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Março de 2017 . ANO XVII – Nº 156

Revolução Pernambucana completa dois séculos com aspirações ainda atuais

Feito pelo artista Henry Moser, o vitral do Palácio do Campo das Princesas, sede do Governo de Pernambuco, retrata os símbolos do movimento

A República de 75 diasPágs. 4, 5 e 6

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EXPEDIENTE: MESA DIRETORA: Presidente, Deputado Guilherme Uchoa; 1º Vice-Presidente, Deputado Cleiton Collins; 2º Vice-Presidente, Deputado Romário Dias; 1º Secretário, Deputado Diogo Moraes; 2º Secretário, Deputado Vinícius

Labanca; 3º Secretário, Deputado Júlio Cavalcanti; 4º Secretário, Deputado Eriberto Medeiros. Superintendente de Comunicação Social: Margot Dourado. Chefe do Departamento de Imprensa: Helena Alencar. Editores: Helena Alencar e

Ivanna de Castro. Revisão: Cláudia Lucena, Fellipe Marques e Margot Dourado. Repórteres: André Zahar, Edson Alves Júnior, Gabriela Bezerra, Haymone Neto, Ivanna de Castro, Luciano Galvão Filho, Regina Guerra e Malu Coutinho

(estagiária). Gerente de Fotografia: Roberto Soares. Edição de Fotografia: Breno Laprovitera. Fotógrafos: Henrique Genecy (estagiário), Jarbas Araújo, João Bita e Rinaldo Marques. Tratamento de Imagem: Giovanni Costa. Design: Brenda Barros.

Diagramação e Editoração Eletrônica: Alécio Nicolak Júnior. Endereço: Palácio Joaquim Nabuco, Rua da Aurora, nº 631 – Recife-PE. Fone: 3183-2126. PABX: 3183.2211. E-mail: scom@alepe.pe.gov.br

O Jornal Tribuna Parlamentar é uma publicação de responsabilidade da Superintendência de Comunicação Social da Assembleia Legislativa - Departamento de Imprensa.

“Acho importante que

a Alepe abra espaço

para o diálogo com

o povo e que se

discuta o papel da

polícia como

executora da

segurança pública.

Queremos uma defesa

cidadã, que respeite os direitos humanos.”

Davi MalveiraAuditor do Gabinete de Assessoria Jurídica às OrganizaçõesPopulares (Gajop), na audiência da Comissão de Cidadania quedebateu a política de segurança pública, em 22 de fevereiro.

No últimodia 16 defevereiro, foiaprovada naAlepe a redaçãofinal do projetodo PoderExecutivo quereajusta osvencimentos ealtera a carreirade policiais ebombeiros militares. A tramitação da matéria foi marcada por debatesentre a Oposição – que cobrava o cumprimento dos prazos regimentais devotação e pedia explicações sobre a fonte dos recursos – e a bancada doGoverno, que defendeu os avanços da matéria e o esforço do Estado em ummomento de crise. Todo o processo foi acompanhado por representantes deassociações dos militares, que, mobilizados nas galerias do Plenário,pediram paridade com a carreira dos policiais civis. Na mesma data, oprojeto tornou-se a Lei Complementar nº 351/2017, sancionada pelogovernador Paulo Câmara, que garante às categorias um reajuste entre 21%e 40%, a ser pago em três parcelas até o fim de 2018.

Reajuste para militares

A Comissão Especial para Elaboração da Lei Estadual Anticorrupçãoapresentou, em 8 de fevereiro, o texto-base do projeto que visa estabelecera responsabilidade administrativa e civil de pessoas jurídicas envolvidas ematos contra a administração pública. O documento – que aborda desde omecanismo do acordo de leniência até a criação de um Fundo Estadual deCombate à Corrupção – será encaminhado ao Governo do Estado,responsável constitucional pela iniciativa da proposta. No momento, ocolegiado trabalha na criação de uma proposição similar, porém focada emapurações no âmbito do Poder Legislativo.

Combate à corrupção

Ao longo de fevereiro, asComissões Permanentes daAlepe elegeram presidentespara o biênio 2017-2018.Confira:

Novo comando

Patrimônio colonial brasileiro, o Forte dasCinco Pontas foi construído originalmentepelos holandeses em 1630. Saiba mais sobreesse monumento: http://goo.gl/ykTs8S

Revolução em cartaz

A partir de12 de março, oMuseu daCidade doRecife, situadono Forte dasCinco Pontas,promove umamostra paracomemorar os200 anos daRevolução de1817. Feita emparceria com oInstituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, aexibição vai tratar principalmente dos ideais republicanos dosrevolucionários, que permanecem atuais. A diretora do Museu,Betânia Corrêa, ressalta que o Forte foi um dos palcos domovimento. “O espaço tem a memória de 1817 viva nos muros: 150pessoas ficaram presas no local”, lembra. Serão expostos objetos daépoca e reproduções de documentos. Haverá ainda uma oficina deconfecção da bandeira de Pernambuco, um dos símbolos daRevolução. O Museu funciona na Praça das Cinco Pontas, s/n, bairrode São José. A mostra ficará aberta de terça a domingo, das 9h às17h, até 4 de março de 2018. A entrada é gratuita.

“Estou sempre na Casa

acompanhando a

rotina parlamentar.

O trabalho da

entidade em que

atuo é voltado para

o fortalecimento dos

princípios da

transparência e do

controle social.”

Camila FernandesCientista social e membro da organização nãogovernamental (ONG) Rede Meu Recife, durante a Reunião Plenária de 15 de fevereiro.

“Estamos sofrendo

intolerância. O povo

de terreiro, assim

como de outras

religiões, tem que

ter liberdade, e a

questão deve ser

discutida. Acho essa

iniciativa da Alepe muito

importante.”

Clarissa Vianna Jornalista, em audiência pública realizada pela Comissão de Cidadania, no dia 13 de fevereiro, para promover ato de desagravo a Pai Edson de Omolu.

Constituição, Legislação e JustiçaWaldemar Borges (PSB)

Finanças, Orçamento e TributaçãoClodoaldo Magalhães (PSB)

Administração PúblicaLucas Ramos (PSB)

Negócios MunicipaisRogério Leão (PR)

Educação e CulturaTeresa Leitão (PT)

Esporte e LazerBeto Accioly (PSL)

Meio AmbienteZé Maurício (PP)

Agricultura, Pecuária e PolíticaRuralClaudiano Martins Filho (PP)

Saúde e Assistência SocialRoberta Arraes (PSB)

Ciência, Tecnologia e InformáticaJadeval de Lima (PDT)

Cidadania, Direitos Humanos eParticipação PopularEdilson Silva (PSOL)

Desenvolvimento Econômico eTurismoAluísio Lessa (PSB)

Assuntos InternacionaisBispo Ossesio Silva (PRB)

Defesa dos Direitos da MulherSimone Santana (PSB)

Ética ParlamentarTony Gel (PMDB)

Redação FinalFrancismar Pontes (PSB)

02 Março de 2017TribunaParlamentar

HENRIQUE GENECYRINALDO MARQUES

Tratamentos cada vez maisavançados e caros, em contra-ponto a orçamentos públicos

enxutos. Essa equação tem levadoum número crescente de brasileirosaos tribunais para exigir o direito àsaúde. No Estado, um levantamentopublicado em dezembro do anopassado, fruto da pesquisa de mes-trado em Direito Constitucional daprofessora Lívia Barros, pela Uni-versidade Federal de Pernambuco(UFPE), identificou que as ações pormedicamentos saltaram de 411, em2009, para cerca de 3.200 em 2014– um crescimento de mais de 700%.

Ainda de acordo com o estudo,remédios que já fazem parte da listado Sistema Único de Saúde (SUS)respondem por 40% dessa demanda.“A partir da redemocratização e doreconhecimento da saúde como odireito humano fundamental pelaConstituição de 1988, o Judiciáriopassou a ser visto como uma ferra-menta de efetivação desse direito, eé acionado sempre que há umaomissão”, analisa a autora.

O defensor público federal JoséHenrique Fonseca tem sentido o mo-vimento aumentar na DefensoriaPública da União (DPU) em Pernam-buco. Para ele, a judicialização temcorrespondido a uma nova forma deaquisição de medicamentos e insu-mos. Tanto que, de acordo com oprofissional, os próprios órgãos darede, como a Farmácia Popular e aSecretaria de Saúde, orientam ospacientes a procurar o Judiciário. “Osservidores sabem que só assim é pos-sível conseguir tratamento”, reforça.

Fonseca relata que, pela de-manda, é possível identificar osprincipais pontos de dificuldade.Desde o final de 2016, por exemplo,os defensores têm observado umaumento da procura por leitos deUnidades de Tratamento Intensivo(UTIs). No passado, um acordoevitou o ajuizamento de váriasações pelo Rituximabe, remédiousado no tratamento do câncer quedeixou de ser disponibilizado peloGoverno Estadual por problemas

no processo licitatório. “Mas nemsempre é possível resolver a questãona esfera administrativa. Muitasvezes, reconhecido o direito dopaciente pelo juiz, só o bloqueio debens do Estado garante o cumpri-mento da obrigação”, ressalva.

De acordo com o secretário es-tadual de Saúde, Iran Costa, o customédio anual com o cumprimentode decisões judiciais chega a R$ 130milhões, quase o orçamento dis-ponível para os tratamentos decâncer em 2016, que foi de R$ 140milhões. Para o gestor, há umadefasagem histórica de investi-mento na área, mas a falta deatualização da legislação sobrelicitações e contratos com a Ad-ministração Pública (Lei Federal nº8.666/1993) contribui ainda maispara as falhas de fornecimento.“Essa norma prejudica de mododecisivo: faz com que a Secretariacompre da pior forma e favorecedisputas de mercado. Aquele queperde a licitação recorre ao Judi-ciário, e a aquisição fica emperradapor anos”, observa.

Apesar de admitir falhas nofornecimento, o secretário entendeque o excesso de ações prejudica auniversalização do SUS por permitirque quem tenha acesso ao Judiciário“fure a fila”. Médico por formação,Costa também é contra o forneci-mento pelo Estado de remédios semregistro na Agência Nacional deVigilância Sanitária (Anvisa). “OBrasil é o único país que libera ummedicamento sem que o órgãoregulador tenha aprovado”, critica.

A pesquisadora Lívia Barros vêcom cautela o dado de que 90% dasdecisões judiciais analisadas obri-garam o Estado a financiar trata-mentos nos exatos moldes requeri-dos pelo paciente. Entre os riscosapontados em seu estudo, estão osperigos das drogas experimentais eo lobby da indústria farmacêutica,que vê no Judiciário um atalho paraburlar a burocracia do registro daAnvisa.

Para melhorar as decisõesjudiciais, uma das soluções propostasé o fortalecimento dos Núcleos deApoio Técnico em Saúde. Criados apartir de uma recomendação do

Conselho Nacional de Justiça, osgrupos contam com equipesmultidisciplinares para auxiliar osjuízes. Pernambuco tem um núcleodesde 2012, mas, na avaliação deLívia, a adesão ao serviço ainda épequena se comparada a Estadoscomo Rio de Janeiro, Piauí eMaranhão.

Com um orçamento em saúdeque não acompanha o crescimentodos recursos da medicina disponibili-zados à população, a corrida aoJudiciário parece ser um fenômenoirreversível, e isso não é exclusivo doBrasil. Porém, para o coordenadordo Centro de Apoio Operacional àsPromotorias de Justiça (Caop) daSaúde do Ministério Público dePernambuco, Édipo Soares, oplanejamento dos gastos poderiadiminuir a quantidade de ações.“Quem precisa quer ter acesso aoque há de melhor e de forma rápida,mas uma otimização do recurso eum bom estudo epidemiológicopoderiam ampliar os tratamentosdisponíveis”, opina.ÚNICO CAMINHO

O direito à saúde é integral einclui tudo o que for necessário àprevenção e ao bem-estar. A dona de

casa Elaine Santos costuma conseguiros medicamentos para os filhos, JuanPablo, 7 anos, e Luan de Lucca, 3, naFarmácia do Estado, “embora de vezem quando faltem”. O problema sãoos suplementos e equipamentosnecessários à alimentação dascrianças. O mais velho é portador defibrose cística. O menor, de paralisiacerebral, encefalopatia crônica,epilepsia de difícil controle e disfagiagrave, e se alimenta exclusivamentepor sonda.

O material para a sonda temum custo médio mensal de R$ 400.Cada uma das 30 latas de suple-mento que os dois irmãos conso-mem por mês é comprada por R$38. Anualmente, é preciso trocara sonda de Luan de Lucca. Os gas-tos incluem, ainda, a aquisição defraldas descartáveis, que a famíliadiz nunca ter recebido. Quando oorçamento não comportou tantasdespesas, a única alternativa foientrar na Justiça. “Em dezembro,o juiz deu uma decisão mandandofornecer todo o material, incluindoa sonda, que venceu em janeiro. OEstado não cumpriu e agora esta-mos tentando fazer com que pa-gue em dinheiro”, relata Elaine.

Ela contou com o suportejurídico da Aliança das Mães eFamílias Raras (Amar), organizaçãoque reúne parentes de crianças ede adolescentes com doenças queafetam até 65 pessoas em cada 100mil indivíduos e, por isso, sãoclassificadas como “raras” pelaOrganização Mundial de Saúde(OMS). A presidente da entidade,Pollyana Dias, afirma que o ca-minho da judicialização tem sidofrequentemente utilizado paragarantir tratamento. “Em apenasum ano, cerca de 30% das 400mães da Amar já foram assistidaspor nossos advogados voluntários”,contabiliza. LEGISLATIVO

Falhas no atendimento tambémlevaram muitos pacientes a procuraro apoio da Alepe. De acordo com orelatório de atividades da Comissãode Cidadania, das 12 audiênciaspúblicas realizadas pelo colegiadoem 2016, metade foi para tratar dequestões relacionadas ao tema. Entreos assuntos, a falta de medicamentosna Farmácia do Estado, a atençãoaos diabéticos, a Rede de Atendi-mento Psicossocial e a situação doshospitais públicos.

JUSTIÇA

Dificuldade em obter medicamentos multiplica ações judiciais contra o Poder Público e põe em xeque universalidade do sistema

Elaine Santos recorreu à Justiça para garantir remédios dos filhos Luan de Lucca (foto) e Juan Pablo

JOÃO BITA

Saúde levada aos tribunais

Regina Guerra

03Março de 2017 TribunaParlamentar

Data Magna do Estado, o dia 6 de março marca oestopim da Revolução Pernambucana de 1817, quedeu início a um período republicano vivido no Brasil

antes mesmo da destituição do imperador Dom Pedro II.Com o envolvimento direto de 50 padres e cinco frades, omovimento originou-se no Seminário de Olinda, ficandopopularizado como “Revolução dos Padres”.

A seu favor, o levante contava com o histórico de lutanativista em Pernambuco, que já havia contribuído paraa expulsão dos holandeses (1654), deflagrado a Guerrados Mascates (1710) e conspirado contra a metrópole comos Irmãos Suassuna (1801). A trajetória alimentava oimaginário dos revoltosos, a ponto de Cipriano Barata,um dos envolvidos na Revolução de 1817, defender que “écertamente Pernambuco a província (...) mais ciosa da sualiberdade e por isso a mais abundante de sucessos políticose a mais capaz de servir de farol ao espírito público do Brasilinteiro”.

Em 1808, a chegada da Família Real ao Brasilcontribuiu para o sentimento de revolta, ao expor as

contradições entre a ostentação da Corte Portuguesa e arealidade dos que viviam na então colônia. O impulsolibertário chegava da Europa por meio de reuniões emlojas maçônicas, como o Areópago de Itambé, a primeirado Brasil, fundada em 1796 nessa cidade da Mata Norte.No ano anterior à revolução, Pernambuco já contava comcinco dessas assembleias.

Se as ideias liberais criaram raízes, o almejado apoiointernacional à rebelião não passou de esperança. Aexpectativa de reconhecimento pelos Estados Unidos sefrustrou e a ambição de libertar Napoleão Bonaparte da Ilhade Santa Helena, na costa da África, para liderar a Revoluçãode 1817 jamais foi concretizada.

Apesar da curta duração (menos de três meses) e docaráter regional – abarcando, ainda, as províncias daParaíba e do Rio Grande do Norte –; o movimento contribuiupara o processo de independência nacional, concluídocerca de cinco anos depois. Como punição pela revolta,Pernambuco perdeu territórios que atualmente compõemos Estados de Alagoas e do Rio Grande do Norte.

Primeira experiência republicana no Brasil, a Revolução Pernambucana de 1817segue viva no imaginário local com lições de liberdade e de igualdade de direitos

Um feito bicentenário

Gabriela Bezerra

Haymone Neto

HISTÓRIA

04 Março de 2017TribunaParlamentar

FOTO: ANTÔNIO MELCOP/PREF. DE OLINDA

FOTO: HENRIQUE GENECY

05Março de 2017 TribunaParlamentar

FOTO: HENRIQUE GENECY

FOTO: HENRIQUE GENECY

FOTO: CEPE/DIVULGAÇÃO

Tribuna Parlamentar - Que fatoresem Pernambuco favoreceram aeclosão do movimento?Marcus Carvalho - Há muitas ques-tões envolvidas. Os historiadores des-tacam a econômica: a decadência doalgodão, depois que terminou a guerraentre a Inglaterra e os Estados Unidos.A concorrência americana suplantounossa produção e houve queda nasexportações; foi um momento de criseeconômica. Também o aumento deimpostos e a decadência política doNordeste em relação ao Sul e ao Su-deste, já que a Corte [Portuguesa, em1808] se estabeleceu no Rio de Janeiro.Além de dívidas que existiam, haviadécadas, com a Companhia de Co-mércio de Pernambuco e Paraíba. E,ainda, as questões intelectuais: aqui,por conta do Seminário de Olinda,era um verdadeiro viveiro de ideias daIlustração. Havia outras insatisfações:nas casernas, com comandantes eoficiais muito rigorosos, e, para o ho-mem pobre e livre brasileiro, pela fal-ta de perspectiva de ascender social-mente. Em 1817, havia insatisfaçõesno Brasil inteiro, mas a revoluçãoocorre aqui porque Pernambuco esta-va menos policiado. No entanto, 1817não é bem um movimento pernam-bucano: emissários foram presostentando rebelar a Bahia. A ideia erarebelar todo o Brasil. Eu acho que aRevolução de 1817 é mais um movi-mento de história da América Latina.Ela parece muito com a independênciada Venezuela, da Colômbia, de váriospaíses da América do Sul. Começacom movimentos de gente do baixooficialato e de pessoas que não são danobreza – advogados, intelectuais.

TP - Que república os revolucionáriosqueriam instalar em Pernambuco?MC - É importante chamar o movi-mento de “revolução”. Primeiro por-que os participantes chamavam assim.

A historiografia posterior começou atratar como “insurreição”, o que émuito curioso, porque o movimentoconstitucionalista militar de São Pauloé chamado de Revolução Constitu-cionalista, e o golpe de Estado queGetúlio Vargas deu, de Revolução de30. No entanto, um movimento quepretendia derrubar a Monarquia e ins-tituir um Brasil independente sob umarepública na qual os cidadãos teriamdeveres e obrigações, chamam de“insurreição”. Foi derrotada, mas erauma revolução republicana, com ideaispautados pela Revolução Americana epela Revolução Francesa. O principaldeles é a igualdade perante a lei.

TP - A Revolução de 1817 previa umaabolição da escravidão “lenta, regulare legal”. Esse projeto era viável?MC - Nessa época, podia-se falar deabolicionismo e emancipacionismo. Aemancipação, onde houve, era lentae gradual – foi assim na América His-pânica e nas colônias inglesas. Foraisso, as duas únicas aboliçõesrepentinas geraram guerras civis, noHaiti e nos Estados Unidos. A aboliçãogradual era viável, sim, mas anteci-pava o fato em 50 anos. O que sócomeça em 1850, com o fim do tráficode escravos, os revolucionários que-riam iniciar antes. Tanto que a Con-federação do Equador, em 1824, quereunia jovens de 1817, teve como umadas primeiras medidas abolir o tráficonegreiro. Isso mostra a sinceridadedessas pessoas que, sete anos antes,anunciavam que a escravidão eraimoral e deveria acabar. É a primeiravez que um governo instituído falaisso. Às vezes, a gente critica 1817porque não era abolicionista. Masquem era abolicionista nessa época?Havia escravidão em toda a América,menos no Haiti, onde havia servidão.Na Europa inteira havia servidão,inclusive no interior da França. NaInglaterra não tinha, mas quais eramas condições de trabalho de umirlandês em 1817? O Oriente era escra-vagista, a Europa Oriental tinha

formas de servidão muito próximasda escravidão, e, na África, havia so-ciedades escravistas. Pensar que 1817só funcionaria se fosse abolicionistaé anacrônico. No contexto mental daépoca, ser emancipacionista eraavançadíssimo.

TP - Como as camadas popularesparticiparam da Revolução de 1817?MC - Todo movimento político temdiferentes motivações. O que as pes-soas querem? Nós não temos fontescoevas do que os negros ou os libertospensavam, então é muito difícil afir-mar qual era o querer deles em 1817.Mas devia haver alguma coisa, porque,à medida que o movimento avança,uma imensa quantidade de negros epardos participa, e a defesa final daCapital tem um comandante do ba-talhão dos Henriques [regimentoformado por negros e mestiços] de-fendendo o Forte das Cinco Pontas eoutro oficial desse batalhão de-fendendo a Fortaleza do Brum. Elesestavam arriscando a vida, lutando

por aquele movimento. Portanto,deveriam acreditar que, em longoprazo, aquilo ia trazer algum benefíciopopular, ou não pegariam em armas.Também é interessante analisar ocombate historiográfico: quando vema Independência do Brasil, a Corteestá no Rio de Janeiro. É óbvio queDom Pedro I não poderia ter colocado1817 como grande movimento nacio-nal. Ele teve que escolher como sím-bolo da nacionalidade um cara que

morreu numa inconfidência – ou seja,apenas uma conspiração, no terrenodas ideias –, em Minas Gerais, quetinha uma ligação muito forte com oRio de Janeiro. Então ele escolheuTiradentes. Na República Velha, háum grande predomínio da “políticado café-com-leite” [nome que se dáao acordo firmado entre oligarquiasestaduais e Governo Federal para que ospresidentes da República fossem escolhidosentre políticos de São Paulo e MinasGerais], assim não se podia escolherum movimento numa província pobre.Mas, se fôssemos ser mais corretos,o grande símbolo da nacionalidade éou a Revolta dos Alfaiates, da Bahia(1796), ou a Revolução Pernambucanade 1817. Ou as duas. Mas isso foi tiradodo Nordeste.

TP - Por que a Revolução de 1817 foiderrotada?MC - A derrota de 1817 é da classeproprietária. Os grandes senhores deengenho e proprietários de escravosse sentiram ameaçados, começarama retirar o apoio. Tem uma frase muitofamosa do padre Muniz Tavares: “Em1817, os pernambucanos aprenderama traição”. Não a traição à Coroa, masa traição entre um e outro, um de-nunciando o outro. A historiografiamais antiga quer enaltecer os senho-res de engenho que fizeram rebeliões.

Na realidade, esse grupo se divide,porque a Revolução toma um ar maisradical. Tenho até dúvidas se, em1817, esses senhores realmente que-riam uma república.

TP - O que nós trazemos de 1817 paraa atualidade?MC - Uma das coisas mais bonitas daRevolução de 1817 é um documentoinstituindo o tratamento por “vós”no lugar de “vossa mercê”. O “vossamercê”, nessa época, passa uma ideianão só de respeito, mas de deferência.Significa que ele manda em mim, queeu sei que ele manda em mim, que elesabe que ele manda em mim. O “vós”é respeitoso. É como o “senhor” hojeem dia. E até o modo como a nova leifoi divulgada é muito interessante:em forma de “bando”, um documentopara ser lido ao som de taróis[instrumentos de percussão em forma decaixa]. Não havia rádio nem televisão.Eles saem à rua, param em cadaesquina e leem o documento públicoque diz: acabou esse negócio de “vossamercê”, todo mundo é “vós”. É o co-meço da igualdade perante a lei. Eisso é muito atual, porque a genteainda está lutando por isso: cidadania,direitos iguais. São as mesmas lutas.O Brasil ainda não chegou à Revoluçãode 1817. As mesmas bandeiras aindaestão na pauta.

Gabriela Bezerra

Haymone Neto

Para o historiador Marcus Carvalho, professor da UniversidadeFederal de Pernambuco, a igualdade perante a lei defendida

pela “Revolução dos Padres” segue na pauta política do Brasil

HISTÓRIA

06 Março de 2017TribunaParlamentar

Papel do movimento pernambucano foi subdimensionadona história, acredita Carvalho

“Os revolucionáriosanunciavam que a

escravidão era imoral e deveria acabar. É a primeira vez que um governo

instituído fala isso.”

JARBAS ARAÚJO

“As bandeiras de 1817permanecem atuais”

Aos 17 anos, o estudante deEconomia Romero Alvessofreu um acidente que

mudou sua vida: o veículo em queestava se chocou contra um poste,provocando fraturas que o tor-naram usuário de cadeira de rodas,em 2010. O torcedor do Clube Náu-tico Capibaribe – que não perdiaum jogo do time – ficou sem von-tade de sair de casa por um tempo.“Tinha medo de ir a grandes even-tos por conta da minha condição”,lembra.

Pensando em pessoas comoRomero, o deputado ClodoaldoMagalhães (PSB) propôs a criaçãoda Lei Estadual nº 15.926/2016,que torna obrigatória a reserva depercentuais mínimos de espaços ede assentos para pessoas comdeficiência em estádios de futebol,ginásios esportivos e clubes sociaisde Pernambuco. A proposição vem

complementar o Estatuto da Pessoacom Deficiência (Lei Federal n°13.146/2015), que já previa a des-tinação dos lugares sem, no en-tanto, definir os percentuais a se-rem cumpridos.

Magalhães explica a motivaçãoda proposta: “A norma veio paraatender à demanda daquelas pes-soas que enfrentam dificuldadesdiárias para frequentar espaços delazer do nosso Estado”. Romeroaprovou a iniciativa, ressaltandoque “ir a jogos é um momento defelicidade, quando podemos es-

quecer por alguns instantes asdificuldades do dia a dia”. Para ele,“o Brasil ainda precisa evoluir sig-nificativamente para prover meiosde acessos a pessoas com deficiên-cias; por isso, qualquer ajuda emprol dessa causa é válida”.

Segundo a matéria, os per-centuais de reserva variam de acor-do com a capacidade de lotação doestádio, ginásio ou clube: 4% paraespaços com mil lugares; 3% paraaqueles que comportem entre mile cinco mil pessoas; 2,5% paraambientes com capacidade de

receber entre cinco mil e dez milvisitantes; e 2% para os que pos-suam entre dez mil e 20 mil assen-tos. Arenas com capacidade supe-rior a 25 mil lugares devem des-tinar 1,25% do seu ambiente.

O dispositivo estipula, ainda,que espaços livres e assentos sejamdistribuídos em locais variados dorecinto, com boa visibilidade,próximos aos corredores e devida-mente sinalizados. Deve-se evitara criação de áreas segregadas depúblico e a obstrução das saídas, eo local precisa estar em conformi-dade com as normas de acessi-bilidade. A lei estabelece, por fim,a reserva de uma vaga para acom-panhante que auxilie a pessoa comdeficiência, caso haja necessidade.

Construída para receber osjogos da Copa do Mundo de 2016,

a Arena de Pernambuco, em SãoLourenço da Mata (Região Me-tropolitana do Recife) já cumpreos requisitos da Lei 15.926. Se-gundo a assessoria do espaço, dos45.055 assentos disponíveis,aproximadamente 2% são reser-vados para pessoas com necessi-dades especiais. “Além disso, olocal conta com catracas exclusivas,piso tátil, corrimão nas rampas,escadas e banheiros adaptados”,descreve, em nota.

Para a psicóloga Eneida Nunes,iniciativas que garantam o convíviosocial das pessoas com deficiênciasão fundamentais. “Essa lei é umaferramenta de inclusão que pro-porcionará, sem dúvidas, maismomentos de lazer e, consequen-temente, mais qualidade de vida aessas pessoas”, conclui.

Malu Coutinho

HENRIQUE BARROS/DIVULGAÇÃO

Arena PE já garante 2% dos lugares para pessoas com necessidades especiais

No ano de 1840, foram publicadas as primeiras cópias tipografadas da obra História da Revolução dePernambuco em 1817, escrita pelo padre e ex-deputado da Assembleia Legislativa Provincial Francisco MunizTavares, que integrou o movimento. Em 1917, o livro ganhou uma edição comemorativa para marcar ocentenário da insurreição, com prefácio do historiador, jornalista e diplomata pernambucano Oliveira Lima.

Nascido em 16 de fevereiro de 1793, na então Freguesia de Santo Antônio do Recife, Muniz Tavares tornou-se sacerdote em 1816. No ano seguinte, destacou-se como um dos mentores da chamada “Revolução dosPadres”. Foi preso e deportado para a Bahia, ali permanecendo até 1821, quando foi anistiado. Retornou aoRecife, onde passou a exercer o cargo de professor régio da cadeira de Latim da Vila do Cabo.

Para continuar atuando em defesa das liberdades e direitos individuais, elegeu-se deputado provincialna Legislatura de 1845-1847. Foi cofundador e primeiro presidente do Instituto Arqueológico, Histórico eGeográfico Pernambucano, em 1862. Faleceu em 23 de outubro de 1876, deixando como legado o testemunhoda primeira experiência republicana no País.

Também no ano de 1917, além da edição comemorativa do livro escrito por Muniz Tavares, foi instituída,por meio do Decreto nº 459, a adoção da Bandeira dos Revolucionários de 1817 – com o arco-íris, a cruz eo sol braseiro – pelo Estado de Pernambuco. Em março deste ano, a obra com comentários de Oliveira Limaserá reeditada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

Revolucionário em 1817, deputado MunizTavares registrou história do movimento

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Superintendência de Preservação do Patrimônio Histórico do

Legislativo. Livro História da Revolução de Pernambuco em 1817.

Acervo do Arquivo Geral da Assembleia Legislativa do Estado

de Pernambuco.

Lazer para todosLei determina que estádios, ginásios esportivos eclubes pernambucanos reservem percentual mínimode assentos para pessoas com deficiência

A Lei Estadual nº 15.926/2016 considera pessoa comdeficiência aquela que tem impedimento de longo prazo denatureza física, mental, intelectual ou sensorial. A norma,que ainda aguarda regulamentação do Executivo, tambémestabelece punições como advertência e pagamento demultas que podem chegar a R$ 50 mil, a depender do portedo estabelecimento e da reincidência na infração.

07Março de 2017 TribunaParlamentar

FOTO: JOÃO BITA

Espremido entre opiniões queora o elevam à condição dearte, ora o imputam à pecha

de vandalismo, o grafite é elementoinelutável nos grandes centros ur-banos. No bairro do Sancho, ZonaOeste do Recife, os desenhos colori-dos e as linhas exageradas impressasnas paredes da comunidade parecemnão se importar com essa divisão.Antes, vociferam contra a violênciaque, no lugar, é literalmente parte dapaisagem.

É ali onde fica o Complexo Prisio-nal do Curado, o maior de Pernam-buco, que abriga sete mil homensdistribuídos em três presídios. A edi-ficação se ergue no meio das casas,algumas delas situadas a poucosmetros das muralhas caiadas – cujosúnicos ornamentos são guaritas,cercas e arames farpados. No en-

torno, patrulhas a cavalo e carros dapolícia dividem espaço com morado-res, comerciantes e quem mais es-tiver de passagem.

Os muros do bairro servem desuporte para a voz de quem dormee amanhece sob a sombra da peni-tenciária. Estampam as paredes gri-tos pelo direito à moradia, pela paz,pelo fim da violência contra a mulher– ou, simplesmente, por mais coresnum horizonte cortado pelo medo.

As pinturas são assinadas porartistas parceiros e membros doMovimento Social e Cultural Cores doAmanhã, organização não governa-mental que atua com crianças ejovens na comunidade do Totó, utili-zando a arte de rua como ferramentade inclusão social. “É na periferiaonde nasce a cultura da cidade, e ografite é uma forma de trazer cida-dania para as pessoas daqui”, apontaJouse Barata, grafiteira e uma daslíderes da entidade.

CULTURA

No entorno do Complexo Prisional do Curado, grafiteiros reverberam nos muros anseios de paz

Corescontra aviolência

Grafite estampa muro na comunidade do Totó.

Colorido contrasta com a austeridade da

penitenciária encravada na localidade

08 Março de 2017TribunaParlamentar

Rinaldo Marques (fotos)

Luciano Galvão Filho (texto)

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