resumo - eavaam · 2020. 3. 15. · 1 ensaio de uma etnobiografia: memórias entre grades1. marcelo...
Post on 25-Feb-2021
5 Views
Preview:
TRANSCRIPT
1
Ensaio de uma Etnobiografia: memórias entre grades1.
Marcelo Santos Sodré (SEDUC/PA – UFPA)
Resumo
Este trabalho (que é mais um ensaio do que um artigo) parte de uma narrativa
exemplar (a de Regina) para refletirmos metodologicamente sobre a “Etno/bio/grafia”
(no conjunto de seus conceitos e métodos) e principalmente sobre o mundo que fazemos
parte, considerando as relações sociais que se desenrola(ra)m (convivências) em um
determinado locus (a “Rua Eliezer Levy”) enquanto forma de compreender o processo
atual de eliminação das vias de compartilhamentos de memórias, fato que ocorreu
através do aumento da criminalidade urbana, especificamente na rua em questão.
Refletiremos a partir de um conjunto de categorias (memória, comunidade afetiva,
performance, locus, socialização, sociabilidade, biografia, etnobiografia, narrativa,
oralidade, fala do crime, arranjo, point de encontro, etc.) para interpretar a narrativa de
Regina acerca da relações sociais ancoradas na Rua Eliezer Levy, elucidando algumas
das transformações que ocorreram nela a partir da década de 1980 e que se estenderam
até os dias atuais. Demonstraremos simultaneamente a constituição de novos locus
enquanto espaços de convivência social, porém, o enclausuramento das relações sociais
entre muros e grades se revela como a característica central dos novos arranjos de
compartilhamento de memórias e de sociabilidade estabelecidos pelos moradores, algo
que reconfigurou o espaço de convívio na Rua Eliezer Levy e as relações sociais em seu
seio.
Palavras-chave: Memória, Etnobiografia, Visual.
1) Introdução
Este Artigo é o trabalho final e exigência curricular avaliativa da disciplina
“Etnobiografia: memórias, oralidades e narrativas” do Programa de Pós-Graduação de
Ciências Sociais/UFPA, ministrada pela Professora Dra. Denise Cardoso. A disciplina
1 “Trabalho apresentado no II Encontro de Antropologia Visual da América Amazônica, realizado entre
os dias 25 e 27 de outubro de 2016, Belém/PA”.
2
se constitui num convite a repensar, teórica e metodologicamente, a prática de pesquisa
de todos aqueles que atuam na área da memória e do visual enquanto elementos
interpretativos da vida real seja ele o antropólogo, o etnólogo, o sociólogo, etc. Assim,
este artigo se configurou como um ensaio que objetivou demonstrar quanto uma
(pequena) narrativa pode revelar para uma determinada comunidade as transformações
que ocorrem no tempo e no espaço (locus Eliezer Levy).
Para o profissional das ciências humanas, as contribuições avançam no sentido
de oferecer aos pesquisadores os construtos conceituais e teóricos os quais podem
nortear, do ponto de vista hermenêutico (explicação e compreensão) e epistemológico,
as interpretações acerca do objeto de estudo. Então, vários autores contribuem, entre
eles destacam-se Arruda, Benjamin, Bosi, Caldeira, Cardoso, Cunha, Elias, Geertz,
Gonçalves, Halbwachs, Hartmann, Marques, Moura, Oliveira, Ricoeur, Spotti e Turner.
Os autores citados contribuem de maneira significativa para compreendermos
diversos fenômenos e de que formas eles estão ligados ou vão se ligando entre si. Por
sua vez, esta compreensão pode nos nortear preliminarmente antes de desenvolver a
pesquisa em campo, pois interpretar uma cultura, uma memória, uma narrativa, etc., é
uma tarefa complexa, e que exige uma atividade detalhada por parte do pesquisador.
Portanto, nossas reflexões se direcionarão neste sentido.
2) A Rua Eliezer Levy: narrativa e memórias entre grades
“Nem tudo nessa vida é modelar,
mas tudo é exemplar”
Walter Benjamin, 2012a.
“Nossa! Aqui na rua (Eliezer Levy) era tão bom para se viver, hoje não é mais!
Meus filhos brincavam à vontade até altas horas, jogavam bola, vôlei,
corriam, conversavam, namoravam.
A nossa rua não pode mais ser hoje o que foi um dia, noooossa! Que pena!
Não vejo mais crianças correndo por aí, nós (vizinhos) não conversamos mais, pois
nem nas portas de casa podemos ficar.
A gente não pode mais, só assalto, tiro, roubo!
Nós que somos pessoas do bem tem que ficar atrás das grades,
e os bandidos soltos na rua”
(Regina2, em 04/06/2016)
2 Nome Fictício, pois não foi autorizada a publicação do nome da pessoa.
3
Este depoimento é de uma moradora (idade: 63 anos) que reside a mais de 42
anos na Passagem Major Eliezer Levy (que ela chama de rua e é o locus de nossa
reflexão), localizada em Belém, bairro do Souza, entre as Avenidas Almirante Barroso e
João Paulo II. Tal relato é revelador de um “tempo presente” que é vivenciado num
lugar que outrora, ao ver da própria depoente, não é mais como era antes. Em relação ao
passado, algo mudou na “Rua Eliezer Levy”, e esta mudança substanciou e continua
substanciando as lembranças e as percepções que a narradora tem do local que reside,
seja relativo às definições e classificações que ela fez em sua narrativa acerca do antes
e/ou do agora (do depois), seja também em relação às mudanças que ocorreram no
âmbito das experiências vivenciadas em comum com o grupo social que permeia o
locus. É somente neste patamar que o depoimento da narradora, segundo Halbwachs
(1990), é dotado de sentido.
A narrativa expõe lembranças, estas têm como base determinados quadros
sociais reais os quais se constituem enquanto pontos de referências para a reconstrução
daquilo que se denomina de “memória” (cf. Jean Duvignaud, Prefácio à obra Memória
Coletiva de Maurice Halbwachs, 1990, p.3). Tais quadros reais, ou horizontes3, ou
“pré-compreensão”4, são formados pelas experiências vividas em comum de um “eu”
com o grupo social no contexto de um locus, no caso a “Rua Eliezer Levy”. Ou seja, a
memória individual existe de uma forma enraizada nestes horizontes, e, neste sentido,
Paul Ricouer (2007) ressalta que as duas memórias (a individual e a coletiva) se
entrelaçam no momento do testemunho. Segundo Duvignaud (cf. HALBWACHS,
1990:06), Maurice Halbwachs contribui para a Sociologia justamente porque ele
percebeu a dinâmica entre a articulação das consciências individuais e coletivas para o
entendimento das memórias individuais e coletivas, sendo que as lembranças se
constituem das articulações relacionais entre o indivíduo e o grupo no qual participa:
Que seria desse "eu", senão fizesse parte de uma "comunidade
afetiva" de um "meio efervescente", do qual tenta se afastar no
momento em que ele se "recorda"? (...) A rememoração pessoal
3 Quando utilizarmos o termo “Horizonte”, estaremos nos referindo ao conceito de Gadamer (1977:344-
353) chamado “Horizonte de Compreensão”. Este se define como “vivência histórica” relativa ao
conjunto de percepções, preconceitos, crenças, que temos do mundo e que adquirimos através de nossa
convivência com o grupo social. 4 O que Gadamer (1977) chama de “Horizonte”, Paul Ricoeur (1991) denomina “pré-compreensão”. Esta
se refere ao conhecimento prévio que o sujeito carrega no que diz respeitos aos seus pressupostos
pessoais e socioculturais. A noção de “círculo hermenêutico” em Ricoeur advém deste conceito, pois o
movimento circular (que é constante) parte da “pré-compreensão” em direção à compreensão, ou seja,
deve-se compreender (explicar) mais para compreender melhor. Seja o conceito de Gadamer ou o de
Ricoeur, ambos nos ajudam a entender que o(a) narrador(a), ao depor, lança mão de sua compreensão do
mundo, pois parte de sua interpretação acerca das próprias vivências no locus.
4
situa-se na encruzilhada das malhas de solidariedades múltiplas
dentro das quais estamos engajados. Nada escapa à trama
sincrônica da existência social atual, e é da combinação destes
diversos elementos que pode emergir esta forma que chamamos de
lembrança, porque a traduzimos em uma linguagem.
Através da linguagem, o depoente não apenas expressa suas lembranças mais
significativas de forma oral, mas principalmente corporal. A forma como o(a)
narrador(a) rememora os “casos” da “Rua Eliezer Levy” exterioriza as suas
características pessoais por meio daquilo que Hartmann (2013) chama de performance.
A performance da narradora no momento de seu relato deixa claro seu
sentimento a respeito das mudanças que ocorreram no locus e, por conseguinte, nas
relações socais, situando a sua própria vida no tempo e no espaço. Enquanto este último
é expresso no patamar das vivências de Regina em um determinado locus, aquele é
referido na forma como ela mesma exalta o passado como algo “bom” e “positivo”, e
pondera o presente como algo “ruim” e “negativo”. Performance, segundo Luciana
Hartmann (2013:61), são “as práticas estéticas que envolvem padrões de
comportamento, maneiras de falar, maneiras de se comportar corporalmente – cujas
repetições situam os atores sociais no tempo e no espaço, estruturando identidades
individuais e de grupo”.
Assim, o “olhar nostálgico que é direcionado suavemente para cima”, o
“levantar o peito e respirar profundo”, o “sorrir”, são ações e sentimentos que a
narradora (Regina) exterioriza no momento em que descreve o “Antes” como algo
“bom” e “positivo”; já os atos pautados na indignação são retratados com o “frisar da
testa e da sobrancelha”, o “entortar os lábios” e o “colocar em seguida a mão esquerda
no queixo (enquanto postura de análise de um fato)”. Esses últimos comportamentos
ocorreram no instante em que a narradora retratava o “agora” como algo “ruim” e
“negativo”. Desta forma, é possível observar que a vida, a vivência no locus, as relações
com as pessoas, os sentimentos, os pensamentos e os gestos estão imbrincados na
oralidade de uma narrativa.
É possível perceber que a narradora é afetada por sentimentos quando ela mesma
aciona a própria memória (individual) para falar do passado da “Eliezer Levy”, e sua
performance está impregnada de tais sentimentos e de suas perspectivas (horizontes,
pré-compreensões), as mesmas que elaboram os mundos socioculturais que permeiam a
“Rua Eliezer Levy”. Entre outros, prevalecem três: 1) um sentimento de pertencimento
a um locus; 2) um sentimento nostálgico do passado referente às vivências neste locus,
5
justamente aquelas vivências que não são mais possíveis no “agora”, sendo apenas
manifestadas pela memória, quer dizer, constata-se uma “Eliezer Levy” que “não pode
mais ser hoje o que foi um dia” (Regina); e, por isso, o relato do “agora” enquanto
algo “ruim” e “negativo” é experienciado por 3) um sentimento de indignação,
sentimento este que tem como base exatamente as mudanças que ocorreram na “Eliezer
Levy” no que diz respeito ao aumento da criminalidade na “rua”.
Se hierarquizarmos estes sentimentos, o de pertencimento tem importância
fundamental em relação aos outros dois. Seu status é maior porque dele derivam os
outros: o de nostalgia e o de indignação. Esta primazia está ancorada no sentimento de
pertencimento porque este é reflexo justamente das vivências e das experiências da
narradora, não apenas com o locus, mas também com o grupo de pessoas que o abrange
e convive: a rua não é meramente “um lugar qualquer”, mas é o locus Eliezer Levy.
O Locus se diferencia de “um lugar qualquer” porque este último pode ser
concebido enquanto espaço vazio de relações sociais, de vivências, de sociabilidades, de
significados, etc. Ao contrário, podemos chamar de locus o lugar formado por uma
“comunidade afetiva e efervescente” (cf. HALBWACHS, 1990) que atribui significados
ao lugar para além da percepção geométrica do mesmo. Desta forma, para esta
“comunidade afetiva e efervescente”, a rua se constitui enquanto locus na medida em
que passa a servir como um “lugar de suporte simbólico” para a socialização
(OLIVEIRA, 2002), para a sociabilidade (ELIAS, 1993, 1994) e para as práticas
ritualísticas, orientando, por sua vez, as relações sociais.
A socialização, a sociabilidade, os rituais, os símbolos, os significados, os
sentimentos, as diversas práticas relacionais possíveis, como os arranjos (cf. TURNER,
1982), etc., são elementos que dão sentido ao rememorar. O processo de rememoração
individual se faz
na tessitura das memórias dos diferentes grupos com que nos
relacionamos. Esta rememoração está impregnada das memórias
dos que nos cercam, de forma que, mesmo não estando na
presença destes, elas se alimentam das diversas memórias
oferecidas pelo grupo, denominada de ‘comunidade afetiva’ (...)
Tanto nos processos de produção da memória como nos da
rememoração, essa memória coletiva tem a importante função de
contribuir para o sentimento de pertencimento a um grupo de
passado comum cujas memórias são compartilhadas. Esses
processos garantem o sentimento de identidade do indivíduo
calcado numa memória compartilhada não só no campo histórico,
mas no campo real e no campo simbólico. As memórias
individuais alimentam-se da memória coletiva e histórica e
incluem elementos mais amplos do que a memória construída pelo
indivíduo e seu grupo (SPOTTI, MOURA, CUNHA, 2013:5-6).
6
A “Rua Eliezer Levy” é um locus que serve de referência para a constituição da
memória, ou seja, para a rememoração. O locus é composto, no entender de Rossi
(2010), por imagens (e porque não dizer “cenas do cotidiano”?) as quais incidem
diretamente em nossa memória: “o mundo em que vivemos há muito tempo está cheio
de lugares nos quais estão presentes imagens que têm a função de trazer alguma
coisa à memória” (p.23). Tais imagens nutrem pela rememoração “a biografia” (grifo
meu) acerca da comunidade de um locus, mas somente enquanto “biografia parcial”
(idem).
Com base nos pressupostos de Geertz (1978), podemos conceber esta “biografia
parcial” como uma “Ficção”5 elaborada pelo pesquisador acerca de uma comunidade,
pois ao interpretar a intepretação do(a) narrador(a) (é o que estamos fazendo neste
trabalho), o antropólogo/etnólogo faz a tradução do universo (horizonte/pré-
compreensão) do pesquisado para outras pessoas (por meio, por exemplo, de um
documento escrito), e este traduzir já é marcado por modificações, podendo incidir em
“erros”. São os “erros” que fornecem à “biografia” o caráter de “parcialidade”, mas não
de “inverdade”.
O locus é o palco onde se desenvolvem as práticas relacionais de socialização,
de sociabilidade, de rituais, etc., portanto, como pensa Geertz (1978), o
antropólogo/etnólogo não estuda “um locus” ou “uma comunidade”, mas “no locus” ou
“na comunidade”, ou seja, não se está estudando a comunidade como um todo, mas os
problemas e hipóteses levantados pela pesquisa referentes a um determinando aspecto
da comunidade. Deste ponto de vista, o locus de estudo não é objeto de estudo, e a
biografia de um locus, é na verdade, a biografia sobre alguns aspectos específicos de
uma comunidade, ou seja, o locus serve de suporte para esta “biografia sempre parcial”.
Geertz (1978), por ter sido influenciado pela semiótica americana, pela
hermenêutica e por Max Weber, acredita que o antropólogo/etnólogo está diante de um
objeto de estudo complexo, e para tornar a complexidade compreensiva, ele deve
desenvolver um trabalho densamente descritivo a fim de ordenar esta complexidade e
poder retratar a comunidade de forma mais fiel possível. Não é possível estudar e
compreender a comunidade ou sociedade como um todo, apenas seus aspectos
específicos, sem fechar os olhos para o fato das possibilidades de “erros” de
5 Ficção entendida como “tipo ideal”, categoria proposta por Max Weber, quem muito influenciou Geertz.
7
interpretação, o que tanto caracteriza a “compreensão parcial” acerca da “biografia” de
uma comunidade.
A questão se torna mais complexa quando consideramos os pressupostos de
Gonçalves, Marques e Cardoso (2012) acerca da “etnobiografia”, a qual nasce da tensão
entre “biografia” e “etnografia”. Segundo dissertam esses autores (2012), o indivíduo,
ao narrar, constrói “mundos socioculturais” a partir de sua imaginação pessoal e de suas
perspectivas (universo, horizonte, pré-compreensão). Isso quer dizer, como ainda
afirmam esses autores (2012:10), que a realidade sociocultural “não é mais que as
histórias contadas sobre isso6, as narrativas pelas quais ela é representada”. No
momento em que o indivíduo narra sua memória, ele constrói uma “realidade
sociocultural” (podendo ser no plural) acerca de uma comunidade situada num
determinado locus, e desta forma, o indivíduo demonstra “autonomia de significados”
diante da
força imanente da sociedade. Pelo contrário, o improviso, a
parole, a narração, em vez de tomados como discursividade
neutra, assumem o papel de pura agência, na medida em que
criam e agregam novos significados ao mundo e às coisas ao
mesmo tempo em que transformam aqueles que constroem a
narrativa etnográfica, seja o antropólogo, seja seus personagens
etnográficos (GONÇALVES, MARQUES, CARDOSO, 2012:10)
Portanto, sua “individuação criativa” como construtor de um “mundo
sociocultural” (ou como diria Geertz, construtor de “uma ficção”, ou Weber, construtor
de “um tipo ideal”) e sua “autonomia de significados”, conforme observações de
Gonçalves, Marques e Cardoso (2012), convidam os pesquisadores a problematizarem
os conceitos-chaves do pensamento sociológico clássicos, tais como indivíduo e
sociedade, subjetividade e objetividade, sujeito e cultura, etc. Na verdade, a perspectiva
da complexidade nega quaisquer “construtos” conceituais reduzidos a dicotomias e
conclusões generalizantes, e também recusa, por um lado, a separação entre memória
individual e memória coletiva (cf. RICOEUR, 2007), e por outro lado, a separação entre
linguagem, discurso e experiência (cf. GONÇALVES, MARQUES, CARDOSO, 2012),
pois a “realidade sociocultural” é apreendida pela experienciação do mundo, e não pela
representação. Esta apreensão pode até partir de uma narrativa dicotômica (como
evidenciada na narrativa de Regina), mas esta deve ser superada pelo trabalho
etnográfico, principalmente quando partimos da abordagem biográfica.
6 O “isso” se refere às perspectivas ou horizonte do narrador.
8
Ainda neste âmbito, os estudos de Spotti, Moura e Cunha (2013) acerca da
memória, da oralidade e das narrativas no interior de uma prática educacional escolar
indígena, contribuem para a reflexão referente ao caráter complexo do “trabalho
etnográfico” na medida em que elas mencionam que o estudo com as memórias de um
povo (no caso da pesquisa dessas autoras uma comunidade indígena) é uma produção
onde o narrador
não deixa de produzir uma versão do ocorrido carregada de
subjetividade, pois está impregnada dos anseios e crenças por ele
compartilhados. O entrevistado empresta seu olhar de sujeito-
autor à narrativa que transmite a experiência vivenciada com
ingredientes pessoais, emoções, reações, observações,
idiossincrasias, relatos pitorescos. Em meio à ficção, resgatam-se
dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos, objetos,
linguagem, arquitetura, etc., chegando a ser considerada como um
aspecto crucial da humanidade (2013:06)
Ainda segundo estas autoras,
escrever sobre as memórias de uma pessoa é se colocar no lugar
do entrevistado, o que significa escrever o texto em primeira
pessoa. Essas lembranças devem estar relacionadas com o lugar
onde vivem e devem reavivar acontecimentos, histórias, costumes
interessantes e pitorescos do passado. O texto deve trazer o olhar
particular do entrevistado sobre aquilo que viu e viveu. Portanto,
não revelará apenas fatos, mas também sentimentos, sensações e
impressões. Assim, os registros escritos são uma possibilidade de
perpetuar as memórias de um indivíduo ou de uma coletividade
(2013:15)
Neste contexto de reflexão, acreditamos que documentar de maneira escrita
(digitalizada) um passado rememorado várias vezes pela mesma pessoa, em diversas
condições e épocas, para múltiplos ouvintes, considerando toda a complexidade das
experiências vivenciadas (horizontes, pré-compreensão, universo) num intervalo de
tempo e situada num locus, não é tarefa nada fácil, principalmente para aqueles quem
ouvem o(a) narrador(a) pela primeira vez. Nesta perspectiva, podemos fazer da
afirmativa de Walter Benjamin (2012b:213) uma voz para declarar que o “bom
narrador” é aquele quem sabe “intercambiar experiências”. A experiência no
pensamento de Benjamin (2012b) é a fonte que todos os narradores recorrem para
transmiti-la de boca a boca, e a narração oral se constitui na troca de experiência entre
locutor e pesquisador. Deste ponto de vista, acreditamos que o “bom pesquisador”
requer para si uma tripla qualidade essencial: o de bom “interpretador”, “tradutor” e
“registrador/ documentador” daquilo que é transmitido boca a boca no interior de um
universo complexo.
9
É muito importante que o pesquisador forneça as melhores condições para que
o(a) narrador(a) possa expor suas experiências e vivências com tranquilidade e
serenidade, assim como dispor de instrumentos capazes para registrar o relato oral e a
performance do pesquisado. Esses procedimentos podem garantir a elaboração de um
documento escrito de forma menos distintiva em relação à história oral. Deste prisma,
Benjamin dialoga com os pressupostos de Geertz, pois aquele acredita que “entre as
narrativas escritas, as melhores são as que menos se distinguem das histórias orais
contadas pelos inúmeros narradores anônimos” (2012:214).
Com base nas reflexões que levantamos até o momento, a narrativa de Regina
não diz respeito à apenas o seu “horizonte”, ou sua “individuação criativa”, ou sua
“autonomia de significados”, mas é reveladora de aspectos específicos da comunidade
onde vive (tais como acontecimentos, sentimentos, costumes, cultura, etc.), comunidade
esta que tem como suporte a “Rua Eliezer Levy”. Estes aspectos formam uma
Etnobiografia desta comunidade, mas não a única. Quer dizer, a “Rua Eliezer Levy”
pode possuir diversas Etnobiografias, pois a comunidade possui vários narradores, cada
um com seus horizontes específicos de vivências neste locus.
Como exemplar desta diversidade, a narração de Regina evidencia não apenas a
complexidade que advém das narrativas e das realidades construídas (enquanto tipos
ideais, ficção, realidade sociocultural) ou do relativismo presente na interpretação das
diversas narrativas, mas também salienta um recurso narrativo que, além de está
intimamente ligado ao ato de rememorar e de revelar as mudanças que ocorreram na
comunidade e no locus em questão, é fonte ou conteúdo socializador, justamente por
orientar, organizar e ordenar as relações sociais. Neste trabalho nos limitamos apenas a
citar este caráter socializador devido o espaço exíguo para tratarmos dele aqui, mas fica
registrado que é a partir dele que o locus e a comunidade são dotados de sentido(s).
Então, este recurso narrativo surge como expressão de um fenômeno que
reordenou a vivência na comunidade nos últimos 40 anos no locus, o mesmo que
permeia o horizonte da narradora: o fenômeno da violência urbana (especialmente o
aumento da criminalidade no locus). Este é alusivo ao seguinte trecho da narração de
Regina: “Não vejo mais crianças correndo por aí, nós (vizinhos) não conversamos
mais, pois nem nas portas de casa podemos ficar. A gente não pode mais, só assalto,
tiro, roubo! Nós que somos pessoas do bem tem que ficar atrás das grades, e os
bandidos soltos na rua”.
10
E, ao falar do crime, a narradora situa no tempo a vivência no locus a partir das
nomenclaturas do “antes” e do “agora”, assim como classifica as pessoas: aquelas
concebidas como do bem (“Nós do locus”) e aquelas como do mal (“bandidos soltos, os
de fora”). Estabelece também os lugares no locus: “atrás das grades” ficam, por
questão de segurança, as “pessoas do bem”, e “soltos na rua” os (maus) bandidos.
Assim sendo, conforme Caldeira (2000:36), o crime “oferece uma linguagem para
expressar, de maneira sintética, os sentimentos relacionados às mudanças no bairro,
na cidade e na sociedade brasileira de modo geral”. Esta linguagem, em termos de
recurso narrativo, é denominada por esta autora (2000) de “fala do crime”. É através
deste recurso narrativo (o crime como linguagem) que se torna possível investigar as
mudanças que se processam em uma determinada comunidade e locus, já que,
compreendemos que é uma linguagem da “vida real”.
E por ser uma linguagem da “vida real”, a fala do crime expressa as mudanças
que ocorreram na convivência no locus, e são expostas pela narrativa de Regina,
principalmente quando rememora o passado e evidencia o presente. No entanto, é
importante ressaltar que a “vida real”, as linguagens (inclusive a fala do crime), as
vivências individuas e coletivas, as convivências e os sentimentos envoltos, estão
conectados entre si, atribuindo à rua um sentido para além de seu significado espacial: o
de point de encontro, este entendido como o locus “privilegiados da sociabilidade
mobilizadora do processo civilizacional” (cf. ARRUDA, 2001:61, e para o conceito
de processo civilizacional cf. ELIAS, 1993), ou seja, é o lugar onde o “jogo sociável
acontece” (grifo meu), pois as relações sociais são organizadas (como point de
encontro) a partir de determinadas regras de convivências sociais, quer dizer, os
moradores da rua7 (Eliezer Levy) concebem esta como espaço próprio de “convivência
particular” em relação e até contra os “de fora” (não moradores e desconhecidos), e por
isso, é um espaço de suporte à socialização e à sociabilidade.
3) Considerações Finais: abrindo para novas reflexões
A rua como point de encontro é substanciada pelas convivências (ou funções
que as dinamizam) de lazer, trabalho, política, namoro, rodas de conversas (nas portas
das casas), etc. justamente os elementos que, segundo Regina, a comunidade perdeu. A
7 Um estudo consagrado neste âmbito é o de Walter Benjamin (1985) sobre as ruas francesas.
11
mudança a qual se refere à narradora é a perda da “Rua Eliezer Levy” como point de
encontro devido o aumento da criminalidade. Inclusive, se fôssemos registrar outras
narrativas (o que não foi nosso objetivo para a elaboração deste ensaio), constataríamos
com muita facilidade que esta mudança no locus e na comunidade está hoje presente de
maneira viva na memória coletiva dos moradores do locus.
A fala do crime como recurso linguístico utilizado por Regina demonstra
também a migração do point de encontro para o interior de muros e grades como uma
forma de arranjo (cf. TURNER, 1982) que se caracteriza como uma “busca por um
novo espaço de convivência”. Assim, outros espaços menores e específicos, como vilas
fechadas e as próprias casas dos moradores, assumem significados importantes para a
convivência, principalmente quando são vistas enquanto únicas alternativas.
O aumento dos dias dedicados às realizações das “novenas” (cerimônias
católicas que ocorrem todos os dias em casas diferentes, reunindo os moradores da “Rua
Eliezer Levy” em momentos de convivência) é um reflexo deste contexto de
enclausuramento? Logo, compreendemos que a “Rua Eliezer Levy” deixou de ser
um locus de convivência, constituindo-se apenas como via de passagem entre duas
avenidas. Perdeu, como diria Benjamin(1985), a sua “aura” enquanto point de encontro.
A narrativa de Regina exterioriza ao mesmo tempo a alegria ancorada num passado
nostálgico, que substancia a memória com momentos que não voltam mais, como
também a angústia vivida no tempo presente pela narradora em relação a esta perda.
A criminalidade (exposta pela “fala do crime”) é o “divisor de águas”, já que no
momento em que o crime avança, esvazia a rua de convivências (assim como a “fala do
crime” enquanto mecanismo socializador deste mesmo processo de esvaziamento), não
permitindo que pessoas conversem nas portas das casas com tranquilidade e alegria,
eliminando, por sua vez, a via de comunicação entre memórias.
Sem querer teorizar sobre o capitalismo, mas fazendo uma analogia com a crítica
de Ecléa Bosi (1994) a esta sociedade, vista como fonte de eliminação do “velho” e de
suas memórias e ensinamentos, a violência urbana e a criminalidade eliminam qualquer
tipo de via de compartilhamento entre memórias, independente das idades dos
narradores, gerando consequências devastadoras, como a eliminação das vozes as quais
não apenas ensinam, mas revelam também os problemas que clamam por soluções.
Memória e cidadania dialogam neste ponto.
A narrativa de Regina é exemplar e pode ser ponto de partida não apenas para
refletir metodologicamente a Etnobiografia, seus conceitos e métodos, como também
12
compreender, da ótica da complexidade, o mundo que vivemos atualmente. No que diz
respeito às mudanças no locus e na comunidade da “Rua Eliezer Levy” (ver fotos em
anexos), a narrativa de Regina é um convite para se pensar a cidadania? Pois um espaço
público sem convivência devido o aumento da criminalidade, é um espaço público sem
cidadãos? O enclausuramento8 das convivências sociais em pequenos espaços (os das
próprias casas e das vilas fechadas) é reflexo desta perda de cidadania? Qual
hermenêutica de liberdade e de prisão se aplica para compreender esta realidade? São
questões que convidam ao diálogo interdisciplinar entre a etnografia, a biografia, a
sociologia, a filosofia, etc. para ampliar os estudos e compreensões sobre o mundo mais
próximo de nós, como a Rua Eliezer Levy.
Desta forma, autores como Halbwachs, Hartmann, Oliveira, Elias, Turner,
Spotti, Moura, Cunha, Geertz, Ricoeur, Benjamin, Caldeira, Arruda, Bosi, Gonçalves,
Marques e Cardoso, contribuem no conjunto de suas categorias (memória, comunidade
afetiva, performance, locus, socialização, sociabilidade, biografia, etnobiografia,
narrativa, oralidade, fala do crime, arranjo, point de encontro, etc.) para a interpretação
da narrativa de Regina acerca da relações sociais ancoradas na Rua Eliezer Levy,
elucidando algumas das transformações que ocorreram nela a partir da década de 1980 e
que se estenderam até os dias atuais.
Além disso, é possível constatar a riqueza de informações contida na narrativa
de Regina, expressa através do processo de rememoração, a qual demonstrou
simultaneamente a constituição de novos locus enquanto espaços de convivência social,
porém, o enclausuramento das relações sociais entre muros e grades se revela como a
característica central dos novos arranjos de compartilhamento de memórias e de
sociabilidade estabelecidos pelos moradores, algo que reconfigurou o espaço de
convívio na Rua Eliezer Levy, e que norteiam as relações sociais em seu seio.
Podemos evidenciar a partir da próxima página essas transformações através das
fotos antigas/desenhos antigos e atuais do locus e dos novos espaços de convivências
que se constituíram como suporte de socialização e sociabilidade.
8 Este processo de enclausuramento é um movimento atual, observado no aparecimento de condomínios
residenciais e comerciais, arenas de futebol e de shows, centro de consumo, restaurantes, cinemas e
parques de diversões localizados no interior de shoppings centers, etc.
13
Imagem 01 - “Rua Eliezer Levy” Hoje. (04/07/2016)
Sentido Av. Almirante Barroso
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 02 - “Rua Eliezer Levy” Hoje. (04/07/2016)
Sentido Av. João Paulo II
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 03 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 1989
Sentido Av. João Paulo II Área de Convivência (Eu sou o da direita)
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 04 - “Rua Eliezer Levy”, setembro de 1990
Amigos sentados no muro da casa de Rogério e Nair, completamente diferente hoje, como mostra imagem 05
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 05 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016
Sentido Av. João Paulo II
Enclausuramento em grades das Casas
“Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes” Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 06 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016
Casa do “Seu Luís” e “Dona Raíza”
Enclausuramento em grades das Casas
“Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes”
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Casa de Rogério e Nair Hoje
14
Imagem 11 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016
Conjunto Lígia 01 – espaço de convivência no interior Enclausuramento das vilas por Portões Eletrônicos
“Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes”
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 12 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016
Conjunto Lígia 02 – espaço de convivência no interior
Enclausuramento das vilas por Portões Eletrônicos “Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes”
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 09 - “Conjunto Ligia 01”, Julho de 1990
Casas pouco Gradeadas “Espaço de Convivência”
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 10 - “Conjunto Ligia 01”, Julho de 2016
As mesmas casas da imagem 09 fortemente gradeadas e enclausuradas já no interior de uma “vila fechada”
“Espaço Interno de Convivência”
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 07 - “Rua Eliezer Levy”, Março de 1990
Casa do “Ulisses” – Palco de convivências entre amigos, pois durante 3 anos foi uma das primeiras locadoras de
filmes, jogos do bairro, sendo lanchonete também.
Fonte: Desenho do próprio autor do artigo-1990
Imagem 08 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016
Ex-Casa do “Ulisses” – apesar dos novos moradores residirem a mais de 8 anos, não há convivência com eles
Enclausuramento em grades das Casas
“Hoje, rua sempre vazia de crianças e adolescentes”
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
... a mesma casa hoje
15
Imagem 13 - “Rua Eliezer Levy”, Dezembro de 1990 Conjunto Lígia 01 – Vista de dentro para fora da Vila
numa época que não havia necessidade de Portão
Eletrônico. Rua e Vila estão integradas como espaços de
convivência entre moradores
Fonte: Desenho do próprio o autor do artigo-1990
Imagem 14 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016
Conjunto Lígia 01 – Vista atual de dentro para fora da
Vila, onde rua e vila estão separadas pelo portão
eletrônico, consolidando apenas a vila como espaço de
convivência e a Rua como o de “passagem”
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
Imagem 15 - “Rua Eliezer Levy”, Junho de 2014
Conjunto Lígia 01 – Reunião dos moradores em dia de
Festa Junina na área de convivência da Vila fechada.
Fonte: Luciene, moradora da Vila.
Imagem 16 - “Rua Eliezer Levy”, Fevereiro de 2014
Conjunto Lígia 01 – Reunião dos moradores em dia de
Festa de Carnaval na área de convivência da Vila fechada.
Fonte: Rosana, moradora da Vila.
Imagem 17 - “Rua Eliezer Levy”, Junho de 2014
Conjunto Lígia 01 – Reunião das crianças/moradores em
dia de Festa Junina na área de convivência da Vila
Fonte: Luciene, moradora da Vila.
Imagem 18 - “Rua Eliezer Levy”, Julho de 2016
Conjunto Lígia 01 – Espaço da área de convivência da Vila
Fonte: arquivo próprio do autor do artigo
16
REFERÊNCIAS:
ARRUDA, Maria Arminda do Nascimento. Metrópole e Cultura: São Paulo no meio
do século XX. Bauru, SP: EDUSC, 2001.
BENJAMIN, Walter. Paris, capital do século XIX e A Paris do Segundo Império em
Baudelaire in Walter Benjamin. Kothe, F. (org.) São Paulo : Ática, 1985.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembranças de Velhos. 3ª ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 1994.
__________. A imagem de Proust. In: Obras escolhidas I. Tradução: Sérgio Paulo
Rouanet. 8ª Ed. São Paulo: Brasiliense 2012a. p. 37-50.
__________. O narrador. In: Obras escolhidas I. Tradução: Sérgio Paulo Rouanet. 8ª
Ed. São Paulo: Brasiliense 2012b. p. 213-240.
CALDEIRA, Teres Pires do Rio. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania
em São Paulo. São Paulo: Ed. 34 / Edusp, 2000.
ELIAS, Nobert. O Processo Civilizador. Trad. Ruy Jungmann; revisão e apresentação :
Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1993. V.2
________. O Processo Civilizador. Trad. Ruy Jungmann; revisão e apresentação :
Renato Janine Ribeiro. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1994. V.1
GADAMER, H. G. Verdad Y Método. Salamanca: ed. Sígueme, 1977.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.
GONÇALVES, Antônio Marco; MARQUES, Roberto; CARDOSO, Vânia Z (Org.).
Etnobiografia subjetivação e etnografia. Rio de Janeiro: Editora Letras, 2012.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
17
HARTMANN, Luciana. Velhas histórias, novas performances: estratégias narrativas de
contadores de “causos”. In: RAPOSO, Paulo; CARDOSO, Vânia Z. Cardoso;
DAWSEY, John; FRADIQUE, Teresa (Org.). A terra do não-lugar diálogos entre
antropologia e performance. Florianópolis: Editora UFSC, 2013. Cap.3.p.61-79.
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo : Ática, 2002.
RICOEUR, Paul. Do Texto à Acção. Porto, POR: Rés-Editora, 1991.
________. A memória, a história, o esquecimento. Tradução Alain François et. al.
Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2007.
ROSSI, Paolo. O passado, a memória, o esquecimento: seis ensaios da história das
ideias. São Paulo: Editora UNESP, 2010.
SPOTTI, Carmem Véra Nunes; MOURA, Ana Aparecida Vieira de; CUNHA, Genilza
Silva. “O lugar onde vivo”: das narrativas orais indígenas à prática de leitura e de
escrita. UFSC: NAU Literária. Vol.09, n. 01, Jan/Jun, 2013.
TURNER, Victor. The Forest Of Symbols - aspects of Ndembu Ritual. London :
Carnell Paperbacks, 1982.
top related