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Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, SP - CEP 13278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br pic.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 5 de março de 2010
Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A.
Dulcinéa Aparecida Bordignon
Professora Orientadora: Ms. Alessandra Cristina Fahl
Curso: Ciências Contábeis
FACULDADE ANHANGUERA DE CAMPINAS UNIDADE 2
Terceiro Lugar no Prêmio Anhanguera de Mérito Científico e Intelectual - 2009.
Participação no 3º Seminário de Produção Científica Docente e Discente da Anhanguera.
Trabalho apresentado no 9º Congresso Nacional de Iniciação Científica – CONIC.
Participação no Encontro Interno de Iniciação Científica - 2009.
RESUMO
A avaliação patrimonial de uma empresa é um tema que necessita estudo e interpretação adequados, levando-se em conta as modificações introduzidas pela Lei 11.638/2007, que promoveu avanços nos procedimentos contábeis até então praticados no Brasil. Assim sendo, o presente estudo apresenta os novos critérios de avaliação dos ativos e passivos de uma organização empresarial, tendo em vista a aplicação das Normas Internacionais de Contabilidade, IFRS. Dado que a finalidade maior da reformulação da Lei das sociedades anônimas é fornecer maior transparência e qualidade nas informações contábeis, considerando a realidade do crescimento da economia brasileira e global, a adoção das normas foi um grande avanço no contexto econômico do país. O presente estudo se limitará às normas que tratam da avaliação patrimonial, regularizadas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), mais especificamente as CPCs 01 e 12; as publicações do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), por meio de suas resoluções; e as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Dará especial atenção a publicações de empresas de auditorias, com base na acuidade que essas empresas dispensam aos estudos das novas normas. Apesar de essas publicações orientarem as empresas, é interessante observar os diversos segmentos empresariais, essa situação exigirá aprimoramento dos seus procedimentos e qualificação dos seus recursos humanos.
Palavras-Chave: avaliação patrimonial; IFRS; Lei 11.638/07; Lei 6404/76.
ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE
Vol. XII, Nº. 13, Ano 2009
NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE (INTERNATIONAL FINANCIAL REPORTING STANDARDS - IFRS) APLICADAS À AVALIAÇÃO PATRIMONIAL
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1. INTRODUÇÃO
A Lei n. 11.638, que altera e revoga dispositivos da Lei n. 6.404, estabelece alterações sobre
a matéria contábil e a elaboração de demonstrações contábeis, para o alinhamento com as
normas internacionais de contabilidade International Financial Reporting Standard (IFRS).
Desta forma, sugere intenso cuidado na aplicação da avaliação dos ativos e passivos da
empresa. Os procedimentos para trazer os ativos e passivos a valor presente, bem como
para aplicar a filosofia do valor justo, incluem avaliação honesta e modificações de
comportamento da administração das empresas que adotarem o IFRS em sua
contabilidade. As IFRS alteram as demonstrações financeiras das empresas e têm sido
observados esforços dos órgãos reguladores da contabilidade nacional para convergir às
normas locais para uma harmonização internacional (BEUREN; KLANN, 2008, p. 1).
Ribeiro (2008, p. 3) afirmou que é preciso considerar que as mudanças efetuadas,
principalmente na parte que trata dos procedimentos contábeis e elaboração das
demonstrações financeiras, representam, sem dúvida, um grande avanço para os
procedimentos contábeis até então praticados no Brasil.
Nas Normas Brasileiras de Contabilidade Técnica, a NBC. T 19.18 demanda que
seja realizada avaliação periódica da recuperabilidade de todos os ativos, sem exceção. A
mensuração dos valores dos ativos, passivos e do patrimônio líquido é um dos desafios
das empresas perante as modificações introduzidas nos artigos 183 e 184 da Lei 6.404/76
pela Lei 11.638/2007, considerando os novos critérios contábeis: a) avaliação a valor de
mercado de instrumentos financeiros derivativos e ativos; b) ajustes a valor presente de
direitos e obrigações; e c) análise sobre a recuperação de ativos permanentes. Cabe
entender como ficarão os processos de gestão das companhias e o que será necessário
para o desenvolvimento desses processos.
2. OBJETIVO
O objetivo da pesquisa consiste em apresentar os novos critérios de avaliação dos ativos e
passivos, sugeridas pela implementação da Lei 11.638/07, observando o reflexo no ajuste
da avaliação patrimonial, cuja aplicação prevê trazer a valor presente os ativos e passivos
da empresa, no fechamento de suas demonstrações financeiras, e periodicamente ajustá-
los ao valor de mercado. Quais os reflexos desses novos critérios e quais poderão ser as
vantagens ou não da sua adoção, já que esta é uma das principais novidades trazidas pela
redação dada aos artigos 183 e 184 da Lei 6.404/76, que se refere à possibilidade de
reavaliação de investimentos classificados no ativo circulante ou no realizável em longo
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prazo pelo valor de realização. Com as definições dos conceitos e a observação das
sugestões das novas práticas, o presente estudo pretende apresentar as dimensões dos
prováveis efeitos sobre o balanço patrimonial e as iniciativas das empresas, ao mesmo
tempo em que se pondera se haverá a necessidade de um envolvimento maior das áreas
operacionais das empresas.
3. METODOLOGIA
O estudo foi baseado em pesquisa bibliográfica, em textos informativos veiculados pela
mídia especializada e em artigos acadêmicos que forneceram conteúdo para o
embasamento da pesquisa. As publicações das grandes empresas de auditoria também
foram utilizadas. Trata-se de uma pesquisa descritiva. Gil (2002, p. 78) explicou que esta
pesquisa tem como intuito descrever as características de determinada população ou
fenômeno, ou estabelecer relações entre variáveis. Isso posto, o presente estudo buscará
delinear os efeitos contidos nas modificações propostas pela Lei 11.638/07 e as iniciativas
das empresas, fatos estes focados na conta de Ajustes de Avaliação Patrimonial. Uma
análise geral finaliza a pesquisa.
Importante lembrar que a Lei 11.638 altera e revoga dispositivos da Lei no 6.404,
ou seja, não substitui e vale para todas as sociedades anônimas (abertas e fechadas), além
de incluir item sobre obrigatoriedades para Limitadas de grande porte.
4. DESENVOLVIMENTO
A leitura do material, entre esses, as resoluções da CVM - Comissão de Valores
Mobiliários, que aprovou pronunciamentos do CPC - Comitê de Pronunciamentos
Contábeis, mostrou que a estrutura do balanço patrimonial sugerida foi mantida pela
nova lei, com algumas alterações entre eliminações de algumas contas e inclusão de
outras de acordo com a medida provisória 449/2008. Dentre estas inclusões, segundo
Braga e Almeida (2009), encontra-se a conta de ajustes de Avaliação Patrimonial, a qual
receberá os saldos obtidos dos cálculos da avaliação dos instrumentos financeiros, dos
ajustes a valor presente de direitos e obrigações e da análise sobre a recuperação de ativos
permanentes, sendo classificada no Patrimônio Líquido. Esta nova conta requer que as
empresas adotem novos comportamentos em vista da necessidade de trazer a valor
presente os seus ativos e passivos e atualizá-los dentro da filosofia do valor justo.
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A CPC 12, que trata sobre Ajuste a Valor Presente, traz os requisitos básicos para a sua
apuração; e as empresas podem se pautar pela CPC 01, que define procedimentos e
assegura o registro honesto dos ativos. Diz o item 1 da CPC 01:
O objetivo deste Pronunciamento Técnico é definir procedimentos visando assegurar que os ativos não estejam registrados contabilmente por um valor superior àquele passível de ser recuperado por uso ou por venda. Caso existam evidências claras de que ativos estão avaliados por valor não recuperável no futuro, a entidade deverá imediatamente reconhecer a desvalorização por meio da constituição de provisão para perdas. O Pronunciamento também define quando a entidade deve reverter referidas perdas e quais divulgações são necessárias.
No que diz respeito a Ajuste a Valor Presente, a CPC 12, item 1 de seu objetivo,
traz: “O objetivo deste pronunciamento é estabelecer os requisitos básicos a serem
observados quando da apuração do Ajuste a Valor Presente de elementos do ativo e do
passivo quando da elaboração de demonstrações contábeis.”
Considerando que as empresas cumprem à risca os pronunciamentos acima,
buscam-se informações sobre as formas práticas de aplicação dessas orientações, de como
poderá ser feito esse planejamento.
Será importante verificar a diferença que existe entre valor justo e valor presente,
cujas definições podem ser consultadas na Norma Brasileira de Contabilidade Técnica
(NBC T) 19.17, como segue:
Valor justo (fair value) - é o valor pelo qual um ativo pode ser negociado, ou um passivo liquidado, entre partes interessadas, conhecedoras do negócio e independentes entre si, com a ausência de fatores que pressionem para a liquidação da transação ou que caracterizem uma transação compulsória. Valor presente (present value) - é a estimativa do valor corrente de um fluxo de caixa futuro, no curso normal das operações da entidade.
Com base nas informações destas normas, as empresas deverão se ater à prática e
à diferenciação desses conceitos, pois acredita-se que, em determinado momento, eles se
encontrarão ou ficarão bem distantes um do outro. Amparadas pelas normas e critérios
estabelecidos pelas entidades responsáveis. Considerando que tudo indica que, ao longo
do tempo, outros conteúdos de divulgação, sobre o assunto, elucidarão ainda mais a
questão, será fundamental para as companhias envolvidas manterem-se informadas e
atualizadas junto aos órgãos reguladores.
4.1. Valor Presente e Valor Justo
Adotar o método de ajuste a valor presente e mensuração a valor justo é um desafio
enfrentado pelas empresas, principalmente no que diz respeito à dimensão contábil que
envolve a decisão de “por quanto registrar”, assunto essencialmente tratado pela CPC 12.
Para elucidar um pouco mais a diferença entre ambos os conceitos, foi realizado um
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importante estudo da empresa de auditoria Ernest & Young, com revisão da Fundação
Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). Segundo esse estudo,
a IASB (International Accounting Standards Board) orienta o desenvolvimento de métodos
para mensuração do valor justo a fim de avaliar os ativos e passivos com base em
mensurações econômicas:
[...] como toda mensuração é um processo de aproximação da realidade, do qual a subjetividade é inerente, a confiabilidade das informações contábeis é o grande obstáculo para a adoção de um modelo amparado em avaliações econômicas dos ativos e das obrigações. (ERNEST & YOUNG, 2009, p. 2).
Expôs ainda que “a controvérsia entre a relevância e a confiabilidade é o grande
desafio atual da contabilidade, que se traduz em desenvolver métodos confiáveis para a
mensuração do ‘valor justo’ (Ernest & Young, 2009, p.2). Entende-se, portanto, que o
profissional contabilista passa a ter um papel ainda mais significativo dentro desse novo
contexto, pois cabe a ele, ou ao departamento contábil das empresas, a geração de
informações confiáveis para as tomadas de decisões e os devidos registros.
A CPC 12 trata das questões de mensuração a valor presente e não se prende a
detalhes do ‘reconhecimento'’, tema intrinsecamente ligado à avaliação de ativos e
passivos. No entanto, o pronunciamento orienta que “a mensuração contábil a valor
presente seja aplicada no reconhecimento inicial de ativos e passivos” (CPC 12, 2008). Diz
ainda que “é necessário observar que a aplicação do conceito de ajuste a valor presente
nem sempre equipara o ativo ou o passivo a seu valor justo. Por isso, valor presente e
valor justo não são sinônimos” (CPC 12, 2008).
Outro fator importante a se observar é que a nem todos os ativos e passivos se
aplica a mensuração a valor presente. A sutil diferença entre um conceito e outro dá a
entender que o ajuste a valor presente trata os ativos e passivos, no momento do seu
devido reconhecimento, pelo seu real valor, respeitando os princípios da oportunidade e
do registro pelo valor original, podendo atualizar os mesmos dentro da filosofia do valor
justo. Um comitê formado por reguladores da contabilidade, para discussão da
contabilidade à luz da crise, defende o conceito do valor justo e a ampliação de sua
utilização. Matéria veiculada pelo jornal Valor Econômico traz a expressão do pensamento
de um membro do comitê, Nelson Carvalho, diretor de pesquisas da Fipecafi (Fundação
Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras): “sustentamos que é de longe a
melhor métrica e que deveria ser aplicada não só no passivo, mas no ativo também".
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4.2. Métodos e critérios de avaliação
A pesquisa buscou métodos sugeridos para as avaliações ponderando as novidades
permitidas pela nova Lei 11.638/2007. Como não havia um trabalho único e abrangente
sobre a mensuração do valor justo, o “Finantial Accounting Standards Board (FASB),
reconhecendo a necessidade de prover diretrizes sobre como medir o valor justo para fins
de demonstrações financeiras”, adotou como ponto de partida Pronunciamento SFAS 157:
Fair Value Measurements. Ele mostrou que:
[...] embora o SFAS 157 estabeleça uma definição única de ‘valor justo’ e defina critérios de mensuração, ele não elimina a complexidade e o julgamento requeridos, de forma que os resultados permanecerão sujeitos a elevado grau de julgamento, e não há qualquer garantia de que os resultados de sua aplicação sejam consistentes.
Com relação ao conceito, segundo esse estudo, “existem três abordagens básicas
de cálculo do valor justo para fins de demonstrações financeiras”, cujo conteúdo
explicativo se encontra no Quadro 1.
Quadro 1 – Conteúdo explicativo sobre abordagens básicas de cálculo - Valor Justo.
Fonte: Ernest & Young.
Para a utilização das abordagens apresentadas no Quadro 1, o SFAS estabelece
uma hierarquia de premissas baseadas em fontes do mercado externo que são observáveis
ou internas, da empresa, não-observáveis. Os três níveis de hierarquia dos dados
utilizados para as mensurações de ‘valor justo’, de acordo com o SFAS 157, são: Nível 1 –
Cotações de mercado; Nível 2 – Dados outros que não sejam cotações de mercado, mas
que sejam observáveis de forma direta ou indireta; e Nível 3 – Dados não-observáveis.
As informações demonstram a complexidade do assunto que envolve valor justo.
Ao obedecer às hierarquias supracitadas, as empresas, necessariamente, adotarão critérios
de pesquisa que demandarão tempo e pessoal especializado para que se tenha em mãos
informações que propiciem as avaliações corretamente. Nesse caso, é preciso definir itens
que permitam observações no mercado e as que dependerão apenas das informações
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internas das empresas, entre outras ações que levarão a atingir o objetivo de se produzir
demonstrações contábeis confiáveis.
A CPC 12 contém um anexo com a seguinte informação:
[...] as práticas contábeis adotadas no Brasil e o padrão internacional de contabilidade (International Financial Reporting Standards – IFRS) estabelecem a necessidade de apresentar, na data-base de cada balanço, determinados ativos e passivos por seu valor justo, bem como determinados ativos e passivos ajustados a valor presente. Esse aspecto é bem caracterizado na norma internacional para registro e mensuração de ativos e passivos financeiros (IAS 39), inclusive as contas a receber relativas a vendas (IAS 18) e ativos de longo prazo destinados à venda (IFRS 5), entre outros. Com as alterações na Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76) introduzidas pela Lei 11.638/07 e Medida Provisória nº. 449/08, a prática contábil adotada no Brasil aproxima-se, e em alguns casos se iguala, ao padrão internacional no momento da edição deste documento.
Segue explanação feita pela CPC 12 que ilustra um caso prático de ajuste a valor
presente:
Cenário
“A entidade efetua uma venda a prazo no valor de $ 10.000 mil para receber o valor em
parcela única, com vencimento em cinco anos. Caso a venda fosse efetuada à vista, de acordo com
opção disponível, o valor da venda teria sido de $ 6.210 mil, o que equivale a um custo financeiro
anual de 10%. Verifica-se que essa taxa é igual à taxa de mercado, na data da transação. No
primeiro momento, a transação deve ser contabilizada considerando o seu valor presente, cujo
montante de $ 6.210 mil é registrado como contas a receber, em contrapartida de receita de vendas
pelo mesmo montante. Nota-se que, nesse primeiro momento, o valor presente da transação é
equivalente a seu valor de mercado ou valor justo (fair value).
No caso de aplicação da técnica de ajuste a valor presente, passado o primeiro ano, o
reconhecimento da receita financeira deve respeitar a taxa de juros da transação na data de sua
origem (ou seja, 10% ao ano), independentemente da taxa de juros de mercado em períodos
subsequentes. Assim, depois de um ano, o valor das contas a receber, para fins de registros
contábeis, será de $ 6.830 mil, independentemente de variações da taxa de juros no mercado. Ao fim
de cada um dos cinco exercícios, a contabilidade deverá refletir os seguintes efeitos:
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Quadro 2 – Resultados.
Fonte: CPC_12.
A aplicação da técnica de marcação a mercado, apenas para fins de referência e
comparação, poderia ser ilustrada com uma situação na qual a taxa de juros saísse de 10% ao ano,
no momento inicial da transação, para 15% ao ano, no fim do primeiro ano. Nessa situação, o valor
justo das contas a receber, calculado mediante o ajuste a valor presente nessa nova data e com a
atual condição de mercado, seria de $ 5.718 mil ($ 10.000 mil/1,154), ou seja, seu valor justo no fim
do primeiro ano é bem inferior ao valor contabilizado com base na técnica do ajuste a valor
presente.”
A aplicação dos conceitos apresentados neste artigo, diante das subjetividades de
cada empresa, pode significar resultados inesperados. Um exemplo disso, utilizando a
contabilização pelo valor justo, são os ganhos com valorização de propriedades das
empresas de exploração comercial, conforme informa matéria publicada no jornal Valor
Econômico, que diz:
[...] a adaptação ao novo modelo deve gerar impacto positivo significativo nos resultados dessas empresas num primeiro momento, uma vez que o valor de mercado da maioria desses imóveis é muito superior ao valor patrimonial. A regra, que vale para o exercício encerrado em dezembro de 2010, traz o balanço para mais perto da realidade, o que também significa instabilidade maior. A desvalorização dos imóveis em um momento de desaquecimento resultará imediatamente em prejuízo.
O CFC destaca em matéria veiculada em seu site as principais vantagens e
desafios da aplicação do “Fair value”. As vantagens se traduzem como informações mais
interessantes para investidores, transparência em relação à substância econômica de
ativos e passivos desvinculação do valor de ativos e passivos a fatores específicos de uma
entidade em particular, uma vez que estariam avaliados por razões de mercado,
propiciando condição de comparação entre diferentes entidades. Os Desafios se
mostrariam no elevado grau de subjetividade dos critérios de mensuração, dependente de
premissas, na complexidade dos métodos de cálculo, no reflexo imediato, nas
demonstrações contábeis, de oscilações bruscas oriundas de momentos extremos e na
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possibilidade de difusão nas demonstrações contábeis de eventuais equívocos de
mensuração.
A consulta realizada em matérias e artigos, no primeiro semestre de 2009,
mostrou que bem poucas companhias anunciaram seus resultados financeiros dentro das
novas normas. O jornal DCI cita que estudo realizado por uma grande empresa de
auditoria mostrou que “das 100 companhias que fazem parte do Novo Mercado, o nível
mais alto de governança corporativa da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), apenas
oito anunciaram seu resultado financeiro dentro da nova norma contábil, ou seja, ainda é
necessário que 92 empresas apresentem resultados em IFRS, o que pode significar
prejuízo para as empresas, pois a demora para a adoção das novas práticas virá na forma
de transparência de suas informações financeiras.
5. RESULTADOS
Por se tratar de algo novo e o perfil dos profissionais de contabilidade ser conservador,
espera-se que este trabalho contribua para a elucidação dos novos critérios de avaliação
patrimonial instituídos pela Lei 11.638/07, para usuários da contabilidade e futuros
pesquisadores. Que colabore para as discussões do tema, ainda em fase de
implementação, considerando os aspectos peculiares das modificações e o pouco material
disponível para ser analisado e estudado. A leitura do conteúdo coletado permitiu
entender um pouco mais sobre os conceitos e identificar os impactos que a nova realidade
está trazendo ao sistema empresarial em sua adaptação a essa nova realidade, e adequar
as condutas já existentes a um novo modo de praticar a contabilidade.
Observou-se que há divulgação de metodologia e técnicas por parte dos órgãos
reguladores e empresas de auditoria independente, para a aplicação do ajuste a valor
presente e mensuração a valor justo, e que, em algum momento, esses dois conceitos
podem coincidir. Esses conceitos são fundamentais para se obter avaliações justas, e
compreender que o processo afetará diretamente as contas de resultado e as
demonstrações financeiras. Entende-se que se faz necessário também identificar com
clareza em que ponto a coincidência se dá para que sejam feitos os devidos ajustes e
registros. Com base nas informações, entende-se que o processo de transição à adequação
ao IFRS, está amparado. No entanto, ainda é moroso, e pode significar algum tipo de
prejuízo, uma vez que a aplicação das novas regras leva a uma maior transparência dos
resultados, conquista da confiança do mercado e participação ativa dentro de um novo
ambiente empresarial.
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Por outro lado, para as empresas concluírem o processo de adoção ao novo
padrão, elas contarão com empresas especializadas, tais como auditorias independentes,
consultorias e treinamento de pessoal, além de modernizar sua área contábil, com a
introdução de ferramentas tecnológicas que auxiliem os procedimentos.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma observação mais atenta sobre os resultados obtidos pelas empresas, e seus
respectivos comportamentos, quanto a critérios estabelecidos para as avaliações
patrimoniais, em cada segmento empresarial, nos próximos períodos, indicarão caminhos
em busca da otimização dos procedimentos a serem seguidos. Investimentos em
qualificação de pessoal, consultorias e serviços de auditoria poderão auxiliar muito os
trabalhos dos profissionais da área de contabilidade. No que diz respeito à academia, será
fundamental para os estudantes entrarem no mercado de trabalho preparado para essa
nova realidade por meio de ampla abordagem do tema dentro das disciplinas específicas.
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