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A PRÁTICA DE LEITURA DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (GIBIS):
UM RECURSO DE APRENDIZAGEM
Célia Regina Simonelli1
Vladimir Moreira2
Resumo: O artigo é o resultado da Implementação do Projeto de Intervenção na Escola (PDE 2012), na turma do 7°ano na Escola Estadual do Jardim Eldorado Ensino Fundamental II, através de estratégias de leitura de história em quadrinhos (gibis) como um recurso de aprendizagem, que auxiliará a educadora de língua portuguesa a identificar o grau de dificuldade que o educando traz dos anos anteriores. Desta forma, trabalhar com leituras diversificadas como os gibis e as tiras de humor poderá propiciar espaços reflexivos dialógicos a partir dos exercícios de escrita, oralidade, artística do educando produzida a partir das atividades de intervenção pedagógica.
Palavras-chave: Histórias em Quadrinhos; Tiras de Humor; Reflexão Dialógica; Interpretação Visual; Interpretação Oral; Interpretação Escrita; Produção textual.
Introdução
O presente artigo visa apresentar informações concretas sobre o grau de
dificuldade de leitura, interpretação de textos e a escrita que os educandos das
escolas estaduais possuem ao terminar o ensino fundamental I (especificamente os
educandos do sétimo ano). Tem-se observado a necessidade dos educadores de
português da rede estadual fazerem trabalhos diferenciados para auxiliar nas
dificuldades que os educandos têm apresentado.
Desta forma, pensando nas dificuldades vivenciadas com os educandos do
ensino fundamental II, foram desenvolvidas atividades planejadas para as oito
oficinas por meio da Implementação do Projeto de Intervenção na escola (PDE
2012), direcionado para os educandos do sétimo ano do ensino fundamental II, da
Escola Estadual do Jardim Eldorado Ensino Fundamental II do município de
Londrina – PR.
A Implementação do Projeto teve como objetivo principal auxiliar o educador
da língua portuguesa identificar por meio das atividades das oficinas o grau de
dificuldade dos educandos em desenvolver a sua capacidade reflexiva dialógica
através das atividades discursivas, enfatizando o ensino da gramática
1 Graduada em Letras Português pela Faculdade Estadual de Campo Mourão. Especialista em
Gestão Escolar pela UNOPAR. Professora de Português na Escola Estadual do Jardim Eldorado Ensino Fundamental II do Núcleo Regional de Londrina – PR. 2 Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (2002). Docente na
Universidade Estadual de Londrina (UEL).
contextualizada por meio de textos diferenciados, para o melhor desenvolvimento da
competência linguística.
Assim, a proposta de se trabalhar com gêneros do discurso com a confecção
e a prática da leitura de histórias em quadrinhos, nos anos finais do ensino
fundamental II (sétimo ano), da rede pública, tem sido alvo de grande desafio. Pois,
conforme Bakhtin (1992, p.23), “a verdadeira substância da língua é constituída pelo
fenômeno social da interação verbal realizada na enunciação”, vem ao encontro das
necessidades do educando, nos dias atuais da sociedade.
Segundo Bakhtin (1992a, p.279):
[...] a riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se á medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa.
Rossi (2002) afirma que não é mais aconselhável trabalhar atividades
envolvendo narração, descrição e dissertação sem correlacioná-las a um contexto
definido, pois estas são apenas modos de organização do discurso e não se
encaixam nos modos de interação do sujeito.
Por isso, a confecção e a prática de leitura de história em quadrinhos, nos
anos finais do ensino fundamental II (sétimo ano), farão com que os educandos
deixem de ser meros decodificadores, para se tornarem agentes do aprendizado,
para que os educandos sejam os próprios autores inseridos nos contextos de
produção dos seus discursos, para que a escola passe, realmente, a ser um
ambiente significativo em suas vidas e venha a produzir frutos promissores no
campo do saber linguístico-discursivo.
Para tanto, a confecção e a prática de leitura de histórias em quadrinhos, nos
anos finais do ensino fundamental II (sétimo ano), da rede pública, pode se tornar
uma forma de interação na linguagem, tendo em vista a heterogeneidade do sujeito
historicamente constituindo, conceitos que demandam um trabalho dinâmico com a
linguagem como alternativa de ensino-aprendizagem, especialmente da modalidade
escrita e da leitura.
Podem significar para os educandos um momento de confrontar experiências,
comparar fatos, avaliar situações, julgar comportamentos, expressar preferências e
aprender a trabalhar em grupo.
A busca do educador da Língua Portuguesa deve constituir em desenvolver a
competência reflexivo-dialógica do educando, uma vez que a língua é uma realidade
e, ao mesmo tempo, é uma forma de criar a realidade por meio da interpretação e a
leitura. Sendo assim, a aprendizagem da língua deve instituir como objeto de estudo,
análise e fruição do próprio discurso, materializado em diferentes gêneros do
discurso.
Conceito de Gênero Textual
Os textos encontrados no cotidiano apresentam característico sócio
comunicativo (carta pessoal ou comercial, diários, agendas, e-mail, redes sociais,
lista de compras, cardápio entre outros) pode ser classificado como diversos
gêneros textuais como: narrativos, descritivos e dissertativos.
Com referência a Bakhtin (1997), é impossível se comunicar verbalmente a
não ser por um texto e obriga-nos a compreender tanto as características estruturais
(como ele é feito) como as condições sociais (como ele funciona na sociedade).
Os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à
vida cultural e social, portanto, são entidades sócias discursivas e formas de ação
social em qualquer situação comunicativa.
Caracterizam-se como eventos textuais altamente maleáveis e dinâmicos.
Portanto, para uma simples observação pela história do surgimento dos
gêneros que revela um conjunto limitado dos mesmos. Após a invenção da escrita
alfabética por volta do século VII A.C., multiplicam-se os gêneros, surgindo os tipos
da escrita; os gêneros expandem-se com o surgimento da cultura impressa e
atualmente a fase denominada cultura eletrônica, particularmente computador
(internet) aparece como uma explosão de novo gênero e forma de comunicação,
tanto na oralidade como na escrita.
Os gêneros textuais caracterizam-se muito mais por suas funções
comunicativas; cognitivas e institucionais, do que por suas peculiaridades
linguísticas e estruturais.
Assim, pode-se conceituar:
Tipos textuais: sequência definida pela natureza linguística de sua
composição (narração, descrição e dissertação);
Gêneros textuais: são os textos encontrados no nosso cotidiano e
apresentam características sócio comunicativas (carta pessoal ou
comercial, diários, agendas, e-mail, redes sociais, lista de compras,
cardápio entre outros).
Observa-se que o trabalho com gêneros e tipos textuais faz com que as
características estruturais de um texto e também as condições sociais que levam ao
funcionamento e ao bom êxito de seu uso, por outro lado não pode esquecer que a
criatividade é uma ferramenta que deve ser levada em consideração.
Assim, todos os textos surgem na sociedade e pertencem a gêneros textuais
que se relacionam com atividades sociais específicas, portanto ele deve ser
produzido e utilizado para atingir um objetivo almejado.
Muitos dos gêneros textuais são rotulados quanto a sua estrutura e
organização ganhando assim uma significação.
A imensidão de gêneros textuais existentes na sociedade e que, conforme as
necessidades dessa sociedade novos gêneros surgem e antigos desaparecem de
acordo com suas funções linguísticas e sociais no qual o mercado de trabalho está
inserido no contexto sócio histórico.
Conclui-se que todo texto é um meio de comunicação e que diferem os
gêneros e tipos textuais de acordo com sua funcionalidade que é flexível no
processo de relacionamento social.
Conceito de Leitura
A leitura é um processo de interação entre o leitor e o texto para satisfazer um
propósito ou finalidade. A leitura deve ser praticada para preencher um momento de
lazer, seguir uma pauta para realizar uma atividade principalmente na formação
crítica do ser humano inserido no espaço em que convive, entre outras coisas.
Para compreender o texto o leitor utilizam-se seus conhecimentos de mundo
e os conhecimentos do texto.
Controlar a própria leitura e regulá-la implica ter um objetivo para ela, assim
como poder gerar hipóteses sobre o conteúdo que se lê. Por isso a leitura pode ser
considerada um processo constante de elaboração e verificação de previsões que
levam a construção de uma interpretação.
Segundo Isabel Solé (1988):
Ler é compreender e compreender é sobretudo um processo de construção de significados sobre o texto que pretendemos compreender. É um processo que envolve ativamente o leitor, à medida que a compreensão que realiza não deriva da recitação do conteúdo em questão. Por isso, é imprescindível o leitor encontrar sentido no fato de efetuar o esforço cognitivo que pressupõe a leitura, e para isso tem de conhecer o que vai ler e para que fará isso; também deve dispor de recursos - conhecimento prévio relevante, confiança nas próprias possibilidades como leitor,
disponibilidade de ajudas necessárias etc. - que permitam abordar a tarefa com garantias de êxito; exige também que ele se sinta motivado e que seu interesse seja mantido ao longo da leitura. Quando essas condições se encontram presentes em algum grau, e se o texto o permitir, podemos afirmar que também em algum grau, o leitor poderá compreendê-lo. Com essas ideias, podemos dizer que enfocamos nossa atenção nos resultados de aprender a ler.
A aprendizagem é motivada por um interesse, uma necessidade de saber. No
entanto, um bom caminho a seguir é compreender que além dos aspectos
cognitivos, a aprendizagem envolve aspectos afetivo-relacionais. Ao construir os
significados pessoais sobre a realidade, constrói-se também o conceito que se tem
de você mesmo (autoconceito) e a estima que se professa (autoestima),
características relacionadas ao equilíbrio pessoal. O autoconceito e a autoestima
influenciam a forma como o educando constrói sua relação com os outros e com o
conhecimento; reconhecer essa dimensão afetivo-relacional é imprescindível ao
processo educativo.
Segundo Solé (1998), para que uma pessoa se envolva em qualquer
atividade de leitura, é necessário que ela sinta que é capaz de ler, de compreender o
texto tanto de forma autônoma, como apoiada em leitores mais experientes. Enfatiza
que a leitura de verdade é "aquela que realizamos os leitores experientes e que nos
motiva, é a leitura na qual temos controle: relendo, parando para saboreá-la ou para
refletir".
Assim, cabe ao educador oferecer aos educandos os segredos que utilizam
quando eles próprios leem. Isso deve ser feito na mesma forma como ocorre com
outros conteúdos de ensino ou quando mostra como utilizar adequadamente um
caderno ou traçar de forma correta as letras. O educador funciona como um
especialista em leitura explicitando seu processo pessoal à turma, o que leva à
compreensão do que está escrito: qual seu objetivo com aquela determinada leitura,
dúvidas que poderão surgir que elementos tomam do texto para tentar resolver suas
questões.
O Surgimento da História em Quadrinhos
Na verdade, as origens das histórias em quadrinhos vêm desde as culturas
mais antigas, tais como a egípcia e a grega, narravam histórias através de
sequências de figuras desenhadas nas paredes.
Há, no entanto, no Brasil um precursor que não deve ser deixado de lado
numa crônica das histórias em quadrinhos: o ítalo-brasileiro Angelo Agostini, que
criou, já em 1869, para o jornal Vida Fluminense, As Aventuras de Nhô Quim.
Na virada do século 20, os gibis viraram um fenômeno comercial e artístico
nos Estados Unidos, pela sua forma fácil de comunicação. Tanto histórias divertidas
como dramas eram estampados nos quadrinhos. O interesse era tanto que não
demorou as empresas explorarem o tema através da comercialização de licenças, a
venda de brinquedos com a imagem dos personagens, programas de rádio e filmes,
já na primeira década de 1900.
Em 1929, foi criado o marinheiro Popeye e, um ano mais tarde, o Mickey,
seguindo-se o Pato Donald em 1938.
A partir de 1933, começaram a serem publicadas as revistinhas de Walt
Disney, exclusivamente com histórias em quadrinhos. Foi a época também do
detetive Dick Tracy e do aventureiro do espaço Buck Rogers, e, depois, de Super-
Homem e Batman.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foram criados vários super-heróis norte-
americanos para ajudar na luta dos Estados Unidos contra a Alemanha e o Japão.
Depois, a temática ampliou-se para a reprodução de clássicos, ficção científica,
aventuras, romances, crimes e horror.
Devido a censuras na década de 50, muitas editoras foram à falência,
principalmente nos Estados Unidos. O renascimento aconteceu nos anos 60, com a
criação de mais uma série de personagens conhecidos, como o Homem Aranha.
Assim, o emprego da história em quadrinhos no processo de aprendizado é,
portanto, um manancial rico para os educadores de língua portuguesa. Pois, são
várias as possibilidades encontradas nos quadrinhos que podem ser aplicadas no
processo educativo, com o intuito de transmitir conhecimentos, despertar o interesse
e criar o hábito da leitura sistemática, conscientizar, fomentar atitudes críticas,
desenvolver a aptidão artística e a criatividade.
Conhecer e identificar os elementos que compõem a linguagem característica
dos quadrinhos em sua narrativa auxilia a análise desta forma de comunicação que
também é uma manifestação artística e uma ferramenta pedagógica. Proceder à
análise de histórias em quadrinhos coletivamente, em sala de aula ou na
comunidade, além de ser um exercício prazeroso e instigante, também aguça o
espírito crítico de educandos e educadores de língua portuguesa.
Assim, priorizar o prazer da leitura dos educandos do ensino fundamental II
(sétimo ano), a partir de leituras em gibis, histórias em quadrinhos pode ser
fundamental na educação como instrumento para a prática educativa, fazendo com
que o educando desenvolva a leitura, interpretação e a compreensão textual de uma
melhor forma. Segundo Eisner:
[...] os quadrinhos apresentam vários elementos essenciais para a sua construção: A configuração geral da revista em quadrinhos apresenta uma sobreposição de palavra e imagem, e assim, é preciso que o leitor exerça suas habilidades interpretativas visuais e verbais. A leitura da revista em quadrinhos é um ato de percepção estética e de esforço intelectual. (1999, p.50)
A leitura de histórias em quadrinhos pode parecer uma atividade muito
simples, porém esta impressão deve-se, em parte, à concepção errônea de que os
quadrinhos são ingênuos, infantis, e, portanto, seu conteúdo tornar-se-ia fácil de ser
apreendido.
Desta forma, alia-se à ideia o fato de que os leitores já estarão acostumados
com os elementos que compõem a “semântica” – conforme denominação feita por
Umberto Eco (1979, p. 145), “deste produto industrial de massa”. Para que a
compreensão desta manifestação artística seja possível, é preciso identificar os
elementos pertinentes à linguagem quadrinho gráficas.
Na visão de Eco (1979, p. 144-145), estes elementos “compõem-se numa
trama de convenções mais ampla, que passa a constituir um verdadeiro repertório
simbólico” facilmente percebido e decodificado pelo público, que foi se acostumando
com este repertório e as normas que regulam seu uso ao longo da evolução dos
quadrinhos.
A história em quadrinhos, gibis pode ser definida como: uma sequência de
quadros que expressam uma história, informação, ação, ou seja, a história em
quadrinhos ou o gibi é uma forma de arte que conjuga texto e imagens com o
objetivo de narrar histórias dos mais variados gêneros e estilos. São, em geral,
publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras publicadas em revistas e
jornais.
História em Quadrinhos: Uma Ferramenta Pedagógica na Disciplina de
Português no Ensino Fundamental II
Com avanço da tecnologia, os educadores de língua portuguesa têm buscado
várias maneiras de estimular os educandos o “prazer” pela leitura de diversas
maneiras. Assim, as histórias em quadrinhos, tiras de humor podem se transformar
em uma excelente ferramenta pedagógica no ambiente escolar.
Segundo Vergueiro, “pode-se dizer que o único limite para seu bom
aproveitamento em qualquer sala de aula é a criatividade do professor e sua
capacidade de bem utilizá-los para atingir seus objetivos de ensino”. (2004, p.26).
As histórias em quadrinhos como ferramenta pedagógica trará para o
educando uma opção de entretenimento muito aceita pelos educandos, ou seja,
fazem parte do universo dos meios de comunicação, que cada vez mais influenciam
a formação do educando.
A busca por novas metodologias em sala de aula na disciplina de português
oportuniza-se o uso das histórias em quadrinhos como uma ferramenta pedagógica
de aprendizagem, já que são constituídas de uma parte imagética e de uma parte
escrita ou somente imagética.
Ao trabalhar com os educandos imagens das histórias em quadrinhos ou até
mesmo as tiras de humor (que trabalham muitas vezes temas sociais), que possuem
certa visão de mundo e de realidade, fará com que o educando consiga estabelecer
outro tipo de ensino-aprendizagem. Poderá ter melhores condições de conhecer
algo que oferece diferentes visões de mundo, cheia de ações, cores, fantasia, novos
valores e que formula novos padrões de comportamento.
Com a busca da contextualização, as histórias em quadrinhos, tiras de humor
têm adentrado ao espaço escolar através dos personagens que viram filmes, de
gibitecas e do próprio livro didático, que vem se utilizando de tirinhas e pequenas
histórias para tratar de temas em diferentes áreas do conhecimento.
Porém, para que as histórias em quadrinhos e as tiras de humor possam ser
utilizadas como uma ferramenta pedagógica exige-se planejamento do educador de
língua portuguesa, ajustamento do material ao conteúdo a ser trabalhado e
finalidade em seu uso.
Assim, selecionar, analisar e questionar as histórias em quadrinhos, tiras de
humor é fundamental para o sucesso de seu emprego. Além disso, é preciso
reconhecer os elementos que constituem a linguagem quadrinizada (balões,
sequência, ilustrações) para explorar suas possibilidades enquanto portador de texto
com características específicas. Segundo Pizzarro, “da simples leitura ou
preenchimento de balões em branco como atividade para a escrita” (2005, p.45).
Portanto, a utilização das histórias em quadrinhos e as tiras de humor quando
utilizadas adequadamente, permitem a reflexão crítica, que se constrói pela
mediação do educador, devendo ir muito além.
A Linguagem Verbal e Não Verbal Utilizada pelos Quadrinhos, Tiras de Humor
A partir da história em quadrinhos que se observa a união de duas
linguagens, uma não-verbal e outra verbal, o que lhe confere um grande potencial
criativo e comunicativo, ou seja, estimulando o educando a sentir prazer pela leitura.
Desta forma, o educando conseguirá interpretar as imagens dos quadrinhos
conforme o seu conhecimento teórico dentro do contexto social em que se encontra
inserido.
Nesse sentido, as histórias em quadrinhos são veiculadas de duas
mensagens: uma icônica ou visual e outra linguística, que se relacionam,
constituindo uma mensagem global. A mensagem icônica e verbal nos quadrinhos
não se exclui, mas interagem, combinando de tal forma a ponto de permitir novas
possibilidades de encaminhamento e de recepção da mensagem. A interpretação do
não verbal, assim como do verbal, pressupõe a relação com a cultura, com o
histórico, com a formação social do sujeito intérprete.
Segundo Neiva Júnior (1986), a imagem tem a propriedade de referência em
comum com a língua, diferindo, no entanto, nos elementos de leitura, principalmente
quanto ao número, pois na língua estes são finitos, enquanto na imagem podem
ocorrer sem limites; para o autor, as imagens, tanto quanto as palavras, precisam
ser compreendidas como carregadas de um significado que vai além do visual.
Essas ideias aproximam a imagem do signo linguístico, tornando-os
semelhantes. A essa semelhança, que confere à imagem o status de linguagem, irão
se contrapor às possibilidades da interpretação da imagem determinadas social e
historicamente. Na leitura das imagens dos quadrinhos, podem ser percebidas
questões ideológicas que as condicionam.
A mensagem linguística da história em quadrinhos compreende um aspecto
narrativo, no qual é feita a descrição do quadro, da situação ou das ações e a forma
de diálogo. Este último, apresentado no estilo direto, tenta, muitas vezes, imitar a
língua falada. Entretanto, as características específicas da língua falada
impossibilitam uma transcrição fiel para o diálogo escrito, que irá lançar mão de
diferentes recursos e procedimentos especiais, criando uma linguagem carregada de
convenções, que explora com originalidade os códigos verbais e visuais específicos
inerentes a esse tipo de narrativa, tais como: o balão, os símbolos, sinais de
pontuação e as onomatopeias.
No código das histórias em quadrinhos, os símbolos permitem uma inovação
constante nos meios de expressão gráfica, ampliando a dimensão estética e
informativa dos quadrinhos.
O ruído nos quadrinhos, muitas vezes, é mais visual do que sonoro, pois os
desenhistas exploram a espessura, a forma, a cor dos fonemas que o constituem a
fim de conseguirem um efeito expressivo maior. Uma boa onomatopeia é de vital
importância nas histórias em quadrinhos, pois atinge, juntamente com a imagem,
uma grande área de significação, criando efeitos expressivos de consumo rápido e
intensa comunicação.
No código icônico ou visual da história em quadrinhos, temos a imagem, o
espaço, as cores e a distribuição de planos, que, trabalhados em conjunto,
constituem a mensagem. Quanto maior for a originalidade e a criatividade do
desenhista na composição desses códigos, maior será a carga expressiva e
comunicativa da mensagem.
Outra questão interessante está nos cenários. Não há aventura nas histórias
em quadrinhos sem cenário. Eles podem existir como um meio apenas de se
preencherem lugares vazios e dar a noção de espaço, como também podem ir muito
além, representando o mundo através da reconstituição de lugares históricos, de
edificações ou monumentos de valor simbólico, ou mesmo lugares comuns, como
subúrbios, bairros, ruas tranquilas, em que se estabelece uma ponte entre o
universo da ficção e o nosso universo real. A arquitetura organiza tanto a parte
externa como a parte interna.
Mesmo sendo a história em quadrinhos dirigida a um público alvo dentro de
um modelo da sociedade de massa, com leituras as mais diversas, nada impede que
determinados leitores deste público possam identificar numa obra valores diferentes.
Existem aqueles leitores que se limitam tão unicamente ao enredo da história
sem perceberem valores ideológicos veiculados; e leitores que, prestando atenção
nos aspectos formais, se apercebem desses valores; outros podem ainda ser
capazes de questioná-los.
Os quadrinhos são, inegavelmente, um poderoso veículo de comunicação,
capaz de atingir com eficácia um grande número de consumidores dos mais
diversos setores sociais e, portanto, capazes de divulgar valores e questões
culturais que não devem ser simplesmente assimilados, mas avaliados e criticados.
Os quadrinhos podem ser percebidos como um produto artístico possível
tanto de promover comunicação em um nível estético, quanto de sugerir
questionamentos dentro de uma realidade social.
Aplicação e Resultados das Oficinas de Histórias em Quadrinhos no Ensino
Fundamental II (7° Ano)
Conforme projeto elaborado através do programa de formação continuada da
Rede Pública do Estado do Paraná (PDE 2012) organizamos um Projeto Didático
Pedagógico, caderno pedagógico, com atividades direcionadas ao sétimo ano em
forma de oficinas na Escola Estadual do Jardim Eldorado II em Londrina PR.
Para a implementação do projeto de intervenção na escola (PDE 2012), cuja
proposta foi à utilização de histórias em quadrinhos em sala de aula, primeiramente
organizamos um acervo de quadrinhos com histórias dos personagens escolhidos
para a produção do material didático.
A implementação do projeto de intervenção na escola (PDE 2012) foi de 32
horas, exigidas pelo programa, divididas oito oficinas, utilizando-se de quatro aulas
para a confecção das atividades propostas pelo caderno pedagógico sendo elas:
- Oficina I – Apresentar o surgimento da história em quadrinhos (gibis, tiras de
humor), e a reapresentação como é feita as falas e do pensamento nos gibis;
- Oficina II - Gêneros da Narração/Elementos da narração (personagens,
espaço e tempo nos gibis ou tiras de humor);
- Oficina III - Elementos da narração: personagens, espaço e tempo nos gibis
ou tiras de humor. Elementos específicos de um quadrinho na compreensão da
narrativa, como: requadro, balão, legendas (discurso direto, onomatopeia,
expressões populares), não verbais (gestos e expressões faciais) e paralinguísticos
(prolongamento e intensificação de sons);
- Oficina IV - Elementos da narração, personagens, espaço e tempo nos gibis
ou tiras de humor. Diferenças entre tiras de humor e histórias em quadrinhos.
Narração e seus elementos na produção textual do gibi;
- Oficina V – Desenvolvimento da produção do painel com as histórias em
quadrinhos.
As atividades de intervenção pedagógica foram aplicadas a uma turma de
sétimo ano com vinte e três alunos em sala. A primeira oficina foi desenvolvida,
através de um pequeno vídeo com a história do surgimento da história em
quadrinhos (gibis, tiras de humor). Houve a troca de conhecimentos trazidos pelos
educandos e a mediação teórica da educadora da disciplina de português,
complementando, transformando os conhecimentos trazidos pelos educandos sobre
histórias em quadrinhos e gibis. Pude perceber que eram muitos os conhecimentos
trazidos por eles em relação aos personagens, espaço vivenciados pelos
personagens das histórias em quadrinhos. Pode-se perceber uma grande dificuldade
de alguns educandos, na primeira atividade aplicada que era identificar o tipo de
pensamento expresso pelos balões. Assim, consegui identificar que alguns
educandos necessitam de uma melhor compreensão sobre a forma de identificar as
falas através dos balões em tiras de humor e histórias em quadrinhos.
Segundo Magda Soares:
[...] o caminho para esse ensino e aprendizagem é a articulação de conhecimentos e metodologias fundamentados em diferentes ciências e sua tradução em uma prática docente que integre as várias facetas, articulando a aquisição do sistema de escrita, que é favorecida por ensino direto, explícito e ordenado, aqui compreendido como sendo o processo de alfabetização, com o desenvolvimento de habilidades e comportamentos de uso competente da língua escrita nas práticas sociais de leitura e de escrita, aqui compreendido como sendo o processo de letramento. (2004, p.100)
A troca dos conhecimentos adquiridos através desta oficina proporcionou a
curiosidade, a interação entre os educandos e a educadora, estimulando a
educadora a repensar novas metodologias sobre as dificuldades apresentada por
alguns educandos.
Na segunda oficina tratamos dos gêneros da narração, no qual os educandos
tiveram uma aula expositiva, esclarecendo as características do gênero da narração
aplicada à história de quadrinhos ou tiras de humor como: espaço, tempo e os
personagens.
Desta forma, Bakthin aponta:
[...] três aspectos que caracterizam os gêneros em geral: o conteúdo ou seleção de temas; o estilo ou escolha dos recursos lingüísticos; e a construção composicional ou formas de organização textual. Essa caracterização tem motivado muitos pesquisadores envolvidos com a análise de gêneros a descrever as estratégias de seleção e distribuição do conteúdo e as escolhas de recursos linguísticos, reveladas na superfície textual em instâncias de interação verbal. (1992, p.28)
Assim, ao ensinar o educando a ter conhecimento dos elementos da narração
contidos no gênero, e o contato com gibi e as tiras de humor que foram levados para
a sala trouxe a autonomia do educando escolher o tipo de história ler, os
personagens que melhor se identifica com ele, estimulando a criatividade do
educando seja na oralidade quanto na escrita. Os educandos conseguem oralmente
transmitir o conhecimento adquirido, porém na hora de transcrever para o papel
percebi uma grande dificuldade na produção do enredo, educandos não
conseguiram fazer sozinhos sem auxílio.
Faz-se necessário repensar novas metodologias que contemplem a
necessidade dos educandos em estabelecer o vínculo com a escrita. Desta forma,
será necessário um trabalho coletivo de todas as disciplinas, pois a responsabilidade
da escrita e da leitura quase sempre nas escolas torna-se obrigação apenas do
educador de língua portuguesa.
Pois, todas as disciplinas contemplam situações comunicativas são mediadas
pela escrita e pela leitura, o escritor precisa saber lidar com parâmetros de
organização textual relativos a cada gênero, para distribuir as informações no seu
texto que irá produzir.
A linguagem é recurso de fundamental importância na construção da
experiência humana, segundo Martin, “[...] aprender sobre linguagem significa
aprender a fazer escolhas. E todas as escolhas são políticas. Nós não escrevemos
ou falamos somente para passar o tempo.” (1989, p. 62-63),
Após a correção das oficinas anteriores, entreguei as atividades corrigidas
para os educandos, e fui fazendo os apontamentos e a recapitulação do conteúdo
gêneros da narração aplicada à história em quadrinhos.
Percebe-se que a correção das atividades aplicadas auxiliou o educador de
língua portuguesa ensinar os principais elementos da narração na produção textual
como a linguagem verbal e não verbal.
Para finalizar as oficinas propostas para fabricação do painel com educandos
das histórias em quadrinhos trabalhei o filme “Os Vingadores”, com o objetivo:
trabalhar em equipe (para que pudessem entre si aplicar a divisão do trabalho e o
trabalho em grupo). Os educandos interagiram muito bem com o filme, até mesmo
porque muitos fizeram suas histórias sobre super herói.
Desta forma, os educandos juntos com a educadora de língua portuguesa
escolheram um lugar apropriado para que o painel fosse colocado para visitação dos
outros alunos da escola.
Durante o processo de visitação, percebe-se por parte de uns o orgulho do
trabalho exposto e os outros alunos visitando, foram tiradas fotos para que sejam
anexadas no artigo.
O objetivo do projeto foi atingido, pois Bakthin (1995) define a enunciação
como um produto da relação social e completa que qualquer enunciado fará parte de
um gênero. Defende ainda que, em todas as esferas da atividade humana, a
utilização da língua realiza-se em formas de enunciado (orais e escritos), concretos
e únicos.
A implementação do projeto de intervenção na escola também foi dialogado
com educadores da rede através do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), uma
modalidade de curso online que fazia parte de um dos requisitos do programa PDE,
cujo objetivo é fazer um trabalho de reflexão, trocas de experiências e discussão
sobre o tema de estudo.
O resultado das discussões do GTR (Grupo de Trabalho em Rede) foi
riquíssimo, alguns colegas do grupo disseram aplicar projetos parecidos em suas
respectivas escolas obtendo também um êxito na realização das atividades
envolvendo histórias em quadrinhos, tiras de humor e até mesmo com livros de
contos de mistérios.
Considerações Finais
O trabalho desenvolvido com a da Implementação do Projeto de Intervenção
(PDE 2012) foi direcionado aos educandos do sétimo ano do ensino fundamental II,
da Escola Estadual do Jardim Eldorado Ensino Fundamental II do município de
Londrina – PR.
Desta forma, as atividades demonstraram que é possível, a partir de uma
reflexão sistemática e aplicação planejada, incorporar a utilização de histórias em
quadrinhos, tiras de humor no ambiente escolar na disciplina de português fazendo
com que aconteça a interação entre educadores e educando, despertando o prazer
pela leitura através da ludicidade e o trabalho planejado dos educadores inseridos
no ambiente escolar.
O trabalho desenvolvido teve uma fundamentação teórica por parte de seus
aplicadores, reconhecendo nele a importância, os limites e as possibilidades de uso
das histórias em quadrinhos para o processo de ensino e aprendizagem tornando
essa ferramenta um recurso viável e de grande potencial para a ação pedagógica.
Referências
BAKHTIN, Michail. Os gêneros do discurso. Estética da criação verbal. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes: 1997.
COSTA, Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. Belo Horizonte:Autêntica Editora.2008.
Disponível em: <http://fabianaeaarte.blogspot.com.br/2011/05/historia-em-quadrinhos.html>. Acesso em 15 nov. 2012.
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