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Nobel da Literatura para Kazuo Ishiguro – e para fazer "o mundo feliz"
A Academia Sueca distinguiu o escritor inglês, que se tornou globalmente
conhecido com Os Despojos do Dia, pela "força emocional" dos seus
romances. INÊS NADAIS e
ISABEL SALEMA
5 de Outubro de 2017
MIKE SEGAR/REUTERS
O Nobel da Literatura de 2017 foi atribuído ao escritor inglês Kazuo Ishiguro e aos
seus "romances de grande força emocional, que revelam o abismo da nossa
ilusória sensação de conforto em relação ao mundo", anunciou esta manhã em
Estocolmo a secretária permanente da Academia Sueca Sara Danius.
Ishiguro é o celebrado autor de Os Despojos do Dia (1989), um romance onde são
bem visíveis os seus temas de eleição, "a memória, o tempo e a auto-ilusão", como
escreve a Academia Sueca na pequena biografia do autor disponível no site. Com
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ele venceu o Booker Prize; o livro viria a ser adaptado ao cinema em 1993 por
James Ivory. Ishiguro escreveu também Os Inconsolados (1995, vencedor do
Cheltenham Prize), Quando Éramos Órfãos (2000, nomeado para o Booker Prize
e para o Whitbread Prize), Nunca me Deixes (2005, nomeado para o Booker
Prize; adaptado ao cinema), Nocturnos (2009) e O Gigante
Enterrado (2015), publicados em Portugal pela Gradiva. O seu primeiro
romance, As Colinas de Nagasaki, foi traduzido em 1989 pela Relógio D'Água.
Minutos após o anúncio, Sara Danius explicou numa curta entrevista difundida
em directo que o Nobel da Literatura de 2017 distingue "um escritor de grande
integridade" e "um romancista absolutamente brilhante" que "desenvolveu um
universo estético só seu". "Kazuo Ishiguro está muito interessado em
compreender o passado. Não para o redimir, mas para revelar o que temos de
esquecer para podermos sobreviver enquanto indivíduos e enquanto sociedade",
acrescentou, confessando que o seu romance favorito do autor britânico é o
recente O Gigante Enterrado. A secretária permanente da Academia Sueca não
quis porém deixar de mencionar Os Despojos do Dia, "uma verdadeira obra-
prima que começa como uma comédia de costumes de P.G. Wodehouse e acaba
num registo kafkiano". Kafka, assim como Jane Austen, apontou ainda, são as
suas influências mais visíveis – mas para obter a receita completa da escrita de
Ishiguro será preciso "acrescentar um pedacinho de Marcel Proust e depois agitar,
mas não muito".
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A secretária permanente da Academia Sueca, Sara Danius, no momento do anúncio CLAUDIO
BRESCIANI/EPA
O "Brexit", sobre o qual se pronunciou logo após o referendo num artigo para
o Financial Times, talvez seja uma dessas incertezas que Ishiguro gostaria de
poder dissipar: "Precisamos de um segundo referendo – não para repetir o
primeiro, mas para definir o mandato que advém do desfocado resultado da
semana passada (...). Este segundo debate terá de ser aberta e claramente sobre a
troca entre o pôr fim à imigração da União Europeia e o acesso ao mercado único.
Será um debate em que aqueles que defenderam e votaram 'sair' por razões não-
racistas terão a oportunidade de se colocar do lado oposto aos que o fizeram",
escreveu a 1 de Julho do ano passado, reiterando a sua "fé no povo da Grã-
Bretanha" e na capacidade do país para se manter "decente e justo, disponível
para mostrar compaixão a forasteiros em necessidade", unindo-se em torno dos
"instintos humanos tradicionais" e isolando "os racistas".
Natural de Nagasáqui, no Japão, onde nasceu em 1954, Ishiguro mudou-se com a
família (o pai era oceanógrafo) para o Reino Unido quando tinha cinco anos.
Licenciou-se em Inglês e Filosofia pela Universidade de Kent em 1978 e obteve
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um mestrado em escrita criativa pela Universidade de East Anglia em 1980. Três
anos depois, foi incluído na lista de melhores jovens escritores britânicos
organizada pela Granta, a par de Martin Amis, Ian McEwan e Salman Rushdie.
Desde o seu primeiro romance, As Colinas de Nagasaki, (1982), que Kazuo
Ishiguro "tem sido um escritor a tempo inteiro", sublinha a Academia Sueca; tal
como a sua segunda obra (que recebeu o Prémio Whitbread), Um Artista do
Mundo Transitório (1986), editada em Portugal pela Livro Aberto, o romance
passa-se na cidade japonesa onde o escritor nasceu, alguns anos depois da
Segunda Guerra Mundial e do bombardeamento atómico pelos EUA.
A escrita de Ishiguro “é marcada por uma expressão cuidadosamente contida,
independentemente dos acontecimentos que retrata”. A sua ficção mais recente
contém temas fantásticos, como o distópico Nunca Me Deixes (2005), onde se
interroga sobre o que aconteceria se em vez de uma era nuclear vivêssemos um
tempo marcado pelas descobertas da biotecnologia como a clonagem. Aqui, diz a
Academia, “introduz uma fria corrente subjacente de ficção científica no seu
trabalho”, explorando, ao mesmo tempo referências musicais, visíveis em vários
outros trabalhos de ficção, como se pode ver na colecção de contos Nocturnos
(2009), “onde a música tem um papel fundamental para retratar as relações dos
personagens”.
Numa entrevista ao PÚBLICO em 2005, exactamente a propósito de Nunca Me
Deixes, falou do seu nascimento no Japão pós Segunda Guerra Mundial: “Acho
que todos tememos uma coisa como a bomba atómica, só que eu nasci em
Nagasáqui e aprendi o que isso quer dizer de uma maneira diferente da maioria
das pessoas. A minha desconfiança na ciência e na capacidade que a sociedade
humana tem para gerir as suas próprias descobertas está provavelmente
enraizada nesse facto.”
No seu último romance, O Gigante Enterrado, Ishiguro coloca na estrada um
casal idoso, em plena paisagem arcaica inglesa, que viaja à procura de um filho
adulto que já não vê há anos.
Depois de Bob Dylan
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A escolha de Ishiguro confirma os rumores dos últimos dias, que apontavam para
a atribuição do Nobel da Literatura de 2017 a um autor mais canónico, após a
polémica do ano ano passado, em que, algo inesperadamente, o prémio foi
atribuído ao músico norte-americano Bob Dylan, “por ter criado novas formas de
expressão poética no quadro da grande tradição da música americana”. A
atribuição do 113.º Nobel da Literatura a Dylan foi considerada a mais radical da
história da Academia Sueca. Esta manhã, Sara Danius não quis comentar se a
inflexão deste ano em direcção a uma obra mais comprometida com a forma
canónica do romance pretendeu de facto evitar o som e a fúria do ano passado,
limitando-se a dizer que a Academia espera que esta escolha "faça o mundo feliz".
Em 2015, o Nobel da Literatura já tinha sido concedido a Svetlana Alexievich, a
jornalista bielorrusa cuja obra literária é criada a partir de extensas entrevistas a
centenas de fontes, noutra escolha considerada não muito ortodoxa.
Até ao momento, as reacções mais calorosas à atribuição do Nobel a Ishiguro
vieram de Salman Rushdie: "Muitos parabéns ao meu velho amigo Ish, cujo
trabalho amo e admiro desde que li pela primeira vez As Colinas de Nagasaki. E
ele também toca guitarra e escreve canções! Roll over Bob Dylan", comentou ao
jornal britânico The Guardian. De facto, o autor de Os Despojos do Dia chegou a
tentar uma carreira de músico; mais recentemente, escreveu letras para quatro
canções da cantora de jazz norte-americana Stacey Kent.
Também Andrew Motion, poeta laureado do Reino Unido entre 1999 e 2009,
festejou a escolha: "O imaginativo mundo de Ishiguro tem a grande virtude e o
grande valor de ser ao mesmo tempo altamente individual e profundamente
familiar – um mundo de espanto, isolamento, vigilância, ameaça e
maravilhamento", descreveu, citado também pelo The Guardian. Os princípios
fundadores da suas narrativas, precisou, combinam uma inabalável reserva com
uma também inabalável "intensidade emocional": "É uma combinação notável e
fascinante, e é maravilhoso vê-la reconhecida."
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Fãs de Haruki Murakami celebram a atribuição do Nobel a Kazuo Ishiguro KIM KYUNG-
HOON/REUTERS
No Japão, dezenas de fãs que estavam reunidos num templo em Tóquio
aguardando a possível atribuição do prémio a Haruki Murakami, celebraram
efusivamente o anúncio da Academia Sueca.
O português José Saramago ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1998. Este
ano, António Lobo Antunes voltou a estar entre os escritores dados como
favoritos ao prémio pelas principais casas de apostas, numa lista em que
figuravam também o queniano Ngugi wa Thiong’o, a canadiana Margaret Atwood
e o japonês Haruki Murakami. Entre os 114 escritores já distinguidos com o Nobel
da Literatura, apenas 14 são mulheres.
https://www.publico.pt/2017/10/05/culturaipsilon/noticia/nobel-da-literatura-
para-1787807?page=/&pos=4&b=feature_a
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QUÍMICA
Prémio Nobel da Química para técnica que permite ver estruturas de biomoléculas 4/10/2017, 10:54284
A Real Academia das Ciências Sueca atribuiu esta quarta-feira o prémio Nobel da Química para a microscopia crioeletrónica, uma técnica que permite ver estruturas de biomoléculas em solução.
Os três laureados com o prémio Nobel da Química 2017 Nobelprize.org Durante muito tempo os microscópios eletrónicos eram usados exclusivamente para observar matéria morta, porque o feixe de eletrões destruía qualquer forma de vida. Em 1990, Richard Henderson contrariou essa ideia e usou o microscópio eletrónico para ver, ao nível do átomo, a estrutura tridimensional de uma proteína. Usar água num microscópio eletrónico é impossível, porque a água evapora no vácuo e faz colapsar as biomoléculas. Jacques Dubochet conseguiu, no início dos anos 1980, vitrificar a água — arrefecê-la muito rapidamente — permitindo que as biomoléculas mantivessem a forma natural mesmo no vácuo. O trabalho de Joachim Frank não foi menos importante. Entre 1975 e 1986 desenvolveu um método que permitia agrupar as imagens bidimensionais do microscópio em imagens tridimensionais com maior resolução. É a combinação do trabalho destes três investigadores que está na base da microscopia crioeletrónica.
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Já em 2014, o prémio Nobel da Química tinha sido atribuído a uma técnica de microscopia, neste caso microscopia ótica, mas também pelo aumento da resolução. A ideia para os dois prémios é a mesma: ver estruturas cada vez mais pequenas. O prémio tem o valor de nove milhões de coroas suecas (cerca de 937 mil euros) que será distribuído pelos três laureados.
Ver cada vez mais pequeno Temos um fascínio por coisas muito distantes, como os buracos negros que colidem a muitos milhões de anos-luz da Terra, ou por estruturas muito, muito, mas mesmo muito pequenas. E os prémios Nobel da Física e da Química 2017 refletem isso mesmo. Com a técnica de microscopia crioeletrónica é possível acrescentar melhorias às técnicas microscopia eletrónica e cristalografia de raios X já de si de alta resolução. Os microscópios eletrónicos existem há muito tempo e têm permitido ver estruturas cada vez mais pequenas, mas têm uma desvantagem: o feixe de eletrões é tão intenso que acaba por destruir as estruturas biológicas. A microscopia crioeletrónica usa feixes muito menos intensos, para não destruir as amostras em estudo, mas também não permite ver tão claramente. Se tem uma lâmpada numa sala quanto mais intensa for a luz melhor consegue ver. Agora imagine que a luz é tão intensa que acaba por queimar a folha que estava a tentar ler”, diz ao Observador Pedro Matias, investigador no Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB). “Para não queimar a folha usa uma luz mais mortiça, mas também fica com uma visão mais imperfeita.” Se assim é, qual é a vantagem da microscopia crioeletrónica? Tirar muitas fotografias e depois alinhá-las todas até ter uma fotografia de alta resolução. Mesmo que cada fotografia tirada nesta espécie de penumbra possa não apresentar muito detalhe, juntar as fotografias todas permite obter uma imagem que deixa ver cada átomo e cada ligação da molécula. E em três dimensões. Com a cristalografia de raios X já era possível ver biomoléculas com uma resolução igualmente elevada, mas nem todas as proteínas (um dos tipos de biomoléculas estudado) podem ser cristalizadas, o que faz com que a técnica tenha as suas limitações. Além disso, a cristalografia de raios X funciona melhor com moléculas mais pequenas, enquanto a microscopia crioeletrónica permite estudar moléculas maiores. “São duas técnicas complementares”, diz Pedro Matias, investigador na Unidade de Cristalografia de Macromoléculas no ITQB.
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Diferença na resolução da estrutura de uma proteína antes e depois de 2013 – MartinHögbom/TheRoyalSwedishAcademyofSciences Pedro Matias trabalha sobretudo com a cristalografia de raios X, mas espera que seja possível vir a ter um microscópio crioeletrónico em Portugal. “O ideal seria ter um microscópio topo de gama em Portugal, mas no mínimo ter um de desempenho médio”, disse o investigador. “É que sem mostrar alguns resultados nestes microscópios, que validem a metodologia utilizada, é impossível conseguir chegar aos microscópios de topo.” Os microscópios crioeletrónicos existentes em grandes instituições europeias estão disponíveis para serem usados por outros grupos de investigação alheios à instituição. O problema é que são tão poucos que todos os minutos gastos nesses microscópios são preciosos. As equipas que os queiram utilizar têm de provar que têm a técnica afinada e que vão obter resultados válidos. Pedro Matias reconhece quão importante é conhecer a estrutura celular, mas a sua área de investigação principal é mais aplicada à saúde. Conhecer a estrutura das proteínas envolvidas nas doenças humanas ou produzidas pelos agentes patogénicos (causadores de doenças) pode permitir criar fármacos que sejam mais eficazes no ataque a essas proteínas. Nos últimos ano, a literatura científica foi imagens de tudo e mais alguma coisa, de proteínas que causam resistência aos antibióticos à superfície do vírus zika”, lê-se no comunicado de imprensa divulgado pelo Comité do Nobel.
Quem poderia ter sido vencedor do Nobel da Química 2017? Para o Nobel da Química, como para os restantes prémios Nobel, haverá sempre palpites sobre os possíveis vencedores. Este ano, quem apontava as ondas gravitacionais para o prémio Nobel da Física, teve o retorno da expectativa, mas nem sempre as apostas são refletidas nas escolhas do Comité do Nobel. Além disso, é impossível perceber se os investigadores preferidos estavam entre os nomeados desse ano, porque as listas de nomeados só são conhecidas ao fim de 50 anos.
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Se quiser voltar um pouco atrás na história poderá conhecer todos os nomeados e laureados entre 1901 e 1966 num gráfico interativo do site Physics Today. As apostas vão de preferências e palpites a métodos mais ou menos sistemáticos, como os da Clarivate Analytics. Todos os anos, esta empresa analisa os artigos científicos publicados à procura de potenciais candidatos aos prémios Nobel. Aqueles que atingem o topo das citações dentro da sua área de investigação têm mais probabilidade de serem laureados (conheça a lista de 2017 aqui). Pelo menos, assim assume a empresa. O site Chemical & Engineering News (C&EN) promove anualmente um webinar (uma conferência online) sobre quem poderão ser os laureados na Química para esse ano. As votações de quem assistiu ao webinar escolheram dois temas principais: John B. Goodenough (entre outros) e o desenvolvimento das baterias de lítio; e Jennifer Doudna, Emmanuel Charpentier e Feng Zhang pelos primeiros passos dados com a técnica de edição genética CRISPR/Cas9. Esta técnica de edição genética tem revolucionado a bioquímica porque tornou mais preciso eliminar, reparar ou trocar genes dentro de uma célula, sem falar que a técnica é mais rápida, fácil de utilizar e barata que as existentes. As dúvidas sobre a atribuição do Nobel recaem nas questões éticas, mas sobre na guerra de patentes entre os investigadores acima referidos, como destaca o site Fast Company. Talvez por isso a Scientific American também volte a sua atenção para John B. Goodenough e as baterias de lítio. Afinal o investigador é um eterno candidato e já tem 95 anos. E não há prémios Nobel atribuídos a título póstumo. Correção: Pedro Matias é investigador (e não coordenador) na Unidade de Cristalografia de Macromoléculas no ITQB http://observador.pt/2017/10/04/premio-nobel-da-quimica-para-tecnica-que-permite-ver-estruturas-de-biomoleculas/
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FÍSICA
Prémio Nobel da Física para a deteção das ondas gravitacionais 3/10/2017, 10:57354
A Real Academia das Ciências Sueca atribuiu esta terça-feira o prémio Nobel da Física a três investigadores da colaboração LIGO/VIRGO ligados à observação das ondas gravitacionais.
Três investigadores envolvidos na deteção das ondas gravitacionais Nobelprize.org O prémio Nobel da Física 2017 foi atribuído a três cientistas ligados ao detector LIGO/VIRGO, Rainer Weiss, Barry C. Barish e Kip S. Thorne, pela contribuição para a observação das ondas gravitacionais. Entre os pioneiros da deteção das ondas gravitacionais também estaria Ronald Drever, mas o investigador escocês morreu em março desde ano, com 85 anos. O prémio tem o valor de nove milhões de coroas suecas (cerca de 937 mil euros) que será dividido pelos três investigadores: metade para Rainer Weiss, a mente por trás do projeto, e a outra metade para Barry C. Barish e Kip S. Thorne. As ondas gravitacionais, observadas pela primeira vez a 14 de setembro de 2015 (mas anunciadas apenas em fevereiro de 2016), já tinham sido uma das descobertas favoritas para o prémio Nobel da Física em 2016. Agora, depois de outros investigadores terem voltado a demonstrar a existência das ondas gravitacionais previstas por Albert Einstein há 100 anos, o Comité do Nobel decidiu atribuir o prémio a três investigadores envolvidos na experiência.
Da investigação para o cinema
Kip Thorne, um astrofísico teórico que se dedica ao estudo da física gravitacional, foi o consultor científico do filme Interstellar, realizado por Christopher Nolan. O cientista e a equipa de efeitos especiais conseguiram, com o recurso a muitas modelações de computador, criar a imagem mais rigorosa de um buraco negro em rotação alguma vez criada.
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As ondas gravitacionais detetadas pela experiência LIGO/VIRGO (Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferómetro Laser e o Interferómetro Virgo), nos Estados Unidos, resultaram da colisão de dois buracos negros e demoraram 1,3 mil milhões de anos-luz a chegar à Terra. E ainda que apenas três investigadores tenham sido distinguidos, Rainer Weiss fez questão de lembrar que esta descoberta é o resultado do trabalho de mais de uma centena de pessoas. Albert Einstein, na sua Teoria da Realidade Geral, publicada em 1915, tinha definido que quando um corpo com uma determinada massa acelera cria ondas gravitacionais. Ao contrário do que postulava Isaac Newton, Einstein defendia a deformação do tecido espacio-temporal por corpos celestes que se aproximassem um do outro, o que levava à perturbação dos campos gravitacionais. Mais, Einstein acreditava que seria possível medir estas ondas, mas foram precisos 100 anos para que isso acontecesse. Só em 2015 as ondas gravitacionais foram finalmente demonstradas de forma fidedigna e replicável, mas desde então já foi possível detetá-las mais três vezes. A última vez foi em setembro deste ano, quando equipa do detetor LIGO/VIRGO anunciou a nova deteção das ondas gravitacionais, desta vez por três antenas em simultâneo. O feito é incrível tendo em conta que a colisão dos buracos negros aconteceu num lugar muito longínquo do universo e que as ondas que chegaram até nós já estão muito mais fracas do que na origem.
As ondas gravitacionais são uma forma totalmente nova de seguir os fenómenos mais violentos no
espaço e de testar os limites do nosso conhecimento.” Nobelprize.org
Ainda que tenha sido a quarta deteção desde 2015, foi a primeira vez que os astrofísicos descobriram ondas gravitacionais através de três interferómetros laser, as mais sensíveis máquinas construídas pelo homem. Estas antenas são muito mais precisas e permitem melhorar a capacidade de localização do fenómeno. O detetor LIGO foi criado para “ouvir” as ondas gravitacionais. Ainda que estas ondas sejam oscilações no espaço-tempo – como as ondas que uma pedra cria ao cair no charco – e não ondas sonoras, a frequência é equivalente àquela que o ouvido humano pode detetar. https://www.youtube.com/watch?v=w8EIXKL6IGU
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Quais eram as previsões para o prémio Nobel da Física 2017? O secretismo em torno da lista de nomeados e as escolhas inesperadas incentivam as tentativas de previsão, ainda que as apostas possam estar muito longe da realidade. As apostas vão de preferências e palpites a métodos mais ou menos sistemáticos, como os da Clarivate Analytics. Todos os anos, a Clarivate Analytics analisa os artigos científicos publicados à procura de potenciais candidatos aos prémios Nobel. Aqueles que atingem o topo das citações dentro da sua área de investigação têm mais probabilidade de serem laureados. Pelo menos, assim assume a empresa.
Quem foi nomeado entre 1901 e 1966? Sabia que Albert Einstein, laureado em 1921, foi nomeado 62 vezes ou que Arnold Sommerfeld nunca ganhou nenhum Nobel apesar de ter sido nomeado 84 vezes? Mas se quiser saber quantas vezes foram nomeados os galardoados deste ano vai ter de esperar que a lista seja publicada daqui a 50 anos. O site Physics Today compilou os nomeados entre 1901 e 1996 num gráfico interactivo que pode explorar aqui. Physics Today
A lista de 2017 inclui: Phaedon Avouris, Cornelis Dekker e Paul McEuen, pelas contribuições para a electrónica baseada em carbono e consequente avanço na área da nanotecnologia; Mitchell J. Feigenbaum, pelas descobertas em sistemas físicos não-lineares e caóticos e pela identificação da constante de Feigenbaum; Rashid A. Sunyaev, pelas contribuições importantes para a compreensão do universo, da sua origem, da formação de galáxias entre outro fenómenos cosmológicos. Três hipóteses em três áreas muito distintas da física.
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O site Inside Science tinha apostado na demonstração da existência das ondas gravitacionais. Parece que foi uma boa aposta. Como boas notícias devem vir acompanhadas por uma boa banda sonora deixamos-lhe aqui o som da colisão dos buracos negros. http://observador.pt/2017/10/03/premio-nobel-da-fisica-para-as-ondas-gravitacionais/
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MEDICINA
Nobel da Medicina para os mecanismos que regulam o relógio biológico 2/10/2017, 10:40823 1
O prémio Nobel da Medicina, atribuído todos os anos pela Academia do Nobel no Instituto Karolinska, premiou os três investigadores que descobriram o mecanismo que regula o relógio biológico.
Os três laureados com o prémio Nobel da Medicina 2017 Nobelprize.org O prémio Nobel da Medicina 2017 foi atribuído a três investigadores estadunidenses nascidos na década de 1940: Jeffrey C. Hall, da Universidade do Maine, Michael Rosbash, da Universidade Brandeis (Waltham) e Michael W. Young, da Universidade Rockefeller (Nova Iorque) pela descoberta dos mecanismos moleculares do ciclo circadiano, o relógio biológico que regula os organismos. O prémio tem o valor de nove milhões de coroas suecas (cerca de 937 mil euros) que será distribuído pelos três laureados A seleção dos investigadores, entre as centenas de nomeados todos os anos, permanece absolutamente secreta até ao momento do anúncio dos vencedores – aliás, os nomeados de cada ano só podem ser conhecidos ao fim de 50 anos. “Fiquei tão contente com o anúncio que comecei a ligar às pessoas do grupo que estão interessadas nesta área”, disse ao Observador Cláudia Cavadas, investigadora no Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da Universidade de Coimbra. “E eu nem sequer conheço os investigadores.” O motivo da alegria é que esta distinção é “muito importante para a área de investigação”, uma área em que a equipa de Cláudia Cavadas começa a dar os primeiros passos.
Quem foi nomeado para o Nobel entre 1901 e 1966?
Quer conhecer todos os nomeados entre 1901 e 1966? Veja aqui. Percorrendo o gráfico interactivo poderá descobrir que Albert Einstein, laureado em 1921, foi nomeado 62 vezes, ou que Arnold Sommerfeld nunca ganhou nenhum Nobel apesar de ter sido nomeado 84 vezes.
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Physics Today
Andar ao ritmo do relógio biológico Já alguma vez teve a oportunidade de ver trabalhar um relojoeiro? Esventrar um relógio de pulso exige uma manipulação minuciosa dos mecanismos que fazem os ponteiros seguir o seu ritmo. Pôr o relógio biológico a funcionar – o nosso e o dos restantes seres vivos – e sincronizá-lo com a rotação do nosso planeta exige a mesma minúcia e complexidade. Para perceber como funciona o relógio biológico dos seres vivos, os investigadores usaram a mosca da fruta como organismo modelo e conseguiram isolar o gene que controla este ritmo diário – também chamado de ciclo circadiano. Este gene é responsável pela produção de uma proteína que se acumula nas células durante a noite e é degradada durante o dia. Depois deste, outros genes com influência direta e indireta no relógio foram sendo descobertos. A proteína produzida durante a noite tem assim um ciclo de 24 horas que acompanha o ciclo circadiano: umas vezes a produção é estimulada, outras vezes é inibida. Um relógio que faz com que os mecanismos avancem ou recuem resulta no organismo, mas deixaria o relógio de pulso com os ponteiros trocados. Ainda que tenha sido estudado nas moscas da fruta, este mecanismo existe em todas células e formas de vida: dos organismos unicelulares, como as bactérias, até aos organismos mais complexos como plantas e animais – incluindo o homem. Sabe-se também que os ritmos circadianos são mecanismos muito antigos e que se mantiveram mais ou menos inalterados durante a evolução.
O relógio biológico prepara o organismo para as várias fases do dia – Noberlprize.org
Enquanto o relógio de pulso bate os segundos a um ritmo certo e constante, o nosso relógio biológico é capaz de se adaptar aos vários momentos do dia, incluindo à presença ou ausência de luz. E se o relógio de pulso nos ajuda a prevenir os atrasos, o nosso relógio interno tem influência no nosso comportamento, ciclos de sono, metabolismo, temperatura corporal e produção de hormonas.
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O sistema circadiano é um mecanismo auto-sustentado, com ciclos de 24 horas, condicionado por estímulos externos, como a luz, e que afetam processos fisiológicos (que regulam os organismos). Apesar de a luz ser um dos principais estímulos do relógio biológico, o que os investigadores agora galardoados conseguiram demonstrar é que o relógio funciona mesmo quando os organismos são colocados às escuras. Mas, tal como um relógio de sol que sem a luz do astro rei não cumpre a sua função, o nosso relógio interno também fica desregulado com alteramos os ciclos de dia e noite ditos normais, como quando viajamos para um país com um fuso horário completamente diferente daquele de onde partimos, quando trabalhamos por turnos ou quando fazemos uma direta. Se a pilha gasta do relógio de pulso rebentar no interior do aparelho arriscamo-nos a ficar com um relógio avariado. Da mesma forma, a interferência no nosso ritmo circadiano, por exemplo com maus hábitos de sono, pode levar ao aparecimento ou agravamento de doenças, como distúrbios metabólicos, doenças neurodegenerativas ou cancro. Por outro lado, as doenças também podem afetar o ritmo circadiano. http://observador.pt/2017/10/02/nobel-medicina-2017/
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NOBEL
O economista que “tornou a ciência económica mais humana”
O prémio Nobel de 2017 foi para um norte-americano que tem vindo a
mostrar que apenas em modelos os agentes económicos são totalmente
racionais.
SÉRGIO ANÍBAL
10 de Outubro de 2017
Richard Thaler é visto com dos pais da economia comportamental REUTERS/KAMIL
KRZACZYNSKI
Richard Thaler, acabado de saber que o prémio Nobel da Economia de 2017 era
seu, explicou de forma sucinta aos jornalistas o que é que o seu trabalho das
últimas três décadas tinha trazido de diferente para o estudo da economia: “foi o
reconhecimento de que os agentes económicos são humanos e que os modelos
económicos têm de incorporar isso”. PUB
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A primeira ideia, a de que “os agentes económicos são humanos”, parece ser uma
ideia básica e óbvia, algo que está à vista de toda a gente e que não seria suficiente
para ganhar grandes prémios. Mas a verdade é que, na ciência económica clássica,
os modelos utilizados para fazer previsões sobre como a economia se irá
comportar assumem, por questões práticas e de simplificação, que ao tomarem as
suas decisões os agentes económicos agem sempre para maximizar seu interesse
próprio e são calculistas e totalmente racionais. Isto é, muito pouco humanos.
Foi na tentativa de contrariar esta escassez do factor humano nos modelos,
responsável por tantas falhas de previsões, que se desenvolveu a chamada
economia comportamental. Ao contrário da economia clássica, este campo de
estudo assume que algumas decisões – sejam de uma pessoa individualmente ou
de uma empresa ou do Estado - pouco ou nada têm de racional. E que, por isso, é
importante que se consiga, com recurso a outras ciências como a psicologia,
encontrar explicações para a falta de racionalidade, para que se possa
eventualmente passar a antecipar melhor como se comportam realmente as
economias.
Richard Thaler, um economista norte-americano de 72 anos de idade, há muito
que é visto como um dos pais fundadores da economia comportamental e, esta
segunda-feira, a Academia Real Sueca das Ciências decidiu premiá-lo por isso,
atribuindo-lhe o Prémio do Banco da Suécia para as Ciências Económicas em
Memória de Alfred Nobel, mais conhecido como Prémio Nobel da Economia.
Desde os anos 80 do século passado que Thaler, actualmente professor na
Universidade de Chicago, começou a mostrar como as decisões económicas, tanto
vistas individualmente como a um nível mais macro, são tomadas muitas vezes
relegando a racionalidade para um segundo plano e dando prioridade a emoções e
sentimentos vários. Através de exemplos e de dados concretos, tornou claro que
as pessoas pura e simplesmente não se comportam da forma como a teoria
económica poderia fazer supor.
As pessoas dão valor a questões como a justiça. E estão dispostas a ser elas
próprias penalizadas se se depararem com alguma coisa que consideram injustas.
Se um vendedor de chapéus-de-chuva tentar aproveitar-se do facto de estar a
chover torrencialmente para vender cada chapéu ao dobro ou ao triplo do preço,
pode deparar-se com compradores que, numa análise racional poderiam
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considerar o preço justo, mas que, respondendo ao sentimento de injustiça, o
forçam a redefinir os preços.
As pessoas têm problemas em controlar-se a elas próprias. E sentem necessidade
de, logo à partida, comprometerem-se com um determinado tipo de
comportamento, mesmo que ele venha a revelar-se, a certa altura, como pouco
racional.
As pessoas têm estados de espírito diferentes em diferentes fases das suas vidas. E
tomam decisões de acordo com aquelas que são as suas prioridades no momento.
Algumas vezes mais a pensar no futuro, outras mais a pensar no presente.
As pessoas têm medo de se arrepender. E por isso, algumas vezes, mesmo que
haja um caminho que seja mais lógico do que outro, preferem não tomar qualquer
decisão, para não correrem o risco de errar.
As pessoas são dadas a euforias. Quando as coisas começam a correr bem, pode
existir a tendência para pensar que tudo vai correr sempre bem. Richard Thaler
foi chamado a mostrar isso numa breve aparição no filme “A Queda de Wall
Street” (“The Big Short” no título original), em que surge ao lado de Selena
Gomez, a explicar como é que um investidor, um apostador ou mesmo um jogador
de basket tendem a acreditar, quando são bem sucedidos nas suas primeiras
tentativas (investimento, aposta ou lançamento ao cesto), que tudo vai continuar
a ser igual no futuro, persistindo em novas tentativas para além do que seria
racional e conduzindo em alguns casos a perdas de grande dimensão.
Como as pessoas são tudo isto - ao mesmo tempo que tentam também ser
racionais - desenhar modelos económicos que sejam certeiros e exequíveis torna-
se uma tarefa extremamente difícil. Talvez por isso, Richard Thaler dedicou-se
nos últimos anos a estudar de que forma é que é possível dar incentivos às pessoas
para que estas se comportarem de determinada maneira. É aquilo a que chamou,
num livro escrito em conjunto com Cass Sunstein em 2008, a “teoria Nudge”,
uma espécie de pequeno empurrão que pode ser dado aos agentes económicos
quando se pretende, por exemplo, reduzir o consumo de um determinado bem ou
aumentar o nível da poupança.
Esta segunda-feira, em Estocolmo, os responsáveis da Academia Real Sueca das
Ciências não pouparam na hora de medir o impacto do contributo de Richard
Thaler: disseram que permitiu uma maior “compreensão da psicologia da
economia”, que ajudou a economia comportamental a "passar da margem para o
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centro" da ciência económica e, principalmente, que “tornou a ciência económica
mais humana”.
Richard Thaler, por seu lado, agora que faz parte da elite de economistas que
receberam um Nobel, prometeu também ele continuar humano. Quando
questionado sobre o que pretendia fazer ao prémio de nove milhões de coroas
suecas que tinha acabado de receber, disse que iria tentar gastá-lo “o mais
irracionalmente possível”.
https://www.publico.pt/2017/10/10/economia/noticia/o-economista-que-tornou-a-ciencia-economica-mais-
humana-1788246
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