são comuns a ambas.
Segundo Pável (1992), há aumento da flexibilidade e elasticidade da
musculatura trabalhada. Para Reis (1987), gera-se melhoria da coordenação de
movimentos a partir de sensações e percepções decorrentes da prática da
natação. De acordo com Maglischo (1986), ocorre aumento da capacidade de
funcionamento do sistema cardiopulmonar, gerando maior aporte sangüíneo para
o corpo e, conseqüentemente, maior trabalho fisiológico.
De acordo com Catteau,Garoff (1988), uma das propriedades do tecido
muscular é a de reagir a um certo número de estimulações, e o meio aquático
proporciona diversos estímulos com características mecânicas, térmicas,
químicas, acústicas, ópticas, de influxo nervoso levados aos músculos pelos
nervos motores. O trabalho realizado na água é capaz de gerar efeitos fisiológicos
em qualquer pessoa, independente de ser ou não deficiente. Para Adams et ai.
(1985) e AST (1986), outro ponto a ressaltar é a capacidade de se fazer um
trabalho tanto de relaxamento como de tonicidade muscular, de acordo com as
necessidades do indivíduo. Souza (1994) afirma que a natação pode contribuir
para a redução da espasticidade, problema este relacionado com a deficiência
física.
28
Freqüentemente, a atividade aquática é indicada também por outras áreas
como medicina e fisioterapia, com o objetivo terapêutico, já que a bibliografia
referente a essas áreas aborda principalmente o aspecto da patologia, o
tratamento necessário e suas precauções, os benefícios da água, bem como as
impossibilidades decorrentes da deficiência em si (Rowland, 1984; Skinner,
Thomson, 1985; Okamoto, Phillips, 1990; Wyngaarden et ai., 1993).
Vemos em Piaget (apud Velasco, 1994) que o indivíduo trabalha sua
percepção corporal a partir das suas reações e sensações cinestésicas e pelas
respostas do meio às suas ações. O meio aquático é um meio rico para esse tipo
de vivência e propício para que a pessoa organize as informações e sensações
recebidas em seu cérebro, transferindo-as para o movimento realizado na água,
enriquecendo suas experiências motoras (Velasco, 1994).
Navarro (1995) destaca os baixos riscos de lesão e a sensação de bem
estar devido às substâncias químicas liberadas após uma atividade física.
Segundo AST (1986), essa sensação de bem-estar influencia positivamente na
autoestima, na imagem corporal e até na postura de vida das pessoas que
praticam natação. De acordo com Mazarini (1992), esses elementos são
fundamentais para o desenvolvimento social da pessoa.
Para Mazarini (1992), o meio líquido oferece aos seus usuários
oportunidades de executarem livremente os mais diferentes movimentos, graças à
flutuabilidade do corpo, estimulando amplamente seus sentidos de percepção. A
liberdade de movimento no caso dos deficientes físicos pode estar diretamente
associada ao contato corporal num meio que não utilize os implementas, os quais
são imprescindíveis para estarem de uma maneira mais ativa em outro meio,
como é o caso da cadeira de rodas, muletas, entre outros (Meier, 1981 ). De
acordo com a AST (1986), essa liberdade de movimentos pode possibilitar a auto
superação, muitas vezes, para aqueles que são "limitados" em terra firme. Como,
por exemplo, uma pessoa que tenha adquirido uma lesão medular completa no
nível cervical-alto, caracterizando uma tetraplegia de seqüelas graves na parte
motora dos seus membros superiores e inferiores, na parte respiratória e
29
controles esfincterianos. Sua locomoção poderá se dar através de uma cadeira de
rodas com o auxílio de uma outra pessoa, constantemente, e ainda, para prevenir
deformidades nas articulações das extremidades, deve fazer uso de calhas, que
são aparelhos ortopédicos, nos pés e nas mãos. Esta pessoa, dentro da água na
prática da natação adaptada, poderá adquirir a independência de movimentos e
aprender a nadar conforme os princípios da modalidade com as adaptações
necessárias ao seu desenvolvimento, visando inclusive às razões citadas
anteriormente.
De acordo com Davidoff (1983), a "adaptação social" de uma pessoa acaba
sendo influenciada pelas suas experiências com outras pessoas. Esse raciocínio
pode ser estendido para a PPD, pelo efeito decorrente de situações de convívio
social desta com outras pessoas, inclusive as PPDs que estão em estágios
diferentes de independência, têm outros graus de deficiência, diferentes níveis
socioculturais, desportivos, etc.
Em seu trabalho sobre natação para crianças portadoras de deficiência
visual, Mazarini (1992) afirma que há um destaque para a abrangência da
natação como atividade física e formativa, podendo agir como modificadora de
comportamento, pois há uma íntima ligação da natação com o lado emocional do
aluno, como no que diz respeito à questão do medo, normalmente presente nos
primeiros contatos do aluno com a água, e sua superação. O iniciante deverá
estabelecer uma relação de confiança com o profissional. Os indivíduos
envolvidos no processo da aula precisarão dar a si a oportunidade do contato
corporal e existencial na água, consigo e com os outros, para que ampliem seus
conhecimentos - inclusive sobre a deficiência (possibilidades, dificuldades,
perspectivas)- a partir da própria prática, podendo redimensionar seu corpo, sua
postura de vida e alargar seus horizontes de existência (AST,1986). Com um
aprendizado adequado, esse aluno poderá ter uma grande possibilidade de
prática dessa atividade em qualquer situação, como escola, academia, eventos, e
com todo o tipo de indivíduo, sem que a sua deficiência seja um fator limitante ou
que o diferencie para o usufruto da natação.
30
Ademais, o profissional deverá estar disponível física, afetiva e
psicologicamente para se permitir interagir com o aluno na aula (Freire, 1989). O
professor deve estar qualificado para poder utilizar, segundo Escobar,Burkhardt
(1985, p.1),
" ... o movimento humano como meio pedagógico
para estimular o desenvolvimento do Homem, de
uma forma que lhe permita se conhecer e aceitar
se a si mesmo e ajustar sua conduta às
exigências do meio social".
E quem sabe até vir a modificá-las ...
A natação, como uma modalidade desportiva considerada de grande
utilidade por proporcionar benefícios orgânicos e sociais, se bem desenvolvida,
segundo o ponto de vista de Pável (1992), provoca uma grande procura por um
número expressivo de pessoas. As aulas de natação, tanto adaptada como
convencional, oferecem um novo ambiente social, vivência de situações que são
importantes na formação do indivíduo- como ganhar e perder- circunstâncias de
aprendizagem diversificadas - como aulas individuais e em grupo - uma gama de
informações que passam pelas regras básicas do esporte à prática da modalidade
como um todo, pela aquisição de novos hábitos e gestos motores, pelas trocas
interpessoais e muitos outros fatores motivacionais.
Sendo o ato de nadar algo cuja realização depende de que haja um
aprendizado por parte do homem (Navarro, 1978), saber ou não saber nadar é
independente da pessoa ser ou não portadora de alguma deficiência. No meio
aquático, conforme Escobar, Burkhardt (1985),
" ... desaparecem de forma notável as barreiras
que às vezes marginalizam o deficiente, como
cadeira de rodas, bengalas, próteses, muletas.
Dentro d'água, aquele que vive a dependência
passa a experimentar o prazer da autonomia. "
(Escobar,Burkhardt, 1985, p.iv)
Isso cria entre os participantes uma condição menos marcada pela
deficiência, o que se distingue da prática comum de outras atividades realizadas
31
fora desse meio, cujas diferenças e barreiras existentes, ainda limitam - e muito
- a participação da PPD, diminuindo assim ainda mais sua possibilidade de
integração e reinserção social.
Entendemos que o trabalho com a natação traz uma condição menos
determinada pela deficiência, facilitando a adoção de um caráter integrador nas
suas aulas e treinos e podendo, inclusive, trazer como conseqüência uma maior
espontaneidade na realização de eventos e competições que incluam provas
adaptadas, sem que para isso tenha-se necessariamente que fazer valer o que
está previsto em lei.
3.5 Classificação da natação adaptada
Para abordarmos a problemática da classificação faz-se necessário trazer
alguns dados cronológicos da evolução do esporte adaptado. Utilizaremos a
natação como base para falar da classificação, exatamente por ter sido escolhida
como um dos pilares teóricos do nosso trabalho e também por apresentar uma
real aplicação no nosso estudo de caso.
O primeiro programa organizado de esportes em cadeira de rodas ocorreu
na Europa em 1948, pelo empenho do Dr. Ludwig Guttmann (Adams et ai., 1985).
Em 1952 aconteceram os primeiros jogos internacionais para deficientes físicos
na Inglaterra, onde foi criada a primeira organização internacional de esportes, a
Federação Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville [ISMGF] - mais tarde
denominada Federação Internacional de Esportes em Cadeira de Rodas de Stoke
Mandeville [ISMWSF]. Inicialmente, a Federação contemplava os portadores de
LM, completa e incompleta, e posteriormente passou a ser integrada por pessoas
portadoras de POLIO e alguns AMP (Adams et ai., 1985). A ISMGF regulamentou
a natação competitiva para a PPDF, adaptando as regras da Federação
Internacional de Natação Amadora [FINA] e criando/aplicando o seu sistema de
32
classificação, para que essas diferentes patologias e quadro motores
competissem entre si em condições equivalentes (Biomqwist, 1988).
Durante o processo de desenvolvimento dos esportes em cadeira de rodas,
os portadores de outras patologias as quais também caracterizam a deficiência
física, mas que não faziam parte dessa agremiação, foram formando suas
próprias associações, seus campeonatos e suas classificações, como a ISOD -
que reúne efetivamente todos os AMP, já que só alguns eram considerados
compatíveis para participarem de competições da ISMGF, e também os LA- e a
CP-ISRA, que reúne os PCs. As classificações que surgiram para cada uma
dessas entidades tinham como objetivo agrupar os atletas de mesma patologia,
dentro de padrões preestabelecidos para que pudessem competir entre si em
condições de equivalência (Biomqwist, 1988). Devido à implementação do
sistema de classificação funcional, adotado mais recentemente, as atuais
competições de natação, por exemplo, congregam todos aqueles que apresentem
comprometimento motor elegível para este tipo de evento, classificados segundo
suas capacidades funcionais e não mais por suas patologias, competindo juntos
na mesma classe em que foram classificados (I PC, 1996).
A evolução da natação para a PPDF acompanha o desenvolvimento da
própria modalidade, bem como o do esporte adaptado (Penafort et ai., 1997). A
natação adaptada, quando dedicada à competição, sofre influência das regras e
dos sistemas de classificação específicos da área. Essa é a grande diferença
entre a natação convencional e a adaptada na situação de competição, pois além
do sistema de classificação utilizado pela convencional, que se restringe à faixa
etária e ao sexo, na adaptada há a necessidade de um sistema de classificação
motora específico. Classificar, neste contexto, consiste no ato de agrupar
nadadores com patologias distintas ou não, desde que tenham capacidades
físicas e/ou sensoriais semelhantes, de forma a assegurar um nível equivalente e
compatível entre todos os competidores de cada classe (I PC, 1996).
Muitos sistemas de classificação foram empregados no início do
movimento do esporte adaptado até se chegar a uma primeira padronização, a
33
então denominada classificação médica. Esta, ao longo dos anos, foi sofrendo
algumas alterações e constantes críticas, sendo utilizada na natação até a
mudança e implantação, em 1988, do atual sistema: a classificação funcional
(Adams et ai., 1985; IPC, 1996). Hoje competem na natação pessoas com vários
tipos de deficiência física que sejam elegíveis de acordo com a decisão do IPC de
reunir num sistema integrado de classificação diversas deficiências
(Gehlsen,Karpuk, 1992).
Vamos então tecer um paralelo histórico-cronológico do desenvolvimento
da classificação até os dias de hoje. A atividade física e a de reabilitação
aparecem em relatos que remontam à Grécia Antiga (Catteau,Garoff, 1986), e,
segundo o Comité Olímpico Espaiiol (1992), existem também registros de
atividades esportivas com portador de deficiência física desde a 1• Guerra
Mundial. Porém, a caracterização do movimento do esporte adaptado somente se
deu a partir da 2• Guerra Mundial. Alguns autores como Strohkendl (1996),
afirmam que a reabilitação de veteranos de guerra e as raízes do esporte para
deficientes físicos têm extensa interface.
A forte relação histórica entre o tratamento de lesões na coluna vertebral e
o desenvolvimento do esporte adaptado deveu-se muito à centralização dos
interesses e dedicação do Dr.Guttmann e seus colegas médicos, em indivíduos
com paraplegias que dependiam da cadeira de rodas. Porém, quando o desporto
para deficientes físicos começou a se desenvolver, a classificação desportiva para
a PPDF representava um grande problema, porque não se havia pensado
anteriormente em como se avaliar os participantes para a prática do mesmo e, na
época, não havia entre as deficiências diferenciação voltada para esse objetivo.
Como o esporte adaptado, praticamente, surgiu dentro dos hospitais de
reabilitação, já havia distinção entre as PPDs que lá estavam e as que se
encontravam fora destes daqueles limites. O fator elegibilidade era cada vez mais
contundente, eram constantes as perguntas: A quem deveria ser permitido a
participação nos eventos? Poderiam participar outras deficiências físicas que não
aquelas por lesão medular? (Strohkendl, 1996).
34
De acordo com Strohkendl (1996), Guttman e médicos envolvidos no
processo de competição e classificação buscaram solucionar esta questão,
restringindo inicialmente a classificação ao modelo simples químico-físico do
homem, o que de uma certa forma acabava por privilegiar o lesado medular, já
que este modelo baseava-se nos estudos feitos exclusivamente sobre a LM. O
esporte visto como uma forma de reabilitação e um suplemento à fisioterapia
ainda prevalece na compreensão de muitas pessoas dentro da área médica,
assim como no entendimento de muitos leigos. Esta abordagem, que na época foi
inovadora e valiosa, ainda segundo o autor, no decorrer do processo evolutivo do
sistema de classificação por vezes limitou o mesmo, pois os Jogos de Stoke
Mandeville foram fundados somente para os lesados medulares completos e
incompletos.
Existiram também argumentos técnicos para excluir, inicialmente, os atletas
não lesados medulares, como os POLIOs, AMPs, PCs e LAs. As suas
incapacidades físicas não poderiam ser medidas através dos métodos
neurológicos adotados e, portanto, não seriam comparáveis às lesões na coluna
vertebral. Tendo experimentado muitas dificuldades na comparação entre lesão
completa e incompleta, considerava-se, segundo Strohkendl (1996), a seguinte
questão: como alguém poderia assumir que seria possível classificar atletas com
incapacidades diferentes, deficiências distintas?
Diversos sistemas de classificação foram experimentados até se chegar,
na década de 50, a um consenso a classificação médica, que foi aplicada
genericamente a todas as modalidades. A classificação foi na sua origem
proposta para esportes individuais. A partir de 1956, foram agregados os
portadores de POLIO, com quadros motores semelhantes aos LM, e por fim os
AMP de membros inferiores (Adams et ai., 1985; Strohkendl, 1996). Até 1966,
existia nos Jogos de Stoke Mandeville uma equipe de basquete para lesões
completas e outra para as incompletas. Resultante de uma pressão dos
organizadores da ISMGF, que não podiam mais acomodar dois times de uma
mesma equipe, neste ano de 66 a classificação médica passou a combinar lesões
35
completas e incompletas para todas as modalidades que fizessem essa
diferenciação dentro de uma mesma equipe.
No começo de 1969 o sistema foi modificado por uma proposta do Dr.
Bedwell, da Austrália. Ele definia a estrutura básica das classes de acordo com os
níveis de lesões completas, como já se preconizava, e introduziu alguns testes de
função muscular básicos, que poderiam auxiliar a localização de lesões
incompletas nas classes apropriadas. Com o objetivo de se chegar a uma
diferenciação mais precisa entre as classes, o teste de força muscular Daniels
Wortingham foi aplicado (Strohkendl, 1996).
A classificação médica, de 1969 em diante, estava baseada numa
abordagem médico-clínica, que considerava os níveis neurológicos das lesões
medulares e fazia os testes de função motora de acordo com o teste de função
muscular de O a 5 de L. Daniels e C. Worthingham, e também testes de
sensibilidade e equilíbrio sentado (Biomqwist, 1988). As classes eram definidas de
acordo com os movimentos previstos como possíveis em determinados níveis de
lesão. A classe I era formada por tetraplégicos divididos em três subgrupos: IA,
que corresponde a uma lesão até ao metâmero C6; IB, que corresponde ao
metâmero C7, e IC, que corresponde ao metâmero C8. Das classes 11 à VI
encontravam-se os paraplégicos por lesões torácicas, lombares ou sacrais, ou
alguma patologia que apresentasse quadro motor equivalente (Adams et ai.,
1985). À classe li correspondiam as funções musculares de T1-T5, à 111 as de T6-
T10, à IV as de T11-L3, à V as de L4-S2, enquanto na classe VI, que é uma
classe adicional, identificavam-se atletas com uma paraplegia completa ou
incompleta abaixo do nível de L2, ou ainda uma deficiência comparável a essa
lesão (Gehlsen,Karpuk, 1992). Para ilustrar apresentaremos o Quadro 1, baseado
no teste de função muscular contido no manual do IPC (1996).
36
QUADRO 1 - lnervação muscular da coluna vertebral, base da classificação
médica
lnervaç:ão muscular de aéordo com o nível da medula espinhal para o teste de função muscular
Flexores do cotovelo C5 Extensores de punho C6 Extensores de cotovelo C7 Flexores dos dedos CB
Adulares dos dedos Início da inervação abdominal Completa inervação abdominal
Flexores do quadril L2 Extensores do joelho L3 Dorsiflexores de tornozelo L4 Extensor longo do Hálux L5
Flexor plantar do tornozelo
Ankle Plantorflexors SI
T1 T6 T12/L 1
81 médullaris
C.uda equina
Atletas das diferentes modalidades, principalmente os de basquete, e
profissionais das áreas de saúde e esportes que atuavam no esporte em cadeira
de rodas, na época de vigência do sistema de classificação médica, faziam
críticas ao mesmo, pois entendiam que deveria haver um sistema de classificação
específico para cada modalidade (Gehlsen,Karpuk, 1992; Strohkendl, 1996). A
seguir, apresentamos aquelas que serviram de base para a busca de uma nova
classificação:
• Em função de sua aplicação generalista, este sistema não
abordava de fato o que era solicitado fisicamente do atleta para cada modalidade
(Strohkendl, 1996). Por exemplo\ um indivíduo com uma tetraplegia parcial, o que
já necessariamente o caracterizaria como da classe I, apesar de terem sido
t Os exemplos escolhidos por nós se devem ao fato de termos julgado mais compreensível a situação citada. 37
detectados movimentos residuais de tronco e pernas, foi classificado para a
classe IC, que indicaria tipicamente um ainda significativo comprometimento de
mãos e parte respiratória, com algumas potencialidades positivas de antebraços,
braços e ombros. Numa prova de arremesso de disco, surpreendeu a todos
quebrando significativamente os recordes nos primeiros arremessos. Mesmo
tendo alguma dificuldade de segurar o implemento, como todos os de sua mesma
classe, ele obteve algumas vantagens. Isto era possível porque poderia usar os
movimentos residuais funcionais que possuía no tronco e nas pernas durante o
movimento do arremesso, sem que isso fosse efetivamente levado em
consideração pela classificação. Caso fosse feita a reclassificação deste mesmo
atleta neste antigo sistema devido à razão acima mencionada, ele não poderia ser
reintegrado em uma categoria diferente da classe I. Se por urn erro ele fosse
colocado na classe 111, provavelmente estaria em desvantagem para as provas de
campo e em flagrante desigualdade nas provas de pista, que exigem habilidade
de toque de cadeira. Nas provas de toque de cadeira, como as corridas, as
capacidades funcionais dos braços, mãos, ombros e respiratórias são decisivas.
O sistema priorizava o nível de lesão correspondente; as capacidades residuais
poderiam diferenciar a sua alocação, mas eram de interpretação extremamente
subjetiva e com uma premissa generalista (Biomqwist,1988).
• Outra deficiência apontada neste sistema referia-se à criação de
um ambiente desfavorável ao apuro técnico, o que estimulava dissimulações por
parte dos atletas. Os classificadores não podiam evitar que os atletas
trapaceassem, pois a classificação médica não tinha nenhum controle efetivo
(Strohkendl, 1996). Como os nadadores, por exemplo, poderiam executar apenas
os movimentos preconizados pela regra em sua classe, os portadores de lesões
incompletas ou que apresentassem movimentos adicionais estariam limitados na
evolução técnica ou induzidos a não demonstrar seu real potencial e a procurar
obter urna vantagem na classificação em relação aos demais competidores, já
que essa se limitava ao momento anterior à competição (Biornqwist, 1988).
• Outra crítica muito comum consistia na própria dificuldade de
equivalência dos quadros motores, já que a divisão de classes tomava como
padrão lesões medulares completas, e eram muito comuns casos de lesões
incompletas, como também seqüelas assimétricas da poliomielite e de amputação
de membros inferiores. No caso da natação, muitas destas deficiências 38
apresentavam-se de uma determinada maneira no exame clínico (o chamado
teste de banco), mas, na água, as PPDs demonstravam outra eficiência e
potencialidade, como é o caso dos PCs - que, por exemplo, poderiam se
aproveitar da resistência da água para utilizarem seus próprios padrões reflexos
para os estabilizar para nadar, sem que isso fosse considerado funcionalmente ao
seu favor (Biomqwist, 1988). Devido a essas incapacidades de analogia entre as
deficiências para efeito de classificação, cada grupo de deficiências se organizou
e desenvolveu seus próprios campeonatos e classificações, como já exposto
anteriormente.
• Ao longo dos anos em que prevaleceu a classificação médica,
observaram-se vários pontos dissonantes entre a avaliação clínica e sua
respectiva classificação e, posteriormente, a prática efetiva da modalidade
desportiva escolhida. Segundo o relato de Sherill (apud Freitas, 1997), esse
sistema de classificação mostrou-se problemático, sendo incapaz de agrupar os
diferentes tipos de deficiência e funcionalidade. Isto resultava em haver num
mesmo evento competições específicas por deficiência e, conseqüentemente, um
número excessivo de classes e de provas, além dos problemas acima já
mencionados. Ao todo eram 31 classes; oito formadas por LM, oito por PC, seis
por LA e nove por AMP, o que tornava os eventos extensos e caros (Biomqwist,
1988).
Todos esses questionamentos evidenciavam as falhas e limitações da
classificação médica e indicavam seu descompasso em relação ao processo
natural de evolução do esporte adaptado. Como tentativa de responder a essas
questões, um novo sistema, chamado de classificação funcional, estava sendo
desenvolvido para o basquete, através do trabalho conjunto de um grupo de
classificadores, técnicos e atletas, a partir do final da década de 70. No início dos
anos 80, a sub-seção do basquete em cadeira de rodas do ISMWSF tomou a
iniciativa de apontar o seu próprio comitê de classificação, dando continuidade à
reestruturação da classificação para o basquete em cadeira de rodas, que foi
implementada em 1982, na Suécia (Strohkendl, 1996). Esse sistema procurava
analisar o potencial motor do atleta em relação às solicitações motoras dessa
específica modalidade desportiva.
39
Outras modalidades foram aderindo a esse conceito, criando grupos de
pesquisa e desenvolvendo sistemas de classificação funcionais específicas. Essa
idéia foi adotada para a natação em 1981 (IPC, 1996), através de um profundo
estudo dos estilos, bases hidrodinâmicas, mecânica de fluidos e percentual
propulsivo de cada membro para cada estilo de nado. Esse novo sistema de
classificação foi desenvolvido por B. Blomqwist, da Alemanha, e modificado pelo
grupo de trabalho do IPC. O período de introdução, pesquisa e experimentação
deste novo sistema envolveu competições internacionais em Fulda (Alemanha),
em 1985; Gothenburg (Suécia), em 1986 e Paris (França), em 1987, seguidas de
avaliações detalhadas incluindo análise computadorizada. No ano de 1988,
durante as Paraolimpíadas de Seul, foi implementada a mudança do sistema
médico de classificação da natação, de 31 classes, para o sistema funcional, com
10 classes, para todas as deficiências locomotoras (Blomqwist, 1988).
As classes vão de S1 a S10 para a deficiência física, sendo que a classe
S1 corresponde ao nível mais alto de comprometimento físico pela deficiência e a
classe S10 ao nível mais leve. As classes de S1 a S5 são conhecidas como
classes baixas e as de S6 a S10 como classes altas, havendo uma classificação
específica para o nado de peito, que vai de SB1 a SB9. Basicamente, resume-se
no seguinte (apresentaremos somente alguns quadros motores correspondentes)
(IPC, 1996):
40
QUADRO 2 - Exemplos de padrões motores da classificação funcional da natação
Classe Descrição
SI LM completa abaixo de C4/5, ou POLI O comparado, ou PC I
quadripléqico severo e muito limitado;
!S2 LM completa abaixo de C6, ou POLI O comparado, ou PC
quadriPiéqico qrave com qrande limitacão de membros superiores;
:s3 LM completa abaixo de C7, ou LM incompleta abaixo de C6, ou POLI O I ' comparado ou AMP dos 4 membros;
S4 LM completa abaixo de C8, ou LM incompleta abaixo de C7, ou POLI O
comparado. ou AMP de 3 membros·
lss LM completa abaixo de T1-8, ou LM incompleta abaixo de C8, ou
POLI O comparado, ou acondroplasia de até 130cm com problemas de
propulsão, ou PC de hemiplegia severa;
S6 LM completa abaixo de T9-L1, ou POLI O comparado, ou
acondroplasia de até 130cm. ou PC de hemipleqia moderada;
S7 LM abaixo de L2-3, ou POLIO comparado, ou AMP dupla abaixo dos
cotovelos, ou AMP dupla acima do joelho e acima do cotovelo em . lados opostos;
i
:sa LM abaixo de L4-5, ou POLIO comparado, ou AMP dupla acima dos I I I !
S9
S10
ioelhos. ou AMP dupla das mãos. ou PC de dipleoia mínima;
LM na altura de 81-2, ou POLIO com uma perna não funcional, ou
AMP simPles acima do ioelho. ou AMP abaixo do cotovelo·
POLIO com prejuízo mínimo de membros inferiores, ou AMP dos dois
pés, ou AMP simples de uma mão, ou restrição severa de uma das
articulações coxo-femurais
Durante o campeonato para deficientes de Assen, na Holanda, em julho de
1990, tornou-se claro que o movimento em direção a um sistema integrado de
classificação ganhava força. O novo !PC se estruturou em termos de uma
classificação própria de cada modalidade esportiva, de modo oposto à forma
tradicional que consistia numa classificação específica para a deficiência. Em
41
1992, nas Paraolimpíadas de Barcelona, na Espanha, utilizou-se o sistema
funcional para natação englobando as três associações de deficiências: a
ISMWSF, a ISO O e a CP-ISRA (Richter et ai., 1992).
Neste mesmo ano, algumas pesquisas foram realizadas com o objetivo de
questionar a implementação do sistema funcional. por Richter et ai. (1992), e o de
validar o sistema de classificação médica utilizado até então, como o trabalho de
Gehlsen;Karpuk (1992), que concluíram ainda não haver base científica suficiente
que justificasse a mudança. No ano seguinte houve modificações baseadas nas
críticas feitas, como a introdução de desenhos da posição do corpo na água, com
o objetivo de facilitar a visão e atuação do classificador e estimular o processo de
evolução desse novo sistema. Ficou ainda estipulado que seriam mantidas as
regras definidas até as Paraolimpíadas de Atlanta em 1996, quando ocorreria
nova avaliação do sistema, cujas possíveis modificações advindas dessas
discussões seriam divulgadas no Manual do IPC seis meses após o encerramento
dos jogos e valeriam por dois anos (IPC,1996). Esse procedimento é padrão até
hoje.
Atualmente. em função do sistema de classificação funcional, os LMs,
POLIOs, PCs, LAs. AMPs e todos aqueles que apresentem comprometimentos
motores elegíveis para este tipo de evento participam juntos das mesmas
competições. Esse processo possibilitou que uma maior diversidade de atletas
participasse em cada prova, otimizou o tempo das competições bem como
barateou os custos de elaboração e execução de um evento competitivo de
natação, principalmente em uma organização como a das Paraolimpíadas
(Biomqwist, 1988). Tornou, no entanto, mais competitivo e seletivo o processo.
Com a oficialização do sistema de classificação funcional, o especialista
técnico passou a fazer parte de todo o processo de classificação. Desta forma, o
potencial motor do nadador começou a ser analisado tanto a partir de uma
perspectiva clínica. através do teste de banco, quanto de um aspecto funcional.
durante o teste de água e na própria competição, sendo este último teste a
decisão final da avaliação (IPC,1996). Houve necessidade de reestruturação das
42
' I
regras, criando-se novos papéis, permitindo que os classificadores pudessem
atuar durante o decorrer da competição, visando a eliminar os eventuais desvios
ou erros que houvessem ocorrido durante o processo de classificação.
As regras utilizadas nos eventos competitivos, desde seu início, são
baseadas nas regras da FINA e apresentam algumas adaptações, as quais visam
a descrever situações em que exista uma deficiência que não permita a execução
tecnicamente correta de um estilo. Atualmente, elas preconizam também a
existência de um orientador técnico, o qual é indicado pela organização dirigente,
para orientar, em relação às adaptações das regras da FINA, o árbitro geral, o
inspetor de viradas e o juiz de percurso, durante a competição (I PC, 1996).
Já para as PPDVs, o IPC junto com a IBSA prevêem três classes para
todas as modalidades, dentro do sistema de classificação funcional, que é
integrado com outras deficiências. Estas classes são baseadas na acuidade visual
do atleta e mantêm a mesma filosofia do sistema de classificação funcional. Ao
longo da evolução esportiva, foram ajustados os procedimentos das avaliações
bem como os perfis das classes, adaptando-as assim às novas diretrizes do
esporte adaptado mundial. Atualmente, existem na natação as seguintes classes:
QUADRO 3 - Acuidade visual prevista na classificação funcional da natação para a
PPDV
Classe Descrição I
S11
S12
S13
Inexistência de percepção da luz em ambos os olhos ou percepção da
luz mas impossibilidade de distinguir a forma de uma mão a qualquer
distância ou em qualquer direção;
I Desde a habilidade para distinguir a forma de uma mão até uma
acuidade visual de 2/60 e/ou um campo visual de menos de 5 graus;
Desde uma acuidade visual acima de 2/60 até uma acuidade visual de
6/60 e/ou um campo visual de mais de 5 graus e menos de 20 graus;
Na natação, adotam-se também as regras da FINA com as adaptações
necessárias. Na classe S11, por exemplo, todos os nadadores que não usarem
43
próteses em ambos os olhos deverão utilizar óculos de natação com visor opaco
(IPC, 1996).
Acreditamos ser fundamental o esclarecimento sobre a classificação, já
que ela é a grande diferença entre o esporte convencional e o adaptado. Ela
permite, nos parâmetros de competição em que vivemos, que as PPDs possam
competir entre si, mesmo em eventos competitivos integrados. Então, partindo do
pressuposto do direito de todos à prática esportiva, previsto pela Constituição
Federal e também pela Constituição do Estado de São Paulo, a classificação
como instrumento intrínseco à prática desportiva adaptada é necessidade básica
para o trabalho nessa área, bem como todo e qualquer esforço no sentido de
evolução do esporte adaptado.
44
4 ESPORTE
4.1 Esporte contemporâneo e suas
bases
Apesar de o esporte ter suas raízes históricas na Antigüidade, passando
pela Idade Média e o Renascimento, o esporte contemporâneo ou moderno, como
instituição, surgiu no século XIX, na Inglaterra, por iniciativa de Thomas Arnold
(Cavalcanti, 1984; Tubino, 1987). Na perspectiva de Cagigal (1979), o esporte
sofreu bastante influência das mudanças sociais britânicas do séc. XVIII e da
estruturação pedagógico-esportiva inglesa do séc. XIX, ressurgindo assim
novamente ligado à Educação. Segundo Tubino (1987), a institucionalização do
esporte, conseqüentemente, facilitou a internacionalização das modalidades
esportivas.
Pierre de Coubertain restaurou tanto o ideal quanto os Jogos Olímpicos,
em 1896, dando uma significativa contribuição para o movimento esportivo
moderno. Ele, quando o fez, tinha a finalidade de promover a paz entre os povos
e ajudou a transformar o esporte, favorecendo sua rápida ascensão como
fenômeno mundial. Criou também o Comitê Olímpico Internacional (COI), que
ficou encarregado de realizar os Jogos de quatro em quatro anos e desenvolver
um movimento filosófico do esporte, colaborando assim com a consolidação do
fenômeno esportivo na sua manifestação de maior nível técnico (Tubino, 1987).
Conforme Tubino (1999), até os anos 30, apesar de o fenômeno esportivo
ter tido uma modesta evolução quanto ao número de modalidades, destacam-se o
surgimento de esportes coletivos nas Associações Cristãs de Moços (ACMs) e o
crescente envolvimento dos governos. Essa época foi considerada pelo autor
como sendo um período estável, porém, com a tentativa inescrupulosa de Hitler
de fazer uso nocivo do esporte com finalidades político-ideológicas, o ideário
olímpico começa a desmoronar.
45
É a partir do final da Segunda Guerra Mundial e do novo quadro político
que então se consolidou (bloco capitalista x bloco socialista) que o ideal olímpico
passou a ser quase obscurecido por um conflito alheio ao esporte:
"A perspectiva da utilização política do esporte
começou efetivamente com a chamada Guerra
Fria, a partir dos anos 50 deste século. Provas
incontestáveis dessa afirmação são o ingresso da
União Soviética nos Jogos Olímpicos em 1952
(Helsinki) e o forte fomento financeiro para as
preparações esportivas nos Estados Unidos
nessa mesma época. O conflito anterior,
amadorismo versus profissionalismo, começa a
deixar o seu lugar para a batalha permanente
entre capitalismo e socialismo, e a ética esportiva
construída nos tempos da prevalência do ideário
olímpico, pelo 'associacionismo' de Arnold e do
fair play do olimpismo, começa a perder nos seus
confrontos, dando lugar a um 'chauvinismo' pela
vitória a qualquer custo. É nesse período que o
suborno e o doping surgem com todo ímpeto nos
fatos esportivos" (Tubino, 1999, p. 132). 2
Uma reação a esse caminho descortinado veio em forma de documentos
filosóficos de organismos internacionais, de manifestações de protesto da
intelectualidade esportiva internacional e do movimento de EPT, iniciado pelo
chamado Trim da Noruega. Em 1964, após as Olimpíadas de Tóquio, Philip Noei
Baker, prêmio Nobel da Paz de 1939, assinou o Manifesto Mundial do Esporte,
que tratou do esporte na perspectiva de alto rendimento, de tempo livre e da
escola, beneficiando a aceitação das atividades esportivas naquela época e
servindo de marco para a extensão da compreensão e aplicação do esporte para
o não-atleta, com a expectativa de melhorar a qualidade de vida do homem
através da utilização esportiva (Tubino, 1992; 1999).
2 Grifo do autor. 46
Em 1966, o Conselho da Europa elaborou um documento intitulado Carta
Européia do Esporte para Todos que explícita a interseção das práticas esportivas
institucionalizadas, populares e de meio escolar. Já em 1968 foi divulgado o
Manifesto da Educação Física, elaborado pela Federação Internacional de
Educação Física (FIEP), que aprofundou as questões da educação física e
reconheceu as relações entre educação e esporte. Mais tarde, em 1978, o
documento da UNESCO Carta Internacional da Educação Física e do Esporte,
reforçou o direito de todos à prática da educação física e do esporte, reafirmou a
importância desses como elementos da educação permanente e referendou o
esporte às nações. As ações conseqüentes desses documentos interferiram nas
responsabilidades sociais do Estado diante do esporte, tornando-o um fenômeno
social importante no final do século XX (Tubino, 1987; 1992).
Esses documentos, para Tubino (1987), são responsáveis pela atual
abrangência do conceito de esporte, valorizando-o também no sentido de
participação e considerando todas as formas de movimento físico como possíveis
de serem aceitas como atividades esportivas. Através desse prisma de ampla
participação, ou seja, do pressuposto do direito de todos à prática esportiva e do
favorecimento ao bem-estar, estabeleceu-se um novo fio condutor para o estatuto
e a caracterização do fenômeno esportivo, fazendo predominar assim suas novas
características. Essa revisão/revolução conceitual do esporte levou-o a um maior
oferecimento de aspectos sociais relevantes. Então, ainda de acordo com Tubino
(1992), o esporte como instituição social não deve ser analisado fora de suas
dimensões sociais, não sendo simplesmente uma prática autônoma e sim um
fenômeno que contribui de forma decisiva para a interpretação da realidade
social.
Valente (1998), na sua comparação da relação histórica entre o movimento
olímpico e o EPT. resgata a afirmação de Tubino (1992) destacando a
consolidação, atualmente, de três dimensões de esporte: o esporte de rendimento
ou esporte-espetáculo enquanto negócio, o esporte-participação ou participativo
ou de massa, voltado para a pessoa comum. caracterizado pelo movimento de
EPT, e o esporte-educação ou educativo, enquanto atividades esportivas
47
desenvolvidas na escola por crianças e adolescentes, norteadas por princípios
socioeducativos. E, no seu estudo, ratifica o primeiro como sendo esporte formal
e os dois outros como esporte não formal, afirmando que, apesar de se tratarem
de movimentos heterogêneos e multiculturalizados, na essência de suas origens
se identificam. O esporte de alto nível, segundo Tubino (1987), tornou-se mais
claramente como um "trabalho do que jogo" (p.34) propriamente dito.
O surgimento das três dimensões do esporte, decorrentes do advento e
evolução dos Jogos Olímpicos, juntamente com a crescente preocupação
internacional com o esporte, de forma geral, e as mais variadas manifestações
esportivas no mundo todo, conjugados à utilização maciça dos meios de
comunicação, motivaram progressiva expansão de interesses subjacentes ao
fenômeno esportivo (Tubino, 1987). Como fenômeno social universal, segundo
Prieto (apud Tubino, 1987), o esporte reflete objetivos culturais, científicos,
ideológicos, políticos, econômicos e sociais. O esporte como instrumento de
saúde e lazer oferece uma tentativa de equilíbrio em relação ao sedentarismo, ao
consumismo, à mecanização e à desumanização das sociedades. Para este autor
é cada vez maior a interdependência entre Sociedade, Esporte e Estado, pois ele
encara o esporte como um bem comum da população (entendido pelo autor como
o conjunto de meios de aperfeiçoamento que uma sociedade politicamente
organizada tem por fim oferecer aos seus cidadãos) e a educação física como um
meio de formação do homem e de desenvolvimento integral da personalidade
humana. Vai ainda mais além, afirmando que ambos devem ser minimamente
oferecidos pelo Estado. Para Cavalcanti (1984), criou-se uma visão do esporte na
qual este aparece como remédio ideal para os males da sociedade industrial e a
esperança de superar suas desigualdades sociais.
O fenômeno esportivo provocou a necessidade de se compreender melhor
os passos galgados pela evolução do esporte na construção da vida social,
econômica e política das sociedades modernas. Tubino (1987) relacionou
diversos autores em seu estudo sobre o esporte, pois acredita na importância da
contribuição de cada um na tentativa de melhor compreender o fenômeno
esportivo, extraindo a partir dessas teorias três pontos fundamentais do esporte
48
moderno e suas implicações, compondo assim algumas das bases de discussão
acerca do esporte:
• Aspecto competitivo- componente psicossocial.
• Visão interdisciplinar- confluência com o progresso humano.
• Autocontrole para a prática- vida em sociedade.
Tal como Cavalcanti (1984) e Tubino (1987, 1992), Camargo (1999) faz
uma leitura de diversos pesquisadores do esporte para buscar uma compreensão
mais abrangente e realista desse fenômeno. De forma geral, esses autores
apontam interfaces importantes e de alta complexidade para o seu entendimento,
embora no esporte de rendimento se concentre maior visibilidade, ainda que não
seja o único a fazer parte do fenômeno. Procuramos então fazer um
encadeamento de idéias e levantamento de pressupostos desses autores que
acreditamos serem relevantes.
As sociedades contemporâneas possuem diversas características comuns
e peculiares, porém o esporte surge, na maioria das vezes, como um apelo contra
o sedentarismo e como valorização da vida, fazendo com que se dê um
aproveitamento mais adequado ao tempo livre e ao ócio. Neste contexto, o
esporte participativo ganha espaço na dimensão de saúde, lazer, prazer,
colaborando com o crescimento do fenômeno esportivo, tornando-se assim uma
possibilidade para um grande número de pessoas não atendidas pelo elitismo do
esporte de rendimento, e sendo elemento importante da sociedade na medida em
que serve, também, como incentivo tanto para a prática do esporte escolar, como
para o esporte rendimento. De acordo com Tubino (1987), o esporte tem como
característica uma importante ação preventiva e terapêutica no combate ao
desequilíbrio físico do homem nas sociedades modernas.
Conforme Carvalho (1993), criou-se um mito ao redor do binômio
esporte/saúde. No Brasil, suas origens remontam aos conceitos de higienização e
eugenização, que "relacionavam-se com saúde e vigor dos corpos, reprodução e
longevidade, aumento da população e melhoramento dos costumes e da moral."
(Costa apud Carvalho, 1993, p.44). Ainda de acordo com Carvalho, documentos
como o Manifesto Mundial do Esporte, a Carta Européia do Esporte para Todos, 49
assim como as Recomendações sobre Educação Física e Desportos aos Estados
Membros da UNESCO, de 1976, e a Carta Internacional de Educação Física e
Esporte, também da UNESCO, divulgada em 1978, consolidaram mundialmente o
mito da inter-relação atividade física/saúde.
De acordo com Bento (1991, p.9), "o Desporto alcançou nos últimos anos
uma valorização social e cultural anteriormente inimagináve!" devido,
principalmente, às promessas de saúde e bem-estar, de recuperação do estresse
diário e de compensação das insuficiências de movimento na sociedade técnica
em que vivemos. Essa convicção na relação esporte/saúde se dá por inúmeras
razões, tais como a compensação das disfunções corporais a partir do exercício
físico.
Por outro lado, Bento (1991, p.7) sustenta que "o exercício físico constitui a
base de um novo mercado lucrativo em crescimento acelerado". Os gastos com
saúde por parte dos governos de muitos países tornaram-se expressivos e
crescentes, aparentemente sem controle. O esporte surge como um meio viável e
barato de uma política de prevenção da saúde. O autor acredita que essa
mitificação do desporto colabora para um clima de especulação e exploração da
crença das pessoas na relação esporte/saúde em função de uma ideologia de
mercado lucrativo, não permitindo assim a utilização séria do desporto como meio
de educação e proteção da saúde. Para este autor, não podemos admitir de
pronto que toda e qualquer prática desportiva é válida para todo e qualquer caso;
para isso devemos ter a convicção e a clareza acerca das suas particularidades.
Bento discorre sobre essa problemática, alertando para a necessidade de reflexão
a seu respeito e sobre seus aspectos, no intuito de evitar uma utilização indevida
do fenômeno desportivo.
O tempo livre, o ócio, o lazer, o jogo assumiram grande importância em
relação à qualidade de vida do indivíduo; mas, de acordo com Cavalcanti (1984),
ao mesmo tempo transformaram-se num mito de humanização. Segundo a leitura
dessa autora, que olhou o esporte sob a ótica de uma crítica política, o EPT é um
dos mais recentes mitos criados pela sociedade capitalista para camuflar a
50
exploração do homem pela máquina econômica. Ela acredita que a prática de
esporte no tempo livre é um meio bastante eficaz de controle social para garantir
a manutenção da ordem estabelecida e também um instrumento a serviço da
despolitização da massa, á medida que afasta o individuo do espaço social
concreto, com o pretexto da melhoria da forma física e da sociabilização,
ocupando-o com o exercício da obediência e da disciplina.
Alguns autores, como Bruhns (1991), defendem a idéia de que a atividade
lúdica está onde o esporte competitivo contemporâneo não está, pois suas
características culturais próprias apresentam como componentes, num primeiro
plano, a espontaneidade, a flexibilidade, o não compromisso, a criatividade, a
fantasia, a expressividade entre outros. Essas características encontram-se tanto
no esporte participativo quanto no esporte educativo, compreendidos como
esporte não formal, por serem atividades esportivas que não requerem vínculo
formal do praticante, abrangendo qualquer pessoa, em variadas faixas etárias
(Camargo, 1999). Para Cavalcanti (1984), entretanto o esporte não formal
mantém em sua essência todos os elementos estruturais do esporte formal, e,
"como fenômeno social, o esporte depende das forças econômicas, políticas e
ideológicas que lhe dão a sua dimensão histórica". (p.39)
Camargo (1999) reforça essa idéia de Bruhns (1991) por acreditar que a
manifestação esportiva de caráter lúdico ou recreacional se diferencia do esporte
de rendimento pela periodicidade e sistematização do mesmo. Além disso, na
nossa compreensão, o que vai diferenciá-los é a aplicação efetiva de objetivos
próprios e bem definidos.
O esporte-espetáculo, segundo Prieto (apud Tubino, 1987), tornou-se
retrato da sociedade de massa, servindo de escapismo para o homem moderno.
Os espectadores dos jogos esportivos são levados a processos de identificação
com os ídolos e conduzidos a emoções fortíssimas, como tensão, alegria, prazer,
expectativa, sofrimento, etc.
51
Conforme Camargo (1999), o esporte de rendimento é visto como um
processo seletivo e excludente, já que elimina os menos preparados e todos
aqueles que não optaram por ele como meio de vida. É regido por regras
inflexíveis, códigos precisos e conceito inexorável, que são notadamente
universais e que transcendem as situações culturais e geográficas. Sua
abrangência passa pela esfera cultural, política, econômica e social. Funciona
também, segundo o autor, como um instrumento ideológico do sistema capitalista,
já que o estímulo a vencer e superar as marcas estabelecidas, a qualquer custo, é
o que prevalece, fazendo com que a competição, a comparação, a aquisição, o
lucro, o rendimento máximo, etc., estejam sempre presentes e valorizados nos
eventos competitivos de alto rendimento.
O esporte apresenta ainda, de acordo com Camargo (1999), um caráter de
comercialização proporcionalmente crescente, conforme o grau de
competitividade e "tamanho" do evento esportivo, já que se desenvolveu,
paralelamente a sua evolução, uma indústria cultural esportiva que se utiliza dos
meios de comunicação de massa para alimentar a cobiça por medalhas, vitórias,
hegemonias e o sentido comercial do esporte, supervalorizando a competição em
detrimento do jogo ou atividade lúdica na sociedade contemporânea.
É o esporte vinculado ao lado de negócio, vendas, marketing, patrocínio,
imagem, empresas, mídia que, segundo Proni (1998), mobiliza grande e
diversificado público no mundo inteiro. As federações esportivas utilizam-se do
marketing esportivo para conquistar a preferência do público, aumentar o número
de assistentes nos eventos e principalmente, para a captação de rentáveis
contratos televisivos, patrocinadores e venda ou licenciamento de artigos
esportivos. Conforme Fernandes (1998), a mercantilização do esporte
transformou um fenômeno sociocultural em mercadoria, subvertendo a sua
natureza de ser produzido pelo povo para ser produzido para o povo. Nesse
sentido, acreditamos que devemos nos preocupar com o fato de que o fenômeno
esportivo não se resuma à visão reducionista de bem de consumo e observar o
desenvolvimento e a atuação dos seus valores éticos, para que não se percam de
52
vista suas características, os aspectos positivos e o potencial social que o esporte
como um todo possui.
Lobato (1987) afirma que apesar do maior enfoque ser dado ao
rendimento, onde há maior manipulação dos interesses econômicos e políticos,
esta dimensão do esporte não é a única e nem a mais importante. Para o autor,
os administradores de eventos de atividades físicas devem adequá-los àquele
grupo que pretendem atingir, aos possíveis resultados a serem alcançados em
termos de performance e, concomitantemente, à repercussão em termos sociais.
Há necessidade de se olhar para as implicações sociais, para o indivíduo, as
conseqüências dos eventos esportivos, o status alcançado pela atividade física, o
caráter pedagógico, a divulgação, a administração e os resultados.
Apesar da projeção alcançada pelo esporte-espetáculo, ainda há, na
compreensão destes autores, a questão da garantia do direito à prática do
desporto assegurado a todos, seja ele educacional, de participação e de
rendimento, sem que haja preconceito, distinção ou privilégio de uma minoria que
se destaca por suas condições de performance desportiva. Para que essa
"democratização" do esporte ocorra, a percepção que se tem deste não pode ser
reduzida a um bem de consumo capitalista ou mero instrumento de poder, que o
transforma em uma prática unidirecional e que exclui, basicamente, suas outras
facetas, importâncias e expressões, sejam social, educacional ou alguma outra
(Tubino, 1992).
A relação esporte e Estado na busca de uma "democratização" do esporte,
segundo Tubino (1992), deve ocorrer pelo fato de o Estado possuir uma condição
natural, devido as suas obrigações com a sociedade, de lidar com todo tipo de
diversidade, como a de regiões, culturas, valores, etnia, realidade sócio
econômica, política e conseqüentemente com os problemas sociais existentes.
53
4.2 Esporte e o Estado
A pesquisa de Tubino (1987) cita que, de acordo com Prieto, a primeira
interferência efetiva do Estado no esporte deu-se em 1790, quando foi introduzido
na Hungria e na Bohemia um controle público sobre a cultura física. Mas, em
contrapartida, segundo este mesmo autor, no momento em que surge o esporte
institucionalizado na Inglaterra do final do século XIX, este possuía princípios de
autogoverno e autodisciplina, com características de autonomia, não admitindo
interferências públicas. Conforme foram crescendo o movimento esportivo e seus
eventos, sobreveio a exigência de maiores investimentos, inclusive a colaboração
financeira pública. Nos anos trinta do século XX, quando surgiram grandes
agrupamentos esportivos, a autonomia administrativa que preponderava começou
a ceder lugar para uma maior participação do Estado. Em razão das implicações
sociais, econômicas e políticas que o esporte começava a apresentar, o Estado
sentiu necessidade de uma organização geral do mesmo, passando a dedicar
uma atenção cada vez maior ao esporte.
O potencial educacional, social, político e econômico que o esporte
apresenta é imenso, e sua fragilidade à manipulação ideológica é diretamente
proporcional à projeção que exerce no contexto social (Camargo, 1999). Tubino
(1987) mostra-nos que o esporte foi usado como meio estratégico de políticas
totalitárias, como foi o caso da Alemanha de Hitler e da Itália de Mussolini, como
instrumento ideológico das políticas socialistas dos países do Leste Europeu ou
ainda como perspectiva de consumo para as políticas capitalistas dos países
ocidentais, além de apresentar um papel ideológico e político. Entretanto, o autor
ressalta que há diferenças de gestão, do grau de apoio, do papel normativo e do
próprio investimento do Estado em relação ao esporte, conforme a política e os
princípios de cada sociedade. Nos países do chamado Terceiro Mundo, o esporte
de alto nível nasceu equivocadamente sob o patrocínio e a tutela do Estado,
inclusive no Brasil.
Já Cavalcanti (1984) acredita que, pelo fato de possuir um consenso
universal e abrigar o estigma da neutralidade, o próprio esporte possibilita sua.
54
manipulação, dando-se-lhe o sentido que melhor convém aos interesses das
classes dominantes. Segundo a autora, este fato faz com que não seja atribuído o
real significado do esporte e da atividade física, de forma geral, para o homem e
para a sociedade. Para esta autora, a instituição esportiva reflete o modo de
produção industrial, constituindo-se até mesmo em aparelho ideológico do Estado.
Ela observa, como problema maior na análise sobre o esporte, a insistência em
mantê-lo distanciado da política, já que os eventos, em qualquer âmbito,
demonstram estreita ligação com interesses políticos.
A autora vê o esporte e o lazer, da forma como se apresentam nas
civilizações ocidentais, como conseqüente produto das sociedades industriais,
sendo o lazer o responsável pela criação de novos espaços para o
desenvolvimento de práticas esportivas. Além disso, considera a idéia de
educação permanente - ou seja, um processo contínuo do desenvolvimento
individual que ultrapassa os limites da escola - uma conseqüência da evolução da
Educação em função das exigências do mundo técnico e das necessidades do
modo de vida nos grandes centros urbanos, em que as atividades físicas e
esportivas são utilizadas como um meio educativo ampliado. Acredita ainda que
esses fenômenos, que estão enraizados na sociedade industrial e urbana e são
um elemento constante do seu modo de vida, impulsionaram diretamente o EPT,
cujo movimento no Brasil, segundo a autora, incorpora uma tendência
internacional de mitificação e tecnização do discurso sobre o mesmo, não se
questionando a relação do esporte com os aspectos econômicos, sociais e
políticos da realidade na qual está inserido.
Apesar dessa leitura crítica da autora em relação à utilização político
ideológica do esporte, outros autores visualizam diferentes aspectos da relação
entre esporte e Estado. Constantino (1991) aponta para o problema da
necessidade de se criarem condições para que todos os cidadãos possam
exercer o direito à prática, sem exclusão, distinção, discriminação ou posturas que
não privilegiem a maioria. Esse autor acredita que as ações institucionais relativas
às praticas esportivas estão assentadas na política desportiva do país, conferindo
ainda ao Estado a função de prover e assegurar tais práticas aos seus cidadãos.
55
Tubino (1992) aponta para o papel do Estado de fomentar o esporte como
meio de bem-estar social, sem que esse tipo de intervenção seja rejeitada. Pelo
contrário, é aceita sem restrições, já que o Estado possui a capacidade
institucional e política para lidar com a diversidade interna da nação e a imensa
variedade de problemas sociais existentes nas suas delimitações de
responsabilidade pública. Entretanto, o autor paralelamente aponta também para
as falhas das ações do Estado nessa área especifica - seja por tentar uniformizar
em toda a nação os serviços sociais oferecidos, como é o caso de muitos
programas de esporte popular, não conseguindo administrar as adversidades e
nem considerando suas diferenças culturais, de valores, de rendimento e de
produtividade, seja por acreditar que fomentando "uma das manifestações dos
programas formulados, como o esporte popular, sem interatuar com outros
programas efetivos de mesmo sentido social, possa conduzir as estratégias
sociais a bons resultados". (Tubino, 1992, p.21)
A intervenção do Estado no esporte, segundo Tubino (1992), é um assunto
controverso. De acordo com a sua pesquisa, há autores que defendem uma
atuação plena, como Forsthoff e Garcia-Pelayo, porque não acreditam que o
processo natural do esporte e suas leis conduzam a um equilíbrio social
desejável. Fazendo um contraponto a esta visão, outros autores como Noronha
Feio e Carzola Prieto acreditam que a atuação deva ser limitada, pois
" ao responsabilizar o Estado pela qualidade de
vida, apenas justificam apoios estatais
económicos e financeiros no chamado esporte de
tempo livre, também denominado popular, desde
que tenham objetivos definidos na direção de
entretenimento, e que não excluam o fomento à
Educação Física e ao esporte-educação". (p. 20)
O fato de o esporte possuir enorme abrangência na sociedade moderna e
de trazer intrínsecos a ele valores importantes para a constituição da mesma
justificaria a presença do Estado como crescente patrocinador das questões do
esporte, colocando-o á disposição de todos os cidadãos, protegendo-o nos seus
variados campos de atuação, acompanhando-o nos seus aspectos éticos, morais 56
e políticos (Tubino, 1987). Porém, não devemos perder de vista que, como
fenômeno social, o esporte traz ao mesmo tempo e de forma intrínseca aspectos
positivos e negativos que devem ser levados em conta na revisão do papel do
Estado diante do fenômeno, para que este possa cumprir com suas obrigações
junto à sociedade.
Nesta perspectiva, Tubino (1992) apresenta o que identificou como
tendência para a relação Estado-Esporte-Sociedade, tomando como
responsabilidade social do Estado fomentar as manifestações esporte-educação e
esporte-participação, que são, no seu entender, a expressão do direito de todos a
práticas esportivas; normatizar a manifestação esporte-performance,
preferencialmente através de um Conselho representativo da sociedade, criado
para acompanhar a dinâmica do esporte contemporâneo e os diversos tipos de
conflitos sociais a ele referentes, deixando de lado o papel de tutelador
paternalista; estimular o interesse da iniciativa privada para as questões do
esporte, levando-a a uma co-responsabilidade; estimular a Universidade a
estender às questões do esporte o exercício de suas funções fundamentais,
relativas às ciências e à formação de recursos humanos; desenvolver meios para
o intercâmbio internacional na área do esporte; buscar ações efetivas de
transformação diante do problema da violência nos palcos esportivos; formular
normas para constranger possíveis abusos e falta de cuidados em relação ao
meio ambiente e questões de segurança, já que é crescente a prática esportiva
na natureza.
Segundo Camargo (1999), é dever de todos, porém prioridade máxima do
Estado, compreender todo o contexto esportivo e atuar sobre o mesmo, no
sentido de minimizar as distâncias que separam o esporte de rendimento das
práticas desportivas de base. De acordo com Constantino (1991 ), o Estado, com
base na política desportiva do país e na ausência de considerações sobre uma
política voltada especificamente ao âmbito de alto rendimento, tem a função de
prover e assegurar tais práticas aos seus cidadãos. Nós temos leis de incentivo
ao esporte competitivo que permitem que as empresas patrocinem um clube ou
criem suas equipes/times, mas isso não restringe a política a uma ação voltada
57
exclusivamente para o alto rendimento. Um exemplo disso é a Lei Pelé que no
seu capítulo oitavo, regulamenta os recursos para o fomento das práticas
desportivas formais e não formais, provenientes do orçamento público e
investimentos privados (Diário, 1998).
Apesar de termos citado estudiosos sobre o assunto, termos mostrado que
o fenômeno esportivo e suas dimensões sociais têm sido alvo de inúmeras
pesquisas e constatarmos que em todas existe a previsão do direito de todos á
sua prática, poucos autores trazem algo além da menção aos grupos minoritários
neste contexto.
4.3 O esporte adaptado no Brasil
Até praticamente a metade do século XX, não existiam esportes
organizados para as PPDFs. Em decorrência da Segunda Guerra Mundial
sobreveio um grande número de pessoas portadoras de diversos tipos de
incapacidades, inclusive físicas. O pós-guerra provocou uma reavaliação pela
sociedade de seus conceitos e visões sobre a deficiência e a reabilitação, devido
ao aumento expressivo do número de pessoas que sofreram acidentes em
guerra. Dr. Guttmann utilizou os esportes, inclusive, como importantes auxiliares
nos processos de reabilitação e integração de veteranos de guerra (Adams et ai.,
1985). Este, provavelmente, foi o passo mais significativo dado na direção da
"união" do esporte à PPDF. Araújo (1998) resgata o movimento do desporto
adaptado no Brasil e ressalta que este também nasceu sob influência do trabalho
de reabilitação e das organizações/associações das PPDs.
Para se ter uma compreensão do esporte adaptado no Brasil, vale
comentar alguns pontos do histórico desse movimento. O primeiro programa
organizado de esportes em cadeira de rodas ocorreu na Europa em 1948, pelo
empenho do Dr. Ludwig Guttmann (Adams et ai., 1985). Em 1952 aconteceram os
primeiros jogos internacionais para deficientes físicos na Inglaterra, onde foi
58
criada a primeira organização internacional de esportes, a atualmente conhecida
ISMWSF. De acordo com Bedbrook (apud Araújo, 1998), os jogos para a PPDF
passaram a ser oficialmente reconhecidos pelo Comitê Olímpico Internacional a
partir de 1956.
No resgate de Araújo (1998), no ano de 1960, esforços foram somados
para que acontecessem oficialmente os primeiros Jogos Paraolímpicos em
Roma. Desde então, estabeleceu-se que os Jogos Paraolímpicos ocorreriam na
mesma época e na mesma cidade que sediava os Jogos Olímpicos, sendo que
desde as Olimpíadas de Seul, em 1988, tem ocorrido efetivamente esse
sincronismo, o que se tornou um marco para o movimento. Nesta época, a
Organização Internacional de Esportes instituiu a realização das Paraolimpíadas,
nome dado às olimpíadas nas quais participaram os portadores de deficiências
visuais e físicas em geral. Em 1996, nas Paraolimpíadas de Atlanta, os portadores
de deficiências mentais participaram pela primeira vez como convidados, para
posterior junção neste tipo de evento, semelhante ao processo ocorrido com os
atletas cegos e PCs, que haviam sido incluídos em 1976, no Canadá Hoje, a
cidade que sedia os Jogos deve prever adaptações necessárias na construção da
vila olímpica e dos espaços de competição para receber os atletas paraolímpicos.
Paralelamente à evolução técnico-didático-pedagógica das modalidades e
a crescente organização institucional mundial do esporte adaptado, tem havido,
nos últimos anos, movimentos sociais significativos que provocaram
acontecimentos histórico-políticos ímpares, como o 198 1- Ano Internacional do
Deficiente, dedicado pela Organização das Nações Unidas [ONU] às PPDs,
representando " ... a fase culminante das reivindicações e lutas de diferentes
entidades internacionais , iniciadas na década de 70 em favor dos 'deficientes' ".
(Carmo, 1994, p.17)
Esta expressiva mobilização tem incentivado discussões, provocando a
modificação de atitudes tanto da PPD quanto da sociedade em relação à
deficiência, bem como o desenvolvimento de diversas áreas afins. Segundo
Araújo (1998), no Brasil, o período relativo aos três últimos mandatos
presidenciais, antes da eleição de 1998, 59
" ... corresponde ao surgimento de reivindicações
de vários grupos, de diferentes segmentos da
sociedade, em nível nacional, decorrentes de
ações implementadas ou reivindicadas por
organizações internacionais. Isso suscitou
atitudes por parte do governo, direcionadas às
necessidades e direitos das pessoas portadoras
de deficiências." (p. 2)
Ainda segundo o mesmo autor, o desporto adaptado começou a ser
praticado no Brasil desde meados da década de 50, há precisamente 43 anos,
decorrente da iniciativa das próprias PPDFs no contexto das influências históricas
já citadas. O governo somente demonstrou interesse por este segmento há 15
anos, gerando ações governamentais no sentido da institucionalização do
desporto adaptado, fomentando o apoio e o crescimento do esporte adaptado de
rendimento. De acordo com o autor, no início do movimento do esporte adaptado
no Brasil, as filosofias de autonomia predominavam na sua autogestão.
As resoluções da ONU na década de 70, em relação à problemática das
PPDs, geraram repercussões mundiais. De acordo com Araújo (1998), as ações
desencadeadas no sentido de acatar as resoluções da ONU transformaram-se
num marco de grande significado aqui no Brasil, com variados objetivos que
envolveram diversos segmentos do governo e da sociedade. Segundo ainda este
autor, a relação esporte adaptado e Estado, no Brasil, foi iniciada a partir do ano
1981,que
" .. marcaria o início de uma década em que os
países membros deveriam estabelecer planos e
metas, voltados para as necessidades das
pessoas portadoras de deficiências, em todas as
áreas" (p.36).
As primeiras ações voltadas para o cumprimento das resoluções da ONU
foram no sentido de conhecer a verdadeira realidade desta população. Machado
(apud Araújo, 1998) explícita em seu livro "Deficiente: integração pelo desporto",
60
de 1981, o desconhecimento das necessidades e dificuldades das PPDs, naquele
momento, por parte dos responsáveis pela área de educação física e desporto no
governo. Como conseqüência, as atividades relacionadas à PPD e ao esporte
adaptado, passando pela educação física especial, no sentido de estruturação,
reconhecimento e incorporação desta área, foram assumindo novas proporções a
partir dessas resoluções.
Araújo (1998) destaca algumas ações que fizeram parte deste contexto e
que trouxeram contribuições na evolução deste processo. São elas:
• Os Congressos do EPT realizados no início dos anos 80, que se
tornaram fóruns de discussão e apresentação de diversos trabalhos
desenvolvidos em educação física com pessoas portadoras de necessidades
especiais. O autor valoriza o movimento do EPT enquanto princípio de um
trabalho sistematizado na educação física, porém observa que estes Congressos,
nas suas propostas, não previam o trabalho com a PPD, ainda que houvesse um
número expressivo de trabalhos apresentados relacionados a esta população
para a época Araújo conclui que "embora o nome Esporte para Todos não exclua
a pessoa portadora de deficiência, suas justificativas e diretrizes também não as
incluem". (p.42);
• O Projeto Integrado SEED/CENESP (Centro Nacional de Educação
Especial) de 1984/1985, que apresentou estudos das condições em que as PPDs
eram atendidas no campo da educação física e do esporte, com o propósito de
investigar a ausência de uma política nacional na área de atividade física, lazer e
esporte para as PPDs e detectar as necessidades daquela época para tal. Os
problemas identificados e as respectivas propostas de solução sugeridas no
desenvolvimento do Projeto Integrado voltaram a ser discutidos no Encontro de
Professores de Educação Física de Tramandaí/RS, realizado em março de 1986.
Elegeram-se ações de caráter emergencial que foram contempladas através da
Resolução n°3, de 16/07/1987, e que envolveram inclusive as Instituições de
Ensino Superior [IES], dando a estas questões caráter científico;
• O Plano Nacional de Ação Conjunta para Integração da Pessoa
Deficiente foi lançado dentro do plano de governo do ex-presidente Sarney (1985-
1990) como prioridade no sentido da busca pela efetivação da integração social
61
das PPDs, das pessoas com problemas de conduta e dos superdotados, gerando
assim a criação da Coordenadoria para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência [COROE] - órgão político que teve como um de seus objetivos
assegurar às PPDs o pleno exercício de seus direitos básicos e que serviu de
apoio importante no processo de desenvolvimento do esporte adaptado no país,
ainda que esse não fosse uma das suas prioridades;
• O Plano Plurianual 1991-1996, implantado pela então criada
Secretaria dos Desportos a partir do diagnóstico feito para a área. Constituía-se
em um plano geral de esportes do governo Collor para este período que continha
um Programa de Desporto das Pessoas Portadoras de Deficiência, elaborado
pelo Departamento de Desporto das PPDs - órgão recém-criado e único no
gênero até então voltado para essa área específica, que possuía quatro
subdivisões (capacitação de recursos humanos; pesquisa e desenvolvimento
tecnológico; desenvolvimento e fomento desportivo; documentação e informação)
as quais nortearam todas as suas ações e foram responsáveis pela evolução dos
seus setores correspondentes integrados;
• No sentido de avaliar as ações implementadas pelo Estado no
campo do esporte adaptado em uma década, realizou-se o Encontro Técnico de
Avaliação Desportiva das Pessoas Portadoras de Deficiência na década de
1983/92, patrocinado pelo SEED/MEC e coordenado pelo Departamento de
Desporto Sociocultural da COROE. Deste encontro saiu um documento que
retratou o perfil, durante esta década, das ações desportivas dirigidas às PPDs,
em âmbito nacional. Este período conforme Araújo, " .. caracteriza o surgimento de
várias ações no sentido de institucionalização do desporto adaptado no Brasil."
(p.65). De acordo com o autor, o Encontro foi um indicador do desenvolvimento
do esporte adaptado, o qual reuniu a massa crítica de maior expressão nacional
para uma análise dos resultados ocorridos na área, advindos das ações do
Estado e da sociedade;
• A criação do INDESP pelo Decreto-Lei n.0 1.437, de 04/04/1995,
como autarquia federal, vinculada ao Ministério da Educação e do Desporto,
trazia uma proposta de governo para o desporto adaptado em âmbito nacional,
que segundo Araújo, se encaixava na proposta para o esporte em geral, com
algumas restrições, tais como o fato de não haver um programa específico
direcionado à PPD, e "sim uma filosofia que inclui a mesma em uma política de 62
esporte em geral" (p.85), e de não prever uma assistência ao atleta PPD
profissional e nem ao em formação.
Paralelamente a essas ações governamentais, consoante com Araújo
(1998), a grande maioria das faculdades de Educação Física do país- através da
reformulação curricular, a partir da Resolução n°3 de 1987, que foi efetivada em
1988 - viu-se quase que forçada a abrir e oferecer pelo menos uma disciplina
obrigatória sobre a área adaptada em seus cursos, gerando ao menos a
informação de que há trabalho junto a esse tipo de população e despertando o
interesse de alguns alunos para essa área de atuação, o que veio a colaborar
para a evolução da mesma.
Segundo Rosadas (2000), um número considerável de Instituições de
Ensino Superior (IES), hoje em dia, incluiu disciplinas voltadas para a educação
física e a adaptação. Inicialmente o investimento neste setor partiu de iniciativas
isoladas de algumas instituições, principalmente das localizadas nas regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste, muitas delas utilizando profissionais com experiência na
área para ministrar tal conteúdo. Ainda conforme o autor, nesta época inicial
foram montados cursos emergenciais, com o objetivo de resolver problemas
imediatos com profissionais que já se encontravam em atuação ou iniciavam-se
na área, e cursos específicos de pós-graduação começavam nos grandes centros
educacionais do nosso país. Porém, ainda não temos a formalização do trabalho
adaptado nas diversas disciplinas oferecidas por essas universidades como parte
da grade curricular regular de formação do futuro profissional e sim, na maior
parte das vezes, como disciplina única com caráter informativo geral.
Para o autor, houve um crescimento significativo no âmbito do esporte
adaptado em geral e um franco desenvolvimento na formação profissional voltada
para esta área, apesar do tempo relativamente pequeno de sua existência e de
haver necessidades ainda não atendidas. Rosadas justifica essa afirmação
através de alguns exemplos. O campo acadêmico, em um prazo de
aproximadamente dez anos a partir da introdução de disciplinas específicas e
estímulos ao setor para a expansão de uma área de conhecimentos muito
complexa e desafiadora, apresenta hoje uma grande quantidade de publicações
63
tendo como objeto de estudo as PPDs. Há também a criação de uma Sociedade
Científica que promove regularmente congressos e encontros específicos,
auxiliando as discussões pertinentes à área e estimulando o embasamento
científico da mesma. Fora do setor acadêmico, determinadas instituições
demonstram o interesse em preparar seus profissionais para lidar com essa
população, como é o caso do SESI, que através de convênio com o INDESP,
realizou cursos específicos de atualização em quase todos os estados de nosso
país. Outros exemplos são os meios de comunicação em geral, os quais, embora
com pouca freqüência, divulgam notícias referentes à participação das PPDs em
eventos esportivos nacionais e internacionais. Também no meio esportivo,
existem algumas instituições e clubes que começam a se estruturar para oferecer
atividades esportivas para a área adaptada.
4.3.1 Esporte adaptado de rendimento
no Brasil
Na gênese do desporto adaptado no país, alguns profissionais de diversas
áreas como a Educação Física e a Fisioterapia, juntamente com as PPDFs que se
interessavam e se dedicavam ao esporte competitivo, foram formando núcleos
desportivos, inicialmente em centros de reabilitação e/ou hospitais que, com o
passar do tempo, se transformaram em clubes esportivos para a PPDF (Araújo,
1998). Somado a esse quadro, ainda existiam movimentos esportivos isolados
das outras áreas de deficiências, como o desenvolvido pelas pessoas portadoras
de deficiência visual (PPDV), que tinham no Instituto Benjamim Constant (IBC)
sua base mais forte, o mesmo ocorrendo com o Instituto Nacional de Educação
de Surdos (INES), escola para pessoas portadoras de deficiência auditiva
(PPDA), entre outros, que buscavam desenvolver atividades físicas e desportivas
para a PPD.
As instituições que respondem pelo desporto adaptado no Brasil se
formaram, na sua grande maioria, posteriormente ao Ano Internacional da Pessoa
64
Portadora de Deficiência, em 1981, promovido pela ONU. Elas foram se
organizando através das iniciativas das pessoas portadoras de deficiência a partir
do início dos anos 80, momento em que o governo reconheceu a legitimidade das
instituições representativas do desporto para o portador de deficiência. Até então,
só havia a federação das APAEs, fundada em 1962- que, apesar de participar de
discussões acerca da política do desporto para a PPD, segue seu movimento
esportivo próprio - e a ANDE, fundada em 1975, que respondia nacional e
internacionalmente por este setor. Porém, o Conselho Nacional de Desporto
(CND) não a reconhecia no seu início como uma associação desportiva
representativa, já que via o desporto adaptado como um desporto de menor
relevância (Araújo, 1998).
Nesses últimos anos o Brasil tem aumentado o número de participações e
participantes em campeonatos internacionais, como nos I Jogos Pan-Americanos
Paraolímpicos e nos Jogos Mundiais em Cadeira de Rodas da Nova Zelândia,
auxiliando a evolução e o desenvolvimento do esporte adaptado de rendimento no
Brasil. Um reflexo disso foi o número de medalhas, um total de 212 no Pan
Americano, em nov./1999. O país participou com 162 atletas, ficando em 2° lugar
na contagem geral dos pontos. No Mundial, em out./1999, o resultado foi 30
medalhas no total, o Brasil foi representado por com 28 atletas (UM SHOW, 1999;
BRASIL, 1999; PAN-AMERICANO, 1999,b). De acordo com as informações do
CPB e da ABRADECAR, a participação brasileira em Paraolimpíadas, que se
iniciou a partir do ano de 1972, começou a crescer em número de atletas e
medalhas a partir de 1984, como a tabela abaixo nos mostra.
65
QUADRO 4- Resultados das participações brasileiras em Paraolimpíadas
1972 Heidelberg/Aiemanha, 1976 Toronto/Canadá, com 3
com 2 atletas participantes atletas participantes e com 2
medalhas de prata
1980 Amhem/Holanda, com 15 1984 Nova York/EUA e Stoke
atletas participantes Mandeville/lnglaterra, com total
de 23 atletas, respectivamente (2
prata, 1 bronze/EUA e 7 ouro, 11
prata, 3 bronze/lnglaterra)
1988 Seul/Coréia do Sul, com 1992 Barcelona/Espanha, com 42
56 atletas e o total de 27 atletas e o total de 7 medalhas (3
medalhas (4 ouro, 9 prata, 14 ouro, 4 bronze)
bronze) I
1996 Atlanta/EUA, com o total 2000 Sydney/Austrália, com o
de 50 atletas e 21 medalhas (2 total de 65 atletas e 22 medalhas
ouro, 6 prata, 13 bronze) ( 6 ouro, 10 prata, 6 bronze)
O fenômeno esportivo correntemente representa, segundo autores como
Lobato; Valente (1997), Lucena (1998), Fernandes (1998), Proni (1998) e Valente
(1998), um elemento importante para os meios de comunicação de massa, tanto
como entretenimento quanto como mercado globalizado. A dimensão do esporte
espetáculo, segundo esses autores, é a de maior visibilidade e influência direta de
comunicação de massa, em relação às demais, inclusive na área adaptada. Um
exemplo deste fato foram as reportagens feitas sobre o resultado brasileiro nas
últimas Paraolimpíadas comparando-o diretamente ao resultado obtido pelos
nossos atletas olímpicos (Mais 4, 2000; Ouro, 2000; Brasil, 2000; Campeões,
2000). Não estamos dizendo que uma das manifestações esportivas seja melhor
ou mais importante do que as outras, mas, ainda conforme a abordagem dos
autores supracitados, entre outros, considerando-se a influência da mídia nas
sociedades contemporâneas, bem como a relação direta entre esta e o esporte,
este dado torna-se fundamental quando se estuda o fenômeno esportivo.
66
Os países ditos de Primeiro Mundo encabeçam geralmente o
desenvolvimento de pesquisas adaptadas à área, tanto na parte de avaliações
médicas de atletas, acompanhamentos de desempenho e treinamentos
específicos das modalidades por eles praticadas, como na parte de tecnologia de
materiais e implementos usados por esse segmento da população. Com os
incentivos de patrocinadores privados e governamentais, temos tido atualmente
uma maior participação em eventos competitivos internacionais, trazendo sempre
medalhas e inscrevendo nosso esporte no cenário mundial, além de termos
acesso a trabalhos de outros países e às tecnologias desenvolvidas. Porém,
apesar desse avanço na área, esse não corresponde à nossa realidade no
desenvolvimento das bases esportivas adaptadas, pois mesmo o Estado tendo-se
tornado seu gerenciador a partir da institucionalização do esporte adaptado, o
crescimento observado desta estrutura não pode ser entendido como crescimento
da população atendida e da qualidade dos serviços nesta área, porque, conforme
Araújo (1998), não se nota uma realização do Estado no sentido de possibilitar o
aumento desta prática.
Araújo (1998) ressalta que o desporto adaptado é um dos diversos
benefícios que estão sendo conquistados aos poucos pelas PPDs. Isto, na sua
visão, mais por esforços de ONGs, decretos e leis, vontades e interesses políticos
do que pelo respeito ao direito às práticas desportivas formais e não formais, que
é assegurado a todos pela Constituição Federal de 1988, e dever do Estado
fomentá-las. Na sua pesquisa, ainda destaca que há incoerência nas propostas
do governo para o desporto adaptado em relação à realidade, já que o Estado cria
meios para atender aos clubes e seus praticantes através de um sistema de
financiamento do desporto,
"mas impossibilita este atendimento diante das
exigências impostas ao solicitante, com exceção
das organizações de dirigentes do desporto, que
hoje contam com o Comitê Paraolímpico como
mediador". (p.138)
E o CPB, segundo o autor, em seus objetivos não contempla o pleno
desenvolvimento de todas as dimensões do esporte, nem a acessibilidade, nem o
direito dos praticantes não integrantes das seleções nacionais.
67
Camargo (1999) enfatiza a ausência de ações do Estado que revelem o
impasse entre o esporte de rendimento e as atividades de base. E vai além,
citando Araújo (1998) quando este destaca que o desporto praticado pelas PPDs
mantém dependência em relação ao Estado. Por sua vez, este fato gera também
segregação, na medida em que o Estado utiliza-se do paradigma convencional de
rendimento para essa realidade diferenciada, não cumprindo os pressupostos de
acessibilidade e participação.
Mesmo estando estabelecido por leis e propostas como um dos objetivos
do governo, segundo Araújo (1998), o desporto adaptado representa um desafio
de acesso à prática, a ser vencido pelas instituições de ensino, pelos clubes de
esportes, pelas suas associações nacionais, pela iniciativa privada, pelo governo
e pela sociedade. A institucionalização do esporte adaptado ainda não està
possibilitando o acesso de todos nem permitindo que o fenômeno esportivo seja
utilizado como um dos instrumentos que possibilitem a não discriminação da PPD
na sociedade, a garantia da conquista dos seus direitos e do cumprimento dos
mesmos, a integração da PPD em todos os setores da vida em sociedade.
Para tanto, conforme Araújo (1998), será necessário integrar os meios que
proporcionem a verdadeira integração, desde as relações diretas até as mais
indiretas com a questão, estabelecer caminhos que viabilizem o incentivo da
iniciativa privada ao esporte como um todo, bem como buscar, através da
legislação, formas que facilitem a prática das atividades esportivas pelas
organizações já existentes por modalidades, em nível competitivo, "para que a
sua legitimidade não seja apenas de direito e se tome uma atividade natural a
qualquer cidadão" (p.140); e, desse modo, entrarmos em harmonia com o
movimento esportivo, as dimensões sociais do esporte e a busca do mundo
esportivo, que na visão de Tubino (1992),
"passou a procurar as interseções do saber
esportivo existentes e buscar novos
conhecimentos e caminhos, de modo que o
esporte, agora mais ampliado e abrangente no
seu conceito, pudesse atender às necessidades
das três dimensões sociais (esporte-educação,
68
esporte-participação e o esporte-performance) do
renovado conceito de esporte"(Tubino,
1992,p.29).
4.3.2 A estrutura de eventos esportivos
brasileiros das pessoas portadoras de deficiência física
Na sua pesquisa, Araújo (1998) aponta para a iniciativa de duas pessoas, o
carioca Robson Sampaio de Almeida e o paulistano Sérgio Serafim Del Grande.
Na década de 50, após se acidentarem, foram procurar serviços de reabilitação
nos Estados Unidos, entrando assim em contato com a visão de esporte adaptado
e sua prática. Ao retornarem ao pais, associaram-se a outras pessoas portadoras
de deficiência física, formando times de basquete nas suas respectivas cidades. A
partir dai, o movimento foi crescendo, fortalecendo-se e ampliando sua atuação, e
atualmente vem se desenvolvendo, buscando eventos e contatos dentro e fora do
pais, procurando ainda incorporar orientações dos órgãos internacionais que
regem o esporte adaptado competitivo e acompanhar as evoluções nos mais
diferentes campos de conhecimento que esta área estabeleceu.
Segundo Araújo (1998), estas são as associações que respondem hoje
pelo desporto adaptado no Brasil:
• ABDA - Associação Brasileira de Desporto para Amputado, desde
1987.
• ABDC - Associação Brasileira de Desporto para Cegos, desde
1984.
• ABDEM - Associação Brasileira de Desporto de Deficientes
Mentais, desde 1989.
• ABRADECAR - Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de
Rodas, desde 1984.
• ANDE - Associação Nacional de Desporto para Deficientes, desde
1975.
69
• CBDS - Confederação Brasileira de Desporto para Surdos, desde
1977.
• CPB- Comitê Paraolimpico Brasileiro.
• FENAPAES- Federação Nacional das APAEs (Associação de Pais
e Amigos dos Excepcionais).
• ASSOCIAÇÃO OLIMPÍADAS ESPECIAIS-BRASIL (SPECIAL
OL YMPICS), organização mundial voltada para a prática desportiva de pessoas
portadoras de deficiência mental, desde 1990.
Com exceção da FENAPAES e da Special Olympics, todas as outras
entidades são associadas ao CPB, que tem como objetivo maior a representação
do Brasil na área de desportos das PPDs junto ao IPC, órgão similar ao Comitê
Olímpico Internacional (Araújo, 1998).
Como o nosso trabalho está basicamente voltado para a PPDF, traremos
os dados mais recentes da ABRADECAR sobre a sua divisão em regiões e
estimativa de atletas inscritos em cada uma delas. Os atletas filiados à ABDA e à
ANDE, na sua grande maioria, estão também filiados à primeira, sendo que as
três participam conjuntamente de alguns eventos, com exceção daqueles voltados
para atletas que exclusivamente praticam o futebol de amputados, o futebol de
PCs e a bocha para PCs severos. Há ainda outra exceção que é formada pelos
atletas de basquete e de tênis de mesa, que recentemente criaram suas
confederações, montando, assim, seu calendário independentemente das
associações supracitadas e conseqüentemente não constando nessa estimativa
geral de atletas por região.
São ao todo cinco regiões, sendo:
• Região 1, compreendendo os estados do Rio Grande do Sul, Santa
Catarina, Paraná e São Paulo, com 22 clubes filiados e somando urn total de 410
atletas, conhecida como Regional Sul;
• Região 2, compreendendo os estados do Rio de Janeiro, Espírito
Santo e Minas Gerais, com 6 clubes filiados e somando um total de 170 atletas,
conhecida como Regional Leste;
70
• Região 3, compreendendo os estados da Bahia, Sergipe, Alagoas,
Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão, com 16 clubes e
somando um total de 330 atletas, conhecida como Regional Nordeste;
• Região 4, compreendendo os estados de Rondônia, Roraima, Pará,
Acre, Amapá, Tocantins e Amazonas, com 6 clubes filiados e somando um total
de 11 O atletas, conhecida como Regional Norte;
• Região 5, compreendendo os estados de Goiás, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul e Distrito Federal, com 7 clubes filiados e somando um total
de 360 atletas, conhecida como Regional Centro-Oeste.
Paralelamente a essa estrutura esportiva, setores da sociedade que foram
se envolvendo de alguma forma com o esporte adaptado ou instituições que
foram criadas para se relacionar com as questões pertinentes à PPD, como as
IESs e órgãos do governo, realizavam a partir da institucionalização do esporte
adaptado encontros, simpósios, fóruns de debates, entre outros, para discutir
temas referentes às questões da PPD. Um dos mais importantes foi o Encontro
Técnico de Avaliação Desportiva das PPDs na década de 83192 realizado em
Campinas, São Paulo, no ano de 1993, promovido pelas autoridades
governamentais e com a participação de dirigentes das associações nacionais,
representantes de algumas faculdades de educação física, entre outros. Seu
objetivo era o de avaliar as ações anteriores, elaborar um documento que
retratasse o perfil das associações desportivas dirigidas às PPDs durante esse
período no Brasil e estabelecer metas para os dois anos seguintes. Este encontro
propôs a criação do CPB para organizar o desporto adaptado; a divulgação e
realização de seminários para a atualização e formação de profissionais ligados
ao desporto para atuação junto às associações e entidades representativas; a
garantia do desporto adaptado de alto rendimento e ações políticas visando à
sensibilização para os problemas relacionados às PPDs e ao desenvolvimento do
esporte adaptado brasileiro; a normatização das avaliações dos técnicos e atletas
que participassem de eventos promovidos pelo IPC e a divulgação da experiência
profissional em eventos internacionais (Araújo, 1998).
A semente do CPB, antes de sua criação definitiva, derivou da formação de
Comissões Paraolímpicas Brasileiras que atuaram na estruturação das seleções
71
nacionais em duas Paraolimpíadas, a de Seul/88 e a de Barcelona/92. Sua
concepção surgiu da necessidade de se centralizar as informações e
comunicações desportivas e principalmente pela exigência do IPC de se
relacionar com apenas um órgão de cada país (Araújo, 1998).
O CPB, da forma como é regido, reúne todas as modalidades adaptadas e
quase todas as deficiências, trabalhando necessariamente com atletas que obtêm
índice para estar nos campeonatos brasileiros organizados por essa entidade,
que representam o ponto máximo da competição do esporte adaptado nacional e
de onde saem as convocações para as seleções que irão representar o Brasil em
campeonatos internacionais e mundiais. As associações ficam com o papel de
cuidar do esporte adaptado na sua área de concentração estadual, regional e
nacional, buscando estimular o crescimento da mesma e a realização de
competições, visando com isso à difusão e massificação do esporte adaptado nas
suas regiões (Araújo, 1998).
O CPB não contempla, segundo Araújo (1998), nos seus objetivos a
acessibilidade, os direitos dos praticantes não integrantes de seleções nacionais,
o desenvolvimento e a propagação do esporte adaptado, não contribuindo
necessariamente de maneira direta para a sua democratização. E, apesar dessas
metas constarem nos estatutos das associações nacionais do esporte adaptado,
suas iniciativas ainda não são suficientes para atender à demanda e fazer cumprir
o que está previsto tanto em leis como nos seus próprios estatutos, já que suas
ações também "não podem ser traduzidas e entendidas como forma de
desenvolvimento e acessibilidade" (Araújo, 1998, p.136) do esporte para a PPD
em todas as suas dimensões.
No estágio atual de evolução do desporto adaptado no Brasil, realizam-se a
cada dois anos os Jogos Paradesportivos Brasileiros, nos quais tomam parte as
seleções das Regiões, que saem dos Jogos Paradesportivos Regionais. Esses
ocorrem anualmente, em número total de cinco, compreendendo todos os estados
brasileiros e comportando ao todo quase mil e quinhentas inscrições de PPDFs,
segundo dados recentes da ABRADECAR.
72
Existem também eventos que não têm ainda uma previsão oficial de
continuidade e freqüência, pois dependem de patrocínio, como o campeonato de
clubes por modalidade, como, por exemplo, o Brasileiro de Atletismo, ocorrido em
Natai-RN, bem como nas diversas modalidades paradesportivas, como o I
Campeonato Brasileiro lnterclubes Paradesportivo, ocorrido em Bauru-SP
(ABRADECAR, 2000).
Como o número de eventos competitivos adaptados oferecidos para as
PPDFs ainda é restrito, algumas dessas pessoas buscam as federações que
aceitam a participação de determinadas PPDFs em suas provas (sem que haja
diferenciação e desde que não se descaracterize a competição convencional, pois
em seus regulamentos não se prevê esse tipo de participação, nem qualquer
adaptação ou política de integração da PPD). Essa tem sido uma alternativa
encontrada para que o atleta PPDF participe e adquira vivência de competição.
Os principais exemplos são os campeonatos de Master ou de Travessias das
federações aquáticas, como a carioca e a paulista. Esta situação, dentro do
paradigma de competição em que vivemos e que é praticado pelas federações,
deixa, naturalmente, a PPDF em condição de desigualdade quanto à valorização
do seu desempenho em relação aos demais competidores e, embora represente
uma oportunidade adicional de participação, não se aplica a todos os casos de
PPDFs, pois depende da aceitação da organização do evento em combinação
com a arbitragem e os clubes.
Há ainda as provas de corrida de rua, como a Meia Maratona do Rio de
Janeiro, que já prevêem o atleta deficiente, mas fazem uma diferenciação
significativa para a premiação em relação à categoria principal (Meia, 2001) e não
necessariamente estão adotando o esporte adaptado na sua íntegra, como já é
feito em outros países em provas de rua, como no Japão e nos EUA.
Com relação a essa problemática, um caminho apontado como uma
possibilidade de deixar de existir essa condição de desigualdade seria a proposta
de Araújo (1998). Conforme essa idéia, as entidades nacionais do esporte
adaptado promoveriam uma aproximação com as entidades de práticas
73
desportivas convencionais como ligas, federações e confederações, para que
ambas pudessem se apoiar, aproveitar de suas estruturas e abrir espaços para a
área adaptada. Com o tempo, essa condição de participação da PPD seria feita e
encarada de forma diferente. Acreditamos que isso seja possível desde que
sejam respeitadas integralmente as particularidades de regras, sistemas de
classificação e outros pontos pertinentes ao desporto adaptado.
Outro ponto de análise da estrutura de eventos competitivos do esporte
adaptado baseou-se no estudo comparativo dos calendários esportivos para o
ano de 2000 da ABRADECAR, da Confederação Brasileira de Basquete em
Cadeira de Rodas (CBBC) e da Federação Aquática Paulista (FAP). Ao
pesquisarmos o calendário Paradesportivo de 2000, o qual previa eventos
competitivos adaptados programados e estruturados pela ABRADECAR para
seus filiados dentro das modalidades que coordena, verificamos também a
existência do calendário da CBBC, entidade derivada da primeira e que é
responsável exclusivamente pela modalidade de Basquete em Cadeira de Rodas
no Brasil (ABRADECAR, 2000). Comparamos então a modalidade natação,
oferecida pela ABRADECAR, com a modalidade basquete, da CBBC.
Observamos que no calendário da CBBC, especifico para uma modalidade,
existiu uma maior oferta de competições para os seus atletas filiados do que a
quantidade proporcional relativa à modalidade natação, pela ABRADECAR. Este
fato evidencia que, mesmo dentro do próprio universo do esporte adaptado, ainda
são oferecidas poucas oportunidades de eventos competitivos de natação pela
estrutura organizadora de forma geral.
Comparando o calendário da ABRADECAR com o da FAP, entidade
representativa responsável pela modalidade natação e suas competições no
estado de São Paulo, a disparidade ainda é muito maior em termos de
disponibilidade de eventos competitivos (ABRADECAR, 2000; FAP, 2000a).
Restringimo-nos somente ao calendário do 2° semestre de 2000 da FAP (FAP,
2000b), dada a quantidade de eventos apresentados. Em última instância, este
fato demonstra a discrepância que ocorre entre as oportunidades competitivas
existentes para o esporte adaptado em relação ao esporte convencional.
74
5 JOGOS REGIONAIS E ABERTOS DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO
PAULO
Buscando uma compreensão de como se deu a abertura para a inserção
de provas adaptadas nos tradicionais Jogos Regionais e Abertos do Interior do
Estado de São Paulo, procuramos investigar a origem dos mesmos e verificar
através de documentação se, em algum momento dentro da sua história, esta
estrutura de jogos se encaminhava ou, ao menos, sinalizava para esta inserção,
questionando assim qual foi este momento e sua razão de ser.
Apresentaremos um histórico com base no material pesquisado e uma
análise do momento em que são inseridas as provas adaptadas nos Jogos. No
Anexo I encontram-se informações mais detalhadas a respeito da história dos
Jogos.
5.1 Jogos Regionais e Abertos
Os Jogos Abertos do Interior foram idealizados e primeiramente realizados
por iniciativa de Horácio "Baby" Barione, a partir de 1936. Em 1939 o Governo do
Estado de São Paulo, através do seu então recém-criado DEESP, oficializou e
assumiu a organização destes Jogos, que tinham como objetivo principal
incentivar a prática de atividades esportivas pelos jovens das cidades do interior,
através de disputas entre as seleções das cidades participantes do evento,
estimulando assim o desenvolvimento de diversas modalidades esportivas no
Estado (São Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
Ainda naquele ano foram criadas as Comissões de Esportes nos
Municipios, que trabalhavam diretamente ligadas às Prefeituras e funcionavam
como um ponto de apoio ao DEESP, traçando um plano de ação comum e
75
servindo de incentivo e atração da mocidade para as competições esportivas.
Prestavam assistência técnica, orientação e fiscalização dos atos esportivos das
entidades locais, estabelecendo condições para que cada cidade desenvolvesse
as suas próprias atividades. Foram também criadas as Comissões Centrais, que
tinham atribuições regionais e passaram a ser o ponto de contato entre as
Comissões Municipais e o DEESP (São Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
Ao longo dos anos, os jogos ganharam força e expressão, passando a
contar com um número crescente de municípios e atletas participantes. Em 1946,
nos X/0 Jogos Abertos do Interior, realizados em Santos, estiveram presentes 54
cidades, atingindo o maior número de participantes num campeonato desse tipo,
até aquela data. Percebeu-se então que, com o crescimento dos jogos, poucas
cidades do interior paulista estavam criando condições técnicas satisfatórias para
assumir a responsabilidade de organização dos mesmos (São Paulo, 1954).
As cidades de menor condição e expressão esportivas sentiam-se
desconfortáveis ao se confrontarem com potências maiores do esporte do interior
e, por muitas vezes, acabavam não participando. Logo, a abertura de
campeonatos similares, realizados por zonas, iria possibilitar a participação de
todas as cidades do interior paulista, inclusive aquelas menos capacitadas
esportivamente. (São Paulo, 1954).
Baseado então nesses argumentos, de evitar a hipertrofia dos
Campeonatos Abertos e propiciar uma competição mais equivalente entre as
cidades de uma mesma região, o DEESP indicou a criação de Campeonatos
Abertos por Zona, alegando como vantagem o fato de que todas as cidades
paulistas ficariam habilitadas para organizar os campeonatos regionais e que
estes iriam abrir maiores e melhores perspectivas para a participação das cidades
de menor desenvolvimento esportivo (São Paulo, 1954).
Aos poucos, as Comissões de Esporte foram dando formato a esta idéia e
fazendo uso das facilidades de locomoção promovidas pelas estradas de ferro
que cortavam o interior de São Paulo. Então, em 1950 realizou-se o primeiro jogo
76
aberto por zona, os Jogos da Alta Sorocabana. Três anos mais tarde, já contando
também com os Jogos Noroestinos, foram oficializados pelo DEESP os jogos
abertos por zona (São Paulo, 1954 ), que passariam a ser denominados Jogos
Regionais a partir de 1956 (Jogos, 84).
O Decreto-Lei n° 2.749, de 29 de setembro de 1954, criou o Departamento
de Esportes e Educação Física do Estado de São Paulo (DEFE), órgão único
proveniente da fusão do Departamento de Educação Física do Estado de São
Paulo com o Departamento de Esportes do Estado de São Paulo, com o objetivo
de promover o incentivo, a orientação e o controle dos programas especiais de
recreação e ginástica em todos os graus de ensino, bem como a difusão, o
desenvolvimento e o aperfeiçoamento técnico das práticas esportivas (São Paulo,
1955).
Em 1959 os Jogos Regionais foram oficialmente organizados, dividindo-se
o Estado de São Paulo em oito regiões: Alta Sorocabana, Noroestinos, Vale do
Paraíba, Araraquarense, Média Mogiana, Alta Mogiana, Paulista e Alta Paulista
(Jogos, 84 ).
No ano de 1970, por iniciativa do DEFE, os Jogos Regionais passaram a
ser classificatórios para os Jogos Abertos do Interior, objetivando-se um melhor
preparo técnico de cada região e aplicando-se o mesmo regulamento a todas
elas. O Estado adotou uma nova divisão em cinco zonas: Norte - região de São
José do Rio Preto e Araçatuba; Sul - região da Grande São Paulo e Sorocaba;
Oeste - região de Bauru e Presidente Prudente; Leste - região de Campinas e
Ribeirão Preto; Litoral - região de São Paulo Exterior e Vale do Paraíba (Jogos,
84).
Em 1985, foram realizados os 50° Jogos Abertos do Interior, em Santo
André, com 117 cidades participantes e 14 modalidades. Ocorreram clínicas
técnico-pedagógicas com treinadores de renome nacional com o objetivo de
intercâmbio desportivo, reuniram-se no mesmo espaço atletas desconhecidos do
grande público, vindos de cidades distantes, até estrelas olímpicas do esporte
77
nacional. Este campeonato, nesta época, já era tido como a maior competição
poliesportiva do país (A maior, 1986).
5.2 A inserção de provas adaptadas nos
Jogos Regionais e Abertos do ano de 2000
Até o final dos anos 90, os Jogos continuaram a sofrer mudanças e
adaptações de acordo com a conjuntura de cada época, mantendo sua relevãncia
no contexto esportivo brasileiro, porém não apontavam para a integração do
esporte adaptado com o esporte convencional. Esta integração, com base nos
documentos revisados, na realidade, nunca fez parte do conjunto de objetivos que
nortearam os Jogos ao longo de sua história. De acordo com o ofício n°115/99
(LEITE, 1999g), a abertura para a inserção de provas adaptadas nos tradicionais
jogos do Estado de São Paulo ocorreu inicialmente por ação direta do CEAPPD,
apoiado no pelo Plano de Governo do Governador Mário Covas para o período de
1999-2002. Vale lembrar que o próprio CEAPPD foi reativado em 1996, durante o
primeiro mandato do Governador Mário Covas (São Paulo, 1998).
O Plano de Governo pretende garantir igualdade de oportunidades a todos,
abrindo espaço para minorias, como a PPD, defendendo uma política de
superação das resistências e denúncia dos preconceitos. Com relação aos
portadores de deficiência, o Plano determina a adoção de política específica que
ofereça as condições necessárias para que os mesmos tenham asseguradas
suas condições de igualdade previstas nas Constituições Federal e Estadual. A
reabilitação integral da PPD será buscada através do cumprimento das leis
existentes, que asseguram o acesso aos serviços de esporte e lazer, entre outros,
além de preverem o aparelhamento de parques e locais públicos para a prática de
atividade esportiva, bem como a realização de eventos destinados à sua
participação, inclusive. O trecho transcrito abaixo é significativo com relação ao
projeto do Governo na área do esporte adaptado:
" Será obrigatória a viabilização de condições para
jogos adaptados às pessoas portadoras de 78
deficiência paralelamente a todas as competições
desportivas entre pessoas não portadoras de
deficiência, e garantindo o oferecimento de
atividades esportivas, culturais, recreativas e de
lazer, sob a orientação de profissionais
especializados, propiciando, assim, a participação
de um maior número de pessoas portadoras de
deficiência" (São Paulo, 1998).
Por iniciativa do CEAPPD, baseado no ofício n°115/99 (LEITE, 1999g),
realizou-se em fev./1999 o I Encontro Estadual sobre o Esporte Adaptado, que
tinha como objetivo, explicitado na carta-convite (LEITE, 1999a e 1999b ), reunir
as entidades governamentais e não governamentais, os técnicos e demais
interessados na questão do esporte adaptado no Estado de São Paulo, para
discutir a organização legal desse segmento esportivo e as metas propostas pelo
Plano de Governo Mário Covas 1999-2002, a fim de torná-las realidade. O
Encontro, segundo o seu relatório final (LEITE, 1999e e 1999g), contou com a
participação de convidados das entidades do Estado cadastradas no Conselho,
de alguns representantes das Entidades Dirigentes do Esporte Adaptado no
Brasil, da Comissão Temática de Esporte, Turismo e Lazer do CEAPPD e da
Coordenadoria de Esportes e Recreação [CER] da SEET. Foram sugeridas neste
Encontro, e aprovadas em reunião plenária do CEAPPD no mês de abril, as
seguintes propostas:
1- Criar na SEET/CER uma área responsável pelo esporte adaptado com
orçamento e programa de trabalho.
2- Incluir na programação oficial da SEET/CER eventos destinados ás PPDs.
3- Criar uma estrutura de apoio técnico e financeiro para os eventos promovidos
pelas entidades esportivas de PPDs no Estado.
4- Implementar um cadastro das entidades destinadas à prática e de organização
esportiva para PPDs existentes no Estado.
5- Implantar diretamente ou através de parcerias com as entidades esportivas
para PPDs um programa sistemático de iniciação e prática esportiva.
6- Realizar diretamente ou em parceria cursos de formação e atualização para
profissionais que atuem na área de desporto para PPDs. 79
7- Assegurar que um percentual de cada patrocínio feito por empresa estatal seja
destinado ao esporte adaptado. Viabilizar a criação de um mecanismo legal de
incentivo fiscal para o esporte adaptado tendo por base a Lei de Incentivo à
Cultura (LEITE, 1999e e 1999g).
Podemos observar que as propostas acima têm como objetivo criar
condições institucionais que se integrem num projeto que viabilize e fortaleça o
desenvolvimento do esporte adaptado no Estado. Ao longo do ano de 1999, com
base nos ofícios n°012/99, 049/99, 108/99, 110/99, 114/99, 115/99 (LEITE, 1999a,
1999b, 1999c, 1999d, 1999e, 1999f e 1999g), o CEAPPD se empenhou na
mobilização de entidades ligadas ao esporte adaptado, na articulação junto à
SEET/CER, na reunião de esforços no sentido de oferecer subsídios à formulação
de políticas públicas para o setor, na captação de apoio da sociedade civil
organizada e na viabilização de ações concretas que incluíssem efetivamente a
participação de atletas PPDs em eventos esportivos oficiais regulares da
SEET/CER.
No 2° semestre de 1999, como não havia mais tempo hábil para serem
incluídas as provas adaptadas no calendário da programação oficial da
SEET/CER, no mês de setembro, após reunião entre o Prof.0 Vanilton Senatore,
vice-presidente do CEAPPD e relator da Comissão de Esportes, e o Prof.0 Antonio
Carlos Pereira, coordenador da CER, da SEET/CER, conforme o ofício n°108/99
(LEITE, 1999d), foram definidas cinco sugestões de participação de PPDs em
provas adaptadas, em caráter de demonstração, nos eventos previstos no
calendário que ainda seriam realizados. Destas, somente três foram efetivamente
agendadas e realizadas, de acordo com o ofício n°114/99 (LEITE, 1999f): jogo
exibição de basquete em cadeira de rodas no Campeonato Escolar de Esportes -
Final Mirim - em nov./99; duas provas de pista em atletismo para deficientes
mentais das Olimpíadas Especiais, no Festival de Atletismo - nov./99; e quatro
provas de natação para deficientes mentais das Olimpíadas Especiais, no Projeto
Nadar- Final Estadual -em novembro de 1999.
Ainda no mês de novembro deste ano, através do ofício n°115/99 (LEITE,
1999g) enviado à SEET, o CEAPPD, partindo da constatação de que em 80
nenhuma ação do calendário oficial de 1999 estava contemplada a participação
da PPD, reiterou a importância da implementação das ações propostas como
forma de garantir o acesso das PPDs aos eventos promovidos pela Secretaria,
tendo em vista que a elaboração do calendário para o próximo ano estaria sendo
realizada em dezembro.
Finalmente, no ano de 2000, obteve-se junto à SEET/CER a inclusão no
seu calendário oficial de provas adaptadas para PPDVs e PPDFs nos Jogos
Regionais e Abertos do Interior, iniciativa pioneira do Governo do Estado de São
Paulo. A SEET/CER abriu a oportunidade de participação em duas modalidades:
Atletismo e Natação. As provas de atletismo foram corrida em cadeira de rodas de
100 metros para masculino e feminino e 400 metros para masculino, ambas
somente para a PPDF. As provas de natação foram de 50 metros e 100 metros
nado livre para PPDF e PPDV, tanto no masculino como no feminino (São Paulo,
2000).
5.3 Sistema de classificação utilizado
nos Jogos
A Portaria do Coordenador da CER (G. CER 35/2000), de 21/03/2000,
publicada no Diário Oficial do Estado (Diário, 2000), trata da regulamentação da
participação da PPD nos Jogos Regionais e Abertos do Interior. Este documento
prevê que, no ato da inscrição, os atletas deverão apresentar o comprovante da
sua classificação, dentro do sistema de classificação funcional, expedido por
entidade reconhecida pelo CPB, conforme a Portaria G. CER 04/2000, que
regulamenta o registro do atleta. Este documento prevê também que, no período
de realização das competições nas modalidades de atletismo e natação, haverá
um classificador do sistema funcional para dar aos atletas o atendimento
necessário, caso não possuam o comprovante de sua classificação. Em seguida,
informa que no atletismo está prevista a participação de PPDFs das classes T50 à
T53 do sistema de classificação funcional. Já na natação, é prevista a
81
participação de atletas PPDF das classes 87 à 810, e PPDV das classes 81 à 83
(cujas descrições gerais para a natação encontram-se no item 3.5).
Como já foi explicado anteriormente, para que ocorram provas competitivas
entre PPDs, geralmente, faz-se necessário o uso de um sistema de classificação
para que se tenha um equilíbrio do desempenho funcional, motor ou sensorial nos
quadros de uma mesma classe e se possa realizar a competição. No caso das
PPDFs, a classificação busca uma equivalência funcional motora; já com as
PPDVs, esta baseia-se no nível de acuidade visual. Porém, a Portaria G. CER
35/2000 (Diário, 2000), que trata do perfil do atleta para a participação, não
esclarece o assunto e dá margem a dúvidas, o mesmo ocorrendo com o
Regulamento dos Jogos. A Portaria deixa de esclarecer como são os quadros
motores e sensoriais que compõem essas classes, tanto para o atletismo quanto
para a natação, gerando dúvida quanto à elegibilidade para a inscrição dos
municípios. Montamos o quadro abaixo, a partir do manual do IPC (1996), no
sentido de esclarecer e demonstrar quais são as discrepâncias motoras das
classes escolhidas para compor a classe única da natação.
82
QUADRO 5 - Perfil motor das classes funcionais do esporte adaptado utilizadas como
base para o sistema de classe única dos Jogos Regionais e Abertos de 2000/2001
Espasticida de leve/ataxia
Grupo muscular ativo
Atividade muscular fraca
Paralisia
Espastici-da de severa/ atetoses
Espastici-da de modera -da
Obstru-ção severa
Amputação
89
87
ê
88
Utilizou-se nos Jogos o sistema de classe única para ambas as
deficiências. Este dado foi coletado durante os próprios Jogos do ano de 2000,
nos quais tive uma participação observadora, já que atuei como classificadora.
Nos documentos pesquisados não há nenhuma justificativa para tal decisão,
como também em relação às escolhas das provas e deficiências. Muito menos,
algum esclarecimento dos passos futuros no sentido de haver a real incorporação
do esporte adaptado, ou seja, da utilização das classes adequadas dentro do
sistema de classificação funcional, da abertura ou não de outras provas,
modalidades e/ou deficiências.
Não encontramos na documentação analisada nenhuma evidência de que
a organização dos Jogos estivesse modificando sua estrutura no intuito de se
preparar para uma atuação específica referente às provas adaptadas. Este é um
ponto fundamental para a realização adequada e bem sucedida do trabalho de
inserção da PPD nos Jogos.
5.4 Análise dos regulamentos dos
Jogos nos anos de 1999, 2000 e 2001
Destacaremos aqui apenas algumas cláusulas específicas referentes à
participação da PPD nos Jogos. Informações mais detalhadas sobre os
regulamentos podem ser encontradas no Anexo 11.
Estes regulamentos são elaborados pela CER, a divisão da SEET que se
responsabiliza, entre outras funções, pela organização, suporte e realização dos
Jogos promovidos pela mesma.
84
5.4.1 Regulamentos dos Jogos
Regionais e Abertos de 1999
Neste ano não havia a participação de atletas deficientes nos Jogos. Como
nosso interesse restringir-se-á à análise das alterações em função da participação
da PPD e às regras gerais que possam influenciar de algum modo esta
participação, abordaremos os Regulamentos de forma generalista.
Jogos Regionais 1999
O objetivo dos Jogos Regionais é favorecer o desenvolvimento da prática
esportiva nos municípios do estado de São Paulo, contribuir para o
aprimoramento técnico das diversas modalidades em disputa e selecionar,
através de competição, os melhores atletas e equipes das regiões visando à
participação nos Jogos Abertos do Interior.
Constam dos Jogos ao todo 17 modalidades, sendo que 11 para ambos os
sexos, cinco somente masculinas e uma podendo ser masculina ou mista (para
maiores detalhes, ver Quadro 4 no Anexo 11).
Os Jogos Regionais servirão como jogos classificatórios para os Abertos,
havendo critérios específicos de convocação por modalidade. Isto se mantém até
o último regulamento analisado.
Como a inserção de provas adaptadas se deu nas modalidades de
atletismo e natação, destacamos que a convocação para as mesmas ocorre por
índice técnico. Para cada delegação, o número máximo permitido de atletas
inscritos na modalidade de atletismo masculino é de 40, no feminino de 30 e na
natação é de 32 para cada sexo.
Como a disputa se dá pela soma de pontos que os municípios vão
acumulando durante os Jogos, de acordo com os Regulamentos geral e
específicos por modalidade, uma forma encontrada pela CER de estimular a
85
participação dos mesmos foi já garantir uma bonificação de um ponto ao
Município para cada modalidade e sexo participante.
Para haver a realização da prova de qualquer modalidade e sexo, há a
exigência de constar no mínimo três equipes confirmadas. Havendo a desistência
de uma equipe após a confirmação, a prova será realizada e pontuada entre as
equipes participantes; caso duas equipes desistam, a equipe remanescente
receberá a pontuação correspondente. A participação nos Jogos Abertos fica
assegurada aos municípios inscritos nos Regionais, cuja modalidade e sexo não
se realizaram por falta de participantes.
Já os Regulamentos Técnicos, tanto para o atletismo como para a natação,
que são modalidades individuais, guardam semelhanças e especificidades
próprias. No atletismo, por exemplo, é prevista a realização da prova que tiver ao
menos dois concorrentes ou equipes distintas. No caso de haver desistência de
atletas inscritos que não sejam do mesmo município, redundando em uma única
participação, a prova poderá ser realizada para efeito de obtenção de índice para
ambas. Na natação, para a organização de séries competitivas, será considerado
o melhor resultado de cada nadador e a classificação final será por tempo,
diferentemente do atletismo; neste serão considerados os melhores resultados
dos atletas para a fase de classificação, sendo que, após a realização da primeira
etapa, as demais, até se chegar à final, acontecerão por confronto direto.
Jogos Abertos 1999
O objetivo dos Jogos Abertos é o de valorizar o desenvolvimento da prática
esportiva nos municípios do estado de São Paulo contribuir para o aprimoramento
técnico das diversas modalidades em disputa. Participam deles os atletas que
foram classificados através dos Jogos Regionais.
Constam ao todo as mesmas 17 modalidades dos Jogos Regionais, com
as mesmas categorizações por sexo.
86
Conforme nosso objetivo de observar a definição das regras para as
modalidades que sofreram, no ano seguinte, a inserção de provas adaptadas,
está previsto para o atletismo e a natação o critério de participação por índice
técnico obtido nos Jogos Regionais ou nas outras competições oficiais do
calendário da SEET/CER, além de competições estaduais, nacionais e
internacionais realizadas no ano dos Jogos Abertos no período de até 15 dias
antes do Congresso Técnico. Caso o atleta venha por outro meio que não as
competições da SEET/CER, deverá apresentar documento oficial da
Confederação ou Federação especializada e os respectivos índices no Congresso
Específico da modalidade e também constar no registro de atletas daquele ano
junto á CER. Os atletas que obtiverem o índice técnico exigido poderão participar
dos Abertos.
Destacaremos a seguir alguns critérios relacionados às condições exigidas
para a participação dos municípios nos Jogos Abertos do Interior, por modalidade
e sexo. Acreditamos que tais cláusulas contêm importante conteúdo para as
nossas sugestões posteriores:
• O município não pode ter sido eliminado ou desclassificado pela CER na
modalidade e sexo.
• Está assegurada a participação nos Jogos Abertos do município que, por falta de
participantes, deixou de realizar alguma prova de modalidade e sexo nos
Regionais.
•Ao município-sede fica assegurada a participação independente de classificação
e índice, desde que as demais exigências contidas nestas cláusulas sejam
respeitadas.
•Cada município será representado por uma única equipe na modalidade e sexo.
Nos Regulamentos Técnicos dos Jogos Abertos, tanto para o atletismo
como para a natação prevê-se que estas modalidades serão regidas pelo
regulamento técnico correspondente dos Jogos Regionais, excetuando-se as
alterações e inclusões presentes. Para ambos, o município poderá inscrever até
três atletas por prova e uma equipe de revezamento, desde que apresentem o
índice técnico exigido. Cada atleta poderá participar de quatro provas individuais e
87
dos revezamentos. O município-sede poderá inscrever até dois atletas por prova
e uma equipe de revezamento independente de índice técnico, desde que
atendam aos limites de provas estabelecidos.
5.4.2 Regulamento dos Jogos Regionais
e Abertos de 2000
No início da apresentação do manual que traz o calendário das atividades
esportivas promovidas pela SEET/CER e seus regulamentos são feitos alguns
breves comentários sobre as preocupações e os objetivos da Secretaria em
relação ao esporte e aos eventos planejados nesta área. Há uma pequena
referência com respeito à preservação de espaço para a PPD nas atividades
promovidas. Este manual é de jan./fev. de 2000, e a Portaria do Coordenador da
CER que regulamentou a participação da PPD nos Jogos Regionais e Abertos do
Interior é de 21/03/2000, o que talvez explique em parte o fato de não constar
neste manual o sistema de classificação que seria utilizado para avaliar a
elegibilidade dos esportistas PPDs para a participação nos eventos programados,
bem como seu funcionamento e seu alcance.
Jogos Regionais 2000
O objetivo dos Jogos Regionais se manteve igual.
Foram criadas duas categorias de disputa: A, para atletas até 21 anos, e B,
com limite de idade livre. São disputadas nove modalidades na categoria A, sendo
que uma é mista e duas são somente masculinas. Para a categoria B, 16
modalidades, sendo que três somente masculinas, uma somente feminina e uma
mista.
Apenas a categoria B tem as modalidades de atletismo e natação, sendo
que cada município poderá se fazer representar por apenas uma equipe em cada
modalidade e sexo, optando por uma categoria. 88
Foi mantida a regra de convocação para os Jogos Abertos pelo critério de
índice técnico para o atletismo e a natação, sendo que no caso dos atletas PPD
não foi estabelecido um índice pelo fato de essa ter sido sua primeira participação
nos Jogos do Estado de São Paulo.
Comparado a 1999, houve um aumento no número máximo previsto de
atletas para ambas as modalidades nas quais foram inseridas provas adaptadas.
No atletismo, de 40 para 45 do sexo masculino e de 30 para 35 do sexo feminino,
e na natação, de 32 para 38, para ambos os sexos.
Como no regulamento do ano anterior, os municípios-sede deveriam
providenciar, junto aos órgãos competentes, alojamento para as delegações, os
quais deverão apresentar bom índice de higiene e conforto. Este artigo não sofreu
alterações no regulamento de 2001, apesar de se preverem provas adaptadas.
Com a mudança para disputa em duas categorias, a tabela de pontuação
passou a ser por modalidade, categoria e sexo, conferindo assim uma bonificação
de um ponto para cada município por modalidade, categoria e sexo participante.
No nosso entendimento, para incentivar a participação dos municípios e
conseqüente trabalho local.
A CER conferiu a cada município que participasse das modalidades de
atletismo e natação com atletas PPD um ponto de bonificação por modalidade e
sexo; para nós, essa é também uma medida de incentivo semelhante a anterior.
Vemos aqui que este artigo do regulamento cria um incentivo adicional à
participação da PPD em relação à regra geral de bonificação de um ponto por
modalidade, categoria e sexo participante. Conforme comentado anteriormente,
voltamos a enfatizar a necessidade de estímulos dessa e de outras espécies para
proporcionar o melhor aproveitamento possível da inserção de provas adaptadas
nos Jogos Regionais e Abertos de São Paulo, fomentando dessa maneira o
crescimento e fortalecimento dessa participação e do processo de integração do
esporte adaptado ao convencional.
89
Modificou-se a exigência para pontuação nas provas, fazendo com que,
caso haja apenas uma equipe, a mesma receba a pontuação correspondente.
Para a prova de uma modalidade, categoria e sexo que não tenha sido realizada
por falta de participantes, fica assegurada a participação nos Jogos Abertos do
Interior aos municípios inscritos nos Jogos Regionais. Estas normas adquirem
importância se considerarmos que a participação da PPD em algumas regiões do
Estado (senão em todas, por enquanto) é ainda incipiente.
No Regulamento Técnico, conforme afirmamos, para ambas as
modalidades não se comenta a respeito da classificação a ser utilizada para as
PPDFs e PPDVs.
No atletismo, junto à tabela de provas oferecidas, aparecem inseridas
provas para a PPDF: corrida de 100 m em cadeira de rodas masculino e feminino
e 400 m em cadeira de rodas masculino.
Neste regulamento específico do atletismo já aparece a exigência de se ter
ao menos duas equipes ou concorrentes distintos para que ocorra a prova. Em
caso de desistência dos demais atletas inscritos, desde que não sejam do mesmo
município, fica assegurada a possibilidade de um único participante realizar a
prova para a obtenção de índice. Entretanto, não se faz menção a uma regra
específica para a participação da PPD, já que esta é uma situação inicial e ainda
não se tem noção de quantos municípios vão apresentar atletas PPDs, como
também não existe previsão de índice, deixando assim a critério individual do
coordenador de atletismo de cada campeonato realizar ou não a prova adaptada,
caso esteja na situação de apenas um participante. Aqui, uma vez mais, trata-se
de garantir em regulamento que a prova para a PPD seja realizada, independente
do número de participantes. Embora a redação do regulamento deixe margem a
dúvidas quanto ao critério de pontuação nesta situação, interpretamos que o
município deva receber a pontuação correspondente à colocação inclusive como
forma de incentivo ao desenvolvimento do trabalho com as PPDs e sua
participação nos Jogos.
90
Na natação, de modo semelhante ao que ocorre com o atletismo,
aparecem as provas que foram inseridas para PPDFs e PPDVs: 100 m nado livre
e 50 m nado livre, masculino e feminino para ambas.
Para a montagem das séries se mantém a organização baseada no melhor
resultado de cada nadador e a classificação final será por tempo, diferentemente
do atletismo, em que deverão ser considerados os melhores resultados dos
atletas para as séries preliminares, sendo que, tendo sido realizada a primeira
etapa, as demais até se chegar á final se dão por confronto direto.
Em caso de desistência de atletas inscritos que não sejam do mesmo
município, redundando em uma única participação, a prova poderá ser realizada
para efeito de obtenção de índice, para ambas as modalidades. O mesmo se
aplica aqui com relação ao que já foi dito a respeito de índices técnicos e ao
incentivo quanto á participação das PPDs, abordado acima em referência ao
atletismo.
Jogos Abertos 2000
O objetivo dos Jogos Abertos se manteve igual.
Prevêem-se as disputas em duas categorias: A, para atletas até 21 anos, e
B, sem limite de idade, semelhante aos Jogos Regionais.
O critério para a participação nas modalidades de atletismo e natação é o
mesmo do regulamento do ano anterior.
Mantém-se em relação aos Regionais a bonificação por modalidade e sexo
para cada município que participar das modalidades de atletismo e natação com
atletas PPDs. Vale o mesmo comentário a respeito deste incentivo feito no
regulamento dos Jogos Regionais.
91
No Regulamento Técnico, da mesma forma que o do ano de 99, consta
que os Jogos serão regidos pelo regulamento técnico dos Regionais em cada
modalidade, excetuando-se as alterações e inclusões presentes.
Quanto à convocação para os Abertos em atletismo e natação para a PPD,
serão contemplados os oito melhores resultados das oito Regiões Esportivas.
Aqui não está claro para nós a intenção da organização, ou seja, se pretende
convocar os oito melhores tempos a partir do resultado geral dos Regionais,
independente de qual região virá o atleta de melhor tempo, ou se deseja o melhor
tempo de cada uma das oito Regiões Esportivas. Para ambas as modalidades,
não há índice para as provas adaptadas. Pela redação de 2001, como veremos,
parece que a intenção é a de convocar o melhor atleta de cada região.
5.4.3 Regulamento dos Jogos Regionais
e Abertos de 2001
Antes de sair o manual impresso pela CER, as portarias que regulamentam
os eventos esportivos promovidos pela SEET/CER são publicadas no Diário
Oficial. Neste caso, houve tempo hábil para incluir a análise dos regulamentos
deste ano corrente no presente estudo.
Jogos Regionais 2001
O objetivo se mantém o mesmo, assim como a participação em duas
categorias e a condição dos Regionais serem classificatórias para os Abertos.
Quanto às modalidades, acresceu-se o biribol masculino na categoria Livre
e fizeram-se as adaptações necessárias para tal inclusão dentro dos tópicos
relacionados.
92
Criou-se uma regra específica de convocação para a PPD, que passa a ser
o primeiro colocado por prova e categoria, tanto para a natação quanto para o
atletismo. A convocação do atleta não PPD também se modificou, sendo agora no
atletismo os dois primeiros lugares mais o índice para ambos os sexos. No caso
da natação, continua sendo apenas por índice técnico, para ambos os sexos.
Este critério de convocação da PPD para os Jogos Abertos, tornado
explícito e sem a necessidade de índice, é mais adequado à atual condição de
sua participação, conforme já comentado. Porém, acreditamos que se deva
adotar a mesma regra aplicada ao atleta não deficiente, após um tempo suficiente
para que se faça um estudo baseado nas participações e condições de
desenvolvimento esportivo do atleta PPD nos Jogos.
Como o regulamento do ano anterior, este não prevê adaptação dos
alojamentos e locais de competição, o que também não aparece como condição a
ser apresentada na disputa para a cidade-sede dos próximos Jogos. Não estamos
querendo defender uma postura inflexível para se fazer cumprir uma exigência
estrutural imediatamente "de uma hora para outra", mas, caso já estivesse
prevista em regulamento, acreditamos que esta medida possibilitaria a percepção
da premência de ações neste sentido por parte dos municípios e apoiaria a efetiva
aplicação das leis, federal e estadual, que prevêem a acessibilidade dos locais
públicos às PPDs.
Modificaram-se novamente os critérios de participação e pontuação, ou
seja, caso haja apenas uma equipe inscrita nos Regionais na modalidade,
categoria e sexo, fica assegurada a participação nos Abertos e um ponto de
bonificação, não havendo mais a pontuação correspondente como anteriormente.
Desta forma, o incentivo que poderia ser utilizado, em relação à participação da
PPD, foi alterado com esta nova redação. Admitindo que o incentivo à PPD é uma
questão muito mais profunda do que a simples inserção de uma nova modalidade
ou o mero incentivo à participação, acreditamos que o regulamento não deveria
modificar o critério de pontuação para esta situação nas provas adaptadas, como
93
uma forma de estimular os outros municípios a desenvolverem programas
esportivos com as suas PPDs.
Neste ano, a organização dos Jogos retirou também a bonificação que os
municípios recebiam por participar das modalidades de atletismo e natação com
atletas PPD. Acreditamos que essa medida foi muito precipitada, já que somente
há um ano que as provas adaptadas foram inseridas nos Jogos. Além disso,
demonstra-nos que a questão do esporte adaptado está sendo tratada como um
simples acréscimo de modalidade e não como uma problemática bem mais
profunda na própria sociedade. Para se tomar uma atitude dessas, acreditamos
que a CER deveria ter uma avaliação de que tudo está conforme o que era
esperado, ou seja, com toda a organização dos Jogos dentro do que preconiza o
próprio desporto adaptado, incluindo todas as suas regras, suas classes e
adaptações, sua abrangência nas diversas deficiências e suas estruturas formais
de competição, e não ainda no começo do trabalho de implementação da área.
Não se pode perder de vista que se está ainda no início do processo de
inclusão dessa área de trabalho. Esse campo é novo dentro do esporte, porém as
questões referentes à PPD sempre fizeram parte do caminhar da humanidade,
estando assim implicitamente relacionadas com Política Social, Estado, Esporte e
Sociedade. Por isso, mais uma vez afirmamos que esta medida foi precipitada,
podendo inclusive comprometer não só este processo de inserção, esta iniciativa
avançada na área social e de esporte, mas também até o trabalho de
desenvolvimento do próprio esporte adaptado no interior do estado, já que, com a
adoção da idéia de integração, pode-se naturalmente criar o espaço para fomento
e desenvolvimento do esporte adaptado em cada localidade.
Persistem no Regulamento Técnico alguns pontos por nós identificados
como falhos, como o não esclarecimento do sistema de classificação da PPD,
assim como a ausência de detalhes adicionais de informação e esclarecimento
quanto à sua participação. Além disso, foi mantida a redação não diferenciada
para a questão da realização da prova caso haja somente um atleta PPD inscrito,
pois a natação também passou a exigir um número mínimo de dois concorrentes
94
de municípios distintos. Há ainda o problema relativo ao incentivo à participação
da PPD, tanto pela bonificação que foi retirada como pela pontuação referente à
colocação nas provas em que não houver concorrentes, assunto sobre o qual já
discorremos anteriormente.
Jogos Abertos 2001
O objetivo dos Jogos Abertos se manteve igual.
Da mesma forma que nos Regionais, incluiu-se a modalidade biribol. A
novidade ficou por conta da criação de uma nova categoria, a 1• Divisão, com o
objetivo de proporcionar condições mais equilibradas de competição entre as
equipes.
Manteve-se o critério para a participação na modalidade de atletismo por
índice técnico, obtido nas competições oficiais do calendário da SEET/CER, além
de competições estaduais, nacionais e internacionais, realizadas no ano dos
Jogos Abertos do Interior, no prazo de até 15 dias antes do Congresso Técnico,
incluindo-se agora também a convocação dos 1° e 2° colocados dos Jogos
Regionais por prova, categoria e sexo.
Na modalidade natação, o critério para a participação permaneceu sendo
apenas por índice técnico, seguindo a mesma orientação para o atletismo.
Especificamente para atletas PPDs, foi excluída, conforme comentado no
regulamento dos Jogos Regionais deste ano, a bonificação adicional para cada
município que participasse das modalidades de atletismo e natação com atletas
portadores de deficiência. Voltamos a afirmar que esta medida foi precipitada e
não colabora no sentido de fortalecer a participação das PPDs nos Jogos.
O Regulamento Técnico trouxe nova redação para o item que trata dos
critérios de convocação dos atletas PPDs, tanto para o atletismo quanto para a
natação. Ficou definido que os primeiros colocados por prova nos Jogos 95
Regionais das oito Regiões Esportivas seriam convocados para os Abertos. Aqui
parece estar mais clara a intenção de se convocar o primeiro colocado de cada
região, o que se pode entender como uma forma indireta de estímulo ao
desenvolvimento de um trabalho com a PPD visando ao reconhecimento do
mesmo regionalmente. Porém, não há previsão de estudo para uma adoção
futura de índice mínimo como forma de convocação em ambas as modalidades,
denotando para nós uma noção equivocada em relação ao volume de atletas
PPDs que se pode mobilizar com essa oportunidade, bem como a velocidade com
que esses possam se capacitar para as competições.
Ainda com relação especificamente à participação das PPDs, foi
introduzida uma cláusula que faculta ao município-sede a inclusão de apenas um
atleta PPD, por prova e sexo, nos Jogos Abertos, desde que tenha participado
das mesmas nos Jogos Regionais. Esta medida, sem dúvida, representa uma
redução da possibilidade de participação dos atletas PPDs, levando-nos ao
questionamento quanto a uma possível discriminação, pois o tratamento tornou
se desigual em relação à regra geral anterior, que estipulava a inclusão de dois
atletas do município-sede e que prevalecia para todos os atletas, e hoje só vale
para o atleta não deficiente.
Cabe aqui questionar a intenção quanto à retirada do ponto extra de
bonificação do regulamento e à redução da possibilidade de participação da PPD
proveniente do município-sede, já que há grande necessidade de estímulo à
própria iniciativa de inserção de provas adaptadas nos Jogos, como ao esporte
adaptado em geral.
96
10. DISCUSSÃO
Vimos no capítulo Natação que os métodos de natação convencional não
englobam a aprendizagem do portador de deficiência e que alguns apontam, no
máximo, para uma possibilidade de trabalho com essa população. Por outro lado,
não há nesses métodos nenhuma exclusão explícita das PPDs (no método da
Cruz Vermelha, por exemplo, partiu-se de uma metodologia convencional para
uma adaptada, o que nos mostra a forte relação existente entre as duas). Já nos
métodos de natação adaptada, não há nada que desabone a aproximação com a
metodologia convencional. Quanto ao trabalho visando ao esporte competitivo,
estes métodos adaptados apontam para a alternativa de trabalho, mas não o
desenvolvem plenamente. Muitos dos aspectos gerais e benefícios da natação
são comuns aos métodos adaptado e convencional; a grande diferença reside na
sua parte competitiva, porque a natação adaptada possui, somado ao sistema de
classificação já existente na convencional, um sistema de classificação funcional,
fundamental para uma adequada realização da dimensão do esporte competitivo
como nós o conhecemos.
Na nossa análise sobre a natação convencional e a adaptada, como
atividade física, constatamos que ambas apresentam os mesmos principiOS
metodológicos e, adicionalmente, menos barreiras arquitetônicas, o que propicia
um trabalho integrado entre portadores de deficiência e não portadores na própria
aula e no treino. Há que se respeitar as individualidades, peculiaridades,
adaptações, regras esportivas para competição e classificações, porém as
observações técnicas são de natureza semelhante, uma vez que estão baseadas
nos mesmos princípios.
Entendemos, portanto, a natação como uma atividade física que oferece
oportunidades ás PPDs de vivenciarem uma condição menos limitada pela
deficiência, por terem sido naturalmente minimizadas as barreiras mais comuns
encontradas em outras modalidades, possibilitando assim também um trabalho de
caráter integrador nas aulas e treinos entre alunos e atletas deficientes e não
deficientes. 97
Acreditamos que o uso de uma metodologia na qual o gesto motor deva ser
ensinado adequadamente, dentro das bases mecânicas do nado, que deve ser
ajustado a cada circunstância desde o início da aprendizagem, para que se
reduzam a possibilidade de instalação de vícios e as dificuldades advindas deste
processo (como a não utilização ampliada do potencial esportivo do indivíduo),
vale para o trabalho com qualquer população. Essa concepção quanto à
condução do ensino da natação, pode ainda facilitar a realização de aulas com
caráter de integração, ou seja, aulas com a participação de alunos portadores de
deficiência juntamente com os que não o são, pois o objetivo geral será o mesmo
para ambos.
Entendemos então que se deve sempre trabalhar com metodologias
adequadas para cada situação especifica, explorando-se ao máximo as
oportunidades existentes e o potencial intrínseco de cada aluno. Essa postura
poderia ocasionar, futuramente, como uma de suas conseqüências, a modificação
na estrutura das próprias competições, facilitando conseqüentemente o processo
de inserção de provas adaptadas em jogos, torneios e campeonatos
convencionais, fazendo com que as provas para PPDs, com todas as suas
peculiaridades, viessem a fazer parte de forma mais espontânea dos programas
esportivos, sem que para isso fosse necessário fazer valer o direito à prática
esportiva através de uma previsão em lei ou uma ação política, como aconteceu
nos Jogos Regionais e Abertos.
Baseado nas Constituições federal e estadual, que conferem a todos o
direito à prática esportiva, e com o objetivo de fazer valer a previsão em lei desse
direito, o CEAPPD convocou a sociedade civil organizada, o Estado e entidades
esportivas voltadas para a PPD para discutir o esporte adaptado, sua viabilização,
necessidades e possibilidades de implementação da prática, desenvolvendo,
assim, um papel que até então dependia quase que exclusivamente do Estado,
desde a institucionalização do esporte adaptado. Para tanto, organizou o
Encontro Estadual sobre Esporte Adaptado em fev./99, do qual saíram propostas
como a inserção de provas adaptadas nos eventos esportivos da SEET, entre
outras. Durante o ano de 1999, houve movimentações políticas do CEAPPD na
98
busca da efetivação desta inserção. Então, como reconhecimento da importância
dessas iniciativas, que estavam suportadas pelo Programa de Governo Mário
Covas, a SEET/CER inseriu provas adaptadas no regulamento dos Jogos
Regionais e Abertos do Interior do Estado de São Paulo do ano de 2000.
Essa medida foi pioneira em termos de Governo de Estado. Porém, no
nosso entender, este foi apenas o primeiro passo dado no intuito de assegurar a
prática esportiva à PPD. Isso porque os Jogos possuem uma estrutura tradicional,
baseada no esporte convencional e que não previa a participação das PPDs. Na
nossa avaliação, essa medida tem de ser tratada como de caráter experimental
nesse momento de início da inserção, para que se dê o tempo necessário de
ajuste a uma nova estrutura dos Jogos com provas adaptadas, tais como locais
de alojamento e competições; para que se possa implantar políticas de
capacitação de recursos humanos voltadas para a prática esportiva da PPD, tanto
em âmbito estadual quanto municipal, e se dê tempo para que essas políticas
possam surtir efeitos; para que sejam captados investimentos, parcerias e
incentivos para esta área, visando à criação de uma estrutura institucional
articulada, que possa suportar e promover o desenvolvimento do esporte
adaptado, assim como conduzir os ajustes e as adaptações necessárias ao
processo de integração tanto do esporte adaptado (suas entidades
representativas, suas regras, suas classificações e adaptações), como,
principalmente, da PPD nos diversos âmbitos da sociedade.
A inserção de provas adaptadas não é algo comparável á inserção de uma
nova modalidade esportiva, que já tem o conhecimento e a aceitação pública,
logo não pode ser tratada dessa maneira. Muito menos é uma atitude desconexa
da realidade, da filosofia que está por trás do movimento esportivo adaptado, nem
da problemática que abrange o tema. Quando os governos prevêem uma política
nessa área, muitas vezes o fazem a partir de uma pressão externa para se
promover políticas sociais neste setor, sem que necessariamente estejam prontos
para exercê-las. Esse foi o caso do Brasil, inclusive, na época da
institucionalização do esporte adaptado, segundo Araújo (1998). Devido a
pressões e à necessidade de se planejar alguma linha de ação, a Secretaria de
99
Educação e Desporto promoveu nessa época uma pesquisa para reconhecimento
da área adaptada. Foi então detectada a ausência de uma política por parte do
Estado voltada para a prática da educação física e do esporte pela PPD (Araújo,
1998).
Vemos agora uma situação semelhante no que se refere à inserção de
provas adaptadas nos tradicionais Jogos do Estado de São Paulo por pressão de
um órgão de cobrança social, como é o caso do CEAPPD (entretanto, neste caso
não encontramos nenhum estudo ou levantamento da situação e das
necessidades específicas do esporte adaptado na área de alcance dos Jogos). O
processo de inserção, iniciado a partir de um movimento de reivindicação junto ao
Estado, mostra-nos que esse tipo de reação ainda se repete, pois há dificuldade
de se ajustar a estrutura do Estado tanto para receber a área adaptada, como
para se modificar e gerir dentro de si condições para atuar nesta área, tornando
se mais fácil, inicialmente, adotar apenas uma postura externa de aceitação. Não
se pode ignorar esses fatos, pois se corre o risco de que tais iniciativas fiquem
fadadas ao fracasso, antes mesmo de realmente terem tido uma chance para dar
certo.
Este é um processo muito maior, que está saindo da garantia do papel e
começando a ser posto em prática. A nosso ver, tem que se dar tempo à inserção
de provas adaptadas, tomar conhecimento aprofundado sobre as questões que
cercam a PPD, buscar recursos humanos qualificados para lidar com essas
questões na área adaptada e fazer a interface entre o convencional e o adaptado,
criar cursos de formação e de reciclagem profissional para os que forem atuar
nesta área e difundir o trabalho, dar o tratamento merecido de um movimento
social e não de mera modalidade esportiva, além de haver boa vontade das
partes envolvidas, para que se chegue a uma forma efetiva de cumprir o que se
propõe, ou seja, integrar as PPDs através do esporte.
Destacamos a relação Esporte/Estado, pois acreditamos que seja
fundamental para o entendimento e a evolução do esporte adaptado, para a
política de integração social da PPD, para o movimento iniciado pelo CEAPPD
100
visando à viabilização efetiva dos direitos das PPDs previstos em lei, para a
iniciativa da SEET/CER e para a própria relação Estado/ Esporte/ Sociedade/
PPD. Com base nas observações feitas, tanto sobre o histórico dos Jogos quanto
sobre a evolução do próprio esporte adaptado no Brasil, verificamos que o Estado
exerceu papel fundamental no desenvolvimento de ambos. Isso porque foi a partir
da sua institucionalização que se deu um apoio efetivo do Governo, propiciando
assim um desenvolvimento diferenciado e uma ação politica por parte do Estado
no intuito de favorecer o crescimento e a solidificação do esporte. Como exemplo
da influência do Estado, podemos citar o processo de regionalização dos Jogos
Abertos e a criação da maioria das associações de desporto adaptado, como a
ABRADECAR e o CPB.
Hoje, o esporte adaptado, por estar incluido dentro das propostas de
governo, encontra-se de alguma forma respaldado. Porém, conforme aborda
nossa pesquisa, a ação governamental ainda não é a rnesrna que para a área
convencional e, conseqüentemente, ainda não se diferencia o suficiente para dar
as mesmas oportunidades para todos no que se refere a esta área adaptada. Um
exemplo do que estamos afirmando é que não há um programa especifico
direcionado à PPD, apesar do INDESP trazer uma proposta na sua criação,
conforme Araújo (1998).
Camargo (1999) afirma que o potencial educacional, social, politico e
econômico que o esporte representa é imenso. Entretanto, este autor também nos
alerta para a vulnerabilidade do esporte à manipulação ideológica, já que esta é
diretamente proporcional à projeção que este exerce no contexto social. A nosso
ver, este é um ponto de extremo cuidado, pois uma condução mal dirigida da
integração do esporte adaptado com o convencional poderia representar a
impossibilidade desse processo ser bem-sucedido, o que não corresponde nern
ao desenvolvimento do esporte adaptado no Brasil nem à tendência mundial para
a integração dos mesmos.
Pensamos ser relevante a critica que Cavalcanti (1984) faz em relação ao
potencial de manipulação politica do esporte, porém vemos a necessidade de se
101
estabelecer as suas diversas interfaces para que possamos abordar o esporte
sob uma visão mais abrangente e diversificada, incluindo todas as suas
manifestações em todas as suas áreas, como o caso do esporte adaptado.
Em consonância com Tubino (1992), não é possível, numa análise social
de qualquer fenômeno, separar aspectos positivos e negativos, e o esporte,
"pelas suas particularidades e pelo fascínio que envolve e provoca, permite muitas
vezes um mau uso de suas possibilidades de conteúdo" (p.40), apesar de suas
finalidades e seus discursos de promoção paradoxalmente basearem-se na
afirmação de ser o esporte um dos melhores meios de alcance social.
Acreditamos então que devam ser feitos estudos integrados com diversas
áreas afins para se compreender mais amplamente o fenômeno. esportivo.
Fazemos essa afirmação devido a nossa preocupação com o desenvolvimento e
a utilização do esporte, principalmente o esporte adaptado, já que esse ainda não
faz parte plenamente das discussões e estudos acerca do fenômeno esportivo.
Um exemplo a esse respeito seria a lista de alguns aspectos negativos do
esporte, apresentada por Tubino (1992), que mereceriam abordagens específicas
(como a reprodução compulsória do esporte-performance na educação, a
discriminação contra a mulher, o seu uso ideológico-político e a preponderância
da lógica do mercantilismo no esporte), em que não encontramos a problemática
relacionada diretamente com as PPDs, como, por exemplo, uma abordagem
sobre os conceitos e/ou preconceitos da prática esportiva das PPDs ou a
discriminação contra a mulher PPD no esporte. Avançando nesta linha de
raciocínio, podemos dizer que, comparativamente ao tratamento dado às
questões relativas à pessoa não deficiente no esporte, as PPDs ainda continuam
à margem do processo evolutivo do esporte convencional, de forma geral, apesar
de hoje em dia termos uma evolução significativa na área em todos os aspectos,
em comparação com o seu início, conforme Rosadas (2000).
Essa afirmação nos reforça a idéia de que devemos olhar o esporte de um
modo abrangente, procurando sempre ampliar sua compreensão e aplicação para
continuar revertendo os entraves restantes ao pleno desenvolvimento da área,
apesar de na nossa pesquisa enfocarmos o esporte de rendimento adaptado. No
nosso entender, as competições adaptadas trouxeram maior visibilidade para a
102
atividade física adaptada como um todo, pois passou a existir um maior
envolvimento de áreas que tradicionalmente eram quase que exclusivamente
voltadas para o esporte convencional e que hoje tendem a buscar um maior
intercâmbio com a área adaptada.
Não estamos dizendo aqui que uma das manifestações esportivas seja
melhor ou mais importante do que as demais. Nossa intenção é mostrar o grande
campo de atuação que nos cabe na área adaptada, seja nas categorias de
esporte escolar, participativo e/ou de rendimento. Fazendo uso de um raciocínio
invertido, podemos explorar a visibilidade do desporto adaptado para utilizá-lo em
prol do movimento de rompimento de barreiras, de integração e conquista de
espaços mais adequados para as próprias PPDs. Isso fica claro quando
enfocamos o esporte de rendimento no contexto do esporte adaptado como uma
força motriz que fomenta, que abre caminhos e que tem a capacidade de vir a
abrir espaço para as outras dimensões do esporte na área adaptada.
Camargo (1999), em sua pesquisa, levanta uma questão importante que
pode se tornar uma cilada contra nós mesmos. Ele cita Araújo para falar que o
Estado utiliza-se do paradigma convencional de rendimento para lidar com o
esporte adaptado, não cumprindo os pressupostos de acessibilidade e de
participação da PPD. E que apesar de não termos uma sólida política nacional de
fomento e desenvolvimento de atividades esportivas voltadas a todos os grupos
sociais do país, o esporte adaptado brasileiro tem apresentado alguns resultados
melhores no quadro internacional do esporte competitivo, como foi o caso dos
Jogos Pan-Americanos de 1999 (Pan-Americano, 1999a e 1999b) e das
Paraolimpíadas de 2000 (Paraolimpíada, 2000; Ouro, 2000; Mais 4, 2000; Investir,
2000; Brasil, 2000; Atletas, 2000). Este fato denota uma completa incongruência
com a realidade esportiva presente no país, pois na área adaptada inexiste uma
política efetiva para o desenvolvimento do esporte adaptado, participativo e
educativo.
Tubino (1992) aponta as falhas das ações do Estado na área específica de
fomento às dimensões do esporte como uma das suas políticas de bem-estar
103
social. O autor constata que, além de basicamente se fundamentar na dimensão
do esporte popular (ou participativo), o Estado tenta uniformizar em todo o país os
serviços sociais oferecidos, como é o caso de muitos programas de esporte
popular, não conseguindo administrar as adversidades nem considerando as
diferenças culturais, de valores, de rendimento e de produtividade; ou seja, por
acreditar que fomentando "uma das manifestações dos programas formulados,
como o esporte popular, sem interatuar com outros programas efetivos de mesmo
sentido social, possa conduzir as estratégias sociais a bons resultados" (p.21 ).
Apontamos essa crítica com a mesma preocupação de que esse processo,
comum no modo de agir do governo federal, não se repita no caso da inserção
oficializada de provas adaptadas em competições pelo Estado de São Paulo, já
que, de acordo com a nossa percepção, vivemos uma fase invertida do esporte,
ou seja, o esporte adaptado de rendimento é que tem sido a locomotiva para o
desenvolvimento do esporte adaptado no país, podendo causar a impressão de
que a base (esporte-participativo e esporte-escolar) está bem trabalhada.
Entretanto, ainda é neste aspecto da dimensão esportiva que temos as maiores
oportunidades de atuação, como é o caso da inserção de provas adaptadas nos
Jogos.
O objetivo primário dos Jogos Regionais é o de estimular o
desenvolvimento da prática esportiva nos municípios e contribuir para o
aprimoramento técnico das diversas modalidades em disputa. Esses objetivos
vêm sendo suportados pelo governo do estado durante toda a sua existência
institucional (corno vimos no capítulo dos Jogos Regionais e Abertos). Como na
documentação examinada não há menção específica a esses objetivos em
relação à PPD, presume-se que são os mesmos. Todavia, também não se
encontra na nossa análise documental uma direção concreta para estimular o
desenvolvimento do esporte adaptado nos municípios, bem como não há previsão
para a criação de um grupo de suporte a este trabalho, oferecido pela Secretaria
de Estado aos municípios, e que possa vir a sustentar o desenvolvimento da
prática esportiva com esta população, pois somente proporcionando a inserção de
provas adaptadas não se garante o desenvolvimento desta área nem a integração
da PPD. Essa observação baseia-se na análise da documentação, a qual não
!04
evidencia nenhuma ação por parte da SEET/CER com o objetivo de transformar a
inserção num processo efetivo de integração da PPD.
Na época inicial dos Jogos, o governo, quando os oficializou e assumiu sua
organização, criou toda uma rede de apoio, como as Comissões de Esportes nos
Municípios e as Comissões Centrais Regionais, que tinha um plano de ação
comum de incentivo, assistência técnica, orientação e fiscalização dos atos
esportivos das entidades locais, estabelecendo condições para que cada cidade
desenvolvesse as suas próprias atividades. A inserção de provas adaptadas -
que está diretamente ligada ao movimento da PPD e tem abrangência muito
maior do que apenas no esporte, mas também nos campos social, político,
econômico e educacional - não está recebendo por parte do SEET/CER uma
direção no sentido de criar semelhante rede de apoio, pelo que pudemos
constatar. Por que o Estado não assume diante da inserção de provas adaptadas
uma posição semelhante ao tratamento dado aos Jogos nos seus primórdios?
A concepção de que os Jogos Regionais nasceram de reflexões acerca da
possibilidade das cidades-sede terem condições satisfatórias para abrigar os
eventos e, ao mesmo tempo, como viabilização para as cidades menores terem a
oportunidade de também mostrar o seu trabalho nas modalidades e competir deu
um impulso ao crescimento da prática esportiva em todo o Estado, levando os
Jogos a serem considerados o maior evento poliesportivo do país (SET, 1986).
Isso representa um potencial imenso nas mãos do Estado, permitindo estimular
novas modalidades, como o biribol, e fazendo surgir ao mesmo tempo trabalhos
pioneiros, como é o caso da integração da prática esportiva da PPD. Logo, essa
estrutura facilita a disseminação do desenvolvimento do trabalho com a PPD em
cada município do estado, sendo assim um ponto positivo a ser explorado.
Este potencial poderia ser positivamente explorado caso fossem acatadas
e desenvolvidas plenamente as sugestões saídas do encontro promovido pelo
CEAPPD, ou seja, criar na SEET/CER uma área responsável pelo esporte
adaptado com orçamento e programa de trabalho, para dar o suporte necessário
e a estrutura aos Jogos e às outras iniciativas; manter esta proposta de
105
integração da PPD nos Jogos Abertos e Regionais; incluir em eventos de seu
calendário provas que integrem a PPD; abrir espaços para eventos esportivos da
PPD em parceria com as entidades esportivas da própria PPD, criando uma
estrutura de apoio técnico e financeiro; implementar cadastro das entidades de
prática e de organização esportiva para PPDs existentes no Estado; implantar
diretamente ou através de parcerias com as entidades esportivas para PPDs um
programa sistemático de iniciação e prática esportiva; realizar, diretamente ou em
parcerias, cursos de formação e atualização de profissionais para trabalhar com a
PPD tanto nos Jogos, como classificadores e técnicos dos municípios, quanto em
programas de iniciação esportiva desenvolvidos para PPD em todo o Estado;
assegurar que um percentual de cada patrocínio feito por empresa estatal seja
destinado ao esporte adaptado; viabilizar um mecanismo legal de incentivo fiscal
para o esporte adaptado tendo por base a Lei de Incentivo à Cultura.
O Plano de Governo pretende garantir igualdade de oportunidades a todos,
abrindo espaço para minorias, como a PPD, defendendo uma política de
superação das resistências e denúncia dos preconceitos. Porém, pelo que
pudemos avaliar, a inserção de provas adaptadas ainda não assegura condições
de igualdade, pois nos regulamentos não há menção à necessidade de adaptação
dos alojamentos e não se exige a adaptação dos locais onde se realizarão as
provas. Apesar de estarmos na fase inicial da participação da PPD nos Jogos e
constatarmos que a estrutura nunca foi preparada para receber esta população,
porque certamente, muitas providências não foram consideradas em função da
falta de experiência com o atleta deficiente, é importante lembrar que a adaptação
de alojamentos e praças de esporte é condição indispensável à condução bem
sucedida do processo de integração, portanto deve ser exigida das cidades-sede
em regulamento. Acreditamos que essa atitude daria também impulsão a uma lei
federal de acessibilidade de locais públicos à PPD, vindo a colaborar com uma
política social voltada para esta população muito mais abrangente que os Jogos
em si.
Com relação aos Jogos propriamente ditos, pudemos analisar através dos
seus regulamentos que não ficou claro como ocorreria a classificação do atleta
!06
PPD para participar dos eventos. Definir simplesmente que vai funcionar em
sistema de classe única para as modalidades, envolvendo no exemplo da natação
as classes S7 a S10 da modalidade adaptada competitiva, não esclarece nada
para quem nunca lidou com essa população e/ou com o esporte adaptado
competitivo, como é, de maneira geral, o caso da própria estrutura convencional
dos Jogos (comitê organizador, técnicos, atletas). Da forma como foi redigido, deu
margem a dúvidas, tanto para quem conhece o sistema de classificação funcional
do esporte adaptado, como para um leigo que se interessa em vir a tomar parte
dos Jogos nesta área. A classificação funcional, tanto para a PPDF quanto para a
PPDV, é fundamental e é a grande diferença entre o esporte convencional e o
adaptado. Ela permite, nos parâmetros de competição em que vivemos, que as
PPDs possam competir entre si, mesmo em eventos competitivos integrados, já
que sem ela não fica caracterizado o esporte adaptado.
A documentação examinada esclarece que os Jogos irão oferecer provas
para PPDF e PPDV nas modalidades de atletismo e natação, dentro de um
espectro escolhido para ser utilizado como classe única, mas nos documentos
pesquisados não há o que justifique como se chegou àquelas classes escolhidas,
nem àquelas deficiências eleitas, o porquê das modalidades e provas
selecionadas, e muito menos o motivo de não se adotar o esporte adaptado com
todas as suas características. Essas medidas demonstram, no nosso entender,
que nenhum contato foi feito com as entidades nacionais representativas do
esporte adaptado para buscar orientação e suporte.
Além de não se prever uma adoção na íntegra do esporte adaptado e nem
da participação de todas as deficiências, com todos os seus quadros variados,
ficou sem esclarecimento a razão da não abertura de provas no atletismo para a
PPDV. No caso da PPDF, a prática do atletismo competitivo exige, além das
adaptações das técnicas das provas de campo, técnicas específicas para as
provas de pista, assim como implementes próprios para ambas, como a cadeira
de rodas. Essa diferença é minimizada no atletismo para a PPDV, já que o que se
necessita em última instância para se trabalhar com essa população é
semelhante ao trabalho na modalidade de natação de forma geral, pois dentro de
107
uma visão bem ampla trata-se essencialmente de uma questão de adaptação dos
métodos de ensino/treino ao indivíduo deficiente, bem como o conhecimento das
regras, classificações e suas adaptações.
Também não ficou claro como se assumiu o pressuposto de que os atletas
que participariam dos Jogos já teriam sua classificação dentro do sistema do
esporte adaptado e que teriam que apresentar no momento da inscrição uma
carteira nacional relativa ao mesmo, quando essa ainda não existe. A organização
até oferece classificadores para aqueles que não tiveram contato ainda com a
estrutura do esporte adaptado. Porém há que se definir que classificadores são
esses, ou seja, se eles são provenientes do esporte adaptado ou são preparados
e treinados pelo governo do estado. Já que a classificação é fundamental no
esporte adaptado e a SEET/CER está se propondo a oferecer classificadores,
deveria haver alguma indicação de como eles seriam escolhidos para trabalhar
nos Jogos e qual a preparação que teriam, pois sua necessidade de
conhecimento abrange as modalidades para as quais vão classificar, as regras
convencionais e adaptadas daquelas modalidades, o sistema de classificação do
esporte adaptado e as deficiências.
A Portaria G. CER 35/2000 (Diário, 2000) deixa de esclarecer quais os
quadros motores que compõem essas classes, tanto para o atletismo quanto para
a natação, gerando dúvidas para a inscrição dos municípios. Como não foi
adotado o sistema de classificação funcional do esporte adaptado e se propôs um
sistema de classe única, com base no primeiro, fica difícil equacionar o que se
pretende, já que não se preparou um grupo de estudo para desenvolver um
sistema de classificação próprio e nem se buscou o apoio das entidades nacionais
de esporte adaptado, tampouco das universidades de excelência na área, de
acordo com a nossa pesquisa.
Esta medida não acata o que se prevê no desporto adaptado, causando
dúvidas quanto à real possibilidade de aplicação do mesmo nesta fase inicial de
ajuste. Acreditamos que esta medida tenha sido uma forma mais simples de
viabilizar a inclusão das provas adaptadas, tanto em função do desconhecimento
!08
do funcionamento do sistema de classificação, quanto da inexperiência com
provas adaptadas. No entanto, isso não exime a SEET/CER de procurar montar
um grupo permanente de estudo para desenvolver a classificação para esses
Jogos até ela conseguir estar de acordo com o que se prevê no esporte adaptado,
como também para prestar esclarecimentos, dar cursos de capacitação e sanar
ou minimizar qualquer dificuldade advinda do processo de inserção.
Acreditamos que a alternativa de adotar um sistema de classe única
encontrada pela SEET/CER para este momento inicial de inserção de provas, só
se justifica se for para ter o tempo mínimo necessário de criar condições de vir a
integrar o esporte adaptado na íntegra através das modalidades eleitas. Essas
condições são coincidentes na grande maioria com as propostas saídas do
encontro promovido pelo CEAPPD e que ainda não foram desenvolvidas na sua
íntegra, como já foi lembrado.
Quando se prevê uma classe única que reúne capacidades motoras
diferenciadas e claramente não equivalentes do ponto de vista de capacidade e
desempenho motor, indiretamente se privilegia o trabalho com as classes mais
altas em detrimento das classes mais baixas - classes estas explicadas no item
3.5 - restringindo-se as oportunidades da PPD e gerando uma possível
discriminação em relação às classes mais comprometidas. Indo além, podendo
levar até à não-inclusão das classes baixas em momento algum. Assunto
polêmico, que poderia ser apontado como preconceito, o que feriria a base da
iniciativa do Governo.
Acreditamos que a idéia da classe única possa ainda prevalecer no caso do
atletismo para a PPDF e da natação para a PPDV apenas para facilitar a
organização neste início de inserção, pois no caso do atletismo há a exigência de
implementes e técnicas específicas, como a cadeira de rodas, e, além disso,
nestas provas tivemos um número menor de participantes, observando o total de
inscrições recolhidas nos eventos (veja Quadro 6).
I C A MP
109
QUADRO 6 -Quantidade de participações de PPDs nos Jogos Regionais e Abertos de
2000
Para o ano PPDF PPDV TOTAL
de2000 I
Masculino Feminino 'Masculino Feminino PPDF PPDV
' I
Regionais/ 11 3 Não Não 14 -Abertos existe existe
atletismo prova prova
Regionais/ I 18 5 9 4 23 13
Abertos
natação
No caso da natação para a PPDF, o comprometimento motor é o que caracteriza
a classe do indivíduo, conforme Quadro 4 do item 5.3. Entre cada classe aumenta
a discrepância das capacidades motoras, por isso cria-se um espectro para cada
classe, baseado em estudos científicos, para que, pelo menos dentro daquele
espectro, haja alguma equivalência motora. Quando se estabelece a classe única,
as classes anteriores à S1 O, como no caso as S7/S8/S9, que já apresentam perfis
tão divergentes entre si, naturalmente sentem-se prejudicadas, acreditando ser a
competição injusta para os participantes da prova, deixando para o atleta a
impressão de que é desestimulante a participação em eventos dessa natureza.
Outro ponto que causa bastante polêmica é relativo aos regulamentos e
suas variações. A principal medida de incentivo à participação das PPDs nos
Jogos é o artigo 16 em seu parágrafo único, do Regulamento Geral de 2000, que
atribui um ponto extra adicional à participação da PPD em relação à regra geral
110
de bonificação de um ponto por modalidade, categoria e sexo participante.
Destacamos que essa norma estava perfeitamente de acordo com a necessidade
de incentivo à participação da PPD para o primeiro ano de inserção nos Jogos. É
importante enfatizar a necessidade de estímulos dessa e de outras espécies para
proporcionar o melhor aproveitamento possível da inserção de provas adaptadas
nos Jogos Regionais e Abertos de São Paulo, estimulando a mobilização dos
municípios para o trabalho esportivo com a PPD, fomentando dessa maneira o
crescimento e o fortalecimento dessa participação e do processo de integração do
esporte adaptado com o convencional.
Entretanto, ao contrário do esperado, ou seja, antes mesmo que a área
fosse consolidada, sem nenhum tipo de esclarecimento quanto aos critérios
adotados, extinguiu-se. no Regulamento Geral de 2001, a bonificação extra de um
ponto por modalidade e sexo para o município que levasse aos Jogos atletas
PPDs. Como não temos ainda um histórico da participação do deficiente nos
Regionais e Abertos, tendo em vista seu primeiro ano ter sido em 2000,
acreditamos que a retirada do incentivo tenha sido prematura e infundada, ainda
mais se levarmos em conta que esse era o único incentivo de pontuação dado à
participação da PPD nos Jogos. Teria sido mais adequado mantê-lo, enquanto se
observa qual a freqüência de participação de PPDs nos próximos Jogos, para que
se pudesse avaliar como essa participação iria evoluir.
É de se supor que a participação do atleta deficiente se faça tímida no
início. Isto porque se trata de uma oportunidade de participação nova e
desconhecida da maioria da população em geral, inclusive da própria PPD, por
ser o esporte adaptado relativamente novo comparado ao convencional e trazer
da relação deficiente/sociedade uma história de estigma, preconceito, descaso e
desigualdade ao longo do tempo (Carmo,1994; Araújo,1998; Rosadas,2000).
Adicionalmente, devemos também levar em conta o fato da PPD nunca ter tido
oportunidade de participação neste tipo de evento, que tem uma estrutura já
tradicional voltada para pessoas não deficientes e bem conhecida do meio
esportivo do estado de São Paulo, mas não dos clubes e entidades voltados para
]]]
a PPD. No nosso entender, isso justificaria a manutenção do ponto de bonificação
extra por participação de PPD por mais um tempo.
Ainda no Regulamento Técnico de natação e atletismo dos Jogos Abertos
de 2001 foi incluída uma norma específica para PPD que, ao invés de ao menos
favorecê-la, restringe sua participação mais do que a dos outros atletas, levando
nos uma vez mais ao questionamento quanto a uma possível discriminação em
relação à PPD. A regra anterior no regulamento específico por modalidade
(artigo3° § único para o atletismo e artigo 24 § único para natação) estipulava a
oportunidade de participação de dois atletas por prova pelo município-sede, sem
a necessidade de obtenção de índice técnico, o que prevalecia para todos os
atletas sem distinção. A redação de 2001 manteve a validade dessa regra para o
atleta não deficiente, porém criou um novo paràgrafo dentro dos mesmos artigos,
em que limita a oportunidade do município-sede a apenas uma participação de
atleta PPD por prova. Mais uma vez apontamos a falta de clareza de objetivos e
critérios de avaliação por parte da SEET/CER para tomar qualquer atitude,
deixando a desejar em relação a sua condução e valorização de todo o processo
de inserção de provas adaptadas.
No Regulamento Geral dos Jogos Regionais de 99, artigo 15, previa-se que
estando confirmadas as inscrições para as provas de pelo menos três
concorrentes correspondentes a municípios distintos, se no momento de
realização das mesmas ocorresse a desistência de até dois concorrentes entre os
três, ficava assegurada ao terceiro participante a realização da prova, a
pontuação correspondente, além da participação nos Jogos Abertos. Essa
redação permitia entender que a equipe receberia a pontuação correspondente à
bonificação e também a pontuação relativa à colocação. Para o ano de 2000,
esse artigo foi modificado, restando no Regulamento Geral parte do seu conteúdo
no artigo 17, que se pronunciava apenas sobre o caso de haver somente uma
equipe, garantindo à mesma a convocação para os Abertos e o recebimento da
pontuação correspondente (o que ainda dava margem para a mesma
interpretação anterior em relação aos pontos de bonificação e colocação). Ainda
em 2000, os regulamentos técnicos das modalidades passaram a legislar sobre
112
as formas de disputa (número mínimo de participação e realização das provas).
No caso do atletismo, o regulamento determinava o número mínimo de dois
participantes de equipes distintas para a prova ser realizada, enquanto o da
natação se omitia a esse respeito. Para ambos, caso houvesse a desistência de
equipes distintas, restando apenas um atleta inscrito, a prova poderia ocorrer
somente para obtenção de índice. Já no Regulamento Geral de 2001, o artigo 17
está mais claro, prevendo para o caso de haver apenas uma equipe inscrita a
participação nos Abertos e o ponto de bonificação, enquanto os regulamentos
específicos de ambas as modalidades prevêem um número mínimo de dois
concorrentes de municípios distintos para a realização da prova, mantendo-se
semelhante ao ano anterior para a hipótese de desistência de equipes distintas,
redundando em apenas uma participação.
Mesmo que estas normas possam ser aplicáveis à generalidade das
situações, já que a possibilidade de haver apenas um participante inscrito é pouco
provável, dado o próprio histórico dos Jogos, questionamos sua adequação a este
momento de inserção de provas para PPD. A manutenção da garantia da
realização da prova nessa situação poderia servir como demonstração e incentivo
à participação dos demais municípios, comprovando que é possível realizar um
trabalho esportivo com esta população, sem que fique, na prática, a critério do
coordenador de cada modalidade abrir uma exceção para a realização da prova
para a PPD, no caso de somente haver uma equipe participante.
Como estamos numa fase de início da participação das PPDs nos Jogos -
que para nós não se trata apenas da inserção de novas provas ou modalidades,
mas, sim, da aceitação do movimento social da PPD através do esporte -, a
SEET/CER falha ao não adequar os regulamentos, geral e técnico, prevendo uma
maior possibilidade de ocorrência desse tipo de situação para a PPD, deixando de
aproveitar uma oportunidade de incentivo à sua iniciativa de inserção de provas
adaptadas nos Jogos. Essa falta de cuidado para com o processo de inserção
demonstra mais uma vez, na nossa opinião, que a SEET/CER ainda o trata de
modo semelhante à inserção de nova modalidade nos Jogos, pois a condução
não diferiu em nada daquela atribuída à inclusão do biribol, modalidade que
113
entrou oficialmente pela primeira vez no quadro dos Jogos de 2000, e também
traduz uma superestimativa, sem base factual, com relação à participação das
PPDs nesta fase inicial.
Ainda com relação ao parágrafo sobre regulamentos, no que tange à
participação da PPD, não há diferenciação na forma de disputa e pontuação. Isto
não seria um problema caso houvesse sido adotada a diferenciação entre classes
da forma como é feita no esporte adaptado, e não um sistema de classe única.
Caso numa prova de PPD haja três municípios distintos concorrentes, com atletas
de classes diferentes para o esporte adaptado, mas que dentro do espectro do
sistema de classe única façam parte da mesma prova, a defasagem e
superioridade física das classes mais altas em relação às classes mais baixas
desse mesmo espectro podem criar uma situação tal que o atleta PPD seja
impedido de nadar ou convencido a não nadar pela sua própria equipe, para não
dar ponto para outra equipe.
Para tentar ilustrar daremos um exemplo de três cidades rivais, que estão
disputando a cada ponto o resultado final da modalidade e dos próprios Jogos. Na
prova de 1OOm livres de natação pela manhã, constam três atletas: o do Município
X, que na classificação da natação adaptada corresponde a um 87 - este atleta
87 já é nadador/competidor há muitos anos; o do Município Y, que corresponde à
classe 89 - este atleta 89 está começando no esporte agora e nadando somente
há um ano; e o outro do Município Z, que corresponderia à classe 810- o atleta
810 já foi nadador, mas está fora de forma e destreinado. Durante a prova nos
primeiros 50 metros os atletas 810 e 8 9 estiveram na frente do 87. Porém, nos
últimos 50 metros, devido ao seu lastro de treinamento e condicionamento físico,
o atleta 87 conseguiu chegar em primeiro, pouco à frente dos outros dois que não
agüentaram manter o ritmo da prova. Na parte da tarde, esses mesmos três
atletas iriam disputar a prova de 50 metros (pois já haviam confirmado as suas
participações durante o Congresso Técnico da modalidade), porém dois deles
foram impedidos ou convidados pelos próprios técnicos e/ou companheiros de
equipe a não participarem da prova sob qualquer pretexto, pois na parte da
manhã ficou evidente a superioridade fisica do 81 O, que é o que pertence à
114
classe mais alta, para os primeiros 50 metros, apesar de sua falta de treino. Logo,
ele iria obter o primeiro lugar pontuando a mais para a sua cidade. Então, a
desistência dos outros atletas iria acarretar a descaracterização da disputa,
segundo o atual regulamento, e conseqüentemente a não-pontuação de primeiro
lugar para o 81 O.
Caso não se assegure em regulamento a pontuação pela colocação,
independente do número de participantes na prova, a ocorrência da situação
acima descrita poderá ser freqüente porque, com certeza, não se trata de uma
competição justa e equilibrada, já que não possibilita necessariamente que vença
quem tem o melhor desempenho, mas, sim, quem tem uma maior capacidade
motora dentro do espectro apresentado, além de se perder uma boa oportunidade
de estimular o trabalho com as PPDs e a participação delas como representantes
dos Municípios.
Relacionado ainda com o exemplo anterior, os regulamentos analisados
não tratam de como fica a pontuação para o caso de participação única
decorrente da desclassificação por desistência dos demais municípios inscritos, já
que são omissos nesta questão. Levantamos esse ponto porque, como as provas
para PPDs estão funcionando em sistema de classe única - diferentemente do
que o esporte adaptado preconiza -, poderia acontecer uma espécie de boicote
das demais equipes em relação a uma equipe que tenha superioridade na prova
e, conseqüentemente, fazer com que essa deixe de receber a pontuação
correspondente (ou seja, o atleta desiste de participar da prova sabendo que já
entra em desvantagem motora, como no exemplo por nós sugerido). Inclusive, da
forma como estão redigidos os regulamentos técnicos em relação à desistência
da prova, mesmo após a confirmação das participações em congresso técnico,
esta omissão dá margem a se premiar uma atitude que, a nosso ver, não é nada
desportiva, já que esta atitude acaba descaracterizando a disputa como é prevista
no regulamento, levando ao cancelamento da prova e à não pontuação por
colocação da equipe que permaneceu inscrita.
115
É importante observar que na documentação analisada não consta nenhum
critério de avaliação do programa de inserção de provas adaptadas, nem mesmo
seus objetivos e as metas específicas que deveriam ser alcançadas, portanto
como se pode avaliar o desempenho das medidas adotadas quando não se tem
claro que objetivos são estes, como serão alcançados, quais serão os parâmetros
de avaliação, quem será responsável por esta avaliação e como ela será feita? A
falta de clareza dos procedimentos, objetivos e intenções para com a área
adaptada não nos permite analisar objetivamente se as ações da SEET/CER em
relação a sua inserção nos Jogos são compatíveis com o tratamento a ser dado a
um movimento social ou simplesmente a uma nova modalidade esportiva,
permitindo somente a nossa inferência baseada nos dados, e estes nos levam a
crer que não está sendo dado à inclusão do esporte adaptado no Jogos um
tratamento correspondente a um movimento social.
Essas observações nos fazem acreditar que quaisquer conjecturas e ações
em relação à inserção de provas adaptadas nos Jogos necessitam de um tempo
para que ela esteja suportada por um conjunto de dados concretos, para que a
proposta seja acatada e trabalhada pelos municípios, para que sejam estudados e
aplicados alguns trabalhos na área, entre outros. Acreditamos também que se os
municípios não contarem com um incentivo extra, especialmente neste momento
de inicio da participação da PPD nos Jogos, pode ser que as prefeituras dêem
preferência à solução mais fácil, mais habitual, menos "trabalhosa", ou seja, não
criar uma política de investimento para e trabalho com o esporte adaptado, nem
se estruturar para lidar com essa população e muito menos convocar para a sua
seleção o atleta deficiente.
Acreditamos ser importante enfatizar que não basta apenas abrir os Jogos
à participação da PPD será preciso estimular esta participação. Não sabemos
como os promotores dos eventos vão analisar essas questões, que providências
irão tomar, tendo em vista as recentes modificações prejudiciais ao incentivo de
participação das PPDs, introduzidas há apenas um ano desde a inserção de
provas adaptadas nos Jogos. Partindo do pressuposto de que toda experiência
que não dê bons resultados, ou pelo menos os resultados minimamente
116
esperados, nas suas primeiras tentativas poderá ser avaliada dentro desta ótica
para justificar seu redirecionamento ou extinção, tememos pelo futuro desta
iniciativa valorosa, pois, mantendo-se essa direção e sem a definição clara de
quais são os objetivos a serem atingidos, poderemos chegar a uma atitude
precipitada de exclusão da participação da PPD ou à busca de uma solução pela
via da não integração, o que em ambos os casos seria um retrocesso.
117
9CONCLUSÃO
No Brasil, percebemos que há ainda uma grande defasagem de
oportunidades competitivas entre o esporte adaptado e o esporte convencional.
Para fazermos essa afirmação, tomamos por base os calendários esportivos que
foram analisados comparativamente no item 4.3.2 (ABRADECAR, 2000; FAP,
2000; FAP, 2001; Calendário, 2001 ). Esses dados nos auxiliaram na
compreensão do confronto entre as ofertas da prática competitiva do esporte
adaptado e do convencional, levando-nos a crer que a oportunidade para a PPD
no nosso país é ainda em menor quantidade, proporcionalmente às chances de
eventos competitivos oferecidas no esporte convencional. Apesar de estarmos
participando de competições internacionais, contando com um número expressivo
de atletas nessas competições e obtendo resultados significativos, como foi o
caso dos Pan-Americanos de 1999 e das Paraolimpíadas de 2000 (Pan
Americano, 1999a e 1999b; Paraolimpíada, 2000; Ouro, 2000; Mais 4, 2000;
Investir, 2000; Brasil, 1999 e 2000; Atletas, 2000), ainda assim acreditamos ser
insuficiente o número de competições dentro do país.
Este fato nos dá a certeza de que é necessário e urgente que se busque
mudanças em relação à oferta de oportunidades das PPDs quanto à escolha por
parte das mesmas de participar das dimensões sociais que o esporte oferece,
através do desenvolvimento do esporte-educação, esporte-participação e do
esporte-rendimento, inclusive para que possa passar pelo processo seletivo do
esporte competitivo de alto rendimento, caso a pessoa queira. Este último
segmento do esporte, pela nossa análise, provoca, projeta e promove pesquisas,
reflexões, valores, entre outros, que atingem diversas interfaces da sociedade e
que, no nosso entender, quando aplicados à área adaptada, têm ajudado a
transformar a visão sobre a deficiência/esporte/eficiência, ampliado a atuação
profissional da educação física e originado mudanças nas políticas sociais.
Imbuídos desse pensamento, procuramos ponderar as facetas que
percebemos que estão relacionadas ao esporte e, através da nossa própria
pesquisa, da nossa vivência profissional e de algumas das entrevistas feitas com !18
os atletas e técnicos das últimas Paraolimpíadas (Futebol, 2000; Técnico, 2000),
observamos aspectos positivos que a prática esportiva tem trazido á pessoa
portadora de deficiência no Brasil. São muitos fatos, relatos e histórias individuais
a que tivemos acesso ao longo desse tempo de trabalho na área e os quais
atestam esse efeito positivo do esporte, mostrando que, além de uma melhoria
quanto aos próprios movimentos sociais da PPD, a atividade esportiva deixa um
"algo mais" na vida daqueles que a praticam (Investir, 2000; Atletas, 2000).
Acreditamos que este tipo de motivo tenha também colaborado para que
houvesse o empenho do CEAPPD em garantir esse direito às práticas esportivas
junto á SEET/CER, previsto no Plano de Governo Mário Covas 1999-2000.
A inserção de provas adaptadas nos Jogos Regionais e Abertos do Interior
foi uma conquista do CEAPPD para a PPD em relação aos seus direitos, previstos
nas Constituições Federal e Estadual, cabendo a esse órgão a constante atenção
para esse início de inserção. E também representa um mérito da SEET/CER pelo
fato de ter se sensibilizado, mesmo sem nunca antes ter tomado tal atitude em
relação ao seu calendário oficial de eventos esportivos. Simboliza, ainda um
passo significativo quanto á ampliação de oportunidades esportivas competitivas
para a PPD (haja vista, a comparação feita entre os calendários esportivos) e
quanto ao movimento de luta contra a desigualdade e a discriminação da pessoa
deficiente, trazendo com isso um forte impulso para o desporto adaptado
aumentar quantitativamente e qualitativamente os seus participantes e
promotores. A possibilidade de competir nas mesmas circunstâncias que as dos
outros atletas não deficientes torna-se real e viável, já que com essa inserção as
PPDs têm oportunidade de integrar a delegação de sua cidade, vindo a competir,
representar e colaborar para o reconhecimento do trabalho esportivo feito pelo
seu município. Essa inserção também cria um incentivo ao trabalho esportivo e
social que pode ser feito pelos municípios doeEstado de São Paulo junto a esta
população, proporcionando maiores chances de que ela venha a ter um trabalho
diferenciado em relação á tradicional reabilitação. Além disso, a iniciativa se
alinha à filosofia do Plano de Governo, abrindo uma oportunidade real de
integração da PPD através do esporte.
119
Entretanto, para que esta iniciativa possa frutificar e perdurar, são
necessárias ações complementares que possam articular os esforços em direção
ao pleno desenvolvimento do esporte adaptado e da integração da PPD. A
possibilidade de participação da PPD nos Jogos é fundamental, no entanto é
necessária a criação de mecanismos de incentivo para que seja realizado um
trabalho duradouro e viabilizado a médio e longo prazos o sucesso dessa
iniciativa. Esses mecanismos são tanto mais importantes quanto maiores o
pioneirismo, a inovação, as resistências ao novo e ao diferente, a fragilidade dos
hábitos e oportunidades de práticas esportivas do deficiente. Todo e qualquer
incentivo é muito importante para que se estruture o trabalho nesta área.
Analisaremos a seguir alguns pontos que julgamos importantes neste
sentido, como:
• Esclarecer os objetivos que se tem com a inserção de provas
adaptadas, bem como as metas a serem alcançadas, os critérios de
avaliação dos resultados obtidos e todas as informações relevantes;
• Criar uma estrutura para suportar e desenvolver procedimentos que
fortaleçam e sedimentem a atuação na área adaptada;
• Dar condições básicas de acessibilidade aos locais de competição e
aos alojamentos;
• Ajustar o regulamento a fim de que este traga incentivos à
participação das PPDs e, ao mesmo tempo, represente um
tratamento específico e diferenciado, de tal forma que gere
condições de igualdade para as PPDs em relação às pessoas não
deficientes;
• Buscar aproximação junto às entidades nacionais do esporte
adaptado e de suas instituições estaduais;
• Oferecer cursos de capacitação de recursos humanos para trabalhar
com o esporte adaptado de rendimento;
• Formar e manter uma equipe permanente para atuar na
classificação funcional das modalidades, oferecendo treinamento e
reciclagem constantes e fazendo a catalogação dos dados obtidos
nos eventos;
120
• Fazer avaliações periódicas quanto à questão da inserção de provas
adaptadas, levando-se em conta suas necessidades, tendências,
urgências, pendências e tudo o mais que se relacione a este
processo;
• Fazer estudos sobre o envolvimento que as Prefeituras estão tendo
com a área do esporte adaptado, questionar as medidas que estão
sendo tomadas para dar as mesmas oportunidades de prática e
participação esportiva para a PPD;
• Levantar dados e pesquisar o trabalho que envolve esta área,
extraindo observações importantes para sugestão e aplicação de
políticas públicas neste âmbito;
Para estimular o trabalho do esporte adaptado em cada município, através
da inserção de provas adaptadas nos Jogos Regionais e Abertos do Interior, o
governo do Estado de São Paulo deve dar clareza aos objetivos que levaram a
SEET/CER a fazer esta inserção, com a finalidade de conduzir o processo numa
direção conhecida e apoiada por aqueles que dele venham a tomar parte. Além
de ser essencial para o processo de avaliação dos resultados da iniciativa de
inserção de provas adaptadas, como também da integração do esporte adaptado
com o convencional e da PPD através do esporte, a clareza de objetivos permite
a determinação de metas a serem alcançadas e facilita a tomada de decisões a
partir dos procedimentos de avaliação e acompanhamento dos resultados obtidos.
Para tal sugerimos a criação de uma equipe permanente de trabalho
responsável pela organização e estruturação da área adaptada nos Jogos, dentro
da Secretaria, tendo por objetivo a normatização da proposta de inserção, a
preparação de profissionais para a atuação nos eventos, o atendimento às
necessidades básicas de acessibilidade e adaptação como também a avaliação
das cidades-sede conforme esses parâmetros, a criação de cursos de
capacitação profissional, divulgação, informação, procedimentos e
esclarecimentos na área, procurando assim ajustar a estrutura existente nos
Jogos.
121
Para o processo de avaliação das sedes dos Jogos, deverão ser
designadas pessoas conhecedoras das necessidades da PPD, como as do grupo
acima sugerido, que venham a fazer parte da Comissão de Averiguação das
Instalações, na época da avaliação da cidade-sede, para observar o quesito de
acessibilidade, avaliando tanto as áreas competitivas e as áreas de alojamento
como toda e qualquer área que faça parte dos locais onde acontecerão os Jogos
(como rampas de acesso, banheiros adaptados, dormitórios que comportem alojar
com segurança e privacidade adequada, condição de circulação interna, etc).
Este quesito é fundamental para a realização de qualquer iniciativa que vise à
prática esportiva da PPD, como também é imprescindível para a integração do
esporte adaptado com o convencional, e, ao mesmo tempo, representa não
apenas as condições mínimas para a realização de provas adaptadas, mas
também um dos fundamentos do direito à prática de esportes, à circulação e ao
acesso a locais públicos pela PPD.
Esta iniciativa pioneira do Estado de São Paulo não pode deixar de cumprir
os requisitos mínimos de acessibilidade, que, além de serem um direito
constitucional, jà estão estabelecidos definitivamente no esporte internacional.
Hoje a cidade que sedia os Jogos Olímpicos deve prever adaptações necessárias
na construção da vila olímpica e dos espaços de competição para receber os
atletas paraolímpicos (FAQs, 2000; Galeno, 2000; Organização, 2000;
Superação, 2000). Outro fato que corrobora não só a idéia de que a adaptação
dos espaços de competição é fundamental, como também que a integração dos
esportes é uma tendência mundial irreversível, foi o 8° Campeonato Mundial de
Atletismo em Edmonton, no Canadá, que reuniu no início de agosto de 2001,
atletas deficientes e não deficientes num mesmo evento (Mundo, 2001 ). No nosso
entender, esse espaço conquistado e assegurado pela PPD reflete a força e o
desenvolvimento do esporte adaptado, assim como o intenso envolvimento do
movimento mundial das PPDs com o esporte.
Com vistas a um planejamento futuro de encaminhamento dos Jogos
Regionais e Abertos do Interior, baseado nos seus objetivos, que devem estar
expostos explicitamente em relação à participação da PPD, a SEET/CER deveria
122
introduzir medidas em seus regulamentos as quais, embora hoje possam
aparentemente ser desnecessárias e/ou parecerem privilégios, resultariam, a
médio e longo prazos, na condução do processo de integração através do
esporte, com oportunidades eqüitativas entre os atletas deficientes e os não
deficientes, transformando a estrutura dos Jogos no sentido de torná-los
condizentes com esta mesma política de integração. Há que se assegurar, como
procedimento legal, uma diferenciação para minorias com o objetivo de minimizar
se as discrepâncias e dar oportunidades mais justas a todos, como no exemplo
do estacionamento público próprio para a PPDF. Faz-se isso para reduzir as
desigualdades naturais entre as pessoas não deficientes e as que o são, e, ao
mesmo tempo, garantir que ao menos algum percentual das PPDFs tenha
condição de achar uma vaga de mais fácil acesso e mobilidade, assim como
facilidade para se transferir do carro para a cadeira de rodas, por exemplo, e vice
versa. As sugestões mais específicas em relação ao regulamento serão
trabalhadas detalhadamente mais à frente neste capítulo.
É necessário, no nosso entendimento, adotar medidas que protejam e
privilegiem esta inserção, pois inserir provas adaptadas não é como incluir uma
modalidade e, portanto, a inserção deve ser olhada de forma mais abrangente,
como buscamos demonstrar ao longo deste trabalho de pesquisa. Se a proposta
da SEET/CER é a inserção de provas adaptadas nos Jogos Regionais e Abertos
do Interior, isso significa realmente integrar o esporte adaptado e não se pode
deixar de tratar de questões que fazem parte da essência do mesmo, como a
adaptação dos espaços de competição e alojamentos, o conhecimento de e
respeito às suas regras e a seu sistema de classificação, etc. Logo, esse
tratamento especifico significa também suprir as exigências e necessidades do
esporte adaptado para que este se realize plenamente.
Outro ponto abordado por nós como destaque no conjunto de medidas
imprescindíveis para o sucesso da iniciativa da SEET/CER, desenvolvido a partir
das propostas do CEAPPD junto a esta, trata-se da necessidade de aproximação
da Secretaria com as entidades nacionais do esporte adaptado, como a
ABRADECAR e a ABDC. Essa iniciativa criou um precedente para a oportunidade
123
de aproximação, que tem importância para ambos os lados, já que poderiam estar
se apoiando nas áreas de desenvolvimento esportivo, continuidade da inserção
de provas, estrutura, conhecimento técnico específico, oportunidades
competitivas e de cursos, barateamento de custos, etc. Esta parceria poderia se
valer da estrutura bem montada dos Jogos, que trabalha com o esporte de
rendimento e já tem como princípio básico estimular o desenvolvimento esportivo
no estado de São Paulo, além de estar suportada por um plano de governo que
traz uma previsão de integração das PPDs através do esporte.
Essa aproximação propicia a massificação do conhecimento do trabalho
com modalidades esportivas adaptadas, bem como pode ser mais um instrumento
de estímulo ao esporte, ajudando na promoção do desenvolvimento do esporte
adaptado e na renovação de seus talentos, avançando no cumprimento da
legislação do Estado em seus municípios no que diz respeito à integração da
PPD. Poderia ainda prover o suporte técnico necessário à inserção, dar apoio à
divulgação do trabalho esportivo feito com a PPD e também promover a
democratização das informações acerca desse trabalho, que teria condições de
atingir um número muito maior de pessoas, já que atuaria junto a uma estrutura
tradicional e bem organizada. Isso naturalmente auxiliaria na expansão das outras
dimensões do esporte adaptado (esporte participativo e esporte educativo) a partir
da massificação do conhecimento e do desenvolvimento esportivo adaptado em
cada município do interior.
Pudemos constatar que a quantidade de provas adaptadas é em número
insuficiente para suprir as necessidades de crescimento do esporte adaptado
competitivo, bem como estimular e abranger todas as dimensões do esporte, pois
são trabalhos diferenciados e que requerem uma estrutura própria. Ao
pesquisarmos o histórico dos Jogos, tornou-se evidente para nós que a rede de
suporte ao desenvolvimento esportivo montada pelo Estado foi o marco que
transformou São Paulo, entre todos os outros estados, num grande expoente do
esporte nacional em termos de revelação de valores, crescimento das
modalidades, quantidade de parques e praças de esportes/lazer, entre outros.
Não podemos, então, continuar acreditando que somente produzindo eventos
124
competitivos estaremos estimulando e desenvolvendo o esporte adaptado em
todas as suas dimensões, o que parece acontecer na condução dada pelas
associações esportivas adaptadas do país. Esse tipo de aproximação, com base
na integração do esporte adaptado competitivo com o esporte convencional,
poderia criar as condições necessárias para a evolução de todas as dimensões do
esporte adaptado a partir da estrutura já existente, já que o estado e seus
municípios teriam a necessidade de conhecer a área, como também de se
adaptar estruturalmente e de vir a desenvolver um trabalho de base com essa
população.
O fato de encararmos o esporte adaptado de rendimento como o principal
responsável pela evolução do esporte adaptado no país confere um caráter
significativo à iniciativa da Secretaria e aponta a aproximação entre as entidades
nacionais do esporte adaptado e a SEET/CER como um meio poderoso para
alavancar essa evolução, tornando-se, assim, ponto de referência no país para
outros estados que se rendam à significação dessa iniciativa. Essa parceria
auxiliaria também a aproximação entre as instituições estaduais que já fazem
parte do esporte adaptado competitivo, trazendo suporte e um possível
crescimento para as mesmas, as quais, em contrapartida, poderiam apoiar as
iniciativas da SEET/CER.
Do mesmo modo que durante a evolução dos Jogos houve a aproximação
do Governo com as entidades do esporte convencional, ou seja, ligas, federações
e confederações, e esta foi importante para ambas as partes nos seus
desenvolvimentos, acreditamos que uma associação entre as entidades do
esporte adaptado e as entidades do esporte convencional -já que essas detêm o
controle do mecanismo e da estrutura das modalidades nos municípios, estados e
no país -de acordo com a proposta feita por Araújo (1998) em sua pesquisa,
poderia auxiliar direta e/ou indiretamente essa parceria sugerida por nós entre as
entidades nacionais de esporte adaptado e a SEET/CER. Acreditamos ainda que
para levar adiante a proposta de Araújo, deva ser feita uma aproximação que
adote as peculiaridades próprias do esporte adaptado e respeite sua
representatividade em todas as instâncias, sem que haja subjugação de
125
interesses. Porém esse é um tema que requer estudo próprio e aprofundado,
ficando assim como sugestão de trabalho.
Essa aproximação proporcionaria ainda uma oferta muito maior de eventos
esportivos para as PPDs, dada a visibilidade que esse tipo de iniciativa poderia
trazer. Talvez ocasionasse, inclusive, poderia ocasionar um provável
barateamento de custos, já que todas essas entidades poderiam agir em parceria
para dar-se mutuamente o suporte técnico necessário à integração com a área
adaptada, partilhando a estrutura já existente. Essa conjugação de esforços
poderia também gerar uma massificação do esporte adaptado em ritmo mais
acelerado, bem como possibilitaria a criação e promoção de cursos de formação e
reciclagem profissional, necessários na área para que haja melhora da qualidade
de trabalho e serviços oferecidos. Todos esses aspectos positivos poderiam
facilitar também a interação com as iniciativas surgidas a partir da parceria
esportiva entre as entidades do esporte adaptado e o Estado.
Com relação a cursos de capacitação de recursos humanos para trabalhar
com o esporte adaptado de rendimento, a Secretaria deveria instrumentalizar,
inicialmente, tanto a estrutura organizadora, ou seja, coordenadores de
modalidade, arbitragem e técnicos, quanto os municípios e demais interessados
em desenvolver programas na área, além de formar e capacitar um corpo técnico
permanente, já sugerido anteriormente, para dar suporte às suas iniciativas junto
aos municípios, como também estimular as atividades municipais neste setor.
Esse grupo poderia estar atuando também junto a determinadas instituições que
demonstrassem o interesse em preparar seus profissionais para lidar com essa
população, como foi o caso do SESI (Serviço Social da Indústria), segundo
Rosadas (2000).
Outra idéia interessante nessa área seria a de formar e manter um grupo
de estudos para a parte de classificação dos Jogos, para que o mesmo possa vir
a trabalhar com as questões pertinentes ao sistema de classificação e
desenvolver ações no sentido de suprir as necessidades de informação e
formação básica para o trabalho com a PPD neste campo. Esta equipe
126
responsabilizar-se-ia por preparar o material e a organização de clínicas durante
os eventos, ou seja, na primeira noite de competição uma clínica poderia ser dada
para os interessados neste tipo de trabalho com o objetivo de esclarecer os
objetivos da Secretaria em relação à inserção, como funciona a classificação, a
razão de sua existência, elucidar dúvidas, trazer todos os dados referentes às
provas adaptadas nos Jogos para que sejam avaliados e, ao mesmo tempo,
estimular o trabalho nas cidades.
A equipe poderia desenvolver uma padronização para o registro do atleta
feito no momento da inscrição, de maneira que o município apresentasse alguma
forma de identificação da PPD, se é deficiente físico ou visual, para que estivesse
registrado claramente e se pudesse fazer uma previsão do trabalho por região. O
grupo organizaria também uma padronização para o evento de classificação:
criaria uma ficha de dados de cada atleta em que constasse se ele é ou não
elegível e quais as suas características patológicas e funcionais, além de suas
provas e todos os dados pertinentes. Com essa ficha cadastral de cada atleta em
poder do grupo de estudos, as pesquisas sobre classificação seriam mais bem
aproveitadas Para facilitar todo o processo de participação do atleta e dar
qualidade ao mesmo, no ato de sua inscrição deveria ser pedido um atestado que
indicasse sua patologia, já que essa informação auxiliaria no controle e nas
verificações necessárias que antecedem os eventos. Nós não sabemos se os
atletas convencionais têm o atestado médico como um tipo de exigência para a
inscrição nos seus municípios, mas acreditamos ser fundamental que todo e
qualquer atleta participante tenha atestado médico para participar de atividades
físicas onde ele venha a realizar esforço físico. Isso é uma salvaguarda para
todos os profissionais da área.
Esse grupo de estudos prepararia o material didaticamente e a SEET/CER
publicaria as regras adaptadas como forma de divulgar o trabalho e esclarecer os
participantes. Deveria ser determinado que a classificação começasse a ocorrer
meia hora após o Congresso Técnico da modalidade, dando prioridade para as
delegações que lá já se encontrassem, para que houvesse tempo hábil de se
classificar todos os atletas e fixar uma margem de segurança para antes da
127
competição, no dia seguinte. Pensamos que a SEET/CER deveria deixar em suas
portarias e regulamentos, de forma clara e elucidativa, o que é, para que serve e
como funciona a classificação.
Lembramos que a classificação, como instrumento intrínseco da prática
desportiva adaptada, é necessidade fundamental para o trabalho nessa área.
Mesmo que a SEET/CER ainda não trabalhe com a classificação como ocorre na
competição adaptada, ela não pode perdê-la de vista, e nem deixar de instituí-la.
Seguindo esta linha de raciocínio, pensamos que para ações futuras deva-se
buscar, no presente, adaptações à realidade apresentada, porém sempre tendo
como meta vir a atender às exigências do desporto adaptado. Uma
recomendação a este respeito seria a criação de um sistema de classificação
específico para os Jogos, baseando-se no que existe no esporte adaptado, como
adaptação temporária a este momento inicial de integração do esporte,
juntamente com um programa de treinamento de profissionais para trabalhar
nessa área.
Neste primeiro momento, dentro do espectro de classes previsto para
compor a classe única utilizada, sugerimos que se tenha uma previsão para a
adoção das três classes de PPDVs em um curto espaço de tempo, já que não há
nada que justifique o contrário, bem como se crie imediatamente ao menos uma
divisão de classe para os atletas deficientes físicos, dadas as discrepâncias
motoras e a conseqüente desigualdade de condições de competição.
Esta divisão de classe seria válida somente para um período de transição
inicial, estipulado pelo grupo de estudos, e seria independente do número de
participantes nas provas, pois esta desigualdade pode gerar um sentimento de
injustiça e descaso por parte do atleta PPD, tornando-se assim um fator que
desestimule sua participação. Esse grupo deve explicitar quais os passos que
pretende adotar até conseguir aplicar integralmente o sistema de classificação do
esporte adaptado para o espectro de classes escolhidas. A Secretaria pode até
adotar provas que inicialmente só trabalhem com a classificação de classes altas,
no caso das PPDFs, como uma possibilidade de trabalho. Porém, essas classes
128
devem ser respeitadas na íntegra, caso contrário será desequilibrada e injusta a
junção de classes. Da mesma forma, também não se poderia ignorar ou
desrespeitar as classes baixas: pelo contrário, é necessário que se esclareça
como e em que momento elas estarão fazendo parte do processo.
Inicialmente, neste período de introdução da PPD nos Jogos e de estímulo
ao trabalho esportivo com esta população, sugerimos que no atletismo se
mantenha a classe única e que na natação venha a se abrir pelo menos duas
classes dentro do mesmo espectro (Classe A para S7-S8 e Classe B para S9-
S10), devido ao grau de discrepâncias e rendimentos distintos em função das
diferentes capacidades funcionais motoras. Outra sugestão, dada a sua facilidade
de realização, seria a ampliação da oportunidade para as PPDVs no atletismo,
abrindo-se pelo menos as provas de 1OOm rasos masculino e feminino, e na
natação deveria ser incluída a prova de 100m costas para PPDF, devido a esse
estilo ser muito praticado pela PPDF desde o início de sua aprendizagem.
Acreditamos que sejam necessárias pelo menos algumas participações
adicionais da PPD nos Jogos para que se estude uma forma de apurar o índice
técnico adequado.
Tratando agora de outras questões importantes do Regulamento, é
necessária e urgente a restituição do único incentivo de pontuação que a
Secretaria adotou para a participação da PPD nas provas, através da bonificação
extra para o município que participasse com a PPD nos Jogos, com a intenção de
estimular o interesse das cidades para se estruturar e desenvolver um trabalho
com essa população, já que esse será recompensado objetivamente em termos
de pontos extras nos Jogos.
É imprescindível voltar a prevalecer para todos os atletas, sem distinção, a
oportunidade de participação de até dois deles por prova, pelo município-sede,
sem necessidade de obtenção de índice técnico. Esse ponto encontra-se no
Regulamento Técnico do Atletismo, em seu artigo 3°, e da Natação, no artigo 24.
129
Da mesma maneira, é necessário estar previsto em regulamento, de forma
generalizada como estão previstas as condições básicas de higiene e conforto, as
condições mínimas de acessibilidade dos alojamentos e ambientes dos Jogos
para os atletas PPDs, principalmente no que se relaciona com a candidatura para
a cidade-sede dos Jogos, como já foi explanado anteriormente.
Existe também a necessidade de se garantir através do regulamento a
realização da prova para a PPD, mesmo contando com apenas um participante.
Como um incentivo durante essa fase inicial, poderia ainda ser atribuída ao
município a pontuação correspondente à colocação, além da pontuação de bônus
pela participação, pois o fato da equipe pontuar poderia incentivar os municípios a
desenvolverem um programa esportivo com seus PPDs e a levarem seus atletas
para as competições, mesmo que não houvesse previsão de participação de
competidores de outras cidades. Isto evitaria também a oportunidade de
desistência da prova para evitar que o município adversário pontuasse em
situações em que houvesse uma desvantagem motora mais flagrante (como no
exemplo apresentado na Discussão), enquanto não se adota plenamente o
sistema de classificação funcional.
É importante ainda esclarecer o que está omisso no Regulamento Geral e
Técnico para o caso de desclassificação dos demais participantes de municípios
distintos numa prova em que reste apenas um participante, como o caso descrito
na Discussão.
Acreditamos também que seria interessante, ao menos nessa fase inicial
de implementação e amadurecimento da participação da PPD nos Jogos,
aproveitar a oportunidade para se adotar uma diretriz que minimizasse as
discrepâncias do tratamento dado às minorias e desse oportunidades mais
eqüitativas a todos: a presença especificada no regulamento de um número
mínimo de vagas destinadas às PPDs na composição das equipes da modalidade
na qual sua participação estivesse prevista, salvaguardando ao município
representado pelo seu atleta PPD o direito à realização da prova e pontuação
correspondente à colocação, em qualquer circunstância.
130
Embora para as modalidades nas quais ocorreu a inserção de provas
adaptadas (atletismo e natação) esteja prevista a participação apenas da
categoria B, ou seja, sem limite de idade, seria interessante que esta regra fosse
flexibilizada em relação à PPD, em duas situações futuras: no caso de haver
também na categoria A as modalidades de atletismo e natação e/ou quando
outras modalidades naturalmente abrigarem provas/equipes adaptadas. Este
exemplo baseia-se no fato de terem ocorrido nos Abertos de Santos em 2000, a
título de demonstração, o basquete em cadeira de rodas, o tênis em cadeira de
rodas, o tênis de mesa para deficientes mentais e o futebol para deficientes
auditivos, que são modalidades pertinentes às duas categorias existentes.
Isto evitaria que um município que possua, por exemplo, uma equipe para
a categoria A e atletas PPDs que não se enquadram dentro da mesma, tenha
necessariamente que escolher entre ambas, correndo-se o risco da equipe PPD
não participar. Ao contrário, se neste caso houvesse a possibilidade de
participação das duas equipes, isto representaria um estímulo adicional á
participação da PPD, já que o município poderia aumentar sua chance de
pontuação com o crescimento de sua participação.
A nossa pesquisa ainda revelou uma deficiência na parte documental da
história dos Jogos, já que os registros dos primeiros anos, tanto dos Abertos
quanto dos Regionais, não foram encontrados na biblioteca da Secretaria, o que
indica a necessidade de pesquisa de reconstituição da evolução histórica dos
mesmos.
O interesse na área adaptada é crescente tanto dentro das universidades,
nas quais há maior interesse e se reconhece cada vez mais as atividades no
campo adaptado e onde estão sendo desenvolvidas mais freqüentemente
pesquisas na área, como fora do setor acadêmico, segundo Rosadas (2000). As
IES pela estrutura que lhes é peculiar e por seu interesse na área, tornam-se
importantes parceiras também na questão da integração, bem como no
desenvolvimento de todas as dimensões do fenômeno esporte.
131
Fazemos essa afirmação inclusive baseada nesta mesma pesquisa, pois
este trabalho pretende contribuir tanto com a iniciativa do CEAPPD e a
conseqüente inserção de provas adaptadas pela SEET/CER como com o
desenvolvimento do esporte adaptado e o aprofundamento da área junto às IES.
Esses foram os objetivos de fórum íntimo que nortearam a nossa pesquisa. Tanto
que todo e qualquer ponto abordado, todo o questionamento feito, ocorreu no
intuito de chamar a atenção para fatos que podem já estar presentes ou virem a
ocorrer, e que, necessariamente, não colaborariam com esses objetivos.
Acreditamos que se deve criar outras formas de incentivo aos trabalhos dos
municípios junto às PPDs e à conseqüente participação da PPD nos Jogos, desde
medidas que envolvam os regulamentos técnicos até outras mais abrangentes.
Vale lembrar que existem boas propostas de trabalho, como as que foram
elaboradas no Encontro promovido pelo CEAPPD, as quais se adotadas e
desenvolvidas plenamente pela SEET/CER, proporcionariam o aproveitamento do
enorme potencial de trabalho que pode ser realizado pela Secretaria na área
adaptada.
132
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142
ANEXO I
JOGOS REGIONAIS E ABERTOS DO INTERIOR DO ESTADO DE SÃO
PAULO
No começo dos anos 30, o Governo do Estado de São Paulo iniciou um
processo de mobilização que veio a ser denominado reconstrução educacional.
Constatou-se na época que a prática da atividade física no estado era ainda muito
restrita, e aqueles que praticavam algum esporte o faziam ao acaso, ao sabor do
tempo livre, desordenadamente, sem método, sem sistema, sem um plano
concreto que permitisse progresso e eficiência, com rara exceção àqueles que
participavam de uma entidade particular bem orientada. A educação física
precisava, então, ser implantada sistematicamente nas escolas. atingir as massas
populares, buscando incutir no povo paulista o hábito do exercício físico em todas
as suas formas (São Paulo, 1955).
Em 1934 foi criado o Departamento de Educação Física do Estado de São
Paulo (DEF), pelo Decreto-Lei n. 0 6.583 de 1/8/1934, subordinado à Secretaria de
Educação e Saúde, com a finalidade primordial de estabelecer normas básicas e
princípios essenciais para uma obra em conjunto na base educativa. Pretendia
orientar a infância e a juventude na prática da educação física, bem como
esclarecer toda a população sobre a importância e as qualidades da prática de
atividades físicas bem orientadas (São Paulo, 1955).
Em 1936 foram criados, por iniciativa particular de Horácio "Baby" Barioni
(1909-1967). os primeiros jogos do Campeonato Aberto do Interior, denominado
Primeiro Campeonato Aberto de Bola ao Cesto do Interior, com sede na cidade de
Monte Alto, com a modalidade esportiva de bola ao cesto, hoje conhecida como
basquete, e a participação de 8 cidades: Araçatuba, Caçapava, Casa Branca,
Franca, Mirassol, Olímpia, Piracicaba e Uberlândia-MG. No seu início, os jogos
eram abertos à participação de cidades de outros estados (Jogos, 1984; SET,
1985).
143
Convém esclarecer que nessa época o projeto dos Jogos era oferecido
pela iniciativa particular de Barioni às Prefeituras das cidades do interior para que
alguma delas viesse a promover os Jogos. O município que se interessasse pelo
projeto contratava-o como organizador e técnico de basquete do time da cidade e
arcava com toda a organização e instalações esportivas para as disputas. Cabia a
Barioni preparar e enviar os ofícios de convite às cidades para participarem do
evento, buscar patrocínio junto ao comércio local e fazer a divulgação do evento.
Obteve assim apoio do então Presidente da Associação Atlética Montealtense,
Manuel Carvalho Lima, para a realização do primeiro campeonato, e da mesma
forma ocorreu com os demais até a oficialização e condução pelo Estado (Jogos,
1984; SET, 1985).
No ano seguinte, foi realizado na cidade de Uberlândia, Minas Gerais, o 11
Campeonato Aberto do Interior, incluindo a modalidade de natação (Jogos, 1984;
SET, 1985). Em 1938, a cidade de Sorocaba, no estado de São Paulo, foi a sede
do 111 Campeonato Aberto do Interior, incluindo a modalidade de atletismo (Jogos,
1984; SET, 1985). Este último contou com 16 cidades participantes, num total de
228 competidores, 218 do sexo masculino e 1 O do feminino (São Paulo, 1955).
Em 1939 foi criado o Departamento de Esporte do Estado de São Paulo
(DEESP), pelo Decreto-Lei n.0 10.409, como órgão difusor, orientador e executivo
da prática de atividades esportivas, com a finalidade principal de promover e
divulgar, principalmente entre os jovens, o gosto pela vida ao ar livre e o prazer
pelas atividades físicas. Foram adotadas normas de trabalho que oferecessem
possibilidades de se intensificar a prática de várias modalidades esportivas no
interior do Estado (São Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
Logo que foi instituído o departamento, o primeiro passo nesse sentido foi
desenvolver uma campanha de reabilitação do esporte junto às elites paulistas,
consideradas há muito afastadas das atividades esportivas, e entre o povo em
geral, que não encontrava oportunidade para a sua prática (São Paulo, 1954).
144
Foram criadas as Comissões de Esportes nos municípios, que trabalhavam
diretamente ligadas às Prefeituras e funcionavam como um ponto de apoio do
DEESP, traçando um plano de ação comum, servindo de incentivo e atração da
mocidade para as competições esportivas. Prestavam assistência técnica,
orientação e fiscalização dos atos esportivos das entidades locais, estabelecendo
condições para que cada cidade desenvolvesse as suas próprias atividades.
Foram também criadas as Comissões Centrais, que tinham atribuições regionais
e passaram a ser o ponto de contato entre as Comissões Municipais e o DEESP
(São Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
As Comissões adotavam o discurso de não pretender estabelecer uma
uniformidade de realizações, mas de se imprimir um desenvolvimento harmônico
e regular, além de criar seu próprio calendário esportivo entrosado com o
calendário do DEESP. Na nossa análise porém, elas tiveram o importante papel
de normatização da política esportiva no Estado, tendo sido também importantes
nas funções de criação, fomento e desenvolvimento da prática esportiva nos
municípios.
Ainda neste ano, o Campeonato Aberto do Interior foi oficializado pelo
Estado e passou a constar do calendário criado pelo DEESP, com a nova chefia
de Edmundo de Carvalho, o então diretor do órgão. A cidade de Campinas
promoveu o IV Campeonato Aberto do Interior, e a realização do evento restringiu
a participação somente às cidades do interior paulista, podendo competir as suas
seleções e também aquelas provenientes de municípios de outros estados
(Jogos, 1984; SET, 1985). Nos documentos pesquisados, não constam a data
específica de sua criação, nem o porquê da mudança de nome de Campeonato
Aberto do Interior para Jogos Abertos do Interior~
Alguns anos depois, o VIII Campeonato Aberto do Interior, realizado em
Sorocaba no ano de 1943, contou com 31 cidades participantes e um total de 866
competidores, 689 do sexo masculino e 177 do feminino (São Paulo, 1954; São
Paulo, 1955). Se comparados à terceira edição do campeonato, realizada em
1938 também em Sorocaba, esses números representam cerca de duas vezes o
145
número de municípios participantes e quase quatro vezes o número de
competidores. Especialmente no caso de atletas do sexo feminino, a variação é
expressiva: 1 O participantes em 1938 contra 177 cinco anos mais tarde.
Algumas outras iniciativas do DEESP neste período foram a instituição, em
1945, da Taça Adernar de Barros, competição atlética aberta a todos os clubes
nacionais (São Paulo, 1954), e em 1946, a criação do Troféu Bandeirantes,
visando ao fortalecimento das associações esportivas do estado e à constante
renovação de valores atléticos sob a forma de campeonatos interclubes (São
Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
No ano de 1946 o XI Campeonato Aberto do Interior, realizado em Santos,
reuniu 54 municípios, atingindo o maior número de participantes num campeonato
desse tipo até aquela data. Os jogos mantiveram-se num ritmo crescente de
participação desde o seu início, o que acarretava o conseqüente aumento de
pessoal de suporte ao evento, que passava a exigir amplas acomodações da
cidade-sede, o que naturalmente, na época, restringia enormemente o número de
cidades habilitadas para tal. Poucos municípios do interior paulista estavam
criando condições técnicas satisfatórias para assumir a responsabilidade de
organizar os jogos (o relatório de atividades do DEESP de 1954 aponta que até
1953, com o total de 18 jogos realizados, praticamente apenas quatro ou cinco
cidades ofereciam condições mínimas para organizá-los, e acabavam se
repetindo como cidade-sede, como foi o caso de Sorocaba, que foi sede dos
jogos três vezes, Ribeirão Preto, quatro vezes, Santos, três vezes e Campinas,
duas vezes, até então) (São Paulo, 1954).
O DEESP havia também constatado que as cidades de menor condição e
expressão esportivas sentiam-se intimidadas em relação aos municípios maiores
do interior, o que levava muitas vezes à sua não participação. Portanto, a idéia de
se instituir campeonatos similares, realizados por zonas, poderia possibilitar a
participação de todas as cidades do interior paulista, inclusive daquelas
esportivamente menos desenvolvidas (São Paulo, 1954).
!46
Com o objetivo de evitar a hipertrofia dos Campeonatos Abertos e
proporcionar uma competição mais equivalente entre cidades de uma mesma
região, o DEESP então sugeriu a criação de Campeonatos Abertos por Zona,
apresentando como vantagens não só o fato de que todas as cidades paulistas
estariam habilitadas a organizar os campeonatos regionais, como também a
abertura de maiores e melhores perspectivas para a participação das cidades de
menor desenvolvimento esportivo (São Paulo, 1954 ). Três anos mais tarde, em
1949, foi idealizado o Campeonato Aberto por Zona (São Paulo, 1954), ou seja,
por iniciativa das Comissões e incentivo do Departamento começou-se a planejar
a realização de jogos regionalizados, que viriam a ser os futuros Regionais. As
regiões esportivas dos Campeonatos Abertos por Zona foram constituídas aos
poucos. Inicialmente, seguiram a trajetória das estradas de ferro que cruzavam o
Estado e facilitavam o acesso e a afluência para essas cidades (São Paulo,
1954).
O DEESP, desde sua origem, procurou desenvolver laços com as
Federações Esportivas para a montagem de um calendário de eventos esportivos,
buscando também, de alguma maneira, um auxílio mútuo no processo de
evolução do esporte no estado. Como resultado desse trabalho conjunto, de 1939
até 1949, surgiram dez novas Federações, demonstrando assim uma relação
direta entre o trabalho desenvolvido pelo departamento juntamente com as
Federações e a evolução da prática desportiva.
Outra evidência da importância da ação do Estado junto ao
desenvolvimento do Esporte se refere ao crescimento das instalações esportivas.
Antes da criação do DEESP, o número de instalações esportivas era ínfimo,
próximo a dez ao todo, sem contar os campos de futebol. Poucas cidades
possuíam quadras para o basquete ou vôlei, muito menos ginásios e piscinas. No
ano de 1954, porém, eram poucos os municípios que não dispunham de ao
menos uma quadra. Várias pistas de atletismo foram construídas em todo o
estado e uma grande quantidade de ginásios e piscinas foi posta a serviço da
prática esportiva.
147
No ano de 1950 foram criados os Jogos da Alta Sorocabana, com sede em
Presidente Prudente e circunscritos às cidades dessa região servidas pela estrada
de ferro Sorocabana, a partir de Botucatu. Realizado nos moldes dos Abertos, o
Campeonato Aberto da Alta Sorocabana reuniu 13 cidades participantes e 750
esportistas (São Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
Neste mesmo ano, o XV Campeonato Aberto do Interior ocorreu na cidade
sede de Sorocaba, contando com 65 municípios participantes, num total de 2.452
competidores de ambos os sexos (São Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
Paralelamente, em 1952 foi criado, a partir da Taça Adernar de Barros, o
Troféu Brasil, competição atlética a ser disputada entre associações nacionais
com a finalidade de estreitar os laços de amizade entre os esportistas brasileiros
e aprimorar o padrão técnico de nossos atletas. Foi instituída a freqüência de
duas competições anuais, uma no Rio de Janeiro, o então Distrito Federal, e outra
em São Paulo, local original da competição (São Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
Ainda neste ano foram criados os Jogos Noroestinos, com sede em
Guararapes, envolvendo as cidades dessa região servidas pela estrada de ferro
Noroeste do Brasil, a partir de Bauru, com o apoio das Comissões de Esporte das
mesmas. Realizados também nos moldes dos Abertos, contaram com 13 cidades
participantes e um total de 750 esportistas (São Paulo, 1954; São Paulo, 1955).
Os Jogos Abertos do Interior, na sua 17• edição em 1952, atingiram um total de
92 cidades participantes com 3.600 concorrentes (São Paulo, 1954).
Em 1953 foram oficializados os Jogos da Alta Sorocabana e os
Noroestinos. O Campeonato Aberto da Alta Sorocabana estava no seu quarto ano
e os Jogos Noroestinos, no seu segundo ano. Com a criação do campeonato
aberto do interior por zona, o DEESP promoveu uma mudança para um novo
sistema de disputa que viria a reunir assim dois terços do Estado (São Paulo,
1954). Nos 11 Jogos Noroestinos, na cidade-sede de Araçatuba, estiveram
presentes 16 cidades, incluindo Campo Grande, do então Estado de Mato
Grosso, num total de 950 participantes nas modalidades de atletismo, basquete,
148
beisebol, ciclismo, natação, tênis, voleibol e xadrez (São Paulo, 1954; São
Paulo,1955). No /V Campeonato Aberto da Alta Sorocabana, na cidade-sede de
Presidente Prudente, participaram 22 municípios, com 1 .200 participantes nas
modalidades de basquete, voleibol, atletismo, tênis de mesa, ciclismo, tênis,
beisebol e xadrez (São Paulo, 1954). Algumas das cidades que participaram do
campeonato naquele ano nunca haviam disputado nenhum certame oficial (Jogos,
1984).
Foram ainda realizados fora do calendário do DEESP os Jogos da Alta
Paulista e Central do Brasil, nas cidades-sede de Marília e Taubaté,
respectivamente. Segundo o Departamento, esta realização servia como exemplo
para provar que nesta área de atividades os municípios alcançavam a sua
emancipação (São Paulo, 1954). Consta ainda o relato de que mais duas regiões
se preparavam para instituir este tipo de campeonato: as regiões da Média
Sorocabana e Araraquarense (São Paulo, 1954).
No que se refere a regulamentos oficiais, estes campeonatos, como
surgiram independentemente uns dos outros e não havia um organismo
centralizador comum a todos, apresentavam pequenas diferenças entre si, como,
por exemplo, no caso da modalidade de natação, que foi incluída no regulamento
da Alta Sorocabana de 54, sendo que já em 53 esta modalidade fazia parte dos
Jogos Noroestinos (São Paulo, 1954).
Nos jogos do XVIII Campeonato Aberto do Interior, realizado na cidade de
Jundiaí, participaram 89 municípios, representando três estados: São Paulo, com
84 cidades participantes, Minas Gerais, com três e Paraná com duas, num total
de 3.330 concorrentes de ambos os sexos, nas modalidades de atletismo,
basquete, ciclismo, natação, saltos ornamentais, tênis, voleibol e xadrez (São
Paulo, 1954 ).
Em 1954, no XIX Campeonato Aberto do Interior, participaram 90
municípios representando cinco Estados da União, num total de quase 3.000
competidores, nas mesmas modalidades do campeonato anterior (São Paulo,
149
1955). Nos /// Jogos Noroestinos, com sede em Andradina, reuniram-se 19
cidades, com um total de 951 participantes nas modalidades de atletismo,
basquete, xadrez, voleibol, beisebol, ciclismo, tênis e natação (São Paulo, 1955).
No V Campeonato Aberto da Alta Sorocabana, tendo São Manuel como cidade
sede, participaram 16 cidades ao todo, em nove modalidades: atletismo,
basquete, xadrez, voleibol, beisebol, ciclismo, tênis, tênis de mesa e natação (São
Paulo, 1955).
O ano de 1954 trouxe mudanças de caráter político-administrativo. O
Decreto-Lei n. 0 2.749, de 29 de setembro de 1954, criou o Departamento de
Esportes e Educação Física do Estado de São Paulo (DEFE), órgão único
proveniente da fusão do Departamento de Educação Física do Estado de São
Paulo com o Departamento de Esportes do Estado de São Paulo, com o objetivo
de promover o incentivo, a orientação e o controle dos programas especiais de
recreação e ginástica em todos os níveis de ensino, bem como a difusão, o
desenvolvimento e aperfeiçoamento técnico das práticas esportivas (São Paulo,
1955). Com a unificação dos Departamentos, os Jogos realizados no interior do
Estado começaram a ter uma organização mais cuidadosa (Jogos, 1984).
Em 1956 foi instituída a denominação Jogos Regionais, confirmando seu
objetivo primordial de atrair todas as cidades do Estado, por menor que fosse a
sua participação na prática esportiva. Foram criados ainda neste ano os jogos do
Vale do Paraíba (Jogos, 1984), que foram oficializados no ano seguinte. Também
no ano de 1957, embora ainda sem caráter oficial, aconteceram os IV Jogos da
Araraquarense, em São José do Rio Preto, contando com a colaboração direta do
DEFE (Jogos, 1984). No ano de 1958 foram oficializados os jogos da
Araraquarense e ocorreram também, em caráter experimental, os jogos da
Paulista, Alta Paulista, Média e Alta Mogiana (Jogos, 1984).
Finalmente, em 1959 foram oficialmente organizados os Jogos Regionais,
e para isso o estado foi dividido em oito regiões: Alta Sorocabana, Noroestinos,
Vale do Paraíba, Araraquarense, Média Mogiana, Alta Mogiana, Paulista e Alta
Paulista. Três anos mais tarde, foram inseridas duas novas regiões, Litoral e Zona
!50
Sul, e mais três novas modalidades esportivas: boxe, futebol de salão e bocha
(Jogos, 1984 ).
Em 1970 foi introduzida uma modificação importante promovida pelo
DEFE. Os Jogos Regionais passaram a ter caráter classificatório para a
participação nos Jogos Abertos do Interior. Pretendia-se que todas as regiões
tivessem um melhor preparo técnico e, conseqüentemente, o mesmo ocorresse
com os Jogos Abertos. Além disso, adotou-se uma nova divisão do estado em
cinco zonas: Norte - região de São José do Rio Preto e Araçatuba; Sul - região
da Grande São Paulo e Sorocaba; Oeste - região de Bauru e Presidente
Prudente; Leste - região de Campinas e Ribeirão Preto; e Litora - região de São
Paulo Exterior e Vale do Paraíba. Todos os campeonatos regionais obedeceriam
ao mesmo regulamento (Jogos, 1984).
No ano de 1975 os Jogos Regionais contavam com as modalidades de
atletismo, basquete, futebol, judô, natação, tênis, tênis de mesa, xadrez, voleibol,
ciclismo e saltos ornamentais (São Paulo, 1 975).
Ern 1984 os Jogos Regionais ganharam uma nova zona com o
desmembramento da região do Litoral, que foi dividida em região Sudeste
incluindo a Baixada Santista, Litoral Sul e Grande São Paulo - e região do Vale
do Paraíba e Litoral Norte (Jogos, 1984).
Ern 1985 foram realizados os 50° Jogos Abertos do Interior, ern Santo
André, com 117 cidades participantes e 14 modalidades, nos quais ocorreram
clínicas técnico-pedagógicas com treinadores de renome nacional com o objetivo
de promover o intercâmbio desportivo. Reuniram-se no mesmo evento atletas
desconhecidos do grande público, provenientes de cidades distantes, junto corn
estrelas olímpicas do esporte nacional. Este campeonato tornou-se a maior
competição poli esportiva do país (SET, 1 986).
!51
ANEXO 11
REGULAMENTO DOS JOGOS REGIONAIS E ABERTOS DO ESTADO
DE SÃO PAULO- DE 1999 a 2001
Neste resumo, destacaremos apenas algumas cláusulas de caráter geral e
outras específicas, referentes á participação da PPD nos Jogos, ou ainda aquelas
que trouxeram alterações importantes de ano para ano.
REGULAMENTO DOS JOGOS REGIONAIS DE 1999:
GERAL Pela Coordenadoria de Esportes e Recreação (CER) da Secretaria
de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SEET).
Artigo 1° Objetivo dos Jogos Regionais- Favorecer o desenvolvimento da
prática esportiva nos municípios do estado de São Paulo, contribuir para o
aprimoramento técnico das diversas modalidades em disputa, selecionar, através
de competição, os melhores atletas e equipes das regiões visando á participação
nos Jogos Abertos do Interior.
Artigo 2° Constam ao todo 17 modalidades, sendo que 11 para ambos os
sexos, cinco somente masculinas e uma podendo ser masculina ou mista (veja
Quadro 7)
Artigo 4° Os Jogos Regionais serão classificatórios para os Abertos.
Artigo 4° § 2° Para efeito de convocação para os Jogos Abertos, a
classificação para o atletismo e a natação ocorre por índice técnico.
!52
QUADRO 7 - Modalidades e categorias constantes no regulamento dos Jogos
Regionais de 1999
I
Modalidades Masculino Feminino Mista
Atletismo X X
Basquetebol X X
Bocha X
Caratê I X X
I Ciclismo X
I I Damas X
' Futebol X
Futebol de salão X
Ginástica Olímpica X X
Handebol X X
Judô X X
Malha X
Natação X X
Tênis X X
Tênis de Mesa X X
Voleibol X X
Xadrez X X
Artigo 8° Para cada delegação, o número máximo permitido de atletas
inscritos na modalidade de atletismo masculino é de 40, feminino de 30 e para a
natação é de 32 para cada sexo.
Artigo 14 Será conferida a bonificação de um ponto para o município por
modalidade e sexo participante.
153
Artigo 15 Para haver a realização da prova de qualquer modalidade e
sexo, deverão constar pelo menos três equipes confirmadas.
Artigo 15° § 1° Havendo a desistência de uma equipe após a confirmação,
a prova deverá ser realizada e pontuada entre as equipes participantes. Caso
duas equipes desistam, a equipe remanescente receberá a pontuação
correspondente.
REGULAMETO TÉCNICO (J. REGIONAIS 1999)
Atletismo
Artigo 2° Será realizada a prova que tiver ao menos dois
concorrentes/equipes distintos.
Artigo 2° § Único Caso haja desistência de atletas inscritos que não sejam
do mesmo município, redundando em uma única participação, a prova poderá ser
realizada para efeito de obtenção de índice.
Natação
Artigo 107 Para a organização de séries, será considerado o melhor
resultado de cada nadador e a classificação final será por tempo.
REGULAMENTO DOS JOGOS ABERTOS DE 1999
GERAL Pela Coordenadoria de Esportes e Recreação (CER) da Secretaria
de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SEET).
Artigo 1° Objetivo dos Jogos Abertos - Coroar o desenvolvimento da
prática esportiva nos municípios do estado de São Paulo, classificados através
!54
dos Jogos Regionais e contribuir para o aprimoramento técnico das diversas
modalidades em disputa.
Artigo 2° Constam ao todo as mesmas 17 modalidades dos Jogos
Regionais, sendo que cinco são somente masculinas e uma podendo ser mista.
Artigo 3° § 5° O critério para a participação nas modalidades de atletismo e
natação é por índice técnico, obtido nas competições oficiais do calendário da
SEET/CER, além de competições estaduais, nacionais e internacionais,
realizadas no ano dos Jogos Abertos, até 15 dias antes do Congresso Técnico.
Artigo 3° § 6° O atleta que vier por outro meio que não as competições da
SEET/CER deverá apresentar documento oficial da Confederação ou Federação
especializada e os respectivos índices no Congresso Específico da modalidade.
Artigo 4° Apresenta as exigências para assegurar a participação dos
municípios nos Jogos Abertos do Interior:
• Ter participado dos Regionais na modalidade e sexo.
• Não ter sido eliminado ou desclassificado nos Regionais pela CER na
modalidade e sexo.
•Ao município inscrito nos Regionais e cuja modalidade e sexo não se realizou
por falta de participantes, fica assegurada a participação nos Abertos.
•Ao município-sede fica assegurada a participação independente de classificação
e índice, desde que as demais exigências contidas neste artigo sejam
respeitadas.
• Cada município será representado por uma única equipe na modalidade e sexo.
Artigo 9° § 2° Nas modalidades de atletismo e natação, os atletas que
obtiveram o índice técnico exigido poderão participar dos Abertos.
!55
REGULAMENTO TÉCNICO (J. ABERTOS 1999)
Artigo 1° Os Abertos serão regidos pelo regulamento técnico dos
Regionais em cada modalidade, excetuando-se as alterações e inclusões
presentes.
Atletismo
Artigo 3° O município poderá inscrever até três atletas por prova e uma
equipe de revezamento, desde que apresentem o índice técnico exigido. Cada
atleta poderá participar de quatro provas individuais e dos revezamentos.
Artigo 4° O município-sede poderá inscrever até dois atletas por prova e
uma equipe de revezamento independente de índice técnico, desde que atenda
aos limites de provas estabelecidos no Artigo 3°.
Natação
Artigo 12 O município poderá inscrever até três atletas por prova e uma
equipe de revezamento, desde que apresentem o índice técnico exigido. Cada
nadador poderá participar de quatro provas individuais e dos revezamentos.
Artigo 12° § 1° O município-sede poderá inscrever até dois atletas por
prova e uma equipe de revezamento independente de índice técnico, desde que
atenda aos limites de provas estabelecidos no caput deste artigo.
REGULAMENTO DOS JOGOS REGIONAIS DE 2000
GERAL Pela Coordenadoria de Esportes e Recreação (CER) da Secretaria
de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SEET).
!56
Artigo 1° Objetivo dos Jogos Regionais - Favorecer o desenvolvimento da
prática esportiva nos municípios do estado de São Paulo, contribuir para o
aprimoramento técnico das diversas modalidades em disputa e selecionar,
através de competição, os melhores atletas e equipes das regiões visando à
participação nos Jogos Abertos do Interior.
Artigo 2° Foram criadas duas categorias de disputa: A- para atletas até 21
anos - e B -com limite de idade livre.
Artigo 3° Constam ao todo, para a categoria A, nove modalidades, sendo
que uma é mista e duas são somente masculinas, e, para a categoria B, 16
modalidades, sendo que três são somente masculinas, uma somente feminina e
uma mista (veja Quadro 8).
Artigo 4° § Único Cada município poderá se fazer representar por apenas
uma equipe em cada modalidade e sexo, optando por uma categoria.
Artigo 5° Os Jogos Regionais serão classificatórios para os Abertos.
Artigo 5° § 2° Para efeito de convocação para os Jogos Abertos, a
classificação para o atletismo e a natação ocorre por índice técnico.
Artigo 7° Aviso de que será cobrada pelo município-sede taxa de
participação por modalidade, categoria e sexo, estipulada pela SEET/CER. É
estabelecido que caso a taxa não seja paga ao comitê organizador, o município
ficará impedido de participar dos Abertos e, persistindo na inadimplência até a
data dos próximos Regionais, continuará impedido de participar.
!57
QUADRO 8 - Modalidades e categorias constantes no regulamento dos Jogos
Regionais de 2000
Modalidades A ls Masculino I Feminino Mista
Atletismo X X I X
I ' Basquetebol X X X X
I
' Biribol X X I
Bocha 'X X I Caratê X X X I
' ' Ciclismo X X I I
Damas X X X
Futebol X lx X para A I X para B
I i Futsal X I X I
Ginástica Olimpica X X I X ' I I
Handebol X X X X '
Judô X X X
Malha X X
Natação IX X X i
Tênis X X X X
' I Tênis de mesa X ,X X X
Voleibol X X X X
Xadrez X ;x X I X
Artigo 1 O Cada delegação poderá ter 45 atletas do sexo masculino e 35 do
sexo feminino como número máximo de participantes na modalidade de atletismo,
e na natação, 38 atletas para ambos os sexos.
Artigo 13 Os municípios-sede deverão providenciar junto aos órgãos
competentes, alojamento para as delegações, o qual deverá apresentar bom
índice de higiene e conforto.
!58
Artigo 14 § Único As modalidades de atletismo e natação, assim como as
demais fora do Sistema Unificado de Disputa, obedecerão aos critérios
estabelecidos pelos respectivos regulamentos técnicos.
Artigo 15 A tabela de pontuação é por modalidade, categoria e sexo.
Artigo 16 Será conferida a bonificação de um ponto para cada Município
por modalidade, categoria e sexo participante.
Artigo 16 § Único Será conferido a cada município que participar das
modalidades de atletismo e natação com atletas PPD, um ponto de bonificação
por modalidade e sexo.
Artigo 17 Caso haja apenas uma equipe, a mesma receberá a pontuação
correspondente.
Artigo 17 § Único Fica assegurada a participação nos Jogos Abertos do
Interior aos municípios inscritos nos Jogos Regionais cuja modalidade, categoria e
sexo não se realizou por falta de participantes.
REGULAMENTO TÉCNICO (J. REGIONAIS 2000)
Atletismo
Artigo 1° Foram inseridas provas para a PPDF: Corrida de 100 m em
cadeira de rodas masculino e feminino e 400m em cadeira de rodas masculino.
Artigo 2° Será realizada a prova que tiver ao menos duas
equipes/concorrentes distintas.
159
Artigo 2° § único Caso haja desistência de atletas inscritos que não sejam
do mesmo município, redundando em uma única participação, a prova poderá ser
realizada para efeito de obtenção de índice.
Natação
Artigo 106 Foram inseridas provas para PPDFs e PPDVs: provas de 100m
nado livre e 50m nado livre, masculino e feminino para ambas.
Artigo 107 Para a organização das séries será considerado o melhor
resultado de cada nadador e a classificação final será por tempo.
Artigo 110 Caso haja desistência de atletas inscritos que não sejam do
mesmo município, redundando em uma única participação, a prova poderá ser
realizada para efeito de obtenção de índice.
REGULAMENTO DOS JOGOS ABERTOS DE 2000
GERAL Pela Coordenadoria de Esportes e Recreação (CER) da Secretaria
de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SEET).
Artigo 1° Objetivo dos Jogos Abertos do Interior - Coroar o
desenvolvimento da prática esportiva nos municípios do estado de São Paulo,
classificados através dos Jogos Regionais, e contribuir para o aprimoramento
técnico das diversas modalidades em disputa.
Artigo 2" Serão disputados em duas categorias: A- atletas até 21 anos- e
B - limite de idade livre.
Artigo 3° Constam as mesmas modalidades dos Jogos Regionais: para a
categoria A, nove modalidades, sendo que uma é mista e duas são somente
masculinas. Para a categoria B, 16 modalidades, sendo que três são somente
masculinas, uma somente feminina e uma mista.
160
Artigo 4° § 4° O critério para a participação nas modalidades de atletismo e
natação é por índice técnico, obtido nas competições oficiais do calendário da
SEET/CER, além de competições estaduais, nacionais e internacionais,
realizadas no ano dos Jogos Abertos do Interior, até 15 dias antes do Congresso
Técnico.
Artigo 4° § 5° O atleta que vier por outro meio que não as competições da
SEET/CER deverá apresentar documento oficial da Confederação ou Federação
especializada e os respectivos índices no Congresso Específico da modalidade.
Artigo 11 § 2° Nas modalidades de atletismo e natação participarão dos
Abertos os atletas que obtiveram o índice técnico exigido.
Artigo 14 § Único As modalidades de atletismo e natação, assim como as
demais fora do Sistema Unificado de Disputa, obedecerão aos critérios
estabelecidos pelos respectivos regulamentos técnicos.
Artigo 15 § Único Cada município que participar das modalidades de
atletismo e natação com atletas PPD receberá um ponto por modalidade e sexo.
REGULAMENTO TÉCNICO (J. ABERTOS 2000)
Artigo 1° Os Abertos serão regidos pelo regulamento técnico dos
Regionais em cada modalidade, excetuando-se as alterações e inclusões
presentes.
Atletismo
Artigo 2° Não há índice para as provas adaptadas.
Artigo 2° § 1° Das provas para PPDs, participarão dos Abertos os oito
melhores resultados das oito Regiões Esportivas obtidos nos Regionais.
161
Artigo 3° § Único O município-sede poderá inscrever até dois atletas por
prova e uma equipe de revezamento independente de índice técnico, desde que
atenda aos limites de provas estabelecidos no Artigo 3°.
Natação
Artigo 23 Não há índice para as provas adaptadas.
Artigo 23 § 1° Das provas para PPDs, participarão dos Abertos os oito
melhores resultados das oito Regiões Esportivas obtidos nos Regionais.
Artigo 24 O município poderá inscrever até três nadadores por prova e
uma equipe de revezamento, desde que apresentem o índice técnico exigido.
Cada nadador poderá participar de quatro provas individuais e dos revezamentos.
Artigo 24 § 1° O município-sede poderá inscrever até dois atletas por
prova e uma equipe de revezamento independente de índice técnico, desde que
atenda aos limites de provas estabelecidos no caput deste artigo.
REGULAMENTO DOS JOGOS REGIONAIS DE 2001
GERAL Pela Coordenadoria de Esportes e Recreação (CER) da Secretaria
de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SEET).
Artigo 1° Objetivo dos Jogos Regionais - Os Jogos Regionais têm por
objetivo favorecer o desenvolvimento da prática esportiva nos municípios do
estado de São Paulo através de competição; buscar os melhores atletas ou
equipes em cada uma das Regiões Esportivas, visando à participação nos Jogos
Abertos do Interior, e contribuir para o aprimoramento técnico nas diversas
modalidades em disputa.
Artigo 3° Constam ao todo, para a categoria A, nove modalidades, sendo
que uma é mista e duas são somente masculinas e para a categoria 8, 17
modalidades, sendo que quatro são somente masculinas, uma somente feminino
162
e uma mista (inclusão da modalidade biribol, somente masculina - veja Quadro
9).
Artigo 5° Os Jogos Regionais serão classificatórios para os Jogos Abertos
do Interior .
Artigo 5°§ 1° Cria uma regra específica de classificação para a PPD, que
passa a ser o primeiro colocado por prova e categoria, tanto para a natação
quanto para o atletismo (a classificação para o atleta não PPD também mudou,
sendo agora no atletismo os dois primeiros lugares mais índice para ambos os
sexos. No caso da natação, continua sendo apenas por índice técnico, para
ambos os sexos).
Artigo 6° Condições para que um atleta participe dos Jogos - Os itens b e c
foram reescritos, modificados e incluídos apenas no b com a seguinte redação:
Apresentar antes da sua participação nas partidas ou competições a CARTEIRA
PERMANENTE DE ATLETA (CPA) original, diferenciada para atletas nacionais e
estrangeiros, sendo que o atleta estrangeiro deverá apresentar também
autorização expedida pela Comissão de Controle.
163
QUADRO 9 - Modalidades e categorias constantes no regulamento dos Jogos
Regionais de 2001
Modalidades A B Masculino Feminino Mista
' I Atletismo X X X
Basquetebol X X X X
Biribol X X I
Bocha X X
Caratê X X X
Ciclismo X X
Damas X X X
Futebol X X X para A X para B i
Futsal X X I
Ginástica Olímpica X X X
Handebol X X X X
Judô X X X
Malha X X
Natação X X X
Tênis X X X X
Tênis de mesa X X X X
Voleibol X X X X
Xadrez .x X X X I Artigo 16 Será conferida a bonificação de um ponto para cada município
por modalidade, categoria e sexo participante.
Artigo 17 Caso haja apenas uma equipe inscrita nos Jogos Regionais na
modalidade, categoria e sexo, fica assegurada à mesma a participação nos Jogos
Abertos do Interior e o ponto de bonificação.
164
REGULAMENTO TÉCNICO (J. REGIONAIS 2001)
Atletismo
Artigo 2° Somente serão realizadas as provas que contarem com um
mínimo de dois concorrentes de municípios distintos.
Natação
Artigo 113 Somente serão realizadas as provas que contarem com um
mínimo de dois concorrentes de municípios distintos.
REGULAMENTO DOS JOGOS ABERTOS DE 2001
GERAL Pela Coordenadoria de Esportes e Recreação (CER) da Secretaria
de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo (SEET).
Artigo 1° Objetivo dos Jogos Abertos do Interior - Coroar o
desenvolvimento da prática esportiva nos municípios do estado de São Paulo,
classificados através dos Jogos Regionais, e contribuir para o aprimoramento
técnico das diversas modalidades em disputa.
Artigo ~ Os Jogos Abertos do Interior serão disputados em três
categorias: A- Até 21 anos, B - Livre e C - 1 • Divisão.
Artigo 4° § 4° O critério para a participação na modalidade de atletismo é
pelo índice técnico obtido nas competições oficiais do calendário da SEET/CER,
além de competições estaduais, nacionais e internacionais, realizadas no ano dos
Jogos Abertos do Interior, até 15 dias antes do Congresso Técnico, mais o 1° e 2°
colocados dos Jogos Regionais por prova, categoria e sexo.
Artigo 4° § 5° Na modalidade de natação, o critério para a participação
será por obtenção de índice técnico em competições oficiais do calendário da
SEET/CER, além de competições estaduais, nacionais e internacionais,
realizadas no ano dos Jogos Abertos do Interior, até 15 dias antes do Congresso
Técnico.
165
Artigo 5° Fica assegurada a participação nos Jogos Abertos aos
municípios inscritos nos Jogos Regionais, cuja modalidade e sexo não se realizou
por falta de participantes.
REGULAMENTO TÉCNICO (J. ABERTOS 2001)
Atletismo
Artigo 2° § 1° Em relação às provas PPD, participarão dos Abertos o
primeiro colocado por prova nos Regionais das oito Regiões Esportivas.
Artigo 3° O município poderá inscrever até três atletas por prova e uma
equipe de revezamento, desde que apresentem o índice técnico exigido. Cada
atleta poderá participar de quatro provas individuais e do revezamento.
Artigo 3° § Único O município-sede poderá inscrever até dois atletas por
prova e uma equipe de revezamento independente de índice técnico, desde que
atenda aos limites de provas estabelecidos no Artigo 3°.
Artigo 3° § 2° Assegura-se ao município-sede a participação de um atleta
PPD, por prova e sexo, nos Jogos Abertos do Interior desde que tenha participado
das mesmas nos Jogos Regionais.
Natação
Artigo 23 § 1° Das provas para PPDs, participarão dos Abertos o primeiro
colocado por prova nos Regionais das 8 Regiões Esportivas.
Artigo 24 O município poderá inscrever até três atletas por prova e uma
equipe de revezamento desde que apresentem o índice técnico exigido. Cada
atleta poderá participar de quatro provas individuais e do revezamento.
166
Arligo 24 § 1° O município-sede poderá inscrever até dois atletas por prova
e uma equipe de revezamento independente de índice técnico, desde que atenda
aos limites de provas estabelecidos no caput deste artigo.
Arligo 24 § 2° Assegura-se ao município-sede a participação de um atleta
PPD, por prova e sexo, nos Jogos Abertos do Interior desde que tenha participado
das mesmas nos Jogos Regionais.
167
13 GLOSSÁRIO DE TERMOS
Esporte Convencional - Conforme Tubino (1999), o novo conceito de
esporte surge a partir da aceitação do pressuposto de que a prática esportiva é
um direito de todos, somando assim a perspectiva de rendimento (esporte
performance), de participação (esporte-participação) e a de formação (esporte
educação). Entendemos o esporte convencional como a aplicação do conceito de
esporte às pessoas não portadoras de deficiências, apesar do pressuposto.
Esporte Adaptado - Segundo Araújo (1998), significa desporto para
pessoas portadoras de deficiência elaborado para atender exclusivamente a essa
população, adaptando-se as regras e suas práticas. Compreendemos como
aquele que está inserido dentro da filosofia e princípios do Esporte, porém voltado
para pessoas portadoras de deficiência que queiram participar de práticas
esportivas e sejam elegíveis para competições das diversas modalidades, com as
adaptações necessárias para a realização das mesmas.
Natação Convencional - Compreendemos como a modalidade de
natação voltada para pessoas não portadoras de deficiência. Segundo Navarro
(1995), a natação deve, através da aprendizagem, do aperfeiçoamento das
técnicas desportivas dos estilos de nado e do acúmulo de experiências que
enriqueçam a vivência do aluno, levá-lo a alcançar o domínio do meio aquático,
passando pelo processo de formação, que contribuirá com sua educação integral.
"Aprender y perfeccionar /as técnicas deportivas será preocupación generalmente
desde e/ comienzo de/ camino ... "(Navarro, 1995, p.13).
Natação Adaptada- Entendemos como a utilização dos princípios e bases
da natação convencional aplicados às pessoas com necessidades especiais,
fazendo uso das adaptações necessárias para que possam se desenvolver
holisticamente e usufruir das opções que a modalidade oferece. No nosso projeto,
trataremos exclusivamente da natação esportiva adaptada para a PPDF. Segundo
Archer (1998), é uma metodologia de ensino dos estilos de nado destinada a
indivíduos com déficit psicomotor, com o objetivo de obter as habilitações
168
psicomotora, funcional, social e emocional do indivíduo, levando-o à execução
dos estilos de nado como os demais praticantes da natação.
Pessoa Portadora de Deficiência (PPD) - De acordo com o CEAPPD
(1996), são pessoas que apresentam um ou mais tipos de limitações funcionais,
caracterizadas como: permanentes, temporárias, totais, parciais, congênitas ou
adquiridas, tanto físicas quanto mentais ou sensoriais.
Pessoa Portadora de Deficiência Física (PPDF)- Segundo Bieler (1990),
as PPDFs são indivíduos com alteração ou algum comprometimento do seu
quadro motor como coordenação, locomoção ou movimento.
Pessoa Portadora de Deficiência Visual (PPDV) - Segundo Hoffmann
(1999), é a pessoa que tem a anulação ou o sério comprometimento da captação
de informações ambientais pelo canal perceptivo da visão, categorizando seus
portadores em cegos ou com visão subnormal, respectivamente.
Lesão Medular (LM) - É uma debilidade neurológica em conseqüência de
uma lesão na medula espinhal, causando paralisia ou parestesia e alteração de
sensibilidade a partir da altura da lesão para baixo, de acordo com o grau da
mesma, ou seja, se for uma lesão parcial ou total (Wyngaarden et ai., 1993;
INSERSO, 1994).
Seqüelas de Poliomielite (Pólio)- Segundo Werner (1994), a infecção
pelo vírus da poliomielite ataca a medula espinhal, danificando somente os nervos
que controlam o movimento, causando uma paralisia do tipo flácido na inervação
atingida, não sendo progressiva, mas podendo apresentar problemas secundários
como conseqüência da mesma, tais como contraturas, deformação nas
curvaturas da coluna, entre outros.
Encefalopatia Crônica (PC) - É conseqüência de um dano ocorrido na
parte do cérebro que controla as ações musculares voluntárias, ocasionado
geralmente por falta de oxigênio ou trauma (INSERSO, 1994). Segundo Werner 169
(1994), essa lesão depois de feita não progride nem se recupera, podendo ocorrer
antes, durante ou depois do nascimento. Como atinge principalmente as áreas
que controlam o movimento, pode afetar a postura do corpo e também outras
áreas, como, por exemplo, a fala.
Amputação (AMP) - Pode ser devida tanto a membro(s) deficiente(s)
congênito(s) ou adquirida como resultado de doença ou trauma, significando a
ausência de um membro ou parte dele (Palmer & Toms, 1992).
"Les Autres" (LA) - São aqueles indivíduos que apresentam alguma
deficiência física, mas que não estão dentro das patologias acima descritas, como
a Acondroplasia, um defeito hereditário das cartilagens que causa redução do
crescimento do(s) membro(s); Anquilose, uma fixação ou fundição da articulação;
Dismie/ia, uma má formação de membro(s) como resultado de um distúrbio no
desenvolvimento embrionário; entre outras patologias (IPC, 1996).
Próteses - São peças ou aparelhos individuais utilizados na substituição
de um membro ou órgão de acordo com o nível de amputação. Há variadas
utilizações de próteses, como para substituir dentes, mamas, membros inferiores,
etc. Nas próteses ortopédicas há diversos tipos como a imediata, a precoce, a
temporária, a permanente e a recreacional (Palmer,Toms, 1992).
Órteses - São aparelhos utilizados no corpo por razões terapêuticas. Elas
auxiliam, por vezes, sentidos que não funcionam plenamente ou membros que
apresentam algum comprometimento dos movimentos motores - óculos e
aparelhos ortopédicos são dois de seus tipos. As órteses ortopédicas são
algumas vezes indicadas como suportes, como as calhas, ou, se concebidas para
uso temporário, como as talas (Palmer,Toms, 1992).
IPC - Internacional Paralympic Committee, ou seja, Comitê Paraolímpico
Internacional, criado oficialmente em 1989. É o órgão máximo de direção do
desporto para pessoas portadoras de deficiências em geral, sendo o
correspondente do movimento olímpico internacional. Tem entre os seus objetivos
170
dar assistência na coordenação de jogos regionais, mundiais e campeonatos -
como é a única organização de múltiplas deficiências - coordenar os Jogos
Paraolímpicos, e ainda, entre outros,
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"integrar esportes para atletas com
deficiência com movimentos internacionais de
esportes para atletas não-deficientes, ligados ao
Comitê Olímpico Internacional, dar assistência e
encorajar programas educacionais e de
reabilitação, pesquisas e atividades
promocionais"(Araújo, 1998, p.26).
ISMWSF - Federação Internacional de Esportes em Cadeira de Rodas de
Stoke Mandeville, criada em 1952, que contempla os portadores de lesão
medular, completa e incompleta, alguns amputados compatíveis aos níveis de
lesão medular e pessoas portadoras de seqüelas de poliomielite
(Biomqwist, 1988). Órgão máximo de direção do desporto para deficientes físicos
e filiado ao IPC (Araújo, 1998).
ISOD - Organização Internacional de Esportes para Deficientes, criada em
1964, reúne efetivamente todos os amputados, também os portadores de
acondroplasias ou nanismo, os portadores de síndromes degenerativas e os
portadores de má formação congênita, conhecidos como os "Les Autres".
(Biomqwist, 1988). Até o início da década de 80 respondia por todas as áreas de
deficiência, desmembrando-se em organizações diferentes para cada deficiência
(Araújo, 1998). Filiada ao IPC (Araújo, 1998).
CP-ISRA -Associação Internacional de Esportes e Recreação de Paralisia
Cerebral, fundada em 1978, para portadores de encefalopatia crônica conhecidos
como paralisados cerebrais (PC) (Biomqwist, 1988). Filiada ao IPC (Araújo, 1998).
IBSA -Associação Internacional de Esporte para Cegos, teve seu primeiro
estatuto enquanto ainda não havia se organizado como tal e fazia parte da ISOD:
foi efetivamente fundada em 1985. Organiza e desenvolve a área esportiva para a
171
PPDV sendo assim o órgão máximo do esporte para cegos. Filiada ao IPC
(Araújo, 1998).
FINA - Federação Internacional de Natação Amadora, criada em 1908.
Detém o controle em âmbito mundial da natação, do pólo aquático, dos saltos
ornamentais e do nado sincronizado (FINA, 1998).
CPB- Comitê Paraolímpico Brasileiro, fundado em 1994, é a ligação entre
as organizações internacionais do esporte adaptado e as associações, governos e
iniciativa privada que se dispõem a incentivar o mesmo. Filiado ao I PC, tem como
objetivos, entre outros, fazer a representação do Brasil junto a este comitê e,
manter as entidades nacionais atualizadas em relação aos assuntos do IPC, com
a tradução e o repasse de correspondências, normas e regulamentos (Araújo,
1998).
ABRADECAR - Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas,
criada em 1984 com a finalidade de ser a única representante dirigente do
desporto em Cadeira de Rodas no Brasil, difundir o desporto em cadeira de rodas
no país, facilitar, de acordo com suas possibilidades, o progresso material e
técnico de suas afiliadas e coordenar as suas atividades, promover e dirigir
campeonatos e competições nacionais, representar o desporto em cadeira de
rodas do Brasil em competições nacionais. Filiada ao CPB e à ISMWSF (Araújo,
1998).
ABDC - Associação Brasileira de Desportos para Cegos, fundada em
1984, tem como alguns de seus objetivos difundir o ensino da prática desportiva e
o desporto para cegos e dirigir o mesmo. É filiada ao CPB e à lnternational Blind
Sports Association (IBSA), órgão máximo de direção internacional de desporto
para cegos (Araújo, 1998).
CEAPPD - Conselho Estadual para Assuntos da Pessoa Portadora de
Deficiência é um órgão reativado no dia 16 de março de 1996 e derivado do
Conselho Estadual da Pessoa Deficiente, criado em 1984 e desativado em 1993. 172
É um órgão consultivo, autônomo, com suporte administrativo da Secretaria do
Governo e Gestão Estratégica e colaboração dos demais órgãos estaduais nele
representados, sendo responsável pelo aconselhamento e assessoramento do
Governo do Estado de São Paulo nas questões da PPD, acompanhando,
avaliando e propondo políticas públicas. Conta com 30 conselheiros-membros da
sociedade civil organizada e 1 O membros indicados pelas Secretarias Estaduais,
com o objetivo de tratar de assuntos ligados às PPDs nos mais variados setores
da sociedade, sendo um agente facilitador na busca de melhoria das condições
de vida das mesmas (CEAPPD,1996).
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