interação prof aluno

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A INTERAÇÃO PROFESSOR/ALUNO NA SALA DE AULA

Rosa Maria Nechi Verceze

Carmosina Sibélia Silva Alencar

Universidade Estadual do CearáCentro de Humanidades

Curso de Letras

INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo fazer uma abordagem interacional do discurso em sala de aula, analisando as relações interpessoais e os diferentes tipos de participação dos interactantes; mostrar a ocorrência na interação professor/aluno, do processo de cooperação para manutenção da preservação das faces. Utiliza como aporte teórico os trabalhos de Goffman (1981-2002) e de Bakhtin (1997) nos quais baseia-se para abordar aspectos da interação face a face e da multiplicidade de vozes que o diálogo apresenta.

Pesquisa de campo

- Alunos do PIBIC do Curso de Graduação em Letras da Universidade Federal de Rondônia – UNIR.

- Projeto de pesquisa intitulado “Lingüística Aplicada no ensino de Língua Materna”.

- Observadas e gravadas (áudio e vídeo) aulas de uma Escola da Rede Pública de Ensino Médio em Guajará-Mirim, nas turmas de 1ª, 2 ª e 3ª séries.

Segundo os parâmetros curriculares Nacionais, o processo de ensino aprendizagem deve centrar-se na interação entre professor/aluno:

“Buscar a plena formação do aluno para participar do convívio social de maneira crítica, a partir de competências e habilidades que estruturam o trabalho com a linguagem, pois, sendo esta uma herança social, reprodutora de sentidos e possibilitadora da interação entre os sujeitos, através do discurso constitui-se numa das principais práticas sociais.” (PCN’s, 1999).

Estruturas de participação Tipos de participação:• Ouvintes ratificados• Ouvintes não ratificados• Falantes.

Falantes (interlocutores);• Ratificados• Não ratificados

Marcadores linguísticos e paralingüísticos

Preservação das facesEm uma interação os interactantes assumem dois pontos de vistas:1)Uma orientação defensiva: visando preservar própria face.2)Uma orientação protetora: tendo em vista preservar a face do outro.

“Numa interação, há mútuo interesse em manter a face, isso é feito por meio de um acordo [...] enquanto o falante não ameaça a face do ouvinte , este não ameaça a face daquele.”

Exemplo 3: Ilustração de como ocorre o mecanismo de

preservação da face na interação em sala de aula

Contexto : A professora solicita como atividade aos alunos que escrevam um crítica sobre um texto “base” discutido anteriormente. Pareceu que a atividade não foi explicada de forma clara, já que os alunos não compreenderam bem o que era para fazer , mesmo assim construíram seus textos. Após a elaboração, a professora solicitou que os alunos trocassem suas redações entre si para que cada um possa dar sua opinião sobre a redação do outro.

Exemplo 3

P- Zoeti...

A18 eu vou ser sincero faltou pouca escrita aqui

P- faltou pode dizer né

A18 ela não usou a:: cabeça dela ela contou o texto aqui ((risos))

P- faltou o quê?

A19 não eu fiz da maneira que foi ouvido qui/qui eu etendi ((vozes))

A18 faltô inseri idéias dela...tipo assim escrevê não a história ouvida mais a::/ a:: realidade falá tirá do texto idéias e trazê para:: realidade dela certo?

A19 assim eu não sou muito organizada sabe eu não sei sair escrevendo [...] acho qui eu não repeti a história eu/eu falei da realidade da família só qui eu não/ eu tenho dificuldade pra:: colocá no papel

A18 essa parte aqui ela repete [...] falta aqui é o conteúdo final só ...mais palavras

A19 mas o que é pequeno é mais bonito ((risos))

Análise do exemplo 3

• A professora ratifica pelo nome o aluno A18 (Zoeti) para falar sobre a redação de uma colega.

• A18 coloca em risco sua face e ameaça a face da colega ao mencionar: “Eu vou ser sincero...”.

• Durante a fala de A18 a professora estimula ainda mais a face negativa da aluna autora do texto (A19) quando comenta: “Faltou o quê?”

• A19 para preservar a sua face, se defende diante da platéia. “Não eu fiz foi da maneira que foi ouvido [...]” e nesse momento, ameaça a face da professora, pois os alunos não entenderam o que era para fazer.

• Logo depois, A19 desaprova o comentário de A18, como forma de preservar a sua face positiva que foi ameaçada.

• Em seguida, A18 apresenta uma tentativa de minimizar o acordo quebrado utilizando-se de uma forma de polidez: “Falta aqui é o comentário final só [...]”.

• A19 finaliza em tom irônico fazendo o seguinte comentário: “Mas o que é pequeno é mais bonito.” Causando riso na platéia, e conseguindo atenuar sua face negativa.

Numa interação em sala de aula, como vimos no exemplo citado, nem sempre a interação entre

professor /alunos é tranquila. Pois há fatos e atos que podem ameaçar a estabilidade das relações interpessoais. Quando ocorre esse desequilíbrio

diz-se que o status dos interactantes está ameaçada. Portanto, os envolvidos nessa interação vão tentar preservar a sua auto-imagem-pública.

Considerações finais O tema deste artigo propicia repensar a interação entre professor/aluno na sala de aula. Sabe-se que hoje o trabalho em sala de aula ainda se restringe, em grande parte, à aula expositiva, onde o aluno interage com pouca habilidade. Assim, faz-se necessário promover a interação para quebrar a monotonia e facilitar a participação dos alunos. As ações do professor são cruciais para o rumo do discurso em sala de aula, porque o aluno pode transformar-se em ouvinte passivo, alheio ao que acontece na sala ou num participante ativo. Nessa perspectiva é fundamental que o professor possa repensar sua prática e dar atenção a interação em sala de aula.

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