jornalismo parece correr perigo uma ameaça deve ser a...

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Num mundo onde há cadavez mais informação, oscidadãos estão, contradi-toriamente, cada vez menosbem informados ou mesmomal informados, com umatorrente de notícias quesurge literalmente do nada.Com a crise dos meios tra-dicionais de comunicaçãosocial e o desenvolvimentodas redes sociais, a disse-minação das chamadasnotícias falsas (fake news)espalharam-se ao ponto deintervirem directamenteem todos os sectores da so-ciedade, nomeadamente,na política, segurança ousaúde. O jornalismo sérioe a credibilidade dos jor-nalistas é o último bastiãode uma informação verí-dica, sujeita ao contraditórioe aos processos de verifi-cação que regem a profissão.Os jornalistas estão cons-cientes de como é difícil,até para e les mesmos ,detectar uma notícia falsaou evitar ser instrumenta-lizados. As notícias falsaspodem ser crime, mas aindanão têm castigo.

Polarização política no BrasilO investigador Pablo Ortel-lado, professor da Univer-sidade de São Paulo (USP),considera que a situação dadesinformação no Brasilresulta da polarização daesfera pública e do extre-mismo dos actores políticos.

“A situação das ‘fakenews’ no Brasil não é muitodiferente das de outros paísesque estão a sofrer um pro-

cesso de polarização da esferapública, onde as opiniõespolíticas estão concentradasem dois pólos (…) Isto acon-tece nos Estados Unidos, naArgentina, na Venezuela, noBrasil e também na Europa,como é o caso da França eda Inglaterra”, afirmou.

O académico, que desen-volveu projectos de análisedo debate político no meiodigital nas últimas eleiçõespresidenciais do Brasil, dis-putadas em Outubro do anopassado, considera que aexpressão ‘fake news’ nãoé a mais adequada paraclassificar o fenómeno dadesinformação.

“O que acontece nestecenário é que estes dois póloscomeçam a produzir sitesque veiculam opinião naforma de factos noticiosos.Esse excesso de produçãode opinião apresentadocomo se fosse investigaçãojornalística é a essência dofenómeno no Brasil comonoutros países”, frisou.

O investigador explicouque informação enviesadatem uma forte presençanuma sociedade polarizadacomo a brasileira, onde aspessoas estão comprometi-das com causas.

“É muito difícil saber oque é causa e o que é efeitodo fenómeno da desinfor-mação. As pessoas estãopolarizadas e, portanto, con-somem notícias muito enga-jadas, que consolidam a suaposição já polarizada. Sãocoisas que se retroalimentam.Isto no Brasil é um senti-mento muito forte, baseado

na indignação, no ódio e nanão aceitação da posição doadversário”, argumentou.

Ortellado salientou aindaque o fenómeno da desin-formação é um desafiomuito grande para o jorna-lismo profissional, porquequanto mais bem feito é otrabalho jornalístico, maisdificuldade existe em con-correr com conteúdos queapelam ao sentimento deindignação.

“Quando o público estápolarizado, ele é muito cha-mado a cumprir um papel derebaixar o jornalismo”, des-tacou o investigador, consi-derando que os actores po-líticos também não têm inte-resse em melhorar o ecos-sistema mediático.

As ‘fake news’, comum-mente conhecidas por notíciasfalsas, desinformação ouinformação propositadamentefalsificada com fins políticosou outros, ganharam impor-tância nas presidenciais dosEUA que elegeram DonaldTrump, no referendo sobre o‘Brexit’ no Reino Unido e naspresidenciais no Brasil, ganhaspelo candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro.

O Parlamento Europeuquer tentar travar este fenó-meno nas europeias de Maioe, em 25 de Outubro de 2018,aprovou uma resolução naqual defende medidas parareforçar a protecção dosdados pessoais nas redessociais e combater a mani-pulação das eleições, apóso escândalo do abuso dedados pessoais de milhõesde cidadãos europeus.

Alemães defendem acção Um estudo conduzido pelauniversidade alemã de Darms-tadt revela que 81 por cento,num total de 1023 inquiridos,defendem uma resposta rápidadas autoridades para lidarcom notícias falsas, as cha-madas "fake news".

O estudo “Percepção denotícias falsas na Alemanha:Um estudo representativodas atitudes das pessoas eabordagens para combatera desinformação” pretenderesponder a três perguntas:Que atitude têm as pessoasperante as “fake news”? Jáviram ou já lidaram comnotícias falsas? Como avaliampossíveis abordagens paraas combater?

Christian Reuter, coor-denador do estudo, revelouque quase metade dos entre-vistados (48%) já teve con-tacto com notícias falsas. Noentanto, apenas um em cadaquatro admitiu ter apagadoou reportado notícias falsase somente 2% revelou tercriado alguma.

“As respostas mostramque a grande maioria dosparticipantes admite os riscosdas ‘fake news’. Mais de 80%concordaram que estasrepresentam uma ameaça eque podem ser usadas paramanipular a opinião dapopulação. Mas quase omesmo número de partici-pantes no estudo acreditaque os decisores e actorespolíticos também podem sermanipulados”, revela o pro-fessor e investigador.

A maioria dos participantesneste estudo, realizado naAlemanha, concorda comtodas as formas sugeridas paralidar com notícias falsas: 80%defendem “reacções rápidasdas autoridades” e 72% gos-tariam que fossem estabele-cidos “centros de defesa desegurança informática”.

Obrigações por parte dosoperadores ou reforço dosregulamentos penais tambémforam aprovados, “a quanti-dade de respostas neutras variaentre 14% a 21%, enquantoapenas 3 a 7% dos participantesnão concordam com as abor-dagens sugeridas”, esclareceChristian Reuter sobre a rea-lidade das ‘fake news’.

68 por cento dos inqui-ridos acreditam que as “fakenews” prejudicam a demo-

cracia e 84% considera-asperigosas, porque podemmanipular as opiniões. Maso coordenador do estudorevela que não dispõe dedados que associem as notíciasfalsas aos resultados e efeitosna política, na Alemanha.

"Bom jornalismo” deve ser a vacina Nuno Artur Silva, da Produ-ções Fictícias, de Portugal,defendeu que é preciso olharas 'fake news' como "doençada democracia" que ameaçaas populações e recorrer ao"bom e velho jornalismo"como vacina para protegera sociedade.

"A maneira de se olhar paraas 'fake news' é como se fosseuma campanha pela saúde.Temos de olhar para este fenó-meno como uma doença dademocracia, em que as popu-lações estão ameaçadas porum vírus", afirmou.

"Os jornalistas deviamencarar isto como se encarauma epidemia. Tem de haveruma at i tude do género'vacine-se, os vírus estão aí'.E a única maneira de protegera sociedade é com um sistemade vacinação que é o bom evelho jornalismo", argumen-tou Nuno Artur Silva.

"O que chamamos desin-formação é o canário na minade ouro do digital, um sinalde aviso para o ecossistemainformativo das nossas demo-cracias", afirmou, no mesmosentido, o deputado portuguêsJosé Magalhães.

O deputado recordou queantigamente o canário nasminas de carvão servia paraalertar para a presença de umgás venenoso, da mesma formaque agora as 'fake news' aler-tam para um perigo iminente.

A propósito da necessidadede se recuperar o "bom e velhojornalismo", Luísa Meireles,directora da agência Lusa,frisou que até se costumadizer que as agências de notí-cias exercem "o jornalismocanónico", "o que não excluios chamados erros jornalís-ticos, mas que são diferentesde 'fake news'", frisou.

A directora da Lusa subli-nhou também a importânciaque assume a verificação dainformação, "o jornalismoque faz o contraditório quevai 'checkar' uma, duas, trêsfontes para verificar uma notí-cia", algo que "muitos nãofazem na corrida para seremos primeiros a dar a notícia".

"Às vezes é preciso perderuma notícia para dar umanotícia que é verdadeira",argumentou Luísa Meireles,sublinhando que é preciso"romper" o que considerouser a "bolha informativa" das'fake news', através do prin-cípio do contraditório, do ques-tionamento e da verificação.

“Vamos contraditar, vamosperguntar, vamos 'checkar'.Se duas fontes dizem a mesmacoisa, tem mais força do quesó uma o dizer”, frisou.

Catarina Carvalho, direc-tora do “Diário de Notícias”,sublinhou, por seu turno,que se o objectivo é “com-bater as 'fake news' é precisoperceber que a informaçãonão é gratuita”, que o trabalhodos jornalistas “tem de serremunerado e não pode dei-xar de o ser” e que o fenó-meno das 'fake news' começae acaba no negócio.

JORNALISMO PARECE CORRER PERIGO

FERNANDO OLIVEIRA | EDIÇÕES NOVEMBRO|BENGUELA

4 DESTAQUE Quinta-feira21 de Fevereiro de 2019

O que aconteceneste cenário é que

estes dois póloscomeçam a

produzir sites queveiculam opinião na

forma de factosnoticiosos. Esse

excesso deprodução de

opinião apresentadocomo se fosseinvestigação

jornalística é aessência do

fenómeno tanto no Brasil comonoutros países

O que um dia a equipa de DonaldTrump chamou "factos alternativos"parece ganhar espaço ao jornalismosério e à credibilidade dos jornalistas,que são o último bastião de umainformação verídica, sujeita aocontraditório e aos processos deverificação que regem a profissão.

Uma ameaçachamada

“fake news”

Os jornalistas tambémcometem erros, mas "umacoisa é o erro jornalístico,outra coisa é uma mentira",distingue o director da rádioTSF, reconhecendo que "aspessoas não têm capacidade,ainda, para as distinguir".

"Hoje é frequente ouviras pessoas dizerem 'não, não,é verdade, porque eu ouvina net', que é uma coisamuito difícil de desmontar.As pessoas acreditam pia-mente naquilo, não perce-bendo que ler na 'net' no siteda TSF ou ler na 'net' num'post' de Facebook são rea-lidades completamente dife-rentes", realça Arsénio Reis.

"O grande problema éque, de facto, as pessoas nãotêm capacidade, ainda, paraas distinguir", lamenta, assi-nalando a "iliteracia" mediá-tica dos cidadãos.

O responsável editorialda rádio privada detida peloGlobal Media Group diz quea discussão sobre o assunto"é diária" na redacção, mastal não significa que asempresas e os jornalistas setenham sabido proteger de"um problema muito com-plicado de resolver".

Recuando ao passado,Arsénio Reis não tem dúvidasem dizer que o jornalismoperdeu crédito e que os pró-prios jornalistas têm nissoalguma responsabilidade."Devíamos ter-nos preocu-pado há mais tempo", admite.

Arsénio Reis assume queprefere falar em "intoxicação"do que em "fake news" sim-plesmente, porque é o maisutilizado, mas que não deveser traduzido como "notíciasfalsas", porque uma notícianão pode, por natureza, serfalsa, mas como "notíciasfalsificadas", o que já pres-supõe uma intenção dedesinformar ou manipular.

"Não há notícias menti-rosas, as notícias mentirosassão mentiras. Nem sequeraceito o conceito e acho queninguém na profissão odeveria aceitar", contesta odirector da TSF.

As "notícias mentirosas"são "perigosas", porque "põemtodos os dias em causa" o tra-balho dos jornalistas e dasempresas de informação,reconhece.

Porém, importa assinalarque todos cometemos erros,incluindo os jornalistas. "Masuma coisa é o erro jornalísticoe outra coisa é uma mentiraou uma 'fake news'", dis-tingue. No primeiro caso,

quem "for atingido ou lesado"pelo erro jornalístico tem aoseu dispor instrumentos parase defender, como direito deresposta, entidades regula-doras, tribunais.

"As pessoas hoje con-fundem, de alguma forma,aquilo que é a produção detrabalho jornalístico comalgumas das informaçõesque circulam livremente esem cumprirem qualquercritério jornalístico, no mun-do 'online', em particularnas redes sociais, como sabe-mos, mas também nalgunssites, e em alguns delibe-radamente", aponta.

Perante isto, só há umasolução: "voltar aos princí-pios básicos", identifica."Não é verdade que tenha-mos mudado (os procedi-mentos internos). Admitoque tenhamos hoje mais cui-dado com o contraditório doque tínhamos. Admito quetenhamos hoje mais atençãoa algum tipo de 'notícias'menos 'normais', prevendoa possibilidade de elas serem,efectivamente, uma anor-malidade. Mas a prática quetemos, jornalística, nãomudou. E, aliás, acho queum dos segredos da profissãoé voltar aos princípios bási-cos. Se conseguirmos res-peitar esses, correremosmenos riscos”, defende.

“O contraditório é, paramim, a grande missão do jor-nalismo. Nós não defendemoscausas, ou raramente defen-demos causas, mas devemosfornecer às pessoas as armaspara que elas possam tomaras suas decisões. Isso implicaouvir versões opostas, ouvirvárias opiniões e depois per-mitir que as pessoas possam,efectivamente, retirar as suasconclusões”, sustenta.

Por outro lado, é hoje maisdifícil para os órgãos de infor-mação "ter os meios essen-ciais para, em cada um doscasos, (...) apurar a veraci-dade de uma determinadainformação", admite.

Código de conduta O fundador do Expresso,Francisco Pinto Balsemão,considerou que as 'fake news'são uma ameaça global e nãoapenas para os 'media' edefendeu um código de con-duta para os jornalistas nasredes sociais.

Questionado sobre se as'fake news' ameaçam osmedia, o presidente do Con-selho de Administração daImpresa afirmou: "Eu acho

que não é apenas para onegócio da informação, aameaça é muito mais global,a ameaça é para a sociedadeonde vivemos e essa ameaçahoje em dia está organizada".

E explicou: "Há 'hackers'(piratas informáticos) pro-fissionais que são contra-tados e bem pagos, quer paraatacarem pessoas, empresase instituições e tentaremdestruí-las, quer para esta-rem ao serviço de políticasde grandes países".

Para o patrão da SIC e doExpresso, as 'fake news' são"uma ameaça global" e uma"ameaça para o jornalismo,porque é uma concorrênciacompletamente desleal".

"Essa é, portanto, umagrande ameaça para o jor-nalismo e também umagrande oportunidade deseparar o trigo do joio e comoo joio é cada vez mais volu-moso, mais mal cheiroso,está por toda a parte, é piorque as ilhas de plástico aserem encontradas cada vezmaior número nos oceanos",apontou, salientando que "ojoio é cada mais pestilento"e cresce em Estados que têmo poder e utilizam as novastecnologias em campanhas.

Deu o exemplo da Repú-blica Democrática do Congo,que cortou o acesso à Internetpara controlar o sistema polí-tico e social, ou "como é ocaso da China, que faz issoquase abertamente", paraexplicar que a evolução tec-nológica, que até inclui reco-nhecimento facial, permitecondicionar a actividadepolítica, a liberdade das pes-soas, a liberdade de opiniãoe até o acesso à informação.

No combate às 'fake news',o presidente da Impresa teceuainda críticas ao comporta-mento dos jornalistas nasredes sociais.

"Os jornalistas têm deter um comportamento tal-vez um pouco diferente edeixar de se apresentaremconstantemente nas redessociais, como se aquilo fosseuma espécie de clube deamigos", considerou.

Questionado se consi-derava necessár io umcódigo de conduta, Fran-cisco Pinto Balsemão afir-mou: "Penso que sim, cadavez mais acho que os jor-nalistas não devem intervirnas redes sociais, muitomenos acerca de assuntosque eles próprios tratamnas redacções. Acho que sedevem coibir disso".

"As 'fake news' começama existir por uma questãocomercial e enquanto os jor-nais estiverem na situaçãopericlitante em que estão,as notícias gratuitas podemser falsas ou verdadeiras ea rapidez pode ser falsa ouverdadeira", alertou.

"Não sermos os primeirosa dar a notícia é sinónimode perder os cliques e é per-der a publicidade e é perdera liberdade e o rigor", lamen-tou Catarina Carvalho.

O deputado José Maga-lhães, por sua vez, referiuque estamos perante "umproblema intrincadíssimo",sublinhando que "o pro-blema da desinformação ésó o pico do iceberg", quetem por trás, nomeadamente,"problemas de erosão da con-fiança nos media", a perdade rendimentos para os medianoticiosos, a crise dos ser-viços públicos, entre outros.

Neste sentido, Luísa Mei-reles referiu que na "luta das'fake news' e no combate àsnotícias falsas ou falseadasos jornalistas estão na pri-meira linha como alvos aabater e como vítimas".

E a directora da Lusa co-mentou também que consi-dera "uma contradição otermo 'fake news', porque seé falsa não é notícia", masreconheceu o termo inter-nacional como identificativo.

Fernando Esteves, directordo Polígrafo, comentou, porsua vez, que o cérebro huma-no está feito para acreditar,mesmo quando sabe que nãoé verdade, antecipando que"a dificuldade de distinguira realidade da ficção, que sevai massificar no futuro, vaidificultar a tomada de deci-sões informadas".

Para o director do Polí-grafo, cabe às redes sociaisintervir para evitar a escaladado fenómeno e as suas con-sequências negativas, mastambém aos cidadãos, quedevem ser "mais responsáveise não podem partilhar con-teúdos de qualquer forma".

"Partilhar acriticamenteé mais uma machadada nademocracia", considerouFernando Esteves, acres-centando que os jornalistas,por seu turno, "têm de sercorajosos e continuar a publi-car o que os outros não que-rem que se publique".

Investigador Pablo Ortellado

ARÃO MARTINS| EDIÇÕES NOVEMBRO

MOTA AMBRÓSIO| EDIÇÕES NOVEMBRO

DR

O erro jornalístico e a mentira

Quinta-feira21 de Fevereiro de 2019 5DESTAQUE

"As chamadas 'fake news' sãoum fenómeno e um problemaa que Angola, obviamente,não poderia estar imune.Nenhum país escapa hoje aessa realidade, que na verdadesempre existiu, na históriada humanidade, mas hoje éelevada à potência éne porforça das incríveis alteraçõestecnológicas em curso, emespecial a Internet. A verdadeé que as novas tecnologiasde comunicação, se, como sediz, permitem que o conhe-cimento esteja hoje ao alcancede um clique, também fazemcom que as falsas informaçõescirculem planetária e instan-taneamente. Recordo aquiUmberto Eco, quando disseque 'patetices' sempre houve,mas, agora, contam com umaaudiência global.

A crença nas 'fake news'e em todas as 'patetices',invencionices e perversõesque circulam no mundo vir-tual é tanto maior quantomais fechada e menos edu-cada for uma sociedade. Onosso país está a viver umperíodo de abertura infor-mativa, inaugurado com aeleição do Presidente JoãoLourenço em Agosto de 2017,

que, por ser recente, explicaa ingenuidade de muita gente,que "acredita em tudo o quevê nas redes". O défice de edu-cação da sociedade tambémnão ajuda. Temos, pois, muitotrabalho a fazer para usar cor-rectamente as novas tecno-logias de comunicação.

Concordo com aquelesque dizem que a melhor res-posta às 'fake news' é o bomjornalismo. O problema é que,no mundo inteiro, o jornalismotradicional ou não sabe comoenfrentar as redes ou, piorainda, está a reboque delas.A tentação de concorrer coma velocidade das redes nãodá certo. Hoje não basta noti-ciar os factos, pois todo o mun-do, até diletantes e mesmoverdadeiros criminosos o fa-zem, sejam eles verdadeirosou falsos. Basta, para isso, terum telemóvel na mão. Hoje,o bom jornalismo implica apu-rar melhor, não ignorar o con-traditório, enquadrar e explicarcorrectamente os aconteci-mentos. A sociedade temtempo para isso ou quer viverem permanente estado deeuforia e excitação social?"

*Ministro da ComunicaçãoSocial

“Hoje, o bom jornalismoimplica apurar melhor”

A ERCA (Entidade Reguladorada Comunicação Social Ango-lana) faz nota que o seu Con-selho Directivo entrou emfunções num período em quese observam novos desafiosna Comunicação Social, coma proeminência da imprensaonlinee do activismo nas RedesSociais, nem sempre coerentecom os princípios éticos e deon-tológicos que devem reger acomunicação social.

Por isso, vemos que é umexercício desafiador para aERCA, enquanto entidadereguladora que tem que fazera supervisão e a regulação

da comunicação no contextodeste fenómeno novo das'fake news'.

Divisamos a necessidade deum trabalho transversal e pro-fundo que englobe de formacomum todos os sujeitos activose passivos do trabalho da Comu-nicação Social na salvaguardado respeito escrupuloso e defesados direitos de personalidade,nomeadamente o bom nome,a honra, a imagem e intimidadeda vida privada, protegidosconstitucionalmente e na legis-lação ordinária.

Em suma, torna-se neces-sário a aplicação dos instru-

mentos legais vigentes e aadopção de legislação ade-quada ao enfrentamento dofenómeno (fake news) .

Tendo em vista contribuirpara o conhecimento real dofenómeno 'fake news', miti-gando os seus efeitos com aliteracia mediática do cidadãocomum, a ERCA programoupara este ano um colóquiosobre a matéria, em que par-ticiparão actores angolanose dos países membros da Pla-taforma das Entidades Regu-ladoras da ComunicaçãoSocial dos Países de LínguaPortuguesa.

ERCA, enfrentar o fenómeno é um exercício desafiador

Teixeira Cândido, secretário-geral do Sindicato dos Jorna-listas Angolanos (SJA) começapor recordar que, antes de tudo,“as fake news não são notíciasjornalísticas, mas informaçõesdiversas, disponibilizadas pelosmais diversos cidadãos, movi-dos pelos mais diversos inte-resses. É, por assim dizer, umademarcação necessária”.

Por outro lado, acrescenta,"o espaço no qual mais cir-culam as 'fake news' não sãoórgãos de comunicação social(imprensa no sentido lato),mas as redes sociais e outrasplataformas digitais”. Comoterceiro elemento TeixeiraCândido avança que "a notí-cia jornalística tem caracte-rísticas próprias, que nãopodem nem devem ser con-fundidas com as 'fake news'.

Quarto à intensidade das“fake news”, o responsável sin-dical acredita ser uma conse-quência da necessidade demaior transparência dos actosde gestão dos Estados. “Por

fim, no actual contexto domi-nado pelas “fake news”, aimprensa tradicional tem campopara reforçar a sua utilidade eservir de 'espelho corrector'das informações disponíveisnas redes sociais”.

Acrescenta que o jorna-lismo não devia concorrercom as redes sociais, arris-cando por isso o seu capital.“É necessário dar a consumirao cidadão uma informaçãojornalística, quer dizer, devi-damente tratada, observandoos cânones deontológicos”.

Fake News não é jornalismoTEIXEIRA CÂNDIDO

JOÃO MELO *

Jornalista pede mais rigor

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